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1 Sumário 1 DEFINIÇÃO DE COMPLIANCE .................................................................. 2 2 PROGRAMA DE COMPLIANCE ................................................................ 9 2.1 Compliance na esfera empresarial ..................................................... 10 2.2 Importância do Compliance ................................................................ 11 2.3 Elementos de um programa de Compliance eficaz ............................ 14 2.4 Multiplicidade das áreas de Compliance ............................................ 15 2.5 Benefícios da Compliance para as empresas .................................... 18 3 LEGAL COMPLIANCE: AMBIENTAL ....................................................... 21 4 LEGAL COMPLIANCE: DESPORTIVO .................................................... 26 5 LEGAL COMPLIANCE: FISCAL E TRIBUTÁRIO ..................................... 34 6 LEGAL COMPLIANCE: TRABALHISTA ................................................... 39 7 LEGAL COMPLIANCE: DIGITAL .............................................................. 50 8 LEGAL COMPLIANCE: SAÚDE ............................................................... 53 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 57 2 1 DEFINIÇÃO DE COMPLIANCE1 Fonte: portaldeauditoria.com.br O termo “Compliance” tem origem no verbo em inglês “to comply”, que significa “cumprir”, “satisfazer”, “executar”, “realizar o que lhe foi imposto” com integridade, não obstante, compreende o dever de respeitar, de estar em “conformidade” e fazer cumprir regulamentos internos, externos, leis e diretrizes de mercado (regulação – fiscal-financeiro-contábil), com transparência e elevado valor ético, determinantes às atividades da organização empresarial. Na prática, o termo “Compliance” especifica a execução de um grande conjunto de processos e atividades de controle, fundamentados em diretrizes (guidelines), que ao longo do tempo (mais de 20 anos) tem evoluído, para atender as necessidades da “Governança Corporativa” no cumprimento de suas missões, bem como, no atendimento as melhores práticas de mercado, as determinações de regulação e principalmente dos requerimentos legais, no cumprimento das Leis e Regulamentos nacionais e internacionais. 1 Texto adaptado de: UPDATE – Guia COMPLIANCE – Fundamentos - Prof. João Roberto Peres / Prof. Nilson Brizoti 3 Compliance é um dos elementos intrínsecos dos modernos processos de GRC (Governança /Risco /Compliance), compreendendo uma estrutura essencial no ambiente empresarial e ou corporativo. GRC é a integração das atividades de Governança, avaliação e gestão de Risco e a busca de validação da Compliance (Conformidade) regulatória no cumprimento de leis, regulamentos de mercado e normas internas. A integração dessas três atividades se fez necessária para garantir o perfeito funcionamento das instituições e das empresas aderentes a essa forma democrática de gestão. As atividades direcionadas para a execução dos processos do domínio de Compliance, na visão GRC 360° mostra que se deve atender com “controles” diversas áreas que se inter-relacionam, que podem tipicamente serem divididas em duas categorias: Compliance de influência Interna Compliance de influência Externa Observa-se que para se atender as necessidades de conformidade, ou seja, de Compliance em geral, se faz necessário ter como alicerce a “Análise e Avaliação Jurídica”, que é fundamental para balizar todos os requerimentos, inclusive os técnicos e regulatórios. No contexto de validação da Compliance encontramos: Políticas e Normas internas – produzidas pela organização, como por exemplo: Códigos de Conduta; Política de Segurança Corporativa; Normas Internas; o Termos de Responsabilidade; o Termos de Confidencialidade; o Termos de Aceitação e Uso; Políticas de Responsabilidade Social e Ambiental; outros instrumentos. Legislação Nacional e Regulamentar – Leis, Decretos, Portarias, Resoluções, Instruções Normativas, Pareceres, como exemplo: Lei Anticorrupção Brasileira (12.846/2013); o Lei das S.A. (6.404/1976); Código de Processo Civil (13.105/2015); o Código Civil (10.406/2002); Lei de Informática e Automação (8.248/1991); Lei do Desenvolvimento e Inclusão Social (13.146/2015); Leis e normas que regulamentam Condomínios residenciais e comerciais; diversas outras. 4 Regulação de Mercado Nacional e Internacional – como exemplo: Código de Melhores Práticas de Governança Corporativa do IBGC; o Instruções Normativas da CVM (Comissão de Valores Mobiliários); o Instruções Normativas da RFB (Receita Federal Brasileira); o Instruções Normativas Setoriais (ANS, ANSINE, IBAMA, INSS, etc....); o Código Brasileiro de Auto-regulamentação Publicitária CONAR; Práticas exigidas, baseadas na Lei Norte Americana FCPA (Foreign Corrupt Practices Act) anticorrupção; o Diretrizes da OCDE sobre governança corporativa para empresas de controle estatal; diversas outras. Normativas Técnicas Nacionais e Internacionais – produzidas por Entidades e Institutos, como exemplo: Normas Técnicas ABNT NBR – ISO/IEC e as internacionais; o Norma IFRS (International Financial Reporting Standards) para práticas de contabilidade em padrão internacional; Norma COPC® (Metodologia para gestão de Call Center); Padrão Normativo MPS-br (Modelo para qualidade definido como “Melhoria de Processos do Software Brasileiro” - baseado nas normas ISO/IEC 12207 e ISO/IEC 15504 e compatível com o CMMI); o Padrão PMBOOK (Project Management Body of Knowledge): guia baseado em um conjunto de práticas para a gestão de projetos, organizado pelo instituto PMI; Padrão PCI DSS (Payment Card Industry Data Secutity Standart) é um amplo requerimento para quem opera cartões de credito; Requisitos Normativos BM&FBOVESPA Supervisão de Mercados (BSM); o Padrão Normativo CERFLOR para manejo florestal (CERFLOR conta com acervo normativo, e utiliza normas internacionalmente aceitas como as Diretrizes para auditorias de sistema de gestão (ABNT NBR ISO 19011): NBR 14789:2012 - Manejo Florestal - Princípios, Critérios e Indicadores para Plantações Florestais NBR 14790:2014 - Manejo Florestal - Cadeia de Custódia (baseada na PEFC ST 2002:2013) 5 NBR 14792 - NBR 14793:2008 - NBR 15789:2013 - NBR 16789:2014 -NBR 15753:2009 - NBR 17790:2014 – entre outras; Para atender as Normativas Técnicas Nacionais e Internacionais, encontra-se um número muito grande de referências, que são demandas como requerimento de acordo com o tipo e área de atuação das empresas. Esses requerimentos normativos técnicos podem ocorrer por necessidade da empresa se tornar aderente as melhores práticas alinhadas a concorrência, por requerimento dos parceiros de negócio, de financiadores e até por própria iniciativa interna da organização. O importante para o Compliance é que se for adotado um padrão ou norma, que ela seja cumprida, portanto, elas devem fazer parte do processo de análise da conformidade, inclusive jurídica. A área Jurídica abrange praticamente quase todo o conjunto de influências internas e externas, atuando de forma indissociável inclusive sobre os requerimentos normativos técnicos. É bom observar que se uma organização, por qualquer razão, adote ou tenha de adotar um padrão normativo ou regulatório, a área jurídica deve observar o cumprimento desse padrão na inter-relação com contratos, compromissos estatuários, setoriais, de mercado, trabalhistas, entre outros, identificando as responsabilidades e consequências positivas da adoção e negativas do descumprimento. A demanda pela aplicação de processos estruturados de “Compliance” nas organizações está crescendo no mundo todo. Jáse percebe a elevação do nível de consciência dos executivos, de que “Compliance” é fundamental para manter elevada a imagem e a reputação da organização, bem como, promover a garantia da redução de perdas invisíveis por desvios operacionais, erros involuntários, corrupção e fraudes ocupacionais, entre outros fatores que contribuem com a redução do desempenho dos negócios. As melhores práticas de Compliance são adotadas porque: Se pode afirmar com convicção que Compliance é um grande negócio para todos, pois é bom para as empresas, para os empregados, para os mercados em geral, para o pais e para a sociedade mundial. As práticas de Compliance devidamente estabelecidas e sistematizadas, permitem que as organizações identifiquem de forma proativa os desvios operacionais e de conduta humana, de forma que estes possam ser 6 corrigidos, sem que haja grandes impactos, sejam perda de tempo, falhas em processos, desvios financeiros e de imagem perante os mercados. O ganho com os investimentos realizados na implantação dos processos estratégicos e operacionais das atividades de Compliance é percebido em curto prazo, pois, os retornos financeiros de redução de custos e perdas invisíveis nas atividades laborais, aparecem através da identificação e mitigação ativa, por profissionais de conformidade. De certa forma, apesar de objetivos distintos, a área de Compliance se interliga a área de Qualidade, pois, são atividades complementares e imprescindíveis. Hoje, já existem diversos estudos sobre o retorno de investimentos em atividades de Compliance, estudos estes produzidos por entidades independentes, tanto na Europa e Estados Unidos, como a ICA (International Compliance Association), a ICPA (International Compliance Professionals Association), entre outras. Alguns renomados pesquisadores e autores literários, definem o “C” de GRC como “Controle”, portanto, Compliance também pode ser entendido como Controle, até porque, as atividades de validação da conformidade estão intimamente baseadas em controles. Pode-se dizer que Compliance é fundamentado principalmente em Controles Internos, portanto, é basilar se adotar para realizar as atividades de Compliance, um sistema de controle seguro, aceito mundialmente, para se reduzir os riscos e ampliar a flexibilidade para viabilizar os negócios. Todo profissional que atua em atividades de “Compliance” deve seguir a “deontologia” adequada, aderente as melhores práticas de mercado. Deontologia se refere ao conjunto de princípios e regras de conduta — os deveres e obrigações — inerentes a uma determinada profissão. Dessa forma, cada profissional estará sujeito a uma deontologia própria que regula o exercício de sua profissão, conforme o “Código Profissional de Ética” de sua categoria profissional. O ICPA (International Compliance Professionals Association), definiu um Código de Ética Profissional para Profissionais de Compliance. 10 princípios básicos da Compliance para organições: Princípio 1; O Conselho ou a Alta administração é responsável por supervisionar a gestão do risco de Compliance da organização. O Conselho ou a Alta Administração deve aprovar a política de cumprimento empresarial, incluindo um 7 documento formal que estabeleça o cumprimento permanente e eficaz da função de Compliance. Pelo menos uma vez por ano, o Conselho ou a Alta Administração deve avaliar se a organização está gerindo eficazmente os seus riscos de conformidade. Princípio 2; A Alta administração da organização é responsável inquestionável pela gestão eficaz dos riscos de Compliance. Princípio 3; A Alta administração é responsável por estabelecer e comunicar uma política de conformidade, para garantir que ela é observada e para relatar ao Conselho de Administração sobre os resultados da gestão dos riscos de Compliance. Princípio 4; A Alta administração é responsável por estabelecer uma permanente função profissional de Compliance eficaz dentro da organização, como parte da política de conformidade. Princípio 5; A organização deve garantir a total independência hierárquica da função de Compliance. Princípio 6; A função de Compliance da organização deve ter os recursos para realizar as suas atividades e poder cumprir com as suas responsabilidades de forma eficaz. Princípio 7; É responsabilidade da função de Compliance da organização, apoiar a gestão eficaz dos riscos de conformidade enfrentados pela organização. Caso algumas dessas responsabilidades sejam atribuídas a pessoas em diferentes departamentos, as atribuições de competências a cada departamento devem ser claras. Compete ao profissional de Compliance: a. Promover a atualização permanente de regras e recomendações; b. Produzir manuais de Compliance para determinadas leis e regulamentos e sua educação e disseminá-los na cultura da organização; c. Realizar a identificação e a avaliação do risco de Compliance, inclusive para novos produtos e atividades; d. Verificar as responsabilidades estatutárias (combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento ao terrorismo); e. Implementar o programa de Compliance e validá-lo. Princípio 8; O alcance e a amplitude das atividades da função de conformidade (Compliance) deverá ser objeto da revisão periódica pela função de Auditoria Interna. Princípio 9; As organizações devem cumprir com as leis e regulamentos aplicáveis em todas as jurisdições em que elas fazem negócios, mantendo a 8 coordenação e a estrutura da função de Compliance com suas responsabilidades consistentes com os aspectos legais e regulamentares, conforme o país, estado ou município onde atuam. Princípio 10; Compliance deve ser considerada como uma atividade central para a devida gestão dos riscos da organização. As tarefas específicas da função de conformidade podem ser terceirizadas, mas elas devem permanecer sujeitas a uma supervisão adequada por parte do responsável por Compliance, colaborador da organização. É importante os colaboradores e principalmente os profissionais de “Compliance” estarem conscientes da importância de “ser e estar em Compliance”. Ser Compliance: é conhecer as normas da organização, seguir os procedimentos recomendados, agir em conformidade e sentir quanto são fundamentais os aspectos sobre a ética e a idoneidade em todas as atitudes. Estar em Compliance: é estar intimamente em conformidade com leis e regulamentos internos e externos que interagem com a organização. Ser e estar Compliance é, acima de tudo, uma obrigação individual de cada colaborador dentro da empresa. “É altamente recomendável que a criação do “Programa de Compliance” seja compatível com a estrutura, tipo de negócio e perfil de riscos de cada organização. 9 2 PROGRAMA DE COMPLIANCE Fonte: www.dclogisticsbrasil.com A corrupção é um mal secular, que assombra e compromete todo o sistema organizacional público ou privado. Seja no Brasil ou em qualquer outro país. Dentre as ações criadas para combatê-la, aparecem os Programas de Compliance. No Brasil, a corrupção vem se alastrando há séculos. Em todas as fases históricas ela nunca deixou de existir e sempre foi uma particularidade característica de formação do nosso país. Atualmente, em proporção maior do que em outros tempos, o Brasil vem se destacando nos noticiários pelos inúmeros casos de corrupção, instalados em quase todos os setores públicos que possuem contratos com organizações privadas. Várias são as ações tomadas para fins de combate aos atos de corrupção, sendo a medida mais atual a criação da nova Lei Anticorrupção. A Lei nº 12.846/2013 dispõe sobre a responsabilização administrativa, civil e penal de pessoas jurídicas e pessoas físicas pela prática de atos corruptivos, praticados no âmbito das empresas, interna e externamente. 10 A Lei traz em seu texto as condutas irregulares que podem serpraticadas pelos agentes no âmbito interno das empresas. Também traz como serão as sanções que insurgirão nos casos em que essas condutas sejam efetivadas. A nova Lei Anticorrupção menciona também, no artigo 16, sobre o acordo de leniência, que poderá ser celebrado entre as empresas e o Estado. Isso resultará na diminuição da pena quando houver colaboração com as investigações pelos atos de corrupção. Tal acordo vem se evidenciando, cada vez mais, por ter sido celebrado por grandes empreiteiras no âmbito dos processos da operação Lava-Jato. A referida legislação também teve como intuito, em sua criação, que as empresas adotassem medidas regulamentadoras para evitar a prática da corrupção e da lavagem de dinheiro. Que nada mais é do que a adoção de Programas de Compliance. O Compliance é uma medida antiga de combate à corrupção, previsto há muito tempo na legislação estrangeira, especialmente no Foreign Corrupt Practices Act of 1977 – FCPA norte-americano – e no britânico Bribery Act 2010. Entretanto, no Brasil, ainda é uma prática adotada em menor proporção. Porém, vem ganhando considerável espaço, demonstrando ser extremamente importante nas relações empresariais. São vários os aspectos motivacionais para instalação das medidas de Compliance. A corrupção, em suas várias formas, provoca prejuízos financeiros imediatos, destrói a imagem e a reputação das organizações. Além disso, estraga o ambiente de trabalho, aumenta os custos de investimento e alimenta condutas nocivas para o desenvolvimento econômico e social. Exemplo disso são os mais recentes escândalos de corrupção em nosso país, envolvendo tratativas de empresas privadas com o setor público, como Mensalão, Operação Lava-Jato, entre outras. 2.1 Compliance na esfera empresarial O compliance na esfera empresarial surge como um princípio essencial da Governança Corporativa, o qual se dispõe como um requisito para as sociedades atualmente, visto abarcar pontos essenciais para se ter ética e transparência nas relações empresariais internas e externas. 11 O uso de código de ética, código de conduta, canal de denúncia, desenvolvimento de controles internos, procedimentos internos de divulgação de temas relacionados à corrupção, análise de aderência ética dos profissionais e parceiros comerciais, são formas de Compliance cada vez mais crescente nas organizações com escopo de mitigar fraudes internas. Portanto, compliance no aspecto empresarial seria a adoção de atos internos para fins de evitar os atos fraudulentos/corruptos nas empresas, objetivando a mitigação dos riscos legais. Já no âmbito criminal, os programas de Compliance estão relacionados às políticas internas de prevenção, investigação ou supervisão de condutas. O objetivo é evitar ou descobrir delitos praticados por meio ou sob a proteção da pessoa jurídica. A nova Lei Anticorrupção prevê em seu texto os programas de Compliance para que haja a diminuição das condutas ilícitas, relacionadas às práticas dos atos de corrupção e lavagem de dinheiro. Condutas essas que vêm afetando substancialmente o mercado empresarial. Sendo assim, dada a necessidade de se combater os atos ilícitos praticados pelas empresas e steakholders a essas relacionados, os quais visam atingir a liderança no poderio a qualquer custo, pode-se inferir que o Compliance é uma medida que deve ser imposta no âmbito das relações comerciais, internacionais e nacionais, como já vem sendo. 2.2 Importância do Compliance As normas de Compliance ajudam a prevenir os riscos operacionais, abrem novos mercados e possibilitam maior concessão de empréstimos pelas instituições financeiras. Além disso, atraem investimentos, atribuem credibilidade, conferem ética, transparência, segurança e estabilidade jurídica, impedindo a penalização das empresas e dos sócios pela infringência das normas legais. Ressalta-se que a implantação dos programas de Compliance, para algumas empresas, é indiscutivelmente importante e bem visto no meio corporativo e mercado financeiro. Afinal, não se visualizam imagens negativas na implementação destes programas, posto que os resultados são perceptíveis e até mesmo podem garantir retorno financeiro, devido a inúmeros benefícios. 12 Portanto, as normas de Compliance são importantes tanto para o aspecto empresarial como pelo aspecto penal. A sua adoção, é imprescindível para tentar combater a corrupção e os atos de lavagem de dinheiro. Mas também é medida importante para o crescimento e desenvolvimento econômico das empresas. Principais benefícios que a área de compliance pode trazer para a empresa: Ganho de credibilidade por parte de clientes, investidores, fornecedores, etc.; Importante ferramenta para as empresas que buscam mercados externos; Aumento da eficiência e da qualidade dos produtos fabricados ou serviços prestados; Melhora nos níveis de governança corporativa; Oferece prevenção (muitas empresas só pensam em Compliance quando já foram punidas por algum “desvio”, postura custosa ao caixa da organização). Em geral, as empresas brasileiras de pouca estrutura, sob o aspecto da governança, relutam em adotar programas de Compliance em seu universo. É o velho hábito do brasileiro de preferir remediar a prevenir. O problema é que travar uma longa briga judicial porque uma lei trabalhista foi descumprida, arcar com multas pesadas da Receita Federal por falhas em sua prestação de contas ao Fisco ou mesmo receber imposições por descumprimento às leis ambientais enfraquecem a empresa no mercado, sublimam sua credibilidade e secam seu caixa e suas perspectivas de futuro. Subestimar o Compliance e a importância de jogar dentro das regras é o que explica, talvez, porque a taxa de mortalidade das empresas com até 5 anos de vida beira os 50% no Brasil. Menos de 20% das empresas chegam aos seus 10 anos de vida, em geral, por falta de controles internos, falhas de gestão, respeito às normas e regulamentação. Como criar uma área de Compliance: 1- O primeiro passo para quem deseja ter um setor de Compliance em sua empresa é elaborar, com o auxílio dos especialistas contratados, um código de conduta, em linguagem simples e objetiva ao entendimento de todos. 13 2- Endomarketing para disseminar a importância de seguir regras e procedimentos. Assim, poderá trabalhar o envio de SMS (ou e-mail) para funcionários, lembrando-os da importância de usar o telefone apenas com fins profissionais, para o risco de levar para fora da empresa informações ligadas aos seus processos internos, etc. Criar canais de comunicação permanentes com sua equipe, permitindo, inclusive, que eles denunciem condutas inadequadas; 3- Mostrar que o exemplo vem de cima. O Núcleo Gerencial da empresa deve agir com justiça internamente e prezando por ações éticas na competição externa. Ganhar espaço no mercado, mas sem abrir mão de seus valores, é algo que deve ser sempre reforçado na empresa. 4- Não basta agir dentro da legalidade: deve-se mostrar aos stakeholders que a empresa não se envolve com atos imorais. Permitir que parentes da direção da companhia participe de uma concorrência para ser seu fornecedor é, no mínimo, imoral. Compliance é ideologia e deve ser incorporada ao comportamento de todos dentro da empresa. Objetivos, papéis e responsabilidades da função de Compliance na organização: Analisar meticulosamente os riscos operacionais; Gerenciar os controles internos (o profissional dessa área é uma espécie de “xerife” das normas e procedimentos, em todas as esferas da organização); Desenvolver projetos de melhoria contínua e adequação às normas técnicas; Analisar e prevenir de fraudes (esse profissional tem também papel consultivo; não se trata apenas de cobranças e imposição de mudanças); Monitoramento, junto aos responsáveis pela TI, no que se refere às medidas adotadasna área de segurança da informação; Realização de auditorias periódicas; Gerenciar e rever as políticas de gestão de pessoas, juntamente com os responsáveis pela área de Gestão de Capital Humano. Trabalhar na elaboração de manuais de conduta e desenvolver planos de disseminação do compliance na cultura organizacional; 14 Fiscalização da conformidade contábil de acordo com as normas internacionais (International Financial Reporting Standards – IFRS); Interpretar leis e adequá-las ao universo da empresa. 2.3 Elementos de um programa de Compliance eficaz Para implementar um programa de compliance eficaz, as empresas devem, no mínimo, incorporar os seguintes elementos: Liderança: Um programa de Compliance eficaz deve ter substância real e compromisso “de cima para baixo”, a partir da alta administração. Os executivos sêniores da empresa devem supervisionar a função de Compliance e devem ter recursos suficientes para fazer isso. Eles devem ter acesso direto ao conselho de administração ou equivalente da empresa para os assuntos de Compliance. Avaliação de riscos: Os programas de Compliance devem se basear em uma avaliação de riscos inicial que considere os fatores específicos enfrentados pela empresa em suas operações. Essas avaliações devem considerar, entre outros pontos, os riscos por setor e região, e os riscos relacionados ao cliente e ao processo de vendas da empresa. As empresas devem reavaliar regularmente seus programas para garantir a sua eficácia e identificar as áreas onde melhorias podem ser necessárias. Código de conduta e políticas de Compliance escritas: Os códigos, políticas e procedimentos devem ser claros, concisos e acessíveis a todos os funcionários e àqueles que realizam negócios em nome da empresa. Dependendo dos riscos enfrentados pela empresa, essas políticas e procedimentos podem abranger um amplo espectro de áreas, por exemplo, a proibição de suborno, uso de consultores, agentes e representantes, processo de due diligence em fusões e aquisições; presentes, hospitalidade, entretenimento e despesas; viagens; contribuições políticas; doações de caridade e patrocínios. Comunicação e treinamento: A empresa deve tomar as medidas necessárias para comunicar periodicamente suas políticas e procedimentos para os funcionários e, se necessário, para terceiros. Eles devem receber treinamento, esses treinamentos devem ser documentados, repetidos periodicamente e ter um currículo abrangente para transmitir as lições de Compliance de forma correta, fornecendo exemplos de casos práticos e red flags comuns. 15 Denúncias anônimas: As empresas incorporam em seus programas de Compliance mecanismo por meio do qual os funcionários e outras pessoas podem denunciar suspeitas de má conduta ou violações reais de políticas internas da empresa ou leis anticorrupção de forma confidencial e sem retaliações. Incentivos e punições: As empresas devem responder rapidamente a alegações de violações de leis anticorrupção e de suas políticas internas. As empresas devem investigar os fatos e punir os funcionários envolvidos com irregularidades, independentemente de sua posição. Ao mesmo tempo, as empresas devem incentivar os funcionários a trabalhar de acordo com os programas de Compliance. Controles internos: Os programas de Compliance devem incluir controles internos razoavelmente criados para garantir a manutenção de livros e registros precisos, assim como para garantir que os fundos da empresa não sejam utilizados para o suborno ou outros propósitos ilegais. Os tipos de políticas e os procedimentos que deverão ser implementados dependerão do tamanho, da natureza, das particularidades da empresa e sua localização geográfica. Monitoramento: As empresas devem avaliar regularmente os seus programas de Compliance para identificar as áreas que necessitam de modificação ou de reforço. O monitoramento permite às empresas determinar para onde direcionar seus esforços de Compliance. 2.4 Multiplicidade das áreas de Compliance2 Em vários países, entre eles o Brasil, legislações vêm cada vez mais consolidando responsabilidades no âmbito civil, administrativo e criminal de empresas assentadas no descumprimento de normativas que previnem riscos relacionados a sua atividade. Os programas de Compliance incorporaram-se no cenário doutrinal não apenas como uma importante ferramenta de organização para as empresas obterem êxito em sua estrutura administrativa (prevenção de fraudes, corrupção pública/privada, gestão de custos operacionais, implementação de códigos de conduta e de ética, gestão de riscos, etc.), mas também para delimitar a 2 Texto adaptado de Ricardo Breier - Atuação de advogado na área de Compliance impõe desafios 16 responsabilidade jurídica dos administradores, gerentes, executivos e demais funcionários. Atualmente, só irão sobreviver no cenário competitivo mundial as empresas que possuírem uma estrutura administrativa capaz de transmitir confiança tanto no setor público como no privado; a sua reputação, imagem e confiabilidade estão intimamente firmadas através de êxitos no controle interno, de uma profícua gestão de riscos e de um programa contínuo na área de políticas sociais (meio ambiente, consumidores, segurança do trabalho, saúde, etc.). Os programas de Compliance materializam um atuar que pode ser definido pela prática da “boa governança corporativa”, um caráter constitucional necessário na incansável luta contra o abuso de poder dentro das corporações. Em nosso cenário nacional, essa realidade projeta uma necessidade de maior qualificação dos advogados que atuam ou pretendem atuar nessa área, pois tudo está a indicar que cada vez mais serão fundamentais tanto para a elaboração como para a revisão dos programas de Compliance. Sem dúvida, essa é uma prerrogativa profissional que credita, valida e, principalmente, eleva a eficácia dos programas para as empresas. Todo advogado inicialmente deve ampliar seus conhecimentos em temas extrajurídicos (administrativo, financeiro, contábil, sistemas de auditorias e due diligence, etc.), sendo este um requisito importante para uma efetiva orientação, elaboração e identificação do melhor programa de Compliance a ser adaptado e operacionalizado no universo específico de cada empresa. Os programas de compliance, por sua natureza e expressiva peculiaridade, são dotados de alta complexidade, obrigando o advogado especializar-se não somente nas normativas nacionais (por exemplo: os regramentos do Conselho Monetário Nacional, Comissão de Valores Mobiliários e Conselho de Controle de Atividades Financeiras), como também, e na mesma proporção, dedicar-se ao estudo aprofundado de normativas legais internacionais em Compliance. Essa perspectiva amplia em muito a sua capacidade de avaliação para a organização de protocolos conectados com políticas de prevenção, compromissos dos órgãos diretivos, regras na formação de profissionais e implantação de sistemas disciplinares. Tema igualmente importante vem a ser a adaptação de normas internacionais de Compliance nas filiais de empresas situadas no Brasil, um fenômeno jurídico que a doutrina define como normas de cumprimento não harmonizadas. Essas, necessariamente, deverão ser adaptadas à realidade nacional, impondo ao advogado 17 que domine, além das normas de direito, as normas de cultura organizacional da empresa, para que assim seja propiciado mecanismos de flexibilização dentro deste contexto de culturas variadas. Outro desafio para o advogado vem a ser a análise e a gestão de riscos nas atividades empresariais. O risco se confunde com incerteza, de modo que as atividades que apresentam riscos estão referendadas por princípios de segurança e por inúmeros regulamentos técnicos. Gestão de riscos reforça a avaliação de decisões aserem tomadas pelas empresas em suas atividades e as consequências possíveis e aceitáveis destas, seja na área jurídica ou social, uma fonte importantíssima para a definição dos programas de Compliance. Pode-se citar como exemplo a área bancária, que cada vez mais vem sendo fortalecida pelo constante estímulo à criação de programas de controle interno como forma de conter riscos relacionados a fraudes (casos de corrupção e operações cambias duvidosas). Uma gestão deficiente poderá colocar em risco a imagem e gerar enormes prejuízos econômicos para empresa, além de acarretar sanções administrativas e criminais. Cabe ao advogado avaliar e interagir com os diversos segmentos empresariais para um diagnóstico sobre os riscos envolvidos em cada operação e inserir nos programas de Compliance medidas aptas a identificar e minimizar os riscos dos negócios da empresa. Não menos importante é o tema da correlação da relevância jurídico-penal do Compliance, pois com o aumento significativo das investigações na estrutura organizacional das empresas, estas servem de fonte para identificar e definir a responsabilidade individual de seus gestores quando da prática de atos ilícitos (financeiros, corrupção, farmacológicos, fraudes e etc.). No Brasil, estamos timidamente iniciando o debate no tema da responsabilidade criminal pelo não cumprimento de normas de prevenção. Temos a Lei 12.846/13, denominada Lei Anticorrupção, que poderá servir de parâmetro para uma responsabilização criminal individual. O ponto inovador da lei, para o Brasil, já que em muitos países há muito é adotado, vem a ser a obrigação das empresas na adoção de programas de compliance voltados à constituição de mecanismos e procedimentos interno de integridade, auditoria e incentivo à aplicação de códigos de conduta e de ética no âmbito da pessoa jurídica, além de responsabilizar dirigentes e administradores na medida de sua culpabilidade por atos ilícitos. 18 A taxatividade da lei, na medida de sua culpabilidade, obriga que o advogado auxilie na elaboração de um programa que determine as funções estruturais organizacionais da empresa, como forma de minimizar os problemas de déficit organizacional. Os programas de Compliance terão que identificar as formas de decisão organizativa e o papel do administrator na avaliação dos programas anticorrupção e de prevenção. Em muitos casos, pela experiência de outros países, revelou-se que um programa impreciso e amplo poderá levar a uma multiplicação de deveres e de garantias que não limitarão a responsabilidade dos diretores/administradores na gestão administrativa, oportunizando a conhecida responsabilidade genérica. Sempre haverá por parte do advogado o dever de conhecer os fundamentos, funções, poderes e consequências de decisões dos gestores da empresa, seja na forma ativa ou omissiva, bem como os limites para delegações de poderes (compliance officer). A busca por um modelo mais adequado possível de Compliance criminal deverá estar associado aos princípios e valores básicos voltados à ética corporativa, um compromisso pela prevenção de condutas ilícitas no mundo empresarial. Como visto, o advogado é a medula no marco teórico da elaboração, orientação e revisão de programas de Compliance. É um elemento crucial, dentre outros, para o seu efetivo sucesso do referido programa. 2.5 Benefícios da Compliance para as empresas O Documento Consultivo “Função de Compliance” (2009), da ABBI e FEBRABAN, afirma que a missão do Compliance é: Assegurar, em conjunto com as demais áreas, a adequação, o fortalecimento e o funcionamento do Sistema de Controles Internos da Instituição, procurando mitigar os Riscos de acordo com a complexidade de seus negócios, bem como disseminar a cultura de controles para assegurar o cumprimento de leis e regulamentos existentes. Além de atuar na orientação e conscientização à prevenção de atividades e condutas que possam ocasionar riscos à imagem da instituição. A versão preliminar do Guia Programas de Compliance, publicada em 2015 pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica – Cade, elenca os benefícios para as Empresas em virtude da adoção de Programas de Compliance, conforme abaixo: 19 1. Prevenção de riscos – a adoção de Programas de Compliance mitiga os riscos de violações das leis e suas consequências adversas, como multa, publicação da decisão condenatória em jornal de grande circulação, proibição de contratar com instituições financeiras oficiais e participar de licitação por até cinco anos, inscrição do infrator no Cadastro Nacional de Defesa do Consumidor, além de outras. Como corolário para as pessoas físicas envolvidas podemos citar a responsabilização criminal e o impedimento para exercer função de direção em outras empresas; 2. Identificação antecipada de problemas – a conscientização acerca das condutas desejadas e não toleradas pela organização, efeito dos Programas de Compliance, permite a identificação mais célere de eventuais violações à lei, possibilitando maior agilidade nas ações corretivas, favorecendo a celebração de acordos que podem resultar em substancial redução de pena e, em alguns casos, imunidade na esfera criminal para as pessoas físicas; 3. Reconhecimento de ilicitudes – a cultura de envolvimento e comprometimento implementada pelos Programas de Compliance estimula os funcionários da empresa e permite que identifiquem a prática de infrações por concorrentes, fornecedores, distribuidores ou clientes. Relacionamento com terceiros que violam a legislação pode ser bastante prejudicial para a organização. Com o fito de demonstrar a sua boa-fé, é importante agir imediatamente no caso de identificação de condutas ilícitas de terceiros com quem as trocas são intensas; 4. Benefício reputacional – ações afirmativas de incentivo à conformidade são essenciais para uma cultura de ética nos negócios, resultando em benefícios para a reputação da empresa e sua atratividade para fins promocionais, de recrutamento e de retenção de funcionários. Tendem a aumentar a satisfação e o comprometimento dos empregados no trabalho e o senso de pertencimento e identificação com o grupo. Tornam as empresas bem mais atraentes como parceiras comerciais, inspiram a confiança dos investidores, clientes e consumidores. De forma contrária, violações à lei geram questionamentos sobre a ética e o modelo de negócios da instituição. O impacto econômico decorrente do dano à reputação pode ser maior do que o resultante da pena pela infração, levando a perdas financeiras e de oportunidades de negócios; 5. Conscientização dos funcionários – os Programas de Compliance, quando bem elaborados, permitem aos funcionários realizar negócios com mais segurança e tomar decisões com mais confiança, como também os direciona a 20 procurar assistência caso identifiquem possíveis questões concorrencialmente sensíveis. O medo de violar as leis – notadamente quando envolvido risco de persecução penal – pode intimidar os funcionários e eventualmente desestimular a concorrência mais acirrada e perfeitamente legítima; 6. Redução de custos e contingências – a adoção de um Programa de Compliance tem o condão de evitar que as empresas incorram em custos com investigações, multas, publicidade negativa, interrupção das atividades, inexequibilidade dos contratos, indenizações, impedimento de acesso a recursos públicos ou de participação em licitações públicas, despesas judiciais e administrativas etc. Adicionalmente ao processo administrativo, as empresas podem responder civil e criminalmente pelo cometimento da infração, causando danos à sua reputação até antes do desfecho do processo, configurando-se em perda de clientes, oportunidades de negócios, investimentos e valor de mercado. A afetação negativa também pode abranger a carreira dos executivos, inclusive gerando impedimento parao exercício do comércio em nome próprio ou como representante de pessoa jurídica por até 05 (cinco) anos; 7. Circunstâncias atenuantes – além da diminuição do risco de imposição de multa ou do próprio valor da multa em decorrência da celebração de leniência ou outros acordos com as autoridades, a adoção de Programas efetivos de Compliance pode configurar circunstância atenuante – em reconhecimento à adoção pela empresa de medidas para prevenir violações à lei – amainando a pena mesmo em caso de condenação. Ao estar em Compliance a empresa demonstra confiabilidade, postura ética, rigidez nos controles internos, sustentabilidade dos processos, adimplência com as obrigações e efetividade na administração de eventuais conflitos. Em alinhamento com as boas práticas de gestão e com os padrões atualmente exigidos, a organização se destaca e recebe o reconhecimento do mercado, obtendo vantagem competitiva. Como sucedâneo, obtém maior valor no mercado, melhor retorno dos investimentos e suas transações são facilitadas, por meio de desconto em linhas de crédito ou de aquisição de capitais através de financiamentos públicos e privados. A implementação de Programas de Compliance é fundamental para as empresas que pretendem crescer de forma sustentável, longeva. É imprescindível para aquelas que pretendem organizar a sua estrutura societária objetivando abertura de capital, expansão para o mercado internacional ou participação na Bolsa de 21 Valores. Neste caso, as carteiras são avaliadas e medidas conforme o cumprimento às boas práticas de gestão e os analistas de valores imobiliários deixam de lado as empresas que não as adotam, desvalorizando a sua composição. 3 LEGAL COMPLIANCE: AMBIENTAL3 Fonte: ovma.com.br Recentemente, produtores de grãos e madeira precisaram regularizar suas atividades conforme a legislação ambiental. As certificações e a conformidade com normas e condutas são cada vez mais exigidas em contratos com multinacionais, assim como consideradas ferramentas de competitividade: é hora de implantar o Compliance. A expressão teve nascimento nas instituições financeiras com a criação do Banco Central Americano, em 1913. Foi criada visando incentivar um sistema mais seguro e estável, menos suscetível às naturais turbulências de mercado. Estar em conformidade (Compliance) significa dizer que a empresa cumpre toda a legislação local, além do código de conduta interno. No Brasil, o Compliance na governança corporativa tem sido mais utilizado na captação de recursos, sucessão, fusões ou aquisições. Mesmo assim, é crescente o número de empresas que trata o assunto como estratégia. Compliance é o conjunto de disciplinas e métodos voltados 3 Texto adaptado de Cristiano de Souza Lima Pacheco - Compliance Ambiental: Antecipe o problema 22 ao cumprimento de normas legais e regulamentações. Tais mecanismos buscam detectar, evitar e tratar qualquer desvio ou inconformidade, inclusive para além da corporação, na relação contratual com terceiros e parceiros de negócios. Daí surge a relevância do Compliance, do ponto de vista ambiental. Para cada segmento produtivo há dezenas de leis ambientais aplicáveis, diferentes entre si. Alguns exigem a interpretação de muitas portarias e resoluções. Outros, além da licença, a outorga da União ou anuência de agências reguladoras. Nessa colcha-de-retalhos de leis, portarias, normas e obrigações, torna-se cada vez mais difícil para as empresas controlar toda a cadeia de produção. Na contramão do setor do varejo, por exemplo, existem dois fatores particularmente desafiadores no Brasil: o primeiro é um número cada vez maior de consumidores bem instruídos e conscientes de seus direitos, os chamados consumidores-cidadãos, que buscam informação clara sobre os produtos, como a origem e qualidade. O segundo é o próprio art. 6o do Código de Defesa do Consumidor, pois ele garante que dados completos são direitos básicos dos clientes. Se ocorrem danos ambientais na cadeia produtiva, surge outra enorme preocupação: o zelo pela marca empresarial. Ela representa o maior ativo de boa parte das corporações com capital aberto, especialmente aquelas voltadas ao consumo de massa com forte apelo na mídia. Nestes casos, as ferramentas de Compliance como estratégia de prevenção farão toda a diferença, tanto para evitar quanto para gerir crises e possíveis prejuízos. O objetivo é possibilitar que a empresa se antecipe, identificando em tempo as fragilidades. Avaliar lacunas respectivas ao meio ambiente e legislação, passivos, fraudes e riscos, contornando-os e planejar a minimização de impactos financeiros e institucionais. O Compliance na gestão ambiental das empresas é também um importante instrumento de adequação em uma nova era da competitividade, diante de um mercado cada vez mais acirrado e exigente. Conhecer de perto o verdadeiro tamanho do problema, ou antecipar-se frente a ele, aumenta em muito as chances de adotar estratégias acertadas para a prevenção de danos ambientais e a resolução mais imediata de crises. Atualmente, no Brasil, duas normas receberam atenção especial: 1˚) – A Resolução nº 4.327, de 25 de abril de 2014, do Banco Central do Brasil; 2˚) – O Normativo SARB n˚14, de agosto de 2014, do Sistema de Autorregulação Bancária da Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN). 23 A Resolução nº 4.327/2014 instituiu a Política de Responsabilidade Socioambiental (PRSA). Com a intenção de assegurar os modelos tradicionais das diretrizes e daquilo que era um objetivo das PRSAs falando sobre a implementação pelas instituições financeiras e outras instituições autorizadas, as obrigaram a realizar uma organização gerenciando, mesmo que correndo risco socioambiental, e colocando em pauta os critérios e ferramentas específicas para avaliação das margens de erros e riscos quando a realização de operações que são relacionadas a atividades econômicas de grande potencial de causar danos socioambientais. Já o Normativo SARB n˙14/14, posterior, especificou detalhadamente os critérios e meios usados ao serem observados realizando avaliações e gestão dos riscos socioambientais dos projetos que estavam sendo e serão financiados. Operações consideradas significativas quanto à exposição a riscos socioambientais passarão por avaliações que verificarão, com ajuda de análises de licenças ambientas, os Certificados de Qualidade em Biossegurança, que são emitidos pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), apontaram a referida norma. Existem normas, como as citadas anteriormente, que tem natureza estritamente autor regulatória destinadas a instituições financeiras onde conferem maior segurança ao empresariado quanto a quem será utilizado para obter os financiamentos, produtos e serviços, sendo de forma bem indireta a maneira com que estimulam a criação e aprimoramento de processos e procedimentos de Compliance ambiental, visando empresas e impulsionando a consolidação da sustentabilidade como elemento indissociável das atividades de empresas do país. Para atendimento dessa nova realidade, as empresas precisaram planejar suas ações, com foco à valorização da prevenção de riscos em diversas áreas, tais como ambiental, tributária, trabalhista, cível, administrativa e penal, atentando-se às leis vigentes, a fim de resguardar sua imagem e patrimônio, especialmente em face do aparelhamento dos órgãos de fiscalização e controle do poder público, bem como pelo “empoderamento” da sociedade decorrente da difusão de conteúdo por meio das mídias sociais, impactando decisivamente na decisão dos gestores, notadamente por meio da produção de bens de consumo que atendam aos anseios éticos, morais, sociais do consumidor moderno. Por outro lado, muito embora estejamos em pleno século XXI, ainda existem empresas que não consideramtais questões importantes, fato é que tal realidade vem 24 sendo paulatinamente transformada. Diante do domínio do mercado globalizado, o esgotamento dos recursos naturais e o desenvolvimento sustentável, a sociedade tem despertado seu interesse por empresas que executam suas atividades em harmonia com a Natureza e práticas éticas, morais vigentes. A pessoa jurídica que não adotar uma postura preventiva e cuidadosa em relação às questões ambientais dificilmente conseguirá sobreviver em meio ao mercado de consumo tão exigente e interconectado. Isso porque, tal mercado, ao mesmo tempo em que esgota os recursos naturais, demonstra o interesse em preservá-lo, em que pese a aparente contradição. A existência de uma farta legislação protetiva do meio ambiente em nosso país, especialmente com caráter simbólico, obrigando as empresas à sua constante observância e adequação de seus métodos e tecnologia, à luz da máxima proteção do meio ambiente possível. O direito ao meio ambiente pode ser caracterizado como sendo de 3ª ou 5ª Geração dependendo-se da corrente a ser seguida. Podemos adotar a corrente que entende ser o meio ambiente direitos de terceira geração dentre eles, direito ao desenvolvimento ou progresso, ao meio ambiente, à autodeterminação dos povos, direito de comunicação, de propriedade sobre o patrimônio comum da humanidade e direito à paz, cuidando-se de direitos transindividuais, sendo em geral difusos, o que é uma peculiaridade, uma vez que não são concebidos para a proteção do homem isoladamente, mas de coletividades, de grupos. Tratando-se, portanto de direitos de natureza difusa ou coletiva, as organizações que por ventura descumpram normas atinentes ao meio ambiente ficam diretamente vulneráveis a sofrerem ações civis públicas criadas originalmente pela lei 7.347/85. Sendo extenso o rol de legitimados a promover tais ações pode-se impactar seriamente na reputação da empresa, além de gerar incomensuráveis prejuízos financeiros. A legitimidade ativa para propositura desta ação é dada pelo art. 5º da LACP e pelo art. 82 do CDC. São legitimados: a) o Ministério Público; b) a Defensoria Pública; c) a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal; d) as autarquias, as empresas públicas, as fundações (públicas e privadas) e as sociedades de economia mista; 25 e) as associações civis constituídas há pelo menos um ano que tenham finalidades institucionais compatíveis com o interesse que se vise a defender; f) as entidades e os órgãos de administração pública, direta ou indireta, ainda que sem personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos protegidos pelo Código de Defesa do Consumidor. Além destes legitimados, também poderão propor a ação civil pública os sindicatos (art. 8º, III, CF) e as comunidades indígenas (art. 232, CF). Muito embora as regras básicas de implementação de um programa de Compliance tenham sido criadas para o setor financeiro, suas regras, princípios e métodos, poderão ser transportados diretamente para instituições atuantes e outras áreas inclusive ligadas ao meio ambiente, tais como mineradoras, empresas ligadas ao agronegócio. Todavia, cada uma delas deverá aplicá-las de acordo com sua área e local de atuação, em consonância com os objetivos corporativos e sociais, haja vista que a sociedade empresária tem uma função social, observando-se e complexidade das suas operações. Há que se ressaltar que o surgimento do Compliance guarda relação direta com a prevenção de crimes praticados por empresas, isso porque inicialmente as organizações assistirem seus gestores imbricados em processos criminais de toda ordem, especialmente com acusações de crimes econômicos. O Brasil, ao instituir a responsabilização criminal das pessoas jurídicas na Lei Ambiental (Lei nº 9.605/98), deixou de prever hipóteses de redução ou exclusão de responsabilidade corporativa, caso medidas internas de prevenção fossem adotadas segundo programas sérios de atuação ética preventiva. Desta forma, a organização fica exposta ao rigor direito da norma jurídica violada, não obstante as inexistências dessas regras minorastes de responsabilidade. Há que se registrar a existência de princípios jurídicos de aplicação da lei em que o julgador, não poderá furtar-se à sua observância. Tais princípios proporcionalidade e razoabilidade são previstos na constituição federal e podem invocados pela organização. Extraído do excelente artigo Informativo Jurídico da Biblioteca Ministro Oscar Saraiva, v. 19, n. 1, jan./jun. 2008: A responsabilidade civil no Direito Ambiental, diferentemente da responsabilidade do Direito Civil, não visa à satisfação de um particular, mas de grupos indeterminados de pessoas que dependem das condições naturais para sobrevivência. Isso sempre deve ser levado em consideração na 26 responsabilização do poluidor. Trata-se de direito público, com caráter notadamente coletivo. Aplicar indenização pecuniária como forma de responsabilizar aquele que provocou o dano ambiental deve ser meio subsidiário de responsabilização. A forma primeira deve ser a recuperação do meio ambiente e só na impossibilidade desta reparação deve o agente indenizar a coletividade. A responsabilidade civil por dano ambiental, como se extrai do art. 14, § 1º, da Lei nº 6.938/81, é objetiva, isto é, não há que se provar culpa. Para sua caracterização há que comprovar somente o evento danoso, a conduta lesiva e o nexo causal entre o dano e a conduta do poluidor. A pessoa jurídica, portanto, deve perseguir, por meio da implantação de um sólido programa de Compliance, a prevenção de riscos por meio da adoção de um contínuo programa de proteção da empresa e seus gestores da responsabilização penal ou a redução dos riscos e sansões através da detecção prévia de ilícitos. 4 LEGAL COMPLIANCE: DESPORTIVO Fonte: www.lecnews.com A alta competitividade do mercado demanda uma forte imagem das empresas e instituições. No esporte, temos inúmeros exemplos de competitividade empresarial. 27 Nesse contexto, a função de Compliance tem protegido, agregado valor e aprimorado a gestão dos riscos nas instituições dos mais diferentes setores. No mundo desportivo, marcado por escândalos financeiros, lavagem de dinheiro, corrupção e prisões de dirigentes, instaurar e manter programas de Compliance eficientes são medidas necessárias e cada vez mais urgentes. A Lei nº 9.615/98, comumente denominada Lei Pelé, em apenas 18 anos de existência, teve quase 80 % dos seus artigos modificados ou revogados por 9 leis (uma cada dois anos em média) que a descaracterizaram totalmente e dela fizeram uma autêntica colcha de retalhos. Boa parte dessas mudanças teve por objeto a forma de administração das entidades desportivas, envolvidas em esquemas de corrupção, gestão temerária, sonegação fiscal dentre outras irregularidades, que só fizeram com que o esporte brasileiro continuasse patinando sem resultados que demonstrassem a força e a grandeza de nosso país. Mas a maioria esmagadora dessas normas da Lei Pelé tem se mostrado ineficaz e a pergunta que se faz é: Porque um número enorme de regras que prega a governança corporativa nos clubes e federações não se mostrou eficaz? A resposta é simples: por falta de fiscalização. E essa carência de controle é uma decorrência de um erro de interpretação do art. 217 da Constituição federal, em que muitos alardeiam que a autonomia constitucional das entidades desportivas impede a fiscalização do Estado. E isso faz lembrar as origens da democracia, cuja primeira manifestação se deu no ano 450 antes de cristo em Esparta, em que aprovação ou não das leis se dava pela quantidade de barulho que cada um dos lados, do “sim” ou do “não”, fizesse. Parece que o mesmo ocorreu em relação ao art. 217 da Constituição Federal, pois o fato das entidadesterem autonomia não significa que não tenham que se adequar a princípios e direitos fundamentais fixados pelo Estado, muito embora os adeptos do “não” tenham bastante força perante a mídia e poderes públicos para dizer o contrário. Entretanto, basta ver que outras entidades gozam expressamente de autonomia no texto constitucional e nem por isso deixam de se submeter ao controle e vigilância do Estado. As universidades, por exemplo, gozam expressamente de autonomia didático- científica na forma do art. 207 da Constituição, mas nem por isso, deixam de estar 28 sujeitas à cassação da autorização de seu funcionamento em caso de avaliação governamental insatisfatória sobre sua atuação. Os partidos políticos, por sua vez, também foram contemplados pelo texto constitucional com artigo semelhante ao que fora dedicado às entidades desportivas, precisamente no art. 17, parágrafo primeiro, que vai dizer que é assegurado aos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura, organização e funcionamento. Mas também os partidos estão sujeitos a terem o cancelamento do registro, caso tenham recebido recursos do exterior ou não tenham prestado contas à Justiça Eleitoral. O mesmo ocorre com as instituições financeiras que podem sofrer intervenção do banco central em determinadas situações e etc. Destaque-se a propósito, que recentemente o STF, numa ação direta de inconstitucionalidade proposta contra o Estatuto do Torcedor, decidiu de forma unânime o seguinte: sendo o esporte um direito do cidadão, a autonomia das entidades desportivas é mero instrumento para concretização deste bem jurídico protegido no ordenamento jurídico: o direito ao esporte digno e legítimo e que “nenhum direito, garantia ou prerrogativa ostenta caráter absoluto…”. E estamos coincidentemente vivendo um momento muito peculiar, em que o mundo do esporte está em verdadeira ebulição com tantos escândalos de corrupção, com destaque para o escândalo da FIFA, com pelo menos três presidentes de confederações continentais envolvidos, inúmeros presidentes de confederações nacionais presos e indiciados, dentre outros. Por outro lado, presenciamos o maior escândalo de corrupção por doping na Federação Internacional de Atletismo, em que testes positivos de atletas russos foram ocultados e que envolveram dirigentes e políticos do alto escalão do governo russo. E agora mais recentemente a denúncia de manipulação de resultados no tênis mundial, em que tenistas top estariam perdendo de propósito suas partidas para beneficiar grupos de apostadores. O esporte pode ser uma força benéfica, infelizmente, por vezes a corrupção não permite que o esporte atinja plenamente o seu potencial de beneficiar os indivíduos e sociedades. A corrupção esportiva pode ser dividida em corrupção nas competições e corrupção da gestão. 29 Entre os exemplos de corrupção da gestão, temos o suborno e a manipulação de eleições. Nos casos mais graves, a corrupção da gestão constitui infração penal a ser resolvida pelos órgãos de execução da lei. As formas mais proeminentes de corrupção nas competições são: O doping; A manipulação de partidas, que inclui resultados previamente combinados, alterações no decorrer das partidas e as atividades relacionadas, seja para fins de ganhos financeiros através de jogos de azar ou por razões esportivas (ex.: para evitar o rebaixamento). Doping (drogas e doping nos esportes) - As violações de regras que a Agência Mundial Antidoping (WADA) define podem ser resumidas como: Presença de substâncias proibidas numa amostra de sangue ou urina do atleta; Uso de substâncias ou métodos proibidos; Evasão de um teste antidoping; Posse ou manejo de substâncias ou métodos proibidos; Auxílio a outros numa violação antidoping ou associação a uma pessoa que tenha violado o código antidoping. Manipulação de partidas (resultados combinados e corrupção em apostas e jogos de azar no esporte) - A Convenção do Conselho da Europa sobre a Manipulação de Competições Esportivas (2014) define a manipulação de competições esportivas como: Um arranjo, ato ou omissão intencionais destinados a uma alteração imprópria do resultado ou do curso de uma competição esportiva, a fim de remover, ao todo ou em parte, a natureza imprevisível da referida competição esportiva, tendo em vista obter uma vantagem indevida para si mesmo ou para outros. A definição engloba, portanto, esforços para alterar o curso de um evento (lances combinados), bem como o resultado geral. Estão incluídas as partidas com resultados combinados tanto por razões esportivas quanto para ganhos financeiros. O status da manipulação de partidas perante a lei é uma questão complexa e varia de acordo com o país. Em uma escala de padrões de governança, a corrupção da gestão reside numa das extremidades, com os casos de melhores práticas na outra ponta. 30 O influente Cadbury Report on Corporate Governance (1992) definiu governança como “o sistema pelo qual as companhias são dirigidas e controladas”. Em 2013, o Grupo de Especialistas em Boa Governança da União Europeia produziu sua própria versão dos Princípios da boa governança no esporte (Principles of good governance in sport), a qual inclui esta definição: A estrutura e a cultura dentro das quais um organismo esportivo define suas políticas, seus objetivos estratégicos, envolve-se com as partes interessadas, monitora o desempenho, avalia e gerencia o risco e relata suas atividades e seu progresso aos constituintes, incluindo o fornecimento de regulamentações e políticas esportivas efetivas, sustentáveis e proporcionais. Em 1999, a AMA foi instituída como uma agência internacional independente, composta e financiada igualmente pelo movimento esportivo e pelos governos. Suas atividades-chave incluem pesquisas científicas, educação, o desenvolvimento de competências antidoping e a fiscalização do Código Mundial Antidoping – o documento que harmoniza as políticas antidoping em todos os esportes e todos os países. O Código Mundial Antidoping é obrigatório para o Movimento Olímpico. Além disso, muitos esportes não olímpicos também adotaram o Código. Inúmeras organizações esportivas a nível internacional e nacional são responsáveis por realizar iniciativas antidoping, inclusive programas de testes e educação. O Código Mundial Antidoping estabelece as sanções para violações de normas. Existe a possibilidade de uma suspensão de 1 ano, 2 anos, 4 anos ou até para sempre, dependendo das circunstâncias. Existe agora a possibilidade de redução do período de suspensão caso o indivíduo forneça auxílio substancial em relação a transgressões por parte de outros. O histórico dos resultados de um atleta num determinado período pode ser anulado e sanções financeiras podem também ser impostas. Há uma corrida interminável contra aqueles que desejam ajudar os atletas a trapacearem através da exploração dos avanços da medicina e dos testes de drogas. A AMA e outras entidades conduzem pesquisas a fim de aprimorar os procedimentos de testes para as substâncias, sejam novas ou já existentes, consideradas melhoradoras do rendimento esportivo. O foco atual no combate à ameaça dos resultados combinados data do início da década de 2000. Entre as respostas por parte do movimento esportivo, tive-se o 31 Early Warning System (2007), uma companhia criada pela FIFA para fiscalizar as apostas em seus torneios. O COI tem agora seu próprio Integrity Betting Intelligence System (IBIS), o qual tem um propósito similar. Vários esportes a nível internacional e nacional criaram suas próprias equipes de integridade, como a Tennis Integrity Unit (2008), que recebeu a tarefa de combater a corrupção ligada aos jogos de azar. A ameaça da manipulação de partidas foi também reconhecida pelos governos e instituições internacionais. No Reino Unido, o SportsBetting Group reúne representantes de todos os esportes para oferecer liderança e enfrentar os riscos da corrupção das apostas esportivas, incluindo através de um Código de Conduta para os órgãos governantes. Recentemente em 2014, a Convenção do Conselho da Europa sobre a Manipulação de Competições Esportivas (2014) definiu medidas detalhadas a serem implementadas pelos estados-membro em território europeu e também, potencialmente, para além dele. Em 2015, o COI adotou o Olympic Movement Code on the Prevention of the Manipulation of Competitions. O objetivo do Código é definir e uniformizar as normas, procedimentos disciplinares e sanções com relação à manipulação de jogos. Uma pequena indústria de consultores em corrupção esportiva e organizações sem fins lucrativos está se desenvolvendo para prestar serviços aos organismos esportivos a fim de ajudá-los a reduzir o risco de manipulação nas partidas. Tem-se reconhecido, também, que o formato das competições esportivas deve ser ajustado para assegurar que estas não incentivem involuntariamente a manipulação de partidas. A governança esportiva começou a ser alvo de exames minuciosos como um tópico independente na década de 1990, após os trabalhos de acadêmicos, jornalistas investigativos e campanhas de organizações como a Play the Game. Entre as várias recomendações relacionadas à governança na iniciativa da Agenda de 2020 do COI, há um requisito específico de que as organizações pertencentes ao Movimento Olímpico devem aceitar e cumprir os Princípios Universais Básicos da Boa Governança do Movimento Olímpico e Esportivo. A Association of Summer Olympic International Federations (ASOIF) tem subsequentemente desenvolvido uma ferramenta de análise de governança para Federações Internacionais. 32 Algumas organizações individuais de esporte têm embarcado em processos de reforma de governança, geralmente depois de enfrentar uma crise. Entretanto, o ritmo de progresso no setor de esportes em geral é lento. Adicionalmente aos vários códigos de boa governança que têm sido publicados, governos e órgãos regulatórios em muitos países têm colocado em ação padrões de governança para corporações esportivas, para alcançar a condição de financiamento público. A União Europeia tem sido ativa na área da governança esportiva. Além de definir o Expert Group referenciado acima, a UE tem elaborado uma série de projetos relacionados à governança. O Conselho Europeu também está cada vez mais ativo neste domínio. Um encontro de ministros de esportes em novembro de 2016 pediu mais cooperação entre organizações governamentais e acionistas de esportes. A corrupção refreia o esporte e ameaça o seu bem-estar financeiro. Implementar programas antidoping e de melhores práticas é um processo necessariamente complexo e dispendioso, exigindo as mais recentes tecnologias em testes médicos, uma logística sofisticada, rigorosos processos legais e a vontade política de penalizar aqueles que forem descobertos infringindo o Código. Algumas prioridades atuais dos programas antidoping: A qualidade é mais importante que a quantidade – concentrar os recursos onde provavelmente terão o maior efeito. Coleta de informações como complemento aos testes – vários dos mais proeminentes casos de doping foram revelados por delatores, em vez de testes antidoping. Respeitar os direitos dos atletas – ao passo que os atletas devem aceitar submeter-se aos testes antidoping a fim de competir, a regulamentação dos testes deve ser proporcional e efetiva, respeitando os direitos dos atletas. Financiamento necessário – tanto os governos quanto os patrocinadores responsáveis têm o dever de pagar para proteger o esporte limpo do qual esperam beneficiar-se. Independência – frequentemente, órgãos esportivos nacionais ou internacionais, e até mesmo os governos, têm parecidos dispostos a 33 sancionar suas próprias estrelas. Testes e sanções devem ser conduzidos de forma independente dos órgãos esportivos. Testagem de amostras históricas – as amostras obtidas dentro e fora das competições devem ser congeladas para novos testes vários anos depois, quando a ciência poderá ter evoluído. Prestação de contas mais clara – as responsabilidades dos vários interventores internacionais e nacionais no antidoping não são claras. Se os “beneficiários” finais do regime antidoping são identificados – atletas, o público em geral e/ou um outro grupo – então o plano institucional do regime antidoping pode levá-los totalmente em conta. Embora a questão dos resultados combinados seja reconhecida por todo o movimento esportivo e novos programas educacionais e outras medidas estejam em vigor, a resposta limitada em muitos dos casos sugere que a gravidade desse risco nem sempre é devidamente avaliada. Algumas das prioridades atuais no combate à manipulação de partidas: É preciso mais cooperação internacional e compartilhamento de informações entre os governos, órgãos de execução da lei, organismos esportivos e a indústria dos jogos de azar. Uma boa governança geral é um componente importante na luta contra os resultados combinados, tanto aqueles relacionados aos jogos de azar quanto os incidentes motivados por objetivos esportivos. O monitoramento está presente agora na maioria das grandes ligas e esportes para verificar por padrões de apostas suspeitos. Ele deve continuar e evoluir. O status da corrupção esportiva perante a lei varia consideravelmente entre um mercado e outro, dificultando a instauração de processos. A meta definitiva deve ser a harmonização das legislações. A indústria dos jogos de azar deverá pagar por uma parte significativa dos custos do combate aos resultados combinados. 34 5 LEGAL COMPLIANCE: FISCAL E TRIBUTÁRIO Fonte: www.advadrienemiranda.com.br Diante do complexo cenário tributário brasileiro, a prioridade para a gestão de qualquer negócio deve ser o pagamento correto dos tributos, além da apresentação de informações corretas ao fisco, de modo que não tragam riscos de fiscalização ou prejuízos financeiros para a empresa. Ou seja, cresce a cada dia mais a importância do um Compliance Fiscal na realidade das empresas brasileiras ou multinacionais que atuam em território nacional para que as mesmas tenham a segurança financeira e não fiquem na mira do fisco. Como sabemos, sob o ponto de vista de tributos e fiscalização, o Brasil é um dos países que apresentam maior complexidade. Temos mais de 90 tributos e pelo menos 150 obrigações acessórias. Uma estimativa estabelece que, todos os dias são publicados mais de 50 atos legais referentes à legislação tributária, gerando uma série de regras e procedimentos impossíveis de serem administradas pelo gestor de qualquer empresa. Diante desse quadro, muito mais do que apenas o peso dos impostos, é importante o processo referente à apuração, ao cálculo e ao pagamento dos impostos e contribuições, exigindo o envolvimento de profissionais capacitados, implantação de 35 sistemas e constante atualização dos departamentos responsáveis. Uma empresa que não entenda a importância do Compliance fiscal corre sérios riscos quanto a sua sobrevivência. A média mundial para cuidar de todo o processo de apuração e pagamento de impostos é de 260 horas anuais. No Brasil, esse número é multiplicado por 10, ou seja, são pelo menos 2.600 horas por ano. As áreas de consultoria e de apuração tributária, diante disso, tornam-se estratégicas para qualquer empresa, com a necessidade de contribuir para a redução de custos, reduzindo os riscos quanto a possíveis descumprimentos de obrigações tributárias, procurando melhor favorecer a posição empresarial diante do mercado. As empresas brasileiras ainda possuem uma série de desafios internos para resolver todos os problemas em busca da melhoria da gestão tributária em seuramo de atividade, precisando de sistemas adequados para acompanhar as constantes mudanças na legislação e as alterações operacionais/administrativas promovidas por elas. No entanto, quando se trata de programas de Compliance Fiscal, ainda há pouco envolvimento por parte dos administradores, uma situação que, aos poucos, tende a ser alterada diante da necessidade de implementação de programas que tragam a conformidade para os procedimentos internos. É importante ressaltar, no entanto, que muitas companhias têm mudado seu ponto de vista, percebendo os benefícios que o Compliance Fiscal pode trazer para a organização, principalmente diante da necessidade de aplicar procedimentos que possam gerar redução de custos e transformar problemas em oportunidades. A legislação contábil e fiscal produz diversos impactos sobre as empresas e, diante disso, a importância do Compliance Fiscal se torna ainda maior. Um levantamento realizado por analistas tributários aponta mais de 300 mil novas leis desde a promulgação da Constituição de 1988, somente com relação a tributos. Acrescido a esse número, já foram editadas mais de 3 milhões de normas, seja pela Receita Federal, seja pelas Secretarias da Fazenda dos Estados e Municípios. Essa enormidade de regras, normas e leis exige que as empresas mantenham processos administrativos rigidamente controlados e gerenciados, evitando que qualquer informação deixe de ser declarada. Assim, o Compliance Fiscal torna-se cada vez mais relevante, gerando procedimentos para a empresa para manter sua conformidade diante do fisco. 36 O Compliance Fiscal tem como objetivo oferecer modelos eficientes para a gestão tributária. A única forma de evitar qualquer tipo de complicação fiscal ou penal diante do fisco, é adotar um sistema de gestão de Compliance Fiscal, permitindo garantir maior vantagem competitiva de mercado e gerar condições de sustentabilidade para a organização. A empresa deve contar com um sistema de gestão eficiente, integrando todos os processos e informações de forma automatizada, informatizada, atendendo as normas e movimentações promovidas pelas áreas de vendas, de compras, de custos, de estoques, de patrimônio e do departamento de pessoal, sempre com vistas a atender a todas as obrigações acessórias em que a empresa estiver enquadrada. Para isso, evidentemente, a empresa deve buscar o auxílio de profissionais especializados na área de Compliance Fiscal, principalmente porque, diante de qualquer falha ou equívoco, por menor que seja, a empresa pode ter sua integridade financeira comprometida, seja no campo fiscal ou até mesmo penal. Desde 2014 tem-se em vigor uma nova Lei Anticorrupção Empresarial, estabelecendo que as empresas, fundações e associações passam a ter responsabilidade civil e administrativa sempre que qualquer profissional ou representante da empresa gerar prejuízos ao patrimônio público, ou se infringir princípios da administração pública ou compromissos internacionais assumidos pelo Brasil. Um dos fatores mais importantes a ser observado nessa nova legislação é a denominada responsabilidade objetiva, não havendo a necessidade de comprovação de dolo ou culpa para que as sanções sejam aplicadas de acordo com os termos da lei. Com essa nova legislação, quando qualquer pessoa ligada à empresa, seja um empregado, um agente da cadeia de fornecedores ou um parceiro da empresa tenha envolvimento com qualquer atividade de corrupção ou de lavagem de dinheiro, a empresa pode ser responsabilizada, mesmo que não tenha participação ou conhecimento no evento. No mercado brasileiro, as empresas que não se adaptarem e não implantarem um sistema de Compliance Fiscal não conseguirão se manter, ou seja, devem se adaptar para sua própria sobrevivência. É evidente que há necessidade de cumprimento da nova legislação e das regras tributárias, o que exige o estabelecimento de procedimentos internos e 37 externos, tornando as empresas mais confiantes em suas atividades e garantindo que não haja qualquer tipo de equívoco diante do fisco. Não apenas com relação à lei anticorrupção, mas também diante da complexa legislação tributária, a importância do Compliance Fiscal torna-se cada vez mais evidente, pois se trata de uma necessidade básica para que possa haver a adequação à legislação e às normas de mercado. A adoção de um programa de Compliance Fiscal para a criação de diretrizes de conduta, de controles internos e de procedimentos é essencial para a empresa e para a sua rede de relacionamentos. Um programa eficiente de Compliance Fiscal é o que irá permitir a comunicação e o controle de normas e boas práticas para a empresa em todas as suas camadas, tanto interna quanto externamente. Muitos empresários e empreendedores detém a ilusão de que a sonegação de tributos seria a melhor forma para se tornarem competitivos no mercado e obter uma enorme economia tributária. Por óbvio, esta não é a melhor opção, visto que a sonegação fiscal no Brasil é considerada crime, conforme art. 1º da Lei 4.729/1965. Sendo assim, cabe aos empresários e empreendedores buscarem um planejamento tributário lícito que lhes diminua a carga tributária sofrida para obter uma maior competitividade no mercado. O Planejamento Tributário nas empresas deve ser realizado por um profissional especializado na área, de modo que, além de realizar o referido planejamento, introduza a este o programa do Compliance. O Planejamento Tributário lícito, consiste na adoção de procedimentos permitidos pelo ordenamento jurídico que tem como propósito incorrer numa menor carga tributária. Já o Compliance é o dever de cumprir e estar em conformidade com diretrizes estabelecidas na legislação, normas e procedimentos determinados, interna ou externamente, para uma empresa, de forma a mitigar riscos relacionados a sua reputação e aspectos regulatórios a sua aplicação está intrínseca à realização de um Planejamento Tributário efetivo. Somente desta forma o empresário poderá mitigar os riscos (econômicos e jurídicos) relacionados ao planejamento que se pretende realizar, assim como, verificar se o mesmo se enquadra dentro dos ditames legais. No mundo empresarial e jurídico pouco se escuta falar em Compliance Tributário. Os empresários e empreendedores, assim como estudiosos do direito, 38 carecem de tal conhecimento. Por consequência, realizam um planejamento tributário perfeito no papel, mas em total desconformidade com a lei (planejamento tributário evasivo), o que comumente ocasiona processos judiciais de responsabilização criminal dos sócios, execuções fiscais, penhora de bens e queda na visibilidade externa da entidade, resultando, na maioria das vezes, em falência das empresas. Os reflexos da aplicação do programa de Compliance Tributário aos Planejamentos Tributários realizados para as empresas trarão a estas maiores transparências, alta produtividade, redução de pagamento de tributos, vantagens competitivas e visibilidade externa favorável (de modo a receber um maior número de investidores). A Lei de nº 12.846/2013 e o Decreto nº 8.420/2015, versam sobre a responsabilização objetiva (sem necessidade de comprovação de culpa) administrativa de pessoas jurídicas pela prática de atos contra a administração pública, nacional ou estrangeira. O art. 5º, inciso III, da referida Lei, estabelece que incorre em ato lesivo à administração pública aquelas pessoas jurídicas que se utilizarem de interposta pessoa física ou jurídica para ocultar ou dissimular seus reais interesses ou a identidade dos beneficiários dos atos praticados. Ou seja, a pessoa jurídica que fraudar livros contáveis e utilizar-se de atos jurídicos dissimulados (além de incorrer na Lei 8.137/90 – a qual discrimina os crimes contra a ordem tributária) sofrerá a instauração de um processo administrativo, podendo ser sancionada
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