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teoria_geral_da_empresa_2020_1

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GRADUAÇÃO
2020.1
TEORIA GERAL 
DA EMPRESA
AUTOR: JOÃO PEDRO BARROSO DO NASCIMENTO
COLABORADORES: BERNARDO SARMET (GRADUADO EM 2019.2 – FGV DIREITO RIO), LUCAS DANIEL GERMANO DA SILVA
(GRADUANDO, TURMA 2017.1 – FGV DIREITO RIO) E MARIA JULIA PINHEIRO PIRES (GRADUANDA, TURMA 2017.1 – FGV DIREITO RIO). 
Sumário
Teoria Geral da Empresa
TEORIA GERAL DA EMPRESA ....................................................................................................................................3
1. A ORIGEM E A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO COMERCIAL .........................................................................................9
2. O EMPRESÁRIO E O CENÁRIO ECONÔMICO ...............................................................................................................14
3. TEORIA DA EMPRESA E O DIREITO EMPRESARIAL NO BRASIL ........................................................................................28
4. TEORIA DA EMPRESA: ATO DE EMPRESA E ATO SIMPLES ..............................................................................................42
5. FUNÇÃO SOCIAL DA EMPRESA ..............................................................................................................................51
6. REGIME JURÍDICO DO EMPRESÁRIO INDIVIDUAL .......................................................................................................60
7. SÓCIOS .........................................................................................................................................................65
8. NOME EMPRESARIAL ........................................................................................................................................77
9. ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL ........................................................................................................................88
10. DIREITO SOCIETÁRIO .....................................................................................................................................106
11. PLURALIDADE DE SÓCIOS. SOCIEDADE UNIPESSOAL ...............................................................................................111
12. CAPITAL SOCIAL E PATRIMÔNIO .......................................................................................................................120
13. PERSONALIDADE JURÍDICA DAS SOCIEDADES. SOCIEDADES PERSONIFICADAS. SOCIEDADES NÃO PERSONIFICADAS. LIMITAÇÃO DE 
RESPONSABILIDADE ..........................................................................................................................................135
14. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA ................................................................................................142
3FGV DIREITO RIO
TEORIA GERAL DA EMPRESA
TEORIA GERAL DA EMPRESA
1. PROFESSOR
João Pedro Barroso do Nascimento
Professor de Direito Empresarial da FGV Direito Rio. Doutorando 
e Mestre em Direito Comercial pela Faculdade de Direito da 
Universidade de São Paulo (USP). Pós-Graduado em Direito 
Empresarial, com concentração em Direito Societário e Mercado de 
Capitais, pela FGV Direito Rio. Bacharel em Direito pela Pontifícia 
Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Advogado no 
Rio de Janeiro e em São Paulo.
2. EMENTA DO CURSO
Origem e Evolução Histórica do Direito Comercial. O Empresário 
e o Cenário Econômico. A Ordem Econômica Constitucional. Teoria 
da Empresa. Ato de Empresa. Ato Simples. Função Social da Empresa. 
Regime Jurídico do Empresário Individual. Sócios. Nome Empresarial. 
Estabelecimento Empresarial. Contrato de Trespasse. Direito 
Societário. Pluralidade de Sócios. Sociedade Unipessoal. Capital Social. 
Personalidade Jurídica das Sociedades. Sociedades Personificadas. 
Sociedades Não Personificadas. Limitação de Responsabilidade. 
Desconsideração da Personalidade Jurídica. Teorias da Desconsideração 
da Personalidade Jurídica.
3. OBJETIVOS GERAIS
Esta disciplina tem como objetivos: (i) proporcionar aos(as) alunos(as) 
aprendizado sobres os elementos da Teoria Geral da Empresa, com 
abordagem inicial sobre os desdobramentos do Direito Empresarial; (ii) 
provocar o interesse dos(as) alunos(as) para questões jurídicas atinentes ao 
ambiente empresarial e à dinâmica econômica das sociedades, abordando 
questões jurídicas à luz da aplicação prática; e (iii) desenvolver as 
habilidades dos(as) alunos(as) para identificar e compreender problemas 
inerentes às situações concretas e conceber soluções para superá-las.
4FGV DIREITO RIO
TEORIA GERAL DA EMPRESA
4. METODOLOGIA
Suporte teórico, a partir do estudo de material didático (sugestão de 
livros, artigos, pareceres, comentários à legislação, dentre outros). Suporte 
prático, a partir do estudo de casos concretos. Incentivo ao envolvimento e 
participação dos alunos.
5. PROGRAMA 
TÓPICO TEMA
1 Origem e Evolução Histórica do Direito Comercial.
2 O Empresário e o Cenário Econômico.
3 Teoria da Empresa e o Direito Empresarial no Brasil.
4 Teoria da Empresa: Ato de Empresa e Ato Simples.
5 Função Social da Empresa.
6 Regime Jurídico do Empresário Individual.
7 Sócios.
8 Nome Empresarial.
9 Estabelecimento Empresarial.
10 Direito Societário.
11 Pluralidade de Sócios. Sociedade Unipessoal.
12 Capital Social e Patrimônio.
13
Personalidade Jurídica das Sociedades. Sociedades 
Personificadas. Sociedades Não Personificadas. Limitação 
de Responsabilidade.
14 Desconsideração da Personalidade Jurídica.
5FGV DIREITO RIO
TEORIA GERAL DA EMPRESA
6. AVALIAÇÃO
Serão realizadas 02 (duas) provas, em sala de aula, compreendendo toda a 
matéria ministrada até a data de cada prova. A média aritmética referente à 
disciplina será obtida com base em tais avaliações. O(a) aluno(a) que obtiver 
média aritmética inferior a 7 (sete) deverá realizar uma terceira prova, a qual 
compreenderá toda a matéria do semestre.
7. ATIVIDADES COMPLEMENTARES
Poderão ser propostas atividades adicionais que valerão pontos para a 
média aritmética (obtida com base nas duas primeiras provas) referente à 
disciplina, a critério do professor.
8. BIBLIOGRAFIA BÁSICA
CAMPINHO, Sérgio. Curso de Direito Comercial: Direito de Empresa – 
16ª. Ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2019.
COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. Vol. 1. 23ª ed. – 
revisada, atualizada e ampliada. Thompson Reuters – Revista dos 
Tribunais: Rio de Janeiro, 2019.
ASCARELLI, Tullio. “Origem do Direito Comercial”, Corso di Diritto 
Commerciale. Tradução de Fábio Konder Comparato. Revista de 
Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro, São Paulo, n. 
103, 1996.
9. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
ASCARELLI, Tullio. “A Atividade do Empresário”, in Corso di Diritto 
Commerciale. Tradução de Erasmo Valadão A. e N. França. Revista de 
Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro, São Paulo, n. 132, 
p. 203 e segs., 2003. 
ASCARELLI, Tullio. “O Contrato Plurilateral”, in Problemas das sociedades 
anônimas e direito comparado, São Paulo, Saraiva, 1945, p. 274 a 332.
6FGV DIREITO RIO
TEORIA GERAL DA EMPRESA
ASQUINI, Alberto. “Perfis da Empresa”; Tradução de Fábio Konder 
Comparato. 
REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial vol I. 31ª edição. Saraiva. 
São Paulo/2012
MONTEIRO, Newton Lucca Rogério; SANTOS, J. A. Penalva; SANTOS, 
Paulo Penalva. Comentários ao Código Civil Brasileiro. Do Direito de 
Empresa (arts. 996 a 1.087), vol. IX. Forense: Rio de Janeiro/2005
KRAAKMAN, Reinier; ARMOUR, John et. al. The Anatomy of Corporate 
Law: A Comparative and Functional Approach. 3ª edição. Oxford: 
Oxford University Press, 2017.
Adicionalmente às leituras acima discriminadas, poderão ser indicadas 
bibliografia complementares específicas, a serem oportunamente sugeridas, 
conforme evolução das aulas e a disponibilidade dos(as) alunos(as).
10. DIREITO EMPRESARIAL
A disciplina de Teoria Geral da Empresa é primeira matéria de 
direito empresarial e buscará apresentar a estrutura geral do direito 
empresarial, tornando possívela compreensão de seus fundamentos, que 
serão complementados e aprofundados com o estudo dos demais ramos 
relacionados, conforme descrito na tabela abaixo.
TEORIA GERAL
DA EMPRESA
Capacitar os(as) alunos(as) a compreenderem a 
origem e estrutura geral do direito empresarial, 
como identificar as diferenças existentes entre 
os atos simples e atos empresários, a função 
social da empresa, compreender as noções 
de estabelecimento e nome empresarial, a 
distinção entre a pessoa do sócio e a pessoa da 
sociedade, compreender as noções de capital 
social, de personalidade jurídica, de limitação 
de responsabilidade, de desconsideração da 
personalidade jurídica.
7FGV DIREITO RIO
TEORIA GERAL DA EMPRESA
TIPOS SOCIETÁRIOS 
Compreensão sobre os tipos de governança e os 
regimes jurídicos aplicáveis aos tipos societários 
existentes no direito brasileiro, tais como as 
sociedades em comum, as sociedades em conta 
de participação, as sociedades limitadas e as 
sociedades anônimas.
CONTRATOS 
EMPRESARIAIS
Compreender os diversos institutos relacionados 
aos contratos empresariais e aos contratos 
financeiros e a interpretação dos contratos 
empresariais.
TÍTULOS DE CRÉDITO
Compreensão sobre os institutos relacionados 
à mobilização dos créditos no direito brasileiro, 
como mecanismos de financiamento do 
exercício da atividade empresária.
DIREITO SOCIETÁRIO 
AVANÇADO
Estudos sobre os principais institutos e 
instrumentos do Direito Societário, tais como 
as operações de reestruturação societária, 
financiamento de projetos e operações 
estruturadas.
REGULAÇÃO 
DO MERCADO 
DE VALORES 
MOBILIÁRIOS
Compreender a regulação do mercado de valores 
mobiliários, o sistema financeiro e sua função 
econômica, a estrutura institucional do mercado 
de valores mobiliários, o conceito de valores 
mobiliários e as principais regras aplicáveis aos 
participantes do mercado de valores mobiliários, 
a responsabilidade civil e administrativa dos 
administradores e acionistas controladores e a 
arbitragem no âmbito das companhia abertas.
DIREITO 
CONCORRENCIAL
Compreender a política e os fundamentos 
da defesa da concorrência, com atenção 
para o controle de estruturas e de condutas 
anticompetitivas, analisar os atos de concentração 
capazes de limitar a livre concorrência e as 
estratégias para prevenção de estruturas e 
condutas que propiciem abusos em detrimento 
de concorrentes e consumidores, compreender 
a função do Conselho Administrativo de Defesa 
Econômica - CADE.
8FGV DIREITO RIO
TEORIA GERAL DA EMPRESA
FALÊNCIA E 
RECUPERAÇÃO
DE EMPRESAS
Compreensão sobre os institutos da falência e 
da recuperação judicial de empresas no direito 
brasileiro.
PROPRIEDADE 
INTELECTUAL
Compreender os institutos e as políticas 
públicas relacionadas aos Direitos Intelectuais, 
o marco internacional e o marco legal referentes 
a direitos autorais, marcas e patentes.
ARBITRAGEM, 
MEDIAÇÃO E 
NEGOCIAÇÃO
Compreender os métodos Alternativos de 
Solução de Disputas, a natureza jurídica e 
os fundamentos básicos da Arbitragem, o 
procedimento arbitral e a relação entre o juízo 
arbitral e a jurisdição estatal.
9FGV DIREITO RIO
TEORIA GERAL DA EMPRESA
1. A ORIGEM E A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO COMERCIAL
A) MATERIAL DE LEITURA 
Leitura Básica
COMPARATO, Fábio Konder. Origem do Direito Comercial. Revista de 
Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro. Editora Revista 
dos Tribunais Ltda., nº 103, p. 87 a 103.
Leitura Complementar
COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. Vol. 1. 23ª ed. – 
revisada, atualizada e ampliada. Thompson Reuters – Revista dos 
Tribunais: Rio de Janeiro, 2019.
O Direito Comercial surgiu por iniciativa dos comerciantes, que 
começaram a editar normas reguladoras, originárias da própria atividade, 
pois, como o direito comum não regulamentava o comércio, foi necessária a 
criação de sistema próprio para tutela dos seus interesses.
Quando observamos a história do Direito, podemos notar que, em 
contraposição ao direito tradicional, já consolidado, surgem institutos que 
concorrem com ele até que estes venham a se constituir como Direito. 
Nesse sentido, conforme apresenta Tullio Ascarelli, tal dicotomia “exerce a 
importante função de conciliar a rigidez (que é certeza) do Direito, com a sua 
também perene exigência de elasticidade, de adaptação.”1
Assim, é na civilização das comunas italianas, durante a Idade Média, que:
(...) o direito comercial começa a afirmar-se, em 
contraposição à civilização feudal (...). O direito 
comercial aparece, por isso, como um fenômeno 
histórico, cuja origem é ligada à afirmação de uma 
civilização burguesa e urbana, na qual se desenvolve 
um novo espírito empreendedor e uma nova 
organização dos negócios.2
1 Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro. Editora Revista dos Tribunais Ltda., nº 103. COMPARATO, Fábio Konder. Origem do Direito 
Comercial, p. 87.
2 Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro. Editora Revista dos Tribunais Ltda., nº 103. COMPARATO, Fábio Konder. Origem do Direito 
Comercial, p. 87.
1 Revista de Direito Mercantil, Indus-
trial, Econômico e Financeiro. Editora 
Revista dos Tribunais Ltda., nº 103. 
COMPARATO, Fábio Konder. Origem do 
Direito Comercial, p. 87.
2 Revista de Direito Mercantil, Indus-
trial, Econômico e Financeiro. Editora 
Revista dos Tribunais Ltda., nº 103. 
COMPARATO, Fábio Konder. Origem do 
Direito Comercial, p. 87.
10FGV DIREITO RIO
TEORIA GERAL DA EMPRESA
Nesse sentido, em clara contraposição à economia romana, até então 
lastreada em concepções servis, as comunas italianas valorizavam o exercício 
de um trabalho livre. Isto é, as cidades se tornaram, nesse aludido momento, 
em centros de circulação de mercadorias e serviços.3
Na segunda metade do século XII, surge o Direito dos Mercadores, 
o qual decorre de um processo de ruptura com o direito civil. Era um 
direito mais prático e dinâmico, que tinha como principais funções atender 
às necessidades e defender os interesses dos comerciantes que estivessem 
matriculados nas Corporações de Ofício para solução de conflitos nas 
relações de negócio entre eles. Tais corporações compreendiam “os 
mestres de cada arte e, ao lado deles, mas em posição subordinada, seus 
companheiros de trabalho e aprendizes”.4
Esta fase é considerada a origem do Direito Comercial e é identificada pela 
marca da teoria subjetiva5. Isto porque só eram considerados comerciantes 
aqueles que estavam matriculados nas Corporações, e somente estes tinham 
acesso aos privilégios próprios dos comerciantes, tais como: insolvência 
empresarial, presunção de veracidade da escrita contábil e acesso aos 
Tribunais do Comércio, que eram ligados às Corporações, compostos por 
comerciantes, dispondo de uma atividade jurisdicional especializada para 
tratar dos conflitos comerciais.
O surgimento do Estado Centralizado, com o poder nas mãos de um 
Monarca, transforma o Direito Comercial (dos Mercadores) em um direito 
regulamentador das atividades dos comerciantes, contribuindo para o 
fortalecimento do Estado Nacional perante as Corporações de Ofício que, 
até então, legislavam livremente.
A ruptura do sistema subjetivo se dá com os ideais da Revolução Francesa 
– liberdade, igualdade e fraternidade –, dando lugar ao surgimento de um 
direito unificado para todos que se dedicassem à atividade mercantil. A 
prática dos atos de comércio passa a ser livre e a classificação do comerciante 
passa a ser objetiva, ou seja, o que o torna sujeito um comerciante é a sua 
atividade – prática de atos de comércio.
Em matéria de atividade produtiva, formaram-se duas ordens distintas 
de identificação: (i) uma ligada aos atos de comércio, que é a atividade 
negocial, e tem como exemplos a compra e venda de mercadorias, atividades 
financeiras, atividades industriais etc.; e (ii) outra ligada aos atos civis, 
peculiar e característica das atividades ligadas à terra, como a agricultura, 
extrativismo, pecuária, entre outras.3 Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro. Editora Revista dos Tribunais Ltda., nº 103. COMPARATO, Fábio Konder. Origem do Direito 
Comercial, p. 89.
4 Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro. Editora Revista dos Tribunais Ltda., nº 103. COMPARATO, Fábio Konder. Origem do Direito 
Comercial, p. 89.
5 Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro. Editora Revista dos Tribunais Ltda., nº 103. COMPARATO, Fábio Konder. Origem do Direito 
Comercial, p. 91.
3 Revista de Direito Mercantil, Indus-
trial, Econômico e Financeiro. Editora 
Revista dos Tribunais Ltda., nº 103. 
COMPARATO, Fábio Konder. Origem do 
Direito Comercial, p. 89.
4 Revista de Direito Mercantil, Indus-
trial, Econômico e Financeiro. Editora 
Revista dos Tribunais Ltda., nº 103. 
COMPARATO, Fábio Konder. Origem do 
Direito Comercial, p. 89.
5 Revista de Direito Mercantil, Indus-
trial, Econômico e Financeiro. Editora 
Revista dos Tribunais Ltda., nº 103. 
COMPARATO, Fábio Konder. Origem do 
Direito Comercial, p. 91.
11FGV DIREITO RIO
TEORIA GERAL DA EMPRESA
Com esse fracionamento, era possível apresentar diferentes formas 
de solução para casos idênticos. A regra a ser aplicada variava segundo o 
ordenamento jurídico predominante nas diversas regiões do local. 
Em 1807, surge o Código Napoleônico objetivando o tratamento jurídico 
da atividade mercantil com a adoção da teoria dos atos de comércio.
CODE DE COMMERCE - LIVRE PREMIER - DU 
COMMERCE EN GENERAL. TITRE Ier – DES 
COMMERÇANTS. Art. 1er. – Sont commerçants 
ceux qui exercent des actes de commerce et en font leur 
profession habituelle..
Em 1850, profundamente influenciado pelo Código Francês, surge, 
no direito brasileiro, o Código Comercial que, embora tenha adotando a 
teoria dos atos de comércio do sistema francês, não os elencou. Com isso, foi 
necessária a edição de um diploma adjetivo – o Regulamento nº 737/1850 
– que discriminasse, de forma exemplificativa, os atos considerados de 
mercancia/comércio.
Ao regulamentar o nosso Código Comercial, o Regulamento n.º 737 
estabeleceu, no bojo dos artigos 19 e 20, os atos considerados de mercancia, 
complementando o art. 4º do Código Comercial, que somente estabelecia 
ser comerciante aquele que fazia da mercancia sua atividade habitual. Veja-se:
Código Comercial de 1850: Artigo 4º - Ninguém 
é reputado comerciante para efeito de gozar da 
proteção que este Código liberaliza em favor do 
Comércio, sem que se tenha matriculado em algum 
dos Tribunais do Comércio do Império, e faça da 
mercancia profissão habitual.
Regulamento n.º 737 de 1850: (...) Artigo 19 – 
Considera-se mercancia: a compra e venda ou troca de 
efeitos móveis ou semoventes para os vender por grosso 
ou retalho, da mesma espécie ou manufaturados, ou 
para alugar o seu uso. as operações de câmbio, banco 
ou corretagem; as empresas de fábricas, de comissões, 
de depósito, de expedição, consignação e transporte 
de mercadorias, de espetáculos públicos; os seguros, 
fretamentos, riscos e quaisquer contratos relativos ao 
comércio marítimo; e a armação e expedição de navios.
12FGV DIREITO RIO
TEORIA GERAL DA EMPRESA
Artigo 20 – Serão também julgados em conformidade 
dos dispositivos do Código, e pela mesma forma 
de processo, ainda que não intervenha pessoa 
comerciante: 1º. As questões entre particulares sobre 
títulos de dívida pública e outros quaisquer papéis de 
crédito do governo; 2º. As questões de companhias 
e sociedades qualquer que seja a sua natureza objeto; 
3º. As questões que derivem de contratos de locação 
compreendidos na disposição do Título X, Parte I, 
do Código, com exceção somente das que forem 
relativas à locação de prédios rústicos e urbanos; 4º. 
As questões relativas a letras de câmbio e de terras, 
seguros, riscos e fretamentos.
Em sequência, com o advento do Código Civil de 2002, o critério de 
identificação do comerciante desapareceu com a revogação expressa da parte I 
do Código Comercial.6 Assim, há uma substituição da figura do comerciante 
pela do empresário, o que, atualmente, traz ao cenário empresarial diferentes 
tipos de implicações, conforme abordaremos oportunamente.
Contudo, há que se ressaltar que o Código Comercial não restou 
totalmente revogado, tendo em vista que, ainda hoje, é aplicável ao comércio 
marítimo, muito embora tenha sofrido a revogação expressa de sua Primeira 
Parte (art. 2.045 do Código Civil de 2002). Ademais, conforme alude o 
art. 2.037 do CC/02, a legislação aplicável a comerciantes individuais e 
sociedades comerciais e a atividades mercantis em geral permanece ainda em 
vigor, naquilo que não conflitar com as disposições do CC/02.
Com efeito, embora a figura do comerciante tenha sido absorvida pela 
moldura do empresário:
(...) o empresário não se mostra como simples versão 
moderna do comerciante.
(...)
Destarte, o empresário encampa não só o tradicional 
comerciante, modernamente chamado pela doutrina 
de empresário comercial, já na trilha da construção 
do Direito de Empresa, mas também algumas das 
espécies de empresários civis, que exercem atividade 
econômica, na qual reside, nesse gênero, a clássica 
sociedade civil com fim lucrativo.7
6 Art. 2.045 do Código Civil de 2002. “Revogam-se a Lei no 3.071, de 1o de janeiro de 1916 - Código Civil e a Parte Primeira do Código Comercial, Lei no 556, de 
25 de junho de 1850”.
7 CAMPINHO, Sérgio. Curso de direito comercial: direito de empresa – 16. Ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2019, p. 3.
6 Art. 2.045 do Código Civil de 2002. 
“Revogam-se a Lei no 3.071, de 1o de 
janeiro de 1916 - Código Civil e a Parte 
Primeira do Código Comercial, Lei no 
556, de 25 de junho de 1850”.
7 CAMPINHO, Sérgio. Curso de direito 
comercial: direito de empresa – 16. Ed. – 
São Paulo: Saraiva Educação, 2019, p. 3.
13FGV DIREITO RIO
TEORIA GERAL DA EMPRESA
Face ao contexto acima exposto, há que se destacar que surgem, com o 
advento do Código Civil de 2002, as sociedades empresárias, que exercem 
atividade própria de empresário, e as sociedades simples, que não exercem 
a empresa, conforme estudaremos ao longo dos próximos tópicos.
14FGV DIREITO RIO
TEORIA GERAL DA EMPRESA
2. O EMPRESÁRIO E O CENÁRIO ECONÔMICO
A) MATERIAL DE LEITURA 
Leitura Básica
Texto: “A Atividade do empresário”. Revista de Direito Mercantil n.º 132, 
p. 203 a 215.
Texto: “O Empresário”. Revista de Direito Mercantil n.º 109 pgs. 182 a 189.
BARROSO, Luiz Roberto. A Ordem Econômica Constitucional e os 
Limites à Atuação Estatal no Controle de Preços. Revista de Direito 
Administrativo - RDA, v. 226, out./dez. 2001, pp. 187-212. Rio de 
Janeiro: Editora FGV, 2001. Disponível em: <http://bibliotecadigital.
fgv.br/ojs/index.php/rda/article/view/47240/44652>. Acesso em: 
25/01/2020.
Leitura Complementar
PORTUGAL GOUVÊA, Carlos e YOSHIKAWA, Caio Henrique, O Perfil 
do Advogado Empresarial Contemporâneo: Entre o Arquiteto Institucional 
e o Empreendedor Jurídico. Cadernos FGV Direito Rio n° 10, pp. 93-
114. Disponível em: https://ssrn.com/abstract=2444179
GRAU, Eros Roberto. Ordem Econômica na Constituição de 1988 - 19ª 
Ed. 2018.
ASCARELLI, Tullio. “O Empresário”, in Corso di Diritto Commerciale. 
Tradução de Fábio Konder Comparato. Revista de Direito Mercantil, 
Industrial, Econômico e Financeiro, São Paulo, n. 109, p. 183 a 189, 1998.
Para que possamos adentrar a Teoria Geral da Empresa, temos que, 
inicialmente, refletir sobre o conceito de “empresa” em nosso ordenamento 
jurídico e, com isso, melhor compreender a influência do empresário e da 
sociedade empresária no cenário econômico nacional como responsável pela 
geração de empregos, arrecadação de tributos e fomento de riquezas8.
8 “O comércio civiliza as nações, enriquece os povos e constitui poderosas as monarquias, que se arruínam com a sua decadência e abatimento de cultura; mas 
é preciso que nele se pratique com mútua fidelidade. A alma do comércio consiste na liberdade” - Alvará do Rei de Portugal, de 17 de agosto de1758.
8 “O comércio civiliza as nações, enri-
quece os povos e constitui poderosas as 
monarquias, que se arruínam com a sua 
decadência e abatimento de cultura; 
mas é preciso que nele se pratique com 
mútua fidelidade. A alma do comércio 
consiste na liberdade” - Alvará do Rei 
de Portugal, de 17 de agosto de 1758.
15FGV DIREITO RIO
TEORIA GERAL DA EMPRESA
O QUE É EMPRESA?
O Código Civil de 2002, ao adotar as concepções do direito italiano, 
não conceituou a empresa, fixando apenas o conceito de empresário9. Isto 
tendo em vista que a empresa é considerada elemento abstrato, fruto da 
ação intencional do empresário em promover o seu exercício de maneira 
economicamente organizada.10
Antes de adentrar neste tema, note-se que, observada a imprecisão 
científica e a insuficiência da teoria dos atos de comércio11 , fez-se 
necessária a construção de um novo sistema, que se adequasse aos 
avanços da economia e que delimitasse o âmbito de aplicação das normas 
comerciais. Tudo isto de forma a adaptar a disciplina às necessidades das 
sociedades contemporâneas.
De fato, é inquestionável a importância do papel econômico e social 
atualmente exercido pela empresa, tendo se tornado imprescindível na ordem 
econômica globalizada. Tal relevância é salientada por economistas e juristas 
dos mais renomados, chegando-se a afirmar, com todo acerto, que:
A evolução da empresa representa, na realidade, 
um elemento básico para a compreensão do 
mundo contemporâneo. Do mesmo modo que, no 
passado, tivemos a família patriarcal, a paróquia, 
o Município, as corpo rações profissionais, que 
caracterizam um determinado tipo de sociedade, a 
empresa representa, hoje, a célula fundamental da 
economia de mercado.12
No mesmo sentido, Fábio Konder Comparato resume bem a 
importância da empresa atualmente, da seguinte forma:
Se se quiser indicar uma instituição social que, 
pela sua influência, dinamismo e poder de 
transformação, sirva de elemento explicativo e 
definidor da civilização contemporânea, a escolha 
é indubitável: essa instituição é a empresa.13
Tal constatação é também com frequência apontada por diferentes 
economistas. Referindo-se especificamente às sociedades anônimas, 
assevera-se que “o capitalismo moderno não teria podido se desenvolver 
se a sociedade por ações não existisse.”14
9 CAMPINHO, Sérgio. Curso de Direito Comercial. – 16ª Ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2019, p. 11.
10 CAMPINHO, Sérgio. Curso de Direito Comercial. – 16ª Ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2019, p.11.
11 Tal foi a afirmação de J. X. Carvalho de Mendonça, autor que propôs conhecidíssima classificação dos atos de comércio, nos seguintes termos: “Os 
códigos e tratados de direito comercial não oferecem conceito jurídico unitário e completo sobre os atos de comércio. Legislação e doutrina não se harmonizam 
em tão relevante assunto, o que multiplica os embaraços à construção de sólido sistema científico.” (J.X. Carvalho de Mendonça, “Tratado de Direito Comercial 
Brasileiro”, vol. I, livro I, 6ª ed., Rio de Janeiro: Freitas Bastos,1957, p. 419). Na mesma obra, o autor revela a amplitude do problema no direito comparado, 
citando entre os que compartilham de seu entendimento Lyon Caen et Renault, na França, Vidari, Vivante e Navarrini, na Itália, além do suíço Muzinger, do 
espanhol Estaséne e do argentino Segovia (pp. 419-421).
12 WALD, Arnoldo. O Espírito Empresarial, a Empresa e a Reforma Constitucional. Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro nº 
98/51-57. São Paulo: Ed. RT, abril/junho, 1995. P. 55.
13 COMPARATO, Fábio Konder. Direito Empresarial: Estudos e Pareceres. São Paulo: Saraiva, 1990. P. 3.
14 LIPPKANN, Walter. A Cidade Livre. 1938. P. 329 apud Georges Ripert, Aspectos Jurídicos do Capitalismo Moderno. Campinas: RED livros, 2002. P. 
67.
9 CAMPINHO, Sérgio. Curso de Direito 
Comercial. – 16ª Ed. – São Paulo: Sa-
raiva Educação, 2019, p. 11.
10 CAMPINHO, Sérgio. Curso de Direito 
Comercial. – 16ª Ed. – São Paulo: Sa-
raiva Educação, 2019, p.11.
11 Tal foi a afirmação de J. X. Carvalho 
de Mendonça, autor que propôs co-
nhecidíssima classificação dos atos de 
comércio, nos seguintes termos: “Os 
códigos e tratados de direito comercial 
não oferecem conceito jurídico unitário 
e completo sobre os atos de comércio. 
Legislação e doutrina não se harmoni-
zam em tão relevante assunto, o que 
multiplica os embaraços à construção 
de sólido sistema científico.” (J.X. Car-
valho de Mendonça, “Tratado de Direi-
to Comercial Brasileiro”, vol. I, livro I, 6ª 
ed., Rio de Janeiro: Freitas Bastos,1957, 
p. 419). Na mesma obra, o autor revela 
a amplitude do problema no direito 
comparado, citando entre os que com-
partilham de seu entendimento Lyon 
Caen et Renault, na França, Vidari, 
Vivante e Navarrini, na Itália, além do 
suíço Muzinger, do espanhol Estaséne e 
do argentino Segovia (pp. 419-421).
12 WALD, Arnoldo. O Espírito Empre-
sarial, a Empresa e a Reforma Consti-
tucional. Revista de Direito Mercantil, 
Industrial, Econômico e Financeiro nº 
98/51-57. São Paulo: Ed. RT, abril/ju-
nho, 1995. P. 55.
13 COMPARATO, Fábio Konder. Direito 
Empresarial: Estudos e Pareceres. São 
Paulo: Saraiva, 1990. P. 3.
14 LIPPKANN, Walter. A Cidade Livre. 
1938. P. 329 apud Georges Ripert, As-
pectos Jurídicos do Capitalismo Moder-
no. Campinas: RED livros, 2002. P. 67.
16FGV DIREITO RIO
TEORIA GERAL DA EMPRESA
No entanto, sob a égide da Teoria Objetiva, diversas atividades de caráter 
intrinsecamente empresarial eram ignoradas pelo Direito Comercial, visto 
não se enquadrarem nas acepções legais de ato de comércio. Apenas para 
citar um, entre diversos exemplos admissíveis, o desenvolvido setor de 
serviços, por exemplo, por não se enquadrar nas definições elaboradas para 
os atos de comércio, não se encontrava regulado pelas normas comerciais, 
o que per si demonstrava a necessidade de uma nova sistemática. 
Assim, a Teoria Subjetiva moderna apresenta como núcleo fundamental 
o conceito de empresa15. Ocorre que mesmo entre os adeptos da “Teoria da 
Empresa”, em especial os italianos, marcados pelo seu pioneirismo16, tem-se 
encontrado dificuldades para definir o seu conceito jurídico, não obstante 
sua pacífica conceituação nas ciências econômicas. A esse propósito, vale 
registrar a lição de Rubens Requião:
Em vão, os juristas têm procurado construir um 
conceito jurídico próprio para tal organização. 
Sente-se em suas lições certo constrangimento, 
uma verdadeira frustração por não lhes haver sido 
possível compor um conceito jurídico próprio 
para a empresa, tendo o comercialista que se 
valer do conceito formulado pelos economistas. 
Por isso, persistem os juristas no afã de edificar 
em vão um original conceito jurídico de empresa, 
como se fosse desdouro para a ciência jurídica 
transpor para o campo jurídico um bem elaborado 
conceito econômico.17
Alguns autores, tais como Giuseppe Ferri, ensinam que a noção 
econômica de empresa, sob a qual deve se assentar o seu conceito jurídico18 , 
incorpora-se na organização dos fatores de produção, baseada em princípios 
técnicos e leis econômicas, propondo-se à satisfação de necessidades 
alheias, vale dizer, do mercado. A este propósito, vale citar, pela clareza, os 
ensinamentos de Sylvio Marcondes:
O conceito econômico de empresa está na 
organização dos fatores de produção de bens ou 
de serviços para o mercado, coordenada pelo 
empresário, que lhe assume os resultados. Sobre 
este conceito econômico ninguém põe dúvida. Mas, 
como o Direito trata este conceito econômico?19
15 Tullio Ascarelli vê a manutenção de um critério objetivo, pela importância que se dá à atividade na qualificação do empresário (“O empresário” 
(Tradução de Fábio Konder Comparato, in “Corso di Diritto Comerciale — Introduzione e Teoria dell’Impresa”, 3ª ed., Milano: Giuff rè, 1962; pp. 145-160). Revista 
de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro n.º 109/183-189, São Paulo: Malheiros, janeiro/março, 1998).
16 Constata Rubens Requiãoque “são juristas italianos os que mais se dedicam ao estudo da empresa. Já sabemos que o moderno direito privado da 
Itália funda-se sobre a teoria da empresa. Mas, antes mesmo da reforma de 1942, os comercialistas peninsulares indagavam, como Vivante, sobre o seu conceito, 
em face das referências a ela feitas na enumeração dos atos de comércio” (REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. Vol. I. 24ª Ed., São Paulo: Saraiva, 2000. 
P. 53).
17 REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. Vol. I. 24ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2000. P. 50.
18 O jurista italiano Vivante igualou o conceito jurídico ao conceito econômico, consoante apontado por Rubens Requião. Curso de Direito Comercial. 
Vol. I. 24ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2000. P. 53
19 MARCONDES, Sylvio. Questões de Direito Mercantil. São Paulo: Saraiva, 1977. P. 8. No mesmo sentido, temos a lição de Waldírio Bulgarelli, 
nos seguintes termos: “Os economistas vêm se esforçando desde a Revolução Industrial em conceituar a empresa, nem sempre com êxito. Hoje, contudo, é 
quase unânime a ideia de que a empresa é uma unidade organizada de produção e comercialização de bens e serviços para o mercado”. BULGARELLI, Waldírio. 
Sociedades, Empresa e Estabelecimento. São Paulo: Atlas, 1980. P. 19. O mesmo autor, em obra diversa, demonstra o seu aceite pelo conceito econômico de 
empresa: “Uma vez, portanto, que há verdadeira unanimidade em relação ao conceito econômico de empresa, como aliás assinala muito bem Sylvio Marcondes, 
nada há de errado na sua aceitação por parte do Direito, e foi nessa conformidade que a legislação veio regulando os seus vários aspectos (...)”.BULGARELLI, 
Waldírio. Estudos e Pareceres de Direito Empresarial: o Direito das Empresas. São Paulo: Ed. RT, 1980. P. 17.
15 Tullio Ascarelli vê a manutenção de 
um critério objetivo, pela importância 
que se dá à atividade na qualificação do 
empresário (“O empresário” (Tradução 
de Fábio Konder Comparato, in “Corso 
di Diritto Comerciale — Introduzione 
e Teoria dell’Impresa”, 3ª ed., Milano: 
Giuff rè, 1962; pp. 145-160). Revista de 
Direito Mercantil, Industrial, Econômico 
e Financeiro n.º 109/183-189, São Paulo: 
Malheiros, janeiro/março, 1998).
16 Constata Rubens Requião que “são 
juristas italianos os que mais se dedi-
cam ao estudo da empresa. Já sabemos 
que o moderno direito privado da Itália 
funda-se sobre a teoria da empresa. 
Mas, antes mesmo da reforma de 1942, 
os comercialistas peninsulares indaga-
vam, como Vivante, sobre o seu concei-
to, em face das referências a ela feitas 
na enumeração dos atos de comércio” 
(REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito 
Comercial. Vol. I. 24ª Ed., São Paulo: 
Saraiva, 2000. P. 53).
17 REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito 
Comercial. Vol. I. 24ª Ed. São Paulo: 
Saraiva, 2000. P. 50.
18 O jurista italiano Vivante igualou o 
conceito jurídico ao conceito econômico, 
consoante apontado por Rubens Re-
quião. Curso de Direito Comercial. Vol. I. 
24ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2000. P. 53
19 MARCONDES, Sylvio. Questões de 
Direito Mercantil. São Paulo: Saraiva, 
1977. P. 8. No mesmo sentido, temos a 
lição de Waldírio Bulgarelli, nos seguin-
tes termos: “Os economistas vêm se es-
forçando desde a Revolução Industrial 
em conceituar a empresa, nem sempre 
com êxito. Hoje, contudo, é quase unâ-
nime a ideia de que a empresa é uma 
unidade organizada de produção e 
comercialização de bens e serviços para 
o mercado”. BULGARELLI, Waldírio. So-
ciedades, Empresa e Estabelecimento. 
São Paulo: Atlas, 1980. P. 19. O mesmo 
autor, em obra diversa, demonstra o 
seu aceite pelo conceito econômico de 
empresa: “Uma vez, portanto, que há 
verdadeira unanimidade em relação 
ao conceito econômico de empresa, 
como aliás assinala muito bem Sylvio 
Marcondes, nada há de errado na sua 
aceitação por parte do Direito, e foi 
nessa conformidade que a legislação 
veio regulando os seus vários aspectos 
(...)”.BULGARELLI, Waldírio. Estudos 
e Pareceres de Direito Empresarial: o 
Direito das Empresas. São Paulo: Ed. RT, 
1980. P. 17.
17FGV DIREITO RIO
TEORIA GERAL DA EMPRESA
Para responder à indagação formulada pela doutrina, deve-se atentar para 
uma observação feita por Alberto Asquini, o qual com muito acerto indicou 
que as dificuldades da conceituação jurídica de empresa derivam do fato de 
esta ser um “fenômeno poliédrico”.
Com esta afirmação, o comercialista italiano demonstra que a empresa 
apresenta um conceito econômico unitário, o mesmo não ocorrendo com o 
seu conceito jurídico, recebendo a empresa tratamentos legislativos diversos.20
Firmado esse entendimento, sugere o jurista italiano que se abdique da 
tentativa de elaboração de um conceito jurídico de empresa, devendo-se 
focar no estudo dos “aspectos jurídicos da empresa econômica”, na expressão 
de Giuseppe Ferri21
Sob esses argumentos, Asquini elabora a sua difundida Teoria dos Perfis 
da Empresa22, bem resumida por Rubens Requião:
Vislumbra, então, Asquini a empresa sob quatro 
diferentes perfis: a) o perfil subjetivo, que vê a 
empresa como o empresário; b) o perfil funcional, 
que vê a empresa como atividade empreendedora; c) 
o perfil patrimonial ou objetivo, que vê a empresa 
como estabelecimento; d) o perfil corporativo, que 
vê a empresa como instituição.23
O Codice Civile italiano de 1942, pioneiro ao sugerir um modelo que 
superasse o sistema francês, não chega a estabelecer um conceito jurídico de 
empresa, preferindo definir o seu perfil subjetivo — o empresário — em seu 
art. 2.08224, como sendo aquele que exerce profissionalmente uma atividade 
econômica organizada para a produção e circulação de bens ou serviços.
O legislador brasileiro, inspirado pelo modelo italiano, não apresenta 
inovações em relação ao Codice Civile de 1942, ao definir, em seu 
artigo 966, o empresário como sendo “quem exerce profissionalmente 
atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de 
bens ou de serviços”25
Das definições legais supracitadas decorrem os elementos essenciais à 
empresa, quais sejam, no entendimento de Rubens Requião: (i) o sujeito 
de direito, (ii) a sua atividade particular, (iii) a finalidade produtiva e 
(iv) o caráter profissional26. Waldírio Bulgarelli também faz referência a 
quatro elementos.
20 Apud MARCONDES, Sylvio. Questões de Direito Mercantil. São Paulo: Saraiva, 1977. P.8.
21 Apud REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. Vol. I. 24ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2000. P. 55.
22 Referida tese foi publicada na Rivista del Diritto Commerciale, fascs. 1 e 2, em 1943, sob o titulo “Profi lidell’Imprensa”, conforme REQUIÃO, 
Rubens. Curso de Direito Comercial. Vol. I. 24ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2000. P. 71. Em português, a tese foi publicada, com tradução de Fábio Konder Comparato, 
na Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro n.º104/109-126, São Paulo: RT, outubro/ dezembro, 1996.
23 REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. Vol. I. 24ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2000.
24 Art. 2.082 do Codice Civile italiano de 1942: “Imprenditore — È imprenditore chi esercita professionalmente una attività economica organizzata 
al fi ne della produzione o dello scambio di beni o di servizi”.
25 Art. 966 do Novo Código Civil: “Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a 
circulação de bens ou de serviços”
26 REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. Vol. I. 24ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2000. P. 55.
20 Apud MARCONDES, Sylvio. Questões 
de Direito Mercantil. São Paulo: Sarai-
va, 1977. P.8.
21 Apud REQUIÃO, Rubens. Curso de 
Direito Comercial. Vol. I. 24ª Ed. São 
Paulo: Saraiva, 2000. P. 55.
22 Referida tese foi publicada na Ri-
vista del Diritto Commerciale, fascs. 
1 e 2, em 1943, sob o titulo “Profi 
lidell’Imprensa”, conforme REQUIÃO, 
Rubens. Curso de Direito Comercial. 
Vol. I. 24ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2000. 
P. 71. Em português, a tese foi publi-
cada, com tradução de Fábio Konder 
Comparato, na Revista de Direito Mer-
cantil, Industrial, Econômico e Finan-
ceiron.º104/109-126, São Paulo: RT, 
outubro/ dezembro, 1996.
23 REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito 
Comercial. Vol. I. 24ª Ed. São Paulo: 
Saraiva, 2000.
24 Art. 2.082 do Codice Civile italiano 
de 1942: “Imprenditore — È impren-
ditore chi esercita professionalmente 
una attività economica organizzata al fi 
ne della produzione o dello scambio di 
beni o di servizi”.
25 Art. 966 do Novo Código Civil: 
“Considera-se empresário quem exerce 
profissionalmente atividade econômica 
organizada para a produção ou a circu-
lação de bens ou de serviços”
26 REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito 
Comercial. Vol. I. 24ª Ed. São Paulo: 
Saraiva, 2000. P. 55.
18FGV DIREITO RIO
TEORIA GERAL DA EMPRESA
Contudo, o renomado comercialista os apresenta como sendo 
(i) a organização, (ii) a atividade econômica, (iii) o fim lucrativo e 
(iv) a profissionalidade27. Bugarelli acrescenta o fim lucrativo como 
elemento essencial à empresa, posto que não há empresa que não vise 
a obtenção de lucro.
Por esse contexto, cabe observar que, no esforço de construir um 
conceito jurídico de empresa, pouco se afastou da noção econômica. A esse 
propósito, é incisiva a conclusão de Waldírio Bulgarelli, centralizando o 
conceito de empresa no seu perfil subjetivo, seguindo a opção legislativa 
italiana e brasileira:
Com base no exposto, entende-se que o conceito de empresa pode ser 
compreendido como sendo a organização da atividade econômica com 
objetivo de produzir ou trocar bens ou serviços. Observa-se, com isso, que o 
conceito jurídico de empresa pouco se afastou da noção econômica:
Dessume-se, assim, o conceito de empresa 
daquele de empresário, podendo-se conceituá-
la como a organização da atividade econômica 
para o fim de produção ou de troca de bens ou 
serviços. Verifica-se, portanto, a transmutação 
que ocorreu no conceito econômico na sua 
passagem para o âmbito jurídico, sob a égide do 
empresário, ou seja, de organização da atividade 
econômica para o de exercício profissional da 
atividade econômica organizada.28
27 BULGARELLI, Waldírio. Sociedades, Empresa e Estabelecimento. São Paulo: Atlas, 1980. P. 22.
28 LAMY FILHO, Alfredo. A reforma da Lei de Sociedades Anônimas. IN: Temas de Direito Societário. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. P. 18.
27 BULGARELLI, Waldírio. Sociedades, 
Empresa e Estabelecimento. São Paulo: 
Atlas, 1980. P. 22.
28 LAMY FILHO, Alfredo. A reforma da 
Lei de Sociedades Anônimas. IN: Temas 
de Direito Societário. Rio de Janeiro: 
Renovar, 2006. P. 18.
19FGV DIREITO RIO
TEORIA GERAL DA EMPRESA
A ORDEM ECONÔMICA CONSTITUCIONAL.
A ordem econômica constitucional brasileira passou por considerável 
alteração desde o século XX, especialmente após a redemocratização com a 
Constituição da República de 1988. No século passado, o Brasil era, segundo 
aponta Bresser Pereira, um “Estado oligárquico e patrimonial, no seio de 
uma economia agrícola mercantil e de uma sociedade de classes mal saída 
do escravismo. Cem anos depois, é hoje um Estado democrático, entre 
burocrático e gerencial”.29
O sistema de governança brasileiro era inspirado no sistema francês, 
pautado na hierarquia e na centralização do poder nas mãos do Chefe do 
Poder Executivo. Nesse sentido, Sérgio Guerra aponta que:
O quadro de forte centralização do poder nas mãos 
do Chefe do Poder Executivo só foi modestamente 
mitigado no Brasil com a implantação, parcial, do 
modelo de agências reguladoras. Esse modelo surgiu 
na década de 90 do século passado, sendo implantado 
em um momento de reestruturação do papel do 
Estado em relação à sua atuação na economia.30
Nota-se, portanto, que havia a preeminência da autoridade política no 
plano econômico. Tal fenômeno, especialmente após a II Guerra Mundial, 
tornou-se crescente nas economias mundiais:
ao assumirem as sociedades mercantis, privadas na 
sua configuração jurídica, as formas burocratizadas 
dos entes públicos, o poder por elas exercido 
passou a manifestar uma tendência à concentração, 
implodindo-se a possibilidade de regulação dos 
mercados conforme os parâmetros pressupostos pelo 
Direito Privado, observando-se, ao contrário, a sua 
insuficiência progressiva. Por exemplo, o controle 
de preços claramente deixava de ocorrer apenas 
pela lei da oferta e da procura, pois a emergência de 
um verdadeiro poder econômico paralelo ao poder 
político, significava a possibilidade de um controle 
sobre as regras de controle, sua manipulação e 
transformação. Na contrapartida desta possibilidade 
de perversão das regras de mercado pelo próprio 
regime de mercado livre, reconhecia-se a legitimidade 
da intervenção reguladora do Estado na economia.31
29 PEREIRA, Luiz Carlos Bresser. Do Estado Patrimonial ao Gerencial. In Pinheiro, Wilheim e Sachs (orgs.), Brasil: Um Século de Transformações. S. 
Paulo: Cia. Das Letras, 2001: 222-259. p. 1.
30 GUERRA, Sérgio. SEPARAÇÃO DE PODERES, EXECUTIVO UNITÁRIO E ESTADO ADMINISTRATIVO NO BRASIL - UM DOSSIÊ SOBREESTADO 
ADMINISTRATIVO. Revista Estudos Institucionais, Vol. 3, 1, 2017, p. 144.
31 FERRAS JR., Tércio Sampaio. Congelamento de preços - tabelamentos oficiais (parecer), Revista de Direito Público n° 91, 1989.
29 PEREIRA, Luiz Carlos Bresser. Do 
Estado Patrimonial ao Gerencial. In Pi-
nheiro, Wilheim e Sachs (orgs.), Brasil: 
Um Século de Transformações. S. Pau-
lo: Cia. Das Letras, 2001: 222-259. p. 1.
30 GUERRA, Sérgio. SEPARAÇÃO DE PO-
DERES, EXECUTIVO UNITÁRIO E ESTADO 
ADMINISTRATIVO NO BRASIL - UM DOS-
SIÊ SOBREESTADO ADMINISTRATIVO. 
Revista Estudos Institucionais, Vol. 3, 1, 
2017, p. 144.
31 FERRAS JR., Tércio Sampaio. Con-
gelamento de preços - tabelamentos 
oficiais (parecer), Revista de Direito 
Público n° 91, 1989.
20FGV DIREITO RIO
TEORIA GERAL DA EMPRESA
Em face disso, a Constituição de 1988 consagrou, em seu art. 174, o Estado 
como agente normativo e regulador da atividade econômica, sendo-lhes 
atribuídas as funções de fiscalização, incentivo e planejamento. Juntamente 
a isto, estabeleceu compreensão diametralmente oposta a imposição de um 
capitalismo de Estado.
Assim, passou-se a enxergar o Estado como um dos agentes que compõe 
a ordem econômica, tendo ele, além do dever de promover a fiscalização, o 
incentivo e o planejamento da atividade econômica, o de não se substituir 
ao mercado.32 Inclusive, como fundamentos da ordem econômica, o Estado 
deve guardar respeito aos princípios fundamentais da livre iniciativa e da 
valorização do trabalho humano (art. 170, CRFB/88).
Portanto, conforme apresentado por Tércio Sampaio, o papel do Estado 
como agente normativo e regulador foi fixado negativamente, no texto 
constitucional, pelo princípio da livre iniciativa, no sentido de que esta não 
poderá ser suprimida. E continua:
O Estado, ao agir, tem o dever de omitir a sua supressão. 
Positivamente, os limites das funções de fiscalização, 
estímulo e planejamento estão nos princípios da 
ordem, que são a sua condição de possibilidade. O 
primeiro deles é a soberania nacional. Nada fora do 
pacto constituinte. Nenhuma vontade pode se impor 
de fora do pacto constitucional, nem mesmo em 
nome de alguma racionalidade da eficiência, externa e 
tirânica. O segundo é a propriedade privada, condição 
inerente à livre iniciativa e lugar da sua expansão. O 
terceiro é a função social da propriedade, que tem a 
ver com a valorização do trabalho humano e confere 
o conteúdo positivo da liberdade de iniciativa. O 
quarto é a livre concorrência: a livre iniciativa é para 
todos, sem exclusões e discriminações. O quinto é a 
defesa do consumidor, devendo se velar para que a 
produção esteja a serviço do consumo e não este a 
serviço daquela. O sexto é a defesa do meio ambiente, 
entendendo-se que uma natureza sadia é um limite 
à atividade e também sua condição de exercício. A 
redução de desigualdades sociais e regionais é o sétimo. 
Trata-se de um princípio-finalidade, um sentido de 
orientação. O oitavo é a busca do pleno emprego. 
32 Tércio Sampaio Ferraz Jr, Congelamento de preços - tabelamentos oficiais(parecer), Revista de Direito Público n° 91, 1989.
32 Tércio Sampaio Ferraz Jr, Conge-
lamento de preços - tabelamentos 
oficiais (parecer), Revista de Direito 
Público n° 91, 1989.
21FGV DIREITO RIO
TEORIA GERAL DA EMPRESA
Também é um princípio-finalidade. condição para 
a valorização do trabalho humano. O último é o 
tratamento favorecido às empresas brasileiras de 
capital nacional de pequeno porte. É um princípio 
de equalização, que parte das desigualdades de fato, 
mas impõe um dever de condições mínimas de acesso 
à livre iniciativa.33
Consequentemente, cabe ao Estado a competência de desenvolver práticas 
redistributivas, assistencialistas, que venham a estimular a economia ou a 
sociedade de maneira geral. O Estado, inclusive, poderá atuar “estimulando 
comportamentos da iniciativa privada que conduzam a esses resultados, 
oferecendo vantagens fiscais, financiamentos, melhores condições de exercício 
de determinadas atividades, dentre outras formas de fomento.”34
Nesse sentido, Barroso aponta três formas de intervenção estatal na 
economia: (i) a intervenção direta; (ii) o fomento; e (iii) a disciplina. Veja-se:
O Estado pode interferir na ordem econômica 
mediante uma atuação direta, isto é: assumindo, 
ele próprio, o papel de produtor ou prestador de 
bens ou serviços. Essa modalidade de intervenção 
assume duas apresentações distintas: (a) a 
prestação de serviços públicos e (b) a exploração 
de atividades econômicas. Entretanto, cabe não 
perder de vista que a atuação direta do Estado na 
economia é excepcional, só autorizada nos termos 
constitucionais, por representar uma exclusão da 
livre iniciativa.
(...)
De outra parte, o Estado interfere no domínio 
econômico por via do fomento, isto é, 
apoiando a iniciativa privada e estimulando (ou 
desestimulando) determinados comportamentos, 
por meio, por exemplo, de incentivos fiscais ou 
financiamentos públicos.
(...)
33 Tércio Sampaio Ferraz Jr, Congelamento de preços - tabelamentos oficiais (parecer), Revista de Direito Público n° 91, 1989, p. 77/78.
34 BARROSO, Luiz Roberto. A Ordem Econômica Constitucional e os Limites à Atuação Estatal no Controle de Preços. Revista de Direito Administrativo 
- RDA, v. 226, out./dez. 2001, pp. 187-212. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2001, p. 201. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rda/article/
view/47240/44652>.Acesso em: 25/01/2020.
33 Tércio Sampaio Ferraz Jr, Conge-
lamento de preços - tabelamentos 
oficiais (parecer), Revista de Direito 
Público n° 91, 1989, p. 77/78.
34 BARROSO, Luiz Roberto. A Ordem 
Econômica Constitucional e os Limi-
tes à Atuação Estatal no Controle de 
Preços. Revista de Direito Administra-
tivo - RDA, v. 226, out./dez. 2001, pp. 
187-212. Rio de Janeiro: Editora FGV, 
2001, p. 201. Disponível em: <http://
bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/
rda/article/view/47240/44652>.Acesso 
em: 25/01/2020.
22FGV DIREITO RIO
TEORIA GERAL DA EMPRESA
Por fim, o Poder Público interfere com a atividade 
econômica traçando-lhe a disciplina. O propósito 
principal dessa forma de intervenção, como já se 
viu, é a preservação e promoção dos princípios de 
funcionamento da ordem econômica.
Assim, em que pese os textos constitucionais anteriores tenham 
previsão à livre iniciativa, a CRFB/88 trouxe concepção que se contrapõe 
às demais Constituições brasileiras anteriores a ela. Isso porque a 
Constituição de 1988 retira do legislador ordinário a possibilidade de 
instituir novos monopólios estatais, deixando a cargo da Constituição a 
possibilidade de fazê-lo. Isto é, “não se admite que o legislador ordinário 
possa livremente exclui-la, salvo se agir fundamentado em outra norma 
constitucional específica”.35
Neste passo, o princípio da livre iniciativa deve ser interpretado 
e ponderado à vista dos demais valores e fins públicos previstos 
constitucionalmente, sujeitando-se a regulação e fiscalização do Estado, 
“cujo fundamento é a efetivação das normas constitucionais destinadas 
a neutralizar ou reduzir as distorções que possam advir do abuso da 
liberdade de iniciativa e aprimorar-lhe as condições de funcionamento”.36
Dentre os princípios da ordem econômica constitucional, previstos 
no art. 170 da CRFB/8837, Barroso compreende ser possível agrupá-los 
em dois grupos:
(...) conforme se trate de princípios de 
funcionamento da ordem econômica e de 
princípios-fins. Em linhas gerais, os princípios 
de funcionamento estabelecem os parâmetros 
de convivência básicos que os agentes da ordem 
econômica deverão observar. Os princípios fins, 
por sua vez, descrevem realidades materiais que o 
constituinte deseja sejam alcançadas.38
Nisso, os princípios de funcionamento têm a ver com as relações 
produtivas dos agentes econômicos. Assim, não só o Estado, mas 
também todos os agentes estariam a eles vinculados. São tais princípios: 
(i) soberania nacional; (ii) propriedade privada; (iii) função social da 
propriedade; (iv) livre concorrência; (v) defesa do consumidor; e (vi) 
defesa do meio ambiente.
35 BARROSO, Luiz Roberto. A Ordem Econômica Constitucional e os Limites à Atuação Estatal no Controle de Preços. Revista de Direito Administrativo 
- RDA, v. 226, out./dez. 2001, pp. 187-212. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2001, p. 190. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rda/article/
view/47240/44652>.Acesso em: 25/01/2020.
36 BARROSO, Luiz Roberto. A Ordem Econômica Constitucional e os Limites à Atuação Estatal no Controle de Preços. Revista de Direito Administrativo 
- RDA, v. 226, out./dez. 2001, pp. 187-212. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2001, p. 191. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rda/article/
view/47240/44652>.Acesso em: 25/01/2020.
37 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre 
iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: I - soberania nacional; 
II - propriedade privada; III - função social da propriedade; IV - livre concorrência; V - defesa do consumidor VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante 
tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação; VII - redução das desigualdades 
regionais e sociais; VIII - busca do pleno emprego; IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham 
sua sede e administração o País.
38 BARROSO, Luiz Roberto. A Ordem Econômica Constitucional e os Limites à Atuação Estatal no Controle de Preços. Revista de Direito Administrativo 
- RDA, v. 226, out./dez. 2001, pp. 187-212. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2001, p. 193. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rda/article/
view/47240/44652>.Acesso em: 25/01/2020.
35 BARROSO, Luiz Roberto. A Ordem 
Econômica Constitucional e os Limi-
tes à Atuação Estatal no Controle de 
Preços. Revista de Direito Administra-
tivo - RDA, v. 226, out./dez. 2001, pp. 
187-212. Rio de Janeiro: Editora FGV, 
2001, p. 190. Disponível em: <http://
bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/
rda/article/view/47240/44652>.Acesso 
em: 25/01/2020.
36 BARROSO, Luiz Roberto. A Ordem 
Econômica Constitucional e os Limi-
tes à Atuação Estatal no Controle de 
Preços. Revista de Direito Administra-
tivo - RDA, v. 226, out./dez. 2001, pp. 
187-212. Rio de Janeiro: Editora FGV, 
2001, p. 191. Disponível em: <http://
bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/
rda/article/view/47240/44652>.Acesso 
em: 25/01/2020.
37 BRASIL. Constituição da República 
Federativa do Brasil. Art. 170. A ordem 
econômica, fundada na valorização do 
trabalho humano e na livre iniciativa, 
tem por fim assegurar a todos exis-
tência digna, conforme os ditames da 
justiça social, observados os seguintes 
princípios: I - soberania nacional; II - 
propriedade privada; III - função social 
da propriedade; IV - livre concorrência;V - defesa do consumidor VI - defesa 
do meio ambiente, inclusive mediante 
tratamento diferenciado conforme 
o impacto ambiental dos produtos e 
serviços e de seus processos de elabo-
ração e prestação; VII - redução das 
desigualdades regionais e sociais; VIII 
- busca do pleno emprego; IX - trata-
mento favorecido para as empresas de 
pequeno porte constituídas sob as leis 
brasileiras e que tenham sua sede e 
administração o País.
38 BARROSO, Luiz Roberto. A Ordem 
Econômica Constitucional e os Limi-
tes à Atuação Estatal no Controle de 
Preços. Revista de Direito Administra-
tivo - RDA, v. 226, out./dez. 2001, pp. 
187-212. Rio de Janeiro: Editora FGV, 
2001, p. 193. Disponível em: <http://
bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/
rda/article/view/47240/44652>.Acesso 
em: 25/01/2020.
23FGV DIREITO RIO
TEORIA GERAL DA EMPRESA
Já os princípios fins constituem-se como objetivos a serem alcançados 
pela ordem econômica como um todo. Significa dizer que são finalidades 
a que visa o Estado; sendo eles: (i) existência digna para todos; (ii) redução 
das desigualdades regionais e sociais; (iii) busca do pleno emprego; e 
(iv) a expansão das empresas de pequeno porte constituídas sob as leis 
brasileiras e que tenham sua sede e administração no país 
Desta feita, o papel do Estado na ordem econômica é 
“Preservação e promoção dos princípios de 
funcionamento e implementação de programas para 
a realização dos princípios-fins (...). Os princípios de 
funcionamento (...) são endereçados primordialmente 
à atividade do setor privado. Os princípios-fins 
determinam a política econômica estatal.”39
39 BARROSO, Luiz Roberto. A Ordem Econômica Constitucional e os Limites à Atuação Estatal no Controle de Preços. Revista de Direito Administrativo 
- RDA, v. 226, out./dez. 2001, pp. 187-212. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2001, p. 198. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rda/article/
view/47240/44652>.Acesso em: 25/01/2020.
39 BARROSO, Luiz Roberto. A Ordem 
Econômica Constitucional e os Limi-
tes à Atuação Estatal no Controle de 
Preços. Revista de Direito Administra-
tivo - RDA, v. 226, out./dez. 2001, pp. 
187-212. Rio de Janeiro: Editora FGV, 
2001, p. 198. Disponível em: <http://
bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/
rda/article/view/47240/44652>.Acesso 
em: 25/01/2020.
24FGV DIREITO RIO
TEORIA GERAL DA EMPRESA
ESTUDO DE CASOS
ANGRA DOS REIS/RJ:
Com o declínio da pesca, com a demissão de milhares de trabalhadores 
do Estaleiro Verolme (3.500 trabalhadores) e do Porto (600 trabalhadores), 
com o término das obras da Usina Angra II (4.000 trabalhadores), a 
Prefeitura estimou, no final do ano de 1999, que “se multiplicarmos o 
número de desempregados pela média familiar, chegaremos a alarmante 
conclusão de que quase 40% de população do Município perdeu parte ou 
toda a renda familiar” (Extraído do documento “Centro de Formação 
Profissional da Baía de Ilha Grande” - Carta consulta elaborada pela 
Prefeitura Municipal de Angra dos Reis e enviada ao Ministério da 
Educação, 1999:-5).
Em 1982, o Estaleiro Verolme chegou a ter 7291 funcionários, o que 
representava 21,78% do total de trabalhadores da indústria naval no 
Brasil. Absorvendo 12% da força de trabalho angrense, a Verolme era 
a maior fonte de geração de empregos no município além de contribuir 
para o surgimento de comércio e outras atividades ao seu redor.
 
Como consequência à retração das atividades do Estaleiro Verolme na 
década de 90, a população de rua aumentou, favelas surgiram e o número 
daqueles que, através da economia popular, vêm tentando produzir – por 
conta própria – os seus meios de sobrevivência cresceu.
PORTO REAL/RJ:
O grupo PSA Peugeot-Citroën inaugurou a unidade de Porto Real 
no ano 2000 com 400 empregados. Em 2004, já empregava dois mil 
funcionários. A instalação da fábrica impulsionou a economia do Médio 
Paraíba, atraindo fornecedores e consolidando o Pólo Metal-Mecânico 
na região. Porto Real foi o município que registrou o maior crescimento 
do PIB no período 1996-2000 – 234,7%, contra 92,8% do segundo 
colocado, a vizinha Resende40.
40 http://www.glb.com.br/clipweb/manchetes/noticias.asp?934355 (acesso em out/2005)
40 http://www.glb.com.br/clipweb/
manchetes/noticias.asp?934355 (aces-
so em out/2005)
25FGV DIREITO RIO
TEORIA GERAL DA EMPRESA
SAPIENS – A LENDA DA PEUGEOT
“Nossos primos chimpanzés normalmente vivem em pequenos 
bandos de várias dezenas de indivíduos. Eles formam fortes laços de 
amizade, caçam juntos e lutam lado a lado contra babuínos, guepardos 
e chimpanzés inimigos. Sua estrutura social tende a ser hierárquica. O 
membro dominante, que quase sempre é um macho, é denominado 
“macho alfa”. Outros machos e fêmeas demonstram sua submissão ao 
macho alfa curvando-se diante dele enquanto emitem grunhidos, de 
modo não muito diferente de súditos humanos se ajoelhando diante de 
um rei. O macho alfa se esforça para manter a harmonia social em seu 
bando. Quando dois indivíduos brigam, ele intervém e impede a violência. 
Em uma atitude menos benevolente, ele pode monopolizar alimentos 
particularmente cobiçados e evitar que machos de postos inferiores na 
hierarquia acasalem com as fêmeas. 
Quando dois machos estão disputando a posição de alfa, eles 
normalmente fazem isso formando grandes coalizões de apoiadores, tanto 
machos quanto fêmeas, dentro do grupo. Os laços entre os membros da 
coalizão se baseiam em contato íntimo diário – abraçar, tocar, beijar, alisar 
e fazer favores mútuos. Assim como os políticos humanos em campanha 
eleitoral saem por aí distribuindo apertos de mão e beijando bebês, 
também os aspirantes à posição superior em um grupo de chimpanzés 
passam muito tempo abraçando, dando tapinhas nas costas e beijando 
filhotes. O macho alfa normalmente conquista essa posição não porque 
seja fisicamente mais forte, mas porque lidera uma coalizão grande e 
estável. Essas coalizões exercem um papel central não só durante as lutas 
pela posição de alfa como também em quase todas as atividades cotidianas. 
Membros de uma mesma coalizão passam mais tempo juntos, partilham 
alimentos e ajudam uns aos outros em momentos de dificuldade. 
Há limites claros ao tamanho dos grupos que podem ser formados e 
mantidos de tal forma. Para funcionar, todos os membros de um grupo 
devem conhecer uns aos outros intimamente. Dois chimpanzés que nunca se 
encontraram, nunca lutaram e nunca se alisaram mutuamente não saberão 
se podem confiar um no outro, se valerá a pena ajudar um ao outro nem qual 
deles é superior na hierarquia. Em condições normais, um típico bando de 
chimpanzés consiste de 20 a 50 indivíduos. À medida que o número em 
um bando de chimpanzés aumenta, a ordem social se desestabiliza, levando 
enfim à ruptura e à formação de um novo bando por alguns dos animais. 
26FGV DIREITO RIO
TEORIA GERAL DA EMPRESA
Apenas em alguns casos os zoólogos observaram grupos maiores que cem. 
Grupos separados raramente cooperam e tendem a competir por território e 
por alimentos. Os pesquisadores documentaram guerras prolongadas entre 
grupos, e até mesmo um caso de atividade “genocida” em que um bando 
assassinou sistematicamente a maioria dos membros de um bando vizinho. 
Padrões similares provavelmente dominaram a vida social dos 
primeiros humanos, incluindo o Homo sapiens arcaico. Os humanos, 
como os chimpanzés, têm instintos sociais que possibilitaram aos nossos 
ancestrais construir amizades e hierarquias e caçar ou lutar juntos. No 
entanto, como os instintos sociais dos chimpanzés, os dos humanos só 
eram adaptados para pequenos grupos íntimos. Quando o grupo ficava 
grande demais, sua ordem social se desestabilizava, e o bando se dividia. 
Mesmo se um vale particularmente fértil pudesse alimentar 500 sapiens 
arcaicos, não havia jeito de tantos estranhos conseguirem viver juntos. 
Como poderiam concordar sobre quem deveria ser o líder, quem deveria 
caçar onde, ou quem deveria acasalar com quem?
Após a Revolução Cognitiva, a fofoca ajudouo Homo sapiens a formar 
bandos maiores e mais estáveis. Mas até mesmo a fofoca tem seus limites. 
Pesquisas sociológicas demonstraram que o tamanho máximo “natural” 
de um grupo unido por fofoca é de cerca de 150 indivíduos. A maioria 
das pessoas não consegue nem conhecer intimamente, nem fofocar 
efetivamente sobre mais de 150 seres humanos.
Ainda hoje, um limite crítico nas organizações humanas fica próximo 
desse número mágico. Abaixo desse limite, comunidades, negócios, redes 
sociais e unidades militares conseguem se manter principalmente com 
base em relações íntimas e no fomento de rumores. Não há necessidade 
de hierarquias formais, títulos e livros de direito para manter a ordem. 
Um pelotão de 30 soldados ou mesmo uma companhia de cem soldados 
podem funcionar muito bem com base em relações íntimas, com um 
mínimo de disciplina formal. Um sargento respeitado pode se tornar “rei 
da companhia” e exercer autoridade até mesmo sobre oficiais de patente. 
Um pequeno negócio familiar pode sobreviver e florescer sem uma 
diretoria, um CEO ou um departamento de contabilidade.
Mas, quando o limite de 150 indivíduos é ultrapassado, as coisas já não 
podem funcionar dessa maneira. Não é possível comandar uma divisão 
com milhares de soldados da mesma forma que se comanda um pelotão. 
27FGV DIREITO RIO
TEORIA GERAL DA EMPRESA
Negócios familiares de sucesso normalmente enfrentam uma crise 
quando crescem e contratam mais funcionários. Se não forem capazes de 
se reinventar, acabam falindo.
Como o Homo sapiens conseguiu ultrapassar esse limite crítico, 
fundando cidades com dezenas de milhares de habitantes e impérios 
que governam centenas de milhões? O segredo foi provavelmente o 
surgimento da ficção. Um grande número de estranhos pode cooperar de 
maneira eficaz se acreditar nos mesmos mitos.
Toda cooperação humana em grande escala – seja um Estado moderno 
uma igreja medieval, uma cidade antiga ou uma tribo arcaica – se baseia 
em mitos partilhados que só existem na imaginação coletiva das pessoas. 
As igrejas se baseiam em mitos religiosos partilhados. Dois católicos que 
nunca se conheceram podem, no entanto, lutar juntos em uma cruzada 
ou levantar fundos para construir um hospital porque ambos acreditam 
que Deus encarnou em um corpo humano e foi crucificado para redimir 
nossos pecados. Os Estados se baseiam em mitos nacionais partilhados. 
Dois sérvios que nunca se conheceram podem arriscar a vida para salvar 
um ao outro porque ambos acreditam na existência da nação sérvia, da 
terra natal sérvia e da bandeira sérvia. Sistemas judiciais se baseiam em 
mitos jurídicos partilhados. Dois advogados que nunca se conheceram 
podem unir esforços para defender um completo estranho porque 
acreditam na existência de leis, justiça e direitos humanos – e no dinheiro 
dos honorários.
Mas nenhuma dessas coisas existe fora das histórias que as pessoas 
inventam e contam umas às outras. Não há deuses no universo, nem 
nações, nem dinheiro, nem direitos humanos, nem leis, nem justiça fora 
da imaginação coletiva dos seres humanos.
As pessoas entendem facilmente que os “primitivos” consolidam sua 
ordem social acreditando em deuses e espíritos e se reunindo a cada lua 
cheia para dançar juntos em volta da fogueira. Mas não conseguimos 
avaliar que nossas instituições modernas funcionam exatamente sobre 
a mesma base. Considere, por exemplo, o mundo das corporações. Os 
executivos e advogados modernos são, de fato, feiticeiros poderosos. 
A principal diferença entre eles e os xamãs tribais é que os advogados 
modernos contam histórias muito mais estranhas. A lenda da Peugeot 
nos fornece um bom exemplo.”41
41 HARARI, Yuval Noah. Sapiens – Uma breve história da humanidade. Editora L&PM P. 30-33.
41 HARARI, Yuval Noah. Sapiens – Uma 
breve história da humanidade. Editora 
L&PM P. 30-33.
28FGV DIREITO RIO
TEORIA GERAL DA EMPRESA
3. TEORIA DA EMPRESA E O DIREITO EMPRESARIAL NO BRASIL
A) MATERIAL DE LEITURA 
Leitura Básica
CAMPINHO, Sérgio. Curso de Direito Comercial. – 16ª Ed. – São Paulo: 
Saraiva Educação, 2019.
Leitura Complementar
COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. Vol. 1. 23ª ed. – 
revisada, atualizada e ampliada. Thompson Reuters – Revista dos 
Tribunais: Rio de Janeiro, 2019. 
MONTEIRO, Newton Lucca Rogério; SANTOS, J. A. Penalva; SANTOS, 
Paulo Penalva. Comentários ao Código Civil Brasileiro. Do Direito de 
Empresa (arts. 996 a 1.087), vol. IX. Forense: Rio de Janeiro/2005. 
Páginas 3 a 41.
ASCARELLI, Tullio. “A Atividade do Empresário”, in Corso di Diritto 
Commerciale. Tradução de Erasmo Valadão A. e N. França. Revista de 
Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro, São Paulo, n. 132, 
p. 203 e segs., 2003
Já sabemos que quem praticava ato de comércio recebia tratamento 
diferenciado da lei, tendo em vista que o Estado reconhecia a importância da 
atividade econômica (mercantil) para a sociedade. 
Contudo, a principal lacuna da teoria dos atos de comércio consistia em 
não abranger atividades econômicas importantes, tais como a prestação de 
serviços, a agricultura, a pecuária e a negociação imobiliária, mesmo quando 
prestadas de forma empresarial.
Antes de adentrarmos nas dificuldades existentes para definição dos atos 
de comércio, vejamos como identificar se uma atividade poderia, ou não, ser 
considerada advinda de um comerciante.
29FGV DIREITO RIO
TEORIA GERAL DA EMPRESA
IDENTIFICAÇÃO DO COMERCIANTE.
Neste ponto, veremos como identificar o comerciante, para que 
possamos melhor compreender e alcançar a moderna sistemática do 
direito de empresa.
Durante a Revolução Francesa, a partir do Código Civil Francês 
de 1807 (texto original), especificamente em seu artigo 1º, Napoleão 
Bonaparte, ao editar a referida lei, teve como um de seus principais 
objetivos alcançar a burguesia e, assim, acabar com as castas (direito das 
castas – figura do cônsul).
Nesse sentido, o Brasil, tomando como inspiração o Código francês, 
promulgou o Código Comercial de 1850, que, em seu artigo 4º, e artigos 
19 e 20 do Regulamento 737/1850, estabeleceu critério objetivo para 
identificação do comerciante.
Assim, o comerciante passou a ser identificado com base em 3 requisitos 
básicos, a partir dos quais dever-se-ia analisar se, no caso concreto, 
estavam materializadas:
a) a prática de atos de comércio;
b) com habitualidade; e
c) com intuito de lucro.
Com a teoria objetiva, passa a ser considerado comerciante aquele 
que pratica atos de comércio, aumentando-se, assim, a abrangência 
da aplicação do Direito Comercial, sempre no intuito de conferir os 
benefícios do direito comercial a um maior número de comerciantes.
Com efeito, benefícios como a falência e a recuperação judicial 
(instituto novo que substituiu a concordata), atualmente dispostos na 
Lei n.º 11.101/05, têm a finalidade de estimular a atividade empresarial, 
considerada verdadeira mola propulsora de riqueza para a economia de 
um país, uma vez que gera empregos, arrecadação de tributos, acesso aos 
bens e serviços a serem consumidos, etc.
30FGV DIREITO RIO
TEORIA GERAL DA EMPRESA
ATOS DE COMÉRCIO.
Em que pese o exposto, para a definição do que vem a ser considerado 
ato de comércio, não existe uma regra rígida, pois, como assevera a doutrina, 
deve ser deixada a cargo dos intérpretes a sua classificação. 
Existem, sim, parâmetros, como, v.g., o disposto no revogado artigo 191 
do Código Comercial (compra e venda de móveis ou semoventes), artigo 
2º, § 1º da Lei 6.404/76 (a sociedade anônima será sempre mercantil); Lei 
4.068/62 (as sociedades que se destinam à construção civil eram consideradas 
comerciais) e artigo 43 da Lei 4.591/64 (incorporação de imóveis).
Além da teoria objetiva (prática de atos de comércio), a identificação tinha 
por base a prática efetiva de tais atos de mercancia, em consonância com o 
critério real, ao contrário do critério formal – não basta o ato constitutivo 
asseverar que se trata de um comerciante, mas este deve efetivamente exercer 
o comércio.Nesse sentido, não será o arquivamento dos atos constitutivos no 
Registro Público de Empresas (Juntas Comerciais) para se poder afirmar que 
se trata de um comerciante, importando o ato efetivamente por ele praticado.
Ainda havia a possibilidade de nos depararmos com determinada pessoa que 
praticava atos considerados mercantis e atos classificados como não mercantis, 
o que se resolvia pelo critério da predominância (i.e., uma oficina mecânica 
que vendia produtos automotivos, além de prestar serviços de reparos em 
automóveis). Tal critério (real) também será utilizado para a identificação do 
empresário e da sociedade empresária no atual sistema jurídico.
A dificuldade em traçar uma definição para “ato de comércio” capaz de 
abranger todas as atividades comerciais gerou, na doutrina, comentários 
críticos à teoria objetiva. Veja-se que, segundo aponta Rubens Requião42, a 
teoria objetiva, ao deslocar a base do direito comercial da figura tradicional do 
comerciante para a dos atos de comércio, tem sido infeliz, porquanto “até hoje 
não conseguiram os comercialistas definir satisfatoriamente o que sejam eles”.
Além do autor acima, Fábio Ulhoa Coelho aponta que:
A teoria dos atos de comércio resume-se rigorosamente 
falando, a uma relação de atividades econômicas, sem 
que entre elas se possa encontrar qualquer elemento 
interno de ligação, o que acarreta indefinições no tocante 
à natureza mercantil de algumas delas (COELHO, 
Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. Vol. 1. 
23ª ed. – revisada, atualizada e ampliada. Thompson 
Reuters – Revista dos Tribunais: Rio de Janeiro, 2019).
42 Rubens Requião in Curso de Direito Comercial. Vol.1. Saraiva: São Paulo/1995.
42 Rubens Requião in Curso de Direito 
Comercial. Vol.1. Saraiva: São Pau-
lo/1995.
31FGV DIREITO RIO
TEORIA GERAL DA EMPRESA
Nota-se, portanto, que um dos principais argumentos contrários 
ao sistema objetivo é a notória fragilidade científica em definir o que 
pode ser considerado ato de comércio. Nesse sentido, Alfredo de Assis 
Gonçalves Neto defende que:
O principal argumento contrário ao sistema 
objetivo é justamente a precariedade científica 
da base em que se assenta – uma enumeração 
casuística de atos de comércio, feita pelo legislador 
ao acaso (de acordo com aquilo que a prática 
mercantil considerava, à época, pertencer ao 
Direito Comercial). Com isso, sequer se consegue 
encontrar o conceito de seu elemento fundamental, 
o ato de comércio (Alfredo de Assis Gonçalves Neto 
in Manual de Direito Comercial. 2ª ed. Revisada e 
atualizada. Juruá: Curitiba/2000. p. 47).
HABITUALIDADE.
Podemos alcançar a definição pela antítese – será habitual tudo que 
não se afigurar como eventual, no caso concreto. 
Assim, o simples requisito temporal não será um bom indicador, pois 
uma compra e venda realizada a cada 12 (doze) meses pode ser considerada 
eventual, na hipótese de se tratar da venda de um refrigerante e um 
sanduíche; por outro lado, vislumbrar-se-á o requisito da habitualidade 
se, no mesmo lapso, estivermos diante da compra e venda de um navio 
ou aeronave.
INTUITO DE LUCRO.
Não se quer dizer que toda a operação de compra e venda deveria 
alcançar o lucro, mas que o objetivo da atividade fosse o lucro. Não se 
pode olvidar que atividades sem fins lucrativos, apesar de eventualmente 
auferirem lucros, são assim nominadas em razão da ausência do objetivo 
de lucro, o qual caracterizar-se-ia somente se houvesse divisão dos 
respectivos lucros (dividendos).
32FGV DIREITO RIO
TEORIA GERAL DA EMPRESA
A TEORIA DOS ATOS DE COMÉRCIO CEDENDO À TEORIA DA EMPRESA.
Com a unificação dos direitos civil e comercial ocorrida na Itália em 1942, 
surge a teoria da empresa, superando o conceito objetivo de comerciante que 
o identificava como sendo quem praticava atos de comércio.
No Brasil, antes da teoria da empresa ser adotada legalmente com o 
advento do Código Civil de 2002, algumas leis já vinham traçando um novo 
mecanismo para a identificação do comerciante, declarando como comerciais 
determinadas atividades. Vejamos:
• Lei 4.068/62 – Construção Civil: “Art. 1º São comerciais as empresas 
de construção”.
• Lei 4.591/64 – Condomínios e Incorporação Imobiliária: artigo 43, 
III – em caso de falência do incorporador, pessoa física ou jurídica...”.
• Lei 6.404/76 – Sociedades por Ações – A Sociedade Anônima é sempre 
empresária, trata-se de classificação em razão da forma, por força e efeito 
de lei - §1º do artigo 2º: “Qualquer que seja o objeto, a companhia é 
mercantil e se rege pelas leis e usos do comércio”. No mesmo sentido, 
o p. único do artigo 982, do Código Civil: “Independentemente de 
seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações; e, simples, a 
cooperativa”.
• Lei 8.078/90 – Código de Defesa do Consumidor - artigo 3˚: 
“Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, 
nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que 
desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção, 
transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização 
de produtos ou prestação de serviços”.
• Lei 8.245/91 – Lei das Locações – artigo 51 – Direito à renovação 
compulsória do prazo locatício: “§4º - O direito a renovação do 
contrato estende-se às locações celebradas por indústrias e sociedades 
civis com fim lucrativo, regularmente constituídas, desde que ocorrente 
os pressupostos previstos neste artigo”.
No ensinamento de Waldírio Bulgarelli, o Código Civil Italiano de 1942 
foi um verdadeiro divisor de águas no âmbito legislativo, principalmente 
de países que adotavam o sistema da comercialidade, como o Brasil, que já 
contemplava a “empresa” através de leis esparsas. 
33FGV DIREITO RIO
TEORIA GERAL DA EMPRESA
O Código Italiano, efetivamente, pôs em vigor o sistema normativo da 
empresa com estatuto jurídico qualificador do empresário, inclusive seu 
conceito. Ademais, trouxe um regime – e o seu conceito – para a azienda; 
uma ordenação da atividade empresarial e o regulamento das relações de 
trabalho no seio da empresa; e ainda em torno dela, porém integrante do 
sistema, a unificação obrigacional, tudo complementado por uma lei de 
falências, em apartado.43
Assim, temos que o Código Civil Italiano incorporou à teoria da 
empresa a necessidade de uma figura que se aplicasse a todas as formas de 
atividades econômicas. A empresa foi, então, introduzida nesse contexto 
como sendo uma relação entre atividade econômica e organização44. 
Sem muito se deter em conceitos e particularidades, o legislador italiano 
relegou à doutrina e à jurisprudência a tarefa de examinar os reflexos, 
no campo jurídico, desses elementos e verificar até que ponto princípios 
tradicionais como o objetivo de lucro e a habitualidade são fatores 
determinantes do conceito de empresa.45
Diferentes juristas italianos se dedicaram ao estudo do conceito de 
empresa. Pode-se citar, dentre eles, Vivante, que, adotando a ideia de 
organização e risco, associou o conceito jurídico com o econômico no 
sentido de que: 
(...) a empresa é um organismo econômico que 
sob o seu próprio risco, recolhe e põe em atuação 
sistematicamente os elementos necessários para 
obter um produto destinado à troca. A combinação 
dos fatores (natural, capital e trabalho) que 
associados produzem resultados impossíveis de 
serem alcançados individualmente, e o risco, que o 
empresário assume ao produzir uma nova riqueza 
são requisitos indispensáveis a toda empresa.46
Além deste, Rocco, destacando a organização do trabalho de outrem 
como elemento conceitual básico de empresa, defende que: 
segundo o Código, apenas temos a empresa e, 
consequentemente, ato comercial, quando a 
produção é obtida mediante trabalho de outros ou, 
por outras palavras, quando o empresário recruta o 
trabalho, o organiza, fiscaliza e retribui e o dirige 
para os fins da produção.47
43 BULGARELLI, Waldírio. A Teoria Jurídica da Empresa. RT/1985.
44 Art. 2.082. É empresário quem exerce profissionalmente uma atividade

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