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PROJETO DE IMPLEMENTAÇÃO E AVALIAÇÃO ECONÔMICA DE RECICLAGEM DE PNEUS Michel Brasil da Silva Arthur Possenti Eduardo Felipe França Leonardo Nunes Resumo O projeto de reciclagem de pneus foi desenvolvido a fim de avaliar sua viabilidade técnica e econômica. Atualmente a quantidade de pneu inservíveis no meio ambiente e com descarte incorreto é imensurável. No presente estudo foram abordadas duas rotas tecnológicas para o processo de reciclagem industrial, sendo a moagem e a pirolise do pneu, para uma melhor avaliação e desenvolvimento do projeto foi escolhido a segunda rota, que se trata de um método mais complexo de operações, composto de trituradores, reator, trocador de calor e também separadores magnéticos. A única matéria prima do processo é o pneu e durante a operação é separado o aço, negro de fumo, borracha e gases. A grande vantagem desse projeto é a separação de todos os constituintes do pneu, e a reutilização individual de cada um deles. A avaliação econômica do modelo foi realizada e discutida, onde pautando-se nesses dados calculou- se o payback, o valor presente líquido (VPL) e a taxa interna de retorno modificada (MTIR%), concluindo-se pela viabilidade econômica do projeto que apresentou VPL de R$ 28.281,4, MTIR de 34,1%, e payback de 16 meses. Palavras-chave: Pneus inservíveis; pirólise; negro de fumo; óleo combustível. 1 INTRODUÇÃO A compra de veículos se tornou mais acessível a famílias de classe média e baixa, e consequentemente o mercado da indústria automotiva como um todo apresentou crescimento, assim como também acontece com o pneu (SANTOS, 2016). Estimativas indicam que só no Brasil a frota de veículos passa de 65 milhões, com crescimento de 119% nos últimos 10 anos, o que indica que em breve vamos atingir a marca de um veículo para cada dois brasileiros (IBPT, 2018). A nível mundial a situação é ainda maior, são estimados 1,215 bilhão de veículos, com projeção de crescimento de 10%. O maior responsável por todo esse crescimento é a China, o Brasil figura em 4º lugar nessa lista, atrás ainda dos EUA e Japão (Sindipeças, 2017). Junto com a crescente de automóveis, os pneus são fabricados em ainda maior escala pois além de atender ao mercado dos veículos novos, uma grande quantidade desses produtos é destinada a reposição e substituição de pneus inservíveis que são descartados. Inclusive esse é um fato alarmante, onde cerca de 450 mil toneladas de pneu são descartadas todos os anos somente no Brasil. A Resolução CONAMA nº 258/99 regulamente o processo de destinação final de pneu, onde estabelece diretrizes para uma cadeia de logística reversa dos pneus inservíveis em todo o território nacional, porém observa-se que essa prática ainda é pequena e grande parte desses produtos são descartados em lixões e aterros sanitários. Uma maneira recorrente de utilização dos pneus é na forma de combustível, onde são incinerados principalmente pelas indústrias cimenteira, siderúrgica e de celulose e papel, aproveitando seu poder calorífico para obtenção de energia. Também existem utilizações com o pneu moído para fabricação de asfalto-borracha, além de uso em menor escala no artesanato e quadras esportivas (CHAPMAN, 2011). O pneu é produzido através de um processo de vulcanização, onde funde seus componentes e torna um material de difícil separação e desintegração que impede a separação completa de seus constituintes para que pudesse ser utilizado na fabricação de novos pneus (ÉDICO, 2017). Ao contrário disso, o processo que hoje é aplicado para reciclagem de pneus é utilizando um reator pirolítico, que a partir de temperatura e pressão elevadas desintegra o pneu e gera como produtos o óleo combustível, frações gasosas de metano e hidrogênio, além de uma baixa quantidade de hidrocarbonetos, aço e negro de fumo, um material composto das frações pesadas da borracha (ANDRADE, 2007). 2 DESENVOLVIMENTO 2.1 ROTAS TECNOLÓGICAS A reciclagem de pneus torna-se uma alternativa para evitar descartar produtos que degradam ainda mais o meio ambiente, atualmente o ato é uma obrigação e dever de todos. Hoje em dia é realizada e estudada várias formas de reciclagem, sendo as mais conhecidas a pirólise, a moagem e o artesanato de pneus. O presente estudo analisou os benefícios ambientais e financeiros entre duas técnicas de reciclagem, a moagem e a pirólise de pneus. Ambos os métodos realizam primeiramente a trituração do pneu e posteriormente separação do aço da borracha. O método de moagem tem uma estrutura simplificada, porem pode- se reciclar tantos pneus de automóveis quanto de caminhões. A operação é composta apenas por trituradores, separador magnético e separador de tecido e borracha. O método começa com a trituração da matéria prima (pneus de caminhão), posteriormente passa por um granulador onde é inserido os pneus de automóveis para que sejam triturados. Após atingida a granulometria desejada, o material passa por um separador magnético, onde é retirado o aço que é considerado um subproduto do método, o restante segue para um novo triturador para que seja atingido um diâmetro menor que 0,12 mm. Por fim o material é passa por um novo separador onde é retirado o tecido da borracha. As aplicações do produto gerado pelo método são produção de asfalto, artesanato, campos sintéticos de futebol, entre outros. A pirólise de pneus é um método mais complexo de operação, composto por trituradores, reator, trocadores de calor e separadores magnéticos. O método utiliza apenas como matéria prima pneus de automóveis, pois os mesmos contem apenas borracha, negro de fumo e aço em sua composição. O inicio do processo é similar o ciclo de moagem, pois a matéria prima passa por um triturador até atingir uma granulometria desejada. Após a primeira etapa o material é levado a um reator pirolítico e é submetido a altas temperaturas que provoca sua decomposição, as frações são separadas por diferentes pontos de ebulição onde são retirados os componentes separadamente. Com exceção do negro de fumo que contem aço e é submetido a um separador magnético, o restante dos componentes seguem diretamente para um resfriador. Depois de submetida à separação magnética, o negro de fumo já sem aço retorna para a corrente com os outros componentes e ambos seguem o fluxo do processo para o resfriador já citado acima. Neste resfriador ocorre a redução da temperatura desses componentes e a primeira separação, onde o negro de fumo é retirado, submetido a um moinho e posteriormente coletado como subproduto. Os demais componentes do processo são submetidos a um segundo trocador de calor para resfriar ainda mais a temperatura, liquefazendo o óleo combustível, que é separado e coletado como produto e armazenado em um tanque. Os componentes gasosos antes de serem coletados do processo são comprimidos por um compressor onde posteriormente movimentam uma turbina, gerando energia elétrica para ser utilizada na operação da planta. 2.2 BALANÇOS DE MASSA Com a definição das rotas tecnológicas, optando pela de maior viés ecnonômico e aplicabilidade industrial, foram realizados os balanços de massa para obter numericamente os parâmetros de processo da planta industrial, permitindo fazer uma leitura mais precisa dos possíveis gargalos presentes no processo, além de visualizar de uma melhor maneira os fluxos e quantidade de produtos obtidos. O balanço de massa é feito com base na lei de conservação de massa, partindo dos valores iniciais do projeto, além dos produtos desejados e frações mássicas das correntes. O desenvolvimento foi elaborado e aplicado totalmente utilizando o software Microsoft Office Excel para todos os equipamentos, a partir de equações integradas para as correntes e também frações para cada composto das respectivas correntes.Essaprática possibilitou simular diferentes fluxos de entrada e saída de materiais, podendo verificar as quantidades de produtos obtidos e também as dimensões que a planta industrial ganharia. 2.3 DIMENSIONAMENTO Com os dados obtidos pelo balanço de massa passamos ao dimensionamento do condensador, tubular em contracorrente, para determinar a área do trocador de calor necessária para provocar o resfriamento dos componentes, que recebe uma corrente de aproximadamente 2524 kg/h de óleo combustível e gás. O dimensionamento foi realizado através do método ΔTML, que se baseia na diferença de temperatura média logarítimica entre o fluido quente e o fluido frio, a partir de dados obtidos de literatura, como as temperaturas de fusão e ebulição dos produtos, coeficiente de troca térmica, e de dados do projeto, como as correntes de alimentação e produto do equipamento. Além do trocador de calor, equipamento imprescindível paraoperação da planta industrial, também foi dimensionada a turbina para geração de energia a fim de estimar a quantidade de energia que a turbina pode proporcionar ao processo, gerando menores despesas com energia elétrica e aproveitamento energético das condições de operação do projeto. 2.4 ANÁLISE ECONÔMICA Para realização da análise financeira, foi utilizada o método a quotação dos seguintes equipamentos: esteira transportadora, reator político, separador magnético, trocador de calor, moinho com peneira, condensador, compressor, turbina, transformador e bombas. Os valores de utilidades, insumos também foram precificados. Tubulações, medidores de vazão e controle do processo, encargos trabalhistas e impostos foram computados por meio de coeficientes estimados. Para a realização da avaliação econômica foi utilizado método de PERLINGEIRO, proposto no livro Engenharia de Processos de Carlos Augusto G. Perlingeiro, que através de estimativas de preços para equipamentos, custos operacionais, de manutenção, matéria-prima, entre outros, fornece dados adicionais sobre viabilidade, índices de retorno de investimento e payback do projeto. 2.5 RESULTADOS E DISCUSSÃO A partir dos valores obtidos no balanço de massa, foi possível quantificar a produção estimada da planta, que se utilizado como matéria- prima 4200 kg/h de pneus inservíveis, conseguiremos obter aproximadamente 800 kg/h de aço, 1300 kg/h de negro de fumo, 2300kg/h de óleo combustível e 230 kg/h de componentes gasosos, como o metano e hidrogênio. O dimensionamento do trocador de calor, utilizando o método ΔTML, meio convencional para dimensionar a área necessária para operação do trocador de calor, que a partir dos cálculos, obtemos um resultado de 2,28 m² de área de troca térmica, que para as dimensões de diâmetro de tubulação utilizada na canalização dos componentes, utilizaríamos um trocador de calor de 7,2 m de comprimento. A capacidade de geração da energia elétrica da turbina foi estimada em 25 kW/h. Que se mostrou de grande importância em suprir aproximadamente 60% da demanda de energia dessa planta industrial. De posse destes dados e com o conhecimento do real tamanho e capacidade dos equipamentos foram pesquisados, orçados e tabelados os preços estimados para aquisição de cada equipamento, operando na capacidade adequada do projeto. Ao final das estimativas o projeto apresentou um orçamento total para aquisição dos equipamentos de aproximadamente R$ 2.365,00. Somado a estes custos, com aquisição de terreno,custos civis, capital de giro e gastos adicionais teríamos um investimento inicial de cinco milhões e quinhentos mil reais, valor este dedicado a construçao e start da planta. Gastos com matéria-prima foram considerados, estimando-se os pneus inservíveis como provenientes de arrecadação, campanhas e mobilização para reciclagem dos mesmos, como também de coletas periódicas em borracharias e lojas de manutenção automotiva que não necessitariam se responsabilizar pelo descarte desses materiais, e entrariam no programa logístico de fornecimento de matéria-prima para a empresa. Considerando esta situação, gastos com matéria-prima seriam apenas de transporte, que a partir do valor do km praticado em fretes, teríamos uma despesa média de 420 mil reais anuais com matéria-prima. Com a estimativa de gastos adicionais, pelo método de Perlingeiro, como gastos operacionais, custos com utilidades e manutenção, atingimos o valor de no máximo, 50 mil reais anuais, valor este dependente principalmente da economia de energia proporcionada pelo uso da turbina. De posse destes valores foi possível analisar estatisticamente as receitas anuais geradas pela planta, e dessa forma completar as análises financeiras e avaliação econômica do projeto. Sabendo das condições do produto obtido, foi estimado um valor bruto para comercialização dos produtos. Como produto principal do processo o óleo combustível foi estimado com um preço de venda bruto de R$ 1,80/kg, já considerado despesas como envase, embalagens, entre outros gastos como abacamento do produto. Partindo desse valor, e acrescentado a comercialização dos outros produtos, atingimos uma receita anual estimada de cerca de oito milhões, trezentos e cinquenta mil reais. Relacionando as necessidades de aplicação para a planta, com as receitas obtidas pela comercialização dos produtos, foi possível estimar o lucro bruto anual de cerca de R$ 6.900.000,00. Valores relevantar para avaliação de viabilidade foram calculados, são eles MTIR, VPL e índice Payback. Esses indicadores demonstram que obtivemos taxa aceitável de MTIR, que chegou a 34,1% se mostrando um valor aceitável para as condições do projeto. O VPL, valor presente líquido, foi de R$ 28.281.000,00 e o payback de 16 meses, considerado um período relativamente curto para retorno de todo o investimento feito para tornar o projeto real. Com esses dados econômicos em mãos, é possível avaliar com mais segurança e de forma sucinta a real possibilidade de investimento de capital em um projeto dessas dimensões. Esses dados demonstram que o projeto apresenta grande potencial para ser executado, a planta pode ser planejada, dimensionada e startada com garantia de resultados, tanto econômicos, como ambientais, pois removerá de depósitos, aterros, e locais inadequados uma grande quantidade de pneus, e tem capacidade de transforma-los em produtos de valor comercial e desta forma traz um retorno financeiro em curto espaço de tempo. 3 CONCLUSÃO Ao longo do desenvolvimento do projeto de reciclagem de pneu através do processo de pirolise do mesmo, surgiram grandes indagações sobre qual seria a aplicabilidade após seu processo. Sem duvida alguma, a gama de setores que seriam beneficiados com esse desenvolvimento é imensurável, sendo que milhares de toneladas de pneus inservíveis teriam uma serventia para cada setor, podendo ser construção civil, arquitetura, design, dentre outros. O meio ambiente seria o maior beneficiário, pois atualmente o pneu tem um tempo indeterminado de decomposição, porém, para que esse estudo se torne realidade, e a planta enfim seja instalada, é necessário todo um estudo prévio para que principalmente se entenda como se comporta todo o investimento, e qual será o retorno do mesmo. Com base nas capacidades que surgiram de um balanço de massa preciso e um dimensionamento de equipamentos eficaz, obtivemos condições para elaborar um plano de investimento e retorno fornecido, podemos assim concluir que através de uma minuciosa análise que o retorno financeiro é tão bom quanto o ambiental. Por meio do presente estudo onde foi demonstrada a viabilidade técnica e econômica da implementação de uma planta de reciclagem de pneu através da pirolise e através dos balanços desenvolvidos, avaliação econômica e quotação de equipamentos, foi obtido umpayback de 16 meses e um MTIR de 34,1%. REFERÊNCIAS ANDRADE, H. S; Pneus Inservíveis: Alternativas Possíveis de Reutilização. Universidade Federal de Santa Catarina. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente,Conselho Nacional de Meio Ambiente, CONAMA. Resolução CONAMA n° 258, de 26 de agosto de 1999. – Disponível em: http://www.mma.gov.br Acesso em: 05.jun.2006. Cal Recovery, Inc. – “Evaluation of Waste Tire Devulcanization Technologies”, Integrated Waste Management Board: Sacramento (2004). CHAPMAN, A.V., Borracha Natural e Vulcanização: Novas Tendências. 2011. São Leopoldo. Centro de Tecnologia de Polímeros SENAI-CETEPO, 2011.p.37 HIMMELBLAU, David M; RIGGS, James B. Engenharia Química – Princípios e Cálculos. 7ª Ed. São Paulo: LTC. 2014, 672p. IBPT. INSTITUTO BRASILEIRO DE PLANEJAMENTO E TRIBUTAÇÃO. Frota Brasileira de Veículos em Circulação. Inteligência de Mercado. 20.mar.2018. LAGARINHOS, C. A. F., TENÓRIO J. A. S. Tecnologias Utilizadas para a Reutilização, Reciclagem e Valorização Energética de Pneus no Brasil, 2008. Polímeros. 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Sobre o(s) autor(es) 1 Mestre em Engenharia Química pela Universidade Federal do Paraná; Especialista em Gestão da Produção pela Universidade do Oeste de Santa Catarina; Docente na Universidade do Oeste de Santa Catarina;micbrava@yahoo.com.br 2 Graduando em Engenharia Química na Universidade do Oeste de Santa Catarina; arthur.possenti@unoesc.edu.br 3 Graduando em Engenharia Química na Universidade do Oeste de Santa Catarina; eduardo.franca@unoesc.edu.br 4 Graduando em Engenharia Química na Universidade do Oeste de Santa Catarina; leonardo.nunes@unoesc.edu.br
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