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CIÊNCIAS DA
NATUREZA
C
CIÊNCIAS
HUMANAS
HL
LINGUAGENS
E CÓDIGOS
C M
MATEMÁTICA
T
REGIONAL SUL
História e Geografia
PR
SC
RS
Alessandra Alves e Alexandre Rocha J. Maluf
SUMÁRIO
Reg onal Sul
História
Geografia 5
CIÊNCIAS HUMANAS
e suas tecnologiasC H
HISTÓRIA
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HISTÓRIA DO PARANÁ
IMIGRAÇÃO
O Paraná era habitado pelos índios tupi-guaranis e caingangues. Em 1610, os portugueses, à procura de ouro, 
fundaram Paranaguá, que, em 1648, se tornou vila, por Gabriel de Lara. Curitiba foi povoada por Baltazar Carrasco 
dos Reis e foi elevada à vila, em 29 de março de 1693. Na época, só havia uma estrada usada pelos tropeiros, com 
alguns pontos de pouso, em suas viagens em direção a São Paulo. 
Nesses lugares de pouso (no segundo planalto), surgiram cidades como Lapa, Castro e Ponta Grossa.
O terceiro planalto foi parcialmente explorado por Afonso Botelho – Guarapuava, fundada em 1818, e Palmas, 
em 1840. Na mesorregião do Norte Pioneiro, Wenceslau Braz fundou Jacarézinho, colonizada por paulistas e mineiros. 
O norte do Paraná, pela Cia de Terras Norte do Paraná, com a fundação de Londrina, pelo inglês Lord Lovat. 
 
Maringá e o oeste foram colonizados pela Indús-
tria Madeireira Rio Paraná S/A. Maripá, em 1946, era de 
propriedade de alemães e italianos que vendiam lotes ru-
rais e urbanos e fizeram o efetivo povoamento da região. 
Não se pode falar em colonização do Paraná, sem 
falar nos imigrantes. Depois dos portugueses e espanhóis, 
os alemães se estabeleceram no Paraná. Isso ocorreu em 
1829, no atual município de Rio Negro, que foi a primeira 
colônia alemã no Estado. O Paraná é um Estado com gran-
de diversidade étnica, constituído por imigrantes alemães, 
japoneses, poloneses, ucranianos, italianos, espanhóis, en-
tre outros, que ajudaram a construir a riqueza da nação 
brasileira. 
Entre 1853 e 1886, o Paraná recebeu cerca de 
20 mil imigrantes. Marechal Cândido Rondon recebeu 
grande número de imigrantes alemães. Sua cultura se 
reflete nas fachadas das casas, na culinária e no fenóti-
po de seus habitantes, além de ser considerada a cidade 
mais alemã do Paraná. As cidades de Rolândia, Cam-
bé, Teófilo Otoni, Guaraqueçaba, Castro, Curitiba, Irati, 
Ponta Grossa, Guarapuava e algumas outras receberam 
imigrantes alemães. 
 
Cidade de Marechal Cândido Rondon
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Em 1860, começaram a chegar os imigrantes 
italianos, poloneses, ucranianos, japoneses e neerlande-
ses. Os poloneses se fixaram mais na região de Curitiba, 
Araucária e Irati, com seus carroções de toldo. Os ita-
lianos, na região de Colombo e Santa Felicidade, eram 
agricultores e comerciantes e ficaram famosos por sua 
culinária. Os alemães, em Rio Negro, Rolândia e Cambé, 
se destacaram na agricultura e na indústria. Os japone-
ses fizeram suas colônias em Assaí, Uraí, Bandeirantes e 
Londrina, e ficaram famosos pela horticultura. Os ucra-
nianos, em Ponta Grossa e Cruz Machado, destacaram-
-se na agricultura e artesanato. Já os neerlandeses se fi-
xaram na região de Castro, Ponta Grossa e Guarapuava, 
destacando-se na indústria de laticínios. Todos contri-
buíram para o desenvolvimento e progresso do Paraná. 
Portanto, as colônias de imigrantes é que deram 
origem às cidades. Castro, por exemplo, foi colonizada 
por imigrantes alemães, holandeses, ucranianos, polo-
neses e japoneses. Embora seja diversificada em relação 
às etnias, há grande respeito à cultura dos outros. O 
museu do imigrante tem o sexto maior moinho do mun-
do, que foi construído na Holanda. Na colônia de Terra 
Nova, pode-se apreciar a culinária alemã. 
No outro extremo, no norte do Paraná, a colô-
nia japonesa deu origem à cidade de Assaí. A palavra 
vem de assahi, que significa “sol nascente“. Também 
as cidades de Uraí e Bandeirantes, e mesmo a grande 
Londrina, têm grande concentração de japoneses. 
Esses povos, com culturas tão diferentes e em 
convívio harmonioso, com suas colônias em regime de 
pequenas propriedades, fizeram a grandeza do Paraná. 
Suas diferenças só vieram acrescentar na formação cul-
tural do Estado. 
O CONTESTADO (1912-1916)
A Guerra do Contestado resultou de um pro-
cesso semelhante ao de Canudos. Ocorreu na divisa 
do Paraná com Santa Catarina, durante os governos de 
Hermes da Fonseca e de Venceslau Brás.
Região do Contestado
A área onde se formou a comunidade era dis-
putada pelos governos dos dois Estados. Ambos não 
escondiam seus interesses pela exploração da madeira 
e da erva-mate.
A concessão pelo governo da construção de uma 
estrada de ferro ligando São Paulo ao Rio Grande do 
Sul contribuiu para o aquecimento das tensões na re-
gião. Tal medida desapropriou uma larga faixa de terra e 
atraiu um contingente significativo de gente para suprir 
a necessidade de mão de obra. Posseiros e pequenos 
fazendeiros, que viviam da exploração da terra e da ma-
deira na região, acabaram sendo expulsos.
Com o fim das obras da estrada de ferro, o con-
tingente de desempregados em condições precárias 
criou um cenário ideal para a difusão de ideais messiâ-
nicos. Foi quando apareceu o líder José Maria – mais 
tarde, as autoridades descobriram que seu nome era 
falso. Aproveitando-se da presença de monges missio-
nários na região, José Maria se apropriou do nome de 
um deles.
Camponeses expropriados de suas terras e de-
sempregados dispuseram-se a seguir José Maria e a 
formar uma comunidade, que, àquela altura, era a úni-
ca alternativa de vida para eles. Dia a dia, a população 
crescia não sem a preocupação das lideranças políticas 
e religiosas locais e as associações com Canudos. A re-
ação do governo federal, das elites e da própria Igreja 
não tardou. Urgia uma intervenção imediata no local.
Várias campanhas de combate foram organiza-
das pelas autoridades contra o “antro de fanáticos”. 
Exército e polícias estaduais foram derrotados. Temia-
-se a repetição de Canudos. No início de 1914, sob o 
comando do general Setembrino de Carvalho, seis mil 
soldados, que contavam com artilharia, atacaram os 
crentes. A resistência deles só foi debelada em 1916.
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HISTÓRIA DE SANTA CATARINA
EXPEDIÇÕES EXPLORADORAS 
AO LITORAL CATARINENSE
Os portos naturais, como os de São Francisco 
e ilha de Santa Catarina, tornaram a região parada 
obrigatória para os navios que viajavam pelo Atlânti-
co sul. Navegadores de várias nacionalidades por aqui 
passaram. Alguns náufragos e desertores acabaram por 
permanecer entre os indígenas que habitavam a ilha 
de Santa Catarina e o litoral fronteiro, facilitando o re-
conhecimento da região e o abastecimento de outras 
embarcações. O primeiro europeu a aportar em terras 
catarinenses (São Francisco do Sul) foi Binot Palmier de 
Gonnonville, em 1504. A partir de então, várias expedi-
ções chegaram a Santa Catarina:
 Juan Dias de Solis (1516) – naufragou quando 
voltava de viagem ao Prata. Onze náufragos des-
ta expedição foram bem recebidos pelos índios 
carijós e iniciaram com eles uma intensa misci-
genação.
 D. Rodrigo de Acuña (1525) – deixou 17 tripu-
lantes na ilha, onde se fixaram voluntariamente.
 Sebastião Caboto (1526) – deu à ilha o nome de 
Santa Catarina.
 Alvar Nuñez Cabeza de Vaca (1541) – chegou 
como governador da região do Prata, que então 
se estendia até o litoral catarinense.
POVOAMENTO VICENTISTA
Os portos de São Francisco, ilha de Santa Ca-
tarina e Laguna eram importantes porque abasteciam 
com água os navios que iam para o rio da Prata ou para 
o oceano Pacífico através do estreito de Magalhães. 
Portugal, que já manifestara interesse em fundar uma 
colônia na margem esquerda do rio da Prata, começou 
a encarar com muito interesse e cuidado a preserva-
ção da ilha de Santa Catarina. A primeira povoação da 
capitania de Sant’Ana se deu onde hoje é a cidade de 
São Francisco do Sul. Foi fundada em 1658, por Manoel 
Lourenço de Andrade, que se estabeleceu e a denomi-
nou Nossa Senhora das Graças do Rio de São Francis-
co. Manoel Lourenço veio com familiarese agregados, 
trazendo gado, ferramentas e instrumental agrícola. 
Distribuiu terras e reservou para si as mais próximas à 
povoação. Em 1673, foi Francisco Dias Velho que se fi-
xou com os filhos, criados e escravos na ilha de Santa 
Catarina, fundando Nossa Senhora do Desterro, atual 
Florianópolis. 
Porto de São Francisco do Sul, SC
A fundação de Dias Velho não durou muito. Em 
1687, apareceu, na enseada de Canasvieiras, um na-
vio inglês carecendo de reparos. Dias Velho prendeu os 
piratas e o barco, enviando homens e cargas para São 
Vicente, onde foram libertados. Dois anos depois, vol-
taram à ilha de Santa Catarina e atacaram o povoado 
de Nossa Senhora do Desterro. Dias Velho foi preso e 
depois assassinado. Após este fato, foi deixada ao aban-
dono e com poucos moradores a povoação do Desterro. 
A fundação da colônia de Sacramento, em 1680, real-
çou a importância dos núcleos catarinenses. Para dar 
apoio logístico a Sacramento, o vicentista Antônio Brito 
Peixoto fundou, em 1684, a vila de Santo Antônio dos 
Anjos de Laguna.
CAPITANIA REAL DE 
SANTA CATARINA
A Capitania de Santa Catarina nasceu com o ob-
jetivo de ser uma base de apoio aos enfrentamentos 
militares contra os espanhóis. Estes viam Sacramento 
como uma ameaça ao monopólio sobre a boca do rio 
da Prata, que funcionava como uma porta de extrema 
importância para mais da metade de suas colônias da 
América do Sul. O brigadeiro José da Silva Paes foi esco-
lhido para ser seu primeiro governante. Santa Catarina 
passou a ser, oficialmente, a partir de 1739, o posto 
mais avançado da soberania portuguesa na América do 
Sul.
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FORTIFICAÇÃO DA ILHA DE SANTA CATARINA
D. João V, rei de Portugal, em 1738, incumbiu Silva Paes de fortificar os pontos estratégicos da ilha. Sob a 
orientação de Silva Paes e seguindo seus próprios planos, teve início a construção das primeiras fortalezas da ilha. 
O brigadeiro planejou um sistema de fortificações permanentes que, apesar dos bons objetivos e da monumen-
talidade, não conseguia defender as entradas das barras do norte e do sul da ilha. Entretanto, historicamente, o 
sistema acabou se constituindo no maior conjunto arquitetônico militar do sul do Brasil. A vila de Nossa Senhora 
do Desterro tinha muitas praias e excelentes baías, fáceis de aportar. Foram escolhidos três locais ao norte que vi-
savam impedir a entrada de invasores pela baía e, consequentemente, aos portos naturais ali existentes. São então: 
a fortaleza de Santa Cruz (1739), na ilha de Anhatomirim; a fortaleza de São José da Ponta Grossa (1740), ao norte 
da ilha de Santa Catarina; e a fortaleza de Santo Antônio (1740), na ilha de Ratones Grande. 
Para defender a entrada da baía sul, construiu-se a fortaleza de Nossa Senhora da Conceição (1742), na 
ilha de Araçatuba. Nas décadas seguintes, alguns fortes de menores proporções foram erguidos mais próximos ao 
centro da vila do Desterro: Santana, São Luiz, São Francisco Xavier, Santa Bárbara, São João, Lagoa e Bateria de São 
Caetano. No início do século XX, foi construída a última fortificação catarinense: o forte de Naufragados. Apesar da 
excelente situação estratégica dessas obras, o material bélico existente em cada uma delas estava aquém das ne-
cessidades. Haveria também a necessidade de tropas para guarnecer estas fortalezas e criou-se um batalhão, mais 
tarde transformado em regimento – o regimento de infantaria da ilha de Santa Catarina – e, ainda, dada a fraca 
densidade populacional da região, haveria a necessidade de braços para prover o sustento, produzindo alimentos, 
bem como para preencher os claros na tropa: daí a proposta do povoamento açoriano.
COLONIZAÇÃO AÇORIANA
O governo português, percebendo a necessidade de não perder as terras para outras nações, como a Es-
panha, e também proteger militarmente o litoral brasileiro, começou o processo de colonização da ilha de Santa 
Catarina, estabelecendo a ideia de posse, ou seja, o Brasil deveria ser povoado para estabelecer o direito aos 
portugueses de donos da terra, definitivamente. A necessidade de defesa só poderia apresentar bons resultados, se 
houvesse um povoamento no litoral catarinense. Foi oferecida uma série de incentivos aos açorianos e madeirenses 
para ocupar a colônia. Os açorianos se situaram na vila de Nossa Senhora do Desterro e seus arredores, fundaram 
as freguesias de Nossa Senhora da Conceição da Lagoa, São Miguel da Terra Firme, Nossa Senhora do Rosário da 
Enseada de Brito, São José da Terra Firme, Santana da Vila Nova, Nossa Senhora das Necessidades, São Antônio de 
Lisboa e Nossa Senhora da Lapa do 
Ribeirão da Ilha. 
As freguesias apresentam, 
até nossos dias, a arquitetura das 
construções, propriedades, sistema 
econômico, tradições e folclore bem 
parecidos com o período colonial. A 
sede de colonos na nova capitania 
coincidiu com a crise de superpopu-
lação nos Açores e Madeira. Houve 
um movimento espontâneo de vinda 
para o Brasil. Resolveu então o Con-
selho Ultramarino realizar a maior 
migração sistemática de nossa histó-
ria. Em várias viagens, foram trans-
portados cerca de 4,5 mil colonos. 
Ilha de Santa Catarina
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Deu-lhes boa acolhida o governador Manuel Escudeiro, sucessor do brigadeiro Paes. Mas nem todas as promessas 
da administração colonial podiam ser cumpridas, por falta de recursos. Além disso, nem todos os imigrantes, entre 
os quais muitos nobres, estavam dispostos a dedicar-se à agricultura ou aos ofícios mecânicos, em obediência 
às ordens régias que tinham o propósito de evitar a entrada de escravos. Outro problema era o da localização. 
Recomendava a metrópole que os colonos não se concentrassem na ilha, mas formassem, também, núcleos no 
litoral, sob normas urbanísticas, insistindo ainda que casais se encaminhassem para o Rio Grande do Sul. Essas de-
terminações que, apesar das dificuldades, foram sendo cumpridas, levaram a migração açoriana até o extremo sul 
do Brasil, implantando as características do seu tronco racial: fortaleza de ânimo, simplicidade e vivacidade. E aos 
seus descendentes transmitiram modismos, hábitos, linguagem, que ainda neles se notam, principalmente na ilha 
de Santa Catarina e no litoral que vai até o Rio Grande do Sul. A cultura que prevaleceu foi a da mandioca, que os 
colonos aprenderam no novo continente e dela conseguiram safras promissoras, permitindo até a sua exportação. 
Houve, no século XVII, a criação da cochonilha, mas que desapareceu no século XIX, por falta de incentivo.
 As contribuições culturais dos açorianos podem ser citadas em vários aspectos:
 técnicas de pesca;
 construção naval (as baleeiras);
 artesanato (renda de bilro), olaria, peças utilitárias e decorativas;
 folguedo do “boi na vara”, “pão por Deus”, modo de falar, “boi de mamão”.
 
INVASÃO ESPANHOLA
Em 1777, o governador de Buenos Aires, D. Pedro de Cebalos, desembarcou suas forças invasoras na ensea-
da de Canasvieiras sem que as fortalezas disparassem um só tiro de canhão. A tomada da ilha foi tão tranquila, que 
até hoje é difícil compreender como não houve resistência de uma força de quase 200 homens, dos quais faziam 
parte tropas do reino, do Rio de Janeiro e contingentes locais. Só em julho de 1778, em virtude do Tratado de Santo 
Ildefonso, obtido pelos estadistas do governo de D. Maria I, foi a ilha restituída, contudo, ficara completamente 
arrasada. O próprio hospital estava destruído, desde os alicerces. Entre o novo governador, Veiga Cabral da Câmara, 
e o vice-rei, marquês de Lavradio, foi decidida, após troca de importante correspondência, a distribuição de casais 
pelo litoral, estabelecidos em lotes, que lhes permitissem a manutenção, evitando-se, assim, a sua concentração 
na ilha, onde empobreciam. O último governador da capitania foi Tomás Joaquim Pereira Valente, depois general 
e conde do Rio Pardo.
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SANTA CATARINA DURANTE 
A MINERAÇÃO
A mineração marcou a economia brasileira do 
século XVIII, com as primeiras jazidas encontradas em 
Minas Gerais. Com esta atividade, houvevárias conse-
quências, como o deslocamento do eixo econômico do 
Nordeste para o Centro-Sul e a formação de cidades. 
Com a exploração de jazidas, a região Sul passou a inte-
ressar ainda mais aos portugueses. Os sulistas criavam 
gado bovino (para produção de carne e couro) e animais 
utilizados para tração ou transporte, que iriam abaste-
cer a região mineradora. Foram abertos caminhos pelo 
interior ligando o sul até São Paulo, onde o gado era 
comercializado. Foi assim que surgiu o tropeiro, indiví-
duo responsável pelo transporte do gado que abastecia 
a rica Minas Gerais. Ao longo do caminho das tropas, do 
sul até São Paulo, surgiram vários povoados. Além disso, 
o pouso de tropas e a busca de novas pastagens deram 
origem a cidades como Lages, Curitibanos, São Joaquim 
e Campos Novos. 
A instalação de um posto de cobrança de impos-
tos às margens do rio Negro, onde os tropeiros eram obri-
gados a parar, favoreceu a formação de um novo povoa-
mento, que deu origem à atual Mafra. Assim, o pastoreio 
e todas as atividades a ele ligadas, foram responsáveis 
pelo aparecimento de uma estrutura social e econômica 
no planalto ocidental de Santa Catarina. Com o objeti-
vo de solucionar antigas disputas entre portugueses e 
espanhóis, foi assinado, em 1750, o Tratado de Madri, 
que anulou a linha divisória estabelecida pelo Tratado de 
Tordesilhas. O Tratado de Madri definiu muito da atual 
configuração do território brasileiro. Portugal e Espanha 
contribuíram para a cartografia sul-americana com as in-
vestigações para a demarcação do tratado. Definiu-se o 
reconhecimento aprofundado do território do oeste ca-
tarinense, quanto ao curso do rio Peperiguaçu e outros 
afluentes do rio Uruguai. Com este novo tratado, o pla-
nalto catarinense foi integrado oficialmente aos domínios 
portugueses. 
Neste contexto de expansão territorial portugue-
sa, foi fundada Nossa Senhora dos Prazeres de Lages, por 
Antônio Corrêa Pinto, em 1766. Logo após, foi ligada à 
Laguna, dando origem à atual estrada do Rio do Rastro. 
No século XVIII, o Rio Grande do Sul abastecia com gado 
as feiras de São Paulo. O caminho atravessava os campos 
de Vacaria (RS) e daí atingia Lages. A fundação de Lages 
permitiu o surgimento de novas fontes pastoris e “pousos 
das tropas”, que originaram as comunidades de Curitiba-
nos, São Joaquim, Campos Novos, Mafra e Rio Negrinho. 
Ao se aproximar do término do período colonial, Santa 
Catarina apresentava duas economias distintas: o pla-
nalto baseado na pecuária e o litoral voltado para sub-
sistência. No litoral, destacamos a pesca da baleia e o 
surgimento das armações. O alto valor comercial do óleo 
de baleia fez com que a pesca e comercialização deste 
animal fossem controladas pelo monopólio real, por meio 
de concessões.
PERÍODO IMPERIAL DO BRASIL 
INDEPENDENTE
Proclamada a independência, a notícia chegou 
a Santa Catarina somente em 7 de outubro de 1822, 
sendo recebida com simpatia por parte das Câmaras do 
Desterro, Laguna, São Francisco e Lages. Santa Catari-
na, já com o título de província, aderiu ao movimento 
constitucional, elegendo seu representante às cortes 
de Lisboa o padre Lourenço Rodrigues de Andrade, 
que assinou a Constituição do Reino Unido, em 1822. 
Em seguida, cooperou a província com as demais no 
movimento da independência, elegendo deputado à 
constituinte brasileira, em 1823, Diogo Duarte Silva. Em 
decorrência da Carta Imperial de 1824, passou a ser go-
vernada por presidentes nomeados pelo Poder Central. 
Logo após a aceitação dessa Carta, instalou-se o Con-
selho Provincial e, até 1889, foram 39 os que ocuparam 
o Executivo. Em 1834, o Ato Adicional transformou o 
Conselho em Assembleia Provincial, com poderes muito 
mais amplos.
COLONIZAÇÃO EUROPEIA
Uma das primeiras colônias fundadas na provín-
cia de Santa Catarina foi a Nova Ericeira, na enseada de 
Garoupas (atual Porto Belo). A partir de 1817, vieram 
de Portugal pescadores, barbeiros, alfaiates e sapateiros 
para a região. Em 1824, a colônia foi elevada à fregue-
sia, com a vinda de novos colonos. Pelo decreto imperial 
de 1832, foi criado a vila e, posteriormente, o município 
de Porto Belo, desmembrado do município de São Fran-
cisco. Entretanto, foi somente no final do primeiro reina-
do que se iniciou um grande movimento de colonização 
em todo o Brasil. 
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A província de Santa Catarina foi um dos setores em que se produziu resultados mais promissores, quer o 
de iniciativa oficial, quer o particular. Da iniciativa oficial foram:
 com alemães – São Pedro de Alcântara (1829); Teresópolis (1860); Brusque (1860); Piedade (1847);
 com italianos – Azambuja (1877);
 com nacionalidades diversas – Itajaí (1836); Angelina (1862); Luís Alves (1877);
 com soldados agricultores – Santa Tereza (1854), destinada à ligação entre Lages e a capital.
Já de iniciativa particular foram:
 com alemães – Blumenau (1850); D. Francisca (1851), que deu origem à cidade de Joinville;
 com italianos – Nova Itália (1836);
 com italianos, espanhóis, russos, polacos, franceses, ingleses e holandeses – Grão-Pará (1882);
 com nacionais, belgas e alemães – Leopoldina (1853);
 com irlandeses e estadunidenses – Príncipe D. Pedro (1860);
 com elementos mistos – Flor da Silva (1844).
Referência especial merece a colônia de Saí (1842), tentativa malograda de concretização das ideias comu-
nistas de Fourier, na baía da Babitonga. Deste núcleo surgiram outros e o território ficou coberto por uma rede de 
colônias, no seio das quais foram surgindo cidades, vilas e povoados. A colônia de São Pedro de Alcântara localizou-
-se no caminho que levava do litoral a Lages, defendendo o percurso de ataques indígenas.
REPÚBLICA JULIANA
O período regencial foi caracterizado por uma série de agitações. Muitas revoltas em diversos pontos do 
país, várias das quais colocando em perigo a unidade nacional, ocorriam motivadas pelo descontentamento políti-
co. O mais longo movimento – que duraria 10 anos –, a Revolução Farroupilha, eclodiu em 1835, no Rio Grande do 
Sul, e se estendeu a Santa Catarina. O objetivo dos farrapos era diminuir o controle econômico do governo imperial, 
13
e alguns defendiam ideais republicanos e federalistas. 
Comandados por Bento Gonçalves, chegaram a Santa 
Catarina, especialmente nas regiões de Laguna e Lages, 
onde a simpatia pela causa rio-grandense aumentava, 
incentivados por famílias que fugiram das regiões de 
conflito na província gaúcha. Muitos lageanos foram 
favoráveis à causa farroupilha, pois as forças imperiais 
fizeram um grande recrutamento, confiscando gado e 
mantimentos, sem ressarcimento. Isto levou ao descon-
tentamento na região e à declaração de adesão à Repú-
blica Rio-grandense, no início de 1838. Em 1839, a van-
guarda republicana, comandada pelo coronel Joaquim 
Teixeira Nunes, aproximou-se de Laguna. Com o auxílio 
de tropas provenientes de Lages e Vacaria, os farrapos 
rumaram em direção àquela vila. Quando os republica-
nos chegaram à praia da Barra, o combate teve início. 
O barco Seival, comandado por Garibaldi, defendeu os 
postos de combate e o dia 21 de julho terminou sem 
vencedores. Veio o reforço das tropas de Davi Canabar-
ro, e, no outro dia, retomaram a batalha.
 
Bandeira da República Juliana
Após várias horas de conflito, o comandante 
chamado de Vilas Boas fez a retirada das tropas impe-
riais, pois não conseguiria manter o controle de Lagu-
na. Assim, em 2 de julho de 1839, Laguna foi ocupada. 
Apoiados pela população, estabeleceram uma república 
com o nome provisório de Cidade Juliana de Laguna, 
presidida por Canabarro. Com a convocação de elei-
ções, foi eleito para presidente da República o coronel 
Joaquim Xavier Neves, de São José. Neves, porém, não 
foi diplomado presidente pelos revolucionários gaúchos, 
assumindo o cargo o padre Vicente Ferreira dos Santos 
Cordeiro, de Enseada do Brito, que havia sido derrotado 
na eleição. Laguna foi designada Capital Provisória da 
RepúblicaJuliana. Foram instituídas as cores oficiais – 
verde, amarela e branca – e Lages, considerada parte 
integrante do território. 
Todos os impostos sobre o comércio do gado e 
indústria pastoril foram abolidos. A reação do governo 
imperial foi a nomeação do marechal Francisco José de 
Sousa Soares de Andréa para presidente de Santa Cata-
rina, pois ele era conhecido por sua energia e rispidez. 
Nobre e de brilhante carreira militar, Andréa acompa-
nhara D. João VI e a família real para o Brasil e fora 
comandante das forças brasileiras em Montevidéu. 
Enviado às terras barrigas-verdes somente para 
resolver os problemas do sul, Andréa governou apenas 
de 1839 a 1840. Com 400 homens que trouxera do Rio 
de Janeiro e 300 de Santa Catarina, 20 navios e com 
amplos poderes, Andréa, no início, optou pelos cami-
nhos diplomáticos para atacar os republicanos: afastou 
o padre Cordeiro e convidou Neves para a causa impe-
rial, tornando o coronel comandante da Guarda Nacio-
nal de São José. 
Os comandantes imperiais – capitão-de-mar-e-
-guerra Frederico Mariath e coronel Fernandes Pereira – 
reuniram-se em Imbituba e Vila Nova e atacaram Lagu-
na. Davi Canabarro e aproximadamente 1,2 mil homens 
esperavam em Itapirubá. Em Laguna, Garibaldi e seus 
comandados, com as embarcações Itaparica, Seival, Rio 
Pardo e Caçapava, defendia a entrada com a ajuda do 
fortim da Barra. Segundo Garibaldi, a batalha foi mortí-
fera e horrível, durando três horas, e levou ao fim, no dia 
15 de novembro de 1839, a República Juliana. Os la-
geanos viveram momentos agitados nas disputas entre 
legalistas e farroupilhas em seu território. Com a adesão 
aos farrapos, o governo da Província de Santa Catarina 
proibiu o comércio com Lages. Foi suspensa a remessa 
de sal para a região, prejudicando a pecuária. Em no-
vembro de 1839, após vários conflitos, Lages voltou ao 
controle dos legalistas. Neste momento, os republicanos 
dirigiram-se para o Rio Grande do Sul, combatidos pelo 
mercenário Pedro Labatut, francês a serviço do governo 
imperial. 
A instalação da República Juliana, ainda que por 
pouco tempo, foi uma das páginas mais gloriosas da 
história catarinense, projetando internacionalmente o 
nome de Anita Garibaldi, denominada a “heroína dos 
dois mundos“.
14
INDUSTRIALIZAÇÃO
Entre os anos de 1850 e 1880, tivemos as condi-
ções para a futura industrialização do Brasil e de Santa 
Catarina. Em 1850, a abolição do tráfico de escravos e 
a Lei de Terras acarretaram carência de mão de obra e a 
regulamentação do acesso à terra para os colonos. Isto 
influenciou a imigração e a colonização. A industriali-
zação foi possível com a ajuda do imigrante europeu, 
proveniente das áreas urbanas e industriais do Velho 
Mundo. As indústrias tiveram origem na atividade ar-
tesanal que os imigrantes desenvolveram. No ano de 
1873, a estrada de ferro D. Francisca ligou o litoral até a 
serra e ao norte, escoando a produção ervateira e outros 
produtos.
A experiência dos imigrantes em indústria e ar-
tesanato na Alemanha e Itália ajudou no surgimento 
de empresas, como a têxtil Büttener & Cia. Ltda., fun-
dada por Eduardo Von Büttener, instalada em Brusque. 
Em 1898, aumentou seus negócios com uma fábrica de 
bordados finos. Mais tarde, produziu fios para a produ-
ção de artigos de cama e mesa. Outro exemplo foi a 
indústria de Carlos Renaux, que veio para o Brasil em 
1882, dividida em dois ramos principais: fábrica de te-
cidos Carlos Renaux S/A e indústria têxtil Renaux S/A, 
utilizando imigrantes alemães com conhecimento em 
tecelagem. Podemos citar a firma que Carl Hoepcke am-
pliou para trabalhar com importação e exportação, com 
navios próprios ou fretados. Fundou também a fábrica 
de pregos Rita Maria (1896) e a fábrica de Rendas e 
Bordados (1917), tendo sido criado também o estaleiro 
Arataca. Merece destaque a Cia. Hering, fundada por 
Hermann Hering, graduado em tecelagem na Alemanha. 
Após sua morte, ocorrida em 1918, seus descendentes 
ganharam reconhecimento no mercado nacional. Entre 
os anos de 1880 e 1889, foram instalados 86 estabe-
lecimentos industriais, que representam 6,5% do total 
de 1.322 estabelecimentos fundados, nesta época, no 
Brasil.
REVOLUÇÃO FEDERALISTA
No Rio Grande do Sul, foi fundado o Partido Re-
publicano Federalista, que se opunha ao governo es-
tadual de Júlio de Castilhos e ao governo federal de 
Floriano Peixoto, ambos do Partido Republicano. Devido 
à proximidade geográfica, o federalismo influenciou os 
outros dois Estados do sul.
Convém lembrar de que, no mesmo momento, no 
Rio de Janeiro, evidenciava-se a Revolta da Armada, que 
também se opunha ao governo do “marechal de fer-
ro”. Em Santa Catarina, os partidários do federalismo, 
Eliseu Guilherme, Severo Pereira e Fernando Hackradt, 
entraram em conflito com os chamados legalistas, que 
tinham à frente Hercílio Luz e o próprio Lauro Muller. 
Os federalistas conseguiram instalar-se na região 
do Desterro, base para o “governicho” de Frederico de 
Lorena. Sob a liderança de Hercílio Luz, que havia sido 
proclamado governador pela Câmara de Blumenau, os 
legalistas iniciaram uma violenta reação. As lutas pro-
longaram-se o Estado foi palco de violentos combates. 
No dia 25 de setembro de 1893, liderados pelo 
capitão-de-mar-e-guerra Guilherme de Lorena, os na-
vios da Revolta da Armada aportaram em Desterro, que 
unidos ao Exército Federalista Gaúcho, foram aclama-
dos pela população local e declararam a independência 
da região Sul, sendo Desterro a sua capital. 
Contudo, essa nova República capitulou em 14 
de abril de 1894, quando, após diversas batalhas, os 
“legalistas“ que Floriano arregimentou em outros Esta-
dos e que eram comandados pelo coronel Moreira Cé-
sar, em virtude de sua grande superioridade numérica 
e bélica, tomaram a cidade. Na sequência, a cidade foi 
palco de cenas de violenta repressão, com torturas e 
prisões arbitrárias que atingiram a população civil. 
185 membros da sociedade catarinense foram 
sumariamente fuzilados na fortificação da ilha de Anha-
tomirim, sem qualquer julgamento ou direito de defesa, 
por ordem expressa de Floriano Peixoto, cumprida à ris-
ca pelo famoso Moreira César. Logo a seguir, mudou-se 
o nome da cidade, passando a se chamar Florianópolis, 
em “homenagem“ a quem trucidou os locais.
15
RIO GRANDE DO SUL
SETE POVOS DAS MISSÕES
Instrumento importante da Igreja na contrarreforma, a Companhia de Jesus foi criada por Inácio de Loyo-
la, em 1534 (oficializada pelo papa Paulo III, em 1540), com o objetivo de “recatequizar“ as regiões convertidas 
ao protestantismo. Sua atuação na América foi marcante, mas estiveram também na Índia, na China e no Japão, 
durante essa época. Na América portuguesa, a atuação dos jesuítas se iniciou em 1549, em Salvador, e na América 
espanhola, em 1610.
Nem sempre os jesuítas eram eficazes em sua conversão dos nativos. Após uma conversão inicial marcada 
pelo batismo, muitos guaranis retornavam às suas práticas indígenas, não sendo fieis às práticas e costumes cris-
tãos. As reduções, no entanto, serviram à coroa portuguesa, pois o “adestramento“ dos nativos facilitava o acesso 
de mão de obra barata e abundante aos paulistas, que tinham grande dificuldade de fazer cativos indígenas. Como 
eram hábeis agricultores, os tupi-guaranis eram de grande valor. Todavia, os ataques dos bandeirantes às reduções 
jesuíticas transformaram-se num empecilho ao trabalho, levando os jesuítas a desistirem da evangelização nas 
serras do Tape (região noroeste do atual Rio Grande do Sul) e transferindo-se para o lado ocidental do rio Uruguai. 
Boa parte do gado daquela região foi deixada, o que viria a se tornar, posteriormente, uma importante fonte de 
atração e exploração econômica com o comércio do couro, na zona que ficou conhecida como Vacaria del Mar.
Ainda nessa fase inicial, tendo à frente o padre Roque Gonzales, foram criadas as missõesde São Nicolau 
(1626), São Francisco Xavier (1626), Nossa Senhora da Candelária (1627), Assunção do Ijuí (1628) e Caaró (1628). 
Dias após a fundação desta última redução, padre Roque foi assassinado pelo cacique Nheçu, chefe de um grupo 
contrário às missões. Com ele, foram mortos os padres Afonso Rodrigues e João Castilhos. Os três são considera-
dos mártires das missões e são venerados até hoje no santuário construído na região de Caaró. Após a derrota do 
cacique Nheçu, outros jesuítas puderam fundar mais doze reduções no território do atual Rio Grande do Sul, entre 
1631 e 1634. Após a morte dos padres, os jesuítas passaram a se preocupar mais com defensiva, armando melhor 
os índios, que acabaram por derrotar os paulistas na batalha de Mbororé (1641).
Sete Povos das Missões (1682-1801)
16
Vale lembrar que essa primeira fase das missões 
jesuíticas estavam sob as ordens da coroa espanhola, que 
passou a se preocupar com as investidas de Portugal na 
região através da fundação da colônia de Sacramento. 
Esta colônia preocupava as autoridades espanholas e je-
suítas, pois eram recentes ainda as atrocidades cometidas 
pelos bandeirantes e que determinaram a saída da região 
do Tape. Outro temor da coroa espanhola era uma possí-
vel intenção portuguesa em instalar a colônia de Sacra-
mento em frente a Buenos Aires, visando invadi-la no fu-
turo. Assim, a Companhia de Jesus iniciou a segunda fase 
de suas missões, formando novas reduções que constitu-
íram os Sete Povos das Missões, entre 1682 a 1706. 
Assim, as missões serviam como instituição de fronteiras, 
garantindo as possessões espanholas na região do Prata.
A primeira redução fundada nessa nova fase foi a 
de São Francisco de Borja (futuro município de São Bor-
ja) e contava com quase 3 mil habitantes. Em 1687, foi 
fundada a redução de São Luiz Gonzaga e refundadas 
as missões de São Nicolau e São Miguel Arcanjo, ambas 
abandonadas após ataques de bandeirantes na primeira 
fase das missões jesuíticas na região. Nos anos seguintes, 
foram fundadas as reduções de São Lourenço, São João 
Batista e Santo Ângelo.
No funcionamento interno das missões, havia o 
cabildo indígena – espécie de câmara – no qual os ca-
ciques exerciam papel de comando, sob a coordenação 
dos jesuítas. Essa articulação dos religiosos com os na-
tivos permitiu à região missioneira transformar-se em 
um conjunto complexo, com administração autônoma 
e quase autossuficiente em termos econômicos. O auge 
das missões ocorreu em 1732, quando o contingente po-
pulacional era de quase 40 mil pessoas. Após esse ano, 
epidemias de varíola consumiram boa parte da popula-
ção indígena, dizimando metade dos moradores da re-
gião até 1740.
A “paz“ entre portugueses e espanhóis acabou 
com o Tratado de Madri, em 1750. Pelo tratado, a Es-
panha entregaria os Sete Povos à Portugal em troca da 
colônia de Sacramento. Com isso, os indígenas – em sua 
maioria guaranis – que residiam nos Sete Povos deveriam 
se transferir para a colônia de Sacramento. No entanto, 
tal acordo não trouxe estabilidade à região. Com a resis-
tência dos guaranis a deixarem suas terras, a coroa por-
tuguesa enviou tropas para garantir a demarcação das 
terras, de acordo com o que fora acertado pelo tratado. O 
conflito, que ficou conhecido como guerra guaranítica, 
eclodiu em 1754 e durou dois anos.
 O principal líder guarani foi Sepé Tiaraju, que de-
clarava com firmeza: “Esta terra tem dono! Ela nos foi 
dada por Deus e por São Miguel!“ Mas a firmeza de 
Sepé não foi párea à violência dos exércitos portugueses 
que, após muitas batalhas, mataram Sepé, no início de 
1756, e dias depois, na sangrenta batalha de Caiboaté, 
com 1,5 mil índios dizimados. O conflito foi em vão, pois 
o Tratado de Madri acabou sendo anulado – na prática, 
logo após a guerra, mas efetivamente com o Tratado de 
El Prado, de 1761. Dado o desinteresse das monarquias 
ibéricas na efetivação do Tratado de Madri, nem mesmo 
chegou a ocorrer a demarcação das terras. Pelo Tratado 
de Santo Ildefonso (1777), os Sete Povos permaneceriam 
com os espanhóis. Vale destacar da guerra que, os índios 
“infiéis“ charruas e minuanos, apesar de inimigos dos 
guaranis, os auxiliaram na guerra atuando como espiões, 
vigias e informantes.
A terra continuou para os guaranis, mas a situ-
ação dos jesuítas ficava cada vez mais complicada. Nas 
reformas impostas pelo marquês de Pombal, os jesuítas 
acabaram expulsos das terras portuguesas em 1759 – 
Pombal temia o avanço do poder na mão dos religiosos 
e via na sua expulsão um incremento de poder para a 
coroa. A Espanha fez o mesmo em 1768, expulsando os 
jesuítas de suas terras. Com isso, as missões passaram 
para administração civil e entraram em franca decadência 
com os indígenas sendo subjugados ou dispersos.
Em 1801, quando houve o Tratado de Badajós, a 
desintegração dos Sete Povos já era tamanha que não 
foi difícil a anexação do território pelos luso-brasileiros. O 
mestiço Manuel dos Santos Pedroso articulou o acordo.
IMIGRAÇÃO AÇORIANA
Tinha o objetivo estratégico de resguardar o do-
mínio português. A partir de 1746, foram autorizadas as 
concessões que permitiram a vinda de jovens casais aço-
rianos (pobres, em sua grande maioria). Para que viessem, 
foi-lhes fornecida ajuda de custo, instrumentos agrícolas, 
animais, farinha para o primeiro ano, isenção de serviço 
militar e um quarto de légua quadrada de terra. 
O primeiro destino dos açorianos foi Desterro, em 
Santa Catarina. De 1748 a 1753, chegaram para lá entre 
5 e 6 mil imigrantes oriundos do arquipélago de Açores, 
e 40% de toda esta gente foi transferida para a vila de 
Rio Grande. Esperando transferência para os Sete Povos, 
foram levados para as regiões de Viamão, Porto Alegre, 
Santo Amaro e Rio Pardo. Diante da impossibilidade de 
17
se transferirem para as missões, os açorianos acabaram 
disseminando-se para três regiões principais: campos de 
Viamão, margens do rio Jacuí e arredores da vila de Rio 
Grande (a população da vila praticamente dobrou com a 
chegada dos açorianos). Por essas regiões ficaram aban-
donados, esperando as concessões prometidas.
A maioria dos açorianos que vieram para Viamão 
ficou instalada às margens do Guaíba, dando origem ao 
núcleo urbano de Porto Alegre. Até então chamada de 
Porto de Dorneles, o local recebeu o nome de Porto dos 
Casais, após 1757. Com a vinda deles, a coroa portugue-
sa resolvia dois problemas simultaneamente: povoava o 
sul do Brasil; e resolvia a questão da escassez de terras 
derivada do aumento populacional no arquipélago.
São freguesias tidas como açorianas: Santo Antô-
nio (não exclusivamente de açorianos); Taquari; Porto dos 
Casais (atual Porto Alegre); Santana da Vila Real (fracas-
sou); Conceição do Arroio (atual Osório, já era ocupada 
por lagunistas); Mostardas; e Santo Amaro.
TRATADOS DE LIMITES
A presença de espanhóis e de hispano-america-
nos era frequente nos territórios da banda oriental. Na 
freguesia de Viamão, por exemplo, cerca de 10% dos 
batizados, entre 1747 e 1759, eram de origem hispâni-
ca. Estes, inclusive, podiam ocupar cargos nas câmaras 
e atuar comercialmente no território. Sua principal ati-
vidade estava associada à pecuária, como fornecedores 
de mão de obra especializada, tropeiros ou carreteiros. 
Alguns ascenderam socialmente chegando a se tor-
narem estancieiros. Assim, a região era, na época, um 
espaço de convivência e articulação entre zonas produ-
toras e mercados consumidores, integrando as esferas 
hispânicas e lusitanas na América meridional. Mas se 
no Rio Grande do Sul o clima era relativamente amigá-
vel entre portugueses e espanhóis, não podemos dizer 
o mesmo das coroas portuguesa e espanhola. Desde o 
final do século XV, diversos tratados foram assinados.
Pelo Tratado de Tordesilhas, o atual território do 
Rio Grande do Sul pertencia aos espanhóis.
Em 1580, devido à crise sucessória após a morte 
de Dom Sebastião (1578), o rei da Espanha, Felipe II, 
assumiu a coroa portuguesa.Durante o período em que 
ocorreu a União Ibérica (1580-1640), ou seja, quando 
Portugal e Espanha estavam sob uma única coroa, os 
portugueses instalaram-se em Buenos Aires com o inte-
resse de captar, por contrabando, parte da produção de 
prata advinda de Potosi.
Em 1640, os Bragança reconquistaram a inde-
pendência de Portugal. Os portugueses foram expulsos 
de Buenos Aires e exigiam da coroa a criação de uma 
nova colônia na região do Prata, que só veio a ocorrer 
em 1680, pois a coroa portuguesa estava às voltas na 
Europa com a guerra pelo reconhecimento da autono-
mia lusitana e, no Nordeste, com a invasão holandesa. 
Em 1680, ocorreu a primeira fundação da colônia de 
Sacramento, estrategicamente situada à frente de Bue-
nos Aires. Usando a colônia como “moeda de troca“, 
os portugueses acabaram por conseguir expulsar os je-
suítas espanhóis e expandir rumo ao oeste. No mesmo 
ano, portugueses e índios guaranis missioneiros (chefia-
dos pelos jesuítas) brigaram pela posse da colônia que, 
em 1681, foi garantida pelos portugueses. Com base na 
triticultura (trigo) e no comércio de couro, a povoação 
começou a ter um desenvolvimento considerável. 
Em 1704, os espanhóis expulsaram os portugue-
ses da colônia de Sacramento. Mas em 1716, após a 
assinatura do Tratado de Utrecht, a cidadela foi devol-
vida aos portugueses e ocorreu sua segunda fundação. 
Foi um período de grande esplendor econômico e social 
para a colônia de Sacramento: havia 1.440 habitantes, 
sendo 400 militares, 400 mulheres, 300 escravos e mais 
os moradores que, em sua maioria, desempenhavam 
funções de lavradores, mercadores e artesãos. O su-
cesso da colônia de Sacramento levou os espanhóis a 
fundarem a cidade de Montevidéu, em 1726, visando a 
conter a expansão lusitana. 
Após a fundação de Montevidéu, a situação fi-
cou bastante tensa para os portugueses presentes na 
região. Em meados da década de 1730, a colônia de 
Sacramento já havia dobrado sua população e se sus-
tentava pelo comércio e a agricultura. Em 1750, a assi-
natura do Tratado de Madri redefiniu as terras perten-
centes a Portugal e Espanha. Com a nova demarcação, 
a colônia de Sacramento passou para o domínio dos 
espanhóis e os Sete Povos das Missões passou às mãos 
dos portugueses.
O Tratado de Madri, no entanto, não agradou 
nem aos portugueses de Sacramento nem aos espa-
nhóis dos Sete Povos, que tiveram de engolir o troca-
-troca imposto pelas coroas. Os portugueses estavam 
18
satisfeitos com o sucesso da colônia de Sacramento e 
o mesmo pode-se dizer dos espanhóis com as reduções 
jesuíticas. A insatisfação de ambos deu origem à guerra 
guaranítica, o que fracassou a desocupação da região. 
Para conter os conflitos, o Tratado de El Pardo (1761) foi 
assinado para anular o Tratado de Madri, mas os con-
flitos não se resolveram. Em outubro de 1762, tropas 
espanholas saídas de Buenos Aires invadiram a colônia 
de Sacramento e, após mais de vinte dias de batalha, 
os portugueses da colônia renderam-se e Sacramento 
foi ocupada pelas forças espanholas. No ano seguinte, 
os espanhóis tomaram a vila do Rio Grande, saqueando 
a cidade. Por causa da invasão de Rio Grande, a capi-
tal (e todo seu aparato burocrático) foi transferida para 
Viamão e quase 80% da população fugiram da cidade.
Para conter as hostilidades, foi assinado, em feve-
reiro de 1763, o Tratado de Paz de Paris, no qual a colônia 
de Sacramento era devolvida aos portugueses, enquanto 
os espanhóis continuavam dominando os dois lados do 
canal de acesso à lagoa dos Patos – incluindo a vila de 
Rio Grande, mas isso não pôs fim aos conflitos. Sacra-
mento, Rio Grande e os Sete Povos eram cidadelas muito 
promissoras, já bem estruturadas, organizadas e em óti-
ma fase. Portugal e Espanha se engalfinharam por causa 
delas por muito tempo ainda.
A situação só ficou relativamente definida com 
o Tratado de Santo Ildefonso (1777), quando a colônia 
de Sacramento foi entregue à Espanha. Os portugueses 
tiveram de se contentar com Rio Grande. A região missio-
neira continuou espanhola, mas, nessa época, já não era 
mais administrada pelos jesuítas, e sim civis. Em 1801, 
os territórios missioneiros foram incorporados ao espaço 
luso-brasileiro por meio do Tratado de Badajoz.
ECONOMIA GAÚCHA NOS 
SÉCULOS XVIII E XIX
A produção de trigo e a atividade pecuária inse-
riram economicamente o Rio Grande do Sul no mercado 
interno brasileiro, com estímulo da própria coroa que 
visava integrar definitivamente a região no império ul-
tramarino português. A triticultura foi a atividade eco-
nômica que provocou o enriquecimento e a ascensão 
social de alguns açorianos (auge entre 1787 e 1813), 
inclusive com acesso à mão de obra africana.
Embora já houvesse incentivo da coroa para a 
produção de trigo em terras brasileiras, foi somente no 
solo gaúcho que a cultura encontrou condições apro-
priadas e foi apenas após 1781 que os brancos ocupan-
tes da região tiveram interesse em investir na plantação. 
Na época, o litoral era a área de maior produção com 
41% da área cultivada e 45% da safra. Se, em 1781, 
a colheita foi de 1.455 toneladas, em 1816 atingiu 
10.800 toneladas de trigo. A maior parte desse trigo 
ia para o Rio de Janeiro. Há, inclusive, um registro de 
exportação do trigo para a metrópole.
Contudo, a triticultura entrou em crise no início 
do século XIX, devido a vários fatores: a concorrência do 
trigo estadunidense; o recrutamento de agricultores para 
as tropas e serviço militar; a inexistência de armazéns e a 
ferrugem; e uma praga que rapidamente dizimou trigais. 
Em 1823, não se plantava mais trigo no Rio Grande do 
Sul, produção essa somente retomada no século XX.
A pecuária se caracterizou, inicialmente, pelo 
apresamento do gado selvagem. Com a descoberta do 
ouro em Minas Gerais, o Rio Grande do Sul inseriu-se 
na economia colonial como fornecedor de gado bovino, 
cavalar e muar para Minas. A importância do gado sulino 
fez com que os tropeiros (paulistas, principalmente) vies-
sem buscar o gado em pé para levá-lo às minas. A fase 
áurea da pecuária sulina foi entre 1690 e 1730. Após 
essa fase, teve início o processo de formação das estân-
cias, nas sesmarias concedidas pela coroa. Enquanto isso, 
os portugueses da colônia continuaram caçando o gado 
da banda oriental para a extração do couro. Vale assinalar 
as diferenças entre o sul e o centro do país nessa época: 
no sul, vida tipicamente rural, a sociedade era militariza-
da, a economia dependente e complementar à do centro 
e voltada a um mercado interno em formação.
A segunda fase da pecuária gaúcha deu destaque 
ao charque. A primeira charqueada comercial, voltada 
para a exportação, foi montada por José Pinto Martins, às 
margens do arroio Pelotas, em terreno cedido pelo gover-
no. O que estimulou a produção de charque no sul foi a 
situação de paz decorrente do Tratado de Santo Ildefonso 
(1777), as secas no Nordeste e o aumento populacional 
do centro e nordeste do Brasil. O charque produzido no 
Rio Grande do Sul tinha como principais destinos Rio de 
Janeiro, Bahia e Pernambuco. Para se ter dimensão da 
importância da pecuária para a economia gaúcha, entre 
1790 e 1815, o setor respondia por 70% das exporta-
ções da capitania – os 30% restantes correspondiam a 
outros gêneros alimentícios, como trigo e queijos. 
19
O charque gaúcho, com baixo preço e pouco lu-
cro, passou a sofrer com a concorrência do charque nor-
destino e platino. Foram duas fases:
 1780 a 1810: supremacia do charque platino 
– maior tecnologia, facilidade de obtenção e de 
transporte;
 1810 a 1828: supremacia do charque gaúcho – 
período de crise política do Prata duplicou a pro-
dução gaúcha.
Como consequência da produção do charque, 
houve a valorização do rebanho bovino e o aumento do 
número de escravos africanos (e, logo, o crescimento da 
dependência em relação aos traficantes de escravos).
O charqueador era um comerciante que necessi-
tava deum capital maior do que de um estancieiro, pois 
precisava investir em escravos e em insumos como o sal. 
No mercado regional, os lucros maiores eram dos char-
queadores, em prejuízo dos criadores de gado. Pelotas 
foi o grande centro charqueador gaúcho por sua locali-
zação estratégica, próxima ao porto de Rio Grande. 
A produção de charque, no entanto, tinha diver-
sas limitações: a inexistência de cercamento dos cam-
pos (facilitando o contrabando); a falta de uma política 
protecionista; a dificuldade de escoamento pelo porto 
de Rio Grande; e forte concorrência do charque platino, 
que dispunha de ferrovias para escoar o produto e tinha 
seus campos cercados.
No planalto gaúcho (Cruz Alta e Passo Fundo), 
foi muito forte a produção e o comércio de mulas (cru-
za de cavalo/égua com jumento/jumenta), um animal 
extremamente valorizado em meados do século XIX, 
destinado à feira de Sorocaba, em São Paulo. Ainda 
havia a atividade extrativista na exploração dos ervais. 
A produção de erva-mate, principalmente de Cruz Alta, 
abastecia o mercado interno regional e a região do Pra-
ta. Era uma produção de baixo custo, mas também de 
baixa qualidade.
GUERRA DA CISPLATINA (1828)
Quem estuda a história do Rio Grande do Sul já 
deve ter notado que é impossível entendê-la dissociada 
do contexto da bacia do Prata. É inegável a ligação da 
região – que hoje equivale ao Uruguai e à Argentina – 
à formação histórica do RS. O próprio personagem do 
gaúcho tradicional é um misto de argentino, uruguaio, 
índio, negro, português e espanhol, ou seja, o gaúcho 
é fruto de toda essa “mistura“ cultural, social, étnica 
e política.
A situação já tumultuada da região ficou mais 
intensa após a transferência da corte portuguesa para o 
Brasil, em 1808. Com a família real no Brasil, a metró-
pole interiorizou-se na colônia, promovendo maior cen-
tralização do poder decisório, e acentuou-se a atração 
exercida pela região da Cisplatina.
José Artigas
Após a chegada da família real, um alvará de 
1812 estabeleceu que o Rio Grande do Sul adotaria o 
nome de Capitania de São Pedro do Rio Grande, inte-
grando a Comarca de São Pedro e Santa Catarina à Pro-
víncia da Cisplatina, inexistente no mapa do século XVIII, 
que integrava o Brasil do início do século XIX. Para enten-
der como isso ocorreu, é importante entender o contexto 
político da região do Prata no início do século XIX, mais 
do que apenas analisar a guerra da Cisplatina em si.
A Província do Rio da Prata se tornou indepen-
dente da Espanha em 1810. Nessa época, a disputa na 
província era entre unitários (ou centralistas) e os federa-
listas. Os unitários queriam Buenos Aires e Montevidéu 
liderando e subjugando o interior. Já os federalistas de-
fendiam a ampla autonomia para as Províncias Unidas do 
Rio da Prata e tinham José Artigas como seu maior repre-
sentante. Artigas não tinha formação intelectual apurada 
e não pertencia à elite local. Ele fora peão de estância 
20
e contrabandista na fronteira com o Continente de São 
Pedro. Foi ele quem liderou as tropas contra os espanhóis 
e era um líder político e ideológico. Todavia, algumas de 
suas ideias eram temidas entre seus conterrâneos e entre 
os estancieiros do Continente de São Pedro. As temidas 
ideias de Artigas diziam respeito à reforma agrária e à 
limitação à ação de comerciantes estrangeiros nos por-
tos. Seu discurso quanto à reforma agrária era bastante 
radical para a época: defendia a divisão das enormes pro-
priedades locais entre índios, negros libertos e brancos 
pobres.
A coroa portuguesa temia que as ideias federa-
listas de Artigas influenciassem os gaúchos e passou a 
investir contra sua liderança na região do Prata. Por isso, 
já em 1811, quatro mil soldados luso-brasileiros foram 
enviados para guerrear contra Artigas. Em 1816, a elite 
de Buenos Aires e Montevidéu apoiou implicitamente a 
coroa portuguesa na guerra contra o federalista. A região 
acabou sendo incorporada ao império sob o nome de 
Província Cisplatina, e Artigas foi oficialmente derrotado 
em 1820.
A guerra e a incorporação da Cisplatina ao ter-
ritório do império luso-brasileiro beneficiaram a elite 
gaúcha com a ocupação do norte da banda oriental e a 
instalação de comerciantes do Continente de São Pedro 
em Montevidéu. O porto de Rio Grande passou a ser o 
mais importante do local. Aos poucos, os brasileiros se 
tornaram parceiros indesejáveis e a guerra da Cisplatina 
estourou em 1825. 
Na guerra, o Brasil recém-independente teve de 
enfrentar as tropas rebeldes orientais e a Confederação 
Argentina. Os platinos não aceitavam a dominação luso-
-brasileira sobre a região e as desvantagens que vinham 
sofrendo desde sua incorporação ao império – nem mes-
mo falavam português, ou seja, eram um “estranho no 
ninho“. No momento, o Brasil não possuía ainda um 
exército sistematizado e outras revoltas eclodiam no país 
na mesma época. Dom Pedro I não conseguiu conter a 
ação dos rebeldes do Prata e foi forçado a reconhecer 
sua independência, em 1828, com a criação da Repú-
blica Oriental do Uruguai. De certo modo, o desgaste 
causado pela derrota nessa guerra contribuiu para minar 
a imagem já desgastada do imperador, que acabou abdi-
cando em 1831.
GUERRA DOS FARRAPOS
O mais longo movimento revolucionário ocorrido 
no Brasil teve início no Rio Grande do Sul e, posterior-
mente, estendeu-se para Santa Catarina, onde foram 
proclamadas, respectivamente, as Repúblicas de Piratini 
e Juliana.
Pintura de 1893 que homenageia a carga de cavalaria farroupilha 
(Museu Júlio de Castilhos). Representações posteriores transformaram 
essa bravura em característica dos gaúchos.
Disponível em: <revistadehistoria.com.br>.
A guerra dos Farrapos foi motivada pela insatis-
fação dos estancieiros, criadores de gado, e dos char-
queadores com os altos impostos cobrados pelo poder 
central. No Rio Grande do Sul, o conflito foi agravado 
pelo imposto sobre o charque, dificultando a concor-
rência com o charque platino, pela excessiva centrali-
zação política do império, que nomeava presidentes 
para a província sem consultar e não raro sem agradar 
aos vários setores da elite local. Os revoltosos queriam 
mais autonomia provincial e o direito de escolher go-
vernantes mais sensíveis aos problemas da região e 
comprometidos com a solução deles. Por isso, a revolta 
foi encabeçada pelos grandes estancieiros, charquea-
dores, comerciantes e representantes da cúpula militar 
rio-grandense, interessada em atender aos interesses 
dessa elite, com caráter separatista, republicana, sem 
preocupação social e divergências entre os farroupilhas. 
Aqueles preocupados com questões sociais e econômi-
cas, inclusive a abolição da escravidão, confrontavam-se 
com os defensores de seus interesses pessoais.
Embora determinasse a criação das assembleias 
legislativas provinciais, o ato adicional de 1834 não re-
solveu o problema das insatisfações gaúchas, uma vez 
que o presidente da província continuava a ser nome-
ado pelo governo central da regência. Já na primeira 
reunião da assembleia gaúcha, em 1835, houve sérias 
divergências entre os deputados estancieiros, liderados 
por Bento Gonçalves, e o presidente nomeado para a 
província, Antonio Rodrigues Braga. 
21
Insatisfeitos, os estancieiros formaram uma tropa que atacou Porto Alegre, depôs o presidente da província 
e proclamou a República Rio-grandense ou República de Piratini, nomeando Bento Gonçalves para presidente. A 
república gaúcha estimulou a criação de gado e a exportação do charque e de couro.
A resposta do governo regencial foi imediata: enviou tropas para a região, que venceram os rebeldes em 
batalha próxima a Porto Alegre, prenderam Bento Gonçalves e conduziram-no a uma prisão na Bahia. Lá, foi aju-
dado pelos rebeldes da Sabinada, conseguiu fugir da prisão e retornar ao Rio Grande do Sul, onde reassumiu a 
presidência da República de Piratini.
A partir de 1837, as forças rebeldes passaram a contar com a ajuda do revolucionário italiano GiuseppeGaribaldi, que, auxiliado pelo estancieiro Davi Canabarro e seus homens, conseguiu estender a revolução até Santa 
Catarina, em 1839. Inicialmente, tomaram a cidade de Laguna e proclamaram a República Juliana. Em Laguna, 
Giuseppe conheceu e se apaixonou por Anita Garibaldi, habilidosa amazona que chegou a lutar ao lado das tropas 
republicanas.
 
Da esquerda para a direita: Giuseppe Garibaldi; Bento Gonçalves e Davi Canabarro.
Em 1840, ao mesmo tempo em que teve início o segundo reinado, a revolução farroupilha perdia força, de-
clinava, bem como agravavam-se as discordâncias entre os revoltosos. Define-se então sua divisão em dois grupos: 
os “majoritários” (progressistas), de um lado, e os “minoritários“ (conservadores), de outro, favoráveis ao status 
quo do Rio Grande do Sul como província do império.
Entre os anos de 1841 e 1842, o poder de decisão do conflito passou para as mãos dos conservadores. Em 
1842, Luiz Alves de Lima e Silva foi nomeado presidente e comandante-de-armas da província pelo imperador, com 
a determinação de que conseguisse a paz na região e a reintegração do Rio Grande do Sul e Santa Catarina ao 
império. Com esse objetivo em mente, Caxias traçou uma estratégia dúbia, oscilando entre violentos combates e 
concessões aos rebeldes.
A posição social de prestígio e o poder econômico das lideranças rebeldes fizeram o império tratar a revolu-
ção farroupilha de maneira diferente dos outros movimentos populares. Apesar de combater o movimento, Caxias 
procurava uma solução negociada, atendendo a várias reivindicações dos rebeldes, o que não foi feito com outros 
movimentos populares.
O conflito foi finalizado a partir de um acordo entre as lideranças imperiais e rebeldes, firmado em 28 
de fevereiro de 1845 o Acordo de Ponche Verde, que estabelecia:
 anistia dos envolvidos gaúchos;
 incorporação dos farrapos ao exército nacional;
 permissão para escolher o presidente de província;
 devolução de terras confiscadas durante a guerra;
 proteção ao charque gaúcho da concorrência externa com sobretaxa sobre o charque importado; e
 libertação dos escravos envolvidos. 
É importante lembrar que o governo imperial era contrário à libertação dos escravos do exército republicano. 
Todavia, firmou-se a promessa de libertação deles, que os rebeldes não aceitavam quebrar. A solução foi enviar 
soldados negros para outras regiões, onde foram trucidados pelas forças imperiais. Dessa maneira, reduziu-se o 
número de escravos alforriados na região.
22
IMIGRAÇÃO ALEMÃ NO 
RIO GRANDE DO SUL
Antes de 1870, não existia um país chamado 
Alemanha. O processo de formação do Estado nacional 
alemão causou a eliminação das terras comunais, a de-
sarticulação do trabalho artesanal, gerando uma grande 
tensão social com muitos sem-terra e desempregados. A 
solução, para muitos, era a emigração, e as opções mais 
escolhidas foram os Estados Unidos (para a maioria), o 
sul do Brasil, a Argentina e o Chile.
E quais foram as motivações para a imigração? 
Para os europeus, a proposta era interessante por aliviar 
a tensão social causada pela industrialização e meca-
nização da produção. Para o império brasileiro, serviria 
para o abastecimento de recursos materiais (alimentos) 
e de recursos humanos (novos soldados para os comba-
tes na região da bacia do Prata).
Primeira etapa (1824-1845)
Foi a fase mais difícil para quem veio para o Brasil, 
conhecida com a fase de subsistência. Além da dificul-
dade para pagar a “dívida colonial“ referente à viagem 
para o Brasil e o estabelecimento nas novas terras, os 
alemães tiveram de enfrentar conflitos com os indígenas 
que habitavam as terras, a guerra da Cisplatina e a revol-
ta dos Farrapos. Em 1830, a lei orçamentária do império 
não previa mais recursos para a imigração, dificultando 
ainda mais a já difícil vida dos recém-chegados. 
Mesmo com as dificuldades, os imigrantes dessa 
primeira etapa estabeleceram suas colônias em São Leo-
poldo, Campo dos Bugres (atual Caxias do Sul), Monte-
negro e Taquara.
Segunda etapa (1845-1870)
Foi a fase da expansão do comércio. Após se es-
tabeleceram e iniciarem o processo agrícola, a produção 
de excedentes deu início às trocas comerciais – surge a 
figura do comerciante de origem alemã. Como somen-
te ele possuía os meios de transporte (mulas e barcos) 
para levar a produção até Porto Alegre, pagava muito 
pouco aos colonos e vendia a bons preços na capital da 
província. Nessa fase, os imigrantes estabeleceram suas 
colônias em Feliz, Bom Princípio, Estrela, Lajeado, Santa 
Cruz do Sul, Venâncio Aires e São Lourenço do Sul.
Terceira etapa (desde 1870)
Fase do desenvolvimento da industrialização. A 
acumulação de capital dos comerciantes permitiu in-
vestimentos no setor industrial: cervejarias, fábricas de 
calçados, olarias, curtumes e construção naval. Surgiram 
nessa época algumas das principais “dinastias“ familia-
res de origem germânica: Ritter, Renner, Mentz, Dreher, 
Sperb, Vontobel, Gerdau.
A grande maioria da comunidade alemã conti-
nuou sendo de colonos agricultores, submetidos a gran-
des dificuldades: precariedade técnica; pouca renda; 
e fracionamento de heranças dos lotes coloniais que 
já não eram muito grandes – o que causou o êxodo 
rural em direção ao planalto. O desenvolvimento dos 
imigrantes não foi acompanhado de uma efetiva parti-
cipação política, a não ser nas câmaras dos municípios 
de colonização alemã.
Somente em 1881, com a Lei Saraiva, os não ca-
tólicos e estrangeiros naturalizados tiveram direito ao 
voto. Isto beneficiou os alemães que eram, em sua gran-
de maioria, protestantes. Esta lei não valia, no entanto, 
para os italianos recém-chegados.
IMIGRAÇÃO ITALIANA NO 
RIO GRANDE DO SUL
Os italianos chegaram ao Rio Grande do Sul 
meio século depois dos alemães, mas pelos mesmos 
motivos. A unificação italiana (1870) provocou gra-
ve crise econômica. Como não havia um “sentimento 
nacional italiano“, dada a unificação política tardia, o 
mais forte elemento de coesão cultural era a religião, 
especialmente a prática do catolicismo. A maioria dos 
italianos vindos para o Brasil ficou em São Paulo, onde 
foram empregados nas fazendas de café, quando a es-
cravidão chegava ao fim. 
23
Numericamente, vieram muito mais italianos do que alemães para o Rio Grande do Sul. Entre 1824 e 1939, 
chegaram cerca de 75 mil alemães. Só entre 1875 a 1914, em comparação, chegaram por lá cerca de 84 mil italia-
nos. Eles foram assentados em terras do governo na serra gaúcha, região agreste e de difícil acesso à época. Vale 
destacar que os italianos receberam terras menores que as dos alemães e a maioria teve de pagar por seus lotes.
As primeiras colônias foram criadas entre 1870 e 1875: Conde d'Eu (atual Garibaldi), Princesa Dona Isabel 
(atual Bento Gonçalves) e Caxias do Sul. Após 1884, novas colônias foram criadas: São Marcos, Nova Pádua e 
Antônio Prado.
Os primeiros cultivos foram de milho, trigo e videiras, além da extração de madeira, origem da indústria 
moveleira. A venda do vinho forneceu os primeiros capitais a serem investidos nas pequenas oficinas, que, mais 
tarde, se tornaram grandes indústrias. Em 1890, em Caxias do Sul, existiam 235 pequenas indústrias e seis casas 
comerciais (sinal do rápido crescimento, após prévia acumulação de capital). Ainda na questão do vinho, em 1929 
foi criada a Sociedade Vinícola Rio-grandense, formada pelos grandes comerciantes e responsável por retirar do 
mercado os artesãos – devido à regulamentação do vinho garantida pela sociedade.
RIO GRANDE DO SUL NA PRIMEIRA REPÚBLICA 
Templo positivista da Av. João Pessoa, Porto Alegre/RS
Com a proclamação da república (1889), subiu ao poder no Estado o Partido Republicano Rio-grandense 
(PRR), formado por indivíduos oriundos do latifúndio pecuarista e setores médios urbanos. O PRR adotou o po-
sitivismo como ideologia, mas de maneira não ortodoxa. A concepção original do positivismo tinha uma visão 
progressista e conservadora ao mesmo tempo: pregava a aceleraçãodo desenvolvimento industrial, mas sem al-
terações. No contexto gaúcho, a adaptação do ideário positivista permitiu a implantação de um projeto capitalista 
com modernização econômica (em especial no setor dos transportes) e a ampliação da base política do governo 
– alianças com as “classes médias“ e com os grupos da região da colonização.
24
No Rio Grande do Sul, a implantação da repú-
blica implicou na adoção de um governo autoritário, 
fortemente centralizado na figura do chefe político. Isso 
pode ser notado nas características da Constituição Es-
tadual de 1891, elaborada pessoalmente por Júlio de 
Castilhos:
 Poder Legislativo estadual limitado a questões 
orçamentárias;
 Poder Executivo forte, com a utilização de decre-
tos que tinham valor de lei;
 Possibilidade de reeleição ilimitada do presiden-
te estadual.
A tomada do poder pelos republicanos, no en-
tanto, não se deu sem contestação. O novo governo 
teve de enfrentar a Revolução Federalista (1893-1895). 
A revolta da oposição tinha ex-liberais, ex-conserva-
dores e até alguns republicanos dissidentes. Enquanto 
os republicanos eram liderados por Júlio de Castilhos, 
reunidos no PRR, os federalistas tinham Gaspar Silveira 
Martins como líder.
A revolução federalista, em resumo, foi uma 
revolta de coronéis e representantes do poder local 
contra a ação política de Júlio de Castilhos. Com a 
subida dos republicanos ao poder, o pacto imperial 
foi rompido. O “pacto“ dos coronéis com o império 
funcionava assim: os coronéis da fronteira defendiam 
os interesses territoriais imperiais e, em troca, o go-
verno fazia vista grossa ao contrabando. Os repu-
blicanos prejudicaram esse “pacto“, rompendo com 
tais privilégios.
Havia, assim, dois grupos em confronto: os fede-
ralistas defendiam a volta da monarquia e o parlamen-
tarismo; e os republicanos defendiam o presidencialis-
mo e, obviamente, a república.
A revolução federalista veio a se constituir num 
marco divisório do tipo de coronelismo do Rio Grande 
do Sul. Na época do império, os coronéis liberais tinham 
ampla autonomia de ação em troca de votos. Com a 
tomada do poder pelos republicanos, sua autonomia foi 
restringida, o contrabando foi efetivamente combatido 
e taxas alfandegárias privilegiadas foram extintas.
As principais consequências dessa revolta coro-
nelista foram a consolidação do grupo republicano no 
poder (centralizada na figura de Júlio de Castilhos) e 
uma nova configuração da base social de apoio ao go-
verno, visto que os coronéis acabaram se dobrando ao 
peso do poder dos republicanos.
Em 1898, Júlio de Castilhos passou o poder a 
Borges de Medeiros, que, apoiado nas tradições posi-
tivistas, consolidou o regime republicano autoritário e 
centralizado. Para manter o poder estadual, Borges ado-
tou duas medidas estratégicas básicas:
Borges de Medeiros
1. a repressão a seus opositores, com o uso da for-
ça militar armada (exército e brigada militar); e
2. a prática do consenso, fazendo alianças com se-
tores sociais até então excluídos do jogo político 
– comerciantes, industriais e camadas médias 
urbanas.
Borges de Medeiros governou o Rio Grande do 
Sul de 1898 a 1908 e de 1913 a 1928, consolidando 
o poder do Partido Republicano Rio-grandense (PRR). 
Prática comum em todo o Brasil durante a primeira re-
pública, a fraude das eleições contribuiu para a perpetu-
ação dos republicanos no governo. Intimidando os elei-
tores por meio dos “cabos eleitorais“ e manipulando o 
resultado das urnas, os chefes políticos locais tinham 
um pacto político com o Partido Republicano Nacional 
(iniciado por Júlio de Castilhos), de apoio mútuo entre 
poder central e poder local.
25
A atuação do senador gaúcho Pinheiro Machado 
contribuiu para dar relevância ao Rio Grande do Sul no 
cenário nacional. Considerado o homem mais poderoso 
do senado nos anos 1905-1915, foi muito influente no 
governo de Hermes da Fonseca (1910-1914), inclusive 
indicando partidários do PRR a cargos ministeriais. Além 
disso, fez os “mexes“ necessários para que Borges pu-
desse nomear quem preencheria os empregos federais 
no Estado.
Em 1908, Fernando Abbott e Assis Brasil encabe-
çaram a primeira dissidência séria do PRR e fundaram 
o Partido Republicano Democrático (PRD). Nesse mo-
mento de crise para os republicanos positivistas, Borges 
de Medeiros afastou-se do poder (pois, em tese, não 
poderia concorrer à reeleição) e o governo foi assumido 
por Carlos Barbosa. 
Barbosa governou de 1908 a 1913. Entre suas 
obras estão o prédio da Faculdade de Medicina de Porto 
Alegre, a implantação dos cais dos portos de Porto Ale-
gre e de Rio Grande e a construção do Palácio Piratini 
(concluída por Borges de Medeiros).
Em 1913, Borges de Medeiros retornou ao poder 
num governo marcado pela implementação de impor-
tantes políticas públicas e pelo ressurgimento da opo-
sição no Estado, que acabou gerando mais uma revolta 
entre as elites, a chamada Revolução de 1923.
Borges decretou, em 1913, a nova lei eleitoral, 
possibilitando, pela primeira vez, que deputados de 
oposição ao governo fossem eleitos para a Assembleia 
Legislativa e Câmara dos Deputados. Era a tentativa do 
PRR de dar um verniz mais “democrático“ ao seu gover-
no autoritário, à medida que dava voz aos opositores. 
Para a época, o decreto de Borges foi bem astuto, pois a 
lei eleitoral representou a legitimação por parte do PRR 
da existência da oposição e, ao fazê-lo, o partido retira-
va desta oposição a base de sua luta, ou seja, o caráter 
ditatorial do governo.
Outro momento interessante para entender o go-
verno de Borges foi a eclosão da grande greve geral de 
1917, que atingiu, de certo modo, todo o país. O movimen-
to, iniciado no Rio de Janeiro e em São Paulo, teve grande 
impacto no Rio Grande do Sul. Os operários estavam or-
ganizados em sindicatos, em grande maioria, de tendên-
cia anarcossindicalista e altamente combativa. As greves 
iniciadas no final de julho e durante todo o mês de agosto 
não ocorreram somente na capital, mas também em diver-
sas outras cidades. As reivindicações, em geral, eram por 
aumento salarial e por uma jornada diária de 8 horas. 
Como o positivismo tinha a proposta de “incorpo-
rar o proletariado à sociedade moderna“, ou seja, fazê-
-lo trabalhar dentro da ordem, evitando o conflito social, 
Borges reconheceu o direito de greve como ato legíti-
mo. A intenção do governante era incorporar e resolver 
o problema operário, tentando trazer de volta a ordem 
e a tranquilidade. Porém, a postura “amena“ de Borges 
durou pouco. Na greve de 1919, diante da paralisação de 
cerca de um terço dos operários porto-alegrenses, Bor-
ges decretou o fechamento da Federação Operária do Rio 
Grande do Sul (Forgs) e de outras entidades operárias. 
Para o governo, as greves tinham deixado de ser uma 
pacífica manifestação de trabalhadores, tornando-se mo-
vimentos subversivos da ordem pública. 
Outro aspecto fundamental do governo borgista 
foi sua política de transportes, entendido como o prin-
cipal entrave para o desenvolvimento econômico do Es-
tado. Para enfrentar as condições de precariedade das 
ferrovias e do porto de Rio Grande (único porto marítimo 
do RS), Borges encampou (nacionalizou) as empresas 
estrangeiras que operavam as ferrovias e o porto de Rio 
Grande. A medida intervencionista do governo se deu 
em meio à crise econômica do pós-Primeira Guerra. Com 
a encampação, o governo gaúcho assumiu o porto e as 
ferrovias do Estado. Os pecuaristas, enfrentando pro-
blemas financeiros com a crise internacional, viram-se 
desassistidos por Borges, que empregou os recursos do 
Estado na efetiva modernização do complexo portuário.
Figura controversa, Borges de Medeiros foi um 
político de carisma ímpar. Hoje, é tratado como um dos 
maiores líderes políticos da história brasileira, embora 
seu legado seja pouco estudado fora das fronteiras do 
Rio Grande do Sul.
GOVERNO LEONEL BRIZOLA 
(1959-1963)
Em 1958, como candidato da coligação que reu-
niu o PTB, o Partido de RepresentaçãoPopular (PRP) e o 
PSP, Brizola foi eleito governador do Estado, derrotando 
Válter Peracchi Barcelos, candidato da coligação forma-
da pelo PSD, a UDN e o PL. Empossado em janeiro de 
1959, o governador deu início a uma administração vol-
tada fundamentalmente para os problemas do desen-
volvimento econômico. Considerando a crise pela qual 
passava a economia gaúcha como consequência de sua 
26
marginalização no âmbito da política econômica im-
plantada pelo governo Kubitschek, defendeu o desen-
volvimento do processo de industrialização do Estado 
baseado no capital privado nacional e na intervenção 
direta do governo estadual na economia. Defendendo 
a criação de um parque industrial diversificado e a luta 
contra o capital estrangeiro, iria se tornar, a partir de 
então, um dos líderes da esquerda nacionalista.
Logo no início do governo, criou o Gabinete de 
Planejamento e Administração, que teria como incum-
bência planificar de forma global todas as atividades do 
governo, inclusive aquelas em que haveria a convergên-
cia da iniciativa privada com o empreendimento público.
 
Leonel Brizola
No setor financeiro, o governo criaria a formação 
de canais de captação de recursos sob controle estatal. 
Assim, foi criada a Caixa Econômica Estadual, o Banco 
do Rio Grande do Sul passou para o controle acioná-
rio do Estado e foi ainda constituído o Banco Regional 
de Desenvolvimento Econômico (BRDE), em conjunto 
com os governos do Paraná e Santa Catarina. O Estado 
interveio no setor industrial por meio de uma série de 
medidas:
 criação da empresa mista Aços Finos Piratini, em 
dezembro de 1960, com participação estatal de 
51%, visando à exploração comercial e industrial 
de usinas siderúrgicas e de mineração do carvão;
 autorização para a subscrição de 20 milhões de 
ações para o aumento do capital da empresa 
Construções Eletromecânicas S.A., em janeiro 
de 1962, objetivando a fabricação de material 
pesado sem similar no Estado;
 implantação da Refinaria de Petróleo Alberto 
Pasqualini, cuja instalação pela Petrobras ocor-
reu, segundo Muniz Bandeira, graças à interven-
ção do governo estadual;
 além disso, foram intensificados contatos com 
fornecedores de tecnologia para a fabricação de 
tratores, implementos agrícolas e automóveis.
Em dezembro de 1962, seria aprovado o Progra-
ma Preliminar do Plano de Serviços e Investimentos Pú-
blicos, que dotava 60% dos investimentos em infraes-
trutura (energia, comunicações e transportes). No setor 
de transportes, o governo promoveu a construção das 
chamadas “estradas da produção”, ligando as regiões 
agrícolas do Estado aos portos de Rio Grande e de Porto 
Alegre. 
Visando ao aproveitamento das reservas carbo-
níferas, promoveu também a construção de algumas 
termelétricas, entre as quais a de Charqueadas, para 
aumentar a geração de energia elétrica, cuja escassez 
minava o desenvolvimento regional. O governo criou 
ainda a Companhia Rio-grandense de Telecomunica-
ções, empresa mista com participação estatal de 51%.
Em maio de 1959, Brizola decretou a estatiza-
ção, pelo preço simbólico de um cruzeiro, da Compa-
nhia de Energia Elétrica Rio-grandense, filial da Ameri-
can and Foreign Power Company (Amforp), proprietária 
da rede de distribuição na Grande Porto Alegre. Esta 
medida, apoiada pelas forças nacionalistas, gerou uma 
crise nas relações entre o Brasil e os Estados Unidos, 
que explodiria, posteriormente, no governo de João 
Goulart (1961-1964).
Em fevereiro de 1962 – já, portanto, no gover-
no Goulart –, seria também estatizada a Companhia 
Telefônica Rio-grandense, subsidiária da International 
Telephone and Telegraph (ITT). O fato repercutiu inten-
samente no Brasil e no exterior, provocando protestos 
imediatos do presidente da ITT e uma nota de protes-
to da embaixada dos EUA, dirigida ao então ministro 
das Relações Exteriores San Tiago Dantas. O chanceler 
organizou uma reunião no Itamaraty, com a presença 
de Brizola, do embaixador do Brasil nos Estados Unidos, 
Roberto Campos, do embaixador estadunidense no Bra-
sil, Lincoln Gordon, e representantes da ITT. A reunião, 
convocada com a finalidade de estabelecer um acordo, 
fracassou.
Esses episódios tiveram ampla repercussão na 
imprensa, intensificando-se a partir de então o deba-
te em torno da nacionalização das concessionárias de 
serviço público. Os primeiros passos para a solução 
do problema seriam dados em abril de 1962, quando 
o presidente João Goulart afirmou aos estadunidenses 
que seria mantido o “princípio de justa compensação 
com reinvestimento em outros setores importantes para 
o desenvolvimento do Brasil”. Em 30 de maio seguinte, 
27
foi criada a Comissão de Nacionalização das Empresas 
Concessionárias de Serviços Públicos (Conesp), primeira 
medida tomada pelo governo a partir das negociações 
feitas nos Estados Unidos.
Aprofundando o compromisso com suas bases 
eleitorais populares, Brizola tomou uma série de me-
didas visando a atender seus interesses. No campo da 
Educação, projetou em escala estadual o que fizera em 
Porto Alegre, dotando o Rio Grande do Sul de uma rede 
de ensino primário e médio que atingiu os mais longín-
quos e desassistidos municípios. Ao fim de seu mandato, 
foram construídas 5902 escolas primárias, 278 escolas 
técnicas e 131 ginásios e escolas normais, totalizando 
6.302 novos estabelecimentos de ensino; foram abertas 
também 688.209 novas matrículas e admitidos 42.153 
novos professores.
Tomando medidas que visavam ao encaminha-
mento da reforma agrária no Estado, Brizola apoiou o 
Movimento dos Agricultores Sem Terra (Master). O go-
verno apoiou ainda os movimentos que organizaram 
acampamentos de milhares de agricultores em lati-
fúndios e terras devolutas, como na Fazenda Sarandi, 
onde se reuniram mais de dez mil pessoas reivindicando 
terras, lá permanecendo de forma pacífica; ou ainda na 
região de Banhado do Colégio, onde foi formado outro 
acampamento, também com mais de dez mil pessoas, 
muitas de origem polonesa e alemã. Brizola decretou 
a desapropriação de ambas as áreas, declarando-as 
de interesse social, distribuiu-as entre os agricultores e 
ofereceu ainda assistência técnica. Essa política do go-
verno com relação à questão agrária provocaria fortes 
protestos da Federação das Associações Rurais do Rio 
Grande do Sul.
CAMPANHA DA LEGALIDADE 
Em 25 de agosto de 1961, surpreendendo a na-
ção, Jânio Quadros renunciou à Presidência. No mesmo 
dia, devido à ausência do vice-presidente João Goulart, 
que estava em missão oficial na República Popular da 
China, foi empossado interinamente o presidente da 
Câmara, Ranieri Mazzilli, do PSD. Diante da tentativa de 
veto dos ministros militares – marechal Odílio Denys, da 
Guerra, vice-almirante Sílvio Heck, da Marinha, e briga-
deiro Gabriel Grün Moss, da Aeronáutica – à posse de 
Goulart, abriu-se uma crise de grandes proporções.
Imediatamente, começou a se desenvolver em 
várias regiões um movimento de resistência aos planos 
dos ministros militares, visando a garantir a posse do 
vice-presidente. Este movimento teve seu ponto mais 
alto no Rio Grande do Sul, sob a liderança de Brizola, 
que, depois de ocupar militarmente as emissoras da Rá-
dio Guaíba e da Rádio Farroupilha, formou a chamada 
“cadeia da legalidade”, comandando 104 emissoras 
gaúchas, catarinenses e paranaenses e mobilizando a 
população em defesa da posse de Goulart.
28
No dia 28, o comandante do Terceiro Exército, 
general Machado Lopes, recebeu ordens de Denys no 
sentido de pôr fim ao movimento de resistência encabe-
çado por Brizola, agindo com toda a energia e, se pre-
ciso, deslocando tropas do interior em direção a Porto 
Alegre para tomar de assalto o Palácio Piratini, sede do 
governo estadual. De acordo com as orientações, caso 
fosse necessário, Machado Lopes deveria até empregar 
aviões para bombardear o Palácio. Segundo denúncia 
do deputado Rui Ramos (PTB-RS), as instruções inclui-
riam o assassinato de Brizola. Machado

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