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AGORA+ | http://www.apostilasagora.com.br 215Conhecimentos Gerais | PC-RS 2013 Entendendo o programa Em concursos da área de segurança pública do estado do Rio Grande do Sul, especialmente nos últimos anos, a exigência de conhecimentos gerais para os candidatos, nas áreas de história, geografia, política, economia e cultura do nosso estado, vem se intensificado com o aparecimento de questões bem elaboradas, com um nível de dificuldade, muitas vezes, muito superior ao exigido nos cursos de formação do Ensino Médio. Certamente a pretensão da comissão organizadora do Concurso da Polícia Civil é a seleção, entre as centenas de candidatos a esses honrosos cargos, de um aprovando que possua uma ampla visão social possibilitada pela consciência da realidade e das repercussões históricas para o nosso cotidiano. Uma das preocupações que deve nortear a formação do candidato é o volume de informações que, aparentemente, pode ser abstraído da seleção proposta para a área de conhecimentos gerais. Quando o edital menciona “contextos históricos, geográficos, políticos, econômicos e culturais do Brasil e do Rio Grande do Sul” parece que estamos diante de um conhecimento enciclopédico, com centenas de ramificações e perspectivas, num contexto extremamente subjetivo, dificultando o reconhecimento objetivo das intenções da banca examinadora. Nessa situação o que fazer? Como se preparar para as questões previstas para o concurso em tela? Para tentar responder a essas perguntas, nos debruçamos em dois elementos importantes para a elaboração de provas de concursos públicos: I) bibliografia recomendada e II) provas anteriores de concursos. Acreditamos – mesmo com a generalidade perigosa do exigido nesse concurso – que a banca apresentará questões que tenham por base o reconhecimento da unidade desses conhecimentos. Por isso mesmo a banca menciona o termo CONTEXTOS para se referir ao exigido na prova. Contexto é uma palavra proveniente do latim e, segundo o dicionário Aurélio, remete a um “encadeamento das ideias dum escrito” e o imaginário de “conjunto; todo, totalidade”. Assim, os professores que irão elaborar a prova devem ter em mente essa “costura” que os conhecimentos gerais exigem: a “decoreba” cederia o lugar ao reconhecimento e interpretação dos fatos contextualizando com nosso espaço, na nossa atualidade. Dada a essa necessidade, queremos apresentar ao candidato que se prepara uma rápida recapitulação dos conhecimentos gerais procurando, quando possível, sistematizar as matérias buscando o encadeamento dos fatos e aproximando a matéria ao nosso espaço geopolítico, o Rio Grande do Sul1. Questões aplicadas pela FDRH-RS no certame anterior (PC-RS 2010) 1. [Inspetor – PC/RS 2010 (FDRH)] Os Sete Povos das Missões, fundados pelos jesuítas a partir de 1682, tinham como atividades econômicas básicas (A) o ensino religioso e a fiação e tecelagem. (B) a agricultura de subsistência e a arte da escultura. (C) a extração mineral e a prática da música. (D) a criação de gado e a produção de erva-mate. (E) a extração da madeira e a metalurgia 1 Bibliografia consultada: PRADO JÚNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 2006. VESENTINI, José William. Geografia: Um mundo em transição. São Paulo, Ática, 2010. BAUMAN, Zygmunt. Globalização: as consequências humanas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,1999. PESAVENTO, Sandra. História do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1980. MAGNOLI, Demétrio; OLIVEIRA, Giovana; MENEGOTTO, Ricardo. Cenário Gaúcho: representações históricas e geográficas. São Paulo: Moderna, 2001. SANTOS, Milton e SILVEIRA, María Laura. O Brasil: território e sociedade no início do Século XXI. 6ª Ed. Rio de Janeiro: Record, 2004. SCHMIDT, Mario. Nova História Crítica do Brasil. São Paulo: Editora Nova Geração, 1992. VERDUM, Roberto, BASSO, Alberto e SUERTEGARAY, Dirce. (orgs) Rio Grande do Sul - Paisagens e Terr. em Transformação. Porto Alegre: UFRGS, 2004. VESENTINI, José William. Brasil: sociedade e espaço. São Paulo: Editora Ática, 2001. AGORA+ | http://www.apostilasagora.com.br 216Conhecimentos Gerais | PC-RS 2013 2. [Inspetor – PC/RS 2010 (FDRH)] Sobre a distribuição de sesmarias no Rio Grande do Sul, na terceira década do século XVIII, analise as afirmações abaixo. I. A Coroa portuguesa distribuiu terras aos tropeiros, que se sedentarizaram, e aos militares, que se afazendaram. II. As sesmarias distribuídas entre os militares foram concedidas como retribuição aos serviços prestados. III. As sesmarias constituíram-se em estâncias com criação extensiva do rebanho e utilizaram peões como mão de obra assalariada. IV. A mão de obra escrava não foi utilizada no desenvolvimento da atividade econômica nas propriedades que se formaram nas sesmarias. Quais estão corretas? (A) Apenas a I e a II. (B) Apenas a II e a III. (C) Apenas a III e a IV. (D) Apenas a I, a III e a IV. (E) Apenas a I, a II e a IV. 3. [Escrivão – PC/RS 2010 (FDRH)] “Em dias de bom tempo, áreas como o centro de Porto Alegre, cobertas por edifícios elevados, armazenam quantidades maiores de calor do que os bairros com prédios mais baixos e casas intercaladas por pequenos jardins e praças.” (VERDUM e outros, 2004). Esse fenômeno é denominado de (A) inversão térmica (B) ilha de calor (C) efeito estufa (D) chuva ácida (E) pressão atmosférica 4. [Escrivão – PC/RS 2010 (FDRH)] Ao se analisar Porto Alegre, é possível discutir a qualidade do ar e, consequentemente, a qualidade de vida de sua população. (VERDUM et al, 2004) Pode-se apontar como principal responsável pela poluição atmosférica em Porto Alegre, (A) as queimadas na zona sul do município (B) as atividades industriais no município (C) a inversão térmica (D) o desmatamento nas áreas de ocupação irregular (E) os veículos automotores 5. [Escrivão – PC/RS 2010 (FDRH)] Analise as afirmações abaixo sobre as migrações no Brasil. I. Os migrantes gaúchos provocaram transformações relevantes no espaço rural do interior do Brasil na segunda metade do século XX. II. Os gaúchos levaram consigo para outros estados uma nova dinâmica econômica, por meio da moderna indústria, associada à produção de soja. III. A migração dos gaúchos caracterizou-se pela implantação de um modo de vida cultural e político, além de econômico. IV. Os migrantes gaúchos oriundos das áreas de campos instalaram-se em grandes propriedades onde implantaram a criação de gado bovino. Quais estão corretas? (A) Apenas a I e a IV. (B) Apenas a II e a III. (C) Apenas a III e a IV. (D) Apenas a I, a II e a III. (E) Apenas a I, a II e a IV. 6. [Escrivão – PC/RS 2010 (FDRH)] O confinamento espacial, em distintos momentos históricos, tem sido a forma encontrada, ao longo do tempo, para lidar com questões de difíceis soluções nos diferentes territórios. NÃO são exemplos desse contexto no território brasileiro somente os (A) leprosos e os leprosários. (B) servos e os quilombos (C) criminosos e os presídios (D) escravos e as senzalas (E) doentes mentais e os hospícios AGORA+ | http://www.apostilasagora.com.br 217Conhecimentos Gerais | PC-RS 2013 7. [Escrivão – PC/RS 2010 (FDRH)] A disputa entre estados e municípios pela presença de empresas, em razão da sua busca de lugares para se instalarem lucrativamente, é considerada, sobretudo, em seus aspectos (A) locacionais (B) produtivos (C) físicos (D) climáticos (E) fiscais 8. [Escrivão – PC/RS 2005 (FDRH)] Numere a segunda coluna de acordo com a primeira: 1. Planalto Meridional 2. Campanha 3. Litoral 4. Depressão Central 5. Serras do Sudeste ( ) O traço principal é o Rio Jacuí onde encontram-se jazidas de carvão mineral. ( ) Sequencia de morros arredondados, cortados por rios e vegetação de campos. ( ) Área constituída por rochas basálticas onde ocorrem as maioresaltitudes do estado e também as temperaturas mais baixas. ( ) Área de campos com pequenas ondulações de relevo e baixas altitudes. ( ) Área de planície com dunas, solo arenoso e vegetação rasteira. A numeração correta da segunda coluna, de cima para baixo é: (A) 1 – 2 – 3 – 4 – 5 (B) 5 – 4 – 3 – 2 – 1 (C) 4 – 5 – 1 – 2 – 3 (D) 2 – 3 – 1 – 4 – 5 (E) 4 – 2 – 5 – 1 – 3 9. [Escrivão – PC/RS 2005 (FDRH)] As imagens abaixo são consideradas zonas turísticas do Rio Grande do Sul, tanto por suas belas paisagens naturais como sua cultura e sua história. Identifique a alternativa correta. I. II. III. (A) I. Torres; II. Gramado; III. Missões. (B) I. Tramandaí; II. Bento Gonçalves; III. Missões. (C) I. Torres; II. Bento Gonçalves; III. Alegrete. (D) I. Tramandaí; II. Gramado; III. Alegrete. (E) I. Torres; II. Caxias do Sul; III. Alegrete. 10. [Escrivão – PC/RS 2005 (FDRH)] “O Laçador” é considerado o monumento que simboliza o gaúcho e marca uma das entradas de Porto Alegre. Foi esculpido por Antônio Caringi e teve como modelo um dos fundadores do movimento tradicionalista juntamente com sete colegas da Escola Estadual Júlio de Castilhos em 1947. Quem é ele? (A) Barbosa Lessa (B) Paixão Cortes. (C) Jaime Caetano Braum. (D) Darcy Fagundes. (E) Luiz de Menezes. Gabarito: 1. D; 2. A; 3. B; 4. E; 5. D; 6. B; 7. E; 8. C; 9. A; 10. B. AGORA+ | http://www.apostilasagora.com.br 218Conhecimentos Gerais | PC-RS 2013 A História do Brasil é um domínio de estudos de História focado na evolução do território e da sociedade brasileiros que, canonicamente, se estende desde a chegada dos portugueses, em 1500, até os dias atuais. No entanto, este artigo também contém informações sobre a pré-história do Brasil, ou seja, o período em que não houve registros escritos sobre as atividades aqui desenvolvidas pelos povos indígenas. A periodização tradicional divide a História do Brasil normalmente em quatro períodos gerais: Pré-Descobrimento (até 1500), Colônia (1500 a 1822), Império (1822 a 1889) e República (de 1889 aos dias atuais). Ocupação e povoamento Sociedades indígenas Essa terra tem dono?!? Antes da chegada dos portugueses ao Brasil, os povos ameríndios já haviam ocupado todo território latino-americano em 9000 a. C., sendo que em 2000 a. C. já se praticava a agricultura em todos os cantos do país. Na região onde hoje é o estado de São Paulo, se encontravam as famílias indígenas dos tupis, guaranis e dos jês, famílias estas compostas de vários troncos linguísticos e inúmeros dialetos. Com a chegada dos portugueses, iniciou-se um processo de genocídio dos indígenas, pois dos 3,5 milhões de ameríndios nos idos do século XVI, temos hoje um pouco mais de 200 mil indivíduos. Além deste extermínio em massa, temos também a escravização (subjugando-os à exploração colonial), a expulsão de suas terras, o desrespeito à sua cultura e linguagem (em paralelo ao processo de catequização), além das inúmeras mortes por doenças trazidas pelos colonizadores. A visão portuguesa do Brasil era uma imensa terra sem dono, em eterna primavera e inocência. O gesto de batizarem a todos os lugares com o nome dos santos dos dias (Todos os Santos, São Sebastião, São Vicente, Monte Pascoal) confirma sua ideia de propriedade da terra, enquanto construção sociopolítica que hoje conhecemos. Origem dos povos ameríndios Os habitantes do continente americano descendem de populações advindas da Ásia, sendo que os vestígios mais antigos de sua presença na América, obtidos por meio de estudos arqueológicos, datam de 11 a 12,5 mil anos. Todavia, ainda não se chegou a um consenso acerca do período em que teria havido a primeira leva migratória. Os povos indígenas que hoje vivem na América do Sul são originários de povos caçadores que aqui se instalaram, vindo da América do Norte através do istmo do Panamá, e que ocuparam virtualmente toda a extensão do continente há milhares de anos. De lá para cá, estas populações desenvolveram diferentes modos de uso e manejo dos recursos naturais e formas de organização social distintas entre si. Não existe consenso também, entre os arqueólogos, sobre a antiguidade da ocupação humana na América do Sul. No passado, o ponto de vista mais aceito sobre este assunto era o de que os primeiros habitantes do continente sul- americano teriam chegado há pouco mais de 11 mil anos. No Brasil, a presença humana está documentada no período situado entre 11 e 12 mil anos atrás. Mas novas evidências têm sido encontradas na Bahia e no Piauí que comprovariam ser mais antiga esta ocupação, com o que muitos arqueólogos não concordam. Assim, há uma tendência cada vez maior de os pesquisadores reverem essas datas, já que pesquisas recentes vêm indicando datações muito mais antigas. Como viviam antes da ocupação europeia Organizados em pequenas comunidades ou tribos, com culturas diferentes, - os antigos - viviam da caça, da pesca e da coleta de produtos da floresta. Tendo desenvolvido técnicas para o cultivo de milho, feijão, abóbora, batata, mandioca, abacaxi domesticavam, também, pequenos animais. A divisão das tarefas diárias era feita tendo como critérios básicos sexo e idade, onde todos ajudavam. O conhecimento, as práticas, história, religião e tradição dos rituais ligados ou não a religião eram transmitidos de geração para geração por via oral. Os chefes das tribos eram os mais velhos, e eram eles que resolviam os problemas relacionados a doença, morte, desavenças familiares, atritos entre as tribos vizinhas, guerras e paz. AGORA+ | http://www.apostilasagora.com.br 219Conhecimentos Gerais | PC-RS 2013 Tratado de Tordesilhas (1494) O Tratado de Tordesilhas, celebrado por Espanha (Castela) e Portugal em 7 de junho de 1494, fixou critérios de partilha entre os dois países, das terras descobertas além-mar por Colombo e outros navegadores posteriores. Já anteriormente, em 1493, o Papa Alexandre VI expedira bulas fixando uma linha de fronteira (meridiano) de polo a polo a cem léguas do arquipélago de Cabo Verde. A Espanha teria o domínio exclusivo sobre as terras a oeste da linha e Portugal sobre aquelas a leste. Nenhuma outra potência poderia ocupar territórios que já se encontrassem sob um soberano cristão. O Tratado de Tordesilhas definiu as áreas de domínio do mundo extraeuropeu. Demarcando os dois hemisférios, de polo a polo, deu a Portugal o direito de posse sobre a faixa de terra onde se encontrava o Brasil: ficou Portugal com as terras localizadas a leste da linha de 370 léguas traçadas a partir de Açores e Cabo Verde, e a Espanha com as terras que ficassem do lado ocidental desta linha. O Tratado de Tordesilhas impediu um conflito entre as duas nações ibéricas e consagrou o princípio da livre movimentação de conquista e exploração, desses dois países, nos domínios reservados. O direito de posse de Portugal sobre a faixa de terra onde se encontrava o Brasil foi produto de crescentes rivalidades entre Portugal e Espanha pelas terras do Novo Mundo, durante a segunda metade do século XV. A proximidade das datas do Tratado de Tordesilhas (1494) e do “descobrimento” (1500) faz supor que Portugal já sabia da existência das terras brasílicas antes mesmo da expedição cabralina. Chegada dos portugueses (1500) No dia 22 de abril de 1500, o português Pedro Álvares Cabral, saindo de Lisboa, iniciou viagem para oficialmente descobrir e tomar posse das novas terras para a Coroa, e depois seguir viagem para a Índia (contornando a África para chegar a Calicute). Levava duas caravelas e 13 naus, e de 1.200 a 1.500 homens - entre os mais experientes Nicolau Coelho, que acabava de regressar da Índia; Bartolomeu Dias, que descobrira o cabo da Boa Esperança, e seu irmão Diogo Dias. As principais naus se chamavam Anunciada, São Pedro, Espírito Santo, El-Rei, Santa Cruz, Fror de la Mar, Victoria e Trindade . A terra, a que os nativoschamavam Pindorama (“terra das palmeiras”), foi a princípio chamada pelos portugueses de Ilha de Santa Cruz e nela foi erguido um padrão (marco de posse em nome da Coroa Portuguesa). Mais tarde, a terra seria rebatizada como Terra de Vera Cruz e posteriormente Brasil. Estava situada 5.000km ao sul das terras descobertas por Cristóvão Colombo em 1492 e 1.400 quilômetros aquém da Linha de Tordesilhas. O período pré-colonial: a fase do pau-brasil (1500 a 1531) A expressão “descobrimento” do Brasil está carregada de eurocentrismo por desconsiderar a existência dos índios na terra antes da chegada dos portugueses. Portanto, será mais correto o termo “chegada” dos portugueses ao Brasil. Outros autores preferem dizer “achamento” do Brasil. A data em que ocorreu, 22 de abril de 1500, inaugura a fase pré-colonial. Neste período não houve colonização, pois os portugueses não se fixaram na terra. AGORA+ | http://www.apostilasagora.com.br 220Conhecimentos Gerais | PC-RS 2013 Após os primeiros contatos com os indígenas, muito bem relatados na Carta a El-Rei D. Manuel de Pero Vaz de Caminha, os portugueses começaram a explorar o pau-brasil da mata Atlântica. O pau-brasil tinha grande valor no mercado europeu, pois sua seiva avermelhada era muito utilizada para tingir tecidos e fabricação de móveis e embarcações. Inicialmente os próprios portugueses cortavam as árvores, mas devido ao fato destas não estarem concentradas em uma região, mas espalhadas pela mata, aqueles passaram a utilizar mão-de-obra indígena para o corte. No princípio, os índios não eram escravizados, eram pagos em forma de escambo, ou seja, simples troca. Apitos, chocalhos, espelhos e outros objetos utilitários foram oferecidos aos nativos em troca de seu trabalho (cortar o pau-brasil e carregá-lo até às caravelas). Os portugueses continuaram a exploração da madeira, erguendo toscas feitorias no litoral, apenas armazéns e postos de trocas com os indígenas. Apesar do pau-brasil ter o seu valor, o comércio de especiarias com as Índias ainda era muito mais lucrativo. Neste período Portugal sofria de escassez de mão-de-obra e recursos, de forma que investir na extração de pau-brasil significava deixar de ganhar dinheiro nas Índias. Assim a Coroa reservou aos principais nobres os privilégios de explorarem as Índias, e à nobreza do “segundo escalão” as concessões para a exploração de pau-brasil sob sistema de estanco (o pau-brasil, considerado monopólio da Coroa portuguesa, era concedido para exploração a particulares mediante o pagamento de impostos). Durante 30 anos, a costa foi também explorada por holandeses, ingleses e principalmente franceses. Embora essas nações não figurassem no Tratado de Tordesilhas (acordo entre Portugal e Espanha que dividiu em 1494, terras recém descobertas) enviavam ao Brasil navios empenhados em explorar o Atlântico e recolher a preciosa madeira, pois consideravam que tinha direito à posse das terras o país que as ocupasse. A costa brasileira era terra aberta para os navios do corso (os «corsários»), pois inexistiam povoações ou “guarda costeira” que a defendesse. Para tentar evitar estes ataques, Portugal organizou e enviou ao Brasil as chamadas expedições guarda-costas, com poucos resultados. De qualquer forma, os franceses se incomodaram com as expedições de Cristóvão Jacques, encarregado das expedições guarda-costas, achando-se prejudicados; e sem que suas reclamações fossem atendidas, Francisco I (1515- 1547), então Rei da França, deu a Jean Ango, um corsário, uma carta de marca que o autorizava a atacar navios portugueses para se indenizar dos prejuízos sofridos. Isso fez com que D. João III, rei de Portugal, enviasse a Paris Antônio de Ataíde, o conselheiro de Estado, para obter a revogação da carta, o que foi feito, segundo muitos autores, à custa de presentes e subornos. Logo recomeçaram as expedições francesas. O rei francês, em guerra contra Carlos V, rei do Sacro Império Romano, praticamente atual Alemanha, não podia moderar os súditos, pois sua burguesia tinha interesses no comércio clandestino e porque o governo dele se beneficiava indiretamente, já que os bens apreendidos pelos corsários eram vendidos por conta da Coroa. As boas relações continuariam entre França e Portugal, e da missão de Rui Fernandes em 1535 resultou a criação de um tribunal de presas franco-português na cidade de Baiona, embora de curta duração, suspenso pelas divergências nele verificadas. Henrique II, atual rei da França, filho de Francisco I, iria proibir em 1543 expedições a domínios de Portugal. Até que se deixassem outra vez tentar e tenham pensado numa França Antártica, uma colônia tentada no Rio de Janeiro, em 1555 ou numa França Equinocial. A falta de segurança da terra é a origem direta da expedição de Martim Afonso de Sousa, nobre militar lusitano, e a posterior cessão dos direitos régios a doze donatários. Em 1530, D. João III mandou organizar a primeira expedição com objetivos de colonização. Esta tinha como objetivos: povoar o território brasileiro, expulsar os invasores e iniciar o cultivo de cana-de-açúcar no Brasil. Exploração do pau-brasil e a mão-de-obra escrava Durante o período pré-colonial (1500 – 1530), os portugueses desenvolveram a atividade de exploração do pau-brasil, árvore abundante na Mata Atlântica naquele período. A exploração dessa matéria-prima foi possibilitada não só pela sua localização, já que as florestas estavam próximas ao litoral, mas também pela colaboração dos índios, com os quais os portugueses desenvolveram um tipo de comércio primitivo baseado na troca – o escambo. Em troca de mercadorias europeias baratas e desconhecidas, os índios extraíam e transportavam o pau-brasil para os portugueses até o litoral. A partir do momento em que os colonizadores passam a conhecer mais de perto o modo de vida indígena, com elementos desconhecidos ou condenados pelos europeus, a exemplo da antropofagia, os portugueses passam então a alimentar uma certa desconfiança em relação aos índios. A colaboração em torno da atividade do pau-brasil já não era mais possível e os colonos tentam submetê-los à sua dominação, impondo sua cultura, sua religião – função esta que coube aos jesuítas, através da catequese – e forçando-os ao trabalho compulsório nas lavouras, já que não dispunham de mão-de-obra. A escravidão no Brasil segue assim paralelamente ao processo de desterritorialização sofrido por estes. Diante dessa situação, os nativos só tinham dois caminhos a seguir: reagir à escravização ou aceitá-la. Houve reações em todos os grupos indígenas, muitos lutando contra os colonizadores até a morte ou fugindo para regiões mais remotas. Essa reação indígena contra a dominação portuguesa ocorreu pelo fato de que as sociedades indígenas sul-americanas desconheciam a hierarquia e, consequentemente, não aceitavam o trabalho compulsório. Antes dos estudos etnográficos AGORA+ | http://www.apostilasagora.com.br 221Conhecimentos Gerais | PC-RS 2013 mais profundos (fins do século XIX e, principalmente, século XX), pensava-se que os índios eram simplesmente “inaptos” ao trabalho, tese que não se sustenta depois de pesquisas antropológicas em suas sociedades sem o impacto desestabilizador do domínio forçado. Os índios assimilados, por sua vez, eram superexplorados e morriam, não só em decorrência dos maus-tratos recebidos dos portugueses, mas também em decorrência de doenças que lhes eram desconhecidas e que foram trazidas pelos colonos europeus, como as doenças venéreas e a varíola. Diante das dificuldades encontradas na escravização dos indígenas, a solução encontrada pelos colonizadores foi buscar a mão-de-obra em outro lugar: no continente africano. Essa busca por escravos na África foi incentivada por diversos motivos. Os portugueses tinham interesse em encontrar um meio de obtenção de altos lucros com a nova colônia, e a resposta estava na atividade açucareira, uma vez que o açúcar tinhagrande aceitação no mercado europeu. A produção dessa matéria-prima, por sua vez, exigia numerosa mão-de-obra na colônia e o lucrativo negócio do tráfico de escravos africanos foi a alternativa descoberta, iniciando-se assim a inserção destes no então Brasil colônia. Convém ressaltar que a escravidão de indígenas perdura até meados do século XVIII. Colônia (1532 - 1822) e Império (1822 - 1889): Administração, economia, política, sociedade e cultura Capitanias Hereditárias (1532 - 1549) Na década de 1530, Portugal começava a perder a hegemonia do comércio na África Ocidental e no Índico. Circulavam insistentes notícias da descoberta de ouro e de prata na América Espanhola. Então, em 1532, o rei decidiu ocupar as terras pelo regime de capitanias, mas num sistema hereditário, pelo qual a exploração passaria a ser direito de família. O capitão e governador, títulos concedidos ao donatário, teria amplos poderes, dentre os quais o de fundar povoamentos (vilas e cidades), conceder sesmarias e administrar a justiça. O sistema de capitanias hereditárias implicava na divisão de terras vastíssimas, doadas a capitães- donatários que seriam responsáveis por seu controle e desenvolvimento, e por arcar com as despesas de colonização. Foram doadas aos que possuíssem condições financeiras para custear a empresa da colonização, e estes eram principalmente “membros da burocracia estatal” e “militares e navegadores ligados à conquista da Índia” (segundo Eduardo Bueno em “História de Brasil”). De acordo com o mesmo autor, a sugestão teria sido dada ao rei por Diogo de Gouveia, ilustre humanista português, e respondia a uma “absoluta falta de interesse da alta nobreza lusitana” nas terras americanas. Foram criadas, nesta divisão, quinze faixas longitudinais de diferentes larguras que iam de acidentes geográficos no litoral até o Meridiano das Tordesilhas, e foram oferecidas a doze donatários. Destes, quatro nunca foram ao Brasil; três faleceram pouco depois; três retornaram a Portugal; um foi preso por heresia (Tourinho) e apenas um se dedicou à colonização (Duarte Coelho em Pernambuco). • Primeira capitania do Maranhão: entregue a João de Barros e Aires da Cunha; • Segunda capitania do Maranhão: entregue a Fernando Álvares de Andrade; • Capitania do Ceará: entregue a António Cardoso de Barros; • Capitania do Rio Grande: entregue a João de Barros e Aires da Cunha; • Capitania de Itamaracá: entregue a Pero Lopes de Sousa; • Capitania de Pernambuco ou Nova Lusitânia: entregue a Duarte Coelho; • Capitania da Baía de Todos os Santos: entregue a Francisco Pereira Coutinho; • Capitania dos Ilhéus: entregue a Jorge de Figueiredo Correia; • Capitania de Porto Seguro: entregue a Pero de Campos Tourinho; • Capitania do Espírito Santo: entregue a Vasco Fernandes Coutinho; • Capitania de São Tomé: entregue a Pero de Góis; • Capitania do Rio de Janeiro: entregue a Martim Afonso de Sousa; • Capitania de Santo Amaro: entregue a Pero Lopes de Sousa; • Capitania de São Vicente: entregue a Martim Afonso de Sousa; • Capitania de Santana: entregue a Pero Lopes de Sousa Das quinze capitanias originais, apenas as capitanias de Pernambuco e de São Vicente prosperaram. As terras brasileiras ficavam a dois meses de viagem de Portugal. Além disso, as notícias das novas terras não eram muito animadoras: na viagem, além do medo de “monstros” que habitariam o oceano (na superstição europeia), tempestades eram frequentes; nas novas terras, florestas gigantescas e impenetráveis, povos antropófagos e não havia nenhuma riqueza mineral ainda descoberta. Em 1536, chegou o donatário da capitania da Baía de Todos os Santos, Francisco Pereira Coutinho, que fundou o Arraial do Pereira, na futura cidade do Salvador, mas se revelou mau administrador e foi morto pelos tupinambás. Tampouco tiveram maior sucesso as capitanias dos Ilhéus e do Espírito Santo, devastadas por aimorés e tupiniquins. AGORA+ | http://www.apostilasagora.com.br 222Conhecimentos Gerais | PC-RS 2013 Governo-Geral (1549 - 1580) Tomé de Sousa Após o fracasso do projeto de capitanias, o rei João III unificou as capitanias sob um Governo-Geral do Brasil e em 7 de janeiro de 1549 nomeou Tomé de Sousa para assumir o cargo governador-geral. A expedição do primeiro governador chegou ao Brasil em 29 de março do mesmo ano, com ordens para fundar uma cidade para abrigar a sede da administração colonial. O local escolhido foi a Baía de Todos os Santos e a cidade foi chamada de São Salvador da Baía de Todos os Santos. As condições favoráveis da terra, o clima quente, o solo fértil, a excelente posição geográfica, fizeram com que o rei decidisse reverter a capitania para a Coroa (expropriando-a do donatário Pereira Coutinho). As tarefas de Tomé de Sousa eram tornar efetiva a guarda da costa, auxiliar os donatários, organizar a ordem política e jurídica na colônia. O governador organizou a vida municipal, e sobretudo a produção açucareira: distribuiu terras e mandou abrir estradas, além de fazer construir um estaleiro. Desse modo, o Governo-Geral centralizou a administração colonial, subordinando as capitanias a um só governador-geral que tornasse mais rápido o processo de colonização. O governador também levou ao Brasil os primeiros missionários católicos, da ordem dos jesuítas, como o padre Manuel da Nóbrega. Por ordens suas, ainda, foram introduzidas na colônia as primeiras cabeças de gado, de novilhos levados de Cabo Verde. Ao chegar à Bahia, Tomé de Sousa encontrou o velho Arraial do Pereira com seus moradores, e mudaram o nome do local para Vila Velha. Também moravam nos arredores o náufrago Diogo Álvares “Caramuru” e sua esposa Paraguaçu (batizada como Catarina), perto da capela de Nossa Senhora das Graças (hoje o bairro da Graça, em Salvador). Consta que Tomé de Sousa teria pessoalmente ajudado a construir as casas e a carregar pedras e madeiras para construção da capela de Nossa Senhora da Conceição da Praia, uma das primeiras igrejas erguidas no Brasil. Duarte da Costa Em 1553, a pedidos, Tomé de Sousa foi exonerado do cargo e substituído por Duarte da Costa, fidalgo e senador nas Cortes de Lisboa. Em sua expedição foram também 260 pessoas, incluindo seu filho, Álvaro da Costa, e o então noviço José de Anchieta, jesuíta basco que seria o pioneiro na catequese dos nativos americanos. A administração de Duarte foi conturbada. Já de início, a intenção de Álvaro em escravizar os indígenas, incluindo os catequizados, esbarrou na impertinência de Dom Pero Fernandes Sardinha, primeiro bispo do Brasil. O governador interveio a favor do filho e autorizou a captura de indígenas para uso em trabalho escravo. Disposto a levar as queixas pessoalmente ao rei de Portugal, Sardinha partiu para Lisboa em 1556 mas naufragou na costa de Alagoas e acabou devorado pelos caetés antropófagos. Durante o governo de Duarte da Costa, uma expedição de protestantes franceses se instalou permanentemente na Guanabara e fundou a colônia da França Antártica. Ultrajada, a Câmara Municipal da Bahia apelou à Coroa pela substituição do governador. Em 1556, Duarte foi exonerado, voltou a Lisboa e em seu lugar foi enviado Mem de Sá, com a missão de retomar a posse portuguesa do litoral sul. Mem de Sá O terceiro Governador-Geral, Mem de Sá (1558-1572), deu continuidade à política de concessão de sesmarias aos colonos e montou ele próprio um engenho, às margens do rio Sergipe, que mais tarde viria a pertencer ao conde de Linhares (Engenho de Sergipe do Conde). Para enfrentar os colonos franceses estabelecidos na França Antártica, aliados aos Tamoios na baía de Guanabara, Mem de Sá aliou-se aos Temiminós do cacique Araribóia. O seu sobrinho, Estácio de Sá, comandou a retomada da região e fundou a cidade do Rio de Janeiro a 20 de janeiro de 1565, dia de São Sebastião. União Ibérica (1580 - 1640) Com o desaparecimento de D. Sebastião, Portugal ficou sob união pessoal com a Espanha,e foi governada pelos três reis Filipes (Filipe II, Filipe III e Filipe IV, dos quais se subtrai um número quando referentes a Portugal e ao Brasil). Isso virtualmente acabou com a linha divisória do meridiano das Tordesilhas e permitiu que o Brasil se expandisse para o oeste. Várias expedições exploratórias do interior (chamado de “os sertões”) foram organizadas, fosse sob ordens diretas da Coroa (“entradas”) ou por caçadores de escravos paulistas (“bandeiras”, donde o nome “bandeirantes”). Estas expedições duravam anos e tinham o objetivo principalmente de capturar índios como escravos e encontrar pedras preciosas e metais valiosos, como ouro e prata. Foram bandeirantes famosos, entre outros, Fernão Dias, Bartolomeu Bueno da Silva (Anhanguera), Raposo Tavares, Domingos Jorge Velho (estilizado na pintura acima), Borba Gato e Antônio Azevedo. A União Ibérica também colocou o Brasil em conflito com potências europeias que eram amigas de Portugal mas inimigas da Espanha, como a Inglaterra e a Holanda. Esta última atacou e invadiu extensas faixas do litoral, fixando-se principalmente em Pernambuco e na Paraíba por quase vinte anos. Estado do Maranhão e Estado do Brasil (1621-1640) Das mudanças administrativas durante o domínio espanhol, a mais importante sucedeu em 1621, com a divisão da colônia em dois Estados independentes: o Estado do Brasil (de Pernambuco a atual Santa Catarina) e o Estado do Maranhão (do atual Ceará à Amazônia). A razão se baseava no destacado papel assumido pelo Maranhão como AGORA+ | http://www.apostilasagora.com.br 223Conhecimentos Gerais | PC-RS 2013 ponto de apoio e de partida para a colonização do norte e nordeste. O Maranhão tinha por capital São Luís, e o Estado do Brasil sua capital em Salvador. Quando o rei Filipe III (IV da Espanha) separou o Brasil e o Maranhão, passaram a existir três capitanias reais: Maranhão, Ceará e Grão-Pará, e seis capitanias hereditárias. Em 1737, com sua sede transferida para Belém, o Maranhão passou a ser chamado de Grão-Pará e Maranhão. Tal instalação era efeito do isolamento do extremo norte do Estado do Brasil, pois o regime de ventos impedia durante meses as comunicações entre São Luís e a Bahia. No século XVII, o Estado do Brasil se estendia do atual Rio Grande do Norte até Santa Catarina, e no século XVIII já estariam incorporados o Rio Grande de São Pedro (atual Rio Grande do Sul) e as regiões mineiras. Economia colonial A economia da colônia, iniciada com o puro extrativismo de pau-brasil e o escambo entre os colonos e os índios, gradualmente passou à produção local, com os cultivos da cana-de-açúcar e do cacau. O engenho de açúcar (manufatura do ciclo de produção açucareiro) constituiu a peça principal do mercantilismo português, organizadas em grandes propriedades. Estas, como se chamou mais tarde, eram latifúndios, caracterizados por terras extensas, abundante mão-de-obra escrava, técnicas complexas e baixa produtividade. Para sustentar a produção de cana-de-açúcar, os portugueses começaram, a partir de meados do século XVI, a importar africanos como escravos. Eles eram pessoas capturadas entre tribos das feitorias europeias na África (às vezes com a conivência de chefes locais de tribos rivais) e atravessados no Atlântico nos navios negreiros, em péssimas condições de asseio e saúde. Ao chegarem à América, essas pessoas eram comercializadas como mercadoria e obrigados a trabalhar nas plantações e casas dos colonizadores. Dentro das fazendas, viviam aprisionados em galpões rústicos chamados de senzalas, e seus filhos também eram escravizados, perpetuando a situação pelas gerações seguintes. Nas feitorias, os mercadores portugueses vendiam principalmente armas de fogo, tecidos, utensílios de ferro, aguardente e tabaco, adquirindo escravos, pimenta, marfim e outros produtos. Até meados do século XVI, os portugueses possuíam o monopólio do tráfico de escravos. Depois disso, mercadores franceses, holandeses e ingleses também entraram no negócio, enfraquecendo a participação portuguesa. Gilberto Freyre comenta: O Brasil nasceu e cresceu econômica e socialmente com o açúcar, entre os dias venturosos do pau-de-tinta e antes de as minas e o café o terem ultrapassado. Efetivamente, o açúcar foi base na formação da sociedade e na forma de família. A casa de engenho foi modelo da fazenda de cacau, da fazenda de café, da estância. Foi base de um complexo sociocultural de vida. FREYRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala. São Paulo: Global, 2006. Houve engenhos ainda nas capitanias de São Vicente e do Rio de Janeiro, que cobriam cem léguas e couberam ambas a Martim Afonso de Sousa. Este receberia o apoio de João Ramalho e de seu sogro Tibiriçá. No Rio, funcionava o engenho de Rodrigo de Freitas, nas margens da lagoa que hoje leva seu nome. Ao entrar o século XVII, o açúcar brasileiro era produto de importação nos portos de Lisboa, Antuérpia, Amsterdã, Roterdã, Hamburgo. Sua produção, muito superior à das ilhas portuguesas no Atlântico, supria quase toda a Europa. Gabriel Soares de Sousa, em 1548, comentava o luxo reinante na Bahia e o padre Fernão Cardim exaltava suas capelas magníficas, os objetos de prata, as lautas refeições em louça da Índia, que servia de lastro nos navios: “Parecem uns condes e gastam muito”, reclamava o padre. Em meados do século XVII, o açúcar produzido nas Antilhas Holandesas começou a concorrer fortemente na Europa com o açúcar do Brasil. Os holandeses tinham aperfeiçoado a técnica, com a experiência adquirida no Brasil, e contavam com um desenvolvido esquema de transporte e distribuição do açúcar em toda a Europa. Portugal foi obrigado a recorrer à Inglaterra e assinar diversos tratados que afetariam a economia da colônia. Em 1642, Portugal concedeu à Inglaterra a posição de “nação mais favorecida” e os comerciantes ingleses passaram a ter maior acesso ao comércio colonial. Em 1654 Portugal aumentou os direitos ingleses; mas poderiam negociar diretamente vários produtos do Brasil com Portugal e vice-versa, excetuando-se alguns produtos como bacalhau, vinho, pau-brasil). Em 1661 a Inglaterra se comprometeu a defender Portugal e suas colônias em troca de dois milhões de cruzados, obtendo ainda as possessões de Tânger e Bombaim. Em 1703 Portugal se comprometeu a admitir no reino os panos dos lanifícios ingleses, e a Inglaterra, em troca, a comprar vinhos portugueses. Data da época o famosíssimo Tratado de Methuen, do nome de seu negociador inglês, ou tratado dos Panos e Vinhos. Na época, satisfazia os interesses dos grupos dominantes mas teria como consequência a paralização da industrialização em Portugal, canalizando para a Inglaterra o ouro que acabava de ser descoberto no Brasil. No nordeste brasileiro se encontrava a pecuária, tão importante para o domínio do interior, já que eram proibidos rebanhos de gado nas fazendas litorâneas, cuja terra de massapê era ideal para o açúcar. Estuda-se bem o açúcar no item dedicado à invasão holandesa. AGORA+ | http://www.apostilasagora.com.br 224Conhecimentos Gerais | PC-RS 2013 A conquista do sertão, povoado por diversos grupos indígenas foi lenta e se deveu muito à pecuária (o gado avançou ao longo dos vales dos rios) e, muito mais tarde, às expedições dos Bandeirantes que vinham prear índios para levar para São Paulo. A esse respeito, consultar o extenso capítulo sobre Entradas e Bandeiras. Ciclo do ouro No final do século XVII descobriu-se ouro nos ribeiros das terras que pertenciam à capitania de São Paulo e mais tarde ficaram conhecidas como Minas Gerais. Descobriram-se depois, no final da década de 1720, diamante e outras gemas preciosas. Esgotou-se o ouro abundante nos ribeirões, que passou a ser mais penosamente buscado em veios dentro da terra. Apareceram metais preciosos em Goiás e no Mato Grosso, no século XVIII. A Coroa cobrava, como tributo, um quinto de todo o minério extraído, o que passou a ser conhecidocomo “o quinto”. Os desvios e o tráfico de ouro, no entanto, eram frequentes. Para coibi-los, a Coroa instituiu toda uma burocracia e mecanismos de controle. Quando a soma de impostos pagos não atingia uma cota mínima estabelecida, os colonos deveriam entregar joias e bens pessoais até completar o valor estipulado — episódios chamados de derramas. O período que ficou conhecido como Ciclo do Ouro iria permitir a criação de um mercado interno, já que havia demanda por todo tipo de produtos para o povoamento das Minas Gerais. Era preciso levar, Serra da Mantiqueira acima, escravos e ferramentas, ou, rio São Francisco abaixo, os rebanhos de gado para alimentar a verdadeira multidão que para lá acorreu. Assim, o eixo econômico e político se deslocou para o centro-sul da colônia e o Rio de Janeiro tornou-se sede administrativa, além de ser o porto por onde as frotas do rei de Portugal iam recolher os impostos. A cidade foi descrita pelo padre José de Anchieta como “a rainha das províncias e o empório das riquezas do mundo”, e por séculos foi a capital do Brasil. Conflitos na História do Brasil - Período Colonial - Movimentos Nativistas • Aclamação de Amador Bueno: 1641 Ocorrida em 1641, em São Paulo, foi a primeira manifestação de caráter nativista da Colônia. Amador Bueno não aceitando a coroa, foi perseguido pelos paulistas e se refugiou no mosteiro de São Bento, em São Paulo. • Revolta da Cachaça: 1660-1661 Revolta da Cachaça é o nome pelo qual passou à História do Brasil o episódio ocorrido entre final de 1660 e começo do ano seguinte, no Rio de Janeiro, motivado pelo aumento de impostos excessivamente cobrados aos fabricantes de aguardente. Também é chamada de Revolta do Barbalho ou Bernarda. • Conjuração de "Nosso Pai": 1666 A Conjuração de Nosso Pai, também conhecida por Revolta contra Mendonça Furtado nomeado governador da Capitania de Pernambuco (apelidado pejorativamente de Xumberga (ou, nalgumas outras versões, Xumbregas) - referência ao general alemão Von Schomberg, mercenário que lutara na Guerra da Restauração, por ter um bigode semelhante ao dele) teve lugar em Recife e Olinda, em 1666. • Revolta de Beckman: 1684 A Revolta de Beckman, também Revolta dos Irmãos Beckman ocorreu no então Estado do Maranhão, em 1684. • Guerra dos Emboabas: 1708-1709 A Guerra dos Emboabas foi um confronto travado de 1707 a 1709, pelo direito de exploração das recém- descobertas jazidas de ouro, na região das Minas Gerais, no Brasil. O conflito contrapôs, de um lado, os desbravadores vicentinos, grupo formado pelos bandeirantes paulistas, que haviam descoberto a região das minas e que por esta razão reclamavam a exclusividade de explorá-las; e de outro lado um grupo heterogêneo composto de portugueses e imigrantes das demais partes do Brasil, sobretudo da Bahia, liderados por Manuel Nunes Viana – pejorativamente apelidados de “emboabas” pelos vicentinos –, todos atraídos à região pela febre do ouro. Em novembro de 1708 Cachoeira do Campo, distrito de Ouro Preto, foi um dos palcos do sangrento conflito envolvendo os direitos de exploração de ouro na futura Capitania de Minas Gerais. • Revolta do Sal: 1710 A chamada revolta do sal foi uma revolta nativista ocorrida na Capitania de São Paulo e Minas de Ouro, no Brasil, em 1710. À época, sal, gênero de primeira necessidade para as pessoas e o gado, era explorado a título de monopólio pela política econômica mercantista da Coroa Portuguesa. O seu comércio era praticado por um reduzido número de pessoas que arrematavam contratos para a exploração e venda do produto, geralmente por um período de três anos. A estes negociantes da Coroa associavam-se outros que viviam nas colônias. • Guerra dos Mascates: 1710-1711 A Guerra dos Mascates que se registrou de 1710 a 1711 na então Capitania de Pernambuco, é considerada como um movimento nativista pela historiografia em História do Brasil. Confrontaram-se os senhores de terras e de engenhos AGORA+ | http://www.apostilasagora.com.br 225Conhecimentos Gerais | PC-RS 2013 pernambucanos, concentrados em Olinda, e os comerciantes reinóis (portugueses da Metrópole) do Recife, chamados pejorativamente de mascates. Quando houve as sedições entre os mascates europeus do Recife e a aristocracia rural de Olinda, os sectários dos mascates se apelidavam Tundacumbe, cipós e Camarões, e os nobres e seus sectários, pés rapados - porque quando haviam de tomar as armas, se punham logo descalços e à ligeira, para com menos embaraços as manejarem, e assim eram conhecidos como destros nelas, e muito valorosos, pelo que na história de Pernambuco, a alcunha de pés rapados é sinônimo de nobreza. • Motins do Maneta: 1711 Os Motins do Maneta foram duas sublevações ocorridas no Brasil Colônia em Salvador contra o monopólio da comercialização do sal e aumento de impostos, ocorridos, respectivamente, em: 19 de outubro de 1711 - primeiro motim; 2 de dezembro deste mesmo ano - segundo motim. • Revolta de Felipe dos Santos: 1720 A Revolta de Felipe dos Santos ou Revolta de Vila Rica, que se registrou em 1720, na então Real Capitania das Minas de Ouro e dos Campos Gerais dos Cataguases, na Colônia do Brasil, pertencente a Portugal; considerada um movimento nativista pela historiografia brasileira, e um dos precursores da chamada Inconfidência Mineira, foi uma reação contra o aumento da exploração colonial. Ocorreu na Vila Rica de Nossa Senhora do Pilar do Ouro Preto, como era então denominada a atual cidade de Ouro Preto, no estado de Minas Gerais, tendo por um de seus líderes o idealista Filipe dos Santos Freire, que muitas vezes dá nome à revolta. Entre suas causas diretas estavam a criação das casas de fundição, proibindo a circulação de ouro em pó e o monopólio do comércio dos principais gêneros por reinóis (lusitanos), e que obteve do Governador, o Conde de Assumar, uma enérgica reação que culminou com a execução do principal líder, Filipe dos Santos. Movimentos Emancipacionistas • Conjuração Mineira: 1789 A Inconfidência Mineira, ou Conjuração Mineira, foi uma tentativa de revolta de natureza separatista abortada pela Coroa portuguesa em 1789, na então capitania de Minas Gerais, no Estado do Brasil, contra, entre outros motivos, a execução da derrama e o domínio português. • Conjuração Carioca: 1794 A chamada Inconfidência Carioca foi o nome pelo qual ficou conhecida a repressão a uma associação de intelectuais que se reuniam, no Rio de Janeiro, em torno de uma sociedade literária, no fim do século XVIII. Fundada desde 1771, sob o nome de Academia Científica do Rio de Janeiro, a sociedade se reunia desde o governo de Luís de Vasconcelos e Sousa (1779-1790). Na academia se discutiam assuntos filosóficos e políticos, à semelhança do que estava em voga na Europa. Em suas últimas reuniões, a figura de destaque era Manuel Inácio da Silva Alvarenga, poeta e professor de Retórica, formado na Universidade de Coimbra. • Conjuração Baiana: 1798 A Conjuração Baiana, também denominada como Revolta dos Alfaiates (uma vez que seus líderes exerciam este ofício), foi um movimento separatista de caráter emancipacionista, ocorrido no ocaso do século XVIII, na antiga Capitania da Bahia, na colônia do Brasil, então parte do Império Português. Diferentemente da Inconfidência Mineira (1789), reveste-se de caráter popular. Os revoltosos pregavam a libertação dos escravos, a instauração de um governo igualitário (onde as pessoas fossem vistas de acordo com a capacidade e merecimento individuais), além da instalação de uma República na Bahia e da liberdade de comércio e o aumento dos salários dos soldados. Tais ideias eram divulgadas sobretudo pelos escritos do soldado Luiz Gonzaga das Virgens e panfletos de Cipriano Barata, médico e filósofo. • Conspiração dos Suaçunas: 1801 A chamada Conspiração dos Suaçunas, também conhecida por sua grafia arcaica – Conspiração dos Suassunas –, foi um projeto de revolta quese registrou em Olinda, na então Capitania de Pernambuco, no alvorecer do século XIX. Influenciada pelas ideias do Iluminismo e pela Revolução Francesa (1789), algumas pessoas, entre as quais Manuel Arruda Câmara - membro da Sociedade Literária do Rio de Janeiro - , em 1796, fundaram a loja maçônica Areópago (Areópago de Itambé), da qual não participavam europeus. • Revolução Pernambucana: 1817 A chamada Revolução Pernambucana, também conhecida como Revolução dos Padres, eclodiu em 6 de março de 1817 na então Província de Pernambuco, no Brasil. Dentre as suas causas destacam-se a crise econômica regional, o absolutismo monárquico português e a influência das ideias Iluministas, propagadas pelas sociedades maçônicas. Guerras indígenas • Confederação dos Tamoios: 1555-1567 A Confederação dos Tamoios é a denominação dada à revolta liderada pela nação indígena Tupinambá, que ocupava o litoral do que hoje é o norte paulista, começando por Bertioga e litoral fluminense, até Cabo Frio, envolvendo também tribos situadas ao longo do Vale do Paraíba, na Capitania de São Vicente, contra os colonizadores portugueses, entre 1556 a 1567, embora tenha-se notícia de incidentes desde 1554. • Guerra dos Aimorés: 1555-1673 • Guerra dos Potiguares: 1586-1599 AGORA+ | http://www.apostilasagora.com.br 226Conhecimentos Gerais | PC-RS 2013 • Levante dos Tupinambás: 1617-1621 • Confederação dos Cariris: 1686-1692 Confederação dos Cariris, também chamada de "Guerra dos Bárbaros", foi um movimento de resistência de indígenas brasileiros da nação Cariri (ou Kiriri) à dominação portuguesa, ocorrido entre 1683 e 1713. Os cariris viviam em vastas áreas dispersas entre os rios São Francisco (Bahia) e Parnaíba (Piauí). Supõe-se que tenham migrado do norte, em busca de terras mais adequadas à sua cultura neolítica. • Revolta de Mandu Ladino : 1712-1719 A chamada Revolta de Mandu Ladino foi um conflito que opôs os indígenas do interior da então capitania do Piauí aos colonizadores portugueses, tendo se estendido de 1712 a 1719. • Guerra dos Manaus: 1723-1728 A Guerra dos Manaus foi uma guerra entre os portugueses e os índios da tribo dos Manaus que habitavam nas imediações da povoação de Santa Isabel, no rio Negro e eram liderados por Ajuricaba. Essa guerra se estendeu de 1723 a 1728. • Resistência Guaicuru: 1725-1744 • Guerrilha dos Muras: todo o século XVIII A Guerrilha dos Muras foi uma guerra que envolveu os portugueses e a Nação dos Muras, resistiu durante séculos aos portugueses que penetraram na região Amazônica entre os rios Madeira e Negro. • Guerra Guaranítica: 1753-1756 Guerra Guaranítica é o nome que se dá aos violentos conflitos que envolvem os índios guaranis e as tropas espanholas e portuguesas no sul do Brasil após a assinatura do Tratado de Madri, em 1750. Os índios guaranis da região dos Sete Povos das Missões recusam-se a deixar suas terras no território do Rio Grande do Sul e a se transferir para o outro lado do rio Uruguai, conforme ficara acertado no acordo de limites entre Portugal e Espanha. Com o apoio parcial dos jesuítas, no início de 1753 os índios guaranis missioneiros começam a impedir os trabalhos de demarcação da fronteira e anunciam a decisão de não sair da região dos Sete Povos. Em resposta, as autoridades enviam tropas contra os nativos, e a guerra eclode em 1754. Os castelhanos, vindos de Buenos Aires e Montevidéu, atacam pelo sul, e os portugueses, enviados do Rio de Janeiro sob o comando do general Gomes Freire, entram pelo rio Jacuí. Juntando depois as tropas na fronteira com o Uruguai, os dois exércitos sobem e atacam frontalmente os batalhões indígenas, dominando Sete Povos em maio de 1756. Chega ao fim a resistência guarani. Um dos principais líderes guaranis é o capitão Sepé Tiaraju. Ele justifica a resistência ao tratado em nome de direito legítimo dos índios em permanecer nas suas terras. Comanda milhares de nativos até ser assassinado na Batalha de Caiboaté, em fevereiro de 1756. Conflitos coloniais A época colonial foi marcada por vários conflitos, tanto entre portugueses e outros europeus, e europeus contra nativos, como entre os próprios colonos. O maior deles, sem dúvida, foi a Guerra contra os Holandeses (ou Guerras Holandesas, de 1630 a 1647, na Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. A insatisfação com a administração colonial provocou a Revolta de Amador Bueno em São Paulo e, no Maranhão, a Revolta de Beckman. Os colonos enchiam os navios que aportavam no Brasil, esvaziando o reino, e foram apelidados “emboabas” porque andavam calçados contra a maioria da população, que andava descalça. Contra eles se levantaram os paulistas, nas refregas do início do século XVIII que ficariam conhecidas como Guerra dos Emboabas e paulistas e ensanguentaram o rio que até hoje se chama Rio das Mortes. Em Pernambuco, a disputa política e econômica entre mercadores e canavieiros, após a expulsão dos holandeses, levou à Guerra dos Mascates. Os escravos negros que fugiam das fazendas se refugiavam nas serras do agreste nordestino e lá fundavam quilombos, dos quais o mais importante foi o de Palmares, liderado por Ganga Zumba e seu sobrinho Zumbi. A campanha para destruí-lo foi chamada de Guerra de Palmares (1693-1695). No sul, a tentativa de escravizar indígenas levou a confrontos com os missionários jesuítas, organizados nas “reduções” (missões) de catequese com os guaranis. As Guerras Guaraníticas duraram, intermitentemente, de 1650 a 1757. Já com o Ciclo do Ouro, a capitania de Minas Gerais sofreu a Revolta de Filipe dos Santos e a Inconfidência Mineira (1789), seguida pela Conjuração Baiana em Salvador dez anos mais tarde. Inconfidência Mineira (1789) A Inconfidência Mineira, ou Conjuração Mineira, foi uma tentativa de revolta abortada pelo governo em 1789, na então capitania de Minas Gerais, no Brasil, contra, entre outros motivos, a execução da derrama e o domínio português. Na segunda metade do século XVIII a Coroa portuguesa intensificou o seu controle fiscal sobre a sua colônia na América do Sul, proibindo, em 1785, as atividades fabris e artesanais na Colônia e taxando severamente os produtos vindos da Metrópole. Desde 1783 fora nomeado para governador da capitania de Minas Gerais D. Luís da Cunha Meneses, reputado pela sua arbitrariedade e violência. Somando-se a isto, desde o meado do século as jazidas de ouro em Minas Gerais começavam a se esgotar, fato não compreendido pela Coroa, que instituiu a cobrança da derrama na região, uma AGORA+ | http://www.apostilasagora.com.br 227Conhecimentos Gerais | PC-RS 2013 taxação compulsória em que a população deveria completar a cota imposta por lei de 100 arrobas de ouro (1.500 quilogramas) anuais quando esta não era atingida. Estes fatos atingiram expressivamente a classe mais abastada das Minas Gerais (proprietários rurais, intelectuais, clérigos e militares) que, descontentes, começaram a se reunir para conspirar. Entre esses descontentes destacavam-se, entre outros, os poetas Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga, os coronéis Domingos de Abreu Vieira e Francisco Antônio de Oliveira Lopes, o padre José da Silva e Oliveira Rolim, o cônego Luís Vieira da Silva, o minerador Inácio José de Alvarenga Peixoto e o alferes Joaquim José da Silva Xavier, apelidado de Tiradentes. A conspiração pretendia eliminar a dominação portuguesa das Minas Gerais e estabelecendo ali um país livre. Não havia a intenção de libertar toda a colônia brasileira, pois naquele momento uma identidade nacional ainda não havia se formado. A forma de governo escolhida foi o estabelecimento de uma República, inspirados pelas ideias iluministas da França e da recente independência norte-americana. Destaque-se que não havia uma intenção clara de libertar os escravos, já que muitos dos participantes do movimento eram detentores dessa mão-de-obra. Entreoutros locais, as reuniões aconteciam em casa de Cláudio Manuel da Costa e de Tomás Antônio Gonzaga, onde se discutiram os planos e as leis para a nova ordem, tendo sido desenhada a bandeira da nova República, – uma bandeira branca com um triângulo e a expressão latina Libertas Quæ Sera Tamen, cujo dístico foi aproveitado de parte de um verso da primeira égloga de Virgílio e que os poetas inconfidentes interpretaram como “liberdade ainda que tardia”. O governador da capitania de Minas Gerais, Visconde de Barbacena, estava determinado a lançar a derrama, razão pela qual os conspiradores acertaram que a revolução deveria irromper no dia em que fosse decretado o lançamento da mesma. Esperavam que nesse momento, como apoio do povo descontente e da tropa sublevada, o movimento fosse vitorioso. A conspiração foi desmantelada em 1789, ano da Revolução Francesa. O movimento foi traído por Joaquim Silvério dos Reis, que fez a denúncia para obter perdão de suas dívidas com a Coroa. Os líderes do movimento foram detidos e enviados para o Rio de Janeiro onde responderam pelo crime de inconfidência (falta de fidelidade ao rei), pelo qual foram condenados. Cláudio Manuel da Costa faleceu na prisão, ainda em Vila Rica (hoje Ouro Preto), onde acredita-se que tenha sido assassinado, suspeitando-se, atualmente, que a mando do próprio Governador. Durante o inquérito judicial, todos negaram a sua participação no movimento, menos o alferes Joaquim José da Silva Xavier, que assumiu a responsabilidade de chefia do movimento. Em 18 de abril de 1792 foi lida a sentença no Rio de Janeiro. Doze dos inconfidentes foram condenados à morte. Mas, em audiência no dia seguinte, foi lido decreto de D. Maria I pelo qual todos, à exceção de Tiradentes, tiveram a pena alterada para degredo. Consequências A Inconfidência Mineira transformou-se em símbolo máximo de resistência para os mineiros, a exemplo da Guerra dos Farrapos para os gaúchos, e da Revolução Constitucionalista de 1932 para os paulistas. A bandeira idealizada pelos inconfidentes foi adotada pelo estado de Minas Gerais. Posteriormente, Tiradentes foi elevado, pela República Brasileira, à condição de um dos maiores mártires da independência do Brasil, tornando-se herói nacional. Sete Povos das Missões A instalação dos Sete Povos das Missões, a partir de 1682, resultou da confluência entre os interesses dos religiosos e os da Coroa espanhola. Os jesuítas queriam catequizar os índios e retomar a influência perdida com a destruição da Redução de Tape pelos ataques bandeirantes. A Coroa espanhola visualizava no empreendimento missionário uma forma de reagir aos avanços territoriais portugueses pelo litoral meridional e, sobretudo, à fundação da Colônia do Sacramento. O foco das negociações do Tratado de Madri consistiu na permuta entre a Colônia do Sacramento e os Sete Povos das Missões. Entregando a Colônia fortificada, um enclave isolado em meio a uma área povoada pelos espanhóis, Portugal começava a desistir do seu antigo projeto de controlar a margem esquerda do Rio da Prata. Desistindo da região dos Sete Povos, a Espanha abandonava de uma vez o Meridiano das Tordesilhas e aceitava o conceito de fronteiras naturais. Assim, naquele trecho, o Rio Uruguai tornava-se o suporte do segmento de limites entre as coroas ibéricas. AGORA+ | http://www.apostilasagora.com.br 228Conhecimentos Gerais | PC-RS 2013 Os Sete Povos conheceram o desastre nas Guerras Guaraníticas, entre 1754 e 1756, e entraram em decadência definitiva após a expulsão dos jesuítas, ordenada por Pombal em 1759. Mas a disputa entre a região reativou-se, provocando novos conflitos e negociações diplomáticas. O Tratado de El Pardo, de 1761, anulou o de Madri. Em seguida, um ciclo de confrontações militares redundaram, por duas vezes, em ocupações parciais da capitania do Rio Grande de São Pedro por forças espanholas. O Tratado de Santo Idelfonso, de 1777, concluído em conjunto de fraqueza dos portugueses, devolveu a região dos Sete Povos à Espanha. Finalmente, em 1801, pelo Tratado de Badajós, as coroas ibéricas concordaram em retomar a divisória negociada em 1750. O conflito consolidou a presença portuguesa no sul, em áreas que não estavam delimitadas pelo Tratado de Tordesilhas. Mudança da Corte e Abertura dos Portos (1808) Em novembro de 1807, as tropas de Napoleão Bonaparte obrigaram a coroa portuguesa a procurar abrigo no Brasil. Dom João VI (então Príncipe-Regente em nome de sua mãe, a Rainha Maria I) chegou ao Rio de Janeiro em 1808, abandonando Portugal após uma aliança defensiva feita com a Inglaterra (que escoltou os navios portugueses no caminho). Os portos brasileiros foram abertos às nações amigas (designadamente, a Inglaterra). A abertura dos portos se deu em 28 de janeiro de 1808 por outra carta régia de D. João, influenciado por José da Silva Lisboa. Foi permitida a importação “de todos e quaisquer gêneros, fazendas e mercadorias transportadas em navios estrangeiros das potências que se conservavam em paz e harmonia com a Real Coroa ou em navios portugueses. Os gêneros molhados (vinho, aguardente, azeite) pagariam 48%; outros mercadorias, os secos, 24% ad valorem. Podia ser levado pelos estrangeiros qualquer produto colonial, exceto o pau-brasil e outros «notoriamente estancados» (produzidos e armazenados na própria colônia). Era efeito também da expansão do capital; e deve-se recordar a falência dos recursos coatores portugueses e a tentativa de diminuir, abrindo os portos, a total dependência de Portugal da Inglaterra. No Reino, desanimaram os que se haviam habituado aos generosos subsídios, às 100 arrobas de ouro anuais, às derramas, às tentativas de controle completo. D. João, sua família e comitiva (a Corte), distribuídos por diversos navios, chegaram ao Rio de Janeiro em 7 de março de 1808. Foram acompanhados pela Brigada Real da Marinha, criada em Portugal em 1797, que deu origem ao Corpo de Fuzileiros Navais brasileiros. Instalaram-se no Paço da Cidade, construído em 1743 pelo Conde de Bobadela como residência dos governadores. Além disso, a Coroa requisitou o Convento do Carmo e a Cadeia Velha para alojar os serviçais e as melhores casas particulares. A expropriação era feita pelo carimbo das iniciais PR (de Príncipe-Regente) nas portas das casas requisitadas, o que fazia o povo, com ironia, interpretar a sigla como “Ponha-se na Rua!”. A abertura foi acompanhada por uma série de melhoramentos introduzidos no Brasil. No dia 1 de abril do mesmo ano, D. João expediu um decreto que revogava o alvará de 5 de janeiro de 1785 pelo qual se extinguiam no Brasil as fábricas e manufaturas de ouro, prata, seda, algodão, linho e lã. Depois do comércio, chegava “a liberdade para a indústria”. Em 13 de maio, novas cartas régias (decretos) determinaram a criação da Imprensa Nacional e de uma Fábrica de Pólvora (até então, a pólvora brasileira era fabricada na Fábrica de Pólvora de Barcarena, desde 1540). Em 12 de outubro foi fundado o Banco do Brasil para financiar as novas iniciativas e empreitadas. Tais medidas do Príncipe fariam com que se pudesse contar nesta época os primórdios da independência do Brasil. Em represália à França, D. João ordenou ainda a invasão e anexação da Guiana Francesa, no extremo norte, e da banda oriental do rio Uruguai, no extremo sul, já que a Espanha estava então sob o reinado de José Bonaparte, irmão de Napoleão, e portanto era considerada inimiga. O primeiro território foi devolvido à soberania francesa em 1817, mas o Uruguai foi mantido incorporado ao Brasil sob o nome de Província Cisplatina. Em 9 de fevereiro de 1810, no Rio de Janeiro, foi assinado um Tratado de Amizade e comércio pelo Príncipe Regente com Jorge III, rei da Inglaterra. Enquanto isso, na Espanha, os liberais (ainda acostumados com certa liberdade econômica imposta por Napoleão enquanto ocupara o país, de 1807 a 1810) se revoltaram contraos restauradores Bourbon (dinastia à qual pertencia a Carlota Joaquina, esposa de D. João) e impuseram-lhes a Constituição de Cádiz em 19 de março de 1812. Em reação, o rei Fernando VII (irmão de Carlota), dissolveu as cortes em 4 de maio de 1814, mas a resposta viria em 1820 com a vitória da Revolução Liberal (ou constitucional). Por isso, D. João e seus ministros se ocuparam das questões do Vice- Reinado do Rio da Prata, tão logo puseram o pé no Rio, e daí surgiria a questão da incorporação da Cisplatina. Elevação a Reino Unido (1815) No contexto das negociações do Congresso de Viena, o Brasil foi elevado à condição de Reino dentro do Estado português, que assumiu a designação oficial de Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves em 16 de dezembro de 1815. A carta de lei foi publicada na Gazeta do Rio de Janeiro de 10 de janeiro de 1816, oficializando o ato. O Rio de Janeiro, por conseguinte, subia à categoria de Corte e capital, as antigas capitanias passaram a ser denominadas províncias (hoje, os estados). No mesmo ano, a rainha Maria I morreu e D. João foi coroado rei como João VI. Deu ao Brasil como brasão-de-armas a esfera manuelina com as quinas, encontradas já no século anterior em moedas da África portuguesa (1770). AGORA+ | http://www.apostilasagora.com.br 229Conhecimentos Gerais | PC-RS 2013 Mudanças ocorridas Algumas mudanças que ocorreram com a vinda da Família Real para o Brasil: • A fundação do Banco do Brasil, em 1808; • A criação da Imprensa Régia e a autorização para o funcionamento de tipografias e para a publicação de jornais também em 1808; • A abertura de algumas escolas, entre as quais duas de medicina – uma na Bahia e outra no Rio de Janeiro; • A instalação de uma fábrica de pólvora e de industrias de ferro em Minas Gerais e em São Paulo; • A mudança de denominação das unidades territoriais, que passaram a denominar-se ‘’Províncias” (1821). BRASIL IMPERIAL Período Monárquico (1822 - 1889) Partida do Rei Pressionado pelo triunfo da revolução constitucionalista, o soberano retornou com a família real a Portugal, deixando como Príncipe-regente no Brasil o seu primogênito, D. Pedro de Alcântara. Não se pode compreender o processo de independência sem pensar no projeto recolonizador das Cortes portuguesas, a verdadeira origem da definição dos diversos grupos no Brasil. Embora o rompimento político com Portugal fosse o desejo da maioria dos brasileiros, havia muitas divergências. No movimento emancipacionista havia grupos sociais distintos: a aristocracia rural do sudeste partido brasileiro, as camadas populares urbanas liberais radicais e por fim, a aristocracia rural do norte e nordeste, que defendiam o federalismo e até o separatismo. Dom Pedro ‘decide’ ficar A situação do Brasil permaneceu indefinida em 1821 em 9 de dezembro, chegaram ao Rio de Janeiro os decretos das Cortes que ordenavam a abolição da regência e o imediato retorno de D. Pedro a Portugal; a obediência das províncias a Lisboa e não mais ao Rio de Janeiro; a extinção dos tribunais do Rio. O Príncipe Regente D. Pedro, começou a fazer preparativos para seu regresso. Mas estava gerada enorme inquietação. O partido brasileiro ficou alarmado com a recolonização e com a possibilidade de uma explosão revolucionária. A nova situação favoreceu a polarização: de um lado o partido português e do outro, o partido brasileiro com os liberais radicais, que passaram a agir pela independência. Na disputa contra os conservadores, os radicais cometeram o erro de reduzir a questão à luta pela influência sobre o Príncipe Regente. Era inevitável que este preferisse os conservadores. Ademais, os conservadores encontraram em José Bonifácio um líder bem preparado para dar à independência a forma que convinha às camadas dominantes. Sondado, o príncipe se mostrou receptivo. Foram enviados emissários a Minas e São Paulo para obter a adesão à causa emancipacionista, com resultados positivos. No Rio de Janeiro foi elaborada uma representação (com coleta de assinaturas) em que se pedia a permanência de D. Pedro de Alcantara. O documento foi entregue a D.Pedro de Alcântara a 9 de janeiro de 1822 por José Bonifácio de Andrade e Silva, presidente do Senado da Câmara do Rio de Janeiro. Em resposta, o Príncipe Regente decidiu desobedecer às ordens das Cortes e permanecer no Brasil: era o Fico. Declaração de Independência No final de agosto, D. Pedro viajava para a província de São Paulo para acalmar a situação depois de uma rebelião contra José Bonifácio. Apesar de ter servido de instrumento dos interesses da aristocracia rural, à qual convinha a solução monárquica para a independência, não se deve desprezar seus interesses próprios. Tinha formação absolutista e por isso se opusera à revolução do Porto, liberal. Da mesma forma, a política recolonizadora das Cortes desagradou à opinião pública brasileira. E é nisso que se baseou a aliança entre D. Pedro e o Partido Brasileiro. Assim, se a independência do Brasil pode ser vista, objetivamente, como obra da aristocracia rural, é preciso considerar que teve início como compromisso entre o conservadorismo da aristocracia rural e o absolutismo do príncipe. Ao voltar de Santos, parando às margens do riacho Ipiranga, D. Pedro de Alcântara recebeu uma carta com ordens de seu pai, para que ele voltasse para Portugal, se submetendo ao rei e às Cortes. Vieram juntas duas cartas, uma de José Bonifácio, que aconselhava D. Pedro a romper com Portugal, e a outra da esposa, Maria Leopoldina, apoiando a decisão do ministro. D. Pedro I, impelido pelas circunstâncias, pronunciou as famosas palavras Independência ou Morte!, rompendo os laços de união política com Portugal, em 7 de setembro de 1822. Ao chegar na capital, Rio de Janeiro, foi aclamado Imperador, com o título de D. Pedro I. AGORA+ | http://www.apostilasagora.com.br 230Conhecimentos Gerais | PC-RS 2013 Consequências da Independência À semelhança do processo de independência de outros países latino-americanos, o de independência do Brasil preservou o “status” das elites agroexportadoras, que conservaram e ampliaram os seus privilégios políticos, econômicos e sociais. Ao contrário do ideário do Iluminismo, e do que desejava, por exemplo, José Bonifácio de Andrada e Silva, a escravidão foi mantida, assim como os latifúndios, a produção de gêneros primários voltada para a exportação e o modelo de governo monárquico. Para ser reconhecido oficialmente, o Brasil negociou com a Inglaterra e aceitou pagar indenizações de 2 milhões de libras esterlinas a Portugal. Inglaterra saiu lucrando, tendo início o endividamento externo do Brasil. Quando D. João VI retornou a Lisboa, por ordem das Cortes, levou todo o dinheiro que podia, apesar de ter deixado no Brasil sua prataria e a enorme livraria, com obras raras que compõem, hoje, o acervo básico da Biblioteca Nacional. Em consequência da leva deste dinheiro para Portugal, o Banco do Brasil, fundado por D. João VI em 1808, faliu em 1829. Primeiro Reinado (1822 - 1831) Após a declaração da independência, o Brasil foi governado por Dom Pedro I até o ano de 1831, período chamado de Primeiro Reinado, quando abdicou em favor de seu filho, Dom Pedro II, então com 5 (cinco) anos de idade. Logo após a independência, e terminadas as lutas nas províncias contra a resistência portuguesa, foi necessário iniciar os trabalhos da Assembleia Constituinte. Esta havia sido convocada antes mesmo da separação, em julho de 1822; foi instalada, entretanto, somente em maio de 1823. Logo se tornou claro que a Assembleia iria votar uma Constituição restringindo os poderes imperiais (apesar da ideia centralizadora encampada por José Bonifácio e seu irmão Antônio Carlos de Andrada e Silva). Porém, antes que ela fosse aprovada, as tropas do exército cercaram o prédio da Assembleia, e por ordens do imperador a mesma foi dissolvida, devendo a constituição ser elaborada por juristas da confiança de Dom PedroI. Foi então outorgada a Constituição de 1824, que trazia uma inovação: o Poder Moderador. Através dele, o imperador poderia fiscalizar os outros três poderes. Surgiram diversas críticas ao autoritarismo imperial, e uma revolta importante aconteceu no Nordeste: a Confederação do Equador. Foi debelada, mas Dom Pedro I saiu muito desgastado do episódio. Outro grande desgaste do Imperador foi por o Brasil na Guerra da Cisplatina, onde o país não manteve o controle sobre a então região de Cisplatina (hoje, Uruguai). Também apareciam os primeiros focos de descontentamento no Rio Grande do Sul, com os farroupilhas. Em 1831 o imperador decidiu visitar as províncias, numa última tentativa de estabelecer a paz interna. A viagem deveria começar por Minas Gerais; mas ali o imperador encontrou uma recepção fria, pois acabara de ser assassinado Líbero Badaró, um importante jornalista de oposição. Ao voltar para o Rio de Janeiro, Dom Pedro deveria ser homenageado pelos portugueses, que preparavam-lhe uma festa de apoio; mas os brasileiros, discordando da festa, entraram em conflito com os portugueses, no episódio conhecido como Noite das Garrafadas. Dom Pedro tentou mais uma medida: nomeou um gabinete de ministros com suporte popular. Mas desentendeu-se com os ministros e logo depois demitiu o gabinete, substituindo-o por outro bastante impopular. Frente a uma manifestação popular que recebeu o apoio do exército, não teve muita escolha, assim criou o quinto poder. Mas, não deu certo a ideia, e não restou nada ao Imperador a não ser a renúncia, no dia 7 de abril de 1831. Período Regencial (1831 - 1840) Durante o período de 1831 a 1840, o Brasil foi governado por diversos regentes, encarregados de administrar o país enquanto o herdeiro do trono, D. Pedro II, ainda era menor. A princípio a regência era trina, ou seja, três governantes eram responsáveis pela política brasileira, no entanto com o ato adicional de 1834, que, além de dar mais autonomia para as províncias, substituiu o caráter tríplice da regência por um governo mais centralizador. O primeiro regente foi o Padre Diogo Antônio Feijó , que notabilizou-se por ser um governo de inspirações liberais, porém, devido às pressões políticas e sociais, teve que renunciar. O governo de caráter liberal caiu para dar lugar ao do conservador Araújo Lima, que centralizou o poder em suas mãos, sendo atacado veementemente pelos liberais, que só tomaram o poder devido ao golpe da maioridade. Destacam-se neste período a instabilidade política e a atuação do tutor José Bonifácio, que garantiu o trono para D. Pedro II. Teve início neste período a Revolução ou Revolta Farroupilha, em que os gaúchos revoltaram-se contra a política interna do Império, e declararam a República Piratini. Não demorou muito para que esta revolta se estendesse pelo sul do país, chegando até Santa Catarina, local em que foi aclamada a República Juliana, a qual contou com a ajuda de Davi Canabarro, por terra, e Giuseppe Garibaldi – líder revolucionário naturalizado italiano –, por mar, transformando sua participação no movimento em um feito heroico para a história catarinense. Também neste período ocorreram a Cabanada, de Alagoas e Pernambuco; a Cabanagem, do Pará; a revolta dos Malês e a Sabinada, na Bahia; e a Balaiada, no Maranhão. Imigração e colonização Imigrar, no sentido da palavra propriamente dita, significa entrar em um país que não é o seu de origem para ali viver ou passar um período de sua vida. O intenso processo de imigração no Brasil deixou fortes marcas de mestiçagem e hibridismo cultural, constituindo um importante fator na demografia, cultura, economia e educação deste país. AGORA+ | http://www.apostilasagora.com.br 231Conhecimentos Gerais | PC-RS 2013 Podemos considerar o início da imigração no Brasil o ano de 1530, pois a partir deste momento os portugueses vieram para o nosso país para dar início ao plantio de cana-de-açúcar. Porém, a imigração intensificou-se a partir de 1818, com a chegada dos primeiros imigrantes não-portugueses, que vieram para cá durante a regência de D. João VI. Devido ao enorme tamanho do território brasileiro e ao desenvolvimento das plantações de café, a imigração teve uma grande importância para o desenvolvimento do país, no século XIX. Em busca de oportunidades na terra nova, para cá vieram os suíços, que chegaram em 1819 e se instalaram no Rio de Janeiro (Nova Friburgo), os alemães, que vieram logo depois, em 1824, e foram para o Rio Grande do Sul (Novo Hamburgo, São Leopoldo, Venâncio Aires, Santa Cruz do Sul), Santa Catarina (Blumenau, Joinville e Brusque), os eslavos, originários da Ucrânia e Polônia, habitando o Paraná, os turcos e os árabes, que se concentraram na Amazônia, os italianos de Veneza, Gênova, Calábria, e Lombardia, que em sua maior parte vieram para São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, os japoneses (São Paulo e Paraná), entre outros. O maior número de imigrantes no Brasil são os portugueses, que vieram em grande número desde o período da Independência do Brasil. Após a abolição da escravatura (1888), o governo brasileiro incentivou a entrada de imigrantes europeus em nosso território. Com a necessidade de mão-de-obra qualificada, para substituir os escravos, milhares de italianos e alemães chegaram para trabalhar nas fazendas de café do interior de São Paulo, nas indústrias e na zona rural do sul do país. Todos estes povos vieram e se fixaram no território brasileiro com os mais variados ramos de negócio, como por exemplo, o ramo cafeeiro, as atividades artesanais, a policultura, a atividade madeireira, a produção de borracha, a vinicultura etc. Rio Grande do Sul Existem vestígios arqueológicos que atestam a existência de grupos indígenas na região desde 12 mil anos a.C., entre os principais grupos destacamos os minuanos e os guaranis. No século XVI, com a descoberta do Novo Mundo, o Rio Grande do Sul passou a fazer parte do reino espanhol pelo Tratado de Tordesilhas. Em 1627, jesuítas espanhóis criaram missões, próximas ao rio Uruguai, mas foram expulsos pelos portugueses, em 1680, quando a coroa portuguesa resolveu assumir seu domínio, fundando a Colônia do Sacramento. Os jesuítas espanhóis estabeleceram, em 1687, os Sete Povos das Missões. Em 1737, uma expedição militar portuguesa comandada pelo brigadeiro José da Silva Pais foi enviada para garantir aos lusitanos a posse de terras no sul, objeto de disputa entre Portugal e Espanha. Para efetuar essa posse militarmente, José da Silva Pais construiu nesse mesmo ano um forte na barra da Lagoa dos Patos, que é a origem da atual cidade de Rio Grande, primeiro marco da colonização portuguesa no Rio Grande do Sul. Em 1742, os colonizadores portugueses iniciaram uma vila que viria a ser Porto Alegre. As lutas pela posse das terras, entre portugueses e espanhóis, tiveram fim em 1801, quando os próprios sul-riograndenses dominaram os Sete Povos das Missões, incorporando-os ao seu território. Em 1807, a área foi elevada à categoria de capitania. O município de Viamão antecedeu Porto Alegre como sede do governo. Durante o período colonial a região foi palco de inúmeros conflitos entre hispano-americanos e luso-brasileiros. No século XIX, com a formação do Império do Brasil, a região seria elevada ao status de província e teve grande importância nos conflitos entre o recém formado império e as jovens repúblicas platinas, iniciando pela Guerra da Cisplatina. Foi no Rio Grande do Sul onde deflagrou uma das mais significativas revoltas durante o período regencial, a Guerra dos Farrapos (1835-1845), que perdurou até os AGORA+ | http://www.apostilasagora.com.br 232Conhecimentos Gerais | PC-RS 2013 primeiros anos do Segundo Reinado, sendo também um dos primeiros marcos na história, cultura e identidade da região. A província foi também importante na luta contra Juan Manuel de Rosas (1852) e na Guerra do Paraguai (1864-70).
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