Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 PODER CONSTITUINTE Definição Nada mais é que o poder de constituir, criar ou modificar aquilo que está escrito como “Constituição”. Divide-se basicamente em poder originário e poder derivado. Poder originário (poder constituinte de primeiro grau) – expressa a vontade inicial do Povo, constituindo o Estado e dando origem a todo o ordenamento jurídico estatal. É dessa concepção que nasce a Constituição. Poder derivado (poder constituinte de segundo grau) – é criado pelo originário, que lhe dá o poder de modificar o que foi anteriormente estabelecido. Espécies 1. Originário – é o único poder de fato. Todos os outros são poderes jurídicos, pois foram instituídos pelo originário. 2. Derivado Reformador – é o poder de fazer emendas constitucionais (alteração formal do texto da Constituição). 3. Derivado Revisor – instituído para se manifestar 5 anos após a promulgação da Constituição de 1988 e depois se extinguir. Seu objetivo era restabelecer uma possível instabilidade política causada pela nova Constituição. Manifestou-se em 1994, quando foram elaboradas as seis emendas constitucionais de revisão. 4. Derivado Decorrente – é o poder que os Estados possuem para a elaboração das suas Constituições Estaduais (poder de auto-organização). a. Cuidado! As leis orgânicas criadas pelos Municípios NÃO são consideradas fruto do poder constituinte decorrente, já que possuem aspecto de lei ordinária, e não de Constituição. Alguns doutrinadores o tratam como “poder constituinte de terceiro grau”. 5. Difuso – é o poder que autoriza a mutação constitucional, ou seja, a alteração do significado (interpretação) das normas sem que seja alterado o texto formal. Ele se manifesta através das novas interpretações dadas pelo Poder Judiciário. Diz-se que a mutação constitucional provoca a alteração informal da Constituição. Poder constituinte originário (PCO) Não é um poder jurídico, e sim um poder político, pois tem fundamento de validade anterior à ordem jurídica. É o poder que organiza o Estado e cria a ordem jurídica (que contém os demais poderes constituintes). Modos de manifestação do PCO Segundo a doutrina, pode ser histórico (quando sua manifestação ocorre para dar origem a um novo Estado – dá origem à primeira Constituição de um país) ou revolucionário (quando sua manifestação tem como objetivo instituir uma nova ordem política e jurídica em um Estado já existente). O termo “revolucionário” se refere a um conceito amplo de revolução: não apenas em seu sentido bélico, mas no 2 sentido de ruptura profunda, substancial com a ordem política e social anterior provocando não uma mudança superficial, mas uma alteração de estrutura drástica na mentalidade política. Por isso, todo o poder que cria uma nova Constituição é intitulado de revolucionário – e isso pode ocorrer até mesmo de forma pacífica e por manifestações plebiscitárias. O PCO se manifesta basicamente de 4 formas: 1. Convenção ou Assembleia Nacional Constituinte – reunião de legitimados pelo povo para elaborar um texto constitucional 2. Revolução – depõe-se o poder vigente para que se institua uma nova ordem constitucional 3. Outorga – o governante unilateralmente impõe uma nova Constituição, sem a manifestação do povo 4. Método Bonapartista (Cesarista) – governante impõe a Constituição, mas ratifica o texto constitucional através da manifestação do povo (referendo) Titular e exercente do PCO Titular = é o povo; esse poder é permanente e não se esgota com a feitura da Constituição. Exercente = Assembleia Nacional Constituinte Características do PCO Poder político – é ele que organiza o Estado e institui todos os outros poderes. Inicial – é ele que dá início a todo o novo ordenamento jurídico Ilimitado, irrestrito ou soberano – não reconhece nenhuma limitação material ao seu exercício (corrente positivista). Autônomo – não se submete a nenhum outro poder Incondicionado – não existe nenhum procedimento formal pré-estabelecido para que ele se manifeste Permanente – não se esgota no momento do seu exercício Consequências do PCO a) Revogação de todo o ordenamento constitucional anterior b) Recepção do ordenamento infraconstitucional compatível materialmente (teoria da recepção) – todas as leis que forem compatíveis com o conteúdo da nova Constituição serão recebidas por esta e continuarão a viger, independente da sua forma. a. É válida a recepção parcial (conteúdo que contraria a CF é revogado, vigorando apenas a parte não conflitante) b. Só podem ser recepcionadas normas que estejam em vigor no momento do advento da nova constituição – normas anteriores já revogadas, anuladas ou em vacatio legis não poderão ser recepcionadas. c. Normas não recepcionadas são revogadas (não há o que se falar em inconstitucionalidade, pois para isso a norma já deve nascer com algum vício; não existe no Brasil a tese da inconstitucionalidade superveniente – uma norma nunca irá, durante sua existência, se tornar inconstitucional). d. Não existe a desconstitucionalização no Direito brasileiro. 3 Produção de efeitos com retroatividade mínima Ao contrário das leis, as normas constitucionais são dotadas de retroatividade – retroatividade mínima. Isso significa que as normas só retroagem para alcançar os efeitos futuros dos casos passados, ou seja, efeitos que puderem vir a se manifestar. Cuidado – a retroatividade mínima é a REGRA. No entanto, caso a Constituição defina expressamente em seu texto, ela poderá retroagir completamente. Poder constituinte derivado Características do poder constituinte derivado: jurídico (de direito), derivado, condicionado juridicamente e limitado. Por ser instituído, é um poder subordinado e limitado à ordem jurídica apresentada pela Constituição. Os PCD possuem sua manifestação condicionada pelo PCO nos limites do texto constitucional. Reformador – CF, Art. 60 o Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta... Revisor – CF, ADCT, Art. 3º o Art. 3º. A revisão constitucional será realizada após cinco anos, contados da promulgação da Constituição, pelo voto da maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional, em sessão unicameral. Decorrente – CF, art. 25; CF, ADT, Art. 11 o Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios desta Constituição. o Art. 11. Cada Assembleia Legislativa, com poderes constituintes, elaborará a Constituição do Estado, no prazo de um ano, contado da promulgação da Constituição Federal, obedecidos os princípios desta. Difuso – não está expresso na CF, mas é reconhecido pela doutrina e jurisprudência. Poder constituinte derivado reformador INICIATIVA - A CF poderá ser emendada mediante proposta: 1. De pelo menos um terço dos Deputados ou Senadores 2. Do Presidente da República 3. De mais da metade das Assembleias Legislativas das UF, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa dos seus membros LIMITAÇÃO CIRCUNSTANCIAL – a CF não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, estado de defesa ou estado de sítio LIMITAÇÃO PROCEDIMENTAL – a proposta será discutida e votada em cada Casa do CN, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros. PROMULGAÇÃO – a EC será promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem. LIMITAÇÃO MATERIAL EXPRESSA – Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: 1. A forma federativa do Estado 2. O voto direto, secreto, universal e periódico 4 3. A separação dos Poderes 4. Os direitos e garantias individuais LIMITAÇÃO MATERIAL IMPLÍCITA – cláusulas pétreas reconhecidas pela doutrina e jurisprudência 1. O povo como titular do poder constituinte 2. O poder igualitário do voto 3. O artigo 60 da CF a. É o chamado de proibição à dupla revisão – é vedado que o legislador modifique o artigo 60, desprotegendo as cláusulas pétreas, e depois edite outra emenda extinguindo as cláusulas. PRINCÍPIO DA IRREPETIBILIDADE (LIMITAÇÃO FORMAL) – a matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa. LIMITAÇÃO TEMPORAL – ocorre quando somente depois de decorrido certo lapso temporal a Constituição poderá ser reformada; a CF não estabeleceu nenhuma limitação temporal. Poder constituinte derivado revisor CF, ADCT, art. 3º → A revisão constitucional será realizada após 5 anos, contados da data de promulgação da CF, pelo voto da maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional em sessão unicameral. Após o uso do poder de revisão ele se extinguiu, não podendo mais ser utilizado e nem se pode por EC criar outro similar. Mutação constitucional – poder constituinte derivado difuso Trata-se da alteração do significado das normas constitucionais sem que seja alterado o texto formal. Ela se faz através das novas interpretações emanadas principalmente pelo Poder Judiciário. Assim, diz-se que a mutação provoca a alteração informal da Constituição. Diz-se que a alteração é "informal", pois não altera a "forma" como a norma está escrita. Poder constituinte derivado decorrente O poder decorrente possui a possui de estruturar as constituições dos estados membros. Deve obedecer aos seguintes princípios: Princípios sensíveis – presentes no artigo 34, VII da CF – se não respeitados, poderão ensejar a intervenção federal Princípios federais extensíveis (comuns) – são os aplicados pela simetria federativa aos demais entes políticos. Princípios estabelecidos – estão expressamente ou implicitamente no texto da CF limitando o poder constituinte do Estado-membro. Cuidado! A CF não atribuiu às câmaras municipais o exercício do poder constituinte derivado decorrente! 5 Recepção A revogação de uma constituição faz com que todas as demais normas do ordenamento jurídico percam seu fundamento de validade e, portanto, sua vigência. Com o objetivo de dar continuidade às relações sociais, tendo em vista a impossibilidade fática de nova regulação imediata de todas as hipóteses indispensáveis, as normas infraconstitucionais, cujo conteúdo seja compatível com o da nova Constituição, são recepcionadas por ela. Portanto, ao ser promulgada uma nova Constituição, duas situações poderão ocorrer: As normas infraconstitucionais anteriores materialmente compatíveis com a Lei Maior ganham um novo fundamento de validade e são recepcionadas por ela. As normas materialmente incompatíveis perdem seu fundamento de validade e deixam de ter vigência (incompatibilidade material superveniente). Repristinação A repristinação ocorre quando uma norma revogada volta a viger em virtude da revogação da norma que a revogou. No entanto, a posição amplamente dominante no Brasil é no sentido de que a revogação de uma lei faz com que ela desapareça, deixe de existir. Portanto, a revogação da lei ab-rogante não pode ter o efeito automático de “ressuscitar” uma lei anterior que havia sido abolida. A repristinação não é aceita no ordenamento jurídico vigente do Brasil. Desconstitucionalização Algumas normas constitucionais anteriores compatíveis com a nova Constituição poderiam ser recepcionadas segundo essa teoria, apesar de rebaixadas à categoria de leis infraconstitucionais. Inexistindo previsão constitucional expressa, essa teoria não deve ser aplicada. No sistema jurídico pátrio, o fenômeno somente será percebido quando a nova Constituição expressamente o prever. Poder Constituinte Supranacional - é o poder que cria uma Constituição , na qual cada Estado cede uma parcela de sua soberania para que uma Constituição comunitária seja criada. O titular deste Poder não é o povo, mas o cidadão universal. Busca estabelecer uma Constituição a partir de um conjunto de Estados que se inter-relacionam em um processo de integração econômica e política. É a discussão que envolve, por exemplo, a União Europeia e, em menor escala, o Mercosul. Importante frisar que esse poder não se confunde com o ordenamento jurídico interno de cada país, nem com o direito internacional. http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988 6 Questões IBFC 1) Considere as características do Poder Constituinte Originário e do Poder Constituinte Derivado e assinale a alternativa correta. a) A existência de cláusulas pétreas, cujas garantias não podem ser abolidas ou diminuídas, constitui limitação material imposta ao Poder Constituinte Derivado. b) A impossibilidade da reapresentação de uma proposta da emenda constitucional rejeitada, antes da sessão legislativa seguinte constitui limitação circunstancial do exercício do Poder Constituinte Derivado. c) O Poder Constituinte Originário deve ser exercido de forma a conservar a ordem jurídica anterior e obedecer às regras de processo legislativo criadas antes de sua formação. d) Diversamente do Poder Constituinte Derivado, que é político, o Originário é jurídico, pois apenas revela o exercício de uma competência reformadora da ordem constitucional. 2) Assinale a alternativa correta de acordo com o tratamento doutrinário pertinente à análise da Constituição Federal, segundo aspectos considerados relevantes. a) O Poder Constituinte Originário serve para alterar as disposições de um diploma constitucional. b) O Poder Constituinte Originário serve, de forma específica, criar as normas infraconstitucionais. c) O Poder Constituinte Originário não representa ruptura com a ordem constitucional anterior. d) O Poder Constituinte Originário não encontra limitação em qualquer fonte que não o seu próprio exercício. e) O Poder Constituinte Originário só pode ser exercido de forma democrática. 3) Assinale a alternativa correta sobre a regra do artigo 60, parágrafo primeiro da Constituição Federal brasileira de 1988 e que prevê “A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio". a) Trata-se de limitação circunstancial imposta ao Poder Constituinte Derivado. b) Trata-se de limitação material imposta ao Poder Constituinte Originário. c) Trata-se de limitação formal e material imposta ao Poder Constituinte Decorrente. d) Trata-se de limitação procedimental imposta ao Poder Constituinte Derivado pelo Poder Decorrente. e) Trata-se de limitação formal imposta a todas as formas de Poder Constituinte. 4) Assinale a alternativa correta sobre a regra do artigo 60, parágrafo primeiro da Constituição Federal brasileira de 1988 e que prevê “A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio". a) Trata-se de limitação circunstancial imposta ao Poder Constituinte Derivado. b) Trata-se de limitação material imposta ao Poder Constituinte Originário. c) Trata-se de limitação formal e material imposta ao Poder Constituinte Decorrente. d) Trata-se de limitação procedimental imposta ao Poder Constituinte Derivado pelo Poder Decorrente. e) Trata-se de limitação formal imposta a todas as formas de Poder Constituinte.7 5) Acerca das características do Poder Constituinte Originário, pode-se afirmar que este poder: a) E instituído, limitado e incondicionado. b) É inicial, limitado e condicionado c) É inicial, autônomo e incondicionado. d) Pode ser reformador, decorrente e revisor. 6) Assinale a alternativa INCORRETA: a) Sobre as características do poder constituinte originário, pode- se dizer que ele é inicial, autônomo, ilimitado juridicamente, incondicionado e soberano na tomada de suas decisões. b) A manifestação do poder constituinte reformador verifica- se através das emendas constitucionais. c) O poder constituinte derivado reformador é aquele que instaura uma nova ordem jurídica, rompendo por completo com a ordem jurídica precedente. d) O poder constituinte derivado decorrente tem por missão estruturar a Constituição dos Estados- membros. 1 C 2 D 3 A 4 A 5 C 6 C
Compartilhar