Buscar

crime_e_sociedade_ - FGV

Prévia do material em texto

GRADUAÇÃO
2019.1
CRIME E 
SOCIEDADE
AUTORES: THIAGO BOTTINO, ANDRÉ PACHECO TEIXEIRA MENDES E FERNANDA PRATES FRAGA
COLABORADORES EM VERSÕES ANTERIORES DESSE MATERIAL: 
PAULO RICARDO FIGUEIRA MENDES, PALOMA CANECA, ARTHUR LARDOSA, DAVID SCHECHTMAN 
GRADUAÇÃO
2020.1
Sumário
Crime e Sociedade
ApReSentAÇÃO DO CURSO ......................................................................................................................................3
BLOCO I — IntRODUÇÃO À CRIMInOLOGIA. COnCeItO. FUnÇÕeS. CRÍtICAS. .......................................................................13
AULA 1: eSCOLAS CRIMInOLÓGICAS: CRIMInOLOGIA CLÁSSICA. CRIMInOLOGIA pOSItIVIStA ...................................................13
AULA 2: eSCOLAS CRIMInOLÓGICAS: CRIMInOLOGIA FUnCIOnALIStA. ..................................................................................16
AULA 3: eSCOLAS CRIMInOLÓGICAS: CRIMInOLOGIA CRÍtICA. .........................................................................................17
AULA 4: eSCOLAS CRIMInOLÓGICAS: nOVOS MOVIMentOS CRIMInOLOGICOS ......................................................................19
BLOCO II — IntRODUÇÃO AO DIReItO penAL e teORIA DA nORMA penAL .........................................................................20
AULA 5: IntRODUÇÃO AO DIReItO penAL. pRInCÍpIO DA LeGALIDADe ...............................................................................20
AULA 6: pRInCÍpIOS DO DIReItO penAL II .................................................................................................................29
AULA 7: pRInCÍpIOS DO DIReItO penAL III. ................................................................................................................34
AULA 8: pRInCÍpIOS DO DIReItO penAL IV. ApLICAÇÃO DA LeI penAL nO teMpO .................................................................39
BLOCO III — teORIA DO CRIMe ..............................................................................................................................45
AULA 09: teORIA DO CRIMe ...................................................................................................................................45
AULA 10: FAtO tÍpICO I. teORIA DA COnDUtA. AÇÃO e OMISSÃO penALMente ReLeVAnte. ....................................................49
AULA 11: FAtO tÍpICO II .......................................................................................................................................56
AULAS 12, 13 e 14: AntIJURIDICIDADe ......................................................................................................................63
AULAS 15, 16 e 17: CULpABILIDADe .........................................................................................................................74
AULA 18: tentAtIVA e COnSUMAÇÃO .......................................................................................................................79
AULA 19: COnCURSO De peSSOAS ............................................................................................................................80
BLOCO IV — IntRODUÇÃO AO DIReItO pROCeSSUAL penAL ...........................................................................................82
AULA 20: pRInCÍpIO DA pReSUnÇÃO De InOCÊnCIA .....................................................................................................82
AULA 21: pRInCÍpIO DA VeDAÇÃO De AUtOInCRIMInAÇÃO .............................................................................................85
AULA 22: pRInCÍpIO DA VeDAÇÃO De pROVAS ILÍCItAS .................................................................................................89
AULA 23: AnÁLISe eCOnÔMICA DO CRIMe ..................................................................................................................97
CRIME E SOCIEDADE
3FGV DIREITO RIO
I. APRESENTAÇÃO DO CURSO
A disciplina Crime e Sociedade constitui o primeiro contato que o estu-
dante terá com os temas de Criminologia, Direito Penal e Direito Processual 
Penal no curso da FGV Direito Rio. O ciclo de estudos de Direito Criminal 
compreende também a disciplina obrigatória de Penas e Medidas Alternati-
vas, além de diversas disciplinas eletivas que aprofundam temas de cada uma 
daquelas três áreas
Nesta parte obrigatória do ciclo (disciplinas do primeiro ano) serão abor-
dados os conceitos fundamentais do direito penal (teoria do crime e teoria 
da pena), noções de processo penal e criminologia. Ainda serão abordadas as 
questões referentes à adequação do sistema penal ao Estado Democrático de 
Direito. Na parte eletiva do curso, são oferecidas disciplinas como “Processo 
Penal 1” e “Processo Penal 2”, “Criminologia e Execução Penal”; “Crime: 
Sexo, Drogas e Armas”, “Crimes contra a Administração Pública”, “Direito 
Penal Econômico”, “Tópicos Especiais de Direito Penal”. 
Também há possibilidade de aprofundamento dos estudos na área penal 
por meio de field projects e clínicas nessa área do direito, oferecidos ao longo 
da formação acadêmica.
II. INTRODUÇÃO
O objetivo da disciplina Crime e Sociedade é refletir sobre as funções de 
criminalizar condutas, processar os indivíduos e impor penas. Essa atividade 
é exclusiva do Estado e, para ser legítima, deve observar limites. A fim de 
identificar os critérios e requisitos de legitimidade da punição de condutas 
são propostas as seguintes questões: 
•	 A justiça é um conceito moral ou jurídico? 
•	 Quem deve ser encarregado da execução da justiça, o Estado ou 
o indivíduo?
•	 Quais as regras que devem ser observadas quando se constrói um 
sistema penal?
•	 O que é direito penal? Qual sua função? Quando ele poderá ser 
aplicado?
CRIME E SOCIEDADE
4FGV DIREITO RIO
•	 Do ponto de vista jurídico, o que é crime? Quais elementos com-
põem o conceito de crime? Como um crime é praticado?
•	 Quem comete um crime? De que forma alguém pode ser responsa-
bilizado por um fato criminoso?
Essas perguntas norteiam o curso Crime e Sociedade e é a partir delas, e de 
muitas outras que o aluno possa formular, que se seguem questionamentos 
centrais para se entender o sistema de justiça penal em um determinado país: 
“POR QUÊ” •	CRIMINALIZAR COMPORTAMENTOS
•	PROCESSAR PESSOAS
•	PUNIR INDIVÍDUOS
“COMO”
“QUANDO”
Ao buscar respostas para tais questões, os alunos refletem sobre os prin-
cípios fundamentais que orientam o Direito Penal e Processual Penal. Essa 
reflexão será estimulada a partir da comparação entre o arranjo teórico cons-
titucional e o funcionamento efetivo do sistema. Nesse ponto, destaca-se a 
utilização de casos paradigmáticos como forma de análise do sistema ideal e 
do sistema efetivo. 
No âmbito do Direito Penal, são estudados temas como segurança jurí-
dica, coerência legislativa e amplitude dos poderes do juiz na aplicação da 
lei penal, além da teoria que define o crime e impõe uma pena à quem o 
pratica. Na seara do Direito Processual Penal, destacam-se os temas como 
construção da verdade, conflito entre garantias fundamentais e devido pro-
cesso legal. Por fim, serão estudados também alguns conceitos de política 
criminal – especialmente a relação existente entre o sistema penal, a demo-
cracia e o Estado de Direito. A finalidade é questionar se existe um modelo 
de sistema punitivo que se coadune com os postulados básicos do Estado 
Democrático de Direito, criando um “modelo ideal” de sistema punitivo: 
quanto mais próximo desse modelo ideal estiverem as leis e as práticas po-
liciais e judiciais, maior o grau de democracia e segurança jurídica de um 
determinado sistema punitivo.
Transversalmente às discussões acima, surgem temas como a  filtragem 
constitucional no Direito Penal e Processual Penal; o recurso aos postulados 
da ponderação, proporcionalidade e razoabilidade na construção de decisões 
em matéria penal; e, a utilização de argumentos de “emergência” e “exceção” 
como fundamento de sentenças criminais. Todos esses temas conectam oDireito Penal com o Direito Constitucional, a Teoria do Direito e a Teoria 
da Democracia, reforçando uma abordagem interdisciplinar da matéria.
CRIME E SOCIEDADE
5FGV DIREITO RIO
Mas em que contexto se insere o direito penal e a prisão como pena?
Embora antropologicamente a pena remonte à história antiga, a origem 
histórica do direito penal como conhecemos hoje é contemporânea das revo-
luções liberais (americana e francesa) do século XVIII. Associado à contenção 
do poder punitivo do Estado na superação do absolutismo, o liberalismo 
marca o princípio da ideia de Estado de Direito, “um governo de leis e não 
de homens”. Já a forma de punição por excelência, a prisão, se consolida no 
século XIX, com a revolução industrial, que passa a conceber a pena como 
tempo cumprido em isolamento num estabelecimento voltado ao trabalho.
No Brasil pós-independência, as ideias liberais já regiam o Código Crimi-
nal de 1830, mas a consolidação desse processo só se deu no fim do século 
XIX, com o fim da escravidão e com o Código Penal de 1890, já na Repú-
blica. O Código Penal em vigor é de 1940 (que entrou em vigor juntamente 
com o Código de Processo Penal e a Lei de Contravenções Penais, todas 
legislações decretadas durante a ditadura do Estado Novo, sem terem sido 
jamais votadas pelo Congresso Nacional). 
O Código Penal sofreu uma reforma completa na parte geral (estabelece 
regras e princípios para aplicação do Direito Penal) em 1984, além de muitas 
outras alterações pontuais ao longo dos anos. A parte especial (que os prevê 
os crimes e comina as penas) também sofreu alterações ao longo dos anos, 
sendo complementada, sobretudo, por leis penais esparsas, fora do Código 
Penal, especialmente quando tratam de “subsistemas” específicos, como dro-
gas, trânsito, crimes econômicos, dentre outros. 
III. DELIMITAÇÃO DO CONTEÚDO DA DISCIPLINA
O curso de Crime e Sociedade é dividido em quatro blocos: (1) Crimino-
logia; (2) Introdução ao Direito Penal e Teoria da Norma Penal; (3) Teoria 
do Crime; e, (4) Introdução ao Direito Processual Penal.
No Código Penal, a matéria objeto deste curso abrange o art.1° ao art.31.
No primeiro bloco, o curso se inicia com uma breve introdução sobre o 
pensamento criminológico, abordando seu conceito, objeto e metodologia, 
bem como as principais escolas criminológicas e os dois grandes paradigmas 
presentes nesta disciplina. Além disso, neste bloco serão analisados os movi-
mentos modernos de política criminal. 
CRIME E SOCIEDADE
6FGV DIREITO RIO
O segundo bloco trata do direito penal e serão abordados seu con-
ceito, função e perspectiva crítica. O objetivo é permitir que o aluno 
reflita sobre questões como: para que serve o direito penal? Quem atua na 
sua criação e aplicação? O direito penal realmente atua segundo os seus 
fundamentos? Para alcançar esse objetivo, as aulas terão ênfase nos prin-
cípios do direito penal. Depois, serão estudadas as regras para aplicação 
da lei penal ao fato criminoso no tempo e no espaço.
No terceiro bloco, as aulas seguintes, que compõem a maior parte 
do curso, serão voltadas ao estudo da Teoria do Crime. O que é crime? 
Partindo do denominado conceito analítico de crime e da análise de cada 
uma das partes componentes desse conceito, espera-se que o aluno desen-
volva a habilidade de identificar, na realidade, a ocorrência do fato crimi-
noso. Essa etapa é fundamental para a compreensão da dogmática penal.
Um maior número de aulas abordará os elementos da teoria do delito, 
ou seja, as partes que compõem o conceito de crime (ação, tipicidade, 
antijuridicidade e culpabilidade).
Posteriormente, analisaremos de que forma o crime é realizado. Trata-
-se de discutir o caminho do crime. Quando ele se inicia? Em que mo-
mento ele é punível? A discussão se dará em torno do estudo das catego-
rias da tentativa e da consumação.
Esse bloco se encerra com a investigação sobre quem pode ser respon-
sabilizado pela prática de um crime. Quem pratica o crime? Assim, to-
maremos como objeto de estudo as categorias da autoria e participação.
Por fim, o quarto bloco do curso se dedica a compreender as regras 
básicas da investigação e produção de provas, criando as estruturas do de-
vido processo legal, sem o qual qualquer imposição de penas torna-se não 
apenas ilegal, como ilegítima.
O plano de ensino prevê o conteúdo distribuído na forma do crono-
grama abaixo:
CRIME E SOCIEDADE
7FGV DIREITO RIO
AULA DAtA COnteúDO / AtIVIDADe
0 12/fev SEMANA DE AMBIENTAÇÃO
0 14/fev SEMANA DE AMBIENTAÇÃO
1 19/fev
Apresentação do Curso: objetivos, metodologia, avaliação e bibliografia. 
BLOCO I
Introdução à Criminologia. Conceito. Função. Críticas. Escolas 
Criminológicas. Criminologia Clássica. Criminologia Positivista.
2 21/fev Escolas Criminológicas. Criminologia Funcionalista. 
3 26/fev Escolas Criminológicas. Criminologia do Etiquetamento. Criminologia Crítica.
4 28/fev Escolas Criminológicas. Novos Movimentos de Política Criminal.
5 12/mar
BLOCO II
Princípios do Direito Penal I. Introdução ao direito penal. Princípio da 
legalidade.
• HC 70.389 STF
6 14/mar
Princípios do Direito Penal II. Princípio da exclusiva proteção de bens 
jurídicos. Princípio da intervenção mínima. Princípio da subsidiariedade do 
direito penal. Princípio da fragmentariedade. Princípio da culpabilidade. 
Princípio da responsabilidade pessoal. Princípio da insignificância
• HC 84.412, STF
7 19/mar
Princípios do Direito Penal III. Princípio da lesividade. Princípio da 
adequação social. Princípio da proporcionalidade.
• HC 124.306, STF
8 21/mar
Princípios do Direito Penal IV. Aplicação da Lei Penal no Tempo. 
Princípio da extra atividade da lei penal. Ultra atividade. Retroatividade.
• RHC 81.453, STF
9 26/mar
BLOCO III
Teoria do Crime. Conceito Analítico de Crime I. Classificação dos 
Crimes: crime de dano/lesão e de perigo (abstrato/presumido e concreto); 
crime material, formal e de mera conduta; crime comum, próprio e de mão 
própria; crime de dano e de perigo (abstrato e concreto); crime material, 
formal e de mera conduta; crime comum, próprio e de mão própria. 
• RHC 81.057, STF
• RHC 90.197, STF
10 28/mar Fato Típico I. Teoria da conduta. Ação e omissão penalmente relevante. Causas de exclusão da ação. Relação de Causalidade.
11 02/abr Fato Típico I. Teoria da conduta. Ação e omissão penalmente relevante. Causas de exclusão da ação. Relação de Causalidade.
AULA CONTEÚDO/ATIVIDADE
0 SEMANA DE AMBIENTAÇÃO
0 SEMANA DE AMBIENTAÇÃO
1
Apresentação do Curso: objetivos, metodologia, avaliação e bibliografia. 
BLOCO I
Introdução à Criminologia. Conceito. Função. Críticas. Escolas Criminológicas. 
Criminologia Clássica. Criminologia Positivista.
2 Escolas Criminológicas. Criminologia Funcionalista. 
3 Escolas Criminológicas. Criminologia do Etiquetamento. Criminologia Crítica.
4 Escolas Criminológicas. Novos Movimentos de Política Criminal.
5
BLOCO II
Princípios do Direito Penal I. Introdução ao direito penal. Princípio da legalidade.
• HC 70.389 STF
6
Princípios do Direito Penal II. Princípio da exclusiva proteção de bens jurídicos. 
Princípio da intervenção mínima. Princípio da subsidiariedade do direito penal. Princípio 
da fragmentariedade. Princípio da culpabilidade. Princípio da responsabilidade pessoal. 
Princípio da insignificância
• HC 84.412, STF
7
Princípios do Direito Penal III. Princípio da lesividade. Princípio da adequação 
social. Princípio da proporcionalidade.
• HC 124.306, STF
8
Princípios do Direito Penal IV. Aplicação da Lei Penal no Tempo. Princípio da extra 
atividade da lei penal. Ultra atividade. Retroatividade.
• RHC 81.453, STF
9
BLOCO III
Teoria do Crime. Conceito Analítico de Crime I. Classificação dos Crimes: crime de dano/
lesão e de perigo (abstrato/presumido e concreto); crime material, formal e de mera conduta; 
crime comum, próprio e de mão própria; crime de dano e de perigo (abstrato e concreto); 
crime material, formal e de mera conduta; crime comum, próprio e de mão própria. 
• RHC81.057, STF
• RHC 90.197, STF
10 Fato Típico I. Teoria da conduta. Ação e omissão penalmente relevante. Causas de exclusão da ação. Relação de Causalidade.
11 Fato Típico I. Teoria da conduta. Ação e omissão penalmente relevante. Causas de exclusão da ação. Relação de Causalidade.
CRIME E SOCIEDADE
7FGV DIREITO RIO
AULA DAtA COnteúDO / AtIVIDADe
0 12/fev SEMANA DE AMBIENTAÇÃO
0 14/fev SEMANA DE AMBIENTAÇÃO
1 19/fev
Apresentação do Curso: objetivos, metodologia, avaliação e bibliografia. 
BLOCO I
Introdução à Criminologia. Conceito. Função. Críticas. Escolas 
Criminológicas. Criminologia Clássica. Criminologia Positivista.
2 21/fev Escolas Criminológicas. Criminologia Funcionalista. 
3 26/fev Escolas Criminológicas. Criminologia do Etiquetamento. Criminologia Crítica.
4 28/fev Escolas Criminológicas. Novos Movimentos de Política Criminal.
5 12/mar
BLOCO II
Princípios do Direito Penal I. Introdução ao direito penal. Princípio da 
legalidade.
• HC 70.389 STF
6 14/mar
Princípios do Direito Penal II. Princípio da exclusiva proteção de bens 
jurídicos. Princípio da intervenção mínima. Princípio da subsidiariedade do 
direito penal. Princípio da fragmentariedade. Princípio da culpabilidade. 
Princípio da responsabilidade pessoal. Princípio da insignificância
• HC 84.412, STF
7 19/mar
Princípios do Direito Penal III. Princípio da lesividade. Princípio da 
adequação social. Princípio da proporcionalidade.
• HC 124.306, STF
8 21/mar
Princípios do Direito Penal IV. Aplicação da Lei Penal no Tempo. 
Princípio da extra atividade da lei penal. Ultra atividade. Retroatividade.
• RHC 81.453, STF
9 26/mar
BLOCO III
Teoria do Crime. Conceito Analítico de Crime I. Classificação dos 
Crimes: crime de dano/lesão e de perigo (abstrato/presumido e concreto); 
crime material, formal e de mera conduta; crime comum, próprio e de mão 
própria; crime de dano e de perigo (abstrato e concreto); crime material, 
formal e de mera conduta; crime comum, próprio e de mão própria. 
• RHC 81.057, STF
• RHC 90.197, STF
10 28/mar Fato Típico I. Teoria da conduta. Ação e omissão penalmente relevante. Causas de exclusão da ação. Relação de Causalidade.
11 02/abr Fato Típico I. Teoria da conduta. Ação e omissão penalmente relevante. Causas de exclusão da ação. Relação de Causalidade.
CRIME E SOCIEDADE
8FGV DIREITO RIO
12 04/abr Fato Típico II. Tipo Subjetivo. Dolo e Culpa.
13 09/abr 1ª PROVA
14 25/abr Antijuridicidade I. Legítima defesa.
15 30/abr Antijuridicidade II. Estado de necessidade
16 02/mai Antijuridicidade III. Estrito cumprimento do dever legal, Exercício regular de direito. Consentimento do ofendido.
17 07/mai
Culpabilidade I. Introdução. Conceito. Elementos. Imputabilidade. 
Maioridade e Sanidade. Inimputabilidade. Emoção e paixão. Embriaguez 
voluntária e involuntária.
18 09/mai Culpabilidade II. Potencial Conhecimento da Ilicitude. Teoria do Erro. Erro de Proibição. Erro de Tipo. Descriminantes Putativas.
19 14/mai
Culpabilidade III. Exigibilidade de Conduta Diversa. Causas legais de 
exclusão: coação moral irresistível e obediência a ordem não manifestamente 
ilegal de superior hierárquico. Exigibilidade de Conduta Diversa. Causas 
supralegais de exclusão.
20 16/mai
Tentativa e consumação. Iter criminis: etapas de realização do delito. 
Desistência voluntária. Arrependimento eficaz. Arrependimento posterior. 
Crime impossível.
• HC 84.653, STF
21 21/mai Concurso de pessoas. Autoria e participação.
22 23/mai Concurso de pessoas. Autoria e participação.
23 28/mai
BLOCO IV
Princípios do Direito Processual Penal I. Introdução ao processo penal. 
Princípio da Presunção de inocência.
• ADC 43 e HC 126.292, ambos do STF
24 30/mai
Princípios do Direito Processual Penal II. Princípio da vedação de 
autoincriminação.
• ADPF 395, STF
25 04/jun
Princípios do Direito Processual Penal III. Princípio da vedação de 
provas ilícitas.
Reclamação 23.457, STF 
26 06/jun Princípios do Direito Processual Penal IV. Análise Econômica do Crime e Colaboração Premiada
27 11/jun AULA EXTRA – REPOSIÇÃO – AULA REVISÃO
28 13/jun 2ª PROVA
29 26/jun 2ª CHAMADA
30 03/jul PROVA FINAL
CRIME E SOCIEDADE
8FGV DIREITO RIO
12 04/abr Fato Típico II. Tipo Subjetivo. Dolo e Culpa.
13 09/abr 1ª PROVA
14 25/abr Antijuridicidade I. Legítima defesa.
15 30/abr Antijuridicidade II. Estado de necessidade
16 02/mai Antijuridicidade III. Estrito cumprimento do dever legal, Exercício regular de direito. Consentimento do ofendido.
17 07/mai
Culpabilidade I. Introdução. Conceito. Elementos. Imputabilidade. 
Maioridade e Sanidade. Inimputabilidade. Emoção e paixão. Embriaguez 
voluntária e involuntária.
18 09/mai Culpabilidade II. Potencial Conhecimento da Ilicitude. Teoria do Erro. Erro de Proibição. Erro de Tipo. Descriminantes Putativas.
19 14/mai
Culpabilidade III. Exigibilidade de Conduta Diversa. Causas legais de 
exclusão: coação moral irresistível e obediência a ordem não manifestamente 
ilegal de superior hierárquico. Exigibilidade de Conduta Diversa. Causas 
supralegais de exclusão.
20 16/mai
Tentativa e consumação. Iter criminis: etapas de realização do delito. 
Desistência voluntária. Arrependimento eficaz. Arrependimento posterior. 
Crime impossível.
• HC 84.653, STF
21 21/mai Concurso de pessoas. Autoria e participação.
22 23/mai Concurso de pessoas. Autoria e participação.
23 28/mai
BLOCO IV
Princípios do Direito Processual Penal I. Introdução ao processo penal. 
Princípio da Presunção de inocência.
• ADC 43 e HC 126.292, ambos do STF
24 30/mai
Princípios do Direito Processual Penal II. Princípio da vedação de 
autoincriminação.
• ADPF 395, STF
25 04/jun
Princípios do Direito Processual Penal III. Princípio da vedação de 
provas ilícitas.
Reclamação 23.457, STF 
26 06/jun Princípios do Direito Processual Penal IV. Análise Econômica do Crime e Colaboração Premiada
27 11/jun AULA EXTRA – REPOSIÇÃO – AULA REVISÃO
28 13/jun 2ª PROVA
29 26/jun 2ª CHAMADA
30 03/jul PROVA FINAL
12 Fato Típico II. Tipo Subjetivo. Dolo e Culpa.
13 1ª PROVA
14 Antijuridicidade I. Legítima defesa.
15 Antijuridicidade II. Estado de necessidade
16 Antijuridicidade III. Estrito cumprimento do dever legal, Exercício regular de direito. Consentimento do ofendido.
17 Culpabilidade I. Introdução. Conceito. Elementos. Imputabilidade. Maioridade e Sanidade. Inimputabilidade. Emoção e paixão. Embriaguez voluntária e involuntária.
18 Culpabilidade II. Potencial Conhecimento da Ilicitude. Teoria do Erro. Erro de Proibição. Erro de Tipo. Descriminantes Putativas.
19
Culpabilidade III. Exigibilidade de Conduta Diversa. Causas legais de exclusão: 
coação moral irresistível e obediência a ordem não manifestamente ilegal de superior 
hierárquico. Exigibilidade de Conduta Diversa. Causas supralegais de exclusão.
20
Tentativa e consumação. Iter criminis: etapas de realização do delito. Desistência 
voluntária. Arrependimento eficaz. Arrependimento posterior. Crime impossível.
• HC 84.653, STF
21 Concurso de pessoas. Autoria e participação.
22 Concurso de pessoas. Autoria e participação.
23
BLOCO IV
Princípios do Direito Processual Penal I. Introdução ao processo penal. Princípio 
da Presunção de inocência.
• ADC 43 e HC 126.292, ambos do STF
24 Princípios do Direito Processual Penal II. Princípio da vedação de autoincriminação.• ADPF 395, STF
25 Princípios do Direito Processual Penal III. Princípio da vedação de provas ilícitas.Reclamação 23.457, STF 
26 Princípios do Direito Processual Penal IV. Análise Econômica do Crime e Colaboração Premiada
27 AULA EXTRA – REPOSIÇÃO – AULA REVISÃO
28 2ª PROVA
29 2ª CHAMADA
30 PROVA FINAL
CRIME E SOCIEDADE
9FGV DIREITO RIO
IV. METODOLOGIA
Cada aula consistirá numa exposição do tema em diálogo com os alu-
nos (que deverão ler previamente a bibliografia indicada no material di-
dático) e de uma discussão acerca de um caso concreto (principalmente 
decisões judiciais). Espera-se poder instigar a participação e promover a 
capacidade do aluno de criar soluções jurídicaspara os problemas apre-
sentados, ao mesmo tempo em que é revelado o contexto social em que é 
aplicável o conteúdo estudado.
Essa metodologia aposta na capacidade do aluno de graduação da 
FGV Direito Rio de aplicar a compreensão teórica à prática do direito e 
estimular sua participação no processo de aprendizagem. Fornecendo as 
diretrizes da matéria, visa também fomentar a continuidade da aprendi-
zagem para além da sala de aula por meio de atividades que impliquem 
habilidades essenciais ao futuro profissional do direito como: pesquisar, 
argumentar, analisar, criticar, formular problemas e apresentar soluções. 
O uso de casos concretos que possuem ligação com situações cotidia-
nas traz a realidade da aplicação do direito para dentro da sala de aula e 
estimula a participação do aluno no processo de aprendizado, criando-se 
um ambiente de interatividade entre aluno e professor e aprimorando sua 
capacidade de raciocínio lógico-jurídico. O objetivo dessa metodologia é 
habilitar o aluno a identificar problemas e resolvê-los de forma pragmá-
tica, sem deixar de se posicionar criticamente. A fim de orientar o aluno 
no estudo do caso concreto, cada caso estudado deverá ser examinado e 
organizado segundo os critérios definidos na tabela abaixo:
CRIME E SOCIEDADE
10FGV DIREITO RIO
Ficha de Análise
1. IDentIFICAÇÃO 
DO CASO
Qual o tribunal que prolatou a decisão e qual o órgão 
desse tribunal; 
Qual o julgador relator; qual o resultado da votação (vo-
tos vencidos, votos concorrentes, votos majoritários); 
Qual a data do julgamento e qual a data de publicação 
dessa decisão.
2. ReLAtO
DA SItUAÇÃO 
pROCeSSUAL 
Se houve decisões judiciais anteriores e o que decidiram; 
Por quais tribunais o caso passou antes de sua chegada 
ao Supremo Tribunal Federal;
Quais as decisões das cortes que examinaram o caso
3. CLASSIFICAÇÃO 
DAS nORMAS
Quais as normas jurídicas (dispositivos da Constitui-
ção, dos Códigos, princípios etc) em discussão.
4. QUeStÕeS 
JURÍDICAS eM 
DISCUSSÃO e 
pRetenSÃO
DAS pARteS
Identificar a questão jurídica que está em discussão (ou 
se for mais de uma, fazer isso com todas);
Identificar qual a solução que cada parte pleiteia no 
caso concreto.
5. DeCISÃO 
DO tRIBUnAL e 
SUA MOtIVAÇÃO
Expor a decisão e seus fundamentos.
V. BIBLIOGRAFIA
A bibliografia básica é dada aula por aula. Recomendam-se os seguintes 
livros básicos, ambos disponíveis na biblioteca da FGV:
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral. Vol. 
1. 19ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2013.
PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. Vol. 1 — Parte Geral. 
12ª Ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: RT, 2013.
Outras obras relevantes, que podem substituir os anteriores são:
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Vol. I. 15ª Ed. Rio de Janeiro: 
Impetus, 2013.
CRIME E SOCIEDADE
11FGV DIREITO RIO
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de direito penal: parte geral e parte 
especial. 9ª Ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tri-
bunais, 2013.
Os demais livros indicados constituem bibliografia avançada e são desti-
nados àqueles que pretendem aprofundar o estudo da disciplina:
AMARAL, Thiago Bottino Do: Notas para um sistema punitivo democrático. 
Revista Forense, Rio de Janeiro, v. 385, p. 185-201, 2006. 
ROXIN, Claus. Derecho penal: parte general. Tomo I. Fundamentos. La es-
tructura de la teoria del delito. 2ª Ed. Trad.: Diego-Manuel Luzon Peña 
et. al. Madrid: Editorial Civitas, 1997;
ROXIN, Claus; ARZT, Gunther; TIEDEMANN, Klaus: Introdução ao Di-
reito Penal e Processual Penal. Belo Horizonte: Del Rey, 2007.
ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Derecho Penal: Parte General. Buenos Aires: 
Ediar, 2002.
O material didático não substitui a bibliografia, servindo apenas como 
mais um recurso pedagógico no processo de ensino e aprendizagem para o 
acompanhamento das aulas e formação do aluno.
VI. AVALIAÇÃO
A avaliação será realizada a partir de duas notas (N1 e N2). 
A N1 será composta por duas atividades. A primeira atividade, com 
valor de 2,5 pontos, consiste na participação em sala de aula e elaboração de 
fichamentos, entregues antes do início da respectiva aula. 
Essa avaliação pretende estimular que o aluno esteja preparado para parti-
cipar de todas as aulas e que contribua para o desenvolvimento das atividades. 
Participações inoportunas ou deficientes não serão pontuadas positivamente. 
Alunos podem ser escolhidos aleatoriamente – ou se apresentar de forma 
voluntária – para relatarem oralmente o caso da aula. No caso da apresenta-
ção oral do caso, o aluno deverá apontar as principais questões decorrentes 
do caso concreto ou do texto relacionado com os temas jurídicos tratados. 
CRIME E SOCIEDADE
12FGV DIREITO RIO
Os casos concretos são julgamentos ocorridos no Supremo Tribunal Federal 
ou de outros tribunais. As discussões geradas a partir das situações concretas 
retiradas dos cases são enriquecidas com os fundamentos doutrinários forne-
cidos pelos textos de apoio e pela exposição do professor.
A segunda atividade, com valor de 7,5 pontos é a 1ª prova. 
A N2 será composta por duas atividades. A primeira atividade, com 
valor de 2,5 pontos, consiste na participação em sala de aula e elaboração 
de fichamentos, entregues antes do início da respectiva aula. A segunda 
atividade, com valor de 7,5 pontos é a 2ª prova. 
A prova de 2ª chamada substituirá apenas a 1ª ou 2ª provas, não 
abrangendo os pontos de participação e compreenderá todo o programa 
da disciplina. 
A prova final consistirá em uma prova oral sobre todo o conteúdo da 
disciplina.
CRIME E SOCIEDADE
13FGV DIREITO RIO
BLOCO I — INTRODUÇÃO À CRIMINOLOGIA. CONCEITO. FUNÇÕES. 
CRÍTICAS. 
AULA 1: ESCOLAS CRIMINOLÓGICAS: CRIMINOLOGIA CLÁSSICA. 
CRIMINOLOGIA POSITIVISTA
LEITURA OBRIGATÓRIA
BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica do direito penal. 3ª 
ed. Coleção Pensamento Criminológico do Instituto Carioca de Crimi-
nologia. Rio de Janeiro: Revan, 2002, pgs 29-38. 
Conceito, objeto e método da Criminologia.
Etimologicamente falando, criminologia vem do latim crimino (crime) e 
do grego logos (estudo, tratado), significando o “estudo do crime”. Pode-se 
conceituar criminologia como a ciência empírica e interdisciplinar. 
É compreendida como ciência por ter um método próprio, um objeto e 
uma função determinada , reunindo informação válida e confiável sobre o 
fenômeno criminal, baseada em método empírico 
É dita ciência empírica por se basear na observação e na experiência;  trata-
-se de uma ciência do “ser”, na medida em que seu objeto é observável no 
mundo real e não no mundo dos valores, como ocorre com o Direito, aqui 
entendido como ciência do “dever-ser”, portanto normativo e valorativo.
Trata-se ainda de uma ciência interdisciplinar, característica que decorre 
de sua própria consolidação histórica como ciência dotada de autonomia em 
relação a outras disciplinas tais como sociologia, psicologia, direito e medici-
na legal. O saber criminológico é o resultado de todas essas disciplinas e não 
apenas parte de uma delas. 
Tem como objeto o delito, o “delinquente”, a vítima e o controle social.
Delito: para o Direito penal o crime é uma conduta contra norma para a 
qual existe uma punição. Crime é conduta típica, antijurídica e culpável. No 
âmbito da Criminologia o crime é entendido como um fenômeno social. 
CRIME E SOCIEDADE
14FGV DIREITO RIO
“Delinquente”: a Criminologia analisa a conduta antissocial, suas causas, 
bem como o tratamento dado ao delinquente visando sua não reincidência .
Vítima: trata-se de examinar do papel das vitimas no desencadeamento do fato 
criminal, permitindo entre outras coisas o aprimoramento da assistência jurídica, 
psicológica e terapêutica. Além disso, busca-se entender as experiências de viti-
mização primária, secundária e terciária. Os estudos em vitimologia permitem 
também uma anàlise mais apurada da chamada cifra negra da criminalidade. 
Controle social: trata-se de analisar o conjunto de mecanismos/sanções sociais 
que buscam submeter os indivíduos às normas de convivência social. Tais con-
troles são divididos em controle social informal e controle social formal. 
Criminologia clássica / Escola clássica do Direito Penal
Movimento que busca dar racionalidade ao Direito Penal. Obra funda-
mental : “Dos Delitos e das penas”, de César de Beccaria. Defende-se a cria-
ção de limites ao direito de punir, a abolição da tortura e o combate à pena 
arbitrária. Construção da idéia de punição proporcional ao delito. Os postu-
lados da Escola Clássica podem ser sintetizados da seguinte forma:
a) O crime é considerado como um ente jurídico, pouco interesse na 
figura do “criminoso”; 
b) O crime é fruto do livre arbítrio 
c) A pena deve ser proporcional ao delito. A punição deve ser grave o 
suficiente para dissuadir, não mais grave que isso. 
Escola Positivista 
Principais representantes Cesare Lombroso, Enrico Ferri e Garófalo. 
Em litigio aberto com a Escola Clássica, apresenta os seguintes postulados:
a) Concepção do crime como fenômeno natural e social; 
b) Idéia do criminoso nato (Lombroso) anormalidade psicológica 
como inerente ao criminoso 
c) Afasta o dogma do livre-arbítrio 
d) Responsabilidade penal lastreada na periculosidade do criminoso . 
Pena como medida de defesa social 
CRIME E SOCIEDADE
15FGV DIREITO RIO
Inicia etapa científica da Criminologia – método empírico. Procuravam 
demonstrar, em contraposição aos clássicos, que o crime ocorre como um 
fato real e não como uma mera ficção jurídica. Portanto, para se estudar e 
compreender o crime é preciso examinar também o “delinquente” e o meio 
em que vive.
CRIME E SOCIEDADE
16FGV DIREITO RIO
AULA 2: ESCOLAS CRIMINOLÓGICAS: CRIMINOLOGIA FUNCIONALISTA. 
LEITURA OBRIGATÓRIA
BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica do direito penal. 3ª 
ed. Coleção Pensamento Criminológico do Instituto Carioca de Crimi-
nologia. Rio de Janeiro: Revan, 2002, pgs 59-56. 
A teoria da anomia (strain theory) foi criada pelo sociólogo Robert King 
Merton nos Anos 40, tendo como base teoria Emile Durkheim (1858/1917),
Durkheim realiza uma crítica à representação do crime como fenômeno 
patológico: “Se existe um fato cujo, caráter patológico parece incontestável, é 
o crime. Todos estão de acordo sobre este ponto ». 
Segundo autor, encontramos delito em tipo de sociedade (características 
variadas), trata-se de um elemento ligado às condições de toda vida coletiva. 
Nesse sentido , o delito faz parte da fisiologia e não da patologia da vida 
social. Somente suas formas anormais (ex. crescimento excessivo) podem ser 
consideradas patológicas.
Partindo desta base, Merton desenvolve a .teoria funcionalista da anomia. 
Como Durkheim, Merton se opõe à concepção patológica do desvio. 
O autor interpreta o desvio como um produto da estrutura social, enten-
dendo que esta estrutura não tem apenas um efeito repressivo, mas também 
efeito estimulante sobre o comportamento individual. Merton entende o 
desvio a partir da contradição entre estrutura e cultura. A cultura propõe 
ao individuo determinadas metas / motivações fundamentais (ex. lazer, 
bem-estar, sucesso) e proporciona também os modelos de comportamento 
institucionalizados/meios legítimos para alcançar aquelas metas (estudo, 
formação avançada, trabalho). Por outro lado, a estrutura econômico-so-
cial oferece aos indivíduos, em graus diversos, a possibilidade de acesso a 
meios legítimos para alcançar as metas.
Falta de proporcionalidade entre os fins culturalmente reconhecidos e 
os meios legítimos, à disposição do individuo causa tensão / Strain, ori-
ginando o desvio. 
CRIME E SOCIEDADE
17FGV DIREITO RIO
AULA 3: ESCOLAS CRIMINOLÓGICAS: CRIMINOLOGIA CRÍTICA. 
LEITURA OBRIGATÓRIA
BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica do direito penal. 
3ª ed. Coleção Pensamento Criminológico do Instituto Carioca de 
Criminologia. Rio de Janeiro: Revan, 2002, pgs 159-169. 
LEITURA COMPLEMENTAR
Do paradigma etiológico ao paradigma da reação social: mudança e 
permanência de paradigmas criminológicos na ciência e no senso co-
mum. Vera Regina Pereira de Andrade
Idéia de base: Funções da pena: Funções declaradas ou manifestas : fun-
ções retributivas, preventivas, unificada. Funções reais ou latentes. teorias 
ou vertentes da criminologia que questionam funções declaradas, anali-
sam fundamento pena. As principais teorias que buscaram determinar fi-
nalidade da pena não encontraram uma função racional que a legitimasse 
– pena não representa um bem, mas sim uma dor.
Paradigma etiológico: busca entender as causas da criminalidade. Foco no in-
dividuo. Paradigma do controle/reação social: delito não é fenômeno natural 
: «não é como um pedaço de ferro, um objeto físico” . O delito é o resultado 
de um processo social de interação (definição e seleção) – Trata-se de uma 
construção social. Construção do delito através de um processo seletivo. Sele-
tividade criminalização primária + seletividade criminalização secundaria. A 
diferença entre «delinquente » e « não delinquente » decorre de um processo 
de estigmatizaçao oriundo da seletividade do sistema penal . Todos cometem 
crimes mas somente alguns chegam ao sistema penal. Risco de ser etiquetado 
não depende da conduta, mas do status social do indivíduo: « Estes estereó-
tipos permitem a catalogação dos criminosos que combinam com a imagem que 
corresponde à descrição fabricada, deixando de fora outros tipos de delinquentes 
(delinquência de colarinho branco, de trânsito, etc.”. (Raúl Zaffaroni)
A criminologia ao longo dos séculos tenta estudar a criminalidade não 
como um dado ontológico pré-constituído, mas como realidade social constru-
ída pelo sistema de justiça criminal através de definições e da reação social, 
CRIME E SOCIEDADE
18FGV DIREITO RIO
o criminoso então não seria um indivíduo ontologicamente diferente, mas 
um status social atribuído a certos sujeitos selecionados pelo sistema penal e 
pela sociedade que classifica a conduta de tal individuo como se devesse ser 
assistida por esse sistema. Os conceitos desse paradigma marcam a linguagem 
da criminologia contemporânea: o comportamento criminoso como compor-
tamento rotulado como criminoso (Alessandro Baratta)
CRIME E SOCIEDADE
19FGV DIREITO RIO
AULA 4: ESCOLAS CRIMINOLÓGICAS: NOVOS MOVIMENTOS 
CRIMINOLOGICOS 
 
LEITURA OBRIGATÓRIA
As contradições da “sociedade punitiva”: o caso britânico. David Garland.
LEITURA COMPLEMENTAR
O encarceramento em massa (Massimo Pavarini). In ABRAMOVAY, Pedro 
Vieira e BATISTA, Vera Malaguti (org.). Depois do grande encarcera-
mento. Rio de Janeiro: Revan, 2010.
The new penology  : Emerging Strategy of Corrections and Its Implications 
(Feeley and Simon ). A nova “penologia” - justiça atuarial: O crime é per-
cebido como um risco normal  : O crime é inevitável / delinquência risco 
normal / necessidade de se precaver afim de minimizar os impactos negativos 
- “seguro” / terceirização. Crime como problema “técnico” : Não se interessa 
fatores internos /externos criminalidade/ efeitos crime mais importantes que 
as causas. Lógica atuarial - linguagem se concentra em probabilidades e dis-
tribuições estatísticas – Área de risco - População é dividida: grupos de risco 
/ grupos que não são de risco Grupos de risco: alvo exercício poder penal. 
Objetivo: Proteção sociedade através da gestão (vigilância e controle) dos 
grupos de risco X antiga penologia: proteção sociedade através da ressociali-
zação Objetivo: garantir a proteção do Sistema Penal através de uma gestão 
empresarial. Busca legitimidade através do “como punir” deixando de lado o 
“porquê punir”. 
The punitive turn (David Garland): Condições históricas através das quais 
instituições de controle social modernos se desenvolveram nos países ociden-
tais. Autor observa que três últimas décadas do século passado foram mar-
cados por muitas mudanças na política, económica e social. Relação entre 
Estado Social/ Estado Penal: “a atrofia planejadado Estado Social […] e a 
súbita hipertrofia do Estado Penal podem ser considerados dois movimentos 
concomitantes e complementares” (L. Wacquant). Sinais de mudança - con-
trole penal contemporâneo - punitive turn : a) O tom emocional da política 
criminal, b) Retorno da vitima, c)Punição pós-disciplinar. 
CRIME E SOCIEDADE
20FGV DIREITO RIO
BLOCO II — INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E TEORIA DA 
NORMA PENAL
AULA 5: INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
BIBLIOGRAFIA PARA PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL I, II, III E IV:
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral. 
Vol. 1. 13ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2008, Capítulo II — Princípios Limi-
tadores do Poder Punitivo Estatal — pgs. 10-28;
ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Derecho Penal: Parte General. Buenos 
Aires: Ediar, 2002, Capítulo IV — Limites derivados de la función política 
— pgs. 110-153
CASO PARA LEITURA OBRIGATÓRIA E FICHAMENTO:
Os alunos devem se dividir em 4 grupos para lerem, separadamente, votos 
dos Ministros do STF. A leitura da Ementa, Relatório e Certidão de Julga-
mento é obrigatória para todos os grupos.
•	 Habeas Corpus nº 70.389, do Supremo Tribunal Federal.
o Grupo A: Votos Celso de Mello e Sepúlveda Pertence
o Grupo B: Votos Carlos Velloso, Francisco Rezek, Néri da Silvei-
ra e Paulo Brossard
o Grupo C: Votos Sydnei Sanches, Ilmar Galvão e Octavio Gallotti
o Grupo D: Votos Marco Aurélio e Moreira Alves
CONCEITO: O QUE É DIREITO PENAL?
O direito penal é um conjunto de normas jurídicas que regulam o poder 
punitivo do Estado, definindo crimes e a eles vinculando penas ou medidas 
de segurança. A parte geral (art.1° ao art.120 do CP) define os critérios a 
partir dos quais o direito penal será aplicado: quando o crime existe? Como 
e quando aplicar a pena?
CRIME E SOCIEDADE
21FGV DIREITO RIO
A parte especial prevê os crimes em espécie e as penas correspondentes. 
O crime é uma conduta proibida, que pode ser tanto positiva, uma ação (ex. 
homicídio — art.121 do CP), quanto negativa, uma omissão (ex. omissão de 
socorro — art.135 do CP). Cada crime prevê uma determinada escala pu-
nitiva (mínima e máxima) de acordo com a gravidade do crime em abstrato.
FUNÇÃO: PARA QUE SERVE O DIREITO PENAL?
A função do direito penal é a proteção subsidiária de bens jurídicos1. 
É missão do Direito Penal a proteção dos bens jurídicos mediante o amparo 
dos elementares valores ético-sociais da ação2. Essa tem sido a concepção em 
torno da qual o direito penal moderno tem se desenvolvido3 desde Karl 
Binding (1841-1920).
É de se mencionar, contudo, em razão da voz que vem reverberando pelo 
mundo, o posicionamento contrário de Günther Jakobs. O direito penal de 
Jakobs recusa a generalizada função atribuída ao direito penal de proteção 
de bens jurídicos, para abraçar a função de proteção da norma jurídica. 
E assim tem pronunciado em diversos trabalhos: “o direito penal garante a 
vigência da norma, não a proteção de bens jurídicos”. Como a constituição da 
sociedade tem lugar por meio de normas, isto é, se as normas determinam 
a identidade da sociedade, garantir a vigência da norma permite garantir a 
própria identidade social: o direito penal confirma a identidade social. Nesse 
quadro de proteção da norma e afirmação da identidade social, a sanção pe-
nal preveniria a erosão da configuração normativa real da sociedade.
Muito embora o princípio de proteção de bens jurídicos tenha sido 
originariamente elaborado por Paul Johann Anselm Ritter von Feuerbach 
(17751833) — no sentido de proteção de interesses humanos —, con-
forme afirma Hassemer4, atribui-se propriamente a criação e desenvol-
vimento do conceito de bem jurídico à Johann Michael Franz Birnbaum 
(1792-1877), de acordo com Roxin5.
Proteger subsidiariamente equivale a afirmar que os bens jurídicos não são 
protegidos apenas pelo direito penal. Significa dizer que tal proteção se reali-
za por meio da manifestação dos demais ramos do Direito que, atuando co-
operativamente, pretendem operar como meio de solução social do problema.6 
O direito penal deve intervir para solucionar problemas sociais tão-somente 
depois que outras intervenções jurídicas não-penais falharem nessa solução. 
 
1 ROXIN, Claus. Derecho penal: parte general. Tomo I. Fundamentos. La estructura de la teoria del delito. 2ª Ed. Trad.: Diego-Manuel Luzon Peña 
et. al. Madrid: Editorial Civitas, 1997, p. 51.
2 WELZEL, Hans. Derecho Penal: parte general. Trad.: Carlos Fontán Balestra. Buenos Aires: Roque Depalma Editor, 1956, p. 6 (tradução nossa).
3 BACIGALUPO, Enrique. Derecho penal: parte general. 2ª Ed. Buenos Aires: Hammurabi, 1999, p. 43.
4 HASSEMER, Winfried. Persona, mundo y responsabilidad: bases para uma teoria de la imputacion en derecho penal. Traducción: Francisco 
Muñoz Conde y María del Mar Díaz Pita. Santa Fe de Bogotá: Editorial Temis, 1999, p. 7.
5 Derecho penal: parte general. Tomo I. Fundamentos. La estructura de la teoria del delito, p. 55.
6 Ibid., p. 65.
1 ROXIN, Claus. Derecho penal: parte 
general. Tomo I. Fundamentos. La es-
tructura de la teoria del delito. 2ª Ed. 
Trad.: Diego-Manuel Luzon Peña et. al. 
Madrid: Editorial Civitas, 1997, p. 51.
2 WELZEL, Hans. Derecho Penal: parte 
general. Trad.: Carlos Fontán Balestra. 
Buenos Aires: Roque Depalma Editor, 
1956, p. 6 (tradução nossa).
3 BACIGALUPO, Enrique. Derecho pe-
nal: parte general. 2ª Ed. Buenos Aires: 
Hammurabi, 1999, p. 43.
4 HASSEMER, Winfried. Persona, 
mundo y responsabilidad: bases para 
uma teoria de la imputacion en derecho 
penal. Traducción: Francisco Muñoz Con-
de y María del Mar Díaz Pita. Santa Fe de 
Bogotá: Editorial Temis, 1999, p. 7.
5 Derecho penal: parte general. Tomo 
I. Fundamentos. La estructura de la te-
oria del delito, p. 55.
6 Ibid., p. 65.
CRIME E SOCIEDADE
22FGV DIREITO RIO
Precisamente, por ser o direito penal a forma mais dura de ingerência do 
Estado na esfera da liberdade do cidadão, deve ele ser chamado a agir ape-
nas quando outros meios do ordenamento jurídico (civis, administrativos, 
tributários, sanitários, trabalhistas etc.) mostrarem-se insuficientes à tutela 
dos bens jurídicos fundamentais.
Diante desse quadro, temos que, para a salvaguarda de bens jurídicos, o 
direito penal deve funcionar subsidiariamente aos demais campos jurídicos 
(princípio da subsidiariedade), intervindo minimamente na criminalização 
de condutas (princípio da intervenção mínima), operando como ultima ratio 
na solução de problemas sociais, considerando a dura intromissão estatal 
que o caracteriza: a privação da liberdade. Além disso, a proteção não se 
realiza em função de todos os bens jurídicos, bem como aqueles que são 
selecionados como objeto de proteção devem ser parcialmente protegidos. 
Nem todos os bens jurídicos extraíveis da Constituição devem ser elevados 
à categoria de bem jurídico-penal e, ainda, aqueles que o forem, devem ser 
protegidos somente diante de determinadas formas concretas de ataque. 
A proteção do direito penal é assim, pois, fragmentária7 — princípio da 
fragmentariedade. A limitação da norma penal incriminadora às ações mais 
graves perpetradas contra os bens jurídicos mais relevantes vai conformar o 
caráter fragmentário do direito penal.8
Mas afinal, o que são bens jurídico-penais? Para Welzel (1904-1977), 
bem jurídico é um bem vital do grupo ou do indivíduo, que em razão de 
sua significação social, é amparado juridicamente.9 Desde uma perspectiva 
funcionalista, Roxin define que bens jurídicos são circunstâncias dadas ou 
finalidades que são úteis para o indivíduo e seu livre desenvolvimento no marco 
de um sistema social global estruturado sobre a base dessa concepção dos fins 
ou para o funcionamento do próprio sistema.10 A literatura penal em geral 
costuma empregar as expressões valor e interesse para conceituar bem jurí-
dico: valores relevantes para a vida humana individual ou coletiva11; valores e 
interesses mais significativos da sociedade12; valor ou interesse juridicamente 
reconhecido em determinado bemcomo tal em sua manifestação geral.13
Nesse contexto, os bens jurídico-penais devem derivar sempre da Cons-
tituição da República, documento fundamental e lei maior do Estado De-
mocrático de Direito. A vida, a liberdade, o patrimônio, o meio ambiente, 
a incolumidade pública, para citar alguns, vão formar o rol de valores, 
interesses e direitos que, elevados à categoria de bens jurídico-penais, cons-
tituirão o objeto de proteção do direito penal.
7 CIRINO DOS SANTOS, Juarez. Direito Penal: parte geral. Curitiba: ICPC; Lumen Juris, 2006, p. 5 e ROXIN, op. cit., p. 65.
8 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral. Vol. 1. 13ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 14.
9 Op. Cit., p. 5-6.
10 ROXIN, Claus. Op. Cit., p. 55-56.
11 CIRINO DOS SANTOS, Juarez. Op. Cit., p. 4-5.
12 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Vol. I. 13ª Ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2011, p. 2.
13 MAURACH/ZIPF apud ROXIN. Op. Cit., p. 70.
7 CIRINO DOS SANTOS, Juarez. Direito 
Penal: parte geral. Curitiba: ICPC; Lumen 
Juris, 2006, p. 5 e ROXIN, op. cit., p. 65.
8 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado 
de Direito Penal: parte geral. Vol. 1. 13ª 
Ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 14.
9 Op. Cit., p. 5-6.
10 ROXIN, Claus. Op. Cit., p. 55-56.
11 ROXIN, Claus. Op. Cit., p. 55-56.
12 GRECO, Rogério. Curso de Direito 
Penal. Vol. I. 13ª Ed. Rio de Janeiro: 
Impetus, 2011, p. 2.
13 MAURACH/ZIPF apud ROXIN. Op. 
Cit., p. 70.
CRIME E SOCIEDADE
23FGV DIREITO RIO
Desde seu início, a denominada teoria do bem jurídico admite quer bens 
jurídicos individuais, tais como a vida e liberdade, quer bens jurídicos uni-
versais14, tais como administração da justiça15, e, modernamente, ordem tri-
butária, administração pública, sistema financeiro, meio ambiente, relações 
de consumo, saúde pública, dentre outros.
VISÃO CRÍTICA: O DIREITO PENAL REALMENTE ATUA SEGUNDO OS SEUS 
FUNDAMENTOS?
Não é difícil perceber, entretanto, que a função que o direito penal assu-
me encontra dificuldades no atual contexto brasileiro, fazendo pensar que 
uma coisa é a função que lhe é atribuída (função declarada) e outra aquela 
que realmente exerce no contexto social (função oculta).
A proliferação de crimes faz duvidar da subsidiariedade que deveria norte-
ar a manifestação do direito penal, o que faz também suspeitar de seus pres-
supostos limitadores, que não resistem a uma empírica avaliação das agências 
responsáveis por criar e aplicar o direito penal.
O conjunto dessas agências responsáveis pelo processo de criminalização 
(legislativa, judicial, policial, penitenciária) forma o sistema penal. É dessa 
avaliação que surge uma visão fruto da crítica criminológica das funções da 
pena e da aplicação do direito penal. Como uma ciência não normativa, a so-
ciologia se preocupa em estudar o “ser”, e não o “dever ser”, como o direito. 
Permite, portanto, investigar a realidade além da lente jurídica.
Para tanto, trabalha com pressupostos de difícil refutação: a) que se vive 
em uma sociedade conflitiva, onde o conflito não é um dado puramente 
marginal e criminalizável; b) a constatação empírica da desigualdade na apli-
cação do direito (punição de pobres e não de ricos); c) que para além da pro-
paganda das funções declaradas, o direito penal é uma forma de reprodução 
da desigualdade social.
Partindo desses pressupostos a criminologia crítica elaborou um conjunto 
de importante observações. O primeiro e fundamental é que o crime não é 
um ente natural e sim depende de um ato de poder que o defina como tal. 
Práticas que ontem foram consideradas crimes, como o adultério, hoje não o 
são por decisão política.
O segundo é uma separação em etapas do processo seletivo de criminalização 
entre criminalização primária e secundária. A criminalização primária é aque-
la realizada pelas agências políticas (legislativo) na definição do que é crime e, 
 
 
14 Também chamados de bens jurídicos supraindividuais, metaindividuais, transindividuais, ou coletivos.
15 HASSEMER, Winfried. Op. Cit., p. 7.
14 Também chamados de bens jurídi-
cos supraindividuais, metaindividuais, 
transindividuais, ou coletivos.
15 HASSEMER, Winfried. Op. Cit., p. 7.
CRIME E SOCIEDADE
24FGV DIREITO RIO
portanto, é uma enunciação em abstrato das condutas criminalizáveis. Já a 
criminalização secundária é a ação punitiva exercida em pessoas concretas, 
realizados pelas agências executivas do sistema penal (policial, judiciária e 
penitenciária). A disparidade entre o programa criminal primário, todas as 
condutas passíveis de criminalização, e o efetivo conhecimento das agências 
executivas é o que se chama de cifra oculta.
Todas as pessoas cometem ou podem cometer alguns crimes. Quem co-
nhece alguém que levou algum objeto do seu restaurante preferido? Ou al-
guém que tenha passado por algum acidente sem prestar socorro? Ou ainda, 
bebeu e dirigiu? Xingou alguém?
É preciso entender é impossível a realização total do programa de cri-
minalização, seja por falta de estrutura das agências executivas, seja porque 
implicaria num sufocamento das liberdades. Não se pode imaginar todo o 
orçamento estatal sendo gasto com polícia, nem é desejável um Estado poli-
cial que vigie e controle cada passo das pessoas.
Isso permite afirmar que o sistema penal é estruturalmente seletivo, ou 
seja, direciona sua atuação num determinado sentido na persecução crimi-
nal, geralmente voltado para os estereótipos presentes no imaginário social. 
Quem nunca atravessou a rua por ter visto uma figura “estranha” passar por 
perto, sem qualquer evidência de que se tratava de alguém com intenção de 
lhe fazer algum mal, confiando na sua “intuição”?
O direito penal tem sido aplicado seletivamente em várias partes do mun-
do. No Brasil, isso é sensivelmente percebido. Mas também nos Estados Uni-
dos, onde a taxa de encarceramento é significativamente maior para negros 
e latinos em relação a brancos. No ano de 2010, a relação de presos era a 
seguinte: 3.074 presos negros para cada 100.000 residentes; 1.258 presos 
hispânicos/latinos para cada 100.000 residentes; e apenas 459 presos brancos 
para cada 100.000 residentes.16 Não se pode ignorar esse dado, tradutor de 
uma aplicação seletiva do direito penal norte-americano.
Mas seria possível um sistema penal não seletivo? Em outras palavras, e se 
todas as condutas criminosas fossem punidas?
Um programa de punição que pretenda atingir TODAS as pessoas, pu-
nindo TODOS os crimes é irrealizável, pois exigiria que as agências penais 
fossem onipresentes. Ademais, é inconcebível punir TODOS os desvios, 
caso contrário, a vida em sociedade se tornaria um caos e, ainda, um estado 
penal absoluto. Nesse sentido:
16 Dados disponíveis no site: http:// www.prb.org/Articles/2012/us-incarceration.aspx?p=1, Acesso em 20 de maio de 2013. “Incarceration rates 
are significantly higher for blacks and Latinos than for whites. In 2010, black men were incarcerated at a rate of 3,074 per 100,000 residents; Latinos were 
incarcerated at 1,258 per 100,000, and white men were incarcerated at 459 per 100,000”.
16 Dados disponíveis no site: http:// 
w w w . p r b . o r g / A r t i c l e s / 2 0 1 2 / u s -
-incarceration.aspx?p=1, Acesso em 
20 de maio de 2013. “Incarceration 
rates are significantly higher for blacks 
and Latinos than for whites. In 2010, 
black men were incarcerated at a rate 
of 3,074 per 100,000 residents; Latinos 
were incarcerated at 1,258 per 100,000, 
and white men were incarcerated at 459 
per 100,000”.
CRIME E SOCIEDADE
25FGV DIREITO RIO
“(...) ninguém pode conceber seriamente que todas as relações so-
ciais se subordinem a um programa criminalizante faraônico (que se 
paralise a vida social e a sociedade se converta em um caos, em prol da 
realização de um programa irrealizável), a muito limitada capacida-
de operativa das agências de criminalização secundária não lhes deixa 
outro recurso que proceder de modo seletivo”.17
O Direito Penal é uma técnica de definição, comprovação e repressão 
do desvio.18 Crime, processoe pena vão formar os objetos fundamentais 
do direito e processo penal. A definição do desvio se expressa na atividade 
legislativa, por meio da qual o legislador vai definir crimes (condutas proi-
bidas) e cominar penas (punição correlata). 
Em todas as democracias contemporâneas, o Direito Penal será regido 
por princípios constitucionais (explícitos e implícitos) para garantir o in-
divíduo em face do poder punitivo (ius puniendi) do Estado.19 A função 
dos princípios será justamente a de limitar o poder punitivo estatal. Nesse 
sentido, o legislador não pode tudo. Ele deve observância aos princípios. O 
saber jurídico-penal moderno de tradição iluminista e liberal, amadurecido 
desde o século XVIII, foi responsável pela gestação do modelo garantista 
clássico, fundado em princípios como o da legalidade, lesividade, responsa-
bilidade pessoal, contraditório e presunção de inocência.20
A literatura relativa à principiologia penal é vasta.21 Nas próximas qua-
tro aulas, serão estudados os princípios – de forma não exaustiva – que 
informam o Direito Penal, seu papel dentro do sistema jurídico-penal e 
sua aplicação prática.
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
Um dos mais importantes princípios comuns a quase todas as áreas 
do Direito é o princípio da legalidade. Este, como outros princípios, 
tem como uma de suas funções primordiais a limitação do poder estatal, 
podendo ser expresso de diversas formas. A primeira delas estabelece que 
ao indivíduo cabe fazer tudo aquilo que a lei não proíbe. Uma variante 
direta dessa é a aplicação oposta ao governo: só é permitido ao Estado o 
que a lei expressamente permite. Contudo, o variente que mais importa 
no momento é a variante exposta pela seguinte frase em latim: nullum 
crimen, nulla poena sine lege. Esta formula foi eternalizada por Feuerbach, 
no começo do séc. XIX.
17 ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Op. cit., p. 7.
18 FERRAJOLI, Luigi. Derecho y razón: Teoría del garantismo penal. Tradução: Perfecto Andrés Ibáñez, Alfonso Ruiz Miguel, Juan Carlos Bayón 
Mohino, Juan Terradillos Basoco, Rocío Cantarero Bandrés. Madrid: Editorial Trotta, 1995, p. 209.
19 CIRINO DOS SANTOS, Juarez. Direito Penal: parte geral. Curitiba: ICPC; Lumen Juris, 2006, p. 19.
20 FERRAJOLI, Luigi. Derecho y razón: Teoría del garantismo penal, p. 33.
21 Para citar alguns: ZAFFARONI, Eugenio Raúl, ALAGIA, Alejandro & SLOKAR, Alejandro. Derecho Penal: Parte General. 2ª ed. Buenos Aires: 
Ediar, 2002, p. 107-142; TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios básicos de direito penal. 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 1994; MIR PUIG, Santiago. Direito penal: 
fundamentos e teoria do delito. Tradução: Cláudia Vianna Garcia e José Carlos Nobre Porciúncula Neto. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007; 82-107, 
CIRINO DOS SANTOS, Juarez. Direito Penal, op. cit., p. 19-32; BARATTA, Alessandro. Principios de Derecho Penal Mínimo. In: Criminología y Sistema Penal 
(Compilación in memoriam)», Editorial B de F, Buenos Aires, Argentina, 2004.
17 ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Op. cit., p. 7.
18 FERRAJOLI, Luigi. Derecho y razón: 
Teoría del garantismo penal. Tradu-
ção: Perfecto Andrés Ibáñez, Alfonso 
Ruiz Miguel, Juan Carlos Bayón Mo-
hino, Juan Terradillos Basoco, Rocío 
Cantarero Bandrés. Madrid: Editorial 
Trotta, 1995, p. 209.
19 CIRINO DOS SANTOS, Juarez. Direito 
Penal: parte geral. Curitiba: ICPC; Lu-
men Juris, 2006, p. 19.
20 FERRAJOLI, Luigi. Derecho y razón: 
Teoría del garantismo penal, p. 33.
21 Para citar alguns: ZAFFARONI, Euge-
nio Raúl, ALAGIA, Alejandro & SLOKAR, 
Alejandro. Derecho Penal: Parte Gene-
ral. 2ª ed. Buenos Aires: Ediar, 2002, p. 
107-142; TOLEDO, Francisco de Assis. 
Princípios básicos de direito penal. 5ª 
ed. São Paulo: Saraiva, 1994; MIR PUIG, 
Santiago. Direito penal: fundamentos 
e teoria do delito. Tradução: Cláudia 
Vianna Garcia e José Carlos Nobre Por-
ciúncula Neto. São Paulo: Editora Revis-
ta dos Tribunais, 2007; 82-107, CIRINO 
DOS SANTOS, Juarez. Direito Penal, op. 
cit., p. 19-32; BARATTA, Alessandro. 
Principios de Derecho Penal Mínimo. 
In: Criminología y Sistema Penal (Com-
pilación in memoriam)», Editorial B de 
F, Buenos Aires, Argentina, 2004.
CRIME E SOCIEDADE
26FGV DIREITO RIO
Versão análoga a esta última pode ser encontrada no art. 5º, inciso XX-
XIX da Constituição Federal: “Não há crime sem lei anterior que o defina, nem 
pena sem prévia cominação legal”. Esta disposição também está prevista de 
modo semelhante no art. 1º do Código Penal, e neste sentido, é o princípio 
mais importante desta área do direito, pois a lei é a única fonte que pode ser 
utilizada para proibir ou impor condutas sob ameaça de sanção. Em outras 
palavras, é preciso uma lei que descreva uma conduta como proibida e asso-
cie uma pena para aqueles que realizarem a conduta proibida.
Da fórmula original em latim derivam vedações a formas de incriminação, 
exigindo lex praevia, lex scripta, lex stricta e lex certa.
1. Nullum crimen, nulla poena sine lege praevia — não há crime nem pena 
sem lei prévia
Questão: Reforma do Código Penal prevê criminalização dos jogos de 
azar e pena dobrada para explorador
— Vedação à retroatividade da lei mais grave (lex gravior)
A lei penal não retroage, salvo para beneficiar o réu (art.5°, XL, CR). A 
irretroatividade da lei penal mais gravosa atinge tanto as tipificações legais 
como as sanções penais que lhes correspondem. A proibição de retroativi-
dade ganha especial relevância quando do estudo da lei penal no tempo, 
como será visto adiante.
2. Nullum crimen, nulla poena sine lege scripta — não há crime nem pena 
sem lei escrita
— Vedação aos costumes como fonte de criminalização de condutas ou 
punibilidade.
Em matéria penal, é vedada a utilização do costume como fonte da lei 
penal, uma vez que a forma constitui garantia do cidadão e por isso deve 
ser pública, geral e escrita.
3. Nullum crimen, nulla poena sine lege stricta — não há crime nem pena sem 
lei estrita
— Vedação à analogia in malam partem.
Outra derivação que se extrai da legalidade é a vedação da analogia in 
malam partem (em desfavor do réu). A analogia é a aplicação da lei a fatos 
semelhantes sem expressa previsão legal. Na verdade, o que proíbe essa 
derivação é que o juiz inove na interpretação da lei em prejuízo do réu. A 
analogia in bonam partem não é vedada, embora seu reconhecimento exija 
ampla fundamentação quanto a sua pertinência ao caso concreto.
4. Nullum crimen, nulla poena sine lege certa — não há crime nem pena sem lei certa
— Vedação à normas penais vagas, imprecisas, indeterminadas
CRIME E SOCIEDADE
27FGV DIREITO RIO
Ainda como consectário lógico do princípio da legalidade, há o princípio 
da taxatividade. É vedada a indeterminação normativa que crie tipos abertos, 
sob o risco de vulnerar a garantia que a legalidade representa. Por exemplo, 
a qualificadora do homicídio “por motivo fútil” (art.121, §2°, II, CP), é um 
tipo vago que comporta múltiplas situações. Não por outro motivo as leis 
criadas em regimes autoritários possuem exatamente essa marca de arbítrio, 
concedendo amplo poder ao juiz na perseguição das dissidências político-
-ideológicas, como nas Leis de Segurança Nacional nas ditaduras latino ame-
ricanas do século passado.
Por fim, a legalidade também informa o princípio da reserva legal, o qual 
determina que os tipos penais incriminadores somente podem ser criados 
através de lei pelo Poder Legislativo e respeitando o procedimento previsto 
na Constituição Federal. No campo do Direito Penal, essa limitação serve 
para assegurar que somente normas produzidas de forma democrática, pelos 
representantes eleitos pelo povo, podem vincular os cidadãos. Normas ema-
nadas diretamente pelo Executivo não preenchem esse critério, pois embora 
o Presidente da República tenha legitimidade popular, somente o Poder Le-
gislativo (com todas as dificuldades que tenha ou possa vir a ter) representa a 
pluralidade de concepções de justiça de uma sociedade.
Desta forma, pode-se fazer uma ligação direta do princípio da Reserva 
Legalcom o princípio da vedação do uso de Direito Costumeiro, que seria 
uma faceta daquele. 
CASO PARA LEITURA OBRIGATÓRIA E FICHAMENTO: HC 70.389 – STF 
Em agosto de 1991, no condomínio de classe média Jardim Colonial, dois 
policiais militares, foram chamados para atender uma ocorrência de furto de 
bicicleta supostamente cometido por um adolescente dentro do condomínio. 
O crime de furto consiste em subtrair coisa alheia para si ou para outrem, 
como previsto no art. 155 do Código Penal.
O suposto autor do fato foi capturado e se achava detido pelos vigilantes 
do condomínio que entraram em contato com a polícia que se dirigiu ao 
local. A vítima, de acordo com os vigilantes, afirmou que o menor era autor 
do fato. Com base nisso, acatando as conclusões dos vigilantes, os policiais 
militares detiveram o adolescente, que não tinha qualquer bicicleta em sua 
posse, e conduziram-no ao posto policial, onde passaram a agredi-lo violen-
tamente com socos, pontapés e golpes de cassetete para que confessasse haver 
subtraído a bicicleta.
CRIME E SOCIEDADE
28FGV DIREITO RIO
A questão jurídica
Diante dos atos praticados pelos policiais, duas ações foram instauradas. A pri-
meira ação penal foi ajuizada na Justiça Estadual Militar, para apurar o crime de 
lesão corporal praticado por militar (art. 209, do Código Penal Militar; Decreto-
-Lei Nº 1.001, de 21 de outubro de 1969): “Art. 209. Ofender a integridade 
corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano”. 
Uma segunda ação penal foi instaurada para apurar o mesmo fato, porém 
perante a Justiça Estadual Comum, para apurar o crime de tortura contra 
criança ou adolescente (art. 233, do Estatuto da Criança e do Adolescente; 
Lei 8069/90): “Art. 233. Submeter criança ou adolescente sob sua autorida-
de, guarda ou vigilância a tortura: Pena - reclusão de um a cinco anos. § 1º 
Se resultar lesão corporal grave: Pena - reclusão de dois a oito anos. § 2º Se 
resultar lesão corporal gravíssima: Pena - reclusão de quatro a doze anos. § 3º 
Se resultar morte: Pena - reclusão de quinze a trinta anos”22.
A defesa dos policiais alegou que ninguém pode ser processado nem punido 
duas vezes pelo mesmo fato (princípio do ne bis in idem). Para solucionar qual 
deveria ser a justiça competente, foi suscitado um conflito de competência pe-
rante o Superior Tribunal de Justiça, que julga questões infraconstitucionais. 
O STJ, no entanto, determinou que ambas as ações teriam prosseguimento. 
A defesa recorreu novamente, impetrando um habeas corpus e o caso foi 
ao Supremo Tribunal Federal, órgão responsável pela interpretação da Cons-
tituição Federal e da proteção dos direitos e garantias individuais, que disse 
que o caso deveria ser julgado pelo Justiça Estadual Comum, pois o crime 
de prática de tortura contra criança ou adolescente era mais específico que 
a lesão corporal genérica prevista no Código Penal Militar. Porém, o STF 
iniciou uma discussão se o art. 233 era inconstitucional, à luz dos princípios 
da taxatividade e da reserva legal. 
Questões a serem enfrentadas
1) O crime do art. 233, do ECA, respeita a regra da reserva legal? 
2) O crime de tortura pode ser preenchido por meio das convenções interna-
cionais que o Brasil ratificou e incorporou ao direito pátrio?
3) O crime de tortura pode ser preenchido por um conteúdo que não esteja normatizado?
4) O fato de tramitarem no Congresso seis diferentes projetos para tipificar a 
tortura permite ao judiciário escolher uma definição?
5) O Poder Judiciário pode flexibilizar essa garantia, quando estiver diante 
de um crime grave?
6) É correto punir alguém por crime de tortura sem que seja taxativamente 
definido em lei o ato de torturar?
22 Esse artigo foi revogado em 1997, com a edição da Lei 9.455/97. Na época dos fatos e do julgamento, contudo, a Lei 9.455/97 não existia.
22 Esse artigo foi revogado em 1997, 
com a edição da Lei 9.455/97. Na época 
dos fatos e do julgamento, contudo, a 
Lei 9.455/97 não existia.
CRIME E SOCIEDADE
29FGV DIREITO RIO
AULA 6: PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL II
Princípio da exclusiva proteção de bens jurídicos. Princípio da interven-
ção mínima. Princípio da subsidiariedade do direito penal. Princípio da 
fragmentariedade. Princípio da culpabilidade. Princípio da responsabilidade 
pessoal. Princípio da insignificância
CASO PARA LEITURA OBRIGATÓRIA E FICHAMENTO:
Habeas Corpus nº 84.412, do Supremo Tribunal Federal.
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR PARA ESSA AULA:
Artigo do professor de Direito Penal da USP Pierpaolo Bottini: Princípio 
da insignificância é um tema em construção: http://www.conjur.com.
br/2011-jul-26/direito-defesa-principio-insignificancia-tema-construcao
PRINCÍPIO DA EXCLUSIVA PROTEÇÃO DE BENS JURÍDICOS
O princípio da exclusiva proteção de bens jurídicos repudia incrimina-
ções que ofendam apenas valores morais, éticos ou religiosos. Isso significa 
que o direito não pode punir formas de existência e suas expressões, deven-
do reconhecer no indivíduo sua autodeterminação (âmbito de autonomia 
moral), daí que não deveria incriminar situações que interditem liberdades 
constitucionais como:
a) no discutido caso do uso de drogas, onde haveria apenas autolesão 
(ofensa a própria saúde);
b) em casos em que haja consentimento do ofendido, ou seja, em que 
embora objetivamente tenha havido uma lesão, o lesionado tenha 
anuído expressamente (intervenções cirúrgicas, por exemplo);
c) pensamentos e suas expressões, garantindo a liberdade de expressão 
e informação contra a censura;
d) manifestação política, como a criminalização da greve em tempos 
passados;
e) expressões socioculturais de minorias. No início do século XX, por 
exemplo, as práticas dos negros recém-libertos, como a capoeira e as 
manifestações religiosas afro-brasileiras foram criminalizadas;
CRIME E SOCIEDADE
30FGV DIREITO RIO
f) condição social do indivíduo, como a vadiagem e a mendicância;
g) atos considerados obscenos, mas em contextos artísticos, lugares 
privados ou em situações que a pessoa não tenha agido de forma 
deliberada e pública na exposição das partes íntimas.
PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA 
A intervenção mínima (ultima ratio, em latim) é um princípio destina-
do ao legislador como critério quando da seleção de crimes e se baseia na 
ideia de que o direito penal só pode ser invocado em caso de extrema ne-
cessidade e quando se afigure como necessário em razão da inadequação 
de outro ramo do direito. Isso se fundamenta no fato da pena ser o meio 
mais gravoso de intervenção legal (tem a prisão como principal pena) e 
gerar danos de difícil reparação para aquele a que é impingida, podendo 
ser forma de estigma e fonte de novos conflitos.
Esse princípio advém de uma reação à enorme expansão que o direito 
penal conheceu nos últimos anos, se tornando muitas vezes a primeira e 
única saída a que recorre o Estado para responder aos anseios sociais. Por 
isso, dentro da lógica da intervenção mínima se extrai os princípios de 
subsidiariedade e fragmentariedade.
A subsidiariedade se refere à necessidade de adotar respostas al-
ternativas fora do campo penal, como o civil e o administrativo. A 
fragmentariedade requer que somente as lesões mais aos bens jurídicos 
mais importantes sejam passíveis de pena, sendo assim um sistema 
descontínuo de proteção.
PRINCÍPIO DA CULPABILIDADE
Complemento essencial ao princípio da legalidade, consagrado na fór-
mula latina nullum poena sine culpa, a culpabilidade se refere à capacidade 
de determinação do indivíduo frente ao delito. A evolução do direito 
penal substitui a incriminação mecanicista pela mera causação de um re-
sultado, pela consideração da vontade do agente dentro da ideia do delito 
como um fenômeno social, numa perspectiva finalista.
Segundo Cezar Roberto Bitencourt23, a culpabilidade possui três dimensões:
23 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral. Vol. 1. 13ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p.15 e 16
23 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado 
de Direito Penal:parte geral. Vol. 1. 13ª 
Ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p.15 e 16
CRIME E SOCIEDADE
31FGV DIREITO RIO
a) Fundamento da pena (elemento do crime) — etapa necessária de aferição 
no conceito analítico de crime, ou seja, não basta que o crime seja típico 
e antijurídico, deve também ser culpável (atribuível ao agente). É com 
base na culpabilidade, por exemplo, que o inimputável não é considerado 
passível de receber uma pena, mas apenas medida de segurança.
b) Medição da pena — serve como um dos critérios para determinar a 
aplicação da pena, conforme art. 59 do CP.
c) Responsabilidade subjetiva — a culpabilidade também se refere ao 
tipo subjetivo, requer dolo ou culpa para uma conduta ser conside-
rada típica, e não apenas que o agente tenha causado um resultado.
PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE PESSOAL
O princípio da culpabilidade implica, portanto, na exigência de uma res-
ponsabilidade pessoal. Logo, não se admite uma responsabilidade objetiva 
na esfera penal, nem que a pena possa passar da pessoa do condenado (como 
prevê expressamente a Constituição no Art.5°, XLV). Por essa razão uma 
das causas de extinção da punibilidade é a morte do agente. Isso não exclui, 
entretanto, a obrigação civil de reparar o dano por parte dos herdeiros.
Além da intranscedência da pena, o direito penal brasileiro adota a res-
ponsabilidade penal subjetiva, que deve ser sempre aplicado à pessoa huma-
na, capaz de vontade. Exceção a essa regra constitui a responsabilidade penal 
da pessoa jurídica prevista nos crimes ambientais — art. 225, §3º, CF/88 c/c 
art. 3º da Lei 9.605/98.
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
O critério de insignificância, criado por Claus Roxin, é uma técnica de 
interpretação da lei que permite afastar a incidência da norma penal por 
entender que embora esteja contida na descrição típica, a conduta não afeta 
o bem jurídico de modo relevante. Além de ajudar a cumprir a função de 
intervenção mínima do direito penal, é uma medida de política criminal, 
já que não se justifica mover a máquina estatal (custo, tempo, pessoal) para 
perseguir condutas dessa natureza.
Essa lição, hoje aperfeiçoada doutrinariamente, remonta ao período das 
primeiras conquistas do Direito Penal Moderno, enunciadas pela filosofia 
iluminista. Cesare Beccaria (Dos delitos e das penas. São Paulo: RT, 1996, 
p. 28), nos idos do sec. XVIII, já alertava que “Toda pena, que não derive da 
absoluta necessidade (...) é tirânica”.
CRIME E SOCIEDADE
32FGV DIREITO RIO
A despeito da grande evolução do Direito Penal, passados mais de du-
zentos anos desde a primeira edição da obra do mestre italiano, continua 
a vanguarda da ciência penal a reafirmar os mesmos princípios. Moderna-
mente, alinham-se ao lado do princípio da insignificância os preceitos de 
razoabilidade e proporcionalidade, que, conjugados, caracterizam a doutrina 
do Direito Penal Mínimo24.
No Brasil, o princípio da insignificância foi acolhido pela doutrina e 
pela jurisprudência. No entanto, o princípio da insignificância não tem 
previsão legislativa, sendo apenas uma criação doutrinária. Diante dessa si-
tuação, o respectivo princípio sofre críticas, uma vez que surge a indagação 
do que seria insignificante. 
Ao longo do tempo o Supremo Tribunal Federal passou a reiterar o en-
tendimento de que deve ser analisado o caso concreto e devem estar presentes 
os seguintes requisitos: 
 (a) mínima ofensividade da conduta do agente; 
 (b) ausência de periculosidade social da ação; 
 (c) reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento; e 
 (d) inexpressividade da lesão jurídica provocada.
Assim, o princípio da insignificância tem o sentido de não considerar o 
ato praticado como um crime, por isso, sua aplicação gera a absolvição do réu 
e não apenas a diminuição e substituição da pena. Mais do que isso, aplica-
-se esse princípio com o intuito de retirar do direito penal condutas que não 
produzam prejuízos significativos a bens jurídicos tutelados.
O princípio da insignificância é a expressão jurisprudencial da aplicação 
da lesividade, que é mais abrangente (basta ser pensado como “lesão insigni-
ficante ao bem jurídico tutelado”). Geralmente, na prática judicial brasileira, 
é reconhecido em caso de crimes cometidos sem violência, cujo principal 
exemplo é o furto de coisa de pequeno valor ou em crimes fiscais de pouca 
monta, como a evasão de divisas ou a sonegação fiscal.
CASO PARA LEITURA OBRIGATÓRIA E FICHAMENTO: HC 84.412 – STF 
Um jovem desempregado de 19 anos furtou uma fita de vídeo-game, com 
valor estimado de R$ 25,00. A vítima fez um registro na Delegacia de Polícia 
e B. foi localizado. A fita foi devolvida, pois B. a utilizara somente para jogar 
algumas partidas do jogo eletrônico.
24 “A proposta desinstitucionalizadora tendente à despenalização, descriminalização (em suas diferentes formas) e diversificação na solução dos 
conflitos sociais é uma das ferramentas no nosso modo de ver, a de mais urgente utilização nesse esforço de revisão e racionalização do Direito Penal, a fim de 
colocá-lo a serviço de uma maior justiça e solidariedade social. Outorgamos prioridade a esta iniciativa, pois se impõe antes de tudo a tarefa de descongestio-
nar os pesados códigos e aliviar os tribunais transbordantes de assuntos de pouca relevância ou não sentidos pela vítima ou pela sociedade como delitivos e 
frequentemente, inclusive, chamados a intervir sem possibilidade de êxito, em conflitos que podem encontrar solução eficaz em outros foros”. CERVINI, Raúl: Os 
processos de descriminalização. 2a edição. São Paulo: RT, 1995. p. 195.
24 “A proposta desinstitucionalizadora 
tendente à despenalização, descrimi-
nalização (em suas diferentes formas) 
e diversificação na solução dos conflitos 
sociais é uma das ferramentas no nosso 
modo de ver, a de mais urgente utiliza-
ção nesse esforço de revisão e racionali-
zação do Direito Penal, a fim de colocá-
-lo a serviço de uma maior justiça e soli-
dariedade social. Outorgamos priorida-
de a esta iniciativa, pois se impõe antes 
de tudo a tarefa de descongestionar os 
pesados códigos e aliviar os tribunais 
transbordantes de assuntos de pouca 
relevância ou não sentidos pela vítima 
ou pela sociedade como delitivos e 
frequentemente, inclusive, chamados a 
intervir sem possibilidade de êxito, em 
conflitos que podem encontrar solução 
eficaz em outros foros”. CERVINI, Raúl: 
Os processos de descriminalização. 2a 
edição. São Paulo: RT, 1995. p. 195.
CRIME E SOCIEDADE
33FGV DIREITO RIO
Diante dos fatos, a vítima pretendia “retirar a queixa e a fita foi devolvida, 
contudo o acusado foi condenado a 8 meses de reclusão por uma conduta 
que para muitos pode ser considerada como insignificante, ou seja, não causa 
uma lesão a um bem jurídico protegido, qual seja o patrimônio, de forma a 
ensejar a necessidade de que o direito penal seja aplicado.
A defesa recorreu e a decisão foi mantida pelo Tribunal de Justiça e pelo 
Superior Tribunal de Justiça. Assim, foi impetrado Habeas Corpus no Su-
premo Tribunal Federal para que, destacando que o parecer do Ministério 
Público foi favorável a manutenção da pena.
Questões a serem enfrentadas
1) É correto deixar de punir alguém porque o a pena seria desproporcional 
ao crime praticado?
2) O Poder Judiciário pode deixar de aplicar a lei penal quando estiver diante 
de um crime sem gravidade?
3) Como identificar quando um crime não tem gravidade?
CRIME E SOCIEDADE
34FGV DIREITO RIO
AULA 7: PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL III.
Princípio da lesividade. Princípio da adequação social. Princípio da pro-
porcionalidade.
CASO PARA LEITURA OBRIGATÓRIA E FICHAMENTO:
Habeas Corpus nº 124.306, do Supremo Tribunal Federal.
LEITURA COMPLEMENTAR
Sobre os sistemas político-jurídicos de enquadramento da prostituição — 
proibicionista, abolicionista e regulador: Prostituição: diferentes posicio-
namentos no movimento feminista, disponível em: http://www.umarfe-
minismos.org/images/stories/pdf/prostituicaomantavares.pdf 
PRINCÍPIO DA LESIVIDADE
Também chamado

Continue navegando