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ROBSON CARDOSO DA COSTA Assentamento remoto de larvas de Vieiras Nodipecten nodosus (Linnaeus, 1758) Dissertação submetida ao Programa de Pós- graduação em Aquicultura da Universidade Federal de Santa Catarina para a obtenção do Grau em Mestre em Aquicultura. Orientador: Claudio Manoel Rodrigues de Melo Florianópolis 2018. Dedico este trabalho a minha família. AGRADECIMENTOS Aos meus pais pela oportunidade de estudos. A Ana Paula, Órion e a Beatriz, por fazer parte da minha vida e apoiar minha trajetória. Ao professor Gilberto Caetanos Manzoni coordenador do CEMar- UNIVALI, pela oportunidade e contribuição no desenvolvimento do trabalho. Ao meu orientador Claudio Manoel Rodrigues de Melo pela confiança neste tempo de Pós-graduação e oportunidade de realizar este trabalho. A todos os professores que contribuíram de alguma forma na minha formação, em especial aos do Laboratório de Moluscos Marinhos, Gilberto e Marcão. Ao corpo técnico do LMM, Jaqueline, Claudio Blacher, Rico, em especial ao Carlos Henrique e ao Francisco da Silva (Chico). Aos funcionários Duda, Sino, Zezé, Alexandre. Aos alunos bolsistas Gabriel Nandi, Grazi, Lincon, Juan e Cassio. Aos companheiros de trabalho do Centro Experimental de Maricultura da UNIVALI, Renatinho, Felipe, Diego, Cadu, Pedro, Luiza, Natalia e a Rose. Ao Laboratório de Oceanografia Química (LOQ-UNIVALI), em especial a Maria pelo auxilio nas analises. Aos colegas do curso pelos momentos de aprendizagem, descontração e amizade. À Universidade Federal de Santa Catarina e ao Programa de Pós- graduação em Aquicultura pelo ensino gratuito de qualidade, pelos livros dispostos e toda estrutura. “Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir os fortes”. (Coríntius 1:27) RESUMO Atualmente os produtores encontram dificuldades na logística de transporte das sementes de vieiras para suas fazendas. Neste sentido, o estudo teve como objetivo avaliar o crescimento e a sobrevivência de larvas de vieiras Nodipecten nodosus cultivadas em sistema de assentamento remoto. As larvas no estágio pediveliger, aptas para o assentamento, foram transferidas para as unidades de assentamento no parque aquícola e no Laboratório do Centro Experimental de Maricultura (CEMAR) da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), Penha, Santa Catarina. Foram testadas duas formas de transporte (tratamentos), em meio úmido e outro submerso em água do mar. Um tratamento controle foi mantido no LMM/UFSC, Florianópolis, Brasil. Os indivíduos, após serem expostos aos tratamentos de transporte, foram povoados dentro de caixas flutuantes diretamente ao mar e em recipientes em condições controladas no CEMAR. O delineamento experimental foi em esquema fatorial (fator A: forma de transporte (umedecido e submerso em água); fator B: método de cultivo (caixa ou laboratório)) ambos com cinco repetições. Entre os três diferentes experimentos realizados, observaram- se diferenças estatísticas (p<0,05), no exeperimento I, para a sobrevivência e crescimento de larvas transportadas em meio submerso e assentadas no laboratório. Entretanto, não foi observada diferença estatística entre o tratamento controle, úmido e submerso do experimento II. Os valores de sobrevivência no tratamento controle do experimento III foram superiores (p<0,05) em relação aos tratamentos úmido e submersos cultivados em laboratório. Não foi possível observar presença de pré- sementes nos tratamentos cultivados no mar nos três experimentos. Conclui-se que é aceitável transportar larvas por 6 horas de viagem para serem assentadas em condições controladas, contudo novas investigações devem ser realizadas para aprimorar a técnica de assentamento remoto diretamente no mar. Palavras-chave: Aquicultura, transporte de larvas, pré-sementes, sobrevivência, crescimento. ABSTRACT Currently farmers have difficulties to transport the scallops’ seeds to their farms. The objective of this study was to evaluate the settlement rate of scallops’ larvae of Nodipecten nodosus transported in humid and submerged conditions. The pediveliger were transferred to Laboratory of the Experimental Mariculture Center (CEMAR) of the University of Vale do Itajaí (UNIVALI), Penha, Santa Catarina. We tested humid and submerged type of transport (treatments). A control treatment was maintained at LMM/UFSC, Florianópolis, Brazil. The larvae were put inside of floating boxes directly field and in bucket under controlled conditions in CEMAR. The experiment was in a factorial design (factor a: transport form (humid and submerged); factor b: cultivation method (box on field and in laboratory) with five replicas. Three experiments were carried out. There are no differences in larvae survival after transport (p>0.05). Statistical differences (p <0.05) were obtained for survival and growth, in the experiment I, to larvae transported submerged. No difference was observed beteween control, humid and submerged treatments, in the experiment II. The survival, in laboratory, from control treatment in experiment III were higher (p <0.05) than the survival in humid and submerged treatments. No seeds were found field cultivation in all experiments. It is concluded that it is acceptable to carry larvae for 6 hours to be seated in controlled, however further investigations should be carried out to improve the technique. Keywords: Aquaculture, larvae transport, pre-seeds, recovery, growth. LISTA DE FIGURAS Figura 1- Média ± desvio padrão da sobrevivência em (%) de larvas de vieras N. nodosus após o transporte em meio úmidos e submersos nos experimentos I, II e III. ................................................................... 46 Figura 2- Médias semanais de temperatura (ºC) e salinidade (psu), registrados para os experimentos I (Fig. A e D), II (Fig. B e E) e III (Fig. C e F). ........................................................................................... 48 Figura 3- Média ± desvio padrão da sobrevivência de pré-sementes de vieiras N. nodosus, depois de 40 dias de cultivo e submetidas aos tratamentos de transporte úmido, submerso e tratamento controle nos experimentos I, II e III. Letras diferentes indicam diferenças estatísticas (p<0,05) entre os tratamentos de cada experimento pelo teste de Tukey. ...................................................................................... 49 Figura 4-Média ± desvio padrão do crescimento em comprimento (mm) das pré-sementes de vieiras N. nodosus, após 40 dias de cultivo, entre os tratamentos controle, úmido e submerso nos experimentos I, II e III. Letras diferentes indicam diferenças estatísticas (P<0,05) entre os tratamentos de cada experimento pelo teste de Tukey. ..................... 50 Figura 5- Média ± desvio padrão do crescimento final em altura (mm) das pré-sementes de vieiras N. nodosus após 40 dias de assentamento, nos tratamentos controle, úmido e submerso, nos experimentos I, II e III. As letras indicam diferenças estatísticas (p<0,05%) entre os tratamentos de cada experimento pelo teste de Tukey. .........................51 LISTA DE TABELAS Tabela 1- Abertura de malha das telas utilizadas ao longo do cultivo nas unidades experimentais do mar. ...................................................... 43 Tabela 2- Tabela 2 - Concentração (x104cél/mL-1) de microalgas ofertadas para as pré-sementes de vieiras N. nodosus durante a fase de assentamento em laboratório. ................................................................ 44 Tabela 3- Média ± desvio padrão dos valores de clorofila-a (µg/L) e material particulado em suspensão (MPS) (mg/L) das amostras das caixas de coleta A (telas de 120-150-180-210 µm), B (telas de 150- 180-210-240 µm), C (telas de 180-210-240-270 µm) e Mar (superficial). .......................................................................................... 47 Tabela 4- Valores do crescimento médio das vieiras em comprimento (mm) e altura (mm) por dia de cultivo em micrometros (µm/dia) nos tratamentos controle, úmido e submerso, durante os 40 dias de cultivo, nos experimentos I, II e III. ................................................................... 52 Tabela 5- Valor médio semanal da entrada, saída e consumo da concentração de alimento nos tanques de cultivo (x104células. mL-1), dos tratamentos úmido e submerso nos três experimentos. ................... 53 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS % - Porcentagem. ºC - Graus centígrados. µm-Micrômetros. µg/L – Microgramas por litro. µm/dia – Micrômetros por dia. ACARPESC - Associação de Crédito e Assistência Rural e da Pesca do Estado de Santa Catarina. CEMAR-Centro Experimental de Maricultura. CTTMAR- Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar. Células.ml-1 - Células por mililitro. EPAGRI - Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina Kg - Kilograma LMM - Laboratório de Moluscos Marinho. L - Litros. L. min-1- Litros por minuto. Min. - Minutos. MPS - Material Particulado em Suspensão Mg/L – Miligrama por litro. ML - Mililitros. M - Metros. MM - Milímetros. PPM - Parte por milhão. PSU - Unidade Prática de Salinidade. RJ - Rio de Janeiro. SC - Santa Catarina. SP – São Paulo. UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina. UNIVALI - Universidade do Vale do Itajaí. U.V - Ultravioleta. XX - Algarismo Romano. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO GERAL ............................................................. ... 23 1.1 Históricos da Produção .......................................................................... ..... 23 1.2 A vieira Nodipcten nodosus..................................................................... ..... 25 1.3 O cultivo de vieiras.................................................................................. ..... 28 2 OBJETIVOS................................................................................................ 34 2.1 Objetivo Geral......................................................................................... ..... 34 2.2 Objetivos Específicos.............................................................................. ..... 34 3 ARTIGO CIENTÍFÍCO...................................................................... ..... 35 1 Introdução......................................................................................... ............. 37 2 Material e Métodos...................................................................... .................. 38 2.1 Local de estudo........................................................................................ ..... 38 2.2 Delineamento experimental..................................................................... ..... 38 2.3 Obtenções das larvas............................................................................... ..... 39 2.3.1 Maturação dos coletores....................................................................... ..... 41 2.3.2 Transportes das larvas.......................................................................... ..... 41 2.3.3 Sobrevivência de larvas pós-transporte................................................ ..... 41 2.4 Assentamento Remoto............................................................................. ..... 42 2.4.1 Assentamento no mar........................................................................... ..... 42 2.4.2 Assentamento em laboratório............................................................... ..... 43 2.4.3 Avaliações de sobrevivência e crescimento......................................... ..... 44 2.4.4 Consumo de microalgas............................................................................ .45 2.5 Análises estatisticas................................................................................. ..... 45 2.6 Parâmetros de qualidade de água............................................................ ..... .45 3 Resultados......................................................................................... ............. 46 3.1 Transporte................................................................................................ ..... 46 3.1.1Temperatura e sobrevivência................................................................. ..... 46 3.2 Assentamento................................................................................... ........ ..... 47 3.2.1 Parâmetro de qualidade de água............................................................ .... 47 3.2.2 Sobrevivência e crescimento de pré-sementes...................................... .... 48 3.2.3 Consumo de alimento............................................................................ .... 52 4 Discussão.............................................................................................. .......... 54 5 Conclusão........................................................................................... ............ 58 6 Referências........................................................................................ ............. 59 REFERÊNCIAS DA INTRODUÇÃO GERAL..................................... ........ 69 23 1 INTRODUÇÃO GERAL 1.1 Históricos da Produção A aquicultura é uma atividade desenvolvida em diversos países (OLIVEIRA, 2009) e apesar de existir registros históricos evidenciando o início da técnica em manuscritos chineses e também em hieróglifos egípcios datados de séculos antes de Cristo, somente no século XX, houve uma significativa produção em escala comercial, isto devido ao aprimoramento das técnicas de cultivo e redução dos estoques pesqueiros naturais (ARANA, 1999). A evolução da produção mundial aquícola teve início nas últimas décadas, sendo o setor de produção animal o que mais cresce no mundo, cerca de 8% ao ano desde 1970 (ALBUQUERQUE, 2010). No ano de 2014, a produção mundial foi de 73,8 milhões de toneladas, sendo que 16,1 milhões de toneladas foram de moluscos. A Ásia destaca-se neste cenário com a produção de 14,8 milhões de toneladas. O Brasil figura na 14ª posição em relação à produção da aquicultura, com 562,5 mil de toneladas, sendo que 22,1 mil de toneladas são atribuídas ao cultivo de moluscos marinhos (FAO, 2016). A malacocultura foi desenvolvida, aproximadamente, há 700 anos pelos franceses, mas apenas na década de 50 passou a ter expressão econômica no cenário mundial (MARQUES; PEREIRA, 1988). No Brasil, a primeira referência sobre a discussão do tema foi em 1934, abordado no Primeiro Congresso Nacional de Pesca, apresentado como “O Futuro Industrial da Ostreicultura no País”, organizado pelo Ministério da Agricultura – Divisão de Caça e Pesca (POLI; LITLLEPAGE, 1998). No entanto, os primeiros cultivos foram implementados somenteno ano de 1963, através de pesquisas experimentais realizadas com a espécie de mexilhão Perna perna (Linnaeus, 1758) desenvolvidas no centro experimental de mexilhões no litoral do Estado de SP (UMIJI, 1969; e LUNETTA, 1969). Posteriormente, outras possibilidades voltadas aos cultivos foram implementadas, no ano de 1974, quando houve a primeira importação e introdução da espécie Crassostrea gigas (Thunberg, 1793) no Brasil, pelo Instituto de Pesquisas da Marinha, no litoral de Cabo Frio RJ. Já no ano seguinte, 1975, iniciaram as pesquisas na região de Cananéia, com indivíduos importados do Japão, pelo Instituto de Pesca de SP (ANDRADE, 2016). Em Santa Catarina, os trabalhos pioneiros foram desenvolvidos a partir da década de 80, através da parceria entre (ACARPESC, atual 24 EPAGRI) e o Laboratório de Cultivo de Moluscos Marinhos (UFSC) visando o incremento das técnicas do cultivo de moluscos bivalves na região. Com o envolvimento em conjunto destes órgãos de fomento, na pesquisa e extensão, foi possível desenvolver os primeiros estudos com espécies de bivalves, tais como, a ostra nativa Crassostrea rhizophorae (Guilding, 1928) (Poli et al., 1988), o mexilhão Perna perna (Marenzi, 1987; Magalhães et al., 1987), a ostra Crassostrea gigas (Poli et al., 1996) e as vieiras Nodipecten nodosus (Manzoni e Rupp, 1993; Manzoni, 1994; Rupp, 1994). Paralelo a isso, surgiram os primeiros indícios das atividades na região, em escala artesanal, promovidos pelo “Projeto Ostra” voltados para o cultivo de ostra do mangue de forma consorciada com camarão. Neste mesmo período, foi criado 1º condomínio de Maricultura do Brasil, o Condomínio de Pesca e Maricultura Baía Norte, o qual estabeleceu uma relação importante entre os pescadores da região e os pesquisadores da UFSC (ANDRADE, 2016). Contudo, somente no final da década de 90, através da capacitação dos técnicos da UFSC no projeto STTP (Sellfish Tecnology Transfer Program) e subsequentemente no BMLP (Brazilian Mariculture Linkage Program) desenvolvido em parceria com a CIDA (Canadian Internacional Development Agency) possibilitou a estruturação e o domínio das tecnologias de cultivo no laboratório (ANDRADE, 2016), promovendo uma expressiva produção de sementes de moluscos ofertadas em escala comercial, estimulando os primeiros cultivos comerciais no litoral catarinense (MANZONI, 2004). Atualmente no Brasil, destaca-se neste setor da produção, pesquisa e extensão o Laboratório de Moluscos Marinhos da UFSC. Devido ao fornecimento anual para os produtores, de aproximadamente, 50 milhões de larvas olhadas de mexilhões Perna perna (havendo demanda), 50 milhões de sementes de ostras Crassostrea gigas e um milhão de pré-sementes de vieiras Nodipecten nodosus (SILVA et al., 2014). Neste contexto, o estado do Rio de Janeiro, também desempenha um papel importante para a maricultura nacional, sendo responsável por comercializar cerca de 55 toneladas de vieiras no ano de 2016. Esta produção é realizada entre a região dos Lagos e a Costa Verde, com destaque para a Baía de Ilha Grande, em Angra dos Reis, no qual encontra-se o maior número de produtores, em torno de 20 fazendas de cultivo. Além de ser uma região favorecida geograficamente para o desenvolvimento da pectinicultura, a atividade é apoiada pelo Instituto de Ecodesenvolvimento da Baía de Ilha Grande (IED-BIG), com parcerias 25 entre os órgãos como a FIPERJ (Fundação Instituto de Pesca do Estado do Rio de Janeiro), a Prefeitura de Angra dos Reis, a Secretaria da Pesca e Aquicultura e o SEBRAE (ESTRADA et al., 2016). Segundo a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina – EPAGRI (2016), o Estado de Santa Catarina foi responsável por comercializar 15.381,44 toneladas de moluscos, cerca de 90% da produção nacional, as quais são divididas entres as espécies, o mexilhão Perna perna com 12.534 toneladas, seguido da ostra Crassostrea gigas; com 2.280,46 toneladas e da vieira Nodipecten nodosus; com 26,9 toneladas. Apesar das vieiras serem as espécies de bivalves com menor volume de produção, o elevado valor de comercialização deste molusco desperta cada vez mais a atenção dos maricultores, proporcionando ao município de Penha liderar a produção, com 21,6 toneladas comercializadas representando 80% da produção estadual (EPAGRI, 2016). Conquanto que o litoral de SC seja favorecido geograficamente para o desenvolvimento da atividade de malacocultura (GRUMANN; POLI, 1999), e por apresentar uma movimentação financeira bruta estimada em R$ 54.917.813,40, com a atuação direta de 604 maricultores (EPAGRI, 2016), proporcionando a geração de renda e emprego para a população nativa (ROSA, 1997). Nos últimos anos, a demanda ficou estabelecida, sendo constatada ainda, uma redução (24,74%) na comercialização dos bivalves em relação ao ano de 2015 (EPAGRI, 2016). Este cenário pode ser explicado, devido à consolidação e aprimoramento dos processos produtivos, as poucas perspectivas de crescimento no mercado interno e especialmente a deficiência política de ordenamento e gestão da aquicultura e pesca no Brasil (ANDRADE, 2016; EPAGRI, 2016). Segundo Souza et al. (2014), políticas públicas vêm sendo adotadas com objetivo de promover a evolução na cadeia produtiva e a abertura de novos mercados consumidores, dentre elas, destacam-se o PLDM (Plano Local de Desenvolvimento da Maricultura) e o Programa Nacional de Controle Higiênico Sanitário de Moluscos Bivalves (PNCMB), que busca a adequação da cadeia às exigências vigentes em outros mercados externos como os países da União Europeia. 1.2 A vieira Nodipecten nodosus Os moluscos pectínidios têm uma longa história geológica. Estão documentados entre os primeiros registros de organismos fósseis com conchas. Seus ancestrais foram originados no período Pré-cambriano 26 (BRUSCA e BRUSCA, 2007). A família Pectinidae se agrupa em 350 espécies, deste total, somente 15 são de importância econômica (GONZÁLEZ-ANATIVIA 2001). Possuem uma ampla distribuição nos mares tropicais, subtropicais e frios nos continentes americanos dos oceanos Atlântico e Pacífico (ABBOTT e DANCE, 1983). Entre as espécies com potencial de cultivo destaca-se a Nodipecten nodosus, seus exemplares podem ser encontrados em águas rasas na região do Caribe, sul das Grandes Antilhas, Ilhas Virgens, Antilhas Orientais, leste da América Central, sul na Península de Yucatán, leste do Panamá, Colômbia, Venezuela e de maneira descontínua até o Estado do Rio de Janeiro (SMITH, 1991). No entanto, seu limite meridional de distribuição é localizado mais ao sul, chegando a águas temperadas do Estado de Santa Catarina. O registro desta ocorrência foi realizado por Rupp (1994), no qual, exemplares foram coletados entre 6 a 30 metros de profundidade da reserva biológica da Ilha do Arvoredo, localizado nas cercanias da Ilha do Município de Florianópolis, SC. Os indivíduos selvagens são encontrados fixados em substratos duros através do bisso, mas também podem ser encontrados soltos sob o fundo arenoso. Habitualmente, ficam posicionados com a valva direita para baixo geralmente em pequenas depressões e com a valva esquerda camuflada por algas incrustantes e epifauna. São capazes de promover movimentos natatórios, percorrendo erraticamente pequenas distâncias (SMITH, 1991). Os pectinídeos em geral, se diferenciam dos demais moluscos bivalves pela a presença de um ligamento de forma triangular entre as duas valvas denominado resilium, especificamente para a N. nodosus a característica morfológica externa que o diferencia do grupo são suas aurícilas desiguais, 9 a 10 costelas radiais com destacados nós bulbosos na sua valva esquerda superior e costelas (SMITH, 1991). Assim como todos os moluscos bivalves, é constituída externamente por duas valvas calcárias, cujacoloração pode ser de tonalidade marrom-avermelhada, vermelha, alaranjada, púrpura ou amarela. Na sua cavidade interna estão localizados seus principais órgãos vitais, mantendo o funcionamento dos seus sistemas fisiológicos basais, tais como, o circulatório, no qual é composto pelo coração e suas ramificações, artérias e veias que levam a hemolinfa até ser oxigenada pelas brânquias. Outro sistema importante é o digestório, composto pela boca, palpos labiais, esôfago, estômago, estilete cristalino, intestino, ânus e a glândula digestiva. O manto é responsável pela formação da concha, onde surgem pequenos tentáculos e olhos paliais com função sensorial. As brânquias além de participar da respiração são responsáveis pela 27 captura do alimento, geralmente, materiais em suspensão de origem orgânica, inorgânica ou fitoplâncton, encontrados na água onde vivem, sendo selecionados pela sua composição química e granulométrica. Contudo, os movimentos de fechamentos das valvas são originados pelo musculo adultor, sendo circundado pela gônada (RUPP e DE BEM, 2004). A maioria dos pectinídeos apresentam hermafroditismo funcional simultânea, ou seja, a gônada é dividida em parte masculina de coloração esbranquiçada e outra feminina de coloração alaranjada (RUPP, 1994). As liberações dos gâmetas ocorrem pelos nefrídios, de forma parcial e assincrônico ao longo dos anos, obtendo uma maior atividade reprodutiva durante o final da primavera (MANZONI, 1994). Segundo Barber (2006), o ciclo gametogênico envolve um período de repouso da atividade reprodutiva, de vitelogênese, de liberação e reabsorção dos gametas. Estudos realizados por Rupp (1994), abordam que logo após a indução a desova, ocorre à liberação dos gametas e a fecundação dos ovócitos pelos espermatozoides. Ainda o mesmo autor descreveu o seu desenvolvimento embrionário, a presença de larvas trocofóras e a formação de larvas véliger de charneira reta ou “larva D” horas depois da fecundação. Conforme Hodgson e Bourne (1988), o tempo de duração do desenvolvimento embrionário e larval dependem da temperatura e outros fatores. No entanto, nos últimos dias de desenvolvimento larval ocorre a formação do pé, no qual passam a ser denominadas de pedivéliger. Ao atingirem um tamanho de 200 a 300 µm de comprimento, as larvas iniciam um processo de busca ao substrato para se fixar e sofrer metamorfose (RUPP e DE BEM, 2004). Este estágio representa o fim da vida plânctonica e início do habito bentônico (CRAGG e CRISP, 1991). A partir deste momento a concha cresce rapidamente e continua a ser constituída com aparência distinta das formas iniciais, o qual é chamado de dissoconcha ou concha pós-larval. Ao final deste período os organismos apresentam a concha completamente pigmentada e já apresentam o formato semelhante aos adultos (RUPP, 1994). Contudo o que os diferenciam é a ausência de gônadas desenvolvidas (SASTRY, 1965). 28 1.3 O cultivo de vieiras O cultivo de pectinídeos é considerado uma atividade relativamente nova, sua produção em escala comercial teve início no Japão a partir do ano de 1960, desenvolvida como alternativa para o intenso extrativismo e pela redução dos estoques naturais (SPENCER, 2002). Os primeiros estudos relacionados à produção de sementes em condições controladas foram com espécie Patinopecten yessoensis (Jay, 1857), desenvolvidas no Japão, em pequenas escalas (Ito, 1991). Anos depois, entre as décadas de 80 e 90, iniciou-se a pectinicultura nas Américas do Norte e Sul e na Europa, estimulada pela construção dos primeiros laboratórios (“hatcheries”) (URIARTE et al., 2001). Conforme Dore (1991) existem no mundo 350 espécies de vieiras, mas apenas algumas são cultivadas em escala comercial. No continente Asiático, especialmente a China, Japão e a Rússia, produzem a espécie Patinopecten yessoensis. Na Oceania, as espécies Pecten Novoezelandiae (Reeve, 1853) e Pecten fumatus (Reeve, 1852), em Países Europeus, Pecten maximus (Linnaeus, 1758), na América do Norte, principalmente o EUA e o Canadá as espécieis Placopecten magellanicus, (Gmelin, 1791), Argopecten irradians (Say, 1822) e Patinopecten caurinus, (Gould, 1850) na América Latina, destaca-se o Chile, com a espécie Argopecten purpuratos (Lamarck, 1819) e no México com a espécie Argopecten ventricosus. (G. B. Sowerby II, 1842) (FAO, 2016). Embora existam 16 espécies de pectínideos no Brasil, apenas a espécie Nodipecten nodosus, é explorada comercialmente (RIOS, 1994). No estado de Santa Catarina sua ocorrência é em ilhas oceânicas (RUPP, 1994), apresentando potencial biológico e econômico para aquicultura (MANZONI, 1994). Popularmente é conhecido como vieiras, também podem ser chamadas de “scallops” em inglês, “coquilles Saint-jaques” em francês e “ostion” em países com língua hispânica. Considerado como uma fina iguaria, o molusco é servido na alta gastronomia, tem-se por hábito consumir apenas seu músculo adultor (RUPP e DE BEM, 2004). A Pectinicultura, assim como o cultivo de outros moluscos marinhos, apresenta dificuldades na obtenção de larvas e sementes (AVENDAÑO e CANTILLANEZ, 1989; HARDY, 2006), tendo estudo (MANZONI e RUPP, 1993) demonstrado que a captação de sementes da N. nodosus em ambiente natural é ineficaz no litoral de Santa Catarina. Neste contexto, a produção de sementes em laboratórios, em condições controladas, torna-se a única alternativa justificável para a atividade. 29 Nesta conjuntura, os laboratórios possuem estruturas desenvolvidas com objetivo de garantir a produção controlada de sementes ao longo do ano. Segundo Uriarte et al. (2001), a unidade deve conter instalações básicas construídas para que possibilitem simular condições ambientais ótimas de cultivo, tais como: sistemas de abastecimento, filtragem e drenagem de água marinha, sistema de água doce, energia elétrica e ar comprimido. O mesmo autor descreve que a unidade deve conter setores principais, como por exemplo: cultivo de microalgas, maturação e acondicionamento de reprodutores, indução a desova e fertilização, cultivo larval, assentamento de pós-larvas e transporte de sementes. No Brasil, o Laboratório de Moluscos Marinhos (LMM) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e o (IEDBIG) no Rio de Janeiro, destacan-se devido a produção e o fornecimento de larvas e sementes de vieiras para abastecimento dos produtores nacionais. Nos últimos anos, a produção mundial de pectinídeos aumentou notavelmente e o interesse neste grupo biológico levou ao desenvolvimento de diversos estudos, incluindo aqueles relacionados com recursos reprodutivos, desenvolvimento larval e pós-larval (ROMÁN et al., 2001). O domínio da tecnologia para produção de sementes de vieiras em condições controladas é encontrado na literatura para as espécies Patinopecten yessoensis (ROBERT et al., 1994), Pecten meridionalis (Tate, 1887) (DIX e SJARDIN, 1975), Pecten fumatus (HEASMAN, 1998), Amusium balloti (Bernardi, 1861) (ROSE et al., 1988), Chlamys asperrimus (Lamarck, 1819) (ROSE et al., 1984), Pecten maximus (ROMÁ e PEREZ, 1976) Placopecten magellanicus (PEARCE e BOURGET, 1996), Argopecten gibuss (Linnaeus, 1758) (SARKIS et al., 2006), Argopecten irradians (CASTAGNA, 1975), Argopecten purpuratus (AKABOSHI e ILLANES, 1982), Argopecten ventricosus (MAEDA et al., 1990), Aequipecten tehuelchus (d'Orbigny, 1842). (PASCUAL e ZAMPATTI, 1998), Euvola ziczac (Linnaeus, 1758) (VÉLEZ e FREITES, 1993), Chlamys varia (Linnaeus, 1758) (DE LA ROCHE et al., 2005), Chlamys australis (G. B. Sowerby II, 1842) (CROPP, 1993) e Nodipecten subnodosus (G. B. Sowerby I, 1835) (CARBAJAL-RASCÓN, 1987). Conforme Rupp (1994), o início do processo para obtenção de sementes de vieiras Nodipecten nodosus começa com o manejo das matrizes, onde, após serem selecionadas do ambiente marinho,permanecem em condições controladas. Este condicionamento é usualmente atingido pela manipulação de fatores exógenos, sobretudo regimes alimentares e temperatura da água no laboratório (WILSON et al., 1996). 30 Segundo Utting e Milican (1997), a composição nutricional do alimento ofertado aos reprodutores durante o estágio de maturação promove o desenvolvimento de gametas com boa qualidade. Principalmente, quando ofertados uma mistura de microalgas ricas nutricionalmente em proteínas e lipídios (SPENCER, 2002), podendo até obter resultados expressivos no número de ovócitos liberados na desova e recuperação larval (SUHNEL, 2008; CARVALHO, 2010). A temperatura é outro fator que influência o desenvolvimento gônadal (BARBER e BLAKE, 1991). Segundo Rupp (1994), a manutenção da temperatura em torno de 17,5ºC proporcionou a maturação gônadal da espécie N. nodosus. Enquanto, para outras espécies de pectinideos, P. Maximus em torno de 14ºC, A. tehuelchus entre 14 e 17ºC, A. purpuratos e A. irradains em 20ºC e para a P. novaezelandiae entre 15 a 18ºC. (ROMÁN, 1991; MARTINEZ et al., 2000; SASTRY 1965; NESBIT 1999). A etapa é importante para a reprodução, pois garante a obtenção de gametas maduros fora do período reprodutivo natural da espécie (WIDMAN et al., 2001). O ciclo gametogênico compreende o período vegetativo, no qual a atividade permanece em repouso, período de diferenciação celular, de crescimento citoplasmático, de vitelogênese (maturação), da liberação e reabsorção dos gametas (BARBER e BLAKE, 1991). A identificação destes estágios pode ser realizada por uma inspeção visual das gônadas sendo avaliados subjetivamente através do seu tamanho, coloração e espessura (SUHNEL, 2008). Diante do exposto, além do processo de maturação, para alcançar a completa reprodução em laboratório, é necessária uma etapa de indução artificial para haver liberação dos gametas. Os moluscos pectinídeos, em sua maioria, podem ser induzidos através da manipulação de fatores físicos, químicos e biológicos (MAZÓN-SUÁSTEGUI et al., 2011). Entre os estímulos físicos compreendem o choque ou elevações graduais de temperaturas (KAN-NO, 1962; LOOSANOFF e DAVIS, 1963; TANAKA et al., 1970; ALAGARSWAMI et al., 1983) e de salinidade (STEPHEN e SHETTY, 1981). Dentre os químicos, a aplicação de peróxido de hidrogênio (TANAKA, 1978) e hidróxido de amônio (SAGARA, 1958). Os de origem biológica destaca-se a exposição a altas concentrações de microalgas (SMITH e STREHLOW, 1983) e a pequenas raspagens do tecido gônadal (LOOSANOFF e DAVIS, 1963). Atualmente, a indução a desova da espécie N. nodosus e realizada através das técnicas descritas por Rupp (1994), adaptadas pelo LMM. Posteriormente a liberação dos gametas, o processo de fecundação é iniciado através da mistura de uma pequena quantidade de 31 espermatozoides nos ovócitos, normalmente na proporção de 10:1 (BOURNE, 1989). Contudo, como estes organismos são hermafroditas funcionais, deve-se ter um cuidado para que possivelmente não ocorra à autofecundação. Uma alternativa para mitigar este efeito é a separação individual dos animais durante a desova, sabendo-se que na sua maioria liberam os primeiros jatos com espermatozoides e posteriormente os ovócitos, podendo retornar a liberar gametas masculinos (URIARTE et al., 2001). Conforme relatado por Gruffydd e Beaumont (1970), o ajuste na densidade dos ovócitos é uma etapa importante para garantir o desenvolvimento embrionário e larval. Após a fecundação os ovócitos passam por sucessivos processos de divisão celular, evoluindo para diferentes estágios embrionários (GOSLING, 2004). Contudo, a primeira fase larval é a trocofora, no qual sua fonte de alimentação é da reserva vitelina. Posteriormente, desenvolve-se suas valvas em forma de ´´D``, chamada de véliger, podendo se alimentar de partículas suspenção na água (ABARCA, 2001). Segundo Loosanoff e Davis (1963), o tempo de larvicultura de vieiras em condições controladas, pode variar em função de diversos fatores, como por exemplo; temperatura, alimentação e qualidade de água. No estudo de Velasco e Barros (2008), o cultivo larval da espécie N. nodosus em baixas densidades (1 larva/mL), alimentadas com uma dieta composta pelas microalgas Chaetoceros calcitrans e Isochysis galbana, mantidas em temperatura de 25ºC obtiveram maiores sobrevivências. Embora, em temperatura mais alta foi possível observar um crescimento mais rápido (DE LA ROCHE et al., 2002). Contudo, a produção de larvas de vieiras no LMM-UFSC, vem sendo desenvolvido em sistemas estáticos, com trocas parciais de água (filtradas a 1µm e esterilizada por luz UV) a cada 24 horas, mantidas em temperaturas ambiente (20 a 25ºC), com aeração suave e constante, mantidas em baixas densidades (2 larvas/mL). É ofertada uma dieta mista de microalgas (diatomáceas e flageladas) diariamente até chegarem ao estágio pedivéliger (CARVALHO, 2010). Segundo Rupp et al. (2005), a indicação que as larvas estão neste estágio é a medida do tamanho de sua altura, normalmente entre (185 a 190 µm). Embora, para a espécie de Argopecten purpuratus é quando se encontram com um diâmetro entre 240 a 260 µm e pode-se observar a presença de mancha ocular na parte central da larva (PADILLA, 1979). Outras características também podem ser observadas, tais como, produção de muco, agrupamento, presença de pé extenso e filamentos branquiais (SASTRY, 1965). 32 Conforme Hadfield (1978), através do desenvolvimento do pé, a larva procura um substrato adequado para assentar-se. Ao encontra-lo, inicia-se uma intensa produção de filamentos de bisso, possibilitando a sua fixação (BOURNE et al.,1989). Podendo até se desprender e voltar à coluna d’água e fixar-se novamente para sofrer a metamorfose (URIBE, 1989). Neste período, a larva perde o vélum, seu principal órgão responsável pela captura de alimento, necessitando utilizar suas reservas energéticas acumuladas durante o período larval. Ocasionando uma demanda de energia até que o pectenídeo se desenvolva para alimentar-se novamente (SASTRY, 1965; HODSON e BURKE, 1988). No entanto, devido esta mudança morfógica e fisiológica, os animais ficam fragilizados podendo chegar a óbito (LAING, 1995), tornando-se uma das fases mais crítica no cultivo de bivalves (SASTRY, 1965). No ambiente natural, pós-larvas de pectinídeos são encontradas fixas em macroalgas, hidrozoários, briozoários e conchas vazias (GOSLING, 2003). Em laboratório, um dos fatores que possibilitam o assentamento é a presença de substrato, podendo ser utilizados diferentes materiais, tais como; tela de monofilamento, conchas de bivalves, cabos de polipropileno, sisal, cabos de polietileno, folhas vegetais (BOURNE et al., 1989; PEARCE e BOURGET, 1996; RUPP et al., 2004; ZANETTE, 2007). Outro fator importante a ser considerado é a presença do biofilme aderido na superfície destes materiais, ou seja, a formação de uma comunidade composta por associação microrganismos e detritos (HODGSON e BURKE, 1988), proporcionando uma intensificação no assentamento quando permanecidos por um período submersos em água marinha contendo microalgas (AVENDAÑO HERRERA et al., 2002; RUPP et al., 2004; ZANETTE, 2007). Nesta conjuntura, são diversos fatores que podem afetar o desenvolvimento da metamorfose e sucesso no assentamento em condições controladas. Estudos relacionados à produção de pré-sementes dos pectinideos buscaram avaliar alguns deles; luminosidade, assepsia, alimentação, maturação dos reprodutores, alimentação, densidade, temperatura, salinidade, fluxo de água, profundidade e hormônios (URIARTE et al., 2001). Após a fase de assentamento os animais são denominados pré- sementes. Nesta etapa, são entregues aos produtores e transferidos para os parques aquícolas. Atualmente, no LMM, o método de transporteutilizado consiste em acondicionar os animais já assentadas nos substratos de fixação submersos em água do mar embalados com sacos plásticos. No entanto, neste estágio, os indivíduos são vulneráveis a diversos fatores 33 como dessecação, predação, sufocamento ou qualquer outro estresse ambiental, podendo até causar elevadas mortalidades (MAEDA- MARTÍNEZ et al., 2000). Contudo, a logística de transporte dos organismos neste período de vida torna-se oneroso tanto para os laboratórios quanto para os produtores que são os responsáveis por este processo (SUHNEL, 2002). Perante o notório, uma alternativa para o método de assentamento em laboratório é a transferência de larvas para o mar, seguida pelo assentamento remoto. A técnica já foi utilizada para a espécie mexilhões Perna perna, onde os laboratórios fornecem aos maricultores larvas no estágio pediveliger, aptas ao assentamento, sendo transferidas direto para as fazendas de cultivo (MELO et al., 2014; NOVAES et al., 2016) ou mesmo nas suas unidades em terra (COSTA et al., 2014). Este método iniciou-se como uma alternativa para incrementar a oferta de larvas de ostras para os produtores nos EUA e Canadá (JONES e JONES, 1988; ROLAND e BROADLEY, 1990). Posteriormente foi implementado para moluscos de areia, Venerupis japonica e Mercenaria mercenaria (STURMER et al., 2003). Embora existam poucas informações publicadas sobre o assentamento remoto para bivalves pectinídeos no mundo. Heath (2001) utilizou a técnica para espécie Japonesa Patinopecten yessoensis cultivada no Canadá, em escala comercial, obtendo uma recuperação entre 20 – 30% de pré-sementes após o assentamento. Contudo, umas das etapas da técnica do assentamento remoto é o transporte das larvas, sendo uma das mais críticas no cultivo, podendo haver grandes mortalidades (BOURNE e HODGSON, 1991). Segundo Bercht et al. (2013), a simulação do transporte de larvas pediveliger de N. nodosus por 18 horas a uma temperatura de 20ºC, obteve uma sobrevivência de 30% após completarem o estágio de assentamento, tornando-se possível investigar o desenvolvimento da técnica para a espécie. O estudo teve como objetivo avaliar o crescimento e a sobrevivência de larvas de vieiras Nodipecten nodosus cultivadas em sistema remoto de assentamento, utilizando diferentes formas de transporte (úmido e submerso em água) e método de cultivo (laboratório e mar). 34 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo Geral Avaliar o desempenho zootécnico no assentamento, de larvas de vieiras Nodipecten nodosus, transportadas sobre diferentes formas. 2.2 Objetivos Específicos Avalir a sobrevivência de larvas de vieiras, após serem transportadas em meio umedecido e submersas; Avaliar a sobrevivência e o crescimento de larvas de vieiras assentadas e cultivadas em caixas, após serem transportadas em meio umedecido e submersas; Avaliar a sobrevivência e o crescimento de larvas de vieiras assentadas em laboratório em sistema estático, após serem transportadas em meio umedecido e submersas. 35 *Esse artigo está formatado de acordo com as normas de publicação da revista Boletim do Instituto de Pesca. 3 ARTIGO CIENTIFÍCO REMOTE SETTING OF SCALLOPS Robson Cardoso da COSTA1 Gilberto Caetano MANZONI1 Francisco Carlos da SILVA2 Carlos Henrique Araújo de Miranda GOMES2 Claudio Manoel Rodrigues de MELO2 1-Centro Experimental de Maricultura - CEmar, Centro de Ciência Tecnológicas da Terra e do Mar - CTTMAR, Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, Rua Maria Emília da costa, 228, Armação do Itapocoroy, CEP 88385 - 000 Penha, Santa Catarina, Brasil, Autor Responsável: Robson Cardoso da Costa E-mail contato:robsoncosta@univali.br 2-Laboratório de Moluscos Marinhos - LMM, Departamento de Aquicultura, Centro de Ciências Agrárias - CCA, Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, Florianópolis, SC. Endereço: Universidade Federal de Santa Catarina, Laboratório de Moluscos Marinhos, Rua Beco dos Coroas, 503, Barra da Lagoa, CEP 88061-600, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. E-mail contato: lmm@cca.ufsc.br mailto:lmm@cca.ufsc.br 36 ABSTRACT Currently producers encounter difficulties in transport logistics of scallops for their farms. In this sense, the study aimed to evaluate the survival and growth of larvae of scallop Nodipecten nodosus grown on remote system. The pediveliger stage larvae, were moved to the settlement in aquaculture area and in the laboratory of Experimental Center of Mariculture (CEMAR) of the Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), Penha, Santa Catarina. Two forms of transport were tested (treatments), humidity and other submerged in seawater. A control treatment was maintained in (LMM-UFSC), Florianópolis, Brazil. Individuals, after being exposed to treatments of transport were settlements within floating boxes directly overboard and in containers in controlled conditions. The experimental design was factorial scheme (the factor: form of transport (moistened and submerged in water); B factor: cultivation method (or laboratory)) both with five repetitions. Three experiments were carried out. Statistical differences were observed (p < 0.05), in exeperimento I, for the recovery and growth of larvae transported in half submerged and settled in the lab. However, no statistical difference was observed between the control treatments, damp and submerged the experiment II. The values in the control treatment recovery experiment III were superior (p < 0.05) compared to wet treatments and submerged cultivated in the laboratory. It has not been possible to observe the presence of pré-sementes in cultured treatments at sea in three experiments. It is concluded that it is acceptable to carry larvae for 6 hours to be seated in controlled conditions to 135 km from the place of origin. Keywords: Nodipecten nodosus; transport; pediveliger; spat; settlement; growth; survival. 37 1 INTRODUÇÃO No litoral brasileiro, os pectinídeos são representados por seis gêneros e 16 espécies (RIOS, 1994). Dentre estas, destaca-se a Nodipecten nodosus, por apresentar um grande potencial zootécnico e econômico na aquicultura (RUPP, 2009), sendo o maior dos pectinídeos registrados na costa brasileira (RIOS, 1985), podendo alcançar 14 cm em altura para indivíduos selvagens (RUPP e PARSON, 2006). Conhecida popularmente como vieiras são encontradas em pequenas quantidades nas cercanias da Ilha de Santa Catarina (RUPP, 1994). Ao contrário do que acontecem com a produção aquícola mundial de alguns pectinídeos, as vieiras possuem uma baixa incidência de captação natural de sementes, tornando-se necessário sua produção em condições controladas “hatcheries” (URIARTE et al., 2001). Atualmente o Estado de Santa Catarina é responsável por comercializar 15.381,44 toneladas de moluscos, cerca de 90% da produção nacional. Deste montante, as vieiras representam 26,9 toneladas (EPAGRI, 2016). Apesar de ser o molusco menos produzido, seu valor econômico é o mais elevado, obtendo uma perspectiva de comercialização promissora. Nas últimas décadas, a produção mundial de pectinídeos aumentou consideravelmente e a importância deste grupo biológico levou ao incremento de uma série de estudos (SHUMWAY e PARSONS, 2016), proporcionando o aprimoramento das técnicas de produção de sementes em laboratório (ROMÁN et al., 2001). O processo para a obtenção de sementes inicia-se com a maturação de reprodutores, indução a liberação dos gametas, fertilização e desenvolvimento embrionário, larvicultura e o assentamento (URIARTE et al., 2001). No entanto, dentre as etapas de produção em condições controladas a mais crítica é oassentamento larval (BOURNE et al., 1989). Neste estágio, os animais sofrem a metamorfose, ocorrendo uma série de mudanças morfológicas e fisiológicas (GOSLING, 2004), podendo haver consideráveis mortalidades (HELM e BOURNE, 2004). Com isso, uma série de investimentos é necessária para obter um maior rendimento na produção de pré-sementes em laboratório (CARVALHO et al., 2013), podendo a produção de pré-sementes em laboratório tornar-se inviável economicamente (SUHNEL et al., 2008). Perante isso, uma opção seria a transferência de larvas para o mar, seguida pelo assentamento remoto. A técnica consiste em transportar larvas no estágio pediveliger para as fazendas de cultivos (MELO et al., 2014) ou mesmo nas suas unidades em terra próxima aos cultivos 38 (COSTA et al., 2014; SUPLICY et al., 2017). Este método iniciou-se como uma alternativa para incrementar a oferta de larvas de ostras para os produtores nos EUA e Canadá (JONES e JONES, 1988; ROLAND e BROADLEY, 1990). Posteriormente foi implementado para moluscos de areia, Venerupis japônica (Deshayes, 1853) e Mercenaria mercenaria (Linnaeus, 1758) (STURMER et al., 2003). Atualmente está sendo empregada para a espécie mexilhões Perna perna (Linnaeus, 1758), em Santa Catarina (NOVAES et al., 2016). É também, empregada para a espécie Japonesa Patinopecten yessoensis (Jay, 1857) cultivada no Canadá (HEATH, 2001). No assentamento remoto de moluscos, as larvas podem ser transportadas em meio úmido, embaladas por uma malha de polietileno (BERCHT et al., 2013). Contudo, o sucesso do transporte, em meio úmido, depende de diversos fatores, como a qualidade de água e seus parâmetros de temperatura e compostos metabólicos (HEATH, 2001; BERCHT et al., 2013; MAEDA-MARTÍNEZ et al., 2000). Com finalidade de contribuir para o desenvolvimento da técnica de assentamento remoto, reduzir os custos de produção em laboratório e incrementar o cultivo, este estudo teve como objetivo avaliar a sobrevivência e o crescimento de larvas de vieiras Nodipecten nodosus assentadas no mar e em laboratório, utilizando diferentes formas de transporte (úmido e submerso em água) e método de cultivo (laboratório e mar). 2 MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Local do estudo A pesquisa foi realizada na área aquícola do Laboratório do Centro Experimental de Maricultura (CEMAR) da UNIVALI, Penha, Santa Catarina (26º59’S; 48º38’W) e no Laboratório de Moluscos Marinhos (LMM), Florianópolis, Santa Catarina (27º35’S e 48º32’W) Brasil. 2.2 Delineamento Experimental O delineamento experimental foi inteiramente ao acaso em esquema fatorial (fator a: forma de transporte (úmido e submerso em água); fator b: método de cultivo (mar e laboratório)). Um tratamento controle foi mantido no LMM/UFSC, Florianópolis, Brasil. Nos 39 tratamentos realizados em laboratório foram utilizadas quatro repetições e nos mantidos no mar foram utilizadas três repetições. Foram realizados três experimentos: o primeiro (experimento I) no outono (30/03/17- 09/05/17), o segundo (experimento II) entre o outono e inverno (12/06/17-22/07/17) e o terceiro (experimento III) na primavera-verão (30/11/17-09/01/18). 2.3 Obtenções das larvas Os reprodutores permaneceram condicionados no setor de maturação do LMM por 15 dias, onde foram mantidos em temperatura controlada (19 – 21ºC), com fluxo contínuo de água marinha (1L. min-1) filtrada a 1 µm. A dieta oferta foi composta pela mistura das espécies de microalgas Chaetoceros muelleri e Isochysis galbana, em razão de 9:1, na concentração média de (3 x 104 células/mL-1). A indução a liberação dos gametas e larvicultura foram conduzidas de acordo com a técnica descrita por Rupp (1994) adaptada pelo LMM. A saber, a indução a liberação de gametas iniciou-se com 30 animais adultos tomados aleatoriamente do setor de maturação, agrupados num recipiente plástico contendo 20 L, submersos na mesma água dos tanques de acondicionamento. Após serem transferidos para uma mesa plana, iniciou-se o procedimento de retira da bioincrustações presentes em suas valvas. Com auxílio de um cutelo e escovão, movimentos suaves de raspagem sobre as valvas foram executados. Organismos incrustantes observados após a raspagem foram extraídos de suas conchas utilizando uma faca. Verificado que os animais estavam completamente limpos, foram transferidos e distribuídos para um tanque retangular de fibra de vidro com capacidade para 500 L, preenchido com apenas 100 L de água marinha filtrada em 1 µm e esterilizada por radiações de ultravioleta, sendo suficiente para manter os animais submersos em fluxo contínuo de 20 (L. min-1) por cerca de 10 min. A temperatura foi elevada gradualmente, iniciando com 21ºC até 25ºC. Em seguida foi possível observar o processo constante de depuração dos animais e quando foi constatada a primeira liberação dos gâmetas (através da expulsão de jatos), de imediato, todos os indivíduos foram transferidos individualmente para recipientes contendo 2 L de água. A troca deste volume foi constante, a cada minuto os recipientes eram esgotados e preenchidos novamente, exceto quando foi possível observar a presença de gâmetas na água. Então, este volume foi separado pela coloração do tecido gonádico (alaranjado característico de material reprodutor 40 feminino e branco de masculino) transferidos, separadamente, para outro recipiente de 20 L, enxaguados e completados do mesmo modo. O procedimento foi executado repetidamente, até que os animais cessarem a liberação de gametas. Posteriormente, os gametas femininos foram peneirados em 60 µm para retirar as possíveis impurezas. Logo em seguida iniciou-se a contagem de ovócitos, no qual três amostras de 0,5 mL foram retiradas do recipiente de 20 L, devidamente homogeneizadas, diluídas em provetas com 5 mL de água. Uma alíquota de 0,5 mL foi transferida para uma câmara de Sedgwick-Rafter® para contar o número de ovócitos com auxílio de um microscópio ótico LEICA®. Obtendo este valor, a concentração dos ovócitos foi ajustada, ocorrendo à fertilização por pequenas doses de espermatozoides. Esta solução fertilizada foi transferida para um tanque de fibra de vidro com volume de 6000 L, salinidade de 35 psu e aeração constante, onde permaneceu por 24 horas. Após este período, uma peneira de malha 45 µm foi posicionada na saída do tanque e este foi esvaziado para retirada de larvas no estágio “D”. Logo após foram peneiradas em peneiras de malhas de 35, 50 e 70 µm para remoção de sujeiras e separação das larvas, ficando a maioria na malha de 50 µm. As larvas então foram transferidas para um balde graduado de 20 L, homogeneizadas e delas foram coletadas três amostras de 0,5 mL, diluídas em 5 mL, contadas com auxílio de um microscópio para estimar a quantidade de larvas e ajustar a densidade de 3 (larvas/mL-1). A larvicultura foi conduzida em sistema estático, sendo esgotadas diariamente através da gravidade com auxílio de uma peneira contendo uma malha de 145 µm de abertura a cada 24 horas. Após o esgotamento do tanque, as larvas retidas foram concentradas em um recipiente contendo um volume de 20 L, após serem homogeneizadas, três amostras de 0,5 mL foram retiradas, diluídas em uma proveta de 5 mL, homogeneizadas, de onde uma nova amostra de 0,5 mL foi retirada, fixada em formol 4%, transferida para uma câmara de Sedgwick-Rafter® para contar o número de animais com auxílio de um microscópio ótico LEICA®. Uma amostra contendo, aproximadamente, 100 larvas aptas ao assentamento foi retirada usando uma pipeta Pasteur® e concentradas em um tubo eppendorf®, fixada em formol 4%, transferida para uma câmara de Sedgwick-Rafter ® para serem medidas em altura e comprimento com o auxílio de um microscópio ótico LEICA® e do software LAS EZ 2.0.0®. 41 2.3.1 Maturação dos coletoresO procedimento para preparação dos coletores e maturação foi realizado conforme descrito por Zanette et al. (2009) adaptado pelo LMM. Resumidamente, como substrato para o assentamento foram utilizados coletores de Netlon®, enrolados em forma de novelo, preenchidos com folhas de Pinus sp, colocados dentro de uma bolsa de malha Nitex®, com abertura de malha de 500 μm e um lastro de 1 kg anexado para não flutuarem. Permaneceram imersos em um tanque de fibra de vidro com 2000 L de água doce contendo hipoclorito de sódio a 50 ppm durante 24 horas. Posteriormente, foi utilizado o tiossulfato de sódio para neutralizar o cloro, enxaguados e preenchidos com água marinha filtrada e esterilizada. A maturação dos coletores consistiu em mantê-los nas mesmas condições e duração que a larvicultura. Diariamente houve troca de água, alimentação microalgal e aeração constante. 2.3.2 Transportes das larvas O transporte foi realizado em duas formas de armazenamento das larvas: (a) em garrafas de politereftalato de etileno de 500 mL, mantidas submersas em água do mar e (b) embaladas em uma tela de poliamida com 100 µm de abertura cobertos com toalhas de papel umedecidas em água marinha. Foram utilizados 20.000 larvas e 5 repetições por tratamento. Durante o trajeto, as unidades experimentais foram alocadas no interior de um recipiente de poliestireno, mantidos em temperatura ambiente e, transportadas em um automóvel. O percurso realizado, foi entre o LMM localizado na Barra da Lagoa, Florianópolis e laboratório do CEMAR, localizado na Armação do Itapocoroy, Penha. A duração entre o embarque, itinerário e desembarque foi de aproximadamente 6 horas. A cada 30 min. a temperatura dentro do recipiente era aferida utilizando um termômetro digital Aquarium®. 2.3.3 Sobrevivência de larvas pós-transporte Ao chegarem ao laboratório do CEMAR, município de Penha, as larvas foram transferidas para recipientes contendo 20 L de água marinha filtrada e esterilizada, mantidas por 20 min. para aclimatá-las e “ativá- las”. Os tratamentos de transporte (submersos e umedecidos) receberam o mesmo procedimento simultâneamente. Após completar o tempo de ativação, as larvas foram concentradas em peneiras de poliamida com 42 uma abertura de 100 μm, transferidas, de forma aleatória, para béqueres graduados contendo 1 L de água do mar. Em seguida, após do processo de homogeneização, 3 amostras de 1 mL de cada béquer foram retiradas, fixada em formol 4%, transferidas para uma câmara de Sedgewick Rafter®, com a finalidade para avaliar o número total de larvas vivas, com auxílio de um microscópio ótico LEICA®. 2.4 Assentamento Remoto 2.4.1 Assentamento no mar As larvas transportadas em meio úmido e submerso, após serem submetidas ao procedimento de avaliação, foram transferidas para caixas de assentamento. Estas unidades foram construídas com madeiras formando um quadrado com volume total de 20 L, revestidas com uma malha de poliamida, contendo no seu interior substratos de fixação, sendo dois coletores de Netlon® previamente maturados. As unidades foram povoadas com 1 (larva/mL-1), cerca de 20.000 indivíduos. Sendo que cada tratamento de transporte (úmido e submerso), foram alocadas em caixas contendo diferentes aberturas de telas de revestimento iniciais, 120, 150 e 180 µm, mantidas em triplicatas. (Exceto no primeiro experimento, no qual utilizou-se somente tela de 120 µm). As caixas permaneceram distribuídas em um tanque retangular submersas em água marinha, mantidas em laboratório até serem transferidas para o mar. No qual, permaneceram amaradas na posição horizontal em estruturas de cultivo flutuantes a aproximadamente 1 m da superfície, localizada no parque experimental aquícola do (CEMAR-UNIVALI). A cada 72 horas as telas de revestimento eram limpas manualmente através de movimentos circulares com auxílio de uma escova. As telas eram substituídas por outras contendo malhas de 30 µm a mais de abertura a cada 10 dias de cultivo. Ou seja, no 1º manejo as telas iniciais foram substituídas por 150, 180 e 210 µm, no 2º para 180, 210 e 240 µm, por fim o 3º manejo foram substituídas por telas de 210, 240 e 270 µm, respectivamente até completarem os 40 dias de experimento (exceto para primeiro experimento, no qual as trocas foram somente de 120, 180 e 210 µm para todas as unidades experimentais) (Tabela 1). Este procedimento para a troca das telas foi realizado próximos à unidade de cultivo no mar com auxílio de uma embarcação. As caixas eram retiradas do local de fixação e transferidas gradualmente para caixas de água marinhas acomodadas dentro do barco. Após a abertura da caixa o par de coletores alocados no seu interior era transferido manualmente para outra unidade experimental, 43 movimentos suaves com uma escova e jatos de água foram realizados na superfície das caixas para retirar possíveis indivíduos assentados. Tabela 1 – Abertura de malha das telas utilizadas ao longo do cultivo nas unidades experimentais do mar. Dias de cultivo Conjuto de telas (µm) 1 10 20 30 A* 120 150 180 210 B 150 180 210 240 C 180 210 240 270 *Experimento I, recebeu somente este conjunto de telas. 2.4.2 Assentamento em laboratório O sistema de cultivo utilizado para o assentamento dos animais em laboratório foi o método estático com troca parcial diária de 70% água marinha (salinidade 35 psu, filtrada a 1 μm e esterilizada por radiação de luz U.V). Como unidades de cultivo, foram utilizados recipientes de volume de 20 L, contendo no seu interior 2 coletores de Netlon® submersos. A aeração fornecida foi através de uma pedra porosa introduzida com um lastro de cerâmica fixado com uma presilha junto aos coletores, evitando a flutuação. A cada 24 horas, estas unidades eram esgotadas manualmente, transbordando por ação da gravidade dentro de uma peneira com abertura de 90 μm. Os indivíduos retidos eram alocados novamente para sua mesma unidade, ao mesmo tempo em que eram completados novamente com água marinha. As larvas oriundas dos tratamentos de transporte (materiais umedecidos e submersos) foram povoadas numa densidade de 1 (larva/ml-1), na proporção 10 mil para cada coletor, mantidos em 5 repetições para cada tratamento. A oferta de alimento, foi ministrada uma vez ao dia, com uma mistura de microalgas composta com 25% Chaetoceros muelleri, 25% Chaetoceros calcitrans, 25% Isochysis galbana e 25% de Pavlova lutheri, na concentração de (3 x 104 células\mL-1) (no início do assentamento) e até (20 x 104 células\mL-1) (no final do assentamento) (Tabela 2). 44 Tabela 2 - Concentração (x104cél/mL-1) de microalgas ofertadas para as pré- sementes de vieiras N. nodosus durante a fase de assentamento em laboratório. 2.4.3 Avaliações de sobrevivência e crescimento O destacamento das pré-sementes foi realizado com, aproximadamente, 40 dias após o assentamento, em todas as unidades experimentais mantidas no mar, em laboratório e no controle. O destacamento foi realizado com auxílio de pincéis com cerdas Vonder® em recipientes contendo água do mar filtrada e esterilizada (U.V). Para quantificar a taxa de sobrevivência (percentual de pré-sementes recuperadas vivas em relação ao número de larvas inicialmente povoadas), foi feito um volume total dos animais com uma proveta graduada, após o registro do volume total encontrado foi transferido uma amostra para outra proveta até completar 1 mL, a partir do número de animais encontrado neste volume foi realizada uma estimativa do total de indivíduos. As medidas de crescimento em comprimento e altura (mm) conforme Galtsoff (1964) foram avaliadas através de amostras contendo 20 indivíduos por repetições, totalizando 100 indivíduos por tratamento (controle, úmido e submerso). Foram concentradas em um tubo eppendorf®, fixada em formol4%, transferida para uma câmara de Sedgwick-Rafter® para serem medidas com o auxílio de um estereomicroscópio binocular LEICA®, em uma câmara de Sedgwick- Rafter® e do software LAS EZ 2.0.0®. Dias Pavlova sp Isochrysis galbana Chaetoceros calcitrans Chaetoceros muelleri Concentração total (x104cél/mL-1) 0 0,75 0,75 0,75 0,75 3 1 - 3 0,82 0,82 0,82 0,82 3,3 4 - 6 0,87 0,87 0,87 0,87 3,5 7 - 8 1,25 1,25 1,25 1,25 5 9 - 11 1,75 1,75 1,75 1,75 7 12 - 16 2,5 2,5 2,5 2,5 10 17 - 18 3 3 3 3 12 19 - 26 4 4 4 4 16 27 - 40 5 5 5 5 20 45 2.4.4 Consumo de microalgas Contagens diárias de microalgas foram realizadas momento antes da renovação dos recipientes de assentamento no CEMAR. Cerca de 20 mL eram coletados em uma unidade de cada tratamento de forma aleatória. As amostras eram fixadas com formol 4%, e uma alíquota foi transferida para uma câmara de Neubauer®, contadas com o auxílio de um microscópio ótico LEICA®. 2.5 Análises estatísticas Os dados de crescimento foram analisados através de análise de variância (ANOVA), seguido por teste Tukey de separação de médias, quando se verificou diferenças entre os tratamentos pelo ANOVA. Os dados de sobrevivência foram analizados através do teste de Kruskal- Wallis. As análises foram realizadas utilizando-se o pacote computacional SAS® (2003). 2.6 Parâmetros de qualidade de água Durante o período de assentamento em laboratório foram observados os parâmetros de temperatura e salinidade diariamente pela manhã, através do termômetro analógico de imersão Incoterm® e o refratômetro portátil Kasvi®, respectivamente. No mar foram realizadas coletas de água na superfície e dentro das caixas de assentamento, a cada 72 horas, para analises de clorofila-a, material particulado em suspensão (MPS) e salinidade. Para amostrar estes parâmetros dentro das unidades de assentamento foram confeccionadas caixas extras de coletas, semelhantes às que receberam as larvas, possuíam torneira acoplada a sua estrutura lateral para drenagem da água do seu interior. Estas unidades obedeceram às ordens de trocas de telas descritas no manejo do assentamento no mar. As amostras foram recolhidas com um frasco de polipropileno de 5 L através da gravidade após o erguimento das caixas verticalmente. Após este procedimento foram levadas para o laboratório CEMAR para a filtração com auxílio de uma bomba a vácuo. Os filtros para análise de MPS e Clorofila-a foram congeladas e posteriormente analisadas no Laboratório de Oceanografia Química e Poluição Marinha do CTTMAR – UNIVALI, seguindo as recomendações descritas por APHA/AWWA/WEF (2005). 46 A temperatura foi aferida ao longo de todos os experimentos com a instalação do aparelho digital TID-BIT Hobo®. A salinidade foi registrada pelo refratômetro portátil Kasvi ®. 3 Resultados 3.1 Transporte 3.1.1 Temperatura e Sobrevivência As temperaturas (média ± desvio padrão) no interior das caixas isotérmicas, utilizadas no transporte das larvas durante o percurso foram de 23,3 ± 2,3ºC, 22,1 ± 1,8ºC e 24,3 ± 2,6 ºC, respectivamente, para os experimentos I, II e III. Os percentuais de larvas vivas após o transporte nos experimentos I, II, III foram de 91,7 ± 8,2%, 91,3 ± 9% e 95,1 ± 6,4% para larvas embaladas em meio úmido e 89,5 ± 7,1%, 86,4 ± 11, e 94,2 ± 6,7% para os indivíduos embalados em meio submerso. Não houve diferenças estatísticas (p<0,05%) na recuperação de larvas entre os tratamentos imediatamente após o transporte (Figura 1). Figura 1- Média ± desvio padrão da sobrevivência em (%) de larvas de vieras N. nodosus após o transporte em meio úmidos e submersos nos experimentos I, II e III. 80 85 90 95 100 105 Exp I Exp II Exp III S o b re v iv ên ci a (% ) Úmido Submerso 47 3.2 Assentamento 3.2.1 Parâmetros de qualidade de água Os valores de temperaturas (média ± desvio padrão) variaram de 17,9 ± 1,9ºC (na água dos recipientes de assentamento do tratamento CEMAR (úmido e submerso) no experimento II) a 23,9 ± 1,0ºC (nos recipientes de assentamento do tratamento controle no experimento III). Os valores de salinidade (média ± desvio padrão) observados no tratamento controle, no CEMAR (após transporte) e a salinidade no mar (a 50 cm de profundidade) nos três experimentos varariram de 34 ± 0,7 (salinidade da água do mar, experimento I) a 35,9 ± 0,7 (no laboratório da CEMAR), experimento III (Figura 2). Os registros de material particulado em suspensão (MPS) em mg/L (média ± desvio padrão) encontrados para água do mar superficial e dentro das caixas de assentamento nos três experimentos variaram entre 25,4 ± 11 (superficial do mar, no experimento II) a 47,4 ±10,3 (superficial do mar, no experimento III). A amplitude de clorofila-a em µg/L (média ± desvio padrão) registrados para a água superficial e dentro das unidades de cultivo do mar foram de 4,6 ±3,1 (na caixa de coleta A) no experimento I e 7,4 ±3,7 (caixa de coleta A) do experimento II (Tabela 3). Tabela 3 - Média ± desvio padrão dos valores de clorofila-a (µg/L) e material particulado em suspensão (MPS) (mg/L) das amostras das caixas de coleta A (telas de 120-150-180-210 µm), B (telas de 150-180-210-240 µm), C (telas de 180-210-240-270 µm) e Mar (superficial). Experimentos Local da coleta Clorofila-a (µg/L) MPS (mg/L) I Caixa A 4,6 ± 3,1 31,1 ± 13 Mar 5,5 ± 3,6 27,4 ± 10,6 II Caixa A 7,4 ± 3,7 32,2 ± 10,9 Caixa B 5,1 ± 3,7 28,8 ± 1,5 Caixa C 6,4 ± 2,7 34,3 ± 23,7 Mar 6,5 ± 4 25,4 ± 11 III Caixa A 5,8 ± 4,9 32,8 ± 16,4 Caixa B 5,9 ± 2,8 44,2 ± 10,7 Caixa C 5,6 ± 4,1 37 ± 10,6 Mar 5,4 ± 3,2 47,4 ± 10,3 48 Figura 2 – Médias semanais de temperatura (ºC) e salinidade (psu), registrados para os experimentos I (Fig. A e D), II (Fig. B e E) e III (Fig. C e F) 3.2.2 Sobrevivência e crescimento de pré-sementes As taxas de pré-sementes vivas (média ± desvio padrão) nos assentamentos variou de 0,4 ± 0,25%, no tratamento úmido a 27,4 ± 7,39%, no controle, ambas do experimento III. Houve diferença significativa (p<0,05) na taxa de pré-sementes assentadas no experimento I, sendo que o tratamento controle (20,6 ± 5,8%,) e submerso (13,5 ± 10,1%) foram superiores ao úmido (3,3 ± 2,2%). No experimento II, o tratamento submerso (4,6 ± 2,3%) foi superior ao úmido (1,2 ± 1,7%) e igual ao controle (1,8 ± 2,4%). O tratamento controle (27,4 ± 7,39%) foi superior ao submerso (1,81 ± 0,96%) e o úmido (0,4 ± 0,25%) no experimento III. 17 22 27 1 2 3 4 5 6 T e m p e r a tu r a ( ºC ) Semanas de assentamento A Laboratório Mar Controle 30 32 34 36 38 1 2 3 4 5 6 S a li n id a d e (p su ) Semanas de assentamento D Laboratório Mar Controle 12 17 22 1 2 3 4 5 6 T e m p e r a tu r a ( ºC ) Semanas de assentamento B Laboratório Mar Controle 30 32 34 36 38 1 2 3 4 5 6 S a li n id a d e ( p su ) Semanas de assentamento E Laboraório Mar Controle 19 24 29 1 2 3 4 5 6 T e m p e r a tu r a (º C ) Semanas de assentamento C Laboratório Mar Controle 30 32 34 36 38 1 2 3 4 5 6 S a li n id a d e ( p su ) Semanas de assentamento F Mar Controle Laboratório 49 Figura 3- Média ± desvio padrão da sobrevivência de pré-sementes de vieiras N. nodosus, depois de 40 dias de cultivo e submetidas aos tratamentos de transporte úmido, submerso e tratamento controle nos experimentos I, II e III. Letras diferentes indicam diferenças estatísticas (p<0,05) entre os tratamentos de cada experimento pelo teste de Tukey. O tamanho inicial em comprimento e altura (média ± desvio padrão) das larvas nos experimentos, I, II e III foram 191 ± 18,3 µm e 178,1 ± 10,8 µm, 176,1 ± 10,9 µm e 198,3 ± 14,7 µm e 164 ± 11,9 µm e 181 ± 16,6 µm. O comprimento após 40dias de cultivo (média ± desvio padrão) das pré-sementes dos tratamentos controle, úmido e submerso foram de 1,47 ± 0,36 mm, 1,53 ± 0,39 mm e 1,81 ±0,39 mm; 0,53 ± 0,3 mm, 0,49 ± 0,9 mm e 0,62 ± 0,23 mm e 1,36 ± 0,26 mm, 1,5 ± 0,42 mm e 1,56 ± 0,37 mm, respectivamente, para os experimentos I, II e III. As analises estatísticas demostraram que o tratamento submerso do experimento I foi superior (p<0,05) aos demais em relação em relação ao crescimento em comprimento das pré-sementes (Figura 4). a ab a b b b a a b 0 5 10 15 20 25 30 35 40 Exp I Exp II Exp III S o b re v iv ên ci a ( % ) Controle Úmido Submerso 50 Figura 4- Média ± desvio padrão do crescimento em comprimento (mm) das pré- sementes de vieiras N. nodosus, após 40 dias de cultivo, entre os tratamentos controle, úmido e submerso nos experimentos I, II e III. Letras diferentes indicam diferenças estatísticas (P<0,05) entre os tratamentos de cada experimento pelo teste de Tukey. O crescimento final em altura (média ± desvio padrão) das pré- sementes de vieiras, após 40 dias de cultivo, para os tratamentos controle, úmido e submerso foram de 1,68 ± 0,37 mm, 1,65 ± 0,47 mm e 1,89 ± 0,45 mm; 0,52 ± 0,23 mm, 0,5 ± 0,15 mm e 0,6 ± 0,29 mm;1,46 ± 0,24 mm, 1,48 ± 0,43 mm e 1,56 ± 0,37 mm, respectivamente, para os experimentos I, II e III. Apenas o tratamento submerso do experimento I foi superior aos demais em (p<0,05%) (Figura 5). b b a 0 0,5 1 1,5 2 2,5 Exp I Exp II Exp III C o m p ri m en to ( m m ) Controle Úmido Submerso 51 Figura 5- Média ± desvio padrão do crescimento final em altura (mm) das pré- sementes de vieiras N.nodosus após 40 dias de assentamento, nos tratamentos controle, úmido e submerso, nos experimentos I, II e III. As letras indicam diferenças estatísticas (p<0,05%) entre os tratamentos de cada experimento pelo teste de Tukey. Ao observarem os valores do crescimento médio em comprimento e altura (µm/dia) das vieiras, durante os 40 dias de assentamento (Tabela 5), nota-se uma variação entre o menor crescimento em comprimento (7,5 µm/dia) e altura (8,1 µm/dia) para o tratamento úmido do segundo experimento, ao maior valor registrado em comprimento (41,4 µm/dia) e altura (42,4 µm/dia) no tratamento submerso do primeiro experimento. b b a 0 0,5 1 1,5 2 2,5 Exp I ExpII Exp III A lt u ra f in a l (m m ) Controle Úmido Submerso 52 Tabela 4 - Valores do crescimento médio das vieiras em comprimento (mm) e altura (mm) por dia de cultivo em micrometros (µm/dia) nos tratamentos controle, úmido e submerso, durante os 40 dias de cultivo, nos experimentos I, II e III. Variáveis (mm) Tratamento Exp I Exp II Exp III Comprimento Controle 32,9 8,5 29,6 Úmido 34,4 7,5 33,1 Submerso 41,4 10,7 34,6 Altura Controle 37,1 8,6 31,6 Úmido 36,4 8,1 32,1 Submerso 42,4 10,6 34,1 3.2.3 Consumo de alimento Pelos registros de entrada (concentração de microalgas fornecida em dose única a cada 24 horas) de saída (a concentração de alimento que sobraram nos recipientes de cultivo após 24 horas da oferta de alimento) e consumo (a possível concentração de algas ingeridas pelas pré-) observa-se que ao longo dos períodos experimentais sempre houve sobras de alimentos nas unidades experimentais, indicando que a disponibilidade de alimento, possivelmente, não foi um limitante para o crescimento e sobrevivência dos animais (Tabela 5). 53 Tabela 5 - Valor médio semanal da entrada, saída e consumo da concentração de alimento nos tanques de cultivo (x104células. mL-1), dos tratamentos úmido e submerso nos três experimentos. Experimento I Tratamento Con.(x104 cel.mL-1) Semana 1ª 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª Úmido Entrada 4,7 8,1 11,4 16,6 20 20 Saída 1 1,8 2,6 5,3 4,9 4,6 Consumo 3,7 6,3 8,8 11,3 15,1 15,4 Submerso Entrada 4,7 8,1 11,4 16,6 20 20 Saída 0,8 2,6 3,4 5,6 5,2 4,3 Consumo 3,9 5,5 8 11 14,8 15,7 Experimento II Tratamento Conc(x104 cel.mL-1) Semana 1ª 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª Úmido Entrada 4,7 8,1 11,4 16,6 20 20 Saída 0,51 0,97 2,2 4,26 4,44 5,12 Consumo 4,19 7,13 9,2 12,3 15,56 14,9 Submerso Entrada 4,7 8,1 11,4 16,6 20 20 Saída 0,56 0,94 2,29 5,03 5,12 4,9 Consumo 4,14 7,16 9,11 11,6 14,88 15,1 Experimento III Tratamento Conc(x104 cel.mL-1) Semana 1ª 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª Úmido Entrada 4,7 8,1 11,4 16,6 20 20 Saída 2,04 4,74 6,59 5,61 6,25 6,92 Consumo 2,66 3,36 4,81 11 13,75 13,1 Submerso Entrada 4,7 8,1 11,4 16,6 20 20 Saída 1,39 5,52 5,06 4,5 5,63 7,38 Consumo 3,31 2,58 6,34 12,1 14,37 12,6 54 4 Discussão A produção de vieiras em laboratórios (´´hatcheries``) permite o fornecimento regular de sementes para os produtores ao longo do ano (URIARTE et al., 2001), principalmente em regiões, em que não é possível a captação de formas jovens no ambiente natural (MAZÓN- SUÁSTEGUI et al., 2011). O domínio da produção de sementes em laboratórios foi desenvolvido ao longo dos anos para diferentes espécies de pectinídeos em distintos continentes (ROMÁN et al., 2001). Entretanto, o assentamento larval, ainda é uma etapa crítica de cultivo podendo causar elevadas mortalidades (BOURNE e HODGSON, 1991). Nos três experimentos realizados, em laboratório, a taxa de assentamento variou entre 0,4 a 27,4% (Figura 3). Esta amplitude é frequentemente observada em estudos com cultivo pós-larval de pectinídeos, como os obtidos por Zanette et al. (2009), testando diferentes coletores vegetais e artificias como substrato de assentamento para larvas com diferentes idades. Os autores obteveram taxas de assentamento de pré-sementes de Nodipecten nodosus entre 0,04 a 65,92%. Da mesma forma Carvalho et al. (2013), analisando fatores que afetam a produção em laboratório notaram uma variação entre 2 a 88% de larvas assentadas para a mesma espécie. Em estudos de Sarkis et al. (2006), com a espécie de Argopecten gibbus (Linnaeus, 1758), comparando sistemas e densidades de cultivo, observou-se entre 10 a 35% de assentamento. Esta variação também foi encontrada por Avedaño-herrera et al. (2002), experimentando biopeliculas bacterianas no cultivo pós-larval de Argopecten purpuratos (Lamarck, 1819), alcançando taxas de 6,31 a 24,94% de larvas assentadas. Resultados semelhantes foram encontrados por De La Roche et al. (2005), trabalhando com diversos substratos para assentamento da espécie de Chlamys varia (Linnaeus, 1758), os quais observaram uma sobrevivência de 17,7 a 32,3%. Neste sentido, dados sobre a produção comercial de moluscos no laboratório Francês (IFREMER), utilizando protocolos padrão de cultivo, após 3 semanas de assentamento, a taxa de pré-sementes assentadas da espécie Pecten maximus (Linnaeus, 1758) variou entre 30 a 60% (ROBERT e GERARD, 1999). Robert et al. (1994) encontraram uma variação de 11,8 a 20,8% para a espécie de Patinopecten yessoensis. Com relação aos resultados do presente estudo, o maior valor encontrado para a taxa de assentamento das pré-sementes após 40 dias de cultivo nos tratamentos mantidos em laboratório (CEMAR-UNIVALI), ou seja, larvas transportadas e assentadas em sistema remoto foi no primeiro experimento e no tratamento submerso com 13,5%, sendo este https://en.wikipedia.org/wiki/Carl_Linnaeus https://en.wikipedia.org/wiki/10th_edition_of_Systema_Naturae https://en.wikipedia.org/wiki/Carl_Linnaeus https://en.wikipedia.org/wiki/10th_edition_of_Systema_Naturae 55 tratamento superior aos demais (p<0,05). Apesar de não termos observado resultados de recuperação de pré-sementes de vieiras superiores aos descritos na literatura, nosso estudo foi o primeiro registro de assentamento para larvas de pectinídeos assentadas distantes do local de reprodução no Brasil. As taxas de assentamento obtidas no presente estudo foram inferiores
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