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Poder Constituinte _14-03-2017 concurseira_pc

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PODER CONSTITUINTE 
Definição 
Nada mais é que o poder de constituir, criar ou modificar aquilo que está escrito como “Constituição”. 
Divide-se basicamente em poder originário e poder derivado. 
Poder originário (poder constituinte de primeiro grau) – expressa a vontade inicial do Povo, constituindo o 
Estado e dando origem a todo o ordenamento jurídico estatal. É dessa concepção que nasce a Constituição. 
Poder derivado (poder constituinte de segundo grau) – é criado pelo originário, que lhe dá o poder de 
modificar o que foi anteriormente estabelecido. 
Espécies 
1. Originário – é o único poder de fato. Todos os outros são poderes jurídicos, pois foram instituídos 
pelo originário. 
2. Derivado Reformador – é o poder de fazer emendas constitucionais (alteração formal do texto da 
Constituição). 
3. Derivado Revisor – instituído para se manifestar 5 anos após a promulgação da Constituição de 
1988 e depois se extinguir. Seu objetivo era restabelecer uma possível instabilidade política 
causada pela nova Constituição. Manifestou-se em 1994, quando foram elaboradas as seis 
emendas constitucionais de revisão. 
4. Derivado Decorrente – é o poder que os Estados possuem para a elaboração das suas 
Constituições Estaduais (poder de auto-organização). 
a. Cuidado! As leis orgânicas criadas pelos Municípios NÃO são consideradas fruto do poder 
constituinte decorrente, já que possuem aspecto de lei ordinária, e não de Constituição. 
Alguns doutrinadores o tratam como “poder constituinte de terceiro grau”. 
5. Difuso – é o poder que autoriza a mutação constitucional, ou seja, a alteração do significado 
(interpretação) das normas sem que seja alterado o texto formal. Ele se manifesta através das 
novas interpretações dadas pelo Poder Judiciário. Diz-se que a mutação constitucional provoca a 
alteração informal da Constituição. 
Poder constituinte originário (PCO) 
Não é um poder jurídico, e sim um poder político, pois tem fundamento de validade anterior à ordem 
jurídica. É o poder que organiza o Estado e cria a ordem jurídica (que contém os demais poderes 
constituintes). 
Modos de manifestação do PCO 
Segundo a doutrina, pode ser histórico (quando sua manifestação ocorre para dar origem a um novo 
Estado – dá origem à primeira Constituição de um país) ou revolucionário (quando sua manifestação tem 
como objetivo instituir uma nova ordem política e jurídica em um Estado já existente). O termo 
“revolucionário” se refere a um conceito amplo de revolução: não apenas em seu sentido bélico, mas no 
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sentido de ruptura profunda, substancial com a ordem política e social anterior provocando não uma 
mudança superficial, mas uma alteração de estrutura drástica na mentalidade política. Por isso, todo o 
poder que cria uma nova Constituição é intitulado de revolucionário – e isso pode ocorrer até mesmo de 
forma pacífica e por manifestações plebiscitárias. 
O PCO se manifesta basicamente de 4 formas: 
1. Convenção ou Assembleia Nacional Constituinte – reunião de legitimados pelo povo para elaborar 
um texto constitucional 
2. Revolução – depõe-se o poder vigente para que se institua uma nova ordem constitucional 
3. Outorga – o governante unilateralmente impõe uma nova Constituição, sem a manifestação do 
povo 
4. Método Bonapartista (Cesarista) – governante impõe a Constituição, mas ratifica o texto 
constitucional através da manifestação do povo (referendo) 
Titular e exercente do PCO 
 Titular = é o povo; esse poder é permanente e não se esgota com a feitura da Constituição. 
 Exercente = Assembleia Nacional Constituinte 
Características do PCO 
 Poder político – é ele que organiza o Estado e institui todos os outros poderes. 
 Inicial – é ele que dá início a todo o novo ordenamento jurídico 
 Ilimitado, irrestrito ou soberano – não reconhece nenhuma limitação material ao seu exercício 
(corrente positivista). 
 Autônomo – não se submete a nenhum outro poder 
 Incondicionado – não existe nenhum procedimento formal pré-estabelecido para que ele se 
manifeste 
 Permanente – não se esgota no momento do seu exercício 
Consequências do PCO 
a) Revogação de todo o ordenamento constitucional anterior 
b) Recepção do ordenamento infraconstitucional compatível materialmente (teoria da recepção) – 
todas as leis que forem compatíveis com o conteúdo da nova Constituição serão recebidas por 
esta e continuarão a viger, independente da sua forma. 
a. É válida a recepção parcial (conteúdo que contraria a CF é revogado, vigorando apenas a 
parte não conflitante) 
b. Só podem ser recepcionadas normas que estejam em vigor no momento do advento da 
nova constituição – normas anteriores já revogadas, anuladas ou em vacatio legis não 
poderão ser recepcionadas. 
c. Normas não recepcionadas  são revogadas (não há o que se falar em 
inconstitucionalidade, pois para isso a norma já deve nascer com algum vício; não existe 
no Brasil a tese da inconstitucionalidade superveniente – uma norma nunca irá, durante 
sua existência, se tornar inconstitucional). 
d. Não existe a desconstitucionalização no Direito brasileiro. 
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Produção de efeitos com retroatividade mínima 
Ao contrário das leis, as normas constitucionais são dotadas de retroatividade – retroatividade mínima. 
Isso significa que as normas só retroagem para alcançar os efeitos futuros dos casos passados, ou seja, 
efeitos que puderem vir a se manifestar. 
Cuidado – a retroatividade mínima é a REGRA. No entanto, caso a Constituição defina expressamente em 
seu texto, ela poderá retroagir completamente. 
 
Poder constituinte derivado 
Características do poder constituinte derivado: jurídico (de direito), derivado, condicionado juridicamente 
e limitado. Por ser instituído, é um poder subordinado e limitado à ordem jurídica apresentada pela 
Constituição. 
Os PCD possuem sua manifestação condicionada pelo PCO nos limites do texto constitucional. 
 Reformador – CF, Art. 60 
o Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta... 
 Revisor – CF, ADCT, Art. 3º 
o Art. 3º. A revisão constitucional será realizada após cinco anos, contados da promulgação 
da Constituição, pelo voto da maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional, em 
sessão unicameral. 
 Decorrente – CF, art. 25; CF, ADT, Art. 11 
o Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, 
observados os princípios desta Constituição. 
o Art. 11. Cada Assembleia Legislativa, com poderes constituintes, elaborará a Constituição 
do Estado, no prazo de um ano, contado da promulgação da Constituição Federal, 
obedecidos os princípios desta. 
 Difuso – não está expresso na CF, mas é reconhecido pela doutrina e jurisprudência. 
Poder constituinte derivado reformador 
 INICIATIVA - A CF poderá ser emendada mediante proposta: 
1. De pelo menos um terço dos Deputados ou Senadores 
2. Do Presidente da República 
3. De mais da metade das Assembleias Legislativas das UF, manifestando-se, cada uma delas, 
pela maioria relativa dos seus membros 
 LIMITAÇÃO CIRCUNSTANCIAL – a CF não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, 
estado de defesa ou estado de sítio 
 LIMITAÇÃO PROCEDIMENTAL – a proposta será discutida e votada em cada Casa do CN, em dois 
turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos 
membros. 
 PROMULGAÇÃO – a EC será promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado 
Federal, com o respectivo número de ordem. 
 LIMITAÇÃO MATERIAL EXPRESSA – Não será objeto de deliberação a proposta de emenda 
tendente a abolir: 
1. A forma federativa do Estado 
2. O voto direto, secreto, universal e periódico 
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3. A separação dos Poderes 
4. Os direitos e garantias individuais LIMITAÇÃO MATERIAL IMPLÍCITA – cláusulas pétreas reconhecidas pela doutrina e jurisprudência 
1. O povo como titular do poder constituinte 
2. O poder igualitário do voto 
3. O artigo 60 da CF 
a. É o chamado de proibição à dupla revisão – é vedado que o legislador modifique 
o artigo 60, desprotegendo as cláusulas pétreas, e depois edite outra emenda extinguindo 
as cláusulas. 
 PRINCÍPIO DA IRREPETIBILIDADE (LIMITAÇÃO FORMAL) – a matéria constante de proposta de 
emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma 
sessão legislativa. 
 LIMITAÇÃO TEMPORAL – ocorre quando somente depois de decorrido certo lapso temporal a 
Constituição poderá ser reformada; a CF não estabeleceu nenhuma limitação temporal. 
Poder constituinte derivado revisor 
CF, ADCT, art. 3º → A revisão constitucional será realizada após 5 anos, contados da data de promulgação 
da CF, pelo voto da maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional em sessão unicameral. 
Após o uso do poder de revisão ele se extinguiu, não podendo mais ser utilizado e nem se pode por EC criar 
outro similar. 
Mutação constitucional – poder constituinte derivado difuso 
Trata-se da alteração do significado das normas constitucionais sem que seja alterado o texto formal. Ela 
se faz através das novas interpretações emanadas principalmente pelo Poder Judiciário. Assim, diz-se que 
a mutação provoca a alteração informal da Constituição. Diz-se que a alteração é "informal", pois não 
altera a "forma" como a norma está escrita. 
 
Poder constituinte derivado decorrente 
O poder decorrente possui a possui de estruturar as constituições dos estados membros. 
Deve obedecer aos seguintes princípios: 
 Princípios sensíveis – presentes no artigo 34, VII da CF – se não respeitados, poderão ensejar a 
intervenção federal 
 Princípios federais extensíveis (comuns) – são os aplicados pela simetria federativa aos demais 
entes políticos. 
 Princípios estabelecidos – estão expressamente ou implicitamente no texto da CF limitando o 
poder constituinte do Estado-membro. 
Cuidado! A CF não atribuiu às câmaras municipais o exercício do poder constituinte derivado decorrente! 
 
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Recepção 
A revogação de uma constituição faz com que todas as demais normas do ordenamento jurídico percam 
seu fundamento de validade e, portanto, sua vigência. Com o objetivo de dar continuidade às relações 
sociais, tendo em vista a impossibilidade fática de nova regulação imediata de todas as hipóteses 
indispensáveis, as normas infraconstitucionais, cujo conteúdo seja compatível com o da nova 
Constituição, são recepcionadas por ela. Portanto, ao ser promulgada uma nova Constituição, duas 
situações poderão ocorrer: 
 As normas infraconstitucionais anteriores materialmente compatíveis com a Lei Maior ganham 
um novo fundamento de validade e são recepcionadas por ela. 
 As normas materialmente incompatíveis perdem seu fundamento de validade e deixam de ter 
vigência (incompatibilidade material superveniente). 
Repristinação 
A repristinação ocorre quando uma norma revogada volta a viger em virtude da revogação da norma 
que a revogou. No entanto, a posição amplamente dominante no Brasil é no sentido de que a revogação 
de uma lei faz com que ela desapareça, deixe de existir. Portanto, a revogação da lei ab-rogante não 
pode ter o efeito automático de “ressuscitar” uma lei anterior que havia sido abolida. 
A repristinação não é aceita no ordenamento jurídico vigente do Brasil. 
Desconstitucionalização 
Algumas normas constitucionais anteriores compatíveis com a nova Constituição poderiam ser 
recepcionadas segundo essa teoria, apesar de rebaixadas à categoria de leis infraconstitucionais. 
Inexistindo previsão constitucional expressa, essa teoria não deve ser aplicada. No sistema jurídico 
pátrio, o fenômeno somente será percebido quando a nova Constituição expressamente o prever. 
 
Poder Constituinte Supranacional - é o poder que cria 
uma Constituição , na qual cada Estado cede uma parcela de sua 
soberania para que uma Constituição comunitária seja criada. O 
titular deste Poder não é o povo, mas o cidadão universal. Busca 
estabelecer uma Constituição a partir de um conjunto de Estados 
que se inter-relacionam em um processo de integração 
econômica e política. É a discussão que envolve, por exemplo, a 
União Europeia e, em menor escala, o Mercosul. Importante 
frisar que esse poder não se confunde com o ordenamento 
jurídico interno de cada país, nem com o direito internacional. 
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988
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Questões IBFC 
1) Considere as características do Poder Constituinte Originário e do Poder Constituinte Derivado e 
assinale a alternativa correta. 
 a) A existência de cláusulas pétreas, cujas garantias não podem ser abolidas ou diminuídas, constitui 
limitação material imposta ao Poder Constituinte Derivado. 
 b) A impossibilidade da reapresentação de uma proposta da emenda constitucional rejeitada, antes da 
sessão legislativa seguinte constitui limitação circunstancial do exercício do Poder Constituinte Derivado. 
 c) O Poder Constituinte Originário deve ser exercido de forma a conservar a ordem jurídica anterior e 
obedecer às regras de processo legislativo criadas antes de sua formação. 
 d) Diversamente do Poder Constituinte Derivado, que é político, o Originário é jurídico, pois apenas revela 
o exercício de uma competência reformadora da ordem constitucional. 
 
2) Assinale a alternativa correta de acordo com o tratamento doutrinário pertinente à análise da 
Constituição Federal, segundo aspectos considerados relevantes. 
 a) O Poder Constituinte Originário serve para alterar as disposições de um diploma constitucional. 
 b) O Poder Constituinte Originário serve, de forma específica, criar as normas infraconstitucionais. 
 c) O Poder Constituinte Originário não representa ruptura com a ordem constitucional anterior. 
 d) O Poder Constituinte Originário não encontra limitação em qualquer fonte que não o seu próprio 
exercício. 
 e) O Poder Constituinte Originário só pode ser exercido de forma democrática. 
 
3) Assinale a alternativa correta sobre a regra do artigo 60, parágrafo primeiro da Constituição Federal 
brasileira de 1988 e que prevê “A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção 
federal, de estado de defesa ou de estado de sítio". 
 a) Trata-se de limitação circunstancial imposta ao Poder Constituinte Derivado. 
 b) Trata-se de limitação material imposta ao Poder Constituinte Originário. 
 c) Trata-se de limitação formal e material imposta ao Poder Constituinte Decorrente. 
 d) Trata-se de limitação procedimental imposta ao Poder Constituinte Derivado pelo Poder Decorrente. 
 e) Trata-se de limitação formal imposta a todas as formas de Poder Constituinte. 
 
4) Assinale a alternativa correta sobre a regra do artigo 60, parágrafo primeiro da Constituição Federal 
brasileira de 1988 e que prevê “A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção 
federal, de estado de defesa ou de estado de sítio". 
a) Trata-se de limitação circunstancial imposta ao Poder Constituinte Derivado. 
b) Trata-se de limitação material imposta ao Poder Constituinte Originário. 
c) Trata-se de limitação formal e material imposta ao Poder Constituinte Decorrente. 
d) Trata-se de limitação procedimental imposta ao Poder Constituinte Derivado pelo Poder Decorrente. 
e) Trata-se de limitação formal imposta a todas as formas de Poder Constituinte.7 
 
5) Acerca das características do Poder Constituinte Originário, pode-se afirmar que este poder: 
a) E instituído, limitado e incondicionado. 
b) É inicial, limitado e condicionado 
c) É inicial, autônomo e incondicionado. 
d) Pode ser reformador, decorrente e revisor. 
 
6) Assinale a alternativa INCORRETA: 
 a) Sobre as características do poder constituinte originário, pode- se dizer que ele é inicial, autônomo, 
ilimitado juridicamente, incondicionado e soberano na tomada de suas decisões. 
 b) A manifestação do poder constituinte reformador verifica- se através das emendas constitucionais. 
 c) O poder constituinte derivado reformador é aquele que instaura uma nova ordem jurídica, rompendo 
por completo com a ordem jurídica precedente. 
 d) O poder constituinte derivado decorrente tem por missão estruturar a Constituição dos Estados-
membros. 
 
 
1 C 
2 D 
3 A 
4 A 
5 C 
6 C

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