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ASPECTOS COMPORTAMENTAIS DA GESTÃO DE PESSOAS Isabel Stepanski Maria Eugênia Costa 2010 IESDE Brasil S.A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br Todos os direitos reservados. © 2010 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais. Capa: IESDE Brasil S.A. Imagem da capa: IESDE Brasil S.A. S827a Stepanski, Isabel. Costa, Maria Eugênia. / Aspectos Comportamentais da Gestão de Pessoas. / Isabel Stepanski; Maria Eugênia Costa — Curitiba : IESDE Brasil S.A. , 2010. 260 p. ISBN: 978-85-387-1035-6 1. Gestão de pessoas. 2. Administração de Conflitos. 3. Comportamento Hu- mano. 4. Cultura Organizacional. I. Título. CDD 658.3 Possui MBA em Gestão do Conhecimento e Inteli- gência Empresarial pela COPPE/UFRJ. Pós-gradu- ada em Psicopedagogia. Psicóloga. Graduada em Comunicação Social – Publicidade e Propaganda. Foi coordenadora de Eventos Especiais e da Rede de Teleconferências da Escola de Administração Fazendária (ESAF) do Ministério da Fazenda. Há mais de 15 anos tem atuado com capacitação e consultoria na área de Desenvolvimento Humano em organizações públicas e privadas. Professora da Fundação Getulio Vargas, em Brasília (FGV/ Brasília). Facilitadora e consultora do Sebrae. Di- retora Executiva do Instituto de Soluções Empre- sariais e Resultados (ISER). Coach. Está cursando pós-graduação em Jogos Cooperativos pela Uni- monte e Dinâmica de Grupos pela Sociedade Bra- sileira de Dinâmica de Grupos. Isabel Stepanski Doutora e Mestre em Educação nos EUA. Consul- tora na área de comportamento organizacional envolvendo desenvolvimento de equipes, criati- vidade e desenvolvimento gerencial. Foi chefe de departamento de Recursos Humanos do Serpro. Diretora de Educação da ESAF – Ministério da Fazenda. Professora da Fundação Getulio Vargas (FGV) nos cursos de Marketing, RH, Qualidade e Gestão da Informação. Credenciada pela Will Schutz Associates para uso da metodologia The Human Element. Foi diretora nacional do Projeto da União Europeia junto à GTZ para cursos de es- pecialização, consultoria europeia, criação de um centro de documentação e coordenação de Se- minários. Sócia-gerente da consultoria Questão Essencial. Consultora ad hoc do BID e do Banco Mundial. Coach de grupos e executivos tanto na área pública como privada. Possui Certificação Internacional, pela Newfield, para atuar como coach. Publicou trabalhos nas áreas de grupo focal e desenvolvimento de equipes. Maria Eugênia Costa su m ár io su m ár io su m ár io su m ár io su m ár io su m ár io su m ár io A dimensão humana nas organizações 11 13 | O comportamento organizacional 14 | Comportamento humano e comportamento organizacional 16 | A ética nas organizações 21 | Contribuições de disciplinas nos estudos do comportamento organizacional 22 | Modelos organizacionais e comportamentos O indivíduo 31 32 | Fundamentos do comportamento individual 39 | Plano de desenvolvimento – pessoal e profissional O indivíduo na organização 47 47 | Percepção e diferenças individuais 50 | Modelo do observador e a tomada de decisão 52 | Domínios primários do observador 58 | Cultura organizacional 59 | Valores 61 | Atitudes e satisfação no trabalho 63 | Conclusão Equipes 73 73 | Grupos e equipes 78 | Fundamentos do comportamento de equipe Produtividade nas equipes 91 91 | Papéis e atribuições 95 | Equipes de alto desempenho 98 | Como implementar equipes de alto desempenho 99 | Aspectos contemporâneos da administração de equipes Comunicação 113 114 | Elementos do processo de comunicação 115 | Fundamentos da comunicação 121 | Fatores críticos 122 | A importância do feedback Liderança 131 131 | Diferentes abordagens 132 | Liderança e gestão 135 | Abordagens sobre gestão 138 | Estilos de liderança Liderança e poder 151 152 | Poder, autoridade e responsabilidade 158 | Competências e desenvolvimento da liderança na gestão pública 161 | O líder conectivo Negociação 169 169 | Globalização e negociação 177 | Inteligências emocional e social 180 | Estilos de negociação Conflito 197 199 | Abordagens 201 | O processo do conflito 205 | Alinhamento organizacional – interesses individuais e coletivos su m ár io su m ár io su m ár io su m ár io su m ár io su m ár io su m ár io O significado no mundo organizacional 215 216 | Cultura 220 | Clima e ambiência 225 | Comprometimento profissional 227 | Comprometimento organizacional e motivação Motivação 239 239 | Introdução 240 | Teorias motivacionais 250 | Exemplos de práticas – aplicações 251 | Qualidade de vida no trabalho 253 | O que o motiva? A spectos C om portam entais da G estão de P essoas Introdução Apresentamos neste livro as principais aborda- gens da dimensão humana nas organizações. Vivemos numa sociedade configurada em torno de organizações. O bom funcionamento das empresas e instituições públicas permite um bom atendimento, condições para qualidade de vida e o desenvolvimento humano. As pessoas que trabalham nas organizações são fundamen- tais para que esse ciclo de prestação de serviços ocorra com efetividade. Os capítulos a seguir foram estruturados procurando conciliar uma visão introdutória ampla para contextualizar o tema, referenciais teóricos e reflexões práticas buscando aderência com a realidade de cada leitor. A dimensão humana nas organizações Maria Eugênia Costa A dimensão humana na gestão contemporânea é um tema fundamental para uma compreensão das inquietudes que ocorrem no ambiente organi- zacional. A configuração deste capítulo compreenderá uma visão das linhas do pensamento administrativo e filosófico numa perspectiva histórica, apresentando uma cartografia do estudo da dimensão humana e a relação entre modelos de gestão e os tipos de vínculos organizacionais, focalizando, também, os aspectos da ética empresarial. Quando falamos na dimensão humana, lembramos que a grande busca do ser humano pode ser a do significado. Muitas vezes ouvimos depoimen- tos de funcionários que dizem não ver a hora para as férias, para a aposen- tadoria, para ganhar na loteria e ir embora. Essa insatisfação nos remete aos aspectos negativos da relação do indivíduo com o trabalho. Um mito grego que representa bem essa situação é o de Sísifo. O mito de Sísifo, na Odisseia de Homero, relata que, ao ofender os deuses, ele foi condenado a empurrar uma pedra montanha acima e esta, ao chegar ao cume, rolava de volta e ele eternamente retomava a tarefa. Devemos nos conformar com essa visão do mundo laboral? O trabalho humano tem e precisa de uma intencionalidade, de um significado, senão se transforma numa condenação. Para compreendermos a dimensão humana no âmbito das organizações, precisamos desenhar o contexto histórico da evolução das diferentes visões organizacionais. Essas visões não surgiram do vazio, em verdade corporifi- caram movimentos sociais, políticos e econômicos do seu tempo. O pensa- mento administrativo evoluiu a partir de escolas de pensamento que podem ser estruturadas em três perspectivas – estrutural, humanística e integrativa. Fatores políticos, sociais e necessidades humanas provocaram a cada mo- mento o brotar de uma abordagem de gestão. A modernização e a preocu- pação com o bem-estar social e do ser humano surge no início do século XX, em que o indivíduo passa a ser o centro das atenções e a preocupação com ambientes organizacionais saudáveis e enriquecedores passa a existir. 12 A dimensão humana nas organizações A influência de linhas de pensamento e filósofos pode ser percebida em cada uma das perspectivas listadas a seguir. 1. A abordagem estrutural busca uma explicação para o mundo, inspira- -se no racionalismo para explicar os fenômenos naturais e sociais. O pensa- mento racional obedece a certosprincípios, que são: Princípio da identidade � – conhecemos as coisas por definição. Princípio da não contradição � – não podemos declarar que uma coisa é e ao mesmo tempo declarar que não é – ou é ou não é! Princípio do terceiro excluído � – isto é, não existe uma terceira hipó- tese, ou é isto ou é aquilo. Sempre escolhemos entre duas opções, pois vivemos em um mundo binário. Além disso, a abordagem estrutural rejeita toda e qualquer forma de ati- tude mental que seja subjetiva como conhecimento ilusório, considerado como uma mera opinião. A razão é atividade ou ação e não abre espaço para emoções, sentimentos, paixões desordenadas; e também rejeita a crença religiosa, pois a fé é baseada na revelação e a razão baseada na luz natural (CHAUI, 1996). No início do século essa abordagem sofreu alguns abalos oriundos da teoria da relatividade e da física quântica. Era uma percepção limitada do ser humano, apesar da inegável contribuição para a área de administração e da produtividade. 2. A perspectiva humanística que vem em seguida é a que abraça a di- mensão humana. De inspiração socrática, caracteriza o homem como um ser em busca de um sentido. As intervenções de Elton Mayo (1924) nas oficinas de Hawthorne da Wes- tern Eletric marcam esse período – surge a formulação de uma “moral de grupo” que então gera todo o movimento das Relações Humanas (FERNAN- DEZ, 2006; FERREIRA, 2005). Outras contribuições anteriores ocorreram, mas o experimento da Wes- tern Eletric Company revestiu-se num marco do movimento humanista. O foco dessa pesquisa foi a identificação de aspectos motivacionais para o trabalho. Essa experiência foi longa e durou mais de cinco anos (FERREIRA, 2005). A dimensão humana nas organizações 13 A atenção da pesquisa era voltada para os aspectos biológicos e físicos da produtividade, variáveis como iluminação e períodos de repouso foram algumas das intervenientes nesse estudo. Uma variável que apareceu, mas não tinha sido prevista, foi a importância do fator psicológico. As operárias do grupo experimental separadas para a aplicação dos testes se sentiram prestigiadas pela atenção recebida dos estudiosos e diretores da empresa. Além disso, o ambiente da pesquisa era mais flexível, possibili- tando maiores interações delas, que normalmente não podiam conversar no horário de expediente. Descobriu-se, então, a importância dos fatores psico- lógicos na produtividade. Algumas conclusões desse estudo revelam a im- portância, antes subestimada, de grupos informais, de aspectos normativos baseados em princípios e valores gerados pelo próprio grupo. A necessidade de reconhecimento, segurança e adesão do grupo foi um fator tão ou mais relevante que os aspectos pecuniários (financeiros). 3. A abordagem integrativa que busca tratar de forma integrada aspec- tos sociais e técnicos. Um estudo que representa essa fase foi um experimen- to de Eric Trist e Banforth sobre mecanização do processo produtivo, realiza- do numa mineração de carvão na Inglaterra. Um resultado de destaque foi a descoberta da necessidade de otimizar os aspectos técnicos e sociais em processos de mudança. No fluxo dessa abordagem surge a teoria geral dos sistemas aplicada às organizações, assim como a análise da cultura. O comportamento organizacional O tema Comportamento Organizacional é objeto de estudo de muitos pesquisadores. Robbins (2002, p. 6), por exemplo, define comportamento organizacional como “um campo de estudo que investiga o impacto que indivíduos, grupos e a estrutura têm sobre o comportamento dentro das or- ganizações, com o propósito de utilizar esse conhecimento para promover a melhoria da eficácia organizacional”. Esse impacto pode ser analisado a partir de uma pergunta: o ser humano deixa seus problemas em casa quando vai trabalhar? A abordagem estrutu- ral responderia que sim. Hoje em dia sabemos que esse esforço para sepa- rar os domínios pessoais e profissionais é inócuo e estressante. A disposição com que chegamos para trabalhar é reflexo do que se passa na nossa vida pessoal. Essa influência pode também ser percebida como via de mão dupla. 14 A dimensão humana nas organizações O indivíduo chega desmotivado e encontra um ambiente organizacional es- timulante, uma equipe cooperativa e então emerge um novo ânimo para seu dia. Não existe uma fórmula que determine o grau de influência que cada recorte (indivíduo, grupo, organização) exerce em si. Sabemos que esse equilíbrio no intercâmbio de influências tanto positivas como negativas é o que assegura um ambiente organizacional produtivo. O grande desafio das organizações é buscar conciliar e alinhar as metas de realização pessoal e dos grupos com as metas organizacionais. Comportamento humano e comportamento organizacional O comportamento é a designação genérica da conduta do indivíduo, ou seja, é como o indivíduo se apresenta ao mundo. A figura a seguir mostra um desenho organizacional que é uma cartogra- fia clássica para a compreensão dos temas tratados na disciplina comporta- mento organizacional. Indivíduo Grupo Organização (B O W D IT C H , 1 99 2) Figura 1 – Cartografia da dimensão humana. Os temas tratados no primeiro círculo (indivíduo) referem-se ao autoco- nhecimento, escolha e motivação. Os temas tratados no segundo círculo (grupo) referem-se à tomada de decisão, produtividade e liderança. E por último, os temas tratados no terceiro círculo (organização) referem-se ao ali- nhamento estratégico, modelos de gestão, clima e cultura. A dimensão humana nas organizações 15 Essa segmentação tem o propósito de facilitar a compreensão do campo comportamento humano, porque na verdade a todo momento as variáveis se inter-relacionam e influenciam umas às outras. As variáveis que afetam o comportamento humano estão subdivididas em individuais e ambientais. As individuais envolvem as características inatas, as experiências adquiridas ao longo da vida e influenciadas muitas vezes pelas figuras significativas da infância, dos pais, educadores e padri- nhos. As variáveis ambientais abrangem todos os possíveis eventos extrín- secos ao indivíduo, tais como grupo social e cultura. Para Moscovici (1998) o comportamento humano é influenciado por três conjuntos interdependentes de variáveis internas, que são: a competência, que compreende os aspectos intelectuais inatos e adquiridos, conhecimen- tos, capacidades, experiência e maturidade; a energia, que se manifesta no nível de intensidade e na extensão temporal da atividade física e mental, nas emoções e sentimentos, nas características de temperamento e humor; e a ideologia, que abrange um conjunto de ideias e princípios hierarquiza- dos, com lastro em valores sociais, políticos, religiosos e filosóficos que in- fluenciam a percepção, o raciocínio, o julgamento e as decisões. A autora acrescenta que comportamento, desempenho e posicionamento resultam da interação desses três subsistemas com os sistemas externos. Padrões, normas, demandas, expectativas, critérios de avaliação, recom- pensas e punições representam as variáveis externas de comportamento. Na atualidade, um dos aspectos do comportamento humano que tem sido incentivado é aquele que procura compreender como as pessoas vivem e resolvem seus problemas dentro do seu contexto de trabalho. Na adminis- tração de empresas nota-se que o elemento humano se caracteriza como fator preponderante na facilitação ou no comprometimento quando se trata de atingir os objetivos organizacionais. O grupo é, na realidade, onde acontece o desenvolvimento das pessoas. Não existimos no vácuo, nosso mundo é relacional. Eu me conheço na rela- ção com o outro, pela forma como recebo feedback dos outros. A organização é o espaço comum onde funcionam de forma coordenada as ações das pessoas que nela trabalham e buscam um objetivo comum. A coordenação dessas ações produtivas é exercida por lideranças e sustentada por um protocolo de competências que envolve conhecimentos, habilida-des e atitudes. As atitudes são orientadas por um código de princípios que 16 A dimensão humana nas organizações tem como objetivo equalizar as diferenças individuais do ponto de vista de educação, origem e cultura familiar. A ética nas organizações A ética baseia-se na liberdade, ou seja, na opção voluntária pelo bem, consciente da possibilidade de preferir o mal, aplicável ao comportamento do indivíduo em diversos níveis, agindo corretamente em relação a si próprio e ao seu semelhante. De origem grega, o termo ethos significa costumes, e deve ser entendido como um conjunto de princípios básicos que visam disciplinar e regular os costumes, a moral e a conduta das pessoas. Esse é o aspecto amplo da palavra. Num sentido mais restrito, a ética é utilizada para conceituar deveres e estabelecer regras de conduta do indivíduo no desempenho de suas ativida- des profissionais e em seu relacionamento com clientes e demais pessoas. Para compreendermos a importância da ética nas relações de trabalho precisamos nos reportar à filosofia e ao pensamento de Sócrates, a quem foram atribuídas as primeiras reflexões. O foco da ética, então, era educar o caráter humano para que os indivíduos vivessem bem em sociedade. A ética é um ramo da filosofia e tem sua atenção voltada para o comportamento humano e não nas suas reações ou consequências. Por exemplo, se um fun- cionário da empresa desobedece às regras da organização ele será julgado pelos seus atos irregulares. Portanto, a ética nas relações de trabalho está voltada para a ação humana, gerando normas que orientem o convívio das pessoas no âmbito social e organizacional (MACEDO, 2007). Drucker (2007) no capítulo que trata sobre o gerenciamento de si mesmo, menciona o teste do espelho e narra um fato atribuído a um chan- celer alemão que tinha uma carreira brilhante pela frente, e que se demitiu inesperadamente. O rei Edward VII estava no trono britânico havia cinco anos e o corpo diplomático ia homenageá-lo com um grande jantar. O embaixador alemão, como decano do corpo – estava em Londres há quase 15 anos – deveria presidir o jantar. O rei Edward VII era um mulherengo notório e deixou claro o tipo de jantar que desejava – no final, depois da sobremesa, um bolo enorme iria aparecer e dele saltariam 12 ou mais prostitutas nuas, com as luzes sendo diminuídas. E o embaixador alemão demitiu-se para não ter de presidir aquele jantar. “Recuso-me a ver um alcoviteiro no espelho pela manhã quando me barbear. (DRUCKER, 2007, p. 41) O autor sugere que a pessoa se pergunte – quem eu quero olhar no espe- lho na manhã seguinte? A ética contempla um sistema de valores que o indi- A dimensão humana nas organizações 17 víduo traz na sua bagagem e quando entra na organização procura compa- tibilizar com os valores empresariais que encontra. Por outro lado, a questão dos valores verbalizados e praticados podem nos levar a uma reflexão sobre nossa própria coerência na ação. O indivíduo pode ter um sistema de valores racionais correspondente aos valores que queremos acreditar que são nossos, e um sistema de valores operacionais que corresponde a uma hierarquia de valores que é realmente nossa. Por exemplo, Maria é uma executiva de sucesso que acredita que seus valores em ordem de importância são: 1.º espiritualidade, 2.º família e 3.º amizade. Quando as coisas vão bem ela honra esses valores, no entanto, em momentos de estresse outros valores emergem, como: Comodismo1. – quando ela está com preguiça, esquece dos rituais es- pirituais. Individualismo2. – quando os seus pais invadem sua privacidade ela se irrita e se isola. Parece que a individualidade se levanta e supera a família. Egoísmo3. – durante o Programa de Demissão Voluntária (PDV) ela se sentiu ameaçada de perder o emprego e deixou de sair com os colegas. Na verdade, observando detalhadamente, existem valores que se sobre- põe aos altos princípios. Parece que, na maioria das vezes, temos uma visão superficial dos nossos referenciais. Se nossos valores operacionais não estão alinhados com nossa visão não há consistência, e isso acontece com as organizações. As melhores empresas para se trabalhar podem provocar momentos de crise financeira e romper acordos que eram cumpridos em tempo de abundância. Existem alternativas éticas no momento atual que passam por um olhar crítico de alguns autores. Zajdsznajder (1999) ressalta um aspecto que é muito destacado, o qual se trata da orientação de condução de vida. Esse é um tema da atualidade, crescente em publicações na área de autoajuda, sendo que alguns focalizam apenas a cada um buscar o seu bem, algo pró- prio e individual, sem buscar uma alternativa que integre e busque o bem de todos, o que, para o autor, é uma forma de destruir a ética. Para o mesmo autor, há necessidade de pensarmos no processo evolutivo da consciência moral e desenvolver estratégias para que os membros da organização iden- tifiquem seu próprio processo de desenvolvimento. 18 A dimensão humana nas organizações Estágios do desenvolvimento moral Segundo Wilber (2008), o processo de consciência do indivíduo percorre etapas que apresentam um processo evolutivo que é conhecido como es- tágios do desenvolvimento moral. Esses estágios são como uma escala de consciência em que o indivíduo sai do seu universo particular, identifica o seu grupo mais próximo até atingir uma visão ampliada do mundo e suas circunstâncias. São três os estágios na concepção de Wilber (2008): I Estágio pré-convencional � – egocêntrico (por exemplo, criança an- tes da socialização). II Estágio convencional � – início da assimilação das regras e normas de sua cultura etnocêntrica. Neste estágio a percepção do outro que não pertence ao meu grupo é de alguém diferente, há uma estranheza com relação ao grupo do outro e a relação é representada como nós e eles. A ciência que buscou quebrar este paradigma foi a Antropologia, que através da teoria da relativização, se preocupou em refletir sobre o con- ceito de cultura e descentralizar qualquer tipo de ideologia, apresentan- do aspectos, nuances e características na abertura da multiplicidade de pontos de vista, soluções e perguntas sobre o saber científico. Esta abor- dagem abre espaço para o próximo estágio (ROCHA, 2009). III Estágio pós-convencional � – expansão e preocupação com todas as pessoas independente da raça, sexo ou credo – mundicêntrico. Nesse estágio o ser humano inclui a todos e busca o bem para todos, sem dis- tinção (WILBER, 2008). Este estágio é também chamado ecocêntrico por Araujo apud Macedo (2007). Nessa proposta todos os seres serão respeitados, fortalecendo um compromisso de amor à vida, aos seres vivos e especialmente à terra. Abordagens da ética Para uma melhor compreensão dos possíveis conflitos entre os valores pessoais e organizacionais, uma distinção se faz necessária entre a ética da convicção e a ética da responsabilidade, uma contribuição de Max Weber (MACEDO, 2007). A ética da convicção refere-se aos aspectos de dever, orientada para as normas e regras preestabelecidas. Nas organizações é a ética que está pre- sente nos regulamentos, códigos de conduta profissional. A dimensão humana nas organizações 19 A ética da responsabilidade é voltada para os fins humanos e defende que o indivíduo é responsável pelos seus atos, buscando analisar seus im- pactos e resultados. Um indivíduo, cujo comportamento é pautado por ele- vados ideais voltados para o bem da comunidade, pode estranhar, e muito, o trabalho numa organização competitiva a qualquer preço. Trabalhar numa organização cujos sistemas de valores não estão alinha- dos com os valores pessoais pode causar frustração, problemas de desem- penho e, em situações extremas, um pedido de demissão, como no caso do embaixador alemão. Esse conflito é caracterizado por Vidor (2008, p. 137- 138) como dupla moral que [...] leva a distinguir entre a exigência da lei externa e o valor interior da própria naturezaindividual. Saber como equacionar com equilíbrio esses dois valores e a solução para conviver e se construir. [...] O indivíduo que melhor se resolve no contexto social em cada nova situação oferecerá elementos de melhoria futura para a sociedade. [...] Saber viver e conviver é o melhor modo para crescer. No bojo da ética está uma necessidade do ser humano de associação e, portanto, de estabelecer compromissos e engajamentos – um conjunto de promessas. Esse compromisso se estabelece pela primeira vez na relação profissional, quando assinamos nosso contrato de trabalho. Aprendemos nossos direitos e deveres, que serão dali para frente nosso protocolo de atu- ação dentro da organização. Os papéis que assumimos correspondem a pro- messas que podem ou não ser cumpridas. Problemas morais Problemas morais são problemas relativos a situações e práticas especí- ficas. Um problema moral que tem recebido recente atenção por parte dos estudiosos do comportamento organizacional é o tema do assédio moral. “O assédio moral é caracterizado como a intenção de constranger ou des- qualificar a pessoa ou o profissional, por meios verbais e não verbais, com o objetivo de pôr em risco seu emprego e a qualidade do ambiente de traba- lho” (HIRIGOYEN apud MACEDO, 2007, p. 60). O assédio moral caracteriza-se pela degradação deliberada das con- dições de trabalho em que prevalecem atitudes e condutas negativas dos chefes em relação a seus subordinados, constituindo uma experiência sub- jetiva que acarreta prejuízos práticos e emocionais para o trabalhador e a or- ganização. A vítima escolhida é isolada do grupo sem explicações, passando a ser hostilizada, ridicularizada, inferiorizada, culpabilizada e desacreditada 20 A dimensão humana nas organizações diante dos pares. Estes, por medo do desemprego e a vergonha de serem também humilhados, associado ao estímulo constante à competitividade, rompem os laços afetivos com a vítima e, frequentemente, reproduzem e ritualizam ações e atos do agressor no ambiente de trabalho, instaurando o “pacto da tolerância e do silêncio” coletivo, enquanto a vítima vai gradativa- mente se desestabilizando e fragilizando, “perdendo” sua autoestima. Um ato isolado de humilhação não é assédio moral. Este pressupõe em: Repetição sistemática. � Intencionalidade – forçar o outro a abrir mão do emprego. � Direcionalidade – uma pessoa do grupo é escolhida como bode ex- � piatório. Temporalidade – durante a jornada, por dias e meses. � Degradação deliberada das condições de trabalho. � Bispo (2009) sugere algumas ações para combater o assédio moral 1 – A empresa pode investir em ações educativas e estimular a paz nos relacionamentos em todos os níveis. Para isso, os canais internos de comunicação são indispensáveis no combate ao assédio moral. 2 – Quando a comunicação interna divulgar alguma informação referente ao assédio moral, a fonte deve ser sempre citada. Isso serve para matérias, entrevistas, promulgação de leis, entre outros dados relevantes. 3 – A cultura organizacional deve ser reforçada e os colaboradores informados que os diretos humanos, seja através dos direitos trabalhistas como também pelos direitos universais do cidadão, fazem parte dos valores internos e devem ser praticados por todos os que atuam na companhia. 4 – Uma ótima oportunidade para saber se o assédio moral circula pela organização é durante a realização da pesquisa de clima organizacional. Um dos fatores que podem ser abordados na aplicação da ferramenta é exatamente saber se os funcionários sentem- -se coagidos, humilhados, discriminados de alguma forma, seja pelos líderes ou demais colegas de trabalho. 5 – Para combater o assédio moral, a organização pode criar um comitê permanente e que tenha o objetivo de desenvolver procedimentos que garantam a integridade dos colaboradores. O mesmo comitê pode, por exemplo, ser formado por representantes dos departamentos como por funcionários formadores de opinião, que tenham facilidade de comunicação com os demais pares. 6 – Outra atividade relevante que dá bons resultados é a criação de um Código de Ética, que expresse claramente a postura da empresa em relação ao assédio moral e quais providências serão adotadas, caso algum fato ocorra. 7 – A realização de palestras em eventos realizados pela organização como treinamentos, encontros comemorativos, é uma alternativa para esclarecer aos colaboradores o que significa assédio moral e as consequências que podem gerar à empresa, ao assediador e à vítima. A dimensão humana nas organizações 21 8 – Os gestores têm papel de grande relevância no combate e na prevenção do assédio moral. Para isso, a empresa pode optar em treinar os gestores e esses, por sua vez, tornam- -se agentes multiplicadores do assunto. 9 – Muitas vezes, as vítimas do assédio moral ficam caladas porque não se sentem seguras de fazer a denúncia para que o problema venha à tona. A área de Recursos Humanos, por exemplo, deve deixar claro que suas portas sempre estarão abertas para ouvir os funcionários, garantindo o sigilo dos fatos relatados. 10 – Ao tomar ciência de assédio moral, a área de RH precisa averiguar a veracidade da denúncia e, quando o fato for constatado, encaminhar o caso rapidamente para a direção, a fim de que as providências necessárias sejam adotadas. Contribuições de disciplinas nos estudos do comportamento organizacional Várias disciplinas apoiam o estudo do comportamento humano nas or- ganizações e um debate que surge é com relação ao individual e o coletivo (grupo) como base para a análise. Algumas linhas de pensamento conside- ram que o indivíduo é a base de tudo e que qualquer processo de mudança deve começar pelo indivíduo. Outras abordagens consideram que é a partir do coletivo, das equipes, que os processos de transformação podem ocorrer. Nesse ponto algumas áreas de conhecimento definem bem suas fronteiras de atuação. Simplificando, podemos dizer que o individual é objeto da psi- cologia e o coletivo é uma preocupação da sociologia. Essa visão simplista pode levar a distorções como, do ponto de vista do individualismo, achar que grupo não existe e que é apenas uma soma de individualidades, e o excesso da sociologia reduzir tudo ao coletivo e social. Uma tentativa de re- solver esse antagonismo busca tratar os grupos como campos de mediação entre as áreas de conhecimento que tratam do indivíduo (Psicologia, Peda- gogia, Psicanálise) e as áreas que estudam a sociedade (Sociologia, Antropo- logia, Economia). Esse campo de mediação seria representado pelas áreas da Psicologia Social, Psicologia dos Grupos, Psicologia das Instituições (FER- NANDEZ, 2006). Portanto, é necessário pontuar o escopo da atuação e também incluir várias outras disciplinas que aportam conhecimento para os estudos. Lem- bramos que esse exercício é uma forma de orientar a busca de material apenas, pois as fronteiras às vezes são tênues entre uma e outra área de conhecimento. Retomando a cartografia apresentada anteriormente, podemos ilustrar as disciplinas que contribuem para cada uma delas. 22 A dimensão humana nas organizações Quadro 1 – Integração das disciplinas com a cartografia Indivíduo Grupo Organização Filosofia Significado, valores. – Ética. Psicologia Autoconhecimento, apren-dizagem e emoções. – – Sociologia – Dinâmica e trabalho de equipe. Comunicação. Antropologia – – Cultura, valores. Ciência Política – – Poder. Psicologia Social – Tomada de decisão; processos grupais Mudança. Modelos organizacionais e comportamentos A busca de modelos de gestão tem por objetivo alcançar elevados níveis de efetividade. Estes precisam ser coerentes com a natureza da orga- nização, seus princípios e sua relação com o ambiente. Por exemplo, uma organização com elevados níveis de previsibilidade e padronização requer modelos mais mecanicistas. Uma organização cuja natureza da atividade é caracterizada pela incerteza, instabilidade e flexibilidade requer modelos mais orgânicos.As variáveis que podem ser consideradas para o desenho de um modelo de gestão incluem estrutura, tecnologia, pessoas, sistema de recompensa e tarefas. A figura a seguir ilustra o posicionamento de cada uma dessas variáveis. Estrutura Tecnologia PessoasSistema de recompensa Tarefas (G A LB RA IT H a pu d M A C ED O , 2 00 7) (R O BB IN S, 2 00 2. A da p ta do .) A dimensão humana nas organizações 23 Essas dimensões podem ser detalhadas em tópicos como: Estrutura � – abrange as normas e procedimentos, processos de centra- lização e descentralização, delegação e controle. Tecnologia de informação e processo decisório � – abrange planeja- mento, controle e banco de dados. Pessoas � – abrange treinamento, seleção, profissionalização e motivação. Sistema de recompensa � – trata de delineamento do cargo, política salarial, função e planos. Tarefas � – abrange escolha de metas e público-alvo. Ao definir um modelo de gestão, essas dimensões devem estar alinhadas com uma carga valorativa sobre visão de homem, de mundo e de futuro. Essa necessidade de adequação dos modelos de gestão é mais recente nos estudos de administração. Por outro lado, existem questões que podem ser consideradas transversais, isto é, se aplicam a todos os modelos que estão relacionados a um ramo da filosofia chamado ontologia que aborda o ser e sua existência. Nesse momento é importante saber qual é o alicerce de valores e crenças associados ao indivíduo que sustentarão a estratégia a ser usada no trato e cuidado com as pessoas na organização. Podemos chamar de alinhamento estratégico essa busca de coerência com a estratégia, prin- cípios e valores. A definição de Modelo de Gestão adotada por Gomes (2004, p. 2) ilustra bem essa multiplicidade de dimensões e a necessidade de alinhamento: Um modelo de Gestão é um conjunto de práticas e processos de gestão; coerentes com uma filosofia de trabalho; escolhidos deliberadamente pela alta direção; a serviço de um modelo de negócios; na crença de que através da sua aplicação e renovação sistemática a empresa conseguirá vantagens competitivas. Buscando integrar perspectivas da administração, modelos de gestão e competências Katz e Robert (apud GOMES, 2004) indicam o quadro a seguir. Essa representação não pretende esgotar o tema, mas trazer alguma luz sobre as possibilidades de olhares que a gestão pode receber. 24 A dimensão humana nas organizações Quadro 2 – Integração de abordagens Abordagem Modelo Competências Categorias de vínculos Mecanicista – Fayol Burocrático, mecanicista Técnica Cognitiva, habilidades e co- nhecimentos específicos Humanista – Follet Arranjos produtivos huma- nizados, orgânicos/matricial Humanas Afetiva Relações interpessoais, gru- pal e gerencial Integrativa – Morin Redes, gestão libertária, co- operativas e associativismo Técnicas, humanas e organizacionais Valorativa, significado, con- fiança e comprometimento A gestão contemporânea, sem se distanciar da busca da eficiência instru- mental de produtividade, reconhece que as pessoas são o maior patrimônio (Capital Humano) e incorpora variáveis consideradas fundamentais para o dia a dia da organização, estilos de liderança, equipes, valores, mudança etc. Uma proposta de empresa/organização para o futuro surge no desenho da teoria dos quadrantes de Wilber, que integra todas as concepções como pode ser observado na figura abaixo. Intencional Cultural Social Comportamental Eu O eu e a consciência Nós Cultura e visão de mundo Istos Sistema social e ambiente Interior individual Exterior individual Exterior coletivo Interior coletivo Isto O cérebro e o organismo Todos os quadrantes todos os níveis (W IL BE R, 2 00 8. A da p ta do .) Figura 3 – Uma visão sistêmica. Em suma, essa figura nos mostra as possibilidades de um olhar sistêmico sobre todas as dimensões que contemplam o ser humano. Devemos aceitar todas as perspectivas para uma visão integral das organizações. Em suma, (K AT Z; R O BE RT a pu d G O M ES , 2 00 4) A dimensão humana nas organizações 25 precisamos de organizações humanizadas, éticas e com modelos de gestão coerentes com os valores que dignificam e respeitam a vida em todas as suas manifestações. Ampliando seus conhecimentos Um caso de ética profissional (PUPO, 2009. Adaptado.) A marcante personagem Tracy, do romance Se Houver Amanhã de Sidney Sheldon, é a protagonista dessa triste e emocionante história que marcou igualmente a vida de milhares de pessoas, que sofreram interferência na car- reira profissional, depois de impactos existenciais que as tornaram discrimi- nadas na porta de entrada de muitas organizações, no momento do recruta- mento e da seleção. Tracy é uma jovem idealista, que trabalha num banco de renome e está noiva do socialite Charles Stanhope III. Custa a crer na sorte que tem e está ra- diante de felicidade. Porém, o suicídio de sua mãe muda repentinamente seu destino. Resolve, então, tirar satisfação com o mafioso que fica com a herança materna e se vê envolvida numa armação criminosa que a leva a ser presa em uma cadeia de segurança máxima por 15 anos, condenada por roubo e tentativa de homicídio. O bom comportamento na prisão fez com que ela fosse indicada para cuidar da filha do diretor do presídio; um belo dia, quando se preparava para fugir dali, a criança de quem cuida cai nas águas profundas de um lago ao redor e ela a salva. O reconhecimento por sua coragem e o apego à crian- ça faz com que ela ganhe o perdão e a almejada liberdade. Porém, o caso chamou a atenção da mídia, que a torna publicamente conhecida pelo seu ato de coragem. Uma vez de volta ao chamado “mundo civilizado,” ela tenta recomeçar a vida e, inocentemente busca de volta seu antigo emprego. Claro que não consegue nem o antigo, nem outros empregos, porque além de sua imagem 26 A dimensão humana nas organizações pública ter sido marcada pela mídia, sua ficha criminal a precedia e nenhuma empresa se arriscaria a lhe dar emprego. Após incessante e exaustiva procura, alguém lhe indica uma pessoa, um dono de joalheria, que costuma oferecer ajuda a ex-presidiárias; ela o procura em vão, pois o que ele lhe propõe é que ela se torne ladra profissional. Embora a história seja romance fictício, durante minha carreira profissional já estive a par de várias situações como esta, que, infelizmente, podem ocorrer com frequência nas organizações, onde é comum a prática de discriminação contra trabalhadores que têm restrições na vida pregressa. Recentemente, por exemplo, grande empresa de destaque no segmento de seleção de pessoal foi condenada pela Justiça do Trabalho devido à prática de pesquisar antecedentes criminais, ou ações trabalhistas dos candidatos a emprego, e até de sua condição econômico-financeira, com base em cheques devolvidos, ou em títulos protestados com registro no Serasa. A justiça, no entanto, prescreve que o Serasa deve proceder à consulta cujo intuito seja apenas o de verificar a idoneidade de clientes (futuros devedores) e não de candidatos a empregos, que, na verdade, são credores dos salários. Segundo o TRT, se um candidato a uma vaga de emprego tem dívidas, isso não pode ser fator impeditivo da contratação. Ao contrário, somente com a obtenção de trabalho é que lhe será possível saldar as dívidas. O que mais se pretende com esse relato é colaborar com profissionais que atuam com recrutamento e seleção, a fim de que fiquem atentos não com o fato em si, mas com o sentido de solidarizar-se com quem, às vezes injusta- mente, sofre discriminação em processo seletivo, seja por ter de saldar dívi- das, seja por ter cometido algum tipo de deslize. O que se sugere é que pelo menos se dê a oportunidade de ouvir o candidato e de entender o que está acontecendo. Não que necessariamente tenha que contratá-lo, mas, pelo menos propor-se a um trabalho de orientação, para que ele se sinta parte integrante do mundo “ditocivilizado”. Diante de semelhantes casos, convém refletir que, ao invés de darmos as mãos a quem delas naquele momento ne- cessita, inconscientemente agimos de modo a que essa pessoa escolha de novo caminhos indesejáveis. Reflexão – esse caso traz para a nossa consciência um princípio funda- mental para as questões humanas na organização que se chama confiden- cialidade e respeito à privacidade. Você identifica situação semelhante na sua organização? A dimensão humana nas organizações 27 Atividades de aplicação 1. Elabore um modelo de gestão para cada uma das três organizações/ empresas abaixo levando em consideração as variáveis: estrutura (qual escola de pensamento), pessoas e valores: Departamento de criação de uma agência de publicidade.1– Montadora de automóveis.2– Salão de beleza.3– Estrutura Pessoas/aspectos a destacar para o sistema de recompensa Valores Publicidade Montadora Salão 2. Usando como referência o estágio convencional do desenvolvimento moral de Wilber, descreva as características dos grupos na sua organi- zação. 3. Descreva três valores que considera prioritários na sua vida profissio- nal. Comente sobre o alinhamento de sua pauta de valores com os valores de sua organização. Gabarito 1. Estrutura Pessoas/aspectos a destacar para o sistema de recompensa Valores Publicidade Integrativa Qualidade e criatividade dos produtos Flexibilidade Montadora Mecanicista Qualidade e quantidade da produção Disciplina Salão Humanista Qualidade do atendimento Empatia 2. De acordo com o estágio convencional, é quando dá início à assimila- ção das regras e normas de sua cultura – etnocêntrico. Nesse estágio a percepção do outro, que não pertence ao meu grupo, é de alguém di- ferente, há uma estranheza com relação ao grupo do outro e a relação 28 A dimensão humana nas organizações é representada como nós e eles. Por exemplo, na minha organização observo algumas características do estágio convencional na consulto- ria jurídica que estabelece normas sem ouvir as necessidades dos fun- cionários e apresenta muita rigidez no trato das questões encaminha- das. Ou observo rigidez também na área de tecnologia da informação, pois quando fazemos solicitações, somos tratados com certo desprezo quando cometemos erros. 3. O aluno pode seguir, por exemplo, três valores prioritários como a fi- delidade, confiança e transparência. Observe que há alinhamento nos dois primeiros, mas percebe-se que muitas questões são tratadas em gabinetes fechados e depois apenas comunicam o resultado. Essa si- tuação pode gerar um ressentimento devido à falta de transparência, pois, nesse caso eu pauto a minha vida profissional por esse princípio, partilhando minhas impressões com minha equipe. Eu me sinto inco- erente quando um membro da equipe questiona porque não somos informados com antecedência sobre mudanças, quando todos sabem de algo está ocorrendo pelos corredores. Referências BISPO, Patrícia. Disponível em: <www.assediomoral.org>. Acesso em: 11 out. 2009. BOWDITCH, James. Elementos do Comportamento Organizacional. São Paulo: Pioneiras, 1992. CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1996. COHEN, Allan R. Comportamento Organizacional – conceitos e estudos de caso. Rio de Janeiro: Campus, 2003. DRUCKER, Peter. Desafios Gerenciais para o Século XXI. São Paulo: Thomson Learning, 2007. FERNANDEZ, Ana Maria. 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O indivíduo Isabel Stepanski As pessoas entram para as organizações trazendo suas próprias caracte- rísticas que irão influenciar de forma direta seu desempenho no ambiente organizacional. De acordo com Zuboff e Maxmim (2002), durante o último século a evo- lução dos indivíduos foi muito maior do que a evolução das organizações. Essa evolução aconteceu a partir dos avanços nas diversas áreas do conhe- cimento humano, como a Economia, a Educação e o acesso à informação. Todas essas mudanças trouxeram como consequência o surgimento de uma nova sociedade, formada por pessoas mais educadas, mais informadas, com mais experiências e com um sentido de individualidade mais apurado e complexo. A descoberta dessa individualidade proporciona às pessoas a oportuni- dade de serem vistas como únicas dentro das organizações. Cada indivíduo, a partir de seu histórico de experiências, que compreende fatores de aspec- tos emocionais, culturais, sociais, religiosos, familiares, físicos, econômicos etc., poderá contribuir negativamente e/ou positivamente, a partir de suas atitudes e ações comportamentais, nos diversos sistemas sociais ao qual se integre. Para Chiavenato (2004), essa descoberta aconteceu também devido à existência de uma grande diversidade na distribuição das tarefas. As orga- nizações, capazes de reconhecer essa diversidade, estão tentando valorizar mais as diferenças individuais, objetivando o melhor aproveitamento da es- sência existente em cada funcionário. Uma nova postura organizacional é, então, necessária para apreender a subjetividade individual, proporcionando que cada indivíduo queira contri- buir e se sinta parte desse sistema. Esses fatores são essenciais para a inova- ção. Isso exige um novo comportamento e uma nova relação entre os indiví- duos e as organizações. 32 O indivíduo Fundamentos do comportamento individual Uma análise do comportamento individual é necessária para que se tenha uma visão ampla do comportamento organizacional, uma vez que o primei- ro interfere diretamente na estruturação do segundo. A Psicologia, quando aborda os conceitos de valores, atitudes, percepção e aprendizagem, proporciona a possibilidade de análise dos fundamentos do comportamento individual. Ao considerar o indivíduo como a menor representação do sistema or- ganizacional, pode-se identificar, além de sua personalidade, todo um con- junto de valores e atitudes. A sua percepção do ambiente de trabalho, assim como sua percepção sobre todas as pessoas que compõem esse ambiente, afetará o seu nível de motivação, bem como a sua aprendizagem, tornando- se determinantes de seu comportamentoindividual. Identificar o sistema de valores no qual o indivíduo se baseia irá facilitar a compreensão de suas atitudes, pois as atitudes dos indivíduos são influen- ciadas diretamente por seus valores. As atitudes, por sua vez, influenciam o comportamento. No entanto, a percepção é a maneira como se organiza e se interpreta o que se vê, sendo um componente essencial na relação estabe- lecida entre o indivíduo e o trabalho. Por fim, a aprendizagem que modifica diretamente a capacidade dos indivíduos, interfere em seu comportamento individual, contribuindo definitivamente para o progresso das organizações. Se queremos explicar e prever o comportamento, precisamos compre- ender como as pessoas aprendem, visto que quase todo comportamento complexo é aprendido. Aprendizagem Uma definição geralmente aceita de aprendizagem é: “qualquer mu- dança relativamente permanente no comportamento que ocorre como resultado de experiência” (KIMBLE, 1961 apud GAGNÉ, 1974). A evidência desse aprendizado seria uma mudança observável no comportamento do aprendiz. Essa definição ressalta alguns aspectos relevantes para o en- tendimento da aprendizagem como: a aprendizagem envolve mudança e essa mudança deve ser relativamente permanente, pois está relacionada ao comportamento e, por fim, alguma forma de experiência é necessária O indivíduo 33 para que a aprendizagem ocorra. Ou seja, uma mudança nos processos de pensamento ou atitudes de um indivíduo, se não estiver acompanhada de mudança no comportamento, não é aprendizagem. O que acontece no cérebro durante o processo de aprendizado pode ser explicado de forma esquemática e “mecânica”, como se segue: Atenção � – ativação de grupos de células do cérebro que contêm expe- riências, conhecimentos ou necessidades anteriormente registradas. Novas informações � – relacionadas à informação que atrai a atenção, são assimiladas e armazenadas temporariamente nos bancos de memó- ria a curto prazo do cérebro. Os novos grupos de células ativadas naque- le momento fazem contato com os grupos de células ativadas anterior- mente. Associação � – as informações novas e antigas são processadas na ten- tativa de descobrir relações. Através da associação muitos grupos de células passam a participar e são estabelecidas cada vez mais conexões entre as células e grupos de células. Quando o cérebro encontra uma re- lação significativa, temos a sensação de descoberta, compreensão, uma espécie de experiência interior que ativa novos grupos de células. Conhecimento � – o resultado da associação, transformado em “unida- de de conhecimento”, às vezes é chamado de “conceito” que nos ajuda- rá a lidar com a conclusão ou conhecimento: a experiência é, portanto, transformada em conhecimento. Internalizado � – quando o conhecimento é usado, adquire outras asso- ciações e experiências que o reforçam, facilitando seu acesso. Quando o conhecimento torna-se “parte de nós”, dizemos que foi internalizado. Nos campos da Educação e da Psicologia, muitas teorias têm sido desen- volvidas para explicar como as pessoas pensam e aprendem. Howard Gard- ner, psicólogo de Harvard, em seu livro Inteligências Múltiplas: a teoria na prá- tica (2000) reapresenta sua teoria das múltiplas inteligências de 1983. Essa teoria propõe que os indivíduos possuem pelo menos sete diferentes inteli- gências que influenciam em seu modo de aprender – estilos de aprendiza- gem – que podem ser desenvolvidos simultaneamente. Segundo Gardner (2000), as sete inteligências habilitam o indivíduo a “executar transformações e modificações de suas percepções” e “a recriar aspectos das suas experiên- cias”. São elas: 34 O indivíduo Inteligência Verbal/Linguística � – capacidade de empregar palavras efetivamente, seja oralmente ou por escrito. Inteligência Lógico/Matemática � – habilidade de usar tanto o racio- cínio indutivo quanto o dedutivo, de resolver problemas abstratos e de entender as relações entre conceitos, ideias e coisas inter-relacio- nadas. Inteligência Visual/Espacial � – capacidade de perceber o mundo vi- sual e de recriar experiências visuais. Essa inteligência também está relacionada com o aguçamento das percepções sensitivo-motoras. Inteligência Corporal/Sinestésica � – a inteligência do corpo e das mãos que nos habilita a controlar e interpretar os movimentos do cor- po, utilizar objetos físicos e a estabelecer harmonia entre a mente e o corpo. Inteligência Rítmica/Musical � – começa com um grau de sensibilidade a um padrão de sons e a habilidade de responder emocionalmente. Inteligência Interpessoal � – habilidade de rapidamente entender e avaliar as intenções, disposições, motivações e sentimentos de outras pessoas, levando a uma resposta efetiva esses sinais. Essa inteligência, para Armstrong (2000) envolve também outras habilidades como: co- municação verbal e não verbal, colaboração, gestão de conflitos, cons- trução de consenso, confiança, respeito, liderança e motivação dos outros no atingimento de um objetivo mútuo benéfico. Inteligência Intrapessoal � – inclui ter uma autoimagem clara de si mesmo, incluindo as qualidades e as limitações; ter consciência das próprias intenções, motivações, humor, temperamento e desejos; e a capacidade para autodisciplina, autoentendimento e autoestima. Em 1991, Gardner (2000) adicionou a Inteligência Naturalista às suas sete originais que é a inteligência que se desenvolve melhor através da natureza. Um estilo de aprendizagem, portanto, é a forma ou método que uma pessoa utiliza para a aquisição do conhecimento, ou seja, o modo como ela se comporta durante o aprendizado. Na prática organizacional, no entanto, a percepção dos estilos de apren- dizagem e as atitudes demonstradas através das práticas de trabalho podem ser mascaradas e não tão evidentes. O indivíduo 35 A Teoria da Maturidade de Argyris (1969), apresentada no livro Personali- dade e Organização, procura explicar a natureza e o comportamento humano. Para Argyris (1969), o desenvolvimento de uma pessoa processa-se ao longo de um intervalo contínuo de uma condição de imaturidade para uma condição de maturidade. Como características de uma pessoa madura o autor considera aquela que demonstra ser ativa, independente, autoconfiante e autocontrola- da. Uma pessoa imatura caracteriza-se por ser passiva, dependente, ter falta de confiança e por sentir necessidade de ser controlada pelos outros. A própria organização, considerando a especialização do trabalho, a hie- rarquia, o controle etc., muitas vezes se constitui em fator de impedimento para os funcionários atingirem, de forma natural, um elevado grau de matu- ridade, pois espera que sejam passivos, dependentes, que tenham uma pers- pectiva de curto prazo e que produzam sem exigirem um elevado grau de controle. Segundo Argyris (1969), sempre que um funcionário que já possua elevado grau de maturidade se depara com uma situação destas tende a tomar uma das três atitudes: Fuga � – traduz-se na demissão, faltas ao trabalho etc. Luta � – através de estruturas como os sindicatos ou mesmo através da organização informal. Adaptação � – reação mais comum é o desenvolvimento de uma atitu- de apática e indiferente, em que o salário mensal assume a forma de recompensa pelo sacrifício que o trabalho representa. Argyris (1969) considera também que as pessoas possuem dois tipos de teorias de ação: a teoria assumida e a teoria aplicada. A teoria assumida é a que as pessoas utilizam para conduzir suas vidas baseando-se no conjunto de crenças e valores. Já a teoria aplicada tem como base o uso de regras reais na ação das pessoas para gerenciar as suas crenças e valores. A teoria aplicada pode ser desenvolvida de duas maneiras: uma onde as pessoas pro- curam o controle unilateral, se mantêm ignorantes de suas ações criando ro- tinas organizacionais defensivas e o trabalho do “faz de conta” e a outra onde as pessoas são orientadas para a aprendizagem considerando como valores a busca deinformações válidas sobre uma questão ou problema, a avaliação de possíveis escolhas e a monitoração da implementação dessas escolhas. Apesar do pressuposto básico de que as organizações e as pessoas devem buscar a aprendizagem, reconhecer essa necessidade é um processo interno ao indivíduo que deve buscar o conhecimento de suas próprias necessidades, 36 O indivíduo de seus limites e de formas de contribuição em relação ao processo de sua própria mudança (suas atitudes) e da mudança organizacional (atividades de- senvolvidas pela organização). O reconhecimento dessa necessidade propor- ciona um processo de questionamento, descobrimento e de reflexão onde o autoconhecimento torna-se ponto central para essa análise. Autoconhecimento Ao longo dos anos, a observação sistemática do comportamento dos in- divíduos tem demonstrado que as pessoas conhecem pouco a respeito do seu próprio comportamento. O autoconhecimento, segundo a Psicologia, está relacionado com o co- nhecimento de um indivíduo sobre si mesmo. Praticando o autoconheci- mento, uma pessoa desenvolve o controle sobre suas emoções, sejam elas positivas ou não. Esse controle emocional possibilita ao indivíduo evitar vários sentimentos como, por exemplo, sentimento de baixa autoestima, frustração, ansiedade, inquietude e instabilidade emocional, tornando-se importante exercício de bem-estar. Consequentemente, resoluções produti- vas e conscientes sobre muitos de seus problemas ficarão mais acessíveis. É o ponto de partida para o processo de mudança pessoal. O desejo de mudança é inerente ao ser humano e acontecerá em algum momento de sua vida, provocado pelo entendimento e consciência de como é afetado pelo meio e de como reage a ele. Goleman (1995), considerando a teoria sobre os diferentes tipos de inte- ligência, proposta por Gardner e em especial a interpessoal e a intrapessoal, classifica a inteligência emocional como fundamental para o entendimento do ser humano em sua totalidade. A inteligência emocional pode desenvol- ver-se a partir do autoconhecimento, para tanto é necessário que o indiví- duo seja capaz de: Conhecer suas próprias emoções � – identificando o sentimento que surge. Saber lidar com as emoções � – administrando-as e controlando-as. Motivar-se � – usando as emoções positivamente, a serviço de um ob- jetivo maior. Reconhecer as emoções no outro � – desenvolvendo a empatia. O indivíduo 37 Saber lidar com os relacionamentos � – trabalhando em equipe, ne- gociando, administrando conflitos. Goleman (1995) acrescenta ainda que a autoconsciência, muitas vezes colocada em segundo plano na esfera profissional, é fundamental na admi- nistração eficaz dos relacionamentos, pois sem reconhecer as próprias emo- ções, não seremos capazes de gerenciá-las e muito menos compreender as emoções dos outros. Profissionais que desenvolveram a autoconsciência são capazes de identificar melhor suas necessidades, permitindo assim a harmo- nia de interesses quanto às expectativas, aos serviços e às recompensas. A ampliação da autoconsciência ocorre quando o indivíduo passa por um período de introspecção, analisando seus desejos e reações aos efeitos que o cercam, penetrando em sua realidade interior e se permitindo perceber, observar e compreender tudo o que existe dentro e fora de si mesmo. Ao tomar consciência dos próprios sentimentos e intenções, é possível vislum- brar o que realmente pode influenciar seu comportamento e, a partir daí, direcionar esforços para o alcance de suas metas. Com essa atitude, cria um ambiente propício à mudança e ao crescimento interno. Tipologias comportamentais Vários estudiosos têm elaborado suas teorias na tentativa de entender o comportamento humano. No entanto, é possível identificar um ponto comum entre eles: considerar que a reunião de características em determinados tipos ou categorias facilita o entendimento da natureza humana proporcionando, a partir de uma análise, a identificação de pontos a serem melhorados. Adizes1 (2002) considera que cada etapa do ciclo de uma carreira oferece seus próprios desafios e ameaças. Dúvidas normais em uma fase da carreira são sinto- mas de problemas sérios em outra fase. Para definir estilos, Adizes (2002) usa quatro letras, PAEI, significando quatro maneiras de atuação básicas: P é o Produtor, aquele que toma a iniciativa e faz. A é o Administrador, que cria os mecanismos e rotinas. E é o Empreendedor, que vislumbra possibilidades e se prepara para elas. I é o Integrador, cuja força está nos relacionamentos, na sabedoria das questões humanas. 1 Professor da Universida- de da Califórnia e funda- dor do Instituto Adizes. 38 O indivíduo As pessoas são definidas de acordo com o maior grau das qualidades que apresentam, assim como os trabalhos, que são classificados de acordo com as cargas maiores de um ou outro estilo. Para Adizes (2002) não encontrare- mos um trabalho perfeito, pois não existe uma carreira modelada especial- mente para cada um de nós, todos os trabalhos têm pessoas com estilos P, A, E, I, e todos nós temos que aguentar uma parte do trabalho que não atende às nossas expectativas, que não tem a ver com o nosso estilo. O importante é saber se a parte que não gostamos é maior do que a parte que gostamos. Quando fazemos algo que se relaciona com o nosso estilo, a nossa energia é aumentada. Para Jung (1991) o indivíduo apresenta quatro tipos psicológicos: pensa- mento, sentimento, sensação e intuição. Cada um desses tipos, de acordo com a orientação do indivíduo, pode ser tanto introvertido – orientação interna – quanto extrovertido – orientação externa. Assim, as pessoas po- deriam ser orientadas para o seu interior ou para o seu exterior. Para Jung, entretanto, o indivíduo não é totalmente introvertido ou extrovertido, pois algumas vezes a introversão é predominante, em outras a extroversão é mais adequada. Ambas, porém, são excludentes, de forma que não se pode manter as duas prevalecendo ao mesmo tempo. Jung ressalta que nenhuma das duas seria superior, melhor ou mais adequada que a outra e que os dois tipos de pessoas são igualmente importantes para o mundo. Dentre os instrumentos baseados no modelo de Jung, o mais conhecido é o Myers–Briggs Type Indicator – MBTI, criado na década de 1940 por Kathe- rine Cook Briggs e Isabel Briggs Myers. O MBTI é um instrumento elaborado na forma de um questionário, para identificar o “tipo psicológico” e foi padro- nizado em 1962. Outro instrumento, o Eneagrama, baseia-se em um conhecimento antigo que foi guardado como segredo e passado oralmente de uma geração para outra durante quatro milênios. No início do século XX, um armênio chamado Gurdjieff (1872-1949) o divulgou na Europa. O nome Eneagrama, derivado do grego, foi dado por se tratar de uma descrição (grama) de nove (enea) tipos de personalidade. Temos todos um pouco de cada um deles, dependendo da situação. Porém, segundo o Enea- grama, cada um de nós escolheu e desenvolveu um deles com maior desta- que. Ao identificar o seu próprio tipo predominante é possível compreender os motivos que fazem com que comportamentos antigos e recorrentes sejam O indivíduo 39 mantidos, independente de serem eles positivos ou negativos. Também é um instrumento facilitador da identificação de padrões que geram atenção e reação, motivação ou desmotivação, assim como a existência de habilida- des e dificuldades específicas. Por outro lado, quando se identifica os tipos predominantes de outras pessoas, amplia-se o entendimento e a aceitação das diferenças. Estas são apenas algumas das muitas teorias apresentadas sobre o tema, porém, por se tratar de uma análise do comportamento humano, não pode se esgotar em si mesma. Podemos observar que, a partir dessa análise e do diagnóstico dos aspec- tos facilitadores e dificultadores, o indivíduo pode e deve criar um plano de ação para alcançar melhores patamares relacionados à sua carreira e vida. Plano de desenvolvimento – pessoale profissional Desenvolver – deixar de estar envolvido. Evoluir por meio da quebra ou transformação de padrões, regras, conceitos e limites. Autodesenvolvimento – responsabilizar-se pelo projeto do próprio cres- cimento, ser o agente transformador e diretor da carreira e da vida. Ao considerarmos o autodesenvolvimento como um processo contínuo, devemos estabelecer as interfaces com os indicadores comportamentais, profissionais e sociais. Destacam-se entre eles: Autocontrole � – ampliar a capacidade de controlar ou redirecionar impulsos agindo com maior confiança, coragem, integridade, diante de situações muitas vezes contraditórias. Desenvolver o autocontro- le possibilitará maiores condições para estar mais aberto e flexível às mudanças, preservando a saúde emocional, para em equilíbrio com a busca constante de conhecimento, agir de maneira proativa, equilibra- da e sintonizada com o caminho do autodesenvolvimento. Motivação – � ao perseguir objetivos com energia, entusiasmo, per- sistência, otimismo, mesmo diante de situações dificultadoras, o in- divíduo ampliará suas condições de sair do lugar-comum, encontrar soluções para resolver problemas e administrar conflitos, potenciali- 40 O indivíduo zando a disponibilidade psicológica para o fortalecimento interno e a consequente energia para desenvolver a aprendizagem contínua dos indivíduos e das pessoas que o cercam. Empatia � – capacidade de compreender a própria constituição emocio- nal, assim como a constituição emocional de outras pessoas. Contribui para a dinamização da sensibilidade intercultural, estando diretamen- te relacionada a compartilhar valores, sentimentos e conhecimentos. Sociabilidade � – é a mola propulsora para o alcance do autodesenvolvi- mento, pois por meio dela, cada vez mais, o indivíduo poderá ampliar sua capacidade de administrar os relacionamentos, criando as redes essen- ciais para o alcance de resultados mais satisfatórios para pessoas e orga- nizações. Desenvolver a capacidade de encontrar pontos em comum e cultivar afinidades, num amplo processo focalizado na relação ganha-ga- nha, proporcionará maior eficácia para liderar os processos de mudança, encontrar saídas e soluções mais eficazes, quanto à formação e desenvol- vimento, no que tange a carreira, dentro e fora das organizações. Ao estar atento e procurar desenvolver esses indicadores, o indivíduo terá condição de identificar áreas que necessitem de maior atenção e investir em um plano de ação para seu autodesenvolvimento. Para o desenvolvimento de um plano de gestão de carreira três fases dis- tintas devem ser consideradas. A primeira é a elaboração de um plano es- tratégico de carreira. A segunda é a adaptação do profissional a esse plano fazendo um levantamento de suas competências e da necessidade de re- direcioná-las considerando a realidade de mercado. A terceira é a fase de implantação e acompanhamento do plano de marketing pessoal. Um pro- grama de desenvolvimento pessoal poderá contar com: Leitura de livros e artigos. � Participação em cursos e palestras. � Contratação de um � coach para ajudá-lo a desenvolver o plano. Conseguir um mentor ou orientador. � É importante que os objetivos traçados, tanto de crescimento pessoal quanto profissional, tenham prazos definidos para atingir cada meta. As metas devem ser de curto, médio e longo prazo. O profissional não deve se acomo- dar, precisa estar sempre em desenvolvimento e adquirindo habilidades e competências. O indivíduo 41 Sugestão de plano para autodesenvolvimento Liste a seguir os objetivos profissionais que você pretende realizar em sua carreira nos próximos três anos. Lembre-se de que objetivos são fatores motivacionais poderosos. São respostas para a pergunta: “O que eu quero realizar em minha vida profissional?” Em seguida, avalie os objetivos identificados, de acordo com uma escala de importância, classificando-os de 1 (o mais importante para você) a 5 (o menos importante para você). Tabela 1 – Objetivos profissionais Objetivos Profissionais Importância Agora, selecione os que receberam o valor 1 e preencha a próxima tabela. Tabela 2 – Plano de autodesenvolvimento Objetivos Etapas (o que eu tenho que fazer para atingir o objetivo?) Recursos necessários (do que eu preciso em cada etapa?) Pontos críticos para o sucesso (o que pode impactar na realização da etapa) Ideias para estimular uma cultura de autodesenvolvimento 1 – Estimular as organizações para considerarem o autodesenvolvimento como um indicador de desempenho claro, explícito e formal. 2 – Recompensar claramente as ações de autodesenvolvimento. 3 – Incluir nas ações de Treinamento e Desenvolvimento, formais ou não, momentos de reflexões individuais e elaboração de planos de desenvolvi- Is ab el S te p an sk i. Is ab el S te p an sk i. 42 O indivíduo mento. Disseminar o conceito de corresponsabilidades no processo de desen- volvimento entre colaboradores e os órgãos formais de desenvolvimento. 4 – Promover reuniões informais periódicas para discussão de projetos de vida. 5 – Utilizar os meios de circulação de informações disponíveis nas orga- nizações para divulgar ações de colaboradores que exercitam a cidadania dentro e fora das organizações. 6 – Sensibilizar os gestores para que estimulem o autodesenvolvimento de seus subordinados e avaliá-los por isso. 7 – Disponibilizar as informações dos Bancos de Dados e Planos de Carrei- ra nas organizações que já tem esses processos sistematizados. 8 – Exercitar autodesenvolvimento nas equipes de T&D. Considerar as características que formam o comportamento individual requer que a organização perceba cada indivíduo como único e não como peça passível de ser moldada de acordo com a exigência da situação. Assim, ao observar, analisar e coordenar de forma imparcial essas características, a organização poderá obter resultados e, ao mesmo tempo, proporcionar a realização pessoal de seus colaboradores. Ampliando seus conhecimentos O indivíduo e o profissional (SIQUEIRA, 2009) O comportamento do ser humano na situação de trabalho é a expressão manifesta das percepções que, como indivíduo, ele faz da realidade. Identifi- car a dinâmica dos valores, crenças, opções éticas, necessidades, aspirações, expectativas, conhecimentos e interesses que delineiam essas percepções é a condição necessária – se bem que não suficiente – para que o gerente torne- -se capaz de imprimir maior objetividade à sua ação. O indivíduo 43 O mundo das percepções condiciona preponderantemente o comporta- mento. Assim, se o gerente pretende tornar o seu desempenho mais efetivo, agregador e colaborativo, integrador e facilitador do trabalho em equipe, ele precisa identificar, compreender e administrar, antes de tudo, as teorias e con- ceitos – conscientes ou não – que o embasam, desenvolvidos paulatinamente através de vivências e experiências pessoais que o tornaram um ser humano singular, exclusivo. O conceito pessoal que o gerente tem da vida e da na- tureza do homem, as expectativas que desenvolve pela convivência com os outros e a sua autopercepção definem as fontes e os limites da forma como se comporta na vida social e no trabalho, na família e no conjunto da sociedade, exercendo os mais variados papéis. As questões suscitadas pelo eu-oculto referem-se à pessoa como tal, dis- sociada da representação de seu papel social. A capacitação do indivíduo no desempenho de seu papel requer preliminarmente uma crescente percepção objetiva da pessoa a respeito de si própria. Para ser competente como líder, o gerente precisa ser também competente como pessoa. A explosão do conhecimento e a complexidade avassaladora das organi- zações são imperativos da profissionalização da gestão. As organizações in- teligentes não podem fazer qualquer concessão ao amadorismo. Alguém já disse: “o único que pode ser Amador é o Aguiar, fundador do Bradesco”. A profissionalização do gerente significa a implementação deuma estra- tégia educacional planejada e sistemática de desenvolvimento de conheci- mentos, habilidades e atitudes que levem a pessoa ao domínio da expertise profissional como gerente. Se for verdade que a competência gerencial depende muito do indivíduo competente como pessoa, é também irretorquível que o indivíduo desprepa- rado alcançará muito pouco, por melhor que seja como ser humano. A lide- rança precisa ser ensinada e aprendida, assim como o conteúdo ocupacional do cargo. É um equívoco comum julgar que somente investir em desenvolvimento individual ou em desenvolvimento gerencial garante, per si, resultados para o desenvolvimento das organizações. 44 O indivíduo Atividades de aplicação 1. Uma definição de aprendizagem é: a) qualquer mudança relativamente permanente no comportamen- to que ocorre como resultado da experiência. b) uma alteração no comportamento do indivíduo sem uma causa aparente. c) uma possibilidade de mudança no processo de internalização de conceitos. d) uma tentativa de explicar a experiência vivida. 2. A ampliação da autoconsciência ocorre quando o indivíduo: a) isola-se do ambiente para não sofrer. b) explora suas vontades e reações aos efeitos que o cercam. c) busca alternativas para se colocar no ambiente de trabalho sem se expor. d) redireciona seu foco de atenção para ações extrínsecas. 3. As teorias para entender o comportamento humano têm em comum: a) considerar o indivíduo como um ser vulnerável. b) entender a aprendizagem como algo extrínseco c) basearem-se nas emoções dos indivíduos. d) considerar a reunião de características em determinados tipos. Gabarito 1. A 2. B 3. D O indivíduo 45 Referências ADIZES, Ichak. Os Ciclos de Vida das Organizações: como e por que as empresas crescem e morrem e o que fazer a respeito. São Paulo: Pioneira, 2002. ARGYRIS, Chris. Personalidade e Organização. Rio de Janeiro: Renes, 1969. ARMSTRONG, T. Multiple intelligences in the classroom. 2. ed. Alexandria, VA: Association for Supervision and Curriculum Development, 2000. BOWDITCH, J. L. Fundamentos de Comportamento Organizacional. Rio de Ja- neiro: LTC, 2006. CHIAVENATO, I. Comportamento Organizacional: a dinâmica do sucesso das or- ganizações. São Paulo: Pioneira, 2004. FRANÇA, A. C. L. Comportamento Organizacional: conceitos e práticas. São Paulo: Saraiva, 2006. GAGNÉ, R. M. Como se Realiza a Aprendizagem. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1974. GARDNER, Howard. Inteligências Múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre: Artmed, 2000. GOLEMAN, Daniel. Inteligência Emocional. Rio de Janeiro: Objetiva, 1995. JUNG, C. G. Tipos Psicológicos (1921) Obras Completas de C. G. Jung Petrópo- lis: Vozes, 1991. v. 6. ROBBINS, S. P. Comportamento Organizacional. São Paulo: Prentice Hall, 2002. SIQUEIRA, Wagner. O Indivíduo e o Profissional. Publicado em: 17 set. 2009. Dispo- nível em: <www.administradores.com.br/artigos/o_individuo_e_o_profissional/ 33862/>. Acesso em: 28 out. 2009. ZUBOFF, Shoshana; MAXMIN, James. O Novo Jogo dos Negócios. Rio de Janeiro: Campus, 2002. O indivíduo na organização Maria Eugênia Costa Neste capítulo vamos analisar a relação do indivíduo com a organização e os tipos de vínculo que são estabelecidos. Esse vínculo pode ser de forma explícita ou de forma não explícita. O contrato de trabalho é um exemplo de vínculo explícito e pode se con- cretizar através da carteira assinada ou de outro mecanismo formal, já o vínculo não explícito é composto de percepções, expectativas, alinha- mento de valores, que são individuais e únicos e que se constituem de um conjunto de expectativas construídas pelo indivíduo ao estabelecer uma relação profissional. Para compreender as relações do indivíduo com a organização, vamos analisar como as percepções são diferentes, e para isso utilizaremos um modelo referencial – o modelo do observador – para compreender as es- colhas, a autodeterminação e identificar os valores que podem impactar na nossa relação com o trabalho. Percepção e diferenças individuais Os temas relacionados com as diferenças individuais são a percepção e a memória e o quanto elas podem impactar na forma como percebemos as coisas. “Não vemos as coisas como elas são. Vemos as coisas como nós somos” (TALMUDE apud BRAGA, 2007, p. 8). Essa frase da tradição religiosa nos diz muito sobre a nossa percepção da verdade e de como nós somos a medida dessa verdade. As questões relacionadas à verdade e à percepção da verdade inquieta- ram pensadores de todos os tempos. As primeiras referências são citadas pelos sofistas. 48 O indivíduo na organização A base filosófica da percepção Esses filósofos se destacavam pela oratória e vendiam discursos e opini- ões para os cidadãos em função do que lhes pagassem. Tinham habilidades para o discurso. Além disso, diziam que a realidade era percebida como algo arbitrário. Por exemplo, poderíamos dizer que o frio não existe, pois ele é frio apenas para quem o sente. Um dos principais representantes dos sofistas foi Protágoras. Para ele “o homem é a medida de todas as coisas, das que são, enquanto são, e das que não são, enquanto não são” (POSTER, 2006). A filosofia de Protágoras, mais especificamente o conceito de verdade, foi interpretada e aprofundada por dois grandes filósofos modernos, Hegel e Nietzsche. Segundo Hegel, a verdade está mais no homem que vê do que nas coisas vistas. Nietzsche; por outro lado, acrescenta um outro aspecto que é a questão de valor daquilo que é percebido – para ele o homem é aquele que cria valor para as coisas, pois vive num mundo de valores. Nietzsche sustentava que cada percepção, cada ideia, é só uma interpretação, uma perspectiva. (ECHEVERRÍA, 2008, p. 152) Um outro elemento que influencia a nossa percepção é o contexto em que os fenômenos ocorrem. Percepção e contexto “O fato de cada pessoa ver uma coisa ou outra dependerá dos pressupos- tos que ela usa para interpretar as mensagens que a sua retina envia ao cére- bro, mensagens equivalentes, pois a figura física é a mesma e os sistemas de visão são iguais” (KOFMAN, 2002, p. 249). Portanto, o contexto também altera a percepção na medida em que agrega valor ou significado às coisas. Tomemos como exemplo o número 5.789.745 que, isolado, não quer dizer muito, mas se tiver escrito euro antes já muda de figura, ou se tiver escrito coluna de rendimento líquido numa prestação de contas muda mais ainda. Esse mesmo número pode também constar de uma cobrança de multa de imposto de renda o que vai alterar significativamente o contexto e o humor do destinatário. O indivíduo na organização 49 Kofman (2002) distingue dois tipos de contexto, que são: O primeiro tipo de contexto é chamado � mundano e se refere às prá- ticas de um ambiente ou área de conhecimento. Por exemplo, os nú- meros estão associados ao ambiente da contabilidade, a área de exa- tas. Todavia, os números podem estar associados à área da saúde se fizerem referência ao número de pessoas vacinadas ou falecidas numa epidemia. O segundo tipo de contexto é ligado a � modelos mentais e faz parte de um conjunto de pressupostos, valores que adquirimos no decorrer de nossa existência e que operam na nossa vida, ou seja, eles condi- cionam as nossas interpretações. Como cada um de nós tem uma ba- gagem própria adquirida através da família, escola, vivências, cada um tem seus modelos mentais e, portanto, eles são individuais. Essas di- ferenças podem causar muitos conflitos de comunicação. Além disso, operam no nosso inconsciente e nos levam a interpretações que nós achamos que são corretas. Portanto, o contexto contribui para a criação de uma nova realidade na medida em que agrega elementos que podem dar um novo sentido ao re- ceptor da mensagem. Fazendo uma analogia, o contexto é como um tempe- ro, uma especiaria que pode mudar o sabor do evento observado. Percepção e memória A memória pode também ser uma fonte de distorção da nossa percepção da realidade.De acordo com Schacter (2003) a nossa mente comete peca- dos, esquece e lembra em função de imperfeições e muitas vezes é impossí- vel reduzir ou evitar esses efeitos. Os sete pecados da memória citados por Schacter (2003) são: transitorie- dade, distração, bloqueio (que são englobados na categoria pecados de omissão), atribuição errada, sugestionabilidade1, distorção e persistência (que são englobados na categoria pecados de memória por erro de atribuição). 1 Influências externas nas nossas recordações. 50 O indivíduo na organização No quadro a seguir apresentamos um resumo dos pecados da memória causados por omissão: Quadro 1 – Tipo de pecado de memória por omissão Tipo de pecado de memória por omissão Características Exemplos Transitoriedade A memória se enfraquece através do tempo; incapaci- dade de reter a informação. Bill Clinton apresentou lapsos de memória no seu depoimento sobre o relacionamen- to com Monica Lewinski – ele reconhecia que teve encontros, mas não sabia detalhar quantos. Seus acusadores chamaram de lapsos convenientes. Distração É uma quebra da conexão entre a atenção e a me- mória. Nesse contexto, a atenção dividida também é considerada uma espécie de cegueira para a mudan- ça. Os estudos sugerem que com a idade essa cegueira fica mais pronunciada. Colocar os óculos em lugar errado e ter di- ficuldade para achar. Outro exemplo clás- sico é o experimento de Simons e Chabris apud Schacter (2003) em que a instrução é acompanhar um jogo de bola na tela e contar quantos lances observaram. No en- tanto, durante a jogada aparece uma pes- soa fantasiada de gorila. Concentradas em contar os lances da bola apenas metade dos participantes do experimento irão ver o gorila. Bloqueio Tentativa frustrada de bus- car uma informação na me- mória. Um exemplo curioso realizado por Baker apud Schacter (2003) em que os participan- tes tiveram que memorizar sobrenomes e profissões. Acontece que as palavras eram as mesmas em inglês: Potter – sobrenome; potter (oleiro); Baker e baker (padeiro). O resultado revelou que as pessoas memori- zam mais facilmente profissões do que no- mes. Alguns autores comentam que a falta de atributos associados aos nomes é que dificulta a associação e a memorização. Como podemos perceber, a memória tem uma contribuição importante nas distorções de percepção. Modelo do observador e a tomada de decisão Modelo do observador Quando estudamos a percepção humana, é importante conhecer referen- ciais que permitam compreender o fenômeno (a percepção). O modelo do ob- servador é um referencial que atende a essa necessidade. Alguns autores se destacam nesse estudo, dentre eles Humberto Maturana e Rafael Echeverría. (S C H A C TE R, 2 00 3. A da p ta do .) O indivíduo na organização 51 Outro filósofo da atualidade, Ken Wilber, discorre sobre as diferentes per- cepções individuais. Para esse autor, cada ser humano tem suas próprias es- truturas, sua história peculiar que influencia e governa o que ele pode com- preender e o que ele vai ser em mundo supostamente “único” que está ali à sua volta (WILBER, 2006). Isso significa que cada pessoa observa o mundo de forma particular e única. A área da Filosofia que se dedica ao estudo das diferentes interpreta- ções da realidade pelo ser humano chama-se ontologia da linguagem. Ontologia significa a nossa compreensão genérica do que é ser humano. Nessa abordagem a linguagem representa um papel importante na com- preensão de como damos significado ao que acontece. Quando atuamos também observamos a nossa forma de atuação e essa observação pode ser analisada em diferentes níveis de profundidade. Para explicar esses diferentes níveis de análise e aprendizagem foi desen- volvido o modelo do observador. Argyris (1993) foi o precursor desse refe- rencial de análise, ampliado por Echeverría (2008), envolvendo os seguintes elementos: Observador Ação Resultado 1.ª Ordem 2.ª Ordem 3.ª Ordem (E C H EV ER RÍ A , 2 00 8. A da p ta do .) 1 – O observador representa cada indivíduo enquanto age. 2 – A ação é a forma como ele responde ao que observa. 3 – Resultado é a interpretação que pode ser percebida de diferentes maneiras. 52 O indivíduo na organização Um exemplo que pode ilustrar esse processo é o de João (observador) que foi ao cliente oferecer e demonstrar um produto (ação). Ao final da reu- nião o cliente agradeceu e não manifestou o menor interesse em adquirir o produto (resultado). Podemos aqui ilustrar algumas maneiras de João res- ponder a essa situação: Voltar ao escritório e dizer para seu chefe que o cliente não sabe o que 1. quer e não vê razão para manter esse tipo de cliente em sua carteira de atendimento. Nessa situação, João coloca a culpa no cliente e em ne- nhum momento reflete sobre o seu comportamento. Aprendizagem de primeira ordem. João pode refletir com seu chefe sobre como contribuiu para esse 2. resultado. Esse raciocínio é chamado de aprendizagem de segun- da ordem porque João assumiu a participação no processo e pode pensar em mudar sua postura e criar uma nova forma de abordar o cliente. João não só revê seu papel enquanto prestador de serviço como tam-3. bém reflete mais profundamente sobre o significado de prestar ser- viços em todos os seus espaços existenciais (em casa, socialmente), o que pode gerar oportunidade para uma transformação mais profun- da no tipo de observador (profissional e ser humano) que João é. Ele mudou enquanto observador do mundo. Aprendizagem de terceira ordem – transformacional. O ser humano oferece um sentido próprio às diferentes situações com as quais se depara e, assim, constrói diferentes interpretações sobre a reali- dade. De acordo com Echeverría (2008, p. 40): “não sabemos como as coisas são, sabemos apenas como elas são observadas”. Domínios primários do observador A forma como o ser humano se constitui em um observador particular, fundamenta-se em três domínios primários: linguagem, corpo e emoção (ECHEVERRÍA, 2002). A linguagem é, sobretudo, o que faz dos seres humanos o tipo particular de seres que são, pois além de permitir falar sobre “as coisas”, a linguagem faz com que as “coisas” aconteçam. O indivíduo na organização 53 A linguagem é geradora de novas realidades, portanto é ação. Não so- mente falamos das “coisas”, alteramos o curso dos acontecimentos. Os seres humanos se criam a si mesmos na linguagem e através dela. Através da lin- guagem é que conferimos sentido à nossa existência e é também a partir da linguagem que nos é possível reconhecer a importância dos outros domí- nios não linguísticos, como o corpo e a emoção. O corpo é o meio como o ser humano estabelece contato com a realidade. As expressões corporais são aprendidas e influenciadas pelo meio ambiente e pela cultura em que ele está inserido, portanto, todo movimento corporal tem um significado. “Fisicamente, o corpo humano tem uma rica linguagem própria, e fala. Ele se manifesta na tensão arterial, no ritmo cardíaco, na temperatura, no equi- líbrio, na regularidade respiratória ou digestiva, no cansaço, na disposição etc.” (MIRANDA, 2007, p.12). As pessoas se manifestam através do seu corpo, refletindo a intensidade e natureza das emoções vividas como: medo, alegria, tristeza, desânimo e outras. Isso é como uma linguagem que pode ser lida. De acordo com Wolk (2008, p. 132), “essa é uma atitude, um modo de estar e de relacionar-se apoiado em um corpo que implica um modo de respirar, de perceber, de sentir, de responder etc.” A emoção, de acordo com Maturana (2002), é a disposição corporal para o agir e, segundo Echeverría (2008), nos constitui em observadores diferentes. Distintos estados emocionais nos predispõem a observar certos eventos e a não observar outros. Uma pessoa tranquila observará coisas diferentes do que observa uma pessoa assustada, com medo, e o mesmo pode-se dizer a respeito de qualquer emoção. A diferença que as emoções estabelecem no indivíduo(observador) não se limita ao que este é capaz de observar ou deixar de observar. Uma mesma situação vivenciada por dois observadores diferentes será distinta de acordo com seus respectivos estados emocionais. “Todas as nossas observações se produzem em um determinado espaço emocional que as afetam. Ao mudar o espaço emocional do observador, se modifica o tipo de observações que ele realiza” (ECHEVERRÍA, 2008, p. 166). Dessa forma, mudam, também, o âmbito de ação, as escolhas possíveis e, portanto, a tomada de decisão, que veremos a seguir. 54 O indivíduo na organização Tomada de decisão A tomada de decisão é um elemento crítico nas organizações, mas se considerarmos que as decisões são, em uma última análise, uma ação que envolve os indivíduos, faz-se necessário examinar primeiro a tomada de de- cisão no nível individual. Processo de tomada de decisão individual Nas organizações os indivíduos tomam decisões, isto é, escolhem entre duas ou mais alternativas. A forma como as pessoas tomam essas decisões e a qualidade de suas escolhas finais dependem muito de suas percepções (observações). O que é um problema para uma pessoa pode ser um estado satisfatório para outra. Dessa forma, o conhecimento da existência de um problema e da necessidade de uma decisão depende da percepção de cada pessoa. “Todas as decisões requerem a interpretação e a avaliação de informa- ções. Os dados costumam vir de diversas fontes e precisam ser seleciona- dos, processados e interpretados” (ROBBINS, 2002, p. 128). Nesse contexto, surge a indagação: que dados devem ser considerados para uma tomada de decisão? Robbins (2002, p. 128) propõe um modelo racional de tomada de deci- sões estruturado em seis etapas: Quadro 2 – Etapas do modelo racional de tomada de decisão Etapas Características 1 – Definir o problema. 1 – Concentração nos itens mais importantes e escolha de um foco de atuação. 2 – Identificar os critérios para a decisão. 2 – Estabelecimento de uma linha de ação e seleção das possíveis soluções. 3 – Dar pesos específicos a esses critérios. 3 – Exame das soluções escolhidas que podem dar me-lhor resultado. 4 – Desenvolver as alternativas. 4 – Desenvolvimento de um plano de ação para im-plantação das soluções escolhidas. 5 – Avaliar as alternativas. 5 – Simulação de cada solução planejada (“e se”). 6 – Escolher a alternativa que parece melhor. 6 – Execução do plano de ação, conforme a ordem de prioridade. (R O BB IN S, 2 00 2. A da p ta do .) O indivíduo na organização 55 Apesar da necessidade de usar um processo lógico e claro para tomada de decisão, é importante que também seja usada a criatividade, ou seja, a habilidade de gerar ideias novas e úteis. Essas ideias devem ser diferentes daquilo que já foi feito até o momento e apropriadas para o problema ou oportunidade atual. Para tanto, três componentes são necessários: perícia, pensamento criativo e motivação intrínseca pela tarefa. O comportamento das pessoas, como já vimos, baseia-se na sua observa- ção da realidade e não da realidade em si. Nenhuma decisão é tomada no vazio, mesmo que isso não seja feito de ma- neira consciente e formal, partimos de nossas experiências anteriores, da análise da situação atual e daquilo que queremos conseguir no futuro. Assim, podemos dizer que as decisões estão envolvidas, basicamente, por três elementos: O observador que cada um é. � As distinções que capacitam o observador a interpretar a realidade de � um modo peculiar. As expectativas em relação ao futuro. � Decidir é essencial ao ato de viver, pois a cada momento estamos toman- do algum tipo de decisão, seja a decisão mais simples até as mais comple- xas. Após a tomada de uma decisão, torna-se impossível o retorno à situação anterior, mesmo que ilusoriamente, pois a realidade já não é mais a mesma, devido ter sido alterada pela escolha inicial. A opção escolhida é aquela que no momento nos parece ser a melhor opção, diante das possibilidades existentes. Entretanto, quando algo dá errado, temos a tendência a considerar que poderia ter sido diferente se fosse outra a opção escolhida. Precisamos estar atentos para esse tipo de comportamento, pois se acon- tecer constantemente pode nos colocar diante de situações de frustração ou até mesmo de sentimento de culpa, devido às escolhas que foram feitas no passado, agora no presente, serem consideradas como uma opção “errada”. Assim, como as águas de um rio, a vida segue sempre em frente, não há retorno, não há volta. O arrependimento por uma decisão tomada deve servir apenas para nos orientar em outras situações, jamais para nos mortifi- 56 O indivíduo na organização car. Nossa vida é o resultado de nossas decisões e não há como avaliar uma decisão não tomada, uma situação não vivida ou uma escolha não feita. A decisão nas organizações Assim como o ser humano, as organizações precisam tomar decisões a cada momento. De certa forma, cada empresa se constitui de uma coleção de decisões que direcionam e determinam o seu futuro e, em consequência, o futuro dos seus empregados. Se uma decisão não se converte em trabalho, não será uma decisão, ela terá sido no máximo uma boa intenção. Significa dizer que a decisão eficaz deve ser baseada no mais alto nível de entendimento conceitual da situação, no compromisso com a ação e deve estar o mais próximo possível da capaci- dade real das pessoas que serão encarregadas de executá-las. As decisões de negócios são difíceis, principalmente aquelas que envol- vem incertezas, pois apresentam muitas alternativas que são complexas e suscitam questões interpessoais. Com base nas várias teorias existentes e nas experiências vivenciadas, al- gumas técnicas foram desenvolvidas para lidar com essas dificuldades, con- siderando a decisão como um processo lógico. De acordo com Luecke (2009, p. 18), as decisões podem ser tomadas obe- decendo aos seguintes passos: Estabelecer um contexto para o sucesso.1. Contextualizar a questão adequadamente.2. Gerar alternativas.3. Avaliar as alternativas.4. Escolher a alternativa que parece melhor.5. A tomada de decisão é apenas uma das tarefas de um executivo, mas tomar as decisões específicas é tarefa dos executivos, que devem observar um processo sistemático, com elementos claramente definidos e em uma sequência de etapas distintas. O indivíduo na organização 57 Valores, atitudes e satisfação com o trabalho “Cem vezes por dia eu me lembro de que minha vida interior e exterior de- pendem do trabalho de outros homens, que estão vivos e mortos, e que devo me esforçar para me manifestar na mesma medida em que recebi” (Albert Einstein). (Educação para Todos, 2009) O tema cultura organizacional trata as organizações como minissocie- dades que possuem seus próprios valores, rituais, ideologias e crenças. O homem é o principal elemento desse contexto, pois ele interage com os sub- sistemas, no qual está em constante busca pela satisfação com o trabalho (DIAS, 2003). Não é somente o homem que está à frente dessa busca, as organizações também lutam continuamente pela sua eficácia, e devem estar conscientes de que não podem fazer isso de forma isolada. As organizações devem, sim, entender que os fenômenos que ocorrem em seu interior são reflexos do que está na mente das pessoas, e que se baseiam em significados compartilha- dos que permitem às pessoas que se comportem de maneira organizada. Muito se fala da empresa do século XXI e o que ela precisar ter e fazer para sobreviver em um mundo corporativo que apresenta transformações natu- rais dos negócios a um ritmo rápido e até a poucos anos impensável. Segundo Dimitrius et al. apud Chowdhury (2003), os líderes do século XXI devem ter como meta a busca de um sonho, mas não só sonhar como também buscar a sua realização. Essa capacidade de sonhar passa a ser um ativo muito valioso para as lideranças atuais e futuras. Para que não seja apenas mais uma palavra sonoramente agradável, o sonho deverá tornar-serealidade com a implementação efetiva das ideias que eles trazem. Como fazer isso – realizar sonhos – lidando com pessoas, é um desafio que Dimi- trius et al. (2001) consideram muito difícil, pois os seres humanos têm um grau elevado de contradição, uma marca da confusão de pensamentos que podem levar a muitos conflitos. As pessoas não são uma parte separada da organização, elas são a orga- nização, e possuem um conjunto de necessidades muito amplas que foram construídas a partir da história de vida de cada uma delas, das suas experi- 58 O indivíduo na organização ências e da escala de valores que aprenderam a seguir durante a vida. Dessa forma, buscar somente a concretização dos sonhos não garante o sucesso das organizações nem das pessoas, que executam e sustentam as estratégias organizacionais. A proposta é abordarmos também o tema “satisfação com o trabalho” acreditando que as pessoas podem desenvolver uma nova forma de pensar e agir que lhes permita encontrar felicidade e segurança mesmo que o mundo apresente mudanças constantes e permanentes. Cultura organizacional Segundo Dias (2003) a cultura organizacional é o conjunto de valores, crenças e entendimentos importantes que os integrantes de uma organiza- ção têm em comum. Já Edgard Schein apud Dias (2003, p. 44) um dos mais destacados pesquisadores e estudiosos do tema, diz que cultura organiza- cional é: [...] um padrão de suposições básicas compartilhadas que o grupo aprendeu ao resolver seus problemas de adaptação externa e integração interna, que funcionaram bem o bastante para serem consideradas válidas e, por isso, foram ensinadas aos novos membros como o modo correto de perceber, pensar e sentir em relação a estes problemas. A depender do setor em que estão situadas – setor público, privado ou terceiro setor – as organizações apresentam uma cultura característica, que pode ser percebida através da linguagem, das imagens, dos símbolos, das histórias, crenças, hábitos e valores. O que queremos dizer é que, apesar das pessoas serem diferentes umas das outras, carregam consigo características específicas das organizações a que pertencem. Por exemplo, quem trabalha em uma ONG que desenvolve projetos so- ciais, tende a se preocupar com as desigualdades da sociedade, a olhar mais para as pessoas. Indivíduos que pertencem a empresas que sofrem com a competitividade das leis do mercado tendem a focar as suas preocupações nas questões de competência, produtividade, lucro e sobrevivência. Não estamos avaliando se uma é melhor ou pior do que outra, mas res- saltando a influência da cultura organizacional nos membros das organi- zações. O indivíduo na organização 59 Como não são sistemas fechados, as organizações são permeáveis a outras culturas, embora sempre apresentem suas características peculiares, elas sofrem influência das culturas existentes no ambiente em que estão in- seridas. Por exemplo, uma empresa de Curitiba, ao instalar uma unidade em Manaus, não será a mesma, e estará sujeita às influências específicas exter- nas da cultura da região Norte do Brasil. Para compreender melhor essa dinâmica, vamos dedicar um tempo para falar sobre a questão dos valores organizacionais e valores pessoais. Valores Conhecemos o “tal do jeitinho brasileiro” que leva ao seguinte raciocínio: poder fazer não pode, mas sempre se dá um jeito. Algumas pessoas consi- deram isso até uma virtude, complacência com os demais – fecham os olhos para certas irregularidades que são cometidas em nome desse lema. Furar fila em banco, fazer fila dupla na porta da escola para apanhar os filhos são atitudes inocentes ou engraçadas? São coisas de gente que possui esperteza e vivacidade? E sonegar notas fiscais, levar comissão nas transa- ções comerciais, promover concorrências públicas com “cartas marcadas”? Uns jeitinhos são mais às claras e outros mais escondidos. Queremos chamar a sua atenção para o fato de que esses “jeitinhos” surgem como forma autoritária e individualista de desconsiderar as normas da boa convivência coletiva. Outras ações do ser humano que podem ser consideradas reprováveis são o ato de mentir, de explorar o trabalho dos outros etc. Quando falamos em reprovação ou aprovação, estamos revelando que de- terminadas ações são passíveis de valoração, ou seja, são consideradas justas ou injustas, certas ou erradas, boas ou más. Em função dessa valoração, essas ações podem ser admiradas ou desprezadas. A partir desse ponto pode-se fazer duas perguntas: a primeira é “o que é valorar?” E a segunda “o que é valor?” Os valores possuem um elemento de julgamento baseado naquilo que as pessoas acreditam ser correto, bom ou desejável e “representam convicções básicas de que um modo específico de conduta ou de valores finais é indi- vidualmente ou socialmente preferível a um modo oposto” (ROBBINS, 2002, p. 60). 60 O indivíduo na organização Os valores trazem um elemento de julgamento baseado no que a pessoa acredita ser correto, desejável ou bom, e possuem atributos de conteúdo e de intensidade. Essa intensidade é o que determina o sistema de valores de uma pessoa, de uma sociedade ou de uma organização. Dependendo de quanto o valor é importante para uns e para outros, vai se estabelecendo uma hierarquia de valores, que forma o sistema de valores de cada pessoa. Uns valorizam bastante a liberdade, outros o respeito, honestidade, aten- ção, obediência, justiça e assim por diante. Esses valores são relativamente duradouros e estáveis, pois grande parte de nós assumimos esses valores desde a infância com a convivência familiar, na escola, nos grupos sociais onde crescemos. O que garante essa estabilidade dos valores é que nessa época em que estamos sendo formados, não havia lugar para a ambiguida- de. Alguém dizia “seja mais ou menos obediente, mais ou menos responsá- vel?” Era preto no branco e isso é que garante a estabilidade dos valores. Podemos questionar nossos valores? Sim, e isso pode nos levar a um pro- cesso de mudança em que chegamos à conclusão de que não aceitamos mais as nossas convicções básicas. Esse processo de reflexão pode levar também a um fortalecimento dos valores que trazemos. No mundo corporativo, o estudo do comportamento organizacional e análise da questão dos valores são de suma importância para entendermos aspectos das atitudes, da motivação e da satisfação com o trabalho. Tomemos o seguinte exemplo: você é contratado para trabalhar em uma organização, obviamente carrega seus sistemas de valores e a tendência é observar para verificar seu alinhamento com os valores corporativos. Pense que você entende que a forma mais justa da empresa remunerar seja com base no desempenho das pessoas. Ao tomar conhecimento que essa em- presa remunera com base no tempo de serviço, como se sentiria? Você iria se esforçar muito para trabalhar com elevado nível de qualidade? Provavel- mente suas atitudes e seu comportamento seriam diferentes se os valores da organização estivessem mais alinhados aos seus, concorda? Tipos de valores Vamos analisar agora a classificação de valores elaborada por Rokeach (apud ROBBINS, 2002) que construiu uma tipologia dividida em duas cate- gorias: O indivíduo na organização 61 Quadro 2 – Tipos de valores Tipos de valores Valores terminais – é o auge da vida. O que o ser humano gostaria de atingir durante sua vida. Valores instrumentais – os modos de com- portamento ou meios escolhidos para o al- cance das metas. Vida confortável Vida emocionante Sentido de realização Mundo de paz Mundo de beleza Igualdade Liberdade Harmonia Ambição Coragem Perdão Honestidade Lógica Limpeza Independência Afetividade Atitudes e satisfação no trabalho O que são atitudes? São afirmações avaliadoras, favoráveis ou desfavorá- veis, em relação a objetos, pessoas e situações. As atitudes são o reflexo de como alguém se sente com relação a alguma coisa. Quando digo “gosto muito do meu trabalho”, estou expressando minha atitudeem relação ao trabalho. Atitudes se diferenciam dos valores, apesar de estarem inter-relacionados. Podemos destacar três componentes básicos da atitude (ROBBINS, 2002): Componente cognitivo1. (afirmação avaliadora) – falar mal das pesso- as na sua ausência é errado. Componente afetivo2. – não gosto do Tadeu, pois ele sempre fala mal das pessoas quando elas não estão presentes. Componente comportamental3. – decidi que vou evitar me encontrar com o Tadeu. A compreensão da complexidade das atitudes passa pelo entendimen- to desses componentes e nos ajuda a analisar melhor a relação entre ati- tude e comportamento. Os valores são estáveis, porém não imutáveis. Por outro lado, as atitudes são menos estáveis. Pense no papel das propagandas; elas buscam mudar sua atitude com relação a um determinado produto, se você se sentir atraído, tal produto pode despertar um sentimento positivo e esta atitude (componente afetivo) pode levá-lo a comprá-lo (componente comportamental). (R O BB IN S, 2 00 2. A da p ta do .) 62 O indivíduo na organização As pessoas têm milhares de atitudes, porém os estudos do comporta- mento das organizações se voltam para as avaliações positivas e negativas que os empregados possuem com relação ao trabalho e podem ser assim classificadas: Satisfação com o trabalho 1. – atitude geral que uma pessoa tem com relação ao seu trabalho. Envolvimento com o trabalho 2. – grau em que uma pessoa se identi- fica com seu trabalho, participa ativamente dele e considera seu de- sempenho como uma coisa valiosa. Aqui falamos de identificação com as tarefas. Comprometimento organizacional 3. – grau em que um empregado se identifica com uma determinada empresa e seus objetivos, desejan- do manter-se como parte da organização. Nesse caso estamos falando de identificação com a organização. Engajamento4. – os empregados colocam uma dose “acima e além” de energia e dedicação no que fazem. Proporcionam grandes resultados se engajados em um sentido emocional. O que é engajamento? Vamos ilustrar com uma pequena história: Gubman (1999), conta que em determinada ocasião enfrentou três horas de atraso de um voo, em solo, dentro de uma aeronave. A companhia aérea havia adqui- rido uma outra empresa e a equipe de comissários era formada por pessoas oriundas das duas empresas, porém o grupo da companhia que comprou a outra recebia salários mais elevados do que o grupo da empresa adquirida. Depois de sofrerem muito com o forte calor e desconforto, ele perguntou a uma das comissárias: “Será que não conseguimos nem um pouco de água para matar a sede?” Ao que ela respondeu: “A empresa não liga a mínima para mim, nem para os senhores também”. Ele estava acompanhado de mais seis pessoas e todas juraram que nunca mais viajariam nos aviões daquela companhia aérea. Vimos com isso uma evidência de como uma relação ruim de trabalho tem fortes efeitos negativos sobre o comportamento e atitudes dos serviços prestados aos clientes. O alinhamento com o estilo de estratégia e o forneci- mento de valor aos clientes exigem que as empresas levem em consideração as necessidades e desejos dos empregados. O indivíduo na organização 63 Alinhar as pessoas às estratégias empresariais significa que elas sabem para onde estão caminhando, o que estão fazendo para atingir as metas, como elas podem contribuir e até como serão recompensadas pelo seu tra- balho. E todos gostam muito de saber sobre tudo isso. Já no processo de engajamento é onde surge o entusiasmo para fazer as coisas. Esse entusiasmo vem acompanhado de orgulho por trabalhar naque- la empresa, forte identificação com seus valores e sentimento de pertenci- mento, com uma grande dose de compromisso e emoção. Identificamos três princípios básicos no processo de engajamento: Explicar1. – o que os empregados querem saber? Para onde estamos indo, o que estamos fazendo para chegar lá, qual a minha contribuição e o que vou receber por isso. Perguntar2. – indagar é o começo da participação que invariavelmente leva ao engajamento. Pergunte: como as pessoas podem contribuir? Pergunte bastante e escute com atenção as respostas. Envolver3. – neste estágio as pessoas começam a agir. Aqui elas preci- sam estar tão comprometidas com as soluções que não precisam dos chefes para lhes dizer o que têm que fazer. Esse envolvimento pressu- põe riscos em preocupações, porém segundo Nancy Siska, vice-pre- sidente da Cargill, “as pessoas precisam ser donas dos problemas que trazem para você e ajudar a solucioná-los. Isso parece elementar, mas ajuda a reduzir o ceticismo. O difícil na administração é ficar aberto para as soluções que são apresentadas”. Conclusão Vamos destacar alguns temas de significativa importância que foram tra- tados nesta aula. Vimos que para compreender as relações das pessoas com as organiza- ções, é importante saber que somos diferentes uns dos outros, temos per- cepções diferentes e que cada pessoa se constitui em um observador único e com percepções diferenciadas. Os resultados que cada pessoa obtém de- pende da sua forma de agir, que é determinada pelo tipo de observador que é, ou seja, as pessoas são diferentes, observam mundos diferentes, se com- portam, reagem, atuam e escolhem de forma diferente. 64 O indivíduo na organização Vimos ainda que existem impactos devido às diferentes formas que cada observador enxerga o mundo no processo de tomada de decisão nas organi- zações. Apresentamos um modelo estruturado que pode nos ajudar, desta- cando, também, a importância da criatividade, da habilidade de gerar ideias e da motivação que são determinantes na tomada de decisão. Na última parte da aula tratamos dos temas relacionados à cultura orga- nizacional, valores pessoais, organizações e a satisfação com o trabalho. Como as organizações são formadas por pessoas, a sua cultura é forma- da pelo conjunto de valores, crenças, experiências, sentimentos de todos os seus componentes e um influencia no comportamento do outro. As organi- zações não são influenciadas somente pelas pessoas que a integram, mas também pelas culturas do ambiente onde estão localizadas. Sendo o nosso tema central o “indivíduo na organização”, não podíamos deixar de tratar do tema da sua satisfação com o trabalho, que é a atitude geral que uma pessoa tem em relação ao seu trabalho. Ampliando seus conhecimentos O texto a seguir foi usado num discurso de Carlos Cesar Souza em home- nagem ao dia do Administrador e ilustra bem os desafios que os gestores enfrentarão no futuro. Administrador, você é líder da sua vida? (SOUZA, 2007) Cada um de nós está se defrontando com o grande paradoxo da chamada Era do Conhecimento: nunca tivemos acesso a tanta informação e, ao mesmo tempo, nunca tivemos tão pouca certeza sobre nosso destino. Jovens estudantes se questionam se devem seguir as carreiras tradicionais insinuadas por seus pais ou se devem abrir seu próprio negócio. Alguns ques- tionam até se devem continuar estudando. Empregados de negócios antes sólidos acordam sobressaltados com a perspectiva de fusão ou aquisição e de “sobrarem” nesse processo. O indivíduo na organização 65 Pessoas de meia-idade questionam sua atual relação de trabalho e buscam um sentido maior para suas vidas. Aposentados precoces se recusam a sair de cena e querem se sentir úteis e produtivos. Quem não está trabalhando busca desesperadamente uma oportunidade. A maioria dos que estão empregados anda insatisfeita com o seu trabalho e com o rumo de sua carreira. Quais as alternativas? O que fazer? Não tenho respostas. Trago três perguntas adicionais. São desafios com os quais me defronto e quero convidar você, administrador, a refletir junto comigo. Esses desafios estão obviamente interligados e refletem no fundo qual a postura que devemos adotar. A resposta para nossos desafios não reside em técnicas, mas em posturas perante nossas vidas. Desafio 1 – criar novos paradigmas, em vez de aceitar conceitos, ideias e práticasque deram certo no passado. O que deu certo até aqui, não dará mais! Precisamos reconhecer que esta- mos defronte de uma grande oportunidade. A oportunidade para reinventar a Administração. Já afirmei várias vezes que a Administração, tal como a co- nhecemos hoje, chegou ao fim de um ciclo. Pode parecer ousadia, pretensão, arrogância. Mas precisamos reinventar a Administração, pois a maioria dos negócios está sendo reinventada. As empresas sobreviventes serão aquelas que conse- guirem se reinventar. Como consequência, precisamos também reinventar os conceitos de Liderança, Motivação, Relacionamento com Clientes, Carreiras, Planejamento Estratégico. O que deu certo no passado não corresponde mais à realidade da vida empresarial que nos cerca. Em vez de pensar que estamos defronte de um grande problema, devemos perceber a enorme oportunidade que nos está sendo oferecida. A oportuni- dade de contribuir com a Administração reinventando alguns de seus concei- tos. Vamos colocar não só mãos à obra e também nossas cabeças e corações à obra. Os bem-sucedidos executivos e empresários, na sua labuta diária, já estão na vanguarda dessa reinvenção. Não temos tempo a perder! 66 O indivíduo na organização Desafio 2 – inventar o futuro em vez de ficar tentando advinhá-lo. As empresas já estão investindo considerável parcela de tempo em inter- mináveis sessões de planejamento estratégico, tentando advinhar o futuro. Contratam economistas, futurólogos, cenaristas... Para fazer previsões que não se confirmarão. Prefiro evitar o lugar-comum desses paradigmas mais visíveis e a tentação de discorrer sobre macro variáveis. Prefiro olhar para os novos paradigmas menos visíveis, mas que têm dado certo em algumas empresas vencedoras. São novas ideias e formas de se posicionar – mais micro que macro – que têm ajudado essas empresas a inventar seu futuro, em vez de simplesmente tentar advinhá-lo. O papel do líder não é de advinhar o futuro. É, sim, o de inventá-lo! E precisamos inventar um modelo de competitividade baseado na inclu- são. Os modelos baseados na exclusão – social, econômica, digital, política – provaram ser ineficazes. Trouxeram infelicidade a países, negócios, empre- sas, famílias, indivíduos. Precisamos deixar para trás as estruturas que sepa- raram o chão de fábrica dos gestores, o planejamento da ação, o emocional do racional. O futuro dos vencedores será construído com pontes entre os clientes e a empresa, entre os departamentos, a firma e a comunidade, o pessoal e o profissional. Precisamos de “construtores de pontes”, em vez dos “construtores de paredes” que predominaram na era industrial e nos tempos da competição artificial. Precisamos inventar nosso futuro, em vez de ficar tentando advinhá-lo! Desafio 3 – sonhar e realizar nossos sonhos, em vez de “apenas” buscar sobreviver na dura realidade que nos cerca. Sonhar não é privilégio de artistas, intelectuais ou de crianças. Nem acon- tece apenas quando estamos dormindo. As grandes realizações nada mais são que a concretização de sonhos. Desenvolva a arte de sonhar e de transformar seus sonhos em realidade. Ao implementar seus sonhos, confie em alguns intangíveis: intuição, em- preendedorismo, flexibilidade, informalidade, cordialidade. O indivíduo na organização 67 A tecnologia muda diariamente, mas a velha chave do sucesso continua sendo o sentimento que se escreve com seis letras: P-A-I-X-Ã-O! Apaixone-se pelas suas missões e tarefas. Ou mude. Caso contrário jamais terá sucesso no seu sentido mais profundo. Muitos acreditam que o sucesso é o objetivo final da vida. Na verdade é apenas o começo. Gerenciar o sucesso é tão difícil quanto gerenciar o fracas- so. Se não for bem gerenciado, o sucesso pode levar ao fracasso. Vários são os exemplos de empresas, atletas, artistas, executivos que se perderam no sucesso. Cada um de nós pode ser medido pelo tamanho dos nossos sonhos!!! O líder é do tamanho de seus sonhos! Atividades de aplicação 1. Teste de identificação do tipo de cultura, por Robbins (2002). Na tabela abaixo estão listadas 14 afirmações. Utilizando uma escala de cinco itens desde concordo plenamente até discordo totalmente, responda a cada uma delas, circulando o número que melhor represente sua opinião. Sinto-me à vontade para questionar as afirmações do meu professor/chefe. 5 4 3 2 1 Meu professor/chefe pune a equipe severamente quando os prazos não são cumpridos. 5 4 3 2 1 Meu professor/chefe acredita que o resultado é o que conta. 5 4 3 2 1 Meu professor/chefe é sensível aos meus problemas e necessidades pessoais. 5 4 3 2 1 Boa parte da minha avaliação depende de quanto eu trabalho bem com os meus colegas. 5 4 3 2 1 Frequentemente sinto-me tenso e nervoso quando chego na aula/ trabalho. 5 4 3 2 1 Meu professor/chefe parece preferir a estabilidade à mudança. 5 4 3 2 1 Meu professor/chefe me estimula a desenvolver ideias novas e originais. 5 4 3 2 1 Meu professor/chefe tem pouca tolerância às ideias superficiais. 5 4 3 2 1 Meu professor/chefe preocupa-se mais com a maneira pela qual cheguei a uma conclusão do que com a conclusão em si. 5 4 3 2 1 Meu professor/chefe trata todos da mesma forma. 5 4 3 2 1 Meu professor/chefe desaprova um colega que está ajudando outro na reali- zação das tarefas. 5 4 3 2 1 Pessoas mais agressivas e competitivas têm muito mais chances nesta escola/ empresa. 5 4 3 2 1 Meu professor/chefe me estimula a olhar o mundo de forma diferente. 5 4 3 2 1 68 O indivíduo na organização 5 – Concordo plenamente 4 – Concordo 3 – Neutro 2 – Discordo 1– Discordo totalmente Coloque sua pontuação total, somando os números que você circulou. A soma estará entre 14 e 70. Uma pontuação alta (49 ou mais) descreve uma cultura aberta, que estimula os riscos, apoiadora e humanística, orientada para a equipe, de fácil convivência e voltada para o cresci- mento. Uma pontuação baixa (35 ou menos) indica uma cultura fechada, es- truturada, orientada para a tarefa, individualista, tensa e voltada para a estabilidade. As diferenças na pontuação contam. Um resultado de 60 pontos indica uma cultura mais aberta do que um resultado de 50 pontos. Lembre-se de que uma cultura não é melhor do que outra. A cultura “certa” vai depender de suas preferências em relação ao ambiente de aprendizagem. 2. Uma tomada de decisão em situação crítica. No quadro abaixo apare- ce uma situação de atraso em um projeto. Analise e proponha alterna- tivas na coluna da direita usando a matriz do Robbins. Etapas Gerência de um projeto (atraso nas entregas) 1 – Definir o problema 2 – Identificar os critérios para a decisão 3 – Dar pesos específicos a esses critérios 4 – Desenvolver as alternativas 5 – Avaliar as alternativas 6 – Escolher a alternativa que parece melhor 3. Descreva uma situação na sua vida profissional que poderia ser ana- lisada/percebida utilizando o Modelo do Observador e os níveis de aprendizagem. O indivíduo na organização 69 Gabarito 2. Etapas Gerência de um projeto (atraso nas entregas) 1 – Definir o problema 1. Quais as possíveis causas (problemas) para esses atrasos (consequência)? R. Mudanças de escopo, escassez de mão de obra, li- mitação de orçamento (possíveis causas/problema). 2 – Identificar os critérios para a decisão 2. Quais causas (problemas) são verdadeiras e o peso de cada uma nos atrasos? R. Todas são verdadeiras e devem ser consideradas. 3 – Dar pesos específicos a esses critérios 3. Se todas são verdadeiras, qual deve ser priorizada para solução? R. As constantes mudanças de escopo do projeto, as demais são consequências. 4 – Desenvolver as alternativas 4. Então, o que pode ser feito para resolver o proble- ma das constantes mudanças no escopo do projeto? R. Verificar a origem dessas solicitações; se o(s) responsável(is) por essas solicitações tem(êm) au- toridade para fazê-las; se os motivos para essas mu- danças são verdadeiros, se elas estão sendo avaliadas pelo Comitê de Mudanças ou seas mudanças estão sendo feitas pelos próprios membros da equipe. 5 – Avaliar as alternativas 5. Como existem várias possibilidades para a origem do problema, o que deve ser feito de imediato? R. Reunir a equipe para avaliar o problema, reunir os interessados no projeto para verificar o que está acontecendo, verificar como está sendo o processo de aprovação de mudanças no Comitê. A conclusão é que as mudanças estão vindo diretamente para os membros que executam as atividades. 6 – Escolher a alternativa que parece melhor 6. Após a verificação de todas as alternativas para so- lução do problema (mudanças constantes no escopo do projeto) foi tomada uma decisão. R. Todas as mudanças solicitadas devem ser examina- das, primeiro, pelo Gerente do Projeto e a equipe de coordenação e, se necessário, serão submetidas ao Comitê de Mudanças. 3. Um exemplo que pode ilustrar esse processo é o de João (observador) que foi ao cliente oferecer e demonstrar um produto (ação). Ao final da reunião o cliente agradeceu e não manifestou o menor interesse em adquirir o produto (resultado). Podemos aqui ilustrar algumas manei- ras de João responder a essa situação: 70 O indivíduo na organização 1. Voltar ao escritório e dizer para seu chefe que o cliente não sabe o que quer e não vê razão para manter esse tipo de cliente em sua car- teira de atendimento. Aprendizagem de primeira ordem. 2. João pode refletir com seu chefe como contribuiu para esse resulta- do. Aprendizagem de segunda ordem. 3. João não só revê seu papel enquanto prestador de serviço como também reflete mais profundamente sobre o significado de prestar serviços em todos os seus espaços existenciais (em casa, socialmente), o que pode gerar oportunidade para uma transformação mais pro- funda no tipo de observador (profissional e ser humano) que João é. Aprendizagem de terceira ordem – transformacional. Referências ARGYRIS, Chris. Kwowledge for Action: a guide to overcoming barriers to orga- nizational change. San Francisco: Jossey-Bass, 1993. ARRUDA, Maria Lucia A; PIRES, Maria Helena M. Temas de Filosofia. São Paulo: Moderna Ltda., 1992. BRAGA, Sonia O. Coaching Ontológico como Instrumento de Desenvolvimen- to de Equipes de Trabalho. Dissertação (Mestrado em Gestão do Conhecimento e da Tecnologia da Informação), Universidade Católica de Brasília, 2007. CHOWDHURY, Subir et al. Administração no Século XXI: o estilo de gerenciar hoje e no futuro. Pearson Education do Brasil Ltda, 2003. DIAS, Reinaldo. 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Esses grupos influenciam o comportamento de acordo com sua estrutura e formação, tornando-se referência para os papéis ali representados. Moscovici (1994, p. 5) considera que um grupo compreende seus objetivos e está engajado em alcançá-los de forma compartilhada. A comunicação entre os membros é verdadeira, opiniões divergentes são estimuladas. A confiança é grande, assumem-se riscos. As habilidades complementares dos membros possibilitam alcançar resultados, os objetivos compartilhados determinam seu propósito e direção. Respeito, mente aberta e cooperação são elevados. O grupo investe em seu próprio crescimento. O indivíduo para atuar em equipe, de acordo com Biehl (2004), necessita de um processo evolutivo que se inicia pela capacitação em termos de au- toconhecimento, autoavaliação, feedback e relacionamento interpessoal. É importante ressaltar a influência que o alinhamento das metas e objetivos pessoais com as metas organizacionais exerce sobre o resultado dessa atua- ção. Depois, evoluindo para grupo que, ainda de forma superficial, se reúne em função de compromissos comuns e, por fim, a equipe como o ápice de relação interpessoal coletiva. Vergara (2000, p. 149) tem outro conceito para que um grupo de pessoas se torne uma equipe. Na concepção da autora, “é preciso que haja um ele- mento de identidade, elemento de natureza simbólica que una as pessoas, estando elas fisicamente próximas ou não”. Por essa concepção, profissionais que trabalham próximos ou distan- tes podem constituir uma equipe, ainda que, no momento da execução da tarefa, cada indivíduo atue isoladamente. 74 Equipes Bion apud Vergara (2000) escreve que, quando um grupo se reúne consti- tui simultaneamente dois grupos simbólicos: o grupo de trabalho ou refina- do e o grupo primitivo. O grupo refinado entende como valor a experiência e a aprendizagem, sendo constituído por elementos de ordem da organiza- ção. Esse grupo está aberto ao aprendizado e a rever suas regras. Tem como foco principal a tarefa a ser realizada. Já o grupo primitivo não considera o valor da experiência, pois a identifica como um erro do grupo. Esse grupo não gosta de aprender, pois a aprendizagem questiona seus pressupostos e comportamentos. Uma equipe, portanto, pode ser considerada como um grupo refinado, mas como seus componentes são seres humanos, apresentam característi- cas que constitui um grupo primitivo. Já para Biehl (2004) o conceito de equipes de trabalho dá ênfase ao pro- pósito, à meta e objetivo comuns. A definição de Katzenbach e Smith (1994) também apresenta o objeti- vo como foco, porém de forma mais ampla. Os autores consideram como equipe um grupo de pessoas que complementam suas aptidões, estando comprometidas com um objetivo comum e realizando seu trabalho de forma interdependente, sendo que todos são responsáveis pelos resultados. Essa definição tem sido utilizada na maioria dos trabalhos sobre equipes. Em todas as definições apresentadas é comum que os membros de uma equipe de trabalho compartilhem os objetivos e os resultados. Essas pessoas atuam na organização para o cumprimento de uma tarefa ou trabalho, com um ou mais objetivos comuns e valorizam a existência de condições que per- mitam também o seu crescimento individual. Observando as organizações contemporâneas, sob uma ótica do trabalho em equipe, percebe-se que muitas mudanças vêm ocorrendo na forma de como administrar as questões relacionadas à gestão de seus colaboradores. A necessidade de aumentar a produtividade, reduzir custos, cumprir prazos, obter resultadose, ainda, atender e garantir a satisfação do clien- te tem demandado um melhor desempenho das pessoas. Para competir de forma mais eficaz e eficiente, as organizações se reestruturaram de uma maneira que podem utilizar melhor os talentos dos empregados, adotando assim o trabalho em equipes. Essas empresas estão priorizando a aquisição e o desenvolvimento da competência em equipe, pois perceberam que se produz mais em equipe do que individualmente. Equipes 75 As organizações entenderam que o trabalho em equipe traz maior flexi- bilidade e aceitação às mudanças se comparado com a forma tradicional de trabalho departamentalizado ou mesmo de agrupamentos permanentes. As equipes têm a capacidade de se desdobrarem, mudar de foco, se dis- solver rapidamente e de criar resultados que seus membros realmente dese- jam. Essas características promovem a aprendizagem organizacional. Seja qual for o conceito abordado, deve ser entendido de forma dinâmica. O vínculo emocional ou a interdependência podem deixar de existir, fazendo com que a equipe se transforme em grupo, ou ao contrário, um grupo venha a tornar-se uma equipe diante da existência de circunstâncias favoráveis. Ciclo de desenvolvimento de equipes Após serem formadas, as equipes de trabalho passam por fases até que possam atingir um estágio em que o alcance dos objetivos é favorecido. Estas fases são apresentadas pelos grupos e como as equipes são um tipo específico de grupo, também estão sujeitas a elas. As fases nem sempre acontecem de maneira sequencial, com isso pode ocorrer que nem todas as equipes passem por todas elas. No entanto, algu- mas fases de desenvolvimento das equipes são mais evidenciadas como: Formação � – esta é a fase inicial, marcada pelo início do relacionamen- to entre os membros da equipe objetivando a realização do trabalho. Começa com um processo de reconhecimento e percepção do outro, mesmo que seja um colega de trabalho já conhecido. É também o mo- mento em que o objetivo da equipe e as condutas de relacionamento são definidos de forma mais clara. Quanto mais diferenças existirem entre seus componentes mais chances de apresentar dificuldades de relacionamento. Esta fase só estará concluída quando todos se reco- nhecerem como membros da equipe. Ajuste ou negociação � – após a fase de formação, quando todos já se identificam como membros da equipe, tem início o processo de ajus- te ou negociação. Nesta fase é estabelecido o que será realizado, por quem e de qual maneira. Caso os membros da equipe não concordem com as decisões poderão, neste momento, redefinir as regras. Nesta fase, caso não haja uma liderança formal instituída pela organização, começa a surgir entre o grupo. O poder do grupo começa a ser divi- 76 Equipes dido e disputado entre os membros. A forma como a negociação irá ocorrer dependerá do estilo pessoal dos componentes da equipe. Procedimentos � – nesta fase há a tendência de identificação e apro- ximação dos membros da equipe. A troca de informações acontece de maneira mais aberta e espontânea e existe maior tolerância face às divergências. É possível que seja explicitada nesta fase a concordância com as metas e objetivos da equipe. As lideranças, tendo sido aceitas pelos membros, definem, junto com eles, os papéis, tarefas e respon- sabilidades de cada um, assim como as normas de desempenho que favorecem a consecução dos objetivos da equipe. A conclusão desta fase acontece quando as normas de comportamento e os procedi- mentos são aceitos e definirão como as tarefas serão cumpridas. Desempenho – � nesta fase a execução das atividades tem início e por isso também está relacionada à produtividade. Dependendo da tarefa, algumas equipes irão se aprimorar no seu desempenho e isso poderá gerar um aumento dos níveis de produtividade. Assim, a produtivi- dade, por estar relacionada ao desempenho da equipe, nem sempre ocorre de forma permanente. Desintegração – � esta é a última fase do processo de desenvolvimento dos grupos ou equipes de trabalho. Ocorre quando os objetivos que motivaram a criação da equipe são atingidos e por isso não existe mais razão para sua continuidade. Esta fase acontece apenas com equipes de trabalho temporárias, ou seja, aquelas que são constituídas para a realização de um objetivo específico. Considerando as associações nos grupos de trabalho, Schutz (1994) con- sidera que os indivíduos apresentam três necessidades ao estabelecerem re- lações interpessoais. Essas necessidades definem as fases dos grupos. A inclusão, primeira fase, é a necessidade de estabelecer e manter relacio- namento satisfatório com as pessoas, considerando sua interação e associa- ção. Esta fase se estabelece quando todos os membros sentem que ocupam um papel no grupo e que os demais participantes perceberão sua ausência. A fase de controle está relacionada com a atitude de criar e sustentar re- lações satisfatórias com as pessoas considerando controle e força. Os partici- pantes têm como garantida sua presença no grupo e por isso se relacionam com respeito mútuo. O indivíduo evidencia suas competências pessoais e assume responsabilidade pelo papel apresentado ao grupo. Equipes 77 A última fase é a de afeição, sua característica também é a necessidade de criar e sustentar relacionamentos satisfatórios com outras pessoas, mas o foco é o amor e a afeição. O quadro a seguir demonstra as classificações de diferentes autores quanto às fases de um grupo e a similaridade existente entre as caracteriza- ções. Pode-se observar que a fase de fechamento não é incluída entre todos os autores comparados. Quadro 1 – Comparação das fases de grupos Fase Caracterização/Autor 1 – Inicial, de aproximação e forma- ção. Inclusão (SCHUTZ, 1994) Formação (ROBBINS, 2002) Encontro inicial (LUNDGREN, 1985) 2 – Ajustes, conflitos, mapeamento das posições e dos papéis. Controle (SCHUTZ, 1994) Tormenta (ROBBINS, 2002) Confrontação do coordenador (LUNDGREN, 1985) 3 – Estabilização, plenitude, confiança. Abertura (SCHUTZ, 1994) Normalização e desempenho (ROBBINS, 2002) Solidariedade grupal e intercâmbio de feedback (LUND- GREN, 1985 apud MOSCOVICI, 2003) 4 – Dissolução, fechamento. Terminação (LUNDGREN, 1985) Interrupção (ROBBINS, 2002 apud MOSCOVICI, 2003) Para Robbins (1999) os grupos de trabalho não têm necessidade ou opor- tunidade de se ocuparem de trabalho coletivo que requeira esforço conjunto. O desempenho alcançado é apenas o somatório das contribuições individu- ais de cada membro do grupo. Não existe sinergia para que o desempenho do grupo supere o resultado alcançado individualmente. Ao contrário, numa equipe de trabalho o esforço coordenado de todos gera sinergia positiva, possibilitando que os esforços individuais alcancem um nível de desempenho que supera o resultado individual. A existência de um propósito comum, uma visão compartilhada e o enten- dimento de como complementar os esforços uns dos outros, permite que os indivíduos não sacrifiquem seus interesses pessoais pela visão maior do grupo, mas passem a entendê-la como uma extensão de suas visões pessoais. Uma equipe alinhada permite que as energias dos indivíduos se harmo- nizem e seja possível a unicidade de direção proporcionando, consequente- mente, menos desperdício de energia. (R EI S, 2 00 9) 78 Equipes Nas equipes, quando as novas ideias são colocadas em prática, as habi- lidades desenvolvidas podem se propagar para outros indivíduos ou outras equipes, definindo a maneira e estabelecendo um padrão para a aprendiza- gem de toda a organização. Além das características apresentadas, a formação de redes de trabalho baseadas em equipes possui algumas vantagens. Uma delas está relaciona- da à captação da informação e à disponibilidade de uso que ocorrem com maior agilidade. Outra questão que pode ser considerada vantagem é a ge- ração de ideias. As ideias geradas pelas equipes geralmente são mais ricas, mais elaboradas e têm maior qualidade, pois são oresultado de diferentes olhares, pontos de vista, vivências e experiências. A maior tendência em as- sumir riscos traz uma vantagem para o trabalho em equipe, pois a respon- sabilidade pelos resultados é compartilhada entre todos. E o compartilha- mento do poder, que gera maior comprometimento dos membros do grupo, pode ser visto como vantagem do trabalho em equipe. Trabalhar em equipe ainda causa certa relutância entre muitas pesso- as. Algumas porque já estão acostumadas a trabalharem sozinhas, outras porque não tiveram boas experiências em outros grupos, ou o que é mais comum, porque têm dificuldades em aceitar mudanças em seus métodos de trabalho. No entanto, o trabalho em equipe vem se solidificando e tem sido escolhido como uma nova – ou única – proposta de trabalho nas organiza- ções contemporâneas. “A mudança do trabalho individual para o trabalho em equipe requer que empregados cooperem uns com os outros, partilhem informação, enfren- tem diferenças e sublimem interesses pessoais para o bem maior da equipe” (ROBBINS, 1999, p.189). Fundamentos do comportamento de equipe Ao se compor uma equipe as pessoas trazem seus conhecimentos, suas formas de expressão, vivências e valores, com isso manifestam também seus sentimentos, preconceitos e normas nas quais baseiam sua conduta. A interação que surge, a partir desse convívio, possibilita que seus mem- bros se conheçam e identifiquem semelhanças. Isso servirá de base para definir as normas coletivas em tácitas ou explícitas, na atuação da equipe. Equipes 79 Alguns fatores condicionam o processo da atuação do grupo no traba- lho em equipe, como as histórias individuais de cada membro, a história ou cultura do grupo que são baseadas em acontecimentos ou situações que marcaram a consolidação do grupo, o contexto que pode incluir desde a pai- sagem à estrutura social e a aproximação dos membros do grupo. Ao prestar atenção na forma como atua, ou seja, exercitando a autoava- liação, a equipe busca solucionar os problemas que comprometem sua atua- ção. O processo de autoavaliação é contínuo e envolve a percepção dos fatos, diagnóstico, planejamento de ação, resolução de problemas e avaliação. Seja qual for a equipe, é possível observar variações de como o calor humano, tensão, movimentos, equilíbrio, restrições, alegria, insegurança e crises se manifestam. Todos estes fatores contribuirão para formar a percep- ção de como os membros do grupo se sentirão. Isso se chama atmosfera. Moscovici (1994) destaca ainda a motivação, a comunicação, o proces- so decisório, o relacionamento, a liderança e a inovação como responsáveis pelo clima do grupo. No entanto, Schutz (1989) identifica os relacionamen- tos verdadeiros e abertos como fator determinante para um bom funciona- mento do grupo. A “atmosfera” ou clima da equipe é uma variável que passa pelos senti- mentos antagônicos como satisfação ou insatisfação, bem-estar ou mal estar, nas mais diversas formas de tensão, estresse, entusiasmo, prazer, frustração e depressão. A cultura e o clima da equipe passam a caracterizar, então, o próprio am- biente e a imagem da equipe. Todos esses fatores concorrem para a qua- lidade do comportamento ou desempenho do grupo num determinado período. Os comportamentos individuais são os mobilizadores de energia. Essa energia pode ser direcionada para resultados que se manifestam numa cons- tante e se estendem desde o extremo da divisão de forças (representada pela individualização de esforços e resultados), até o outro extremo (quando o total é maior que a soma das partes) representado pela sinergia da equipe. Para que essa sinergia possa se manifestar, as equipes necessitam de uma estrutura baseada em alguns fatores que condicionam o processo do grupo. Estes fatores são: 80 Equipes Capacidades dos membros � – para funcionar eficazmente, uma equi- pe precisa de três tipos diferentes de capacidades. Primeiro, ela preci- sa de pessoas com conhecimentos técnicos, segundo de pessoas com habilidades de resolução de problemas e tomada de decisões. E por fim, as equipes precisam de pessoas com boas habilidades interpes- soais para ouvir, dar retorno, resolver conflitos etc. Nenhuma equipe atinge seu potencial de desempenho sem desenvolver esses três tipos de habilidades, pois a mistura exata é crucial. No entanto, o excesso de um em detrimento dos outros pode resultar em um ponto fraco do desempenho da equipe. Personalidade � – as evidências sugerem que as equipes com média alta de extroversão, amabilidade, consciência e estabilidade emocio- nal costumam receber avaliações mais altas pelo seu desempenho. Outra descoberta interessante em relação à personalidade é que “uma maçã estragada pode comprometer toda a cesta”. Por isso, a inclusão de uma única pessoa que seja fraca em amabilidade, consciência ou extroversão pode resultar no desgaste dos processos internos da equi- pe e reduzir o seu desempenho geral. Alocação de papéis e diversidade � – as equipes bem-sucedidas têm pessoas para todos os papéis e elas são selecionadas para eles de acor- do com suas habilidades e preferências. Tamanho das equipes � – as melhores equipes de trabalho tendem a ser pequenas. Quando elas têm mais do que cerca de dez ou 12 mem- bros, torna-se difícil conseguir que muito seja feito. Os membros do grupo têm problemas para interagir construtivamente e concordar em muitos pontos. Um número grande de pessoas, geralmente, não pode desenvolver a coesão. Se na unidade natural de trabalho houver um número maior e se queira trabalhar em equipe, existe a possibilidade de o grupo ser dividido em subequipes. Flexibilidade dos membros � – a escolha de membros que dão valor à flexibilidade, à possibilidade de realizarem as tarefas uns dos ou- tros, pode levar a um melhor desempenho da equipe com o passar do tempo. Preferências dos membros � – ao selecionar os membros da equipe é muito importante considerar as preferências individuais, por isso é tão Equipes 81 importante considerar as habilidades, as personalidades e as capaci- dades de cada um. As equipes tendem a apresentar excelente desem- penho quando são compostas por pessoas que preferem trabalhar em grupo. Liderança formal � – um líder formalmente instituído, geralmente iden- tificado por um título definido pelo organograma da organização, por exemplo, gerente da unidade ou área, supervisor, coordenador etc. Esse líder terá um papel importante no sucesso e relacionamento in- terno da equipe. Normas � – são estabelecidas pelo grupo, com base em padrões acei- táveis de comportamento que são partilhados pelo grupo. Dizem aos membros do grupo o que eles devem ou não devem fazer em determi- nadas situações e o que é esperado de cada um. Considerando o contexto no qual as equipes estão inseridas, os três fato- res que parecem estar mais significativamente relacionados com o desem- penho das equipes são: a presença de recursos adequados, uma liderança eficaz e um sistema de avaliação de desempenho e de recompensas que re- flitam as contribuições da equipe. Por isso, não é de se admirar a exigência e importância que as organi- zações têm dado para que o indivíduo possua habilidades que facilitem o trabalho em equipe, habilidades tão distintas e diferentes daquelas exigidas para o desempenho de tarefas pessoais. De uma forma geral, todo processo seletivo feito nas organizações contemporâneas exige de executores e de executivos a capacidade de trabalhar em equipe. Outro aspecto relevante é destacado por Ornish (1998) que considera os relacionamentos e intimidade do grupo como importantes fatores para pro- cessos de cura e melhoria da qualidade de vida. O autor apresenta vários estudos e resultados de pesquisa que convergem para um ponto – a nossa saúde e a nossa sobrevivência dependem em grande parte da qualidade dos nossos relacionamentos. Tipos de equipe Quando o objetivo é identificar os tipos de equipes de trabalho, há uma grande dificuldade em apresentar umaclassificação única, pois existe uma 82 Equipes diversidade de propostas que utilizam a denominação de equipe para unida- des de desempenho que nem sempre apresentam características relaciona- das a uma equipe. Algumas delas, por exemplo, consideram aspectos como o tempo de permanência da equipe, a missão ou a natureza da atividade, a estruturação de seus componentes e a finalidade das tarefas da equipe. Considerando o aspecto tempo em que permanecem constituídas, as equipes podem ser classificadas em permanentes e temporárias. As equi- pes permanentes são aquelas que fazem parte de um departamento ou área específica da organização. Já as equipes temporárias são criadas com um objetivo específico e permanecem até o cumprimento da tarefa, quando então se desfazem. Se o aspecto enfatizado nas equipes passa a ser sua razão de existir (missão) as equipes são classificadas como equipes de trabalho, que terão como objetivo realizar tarefas que contribuam para a efetividade da organi- zação, e as equipes de desenvolvimento que têm como objetivo garantir a efetividade dos processos organizacionais (IVANCEVICH; MATTESON, 1999). Segundo Arrow e McGrath (1995) se a estrutura da equipe for o aspecto priorizado, então existirão três tipos de estruturas: grupos força-tarefa, equi- pes propriamente ditas e tripulação. Já os elementos dessa estrutura serão: o projeto ou objetivo a ser alcançado pela equipe, os membros que a com- põem e a tecnologia ou formas de desempenho das tarefas associadas às ferramentas utilizadas. Grupos força-tarefa � – o mais importante é objetivo a ser alcançado. Equipes propriamente ditas � – o mais importante são os indivíduos e as suas relações interpessoais positivas, consideradas fundamentais para o sucesso da tarefa. Tripulações � – o mais importante é o objetivo e em segundo lugar a tecnologia que é considerada complexa. Katzenbach e Smith (1994), após um estudo com centenas de grupos de trabalho que atuavam como “equipes”, concluíram que a maioria não tinha, de forma clara, uma visão dos seus objetivos ou de como os mesmos pode- riam ser alcançados. Equipes 83 Os autores então propõem a Curva de Desempenho de Equipe, classifi- cando os grupos de acordo com seu modo de funcionamento em uma das cinco posições: Pseudoequipe � – este tipo de grupo, embora possa definir um traba- lho a fazer, não tem como foco o desempenho coletivo, e nem se pre- ocupa em alcançá-lo. O relacionamento entre seus membros bloqueia o desempenho indi vidual e não permite que ocorra um ganho signifi- cativo para todos. Grupo de trabalho � – os membros desse grupo não identificam qual- quer razão para trabalharem como equipe. Neste tipo de grupo as res- ponsabilidades, objetivos e produtos per tencem a cada indivíduo. Um grupo de trabalho pode ser eficiente e efetivo, embora não traga como resultado uma atuação de equipe. Equipe potencial � – existe uma mobilização por parte dos membros deste grupo para atuarem em conjunto, porém necessitam de orien- tações e esclarecimentos quanto aos objetivos e à finalidade de esta- rem juntos. Precisam também assumir um postura efetiva quanto aos resultados do grupo. Equipe real � – a mu dança para uma equipe real acontece quando uma equipe potencial passa a apresentar maior aumento no desempenho. Uma equipe real é composta por pessoas que possuem habilidades complementares e estão comprometidas umas com as outras, pois têm uma missão comum, objetivos comuns e sistemática de trabalho bem definida. Existe confiança mútua e a responsabilidade pelo de- sempenho é assumida plenamente. Equipe de elevado desempenho � – além de apresentarem todas as características de uma equipe real, este grupo ainda está profunda- mente comprometido com o crescimento e sucesso pessoal de cada um e o sucesso dos outros. É uma equipe que supera de forma signi- ficativa o desempenho de outras equipes e atinge resultados que vão além das expectativas. É considerada um modelo para equipes poten- ciais e reais. Este estágio superior não é muito comum. 84 Equipes D es em p en ho Efetividade Trabalho em grupo Pseudo- equipe Equipe Real Equipe Potencial Equipe de Elevado Desempenho Figura 1 – Curva de Desempenho de Equipe. (K AT ZE N BA C H ; S M IT H , 1 99 4) A Curva de Desempenho de Equipe permite a classificação dos grupos encontrados em uma organização de acordo com o seu modo de funciona- mento. Estabelece uma relação entre efetividade e desempenho, classifican- do-os em uma das cinco posições apresentadas anteriormente. Porém, para que isso ocorra, é necessário algum tipo de intervenção técnica que promo- va mudanças na forma de atuação ou modo de operar dos grupos. Robbins (1999) classifica as equipes com base em seus objetivos. Esse autor considera que existem pelo menos três tipos mais comuns nas organi- zações, que são: Equipes solucionadoras de problemas � – os membros partilham ideias ou oferecem sugestões de como processos e métodos de tra- balho podem ser melhorados. Porém, a autoridade para implementar essas sugestões, na maioria das vezes, não é competência exclusiva dessas equipes. Equipes de trabalho autogerenciadas � – são grupos de empregados (geralmente em número de dez a 15) que assumem as responsabili- dades de seus antigos supervisores. Normalmente isso inclui planeja- mento e escalonamento de trabalho, controle coletivo do andamento do trabalho, tomada de decisões operacionais e ações em relação aos problemas. Essas equipes de trabalho totalmente autogerenciadas po- dem até selecionar seus próprios membros, permitindo que avaliem os desempenhos uns dos outros. Equipes 85 Equipes de funcionalidade cruzada – � são formadas pelos emprega- dos de nível hierárquico equivalente, porém de diferentes áreas de tra- balho, que se juntam para realizar uma tarefa. Isso permite uma gran- de troca de informações, desenvolvimento de novas ideias, resolução de problemas e a coordenação de projetos complexos. Ampliando seus conhecimentos O que você ganha com o trabalho em equipe Transformar a interação em algo estimulante e enriquecedor não é tão difícil quanto parece (NAVARRO, 2009) Não é novidade para ninguém que saber trabalhar em equipe é requisito básico para o sucesso profissional. Você se empenha para que os objetivos do grupo sejam alcançados, não importa se está na condição de líder ou de liderado. Agora, cá entre nós, trabalhar em equipe nem é fácil, não é? Às vezes é uma verdadeira dor de cabeça. Há casos em que ninguém se entende. Mas isso só acontece quando as pessoas estão mais preocupadas em desempe- nhar um papel do que em se aprimorar com o trabalho em equipe. Independentemente da personalidade e experiência de cada um, as pes- soas que participam de um trabalho conjunto encontram problemas quando assumem um entre dois papéis possíveis: um é o de quem age como se sou- besse de tudo; outro é o de quem age como se não soubesse de nada. Acha que estou simplificando demais? Vamos em frente e você me dirá se não é o que acontece. Os que agem como se soubessem de tudo têm opiniões formadas na ponta da língua. Confiantes com sua experiência identificam as causas de um problema num piscar de olhos. Têm facilidade para propor soluções, dar palpites na forma de trabalhar dos outros e apontar aquilo que não vai dar certo. “Deixa comigo” e “é assim que funciona” são suas frases preferidas. Ah, tem esta também: “Eu não disse?” 86 Equipes Os que agem como se não soubessem de nada evitam expor opiniões. Não gostam de se arriscar, de assumir responsabilidades. Ficam esperando que os que agem como se soubessem de tudo lhes digam o que fazer, pois, se alguma coisa der errado, é só se defender: “Mas eu fiz exatamente o que me disseram para fazer!” Frases como “não tenho opinião formada sobre isso”, “não fui eu” e “não tenho a menor ideia de como isso aconteceu” são as mais usadas. E agora, você me dá razão? Será que não se identificou com um dospapéis? É claro que o trabalho em equipe tem tudo para ser uma experiência desgastante. Aquele que age como se soubesse de tudo poderá encontrar alguém que contesta suas ideias, e aquele que age como se não soubesse de nada poderá ser obrigado a sair de cima do muro. Mas transformar a interação com outras pessoas em algo estimulante e enriquecedor não é tão difícil. Basta entender que: 1– No trabalho em equipe, quem acha que sabe tudo sempre pode apren- der algo novo, e quem acha que não sabe nada pode descobrir que é capaz. 2– O trabalho em equipe é bom não apenas para a empresa. É bom para quem participa, pois proporciona a troca de conhecimentos. E é nesse clima de compartilhamento que as qualidades individuais aparecem, pois as pesso- as são motivadas a usar o que têm de melhor. Em meu livro Obrigado Equipe, pela editora Gente, descrevo os tipos humanos que compõem os grupos de trabalho e falo da importância de cada. Na matemática da equipe, 1+1=3. A soma das energias de cada um gera uma energia coletiva poderosa, capaz de quebrar padrões, criar ideias e sacu- dir a mesmice. Atividades de aplicação 1. Uma equipe pode ser considerada: a) um grupo refinado com algumas características de grupo primi- tivo. b) um grupo primitivo, impermeável à experiência. Equipes 87 c) um grupo argumentativo. d) um grupo que não gosta de aprender. 2. A interação entre os elementos da equipe permite: a) a competência para produzir isoladamente. b) a capacitação para aceitar a insatisfação. c) o conhecimento mútuo e identificação de alguns pontos comuns. d) a decisão para não trabalhar em grupos. 3. Para funcionar eficazmente, uma equipe precisa de três tipos diferen- tes de capacidades. Quais seriam esses tipos? a) Estrutura baseada em alguns fatores condicionantes do processo grupal, recursos e qualidade de vida. b) Pessoas com conhecimentos técnicos, com habilidades em solução de problemas e tomadas de decisão, habilidades interpessoais. c) Tamanho da equipe, flexibilidade no grupo e personalidade. d) Executores, recursos e qualidade de vida. Gabarito 1. A 2. C 3. B Referências ARROW, H; McGRATH, J. Membership dynamics in groups at work: a theoretical framework (1995). In: L. Cummings; B. M. Staw (Eds.). Research in Organizational Behavior. London: JAI Press Inc. p. 373-411. v. 17. In: ALBUQUERQUE, F. J. B; PALA- CIOS, K. E. P. Grupos e Equipes de Trabalho nas Organizações. In: ZANELLI, José Carlos; BORGES-ANDRADE, Jairo Eduardo; BASTOS, Antonio Virgilio Bittencourt. (Orgs.). Psicologia, Organizações e Trabalho. Porto Alegre: Artmed, 2004. 88 Equipes BIEHL, K. A. Grupos e equipes de trabalho: uma estratégia de gestão. In: BITEN- COURT, C. (Org.). Gestão Contemporânea de Pessoas: novas práticas, conceitos tradicionais. Porto Alegre: Bookman, 2004. IVANCEVICH, J.; MATTESON, M. Organizational behavior and management. Singapore: Irwin/McGraw-Hil (1999). In: ALBUQUERQUE, F. J. B.; PALACIOS, K. E. P. Grupos e Equipes de Trabalho nas Organizações. In: ZANELLI, José Carlos; BORGES-ANDRADE, Jairo Eduardo; BASTOS, Antonio Virgilio Bittencourt (Orgs.). Psicologia, Organizações e Trabalho. Porto Alegre: Artmed, 2004. KATZENBACH, Jon R.; SMITH, Douglas K. A Força e o Poder das Equipes. São Paulo: Makron Books, 1994. MOSCOVICI, Fela. Equipes Dão Certo – a multiplicação do talento humano. Rio de Janeiro: José Olympio, 1994. NAVARRO, Leila. O que Você Ganha com o Trabalho em Equipe. Disponí- vel em: <www.leilanavarro.com.br/det_artigos_da_palestrante_leila_navar- ro.php?palestrante_id_artigo=56&tit=O%20Que%20Voc%EA%20Ganha%20 Com%20o%20Trabalho%20em%20Equipe?. Acesso em: 26 nov. 2009. ORNISH, Dean. Amor e Sobrevivência: a base científica para o poder curativo da intimidade. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. REIS, Ana M. V.; TONET, Helena; BECKER JR, Luiz C.; COSTA, Maria E. B. Desenvolvi- mento de Equipes. 2. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2009. ROBBINS, Stephen. P. Comportamento Organizacional. São Paulo: Prentice Hall, 1999. SCHUTZ, Will. The Human Element: productivity, self-esteem and the bottom line. San Francisco: Jossey-Bass, 1994. ________. Profunda Simplicidade – uma nova consciência do eu interior. São Paulo: Agora, 1989. VERGARA, Sylvia. Gestão de Pessoas. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2000. Produtividade nas equipes Maria Eugênia Costa Will Schutz destacou-se como um estudioso das equipes e, principalmen- te, do fator produtividade. Sua metodologia de desenvolvimento de equipes chamada The Human Element é voltada para o aperfeiçoamento e fortaleci- mento das relações grupais (ARAÚJO, 1999). Seus estudos sobre produtividade o levaram a identificar e selecionar fa- tores que podem influenciar a produtividade das equipes, tais como: Pressão � – o quanto a constante cobrança de prazo e o uso excessivo da expressão “para ontem” contribuem para acelerar o desempenho das equipes. Diversidade de perfis � – o quanto pessoas com perfis diferentes nas equipes enriquecem as conversações e favorecem a produtividade. Objetivo comum � – o quanto o alinhamento de objetivos é determi- nante para aumentar o resultado da produção. Schutz (apud ARAÚJO, 1999) reconheceu a importância dos fatores acima citados, entretanto, no aprofundamento dos seus estudos, ele isola um ele- mento que considerou determinante e imprescindível. Esse elemento, que parece simples, chama-se relacionamento verdadeiro entre os membros da equipe. Parece simples, mas no ambiente organizacional nem sempre ocorre. Apesar das dificuldades, para esse autor, relacionamentos abertos e verdadei- ros são a grande contribuição para a produtividade entre as equipes. Papéis e atribuições Para melhor compreensão do significado do espaço que o empregado ocupa na organização, podemos fazer uma distinção entre posição e papel. A posição representa o impacto estratégico da atuação funcional e o papel representa os comportamentos esperados no processo produtivo. 92 Produtividade nas equipes Becker et al. (2009) abordam questões relativas à posição e usam o con- ceito de diferenciação de força de trabalho. Para a compreensão dessa abordagem, é preciso saber identificar posições consideradas estratégicas para a organização. Como uma estrutura organizacional não pode ser consti- tuída somente de elementos estratégicos, o autor organiza uma equipe base em três níveis de profissionais: A, B e C. A determinação e classificação dos profissionais nas diferentes categorias demanda, em primeiro lugar, a espe- cificação do que é estratégico para certa organização. Becker et al. (2009) estabelecem quatro etapas que antecedem a identifi- cação dos diferentes tipos de profissionais que criarão uma força de trabalho estratégica: Determinar a escolha estratégica. � Identificar capacidades estratégicas. � Identificar posições estratégicas e avaliar os indivíduos nas posições. � Planejar as ações para todos os indivíduos nas posições estratégicas. � Nesse momento é que são identificados os funcionários nas posições A, B e C. Essas posições têm características diferenciadas em função do impacto para o sucesso dos negócios de uma determinada organização. “Todos os cargos são importantes, mas nem todos são estratégicos, pois só os estraté- gicos (tipo A) é que contribuem diretamente para a capacidade estratégica da empresa 100% do tempo” (BECKER et al., 2009, p. 59). Por exemplo, numa empresa farmacêutica a área de pesquisa é muito im- portante, mas nem todos os ocupantes do cargo nessa área se encaixam na ca- tegoria A. Aqueles que ocupam posições ligadas à pesquisa do coração, nesse tipo de empresa, podem ser os chamados ocupantes de cargos-chave. Numa estimativa, os autores Becker et al. (2009) acreditam que menos do que 15% dos funcionários de uma organização representam sua força estratégica. As posições A, B e C A posição A é a que tem maior impacto no desempenho dos negócios. Existem dois fatores que representam os critérios para avaliação dessa posi- ção A que são: oimpacto que causa na estratégia e a amplitude de desem- penho desses funcionários. Produtividade nas equipes 93 Um desempenho elevado ou baixo nessa posição A tem grande importân- cia, todavia quando os profissionais dessa posição apresentam baixo desem- penho, o impacto é tão danoso que seria melhor que eles ficassem em casa. Estudo Num estudo realizado por Glen Phelps (apud BECKER et al., 2009), anali- sou-se a variação de desempenho de 4 583 atendentes. Resultados – no nível superior foram identificados os sete melhores (po- sição A) e a grande contribuição que davam para a estratégia da empresa; os 10% piores causavam impacto negativo na atitude dos clientes e os três piores empregados definitivamente afastavam os clientes. Essas variáveis são importantes e nem sempre percebidas pelos gerentes. Lembrando que a posição A agrega valor e que os erros cometidos por ocupantes desta posição têm grande visibilidade e são percebidos imediatamente. A posição B é a apoiadora de A. Críticos representam o contingente maior da organização. A posição C tem pouco impacto econômico e seu desempenho não deve ser motivo de grande preocupação, pois seus erros não causam grandes es- tragos. Há, inclusive, tolerância com relação a baixo desempenho. Uma forma alternativa de observar sua importância é acompanhar pesquisa de mercado de trabalho e a remuneração atribuída aos cargos. O que significa papel? “Um papel pode ser descrito como um conjunto de padrões de compor- tamento atribuídos e esperados de alguém que ocupa uma dada posição no trabalho ou na sociedade, de forma geral” (REIS, 2009, p. 39). Keeling (2002), após analisar várias abordagens, considera que para compor uma equipe identificando papéis, devemos considerar dois aspectos que são: o aspecto da utilidade para a tarefa e os papéis de manutenção. No quadro a seguir podemos observar exemplos para cada caso. 94 Produtividade nas equipes Quadro 1 – Exemplos Papéis de utilidade Papéis de manutenção Liderar, apresentar ideias, progredir, buscar informações, resumir. Apoiar e incentivar. Desarmar tensões, dar atenção e excluir elemen- tos perturbadores. Por outro lado, não podemos esquecer os papéis disfuncionais que atra- palham o andamento do grupo como, por exemplo, o falador incansável, o humorista, o dispersivo. Com certeza cada um de nós pode enriquecer essa lista de papéis (COHEN, 2003). Tipos de papéis Com relação a tipos de papéis nas equipes, vários autores buscaram siste- matizar e ordenar em categorias alguns papéis. Quadro 2 – Sistematização Autor Papéis na equipe Pichon (REIS, 2009) Porta-voz, bode expiatório, líder, sabotador. Heller (REIS, 2009) Contato externo, líder, crítico, implementador, inspetor, ideólogo, coordenador. Belbin (REIS, 2009) Investigador, coordenador, monitor, implementador, formatador, semeador, trabalhador em equipe, completador, especialista. Robins (2004) Criador, inovador, explorador, promotor, assessor, desenvolvedor, impulsor, organizador, conclusor, produtor, controlador, inspetor, defensor, mantenedor, relator, conselheiro, conector. O quadro a seguir busca integrar várias abordagens de classificação de papéis dentro das equipes. Quadro 3 – Classificação de papéis Pichon-Rivière Heller Belbin Robbins Porta-voz – expressa as inquietações do grupo. Contato externo – relações externas da equipe. Explorador ou promotor – descobre os recursos ne- cessários; Defensor ou mantenedor – defende a equipe em rela- ção às pessoas de fora. Líder – favorece o proces- so do grupo, estimula. Líder Coordenador Conector (K EE LI N G , 2 00 2, p. 1 48 ) M ar ia E ug ên ia C os ta . (R EI S, 2 00 9. A da p ta do .) Produtividade nas equipes 95 Pichon-Rivière Heller Belbin Robbins Crítico – analisa a capacida- de operacional da equipe. Monitor /ava- liador Assessor ou desenvolvedor de avaliações e análises. Inspetor – assegura padrão de desempenho do grupo. Formatador Controlador ou inspetor – preocupa-se com as regras e políticas. Ideólogo – incentiva a ca- pacidade de inovação do grupo. Semeador Criador ou inovador – se destaca em iniciar ideias ou conceitos. Completador / acabador Conclusor ou produtor – se preocupa com o resultado. Percebe-se que há similaridade em alguns papéis nos diferentes auto- res, o que reforça a teoria de que alguns papéis são constantes em todos os grupos (PICHON apud HELLER, 2000). Se forem constantes ou não é uma questão para reflexão, mas o que sabe- mos é que existem papéis diferenciados e complementares nas equipes. O grande desafio para os gerentes das equipes é combinar as preferências in- dividuais com as exigências dos diversos papéis que a tarefa exige, de forma a conseguir que os objetivos sejam atingidos e os componentes da equipe se sintam realizados. Concluímos, portanto, que existe a necessidade de atribuição dos papéis com clareza dentro das equipes, num esforço legítimo de organizar o proces- so produtivo. Não é tarefa simples, pois quando designamos papéis, defini- mos também espaços e limites de poder, o que pode causar conflitos entre os participantes. O quanto essa distribuição de papéis pode contribuir para a produtividade, veremos a seguir analisando equipes de alta performance e como seus aspectos organizativos são importantes. Equipes de alto desempenho De um modo geral, as organizações buscam o recurso das equipes para realizar algum tipo de trabalho de natureza urgente ou com maior nível de complexidade. Principalmente em situações em que há necessidade de agi- lizar processos e criar uma massa crítica visando alavancar processos de mu- dança ou para obter alta efetividade. Enfim, existe uma gama inesgotável de desafios organizacionais que inspiram os gestores na mobilização de equipes em tarefas que demandam desempenho acima dos níveis convencionais. (R EI S, 2 00 9. A da p ta do .) 96 Produtividade nas equipes Nesse contexto, “equipes de alto desempenho são aquelas que superam os padrões e limites convencionais e surpreendem pelos resultados que con- seguem obter” (REIS, 2009, p. 72). O conceito de alto desempenho sugere uma estrutura diferente de processo produtivo – não convencional – um desempenho acima dos padrões e com características muito diversas das equipes tradicionais. Essa categoria de equipe, de alto desempenho, tem recebido atenção especial na literatura, assim como interpretações e caracterizações diversas. Portanto, não existe unanimidade sobre a forma como se organizam e exe- cutam as tarefas. Foco na tarefa ou no relacionamento? Alguns autores defendem que essa forma de organização de indivídu- os, além de apresentar alta produtividade na execução das tarefas, também consegue atingir o bem-estar, a satisfação pessoal e a realização profissional dos seus componentes. Outros autores, como Lipman-Blumen e Leavitt (2000), afirmam que as equipes de alto desempenho, conhecidas como hot groups, são prioritaria- mente focadas na execução da tarefa, deixando em segundo plano o relacio- namento e a satisfação dos componentes do grupo. Em conformidade com a primeira linha de pensamento citada, foco no relacionamento, o autor Whitmore (2006) defende que para uma equipe ser considerada como de alto desempenho é necessário que exista entre seus componentes: apoio, confiança, paciência, comprometimento, humor, com- patibilidade, cooperação, adaptabilidade, amizade, coragem, entusiasmo e generosidade. Na mesma linha de pensamento, Robbins (2004) considera que equipes de trabalho de alto desempenho se caracterizam pelo comprometimento, boa comunicação, confiança mútua, liderança eficaz, obtenção de apoio externo e interno, habilidades relevantes, habilidade de negociação e metas claras. Os participantes sentem-se comprometidos, sabem o que devem fazer e compreendem que trabalhando juntos conseguirão atingir os melhores re- sultados. As diferenças individuais são respeitadas, mas todos precisam ser competentespara realizar com eficácia as tarefas sob suas responsabilidades, o que pressupõe confiança recíproca e excelente nível de comunicação. Produtividade nas equipes 97 Essas equipes tendem a ser flexíveis e quando preciso fazem os ajustes necessários, o que demanda habilidades de negociação e um clima organi- zacional em nível de excelência. Logo, o relacionamento continua a ser trata- do como uma dimensão fundamental para a produtividade das equipes. Hot Groups Uma linha de pensamento sobre as equipes de alto desempenho é a teoria sobre os hot groups, que defende como principal característica o foco na tarefa. Segundo Lipman-Blumen e Leavitt (2000, p. 3), “hot group é um estado mental especial”, de foco na tarefa, de forma apaixonada. Como é um estado mental, qualquer grupo pode se tornar um hot group, desde que se coloque nessa postura, que se caracteriza pela “contagiosa dis- posição única, a dedicação exclusiva para fazer alguma coisa importante” (LIPMAN-BLUMEN; LEAVITT, 2000, p. 3). Portanto, sentir-se desafiado pela tarefa e pela missão que ela contém é a característica marcante do estado mental dos hot groups, que apresentam como principais características: Preocupação total com a tarefa � – os membros do grupo consideram que a tarefa que estão realizando é muito significante e, portanto, exi- ge sua completa e total atenção. Esses grupos não precisam de pro- messas externas, de alguma forma de bônus ou prêmio. Para eles o desafio próprio da tarefa já é o prêmio suficiente a ser conquistado. Senso de dignidade � – esses grupos não são mercenários, seus com- ponentes têm o sentimento de um propósito maior a ser alcançado, ou seja, de envolvimento em uma missão nobre. Existe a compreensão cla- ra do objetivo a ser alcançado e a certeza de que esse objetivo é algo muito digno e importante para a organização ou para a comunidade. Complementando, Lipman-Blumen e Leavitt (2000, p. 44) alertam que “compreensão mútua, lealdade e amizade frequentemente ocorrem nos hot groups, mas quando isso acontece é o resultado, não a causa, de comprome- timento com a tarefa.” A formação de hot groups precisa de condições especiais, que normal- mente não estão presentes em organizações tradicionais onde a regularida- de, a previsibilidade e a uniformidade são imperativos. 98 Produtividade nas equipes Entretanto, desde que vencidas essas resistências, os hot groups podem ser muito benéficos tanto para as organizações, como para as pessoas que deles fazem parte, pois oferecem oportunidade de enfrentar desafios, en- contrar significado nas tarefas e dignidade pelo que estão produzindo. Essas características comportamentais como entusiasmo e paixão, pre- sentes nessas equipes podem auxiliar sobremaneira a preencher lacunas comuns nas organizações da atualidade, que apresentam quadros de des- motivação e baixo comprometimento, que refletem na produtividade orga- nizacional e em diversos problemas pessoais. O tédio, por exemplo, que “expressa a ideia de que dada situação ou a existência como um todo são profundamente insatisfatórias” (GV Executivo, 2007, p. 48) tem causado profundos reflexos nas organizações. Nesse caso, os profissionais não conseguem ver sentido no que fazem nem de que forma seu trabalho faz diferença para a organização, muito menos se causam im- pacto relevante para a sociedade em geral. “O tédio e o trabalho são dimensões antagônicas: quem está entediado não vê motivos para fazer o que lhe é pedido” (GV Executivo, 2007, p. 50), exceto sob coação simbólica ou física. Segundo Cury (2009) existe consenso de que as organizações, em algum momento, necessitam criar ou incentivar a formação de equipes de alto de- sempenho, que podem ter diferentes formatos dependendo dos objetivos que precisam ser alcançados. Como implementar equipes de alto desempenho Denton apud CURY (2009) enumera quatro tipos de equipes que as orga- nizações podem adotar: Equipes de resolução de problemas � – para tratar problemas imediatos, tais como crises financeiras, fusões tempestivas, demissão em massa. Equipes de projetos � – para promover eventos especiais, relacionados ao atendimento da satisfação dos clientes, lançamento de novos pro- dutos, teste de mercado, ampliação da carteira de clientes. Produtividade nas equipes 99 Equipes de oportunidades � – vinculadas às mudanças no trabalho, no modelo de gestão, que podem ser alterações de políticas, procedi- mentos ou regulamentos da empresa. Equipes de ligação � – formadas quando há necessidade de coordena- ção entre diferentes áreas da empresa, fortalecendo parcerias, associa- ções e consórcios. Entendemos que, independentemente da abordagem que seja empre- gada para a compreensão das equipes de alto desempenho ou do tipo de tarefa que realizam, essas equipes são fundamentais para as organizações atingirem com eficiência os objetivos a que se propõem. E, além disso, é uma excelente forma das pessoas perceberem sentido no que fazem e se sentirem comprometidas com a missão e os valores da orga- nização em que trabalham. Em suma, a existência de uma equipe de alto desempenho numa organi- zação motiva outras equipes pelo exemplo e pode representar um foco para modelagem de processos de mudança e transformação organizacional. Aspectos contemporâneos da administração de equipes As organizações contemporâneas enfrentam vários desafios, dentre os quais se destacam: a satisfação do cliente, manutenção dos mercados, di- ferenciação competitiva e atualização tecnológica, o que exige que sejam flexíveis, ágeis e competentes. Para responder a esses desafios, as organizações buscam constantemente estruturas de trabalho mais eficazes, e os estudos sobre equipes de trabalho oferecem uma promessa de solução bem melhor do que a orientação para o indivíduo que já não atende as demandas complexas do mundo atual. Portan- to, temos que buscar ações conjuntas de pessoas e não ações isoladas, fazen- do com o que tema gestão de equipes seja extremamente atual (REIS, 2009). Um exemplo do reconhecimento da importância desse tema pela co- munidade científica foi o primeiro Nobel em economia concedido a uma mulher, Elinor Ostrom, pelo seu trabalho com foco na atuação das equipes. Ela “demonstrou como as copropriedades podem ser administradas com efi- 100 Produtividade nas equipes cácia por associações de usuários”, destacou o comitê. (Folha Online, 2009). Observa-se a valorização dos arranjos produtivos que levam à cooperação, associação e à produtividade. A produtividade nas equipes é um tema de destaque na administração contemporânea. As equipes de alto desempenho são alvo de atenção como o recurso mais valioso para provocar mudanças e transformação no mundo dos negócios. Além das equipes de alto desempenho surgem todos os dias novos arran- jos produtivos que têm se caracterizado como boas práticas na administra- ção contemporânea. Como exemplo, temos as equipes virtuais onde seus membros não estão próximos, mas atuam e compartilham tarefas, objetivos e missões semelhan- tes. Essas equipes vêm apresentando bons resultados e gerando a neces- sidade de criação de novos princípios de supervisão e acompanhamento, diferentes estruturas de monitoramento e demanda de novas competências dos seus componentes, dentre elas, destaca-se a iniciativa. É um desafio para o ser humano, um ser social por natureza, buscar me- canismos que expressem cuidado e atenção pelo outro, nesses tipos de equipes que trabalham a distância. Um exemplo para o estabelecimento de uma boa comunicação no caso de equipes virtuais é a pronta resposta para e-mails (REIS, 2009). Nos tópicos seguintes, vamos conhecer e refletir sobre algumas experi- ências em diferentes áreas, ressaltando o que diversos gestores, estudiosos e líderes corporativos nos revelam do seu sucesso e de como potencializar as competências e talentos específicos das pessoas para o alcance de exce- lentes resultados. Como afirma Gubman (1999, p. 11) “as pessoas sãoo único elemento ao qual a empresa realmente precisaria recorrer para mudar seu modo de operação e adotar uma nova estratégia”. Uma experiência nos esportes “Experiência de vida, algumas vitórias e desilusões vão mostrando qual é o caminho. E o caminho é este: compartilhar, ser solidário, competir sadiamente uns com os outros para que pudéssemos crescer. Este grupo trabalhou muito e foi um grupo antes de qualquer coisa” (REZENDE, 2006, p. 181). Produtividade nas equipes 101 Como falar de aspectos contemporâneos da gestão de equipes, sem lem- brar do Bernardinho, técnico da equipe brasileira de vôlei, que tantas ale- grias tem trazido ao Brasil? Apesar de não ter formação específica na área de gestão de pessoas e equipes, Bernardinho desenvolveu um estilo único e eficaz, tornando-se, de acordo com Leme (apud REZENDE, 2006, p. 13), “o divisor de águas num país que precisa aprender a importância da cooperação, da solidariedade e do trabalho de equipe”. Alguns dos ensinamentos que Bernardinho, na sua larga experiência como líder de equipe, desenvolveu e aplicou, formam uma equação interessante de sucesso. Roda da Excelência foi criada por Bernardinho, a partir do estudo da Pi- râmide de Sucesso de John R. Wooden, famoso treinador de basquete dos Estados Unidos, que afirma que o sucesso em qualquer carreira pode ser visto como uma construção de blocos tendo como sustentação o empreen- dedorismo e o entusiasmo. Bernardinho sentiu a necessidade de um modelo mais dinâmico e incor- porou ao seu modelo um elemento central que é esforço traduzido em tra- balho. Essa reflexão o levou a desenvolver a chamada “Roda da Excelência” representada na figura 1. Observe que no centro encontra-se a busca cons- tante da excelência e, mais abaixo, a meta que se pretende alcançar. No caso específico da equipe comandada por Bernardinho, a meta pode ser um novo jogo ou mesmo um campeonato internacional. Segundo Rezende (2006, p. 110), o princípio da Roda da Excelência é que para movimentar a Roda são necessários seis fundamentos: Trabalho em equipe1. Liderança2. Motivação3. Perseverança (obstinação, superação)4. Comprometimento (cumplicidade)5. Disciplina (ética, hábitos positivos no trabalho)6. 102 Produtividade nas equipes Planejamento Trabalho em equipe Liderança Motivação Perseverança Obstinação Superação Busca constante da excelência Obstinação Superação Comprometimento Cumplicidade Disciplina Ética Hábitos positivos de trabalho Metas Figura 1– Roda da Excelência. (R EZ EN D E, 2 00 6. A da p ta do .) Como alcançar a meta, como caminhar com a equipe sem se desviar no caminho e chegar onde queremos? A resposta está no processo de planeja- mento, que serve como sustentáculo para que os fundamentos interajam de forma positiva, de acordo com o que foi estabelecido no planejamento, para, então, chegar-se aos resultados esperados/desejados (as metas), ressaltando a relevância do ponto central, que é a busca constante da excelência. Uma experiência corporativa A partir da experiência de uma empresa do Vale do Silício, localizado na Califórnia, nos Estados Unidos, o autor Lencioni (2009) desenvolveu uma teoria sobre as cinco principais tendências comportamentais que contri- buem para o fracasso das equipes que são chamadas de disfunções. A história começa quando o principal executivo e fundador da empresa é demitido e no seu lugar é contratada uma profissional experiente, com um currículo de sucesso, tendo levado outras organizações ao topo da produção e mercado. Uma das maiores vantagens da nova executiva era que ela entendia de pessoas e cada descoberta que fazia com relação às características negati- Produtividade nas equipes 103 vas dos membros das equipes, dava-se conta do grande desafio que tinha pela frente. A empresa em questão era uma empresa de software, “tinha uma equipe de executivos perspicazes, de enorme valor, um plano de negócios à prova de estilhaços e investidores top” (LENCIONI, 2009, p. 1). No entanto, não havia qualquer vínculo de amizade nem colaboração entre as equipes de trabalho. Costumavam fazer uso de ataques pessoais e não conseguiam concluir os seus projetos. Nem mesmo se chamavam de equipes, e sim, de staff. Cinco disfunções que corrompem as equipes de trabalho Falta de confiança � : segundo Lencioni (2009, p. 153), “a confiança é a essência de uma equipe coesa. Sem ela é impossível trabalhar em equipe”. Todas as pessoas trazem uma experiência anterior e temos os nossos pontos fracos, onde nos sentimos vulneráveis. A questão da confiança passa por isso. Quem trabalha em um clima onde não existe confiança tem presentemente o medo de que a sua vulnerabilidade seja usada pelos outros. Dessa forma se fecha, não se revela, foge das reuniões e raramente pede ou oferece ajuda. Uma das ações eficazes para enfrentar esse desafio é a promoção de eventos onde as pessoas compartilham experiências, buscam o alcan- ce de metas em conjunto e têm a oportunidade de mais profunda- mente se conhecerem. Medo do conflito � : a palavra conflito costuma vir carregada do tabu de que sempre que há conflito há uma atmosfera negativa. Na maio- ria das organizações evita-se que os conflitos produtivos se instalem. Já Lencioni (2009, p. 157) destaca: “todos os grandes relacionamentos, incluindo casamentos, paternidade, amizades e negócios, precisam de conflitos produtivos para se desenvolver”. Ela ainda apresenta os conceitos de conflito produtivo e atritos inter- nos destrutivos. Podemos dizer que o conflito produtivo amplia as possibilidades de troca de planos e ideias e os atritos interno destru- tivos que destroem as relações são os voltados para ataques pessoais sem a preocupação de escutar as opiniões diferentes que os membros das equipes possuem. Como lidar com isso? Uma ideia é promover situações em que as equi- pes efetivamente se envolvam com o conflito, como por exemplo uma 104 Produtividade nas equipes reunião em que a pauta é discutir um caso crítico, uma situação crítica, são oportunidades interessantes, animadas, que permitem que cada pessoa apresente a sua ideia e no final as soluções apareçam, evitando o clima de frustração e de falta de objetividade. Lencioni (2009, p. 159), defende a atribuição de uma pessoa como “detonador de conflitos”, antes de uma reunião. Essa pessoa tem a responsabilidade de trazer à tona as divergências. Esses detonadores precisam ser objetivos e cora- josos o suficiente para levar as equipes a trabalhar questões delicadas, sendo cuidadoso e persistente até o final. Falta de comprometimento � : o comprometimento tem duas funções especiais nas equipes: clareza e adesão. De acordo com Lencioni (2009, p. 162), “as equipes de sucesso tomam decisões claras, oportunas e se- guras. Elas prosseguem com total adesão de todos os membros até mesmo daqueles que inicialmente se opõem ao plano. Discordar e comprometer-se”. As equipes cujos membros estão comprometidos sentem orgulho em se comprometer, desde que tenham clareza sobre o que estão se com- prometendo. Essas pessoas sentem-se confortáveis também em tomar decisões que mudem o rumo das coisas com ousadia e admitem que se equivocaram com firmeza e segurança. Para isso é importante que todos coloquem suas opiniões com abertura. Para superar a falta de comprometimento, é importante que as ques- tões sejam claras e que se busque a adesão, e não o consenso. Uma prática interessante para comprometer os membros das equipes é conversar bastante “sobre planos de contingência desde o início ou, melhor ainda, esclarecer o pior cenário que uma decisão pode gerar”. Fuga da responsabilidade � : muitas equipes não apresentam a dispo- sição de responsabilizar os seus membros sobre ações que vão afetar a todos. Essa disfunção aparece da dificuldade em lidar com conversa- ções difíceis e com as emoções que brotam nessas situações. Na experiência observada por Lencioni (2009, p. 166), “as equipesde sucesso reconhecem e superam essas reações naturais e estão dispos- tas a entrar na zona de perigo”. Segundo o autor, a capacidade de res- ponsabilizar uns aos outros une e não afasta os membros da equipe. Assegura ainda que “a pressão de colegas é a maneira mais eficaz de manter os altos padrões de desempenho” (LENCIONI, 2009, p. 167). Produtividade nas equipes 105 Quando não existe essa disposição de ajuda entre seus membros, a equipe atinge um patamar de mediocridade, especialmente devido ao fato de que as pessoas que apresentam um desempenho fraco, não são pressionadas a atingir os prazos e metas. Podemos lidar com essa disfunção evitando a ambiguidade. Divulgar com precisão as metas que serão buscadas, os prazos e responsabili- dades bem definidos, definição do que se espera de cada pessoa, in- centivando a prática de dar e receber feedback e também transformar as recompensas pelo êxito em conquistas da equipe, não destacando somente o desempenho individual. Desatenção aos resultados � : esta disfunção é identificada quando os membros das equipes estão mais preocupados com os ganhos indivi- duais do que com os ganhos do grupo. Quando isso acontece, a preo- cupação com o “status individual” é grande e a pessoa está focada nos seus interesses pessoais, e não nas metas coletivas. Com o passar do tempo as cinco disfunções mencionadas acima foram identificadas e as ações escolhidas pela nova executiva foram voltadas para minimizar os seus efeitos negativos. Segundo Lencioni (2009, p. 171) “uma equipe que não foca os resultados coletivos fica estagnada. Os empregados orientados para conquistas in- dividuais deixam a empresa quando ela perde força competitiva”. Uma exitosa prática para lidar com o desafio da “desatenção aos resul- tados” e dirigir o foco para os resultados coletivos, é a clara exposição das metas a serem atingidas e implantar um sistema de recompensa que privilegiem as ações que contribuem para isso. Ampliando seus conhecimentos Fricção produtiva (talento é tudo) (HSM, 2009) Processos globais em rede não são os únicos arranjos institucionais que fortalecem uma visão positiva do mundo e da colaboração entre fronteiras organizacionais. Uma “prima” próxima da rede global de processos é a rede 106 Produtividade nas equipes global de práticas, forma ainda mais livre de colaboração envolvendo pessoas de áreas de conhecimentos similares engajadas em objetivos comuns. Redes desse tipo estão surgindo em campos tão diversos como softwares de fonte aberta e esportes radicais. Vejamos, por exemplo, como os surfistas radicais usaram as redes globais para pressionar seus limites no esporte. Na década de 1950, ondas de seis pés eram consideradas desafiadoras; hoje, surfistas de grandes ondas rotineiramen- te são bem-sucedidos em ondas entre 60 e 70 pés. Esses surfistas se reúnem em praias específicas para aprender, se encontram nas competições e, cada vez mais, se conectam pela internet. Eles se beneficiam ao observar uns aos outros, aplicando novas técnicas e práticas sob diferentes condições de onda. Enfren- tam-se nas competições regulares, onde são demonstradas as abordagens de maior potencial para impulsionar o desempenho. Embora o surfista atue in- dividualmente, suas atividades e interações são quase sempre planejadas por empresas do ramo, como fabricantes de pranchas e organizadores de competi- ções, que lançam novos desafios de performance, estimulando os participantes da rede. Mesmo quando há dinheiro em jogo, o espírito colaborativo vence. Em 2008, no Mavericks Surf Contest in Half Moon Bay, disputa que acontece em uma praia na Califórnia, Estados Unidos, enquanto os seis finalistas da compe- tição esperavam para pegar a última bateria de ondas, eles fizeram um acordo para dividir o prêmio independentemente de quem fosse o vencedor. Ambos os tipos de redes globais – de processos e de práticas – criam oportu- nidades para os talentos se reunirem e geram uma espécie de “fricção produti- va”, ou seja, o conflito dá forma ao aprendizado na medida em que pessoas com diferentes formações e habilidades se envolvem umas com as outras em torno de problemas reais. Muitos executivos buscam o suposto nirvana da economia sem atritos, mas nós acreditamos que o desenvolvimento agressivo do talento gera, inevitável e necessariamente, fricção. Ele empurra as pessoas para fora de sua zona de conforto e, com frequência, envolve confrontar outras visões sobre a abordagem certa para dada situação, desafio ou oportunidade. O segredo é organizar os ambientes adequados para gerar fricção. Isso requer: 1) Reunir os participantes apropriados com experiências diversas. 2) Investir o tempo necessário para que eles desenvolvam o respeito mútuo. 3) Definir parâmetros de desempenho agressivos. 4) Fornecer as ferramentas para ajudá-los a negociar as abordagens mais promissoras para o alcance do desempenho desejado. Produtividade nas equipes 107 Atividades de aplicação 1. (BECKER, 2009. Adaptado) Avaliando a sua filosofia de força de tra- balho: a) Assinale com um x, na coluna do futuro, todos os princípios que considera necessários para sua organização (na que você está tra- balhando agora ou onde gostaria de trabalhar). b) Em seguida, selecione três desses princípios e descreva ações que deverá empreender para chegar lá. Princípios Futuro Ações A alocação das capacidades estratégi- cas é fundamental. Contar com líderes eficazes em todos os níveis é crucial para o êxito estraté- gico. Todos os empregados devem receber feedback franco e oportuno sobre seu desempenho. Nossa força de trabalho é o principal produto de RH. Os indivíduos A devem estar na posi- ção A. Os empregados devem ser seus pró- prios defensores. Contar com equipes comprometidas é crucial para a produtividade. Os gerentes devem defender seus em- pregados com base em seu desempe- nho. Todos os empregados devem contri- buir para o sucesso do cliente/consu- midor. O plano de sucessão para todas as posi- ções mais altas é crucial. 2. Escolha um autor que tratou do tema papéis em equipe e relate uma situação no seu grupo de trabalho, na organização, onde podem ser identificados pelo menos quatro papéis presentes na abordagem des- se autor. 108 Produtividade nas equipes Autor escolhido – Papéis Situação organizacional/papéis Breve descrição da situação 1 – 2 – 3 – 4 – 3. Com base na equipe de trabalho na qual você está inserido e em uma das metas definidas: a) Avalie como considera que o grupo se encontra com relação a cada um dos seis fundamentos (trabalho em equipe, liderança, motivação, perseverança, comprometimento e disciplina. Consi- dere a escala percentual de 0 a 100 para avaliar. b) Escolhas três fundamentos mais críticos e sugira pelo menos duas ações de melhoria: Trabalho de equipe Liderança Perseverança Comprometimento Disciplina 100% 0% Motivação Gabarito 1. A professora segue como exemplo algumas ideias que não cobrem necessariamente todas as situações da sua organização. Todos os prin- cípios são importantes, depende do momento da sua organização. Princípios Futuro Ações A alocação das capacidades estratégi- cas é fundamental. Banco de talentos Produtividade nas equipes 109 Princípios Futuro Ações Contar com líderes eficazes em todos os níveis é crucial para o êxito estra- tégico. Instituir capacitação gerencial. Todos os empregados devem receber feedback franco e oportuno sobre seu desempenho. Adotar reuniões semanais de feedback individual. Nossa força de trabalho é o principal produto de RH. Adotar sistemáticas de valori- zação – premiações etc. Os indivíduos A devem estar na posi- ção A. Criar um banco de talentos. Os empregados devem ser seus pró- prios defensores. Valorizar comitês de emprega- dos. Contar com equipes comprometidas é crucial para a produtividade. Implementar programa de de- senvolvimento de equipes. Os gerentes devem defender seus empregados com base em seu de-sempenho. Adotar a avaliação de desem- penho como rotina. Todos os empregados devem contri- buir para o sucesso do cliente/consu- midor. Planejamento e estratégia cons- truídos participativamente. O plano de sucessão para todas as po- sições mais altas é crucial. Desenhar um plano de carrei- ras. 2. Autor escolhido – Belbin Papéis Situação organizacional/papéis Breve descrição da situação: Ex. Reunião para decidir quem deveria viajar para o Rio de Janeiro representando o diretor. 1 –coordenador Abriu a reunião e fez uma breve apresentação do contexto da viagem. 2 –semeador Sugeriu várias alternativas de critérios de seleção candidatos à viagem. 3 –avaliador Fez uma avaliação das decisões. 4 – completador Encerrou a reunião e fez uma síntese dos resulta-dos. 3. a) O aluno pode seguir como exemplo o gráfico em forma de pizza para poder indicar a percentagem que cada item tem de valor em sua opinião. Por exemplo, a liderança tem 70% sendo que a moti- vação 10% e a disciplina 20%. b) O aluno deve escolher três fundamentos que ache importante e inserir ações que possam melhorar o processo. 110 Produtividade nas equipes Referências ARAÚJO, Ane. Coach: um parceiro para o seu sucesso. São Paulo: Gente, 1999. BECKER, Brian et al. Equipes Fora de Série. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. COHEN, Allan R. Comportamento Organizacional: conceitos e estudos de caso. Rio de Janeiro: Campus, 2003. CURY, Antônio. Organização & Métodos uma Visão Holística. São Paulo: Atlas 2009. FOLHA ON LINE. Comissão Concede Primeiro Nobel em Economia a uma Mulher: dupla divide prêmio. Publicado em: 12 out. 2009. Disponível em: <www1. folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u636815.shtml>. Acesso em: 7 dez. 2009. HSM. Fricção Produtiva (Talento é Tudo). Publicado em: nov./dez. 2009, n. 77. Disponível em: <http://BR.HSMGLOBAL.com/adjuntos/14/documentos/000/079/0000079059. PDF>. Acesso em: 6 dez. 2009. GUBMAN, Edward L. Talento – desenvolvendo pessoas e estratégias para obter resultados extraordinários. Rio de Janeiro: Campus, 1999. GV Executivo. RH e Tédio. v. 6, n. 2, mar./abr. 2007. HELLER, Robert. Como Gerenciar Equipes. 3. ed. São Paulo: Publifolha, 2000. KEELLING, Ralph. Gestão de Projetos uma Abordagem Global. São Paulo: Sa- raiva, 2002. LENCIONI, Patrick. Os 5 Desafios das Equipes: uma fábula sobre liderança. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. LIPMAN-BLUMEN, Jean; LEAVITT, Harold J. Hot Groups – semeando, alimentan- do e utilizando-os para acender e dinamizar sua organização. São Paulo: Makron Books, 2000. REIS, Ana Maria Viegas. Desenvolvimento de Equipes. 2. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2009. REZENDE, Bernardo. Transformando Suor em Ouro. Rio de Janeiro: Sextante, 2006. Produtividade nas equipes 111 _____. Bernardinho Profere Palestra na FIEC. Publicado em: 11 dez. 2003. Disponível em: <www.fiec.org.br/publicacoes/jornalfiec/edicoes/1203/default. asp?URL=16>. Acesso em: 6 dez. 2009. ROBBINS, Stephen P. Comportamento Organizacional. São Paulo: Prentice Hall, 2002. _____. Fundamentos de Administração: conceitos essenciais e aplicações. São Paulo: Prentice Hall, 2004. WHITMORE, John Sir. Coaching para Performance: aprimorando pessoas, de- sempenhos e resultados: competências pessoais para profissionais. Rio de Janei- ro: Qualitymark, 2006. Comunicação Isabel Stepanski A comunicação é uma das necessidades básicas do ser humano e pode ser entendida como um processo social presente em todas as sociedades. E, como não poderia deixar de ser, nas organizações ela também é necessária seja para coordenação do trabalho, troca de informações, tomada de decisões etc., pois por melhor que seja uma ideia, se não for compreendida não terá valor algum. A palavra comunicação tem sua raiz no latim communis que significa per- tencente a todos ou a muitos. Ampliando o significado, a palavra comunicação traz a ideia de tornar comum, que também deriva de communis, acrescida do sufixo latino ica com o sentido de estar em relação mais o sufixo ção indicando a ação de. Dessa forma podemos definir comunicação como a transferência de in- formação – englobando ideias, fatos, pensamentos, sentimentos e valores – e compreensão de uma pessoa para a outra. A compreensão do significado permite que compartilhem, além de seus sentimentos, seus conhecimentos. Somente pela transmissão de significado de uma pessoa para outra é que informações e ideias podem ser trocadas. Schutz (1979) considera que o conhecimento existente no mundo, em sua maior parte, é derivado do social, pois resulta das relações interpessoais esta- belecidas frequentemente entre diferentes grupos. Nenhum grupo pode exis- tir sem comunicação: a transferência de significado entre seus membros. Segundo a definição de Zimerman (2000, p. 168), “a comunicação se pro- cessa a partir dos seguintes elementos: o emissor, a mensagem, o canal e o receptor.” Para que a comunicação aconteça, é necessário um objetivo o qual será expresso como uma mensagem a ser transmitida. Ele passa entre uma fonte – o emissor – e um receptor. A mensagem é codificada e passada através de algum meio – canal – ao receptor, que a decodifica. O resultado é uma transferência de significado de uma pessoa para outra. Para Robbins (2002, p. 277) “antes que a comunicação se realize, é ne- cessário um propósito, expresso em forma de mensagem a ser transmitida”. 114 Comunicação Esse propósito irá de uma fonte (o emissor) para um receptor. A mensagem é então convertida em um formato simbólico, por meio de um código, e trans- mitida até o receptor através de um canal. O receptor traduz (decodifica) a mensagem iniciada pelo emissor tendo como resultado a transferência de um significado de uma pessoa para outra. O processo de comunicação, segundo Robbins (2002), é apresentado na figura 1. Para Robbins (2002, p. 277) “o modelo é composto de sete partes: (1) a fonte da comunicação, (2) a codificação, (3) a mensagem, (4) o canal, (5) a decodificação, (6) o receptor e (7) o feedback”. (R O BB IN S, 20 02 , p . 2 77 ) Fonte Codificação Canal Decodificação Receptor Mensagem Retorno (Feedback) MensagemMensagemMensagem Figura 1 – O modelo de processo de comunicação. Elementos do processo de comunicação Emissor � : está relacionado com quem inicia o processo de comunica- ção, ou seja, com quem envia a mensagem e é responsável por sua codificação. Converte o pensamento que se pretende transmitir, seja em palavras, gestos ou símbolos, de forma compreensível para quem recebe a mensagem. Canal de transmissão da mensagem � : representa o meio pelo qual a mensagem é transmitida gerando a ligação entre emissor e receptor. Existem vários canais de transmissão e, de acordo com a situação, cada um deles possui vantagens e desvantagens. Alguns exemplos: televi- são, rádio, equipamentos de informática, memorandos, cartas e o pró- prio ar quando receptor e emissor estão frente a frente. Receptor da mensagem � : quem recebe e decodifica a mensagem, en- tendendo como decodificação exatamente aquilo que o emissor pre- tendia enviar. Pois, se considerarmos as diferentes culturas, podem exis- tir apenas um ou numerosos receptores para a mesma mensagem. Ruídos � : representam os bloqueios ou barreiras ao processo de comu- nicação. Podem ocorrer em qualquer uma das suas fases, sendo estes ruídos internos, se ocorrem durante as fases de codificação ou decodifi- cação, ou externos, se ocorrerem no canal de transmissão. Dependendo das características do emissor e do receptor, podem variar e, por isso, são um dos critérios utilizados na escolha do canal de transmissão. Comunicação 115 Retroinformação � (feedback): é a resposta do receptor da mensagem ao seu emissor, permitindo uma avaliação do resultado da comunica- ção. Pode ou não ser transmitida pelo mesmo canal de transmissão. Como se vê, comunicar não é só transmitir informações. Como nos lembra Costa (1995), a comunicação é dialética onde o receptor é compreendido não como simples receptorpassivo, nem como exclusivamente receptor. O emissor é também receptor e o primeiro é também emissor. Fundamentos da comunicação Para que se tenha um melhor entendimento do processo de comunica- ção se faz necessário revisar alguns conceitos fundamentais. Direção da comunicação As direções nas quais pode fluir a comunicação são: vertical, que é subdi- vidida em para baixo e para cima, e a direção lateral. É considerada uma comunicação para baixo aquela que flui de um grupo ou organização para outro de nível mais baixo. É aquela comumente utilizada por gerentes ou chefes de equipes para determinar metas, passar instruções ou qualquer outra informação transmitida a seus subordinados. Não necessaria- mente deve ser oral ou presencial, pois a comunicação por escrito da organiza- ção para seus empregados também é considerada comunicação para baixo. Já a comunicação para cima flui para um nível mais alto do grupo ou da organização. É utilizada para passar informações sobre resultados, dar retorno aos superiores e manter os gerentes informados de como seus subordinados se sentem em relação a seus empregos, aos colegas e à organização como um todo. Também contempla os relatórios de desempenho elaborados pela gerên- cia operacional para serem revistos pelas gerências tática e estratégica; as caixas de sugestões; pesquisas de atitudes de empregado e outras formas pelas quais os gerentes possam ter ideias de como as coisas podem ser melhoradas. A comunicação lateral ocorre entre quaisquer pessoas horizontalmen- te equivalentes, pertencentes ao mesmo grupo de trabalho, ou entre pes- soas de grupos de mesmo nível ou entre gerentes de nível hierárquico equivalente. Normalmente utilizada para economizar tempo e facilitar a coordenação. 116 Comunicação Redes de comunicação As redes de comunicação definem os canais pelos quais a informação flui. O fluxo das informações dentro da empresa é um aspecto importante da comunicação organizacional. Normalmente, a comunicação descendente segue o canal formal, ou seja, vai do topo da estrutura organizacional para a base. Baldissera (2000) consi- dera que as informações transmitidas de modo descendente, favorecem a divulgação dos dados globais – tais como política da organização, objetivos e posição no mercado. Esse fluxo de comunicação objetiva informar o pes- soal do nível hierárquico inferior da organização sobre o que os níveis su- periores estão pensando ou fazendo. Da mesma forma, o pessoal dos níveis superiores precisa conhecer o que o pessoal do nível inferior está pensando e fazendo. A informação ascendente gera maior envolvimento dos emisso- res e receptores com os objetivos da empresa, além de diminuir boatos. Importantes também são os fluxos laterais de comunicação. Com nível de complexidade cada vez maior, as decisões a serem tomadas exigem soluções integradas para os problemas que surgem. A comunicação lateral diminui os limites criados pela divisão do trabalho, permitindo que as pessoas es- cutem as necessidades uma das outras, troquem informações e forneçam apoio mútuo. As novas configurações organizacionais apresentam a comu- nicação lateral como característica essencial. Seja qual for o fluxo de comunicação previsto na estrutura formal da or- ganização, não impedirá a existência, e nem efeitos, de um sistema infor- mal de comunicação. Esse sistema informal tem importante função tanto para as pessoas como também para a própria organização. Como observa Baldissera (2000), o sistema informal de comunicação pode ser indesejado por algumas organizações que o identificam como gerador ou fomentador de resistências, boatos, anarquias, contrapoder e de informações inconve- nientes, mas a comunicação informal também pode significar maior agilida- de na resolução de problemas pontuais. Ao impedir a existência dos grupos informais, os dirigentes estão des- perdiçando tempo e energia em ações inúteis de repressão e inviabilizando contribuições que o sistema de comunicação informal pode oferecer à orga- nização. Por exemplo, a agilização na tomada de decisões e questionamen- tos de muitas ordens absurdas dadas pelas chefias. No grupo informal, as pessoas podem recuperar a sua identidade e senso de valor pessoal, muitas vezes desconsiderados pela organização. Comunicação 117 Comunicação não verbal Ao lermos um livro ou falarmos com alguém, utilizamos a palavra como código. Esse tipo de linguagem é conhecido como linguagem verbal, sendo a palavra escrita ou falada a forma utilizada para nos comunicarmos. É a mais utilizada no nosso dia a dia. Ao escrevermos um texto, por exemplo, esta- mos utilizando a linguagem verbal, pois as informações são transmitidas por meio das palavras. A outra forma de comunicação, que não é feita nem por sinais verbais nem pela escrita, é a linguagem não verbal. O código utilizado é a simbolo- gia. A linguagem não verbal também é constituída por gestos, tom de voz, postura corporal etc. Uma pessoa que está dirigindo e para quando vê o sinal ficar vermelho é um exemplo de linguagem não verbal. Ninguém falou e nem estava escrito que ela deveria parar, mas como conhece a simbologia utilizada, o sinal da luz vermelha é suficiente para ela compreender a mensa- gem. É uma forma de comunicação muito comum e importante na vida das pessoas. Existe outra diferença entre a linguagem verbal e a não verbal. Enquanto a primeira é totalmente voluntária, necessita da vontade de quem se comu- nica para ocorrer, a linguagem não verbal pode ser uma reação involuntária que tem origem no inconsciente de quem se comunica. A escolha do canal de comunicação A escolha dos canais de comunicação deve levar em consideração a im- portância da mensagem. Se a mensagem é urgente, deve-se usar um canal mais rico em informação. Se a mensagem é rotineira, ela pode ser comu- nicada por um canal mais fraco. Quanto maior a variedade na escolha dos canais ou meios de comunicação, maior será a sua eficácia e menores serão as chances de distorção. Quando as mensagens são importantes, a seleção do meio é essencial. A escolha se dá entre o falado e o escrito. Se o foco é rapidez e conveniência, a fala é a melhor forma de comunicação. Se for algo formal, que permita mais retornos, a escrita é a opção adequada (HELLER, 2001). Carvalho e Serafim (2004, p. 83), citam alguns exemplos de canais/meios de comunicação, conforme quadro 1: 118 Comunicação Quadro 1 – Instrumentos (canais/meios) de comunicação na empresa Instrumento Qualidade Defeitos/ limitações Conclusões Conversa informal Natural-prático, bilateral Pode facilmente dege- nerar em conversa sem objetivos. Instrumento essen- cial e de uso cons- tante; precisa ser subordinado ao pla- nejamento para não degenerar. Entrevista Bastante pessoal e natu- ral. Permite comunicação recíproca. Pode ajudar a levantar o moral. É difícil encontrar ou pre- parar bons entrevistado- res (trabalho estatístico, mais que técnico). Instrumento básico muito usado e, quan- do bem empregado, de possibilidades ili- mitadas. Aviso por sistema de alto-falantes Rápido. Permite à admi- nistração alcançar todos os empregados ao mes- mo tempo. Impessoal, unilateral. Ser- ve apenas para mensa- gens curtas. Embora não essen- cial, constitui auxílio valioso em algumas situações. Telefonema Muito útil. Prático. Bilateral. Rápido Não permite a comuni- cação face a face. Indispensável. Reunião parlamentar Permite comunicação a um número limitado de pessoas. É unilateral e quase im- pessoal. Útil em determina- das situações. Seu uso deveria ser mui- to restrito. Reunião didática Instrumento muito útil ao treinamento empresarial. Exige o concurso de in- divíduos técnicos e téc- nicas de ensino. São eficientes em al- guns tipos de treina- mento. Reunião de debate Permite comunicação nos dois sentidos. Bem lidera- da leva a conclusões das quais o grupo participa e aceita. É difícil encontrar ou for- mar líderes de reuniões. É instrumento de inestimávelvalor em muitas situações. Pesquisa de atitude e opinião É capaz de revelar assun- tos interessantes e desco- nhecidos. Potencialmente representa um levantador do moral. É instrumento complexo que demanda, em geral, o concurso de especia- listas para não incorrer em conclusões precipi- tadas. As revelações po- dem estar erradas. Instrumento de gran- de valor, quando usa- do com critério. Comunicação em quadro de aviso Rapidamente atinge gran- de número. Útil. Impessoal. Unilateral. Instrumento muito valioso. Comunicação nos envelopes de paga- mento Geralmente desperta a atenção. Só permite comunica- ções muito breves. Instrumento útil para comunicações muito breves. Considerando os exemplos de instrumentos apresentados, pode-se per- ceber que nem todas as pessoas reagem aos mesmos estímulos sensoriais. Enquanto alguns preferem o canal visual, outros querem ouvir. Portanto, (H O YL ER , 1 97 0 ap ud C A RV A LH O ; S ER A FI M , 2 00 4, p . 8 3) Comunicação 119 para que se alcance a eficácia desejada, é necessário explorar todos os canais e recursos de comunicação disponíveis. No quadro 2 alguns exemplos de formas de comunicação são apresentados. Quadro 2 – Formas de se comunicar Formas de se comunicar Tipo de comunicação Exemplos Utilidade Palavra escrita É a base de qualquer sociedade alfabetizada, em qualquer lín- gua e em vários meios. Cartas, memorandos, relató- rios, propostas, notas, contra- tos, resumos, programas, regu- lamentos, planos, pautas e atas de reuniões, avisos. A palavra escrita é a base da co- municação dentro de uma orga- nização e é usada por ser relati- vamente perene e acessível. Palavra falada Só funciona quando ouvida pe- las pessoas certas. Conversas, entrevistas, reu- niões, chamadas telefônicas, interrogatórios, debates, pedi- dos, anúncios, discursos. A troca de palavras ao vivo ou por telefone tem efeito imedia- to; é por esse meio que funciona o dia a dia de uma organização. Gestos simbólicos Qualquer comportamento po- sitivo ou negativo que possa ser visto ou ouvido pelo púbico. Gestos, expressões faciais, ações, tom de voz, silêncio, pos- tura, pose, movimento, imobili- dade, presença, ausência. A linguagem do corpo e as ações afetam as pessoas de for- ma profunda e inconsciente. A propaganda política depende da manipulação de signos posi- tivos e negativos. Imagens Imagens que podem ser “perce- bidas” por um público-alvo. Fotografias (impressas e slides), pinturas, desenhos, ilustrações, gráficos, tabelas, vídeos, logo- tipos, filmes, esquemas colori- dos. Recursos visuais podem trans- mitir poderosas mensagens que chegam ao consciente e ao sub- consciente das pessoas. Multimídia Combina diferentes formas, muitas vezes com uso da TI (tec- nologia da informação). Folhetos, panfletos, jornais, televisão, livretos, pôsteres, in- ternet, World Wide Web, intra- net, vídeo, rádio, fitas cassete, CDROMs. Mais interatividade pode tornar um meio mais eficiente. A utili- zação profissional da multimídia traz melhores resultados. Os exemplos citados por Heller (2001) ilustram que, qualquer que seja o meio ou instrumento utilizado no processo de comunicação, deve-se levar em consideração a maneira de se comunicar. Na literatura sobre o tema, é frequente serem apontados como fatores prioritários na escolha de um canal de comunicação a qualidade e a acessibi- lidade, havendo uma tendência a priorizar a acessibilidade. Segundo Noonan (1999) a escolha dos canais de comunicação e o quanto cada um será utilizado devem ser analisados de acordo com alguns fatores. Os principais são: A disponibilidade de canais de comunicação. � (H EL LE R, 2 00 1, p . 9 ) 120 Comunicação A disponibilidade orçamentária e os custos das opções de comunicação. � Os objetivos de marketing (alta penetração, nicho específico etc). � Barreiras para a comunicação eficaz A dificuldade para atingir a eficiência e a eficácia esperadas na comunica- ção organizacional está relacionada com a existência de barreiras e interfe- rências no fluxo de comunicação que dificultam ou limitam o processo. Existe um grande número de interferências que podem limitar a compre- ensão da mensagem, mesmo quando o receptor se esforça para decodificá- -la, podendo impedi-la, por completo, filtrar parte dela ou lhe dar ainda um sentido errôneo (DAVIS; NEWSTROM, 2001, p. 9). Segundo Chiavenato (2003) ocorrem três tipos de barreiras à comunica- ção humana: barreiras pessoais, físicas e semânticas, descritas a seguir: Barreiras pessoais � – são interferências resultantes das limitações, emoções e valores humanos de cada pessoa. São as barreiras mais co- muns em situações de trabalho, pois estão relacionadas aos hábitos, às emoções, às motivações e aos sentimentos pessoais. Limitam ou dis- torcem a comunicação com outras pessoas, tornando-a deficiente. Barreiras físicas � – são as interferências relacionadas ao ambiente em que se dará a informação. Por exemplo, a distância existente entre as pessoas, o canal utilizado estar saturado e congestionado, paredes que se interpõem entre a origem e o destino da mensagem, ruídos estáticos na comunicação por telefone, barulho repentino que abafa a voz do locutor etc. Barreiras semânticas � – são as limitações ou distorções derivadas da utilização dos símbolos empregados na comunicação. As palavras ou outras formas de comunicação – como gestos, sinais, símbolos – po- dem ter diferentes significados para as pessoas que estão envolvidas no processo, gerando distorção de significado e interpretação equivo- cada. As diferenças de língua constituem barreiras semânticas entre as pessoas. Para Robbins (2002), no entanto, existem diversas barreiras para a comu- nicação, tais como: Comunicação 121 Filtragem � – refere-se à manipulação da informação pelo emissor para que ela seja vista de maneira mais favorável pelo receptor. Percepção seletiva � – o receptor no processo de comunicação vê e es- cuta seletivamente, com base em suas próprias necessidades, motiva- ções, experiências, histórico e outras características pessoais. Sobrecarga de informação � – nossa capacidade de processar infor- mações é finita e quando as informações com que temos de trabalhar excedem essa capacidade o resultado é a sobrecarga de informação. Quando as pessoas têm mais informações do que conseguem orga- nizar e utilizar, a tendência é selecionar, ignorar ou esquecer informa- ções. Ou ainda, podem se esforçar para reduzir a sobrecarga, perdendo informações importantes, ou seja, quando não se consegue absorver o que é transmitido, é deixado escapar detalhes que podem fazer toda a diferença. Defesa � – ao se sentirem ameaçadas, as pessoas tendem a uma reação que reduz a capacidade de entendimento mútuo. Ou seja, elas se tor- nam defensivas, assumindo comportamentos como ataques verbais, comentários sarcásticos, excesso de julgamentos e questionamentos sobre os motivos dos outros. Linguagem � – as palavras têm significados diferentes para pessoas di- ferentes. Isso se reflete na organização, na medida em que os funcio- nários provêm de origens diferentes e, consequentemente, possuem padrões diversos de linguagem. Duas pessoas que falem um mesmo idioma podem fazer uso diferente da linguagem. O emissor tende a assumir que as palavras e termos por ele utilizados na transmissão da mensagem têm o mesmo significado para o receptor. Como isso nem sempre é verdadeiro, gera dificuldades na comunicação. Fatores críticos Para minimizar as barreiras da comunicação, alguns fatores críticos devem ser considerados tanto no envio quanto na recepção das mensagens. Enviar mensagens eficazmente requer: Tornar as mensagens completas e específicas. � Preocupar-se com a congruência entre suas mensagens verbais e � não verbais. 122 Comunicação Agir de forma intensa, utilizar mais de um canal de comunicação. � Pedir � feedback acerca da recepção e da interpretação de sua mensa- gem.Adaptar sua mensagem aos padrões de referência de quem a está re- � cebendo. Para receber mensagens eficazmente é necessário: Parafrasear de forma precisa e sem avaliar o conteúdo da mensagem. � Procurar identificar o que percebe ser o sentimento do emissor. � Descrever a sua interpretação sobre a mensagem do emissor. � Negociar com o emissor até a concordância sobre o significado da � mensagem. Na comunicação organizacional é relevante o papel dos dirigentes em um processo de comunicação efetivo na empresa, pois a maior parte do tempo dos dirigentes é consumida por atividades que envolvem intercâmbios ver- bais com os empregados, transmitindo e recebendo mensagens pessoal- mente e combinando ações e palavras. Portanto, o exercício do feedback terá efeito direto sobre a qualidade da comunicação existente na organização. A importância do feedback O feedback define o ciclo da comunicação. A informação, passada como retroalimentação, recebida dos superiores, está diretamente relacionada à motivação e ao estado de satisfação no trabalho dos subordinados. Os autores Davis e Newstron (2001) confirmam essa relação quando afir- mam que a comunicação de duas vias só é possível através do feedback. O processo da comunicação de duas vias pressupõe que o emissor envie a mensagem e o receptor a devolva ao locutor. Assim, o locutor pode ajus- tar a próxima mensagem para adequá-la às respostas apresentadas pelo receptor. Quanto maior for o feedback mais eficaz tende a ser o processo de comu- nicação organizacional, pois propicia aos superiores avaliar se suas instru- ções foram compreendidas e aceitas. Comunicação 123 Muitas vezes, não saber criticar de forma construtiva ou receber críticas influencia no resultado do desempenho dos subordinados. Para Moscovici (2003), o feedback para ser realmente útil precisa apresen- tar as seguintes características: Descritivo � – relatar um fato, sem julgamento. Específico � – indicar especificamente o comportamento que deve ser observado. Compatível � – estar de acordo com as necessidades do emissor e do receptor. Dirigido � – pontuar comportamentos possíveis de serem modificados, caso contrário, pode gerar uma sensação de frustração no receptor. Solicitado � – é muito mais conveniente quando o receptor formula perguntas que possam ser respondidas por outros observadores. Oportuno � – quanto mais imediato for o feedback da ocorrência do evento, mais útil ele será. Esclarecido � – com o intuito de que seja assegurada a perfeita compre- ensão do que o emissor quis dizer. A organização que investe na comunicação direta entre seus dirigentes e empregados reduz a distância provocada pela posição hierárquica, tornan- do as interações sociais mais satisfatórias. A comunicação direta também facilita a revisão e clareza dos significados gerados que, por ser um processo muito pessoal, pode ocasionar distorção de entendimento. Promove o exercício da metacomunicação, que é uma forma especiali- zada de feedback, através da qual se proporciona ao comunicador a retroali- mentação avaliadora sobre a maneira como está comunicando. Segundo Kreps (1995), outra forma de comunicação interpessoal que afeta, profundamente, os sentimentos das pessoas, ocorre quando os chefes dizem aos trabalhadores o que devem fazer, sem explicar-lhes como ou, sim- plesmente, não lhes proporcionam qualquer chance de participarem com o seu conhecimento, experiência e boa vontade. Estão realizando a comuni- cação interpessoal objetiva ou, simplesmente, transmitindo informações. O 124 Comunicação autor caracteriza esse tipo de comunicação como desumanizadora, ressal- tando que as pessoas não têm tido muito tempo para tratarem-se mutua- mente como seres humanos. A prática intensiva ou exclusiva da comunicação objetiva pode compro- meter muito a forma como a cooperação ocorre dentro da empresa, tornan- do as relações interpessoais menos satisfatórias. A ênfase na utilização da comunicação objetiva pode refletir o comportamento das pessoas que não estão conscientes ou são insensíveis às repercussões de suas mensagens nos outros, confirmando, assim, sua dificuldade na gestão da comunicação organizacional. Outra forma de comunicação, oposta à anteriormente apresentada, é a comunicação interpessoal humanizadora. Esta promove a aproximação das pessoas e facilita a cooperação entre elas. As duas formas de comunicação sugerem que é possível transmitir o mesmo conteúdo de modos distintos. Um gerente poderá, por exemplo, dizer a um funcionário que executa uma operação de modo incorreto: “Mas você ainda não aprendeu que colocando desse jeito a caixa vai ficar solta?!” Essa é uma forma objetiva de transmitir uma mensagem. Esse mesmo geren- te poderia dizer: “A maneira como esta caixa está colocada pode fazer com que ela se solte. Por que não a fixa mais ao canto, junto com as outras? Acho que será mais seguro”. A diferença pode, aparentemente, ser mínima ou ir- relevante, mas é um engano achar que o significado atribuído pelo receptor será o mesmo. É só perguntar para um trabalhador se ele prefere ser tratado como pessoa ou como objeto. Por isso, é fácil perceber porque muitos dos problemas de comunicação apresentados nas empresas são consequência da maneira como a questão é tratada pelos seus dirigentes. Com uma visão simplista sobre comunicação organizacional, entendem o processo como um simples sistema de informa- ções ou de transmissão de dados dentro da empresa. Assim, o emissor passa a ser o único a ter um papel ativo na comunicação enquanto o receptor é somente um agente passivo, que não possui capacidade de dar significado ou criticar as mensagens recebidas. Sob a ótica da passividade, a atuação dos dirigentes fica comprometida, pois além de não planejarem mudanças no processo da comunicação organizacional, até pioram as anomalias já existentes. Comunicação 125 Segundo Baldissera (2000), as anomalias da comunicação incluem a cir- culação de informações desencontradas, o uso de meios e linguagens não acessíveis ao público-alvo, o uso de codificações muito frouxas, permitindo interpretações indesejadas e a inexistência de mecanismos que permitam avaliar o processo de comunicação e fomentar a retroalimentação. Como se observa a partir dos exemplos apresentados, a comunicação organizacional não pode ser vista por seus dirigentes apenas como transmis- são de ordens ou informações, mas sim como um dos processos fundamen- tais da dinâmica organizacional. Deve ser considerada como uma questão estratégica, pois reflete diretamente o grau de comprometimento dos tra- balhadores com o alcance dos objetivos e metas da empresa. A comunicação organizacional vista dessa forma assume, portanto, um caráter estratégico, como observa Scroferneker (2000, p. 10): De uma maneira geral, as organizações têm pautado as suas ações comunicacionais utilizando-se do modelo tradicional de características informacionais, de transferência de informação. Tal opção de certa forma evidencia o desconhecimento do poder da comunicação como ferramenta estratégica. Cabe, portanto, ampliar as discussões sobre o tema, contribuindo para reposicionar a comunicação organizacional no espaço das organizações. Ampliando seus conhecimentos O paradoxo da comunicação interna (SEGURA, 2009) Os novos tempos trouxeram desafios enormes para a comunicação interna das empresas. Há uma década o papel da comunicação interna era comunicar, informar. Hoje, a responsabilidade é maior: é formar, capacitar e influenciar. Numa perspectiva mais ousada, poderíamos até dizer que a comunicação in- terna pretende formar o profissional do futuro que qualquer empresa deseja, ou seja, um colaborador mais engajado, conhecedor da estratégia da organi- zação, cúmplice e influenciador representativo no mercado. Eu sei que muitos dirão que estou confundindo o papel da Comunicação com Recursos Humanos, mas pergunto a vocês: já não está tudo misturado? A nova dinâmica das empresasimpõe novas formas de desenvolvimento do colaborador e o rompimento de antigos paradigmas. 126 Comunicação Esse é o paradoxo da comunicação interna nas empresas: Desenvolver uma comunicação mais inspiradora, estratégica, visioná- � ria, de formação e de médio/longo prazo; Ou buscar uma comunicação mais pragmática, factual, de informação � e de curto prazo. Existem ainda dois dilemas nesse contexto que é o profissional de comuni- cação e a tecnologia disponível. As escolas de comunicação, de maneira geral, parecem que ainda continu- am formando profissionais de comunicação no modelo antigo, com foco no jornalismo e nas relações públicas tradicionais. Outro desafio é a tecnologia disponível. A velocidade, a dinâmica, o alcan- ce e a flexibilidade que as novas tecnologias trouxeram para a comunicação empresarial não podem ser negligenciadas como parte das empresas ainda faz. A situação complica quando o próprio profissional de comunicação não conhece e não se desenvolve nas novas mídias e no ferramental tecnológico. Esse contexto só amplifica o paradoxo e torna a comunicação interna das empresas um desafio ainda maior. Saber balancear o pragmatismo com a ins- piração significa criar uma estratégia com canais de comunicação diversos, com conteúdo e porta-vozes definidos. É importante que o funcionário saiba onde ele se informa sobre fatos e onde ele se inspira. Criar essas alternativas é interessante, pois vai permitir que cada funcionário atenda o seu perfil de interesse e necessidade. Enfim, novos tempos merecem uma nova comunicação interna. Atividades de aplicação 1. A fonte da mensagem da comunicação que representa quem pensa, codifica e envia a mensagem é: a) canal de transmissão. b) receptor. c) retroinformação. d) emissor. Comunicação 127 2. A comunicação normalmente utilizada para economizar tempo e faci- litar a coordenação segue a direção: a) para baixo. b) lateral. c) para cima. d) vertical. 3. A simbologia é uma forma de comunicação que: a) utiliza a palavra como código. b) é plenamente voluntária. c) usa gestos, tom de voz, postura corporal etc. d) escreve texto para enviar mensagem. Gabarito 1. D 2. B 3. C Referências BALDISSERA, R. Comunicação Organizacional: o treinamento de recursos hu- manos como rito de passagem. São Leopoldo: Unisinos, 2000. CARVALHO, Antonio V; SERAFIM, Ozilea. C. G. Administração de Recursos Hu- manos. 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Perspectivas Teóricas da Comunicação Organi- zacional. Trabalho apresentado no GT Comunicação organizacional. Intercom, Manaus, 2000. SEGURA, Mauro. O Paradoxo da Comunicação Interna. Publicado em: 30 nov. 2009. Disponível em: <www.nosdacomunicacao.com/panorama_interna. asp?panorama=192&tipo =G>. Acesso em: 11 fev. 2010. ZIMERMAN, David E. Fundamentos Básicos dos Grupos Terapias. Porto Alegre: ArtMed, 2000. Liderança Maria Eugênia Costa “Um exército de cervos guiado por um leão deve ser mais temido do que um exército de leões guiado por um cervo.” Filipe da Macedônia (SANBORN, 2009, p 21). O tema liderança é exaustivamente abordado na literatura que estuda a dimensão humana nas organizações, o que é plenamente justificável na medida em que o líder é um elemento-chave para a produtividade. As organizações, para que alcancem seus objetivos, precisam ser geren- ciadas adequadamente, de acordo com as suas características, que determi- nam a sua forma particular de ser, dando-lhes uma identidade diferenciada. Essa diferenciação se dá por diversos fatores, entre os quais podem ser citados os objetivos para os quais a organização ou empresa foi criada, que é a sua razão de existir, os valores que regem sua forma de estar na socieda- de, a cultura onde está inserida, bem como o momento histórico que está vivenciando. No entanto, apesar de cada organização ter características próprias, exis- tem muitas atividades que são semelhantes e necessárias em todas elas, o que tem motivado o aparecimento de diversas teorias que procuram definir modelos de liderança e gestão. Diferentes abordagens Existe um divisor de águas nos estudos sobre liderança com duas concep- ções. Traços ou comportamento? A primeira é a abordagem dos traços que se centra na figura do líder e considera que o verdadeiro líder tem caracterís- ticas típicas, nasce com elas e elas são imutáveis. Essa abordagem limita toda e qualquer iniciativa de desenvolvimento de líderes, pois refere-se a características inatas e, portanto, uma organização deve recrutar líderes prontos. Uma limitação adicional é que essa aborda- 132 Liderança gem considera que existe um traço universal que é eficiente em qualquer situação (ROBBINS, 2002). Há pouca evidência científica que reforce essa abordagem, mas ela não deixa de atrair leitores, pois sua estratégia é divul- gar biografias de grandes líderes buscando “traços” que inspirem seguidores. Exemplos sempre citados são Gandhi, Mandela, Steve Jobs etc. A segunda abordagem, que é a comportamental fala do líder como uma possibilidade, um potencial a desenvolver. Segundo essa abordagem é pos- sível desenvolver líderes (ROBBINS, 2002). Sanborn (2009) reforça que líderes não nascem prontos, eles se desenvolvem, aprendem a liderar. O alvo deste capítulo é voltado para essa abordagem comportamentalis- ta. E como identificar um líder? O grande teste da liderança, independente da posição que ocupa, é o quanto as pessoas o seguem. Sanborn (2009, p. 13) dá uma dica dizendo que a pessoa se torna líder quando procura: Ter controle sobre a própria vida. � Melhorar a empresa em que trabalha. � Aproveitar novas oportunidades. � Melhorar o serviço oferecido aos clientes. � Influenciar os outros a fazerem o melhor. � Solucionar problemas. � Contribuir para o aprimoramento das pessoas. � Fazer o mundo um lugar melhor. � Liderança e gestão “Nem todos os líderes são gerentes e nem todos os gerentes são líderes.” (ROBBINS, 2004, p. 228). Neste item será discutido o papel da liderança nas organizações, com foco no processo de gestão, partindo das seguintes indagações: gerência e liderança são a mesma coisa? Todo líder é gerente e todo gerente é líder? A liderança é um elemento importante da gerência, mas sabemos que nem todo gerente é líder, o que significa que ele atua pautado num protoco- lo formal e burocrático e que os servidores o seguem respeitando a hierar- Liderança 133 quia e as normas. Porém, existem líderes que não ocupam posição de chefia formal, mas que são seguidos e exercem poder sobre as pessoas (MOTTA, 1999). O poder na gestão Segundo Berkun (2008), existem dois modelos de poder dentro das or- ganizações: o poder concedido e o poder conquistado. O poder concedido está diretamente relacionado à hierarquia, ao cargo que as pessoas ocupam dentro da organização. Nesse tipo de poder não há incorporação automática do respeito das pessoas por quem o exerce, pois “exclui a possibilidade da troca de ideias e enfoca o uso da força no lugar da inteligência” (BERKUN, 2008, p. 253). Ao contrário, o poderconquistado é decorrente do desempenho e das ati- tudes observadas dentro do grupo, que faz com que os demais componentes considerem essa pessoa útil ao grupo e, por isso, merecedora do respeito. Apesar do poder concedido ser fundamental e necessário para o funcio- namento, equilíbrio e continuidade das organizações, o poder conquistado, que está diretamente relacionado ao exercício da liderança, precisa ser in- centivado e valorizado nas organizações modernas. De acordo com Buckingham (2005, p. 25), “a importância do papel da li- derança varia de acordo com o tipo de desafio que a organização enfrenta”. Em situações onde mudanças dramáticas precisam ser conduzidas, um líder forte tem mais influência do que nos momentos em que a organização pre- cisa apenas manter seu curso normal de ação. Esse autor reconhece a importância dos líderes no sucesso das organiza- ções, mas diferencia seu papel das funções específicas de um gestor. A importância da supervisão direta Em 1975, investigadores do Instituto Gallup1 deram início a uma pesquisa que até hoje tem desdobramentos, sendo seu objetivo identificar fatores que favorecem a retenção dos profissionais nas organizações, bem como o nível de produtividade. Nas pesquisas foi observada a importância do geren- ciamento no processo de gestão, tanto no que se refere à retenção como à produtividade. 1 Instituto de Pesquisas especializado no desen- volvimento de pesquisas de opinião pública, funda- do por George Gallup, em 1930, nos Estados Unidos. 134 Liderança Além disso, constataram que o supervisor direto é o elemento mais im- portante da cadeia de influência. O seu papel é de influência, confiança e criação de um ambiente construtivo. Uma boa relação com o supervisor pode até compensar outras insatisfações que o funcionário possa ter com a empresa, mas por outro lado, não existe benefício que possa compensar uma relação com o supervisor que não seja boa (KOFMAN, 2002). Verdades e mitos A sabedoria popular já nos diz que o jogo se ganha no campo e, quando se fala em liderança, às vezes envolvemos o papel do líder com uma aura de complexidade e sofisticação, gerando mitos sobre a atuação gerencial. Motta (1999) ilustra no quadro a seguir os mitos e verdades sobre a função. Quadro 1 – Mitos e verdades mais comuns sobre as funções do dirigente Mitos Verdades 1. Pessoas com status, autoridade e poder, tem sala imponente em andar elevado. Toma de- cisões rápidas, analisa informações e supera obstáculos, confiante e segura no sucesso das decisões. 1. Pessoa de status às vezes duvidoso; poder e autoridade dependente de injunções contínuas e de informações obtidas de várias maneiras, ne- gocia assuntos diversos, ganhando e perdendo, tenso, nervoso e incerto quanto ao resultado das decisões. 2. Atuação baseada em ações ordenadas e pla- nejadas, num processo decisório acentuada- mente racional e impessoal. 2. Atuação baseada em ações desordenadas e intermitentes, um processo decisório marcado também por decisões intuitivas e influenciadas por lealdades pessoais e comunicações verbais face a face. 3. Preocupação prioritária com políticas, diretri- zes, desenvolvimento e futuro da organização. 3. Preocupação prioritária com operações atuais e solução de problemas prementes. 4. Trabalho programado, com algumas fases pre- visíveis e problemas antecipados para enfrentar contingências e superar dificuldades. 4. Trabalho não programado, em grande parte imprevisível, enfrentando constantemente pro- blemas desconhecidos. 5. Instrumentos de trabalho: objetivos, planos, programas, metas, resultados e prazos. 5. Instrumentos de trabalho: surpresas, sustos, contingências, problemas. 6. Reúne-se para planejar e resolver problemas. 6. Reúne-se para discutir as dificuldades das roti- nas e debater temas na presunção de que poderá haver problemas. 7. Recebe informações fundamentais para deci- são através de relatórios de assessores, memo- randos internos, impressos de computadores e informações orais em reuniões programadas. 7. Recebe informações fundamentais através de su- cessivos e variados números de contatos pessoais, por comunicação verbal, telefonemas, bate-papos informais e em reuniões de última hora. 8. Comportamento formal e contemplativo. 8. Comportamento informal e interativo. 9. Trabalha com sistematização, afinco e profun- didade em um número reduzido de tarefas e in- formações mais importantes. 9. Trabalha assistematicamente, de forma super- ficial e intermitente em um grande número de tarefas, exercendo funções diferentes no que se refere a cada tarefa. (M O TT A , 1 99 9, p . 6 ) Liderança 135 Abordagens sobre gestão Segundo Ferreira (2006), as correntes de pensamento sobre gestão podem ser agrupadas em três grandes categorias: estrutural, humanística e integrativa. Estrutural � : do ponto de vista da abordagem estrutural, a ênfase se dá na forma, que compreende a configuração organizacional, em detrimento da função, que se refere às tarefas que precisam ser executadas. Nessa perspectiva, também considerada como uma visão tradicional de gestão, “gerir significa organizar e modelar, por meios de instrumentos e téc- nicas adequadas, os recursos financeiros e materiais da organização e até mesmo as pessoas que a compõem” (FERREIRA, 2006, p. 19). Humanística � : a perspectiva humanística destaca-se pela valorização do papel das pessoas na organização. Como exemplo, Mary Parker Fol- let, uma das precursoras dessa corrente de pensamento, ao analisar a relação entre o exercício da liderança e o poder, defende que “cada membro do grupo tem poder exclusivo e soberano, derivado da com- binação de conhecimentos, habilidades e experiências que possui” (FOLLET apud FERREIRA, 2006, p. 80). Nesse contexto a concepção de liderança envolve mais integração, pois o líder não consegue enfrentar centralizadamente todos os desafios e seu poder deixa de ser “poder sobre” – onde o líder exerce pressão sobre o grupo – e passa a ser “poder com” – quando o líder trabalha com os liderados para construir soluções conjuntas (FERREIRA, 2006, p. 81). As funções primordiais do gerente seriam, então, contribuir para que os membros do grupo percebam que detém poder e unificar esses poderes in- dividuais em um poder total do grupo. Dá-se início ao deslocamento da prioridade da forma para as funções que são desempenhadas. Integrativa � : a abordagem integrativa, predominante na atualidade, volta-se basicamente para a gestão organizacional centrada na fun- ção, todavia sem desconsiderar a importância das teorias anteriores para o funcionamento de partes do sistema administrativo e organi- zacional. 136 Liderança Essa abordagem preconiza como fundamental a integração entre as orga- nizações, os indivíduos, o ambiente e a tecnologia. Nos dias atuais, essa inte- gração é indispensável para a sobrevivência das organizações em ambientes extremamente dinâmicos, em função da instabilidade econômica e política, do acelerado avanço no campo tecnológico e das questões ambientais. Todos esses fatores intensificam a competitividade em nível global, o que impõe a necessidade de atualização nos formatos organizacionais, nas linhas de produção e nos modelos de gestão (FERREIRA, 2006). O poder nas organizações atuais A tendência nas organizações atuais é que títulos e cargos tenham pouco peso até que os líderes provem sua competência. A autoridade precisa ser conquistada antes de ser exercida (HESSELBEIN, 1996). O atrelamento das funções de liderança às posições hierárquicas causa sentimento de frustração e descrença entre os funcionários comuns, por se sentirem aliviados do processo de construção da empresa, o que causa de- sestímulo ao pleno comprometimento com o sucesso da organização. A tarefa dos líderes nos dias de hoje é assegurar que as pessoas ou grupos sejam competentes para exercer a responsabilidade que lhes são atribuídas, que compreendam as metas da organização e se comprometamcom elas, que identifiquem a existência do alinhamento entre a visão de futuro da or- ganização e suas metas pessoais. Tais modelos de liderança estão presentes nas organizações modernas, flexíveis, ágeis, também denominadas de “organizações sem cargos”, que se caracterizam “como um campo energético e os líderes funcionam como pontos de energia em torno dos quais a atividade se agrupa” (HESSELBEIN, 1996, p. 42). Diferentemente da organização tradicional que tem como base uma es- trutura de líderes apoiados em cargos, na organização sem cargos a lide- rança é mais leve e mais difusa, parecendo, muitas vezes, que não existem líderes, o que não é verdade. Ao contrário, esse tipo de organização necessita de maior quantidade de líderes e todos eles precisam de maior nível de competência, principalmente em face dos constantes desafios que precisam enfrentar. Liderança 137 De qualquer forma, apesar de algumas divergências quanto ao papel do líder e do gestor, evidencia-se a necessidade de um novo tipo de gestão, onde estejam presentes três formas distintas de liderança: Formal com a responsabilidade de integrar, prover e organizar as ativi-1. dades dos vários grupos de projetos. Ad hoc2. com a missão de replicar dentro de cada um desses grupos de projetos os objetivos maiores da organização. Liderança própria de cada membro das equipes de projeto que incen-3. tivam novas iniciativas favorece que o grupo tenha a autonomia de ge- rir suas ações e possa tomar decisões. Além disso, essas pessoas fazem o trabalho de repassar aos demais os valores organizacionais e o senso de responsabilidade, aspectos que normalmente são de responsabili- dade dos dirigentes centrais das organizações (HESSELBEIN, 1996). Gestão pública e privada O gestor público tem o patrimônio público sob sua responsabilidade para zelar e prestar contas à sociedade. Sua orientação de gestão é para o controle de todas as operações com as quais lida no seu dia a dia. Além disso, Moore (2002) ressalta que os gestores públicos devem produzir “valor públi- co”, diferentemente dos gerentes do setor privado que buscam, concebem e distribuem produtos que geram lucros, ou seja, criam “valor privado”. O fim maior da atuação do gestor público é a sociedade, é o servir ao público. No caso brasileiro, a reforma administrativa, que foi uma das prio- ridades do presidente Fernando Henrique Cardoso, preconizava uma transi- ção de um modelo burocrático de administração para um modelo gerencial. Nesse modelo que buscou trazer as conquistas da administração de empre- sas para a administração pública, surge um novo paradigma que percebe o cidadão como cliente de seus serviços. A estratégia desse modelo focaliza maior flexibilidade, confiança, descentralização de funções e criatividade para a atuação do gestor. Portanto, espera-se que o gestor público assuma uma postura mais pro- fissional e voltada para resultados que atendam as necessidades da popula- ção (CAVALCANTI, 2005). 138 Liderança Estilos de liderança Quais são as principais características de um líder eficaz? Existem alguns elementos principais que Peter Drucker considera essen- ciais para que possamos considerar alguém um líder eficaz: “A primeira tarefa do líder é ser o trompete que soa com clareza” (DRU- � CKER, 2001, p. 136). O líder precisa conhecer e definir com objetividade e transparência as metas pretendidas, compartilhando-as com todos da organização. “A segunda exigência é que o líder encare a liderança como responsabi- � lidade e não como posição ou privilégio” (DRUCKER, 2001, p. 137). O líder eficaz não se sente inseguro diante da força ou poder dos seus compa- nheiros líderes da organização nem dos seus subordinados. Ele se respon- sabiliza pelos erros dos demais e, ao mesmo tempo, sente-se responsável pelos êxitos alcançados por essas pessoas. Na verdade é a questão de se assumir como líder e ter consciência do significado do seu papel. Como terceiro elemento, Drucker nos apresenta a confiança: “Outro re- � quisito da liderança eficaz é ganhar confiança. Caso contrário, não ha- verá seguidores” (DRUCKER, 2001, p. 137). Para uma pessoa ser segui- dora de outra, não necessariamente tem que gostar dela, nem precisa concordar com tudo que o líder faz e diz. A confiança não depende dessas apreciações, e sim, é construída a partir do momento em que o seguidor observa evidências de coerência entre o discurso e a prática. Para os seguidores isso é que é integridade. Vamos agora explorar alguns conceitos que nos levam a identificar dife- rentes estilos de liderança, sem defender ou qualificar qualquer um deles. Mas apresentá-los para que possamos refletir e entender melhor as organi- zações e seus líderes. Liderança janusiana Kouzes e Posner (apud CHOWDHURY, 2003) nos apresentam o líder janu- siano como sendo o líder que desenvolveu a capacidade de olhar para frente e para trás, de presidir fins e inícios, ocasos e auroras e que pergunta: o que aprendi sobre liderança durante toda a minha carreira que me servirá no futuro? O que aprendemos coletivamente sobre liderança que poderemos ensinar aos outros, de modo que eles possam se beneficiar de nossa experiência? (KOUZES; POSNER apud CHOWDHURY, 2003, p. 15) Liderança 139 O termo Janusiano vem do nome de Janus, um antigo deus romano cujo rosto é apresentado com duas faces, uma olhando para frente e a outra para trás. D om ín io p úb lic o. Deus Janus. Kouzes e Posner (apud CHOWDHURY; 2003) desenvolveram diversas pesquisas e acumularam inúmeros estudos sobre práticas bem-sucedidas de diferentes líderes, encontrando um padrão básico de liderança com características semelhantes. Desenvolveram, então, o conceito das sete lições-chave que apresentaremos agora. Tais lições, segundo os autores, resistem ao tempo e devem ser consideradas pelos líderes atuais. Lição 1: credibilidade é a fundação da liderança. Lição 2: liderança é tarefa de todos. Lição 3: desafio é a oportunidade para a grandeza. Lição 4: os líderes focalizam o futuro. Lição 5: os líderes são integrantes de equipe. Lição 6: o legado que você deixa é a vida que você leva. Lição 7: cuidar é o cerne da liderança. 140 Liderança Liderança ideal X liderança contingencial Liderança Ideal – GRID � (do inglês grade – forma gráfica utilizada para descrever o Grid Gerencial): existe um estilo ideal e universal de lide- rança? Alguns autores acreditavam que sim. Um exemplo dessa crença é o grid gerencial de Blake e Mouton (apud ROBBINS, 2004) que pre- conizava um modelo de liderança ideal. As variáveis estudadas foram a preocupação com as pessoas e a preocupação com a produção. O esquema lógico desses autores compreende 81 posições em que um estilo de liderança pode se encaixar. Essas posições podem ser agru- padas em cinco categorias que formam a base de estilos de liderança, sendo que a posição 9.9, que conjuga tarefa e pessoas no mesmo nível, é considerada a ideal para qualquer tipo de organização e aplicável em toda e qualquer situação. Acontece que essa estrutura não apresenta evidência de que existe um estilo ideal a ser perseguido (ROBBINS, 2004). Liderança Contingencial � : diferentemente da abordagem anterior, uma nova teoria surge e passa a considerar a combinação de outros fatores, como o nível dos subordinados, a estrutura da tarefa e as re- lações entre pares como aspectos importantes para a análise de uma liderança eficaz. Surge então o modelo de Fiedler, que entra na categoria de teoria con- tingencial, pois leva em consideração outras dimensões para investigação. Segundo esse modelo, “o desempenho eficaz do grupo depende da combi- nação adequada entre o estilo de interação do líder com seus subordinados e o grau em que a situação do controle influencia para o líder” (ROBBINS, 2004, p. 232). Liderança Situacional � : um desdobramento é uma evolução do mo- delo contingencial e a liderança situacional, que leva em consideração, em primeiro lugar, os seguidores e suas necessidades.Um comporta- mento significativo no estudo dessa dimensão de seguidores é seu ní- vel de prontidão. Liderança 141 Figura 1 – Esquema Geral de Liderança Situacional. Relacio- namento alto e tarefa baixa Tarefa alta e relacio- namento alto Estilo do líder Maturidade dos liderados Alta M 4 E4 E3 E2 E1 M 3 M 2 M 1 Moderada Baixa M ad ur o Im at ur o C om p or ta m en to d e re la ci on am en to Comportamento de tarefa (A lto ) (Alto)(Baixo) Relacio- namento baixo e tarefa baixa Tarefa alta e relacio- namento baixo De le ga r Determ inar Persuadir Co m pa rt ilh ar (H ER SE Y, P .; BL A N C H A RD , K . H ., 19 86 ) Prontidão pode ser entendida como a disponibilidade em termos de von- tade e preparo para desempenhar uma tarefa específica (maturidade). Por- tanto, a liderança situacional valoriza e reconhece o papel dos seguidores. O princípio básico da liderança situacional é entender que cada pessoa encontra-se em um estágio diferente e próprio do seu desenvolvimento, de- pendendo, entre outros fatores, da tarefa ou atividade em que está envolvi- da naquele momento. “Para que uma pessoa seja incentivada a dar o melhor de si, a liderança deve se adequar ao nível de desenvolvimento em que a pessoa se encontra” (BLANCHARD, 2007, p. 110). Um dos “segredos” de liderar com base na situação é encontrar a “dose certa” de supervisão que se deve dar a cada pessoa. Esse modelo foi descrito 142 Liderança inicialmente por Ken Blanchard e Paul Hersey da Universidade de Ohio, em 1968, tendo depois evoluído, em 2005, para o Modelo de Liderança Situacio- nal II, que pela definição descrita por Blanchard (2007, p. 110): A Liderança Situacional II se baseia na crença de que as pessoas podem e querem crescer, e de que não existe um estilo de liderança que seja considerado o melhor para encorajar esse crescimento. A aplicação do estilo de liderança deve ser feito sob medida para a situação. Concluindo este capítulo, deixamos aqui algumas considerações de Peter Drucker (apud HESSELBEIN, 1996), que dedicou 50 anos de sua vida para es- tudar liderança. Para ele existem duas lições básicas: líderes natos são uma raridade e liderança pode ser aprendida. A partir de suas observações, Drucker (apud HESSELBEIN, 1996) também destaca quatro elementos significativos para a compreensão do tema lide- rança: O líder só existe se tiver seguidores.1) O verdadeiro líder é aquele cujos seguidores trabalham para resulta-2) dos – não significa ser popular ou admirado por eles. Lideres são exemplos para seus seguidores.3) Liderança significa antes de mais nada responsabilidade.4) Liderança baseada em ideias Devenport (2003) desenvolveu um conceito bastante interessante sobre lide- rança, que veremos agora. A partir dos diversos trabalhos que ele desenvolveu com seus colegas em diferentes organizações, observou que a gama de ideias novas que eles apresentavam atraía significativamente as pessoas e os gestores, estimulando-os a buscar uma forma de aplicá-las nas suas organizações. Essas pessoas que acolhiam as novas ideias e logo buscavam uma forma de colocá-las em prática eram chamadas por Devenport (2003) de realizado- res de ideias: começamos a perceber que estavam mais ou menos intrinsecamente motivados. O que eles queriam fazer, o que eles sentiam que deviam fazer, era avaliar, traduzir e desenvolver novas ideias para trazê-las às suas organizações e, depois, lutar por elas. E a briga às vezes era feia, especialmente se as ideias eram inovadoras ou pudessem ameaçar o status quo2. (DEVENPORT, 2003, p. 2) 2 Expressão latina que de- signa o estado atual das coisas. Liderança 143 Na verdade, foi observado também que essas pessoas, chamadas de re- alizadores de ideias, precisam ter alguns atributos de liderança para terem sucesso. Não basta ter ou descobrir ideias novas e sair aplicando nas orga- nizações. É preciso ser um líder de ideia ou apoiar-se em outros líderes de ideias para alcançar seus objetivos. Vejamos alguns dos atributos desses líderes, os quais podem orientar e ajudar no processo de implementação das ideias. Atributo 1 – Assegure a presença de realizadores de ideias e o respei- to a eles: as pessoas que geram constantemente novas ideias surgem e flo- rescem aleatoriamente nas organizações. O líder de ideias deve ficar atento ao surgimento dessas pessoas, deve recrutá-las para trabalhos desafiantes, revelar a sua admiração, seu respeito para com a pessoa e recompensar os seus êxitos. Atributo 2 – Estabeleça uma estratégia de ideias e uma cultura fa- vorável às ideias: “uma organização não pode trabalhar eficazmente com ideias sem que seus líderes estabeleçam uma estratégia e cultura que per- mitam o florescimento das ideias certas” (DEVENPORT, 2003, p. 208). Para es- clarecer esse atributo ele nos fala da experiência da General Eletric (GE) que foi gerenciada durante muitos anos por Jack Welch e que, no início da sua gestão, não colocava como prioridade as questões humanas. Já nos últimos anos em que esteve no comando da empresa, se dedicou ao estabelecimen- to de uma cultura favorável à criação e disseminação de novas ideias. Segun- do Welch (apud DEVENPORT, 2003, p. 208) “credito grande parte do sucesso e crescimento da GE à sua arquitetura social, que emergiu das ideias buscadas e aumentou seu sucesso”. Atributo 3 – Trabalhe com os realizadores em cada ideia: a premissa principal desse atributo é a integração e o compartilhamento entre os líde- res de ideias, os realizadores e os demais funcionários da linha de frente da organização. É importante que haja uma relação de confiança entre esses atores. Muitas vezes os líderes apresentam aos realizadores algumas ideias que conheceram ou que ouviram falar. Cabe então aos realizadores a tarefa de analisá-las, modificá-las e discutir com os funcionários, desenvolvendo assim um processo dinâmico de desenvolvimento e implementação de novas iniciativas. 144 Liderança Ampliando seus conhecimentos Liderança envolve reconhecer o gênio potencial (CHOWDHURY, 2003) Dois empresários argentinos, Felix Racca e Emílio López, fundaram a Em- presa InterSoft, pois decidiram que além de multinacional, a sua empresa seria interplanetária! Segundo suas palavras: “Queríamos ser o sonho argenti- no – provar à Argentina e ao mundo que seríamos capazes de nos mantermos e ter sucesso. Queríamos ser revolucionários, fazendo o que os grandalhões faziam, mas por cerca de um décimo do custo”. Ser pioneira tem sido a marca registrada da InterSoft. Embora eles preci- sem se tornar interplanetários, a empresa já é multinacional. Para surpresa de seus colegas e concorrentes, a InterSoft se tornou uma empresa virtual constituída de programadores na Argentina e alguns dos maiores talentos em engenharia de software na Rússia. No início da década de 1990, a InterSoft teve dificuldade em encontrar ta- lentos em programação dos quais precisava. A Empresa criou um grupo de programadores de primeira linha, de toda a América Latina, com os quais não fizeram arranjos formais ou contratos, mas, ao contrário, criaram relaciona- mentos com base na confiança. Em 1992, Racca e López viajaram para Moscou. Eles achavam que ir para a Rússia seria o mesmo que ir para o Japão ou para a Alemanha logo depois da Segunda Guerra Mundial em busca de oportunida- des. Eles se reuniram com mais de 50 profissionais de software antes de des- cobrir a Empresa Orgland, cujos programadores eram formados pelo Instituto de Física e Tecnologia de Moscou. López explicou: “Assim que conheci o pessoal da Orgland tive uma boa impressão deles. Fiquei impressionado principalmente com a experiência em interfaces gráfi- cas com o usuário (GUI – graphic user interfaces), algo que a InterSoft estava apenas começando. O espírito e a atitude deles em relação ao trabalho me lembravam a InterSoft quando estávamos começando. Passamos tempo conhecendo-nos, conversando sobre religião e história. Descobrimosque os argentinos e os russos têm muito em comum. Como católicos romanos com- partilhávamos algumas crenças ortodoxas russas sobre a família e certos prin- cípios morais. Ambas as culturas têm tendências românticas e socialistas. Eles Liderança 145 têm as estepes e nós temos os pampas. Ambas as culturas apreciam uma boa bebida! Uma vez que a empresa deles tinha tantos jovens achamos que eles poderiam se dar bem conosco”. Apesar das barreiras potenciais da distância e do idioma (em geral, o inglês seria a língua comum entre eles), a InterSoft decidiu adquirir a Orgland depois de um projeto experimental conjunto. As complexidades inevitáveis da cola- boração seriam gerenciadas por e-mail. Mesmo com essa aquisição, a InterSoft precisava de mais talentos. Eles co- meçaram a desenvolvê-los, oferecendo cursos de programação avançados, procurados pelos melhores estudantes universitários. O que começou de modo informal se tornou um renomado programa extensivo de estágio. Para usar uma frase cunhada por Morgan McCall, a estratégia deles não era mera- mente a seleção dos mais aptos, mas o desenvolvimento dos mais aptos. Como Racca e López descobriram mais frequentemente que a liderança en- volve reconhecer o gênio potencial e, então, cultivá-lo. De acordo com outro empresário, Randy Haykin, fundador da empresa Interactive Minds, localizada no Vale do Silício na Califórnia, Estados Unidos, a sua vantagem competitiva tem origem na sua capacidade de identificar talentos antes dos seus concorrentes. Muitos dos indivíduos com quem ele trabalha no campo do software interati- vo têm pouca ou nenhuma experiência anterior. A vocação de Randy Haykin é encontrar pessoas que tenham ideias excelentes e fornecer-lhes os recursos de que precisam para transformar as ideias em um negócio bem-sucedido. Atividades de aplicação 1. Identifique e marque no quadro as afirmativas que você considera que refletem as ações de gestão que a sua organização utiliza. Depois que identificar, verifique em que abordagem se enquadra, se forem nas abordagens estrutural, humanística ou integrativa. Características do modelo de gestão 1. Os funcionários são promovidos exclusivamente por tempo serviço. 2. As pessoas podem exercer funções de coordenação de tarefas mesmo que não tenham um cargo de chefia. 3. Vivencia-se com frequência o lema “manda quem pode, obedece quem tem ju- ízo.” 146 Liderança 4. Os empregados são respeitados pelos conhecimentos, habilidades e experiência que possuem. 5. Os empregados conhecem a missão da empresa, que não fica restrita à alta ad- ministração. 6. A liderança é exercida na base de poder com (quando o líder trabalha com os liderados para construir soluções conjuntas) (FERREIRA, 2006, p. 81). 7. O processo de planejamento estratégico é participativo. 8. Percebe-se entusiasmo nos empregados pelo sucesso da organização. 9. A estrutura hierárquica é rígida. 10. Títulos e cargos têm pouco peso na organização. A Empresa pode ser considerada como tendo um Modelo de Gestão: a) na abordagem Estrutural. b) na abordagem Humanística. c) na abordagem Integrativa. 2. Classifique as alternativas de acordo com os diferentes estilos de lide- rança e coloque na coluna da direita. Verifique se está de acordo com um dos seguintes estilos: Estilos de liderança Class. Liderança Janusiana A Liderança Ideal-grid B Liderança baseada em ideias C Liderança Situacional D Assertivas Class. Estou impressionado e orgulhoso de ter tantas pessoas diferentes na minha equipe. Soube que em 2003 uma empresa parceira viveu problemas semelhantes ao que estamos vivendo. Vamos conversar com esta gente e ver como se saíram dessa! Recebi proposta de uma consultoria que defende um programa desenvolvimen- to gerencial baseado num estilo padrão de liderança. Precisamos conversar com a equipe que está aqui desde que a empresa foi fun- dada, junto com as pessoas que estamos preparando para serem líderes no fu- turo. Preciso conhecer melhor a minha equipe para então construir minha estratégia de atuação enquanto chefe. Criamos um espaço semanal para conversarmos sobre que soluções vocês suge- rem para determinados problemas que estamos vivendo. Liderança 147 3. Aprendendo com o exemplo (o modelo pode ser uma pessoa que você conheça, ou alguém que admira). a) Identifique um líder que você admira, seja no campo organizacio- nal, político, econômico etc. b) Descreva brevemente as competências que você admira nesse líder. c) Selecione três competências que você considera importante para sua organização e que deveriam ser desenvolvidas em um progra- ma de treinamento. Gabarito 1. a) 1, 3, 9 b) 4, 6, 8 c) 2, 5, 7 e 10 2. Assertivas Class. Estou impressionado e orgulhoso de ter tantas pessoas dife- rentes na minha equipe. D Soube que em 2003 uma empresa parceira viveu problemas semelhantes ao que estamos vivendo. Vamos conversar com esta gente e ver como se saíram dessa! A Recebi proposta de uma consultoria que defende um progra- ma desenvolvimento gerencial baseado num estilo padrão de liderança. B Precisamos conversar com a equipe que está aqui desde que a Empresa foi fundada, junto com as pessoas que estamos pre- parando para serem líderes no futuro. A Preciso conhecer melhor a minha equipe para então construir minha estratégia de atuação enquanto chefe. D Criamos um espaço semanal para conversarmos sobre que soluções vocês sugerem para determinados problemas que estamos vivendo. C 148 Liderança 3. a) O aluno pode ter como exemplo o Gandhi, assim como outras per- sonalidades. b) O aluno pode ter como opinião competências como negociador, pacificador, simplicidade, coerência, entre outros. c) O aluno deve refletir as competências que a empresa deve desen- volver para melhorar o processo organizacional. Por exemplo: ca- pacidade de delegar, saber ouvir etc. Referências BLANCHARD, Ken et al. Liderança de Alto Nível. Porto Alegre: Bookman, 2007. BERKUN, Scott. A Arte do Gerenciamento de Projetos. Porto Alegre: Bookman, 2008. BUCKINGHAM, Marcus. 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Liderança e poder Isabel Stepanski O tema liderança tem sido exaustivamente abordado na literatura que estuda a dimensão humana nas organizações. Um aspecto desse estudo que tem requerido maior atenção por parte dos estudiosos é a relação da lide- rança com o poder; plenamente justificável na medida em que a maioria dos papéis de liderança tradicional vem junto com o poder. Segundo Robbins (1999) uma diferença entre os dois termos – liderança e poder – refere-se à compatibilidade de metas. Poder não requer compatibili- dade de metas, apenas dependência. Já a liderança requer alguma coerência entre as metas do líder e as dos liderados. A outra diferença está relacionada à direção da influência. A liderança exerce influência para baixo, sobre os subordinados, minimizando a importância dos padrões lateral e para cima, já o poder não. Hunter (2004), em seu livro O Monge e o Executivo aborda o tema lide- rança como a habilidade de influenciar pessoas para trabalharem entusiasti- camente, tendo em vista o alcance dos objetivos identificados como sendo para o bem comum. Para o autor, o poder é visto como a faculdade de forçar ou coagir alguém a fazer sua vontade, por causa de sua posição ou força, mesmo que a pessoa não estivesse disposta a fazê-lo. Qualquer que seja o relacionamento existente entre duas ou mais pesso- as, a habilidade de liderança estará presente. Portanto, conhecer o estilo de liderança dos envolvidos favorecerá aos indivíduos uma maior compreensão sobre a dinâmica das relações estabelecidas, e, até certo ponto, minimizará os conflitos interpessoais existentes. A qualidade da liderança é determinada pela forma como o líder toma as decisões cotidianas. A primeira delas é ao assumir o papel de líder e, em decorrência, como exercer essa liderança: pelo poder ou pela autoridade? Porém, poucos são os líderes que desenvolvem a autoridade para apoiar o poder que lhes foi conferido. 152 Liderança e poder Poder, autoridade e responsabilidade A maneira como cada indivíduo se relaciona com o poder é diretamente influenciada por sua personalidade e por seu histórico de vida, representado por suas experiências, conhecimentos e habilidades, resultando na expres- são de seu poder pessoal. O poder pessoal manifesta-se por meio de: Conhecimento � – relacionado com os conhecimentos técnicos e pro- fissionais, as habilidades e as experiências que integrados geram cre- dibilidade e coerência de atuação. Conexão � – relacionada com a capacidade de envolver as pessoas em objetivos, atividades e causas comuns, exercer influência sobre as rela- ções, estimular e motivar, gerando segurança e disposição nas pessoas para correr riscos e aceitar desafios. Competência interpessoal � – são as características pessoais de cada indivíduo expressas como capacidade de comunicação, dar e receber feedback, ser flexível etc. De acordo com French e Ravem (apud ROBBINS, 1999) são identificadas seis fontes de poder: legítimo, coercitivo, de recompensa, de referência, de conhecimento e de informação. Legítimo1. : atribuído pela organização fazendo parte da estrutura hie- rárquica constituída pelos grupos sociais; é o poder de autoridade. Ex.: chefe–subordinado etc. Coercitivo2. : capacidade de exercer influência por meio da aplicação de sanções e punições. Ex.: retirada de afeto, censuras etc. Pode ser con- siderado o lado negativo do poder de recompensa, onde a punição varia desde a retirada de pequenos privilégios, tais como vaga na gara- gem, troca da localização da mesa no escritório até a demissão. É geral- mente utilizado como forma de garantir um padrão de desempenho apropriado. A reação a esse poder acontecer por medo dos resultados negativos que possam ocorrer no caso de falhas na concordância com a situação vivida. De recompensa3. : baseia-se na influência que uma pessoa tem de re- compensar a outra pelo cumprimento de ordens ou pela realização de outras exigências. As recompensas são utilizadas como reforço para ações desejáveis e não como forma de “suborno” para realização de Liderança e poder 153 tarefas; estão relacionadas com os desejos ou necessidades do outro, pois devem gerar benefícios positivos, isto é, alguém que possa distri- buir recompensas que outros reconheçam como preciosas terão po- der sobre elas. De referência (de identificação ou “carismático”)4. : refere-se à rela- ção psicológica gerada pela identificação com um modelo. As pessoas fazem uso de apelos emocionais com a intenção de serem admiradas, tornando-se, dessa forma, modelos ou ídolos, seja num contexto polí- tico, social, religioso etc. De conhecimento (de perito)5. : está fundamentado no conhecimento, especialização numa determinada situação. Ex.: especialistas, peritos etc. De informação6. : refere-se à influência gerada pela posse de informa- ção ou ainda, a transferência parcial de informações aos demais. Para Krausz (1991) existe também o poder contextual que tem como base as relações que ocorrem na organização ou sociedade. Segundo o autor, nesses ambientes as relações são dissimuladas pela racionalidade, regras e normas, que na maioria das vezes usam os interesses da coletividade como justificativa. Galbraith (apud VERGARA, 2000) também aborda o tema fontes de poder. Para o autor são elas: a personalidade, a propriedade e a organização. Personalidade � : qualquer característica pessoal (ex. inteligência, con- duta moral). Revela um estágio mais antigo do exercício do poder. Propriedade � : compra a submissão. Organização � : refere-se a grupos organizados. É a fonte de poder mais importante atualmente. Com uma administração do poder equilibrada, as pessoas se tornam ca- pazes de utilizarem suas competências, e também seus potenciais, para o alcance dos objetivos pessoais e os da organização. O poder, sendo um processo de influências entre os envolvidos, conside- ra o grau de interdependência entre os indivíduos, as características da per- sonalidade de cada um, o contexto social no qual estão inseridos, pois são fatores que permitirão a decisão de aceitar ou não estas influências. A partir 154 Liderança e poder disso, as pessoas terão condições de definir qual estilo de liderança querem exercer, determinando, assim, qual o tipo de poder empregar. Segundo McCleland (1972) o poder pode se apresentar de duas formas, chamadas pelo autor de faces: uma face negativa e outra positiva. A face negativa geralmente é expressa em termos de domínio-submis- são: para alguém ganhar, alguém tem que perder. Nesse caso a posse do poder está relacionada com ter poder sobre alguém que está numa situação de submissão. Nesta forma de exercício do poder as pessoas são vistas como peões de xadrez e podem ser usadas conforme a necessidade da situação. Na face positiva do poder destaca-se a preocupação com os objetivos grupais, o que implica o uso da influência a favor de e não sobre os outros. Exercer o poder positivamente significa também encorajar os membros do grupo no desenvolvimento da força e das competências necessárias para serem bem-sucedidos como indivíduos e como membros da organização, reforçando o espírito de equipe. Significa atuar de forma a apoiar os subordi- nados recompensando e reconhecendo seu desempenho. Segundo Kotter (1990) existem características básicas para o exercício do poder com sucesso. As pessoas que apresentam essas características geralmente: São sensíveis à fonte de seu poder. Mantêm suas ações coerentes com � as expectativas das pessoas. Por exemplo, não tentam aplicar compe- tências relacionadas a um determinado campo de poder em outro. Reconhecem os diversos custos, riscos e benefícios das cinco fontes � do poder. Utilizam fontes de poder que sejam apropriadas para cada situação ou pessoa em particular. Identificam os méritos de cada uma das cinco fontes de poder, desen- � volvendo suas habilidades e sua credibilidade, de forma a utilizar o melhor método de todos. Possuem objetivosprofissionais que lhes permitem desenvolver e usar � o poder, por isso buscam cargos que propiciam o desenvolvimento de suas habilidades e empregam um tipo de poder com o qual se sintam confortáveis. Agem com maturidade e exercitam o autocontrole, evitando atitudes � impulsivas e egoístas no uso do poder. Liderança e poder 155 Compreendem que o poder é necessário para realizar as coisas. Sen- � tem-se confortáveis usando o poder. Assim, poder é a capacidade de exercer influência. Portanto, quem o detém pode mudar o comportamento e as atitudes das outras pessoas. Uma pessoa que produz muito, por exemplo, pode influenciar o comportamento dos demais e aumentar a produtividade da equipe. Outro exemplo são os gerentes que podem elevar a autoestima em relação ao tipo de trabalho de- senvolvido pelo grupo de trabalhadores usando sua influência para mudar estratégias usadas pela direção. No contexto organizacional, uma das formas mais importantes de poder é o originado pela autoridade. A autoridade, nesse caso, é considerada, de acordo com Kwasnicka (1995), como o poder validado pela estrutura orga- nizacional, legitimando o direito de tomar decisões e fazendo com que as mesmas sejam atendidas. O poder e as posições existentes nas organizações, quando distribuídos de forma irregular, podem ocasionar relações desequilibradas e compensa- tórias. Tais relações poderão causar sentimentos como: medo, ansiedade, submissão, resistência à mudança e, até mesmo, a despersonalização do indivíduo. Robbins (1999, p. 254) apresenta o resultado da pesquisa feita para avaliar as táticas utilizadas de poder. O resultado mostrou que a utilização das táticas não é igualitária e que quatro variáveis afetam a seleção de uma tática de poder: o poder relativo do gerente, os objetivos do gerente para querer influenciar, a expectativa do gerente quanto ao desejo da pessoa- -alvo em obedecer e a cultura da organização. Na mesma linha de pensamento, Galbraith (apud VERGARA, 2000) apre- senta três grandes instrumentos de poder: Poder condigno (coercitivo) � : obtido pela capacidade que o indivíduo possui de impor ao grupo ou ao indivíduo uma opção tão desagradá- vel que os faça mudar suas preferências. Tem estreita relação com a personalidade. Ex: punição física. Poder compensatório � : é o que conquista submissão por meio de re- compensas. Está mais ligado à propriedade. Estes poderes têm em co- mum a consciência da pessoa sobre sua submissão. 156 Liderança e poder Poder condicionado � : é exercido pela intervenção e mudança de uma convicção, de uma crença. A família, a escola e a mídia são exemplos de utilização deste instrumento de poder. Um tipo de poder fundamentado no reconhecimento da legitimidade ou na legalidade do exercício da influência é a autoridade. Nessa condição, os indivíduos ou grupos que tentam exercer influência, em função de sua po- sição formal dentro da organização, são reconhecidos como tendo o direito para tal. Já a autoridade é considerada por Hunter (2004) como a habilidade de levar as pessoas a fazerem de boa vontade o que se deseja que elas façam por causa da influência pessoal exercida. Weber (apud VERGARA, 2000) distinguiu três tipos de autoridade: tradi- cional, carismática e racional-legal. Autoridade tradicional � : está relacionada ao poder legitimado por meio das tradições, costumes. Ex: senhor feudal, o chefe do clã, o pai de família. Autoridade carismática � : está relacionada ao poder legitimado pela personalidade do superior. Ex: profetas, heróis, guerreiros e os dema- gogos. Autoridade racional-legal � : está relacionada ao poder legitimado pela concordância com um conjunto de regras racionalmente definidas. Ex.: o Estado, as organizações militares, empresas. Vergara (2000, p. 113) apresenta um quadro-resumo desses três tipos. Quadro 1 – Resumo dos três tipos de autoridade Autoridade Tradicional Carismática Racional-legal Legitimidade “Porque sempre foi assim” Por causa da influência da personalidade Porque concordam com um conjunto de regras. Obediência À santidade da tradição À personalidade do “se-nhor” Às regras (leis, nor- mas) Sociedade Típica Medieval Períodos revolucionários Moderna (W EB ER a pu d VE RG A RA , 20 00 . A da p ta do .) Liderança e poder 157 Autoridade Tradicional Carismática Racional-legal Ação do superior Arbitrária Carismática Formal, impessoal Serventuário Lealdade pessoal Devoção pessoal Especialista treinado Tipos puros Senhor feudal, chefe de clã, pai de família. Profetas, heróis, guerrei- ros, demagogos Estado, organizações militares, organiza- ções complexas. Outro aspecto que merece destaque na questão da autoridade e respon- sabilidade é que só a autoridade permite a delegação. Delegação pode ser entendida como a atribuição da autoridade formal e da responsabilidade pela realização de determinadas atividades atribuídas a outrem. A delegação de poder de superiores a subordinados é necessária para o funcionamento eficiente de qualquer organização. No entanto, mesmo delegando responsabilidade a um subordinado, o administrador ainda assim ficará com a responsabilidade de prestar contas aos seus superiores hierárquicos. Na administração pública, um dos princípios básicos é a coerência entre a autoridade e a responsabilidade conferidas a uma pessoa. A responsabili- dade assumida deve estar diretamente relacionada com a autoridade rece- bida, ou seja, quanto mais autoridade, maior a responsabilidade assumida. Também deve existir relação entre a responsabilidade assumida e a autori- dade para a tomada de decisão e à ação correspondente. Embora pareça lógica, a coerência da relação entre a autoridade conce- dida e a responsabilidade exigida nem sempre é praticada, trazendo con- sequências negativas tanto para a organização quanto para o indivíduo. É muito comum uma inversão da relação entre autoridade e responsabilidade. Um funcionário que não tenha atingido os resultados determinados, muitas vezes é cobrado sem, no entanto, ter recebido a autoridade necessária para tomar decisões e providências para alcançá-los, gerando desmotivação e sentimento de injustiça. Mas, o contrário também acontece, seja na esfera privada ou pública. Pes- soas investidas de autoridade cometem erros graves, agem de forma ilíci- ta e muitas vezes não são cobradas e nem prestam contas sobre seus atos. Essa relação nociva com a autoridade facilita a acomodação e a existência da corrupção. (W EB ER a pu d VE RG A RA , 20 00 . A da p ta do .) 158 Liderança e poder A responsabilidade é o dever de responder pelo alcance de resultados definidos, garantir a manutenção das condições preestabelecidas e também respeitar as normas, rotinas ou regulamentos. Para poder cumprir correta- mente suas obrigações, todos os indivíduos que pertencem a uma orga- nização têm o dever de conhecer bem as responsabilidades que lhe são atribuídas. “A autoridade consiste no direito de mandar e no poder de se fazer obe- decer. Não se concebe autoridade sem responsabilidade, isto é, sem a sanção que acompanha o exercício do poder” (FAYOL,1990, p. 45). Competências e desenvolvimento da liderança na gestão pública O gestor público, seja em que esfera atue (municipal, estadual ou federal), possui todas as características e dificuldades de um líder do setor privado, no entanto, encontra situações específicas e significativas que devem ser consi- deradas quando da análise de sua atuação como líder. A administração pública, assim como a iniciativa privada, exige a presença marcante do líder. Por isso, um líder, enquanto gestor público, tem seu poder de comando baseado na busca pelo atingimento de propósitos inicialmente traçados e estratégias estabelecidas pela administração pública. O conceito de administração pública, segundo Ceneviva (2002, p. 9) “é o conjunto de órgãos do Estado encarregado de exercer, em benefício do bem comum, funções previstas na Constituição e nas leis”. Pode-setambém fazer referência aos instrumentos de governo como à própria gestão dos interes- ses coletivos. Para Meirelles (1983, p. 83) o conceito é: “subjetivamente, a administração pública é o conjunto de órgãos a serviço do Estado agindo in concreto para satisfação de seus fins de conservação, de bem-estar individual dos cidadãos e de progresso social.” E ainda, para um maior entendimento, Silva (2006, p. 55) traz uma reflexão sobre o conceito de administração pública vista como “o conjunto de meios institucionais, material, financeiro e humano preordenados à execução das decisões políticas. Essa é uma noção simples de Administração Pública que destaca, em primeiro lugar, que é subordinada ao Poder Político; em segun- Liderança e poder 159 do lugar, que é meio e, portanto algo que se serve para atingir fins definidos e, em terceiro lugar, denota seus aspectos: um conjunto de órgãos a serviço do Poder Político e as operações, atividades administrativas. O comportamento dos gestores públicos está estabelecido na Constitui- ção Federal de 1988, determinando que o mesmo deva estar em conformi- dade com os princípios da administração pública: princípio da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da publicidade e da eficiência. Considerando o princípio da eficiência, para a realização das atividades e dos serviços públicos que lhe são pertinentes, será necessário que o gestor tenha como foco a efetividade do bem comum. Agindo com imparcialida- de, neutralidade, transparência, promovendo a participação e aproximação dos serviços públicos da população, eficácia, desburocratização e busca da qualidade. Para atender a esse princípio, será necessário que o gestor público atue no sentido de integrar sua equipe, exigindo eficiência e eficácia na presta- ção dos serviços, agregando valores à administração que serão revertidos na prestação de serviços públicos de qualidade. A gestão pública inovadora preconiza uma forma de administração na qual não exista uma estrutura piramidal de gestão. A gestão acontece de forma horizontal onde todos têm o mesmo poder, atuando em forma de rede. Com isso, passa-se a exigir uma gestão por resultados, por desempenho. Com essa nova proposta de administração pública, será necessária uma adequação do perfil do gestor que deverá ser politicamente responsável e capaz de interagir com grupos sociais diversos. Com a ampliação da atuação do gestor, também será exigida maior preparação para analisar problemas complexos e capacidade em oferecer assessoramento para solucioná-los. A gestão inovadora influencia também a formação das equipes, pois o gestor necessitará de equipes suficientemente estáveis e preparadas para os novos desafios e, seja qual forem as mudanças governamentais, que possa garantir a manutenção do conhecimento institucional. A Política Nacional de Gestão de Pessoas do Governo Lula definiu, através da Secretaria de Recursos Humanos, órgão ligado ao Ministério do Planeja- mento, o perfil necessário ao novo Gestor Público: liderança, planejamento e pensamento estratégico, conhecimento de administração pública geren- cial, implantação e gerenciamento de mudanças, análise e gerenciamento 160 Liderança e poder de conflitos, negociação coletiva, motivação e obtenção de compromisso de pessoas e equipes, conhecimento sobre desenvolvimento de sistemas de re- cursos humanos, delegação de responsabilidades e cobrança de resultados, gerenciamento de recursos financeiros e legislação de recursos humanos. Outra questão relevante para o tema é entender como o poder é real- mente exercido nas organizações públicas. Segundo estudiosos do assunto, ocorrem oito principais táticas de exercício do poder: Razão � : utilização de dados, fatos e lógica; Amizade � : apoiar-se na consideração e na boa vontade de relações in- terpessoais; Fazer alianças � : conseguir que outros se juntem e apóiem uma posição; Barganha � : regatear e negociar; Positividade � : empregar maneiras fortes e diretas; Apelo para cima � : solicitar níveis mais altos de autoridade e apoio; Sanções � : recompensar ou punir o comportamento dos outros; Bloqueio � : deixar de cooperar para subverter as ações dos outros. Considerando que o exercício da gestão pública está relacionado com sig- nificativo poder, deve ser preocupação do governo assegurar que o mesmo seja exercido de forma responsável e coerente com as ações governamen- tais. A administração pública institui códigos de comportamento ético como uma forma de garantir esse exercício, apoiados no profissionalismo e nos códigos de ética das diversas áreas de atuação profissional. São documentos que têm a função de definir os valores essenciais para que os gestores de- sempenhem suas funções. Dessa forma, o perfil de liderança necessário aos gestores públicos deverá contemplar conhecimentos, habilidades e atitudes capazes de su- portar e garantir a transformação e consolidação dos processos de mudança propostos. Liderança e poder 161 O líder conectivo O enfoque no líder conectivo, associado aos estudos sobre a Liderança Conectiva, apresenta a noção de que está em curso um processo de modifi- cação das antigas estruturas de liderança autoritária, competitiva e inflexivel- mente individualista, e que as mesmas estariam se desfazendo lentamente. Para Lipman-Blumen (1998), os líderes heroicos sempre existiram ao longo da história da humanidade. A autora classifica a evolução dessa lide- rança em três diferentes estágios ou eras: O � Estágio I ou Era Física – líderes destemidos e fortes guiavam seus seguidores e defendiam as fronteiras que protegiam seu grupo. O � Estágio II ou Era Geopolítica – líderes autoritários e heroicos defini- dos pelas importantes diferenças entre os povos. O � Estágio III ou Era da Interdependência – está relacionado aos tem- pos atuais quando surge um novo líder com capacidade e competên- cias para identificar e unir aspectos comuns que mobilizam as pessoas em prol de objetivos coletivos. O herói deixa de ser uma pessoa e pas- sa a ser uma causa. Os líderes conectivos encorajam o maior número de participantes a aderir ao processo de liderança. Eles distribuem a “carga” da liderança e confiam responsabilidades aos outros, em vez de simplesmente comandar. Lipman- -Blumen (1998) corrobora os estudos de Senge (2004), pois, para ele, os lí- deres conectivos se dedicam a objetivos mais amplos e, com isso, podem transcender suas limitações finitas e dar exemplos aos outros, energizando todo o coletivo. Lipman-Blumen (apud MACEDO, 2004) considera como características de líderes que atuam de forma conectiva: associar suas visões aos sonhos de outros, conectando e combinando, � jamais dividindo e conquistando; esforçar para resolver problemas comuns; � criar um sentido de comunidade; � reunir líderes e liderados em torno de objetivos comuns; � 162 Liderança e poder incentivar os colaboradores a assumir responsabilidades em todos os � níveis; fortalecer líderes em potencial, inclusive futuros sucessores; � construir e renovar instituições democráticas; � demonstrar autenticidade e não visar jamais a fins egoísticos; � exigir sacrifícios, primeiro de si próprio e, somente então, de outros. � A autora destaca ainda que o líder conectivo faz uso de sua força de con- duta ética e moral no sentido de associar pensadores e convencer seus se- guidores de que estão no caminho correto. Atuando dessa forma, o líder conectivo provoca o crescimento da organiza- ção como um todo. Entende que não basta apenas conseguir resultados – ser eficaz –, mas preocupa-se com o modo pelo qual tais resultados são obtidos. O líder conectivo deve ter a competência para decidir quando e quais pessoas são necessárias para o alcance de resultados mais efetivos, pois, cada vez mais, a realidade não permite que apenas uma pessoa tenha o poder das decisões. Hersey (1986) considera que a liderança ideal é feita por quem sabe in- fluenciar sem manipular; atuar de forma flexível,se adaptando rapidamente quando necessário; não deixar que o poder conferido pelo cargo mude sua forma de ser e, principalmente, comemora quando os que estão à sua volta são bem-sucedidos. Embora sejam conceitos complementares, liderança e poder se manifes- tam na complexa estrutura humana, por isso são passíveis de relatividade e subjetividade. Portanto, um líder não detém necessariamente um poder formal, como também, nem sempre aquele que é capaz de alcançar seus objetivos utilizando-se de uma relação de poder é aquele que desempenha o papel de liderança no grupo. A melhor maneira de se utilizar o poder em todas as suas formas, e em toda a sua extensão, é envolver os grupos na tomada de decisão. As decisões em grupo permitem que o poder seja exercido em todas as suas formas: o de recompensa – em termos de realização pessoal; o de punição – pelos mecanismos naturais de controle e censura da dinâmica social; o de perícia – quando as opiniões mais técnicas serão discutidas amplamente; e o poder de referência – que indica que os valores de referência da cultura estarão sendo vivenciados em todas as suas dimensões sociais. (OLIVEIRA, 2009) Liderança e poder 163 Ampliando seus conhecimentos Autoridade X afetividade: o delicado equilíbrio da liderança (SERRA, 2009) Esta questão é antiga, mas continua mal resolvida: o relacionamento entre chefes e subordinados ainda deixa muito a desejar em termos de qualida- de, eficácia e harmonia. Antes da crise – e certamente continuará após ela – essa dificuldade era a maior causa de demissões nas empresas, em todos os níveis. Nas atitudes de muitos profissionais ainda sobrevive um paradigma antigo de que “chefe sorridente é chefe incompetente”. E como tem gente que, até hoje acredita nisso, quando ocupam cargos de gestão armam-se diariamente de uma feroz sisudez e um ácido mau humor como se disso dependesse a imposição e aceitação da sua autoridade. A esse respeito, Stephen Covey, autor do best-seller Os Sete Hábitos das Pes- soas Altamente Eficazes, que vendeu mais de 15 milhões de exemplares, afir- mou: “A maioria das lideranças ainda está estancada no modelo de trabalha- dor em que as pessoas são vistas como coisas a ser controladas e reguladas. Mas hoje é imperativo ter consciência de que as pessoas são feitas de corpo, mente, emoções e espírito.” Outro famoso guru, Peter Drucker, escreveu: “Não se gerencia pessoas. A tarefa é liderar pessoas. A meta é tornar produtivos as forças e o conhecimen- to específico de cada pessoa. Pessoas precisam ser tratadas cada vez mais como parceiras e não mais como empregadas. Não se pode dar ordem a elas. É necessário persuadi-las.” E, finalmente, repito James Hunter, o consagrado autor de O Monge e o Executivo que há anos consta na lista dos livros mais vendidos em São Paulo: “Liderança não é o que você faz, é o que você é. Liderança tem a ver com ca- ráter: 99% das falhas de liderança são falhas de caráter. O desenvolvimento da liderança significa o desenvolvimento do caráter.” Essas transcrições têm o objetivo de reforçar o que venho defendendo em meus livros, artigos, seminários e palestras e que volto a insistir: a possibilidade 164 Liderança e poder de uma empresa ter lucro através de colaboradores felizes, depende fun- damentalmente da capacidade das lideranças manterem o equilíbrio entre o uso justo e produtivo da autoridade e, ao mesmo tempo, promoverem o calor e respeito humanos que podem ser gerados pela sua afetividade com a equipe. O ultrapassado paradigma que ainda leva alguns gestores ao uso inade- quado da autoridade tem um equivalente contrário, aquele que diz que afeti- vidade compromete o poder da liderança e instala displicência e irresponsa- bilidade na equipe. Crenças falsas e descabidas como essas são as principais responsáveis pelos climas organizacionais de desmotivação, ressentimentos e improdutividade. Toda empresa tem metas e resultados que necessariamente devem ser atingidos para sua sustentabilidade e crescimento. Todos os funcionários também têm metas e resultados a atingir como parte das suas responsabili- dades – e é a soma desses resultados individuais que se traduz em lucro co- letivo para a organização. Portanto, o interesse no sucesso desse processo é de todos, bem como a responsabilidade pela sua efetivação – e é ao líder que cabe sua condução. A importância da autoridade que permite ao líder tomar decisões e indicar caminhos e soluções para que a empresa atinja seus objetivos, é tão grande quanto a autoridade que lhe permite criar e manter um clima adequado de afetividade. São esses componentes emocionais que alimentam e dão força aos componentes técnicos e administrativos. Ambos devem funcionar lado a lado, pois um não sobrevive saudavelmente sem o outro. Há muito tempo que estudos e pesquisas sobre gestão de pessoas vêm demonstrando que gritos e caras feias das lideranças não aumentam produ- ção nem duplicam vendas. Ao lado da autoridade disciplinadora, as lideranças precisam usar também seus corações, sem os quais os verdadeiros talentos passam a se sentir como “coisas”, conforme a citação do Covey. E, como sabe- mos, “coisas” nada produzem. É simples assim. Liderança e poder 165 Atividades de aplicação 1. Além das manifestações do poder pessoal, Krausz (1991) se refere, ain- da, ao poder contextual que acontece de algumas maneiras, como: a) coerção e/ou pressão. b) conexão. c) informação. d) competência. 2. Entre os seis tipos de poder apresentados por French e Raven, um de- les é: a) conexão. b) posição. c) competência interpessoal. d) informação. 3. Hunter (2004), em seu livro O Monge e o Executivo aborda o tema lide- rança como: a) a habilidade de influenciar pessoas para trabalharem entusiastica- mente tendo em vista o alcance dos objetivos identificados como sendo para o bem comum. b) competência que pode ser encontrada em todos os gestores pú- blicos. c) o poder de manipular pessoas para alcance de objetivos preesta- belecidos. d) a habilidade de influenciar pessoas para o alcance de objetivos próprios. 4. Lipman-Blumen (apud MACEDO, 2004) apresenta algumas caracterís- ticas da atuação dos líderes conectivos. Entre elas: a) trabalhar com equipes de alta performance e com intenção de al- cance dos resultados individuais. 166 Liderança e poder b) assumir todas as responsabilidades pelas ações da equipe, limitan- do a atuação de seus liderados. c) demonstrar autenticidade e visar objetivos pessoais. d) associar suas visões aos sonhos de outros, conectando e combi- nando, jamais dividindo e conquistando; esforçando-se para resol- ver problemas comuns. Gabarito 1. A 2. D 3. A 4. D Referências CENEVIVA, W. Lei dos Notários e Registradores Comentada (Lei n. 8.935/94). 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. Ver. ampl. e atual. FAYOL, Henri. Administração Industrial e Geral. 10. ed. São Paulo: Atlas, 1990. HERSEY, P. Psicologia para Administradores. São Paulo: EPU, 1986. HUNTER, J. O Monge e o Executivo. Rio de Janeiro: Sextante, 2004. KRAUSZ, R. O Poder nas Organizações. São Paulo: EPU, 1991. KOTTER, J. P. A Force for Change: how leadership differ from management. New York: Free Press, 1990. KWASNICKA, E. L. Introdução à Administração. 5. ed.. São Paulo: Atlas, 1995. Re- vista e ampliada. LIPMAN-BLUMEN, J. Liderança Conectiva: como liderar em um novo mundo de interdependência, diversidade e virtualmente conectado. São Paulo: Makron, 1998. Liderança e poder 167 MACEDO, I. I. de. Aspectos Comportamentais da Gestão de Pessoas. 3. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2004. McCLELAND, D. C. A Sociedade Competitiva: realização e progresso social. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 1972. MEIRELLES, H. L. Direito Administrativo Brasileiro. 9. ed. São Paulo: Malheiros, 1983. OLIVEIRA, M. Liderança e Poder: as relações de poder no mundo contemporâneo. Revista TeD, São Paulo, jun. 2009. ROBBINS, S. Comportamento Organizacional. 8. ed. Rio de Janeiro: LCT, 1999. SENGE, P. M. AQuinta Disciplina: arte e prática da organização de aprendizagem. 17. ed. São Paulo: Best Seller, 2004. SERRA, Floriano. Autoridade X Afetividade: o delicado equilíbrio da liderança. Publicado em: 18 set. 2009. Disponível em: <www.gestaodecarreira.com.br/co- aching/inteligencia-emocional/autoridade-x-afetividade-o-delicado-equilibrio- da-lideranca.html>. Acesso em: 10 fev. 2010. SILVA, J. A. da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 27. ed. São Paulo: Ma- lheiros, 2006. VERGARA, S. C. Gestão de Pessoas. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2000. Negociação Maria Eugênia Costa “Vivemos um destes raros momentos em que, a partir de uma nova con- figuração técnica, quer dizer, de uma nova relação com o cosmos, um novo estilo de humanidade é inventado” (LEVY apud TARAPANOFF, 2001, p. 36). Estamos vivendo uma nova era, a era do conhecimento e inteligência competitiva. Esse fator tem sido determinante para mudanças significati- vas em termos dos paradigmas que regem as relações humanas, a dinâmica organizacional/empresarial, as relações de trabalho e sociais, exigindo dos líderes e gestores uma atenção especial com relação às habilidades que pre- cisam desenvolver para enfrentar tais desafios. Neste capítulo vamos dedicar nosso esforço no sentido de entender o cenário da globalização e seus impactos no processo de negociação, com a utilização cada vez mais intensa de tecnologia da informação, do comparti- lhamento de informações, cada dia mais incentivado, e a necessidade indis- cutível de adoção de soluções e práticas inovadoras para sermos competiti- vos no mercado global. Vamos também explorar os fundamentos da negociação, apresentando diferentes abordagens desse processo, qual o papel da inteligência emocio- nal e sua importância para o processo, e os tipos de negociação que podem nos levar a resultados mais adequados para ambas as partes do processo ne- gocial. Na última parte estarão descritos os principais estilos de negociação, suas características, potencialidades e peculiaridades. Globalização e negociação Vivemos atualmente a sociedade da informação que, de acordo com Ta- rapanoff (2001, p. 51), “representa uma profunda mudança na organização da sociedade e da economia. É um fenômeno global, com elevado potencial transformador das atividades econômicas e sociais”. Esse processo expandiu-se a partir dos novos paradigmas advindos da glo- balização1, que apresenta aspectos peculiares, destacados no quadro a seguir: 1 Globalização é o con- junto de transformações na ordem política e eco- nômica mundial que vem acontecendo nas últimas décadas. O ponto central da mudança é a integra- ção dos mercados numa “aldeia global”, explorada pelas grandes corpora- ções internacionais (CO- LEGIOWEB, 2010). 170 Negociação Quadro 1 – Características da globalização Globalização Reorganiza o sistema político e econômico internacional.1. Aprofunda a internacionalização da produção.2. Estimula a recomposição do sistema produtivo.3. Torna móveis o capital e a tecnologia.4. Alterna a qualidade e as modalidades dos fluxos financeiros e tecnológicos.5. Alterna o fator trabalho e as condições de emprego.6. Do ponto de vista teórico, a gestão da informação e do conhecimento, bem como a inteligência competitiva, constituem uma nova metodologia, uma nova abordagem para nortear o processo de planejamento e adminis- tração estratégica das organizações e sua tomada de decisão. No atual am- biente de negócios globalizados, de acordo com Lopes (2009, p. 17) “o nego- ciador precisa atuar como representante de outras culturas e é necessário o desenvolvimento de algumas habilidades específicas.” A negociação envolve tomada de decisão e todo o processo é influencia- do pelo ambiente no qual estamos inseridos, por exemplo, as características das diferentes culturas, nossos princípios morais, o estado emocional dos en- volvidos e o nível de informação que cada parte tem. Nesse cenário surge a figura do negociador global, que precisa desen- volver habilidades interpessoais como a inteligência cultural2, a capacida- de de trabalhar em equipe e em redes virtuais, gerir conflitos, comunicar- -se de forma adequada e assertiva, bem como observar a linguagem corporal dos atores do processo de negociação. Por exemplo, o povo japo- nês não fica confortável com o contato físico, que deve, consequentemen- te, ser evitado. Logo, de acordo com Lopes e Stoeckicht (2009, p. 18), o negociador global deve saber analisar os diversos cenários da negociação e o perfil dos negociadores, seus estilos gerenciais, de negociação e do processo decisório e ainda os preceitos éticos e morais predominantes em determinada cultura, região ou país. (T A RA PA N O FF , 2 00 1) 2 Capacidade de interagir com pessoas de diferen- tes culturas, respeitando e observando suas carac- terísticas peculiares. Negociação 171 Fundamentos e conceitos da negociação Afinal, o que é negociar? Vamos apresentar agora algumas definições sobre o que é negociação e suas características. Segundo Cohen (2008), ocorrem situações no dia a dia em que as pessoas precisam tomar decisões ou desejam fazer um acordo com outras. Se, por acaso, todos concordam e chegam a um denominador comum, o ciclo está encerrado. Porém, se pelo menos um dos atores envolvidos discorda, surge então a necessidade de se buscar um entendimento. Damos o nome de ne- gociação a esse processo de tomada de decisão coletiva. Cohen (2008, p. 8) defende que as negociações são bem-sucedidas quando as partes chegam a um acordo e se sentem comprometidas a cumpri-lo. A imparcialidade e a justiça são fatores imprescindíveis nesse processo, resultando em um acordo satisfatório e duradouro, pressupondo o princípio da cooperação de todos os envolvidos. Já Miranda (2009, p. 9) diz que a negociação é um processo social básico, utilizado para resolver conflitos, toda vez que não existam regras, tradições, fórmulas, métodos racionais ou o poder de uma autoridade superior. Ao optar pela negociação, as pessoas preferem evitar: Uma batalha em que um dos lados leva a pior; � A ruptura de um relacionamento; � Ou uma guerra total. � De acordo com Cohen (2008, p. 9) existem três conceitos básicos de negociação: É um processo de tomada de decisão em conjunto � : uma negociação é bem-sucedida quando as partes se empenham em cumprir o acordo. O respeito ao direito de cada um é o fator determinante. Não é obedecer nem competir � : ou seja, uma determinação de um chefe ou de um juiz não caracteriza uma negociação. Uma disputa cujo objetivo é derrotar ou destruir a outra parte também não é ne- gociação. 172 Negociação Pode ser de confronto ou de cooperação � : uma negociação é consi- derada de confronto quando a meta é vencer em todos os quesitos, e de cooperação quando há um empenho para que todos saiam vence- dores – essa é a negociação baseada em interesses. Fundamentos No nosso dia a dia estamos sempre negociando. Pense em quantas vezes você negocia alguma coisa com alguém, ou na verdade, quantas vezes você não negocia com alguém? Assim, observe que muitas ou poucas vezes você está negociando com alguém, alguma coisa. Podem ser coisas relevantes ou sobre aspectos rotineiros, pode ser sobre sua carreira, sua vida pessoal, desejos ou sonhos ou metas mais realistas. O que importa agora é chamar sua atenção para o fato de estar preparado para essa dinâmica com a qual convivemos a cada momento. Vamos abordar agora alguns princípios básicos, os mais relevantes funda- mentos envolvidos no processo de negociação, que servem tanto para a sua vida pessoal quanto para seu ambiente de trabalho. Uma negociação bem-sucedida é um processo em que as partes correm atrás de seus interesses até chegarem a um acordo que atenda, tanto quanto possível, aquilo que é importante para cada um. No caso das pessoas não ficarem satisfeitas com os resultados, nem com o processo em si, muito pro- vavelmente não vão cumprir o que ficou acordado. De acordocom Chér3 (p. XI apud PEELING, 2009) você deve começar o processo de uma maneira solitária e refletindo sobre os seguintes aspectos: “Quais os valores pessoais que vão nortear a negociação?” � “Quais são seus objetivos na negociação?” � “Quais os seus limites? Quais limites você não poderá passar?” � “Em que medida seus objetivos estarão alinhados aos seus propósitos � de negociação?” Como o conteúdo e a forma do que for negociado afetarão os demais � ao seu redor? Sabemos que não é uma tarefa fácil e nem sempre começamos uma ne- gociação fazendo essas reflexões, pois achamos que temos isso tudo muito 3 Rogério Chér: professor, escritor e vice-presidente de operações da DBM para a América Latina. Negociação 173 claro na nossa cabeça. Porém, a prática tem mostrado que as pessoas que dão especial atenção a esses cinco aspectos entram no processo de nego- ciação muito mais preparadas do que os que não se preocupam em fazer tal reflexão. Além disso, é preciso que sejam examinados vários aspectos do processo de negociação, entre os quais os tipos de negociação, suas fases e as carac- terísticas necessárias ao negociador. Objetivos envolvidos em uma negociação Em qualquer negociação existem objetivos tangíveis e intangíveis a serem alcançados. Entre os objetivos tangíveis estão dinheiro, bens mate- riais (mercadorias e produtos) e patrimônio (propriedades e equipamen- tos) e, como objetivos intangíveis, temos sucesso, posição social, segu- rança, respeito e estabilidade representados por um estado de satisfação (MIRANDA, 2009). Tipos básicos de negociação Segundo Miranda (2009), existem basicamente dois tipos de negociação: Únicas � : que não devem se repetir. Duradouras � : que se repetem várias vezes. No primeiro tipo de negociação está presente, principalmente, a compe- tição que se caracteriza pelo relacionamento indiferente, em que se busca apenas tirar proveito e vantagens. Quando alguém vence esse tipo de negociação, com base apenas no princípio da competição, o resultado é um enorme desgaste entre as partes e possibilidade de encerramento de novas negociações. Da mesma forma, se alguém perde completamente, porque cedeu ou fez grandes concessões, cria-se enorme sentimento de frustração e a determinação de não voltar a negociar. No segundo tipo, além da competição, importa muito a cooperação entre as partes, tendo em vista que ambas precisam sentir-se satisfeitas tanto com o processo como, também, com seus resultados a longo prazo, de forma que os canais de comunicação e as oportunidades futuras fiquem disponíveis. 174 Negociação Qualquer negociação é basicamente troca, não é concessão, nem tomada de posse e nada deve ser dado de graça. Só existe verdadeira negociação quando as duas partes têm o mesmo poder de veto a uma exigência que vai absolutamente contra seus direitos. Se uma das partes não tem esse poder, não se trata de uma autêntica negociação. Na mesma linha de pensamento, Cohen (2008) argumenta que as nego- ciações podem apresentar características de confronto ou de cooperação, que estão diretamente relacionadas com as pessoas que participam do processo. As pessoas com espírito de enfrentamento e que querem vencer todas as disputas podem algumas vezes sair vencedoras, mas é possível que a outra parte não queira voltar a negociar com elas, o que pode trazer prejuízos para a empresa ou grupo que representam. Do outro lado, quem possui um espírito cooperativo compreende que a negociação é uma ferramenta que facilita a obtenção de resultados vantajo- sos para todos. A adoção de práticas colaborativas leva a um modelo conhe- cido como ganha-ganha, onde os dois lados ganham e a satisfação com os resultados é maior. Sete pilares da arte de negociar No sentido de se obter negociações cooperativas, Cohen (2008) relaciona sete pilares que devem ser considerados para uma boa negociação: Relacionamento � – a construção de bons relacionamentos pode in- fluenciar de maneira significativa a forma de negociar, principalmente se as negociações tendem a se repetir de tempos em tempos. Interesses � – cada parte deve se esforçar para obter o acordo mais fa- vorável para si, mas sem querer ganhar de qualquer forma, na perspec- tiva ganha-perde. Melhor alternativa a um acordo negociado � – é preciso ter plena compreensão de qual é sua melhor alternativa, para avaliar o que vale a pena negociar e com quem. Criatividade � – considera o quanto uma abordagem criativa pode atender aos interesses de todas as partes. Diante de negociadores ca- tegóricos ou hostis usar soluções criativas pode ser uma prioridade. Negociação 175 Justiça � – é fundamental que as partes considerem justo o que foi negociado, de forma a se sentirem comprometidas com qualquer acordo. Compromisso � – uma negociação só pode ser considerada bem-suce- dida se resultar em um acordo em que as partes se sintam comprome- tidas e motivadas para a execução das ações necessárias. Comunicação � – a informação é o elemento fundamental de uma ne- gociação e depende de um processo eficiente de comunicação entre as partes. Esses sete pilares apóiam-se fundamentalmente na preparação e noutros três pontos importantes: Visão geral, mas sem esquecer dos detalhes.a) Uso de estratégicas criativas.b) Avaliação da imparcialidade em relação ao ponto de vista dos outros.c) Fases do processo de negociação Ainda de acordo com Miranda (2009), qualquer negociação, para que seja bem-sucedida, precisa passar por três fases: análise, planejamento e discussão. Na fase de análise devem ser considerados o motivo da negociação, os objetivos que se pretende alcançar, quem é o oponente e onde ocorrerá a negociação. No planejamento devem ser selecionadas as táticas que serão utilizadas, se a negociação será individual ou em equipe, bem como o limite mínimo e máximo que se pretende alcançar. Na fase de discussão ocorre a concretização das fases anteriores e o ne- gociador precisa estar atento à forma como ocorre a abertura e a condução do processo, que são determinantes para o sucesso das negociações. Além disso, deve manter o controle emocional e se reposicionar quando neces- sário. Finalmente, é importante ficar atento às conclusões das negociações e assumir o compromisso de implementar os acordos que forem eventual- mente fechados. 176 Negociação Fernandes (2001) detalha o processo de negociação em um maior número de fases, dando ênfase ao momento em que ocorre a negociação propria- mente dita. Preparaçãoa) : refere-se ao levantamento de informações sobre a outra parte de forma a conhecer bem o terreno em que irá pisar. Nessa fase, devem ser relacionados objetivos ideais reais (o máximo e o mínimo) a serem alcançados durante a negociação, bem como as concessões que poderão ser feitas e um plano alternativo a ser usado como solu- ção honrosa para o caso de eventuais conflitos e impasses. Aberturab) : momento em que deve ser criado um clima propício para a negociação, evitando ir direto para o assunto principal do encontro. Exploraçãoc) : após a criação de um ambiente favorável, a preocupação deve ser a descoberta das necessidades e expectativas da outra parte, colocando-se numa postura de bom ouvinte. Apresentaçãod) : a partir das informações recebidas, expor a propos- ta e fazer a descrição dos produtos, serviços ou ideias, mostrando os pontos mais importantes relacionando com as expectativas do cliente. Apresentar, sem rodeios, as soluções e os benefícios que sua proposta pode trazer. Clarificaçãoe) : nessa fase devem ser retiradas todas as dúvidas que por- ventura ainda existam após a apresentação. Concessõesf ) : se necessário, fazer concessões dentro do plano alterna- tivo formulado anteriormente. Ação finalg) : o eventual fechamento de negócio não deve parecer algo forçado, observe sinais efetivos de aceitação a sua proposta e come- more elegantemente. Controle e avaliaçãoh) : envolve as atividades a serem desenvolvidas pós-negociação,sem a presença da outra parte. Nessa fase devem ser tomadas medidas para manter o que foi acordado em termos de custo, prazos e demais condições, ações fundamentais para existência de fu- turas negociações e criação de reputação de seriedade no mercado. Vamos a seguir tratar de um tema que pode contribuir significativamente para uma negociação eficaz e que está relacionado às dimensões emocio- nais e sociais do ser humano. Negociação 177 Inteligências emocional e social A inteligência emocional Um dos principais facilitadores de um processo de negociação, de acordo com Fernandes (2001), é o relacionamento interpessoal, a reserva emocio- nal, o equilíbrio, empatia e o controle emocional. Cohen (2008) também alerta que uma negociação pode transformar-se numa discussão e com fortes tons emocionais. Um elemento da prepara- ção de uma boa negociação pode ser uma autorreflexão sobre que tópicos podem causar impactos emocionais nos atores da negociação e se preparar para enfrentá-los. Watkins (2009, p. 140) dedica um capítulo todo de sua obra sobre nego- ciação para os relacionamentos. Para esse autor, os relacionamentos agre- gam valor às negociações e demandam atenção constante. Ele chama aten- ção para três aspectos: A previsão de transações futuras, de valor real1. – pecar por excesso de cobiça, hoje, implicaria risco de perder essas transações valiosas. Espera-se reciprocidade por parte do outro lado2. – damos um pou- co (não ofertamos muita coisa, damos pouca abertura e cedemos pou- co), nessa transação a expectativa é de que a outra parte nos ajude no futuro. Um bom relacionamento cria confiança3. – a confiança reduz o custo de se monitorar o cumprimento do acordo nos mínimos detalhes. As emoções em situações do dia a dia Quem de nós não tem um exemplo real de situação em que as emoções “falaram mais alto” e tiveram impacto forte nos relacionamentos pessoais e profissionais? Pessoas que mudam a postura no atendimento ao público em função de simpatias; professores que mudam a avaliação em função de gostar ou não do aluno, chefes que favorecem ou prejudicam avaliação de desempenho por conta de afinidades. 178 Negociação Isso quer dizer que as emoções são más? Não. Elas fazem parte das nossas vidas e viver sem emoção é como morrer. O que estamos focalizando aqui é a inteligência emocional como uma capacidade que pode ser desenvolvida e educada. Segundo Goleman et al. (2002), a inteligência emocional é composta de quatro domínios: Autoconsciência � : como cada um reconhece e compreende suas emo- ções. Autogestão � : como cada um administra suas emoções. Consciência social � : principalmente a empatia – permite que se esta- beleça a ressonância, a sintonia com o outro. Administração de relacionamentos � : orienta o tom das relações den- tro do grupo. Portanto, a inteligência emocional compreende a nossa capacidade de administrar, em primeiro lugar, as nossas próprias emoções. É muito comum jogarmos a culpa em alguém quando uma negociação não dá certo. “Fulano é muito difícil de lidar”. O convite aqui é para cada um voltar-se para si e ana- lisar seu próprio comportamento e suas reações. Um aspecto positivo é que podemos desenvolver nossa inteligência emocional, planejando e orientando as nossas reações. A nossa cultura oci- dental sempre valorizou muito os aspectos racionais do ser humano – o QI (Quociente de Inteligência) avaliado através de uma vasta gama de testes. A Inteligência Emocional (ou também conhecido por Quociente Emocional – QE) só recentemente foi alvo de atenção, com muitos estudos desenvolvi- dos, destacando a sua importância no processo de negociação. A inteligência social “Fomos programados para nos conectar” (GOLEMAN, 2006, p. 4) O conceito de inteligência emocional está relacionado com as emoções que estão dentro das pessoas e como elas têm consciência e administram essas emoções. Inteligência social trata da relação entre as pessoas, isto é, das conexões que elas estabelecem. Além disso, como essas conexões im- Negociação 179 pactam as pessoas. É de suma importância compreendê-las no âmbito das negociações. Uma boa conexão com o outro provoca sensações agradáveis e disposição para partilhar e construir juntos. Uma conexão negativa provo- ca reação contrária e afastamento. Goleman (2006, p. 98), apresenta uma cartografia da inteligência social que compreende duas categorias básicas: a consciência social e a facilidade social. A consciência social por sua vez inclui três aspectos:1. Empatia primordial. � Sintonia. � Cognição social. � Observa-se que esses três aspectos abordam a capacidade de compreen- der e fazer leituras do meio social. Facilidade social que envolve quatro características:2. Sincronia. � Apresentação pessoal. � Influência. � Preocupação. � É possível perceber que essas características estão relacionadas à quali- dade das interações, pois não é suficiente perceber, é preciso manifestar-se, apresentar-se de forma verbal e não verbal nas negociações. Em suma, um negociador competente tem desenvolvidas tanto sua in- teligência emocional, na medida em que não se deixa levar pelas emoções num processo de negociação, assim como é capaz de fazer leituras rápidas do ambiente e selecionar a melhor maneira de se apresentar (inteligência social). Devemos lembrar também que cada indivíduo pode escolher a aborda- gem de negociação mais coerente com o seu estilo de atuação – é o que veremos a seguir. 180 Negociação Estilos de negociação Quando estudamos os estilos de negociação, devemos considerar tanto as negociações pessoais quanto as negociações profissionais, que podem ser diferentes no que se refere aos objetivos a serem alcançados, mas se as- semelham quanto à dinâmica do processo. Principais facilitadores do processo de negociação Segundo Fernandes (2001), algumas características no comportamento do negociador podem facilitar o processo de negociação: Relacionamento interpessoala) : o negociador dever ser capaz de escu- tar e de apresentar de forma clara suas intenções. Conhecimentob) : o negociador precisa conhecer o que pretende nego- ciar, obtendo a maior quantidade possível de informações acerca do objeto da negociação, além dos potenciais benefícios para o cliente. Reserva emocional e equilíbrioc) : o bom negociador precisa admi- nistrar suas reservas emocionais, procurando revelar suas forças e ao mesmo tempo administrar suas fraquezas. Empatiad) : capacidade de colocar-se no lugar do outro, de conhecer a outra parte e suas necessidades. Base em fatose) : o bom negociador deve ser claro e eficaz na apresenta- ção dos seus argumentos, sem uma visão apenas unilateral. Controle emocionalf ) : é fundamental que haja controle emocional du- rante o processo de negociação, com respeito mútuo entre as partes. Clima favorávelg) : a argumentação deve ser atraente, de forma a sen- sibilizar a outra parte e demonstrar boa intenção em fazer concessões para superar impasses. Características do negociador ideal Para Miranda (2009), os bons resultados nos processos de negociação estão diretamente relacionados às características dos participantes, entre as quais: Negociação 181 Postura adequadaa) : tanto em relação ao ambiente quanto às pessoas que participarão das negociações, incluindo, entre outros aspectos, vestimenta e linguagem apropriadas. Gosto pelo planejamentob) : o sucesso em uma negociação depende basicamente do planejamento efetuado, quando se deve examinar o oponente, o produto a ser negociado, as condições de mercado etc. Criatividadec) : apesar de existir um planejamento antecipado das reu- niões, o bom negociador deve ser flexível para se adaptar a novas si- tuações. Orientação por metasd) : quando se negocia, é importante que se de- termine com antecedência o que se busca conseguir e qual o limite mínimo e máximo entre os quais se tem margem de negociação. Atributos de ator/atrize) : muitas vezes o negociador precisa agir ou demonstrarsentimentos que não são reais, mas são necessários para impressionar seu interlocutor. Bom humorf ) : muitas vezes é necessário para aliviar tensões comuns nos ambientes de negociação, sem derivar em brincadeiras inadequa- das ao ambiente. Autoestimag) : o negociador precisa estar consciente dos seus conhecimen- tos e da sua autoridade nas negociações de forma a conseguir se portar cor- retamente junto aos seus interlocutores, mesmo em situações adversas. Capacidade de atuar em condições de incertezah) : na maioria das ve- zes muitas das condições presentes no processo de negociação são desconhecidas, portanto o negociador precisa ser capaz de se adaptar a fatos novos e, se for o caso, deles tirar proveito. Estilos de negociação – conceitos e comportamentos No quadro a seguir apresentamos uma matriz que integra estilos e seus conceitos e descreve o escopo de comportamentos que variam de típicos, característicos e adequados ao estilo apresentado e comportamentos extre- mos que se manifestam quando o negociador extrapola os limites suportá- veis pelo estilo, pecando pelo excesso. 182 Negociação Quadro 2 – Estilos de negociação Estilos Conceitos Comportamentos típicos Comportamentos extremos Persuasão Levar os outros a aceitar sua ideia. Fazer propostas e sugestões: argumentar, raciocinar e justi- ficar. Dispersão: propostas apresentadas e não de- fendidas; argumentos suscetíveis em levar as propostas tangíveis. Afirmação Impor e julgar o outro. Fazer conhecer exigências e normas: expor seu ponto de vista e seus desejos, avaliar os outros e a si mesmo, punir, re- compensar e conceder. Tirania: excesso de pres- são sem manifestação clara de expectativas; uso indiscriminado do poder de posição. Ligação Compreender o quadro de referência do outro. Encorajar a participação do ou- tro: procurar pontos de acordo, escutar sem ser empático. Indecisão: apoiar ou es- cutar o outro com um fim em si mesmo; refor- mulações constantes de propostas. Atração Abrir-se ao outro procurando envolvê-lo. Influenciar o outro pelo seu próprio comportamento: se- duzir, motivar, elevar o moral, partilhar informações e reco- nhecer os próprios erros. Falsidade: reconhecer falhas e dúvidas inexis- tentes; uso excessivo do poder pessoal. Erros críticos que reduzem a eficiência do negociador Para Sparks (1992) o negociador precisa estar atento quanto à sua atuação, pois alguns erros podem comprometer o processo de negociação, seja ele de caráter pessoal ou profissional. Esses erros estão relacionados a três categorias: Erro de perspectivaa) : quando existe uma confiança em excesso nos resultados a curto prazo. As ações e as propostas são feitas sem preo- cupação com as implicações futuras. Neste caso o negociador está so- mente pensando no aqui e agora, sem se preocupar com os impactos que suas ações podem ter nas negociações futuras. Se o negociador é experiente, não cometerá esse erro. Vai buscar o equilíbrio entre as negociações feitas agora e como elas podem in- fluenciar as negociações futuras. (F ER N A N D ES , 2 00 1) Negociação 183 Erro de compreensãob) : quando não se identificam diferenças impor- tantes entre as agendas das partes. Um planejamento adequado ajuda a eliminar ou reduzir esses erros. Erro de utilidadec) : envolve uma avaliação indevida de valor do que está sendo negociado, destacando que, em geral, a avaliação da im- portância pelo interlocutor é uma avaliação para baixo. Sparks (1992) considera que nas negociações ambas as partes têm infor- mações que podem ser: Completas sobre a outra parte em algumas áreas. � Incompletas sobre a outra parte em algumas áreas. � Compartilhadas com a outra parte. � Quando a informação é incompleta, o negociador precisa fazer ava- liações, principalmente durante a fase de preparação, buscando reduzir o número de incógnitas ou se preparar para negociar mesmo com a ausência de algumas informações. Estilos de negociador O estilo do negociador é um elemento crítico em toda negociação. Para Christopher (1996) existem cinco estilos que estão diretamente relacionados com as características de cada pessoa: Inovadora) : capta as ideias importantes do grupo, amplia percepção das pessoas sobre o problema. Separa as pessoas do problema, abstém-se de atacar os pontos de vista dos outros. Encoraja o outro lado a fazer sugestões. Concentra-se em interesses mútuos, não em pontos de vis- tas individuais, evitando resultados fixos. Procura ganhos de todas as partes envolvidas. Comunicadorb) : não mergulha diretamente na negociação, espera um pouco para uma atmosfera de confiança, hospitalidade e sociabilida- de. Busca construir um relacionamento produtivo. Reconhece que a negociação é um relacionamento entre partes em que cada um deve ver os pontos de vista dos outros. 184 Negociação Processadorc) : planeja a negociação, descobre o máximo possível so- bre o outro lado. Tenta antecipar as objeções e estratégias do outro lado, explora as possíveis concessões. Estabelece uma agenda e nego- cia por objetivos. Resiste a pressões do tempo. Concentra-se em fatos, cita precedentes, utiliza estatísticas. Define limites, prende-se a agen- da, evita o envolvimento pessoal. Ativadord) : é metódico e eficiente, expressando-se sempre com clare- za; vai direto ao assunto. Faz perguntas para obter mais informações e explicações. Ouve com atenção, observando falhas de comunicação. Pensa com os pés no chão, por isso é rápido em vislumbrar alterna- tivas. Está preparado para ceder em questões menores em troca de acordos em outras questões maiores. Estilos de interlocutor O negociador, além de necessitar de uma preparação pessoal para entrar em um processo de negociação, precisa colher informações sobre o perfil e características dos interlocutores com quem terá de negociar. Sparks (1992, p. 156) identifica quatro tipos diferentes de interlocutores: Restritivo1. : supõe que o negociador será forçado a chegar a um acor- do. Eles não são cooperativos e o único resultado que aceitam é a ob- tenção de ganho ou de um “beco sem saída”. Ardiloso2. : supõe que o negociador deve ser evitado ou mantido a dis- tância. É inútil tentar negociar ao nível pessoal, sendo melhor concen- trar-se nos procedimentos e regras. O objetivo dominante desse estilo é sobreviver à negociação, o segundo é manter o status e o terceiro é chegar a qualquer resultado. Amigável3. : supõe que negociadores, em geral, são cooperativos e até simpáticos. O objetivo principal é manter o relacionamento com o ne- gociador, independente do fato de alguma conquista substancial ser atingida ou não. Confrontador4. : supõe que o negociador procura a equidade. Aprecia a necessidade de contestar as questões, enquanto trabalha para chegar a um acordo sólido. O objetivo desse estilo é fechar o melhor acordo diante das circunstâncias. Negociação 185 Em suma, o negociador precisa também conhecer e estar atento ao estilo de negociação do seu interlocutor para desenvolver e implementar uma es- tratégia efetiva de negociação. Ampliando seus conhecimentos Entrevista de Daniel Goleman (EDITORA OBJETIVA, 2010) Nesta entrevista, Goleman explica o que, afinal, é inteligência emocional, sua importância na vida das pessoas e das empresas e como desenvolvê-la de forma a maximizar todo o potencial latente ao ser humano. O conceito está transformando a área de consultoria comportamental no meio empresarial, mas as opiniões divergem. Alguns afirmam que a tese sobre a Inteligência Emocional revoluciona o comportamento pessoal, social e profissional. Outros acreditam que não passa de mais um modismo, assim como foi a Reengenharia. O fato é que o livro Inteligência Emocional, lançado no Brasil pela Editora Objetiva, provocou amplas discussões e está reunindo muitos discípulos. O conceito de que QI não garante sucesso, não é hereditário e que o autocontro- le sobre as emoções faz a diferença entre crescer ou estagnar na vida vem de encontroàs incertezas pelas quais passa o profissional deste fim de milênio. Ser Humano – O lançamento do livro Inteligência Emocional provoca polê- mica e grandes discussões em todo o mundo. No caso específico de Recursos Humanos, a sua tese tem inspirado a tantos consultores a elaborar programas de qualidade emocional dentro das empresas. Como o senhor vê esse tipo de abordagem e que benefícios ela pode trazer ao ambiente de trabalho? Daniel Goleman – Fiquei orgulhoso em ver a repercussão do meu livro no Brasil, no qual procurei enfocar a comunidade por meio dos níveis de in- teligência emocional em uma empresa. Há meios para se desenvolver o QE dos funcionários: fotos e publicações motivam a performance gradativa nos termos de promover qualificações, treinar pessoal, improvisar nas áreas em que atuam e possam fortalecer suas atitudes. Talvez o mais importante seja di- recionar tais ações para os altos líderes das empresas desenvolverem seu QE. 186 Negociação SH – Existe uma maneira de explicar, em poucas linhas, o que é inteligên- cia emocional e qual a sua diferença com a inteligência dita racional? Goleman – A inteligência emocional caracteriza a maneira como as pes- soas lidam com suas emoções e com as das pessoas ao seu redor. Isso implica autoconsciência, motivação, persistência, empatia e entendimento e caracte- rísticas sociais como persuasão, cooperação, negociações e liderança. SH – Os altos investimentos dirigidos às pesquisas genéticas para a forma- ção de um super-homem, baseado nos melhores genes paternos, estão sendo desperdiçados, já que o senhor afirma que a inteligência não é hereditária? Goleman – Inteligência emocional não é genética: essas habilidades são aprendidas mais do que inseridas. De certa forma, podemos dizer que possuí- mos duas mentes, consequentemente, dois tipos diferentes de inteligência: racional e emocional. Nossa performance na vida é determinada não apenas pelo QI, mas principalmente pela inteligência emocional. Defendo que não devemos sobrepor a razão à emoção, mas ao contrário, devemos buscar um equilíbrio entre ambas. SH – Que aspectos envolvem a busca desse equilíbrio? Goleman – Conseguir esse objetivo implica, primeiro, entender com exatidão o que significa usar inteligentemente a emoção. A formação acadêmica não ofe- rece praticamente nenhum preparo para as tempestades ou oportunidades que a vida impõe. Apesar de um alto QI não ser garantia de prosperidade, prestígio ou felicidade, nossas escolas e cultura concentram-se na capacidade acadêmica, ignorando o desenvolvimento da inteligência emocional. As emoções são um campo com o qual podemos lidar, da mesma forma como matemática ou física, com maior ou menor talento, e exige seu conjunto exclusivo de aptidões. SH – De que maneira uma pessoa pode desenvolver a sua inteligência emocional para melhorar o seu desempenho em todas as áreas de sua vida? Goleman – A inteligência emocional pode ser alcançada por meio de treino e esforço, mas isso requer persistência. As pessoas têm de identificar exatamente o que querem alcançar – sendo um melhor ouvinte ou controlan- do seu temperamento nervoso. SH – E, especificamente, de que forma a inteligência emocional atua no desempenho profissional? Negociação 187 Goleman – Para performances profissionais, a competência da inteligência emocional deve ser utilizada desde o início da carreira. Muitos indícios ates- tam que as pessoas emocionalmente competentes – que conhecem e lidam bem com os próprios sentimentos e com o de outras pessoas – levam vanta- gem em qualquer campo da vida, assimilando as regras tácitas que governam o sucesso na política organizacional. SH – Um gestor de Recursos Humanos, que lida diretamente com pesso- as, pode utilizar-se da sua própria inteligência emocional para desenvolver outros indivíduos? Goleman – Ao contrário dos testes conhecidos de QI, não há ainda nenhum questionário eficiente que produza uma contagem de inteligência emocional e talvez jamais venha a haver. Por isso, os profissionais de Recursos Huma- nos devem usar sua própria inteligência emocional para realizar bem seus trabalhos. SH – Quais as diferenças comportamentais básicas entre um indivíduo que tem alto QI e outro de elevado QE? Goleman – Pessoas com QI alto, mas modesto ou baixo QE, tendem a ser altamente efetivas em domínios racionais, mas em suas próprias vidas e na vida social são insensíveis, arrogantes e inaptos em seus relacionamentos. Pessoas com alto QE, mas QI regular, tendem a ser leais e confiáveis, com inte- gridade e empatia, persistentes, conscientes e queridas pelas pessoas. SH – Qual o perfil de um homem com alto QI e um com alto QE? Goleman – O homem de alto QI é ambicioso e produtivo, previsível, inibi- do e pouco à vontade com a sua sexualidade, ou seja, emocionalmente frio. Em contraste, os homens de alta inteligência emocional são socialmente equi- librados, comunicativos e animados, não alimentam receios ou preocupações. Têm uma notável capacidade de assumir responsabilidades e ter uma visão ética; são solidários e atenciosos em seus relacionamentos. SH – Quais as características de mulheres com QI elevado e inteligência emocional altamente desenvolvida? Goleman – As mulheres de alto QI são fluentes na expressão de suas ideias, valorizam o intelecto e o senso estético, mas tendem a ser introspectivas, in- clinadas à ansiedade e à culpa, e raramente têm explosões de raiva. São come- 188 Negociação didas nesse aspecto. As mulheres emocionalmente inteligentes, ao contrário, sentem-se positivas em relação a si mesmas. Como os homens, são comuni- cativas e gregárias; adaptam-se bem à tensão. Sentem-se suficientemente à vontade consigo mesmas para serem espontâneas e raramente sentem ansie- dade ou culpa. É óbvio que esses perfis são extremos, pois todos os indivíduos possuem QI e inteligência emocional em graus variados. SH – Como essas diferenças influem nas ações de um líder, por exemplo? Goleman – A chave para a liderança está nos domínios do QE, não do QI. Liderança requer habilidades para persuadir e inspirar, enfatizar e articular sentimentos. SH – Inteligência emocional e intelectual podem ser desenvolvidas simultaneamente? Goleman – O QI e a inteligência emocional não são capacidades opostas, mas distintas. Todos os seres humanos compatibilizam perspicácia intelectual e emocional. Pessoas de alto QI e baixa inteligência emocional, e vice-versa, são re- lativamente raras. Na verdade, há uma ligeira correlação entre intelecto e aspec- tos da inteligência emocional. Embora essa correlação seja bastante pequena para deixar claro que se tratam de duas capacidades bastante independentes. SH – Os próximos dez anos parecem reservar transformações mais velozes e profundas do que as ocorridas nos últimos 30 anos, tanto nas áreas sociais, econômicas e administrativas, quanto nas culturais, comportamentais e cien- tíficas. O senhor acredita que o reconhecimento da inteligência emocional faz parte dessas revoluções ou ele será responsável por tais mudanças? Goleman – O conceito de inteligência emocional descreve as competên- cias das pessoas que precisam lidar e se adaptar às extraordinárias mudanças que ocorrerão nas próximas décadas. [...] Tomada de decisão pessoal: examinar suas ações e conhecer as conse- quências delas; saber se uma decisão está sendo governada por pensamen- to ou sentimento. Lidar com sentimentos: monitorar a “conversa consigo mesmo” para sur- preender mensagens negativas como repreensões internas; compreender o Negociação 189 que está por trás de um sentimento; encontrar meios de lidar com medos e ansiedades, ira e tristeza. Lidar com tensão: aprender o valor de exercícios e métodos de relaxamento. Autorrevelação: valorizar a franqueza e construir confiança num relacio- namento; saber quando é seguro arriscar-se a falar de seus sentimentos. Intuição: identificar padrões em sua vida e reações emocionais; reconhe- cer padrões semelhantes nosoutros. Autoaceitação: sentir orgulho e ver-se numa luz positiva; reconhecer suas forças e fraquezas; ser capaz de rir de si mesmo. Responsabilidade pessoal: assumir responsabilidade; reconhecer as con- sequências de suas decisões e ações; aceitar seus sentimentos e estados de espírito; ir até o fim nos compromissos. Assertividade: declarar suas preocupações e sentimentos sem ira nem passividade. Atividades de aplicação 1. Leia o texto a seguir que se refere a uma negociação entre quatro pes- soas e identifique o perfil de cada um: Inovador – I Comunicador – C Processador – P Ativador – A Cenário: quatro componentes de uma equipe da área de comunicação de uma empresa estão conversando para tomar decisões referentes à cam- panha de lançamento de um canal de TV interno. MARIANA – Como vocês já sabem, estamos aqui reunidos para conver- sarmos e decidirmos alguns aspectos da nossa campanha de lançamento do canal de TV da empresa. Todos já sabem o dia do lançamento? Por que a em- presa decidiu lançar este canal? Estou preocupada com os prazos que temos. 190 Negociação JÚLIO – Sim, tomei conhecimento desde o início e não penso em outra coisa. Entendo que precisamos nos organizar, definir quem vai fazer o que, qual o prazo que temos? Já foi marcado o dia do lançamento? AMÂNCIO – Creio que o mais importante agora é a gente escutar as ideias de cada um. Tivemos várias campanhas que foram um sucesso e tudo foi conseguido devido ao trabalho e empenho das equipes. Anita mesmo teve um papel importante e eu gostaria de escutá-la um pouco. ANITA – Antes de mais nada, gostaria que passássemos tranquilidade para a Mariana. Já trabalhamos com prazos bem mais apertados e saímos do outro lado. Eu estive na Espanha no final do ano e visitei várias agências de publicidade. Gente, eles fazem coisas maravilhosas, diferentes e penso que nós devemos ousar e tentar fazer algo que nunca fizemos antes, o que acham? 2. Primeira impressão. a) Liste pelo menos três pessoas do seu círculo social que você gosta muito. b) Procure lembrar seu primeiro contato e quais as impressões que teve. c) Relate se essas impressões se mantiveram. 3. O Teste do Estilo Pessoal de Negociação (EPN)4. De cada grupo de quatro palavras, escolha uma que lhe agrade mais. Não demore para escolher, faça o mais rápido que puder, com base em sua reação ime- diata ou intuitiva às palavras. 1. a) Resultados b) Necessidades c) Procedimentos d) Oportunidades 2. a) Conceitos b) Desempenho 4 Fonte: Técnicas de Nego- ciação. CHRISTOPHER, Eli- zabeth M. São Paulo: Clio Ltda, 1996. p. 12-13. Negociação 191 c) Planejamento d) Motivação 3. a) Inovação b) Produtividade c) Organização d) Trabalho em equipe 4. a) Criatividade b) Fatos c) Pessoas d) Objetivos 5. a) Organização b) Responsabilidade c) Possibilidades d) Comunicação 6. a) Eficiência b) Controle c) Grandes projetos d) Sentimentos 7. a) Avançar b) Testar c) Despachar 192 Negociação d) Espírito de equipe 8. a) Compreensão b) Interdependência c) Critérios d) Prioridade 9. a) Empatia b) A situação como um todo c) Cumprimento de tarefas d) Processo 10. a) Regras b) Consulta c) Divergências d) Estabelecimento de metas Pontuação 1. a) 1 b) 3 c) 2 d) 4 2. a) 4 b) 1 c) 2 d) 3 3. a) 4 b) 1 c) 2 d) 3 4. a) 4 b) 2 c) 3 d) 1 5. a) 2 b) 1 c) 4 d) 3 6. a) 1 b) 2 c) 4 d) 3 7. a) 1 b) 2 c) 4 d) 3 8. a) 3 b) 4 c) 1 d) 2 9. a) 2 b) 4 c) 1 d) 2 10. a) 2 b) 3 c) 4 d) 1 Gabarito 1. Mariana (A) – Ativador Negociação 193 Júlio (P) – Processador Amâncio (C) – Comunicador Anita (I) – Inovador 2. Verifique se sua experiência é similar a de estudos. Goleman (2006) cita um estudo realizado com estudantes universitários que no pri- meiro dia de aula fizeram contato bem curto com outro aluno (três a dez minutos) e que calcularam duas possibilidades – essa pessoa se tornaria apenas conhecida ou um amigo íntimo. Essas declarações foram registradas. Passados nove meses verificou-se que as previsões quanto ao tipo de relacionamento que teriam estavam corretas. A sua experiência validou a pesquisa? 3. Resultados De 36 a 40 pontos: sugere que seu EPN pode ser de um Inovador. De 26 a 35 pontos: sugere o estilo de negociação de um Comunicador. De 16 a 25 pontos: sugere o EPN de Processador. De 10 a 15 pontos: sugere o EPN de Ativador. Referências CHRISTOPHER, Elizabeth M. Técnicas de Negociação. São Paulo: Clio Ltda, 1996. COHEN, P. Steven. Como se Tornar um Bom Negociador. Rio de Janeiro: Sextan- te, 2008. COLEGIOWEB. Globalização. Disponível em: <www.colegioweb.com.br/ geografia/o-que-e-globalizacao>. Acesso em: 28 fev. 2010. DAMASIO, Antônio R. O Erro de Descartes. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. FERNANDES, Almir. Administração Inteligente. São Paulo: Futura, 2001. GOLEMAN, Daniel; BOYATZIS, Richard; MCKEE, Annie. O Poder da Inteligência Emocional. Rio de Janeiro: Campus, 2002. 194 Negociação GOLEMAN, Daniel. Inteligência Social: o poder das relações humanas. Rio de Ja- neiro: Elsevier, 2006. _____. Emociones Destructivas. Como compreenderlas y dominarlas. Buenos Ares: Vergara, 2007. _____. Disponível em: <www.abrae.com.br/entrevistas/entr_gol.htm>. Acesso em: 8 mar. 2010. LOPES, Sônia; STOECKICHT, Ingrid. Negociação. Rio de Janeiro: FGV, 2009. MIRANDA, Márcio. Negociando para Ganhar. São Paulo: Workshop, 2009. PEELING, Nic. Negociações Brilhantes: o que os melhores negociadores sabem, fazem, e dizem. São Paulo: Gente, 2009. SPARKS, Donald B. A Dinâmica da Negociação Efetiva: como ser bem-sucedido através de uma abordagem ganha-ganha. Sparks, Donald B. São Paulo: Nobel, 1992. TARAPANOFF, Kira (Org.) Inteligência Organizacional e Competitiva. Brasília: UnB, 2001. WATKINS, Michael. Negociação. Rio de Janeiro: Record, 2009. Conflito Isabel Stepanski Várias teorias tentam explicar o que é o conflito e suas origens. A concor- dância entre elas refere-se à afirmação de que o conflito existe desde o início da humanidade e que faz parte do processo de evolução dos seres humanos, que o conflito é necessário para o desenvolvimento e o crescimento de qual- quer sistema, seja social, político ou organizacional. Na definição de Robbins (2002, p. 373) o conflito aparece como “um pro- cesso que tem início quando uma das partes percebe que a outra parte afeta, ou pode afetar, negativamente, alguma coisa que a primeira considera importante”. Assim, para que o conflito ocorra são necessárias pelo menos duas pes- soas envolvidas, pois surge, principalmente, em função de pontos de vista diferentes sobre uma mesma questão. Os envolvidos tendem a expor suas opiniões e suas razões com o objetivo de satisfazer suas necessidades. Pode ter sua origem relacionada a uma das três dimensões: Percepção1. : existe a percepção, por um dos envolvidos, de que a ati- tude do outro não é compatível com suas necessidades, desejos ou objetivos. Sensação2. : a situação ou interação causa uma reação emocional que tem como base um sentimento de medo, tristeza, raiva ou outro qual- quer. Ação3. : as percepções e sentimentos ficam claros para os envolvidos, ou a ação de satisfazer uma necessidade interfere na satisfação das necessidades de outras pessoas. Na administração moderna o conflito tem sido definido como fonte de ideias novas, um estado de tensão capaz de gerar mudanças e obter melho- res resultados. E, portanto, não é necessariamente negativo, mas a maneira como lidamos com ele é que irá determinar suas consequências. 198 Conflito Para Montana (2005), pode ser visto como a divergência entre duas ou mais partes, ou entre duas ou mais posições, sobre qual a melhor maneira de alcançar as metas da organização. O autor classifica os conflitos em quatro diferentes tipos: Conflitos internos � : duas ou mais opiniões opostas ocorrem em um único indivíduo. Conflitos entre indivíduos � : resultado de diferençasde personalidade dos envolvidos. Conflitos entre indivíduos e grupos � : quando há discordância entre as normas de comportamento do grupo ou com os valores encontra- dos na cultura organizacional e individual. Conflitos entre grupos � : relacionados a duas situações básicas exis- tentes nas organizações. A primeira é a competição gerada pela dis- tribuição de recursos escassos e diferentes estilos de gerenciamento apresentados pelos gestores; e a segunda pode-se dizer que é inevitá- vel no ambinete organizacional. Os conflitos entre os grupos originam-se principalmente das diferenças individuais, dos recursos limitados, da diferenciação de papéis e do clima organizacional. Diferenças individuais � : estão relacionadas às diferenças fisiológicas, como idade, sexo. As diferenças psicológicas como agressividade, pas- sividade e, ainda, as diferenças sociais dos indivíduos que são poten- ciais fontes de conflitos. Recursos limitados � : a distribuição de recursos, como dinheiro, mate- rial, equipamentos e pessoal para execução de tarefas, pode gerar in- satisfação quando um grupo se acha prejudicado em relação a outro. E, a partir daí, traz consequências para a organização como sonegação de informações, absenteísmo, reações que comprometem sua eficácia e alcance de resultados. Diferenciação de papel � : no exercício de um papel organizacional há diferentes objetivos a serem alcançados e, por isso mesmo, a ocorrên- cia de divergências de opiniões sobre o melhor caminho a seguir é bastante comum. Cada representante observa a questão sob seu pon- to de vista o que, nem sempre, agrada ou atende ao objetivo do outro, tornando o conflito entre os papéis inevitável. Conflito 199 Clima organizacional � : é constituído por várias características do ambiente de trabalho, como a estrutura organizacional, a responsa- bilidade atribuída a cada papel desempenhado, o relacionamento in- terpessoal, os desafios propostos, os sistemas de punição e recompen- sa, entre outros. Esse conjunto de características gera nos envolvidos reações diversas, afetando diretamente seu comportamento junto à organização e sua reação diante de possíveis conflitos. Portanto, é possível afirmar que nenhuma organização está livre de con- flitos, ou que sofre e se beneficia com eles. Os conflitos são responsáveis por sérias ameaças à estabilidade de uma organização, mas também podem agir de maneira construtiva estimulan- do o potencial de seus colaboradores. Devem ser encarados como uma força constante e administrados de forma que possam atuar de maneira construtiva. Abordagens O conflito, de acordo com Robbins (2002), é abordado sob três visões di- ferentes: tradicional, de relações humanas e, a mais recente, interacionista. Visão tradicional � : dominante nas décadas de 1930 e 1940. O conflito era visto como resultado de falhas e disfunções nos processos e rela- cionamentos e, portanto, algo ruim que deveria ser evitado. Negação do conflito. Visão das relações humanas � : surge ao final dos anos 1940 e mantém- -se até metade da década de 1970. Considera o conflito como uma consequência natural e inevitável em qualquer grupo, não sendo con- siderado necessariamente ruim, pois pode atuar como força positiva para desempenho do grupo. Aceitação do conflito. Visão interacionista � : a mais recente abordagem, considera que o conflito, além de ser uma força positiva, é absolutamente necessário para o desempenho eficaz de um grupo. Reconhece qua as mudanças são geradas a partir da insatisfação e do desejo de melhorias e estimu- la os líderes dos grupos a manterem um nível mínimo constante de conflito, que garante a sustentabilidade, a autocrítica e a criatividade do grupo. 200 Conflito De forma mais ampliada, Rondeau (1996) propõe a abordagem dos con- flitos baseada nos seguintes modelos: Modelo Racional � : embora reconheça que exista uma “racionalida- de limitada” pela capacidade do gestor, considera que a tomada de decisão na organização deve ser racional, pois é o caráter emotivo e subjetivo das decisões que prejudica a organização. Nesse modelo os conflitos são inevitáveis. Modelo Político � : reconhece a importância dos mecanismos de gestão de conflitos, pois são naturais no ambiente organizacional. Modelo de Relações Humanas � : reconhece a existência de divergên- cias entre os objetivos individuais e os objetivos organizacionais o que possibilita desacordos organizacionais. Modelo Sistêmico � : o conflito é considerado inevitável e também ple- namente funcional, pois a organização está em permanente processo de adaptação. Identificar o conflito, sua magnitude e como estamos preparados para lidar com ele, pode auxiliar na escolha da estratégia mais adequada para administrá-lo. Para Moscovici (2003) não há uma fórmula mágica para lidar com os conflitos e resolvê-los de forma correta. Mas, fazer um diagnóstico da si- tuação pode ser um facilitador para a escolha das estratégias na busca da resolução. Segundo Schmidt e Tannenbaum (apud MOSCOVICI, 2003), três variáveis devem ser consideradas para a realização do diagnóstico: A natureza das diferenças1. – como cada pessoa avalia a questão e se- leciona as informações para a definição do problema. Está relacionada com os valores, a moral e a ética. Os fatores subjacentes2. – estão relacionados com as informações, as percepções e o papel social, pois o acesso a informações diferentes, assim como seu papel e status social, influenciam e produzem ações diferentes. O estágio da evolução 3. – esta variável considera a evolução das difi- culdades que são causadas a partir das divergências interpessoais. Conflito 201 O diagnóstico da situação de conflito favorecerá seu enfrentamento de forma mais adequada levando os envolvidos a assumirem uma postura de questionamento e verificação dos fatos. Poderá ser o início de um processo de resolução do problema, e não uma disputa para estabelecer um ganhador. O processo do conflito O processo do conflito, segundo Robbins (2002), tem cinco estágios: Estágio I: oposição potencial ou incompatibilidade: existem condições para que aconteça o conflito e as fontes ou causas estão relacionadas: À Comunicação � : escassez ou excesso de comunicação, diferentes sig- nificados de palavras ou os jargões. À Estrutura � : tamanho do grupo, estilo de liderança, grau de especiali- zação das tarefas, metas diferentes. A Variáveis pessoais � : sistema de valores e conjunto de características de cada indivíduo. Estágio II: cognição e personalização: o conflito existe somente quando uma das partes envolvidas for afetada. Há o nível em que o conflito é perce- bido e o nível em que o conflito é sentido. Conflito percebido � : é a consciência, de uma ou mais partes envol- vidas, da existência das condições que geram oportunidades para o surgimento de conflitos. Já existe a percepção racional de sua existên- cia por parte dos envolvidos, porém ainda não houve a declaração do mesmo. Conflito sentido � : é o envolvimento emocional em um conflito, geran- do ansiedade, tensão, frustração ou hostilidade. Já atinge ambas as partes envolvidas e a emoção se manifesta de forma consciente. Ainda podem ser classificados como: Conflito latente � : ainda não foi declarado e nem há clara consciência de sua existência, mesmo por parte dos envolvidos. Normalmente não há necessidade de ser trabalhado. Conflito manifesto � : já é percebido por terceiros, além dos envolvidos, e pode interferir na dinâmica da organização. 202 Conflito Estágio III: intenções: a escolha de como agir durante um conflito a partir da percepção das intenções dos outros envolvidos. Precisamos inferir as inten- ções dos outros para sabermos como responder ao seu comportamento. São identificadas cinco diferentes intenções para a administração de conflitos: Competir � : a satisfação de seus próprios interesses, independente do que possa causar a outra parte em conflito. Colaborar � : a satisfação dos interesses de todosos envolvidos. Evitar � : desejo de fugir de um conflito ou tentar eliminá-lo. Acomodar-se � : colocar os interesses do outro antes dos seus próprios. Conceder � : os envolvidos estão dispostos a fazer concessões e abrir mão de alguma coisa. Estágio IV: comportamento: inclui as declarações, as ações e as reações dos envolvidos. Os conflitos se tornam visíveis e existe o movimento para implementar as intenções de cada uma das partes conflitantes. Estágio V: consequências: os conflitos têm desdobramentos e geram consequências, sendo que estas consequências podem ser: Funcionais � : aumentam a qualidade das decisões, promovem reavalia- ção de metas etc. Disfuncionais � : reduz a coesão, ameaça a sobrevivência do grupo. Um conflito pode ser considerado funcional quando apoia os objetivos da organização, melhorando o seu desempenho. Por outro lado, os conflitos não funcionais ou disfuncionais criam obstáculos para a melhoria do de- sempenho organizacional. A ausência de conflito funcional, em qualquer organização, leva à estag- nação, ao empobrecimento na tomada de decisões e até mesmo à falta de eficácia. Da mesma forma que possuir conflito em demasia leva a organiza- ção diretamente ao caos. As causas e as origens dos conflitos são diversas, e, da mesma forma, os métodos de intervenção também devem ser. Devem se adaptar a suas ca- Conflito 203 racterísticas, intervir em sua causa e em seu efeito a fim de conseguir que a ajuda chegue a ser realmente efetiva e se reduzam, na medida do possível, suas contradições. Administração de conflitos Na administração de conflitos, é necessário ter presente que as ações devem ser tanto proposições preventivas como intervenções durante a fase de desenvolvimento dos conflitos. E que devem, ainda, posteriormente a estes, apresentarem a disposição de resolver suas sequelas. Um dos grandes problemas na administração de conflitos é que são poucos os indivíduos realmente capacitados para gerenciar conflitos nas or- ganizações. A maioria resolve do seu próprio jeito e, com isso, alguns conse- guem a solução desejada e outros não. Uma questão determinante na escolha da estratégia para a administração do conflito são os vários estilos de comportamento com que uma pessoa, ou um grupo, pode lidar com o conflito. Segundo Gillen (2001), os tipos de comportamento são quatro: Passivo1. – procura evitar o conflito, mesmo que sofra com isso. É, ge- ralmente, uma pessoa quieta com voz hesitante, atitude defensiva e contato visual mínimo. Agressivo2. – deseja, acima de tudo, vencer, mesmo à custa de outras pessoas. Suas atitudes são individualistas, pois está mais interessado em atender suas próprias necessidades e desejos do que os dos ou- tros. Seu comportamento é expresso com voz alta e máximo contato. Passivo/agressivo3. – seu comportamento oscila entre a passividade e a agressividade. Tem o desejo de se firmar, porém, não possui estrutura para tanto. Seu comportamento é de muita irritação, postura fechada e lacônica. Assertivo 4. – deseja defender seus direitos, e aceita que as outras pes- soas também os tenham. Apresenta tom de voz moderado, são neu- tras e têm uma postura de prudência e segurança. 204 Conflito Robbins (2002) propõe algumas técnicas de administração de conflitos: Quadro 1 – Técnicas de administração de conflito Técnicas de resolução de conflitos Solução de problema Reunião cara a cara das partes conflitantes com o propósito de identificar o problema e resolvê-lo por meio de discussão aberta. Metas superordenadas Criação de uma meta compartilhada que não possa ser atin- gida sem a cooperação entre as partes conflitantes. Expansão de recursos Quando o conflito é causado pela escassez de um recurso – digamos, dinheiro, oportunidades de promoção, espaço no escritório – a expansão dos recursos pode criar uma solução ganha-ganha. Evitação Retirada ou supressão do conflito. Suavização Amenizar diferenças enquanto dá ênfase a interesses comuns entre as partes conflitantes. Compromisso Cada parte do conflito desiste de algo de valor. Comando autoritário A administração usa a sua autoridade formal para resolver o conflito e então comunica seus desejos às partes envolvidas. Alteração da variável humana Uso de técnicas de mudanças comportamentais como treina- mento de relações humanas para alterar atitudes e compor- tamentos que causam conflito. Alteração das variáveis estruturais Mudança da estrutura organizacional formal e dos padrões de interação das partes conflitantes através de redimensio- namento do cargo, transferências, criação de posições coor- denadoras e similares. Técnicas de estimulação de conflitos Comunicação Uso de mensagens ambíguas ou ameaçadoras para aumen- tar os níveis de conflito. Trazer pessoas externas Adição de empregados a um grupo cujas formações, valores, atitudes ou estilos administrativos sejam diferentes daqueles dos membros presentes. Reestruturação da organização Realinhamento de grupos de trabalho, alteração de regras e regulamentos, aumento de interdependência e realização de mudanças estruturais semelhantes para quebrar o status quo. Designação de um advogado do diabo Designação de um crítico para argumentar propositalmente contra as posições majoritárias defendidas pelo grupo. Outras sugestões de abordagens para a solução de conflitos são apre- sentadas por Schmidt e Tannenbaum (apud MOSCOVICI, 2003). Os autores sugerem que o conflito pode ser evitado através da escolha de grupos mais homogêneos, pois isso evitaria divergências significativas, mas, pode empo- brecer o processo produtivo do grupo, pois são as diferenças que movimen- tam o grupo criativamente. (R O BB IN S, 1 99 9, p . 2 79 ) Conflito 205 A contenção do conflito, segundo os autores, também pode ocorrer com a utilização de técnicas de recompensas e punições. Essa estratégia seria melhor empregada principalmente em grupos que têm objetivos em curto prazo, pois não há a necessidade de consenso para que o grupo seja eficaz. Como terceira estratégia, os autores sugerem acentuar as divergências apresentadas, com o intuito de esclarecê-las e aprender a conviver com elas. Dessa forma as divergências se tornariam produtivas e não destrutivas. Complementando a estratégia anterior, transformar as diferenças em re- solução de problemas, a última estratégia sugerida pelos autores é indicar a necessidade de diferenças como possibilidade para a criação e produção de algo. A contribuição de cada um, através de argumentações e explorações, como forma de crescimento do grupo. Alinhamento organizacional – interesses individuais e coletivos Os conflitos nas organizações existem em função de certas condições antecedentes e são inerentes à sua natureza. Os conflitos mais importantes que impactam nas relações organizacionais são: intrapessoais, interpessoais, intergrupais e interorganizacionais. Nos conflitos interpessoais o perfil dos protagonistas será o fator de maior peso. Tais conflitos se dão entre duas ou mais pessoas e podem ocorrer por vários motivos como diferenças de idade, sexo, valores, crenças, por falta de recursos materiais, financeiros. Por diferenças de papéis, podendo ser dividi- dos em dois tipos: Hierárquicos � : têm sua origem nas relações com a autoridade existen- te. Ocorre quando a pessoa é responsável por algum grupo, mas não encontra apoio junto aos seus subordinados e vice-versa. Neste caso, as dificuldades encontradas no dia a dia deixam a maior parte das pes- soas envolvidas desamparada quanto à decisão a ser tomada. Pessoais � : dizem respeito ao indivíduo, à sua maneira de ser, agir, falar e tomar decisões. As rixas pessoais fazem com que as pessoas não se entendam e, portanto, não se falem. Em geral esses conflitos surgem 206 Conflito a partir de pequenas coisas ou situações nunca abordadas entre os interessados. O resultado é um confronto tácito que reduz em muito a eficiência das relações. Já no segundo tipo, conflitos intergrupais,o ambiente onde eles se de- senvolvem cria referências próprias, associadas à cultura e ao momento po- lítico da organização, que precisam ser considerados. Os conflitos intrapessoais e os interorganizacionais têm uma nature- za mais complexa, pois envolvem múltiplas variáveis, tais como fatores de ordem psicológica e de princípios, no caso dos intrapessoais, e de ordem sociocultural, geopolítica e econômica, entre outras, nos conflitos de origem interorganizacionais. Um ponto importante para lidar com conflitos organizacionais é caracte- rizar o que são conflitos com causas reais e com causas emocionais. Segundo Walton (1972) apud Carvalhal (2006), os conflitos com causas reais envolvem divergências acerca de políticas, normas, prioridades, re- cursos, papéis e relações formais entre as partes. Os conflitos com causas emocionais compreendem sentimentos negativos entre as partes, como os de desconfiança, desprezo, ressentimento, medo e rejeição. Reconhecer a origem das causas dos conflitos será importante para a escolha de possível intervenção. Os conflitos originados de causas reais exigem a negociação e solução de problemas pelos participantes e até mesmo intervenção de terceiros. Já os conflitos baseados em causas emocionais exigem a reestruturação das percepções das partes e o tratamento dos sentimentos existentes, e ainda a intervenção cuidadosa de uma terceira parte habilitada. Outro ponto relevante na geração de conflitos organizacionais está base- ado na observação, ou avaliação, do desempenho de um indivíduo. Com o objetivo de diminuir a possibilidade de geração de conflitos, Bee (2000) destaca dez posturas necessárias para a realização da chamada crítica construtiva: Analisar a situação1. : identificar qual é o problema, bem como o quê e por quê deve ser alterado. Determinar o(s) efeitos(s) e o(s) objetivo(s)2. : determinar o que indi- víduo deve realizar. Conflito 207 Ajustar-se à receptividade3. : identificar se há abertura por parte de quem vai receber a crítica. Criar o ambiente propício4. : propiciar um ambiente favorável para que haja entendimento e aceitação. Comunicar-se efetivamente5. : considerar aspectos fundamentais, como o quê e como se diz, a linguagem corporal, saber ouvir e obser- var. Trabalhar junto na construção da solução dos problemas-objeto das críticas. Descrever o comportamento que deseja mudar6. : deixar claro o pon- to exato do problema. Descrever o comportamento desejado7. : evidenciar o que necessita apresentar como desempenho ou comportamento. Procurar soluções conjuntamente8. : oferecer ajuda apresentando su- gestões e/ou ideias. Concentrar-se naquilo que se acha bom9. : ressaltar situações positivas. Chegar a um acordo10. : talvez o item mais difícil, pois requer a concor- dância para a mudança do comportamento. Para administrar um conflito organizacional, pode-se empregar um dos seguintes estilos, segundo Chiavenato (1999): Estilo de evitação1. : consiste na fuga do conflito. É empregado quan- do o problema é corriqueiro, quando não há perspectiva de ganhar o conflito, quando se necessita de tempo para obter uma informação ou quando um conflito pode ser desvantajoso. Estilo de acomodação2. : visa resolver os pontos de menor divergência e deixa os problemas maiores para depois. Estilo competitivo3. : consiste no comando autoritário, é empregado quando se faz necessário tomar uma decisão rapidamente ou uma de- cisão impopular. Estilo de compromisso4. : ocorre quando as partes envolvidas aceitam perdas e ganhos para todos os envolvidos. Estilo de colaboração5. : é empregado numa situação ganha-ganha, visto que todos os interesses podem ser reunidos numa solução mais ampla. 208 Conflito Apesar da aceitação do conflito como inerente à dinâmica da organiza- ção, ele pode ser positivo ou negativo nos seus efeitos. De acordo com Chiavenato (1999) alguns efeitos positivos do conflito: Despertar sentimentos e energia num grupo levando-o a descobrir � meios mais eficazes para realizar as tarefas e achar soluções mais cria- tivas e inovadoras. Pode solidificar sentimentos de união e identidade dentro do grupo. � Servir como mecanismo de correção dos problemas existentes, evitan- � do problemas mais graves. Soluções em que todos ganham aumentam a união do grupo e, como � consequência, sua produtividade. Como o desenvolvimento do conflito é um processo dinâmico no qual as partes se influenciam mutuamente, seja qual for a estratégia adotada e uma vez que se instale o conflito, haverá um entre três resultados possíveis: 1. Uma parte ganha e a outra perde. 2. Chega-se a um acordo e ambas as partes perdem, abrindo mão de algo importante. 3. Ambas as partes procuram uma solução integrativa para que todos ganhem. Se os envolvidos escolherem o estilo de integrar ou de resolução de pro- blemas, o resultado poderá ser um clima de confiança e de condições para que o conflito seja resolvido de forma mais criativa e duradoura, encurtando distâncias e melhorando a comunicação. Apesar de tentarmos ignorá-lo, dizer que tal situação não existe em nosso local de trabalho, não significa que o conflito não esteja lá. Normalmente o que ocorre é que as pessoas não se sentem à vontade para se expressarem o que traz uma perda para a organização. Conflito 209 Sugestões para o processo de administração de conflitos: Acompanhe as várias fases do processo de evolução do conflito. � Evite precipitações e adiamento do tratamento. � Use a estratégia adequada à natureza do conflito. � Considere os desdobramentos necessários. � Contenha as tensões emocionais. � Diagnostique de forma objetiva e impessoal as causas do conflito. � Despolarize a solução do conflito. � Procure ser empático. � Inicie com as semelhanças ao invés das divergências. � Ter consciência de que o conflito nas organizações existe e sempre existi- rá, é fundamental para a busca de sua gestão e melhor aproveitamento. Ampliando seus conhecimentos Gestão de conflitos Você terá, mais cedo ou mais tarde, que lidar com algum tipo de conflito se tiver um relacionamento profissional, ou não, com outra pessoa (CAVAGNOLI, 2010) Você terá, mais cedo ou mais tarde, que lidar com algum tipo de conflito se tiver um relacionamento profissional, ou não, com outra pessoa, em qualquer situação. Conflito não é um mal em si. Está normalmente relacionado com os inte- resses ou ideias que são importantes para cada uma das partes envolvidas. Na realidade, surge simplesmente de diferentes pontos de vista entre duas ou mais pessoas. 210 Conflito Desde que duas ou mais pessoas não veem o mundo da mesma forma, é normal o surgimento de uma controvérsia ou desacordo. Qualquer um que concordar com você o tempo todo, provavelmente estará falando aquilo que você está querendo ouvir e não o que ela realmente acredita. A razão básica do conflito receber o rótulo de algo ruim é devido aos aspectos emocionais que surgem com ele. De uma forma geral, existem três principais áreas organizacionais onde pode ocorrer algum tipo de conflito. Embora existam similaridades entre essas áreas, cada uma pode apresentar diferenças dependendo do cenário onde o conflito se estabelece. Conflito em relações interpessoais Como as que ocorrem no ambiente interno das organizações entre seus colaboradores, gerando conflitos muitas vezes ignorados pelos gestores. Como exemplo, alguém que normalmente é alegre e otimista e repentina- mente começa a se comportar de maneira estranha e diferente, evitando con- tato com seus superiores, colegas e subordinados. Conflito em reuniões ou encontros Podem ser altamente disfuncionais para a obtenção de resultados espera- dos, mas também podem ser de grande valia. É bom lembrar que conflitos são simplesmente diferenças de pontos de vista sobre o mesmo objeto. Se uma pessoa apresenta um ponto de vista diferente do grupo, pode não significar uma discordância, e sim, uma questão relevante para ser refletida pelos demais e quepoderá ser absorvida por todos. Contudo, se a pessoa passar do ponto de discordância para um ponto de irredutibilidade constante, deve-se adotar pro- cedimentos adequados de gestão de conflitos para solucionar o impasse. Conflito em negociações Quando se está negociando com seus clientes, fornecedores, parceiros em alianças estratégicas, ou mesmo com seus colaboradores internos, é de suma importância manter em mente a ideia de que ambas as partes estão procuran- do por uma solução ganha-ganha. Ninguém gosta de sentir como se estivesse dando algo sem uma contrapartida da outra parte, em igual proporção de Conflito 211 valor. De fato, a maioria dos conflitos surge porque uma das partes sente que a outra está levando alguma vantagem desproporcional. Um bom sistema de gestão de conflitos envolve um conjunto de práticas, que podem ser divididas em dois grandes grupos: práticas preventivas e corretivas. Por sistema de gestão de conflitos entende-se: um conjunto de ações integradas de diagnóstico das fontes de conflito, bem como a aplicação de melhores práticas e metodologias colaborativas de prevenção e correção dos conflitos, visando gerar uma eficaz governança organizacional. Ações preventivas objetivam criar condições ambientais favoráveis à mini- mização dos conflitos interpessoais, através da implementação de melhores práticas que resultam em acordos prévios fortemente negociados, em deci- sões estratégicas, táticas e operacionais, que envolvam os colaboradores e/ou as partes interessadas (stakeholders). Ações corretivas são aquelas aplicadas quando o conflito já está estabele- cido e resultam em um acordo negociado através da mediação ou conciliação. Na impossibilidade de obter-se um acordo, o conflito só poderá ser resolvido através de Arbitragem ou Justiça Estatal. O tratamento inadequado de um conflito, no ambiente intra e interorga- nizacional, poderá gerar violência, insubordinação e outras graves disfunções organizacionais. A chave para gerir conflitos é desenvolver as competências básicas necessárias para implementação de um bom sistema de gestão de conflitos. Atividades de aplicação 1. Na definição de Robbins (2002) o conflito é definido como: a) “um processo que tem início quando uma das partes percebe que a outra parte afeta, ou pode afetar, negativamente alguma coisa que a primeira considera importante”. b) “os envolvidos tendem a expor suas opiniões e suas razões com o objetivo de satisfazer suas necessidades”. c) “fonte de ideias novas, um estado de tensão capaz de gerar mu- danças e obter melhores resultados”. 212 Conflito d) “são responsáveis por sérias ameaças à estabilidade de uma orga- nização, mas também podem agir de maneira construtiva estimu- lando o potencial de seus colaboradores”. 2. É certo afirmar que na visão tradicional: a) o conflito era visto de forma positiva e incentivado. b) o conflito era visto como resultado de falhas e disfunções nos pro- cessos. c) o conflito era considerado como uma consequência natural e ine- vitável em qualquer grupo. d) o conflito é absolutamente necessário para o desempenho eficaz de um grupo. 3. Segundo Rondeau(1996) o modelo político de abordagem dos confli- tos: a) embora reconheça que exista uma “racionalidade limitada” pelas capacidades do gestor, considera que a tomada de decisão na or- ganização deve ser racional, pois é o caráter emotivo e subjetivo das decisões que prejudica a organização. Nesse modelo os confli- tos são inevitáveis. b) reconhece a existência de divergências entre os objetivos indivi- duais e os objetivos organizacionais, o que possibilita desacordos organizacionais. c) o conflito é considerado inevitável e também plenamente funcional, pois a organização está em permanente processo de adaptação. d) reconhece a importância dos mecanismos de gestão de conflitos, pois são naturais no ambiente organizacional. 4. Três variáveis devem ser consideradas para a realização do diagnósti- co do conflito: a) a natureza das diferenças, os fatores subjacentes, o estágio da evo- lução. b) percepção, sensação, ação. Conflito 213 c) diferenças individuais, recursos limitados, diferenciação de papel. d) clima organizacional, fatores subjacentes, ação. Gabarito 1. A 2. B 3. D 4. A Referências BEE, Roland. Feedback. São Paulo: Nobel, 2000. CARVALHAL, Eugênio et al. Negociação e Administração de Conflitos. Rio de Janeiro: FGV, 2006. CAVAGNOLI, Irani. Gestão de Conflitos. Disponível em: <www.rhportal.com.br/ artigos/wm view.php?idc_cad=t9ur8cvj0>. Acesso em: 6 abr. 2010. CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à Teoria Geral da Administração. São Paulo: Makron Books, 1999. GILLEN, Terry. Assertividade. São Paulo: Nobel, 2001. MONTANA, Patrick J. Administração. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. MOSCOVICI, Fela. Desenvolvimento Interpessoal: treinamento e grupo. Rio de Janeiro: José Olympio, 2003. ROBBINS, Stephen P. Comportamento Organizacional. São Paulo: Prentice Hall, 2002. _____. Comportamento Organizacional. 8. ed. São Paulo: Prentice Hall, 1999. RONDEAU, Alain. A gestão de conflitos nas organizações. In: CHANLAT, J. L. (Org.) O Indivíduo na Organização: dimensões esquecidas. São Paulo: Atlas, 1996. v. 3. O significado no mundo organizacional Maria Eugênia Costa Vemos no mundo do trabalho nos dias atuais uma grande turbulência. As pessoas parecem inquietas, em busca de algo que muitas vezes nem sabem o que é. Algumas trocam constantemente de emprego, outras trocam de profissão, trocam de cidades, umas trabalham demais, quase à exaustão, e outros sofrem por não terem emprego. No entanto, podemos dizer que todos querem trabalhar, querem buscar uma ocupação, uma realização e uma valorização pessoal e suas consequen- tes recompensas. Morin (2002) fez uma pesquisa baseada na resposta da pergunta: “Se você tivesse bastante dinheiro para viver o resto de sua vida confortavelmente sem trabalhar, o que você faria com relação a seu trabalho?” Mais de 80% das pessoas responderam que trabalhariam mesmo assim. Esse e outros estudos revelam evidências do grande valor que as pesso- as dão ao trabalho e como este exerce forte influência sobre a motivação e satisfação dos empregados. Por outro lado, nos defrontamos com o seguin- te desafio: como fazer com que o trabalho hoje em dia seja realmente uma fonte de prazer e motivação e como as pessoas podem encontrar sentido ao exercer suas atividades laborais? É o que veremos neste capítulo, além de analisar as questões referentes à cultura organizacional, clima e ambiência, seus conceitos e análise, concluindo com os aspectos relacionados ao comprometimento profissional, à motivação e aos tipos de vínculos cultivados entre os empregados e a organização. “Pato novo voa baixo”. � “Manda quem pode, obedece quem tem juízo”. � As expressões populares acima, quando usadas numa organização pelos seus funcionários, sugerem algumas reflexões como: “pato novo voa baixo” pode ter a mensagem “novos funcionários não devem se manifestar ou tomar iniciativa”. A expressão “manda quem pode, obedece quem tem juízo” 216 O significado no mundo organizacional pode sugerir um ambiente autoritário, em que só quem tem cargo formal pode dar ordens e que os que têm juízo só obedecem, sem contestar. Quando tecemos esses comentários estamos tratando da cultura da or- ganização. O modo de se comportar, os ditados e o perfil gerencial, repre- sentam aspectos da cultura organizacional. Cultura De acordo com Schein (apud SIQUEIRA, 2008, p. 126): “Cultura organiza- cional consiste em um padrão de pressupostos básicos que se mostraram eficazes para resolver os problemas de adaptação externa e integração in- terna, razão pela qual vão sendo ensinados aos novos membros, passando assim a fazer parte da cultura da organização”. É como se a organização aprendesse um tipo de resposta que funcionou bem e, portanto, seus membros a repetem e a transformam num padrão de comportamento para todos da organização. Os trêselementos que integram a cultura são: Preceitos1. : parte dos regulamentos, rituais e costumes. Tecnologia2. : equipamentos, instrumentos, redes, métodos e processos. Caráter3. : a parte afetiva, as emoções (SOUZA, 1978). Aspectos simbólicos da cultura Cohen (1999) usa a imagem da árvore para apresentar onde se insere a cultura na árvore organizacional. A cultura nesse esquema simbólico fica localizada na raiz e podemos entender então que como raiz, a cultura nutre e sustenta todos os aspectos da vida organizacional, dando sentido e significado. Cada parte da raiz é denominada de hipótese e cada hipótese pode ser uma afirmação ou crença compartilhada por todos na organização e, como tal, pode influenciar positiva ou negativamente no processo produtivo organizacional. O significado no mundo organizacional 217 Figura 1 – A cultura como as raízes de uma árvore. (C O H EN , 1 99 9. A da p ta do .) Copa: Valores Modelos de Gestão Estratégias Visão Raiz: Cultura Hipótese 3: Nosso cliente é fiel. Hipótese 2: Nossos produtos são os melhores. Hipótese 1: Somos uma família. Nas raízes estão as hipóteses da cultura. No exemplo anterior, na hipótese 1 está a afirmativa de uma organização que quer ser vista como uma família (somos uma família). Observe que na hipótese 2 a afirmativa se refere aos valores ligados aos produtos e, na hipótese 3, os valores estão associados ao perfil do cliente. Veja que todas as hipóteses da raiz podem ser analisadas positivamente ou não. No exemplo da figura 1 – somos uma família – além do lado positivo pode- mos identificar dois problemas nessa hipótese: inclusão e modelo de gestão. 218 O significado no mundo organizacional Na família a inclusão se faz por nascimento, casamento ou adoção, portan- to, a integração pode ser vista como restrita nessa organização. Além disso, o modelo de gestão familiar pode ser extremamente paternalista, protetor, o que pode conflitar com abordagens mais profissionais e modernas. É por isso que muitos autores analisam as organizações a partir das cren- ças, valores e rituais, pois é possível a partir dessa análise identificar quais os elementos da cultura que favorecem seu crescimento e quais os elementos que servem como um obstáculo para sua evolução. Existem outras maneiras de utilizar símbolos na análise organizacional. Morgan (1996), por exemplo, no seu livro Imagens da Organização, busca ana- lisar e compreender as organizações a partir de imagens e metáforas que ex- plicam um modo de pensar e de perceber o mundo. Exemplos de imagens são ilustrados nos capítulos do livro, estruturados assim: a organização como má- quina, a organização como organismo vivo, a organização como cérebro etc. Para ilustrar as metáforas de Morgan, apresentamos a seguir dois tipos de organização opostas pela sua natureza: A organização como máquina � : nessas organizações as rotinas são or- ganizadas com precisão. Podemos usar como exemplo as cadeias de fast food que utilizam essa abordagem. A postura dos atendentes é sempre igual, o produto tem sempre as mesmas características, a criatividade não é bem vista, nem a flexibilidade. Nessas organizações pode haver rotatividade constante e, assim mesmo, o produto mantém o padrão, pois a rotina de trabalho é descrita nos mínimos detalhes e é sempre a mesma. Um bom profissional é aquele que segue os procedimentos buscando a perfeição. Taylor representa bem esse tipo de organização e muitas vezes foi odiado e considerado inimigo do trabalhador. Os seus cinco princípios básicos eram (TAYLOR apud MORGAN, 1996, p. 32): Transfira toda a responsabilidade da organização do trabalho do tra-1. balhador para o gerente. Use métodos científicos para determinar a forma mais eficiente de fa-2. zer o trabalho. Selecione a melhor pessoa para desempenhar o cargo especificado.3. Treine o trabalhador para fazer o trabalho eficientemente.4. O significado no mundo organizacional 219 Fiscalize o desempenho do trabalhador para assegurar que os proce-5. dimentos sejam seguidos. Reconhecemos que há um olhar crítico a essa abordagem, em que o fun- cionário é tratado como uma máquina. Por outro lado, nos dias de hoje, as franquias têm sucesso devido à reputação de ter um produto padronizado e confiável em qualquer lugar do mundo. Na área da saúde a padronização é vital; ninguém espera que numa sala de cirurgia o instrumentador seja cria- tivo na hora de entregar os instrumentos, nem mesmo o cirurgião que nos opera. A abordagem da organização como organismo � : nessa abordagem a fonte de inspiração deixa de ser a máquina para ser a Biologia. Dentro desse processo, a teoria das organizações transformou-se num tipo de biologia na qual as distinções e relações entre moléculas, células, organismos complexos, espécies e ecologia são colocadas em paralelo com aquelas entre indivíduos, grupos, organizações, populações (espécies) de organizações e a sua ecologia social. (MORGAN, 1996, p. 43) A busca do bem-estar torna-se um objetivo legítimo para as organizações. O ambiente é considerado um fator importante e há reconhecimento de que é preciso também satisfazer as necessidades dos indivíduos e grupos. Aqui vemos uma distinção entre a abordagem da metáfora máquina e da metá- fora organismo, onde a “máquina” percebe a organização como um sistema fechado e mecânico, tendo sua atenção voltada para o que acontecia inter- namente. Por outro lado, a abordagem da metáfora do organismo percebe a organização como um sistema aberto voltado para as relações externas com os clientes, mercado e concorrência. As duas abordagens descritas impactam diretamente no modelo de gestão adotada pela organização. Diversos autores, incluindo Abraham Maslow1, escreveram teorias comportamentais tendo como centro de suas pesquisas as necessidades dos seres humanos, os quais influenciaram forte- mente o desenvolvimento e estudos da liderança contingencial, que se baseia no princípio de liderança a ser utilizado depende mais da situação que da personalidade do líder. Tais estudos foram um grande estímulo e interesse dos cientistas das áreas humanas no sentido de observar, analisar e avaliar o ambiente dentro das organizações, clima e ambiência. 1 Psicólogo americano que procurou compreender e explicar o que energiza, dirige e sustenta o com- portamento humano. Para ele, o comportamento é motivado por necessida- des fundamentais. Tais ne- cessidades são baseadas em dois agrupamentos: deficiência e crescimento. As necessidades de defici- ência são as fisiológicas, as de segurança, de afeto e as de estima, enquanto que as necessidades de cresci- mento são aquelas relacio- nadas ao autodesenvolvi- mento e autorrealização dos seres humanos. 220 O significado no mundo organizacional Portanto, a leitura e a análise de uma organização pode ser feita através de seus símbolos e rituais como também a partir da utilização de instrumen- tos de pesquisa do ambiente. Acredita-se, aqui, que um ambiente de bem- -estar na organização, onde há satisfação com relação a benefícios, relacio- namentos, salário e condições físicas há maior produtividade e efetividade organizacional. Estudaremos a seguir os conceitos de clima, cultura, ambi- ência e as metodologias usadas para pesquisá-los. Clima e ambiência Nenhuma organização consegue alcançar seus objetivos sem a participa- ção efetiva de colaboradores motivados e comprometidos. Essa postura de compromisso e lealdade precisa ser conquistada, pois não está diretamente relacionada às condições salariais ou quaisquer outros benefícios materiais. Existem vários fatores que influenciam e, muitas vezes, determinam os reais sentimentos das pessoas dentro das organizações e a disposição ver- dadeira para enfrentar desafios e encontrar soluções, principalmente no en- frentamento de crises. Pesquisadores têm se dedicado ao estudo desses fatores, em especial procurando entender que objetivos motivacionais são mais frequentemen-te procurados no trabalho, ou seja, em última análise por que o ser humano trabalha (BERGAMINI, 2005). Segundo Matos (2006, p. 31), um clima organizacional positivo pode fa- vorecer a criatividade e a inovação, fatores importantes nos ambientes com- petitivos dos dias atuais. Um ambiente favorável à comunicação interna, com lideranças empenhadas em promover e consolidar a cultura do diálogo é capaz de encorajar a manifestação de ideias e sugestões que podem originar inovações e identificar soluções altamente rentáveis. Entretanto, apesar dessa postura de integração e participação ser desejada e encorajada pelos administradores, nem sempre é possível conseguir que os colaboradores se integrem à realização da estratégia da organização e, muitas vezes, os gerentes não conseguem descobrir o que está acontecendo. Pode-se entender o clima organizacional como o ambiente dentro das orga- nizações, que pode ser agradável ou desagradável, positivo ou negativo, leve ou pesado, que é sentido e vivido pelas pessoas, mas que é difícil de ser identificado. O significado no mundo organizacional 221 Muitos autores entendem clima organizacional como sendo cultura orga- nizacional, mas são dois fenômenos diferentes, embora o clima de um modo geral possa retratar a cultura da empresa. Uma das diferenças a ser desta- cada é que, enquanto a cultura é duradoura, difícil de ser alterada, o clima organizacional é dinâmico, volátil, podendo oscilar de um momento para outro (REIS, 2009). Para Simcsik (2001, p. 312) Clima organizacional é refletido e detectado no comportamento dos colaboradores de uma empresa, no modo de falar e ouvir, no vestir-se ou escrever, nas feições ou formas de atender, nos produtos e na forma de vendas e nas maneiras como são manuseados os instrumentos de trabalho e como são obtidos e apresentados os resultados. Gasparetto (2008, p. 19) afirma que o clima organizacional está ligado diretamente à maneira como o colaborador percebe a organização com a sua cultura, suas normas, seus usos e costumes, como ele interpreta tudo isso e como ele reage, positiva ou negativamente, a essa interpretação. Clima organizacional existe, de forma viva e atuante, dentro da empresa, mas não pode ser criado por ela. Resulta, principalmente, dos fatores inter- nos da organização, tais como decisões tomadas pela administração e da maneira como as pessoas são administradas pelos seus chefes imediatos. Todos esses fatores influenciam o empregado, diretamente no que diz res- peito à forma como ele percebe a empresa, e determinam o seu comporta- mento no trabalho. Uma mesma situação existente na organização, num determinado mo- mento, será percebida de maneira diferente pelos diversos grupos de cola- boradores, portanto, pode-se afirmar que além da organização não criar o seu clima organizacional teremos, dentro de uma mesma organização, diferentes climas organizacionais, mas com efeitos diferentes nos diversos públicos internos, causando sensações positivas para uns e negativas para outros. (GASPARETTO, 2008, p. 19) Não existe um clima organizacional único e uniforme, existem variações de acordo com a situação psicológica e o estágio motivacional em que se en- contra cada pessoa e a maneira como o contexto da empresa é interpretado, em função das mais diversas informações provenientes, direta ou indireta- mente, do ambiente no qual a organização está inserida. 222 O significado no mundo organizacional Isso ocorre pelo fato de existir algo que é intangível, que não pode ser detec- tado facilmente, que é “o conjunto de condições materiais e humanas que forma o ambiente da empresa ou o sistema ambiental” (SIMCSIK, 2001, p. 312). O clima organizacional é, portanto, “a atmosfera resultante das percepções que os funcionários têm dos diferentes aspectos que influenciam seu bem- -estar e sua satisfação no dia a dia de trabalho” (BARÇANTE, 1999, p. 16). Segundo Dias (2003, p. 77), clima organizacional pode ser entendido como “a expressão pessoal da visão que os trabalhadores e dirigentes adqui- rem da organização a qual pertencem”. Fatores que influenciam no clima organizacional Segundo Gasparetto (2008) o ambiente interno da organização tem uma influência muito forte sobre a percepção que o empregado tem sobre a em- presa, mas, além disso, os fatores externos acabam influenciando o estado de espírito de cada trabalhador. Fatores externos � : entre os fatores externos que influenciam o clima or- ganizacional, devem ser incluídos a situação econômica local e global, os níveis de desemprego, a realidade política, a atuação dos sindicatos e novas legislações. Todos esses fatores podem exercer influência so- bre os empregados e modificam sua motivação, criando insegurança, receios ou entusiasmo e satisfação. Como esses fatores estão fora do controle das organizações, é muito di- fícil e, muitas vezes, impossível desenvolver ações que possam reduzir ou eliminar a influência negativa sobre os empregados. A empresa tem a possibilidade e a opção de conhecer quais os fatores externos que, em determinado momento, causam maior nível de influência positiva ou negativa sobre seus empregados e tomar medidas que possam de um lado, explorar os fatores positivos e, por outro lado, minimizar a influ- ência dos fatores negativos. Fatores internos � : a maior influência sobre o clima organizacional vem de fatores internos da organização, que atuam diretamente no rela- cionamento da empresa com seus empregados. Dentre esses fatores predominam o estilo de liderança usado pela chefia, a política de re- muneração, a possibilidade de participação na estratégia da empresa, O significado no mundo organizacional 223 a expectativa de crescimento profissional, os benefícios oferecidos, a comunicação, a participação nos resultados financeiros e um ambien- te de bom relacionamento com superiores e colegas de trabalho. Enquanto os fatores externos, de um modo geral, estão fora do controle da organização, os fatores internos podem ser modificados por ações desen- volvidas internamente, à medida que sua influência for detectada. Outra diferença é que os fatores externos são mais passageiros e sua in- fluência é mais fluida do que os fatores internos, que por sua vez, têm influ- ência maior e muito duradoura junto aos colaboradores. Luz (2003) cita diferentes variáveis que afetam o clima organizacional, entre elas: o salário, o trabalho que o funcionário realiza, o relacionamento entre os diferentes setores da empresa, a supervisão, a comunicação, a estabilidade no emprego, as possibilidades de progresso profissional, a disciplina, os benefí- cios, o processo decisório e as condições de segurança do trabalho. Portanto, o clima organizacional, pelas inúmeras e constantes influências que recebe, não pode ser considerado como algo estático, e sim, como um processo dinâmico que precisa ser sempre observado e percebido. O clima organizacional é difícil de ser avaliado objetivamente, mas pode ser percebido e, assim, pode orientar a adoção de algumas medidas que possam induzir uma nova percepção da organização, por parte dos empre- gados, o que pode resultar em alteração do clima organizacional. Entretanto, essa percepção também não é tarefa fácil. Não existe uma ma- neira objetiva e definitiva de sentir instantaneamente e com certeza como está o clima organizacional, em um determinado momento. Dada sua impor- tância para o resultado das empresas, Gasparetto (2008), considera que cada vez mais é necessário descobri-lo, medi-lo e analisá-lo para orientar ações que gerem as mudanças necessárias e dar suporte a uma gestão moderna e participativa. O autor indica alguns sinais que podem demonstrar que o clima na em- presa não está bom, entre os quais cita: Alto índice de movimentação de pessoal que deixa a organização: de- � missionários ou demitidos. Faltas constantes ou atrasos ao trabalho. � 224 O significado no mundo organizacional Excesso de rejeições no controle de qualidade.� Aumento de reclamações dos clientes. � Alto índice de acidentes de trabalho. � Conflitos entre as áreas ou entre pessoas da mesma área. � Por outro lado, alguns sinais podem demonstrar a existência de um bom clima organizacional: Grande número de sugestões de melhorias. � Colaboração espontânea dos colaboradores em trabalhos extras. � Senso de economia. � Relacionamento fácil. � Poucas reclamações de clientes. � Envolvimento das pessoas nas tarefas. � Demonstração de confiança nos gestores. � Ótima qualidade dos produtos ou serviços oferecidos. � Participação na vida da empresa e nas reuniões festivas. � Além dessas percepções, pela importância que o clima organizacional exerce nas organizações, algumas técnicas foram desenvolvidas com o in- tuito de conseguir uma medição mais objetiva, entre as quais podem ser citadas: questionário, entrevistas e painel de debates. O questionário é, atualmente, o instrumento de pesquisa mais conhecido e utilizado nas empresas. Este pode ser aplicado a um grande número de pessoas e permite, por meio de perguntas, uma avaliação de como é perce- bido o clima organizacional em determinado momento. Segundo Luz (2003) essa pesquisa deve ser realizada anualmente ou a cada dois anos e deve abranger diferentes aspectos que podem causar in- satisfação entre os empregados. Devem ser evitados os momentos de muita euforia ou de tristeza, procurando-se os períodos de neutralidade. A pesquisa de clima precisa contar com o apoio e o comprometimen- to da administração em realizar as mudanças que forem identificadas, caso O significado no mundo organizacional 225 contrário, não deve ser realizado, pois cairá no descrédito e tenderá a au- mentar o clima de insatisfação. O questionário deve conter entre 50 e 80 perguntas, dependendo das particularidades de cada empresa, e devem abordar diversos temas. Entre- tanto, algumas perguntas devem ser feitas por todas as empresas, como por exemplo: Se o funcionário está satisfeito em trabalhar na empresa. � Como o funcionário se imagina nos próximos dois anos em relação à � empresa. Como o funcionário considera a empresa em relação à época em que � nela começou a trabalhar. Se o funcionário considera a empresa um bom lugar para trabalhar. � Quais os motivos que o funcionário tem para trabalhar na organização � (pelo menos dois). Quais os dois principais fatores de insatisfação no trabalho. � Se o funcionário indicaria a empresa para um parente ou amigo tra- � balhar. Se a empresa desfruta de boa imagem entre os funcionários. � Reis (2009) relata que algumas empresas brasileiras, entre elas a Petrobras e a Embrapa, começam a trabalhar com um conceito mais abrangente do que apenas clima e cultura organizacional. Esse conceito está sendo deno- minado de ambiência, que integra elementos do clima, da cultura e o com- prometimento profissional dos colaboradores. Comprometimento profissional “No século XXI não haverá produtos nem tecnologias nacionais, nenhuma sociedade anônima nacional, nenhuma indústria nacional. Não haverá mais economias nacionais [...] Tudo continuará enraizando dentro de fronteiras na- cionais porque são as pessoas que compõem uma nação. Os bens fundamen- tais de uma nação serão as habilidades e competências dos cidadãos” (REICH apud FERNANDES, 2001, p. 116). 226 O significado no mundo organizacional Anteriormente foram abordados aspectos do clima organizacional, suas características e determinantes, quando foi destacado que a questão de clima organizacional encontra-se diretamente relacionado à maneira como as pessoas que compõem a organização percebem, interpretam e reagem às normas, à cultura, ideais e costumes de cada organização. Vimos, também, que atualmente está sendo usado o termo ambiência para abranger além de clima, cultura e comprometimento profissional. A ambiência organizacional formada a partir da interpretação e pelas formas de reagir das pessoas é fundamental para determinar-se o nível de comprometimento dos empregados. E para abordarmos esse aspecto, Xavier (2006), nos brinda com a reflexão de que hoje em dia um dos maiores desafios no processo de gestão das pessoas é o cenário diversificado onde as organizações estão inseridas. Podemos observar tal diversidade a partir de alguns aspectos como: Formação de equipes � : quando formamos uma equipe de trabalho temos pessoas de origens diversas, de ambos os sexos, diferentes ida- des, níveis de escolaridade que manifestam interesses e necessidades diversas. Valores � : hoje em dia com a evolução, a sociedade está se tornando mais aberta, democrática e tolerante, onde se observa a convivência amigável de pessoas com valores religiosos, políticos e sociais muitas vezes divergentes. Estilo de vida � : as pessoas possuem hábitos diferentes, gostam de coisas diferentes, comidas diferentes, se comportam de maneiras di- versas e, mesmo assim, convivem no mesmo ambiente corporativo e social. Formação profissional � : vivemos a era do conhecimento, que apre- senta forte tendência às especializações, então a diversidade se revela em uma grande quantidade de profissionais de diversas aéreas traba- lhando lado a lado. Como fazer com que as pessoas com a diversidade que apresentamos, sintam-se comprometidas com a mesma organização? Como motivá-las, criar espírito de corpo, lealdade, empenho, criatividade, inovação? O significado no mundo organizacional 227 Comprometimento organizacional e motivação Comprometimento organizacional hoje em dia é considerado uma grande vantagem competitiva. Nas organizações onde os empregados se mostram identificados com os valores que a empresa possui e com as ações que desenvolve, coerentes com esses valores, possuem muito mais chances de obter êxito e destacar-se no universo corporativo. O nível de motivação das pessoas será mais elevado e não dependerá so- mente de salários elevados e benefícios que são distribuídos. Quando existe um nível elevado de comprometimento, observam-se vínculos fortes que formam a base desse comprometimento. De acordo com Meyr e Allen (apud BAÍA, 2006) existem três vínculos: Vínculo afetivo � : destaque para a natureza emocional (necessidades pessoais e expectativas atendidas ou não. Gosto ou não gosto da mi- nha organização). Vínculo instrumental � : enfatiza numa avaliação dos custos associados ao sair e, portanto, envolve um cálculo de perdas e ganhos. Por exem- plo, sempre o empregado está “fazendo as contas”. O “que a organiza- ção está me dando, o que estou ganhando ou perdendo”. Vínculo normativo � : refere-se à introjeção2 por parte do indivíduo, de valores e padrões culturais da organização, ensejando o sentimento de obrigação por contribuir para a mesma. Estou ou não alinhado com os valores e princípios da organização? Se sim, a pessoa sente-se com- prometida e vem o sentimento de obrigação de ser fiel, respeitar tais valores) buscando contribuir para o sucesso da empresa. Bergamini (1997, p. 12), escreveu no seu livro Motivação nas Organizacio- nais que diante do cenário corporativo do mundo de hoje, o mundo todo e, conseguinte, as empresas brasileiras também estão vivendo um momento em que o grande desafio é, sem dúvida, conseguir dominar a mudança. Vencer esta etapa é aquilo que de melhor se pode esperar que os líderes façam por suas empresas, caso queiram ajudá-las. Como, então, manter os empregados motivados e comprometidos com tantas incertezas advindas desse mundo conturbado? 2 Refere-se a todo tipo de identificação onde o indivíduo aceita os valores de outros, suas caracte- rísticas e passa a adotá- -los. Exemplo: o garoto que se identifica com as atitudes e ideias do seu pai, procurando desen- volver padrões apropria- dos de comportamento masculino. 228 O significado no mundo organizacional Xavier (2006) inicialmente nos propõe um grande desafio: não desmoti- var os empregados, alertando-nos para inúmeros fatores, que vamos apre- sentar em seguida, que impedem que