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INTRODUÇÃO Neste livro de Jussara Hoffmann, é colocado que avaliar para promover é um título que pode inspirar várias interpretações, diferentes leituras. O termo “promoção” sempre esteve atrelado a decisões burocráticas da avaliação tradicional, significando acesso a outras séries ou graus de ensino. A intenção da autora é de resgatá-lo no seu sentido original de acesso a um patamar superior de aprendizagem. Nos últimos anos, houve conquistas importantes em termos de uma maior reflexão e de um maior número de experiências em avaliação mediadora por escolas e professores, que resultaram na diminuição da repetência e da evasão escolar no país. Há uma grande polêmica em torno da avaliação escolar, tendo a LDB (Lei de Diretrizes e Bases) contribuído para isso, no que se refere ao encaminhamento de novas regulamentações sobre a promoção dos estudantes, sugerindo a revogação das práticas classificatórias excludentes. Tendo, em conseqüência, inúmeros pareceres, resoluções e normas oficiais somando-se a LDB e provocadas múltiplas e confusas interpretações dos preceitos legais. Diante de tal polêmica, a sociedade e os professores ficam inquietos, temerosos, principalmente no que se refere às alterações em avaliação que “podem colocar em risco a educação tradicional (elitista e classificatória). Os reflexos desses esforços, embora temidos, são positivos e alentadores”. Segundo Jussara, partimos para uma mudança impulsionados pelo desejo de alterar o que não nos satisfaz. Repensar os princípios de avaliação pode ser um primeiro passo para transforma-la, porque exige discuti-la em seu conjunto: valores, organização curricular, preceitos metodológicos, visão política, comunitária. Uma reflexão conjunta sobre princípios que fundamentam a avaliação nas escolas favorece a convivência com diferentes perspectivas individuais, ampliando a compreensão coletiva sobre as dimensões do ser escola, do ser educador e do ser educando, que são fundamentos do avaliar para promover. Trabalhando intensamente com a formação de professores, a autora percebe o avanço em termos de discussão sobre esse tema, mas mudanças ainda temidas em termos das práticas, que permanecem ainda de julgamento, burocráticas em muitas instituições educacionais. Jussara mantém a percepção após vinte anos de estudos e pesquisas, que a avaliação mediadora é uma prática que não está por ser delineada, mas, hoje, com maior números de defensores, um processo a ser construído pelo diálogo, pelo encontro, pelo confronto, por pessoas em processo de humanização. Após dez anos da publicação do primeiro livro, Jussara, elabora e publica este novo texto constituído a partir de estudos e debates sobre a avaliação com muitos professores do país. Tendo a certeza que estão buscando novos recursos e que é preciso apontar- lhes algumas direções. O grande dilema encontrado é que não há como “ensinar melhores fazeres em avaliação”, sendo que esse caminho precisa ser construído por cada um de nós, pelo confronto de idéias, repensando e discutindo, em conjunto, valores princípios, metodologias. CAPÍTULO 01. Rumos da avaliação neste século. Com uma educação democrática, surgida nas últimas décadas, a atenção dos educadores, políticos e da sociedade voltou-se para a avaliação, devido a sua incompatibilidade com a mesma (educação) e a partir daí, intensificou-se as pesquisas nessa área. Tal avanço se dá, após discussões sobre uma escola que parece não dar mais conta dos problemas sociais e corre o risco de educar os alunos até mesmo para uma ultrapassada visão do presente. Na educação brasileira ocorre a preocupação em superar o viés positivista e classificatório das práticas avaliativas escolares, retomando-as em seu sentido ético, de juízo consciente de valor, de respeito às diferenças, de compromisso com a aprendizagem para todos e a formação da cidadania. Os estudiosos em avaliação deixam para trás o caminho das verdades absolutas, dos critérios objetivos, das medidas padronizadas e das estatísticas, para alertar sobre o sentido essencial dos atos avaliativos de interpretação de valor sobre o objeto da avaliação, de um agir consciente e reflexivo frente às situações avaliativas e de exercício do diálogo entre os avaliados.Tendo como diferencial básico o papel interativo do avaliador no processo, influenciando e sofrendo influências do contexto avaliado. Ao inovar suas práticas avaliativas, os professores devem estar conscientes das concepções que regem suas ações, uma vez que sua reputação está em jogo e a sociedade começa a contestar os parâmetros da avaliação educacional pela arbitrariedade e fragilidade teórica muitas vezes percebida. Os processos avaliativos tendem a adequar-se aos novos rumos, com práticas sendo repensadas pelos professores, já que não podem ficar engajados em teorias e pré-feitos metodológicos para garantir a compreensão e a tomada de consciência sobre concepções formativas e mediadoras em avaliação. A compreensão dos novos rumos exige a reflexão conjunta pelos avaliadores e todos os envolvidos, porque lhes exige retomar concepções de democracia, de cidadania, de direito a educação. À medida que os estudos apontam para o caráter interativo e intersubjetivo da avaliação, alertam também para a essencialidade do diálogo entre todos os que fazem parte desse processo, para a importância das relações interpessoais e dos projetos coletivos. Os estudiosos contemporâneos alertam sobre a diferença entre pesquisar e avaliar em educação. Enquanto a pesquisa tem por objetivo a coleta de informações, a análise e compreensão dos dados obtidos, a avaliação está predominantemente a serviço da ação, colocando o conhecimento obtido, pela observação ou investigação a serviço da melhoria da situação avaliada. Esse primeiro princípio é o mais importante de todos para se compreender as novas tendências, porque altera, radicalmente, a finalidade da avaliação em relação às práticas classificatórias, seja da aprendizagem do aluno, de um currículo ou programa. As mudanças essenciais em avaliação dizem respeito à finalidade dos procedimentos avaliativos e não, em primeiro plano, a mudanças de tais procedimentos. Em relação à aprendizagem, uma avaliação a serviço da ação não tem por objetivo a verificação e o registro de dados do desempenho escolar, mas da observação permanente das manifestações de aprendizagem para proceder a uma ação educativa que otimize os percursos individuais. A avaliação mediadora destina-se a conhecer, não apenas para compreender, mas para promover ações em benefícios aos educandos, às escolas, a universidades. O papel do avaliador, ativo em termos do processo, transforma-se no de partícipe do sucesso ou fracasso dos alunos, uma vez que os percursos individuais serão mais ou menos favorecidos a partir de suas decisões pedagógicas que dependerão, igualmente, da amplitude das observações. Pode-se pensar, a partir daí, que não é mais o aluno que deve estar preparado para a escola, mas professores e escolas é que devem preparar-se para ajustar propostas pedagógicas favorecedoras de sua aprendizagem. Avaliar para promover significa compreender a finalidade dessa prática a serviço da aprendizagem, da melhoria da ação pedagógica visando à promoção moral e intelectual dos alunos. O compromisso do professor é o de agir refletidamente, criando e recriando alternativas pedagógicas adequadas a partir da melhor observação e conhecimento de cada um dos alunos, sem perda da observação do conjunto e promovendo sempre ações interativas. Há sérios entraves em nossas escolas e universidades quanto à efetivação de uma prática avaliativa em consonância ao princípio delineado. Ainda há um enorme descompasso entre o pretendido e o realizado pela a maioria das instituições educacionais. Com as exigências da LDB (Lei de Diretrizes e Base)nº 9394/96, a maioria dos regimentos escolares são traduzidos por textos que enunciam objetivos ou propósitos de uma avaliação contínua, mas estabelecem normas classificatórias e somativa revelando a manutenção das práticas tradicionais. Também, há a enorme dificuldade de avanços no sentido da aceitação, pelos educadores e pela sociedade em geral, de preceitos estabelecidos na LDB sobre oportunidade de promoção do aluno na escola, expressa na sugestão de regimes não seriados, ciclos, programas de aceleração e outros. Tanto as normas classificatórias ainda presentes nos regimentos, quanto às críticas às novas formas de progressão escolar, revelam o caráter seletivo e burocrático que continua a prevalecer na avaliação educacional em nosso país, e também, a necessária tomada de consciência por educadores e leigos sobre os obstáculos decorrentes de uma avaliação classificatória à educação de milhares de crianças e jovens do nosso país. A excessiva preocupação de educadores e leigos com a definição de critérios, registros finais, apresentação dos resultados e outras questões de caráter burocrático da avaliação revela que os rumos que perseguem precisam ser debatidos e esclarecidos, para que todos venham a agir conscientes do reflexo de suas ações e passam promover uma avaliação a serviço da aprendizagem do aluno, da formação, da promoção da cidadania; a mobilização, a inquietude, na busca de sentido e significado para essa ação; a intenção de acompanhamento permanente, de mediação, de invenção pedagógica para a melhoria da aprendizagem; a visão ideológica, de negociação entre os envolvidos e multirreferencial (objetivos, valores, discussão interdisciplinar); o respeito à individualidade, a confiança na capacidade de todos, a interação e socialização... Avaliação mediadora se projeta e vislumbra o futuro, tendo por finalidade a evolução da aprendizagem dos educandos, não tendo por objetivo reunir informações para justificar ou explicar uma etapa da aprendizagem, mas acompanhar com atenção e seriedade todas as etapas vividas pelo estudante para ajustar estratégias pedagógicas. Para que ocorra essa avaliação, o professor deve planejar sua ação de forma plástica e flexível, para abrir-se a várias opções de rumos e tempos aos alunos de cada turma, ajustando-se objetivos e atividades permanentes, uma vez que avaliação, direciona-se para favorecer a evolução da trajetória do educando. Nos regimes seriados (séries anuais) a análise de cada série se dá isoladamente das demais e um ou mais professores responsabilizam-se pela educação do aluno sem conhecer ou ter ligações com o passado ou o futuro dele. No entanto, observa-se que o professor culpa as séries anteriores pelas dificuldades observadas nos alunos. Nesse tipo de educação é natural que a trajetória do aluno se dê de forma fragmentada ou com várias lacunas, porque a sua história não é acompanhada de perto pelo coletivo dos educadores de uma escola. Com os regimes não-seriados, tem-se a visão ao acompanhamento longitudinal dos alunos, sua progressão contínua de uma série para outra, por ciclos de formação ou por idade, respeitando ritmos e interesses individuais, perseguindo sempre a máxima aprendizagem possível de todos os alunos. Os ciclos de formação e outras formas de regimes não-seriados enfrentam muitas resistências de professores para aceitar e efetivar a mudança, pois estão acostumados com o regime anterior com testes finais e apresentação de resultados burocráticos. Outra grande dificuldade que as escolas enfrentam é a efetivação de um trabalho pedagógico que dê conta das diferenças dos alunos, pois os professores continuam a desenvolver as mesmas práticas do regime seriado, presos a currículos, não sabendo como lidar com os alunos que não acompanham suas propostas ou ritmo da maioria. Vê-se, muitas críticas aos regimes não-seriados, por parte dos professores e leigos pelas dificuldades que os alunos continuam a apresentar. No entanto o problema está na qualificação dos professores, em termos de alfabetização e pedagogias diferenciadas. Os regimes não-seriados, são alternativas válidas por quem entende desenvolvimento como sinônimo de educação e cultura para todos os cidadãos. Porém, como toda iniciativa, precisamos dar-lhe o crédito das tentativas, das inseguranças, das reconstruções. Ainda temos no regime tradicional a recuperação que é feita de forma repetitiva, voltando aos estudos do que já fora estudado, sendo realizada ao término do semestre ou ano letivo. A LDB preceitua ações paralelas (estudos paralelos de recuperação) ao longo do ano letivo, porém professores que possuem turmas numerosas não sabem como parar ou voltar a explicar a alguns ou poucos alunos que não entendem, enquanto outros esperam. Os estudos paralelos de recuperação são inerentes a uma prática avaliativa mediadora, com a intenção de subsidiar, provocar, promover a evolução dos alunos em todas as áreas do seu desenvolvimento, direcionada ao futuro. Nesse pressuposto não se trata de voltar atrás, mas de prosseguir com experiências educativas, alternativas que provoquem o estudante a refletir sobre conceitos e noções em construção. Assim a grande aventura do educador consiste em prosseguir na diversidade, valorizando a multiplicidade de caminhos percorridos pelos vários alunos, investindo na heterogeneidade ao invés de buscar a homogeneidade. Os estudos paralelos de recuperação devem ser planejados e articulados ao andamento dos estudos no cotidiano da sala de aula. Os conselhos de classe, tais como vêm sendo realizados em grande parte das escolas, sofrem severas críticas por parte de professores e supervisores, pois, tendo por objetivo a oportunidade de reunir professores, para refletirem sobre a aprendizagem dos alunos, tornaram-se sessões de julgamento, com réus e culpados. Para fugir do perigo de se resumirem à apresentação de resultados e reclamações sobre atitudes dos alunos, alternativas como a participação de alunos, pré-conselhos, pais e outras, foram criadas pela escola, aumentando o problema, pois, nesse caso, fica justificado e explicado resultado alcançado em detrimento do objetivo de buscar alternativas pedagógicas à superação (questão de ensino aprendizagem). Projetar a avaliação no futuro dos alunos significa reforçar as setas dos seus caminhos fazendo com que prossigam através de provocações significativas. A avaliação educacional, ao lidar com a complexidade do ser humano, deve orientar-se por valores morais e paradigmas científicos. Não estando fundamentado apenas, em princípios, regras e critérios de investigação científica e considerações metodológicas. Torna-se necessário recorrer a princípios de interação e relação social, numa análise ético-política das práticas e metodologias da avaliação. O compromisso de qualquer estudo avaliativo, na concepção ético-política, é o de seguir e abrir caminhos à reconstrução de uma escola onde todos os alunos tenham seus direitos respeitados. Hoje, em nosso país, devido a problemas que temos em nossas escolas, programas emergenciais estão sendo adotados embora não correspondam ao ideal de educação na concepção de educadores, de toda a sociedade. Muitos criticam essas alternativas, que mal surgiram, precocemente, sem pesquisas e estudos mais sérios, sem observa-las no seu devido tempo de ajuste e amadurecimento. São muitas as tentativas de lidar com os reflexos de uma prática avaliativa excludente, na qual o correto muitas vezes não correspondeu ao ético, o que se devia fazer não correspondeu ao que se pôde fazer. Se as medidas alternativas nem sempre correspondem aos parâmetros de qualidade ideais de ensino, elas correspondem a um sentido de justiça e ética frente à seletividade e a exclusão provocada por uma avaliação exigente em nome de uma escola eficaz e de qualidade. A diversidadede determinações em educação, a cada mudança de governo, provoca descrédito e insegurança em toda a sociedade sobre os fins perseguidos. Em avaliação não há regras gerais, pois essas caracterizadas de justiça da uniformização acarretam inúmeras injustiças, visto que, toda a situação deve ser analisada em seu contexto. Em plena consciência das finalidades em avaliação favorecerá a escolha consciente de estratégias de ação pelos educadores e não à imposição de metodologias. Uma das grandes dificuldades da escola, apontada pelos professores, é a ausência dos pais e o seu descomprometimento com questões de formação moral e aprendizagem dos filhos. Sendo esta última, definida por alguns, como não sendo responsabilidade direta da família, mas dos profissionais que atuam nas escolas, bem como em questões de relações interpessoais no ambiente escolar. Os profissionais em educação defendem o compromisso dos pais em acompanhar o processo vivido pelos filhos, dialogar com a escola e assumir o que lhes é de responsabilidade. Assim os registros de avaliação da aprendizagem não têm, da mesma forma, a finalidade de controle das famílias, nem pressupõe a sua autoria, e sim precisam ser claros e compartilhados por todos, mas a autoria desses registros é de competência dos educadores. A educação inclusiva, inserida nos programas dos últimos governos, tem sido motivos de controvérsias e procedimentos por vezes radicais. Para que educadores não transformem inclusão em exclusão, o que pode ocorrer, é necessário que se refira a cada criança, a cada jovem, inserida em um contexto único e singular de vida, e reflita sobre os benefícios e prejuízos que determinadas decisões venham representar em relação a sua auto-estima, do seu desenvolvimento, da sua dignidade. A inclusão pode representar exclusão sempre que a avaliação for para classificar e não para promover, sempre que as decisões levarem em conta parâmetros comparativos, caracterizando-se a prática da reprovação, e sem dar oportunidade de educação de forma coerente a educandos especiais. Não é suficiente oferecer-se escolas para todos, é essencial que “todos” não perca a dimensão da individualidade, e que uma vez na escola, esta ofereça a cada educando a oportunidade máxima possível de alcançar a sua cidadania plena pelo respeito e pela aprendizagem. CAPÍTULO 02. Outra Concepção de Tempo em Avaliação. Jussara fala que tempo é assunto sempre presente nas discussões sobre avaliação, e onde professores de Ensino Fundamental, Ensino Médio e Ensino Superior estão reunidos, tais discussões tornam-se mais acirradas. A maior angústia percebida é entre professores do Ensino Médio, pois, devido a sua preocupação com o “vestibular”. “Correm” contra o tempo e acabam por “atropelar” parte do programa de aula (conteúdo disciplinar). Embora o problema do tempo seja mais perceptível nas séries mais avançadas, no Ensino Médio, ele existe, também no Ensino Fundamental e Educação Infantil sendo, muitas vezes, determinante das atividades, das decisões pedagógicas, da atenção que se dá às crianças. Próximo a estarem concluindo caminhos que na verdade são inconclusos, educadores e educandos se desencontram, seguem rumos distintos, sem se conhecer, nem dialogar ou dar tempo de parar e refletir sobre a experiência educacional que ambos estão compartilhando. A avaliação enquanto mediação, significa encontrar abertura ao diálogo, interação, ocorrendo numa trajetória de conhecimento, percorrida num mesmo tempo e cenário por alunos e professores. Trajetos que apesar dos desencontros e reencontros, seguem na mesma direção. Em avaliação, não há sentido em valorizar os pontos de chegada, pois estes são para sempre pontos de passagem provisórios, sendo importante apontar os rumos do caminho, ajustar os passos ao esforço necessário, torna-lo tão “sedutor” a ponto de aguçar a curiosidade do aprendiz para o que está por vir. Os rumos da avaliação na última década apontam para a organização de experiências educativas desafiadoras, promovendo e favorecendo a evolução dos alunos, mas respeitando tempos e percursos individuais. Uma avaliação contínua irá exigir essencialmente uma outra concepção de tempo em educação, o que nos levará a perseguir novos rumos metodológicos. O processo de aprendizagem do aluno não segue percursos programados a priori pelo professor, pois é no cotidiano escolar que os alunos revelam tempos e condições necessárias ao processo. A ênfase do professor à seqüência programática do conteúdo ou à realização das atividades impede-o de ajustar o seu tempo de ensinar ao processo de conhecimento dos alunos. Muitas vezes, se tende a considerar determinados procedimentos êxitos e válidos pelo fato de terem sido cumprido conforme o previsto ou pela satisfação e envolvimento dos alunos, mas não se atenta à necessária articulação entre o que o professor ensina ou propõe e o que o aluno aprende ou deseja e necessita aprender. Vemos isso nas aulas expositivas que são muito apreciadas por crianças e adultos. Articular propostas pedagógicas ao grupo de estudantes não é tarefa tão simples, porque o tempo de envolvimento nas atividades, o tempo de aprendizagem de uma noção, a extensão d um projeto, não poderão ser estabelecidas de antemão, exigindo permanentemente ajuste de propostas, inclusão de novos recursos didáticos, preparação de tarefas adequadas ao grupo e a cada aluno. Isto provoca insegurança nos professores que tiveram a sua formação embasada no modelo de educação tradicional. O planejamento do professor é muito importante e, torna-lo flexível, não comprometerá os seus objetivos ou roteiros. “O ideal seria dedicar mais tempo a um pequeno número de situações complexas do que abordar um grande número de assuntos que devem ser percorridos rapidamente”.(Perrenoud, 1998:64). A construção de uma pedagogia nessa direção não é uma questão de métodos, que possam ser ensinados ao professor. Sua proposta precisará ser constantemente adequada as possibilidades cognitivas dos alunos e ao contexto escolar, o que lhe exigirá uma ampla fundamentação em teorias do conhecimento, maior tempo para o planejamento, para a análise das tarefas dos alunos e principalmente, apoio e orientação permanentes de supervisores e especialistas. O pressuposto de tarefas iguais para todos os alunos, de tempos de execução e ritmo de aprendizagens homogêneas e de explicações ao grande grupo ao invés de atividades diversificadas é um dos grandes entraves ao melhor entendimento dos percursos individuais e características de uma avaliação classificadora. Olhar cada aluno em seu próprio tempo e jeito de aprender e oferecer-lhe orientação e apoio pelo tempo que precisar, exige a quebra de toda essa padronização do acompanhamento do professor. O que define tal dimensão, são a intenções do educador ao propor a tarefa, bem como sua forma de proceder frente ao que nela observa. As tarefas avaliativas são pontos de passagem. A autora alerta para o fato de que, cada passo do aluno precisa ser observado no seu sentido próprio. Considerações como essa serão favorecidas pela organização do trabalho pedagógico e pela clareza acerca das finalidades de cada momento. O privilégio dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos, sugeridos pela LDB, é ainda fator de não entendimento entre muitos que trabalham em educação. Acrescenta-se às considerações anteriores, o fator complicador de compreender-se “aspectos qualitativos” como aspectos relacionados às atitudes dos alunos na escola. O caminho para a avaliação mediadora não pode ser outro senão a busca de significados para todas as dimensões da relação entre educandos e educadores através de investigação séria acerca das peculiaridades dos aprendizes e das aprendizagens. O tempo do aluno que precisa ser respeitado é o tempo de aprender e o tempode ser, e não o tempo de “aprender determinado conteúdo”. Acompanha-lo passo a passo exige conhece-lo enquanto sujeito produtor do seu conhecimento. Algumas escolas estão optando, hoje, por programas de tutoria para tentar adequar-se ao exposto acima, principalmente em classes numerosas. O processo de auto-avaliação é tido como auto-sentencivos de atitudes e relações pessoais nas escolas, sendo, após respondidos, levado ao conselho de classe para serem discutidos e serem entregue aos pais em anexo a apresentação dos registros de desempenho final dos filhos. Nas universidades, chega-se ao excesso dos estudantes responderem, autonomamente, pela sua aprendizagem, atribuindo-se conceitos e graus que são aceitos incondicionalmente pelos professores, para não serem considerados autoritários. Um processo de auto-avaliação só tem significado enquanto reflexões do educando, tomada de consciência individual sobre suas aprendizagens e condutas cotidianas, de forma natural e espontânea, como aspecto intrínseco ao seu desenvolvimento e para ampliar o âmbito de suas possibilidades iniciais, favorecendo a sua superação em termos intelectuais. Este processo reflexivo se desenvolve no cotidiano da sala de aula pelo exercício do aluno de pensar sobre o seu pensamento, pensar sobre suas atitudes e analisar criticamente idéias definidas contemplando-as e enriquecendo-as. Cabe ao professor desafiar os alunos na realização da auto-avaliação para que esta seja altamente favorável, provocando-os a refletir sobre o que está fazendo, retomar passo a passo seus processos, tomar consciência das estratégias de pensamento utilizadas. Ao promover tais ações e desafiar os estudantes a refletir, o professor também estará refletindo sobre processos didáticos, sobre a adequação de suas perguntas, críticas, comentários, tomando consciência sobre o seu pensar e o seu fazer, num processo igualmente de auto-avaliação. Da mesma forma que os alunos, os professores expressam a sua tomada de consciência sobre a necessidade de orientação e apoio de colegas, supervisores, especialistas para o melhor desenvolvimento de suas atividades educativas. CAPÍTULO 03. As Múltiplas Dimensões do Olhar Avaliativo. Segundo a autora, discute-se avaliação focalizando apenas uma pequena parte da totalidade sem prestar atenção no que lhe dá fundamento. É preciso um olhar profundo às múltiplas dimensões de aprendizagem que lhe constituem base. As discussões existentes centram-se em instrumentos e metodologias, sem refletir sobre educação e sociedade. Avaliação é sinônimo de controle. Controla-se via avaliação educacional, a qualidade da ação da sociedade, do poder público, do professor, do aluno,... O que se coloca em questão, não é a natureza desse controle e sim o benefício ou prejuízo social que se pode acarretar à partir dos princípios éticos-políticos que lhe dão sustentação. O controle é inerente a qualquer processo avaliativo que suscite a tomada de decisões sobre a vida de um indivíduo. Assim, também, ao corpo docente de uma escola são conferidas decisões referentes aos alunos, decisões de promoções, de certificação pelo sistema educacional. Diante de uma avaliação classificatória, resta saber qual o sentido da avaliação em sua essência humana, tomando consciência da finalidade dos processos avaliativos que, dependendo dos princípios em que se fundam, são exercidos a favor ou contra o educando. Quando o controle é feito por olhares atentos, com afeto, diálogo constante, feito pelos pais, por exemplo, resulta em respeito, em companheirismo. Esse controle é a favor do educando, é para o crescimento, desenvolvimento. Quando se controla para julgar, olhando, registrando com sentido de aprovar/ reprovar, geralmente faz-se pela análise superficial das respostas e manifestações dos estudantes, este controle é contra o educando. Ao definir os objetivos está se delineando o norte, o destino essencial das ações educativas, no seu sentido mais amplo, constituindo, sempre, uma educação a favor do educando. Autoritarismo em avaliação é, por demais, decorrente do julgamento de condutas e atitude dos alunos, irrefletivamente, a partir de parâmetros pessoais, subjetivos, à revelia de valores e princípios declarados por instituições de ensino. As fragilidades do processo avaliativo ocorrem, justamente, por conta da complexidade inerente ao ser humano. Avaliar para promover cada um dos alunos é um grande compromisso que exige observação longitudinal do processo, através de procedimentos diversificados de análise, da promoção de situações complexas de aprendizagem, encadeadas e sucessivas, além da reflexão acerca das múltiplas dimensões que encerram cada resposta ou manifestação de um aluno. Em avaliação mediadora, quando um aluno revela que ainda não compreende uma noção, ou que desenvolve outras estratégias de raciocínio para responde- la, essa situação é tomada como ponto de partida para a reflexão-ação do professor e resultará em novas alternativas didáticas. A percepção da diversidade de análises que suscitam diferentes situações de aprendizagem é um aspecto essencial no ajuste das intervenções pedagógicas. Têm-se discutido muito sobre interdisciplinaridade e temas transversais, mas a análise do desenvolvimento do aluno ainda se dá de forma fragmentada. O aluno e o professor precisam de tempo para desenvolver conhecimentos mais profundos acerca de um tema, o que proporcionará uma melhoria da aprendizagem do aluno, para além da divisão disciplinar. O processo vivido pelos alunos, interesses, avanços e necessidades, são referências da continuidade da ação pedagógica. A intervenção pedagógica do professor será mais significativa e consistente a medida que ele questionar, permanentemente, sobre os alunos, procurando ampliar e completar seu entendimento sobre a trajetória percorrida por cada um e por todo o grupo, para que promova ação educativa necessária às situações que a aprendizagem acarreta. CAPÍTULO 04. Avaliação e Mediação. Na concepção da autora quando se desenvolve um processo mediador de avaliação não há como prever todos os passos e tempos desse processo, pois, as condições e ritmos diferenciados de aprendizagem irão lhe conferir uma dinâmica própria. Novas concepções de aprendizagem propõem fundamentalmente situações de busca contínua de novos conhecimentos, questionamento e crítica sobre as idéias em discussão, complementação através da leitura de diferentes portadores de texto, mobilização dos conhecimentos em variadas situações problema, expressão diversificada do pensamento do aprendiz. A dinâmica da avaliação, nessa perspectiva, é complexa e multidimensional. A relação pedagógica é constituída por um conjunto de percepções, de representações das pessoas que convivem no espaço de aprendizagem (educador e educando), num determinado momento. Podemos pensar na avaliação mediadora como um processo de permanente troca de mensagens e de significados, um processo interativo, dialógico, espaço de encontro e de confronto de idéias entre educador e educando em busca de patamares qualitativamente superiores de saber. “A mediação se produz, em primeiro lugar, fora do aluno, por meio dos agentes culturais que atuam como mediadores externos ao resumir, valorizar e interpretar a informação a transmitir. O aluno capta e interioriza a informação relacionando-a e interpretando-a mediante a utilização de estratégias de pensamento que atuam como mediadores internos. (in Minguet, 1998:117). Na visão dialética, a mediação se dá pela antítese, pelo confronto, que ocorre na relação entre o sujeito e o objeto do conhecimento. Ao interagir com o objeto, o sujeito recria o seu pensamento, isto na percepção de Piaget. O cenário da relação entre professores e alunos, portanto, é constituído por diferentes dimensões de diálogo. Cada uma das ações contidasnessas dimensões pode desencadear diferentes reações, atitudes de receptividade ou de divergência nos alunos. A dinâmica da avaliação é complexa, pois necessita ajustar-se aos percursos individuais de aprendizagem que se dão no coletivo e, portanto, em múltiplas e diferenciadas direções. Cada momento do aprendiz representa uma possibilidade aberta pelos momentos anteriores vividos e, condição indispensável da formação dos seguintes, só sendo possível pela ação do sujeito sobre o objeto e pela interação social. Os percursos de aprendizagem são individuais e as propostas de aprendizagem desencadearão diferentes configurações para cada estudante, provocando cruzamento dos ciclos, o que torna mais complexa a avaliação do professor. O compromisso do professor é de avaliar permanentemente, mas é diversa a natureza da sua intervenção a cada momento do processo, com ações diferenciadas e ajustadas à dinâmica da aprendizagem de cada um e do grupo. Os teóricos do conhecimento são unânimes ao afirmar que, para promover a aprendizagem significativa, se deve partir das concepções espontâneas dos alunos, para que os conhecimentos novos estejam relacionados às estruturas cognitivas que o aluno já possui. Práticas tradicionais de sondagem-diagnóstico e a própria expressão avaliação diagnóstica revelam, muitas vezes, ações que se destinam a agrupar alunos por graus de dificuldade em relação as expectativas iniciais dos professores de uma série. Pretende-se deixar claro, nesse texto, que tais práticas não condizem com o tema “mediando a mobilização”, pois a autora considera o termo diagnóstico limitador e contraditório uma vez que tende a ser interpretado como uma ação que deve ocorrer em momentos iniciais e definidos do processo escolar. O processo avaliativo não pode ser determinado em etapas, início, meio e fim – pois, no seu sentido dialético, se constituem por momentos contínuos e simultâneos de mobilização. Mediar a mobilização exigirá do professor, manter-se flexível, atento, critico sobre o seu planejamento quanto à aprendizagem dos alunos. A finalidade da avaliação, no sentido da mobilização, representa essencialmente, adequar novas propostas e situações-problema suscitados às necessidades e possibilidades dos alunos, de forma que tenham condições de se engajar na busca de novos conhecimentos porque lhe são significativos, ou seja, então, de certa forma, relacionado ao que já conhece e/ou representam desafios possíveis de serem enfrentados em termos de suas estruturas cognitivas. Os conhecimentos prévios formam-se a partir de concepções espontâneas intuitivas acerca de situações e fenômenos da vida cotidiana, de representações sociais transmitidas culturalmente e à partir de analogias. Cada aluno irá expressar concepções prévias em tempos e jeitos diferentes, exigindo dos professores um mapeamento de natureza bastante complexa e uma atitude de investigação científica constante. Valorizar concepções prévias não significa aceita-las como “respostas lógicas e interessantes dos alunos”, mas reconhece-las para explicá-las, para confrontá-las com as hipóteses científicas, de forma a trabalhar, intensivamente, no sentido de mudanças conceituais. Em relação às condições prévias, mediar a mobilização significa abrir espaço para o encontro professor/aluno, alunos/alunos em sala de aula. O professor não deve estar atento as concepções prévias dos alunos apenas ao introduzir uma noção nova, e sim a todo momento, pois elas estarão sendo expressas pelos educandos. Algumas tarefas poderão ser organizadas intencionalmente para tal análise. A análise de concepções prévias, enquanto ponto real de partida para o planejamento e replanejamento do professor, só encontra sentido em termos de análise do conjunto de aprendizagem do educando e jamais do viés classificatório. A prática classificatória pareceu, por um longo tempo, dar conta facilmente da questão avaliativa, mas a escola vem sentindo a necessidade de mudar pela expressão contundente da insatisfação estudantil, muito mais do que pelos estudos teóricos do que, leis ou outras influências. O autoritarismo em avaliação está em se exigir respostas preestabelecidas, em determinar-se o tempo previsto para as construções individuais em corrigir respostas que estão em construção, tem outras posturas de igual natureza, e não em fazer-se exigências acadêmicas. “O professor “facilitador” não é o quem facilita as coisas, mas quem orienta o processo reconstrutivo, tendo no aluno a figura central”. (Demo, 2000:33). A construção do conhecimento é de natureza única e singular, mas ocorre, interativamente, e pela mediação do outro, pela socialização. A otimização do espaço de aprendizagem é de natureza avaliativa, pois é compromisso do professor organizar atividades graduais adequadas ao interesse e possibilidades do grupo, bem como prestar ajuda a cada um dos alunos, ajustando suas intervenções ao progresso e obstáculos individuais. ) As atividades só podem ser analisadas, no que se refere ao conhecimento construído pelo aluno, no conjunto de atitudes e respostas que se sucedem por períodos mais longos de aprendizagem. É essencial que se conceba o processo como processo, e não sempre visando à verificação de aprendizagens finais. Propor tarefas que suscitem diversas formas de representação do conhecimento contribui para a maior tomada de consciência pelo aprendiz das idéias em construção, pois exige novas possibilidades de reorganização de conhecimentos internalizados. O auxílio do professor em todos os momentos é louvável, mas escola é sinônimo de socialização, de convívio, de troca. O conhecimento que o aluno constrói, em sua interação com o mundo, não é uma simples cópia desse mundo. A realidade aprendida por ele é uma representação da realidade objetiva que ele internaliza, ajustando-a e transformando-a á partir de sua realidade pessoal. Assim, o que ele diz ou escreve é representação do seu pensamento, e não o próprio pensamento. Além da questão da expressão individual do conhecimento, os conceitos construídos pelo aprendiz acompanham a própria dinâmica do processo de aprendizagem e estão em permanente evolução. Avaliar as respostas construídas pelos alunos acarreta a reflexão sobre a interpretação das condições oferecidas para se obter determinada qualidade e/ou dimensão de respostas. Para acompanhar cada aluno, é iniludível a necessidade da oportunização de muitas tarefas, menores, gradativas e analisadas imediatamente pelo professor. O conjunto dos instrumentos analisados favorecerá uma visão processual e complementar dos conhecimentos expressos pelos alunos. Se bem articulados atuarão como instrumentos avaliativos mediadores da construção de sentido, pelo educador, sobre a evolução do aprendiz. Duas questões importantes quanto a expressão de conhecimento pelo estudante, é a apreciação dos seus valores culturais e lingüísticos e a valorização de sua expressão de forma independente e original. Aprendemos e sentimos muito mais e de jeito diferente do que o expressamos. Assim, é preciso analisar as manifestações do aluno absorvendo as dimensões da interpretação dos seus entendimentos e da forma de expressão de tais entendimentos, direcionando o trabalho pedagógico para esse fim. “Analisar a relação como saber é estudar o sujeito confrontado à obrigação de aprender, em um mundo que ele partilha com outros: a relação com o saber é relação com o mundo, relação consigo mesmo, relação com os outros. Analisar a relação com o saber é analisar uma relação simbólica, ativa e temporal”. (Charlot, 2000:79). Todo estudante é capaz de analisar suas condições de aprendizagem, pois, ele cria expectativas e as reconhece quando criadas sobre ele. Para que o aluno seja orientado a um padrão reflexivo de análise de seus processos e tarefas de aprendizagem, é precisoque o educador reflita sobre as mensagens que emite, sobre o diálogo que estabelece com o educando. Práticas de auto-avaliação na perspectiva mediadora tem por finalidade a evolução do aluno em termos de uma postura reflexiva sobre o que aprende, as estratégias de que se utiliza e sobre a sua interação com os outros. Tais práticas não se reduzem à processos de autocontrole de condutas em momentos determinados por professores ou escolas. Quando o professor estabelece uma relação de confiança com o estudante e roca com ele mensagens pertinentes e significativas sobre seus processos, os primeiros passos estão dados na direção de uma postura reflexiva de ambos. Em sua essência um educador reflexivo é mediador de uma educação reflexiva, à medida que compartilha com o aluno sentimentos e descobertas, enfrenta com ele dúvidas e obstáculos, sugere e acata sugestões de novas direções. Não apenas aponta a direção aos alunos, mas também, acompanha-os em seus percursos vivendo a magia do inesperado. CAPÍTULO 05. Registros em Avaliação Mediadora. Registros em avaliação são dados de uma história vivida por educadores com os educandos. Ao acompanhar vários alunos, em diferentes momentos da aprendizagem, é preciso registrar o que se observa de significativo como um recurso de memória diante da diversidade e um “exercício de prestar atenção ao processo”. Tais registros, devem se constituir em dados descritivos, analíticos sobre aspectos qualitativos observados, pois dados quantitativos não permitem analisar em que aspectos o aluno evolui, de que estratégias se utiliza e outras questões de igual significado em termos de sua aprendizagem. As anotações do professor precisam contemplar referências significativas sobre a singularidade de cada aluno: sua estratégias de raciocínio na resolução de problemas, modos de ser e de agir em sala de aula, comentários e perguntas em diferentes momentos de aprendizagem e a sua evolução na compreensão das noções. A elaboração e o uso dos instrumentos de avaliação revelam, portanto, concepções metodológicas que evoluem com a evolução dos métodos. Assim, não aceitam mais os estudiosos em avaliação que se possa acompanhar e analisar processos de aprendizagem através de registros classificatórios, como graus numéricos, fichas de comportamento, pareceres roteirizados, ou que se possa interpretar as idéias construídas pelo aluno apenas por provas objetivas e corrigidas por gabarito. Essa questão é bastante complexa em educação, porque o professor é, ao mesmo tempo, quem planeja e quem se utiliza do instrumento de avaliação elaborado. E, portanto, se ele não evoluir em suas concepções, não irá reformula-lo. Existem critérios de qualidade que não podem ser expressos ao aluno, porque ele não irá entende-los até que os alcance. Conforme diz Schön (2000), não se pode antecipar ao estudante objetivos e competências a serem alcançadas, que ele só poderá descobrir em ação-reflexão-ação. Isso se dá ao longo do tempo, através de um conjunto de procedimentos e reflexões, da continuidade do trabalho pedagógico. Critérios de avaliação podem, por outro lado, serem entendidos por orientações didáticas de execução de uma tarefa, por seus aspectos formais, o que é bastante grave, pois a observação do professor pode centrar-se na análise de tais aspectos. É necessário ressaltar que, numa visão mediadora, não existe a preocupação com critérios precisos e definidos, porque o instrumento de avaliação representa um ponto de partida, um questionamento que se faz à espreita de muitas respostas inéditas, diferentes, imprevistas. Tarefas avaliativas, numa visão mediadora, são planejadas tendo como referência principal a sua finalidade, a clareza de intenções do professor sobre o uso que fará dos seus resultados, muito mais do que embasadas em normas de elaboração. Apesar que vemos muitas tarefas que são elaboradas pelos professores a partir de intenções pouco claras, bem como corrigidas por critérios aleatórios, vagos e comparativos. Testes e tarefas são instrumentos de avaliação, planejados e elaborados pelos professores pra poderem acompanhar a expressão dos sentidos construídos pelos alunos. Como tais, precisam ser coerentes às concepções defendidas, no sentido de favorecerem uma análise qualitativa. Para tanto, deve ser feito com orientações compatíveis a uma visão mediadora. Comumente, são usados pelo professor, nos testes, os itens objetivos e de dissertação. O item de dissertação recebe o seu nome da maneira como responde o examinado; implica uma resposta escrita cujo tamanho é variado. O termo objetivo refere-se mais ao processo de correção do que à maneira como é dada a resposta; são construídas de modo que se possa corrigi-las observando uma única palavra ou frase ou notando qual de várias respostas possíveis foi escolhida. Quando adequadamente usado, o teste de dissertação auxilia significativamente no acompanhamento do progresso do estudante, mas é necessário que se conheça suas características. Ao escrever cada item, de questões objetivas, o professor deve colocar-se na posição do aluno e fazer a si mesmo as perguntas, conhecer processos vividos pelo grupo, utilizando-se da clareza acerca das noções e dos objetivos que estão sendo investigados. A finalidade das questões de escolha única ou de lacunas é, a de investigar o conhecimento de fatos específicos. Não são apropriados à análise da compreensão do aluno de conhecimentos complexos, embora, muito utilizados pelos professores. Questões certo-errado ou falso-verdadeiro, são freqüentemente usadas por professores em várias instâncias educativas, por pensarem que pode ser escrita com rapidez e analisada com facilidade. No entanto, a construção de uma questão certo-errado exige muita atenção devido a ambigüidades e aos decorrentes problemas de entendimentos causados aos alunos. De todas as formas de itens objetivos, a mais flexível e significativa em termos da interpretação do professor é a de escolha múltipla, pois permite a análise da compreensão do estudante sobre noções complexas em várias dimensões. São mais utilizadas por professores do Ensino Médio e Ensino Superior, pois sua formulação exige grande domínio da noção investigada por quem a elabora. Questão combinada ou de acasalamento é, em realidade, uma questão de escolha múltipla. Consiste ela em vários itens de escolha múltipla, geralmente chamados premissas, e numa lista de respostas alternativas comuns a todas as premissas. Esta forma de questão tem se mostrado útil em caso nos quais se deseja testar o conhecimento das relações entre um conjunto de objetos e outro. A análise conjunta de tarefas e testes por professores de uma determinada série, disciplina, curso é de grande apreciação quando realizada pelos alunos. É preciso refletir sobre a interpretação destes instrumentos e os encaminhamentos pedagógicos posteriores, para além de sua elaboração. Dossiês do aluno, portfólios, relatórios de avaliação, são nomenclaturas que se referem, no seu sentido básico, à organização de uma coletânea de registros sobre aprendizagens do aluno que favoreçam ao professor, aos próprios alunos e às famílias uma visão evolutiva do processo. Dossiês/portfólios tornam-se instrumentos mediadores à medida que contribuem para entender o processo do aluno e apontar ao professor novos rumos. Anotações, comentários e todas as expressões de natureza qualitativa do professor contribuem para uma outra dimensão da comunicação entre educador e educando e entre todos os envolvidos no contexto avaliativo. O professor que não realiza tal acompanhamento, não tem elementos para configurar registros finais qualitativos e significativos. Não basta mudar a forma dos registros, é preciso ressignificar a prática avaliativa nas escolas. Mudar as formas dos registros sobre as aprendizagens dos alunosnão significa evoluir quanto aos processos avaliativos, porque os registros expressam idéias e concepções e estas é que precisam ser repensadas para que se alterem as práticas educacionais verdadeiramente. Nada, em avaliação, seve como regra geral, ou vale para todas as situações, em termos de procedimentos. Por isso, precisamos construir princípios atrelados aos valores éticos e à nossa sensibilidade, que nos permitam sempre seguir na direção do que é mais justo para cada aluno, para cada professor, para cada contexto educacional.
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