Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
GRADUAÇÃO 2019.1 CRIME E SOCIEDADE AUTORES: THIAGO BOTTINO, ANDRÉ PACHECO TEIXEIRA MENDES E FERNANDA PRATES FRAGA COLABORADORES EM VERSÕES ANTERIORES DESSE MATERIAL: PAULO RICARDO FIGUEIRA MENDES, PALOMA CANECA, ARTHUR LARDOSA, DAVID SCHECHTMAN GRADUAÇÃO 2020.1 Sumário Crime e Sociedade ApReSentAÇÃO DO CURSO ......................................................................................................................................3 BLOCO I — IntRODUÇÃO À CRIMInOLOGIA. COnCeItO. FUnÇÕeS. CRÍtICAS. .......................................................................13 AULA 1: eSCOLAS CRIMInOLÓGICAS: CRIMInOLOGIA CLÁSSICA. CRIMInOLOGIA pOSItIVIStA ...................................................13 AULA 2: eSCOLAS CRIMInOLÓGICAS: CRIMInOLOGIA FUnCIOnALIStA. ..................................................................................16 AULA 3: eSCOLAS CRIMInOLÓGICAS: CRIMInOLOGIA CRÍtICA. .........................................................................................17 AULA 4: eSCOLAS CRIMInOLÓGICAS: nOVOS MOVIMentOS CRIMInOLOGICOS ......................................................................19 BLOCO II — IntRODUÇÃO AO DIReItO penAL e teORIA DA nORMA penAL .........................................................................20 AULA 5: IntRODUÇÃO AO DIReItO penAL. pRInCÍpIO DA LeGALIDADe ...............................................................................20 AULA 6: pRInCÍpIOS DO DIReItO penAL II .................................................................................................................29 AULA 7: pRInCÍpIOS DO DIReItO penAL III. ................................................................................................................34 AULA 8: pRInCÍpIOS DO DIReItO penAL IV. ApLICAÇÃO DA LeI penAL nO teMpO .................................................................39 BLOCO III — teORIA DO CRIMe ..............................................................................................................................45 AULA 09: teORIA DO CRIMe ...................................................................................................................................45 AULA 10: FAtO tÍpICO I. teORIA DA COnDUtA. AÇÃO e OMISSÃO penALMente ReLeVAnte. ....................................................49 AULA 11: FAtO tÍpICO II .......................................................................................................................................56 AULAS 12, 13 e 14: AntIJURIDICIDADe ......................................................................................................................63 AULAS 15, 16 e 17: CULpABILIDADe .........................................................................................................................74 AULA 18: tentAtIVA e COnSUMAÇÃO .......................................................................................................................79 AULA 19: COnCURSO De peSSOAS ............................................................................................................................80 BLOCO IV — IntRODUÇÃO AO DIReItO pROCeSSUAL penAL ...........................................................................................82 AULA 20: pRInCÍpIO DA pReSUnÇÃO De InOCÊnCIA .....................................................................................................82 AULA 21: pRInCÍpIO DA VeDAÇÃO De AUtOInCRIMInAÇÃO .............................................................................................85 AULA 22: pRInCÍpIO DA VeDAÇÃO De pROVAS ILÍCItAS .................................................................................................89 AULA 23: AnÁLISe eCOnÔMICA DO CRIMe ..................................................................................................................97 CRIME E SOCIEDADE 3FGV DIREITO RIO I. APRESENTAÇÃO DO CURSO A disciplina Crime e Sociedade constitui o primeiro contato que o estu- dante terá com os temas de Criminologia, Direito Penal e Direito Processual Penal no curso da FGV Direito Rio. O ciclo de estudos de Direito Criminal compreende também a disciplina obrigatória de Penas e Medidas Alternati- vas, além de diversas disciplinas eletivas que aprofundam temas de cada uma daquelas três áreas Nesta parte obrigatória do ciclo (disciplinas do primeiro ano) serão abor- dados os conceitos fundamentais do direito penal (teoria do crime e teoria da pena), noções de processo penal e criminologia. Ainda serão abordadas as questões referentes à adequação do sistema penal ao Estado Democrático de Direito. Na parte eletiva do curso, são oferecidas disciplinas como “Processo Penal 1” e “Processo Penal 2”, “Criminologia e Execução Penal”; “Crime: Sexo, Drogas e Armas”, “Crimes contra a Administração Pública”, “Direito Penal Econômico”, “Tópicos Especiais de Direito Penal”. Também há possibilidade de aprofundamento dos estudos na área penal por meio de field projects e clínicas nessa área do direito, oferecidos ao longo da formação acadêmica. II. INTRODUÇÃO O objetivo da disciplina Crime e Sociedade é refletir sobre as funções de criminalizar condutas, processar os indivíduos e impor penas. Essa atividade é exclusiva do Estado e, para ser legítima, deve observar limites. A fim de identificar os critérios e requisitos de legitimidade da punição de condutas são propostas as seguintes questões: • A justiça é um conceito moral ou jurídico? • Quem deve ser encarregado da execução da justiça, o Estado ou o indivíduo? • Quais as regras que devem ser observadas quando se constrói um sistema penal? • O que é direito penal? Qual sua função? Quando ele poderá ser aplicado? CRIME E SOCIEDADE 4FGV DIREITO RIO • Do ponto de vista jurídico, o que é crime? Quais elementos com- põem o conceito de crime? Como um crime é praticado? • Quem comete um crime? De que forma alguém pode ser responsa- bilizado por um fato criminoso? Essas perguntas norteiam o curso Crime e Sociedade e é a partir delas, e de muitas outras que o aluno possa formular, que se seguem questionamentos centrais para se entender o sistema de justiça penal em um determinado país: “POR QUÊ” • CRIMINALIZAR COMPORTAMENTOS • PROCESSAR PESSOAS • PUNIR INDIVÍDUOS “COMO” “QUANDO” Ao buscar respostas para tais questões, os alunos refletem sobre os prin- cípios fundamentais que orientam o Direito Penal e Processual Penal. Essa reflexão será estimulada a partir da comparação entre o arranjo teórico cons- titucional e o funcionamento efetivo do sistema. Nesse ponto, destaca-se a utilização de casos paradigmáticos como forma de análise do sistema ideal e do sistema efetivo. No âmbito do Direito Penal, são estudados temas como segurança jurí- dica, coerência legislativa e amplitude dos poderes do juiz na aplicação da lei penal, além da teoria que define o crime e impõe uma pena à quem o pratica. Na seara do Direito Processual Penal, destacam-se os temas como construção da verdade, conflito entre garantias fundamentais e devido pro- cesso legal. Por fim, serão estudados também alguns conceitos de política criminal – especialmente a relação existente entre o sistema penal, a demo- cracia e o Estado de Direito. A finalidade é questionar se existe um modelo de sistema punitivo que se coadune com os postulados básicos do Estado Democrático de Direito, criando um “modelo ideal” de sistema punitivo: quanto mais próximo desse modelo ideal estiverem as leis e as práticas po- liciais e judiciais, maior o grau de democracia e segurança jurídica de um determinado sistema punitivo. Transversalmente às discussões acima, surgem temas como a filtragem constitucional no Direito Penal e Processual Penal; o recurso aos postulados da ponderação, proporcionalidade e razoabilidade na construção de decisões em matéria penal; e, a utilização de argumentos de “emergência” e “exceção” como fundamento de sentenças criminais. Todos esses temas conectam oDireito Penal com o Direito Constitucional, a Teoria do Direito e a Teoria da Democracia, reforçando uma abordagem interdisciplinar da matéria. CRIME E SOCIEDADE 5FGV DIREITO RIO Mas em que contexto se insere o direito penal e a prisão como pena? Embora antropologicamente a pena remonte à história antiga, a origem histórica do direito penal como conhecemos hoje é contemporânea das revo- luções liberais (americana e francesa) do século XVIII. Associado à contenção do poder punitivo do Estado na superação do absolutismo, o liberalismo marca o princípio da ideia de Estado de Direito, “um governo de leis e não de homens”. Já a forma de punição por excelência, a prisão, se consolida no século XIX, com a revolução industrial, que passa a conceber a pena como tempo cumprido em isolamento num estabelecimento voltado ao trabalho. No Brasil pós-independência, as ideias liberais já regiam o Código Crimi- nal de 1830, mas a consolidação desse processo só se deu no fim do século XIX, com o fim da escravidão e com o Código Penal de 1890, já na Repú- blica. O Código Penal em vigor é de 1940 (que entrou em vigor juntamente com o Código de Processo Penal e a Lei de Contravenções Penais, todas legislações decretadas durante a ditadura do Estado Novo, sem terem sido jamais votadas pelo Congresso Nacional). O Código Penal sofreu uma reforma completa na parte geral (estabelece regras e princípios para aplicação do Direito Penal) em 1984, além de muitas outras alterações pontuais ao longo dos anos. A parte especial (que os prevê os crimes e comina as penas) também sofreu alterações ao longo dos anos, sendo complementada, sobretudo, por leis penais esparsas, fora do Código Penal, especialmente quando tratam de “subsistemas” específicos, como dro- gas, trânsito, crimes econômicos, dentre outros. III. DELIMITAÇÃO DO CONTEÚDO DA DISCIPLINA O curso de Crime e Sociedade é dividido em quatro blocos: (1) Crimino- logia; (2) Introdução ao Direito Penal e Teoria da Norma Penal; (3) Teoria do Crime; e, (4) Introdução ao Direito Processual Penal. No Código Penal, a matéria objeto deste curso abrange o art.1° ao art.31. No primeiro bloco, o curso se inicia com uma breve introdução sobre o pensamento criminológico, abordando seu conceito, objeto e metodologia, bem como as principais escolas criminológicas e os dois grandes paradigmas presentes nesta disciplina. Além disso, neste bloco serão analisados os movi- mentos modernos de política criminal. CRIME E SOCIEDADE 6FGV DIREITO RIO O segundo bloco trata do direito penal e serão abordados seu con- ceito, função e perspectiva crítica. O objetivo é permitir que o aluno reflita sobre questões como: para que serve o direito penal? Quem atua na sua criação e aplicação? O direito penal realmente atua segundo os seus fundamentos? Para alcançar esse objetivo, as aulas terão ênfase nos prin- cípios do direito penal. Depois, serão estudadas as regras para aplicação da lei penal ao fato criminoso no tempo e no espaço. No terceiro bloco, as aulas seguintes, que compõem a maior parte do curso, serão voltadas ao estudo da Teoria do Crime. O que é crime? Partindo do denominado conceito analítico de crime e da análise de cada uma das partes componentes desse conceito, espera-se que o aluno desen- volva a habilidade de identificar, na realidade, a ocorrência do fato crimi- noso. Essa etapa é fundamental para a compreensão da dogmática penal. Um maior número de aulas abordará os elementos da teoria do delito, ou seja, as partes que compõem o conceito de crime (ação, tipicidade, antijuridicidade e culpabilidade). Posteriormente, analisaremos de que forma o crime é realizado. Trata- -se de discutir o caminho do crime. Quando ele se inicia? Em que mo- mento ele é punível? A discussão se dará em torno do estudo das catego- rias da tentativa e da consumação. Esse bloco se encerra com a investigação sobre quem pode ser respon- sabilizado pela prática de um crime. Quem pratica o crime? Assim, to- maremos como objeto de estudo as categorias da autoria e participação. Por fim, o quarto bloco do curso se dedica a compreender as regras básicas da investigação e produção de provas, criando as estruturas do de- vido processo legal, sem o qual qualquer imposição de penas torna-se não apenas ilegal, como ilegítima. O plano de ensino prevê o conteúdo distribuído na forma do crono- grama abaixo: CRIME E SOCIEDADE 7FGV DIREITO RIO AULA DAtA COnteúDO / AtIVIDADe 0 12/fev SEMANA DE AMBIENTAÇÃO 0 14/fev SEMANA DE AMBIENTAÇÃO 1 19/fev Apresentação do Curso: objetivos, metodologia, avaliação e bibliografia. BLOCO I Introdução à Criminologia. Conceito. Função. Críticas. Escolas Criminológicas. Criminologia Clássica. Criminologia Positivista. 2 21/fev Escolas Criminológicas. Criminologia Funcionalista. 3 26/fev Escolas Criminológicas. Criminologia do Etiquetamento. Criminologia Crítica. 4 28/fev Escolas Criminológicas. Novos Movimentos de Política Criminal. 5 12/mar BLOCO II Princípios do Direito Penal I. Introdução ao direito penal. Princípio da legalidade. • HC 70.389 STF 6 14/mar Princípios do Direito Penal II. Princípio da exclusiva proteção de bens jurídicos. Princípio da intervenção mínima. Princípio da subsidiariedade do direito penal. Princípio da fragmentariedade. Princípio da culpabilidade. Princípio da responsabilidade pessoal. Princípio da insignificância • HC 84.412, STF 7 19/mar Princípios do Direito Penal III. Princípio da lesividade. Princípio da adequação social. Princípio da proporcionalidade. • HC 124.306, STF 8 21/mar Princípios do Direito Penal IV. Aplicação da Lei Penal no Tempo. Princípio da extra atividade da lei penal. Ultra atividade. Retroatividade. • RHC 81.453, STF 9 26/mar BLOCO III Teoria do Crime. Conceito Analítico de Crime I. Classificação dos Crimes: crime de dano/lesão e de perigo (abstrato/presumido e concreto); crime material, formal e de mera conduta; crime comum, próprio e de mão própria; crime de dano e de perigo (abstrato e concreto); crime material, formal e de mera conduta; crime comum, próprio e de mão própria. • RHC 81.057, STF • RHC 90.197, STF 10 28/mar Fato Típico I. Teoria da conduta. Ação e omissão penalmente relevante. Causas de exclusão da ação. Relação de Causalidade. 11 02/abr Fato Típico I. Teoria da conduta. Ação e omissão penalmente relevante. Causas de exclusão da ação. Relação de Causalidade. AULA CONTEÚDO/ATIVIDADE 0 SEMANA DE AMBIENTAÇÃO 0 SEMANA DE AMBIENTAÇÃO 1 Apresentação do Curso: objetivos, metodologia, avaliação e bibliografia. BLOCO I Introdução à Criminologia. Conceito. Função. Críticas. Escolas Criminológicas. Criminologia Clássica. Criminologia Positivista. 2 Escolas Criminológicas. Criminologia Funcionalista. 3 Escolas Criminológicas. Criminologia do Etiquetamento. Criminologia Crítica. 4 Escolas Criminológicas. Novos Movimentos de Política Criminal. 5 BLOCO II Princípios do Direito Penal I. Introdução ao direito penal. Princípio da legalidade. • HC 70.389 STF 6 Princípios do Direito Penal II. Princípio da exclusiva proteção de bens jurídicos. Princípio da intervenção mínima. Princípio da subsidiariedade do direito penal. Princípio da fragmentariedade. Princípio da culpabilidade. Princípio da responsabilidade pessoal. Princípio da insignificância • HC 84.412, STF 7 Princípios do Direito Penal III. Princípio da lesividade. Princípio da adequação social. Princípio da proporcionalidade. • HC 124.306, STF 8 Princípios do Direito Penal IV. Aplicação da Lei Penal no Tempo. Princípio da extra atividade da lei penal. Ultra atividade. Retroatividade. • RHC 81.453, STF 9 BLOCO III Teoria do Crime. Conceito Analítico de Crime I. Classificação dos Crimes: crime de dano/ lesão e de perigo (abstrato/presumido e concreto); crime material, formal e de mera conduta; crime comum, próprio e de mão própria; crime de dano e de perigo (abstrato e concreto); crime material, formal e de mera conduta; crime comum, próprio e de mão própria. • RHC81.057, STF • RHC 90.197, STF 10 Fato Típico I. Teoria da conduta. Ação e omissão penalmente relevante. Causas de exclusão da ação. Relação de Causalidade. 11 Fato Típico I. Teoria da conduta. Ação e omissão penalmente relevante. Causas de exclusão da ação. Relação de Causalidade. CRIME E SOCIEDADE 7FGV DIREITO RIO AULA DAtA COnteúDO / AtIVIDADe 0 12/fev SEMANA DE AMBIENTAÇÃO 0 14/fev SEMANA DE AMBIENTAÇÃO 1 19/fev Apresentação do Curso: objetivos, metodologia, avaliação e bibliografia. BLOCO I Introdução à Criminologia. Conceito. Função. Críticas. Escolas Criminológicas. Criminologia Clássica. Criminologia Positivista. 2 21/fev Escolas Criminológicas. Criminologia Funcionalista. 3 26/fev Escolas Criminológicas. Criminologia do Etiquetamento. Criminologia Crítica. 4 28/fev Escolas Criminológicas. Novos Movimentos de Política Criminal. 5 12/mar BLOCO II Princípios do Direito Penal I. Introdução ao direito penal. Princípio da legalidade. • HC 70.389 STF 6 14/mar Princípios do Direito Penal II. Princípio da exclusiva proteção de bens jurídicos. Princípio da intervenção mínima. Princípio da subsidiariedade do direito penal. Princípio da fragmentariedade. Princípio da culpabilidade. Princípio da responsabilidade pessoal. Princípio da insignificância • HC 84.412, STF 7 19/mar Princípios do Direito Penal III. Princípio da lesividade. Princípio da adequação social. Princípio da proporcionalidade. • HC 124.306, STF 8 21/mar Princípios do Direito Penal IV. Aplicação da Lei Penal no Tempo. Princípio da extra atividade da lei penal. Ultra atividade. Retroatividade. • RHC 81.453, STF 9 26/mar BLOCO III Teoria do Crime. Conceito Analítico de Crime I. Classificação dos Crimes: crime de dano/lesão e de perigo (abstrato/presumido e concreto); crime material, formal e de mera conduta; crime comum, próprio e de mão própria; crime de dano e de perigo (abstrato e concreto); crime material, formal e de mera conduta; crime comum, próprio e de mão própria. • RHC 81.057, STF • RHC 90.197, STF 10 28/mar Fato Típico I. Teoria da conduta. Ação e omissão penalmente relevante. Causas de exclusão da ação. Relação de Causalidade. 11 02/abr Fato Típico I. Teoria da conduta. Ação e omissão penalmente relevante. Causas de exclusão da ação. Relação de Causalidade. CRIME E SOCIEDADE 8FGV DIREITO RIO 12 04/abr Fato Típico II. Tipo Subjetivo. Dolo e Culpa. 13 09/abr 1ª PROVA 14 25/abr Antijuridicidade I. Legítima defesa. 15 30/abr Antijuridicidade II. Estado de necessidade 16 02/mai Antijuridicidade III. Estrito cumprimento do dever legal, Exercício regular de direito. Consentimento do ofendido. 17 07/mai Culpabilidade I. Introdução. Conceito. Elementos. Imputabilidade. Maioridade e Sanidade. Inimputabilidade. Emoção e paixão. Embriaguez voluntária e involuntária. 18 09/mai Culpabilidade II. Potencial Conhecimento da Ilicitude. Teoria do Erro. Erro de Proibição. Erro de Tipo. Descriminantes Putativas. 19 14/mai Culpabilidade III. Exigibilidade de Conduta Diversa. Causas legais de exclusão: coação moral irresistível e obediência a ordem não manifestamente ilegal de superior hierárquico. Exigibilidade de Conduta Diversa. Causas supralegais de exclusão. 20 16/mai Tentativa e consumação. Iter criminis: etapas de realização do delito. Desistência voluntária. Arrependimento eficaz. Arrependimento posterior. Crime impossível. • HC 84.653, STF 21 21/mai Concurso de pessoas. Autoria e participação. 22 23/mai Concurso de pessoas. Autoria e participação. 23 28/mai BLOCO IV Princípios do Direito Processual Penal I. Introdução ao processo penal. Princípio da Presunção de inocência. • ADC 43 e HC 126.292, ambos do STF 24 30/mai Princípios do Direito Processual Penal II. Princípio da vedação de autoincriminação. • ADPF 395, STF 25 04/jun Princípios do Direito Processual Penal III. Princípio da vedação de provas ilícitas. Reclamação 23.457, STF 26 06/jun Princípios do Direito Processual Penal IV. Análise Econômica do Crime e Colaboração Premiada 27 11/jun AULA EXTRA – REPOSIÇÃO – AULA REVISÃO 28 13/jun 2ª PROVA 29 26/jun 2ª CHAMADA 30 03/jul PROVA FINAL CRIME E SOCIEDADE 8FGV DIREITO RIO 12 04/abr Fato Típico II. Tipo Subjetivo. Dolo e Culpa. 13 09/abr 1ª PROVA 14 25/abr Antijuridicidade I. Legítima defesa. 15 30/abr Antijuridicidade II. Estado de necessidade 16 02/mai Antijuridicidade III. Estrito cumprimento do dever legal, Exercício regular de direito. Consentimento do ofendido. 17 07/mai Culpabilidade I. Introdução. Conceito. Elementos. Imputabilidade. Maioridade e Sanidade. Inimputabilidade. Emoção e paixão. Embriaguez voluntária e involuntária. 18 09/mai Culpabilidade II. Potencial Conhecimento da Ilicitude. Teoria do Erro. Erro de Proibição. Erro de Tipo. Descriminantes Putativas. 19 14/mai Culpabilidade III. Exigibilidade de Conduta Diversa. Causas legais de exclusão: coação moral irresistível e obediência a ordem não manifestamente ilegal de superior hierárquico. Exigibilidade de Conduta Diversa. Causas supralegais de exclusão. 20 16/mai Tentativa e consumação. Iter criminis: etapas de realização do delito. Desistência voluntária. Arrependimento eficaz. Arrependimento posterior. Crime impossível. • HC 84.653, STF 21 21/mai Concurso de pessoas. Autoria e participação. 22 23/mai Concurso de pessoas. Autoria e participação. 23 28/mai BLOCO IV Princípios do Direito Processual Penal I. Introdução ao processo penal. Princípio da Presunção de inocência. • ADC 43 e HC 126.292, ambos do STF 24 30/mai Princípios do Direito Processual Penal II. Princípio da vedação de autoincriminação. • ADPF 395, STF 25 04/jun Princípios do Direito Processual Penal III. Princípio da vedação de provas ilícitas. Reclamação 23.457, STF 26 06/jun Princípios do Direito Processual Penal IV. Análise Econômica do Crime e Colaboração Premiada 27 11/jun AULA EXTRA – REPOSIÇÃO – AULA REVISÃO 28 13/jun 2ª PROVA 29 26/jun 2ª CHAMADA 30 03/jul PROVA FINAL 12 Fato Típico II. Tipo Subjetivo. Dolo e Culpa. 13 1ª PROVA 14 Antijuridicidade I. Legítima defesa. 15 Antijuridicidade II. Estado de necessidade 16 Antijuridicidade III. Estrito cumprimento do dever legal, Exercício regular de direito. Consentimento do ofendido. 17 Culpabilidade I. Introdução. Conceito. Elementos. Imputabilidade. Maioridade e Sanidade. Inimputabilidade. Emoção e paixão. Embriaguez voluntária e involuntária. 18 Culpabilidade II. Potencial Conhecimento da Ilicitude. Teoria do Erro. Erro de Proibição. Erro de Tipo. Descriminantes Putativas. 19 Culpabilidade III. Exigibilidade de Conduta Diversa. Causas legais de exclusão: coação moral irresistível e obediência a ordem não manifestamente ilegal de superior hierárquico. Exigibilidade de Conduta Diversa. Causas supralegais de exclusão. 20 Tentativa e consumação. Iter criminis: etapas de realização do delito. Desistência voluntária. Arrependimento eficaz. Arrependimento posterior. Crime impossível. • HC 84.653, STF 21 Concurso de pessoas. Autoria e participação. 22 Concurso de pessoas. Autoria e participação. 23 BLOCO IV Princípios do Direito Processual Penal I. Introdução ao processo penal. Princípio da Presunção de inocência. • ADC 43 e HC 126.292, ambos do STF 24 Princípios do Direito Processual Penal II. Princípio da vedação de autoincriminação.• ADPF 395, STF 25 Princípios do Direito Processual Penal III. Princípio da vedação de provas ilícitas.Reclamação 23.457, STF 26 Princípios do Direito Processual Penal IV. Análise Econômica do Crime e Colaboração Premiada 27 AULA EXTRA – REPOSIÇÃO – AULA REVISÃO 28 2ª PROVA 29 2ª CHAMADA 30 PROVA FINAL CRIME E SOCIEDADE 9FGV DIREITO RIO IV. METODOLOGIA Cada aula consistirá numa exposição do tema em diálogo com os alu- nos (que deverão ler previamente a bibliografia indicada no material di- dático) e de uma discussão acerca de um caso concreto (principalmente decisões judiciais). Espera-se poder instigar a participação e promover a capacidade do aluno de criar soluções jurídicaspara os problemas apre- sentados, ao mesmo tempo em que é revelado o contexto social em que é aplicável o conteúdo estudado. Essa metodologia aposta na capacidade do aluno de graduação da FGV Direito Rio de aplicar a compreensão teórica à prática do direito e estimular sua participação no processo de aprendizagem. Fornecendo as diretrizes da matéria, visa também fomentar a continuidade da aprendi- zagem para além da sala de aula por meio de atividades que impliquem habilidades essenciais ao futuro profissional do direito como: pesquisar, argumentar, analisar, criticar, formular problemas e apresentar soluções. O uso de casos concretos que possuem ligação com situações cotidia- nas traz a realidade da aplicação do direito para dentro da sala de aula e estimula a participação do aluno no processo de aprendizado, criando-se um ambiente de interatividade entre aluno e professor e aprimorando sua capacidade de raciocínio lógico-jurídico. O objetivo dessa metodologia é habilitar o aluno a identificar problemas e resolvê-los de forma pragmá- tica, sem deixar de se posicionar criticamente. A fim de orientar o aluno no estudo do caso concreto, cada caso estudado deverá ser examinado e organizado segundo os critérios definidos na tabela abaixo: CRIME E SOCIEDADE 10FGV DIREITO RIO Ficha de Análise 1. IDentIFICAÇÃO DO CASO Qual o tribunal que prolatou a decisão e qual o órgão desse tribunal; Qual o julgador relator; qual o resultado da votação (vo- tos vencidos, votos concorrentes, votos majoritários); Qual a data do julgamento e qual a data de publicação dessa decisão. 2. ReLAtO DA SItUAÇÃO pROCeSSUAL Se houve decisões judiciais anteriores e o que decidiram; Por quais tribunais o caso passou antes de sua chegada ao Supremo Tribunal Federal; Quais as decisões das cortes que examinaram o caso 3. CLASSIFICAÇÃO DAS nORMAS Quais as normas jurídicas (dispositivos da Constitui- ção, dos Códigos, princípios etc) em discussão. 4. QUeStÕeS JURÍDICAS eM DISCUSSÃO e pRetenSÃO DAS pARteS Identificar a questão jurídica que está em discussão (ou se for mais de uma, fazer isso com todas); Identificar qual a solução que cada parte pleiteia no caso concreto. 5. DeCISÃO DO tRIBUnAL e SUA MOtIVAÇÃO Expor a decisão e seus fundamentos. V. BIBLIOGRAFIA A bibliografia básica é dada aula por aula. Recomendam-se os seguintes livros básicos, ambos disponíveis na biblioteca da FGV: BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral. Vol. 1. 19ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2013. PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. Vol. 1 — Parte Geral. 12ª Ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: RT, 2013. Outras obras relevantes, que podem substituir os anteriores são: GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Vol. I. 15ª Ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2013. CRIME E SOCIEDADE 11FGV DIREITO RIO NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de direito penal: parte geral e parte especial. 9ª Ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tri- bunais, 2013. Os demais livros indicados constituem bibliografia avançada e são desti- nados àqueles que pretendem aprofundar o estudo da disciplina: AMARAL, Thiago Bottino Do: Notas para um sistema punitivo democrático. Revista Forense, Rio de Janeiro, v. 385, p. 185-201, 2006. ROXIN, Claus. Derecho penal: parte general. Tomo I. Fundamentos. La es- tructura de la teoria del delito. 2ª Ed. Trad.: Diego-Manuel Luzon Peña et. al. Madrid: Editorial Civitas, 1997; ROXIN, Claus; ARZT, Gunther; TIEDEMANN, Klaus: Introdução ao Di- reito Penal e Processual Penal. Belo Horizonte: Del Rey, 2007. ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Derecho Penal: Parte General. Buenos Aires: Ediar, 2002. O material didático não substitui a bibliografia, servindo apenas como mais um recurso pedagógico no processo de ensino e aprendizagem para o acompanhamento das aulas e formação do aluno. VI. AVALIAÇÃO A avaliação será realizada a partir de duas notas (N1 e N2). A N1 será composta por duas atividades. A primeira atividade, com valor de 2,5 pontos, consiste na participação em sala de aula e elaboração de fichamentos, entregues antes do início da respectiva aula. Essa avaliação pretende estimular que o aluno esteja preparado para parti- cipar de todas as aulas e que contribua para o desenvolvimento das atividades. Participações inoportunas ou deficientes não serão pontuadas positivamente. Alunos podem ser escolhidos aleatoriamente – ou se apresentar de forma voluntária – para relatarem oralmente o caso da aula. No caso da apresenta- ção oral do caso, o aluno deverá apontar as principais questões decorrentes do caso concreto ou do texto relacionado com os temas jurídicos tratados. CRIME E SOCIEDADE 12FGV DIREITO RIO Os casos concretos são julgamentos ocorridos no Supremo Tribunal Federal ou de outros tribunais. As discussões geradas a partir das situações concretas retiradas dos cases são enriquecidas com os fundamentos doutrinários forne- cidos pelos textos de apoio e pela exposição do professor. A segunda atividade, com valor de 7,5 pontos é a 1ª prova. A N2 será composta por duas atividades. A primeira atividade, com valor de 2,5 pontos, consiste na participação em sala de aula e elaboração de fichamentos, entregues antes do início da respectiva aula. A segunda atividade, com valor de 7,5 pontos é a 2ª prova. A prova de 2ª chamada substituirá apenas a 1ª ou 2ª provas, não abrangendo os pontos de participação e compreenderá todo o programa da disciplina. A prova final consistirá em uma prova oral sobre todo o conteúdo da disciplina. CRIME E SOCIEDADE 13FGV DIREITO RIO BLOCO I — INTRODUÇÃO À CRIMINOLOGIA. CONCEITO. FUNÇÕES. CRÍTICAS. AULA 1: ESCOLAS CRIMINOLÓGICAS: CRIMINOLOGIA CLÁSSICA. CRIMINOLOGIA POSITIVISTA LEITURA OBRIGATÓRIA BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica do direito penal. 3ª ed. Coleção Pensamento Criminológico do Instituto Carioca de Crimi- nologia. Rio de Janeiro: Revan, 2002, pgs 29-38. Conceito, objeto e método da Criminologia. Etimologicamente falando, criminologia vem do latim crimino (crime) e do grego logos (estudo, tratado), significando o “estudo do crime”. Pode-se conceituar criminologia como a ciência empírica e interdisciplinar. É compreendida como ciência por ter um método próprio, um objeto e uma função determinada , reunindo informação válida e confiável sobre o fenômeno criminal, baseada em método empírico É dita ciência empírica por se basear na observação e na experiência; trata- -se de uma ciência do “ser”, na medida em que seu objeto é observável no mundo real e não no mundo dos valores, como ocorre com o Direito, aqui entendido como ciência do “dever-ser”, portanto normativo e valorativo. Trata-se ainda de uma ciência interdisciplinar, característica que decorre de sua própria consolidação histórica como ciência dotada de autonomia em relação a outras disciplinas tais como sociologia, psicologia, direito e medici- na legal. O saber criminológico é o resultado de todas essas disciplinas e não apenas parte de uma delas. Tem como objeto o delito, o “delinquente”, a vítima e o controle social. Delito: para o Direito penal o crime é uma conduta contra norma para a qual existe uma punição. Crime é conduta típica, antijurídica e culpável. No âmbito da Criminologia o crime é entendido como um fenômeno social. CRIME E SOCIEDADE 14FGV DIREITO RIO “Delinquente”: a Criminologia analisa a conduta antissocial, suas causas, bem como o tratamento dado ao delinquente visando sua não reincidência . Vítima: trata-se de examinar do papel das vitimas no desencadeamento do fato criminal, permitindo entre outras coisas o aprimoramento da assistência jurídica, psicológica e terapêutica. Além disso, busca-se entender as experiências de viti- mização primária, secundária e terciária. Os estudos em vitimologia permitem também uma anàlise mais apurada da chamada cifra negra da criminalidade. Controle social: trata-se de analisar o conjunto de mecanismos/sanções sociais que buscam submeter os indivíduos às normas de convivência social. Tais con- troles são divididos em controle social informal e controle social formal. Criminologia clássica / Escola clássica do Direito Penal Movimento que busca dar racionalidade ao Direito Penal. Obra funda- mental : “Dos Delitos e das penas”, de César de Beccaria. Defende-se a cria- ção de limites ao direito de punir, a abolição da tortura e o combate à pena arbitrária. Construção da idéia de punição proporcional ao delito. Os postu- lados da Escola Clássica podem ser sintetizados da seguinte forma: a) O crime é considerado como um ente jurídico, pouco interesse na figura do “criminoso”; b) O crime é fruto do livre arbítrio c) A pena deve ser proporcional ao delito. A punição deve ser grave o suficiente para dissuadir, não mais grave que isso. Escola Positivista Principais representantes Cesare Lombroso, Enrico Ferri e Garófalo. Em litigio aberto com a Escola Clássica, apresenta os seguintes postulados: a) Concepção do crime como fenômeno natural e social; b) Idéia do criminoso nato (Lombroso) anormalidade psicológica como inerente ao criminoso c) Afasta o dogma do livre-arbítrio d) Responsabilidade penal lastreada na periculosidade do criminoso . Pena como medida de defesa social CRIME E SOCIEDADE 15FGV DIREITO RIO Inicia etapa científica da Criminologia – método empírico. Procuravam demonstrar, em contraposição aos clássicos, que o crime ocorre como um fato real e não como uma mera ficção jurídica. Portanto, para se estudar e compreender o crime é preciso examinar também o “delinquente” e o meio em que vive. CRIME E SOCIEDADE 16FGV DIREITO RIO AULA 2: ESCOLAS CRIMINOLÓGICAS: CRIMINOLOGIA FUNCIONALISTA. LEITURA OBRIGATÓRIA BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica do direito penal. 3ª ed. Coleção Pensamento Criminológico do Instituto Carioca de Crimi- nologia. Rio de Janeiro: Revan, 2002, pgs 59-56. A teoria da anomia (strain theory) foi criada pelo sociólogo Robert King Merton nos Anos 40, tendo como base teoria Emile Durkheim (1858/1917), Durkheim realiza uma crítica à representação do crime como fenômeno patológico: “Se existe um fato cujo, caráter patológico parece incontestável, é o crime. Todos estão de acordo sobre este ponto ». Segundo autor, encontramos delito em tipo de sociedade (características variadas), trata-se de um elemento ligado às condições de toda vida coletiva. Nesse sentido , o delito faz parte da fisiologia e não da patologia da vida social. Somente suas formas anormais (ex. crescimento excessivo) podem ser consideradas patológicas. Partindo desta base, Merton desenvolve a .teoria funcionalista da anomia. Como Durkheim, Merton se opõe à concepção patológica do desvio. O autor interpreta o desvio como um produto da estrutura social, enten- dendo que esta estrutura não tem apenas um efeito repressivo, mas também efeito estimulante sobre o comportamento individual. Merton entende o desvio a partir da contradição entre estrutura e cultura. A cultura propõe ao individuo determinadas metas / motivações fundamentais (ex. lazer, bem-estar, sucesso) e proporciona também os modelos de comportamento institucionalizados/meios legítimos para alcançar aquelas metas (estudo, formação avançada, trabalho). Por outro lado, a estrutura econômico-so- cial oferece aos indivíduos, em graus diversos, a possibilidade de acesso a meios legítimos para alcançar as metas. Falta de proporcionalidade entre os fins culturalmente reconhecidos e os meios legítimos, à disposição do individuo causa tensão / Strain, ori- ginando o desvio. CRIME E SOCIEDADE 17FGV DIREITO RIO AULA 3: ESCOLAS CRIMINOLÓGICAS: CRIMINOLOGIA CRÍTICA. LEITURA OBRIGATÓRIA BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica do direito penal. 3ª ed. Coleção Pensamento Criminológico do Instituto Carioca de Criminologia. Rio de Janeiro: Revan, 2002, pgs 159-169. LEITURA COMPLEMENTAR Do paradigma etiológico ao paradigma da reação social: mudança e permanência de paradigmas criminológicos na ciência e no senso co- mum. Vera Regina Pereira de Andrade Idéia de base: Funções da pena: Funções declaradas ou manifestas : fun- ções retributivas, preventivas, unificada. Funções reais ou latentes. teorias ou vertentes da criminologia que questionam funções declaradas, anali- sam fundamento pena. As principais teorias que buscaram determinar fi- nalidade da pena não encontraram uma função racional que a legitimasse – pena não representa um bem, mas sim uma dor. Paradigma etiológico: busca entender as causas da criminalidade. Foco no in- dividuo. Paradigma do controle/reação social: delito não é fenômeno natural : «não é como um pedaço de ferro, um objeto físico” . O delito é o resultado de um processo social de interação (definição e seleção) – Trata-se de uma construção social. Construção do delito através de um processo seletivo. Sele- tividade criminalização primária + seletividade criminalização secundaria. A diferença entre «delinquente » e « não delinquente » decorre de um processo de estigmatizaçao oriundo da seletividade do sistema penal . Todos cometem crimes mas somente alguns chegam ao sistema penal. Risco de ser etiquetado não depende da conduta, mas do status social do indivíduo: « Estes estereó- tipos permitem a catalogação dos criminosos que combinam com a imagem que corresponde à descrição fabricada, deixando de fora outros tipos de delinquentes (delinquência de colarinho branco, de trânsito, etc.”. (Raúl Zaffaroni) A criminologia ao longo dos séculos tenta estudar a criminalidade não como um dado ontológico pré-constituído, mas como realidade social constru- ída pelo sistema de justiça criminal através de definições e da reação social, CRIME E SOCIEDADE 18FGV DIREITO RIO o criminoso então não seria um indivíduo ontologicamente diferente, mas um status social atribuído a certos sujeitos selecionados pelo sistema penal e pela sociedade que classifica a conduta de tal individuo como se devesse ser assistida por esse sistema. Os conceitos desse paradigma marcam a linguagem da criminologia contemporânea: o comportamento criminoso como compor- tamento rotulado como criminoso (Alessandro Baratta) CRIME E SOCIEDADE 19FGV DIREITO RIO AULA 4: ESCOLAS CRIMINOLÓGICAS: NOVOS MOVIMENTOS CRIMINOLOGICOS LEITURA OBRIGATÓRIA As contradições da “sociedade punitiva”: o caso britânico. David Garland. LEITURA COMPLEMENTAR O encarceramento em massa (Massimo Pavarini). In ABRAMOVAY, Pedro Vieira e BATISTA, Vera Malaguti (org.). Depois do grande encarcera- mento. Rio de Janeiro: Revan, 2010. The new penology : Emerging Strategy of Corrections and Its Implications (Feeley and Simon ). A nova “penologia” - justiça atuarial: O crime é per- cebido como um risco normal : O crime é inevitável / delinquência risco normal / necessidade de se precaver afim de minimizar os impactos negativos - “seguro” / terceirização. Crime como problema “técnico” : Não se interessa fatores internos /externos criminalidade/ efeitos crime mais importantes que as causas. Lógica atuarial - linguagem se concentra em probabilidades e dis- tribuições estatísticas – Área de risco - População é dividida: grupos de risco / grupos que não são de risco Grupos de risco: alvo exercício poder penal. Objetivo: Proteção sociedade através da gestão (vigilância e controle) dos grupos de risco X antiga penologia: proteção sociedade através da ressociali- zação Objetivo: garantir a proteção do Sistema Penal através de uma gestão empresarial. Busca legitimidade através do “como punir” deixando de lado o “porquê punir”. The punitive turn (David Garland): Condições históricas através das quais instituições de controle social modernos se desenvolveram nos países ociden- tais. Autor observa que três últimas décadas do século passado foram mar- cados por muitas mudanças na política, económica e social. Relação entre Estado Social/ Estado Penal: “a atrofia planejadado Estado Social […] e a súbita hipertrofia do Estado Penal podem ser considerados dois movimentos concomitantes e complementares” (L. Wacquant). Sinais de mudança - con- trole penal contemporâneo - punitive turn : a) O tom emocional da política criminal, b) Retorno da vitima, c)Punição pós-disciplinar. CRIME E SOCIEDADE 20FGV DIREITO RIO BLOCO II — INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E TEORIA DA NORMA PENAL AULA 5: INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE BIBLIOGRAFIA PARA PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL I, II, III E IV: BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral. Vol. 1. 13ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2008, Capítulo II — Princípios Limi- tadores do Poder Punitivo Estatal — pgs. 10-28; ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Derecho Penal: Parte General. Buenos Aires: Ediar, 2002, Capítulo IV — Limites derivados de la función política — pgs. 110-153 CASO PARA LEITURA OBRIGATÓRIA E FICHAMENTO: Os alunos devem se dividir em 4 grupos para lerem, separadamente, votos dos Ministros do STF. A leitura da Ementa, Relatório e Certidão de Julga- mento é obrigatória para todos os grupos. • Habeas Corpus nº 70.389, do Supremo Tribunal Federal. o Grupo A: Votos Celso de Mello e Sepúlveda Pertence o Grupo B: Votos Carlos Velloso, Francisco Rezek, Néri da Silvei- ra e Paulo Brossard o Grupo C: Votos Sydnei Sanches, Ilmar Galvão e Octavio Gallotti o Grupo D: Votos Marco Aurélio e Moreira Alves CONCEITO: O QUE É DIREITO PENAL? O direito penal é um conjunto de normas jurídicas que regulam o poder punitivo do Estado, definindo crimes e a eles vinculando penas ou medidas de segurança. A parte geral (art.1° ao art.120 do CP) define os critérios a partir dos quais o direito penal será aplicado: quando o crime existe? Como e quando aplicar a pena? CRIME E SOCIEDADE 21FGV DIREITO RIO A parte especial prevê os crimes em espécie e as penas correspondentes. O crime é uma conduta proibida, que pode ser tanto positiva, uma ação (ex. homicídio — art.121 do CP), quanto negativa, uma omissão (ex. omissão de socorro — art.135 do CP). Cada crime prevê uma determinada escala pu- nitiva (mínima e máxima) de acordo com a gravidade do crime em abstrato. FUNÇÃO: PARA QUE SERVE O DIREITO PENAL? A função do direito penal é a proteção subsidiária de bens jurídicos1. É missão do Direito Penal a proteção dos bens jurídicos mediante o amparo dos elementares valores ético-sociais da ação2. Essa tem sido a concepção em torno da qual o direito penal moderno tem se desenvolvido3 desde Karl Binding (1841-1920). É de se mencionar, contudo, em razão da voz que vem reverberando pelo mundo, o posicionamento contrário de Günther Jakobs. O direito penal de Jakobs recusa a generalizada função atribuída ao direito penal de proteção de bens jurídicos, para abraçar a função de proteção da norma jurídica. E assim tem pronunciado em diversos trabalhos: “o direito penal garante a vigência da norma, não a proteção de bens jurídicos”. Como a constituição da sociedade tem lugar por meio de normas, isto é, se as normas determinam a identidade da sociedade, garantir a vigência da norma permite garantir a própria identidade social: o direito penal confirma a identidade social. Nesse quadro de proteção da norma e afirmação da identidade social, a sanção pe- nal preveniria a erosão da configuração normativa real da sociedade. Muito embora o princípio de proteção de bens jurídicos tenha sido originariamente elaborado por Paul Johann Anselm Ritter von Feuerbach (17751833) — no sentido de proteção de interesses humanos —, con- forme afirma Hassemer4, atribui-se propriamente a criação e desenvol- vimento do conceito de bem jurídico à Johann Michael Franz Birnbaum (1792-1877), de acordo com Roxin5. Proteger subsidiariamente equivale a afirmar que os bens jurídicos não são protegidos apenas pelo direito penal. Significa dizer que tal proteção se reali- za por meio da manifestação dos demais ramos do Direito que, atuando co- operativamente, pretendem operar como meio de solução social do problema.6 O direito penal deve intervir para solucionar problemas sociais tão-somente depois que outras intervenções jurídicas não-penais falharem nessa solução. 1 ROXIN, Claus. Derecho penal: parte general. Tomo I. Fundamentos. La estructura de la teoria del delito. 2ª Ed. Trad.: Diego-Manuel Luzon Peña et. al. Madrid: Editorial Civitas, 1997, p. 51. 2 WELZEL, Hans. Derecho Penal: parte general. Trad.: Carlos Fontán Balestra. Buenos Aires: Roque Depalma Editor, 1956, p. 6 (tradução nossa). 3 BACIGALUPO, Enrique. Derecho penal: parte general. 2ª Ed. Buenos Aires: Hammurabi, 1999, p. 43. 4 HASSEMER, Winfried. Persona, mundo y responsabilidad: bases para uma teoria de la imputacion en derecho penal. Traducción: Francisco Muñoz Conde y María del Mar Díaz Pita. Santa Fe de Bogotá: Editorial Temis, 1999, p. 7. 5 Derecho penal: parte general. Tomo I. Fundamentos. La estructura de la teoria del delito, p. 55. 6 Ibid., p. 65. 1 ROXIN, Claus. Derecho penal: parte general. Tomo I. Fundamentos. La es- tructura de la teoria del delito. 2ª Ed. Trad.: Diego-Manuel Luzon Peña et. al. Madrid: Editorial Civitas, 1997, p. 51. 2 WELZEL, Hans. Derecho Penal: parte general. Trad.: Carlos Fontán Balestra. Buenos Aires: Roque Depalma Editor, 1956, p. 6 (tradução nossa). 3 BACIGALUPO, Enrique. Derecho pe- nal: parte general. 2ª Ed. Buenos Aires: Hammurabi, 1999, p. 43. 4 HASSEMER, Winfried. Persona, mundo y responsabilidad: bases para uma teoria de la imputacion en derecho penal. Traducción: Francisco Muñoz Con- de y María del Mar Díaz Pita. Santa Fe de Bogotá: Editorial Temis, 1999, p. 7. 5 Derecho penal: parte general. Tomo I. Fundamentos. La estructura de la te- oria del delito, p. 55. 6 Ibid., p. 65. CRIME E SOCIEDADE 22FGV DIREITO RIO Precisamente, por ser o direito penal a forma mais dura de ingerência do Estado na esfera da liberdade do cidadão, deve ele ser chamado a agir ape- nas quando outros meios do ordenamento jurídico (civis, administrativos, tributários, sanitários, trabalhistas etc.) mostrarem-se insuficientes à tutela dos bens jurídicos fundamentais. Diante desse quadro, temos que, para a salvaguarda de bens jurídicos, o direito penal deve funcionar subsidiariamente aos demais campos jurídicos (princípio da subsidiariedade), intervindo minimamente na criminalização de condutas (princípio da intervenção mínima), operando como ultima ratio na solução de problemas sociais, considerando a dura intromissão estatal que o caracteriza: a privação da liberdade. Além disso, a proteção não se realiza em função de todos os bens jurídicos, bem como aqueles que são selecionados como objeto de proteção devem ser parcialmente protegidos. Nem todos os bens jurídicos extraíveis da Constituição devem ser elevados à categoria de bem jurídico-penal e, ainda, aqueles que o forem, devem ser protegidos somente diante de determinadas formas concretas de ataque. A proteção do direito penal é assim, pois, fragmentária7 — princípio da fragmentariedade. A limitação da norma penal incriminadora às ações mais graves perpetradas contra os bens jurídicos mais relevantes vai conformar o caráter fragmentário do direito penal.8 Mas afinal, o que são bens jurídico-penais? Para Welzel (1904-1977), bem jurídico é um bem vital do grupo ou do indivíduo, que em razão de sua significação social, é amparado juridicamente.9 Desde uma perspectiva funcionalista, Roxin define que bens jurídicos são circunstâncias dadas ou finalidades que são úteis para o indivíduo e seu livre desenvolvimento no marco de um sistema social global estruturado sobre a base dessa concepção dos fins ou para o funcionamento do próprio sistema.10 A literatura penal em geral costuma empregar as expressões valor e interesse para conceituar bem jurí- dico: valores relevantes para a vida humana individual ou coletiva11; valores e interesses mais significativos da sociedade12; valor ou interesse juridicamente reconhecido em determinado bemcomo tal em sua manifestação geral.13 Nesse contexto, os bens jurídico-penais devem derivar sempre da Cons- tituição da República, documento fundamental e lei maior do Estado De- mocrático de Direito. A vida, a liberdade, o patrimônio, o meio ambiente, a incolumidade pública, para citar alguns, vão formar o rol de valores, interesses e direitos que, elevados à categoria de bens jurídico-penais, cons- tituirão o objeto de proteção do direito penal. 7 CIRINO DOS SANTOS, Juarez. Direito Penal: parte geral. Curitiba: ICPC; Lumen Juris, 2006, p. 5 e ROXIN, op. cit., p. 65. 8 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral. Vol. 1. 13ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 14. 9 Op. Cit., p. 5-6. 10 ROXIN, Claus. Op. Cit., p. 55-56. 11 CIRINO DOS SANTOS, Juarez. Op. Cit., p. 4-5. 12 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Vol. I. 13ª Ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2011, p. 2. 13 MAURACH/ZIPF apud ROXIN. Op. Cit., p. 70. 7 CIRINO DOS SANTOS, Juarez. Direito Penal: parte geral. Curitiba: ICPC; Lumen Juris, 2006, p. 5 e ROXIN, op. cit., p. 65. 8 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral. Vol. 1. 13ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 14. 9 Op. Cit., p. 5-6. 10 ROXIN, Claus. Op. Cit., p. 55-56. 11 ROXIN, Claus. Op. Cit., p. 55-56. 12 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Vol. I. 13ª Ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2011, p. 2. 13 MAURACH/ZIPF apud ROXIN. Op. Cit., p. 70. CRIME E SOCIEDADE 23FGV DIREITO RIO Desde seu início, a denominada teoria do bem jurídico admite quer bens jurídicos individuais, tais como a vida e liberdade, quer bens jurídicos uni- versais14, tais como administração da justiça15, e, modernamente, ordem tri- butária, administração pública, sistema financeiro, meio ambiente, relações de consumo, saúde pública, dentre outros. VISÃO CRÍTICA: O DIREITO PENAL REALMENTE ATUA SEGUNDO OS SEUS FUNDAMENTOS? Não é difícil perceber, entretanto, que a função que o direito penal assu- me encontra dificuldades no atual contexto brasileiro, fazendo pensar que uma coisa é a função que lhe é atribuída (função declarada) e outra aquela que realmente exerce no contexto social (função oculta). A proliferação de crimes faz duvidar da subsidiariedade que deveria norte- ar a manifestação do direito penal, o que faz também suspeitar de seus pres- supostos limitadores, que não resistem a uma empírica avaliação das agências responsáveis por criar e aplicar o direito penal. O conjunto dessas agências responsáveis pelo processo de criminalização (legislativa, judicial, policial, penitenciária) forma o sistema penal. É dessa avaliação que surge uma visão fruto da crítica criminológica das funções da pena e da aplicação do direito penal. Como uma ciência não normativa, a so- ciologia se preocupa em estudar o “ser”, e não o “dever ser”, como o direito. Permite, portanto, investigar a realidade além da lente jurídica. Para tanto, trabalha com pressupostos de difícil refutação: a) que se vive em uma sociedade conflitiva, onde o conflito não é um dado puramente marginal e criminalizável; b) a constatação empírica da desigualdade na apli- cação do direito (punição de pobres e não de ricos); c) que para além da pro- paganda das funções declaradas, o direito penal é uma forma de reprodução da desigualdade social. Partindo desses pressupostos a criminologia crítica elaborou um conjunto de importante observações. O primeiro e fundamental é que o crime não é um ente natural e sim depende de um ato de poder que o defina como tal. Práticas que ontem foram consideradas crimes, como o adultério, hoje não o são por decisão política. O segundo é uma separação em etapas do processo seletivo de criminalização entre criminalização primária e secundária. A criminalização primária é aque- la realizada pelas agências políticas (legislativo) na definição do que é crime e, 14 Também chamados de bens jurídicos supraindividuais, metaindividuais, transindividuais, ou coletivos. 15 HASSEMER, Winfried. Op. Cit., p. 7. 14 Também chamados de bens jurídi- cos supraindividuais, metaindividuais, transindividuais, ou coletivos. 15 HASSEMER, Winfried. Op. Cit., p. 7. CRIME E SOCIEDADE 24FGV DIREITO RIO portanto, é uma enunciação em abstrato das condutas criminalizáveis. Já a criminalização secundária é a ação punitiva exercida em pessoas concretas, realizados pelas agências executivas do sistema penal (policial, judiciária e penitenciária). A disparidade entre o programa criminal primário, todas as condutas passíveis de criminalização, e o efetivo conhecimento das agências executivas é o que se chama de cifra oculta. Todas as pessoas cometem ou podem cometer alguns crimes. Quem co- nhece alguém que levou algum objeto do seu restaurante preferido? Ou al- guém que tenha passado por algum acidente sem prestar socorro? Ou ainda, bebeu e dirigiu? Xingou alguém? É preciso entender é impossível a realização total do programa de cri- minalização, seja por falta de estrutura das agências executivas, seja porque implicaria num sufocamento das liberdades. Não se pode imaginar todo o orçamento estatal sendo gasto com polícia, nem é desejável um Estado poli- cial que vigie e controle cada passo das pessoas. Isso permite afirmar que o sistema penal é estruturalmente seletivo, ou seja, direciona sua atuação num determinado sentido na persecução crimi- nal, geralmente voltado para os estereótipos presentes no imaginário social. Quem nunca atravessou a rua por ter visto uma figura “estranha” passar por perto, sem qualquer evidência de que se tratava de alguém com intenção de lhe fazer algum mal, confiando na sua “intuição”? O direito penal tem sido aplicado seletivamente em várias partes do mun- do. No Brasil, isso é sensivelmente percebido. Mas também nos Estados Uni- dos, onde a taxa de encarceramento é significativamente maior para negros e latinos em relação a brancos. No ano de 2010, a relação de presos era a seguinte: 3.074 presos negros para cada 100.000 residentes; 1.258 presos hispânicos/latinos para cada 100.000 residentes; e apenas 459 presos brancos para cada 100.000 residentes.16 Não se pode ignorar esse dado, tradutor de uma aplicação seletiva do direito penal norte-americano. Mas seria possível um sistema penal não seletivo? Em outras palavras, e se todas as condutas criminosas fossem punidas? Um programa de punição que pretenda atingir TODAS as pessoas, pu- nindo TODOS os crimes é irrealizável, pois exigiria que as agências penais fossem onipresentes. Ademais, é inconcebível punir TODOS os desvios, caso contrário, a vida em sociedade se tornaria um caos e, ainda, um estado penal absoluto. Nesse sentido: 16 Dados disponíveis no site: http:// www.prb.org/Articles/2012/us-incarceration.aspx?p=1, Acesso em 20 de maio de 2013. “Incarceration rates are significantly higher for blacks and Latinos than for whites. In 2010, black men were incarcerated at a rate of 3,074 per 100,000 residents; Latinos were incarcerated at 1,258 per 100,000, and white men were incarcerated at 459 per 100,000”. 16 Dados disponíveis no site: http:// w w w . p r b . o r g / A r t i c l e s / 2 0 1 2 / u s - -incarceration.aspx?p=1, Acesso em 20 de maio de 2013. “Incarceration rates are significantly higher for blacks and Latinos than for whites. In 2010, black men were incarcerated at a rate of 3,074 per 100,000 residents; Latinos were incarcerated at 1,258 per 100,000, and white men were incarcerated at 459 per 100,000”. CRIME E SOCIEDADE 25FGV DIREITO RIO “(...) ninguém pode conceber seriamente que todas as relações so- ciais se subordinem a um programa criminalizante faraônico (que se paralise a vida social e a sociedade se converta em um caos, em prol da realização de um programa irrealizável), a muito limitada capacida- de operativa das agências de criminalização secundária não lhes deixa outro recurso que proceder de modo seletivo”.17 O Direito Penal é uma técnica de definição, comprovação e repressão do desvio.18 Crime, processoe pena vão formar os objetos fundamentais do direito e processo penal. A definição do desvio se expressa na atividade legislativa, por meio da qual o legislador vai definir crimes (condutas proi- bidas) e cominar penas (punição correlata). Em todas as democracias contemporâneas, o Direito Penal será regido por princípios constitucionais (explícitos e implícitos) para garantir o in- divíduo em face do poder punitivo (ius puniendi) do Estado.19 A função dos princípios será justamente a de limitar o poder punitivo estatal. Nesse sentido, o legislador não pode tudo. Ele deve observância aos princípios. O saber jurídico-penal moderno de tradição iluminista e liberal, amadurecido desde o século XVIII, foi responsável pela gestação do modelo garantista clássico, fundado em princípios como o da legalidade, lesividade, responsa- bilidade pessoal, contraditório e presunção de inocência.20 A literatura relativa à principiologia penal é vasta.21 Nas próximas qua- tro aulas, serão estudados os princípios – de forma não exaustiva – que informam o Direito Penal, seu papel dentro do sistema jurídico-penal e sua aplicação prática. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE Um dos mais importantes princípios comuns a quase todas as áreas do Direito é o princípio da legalidade. Este, como outros princípios, tem como uma de suas funções primordiais a limitação do poder estatal, podendo ser expresso de diversas formas. A primeira delas estabelece que ao indivíduo cabe fazer tudo aquilo que a lei não proíbe. Uma variante direta dessa é a aplicação oposta ao governo: só é permitido ao Estado o que a lei expressamente permite. Contudo, o variente que mais importa no momento é a variante exposta pela seguinte frase em latim: nullum crimen, nulla poena sine lege. Esta formula foi eternalizada por Feuerbach, no começo do séc. XIX. 17 ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Op. cit., p. 7. 18 FERRAJOLI, Luigi. Derecho y razón: Teoría del garantismo penal. Tradução: Perfecto Andrés Ibáñez, Alfonso Ruiz Miguel, Juan Carlos Bayón Mohino, Juan Terradillos Basoco, Rocío Cantarero Bandrés. Madrid: Editorial Trotta, 1995, p. 209. 19 CIRINO DOS SANTOS, Juarez. Direito Penal: parte geral. Curitiba: ICPC; Lumen Juris, 2006, p. 19. 20 FERRAJOLI, Luigi. Derecho y razón: Teoría del garantismo penal, p. 33. 21 Para citar alguns: ZAFFARONI, Eugenio Raúl, ALAGIA, Alejandro & SLOKAR, Alejandro. Derecho Penal: Parte General. 2ª ed. Buenos Aires: Ediar, 2002, p. 107-142; TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios básicos de direito penal. 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 1994; MIR PUIG, Santiago. Direito penal: fundamentos e teoria do delito. Tradução: Cláudia Vianna Garcia e José Carlos Nobre Porciúncula Neto. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007; 82-107, CIRINO DOS SANTOS, Juarez. Direito Penal, op. cit., p. 19-32; BARATTA, Alessandro. Principios de Derecho Penal Mínimo. In: Criminología y Sistema Penal (Compilación in memoriam)», Editorial B de F, Buenos Aires, Argentina, 2004. 17 ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Op. cit., p. 7. 18 FERRAJOLI, Luigi. Derecho y razón: Teoría del garantismo penal. Tradu- ção: Perfecto Andrés Ibáñez, Alfonso Ruiz Miguel, Juan Carlos Bayón Mo- hino, Juan Terradillos Basoco, Rocío Cantarero Bandrés. Madrid: Editorial Trotta, 1995, p. 209. 19 CIRINO DOS SANTOS, Juarez. Direito Penal: parte geral. Curitiba: ICPC; Lu- men Juris, 2006, p. 19. 20 FERRAJOLI, Luigi. Derecho y razón: Teoría del garantismo penal, p. 33. 21 Para citar alguns: ZAFFARONI, Euge- nio Raúl, ALAGIA, Alejandro & SLOKAR, Alejandro. Derecho Penal: Parte Gene- ral. 2ª ed. Buenos Aires: Ediar, 2002, p. 107-142; TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios básicos de direito penal. 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 1994; MIR PUIG, Santiago. Direito penal: fundamentos e teoria do delito. Tradução: Cláudia Vianna Garcia e José Carlos Nobre Por- ciúncula Neto. São Paulo: Editora Revis- ta dos Tribunais, 2007; 82-107, CIRINO DOS SANTOS, Juarez. Direito Penal, op. cit., p. 19-32; BARATTA, Alessandro. Principios de Derecho Penal Mínimo. In: Criminología y Sistema Penal (Com- pilación in memoriam)», Editorial B de F, Buenos Aires, Argentina, 2004. CRIME E SOCIEDADE 26FGV DIREITO RIO Versão análoga a esta última pode ser encontrada no art. 5º, inciso XX- XIX da Constituição Federal: “Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”. Esta disposição também está prevista de modo semelhante no art. 1º do Código Penal, e neste sentido, é o princípio mais importante desta área do direito, pois a lei é a única fonte que pode ser utilizada para proibir ou impor condutas sob ameaça de sanção. Em outras palavras, é preciso uma lei que descreva uma conduta como proibida e asso- cie uma pena para aqueles que realizarem a conduta proibida. Da fórmula original em latim derivam vedações a formas de incriminação, exigindo lex praevia, lex scripta, lex stricta e lex certa. 1. Nullum crimen, nulla poena sine lege praevia — não há crime nem pena sem lei prévia Questão: Reforma do Código Penal prevê criminalização dos jogos de azar e pena dobrada para explorador — Vedação à retroatividade da lei mais grave (lex gravior) A lei penal não retroage, salvo para beneficiar o réu (art.5°, XL, CR). A irretroatividade da lei penal mais gravosa atinge tanto as tipificações legais como as sanções penais que lhes correspondem. A proibição de retroativi- dade ganha especial relevância quando do estudo da lei penal no tempo, como será visto adiante. 2. Nullum crimen, nulla poena sine lege scripta — não há crime nem pena sem lei escrita — Vedação aos costumes como fonte de criminalização de condutas ou punibilidade. Em matéria penal, é vedada a utilização do costume como fonte da lei penal, uma vez que a forma constitui garantia do cidadão e por isso deve ser pública, geral e escrita. 3. Nullum crimen, nulla poena sine lege stricta — não há crime nem pena sem lei estrita — Vedação à analogia in malam partem. Outra derivação que se extrai da legalidade é a vedação da analogia in malam partem (em desfavor do réu). A analogia é a aplicação da lei a fatos semelhantes sem expressa previsão legal. Na verdade, o que proíbe essa derivação é que o juiz inove na interpretação da lei em prejuízo do réu. A analogia in bonam partem não é vedada, embora seu reconhecimento exija ampla fundamentação quanto a sua pertinência ao caso concreto. 4. Nullum crimen, nulla poena sine lege certa — não há crime nem pena sem lei certa — Vedação à normas penais vagas, imprecisas, indeterminadas CRIME E SOCIEDADE 27FGV DIREITO RIO Ainda como consectário lógico do princípio da legalidade, há o princípio da taxatividade. É vedada a indeterminação normativa que crie tipos abertos, sob o risco de vulnerar a garantia que a legalidade representa. Por exemplo, a qualificadora do homicídio “por motivo fútil” (art.121, §2°, II, CP), é um tipo vago que comporta múltiplas situações. Não por outro motivo as leis criadas em regimes autoritários possuem exatamente essa marca de arbítrio, concedendo amplo poder ao juiz na perseguição das dissidências político- -ideológicas, como nas Leis de Segurança Nacional nas ditaduras latino ame- ricanas do século passado. Por fim, a legalidade também informa o princípio da reserva legal, o qual determina que os tipos penais incriminadores somente podem ser criados através de lei pelo Poder Legislativo e respeitando o procedimento previsto na Constituição Federal. No campo do Direito Penal, essa limitação serve para assegurar que somente normas produzidas de forma democrática, pelos representantes eleitos pelo povo, podem vincular os cidadãos. Normas ema- nadas diretamente pelo Executivo não preenchem esse critério, pois embora o Presidente da República tenha legitimidade popular, somente o Poder Le- gislativo (com todas as dificuldades que tenha ou possa vir a ter) representa a pluralidade de concepções de justiça de uma sociedade. Desta forma, pode-se fazer uma ligação direta do princípio da Reserva Legalcom o princípio da vedação do uso de Direito Costumeiro, que seria uma faceta daquele. CASO PARA LEITURA OBRIGATÓRIA E FICHAMENTO: HC 70.389 – STF Em agosto de 1991, no condomínio de classe média Jardim Colonial, dois policiais militares, foram chamados para atender uma ocorrência de furto de bicicleta supostamente cometido por um adolescente dentro do condomínio. O crime de furto consiste em subtrair coisa alheia para si ou para outrem, como previsto no art. 155 do Código Penal. O suposto autor do fato foi capturado e se achava detido pelos vigilantes do condomínio que entraram em contato com a polícia que se dirigiu ao local. A vítima, de acordo com os vigilantes, afirmou que o menor era autor do fato. Com base nisso, acatando as conclusões dos vigilantes, os policiais militares detiveram o adolescente, que não tinha qualquer bicicleta em sua posse, e conduziram-no ao posto policial, onde passaram a agredi-lo violen- tamente com socos, pontapés e golpes de cassetete para que confessasse haver subtraído a bicicleta. CRIME E SOCIEDADE 28FGV DIREITO RIO A questão jurídica Diante dos atos praticados pelos policiais, duas ações foram instauradas. A pri- meira ação penal foi ajuizada na Justiça Estadual Militar, para apurar o crime de lesão corporal praticado por militar (art. 209, do Código Penal Militar; Decreto- -Lei Nº 1.001, de 21 de outubro de 1969): “Art. 209. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano”. Uma segunda ação penal foi instaurada para apurar o mesmo fato, porém perante a Justiça Estadual Comum, para apurar o crime de tortura contra criança ou adolescente (art. 233, do Estatuto da Criança e do Adolescente; Lei 8069/90): “Art. 233. Submeter criança ou adolescente sob sua autorida- de, guarda ou vigilância a tortura: Pena - reclusão de um a cinco anos. § 1º Se resultar lesão corporal grave: Pena - reclusão de dois a oito anos. § 2º Se resultar lesão corporal gravíssima: Pena - reclusão de quatro a doze anos. § 3º Se resultar morte: Pena - reclusão de quinze a trinta anos”22. A defesa dos policiais alegou que ninguém pode ser processado nem punido duas vezes pelo mesmo fato (princípio do ne bis in idem). Para solucionar qual deveria ser a justiça competente, foi suscitado um conflito de competência pe- rante o Superior Tribunal de Justiça, que julga questões infraconstitucionais. O STJ, no entanto, determinou que ambas as ações teriam prosseguimento. A defesa recorreu novamente, impetrando um habeas corpus e o caso foi ao Supremo Tribunal Federal, órgão responsável pela interpretação da Cons- tituição Federal e da proteção dos direitos e garantias individuais, que disse que o caso deveria ser julgado pelo Justiça Estadual Comum, pois o crime de prática de tortura contra criança ou adolescente era mais específico que a lesão corporal genérica prevista no Código Penal Militar. Porém, o STF iniciou uma discussão se o art. 233 era inconstitucional, à luz dos princípios da taxatividade e da reserva legal. Questões a serem enfrentadas 1) O crime do art. 233, do ECA, respeita a regra da reserva legal? 2) O crime de tortura pode ser preenchido por meio das convenções interna- cionais que o Brasil ratificou e incorporou ao direito pátrio? 3) O crime de tortura pode ser preenchido por um conteúdo que não esteja normatizado? 4) O fato de tramitarem no Congresso seis diferentes projetos para tipificar a tortura permite ao judiciário escolher uma definição? 5) O Poder Judiciário pode flexibilizar essa garantia, quando estiver diante de um crime grave? 6) É correto punir alguém por crime de tortura sem que seja taxativamente definido em lei o ato de torturar? 22 Esse artigo foi revogado em 1997, com a edição da Lei 9.455/97. Na época dos fatos e do julgamento, contudo, a Lei 9.455/97 não existia. 22 Esse artigo foi revogado em 1997, com a edição da Lei 9.455/97. Na época dos fatos e do julgamento, contudo, a Lei 9.455/97 não existia. CRIME E SOCIEDADE 29FGV DIREITO RIO AULA 6: PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL II Princípio da exclusiva proteção de bens jurídicos. Princípio da interven- ção mínima. Princípio da subsidiariedade do direito penal. Princípio da fragmentariedade. Princípio da culpabilidade. Princípio da responsabilidade pessoal. Princípio da insignificância CASO PARA LEITURA OBRIGATÓRIA E FICHAMENTO: Habeas Corpus nº 84.412, do Supremo Tribunal Federal. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR PARA ESSA AULA: Artigo do professor de Direito Penal da USP Pierpaolo Bottini: Princípio da insignificância é um tema em construção: http://www.conjur.com. br/2011-jul-26/direito-defesa-principio-insignificancia-tema-construcao PRINCÍPIO DA EXCLUSIVA PROTEÇÃO DE BENS JURÍDICOS O princípio da exclusiva proteção de bens jurídicos repudia incrimina- ções que ofendam apenas valores morais, éticos ou religiosos. Isso significa que o direito não pode punir formas de existência e suas expressões, deven- do reconhecer no indivíduo sua autodeterminação (âmbito de autonomia moral), daí que não deveria incriminar situações que interditem liberdades constitucionais como: a) no discutido caso do uso de drogas, onde haveria apenas autolesão (ofensa a própria saúde); b) em casos em que haja consentimento do ofendido, ou seja, em que embora objetivamente tenha havido uma lesão, o lesionado tenha anuído expressamente (intervenções cirúrgicas, por exemplo); c) pensamentos e suas expressões, garantindo a liberdade de expressão e informação contra a censura; d) manifestação política, como a criminalização da greve em tempos passados; e) expressões socioculturais de minorias. No início do século XX, por exemplo, as práticas dos negros recém-libertos, como a capoeira e as manifestações religiosas afro-brasileiras foram criminalizadas; CRIME E SOCIEDADE 30FGV DIREITO RIO f) condição social do indivíduo, como a vadiagem e a mendicância; g) atos considerados obscenos, mas em contextos artísticos, lugares privados ou em situações que a pessoa não tenha agido de forma deliberada e pública na exposição das partes íntimas. PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA A intervenção mínima (ultima ratio, em latim) é um princípio destina- do ao legislador como critério quando da seleção de crimes e se baseia na ideia de que o direito penal só pode ser invocado em caso de extrema ne- cessidade e quando se afigure como necessário em razão da inadequação de outro ramo do direito. Isso se fundamenta no fato da pena ser o meio mais gravoso de intervenção legal (tem a prisão como principal pena) e gerar danos de difícil reparação para aquele a que é impingida, podendo ser forma de estigma e fonte de novos conflitos. Esse princípio advém de uma reação à enorme expansão que o direito penal conheceu nos últimos anos, se tornando muitas vezes a primeira e única saída a que recorre o Estado para responder aos anseios sociais. Por isso, dentro da lógica da intervenção mínima se extrai os princípios de subsidiariedade e fragmentariedade. A subsidiariedade se refere à necessidade de adotar respostas al- ternativas fora do campo penal, como o civil e o administrativo. A fragmentariedade requer que somente as lesões mais aos bens jurídicos mais importantes sejam passíveis de pena, sendo assim um sistema descontínuo de proteção. PRINCÍPIO DA CULPABILIDADE Complemento essencial ao princípio da legalidade, consagrado na fór- mula latina nullum poena sine culpa, a culpabilidade se refere à capacidade de determinação do indivíduo frente ao delito. A evolução do direito penal substitui a incriminação mecanicista pela mera causação de um re- sultado, pela consideração da vontade do agente dentro da ideia do delito como um fenômeno social, numa perspectiva finalista. Segundo Cezar Roberto Bitencourt23, a culpabilidade possui três dimensões: 23 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral. Vol. 1. 13ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p.15 e 16 23 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal:parte geral. Vol. 1. 13ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p.15 e 16 CRIME E SOCIEDADE 31FGV DIREITO RIO a) Fundamento da pena (elemento do crime) — etapa necessária de aferição no conceito analítico de crime, ou seja, não basta que o crime seja típico e antijurídico, deve também ser culpável (atribuível ao agente). É com base na culpabilidade, por exemplo, que o inimputável não é considerado passível de receber uma pena, mas apenas medida de segurança. b) Medição da pena — serve como um dos critérios para determinar a aplicação da pena, conforme art. 59 do CP. c) Responsabilidade subjetiva — a culpabilidade também se refere ao tipo subjetivo, requer dolo ou culpa para uma conduta ser conside- rada típica, e não apenas que o agente tenha causado um resultado. PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE PESSOAL O princípio da culpabilidade implica, portanto, na exigência de uma res- ponsabilidade pessoal. Logo, não se admite uma responsabilidade objetiva na esfera penal, nem que a pena possa passar da pessoa do condenado (como prevê expressamente a Constituição no Art.5°, XLV). Por essa razão uma das causas de extinção da punibilidade é a morte do agente. Isso não exclui, entretanto, a obrigação civil de reparar o dano por parte dos herdeiros. Além da intranscedência da pena, o direito penal brasileiro adota a res- ponsabilidade penal subjetiva, que deve ser sempre aplicado à pessoa huma- na, capaz de vontade. Exceção a essa regra constitui a responsabilidade penal da pessoa jurídica prevista nos crimes ambientais — art. 225, §3º, CF/88 c/c art. 3º da Lei 9.605/98. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA O critério de insignificância, criado por Claus Roxin, é uma técnica de interpretação da lei que permite afastar a incidência da norma penal por entender que embora esteja contida na descrição típica, a conduta não afeta o bem jurídico de modo relevante. Além de ajudar a cumprir a função de intervenção mínima do direito penal, é uma medida de política criminal, já que não se justifica mover a máquina estatal (custo, tempo, pessoal) para perseguir condutas dessa natureza. Essa lição, hoje aperfeiçoada doutrinariamente, remonta ao período das primeiras conquistas do Direito Penal Moderno, enunciadas pela filosofia iluminista. Cesare Beccaria (Dos delitos e das penas. São Paulo: RT, 1996, p. 28), nos idos do sec. XVIII, já alertava que “Toda pena, que não derive da absoluta necessidade (...) é tirânica”. CRIME E SOCIEDADE 32FGV DIREITO RIO A despeito da grande evolução do Direito Penal, passados mais de du- zentos anos desde a primeira edição da obra do mestre italiano, continua a vanguarda da ciência penal a reafirmar os mesmos princípios. Moderna- mente, alinham-se ao lado do princípio da insignificância os preceitos de razoabilidade e proporcionalidade, que, conjugados, caracterizam a doutrina do Direito Penal Mínimo24. No Brasil, o princípio da insignificância foi acolhido pela doutrina e pela jurisprudência. No entanto, o princípio da insignificância não tem previsão legislativa, sendo apenas uma criação doutrinária. Diante dessa si- tuação, o respectivo princípio sofre críticas, uma vez que surge a indagação do que seria insignificante. Ao longo do tempo o Supremo Tribunal Federal passou a reiterar o en- tendimento de que deve ser analisado o caso concreto e devem estar presentes os seguintes requisitos: (a) mínima ofensividade da conduta do agente; (b) ausência de periculosidade social da ação; (c) reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento; e (d) inexpressividade da lesão jurídica provocada. Assim, o princípio da insignificância tem o sentido de não considerar o ato praticado como um crime, por isso, sua aplicação gera a absolvição do réu e não apenas a diminuição e substituição da pena. Mais do que isso, aplica- -se esse princípio com o intuito de retirar do direito penal condutas que não produzam prejuízos significativos a bens jurídicos tutelados. O princípio da insignificância é a expressão jurisprudencial da aplicação da lesividade, que é mais abrangente (basta ser pensado como “lesão insigni- ficante ao bem jurídico tutelado”). Geralmente, na prática judicial brasileira, é reconhecido em caso de crimes cometidos sem violência, cujo principal exemplo é o furto de coisa de pequeno valor ou em crimes fiscais de pouca monta, como a evasão de divisas ou a sonegação fiscal. CASO PARA LEITURA OBRIGATÓRIA E FICHAMENTO: HC 84.412 – STF Um jovem desempregado de 19 anos furtou uma fita de vídeo-game, com valor estimado de R$ 25,00. A vítima fez um registro na Delegacia de Polícia e B. foi localizado. A fita foi devolvida, pois B. a utilizara somente para jogar algumas partidas do jogo eletrônico. 24 “A proposta desinstitucionalizadora tendente à despenalização, descriminalização (em suas diferentes formas) e diversificação na solução dos conflitos sociais é uma das ferramentas no nosso modo de ver, a de mais urgente utilização nesse esforço de revisão e racionalização do Direito Penal, a fim de colocá-lo a serviço de uma maior justiça e solidariedade social. Outorgamos prioridade a esta iniciativa, pois se impõe antes de tudo a tarefa de descongestio- nar os pesados códigos e aliviar os tribunais transbordantes de assuntos de pouca relevância ou não sentidos pela vítima ou pela sociedade como delitivos e frequentemente, inclusive, chamados a intervir sem possibilidade de êxito, em conflitos que podem encontrar solução eficaz em outros foros”. CERVINI, Raúl: Os processos de descriminalização. 2a edição. São Paulo: RT, 1995. p. 195. 24 “A proposta desinstitucionalizadora tendente à despenalização, descrimi- nalização (em suas diferentes formas) e diversificação na solução dos conflitos sociais é uma das ferramentas no nosso modo de ver, a de mais urgente utiliza- ção nesse esforço de revisão e racionali- zação do Direito Penal, a fim de colocá- -lo a serviço de uma maior justiça e soli- dariedade social. Outorgamos priorida- de a esta iniciativa, pois se impõe antes de tudo a tarefa de descongestionar os pesados códigos e aliviar os tribunais transbordantes de assuntos de pouca relevância ou não sentidos pela vítima ou pela sociedade como delitivos e frequentemente, inclusive, chamados a intervir sem possibilidade de êxito, em conflitos que podem encontrar solução eficaz em outros foros”. CERVINI, Raúl: Os processos de descriminalização. 2a edição. São Paulo: RT, 1995. p. 195. CRIME E SOCIEDADE 33FGV DIREITO RIO Diante dos fatos, a vítima pretendia “retirar a queixa e a fita foi devolvida, contudo o acusado foi condenado a 8 meses de reclusão por uma conduta que para muitos pode ser considerada como insignificante, ou seja, não causa uma lesão a um bem jurídico protegido, qual seja o patrimônio, de forma a ensejar a necessidade de que o direito penal seja aplicado. A defesa recorreu e a decisão foi mantida pelo Tribunal de Justiça e pelo Superior Tribunal de Justiça. Assim, foi impetrado Habeas Corpus no Su- premo Tribunal Federal para que, destacando que o parecer do Ministério Público foi favorável a manutenção da pena. Questões a serem enfrentadas 1) É correto deixar de punir alguém porque o a pena seria desproporcional ao crime praticado? 2) O Poder Judiciário pode deixar de aplicar a lei penal quando estiver diante de um crime sem gravidade? 3) Como identificar quando um crime não tem gravidade? CRIME E SOCIEDADE 34FGV DIREITO RIO AULA 7: PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL III. Princípio da lesividade. Princípio da adequação social. Princípio da pro- porcionalidade. CASO PARA LEITURA OBRIGATÓRIA E FICHAMENTO: Habeas Corpus nº 124.306, do Supremo Tribunal Federal. LEITURA COMPLEMENTAR Sobre os sistemas político-jurídicos de enquadramento da prostituição — proibicionista, abolicionista e regulador: Prostituição: diferentes posicio- namentos no movimento feminista, disponível em: http://www.umarfe- minismos.org/images/stories/pdf/prostituicaomantavares.pdf PRINCÍPIO DA LESIVIDADE Também chamado
Compartilhar