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HISTÓRIA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA EDUCAÇÃO NO BRASIL Autor: Shaiane Passos Duarte da Costa Tutor externo: Dinara Schwartz da Silva1 Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Pedagogia (1734) – Estágio III – Projeto de Extensão Julho – 2020 RESUMO O presente artigo trata da história das políticas públicas no Brasil, com o objetivo de conhecer o passado para entender o presente e planejar o futuro. Olhamos para o princípio de tudo na filosofia grega, passando pela idade média com a educação Luterana até os dias atuais. Destacamos, também, a importância dos Direitos Humanos normatizados para a formação das políticas publicas de educação e, para tanto, buscamos inspiração maioritariamente na obra de Claudino Piletti e Nelson Piletti, “História da Educação de Confúcio a Paulo Freire “2. Palavras-chave: Política, Pública, Educação, Direito INTRODUÇÃO A educação é um direito humano inerente a todos, como garante a Declaração dos Direitos Humanos promulgada pela ONU e pela Constituição Federal Brasileira. No entanto, apesar das determinações internacionais e da própria Constituição Nacional, a realidade nos revela que muitas crianças em estado de vulnerabilidade social não têm acesso à escola e à educação formal. 1 Tutor Externo do Curso de Licenciatura em Pedagogia – Polo IERGS; E-mail: ped1734@gmail.com 2 PILETTI, Claudino. História da Educação: de Confúcio a Paulo Freire / Claudino Piletti e Nelson Piletti. – São Paulo: Contexto, 2012. Levando em consideração que os Direitos Humanos são interdependentes entre si, quando uma política pública – como a falta de acesso à escola - não atende um direito, ela nega todos os outros a essa criança. O papel do Estado Brasileiro como membro/Fundador da Organização das Nações Unidas, como legislador e executor na Constituição Federal é garantir que toda a população tenha acesso aos Direitos básicos que cobrem todos os aspectos da vida humana. Para que, como sociedade, possamos cobrar os deveres do Estado, precisamos conhecer os nossos direitos e deveres. Sem conhecimento, não temos como exercer nossas prerrogativas como cidadãos, aceitamos o caos e a violação de direitos como algo normal; só através da educação que podemos transformar a nossa sociedade e o mundo. Como seres políticos que somos aqui compreendidos lato sensu, sem viés partidário, educação é política, muito embora a visão distorcida de alguns governantes busque vinculá-la, vez ou outra, ou quase sempre, à ideologia que ministram mirando seus interesses. ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: EDUCAÇÃO, ESCOLA E POLÍTICAS PÚBLICAS - HISTÓRIA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA EDUCAÇÃO NO BRASIL “Estuda o passado se quiseres adivinhar o futuro” Confúcio (551 – 479 a.c.) Neste trabalho, fica evidente a importância do estudo da política e história, com foco nos direitos e garantias fundamentais como também na organização do Estado, para formação plena do cidadão crítico, porquanto apenas no exercício pleno de seus conhecimentos é que a correta avaliação do que vivenciamos se mostra possível. Breve História da Educação da Grécia Antiga até o Brasil Atual Na Grécia Antiga, Platão já defendia a educação como responsabilidade do Estado, para promoção de uma sociedade mais justa e democrática, além de amplamente igualitária para meninas e meninos. Tal ideia só foi aceita pela sociedade ocidental muitos séculos depois. Aristóteles também defendia a escola como responsabilidade do Estado e, em sua obra denominada Política, assentou que: Ninguém contestará, pois que a educação dos jovens deve ser um dos principais objetos de cuidado por parte do legislador; porque todos os Estados que a desprezam prejudicaram-se grandemente por isso. [...], Mas como existe um objetivo único para cada cidade, segue-se que a educação também deve ser única para todos, administrada em comum e não entregue aos particulares, como se faz hoje dirigindo cada qual a educação dos seus filhos e dando-lhes o gênero de instruções que melhor parece. No entanto, aquilo que é comum a todos deve ser aprendido em comum. (Aristóteles, 2010: 171) Já na idade média, Martinho Lutero foi quem teve a ideia de escola como conhecemos hoje, organizada em fundamental, médio e superior. Defendia o ensino universal independente de classe social, raça ou gênero. Lutero acreditava que a educação era dever do Estado e que ele deveria obrigar seus súditos a enviar os filhos para a escola, assim como obrigá-los a prestar o serviço militar. A educação formal no Brasil chegou em meados de 1530, com a vinda dos padres jesuítas. Objetivando catequizar a população local ao cristianismo, concluíram que a forma mais fácil de converter os índios seria através das orações, mas, para isso, precisavam ensiná-los a ler e a escrever. Assim, organizaram as primeiras escolas nas aldeias. Dominaram a educação no Brasil colônia por 210 anos, até serem expulsos pelo Marquês de Pombal com a justificativa de que a educação Jesuíta não estava de acordo com os objetivos da Coroa Portuguesa. Durante os 210 anos que estiveram no controle da educação, os Jesuítas construíram notáveis instituições de Ensino nas principais cidades do Brasil Colônia, sendo responsáveis pela educação de todos, desde o filho do senhor de engenho, colonos, índios, até alguns escravos africanos, adaptando os ensinamentos para cada grupo e também conforme seus próprios interesses. Após a expulsão dos Jesuítas em 1759, a educação no Brasil tornou-se praticamente inexistente. O objetivo do Marquês de Pombal era transformar a escola que servia aos interesses da fé cristã em serventia da Coroa Portuguesa. Instituiu as aulas régias, que eram desorganizadas entre si, não seguiam currículos e eram ministradas por professores despreparados e mal remunerados. No período entre a vinda da Família Real Portuguesa para o Brasil, em 1808, e a independência, em 1822, houve uma preocupação com a educação no país, porém não da população em geral, mas sobretudo com aquela prestada aos filhos da elite brasileira, futuros dirigentes da nação. Em 1823, já no período Imperial, foi criada, na cidade do Rio de Janeiro, uma escola com a metodologia de Lancaster, que consistia em um único professor por escola e para cada grupo de dez alunos que se chamava “decúria”. Um aluno destacado, chamado “decurião”, era designado para transmitir os ensinamentos dados pelo professor aos demais. Método considerado ineficiente por educadores da época3. Pensando na formação superior dos filhos da corte, o governo imperial criou as faculdades de Direito, Medicina e escolas técnicas. Uma nova Constituição foi outorgada em 1824 e, em seu Artigo 179, estabelecia que a instrução primária deveria ser gratuita e prestada a todos, porém não determinava como deveria ser a implantação das escolas correspondentes. Uma nova Lei, editada em 1827, determinava que fossem criadas escolas de primeiras letras em todas as cidades e vilarejos e escolas para meninas nas grandes cidades. A determinação desta lei nunca foi cumprida, mas a data de sua outorga virou razão para a escolha do dia 15 de outubro para celebração do dia do professor. 3 PILETTI, Claudino. História da Educação: de Confúcio a Paulo Freire / Claudino Piletti e Nelson Piletti. – São Paulo: Contexto, 2012. Durante o período imperial não houve esforço para formação dos professores, sendo muitos deles escolhidos por indicações políticas. A propósito, Piletti (2012), obra citada, destaca uma fala de Rui Barbosa em 1883: Num país onde o ensino não existe, quem disser que é “conservador em matéria de ensino” volteia as costas ao futuro, e desposa os interesses da ignorância. É preciso criar tudo; porquanto o que aí está, salvo raras exceções, e quase todas no ensino superior, constitui uma perfeita humilhação nacional. (1947, t. 1:143)Rui Barbosa apontava que o governo imperial se preocupava somente com o ensino superior, enquanto as bases da educação – primário e secundário – eram totalmente negligenciados. Com a instituição da República, pouco mudou. O governo republicano continuou priorizando o ensino superior elitizado e atribuiu as escolas primárias e secundárias aos Estados então constituídos. Assim, a educação nacional continuava precária e inatingível pelos mais pobres, maioria da população (a cada novo ministro da república uma nova lei para “reforma educacional”, mas na prática nada mudava e a educação continuava estagnada). José Verissimo, jornalista de formação, educador por vocação, fundador do Colégio Americano no Pará, também Diretor de Instrução Pública no Rio de Janeiro, criticou o sistema nacional de ensino da época. Em suas palavras: O nosso sistema geral de instrução pública não merece de modo algum o nome de educação nacional. É em todos os ramos – primário, secundário e superior – apenas um acervo de matérias, amontoadas, ao menos nos dois primeiros, sem nexo ou lógica, e estranho completamente a qualquer concepção elevada de Pátria. (José Verissimo, 1857-1916) Em 1924, foi criada a Associação Brasileira de Educação (ABE), que instigou debates e reformas estaduais na educação popular. Com a revolução de 1930 e a instituição do Estado Novo, a educação foi vista como prioridade. A primeira mudança foi a criação do Ministério da Educação e das Secretarias de Educação Estaduais. O objetivo era que o governo federal tivesse mais controle e as decisões na área fossem unificadas. Durante a conferência sobre educação promovida pela ABE, o governo convidou educadores para colaborarem na formulação de uma política educacional nacional. Deste convite surgiu o manifesto A reconstrução Educacional do Brasil: manifesto dos pioneiros da educação nova. Redigido pelo educador Fernando de Azevedo e mais 25 colegas - entre eles, Anísio Teixeira. Todos estes eram defensores do ensino público gratuito e laico. Trecho do manifesto deixa bem claro a situação então atual do país: Na hierarquia dos problemas nacionais, nenhum sobreleva em importância e gravidade ao da educação. Nem mesmo os de caráter econômico lhe podem disputar a primazia nos planos de reconstrução nacional. Pois, se a evolução orgânica do sistema cultural de um país depende de suas condições econômicas, é impossível desenvolver as forças econômicas ou de produção, sem o preparo intensivo das forças culturais e o desenvolvimento das aptidões à invenção e à iniciativa que são os fatores fundamentais do acréscimo de riqueza de uma sociedade. No entanto, se depois de 43 anos de regime republicano, se der um balanço ao estado atual da educação pública, no Brasil, se verificará que, dissociadas sempre as reformas econômicas e educacionais, que era indispensável entrelaçar e encadear, dirigindo-as no mesmo sentido, todos os nossos esforços, sem unidade de plano e sem espírito de continuidade, não lograram ainda criar um sistema de organização escolar, à altura das necessidades modernas e das necessidades do país. Tudo fragmentário e desarticulado. A situação atual, criada pela sucessão periódica de reformas parciais e frequentemente arbitrárias, lançadas sem solidez econômica e sem uma visão global do problema, em todos os seus aspectos, nos deixa antes a impressão desoladora de construções isoladas, algumas já em ruína, outras abandonadas em seus alicerces, e as melhores, ainda não em termos de serem despojadas de seus andaimes... Onde se tem de procurar a causa principal desse estado antes de inorganização do que de desorganização do aparelho escolar, é na falta, em quase todos os planos e iniciativas, da determinação dos fins de educação (aspecto filosófico e social) e da aplicação (aspecto técnico) dos métodos científicos aos problemas de educação. Ou, em poucas palavras, na falta de espírito filosófico e científico, na resolução dos problemas da administração escolar. (A reconstrução educacional do Brasil: manifesto dos pioneiros da educação nova) A constituição de 1934 foi a primeira CF Brasileira a atribuir um capítulo especial para a educação, passando responsabilidades que antes eram dos Estados para o Governo Federal. A educação, que antes da Revolução de 1930 era praticamente nula e desorganizada, tomou forma e passou a ser garantida constitucionalmente como gratuita em todos os níveis e fiscalizada pela União, que também ficou responsável pelo planejamento das diretrizes nacionais, restando limitadas a autonomia dos Estados e Municípios. Toda a luta dos pioneiros da educação por um ensino público democrático, gratuito e de qualidade foi por água abaixo com o início da Ditatura do Estado Novo em 1937. O ensino mais uma vez foi elitizado. A nova Constituição retrocedia na garantia de educação para todos e o novo texto constitucional estabelecia uma contribuição módica mensal para a caixa escolar. O ensino continuava obrigatório, porém, as famílias que não pudessem contribuir precisavam provar a incapacidade financeira para tanto. O ensino pré-vocacional e vocacional era destinado aos mais pobres – que não poderiam pagar escolas particulares – e o ensino secundário e superior às elites, situação absolutamente criticada por diversos educadores, como discriminatório e antidemocrático. O Estado também controlava o conteúdo das matérias lecionadas em salas de aula, que pregavam a consciência patriótica e a defesa da Ditadura de Getúlio Vargas. Com a queda do regime autoritário de Getúlio Vargas, em 1945, e a redemocratização do país, os movimentos populares e a campanha pela escola pública ganham força para tornar realidade o preceito constitucional: a educação é para todos. Com a promulgação da Lei Orgânica do Ensino Primário e a Lei Orgânica do Ensino normal, a escola não tinha mais o dever de ensinar a ler e a escrever somente, mas também proporcionar desenvolvimento geral, para assimilação dos conhecimentos importantes para a vida em sociedade. Em 1948, após o fim da segunda guerra mundial, ainda sob o impacto das atrocidades da Segunda Guerra Mundial, as Nações Unidas adotam a Declaração Universal dos Direitos Humanos, para firmar uma consciência global de não repetição de atos bárbaros e perseguição de seres humanos. A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), em seu Artigo 26º, estatui que: (1) Todo ser humano tem direito à educação. A educação deve ser gratuita, ao menos nos estágios elementares e fundamentais. A educação elementar deve ser obrigatória. A educação técnica e profissional deve ser colocada à disposição de todos, e a educação superior deve ser igualmente acessível a todos com base no mérito. (2) A educação deve ser orientada para o pleno desenvolvimento da personalidade humana e para o fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e liberdades fundamentais. Deve promover a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais e religiosos, e deve fomentar as atividades das Nações Unidas para a manutenção da paz. Visando ao bem estar das crianças e reforçando a DUDH em 20 de novembro de 1959, as Nações Unidas proclamam a Declaração Universal dos Direitos das Crianças, com 10 princípios, definindo que toda criança independente de raça, gênero ou condição física e mental, tenha garantida proteção e cresça em um ambiente saudável que favoreça o seu pleno desenvolvimento. O 7º Princípio desta Declaração dispõe: A criança terá direito a receber educação, que será gratuita e compulsória pelo menos no grau primário. Ser-lhe-á propiciada uma educação capaz de promover a sua cultura geral e capacitá-la a, em condições de iguais oportunidades, desenvolver as suas aptidões, sua capacidade de emitir juízo e seu senso de responsabilidade moral e social, e a tornar-se um membro útilda sociedade. Os melhores interesses da criança serão a diretriz a nortear os responsáveis pela sua educação e orientação; esta responsabilidade cabe, em primeiro lugar, aos pais. A criança terá ampla oportunidade para brincar e divertir-se, visando os propósitos mesmos da sua educação; a sociedade e as autoridades públicas empenhar-se-ão em promover o gozo deste direito. O Brasil ratificou ambas declarações. Nessa toada, a educação brasileira só conseguiu atingir novos patamares em 1961, com a regulamentação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que foi discutida no congresso durante 13 anos. A LDB regulamentou e padronizou todo o ensino formal do território brasileiro. A estrutura de ensino passou a ser: educação pré-primária para menores de 7 anos; ensino primário com o mínimo de quatro séries com possibilidade de ampliação até seis séries; ensino médio divido em dois ciclos (ginasial, de quatro anos e o colegial de três anos); ensino superior. A partir da LDB também houve ampliação no número de escolas públicas, superando em grande escala o número de escolas particulares que, até então, eram maioria. Neste período também houve campanhas do Ministério da Educação com apoio da UNESCO para erradicação do analfabetismo, já que 50% dos brasileiros com idade superior a 15 anos eram analfabetos e inaptos ao voto. Sobreveio, então, o ensino supletivo para adultos, que alcançou grande sucesso, com resultados significativos no final da década de 50. O programa nacional de alfabetização foi instituído em meados de 1963. Uma iniciativa do Governo e entidades não governamentais e privadas instituía uma grande mobilização para alfabetização de adultos utilizando o método Paulo Freire e coordenado por ele. Em abril de 1964, com o golpe militar, foi extinto e seus apoiadores presos ou exilados, como o próprio Paulo Freire. Para substituir o programa anterior para alfabetização de adultos, o Governo criou o MOBRAL (Fundação Movimento Brasileiro de Alfabetização) que durou efetivamente de 1971 a 1985. O programa era fortemente influenciado pelo método Paulo Freire, ainda que tal condição fosse negada pelos organizadores. Utilizava o conceito de “palavra geradora” como no método de Paulo Freire. A diferença era que as palavras geradoras eram escolhidas a partir de um estudo de necessidades humanas e não a partir do cotidiano do aluno. O método era aplicado uniformemente em todo país. Substituído em 1985 pela EDUCAR (Fundação Nacional para Educação de Jovens e Adultos) extinta em 1990. Durante o regime militar, (1964-1985), houve mudanças consideráveis na educação superior, instituindo o concurso vestibular, organizando as universidades em departamentos. Antes da reforma, as universidades tinham como faculdades centrais a Filosofia, Ciências e Letras. Após, as universidades foram organizadas em unidades para dificultar a integração dos estudantes, tornando optativas as matérias que estimulavam a discussão e reflexão. Nesta época também houve expansão no ensino privado superior estimulado pelo Governo. Em 1971 houve uma grande mudança na estrutura de ensino: o antigo primário e o curso ginasial foram unificados em um único curso de 8 anos, agora chamado de 1ºGrau, com objetivo de educação geral de crianças e pré- adolescentes; o antigo colegial, agora chamado de 2º Grau, passou a ter três ou quatro anos de duração, obrigatoriamente profissionalizante, com objetivo de formação integral do adolescente. Foram regulamentadas mais de 200 habilitações profissionais para que as escolas escolhessem quais oferecer. Porém, sem estrutura para ministrar os cursos técnicos, depois de anos de reclamações e manifestações contra a obrigatoriedade do ensino profissionalizante, o Governo voltou atrás na decisão e promulgou a Lei 7.044/82, em que desobrigava os estabelecimentos de ensino a oferecer habilitação profissional a partir do ano de 1983. Houve também mudanças curriculares, com a exclusão das disciplinas de Filosofia e Sociologia e a introdução das disciplinas de Organização Social e Política do Brasil e de Moral e Cívica. Apesar do conteúdo relevante para promoção da cidadania, essas disciplinas eram utilizadas pela Ditadura Militar como ferramenta para doutrinar os alunos a favor do regime, ao mesmo tempo em que serviam para o exercício de fiscalização e controle nas unidades escolares, uma vez que as disciplinas eram ministradas em sua maioria por militares, ao pretexto de falta de capacitação de professores específicos. Com o fim do Regime Militar e eleição do primeiro presidente civil, em 1985, uma nova Constituição foi discutida e promulgada em 5 de outubro de 1988, a chamada Constituição Cidadã. Em seu artigo 205 mencionado Diploma determina o seguinte sobre educação: A educação, direito de todos e dever do Estado e da Família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Destaque para os incisos do artigo 206 sobre os princípios orientadores do ensino: I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III – pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; IV – gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; V – valorização dos profissionais do ensino; VI – gestão democrática do ensino público, na forma da lei; VII – garantia de padrão de qualidade. A atual constituição foi um grande avanço para a educação popular e uma importante vitória para os movimentos efetivados pelos defensores da educação. As mudanças não pararam somente nos artigos citados acima. O artigo 208 regulamenta os deveres do Estado para com a educação, tais como: I – educação básica obrigatória e gratuita dos 4 aos 17 anos, assegurada inclusive oferta gratuita para todos que não tiveram acesso em idade própria. II – progressiva universalidade do ensino médio gratuito; III – atendimento educacional especializado aos deficientes preferencialmente em rede regular de ensino; IV – educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças de até 5 anos de idade; V – acesso aos níveis mais elevados de ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo capacidade de cada um; VI – oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando; VII – Atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. Estabeleceu-se, ademais, o Plano Nacional de Educação, de duração decenal, com objetivo de articular o sistema nacional de educação em regime de colaboração e definir objetivos, diretrizes, metas e estratégias de implementação para assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis, etapas e modalidades por meio de ações integradas que conduzam à erradicação do analfabetismo, universalização do ensino, melhoria da qualidade do ensino, formação para o trabalho, promoção humanística, cientifica e tecnológica do país. A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação foi sancionada em 20 de dezembro de 1996, de autoria do então senador Darcy Ribeiro. Dentre as inovações relevantes, está a nova composição dos níveis escolares em: I – educação básica formada pela educação infantil (0 a 6 anos), ensino fundamental (antigo 1º grau) e ensino médio (antigo 2º grau) e ensino superior. Regulamentou, a educação especial oferecida preferencialmente na regular de ensino. Garantiu a gestão democrática e autonomia pedagógica e administrativa às unidades escolares públicas. A nova LDB promoveu o retornodas disciplinas de Filosofia e Sociologia para o currículo escolar. A criação do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), em 1998, com o objetivo inicial de ser parâmetro para autoavaliação dos alunos, foi sendo modificado, ao longo de suas diversas edições. Algumas universidades utilizam a nota obtida pelo aluno para seleção de ingresso em seus cursos. Em 2005, a nota do ENEM passou a ser utilizada pelo Governo Federal como critério para concessão de bolsas de estudos em instituições privadas através do Programa Universidade para Todos (PROUNI), e para o Sistema de Seleção Unificada (SISU) para ingresso em Universidades Públicas. Com objetivo de diminuir a desigualdade social histórica e facilitar o acesso à educação superior, o Governo Federal publicou a Lei 12.711, em 29 de agosto de 2012, decretando a reserva, em todas as instituições federais, de 50% das suas vagas para os estudantes que cursaram o ensino médio em escola pública. Dentro desta porcentagem, devem ser contemplados estudantes com renda mensal igual ou inferior a 1,5 salário mínimo por cada individuo da família. Em cada faixa de renda entre os candidatos cotistas, são separadas vagas para os autodeclarados pretos, pardos ou indígenas. Em 2016, o Governo altera a lei de cotas e reserva vagas para candidatos com deficiência. Atualmente, no Governo que há pouco assumiu, nenhuma modificação verificou-se, até porque há uma incessante troca de titulares na pasta da Educação e, neste momento, sequer indicado existe. A par disso, a pandemia da corona vírus colocou a todos em quarentena e as escolas estão fechadas, sem data prevista de reabertura, desde a segunda quinzena de março deste ano. CONCLUSÃO As políticas públicas para educação no Brasil, como podemos ver, são muito jovens e sofreram muitas reviravoltas em sua história, o que explica as taxas discrepantes de distribuição de renda no país, e por que ainda temos adultos analfabetos e alfabetizados funcionais. Darcy Ribeiro tem uma frase impactante sobre a educação no país: “A crise na educação brasileira não é um problema é um programa” O que nos faz pensar que em pouquíssimos momentos da nossa história tivemos governantes verdadeiramente comprometidos com uma educação para todos. Apesar da nossa Constituição apresentar garantias e deveres do Estado para com a população e as escolas, muitos desses deveres não são cumpridos na prática. Por falta de conhecimento da comunidade sobre estes deveres e seus direitos, por isso a grande importância em debater este assunto para formação de cidadãos engajados na luta social e não politicamente excluídos como acontece atualmente. Nossa luta como educadores é para que não deixemos que a educação do nosso país seja um projeto fadado ao fracasso. Para que a educação seja um projeto bem sucedido e comparado com países desenvolvidos, precisamos disseminar o maior volume de conhecimento possível para as pessoas. E que essa discussão atravesse os muros das universidades e possa chegar às camadas mais populares e assim começarmos um trabalho em conjunto de restauração da educação brasileira. PROGRAMA DE EXTENSÃO: INFÂNCIA COMO PALCO DE DIREITOS O programa de extensão substituiu o último estágio obrigatório do curso de pedagogia que aconteceria no primeiro semestre de 2020. Mas com a Pandemia de Corona vírus e o fechamento das escolas e todos os estabelecimentos de ensino, inclusive a própria UNIASSELVI, que brilhantemente e em tempo recorde nos presenteou com este programa para que pudéssemos nos formar na data certa. Escolhi o programa Infância como Palco de Direitos, pois era o que se encaixava dentro da minha área de concentração – Educação, Escola e Políticas Públicas. Foi uma árdua e recompensadora tarefa de estudar sobre direitos humanos, direitos das crianças e as políticas públicas educacionais brasileiras. Como futura professora, este projeto agregou de forma imensurável para minha formação acadêmica e formação como ser político e fomentou a necessidade de atuação como agente transformador da comunidade. Após a conclusão deste trabalho com certeza tenho um novo olhar para a política e vejo como é indivisível da educação, apesar de muito tentar separar e não trazer para os meus trabalhos acadêmicos um assunto tão polêmico como a política. Como solicitado na trilha de aprendizagem, precisávamos definir uma escola base para o projeto. Escolhi uma em que tenho identificação pessoal e convivi durante um período de um ano como estagiária remunerada (a escola localizada em zona de extrema vulnerabilidade na cidade de Porto Alegre – RS) e sofre grandes impactos com as políticas educacionais ou a falta delas. O produto virtual deste paper é uma cartilha onde, de forma lúdica, evidenciei os principais direitos das crianças, para que os pequenos cresçam sabendo que não estão completamente abandonados pela sociedade e existem leis que os amparam. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ADORNO, Theodor W., 1903-1969. Educação e emancipação / Theodor W. Adorno; Tradução Wolfgang Leo Maar. --- Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995. BRASIL – Constituição da República Federativa do Brasil: Promulgada em 5 de outubro de 1988 / obra coletiva de autoria da Editora Saraiva – 44. ed. Atual. E ampl. – São Paulo: Saraiva, 2010. ECA: Estatuto da Criança e do Adolescente / Equipe Eureka. 1.ed. – São Paulo: Eureka 2015. MÜLLER, Rosimar Bizello – Metodologia e conteúdos básicos da geografia / Rosimar Bizello Müller. Indaial: UNIASSELVI, 2011. ONU – Organização das Nações Unidas – Declaração Universal de Direitos Humanos, 1948. PILETTI, Claudino. História da Educação: de Confúcio a Paulo Freire / Claudino Piletti e Nelson Piletti. São Paulo: Contexto, 2012. OUTRAS REFERÊNCIAS https://vestibular.mundoeducacao.uol.com.br/cotas/lei-cotas-entenda-como- funciona.htm#:~:text=A%20Lei%20de%20Cotas%20%C3%A9,desses%20indiv%C3% ADduos%20no%20Ensino%20Superior.&text=Para%20os%20cursos%20superiores%2 C%20o%20ensino%20m%C3%A9dio. Acesso em 05-07-20 https://www.historiadomundo.com.br/idade-contemporanea/constituicao-1988.htm Acesso em 01-07-20 https://novaescola.org.br/conteudo/3432/educacao-pos-ditadura-qualidade-para-todos# Acesso em 29-06-20 https://pt.wikipedia.org/wiki/Movimento_Brasileiro_de_Alfabetiza%C3%A7%C3%A3 o Acesso em 01-07-20 https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2018/10/DUDH.pdf Acesso em 20-06-20 http://www.crianca.mppr.mp.br/pagina-1069.html Acesso em 20-06-20 ANEXO I ROTEIRO DE OBSERVAÇÃO VIRTUAL Curso: Pedagogia Turma:1734 Disciplina: Estágio Curricular III Semestre: 7º Tutor Externo: Dinara S Silva INFORMAÇÕES DA INSTITUIÇÃO CONCEDENTE Nome da Instituição Concedente: Escola Municipal de Educação Infantil Vila Tronco Localização: Rua Doutor Idefolso Pinto, 346 – Santa Tereza – Porto Alegre/RS Quantidade de estudantes:120 Área de Atuação: Educação Infantil Turno de atendimento: Integral Quadro de funcionários: 33 Funcionários Experiência e Formação: 7 Professores – 8 monitores – 4 faxineiras – 4 cozinheiras – 1 Diretora – 1 Vice Diretora – 1 secretária – 1 coordenadora pedagógica – 6 estagiários IDEB da Instituição: Não se aplica IDEB da cidade: Porto Alegre 3,8 IDEB 2015 – Sem nota em 2017 número de participantes insuficiente para divulgação de dados Estrutura da escola: 6 salas de aula – 1 refeitório – 1 pátio com pracinha Proposta Pedagógica: “A Proposta Pedagógica da Educação Infantil da SMED defende uma escola para as Infâncias, na qual a criança é o centro do planejamento curricular. O currículo das escolas infantis é desenvolvido por meio das interações e brincadeiras. Em todas as Escolas de Educação Infantil pertencentes à Rede Municipal de Ensino o espaço, o tempo e os materiais são planejados cuidadosamente de modo a garantir boas experiênciaspara as crianças. Compreende-se a criança como um sujeito de direitos, com potencialidades e diferentes modos de ser e a escola como um espaço de vida coletiva no qual se aprende na experiência, sobre si, sobre o outro e sobre o mundo. Na Escola Infantil, espaço de vida coletiva, a criança experimenta relações que vão além do contexto familiar. É nesse tempo e espaço que a criança faz suas principais aquisições do ponto de vista do desenvolvimento, das relações e das experiências da primeira vez, articulando seus conhecimentos e saberes cotidianos com o patrimônio histórico- cultural construído pela humanidade, produzindo culturas infantis e vivenciando experiências éticas, políticas e estéticas.” (Fonte: Secretária Municipal da Educação de Porto Alegre) JUSTIFICATIVA - Promover a educação em Direitos Humanos na comunidade escolar; - Expor a escola como garantidora dos Direitos das crianças; - Demonstrar aos professores metodologias para trabalhar educação em Direitos Humanos em sala de aula, com crianças de diferentes faixas etárias; - Fomentar a cidadania nas crianças; - Estimular o pensamento crítico; - Apresentar a escola como espaço político de luta por direitos; MATERIAIS SOBRE A TEMÁTICA ESCOLHIDA Temática: Infância como Palco de Direitos Área de Concentração: Educação, Escola e Políticas Públicas Palavras-chave (Separado por ponto): direito.política.humanos.educação.universalidade.infância Nome do Programa de Extensão: Educação em Direitos Humanos Nome do Projeto de Extensão: A infância como Palco de Direitos Produto Virtual: Cartilha MATERIAIS ENCONTRADOS PARA A CONSTRUÇÃO DO PROJETO DE EXTENSÃO Livros - E-books - Imagens - Vídeos- Curta-metragem - Artigos - Reportagens - Mapas - Folders - Cartilhas - Podcasts - Lives - Sites- http://www2.portoalegre.rs.gov.br/smed/default.php?p_secao=539 ; https://websmed.portoalegre.rs.gov.br/escolas/vilatronco/index.htm ; http://fundacaotelefonica.org.br/promenino/trabalhoinfantil/noticia/uma-breve-historia- dos-direitos-da-crianca-e-do-adolescente-no-brasil/ Software Educativo - Outros - ANEXO II
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