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Efésios (N Comentario)

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EFÉSIOS
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 Introdução 
 Plano do livro 
 Capítulo 1 Capítulo 3 Capítulo 5 
 Capítulo 2 Capítulo 4 Capítulo 6 
 
INTRODUÇÃO 
 
I. AUTORIA E DATA 
 É um fato bem atestado e geralmente aceito que Paulo foi o 
escritor desta epístola, como afirma o prefácio (cf. 3.1). As 
circunstâncias do escritor, como são reveladas incidentalmente pelo 
texto, sugerem que a epístola fosse escrita durante o período em que 
Paulo esteve preso em Roma (At 28.16; 28.31), visto que fala de si como 
prisioneiro (4.1) em cadeias (6.20) por amor dos gentios, (3.1). Os 
amplos conceitos de um habitante do Império que se manifestam nesta 
epístola confirmam esta idéia. Não se acha revelada nenhuma ocasião 
especial, nem propósito imediato em escrever a epístola, exceto o fato de 
que Tíquico levaria outra correspondência para a Ásia (Cl 4.7). O ensejo 
para escrever se ofereceu, provavelmente, num tempo de lazer, calmo e 
ininterrupto, que o apóstolo experimentava em sua prisão em Roma -- 
era pouco mais que detenção em casa (At 28.16 e segs.). Nessa 
atmosfera sossegada do Império romano, seu pensamento amadureceu e 
o Espírito lhe revelou, mais claramente que nunca, uma filosofia divina 
da história do mundo, os altos propósitos de Deus e o destino glorioso da 
Igreja. Tais pensamentos e revelações haviam de ser expressos; e no 
tempo vazio de sua longa espera pelo processo (At 28.30), e com a 
oportunidade de enviar a carta, providenciada pela viagem de Tíquico, 
Paulo escreve esta nobre obra. 
 Alguns têm pensado que a epístola foi escrita durante sua prisão 
em Cesaréia (At 23.33; 27.2), mas Roma é muito mais aceita como o 
Efésios (Novo Comentário da Bíblia) 2 
lugar de origem. A data mais provável que podemos dar-lhe é portanto, 
61 A. D. 
 
II. DESTINO 
 Duas séries de fatos se combinam para sugerir que esta epístola 
fosse enviada, não a uma igreja em particular, mas a um grupo de igrejas 
dentro de uma área limitada. O fato de as palavras «em Éfeso» não 
ocorrerem nos manuscritos mais autorizados e o fato de não figurarem as 
saudações que usualmente acompanham as epístolas de Paulo a uma 
igreja onde ele fosse conhecido (como era em Éfeso, onde passou mais 
de dois anos, At 19.10), sugerem que um círculo de leitores, mais amplo 
do que uma simples igreja, fosse visado pelo escritor. 
 Todavia, há indicações de natureza pessoal que parecem confinar a 
epístola aos limites de uma área relativamente restrita. Refere-se à fé do 
grupo que Paulo tinha em mente em 1.15 e menciona o fato de que os 
destinatários sabiam das condições do apóstolo, e simpatizavam com ele 
(3.13). Esse grupo de igrejas não era, provavelmente, muito diferente 
daquele ao qual se dirigiu João, em Ap 1.4. Entre elas, a de Éfeso gozava 
de uma importância capital e é bem possível que esta epístola se tenha 
tornado muito conhecida, principalmente por meio da circulação de 
cópia pertencente aos efésios. 
 
III. RELAÇÃO COM COLOSSENSES 
 A relação literária entre esta epístola e a que dirigiu aos 
Colossenses é tão próxima que as duas têm sido chamadas «epístolas 
gêmeas». A metade dos versos de Efésios pode ser encontrada, em 
linguagem ou em substância, em Colossenses. Cerca de 40 coincidências 
de pensamento e de linguagem podem ser reconhecidas; contudo, as 
expressões comuns são tão intimamente relacionadas com a estruturação 
de cada epístola que é impossível crer que sejam o fruto de imitação, ou 
de falsificação. Especialmente significante é o fato que, enquanto 
palavras e frases semelhantes aparecem nas duas cartas, o contexto e a 
Efésios (Novo Comentário da Bíblia) 3 
associação de idéias são diferentes. As semelhanças que existem entre as 
duas podem ser explicadas, razoavelmente, pelo fato de as circunstâncias 
que cercavam o autor terem sido as mesmas em cada caso; as diferenças 
se explicam, principalmente, nas condições diferentes das pessoas às 
quais foram endereçadas. Não há, por exemplo, nenhum assunto de 
controvérsia na epístola geral aos Efésios, como o que se encontra na 
carta à igreja individual em Colossos (Cl 2.16-23). Se há qualquer 
precedência cronológica, parece que a carta aos Colossenses foi escrita 
antes da aos Efésios, porquanto nesta o pensamento comum a ambas é 
plenamente desenvolvido. 
 Efésios e Colossenses são muito parecidas em sua estrutura. Cada 
uma apresenta uma seção doutrinária (Ef 1.1-4.16; Cl 1.1-3.4) e cada 
uma conclui com uma aplicação prática. A maneira como os tópicos se 
sucedem, um ao outro, na mesma ordem é digna de observação: a 
relação de Cristo com a Igreja aparece no primeiro capítulo de cada 
epístola: são paralelas a referência de Paulo à sua comissão (Ef 3.1-13; 
Cl 1.23-29), e o sumário da doutrina no fim das seções doutrinárias (Ef 
4.1-16; Cl 3.1-4). Nas seções práticas se vêem exortações paralelas 
contra certos pecados (Ef 4.17-5.21; Cl 3.5-17) e se encontram passagens 
notáveis sobre relações humanas dentro do evangelho (Ef 5.22-6.9; Cl 
3.18-4.1). 
 
PLANO DO LIVRO 
 
Há duas principais divisões na epístola. 
 A primeira parte, caps. 1 a 3, é principalmente doutrinária; a 
segunda, caps. 4 a 6, é mormente prática. 
I. OS DESTINATÁRIOS -- 1.1-2 
II. AÇÃO DE GRAÇAS POR BÊNÇÃOS SOBRE TODA A 
 IGREJA -- 1.3-14 
III. AÇÃO DE GRAÇAS PELO ESTADO ESPIRITUAL DOS 
 LEITORES -- 1.15-23 
Efésios (Novo Comentário da Bíblia) 4 
IV. SUA RELAÇÃO (COMO PECADORES) COM CRISTO 
 -- 2.1-16 
V. SUA RELAÇÃO (COMO GENTIOS) COM OS JUDEUS 
 -- 2.11-22 
VI. O MISTÉRIO DO EVANGELHO -- 3.1-21 
VII. A UNIDADE DO ESPÍRITO -- 4.1-16 
VIII. ELEMENTOS ÉTICOS DA VIDA CRISTA -- 4.17-5.21 
IX. RELAÇÕES CRISTÃS NA VIDA FAMILIAR -- 5.22-6.9 
X. A GUERRA ESPIRITUAL -- 6.10-20 
XI. CONCLUSÃO -- 6.21-24 
 
COMENTÁRIO 
 
Efésios 1 
I. OS DESTINATÁRIOS - 1.1-2 
 
 Nas frases iniciais desta inconteste epístola, Paulo expõe, muito 
simplesmente e sem ênfase especial, sua autoridade como escritor. Ele se 
fundamenta na graça imerecida outorgada por Deus que o fez um 
apóstolo... pela vontade de Deus (1). Essa é sua autoridade suprema; 
em outros contextos, ele se estriba nela plenamente, e com razão (1Co 
9.1; 15.8; 2Co 12.11; Gl 1.1). 
 Santos (1). A conotação de então era diferente do significado 
especial de hoje. Em seu uso moderno, o vocábulo se refere à aquisição 
de um grau extraordinário de santidade; no Novo Testamento se aplica, 
simplesmente, a alguém que for santificado pelo Espírito (1Co 6.11), 
como todos os verdadeiros crentes o são. Todo crente sem exceção, é, 
portanto, um santo e deve viver como tal. Os crentes do Velho 
Testamento eram também «santos»; os leitores, aqui visados, portanto 
são especificamente definidos como os fiéis em Cristo Jesus. 
 A epístola começa com uma bênção em termos do favor, não 
merecido, de Deus aos homens e a paz que este favor outorga ao 
Efésios (Novo Comentário da Bíblia) 5 
coração. Esta é a forma usual da saudação paulina. Paulo se deleitava em 
usar a saudação composta de graça e paz, que une a saudação comum 
dos gregos 'graça', com a dos hebreus, 'paz'. 
A conexão das frases do Senhor Jesus Cristo e de Deus nosso Pai 
(2) deveria ser considerada como inconcussa evidência da divindade de 
Cristo. Tais alusões incidentais, fazendo-O 'igual a Deus' (Jo 5.18) nos 
fornecem evidências muito valiosas. 
 
II. AÇÃO DE GRAÇAS POR BÊNÇÃOS SOBRE TODA A 
IGREJA - 1.3-14 
 
 O desenvolvimento invencível do inspirado pensamento apostólico 
passa, rapidamente, além dos frágeis limites da rígida análise gramatical 
e apresenta, como nenhum processo lógico o poderia fazer, uma 
concepção de coisas patentemente divinas em origem. Ele revela a 
profundidade e sublimidade imensuráveis do seu pensamento. Devido à 
natureza geral deste, as sentenças de Paulo, aqui, são privadas do 
elemento muito intenso dos seus escritos costumários, a saber, o uso do 
pronome pessoal como sujeito.Compare, por exemplo, o calor da 
saudação pessoal em 1Ts 1.2; 2Ts 1.3; Gl 1.6; Cl 1.3; Fp 1.3. O paralelo 
mais próximo que temos se encontra em 2Co 1.3-11; o elemento pessoal, 
porém, aparece mais fortemente ali e os conceitos são, em geral, mais 
comuns. Este parágrafo (1.3-14), é formado por três estrofes em prosa: o 
propósito do Pai (3-6); a redenção do Filho (7-12); e o selo do Espírito 
(13-14). 
 Características salientes se destacam neste parágrafo. As três 
Pessoas da Trindade aparecem em ordem: o Pai, no verso 3; o Filho (o 
Amado), no fim do verso 6; e o Espírito Santo, no verso 13. 
Pensamentos são expressos com respeito a cada um, em versículos 
separados, que, em todos os casos, finalizam com o refrão para louvor e 
glória da sua graça, ou para louvor de sua glória. A vontade de Deus 
é salientada pela reiteração dos versos 5,9,11 (cf. verso 1). A frase 
Efésios (Novo Comentário da Bíblia) 6 
central é o mistério da Sua vontade, no verso 9; e este mistério 
encontra expressão no verso 10, «de fazer convergir nele todas as 
coisas» (ARA). 
 
a) O Propósito do Pai (1.3-6) 
 
 A repetição significativa da preposição em deve ser notada. A 
doxologia do verso 3 é também encontrada em 2Co 1.3; 1Pe 1.3. Este 
versículo forma o texto do qual os vv. 4-14 são uma ampliação 
expositiva. 
 Bênçãos espirituais (3) São típicas do Novo Testamento. As 
bênçãos do Velho Testamento eram, em geral, temporais (cf. Dt 28.3,5). 
 Lugares celestiais (3); não há, no original grego, substantivo 
(«lugares») que o adjetivo «celestiais» modifique. A expressão é vaga, 
não com a indeterminação da incerteza, mas por ser a descrição de coisas 
que ultrapassam nossa plena compreensão. O uso do termo é limitado a 
esta epístola (veja também 1.20; 2.6; 3.10; 6.12). Compilando o sentido 
de diferentes passagens em que o termo aparece, achamos que se refere à 
esfera das bênçãos espirituais (1.3), onde Cristo está agora assentado, 
acima de toda e qualquer autoridade (1.20), e até onde os crentes têm 
sido elevados (2.6) para manifestação da glória de Deus (3.10). Mas, não 
é uma esfera de perfeita paz e gozo, pois é habitada pelas «hostes 
espirituais maldade», contra as quais o crente tem, incessantemente, de 
lutar (6.12). A interpretação mais próxima a que podemos chegar é a 
seguinte: o termo refere àquele reino das realidades espirituais em que as 
grandes forças do bem e do mal combatem; em que, também, Jesus 
Cristo está assentado soberanamente, e nós simbolicamente, nele. É o 
reino da experiência espiritual -- não um lugar físico, mas uma esfera de 
realidades e experiências espirituais. De Cl 1.20 deduz-se que o pecado 
tem introduzido desordens nas regiões celestiais. Quão vasto é o escopo 
do evangelho na visão de Paulo! A imensidade cósmica dessas verdades 
deve dinamizar, em nós, o poder do evangelho. 
Efésios (Novo Comentário da Bíblia) 7 
 A expressão em Cristo (3) foi de origem judaica, no sentido em 
que «Cristo», se refere ao Messias dos judeus. Mas nos escritos de Paulo, 
seu sentido é muito mais extenso do que o do Messias judaico. Para 
Paulo, «Cristo» abrange o Messias da profecia, o Jesus da história e o 
Senhor da glória que lhe tinha sido revelado na entrada de Damasco (At 
9). Para Paulo, o conceito de Jesus como homem terrenal, apresentado 
tão vividamente nos Evangelhos, tinha sido tão completamente 
sublimado por aquele do Senhor ressuscitado, sobre o qual ele se 
expressa nos termos notáveis de 2Co 5.16. A preposição em expressa, 
com uma simplicidade insondável, a união que existe entre Cristo e os 
crentes; expressa muito mais do que podemos compreender ou apreciar, 
e sugere-nos algo da profunda subjetividade dessa união mística (veja Gl 
2.20). O pleno propósito de Deus este respeito é declarado no verso 10. 
 A exposição do verso 3 nos versos 4-14 não se faz por um 
processo de refinada trituração, pois a ampliação é tão rica e profunda 
como o texto. As tremendas verdades da eleição e do eterno propósito de 
Deus são apresentadas a seguir. 
 Assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo (4) 
-- o fato da eleição era bem conhecido, e uma fonte de orgulho para cada 
judeu, pois este se tornava membro do povo escolhido do Velho 
Testamento. Aqui Paulo se refere a um princípio de seleção que já estava 
em evidência na obra da providência divina, e que agora se mostra num 
quadro maior; nunca mais seria limitada, como outrora, ao povo judeu, 
mas agora abrange também todos os crentes em Cristo. Do mesmo modo 
como Israel foi o povo eleito de Deus no Velho Testamento, os cristãos o 
são no Novo. A eleição é mal compreendida quando considerada do 
ponto de vista intolerante e egoísta; é preciso contemplá-la, tendo em 
consideração o objetivo do verso 9. 
 Antes da fundação do mundo (4) este pensamento nos leva além 
do tempo, até a eternidade. Esse novo povo, a igreja cristã, não é o 
resultado do oportunismo precipitado e temporal, mas faz parte do eterno 
propósito de Deus, tão bem como o povo de Israel. O Cristianismo não é 
Efésios (Novo Comentário da Bíblia) 8 
uma inovação, mas toma o seu lugar na continuidade do plano divino. 
Compare «antes da fundação do mundo» (i. e., desde a eternidade, em 
1Co 2.7) e «antes dos tempos eternos!», (em 2Tm 1.9; Tt 1.2). 
 O objetivo dessa eleição é o seguinte: sermos santos e 
irrepreensíveis perante Ele em amor (4). O ideal, quanto ao crente 
individual, é a santidade. Para os aspectos mais amplos, veja os vv. 6 e 
10. Toda esta grande obra de Deus foi feita em amor; e o alvo divino é 
inculcar, em nós, aquele santo amor que labutou por nós. 
 Paulo dá relevo, mais adiante, ao fato de que não há nenhum 
destino fatal na vida do crente, quando ele fala em Deus que «nos 
predestinou para Ele, para adoção de filhos por meio de Jesus Cristo» 
(5). A filiação que o homem recebeu de Deus, em virtude de ser criado à 
imagem divina (Gn 1.26 e segs.), requeria renovação depois da queda. 
Esta renovação foi, antes de tudo, completada no Filho de Deus 
encarnado (compare «imagem», em Gn 1.26 e segs. e Hb 1.3) e, então, 
naqueles que estão «nEle», pela fé. A filiação se verifica através da 
regeneração e da adoção: enquanto o novo nascimento altera nossa 
natureza, a adoção altera nossa relação com Deus. Ambas se nos tomam 
possíveis por Jesus Cristo (5), isto é, por sua obra redentora. Deus fez 
tudo isto segundo o beneplácito de sua vontade; a frase engloba a 
primeira e última expressão do propósito eterno, e além disso não 
podemos ir. O fim que Deus almeja em sua majestosa obra é a glória de 
sua graça (6). 
 
b) A Redenção do Filho (1.7-12) 
 
 Eis a exposição mais sublime jamais formulada do pleno propósito 
de Deus. Muito do Novo Testamento é expresso em termos mais 
familiares ao judeu que a qualquer outra nacionalidade, porque são os 
termos de sua antiga religião. 
A Redenção (7) encontra sua principal ilustração histórica no 
êxodo do Egito, que marca o nascimento do povo hebreu como nação. A 
Efésios (Novo Comentário da Bíblia) 9 
redenção operada por Cristo também criou um novo povo, e esta 
redenção foi conseguida ao preço da sua morte, isto é, do seu sangue, 
como diz o verso 7. Há, por implicação, um estado de escravidão: no 
Velho Testamento, os israelitas são levados cativos pelos egípcios; no 
Novo Testamento, todos os homens são cativos do pecado e de Satanás. 
A redenção é o livramento do cativeiro (veja Êx 12.7,13; Hb 9.12). O 
perdão (7) é tão central na experiência cristã que é mencionado aqui 
como o aspecto chave. As magníficas dimensões de todo o plano da 
graça abrangem nada menos que as riquezas (7) de Deus, 
proporcionando-nos o dom de sabedoria, que dá percepção da realidade; 
e o de prudência, que nos guia no caminho certo quanto à ação (8). Os 
capítulos 1-3 desta epístola demonstram esta sabedoria; os capítulos 4-6 
tratam do aspecto prático da prudência. 
 O mistério da Sua Vontade (9). A palavra «mistério» no Novo 
Testamento não tem o seu significado moderno de alguma coisacuriosa 
e ininteligível, mas sim de algo inescrutável à razão humana, que agora 
se tornou objeto da divina revelação. Este segredo divino agora se 
revelou. Veja as notas sobre Cl 1.26. Propusera em si mesmo (9) ARC; 
melhor, «que propusera em Cristo» (ARA), por cuja obra o mistério se 
efetuou. 
 Dispensação (10), lit. administração, mordomia (gr. oikonomia); 
nos termos do assunto em apreço, refere-se à execução pelo Filho dos 
propósitos do Pai, quando o tempo era oportuno, i. e., na era do 
evangelho. Congregar em Cristo todas as coisas (10) (Fazer convergir 
nEle todas as coisas - ARA), indica a totalidade do universo e não 
simplesmente a igreja, como no verso 23; cf. Cl 1.18. Esta totalidade 
final se verificará sob Cristo, como Cabeça: esta é a verdade secreta, o 
mistério que agora é revelado. Assim serão levadas a um fim, as 
discordâncias e confusões do mundo. Mas, isso será alcançado somente 
em Cristo. Esta verdade se relaciona com Jo 1.3, «todas as coisas foram 
feitas por Ele» e com Cl 1.16 e segs., tudo foi criado «por Ele e para Ele; 
todas as coisas subsistem por Ele» (ARA: nEle). A unidade quebrada 
Efésios (Novo Comentário da Bíblia) 10 
deve ser restaurada no fim e aquela restauração será efetuada através de 
Cristo. Quão longe Ele estava, pois, de ser meramente o Messias 
nacional da expectação judaica! Mesmo o título «o Salvador do mundo» 
não lhe é designação adequada. Ele é o Salvador do Universo. Veja 
também Rm 8.18-25. 
 No verso 11, Paulo volta a um assunto mais vulgar; trata-se dos 
judeus (11), dos gentios (13) e depois de ambos (14). Ele mostra, desta 
maneira, o lugar do judeu e do gentio no propósito de Deus. Baseia-se 
em termos da Escritura judaica, com a qual ele e muitos dos seus 
leitores, tinham uma perfeita familiaridade. Segundo o conselho da Sua 
vontade (11). Tudo não está realmente à mercê da vontade dos homens. 
Faz todas as coisas, ou melhor, «opera em»; assim o propósito divino é 
realizado, não por constrangimento externo, mas pela operação no 
coração. 
Que de antemão esperamos (12) (ARA); uma referência à 
prioridade cronológica dos cristãos judeus sobre os cristãos gentios (cf. 
Rm 2.10). Todos os primeiros cristãos, ao que sabemos, foram judeus; e 
a admissão dos gentios foi considerada uma novidade. Veja At 10 e 15. 
 
c) O Selo do Espírito Santo (1.13-14) 
 
 Havendo indicado a prioridade histórica dos cristãos judeus na 
Igreja, Paulo se apressa a incluir os gentios, pois a maioria dos seus 
leitores, na Ásia Menor, não seria de judeus. Mesmo os leitores gentios, 
eram também escolhidos de Deus, e tendo ouvido a Palavra da 
verdade, creram; e a realidade da sua conversão e aceitação é 
assegurada pelo poder do Espírito que operou neles; eles foram selados 
com aquele Santo Espírito da promessa (13). Isto era, também, uma 
parte da antiga promessa de Deus (veja Gl 3.14; At 2.38; 10.47). O dom 
do Espírito Santo aos gentios foi tanto o meio pelo qual Deus autenticou 
as conversões gentílicas de então (At 10.47), como sua antecipação do 
Efésios (Novo Comentário da Bíblia) 11 
cumprimento de bênçãos no futuro. Essas bênçãos são descritas de duas 
maneiras. Primeiro, 
Paulo usa uma metáfora da vida mercantil, o penhor da nossa 
herança (14), que se refere a um penhor colocado em depósito, por um 
tempo, e depois resgatado; mais tarde o vocábulo veio a significar uma 
prestação, e a prova da natureza fidedigna dum contrato. Em segundo 
lugar, ele diz aos seus leitores, “Vós fostes selados até ao resgate da Sua 
propriedade” (ARA). A completa emancipação do povo de Deus ainda 
está no futuro (Ml 3.17), mas é certa, pois eles estão em Cristo e são 
selados nEle pelo Espírito Santo. O refrão em louvor de Sua glória, 
ocorrendo pela terceira vez, encerra essa maravilhosa doxologia. 
 
III. AÇÃO DE GRAÇAS PELO ESTADO ESPIRITUAL DOS 
LEITORES - 1.15-23 
 
 Por isso (15): estas duas palavras reúnem, em si, toda a revelação 
do propósito de Deus, manifesta nos versos anteriores (3-14). Essa 
revelação mostra a fé como parte de um imenso todo, infracionado, de 
modo que Paulo não pode senão dar graças por vós (16). O interesse de 
Paulo focalizava a fé e o amor dos seus leitores... (15). Paulo sempre 
olhava para essas evidências do estado espiritual dos crentes com a mais 
ardente paixão (veja Rm 1.8. Cl 1.4 n.; 1Ts 1.13; 2Ts 1.3 e Fm 5). Nós 
também devíamos nos concentrar mais no crescimento da fé e do amor, 
do que no mero sucesso externo da nossa organização eclesiástica. 
 Não cesso de dar graças por vós (16). As orações de Paulo eram 
particulares e francas, e nelas havia menção direta das Igrejas e dos 
crentes pelos quais ele se interessava. (Rm 1.9; 1Ts 1.2; Fm 4). A 
suprema importância que Paulo atribui à oração e ao conseqüente 
estímulo na vida espiritual são indicados pelo nome que ele dá a Deus 
(17). Embora orasse muito, Paulo nunca levou a oração ao desprezo, por 
um espírito de familiaridade negligente ou irreverente. Ele acha 
inspiração e esperança na relação entre Jesus Cristo e Deus, o Pai, a 
Efésios (Novo Comentário da Bíblia) 12 
quem pertence toda a glória. Sua oração roga, para os crentes, um dom 
especial do Espírito Santo, em relação ao conhecimento: um espírito de 
sabedoria e de revelação, isto é, não o conhecimento em geral, mas o 
conhecimento dele. Revelação aqui significa «tirar o véu» (cf. 2Co 
3.12-17). Paulo ora, aqui, para que a experiência que já lhe havia sido 
dada (Ef 3.3) fosse concedida aos seus leitores. A fé elementar não é 
suficiente para as etapas mais avançadas da vida cristã. A gratidão de 
Paulo no verso 15 não exclui a oração dos vv. 18 e seguintes. É 
propósito de Deus que o conhecimento e outras qualidades lhes sejam 
acrescentadas (veja 2Pe 1.5). 
 Os olhos do vosso entendimento (18); compare a ARA “os olhos 
do vosso coração”. Tal sabedoria é muito além do mero conhecimento 
intelectual. A mente só não pode alcançar a verdade de Deus; o coração 
do homem, com suas emoções, especialmente a vontade, devem todos 
estar consagrados àquele alvo. De outro modo, a parte essencial da 
revelação divina se ofusca ao estudioso, deixando-lhe somente uma 
estrutura insatisfatória e incompreensível de conhecimentos bíblicos. 
Este fato explica a infertilidade de muito estudo intelectual das 
Escrituras. 
 Para saberdes (18): Paulo analisa sua petição para os leitores em 
três cláusulas: a primeira se refere ao passado; i. e., ao chamado de Deus, 
contemplado do prisma inalterável do qual nossa segurança depende. O 
crente repousa, não sobre sua imperfeita aceitação do chamado de Deus, 
mas sobre o fato de que aquilo que ele ouviu e abraçou é a voz de Deus, 
o Pai da glória (cf. 1Ts 5.24). A segunda cláusula se refere ao futuro, ao 
destino glorioso do crente, às riquezas da glória da sua herança dos 
santos (18). O ponto de vista é ainda o mesmo: não é o aspecto da 
herança do crente que está em vista, mas «as riquezas da glória» da 
herança de Deus em seu povo. Novamente, como no verso 11, a idéia é 
aquela de Dt 32.9. A terceira cláusula se refere ao presente; o poder que 
opera agora no crente, e em seu favor, não é nada menos que «a força de 
Efésios (Novo Comentário da Bíblia) 13 
Seu poder que Ele exerceu em Cristo» quando O ressuscitou e O exaltou 
(19-23). 
 Com respeito aos lugares celestiais (20), veja 1.3 n 
 O verso 21 engloba todas as distinções, títulos e poderes do mundo 
espiritual: tudo, sem exceção, é colocado sob o Cristo exaltado (cf. 1.16 
n.) A seqüência de pensamento que se encontra aqui, pode ser traçada 
através das Escrituras, desde a promessa original feita por Deus a nossos 
primeiros pais no Jardim do Éden (Gn 1.26), e, depois, na renovação 
profética da promessa em Sl 8.4-5 (cf. verso 22), até o inspirado 
comentário sobre ela em Hb 2.6-9. Somente em Cristo pode a 
humanidade alcançar o destino prometido. Através de suas epístolas, 
Paulo dá relevo a dois pontos com respeito à relação entre Cristo e a 
Igreja, a saber, união e chefia: Cristo e seupovo são um, e Ele é o 
cabeça. Esta verdade notável é expressa pela metáfora de um corpo 
humano (23) no qual o bem-estar depende da união da cabeça e do 
corpo, e também do governo do corpo pela cabeça (cf. Cl 1.18 n.). Numa 
descrição subseqüente da Igreja, como a plenitude daquele que a tudo 
encerra em todas as coisas (23) Paulo ensina que Cristo não é completo 
sem ela. Isto é verdade, não por causa de qualquer lacuna na santa 
Trindade que a Igreja preencha, mas simplesmente pela vontade de Deus 
Pai que deu o Filho à igreja para ser o cabeça sobre todas as coisas 
(23). Como Ele é o cabeça da Igreja, assim a Igreja é o seu 
complemento. 
 
Efésios 2 
IV. SUA RELAÇÃO (COMO PECADORES) COM CRISTO 
 - 2.1-10 
 
 Em seus mais altos rasgos de inspiração e oratória Paulo nunca 
perde a visão do fim prático que tinha em mira, que é o bem-estar 
espiritual dos seus leitores. Assim, ele volta aqui, na contemplação da 
glória do Senhor exaltado, para considerar as necessidades prementes 
Efésios (Novo Comentário da Bíblia) 14 
daqueles a quem se dirige. O principal verbo da sentença inicial se 
encontra no verso 5: nos deu vida. O teor do pensamento é de algum 
modo interrompido por uma longa explanação do que significa mortos 
(1) e as implicações do estado no qual o termo se refere (2-3). Não é uma 
condição física, mas o estado espiritual dos vivos produzido pelos 
delitos e pecados (1); ainda que inclua também morte física, que é a 
penalidade do pecado (Rm 6.23). Aquele estado aponta para a 
necessidade da regeneração ou do novo nascimento (Jo 3.3) e da vida 
mais abundante (Jo 10.10). Sua origem se encontra na queda do homem 
e em sua conseqüente separação de Deus (Gn 3); sua cura está na união 
com Cristo (5). Os leitores poderão apreender melhor o que Paulo quer 
dizer, consultando a sua própria experiência no passado, quando o curso 
da sua vida era governado pelo próprio mundo, o que lhes parecia 
perfeitamente natural, inevitável e justo àquele tempo (2). Não era 
reconhecido, porém, o impulsionador da vida não regenerada que foi o 
próprio Satanás, o príncipe das potestades do ar, a força controladora 
do curso deste mundo. A autoridade de Satanás não é suprema, pois 
esta pertence só a Deus; aquele exerce sua autoridade por permissão 
divina (cf. Jó 1). Uma parte do significado da queda é que a humanidade, 
até então sob o controle e a orientação de Deus, passou doravante ao 
domínio espiritual e direção de Satanás. Visto que esse governo do mal 
tem sido há tanto tempo a norma de conduta entre os homens naturais, 
sua origem não é mais percebida, mas é simplesmente chamada «a 
natureza humana». Entretanto, torna-se patente aqui, sem oferecer 
desculpas para o homem, que as forças espirituais da maldade governam 
o mundo natural: essas forças se definem como o espírito que agora 
atua nos filhos da desobediência (2). Não é de admirar, portanto, a 
história passada, o estado presente, e a perspectiva futura do homem, 
numa palavra, o curso deste mundo. Na verdade, não fosse a 
intervenção de Deus e unicamente isso, uma catástrofe irremediável 
teria, há muito tempo, destruído a humanidade (veja 2Ts 2.7). 
Efésios (Novo Comentário da Bíblia) 15 
 Esta é uma doutrina sem dúvida muito severa, dolorosa e 
humilhante. Por conseguinte, Paulo procura aliviar a tristeza que ela 
possa causar e, participa dessa mágoa, trocando o vós andastes do v. 2, 
(que se refere aos gentios), pelo nós andamos no verso 3 (que inclui a 
raça especialmente favorecida dos judeus). Entre os quais todos nós 
andamos outrora (3); uma tremenda admissão a ser feita por um judeu, 
mas Paulo havia aprendido de Cristo de tal maneira que apresenta sua 
confissão, não com relutância, mas como um dos fatos mais profundos 
da revelação divina. 
Por natureza filhos da ira (3); i. e., da ira de Deus. A expressão é 
judaica, asseverando a depravação essencial da natureza humana, que se 
seguiu à «queda do homem», comumente chamada «pecado original». 
 O quadro sombrio que Paulo pinta do homem, cujo estado natural 
fica sob este domínio, agora serve como pano de fundo contra o qual as 
gloriosas riquezas da misericórdia de Deus são expostas (4). Depois das 
frases vós e nós todos, segue-se mas Deus; nada -- a não ser a 
intervenção de Deus -- pode reorientar a vida do homem para evitar o 
irreparável desastre, e assegurar-lhe um nobre destino. 
 Misericórdia e amor (4): os atributos que impulsionaram Deus a 
nos ajudar; nunca se encontrou sugestão alguma de que houvesse algo no 
homem caído que instigasse a obra redentora de Deus. O supremo 
motivo é aquele de Jo 3.16; seu grande amor, (ARA). 
 A grandeza do amor divino é salientada pela repetida menção da 
queda do homem e sua condição natural arruinada: estando nós mortos 
em nossos delitos (5). A bênção comunicada ao homem, pela obra de 
Cristo, é a da nova vida, porquanto os mortos precisam ser vivificados 
antes que qualquer coisa possa ser feita para eles, ou por eles. Como 
Jesus afirmou a Nicodemos: «Necessário vos é nascer de novo» (Jo 3.7). 
É somente pela união com Cristo que os homens podem ter vida nova: 
eles são ressuscitados, não por si mesmos, mas juntamente com Cristo; 
tudo em nossa redenção depende de termos uma relação estreita e vital 
com Ele, que fez todas as coisas por nós: Sua parte não falhará; nossa 
Efésios (Novo Comentário da Bíblia) 16 
parte é simplesmente ir a Ele. Aqui, portanto, Paulo interpõe uma 
cláusula em que o verbo está no perfeito, para indicar que nossa 
salvação, em sua totalidade, é devida ao livre favor de Deus. Este 
pensamento, implícito na frase «estando mortos nos vivificou»; é central 
em todos os escritos de Paulo. 
 Em frases paralelas às de 1.20, Paulo expressa agora os passos na 
obra de Deus em nosso favor (6). Como Cristo morreu por nós, também 
Ele ressuscitou da morte por nós, e por nós subiu ao alto; e assim é que o 
cristão pode dizer, com acerto «Estou crucificado com Cristo» (Gl 2.20), 
assim também lhe é revelado que participa na ressurreição e na ascensão 
de Cristo. É fácil demais pensar nesses eventos da ressurreição, da 
ascensão e da entronização, associando-os somente a Cristo. Aqui vemos 
que tal conceito é inadequado. Enquanto essas experiências são ainda 
objetos de esperança para nós, Jesus, de modo real, as tem 
experimentado e possuído por nós. A obra de Cristo é a nossa salvação e 
se aplica não somente a nós, mas também a um ambiente mais amplo e 
mais vasto (7). Muito além do tempo e das condições em que vivemos 
agora, Deus propõe mostrar a suprema riqueza da sua graça, em 
bondade, para conosco em Cristo Jesus. Sua graça e misericórdia para 
conosco serão guardadas em eterna lembrança. A frase «em Cristo 
Jesus» retém a idéia penetrante de união com Cristo. 
 Paulo, novamente, salienta a grandeza do amor de Deus, em 
empreender a obra da salvação do homem: é inteiramente pela graça 
(8). A palavra isto tem ocasionado alguma controvérsia por causa da 
dificuldade em determinar a sua conexão gramatical. Muitos consideram 
que se refere à fé e, conseqüentemente, a fé tem sido chamada o dom de 
Deus. É possível, porém, que a forma neutra de isto reúna o sentido total 
da cláusula pela graça sois salvos, mediante a fé. 
 Não das obras (9): define melhor o sentido de não vem de vós (8). 
A tendência, quase inextirpável no homem natural, de ufanar-se não tem 
lugar no plano divino da salvação. A idéia deste versículo é ilustrada e 
ampliada em Rm 4.1-5. 
Efésios (Novo Comentário da Bíblia) 17 
 Pois somos feitura dele (10). Da mesma maneira em que as 
palavras do Sl 100.3 se referem, em termos semelhantes, à primeira 
criação do homem, Paulo aponta aqui para a recriação do homem em 
Cristo Jesus, como sendo uma obra totalmente divina. Para a idéia de 
uma nova criação, veja 2Co 5.17 e Gl 6.15. Paulo, apesar de não dar 
lugar às obras no tocante à regeneração (veja Rm 4), insiste em que elas 
têm seu lugar essencial na vida do crente como fruto da regeneração: 
criados emCristo Jesus para as boas obras. Compare Tg 2.14 e segs. 
Não há discordância entre Paulo e Tiago, mas apenas uma diferença de 
ênfase. As obras a respeito das quais Paulo fala neste verso não são 
inventadas pelos crentes, mas dadas pela direção de Deus, que “de 
antemão as preparou para que andássemos nelas” (ARA). O cristão 
deveria orientar sua vida dentro de linhas divinamente planejadas, 
seguindo um modo de viver preparado por Deus. Este é o verdadeiro 
plano para a vida verdadeira. 
 
V. SUA RELAÇÃO (COMO GENTIOS) COM OS JUDEUS 
 - 2.11-22 
 
 Portanto, lembrai-vos (11): aponta para uma série de 
pensamentos que pareciam mais significantes para Paulo do que para 
qualquer outra pessoa, pois ele estava na vanguarda na longa luta pelo 
reconhecimento dos cristãos gentios em pé de igualdade com os cristãos 
judeus. Seus leitores sabiam, sem dúvida, algo dessa luta. Deviam, de 
modo especial, esses leitores - os gentios na carne, seu lugar na Igreja 
cristã, aos esforços de Paulo. Sem ele podiam ter sido relegados, pela 
Igreja primitiva, a um estado de subordinação, ou mesmo obrigados a 
formar uma Igreja cristã dos gentios, separada e secundária. Neste verso, 
Paulo explica a grande divisão que eles experimentavam nos seus dias de 
impenitência, fazendo-os relembrar o que eram no passado, em contraste 
com o que são agora. Como gentios, chamavam-se a «incircuncisão», 
não tendo no seu corpo o sinal do concerto: este é o significado da 
Efésios (Novo Comentário da Bíblia) 18 
expressão gentios na carne (11). Seu maior prejuízo resultou, não da sua 
separação do Judaísmo, mas da de Deus. 
 Sem Cristo (12); antônima de «em Cristo», sendo este o tema 
principal desta epístola. Os judeus tinham esperança nos concertos da 
promessa (do Messias; cf. At 13.32 e segs.), mas os gentios não tinham 
esperança alguma. O mundo sem Deus é um mundo sem esperança; a 
vida ateísta é uma vida desesperada. É somente aqui, em o Novo 
Testamento que se usa a palavra atheos, sem Deus (12). Tais pessoas 
estavam sem Deus, não como tendo sido abandonados por Ele (pois não 
o foram), mas no sentido de não o conhecerem nem confiarem nEle. Que 
verdade séria é, que todos os que não estão «em Cristo» são realmente 
ateístas aos olhos de Deus. Quão grande inspiração isto deve ser para que 
espalhemos o evangelho! Por outro lado, eles estavam no mundo (12), 
como os cristãos estão «em Cristo». E naquele mundo estavam seu 
tesouro e seu coração (veja Mt 6.19-21,23). 
 Mas agora em Cristo Jesus (13). Um contraste semelhante se 
encontra no verso 4: «Mas Deus». Já foi descrita sua condição, quando 
seus interesses estavam centralizados no mundo e eles estavam 
«separados de Cristo»; mas agora se apresenta a sua nova condição em 
Cristo Jesus. Os termos longe e perto se repetem no verso 17, em um 
contexto que relembra Is 57.19 (cf. Dt 4.7). Os que estão longe são os 
gentios; os que estão perto são os judeus. O sangue de Cristo, se refere, 
em 1.7, à redenção. Aqui ressalta o seu efeito em juntar os que o pecado 
havia separado por uma parede de ira e de ódio. Somente no sangue de 
Cristo podem os homens e as nações achar a solução verdadeira, a única 
possível e praticável, daqueles problemas de raça e de classe que afligem 
o mundo. A figura usada é comum no Velho Testamento, onde cada 
pacto e concerto entre Deus e o homem foi realizado por um sacrifício. 
Sobre o plano individual, veja Gn 15: sobre o plano nacional, Êx 24. 
Veja também Mc 14.24. 
 Parece que no verso 14, Paulo desenvolve a idéia de Is 57.19, de 
onde tira o conceito de paz ali encontrado, aplicando-o à pessoa do 
Efésios (Novo Comentário da Bíblia) 19 
Senhor Jesus. A ação do Salvador é vista aqui em juntar aqueles que de 
há muito se conservavam à parte, por causa do orgulho e do ódio, e esta 
união é efetuada, não meramente pelo ato externo de Cristo, unicamente, 
pela comunhão mútua com Ele. Pois Ele é nossa paz e essa união é tão 
íntima, que as duas partes se tornam uma. Ela não consiste em um mero 
armistício, é uma paz duradoura. 
 A parede de separação (14) é uma metáfora significando tudo o 
que separava os judeus dos gentios, e deve sua eficácia à existência de 
uma real parede no templo que separava o pátio dos gentios, o mais 
exterior, acessível somente aos gentios, daqueles pátios interiores que 
eram privativos aos judeus. Foi encontrada, nos escombros do antigo 
templo de Jerusalém, uma das pedras inscritas desta parede, sobre a qual 
é legível ainda a ameaça de morte, contra o gentio que a tentasse 
transpor. Do modo como essa parede no templo era uma barreira física 
entre judeus e gentios, assim a lei mosaica dos mandamentos na forma 
de ordenanças (15) constituía o elemento significativo em sua separação 
moral (e também na separação entre os homens e Deus). 
 Mas, quando Cristo foi crucificado, o véu do templo se rasgou em 
dois, o que representa o fim das ordenanças legais como sistema de vida 
do crente, e possibilitou acesso direto a Deus, tanto para os judeus como 
para os gentios (cf. verso 18 com Hb 10.19). Note a passagem paralela 
em Cl 2.14, onde a mesma idéia se expressa em termos diferentes. No 
verso 14 temos a frase fez de ambos um; mas no verso 15, desenvolve-
se mais ainda o pensamento, que introduz o conceito da nova criação. Os 
dois são o judeu e o gentio. O novo homem é o cristão. Até aqui o 
conceito de unidade tinha em vista o reatamento depois do rompimento 
entre judeu e gentio, mas agora inclui a renovação de comunhão entre os 
homens e Deus pela obra expiatória de Cristo. Mediante esta nova 
criação há paz; e o mundo está verificando, constantemente, que essa paz 
não se consegue por outro modo. 
A reconciliação efetuada por Cristo é descrita no verso 16 como 
afetando a ambos, i. e., aos dois grupos do verso 15. A expressão em um 
Efésios (Novo Comentário da Bíblia) 20 
corpo (16) é paralela à anterior «novo homem». No Calvário, Jesus pôs 
fim ao grande obstáculo da paz, que é a inimizade, destruindo-a pela 
cruz. Esta verdade se aplica à inimizade entre homem e homem e, 
principalmente, entre o homem e Deus. O pensamento de Is 57.19 ainda 
se reflete na mente do escritor. 
 Vindo (17): não se refere à encarnação, mas à proclamação da paz 
que havia sido garantida pela obra de Cristo, descrita nos vv. 14-16. Esta 
pregação de Cristo, a vós outros que estáveis longe (gentios) e aos que 
estavam perto (judeus), foi realizada pelo Espírito Santo, através dos 
apóstolos e mestres. Ela veio a ambas essas grandes divisões da 
humanidade pela operação do Espírito Santo (18), que levou tanto o 
judeu como o gentio, num só corpo (16), ao Pai, pela virtude da obra 
sacrificial de Cristo. 
 Os forasteiros (19) (peregrinos, ARA) constituíam uma classe de 
residentes reconhecidos pela lei, que recebiam certos privilégios 
definidos. O próprio nome, porém, sugere que sua posição não era 
permanente; eram tolerados como residentes, mas não tinham direitos 
como cidadãos. Esta podia ter sido a posição permanente dos gentios na 
igreja, se não tivesse triunfado a prestigiosa advocacia do próprio Paulo. 
Santos (19): usa-se o termo em seu significado essencial de um povo 
santo e separado em virtude do seu chamado. Era termo cobiçado entre 
os judeus; mas aqui, Paulo lhe dá um sentido mais amplo, referindo-se à 
Igreja Cristã, visto que ela herdou tanto as promessas como os 
privilégios do Judaísmo (veja 1Pe 2.9). 
 A metáfora política dá lugar agora à doméstica. A família de Deus 
(19), como figura da igreja, refere-se a uma comunhão mais íntima e 
pessoal do que a que existe na vida política: eles eram membros de uma 
só família. A figura muda novamente de modo natural, da família para a 
estrutura da casa, em si. 
Nessa estrutura os apóstolos e profetas são as pedras fundamentais 
(20), enquanto a principal pedra da esquina é o próprio Jesus Cristo. 
Outros aspectos da mesma verdade se apresentam no uso de igual 
Efésios (Novo Comentário da Bíblia) 21 
metáfora, embora de um modo um poucodiferente, em 1Co 3.11, cf. Is 
28.16. Para a relação do novo edifício com o velho, veja At 15.16 e 
segs., e Am 9.11. É preciso lembrar que as metáforas expressam apenas 
alguns aspectos da verdade, e que muitas figuras são necessárias para 
rematar o quadro completo. 
O significado do verso 21 se deriva da palavra grega usada para 
templo. Há, no Novo Testamento, duas palavras que se traduzem por 
«templo»: naos, a parte mais central do santuário; e hieron, todas as 
construções dentro das paredes externas. O uso de naos aqui indica o 
sentido seguinte de ARA: «no qual todo edifício (dentro do recinto 
sagrado) cresce ou forma parte do santuário». Muitas autoridades ainda 
preferem a interpretação da ARC, que traduz assim: «no qual todo 
edifício (i. e., do próprio santuário) cresce (à medida que cada crente é 
acrescentado à estrutura, conforme 1Pe 2.4) para templo santo do 
Senhor». Neste caso, somente o naos surge na figura. A expressão no 
Senhor substitui a «em Cristo», que ocorre tão freqüentemente nos 
primeiros versos. Sente-se a influência das concepções do Velho 
Testamento. Até aquele tempo, os judeus se orgulhavam do fato de Deus 
morar entre eles (Êx 25.8); mas agora os cristãos, sendo participantes da 
crescente Igreja, são «uma habitação de Deus, no Espírito» (22 ARA). 
 
Efésios 3 
VI. O MISTÉRIO DO EVANGELHO - 3.1-21 
 
 Agora Paulo volta à questão do mistério (3; cf. 1.9 e seg. e veja Cl 
1.26 n.), referindo-se, com ênfase especial, à única relação produzida na 
sua própria experiência. O argumento começa no primeiro verso, sendo 
interrompido logo no fim do mesmo e prosseguindo somente no verso 
14, com a expressão por esta causa. Os versos intercalados constituem, 
logicamente, uma digressão, que contém os mais nobres e majestosos 
sentimentos de coisas sublimes. Paulo inicia sua tese, mas a lembrança 
Efésios (Novo Comentário da Bíblia) 22 
da maneira em que o mistério foi revelado a ele, «o menor de todos os 
santos» (8), empolga sua atenção. 
 O pensamento expresso na frase o prisioneiro de Jesus Cristo 
(1), mitigou toda a experiência do apóstolo como aprisionado - 
experiência esta a que um homem tão ativo e ardoroso se adapta 
dificilmente. Aceitando-a, embora árdua, como a vontade do seu Mestre, 
ele a aproveita do melhor modo e, através dessa circunstância, glorifica e 
serve ao seu Senhor. Paulo, calmamente, lembra a seus leitores gentios 
de que sua prisão, instigada por inimigos judaicos, resultava de ter 
advogado plenos direitos de liberdade para os gentios na Igreja Cristã. 
Os únicos enredados na situação, a quem não menciona, são os 
carcereiros romanos, presentes com ele. O sentido da cláusula 
condicional, no verso 2, pode ser expresso pela frase coloquial 
«certamente vós tendes ouvido». Muitos dos seus leitores nunca o 
tinham visto, mas as notícias de seu trabalho, e especialmente, da 
revelação central de que ele foi feito ministro, se haviam espalhado em 
toda parte. 
Graça (2); não a graça da salvação individual, mas aquela do 
evangelho na sua plenitude, a qual Paulo tinha recebido pela revelação 
de Deus. Este evangelho não era o produto de sua própria imaginação, 
nem uma tradição herdada de seus antepassados, nem ainda algo que lhe 
fosse comunicado pelos apóstolos de nosso Senhor, mas uma revelação 
especial de Deus (3). 
Conforme escrevi há pouco, resumidamente (3), i. e., nos 
primeiros versos desta epístola (1.9 e segs.). Um estudo daquela 
passagem seria suficiente para dar aos seus leitores um indício de sua 
compreensão do mistério de Cristo. Isto não é auto-louvor nem orgulho, 
mas o simples reconhecimento da obra de Deus na sua vida, 
concedendo-lhe compreensão das coisas profundas da vida espiritual. 
Embora tivesse sido ele o principal meio de comunicação pelo qual Deus 
tinha manifesto esse mistério, ele inclui também a instrumentalidade dos 
santos apóstolos e profetas (5). Podemos citar, como exemplos, o caso 
Efésios (Novo Comentário da Bíblia) 23 
de Filipe e o eunuco etíope (At 8.26 e segs.), e o de Pedro e Cornélio (At 
10). Os profetas mencionados aqui não são os do Velho Testamento, mas 
os do Novo (veja 2.20). 
 Paulo agora manifesta a essência do mistério mais precisamente 
do que jamais o fizera. Não é simplesmente que os gentios podem ter 
parte na salvação comum, mais especificamente, «que os gentios são co-
herdeiros e membros do mesmo corpo e co-participantes da promessa em 
Cristo Jesus por meio do evangelho» (6). A reiteração na ARA, do 
prefixo «com», traduz uma repetição semelhante no original grego do 
prefixo syn - significando «junto com»: esta reiteração é tão significativa 
que deve ser preservada. Na verdade, esta é a essência da revelação. Os 
gentios não seriam salvos por uma salvação própria a eles, com bênçãos 
inferiores, apropriadas ao seu estado de párias; ao contrário, eles 
participavam igualmente, da salvação que os judeus gozavam. Eles eram 
«co-herdeiros» em relação aos crentes judeus; «co-membros do corpo» 
em relação a Cristo, o Cabeça; e «co-participantes da promessa», em 
relação às promessas históricas de Deus. 
O dom da graça de Deus (7). Paulo sempre era cônscio da 
maravilhosa obra da graça que Deus tinha realizado nele (Gl 1.15 e seg.), 
à qual fez freqüentes referências, como no verso 8; veja também Cl 1.24 
e segs. 
O menor de todos os santos (8): Paulo insere uma frase de 
profunda humildade, temendo que algum leitor julgasse haver qualquer 
exaltação própria no que dissera. Veja também 1Co 15.9. 
 As insondáveis riquezas de Cristo (8). O evangelho não é 
simplesmente uma doutrina, nem um mero padrão de vida; o evangelho 
proporciona «riquezas em medida incalculável». O vasto propósito 
divino mira nada menos que o alvo de fazer todos os homens verem a 
verdade: essa é a verdade especial que o apóstolo recebeu, de modo todo 
particular, como uma «dispensação» (9). Esta nova revelação da verdade 
não era um novo pensamento da parte de Deus, nem uma divergência do 
seu plano original, imposto pelo curso dos acontecimentos. 
Efésios (Novo Comentário da Bíblia) 24 
 Esta verdade estava oculta em Deus que criou todas as coisas (9), 
existindo, portanto, desde o princípio. Mas, Deus não a tinha revelado 
ainda. Além da salvação dos gentios, esta revelação do mistério secular 
propõe também a comunicação às criadas inteligências não humanas, a 
multiforme sabedoria de Deus (10). 
 Lugares celestiais (10): veja 1.3 n. O instrumento especial para a 
instrução desses seres de natureza diferente é a igreja; não é o cristão 
individual, nem o corpo eclesiástico, mas aquela unidade dos crentes de 
todas as nações e de todas as eras, da qual Cristo é o Cabeça. O eterno 
propósito de Deus, em Cristo Jesus, (11) tinha em mira não tão somente 
homens, mas «toda a criação» (cf. Rm 8.19-21). 
 Mas, a conseqüência mais imediata e pessoal da obra de Cristo é a 
que permite aos crentes se aproximarem de Deus, pela fé, com ousadia 
(12). Uma nova referência à prisão de Paulo (13) conclui o parêntese que 
se abre no verso 1. A fé inextinguível de Paulo nos eternos propósitos de 
Deus se manifesta em sua exortação para que os efésios não se 
desanimassem por causa das suas tribulações em favor deles. O último 
objetivo, vossa glória, deve sempre ser tido em mira. 
 A repetição da frase por esta causa (14 cf. verso 1) mostra que o 
apóstolo está resumindo o pensamento que havia sido interrompido pelo 
parêntese dos vv. 2-13. O que segue está na forma de uma oração, a base 
da qual está toda a maravilhosa obra de Deus, que lhe foi revelada nos 
pormenores desdobrados no capítulo 2. 
 Me ponho de joelhos (14). A atitude costumeira de oração entre 
os judeus era ficar em pé (Lc 18.11); a posição de joelhos expressava 
solenidade especial ou urgência incomum (Lc 22.41; At 7.60). 
Intensifica-se o significado da frase quando notamos que um texto 
favorito de Paulo era Is 45.23 (veja Rm 14.11; Fp 2.10). Esta oração que 
talvez deva ser considerada a parte final da oração iniciada em 1.17-23,começa com uma referência ao Pai (cf. 1.17). A idéia não se traduz tão 
facilmente, pois nossa palavra família (15) não é derivada de «pai», 
enquanto o vocábulo grego pátria (família) é derivado de pater (pai). 
Efésios (Novo Comentário da Bíblia) 25 
 Tanto no céu como na terra. Quão sublime é sempre o 
pensamento de Paulo (veja também 1.10-21)! Entende-se que a 
paternidade de Deus não é uma simples metáfora proveniente de relações 
humanas. O contrário é o caso. Deus é Pai; o arquétipo de toda 
paternidade se encontra em Deus e todas as outras paternidades são 
derivadas dEle. 
 A primeira petição, como em 1.17, roga a operação do Espírito 
Santo no coração do crente (16). Em 1.17, pede-se mais especialmente o 
conhecimento (i. e. revelação). Aqui Paulo procura mais o poder (i. e. a 
realização). Em 1.19, pede o conhecimento da «suprema grandeza do 
poder divino»; em 3.16, ora para que seus leitores possam experimentar 
aquele poder, a fim de que a aquisição do conhecimento desejado lhes 
seja possível (18). Cf. 1Co 2.14. A segunda petição é para Cristo habitar 
neles (17). Como crentes, eles estão «em Cristo»; define-se destarte sua 
posição diante de Deus. Pede-se aqui que os cristãos cheguem a apreciar 
na sua experiência real a verdade complementar que Cristo deve habitar 
em seus corações. Esta é a conseqüência de estarem em Cristo, e 
depende do exercício da fé pelo crente. 
O fato de estar «em Cristo», deve expressar-se na vida do cristão 
pelo amor, correlativo essencial da fé (cf. 1.15 n.). Ambos são elementos 
da aptidão necessária para o crente compreender a verdade revelada de 
Deus. Sem a força outorgada pelo Espírito divino, através desses 
elementos, a mente humana, mesmo do crente, não pode alcançar a 
revelação de Deus. Nenhum santo, ainda que seja dotado com a 
plenitude da força espiritual, pode, por si mesmo, esperar obter a 
totalidade da verdade divina: é propósito de Deus que compreendamos a 
verdade com todos os santos (18). Somente a Igreja em toda a sua 
inteireza pode perceber a plenitude da revelação divina. Este pensamento 
nos deve humilhar. 
O amor de Cristo excede a todo entendimento (19); por 
conseguinte, permanece um ideal; é algo que nunca se chega a atingir; 
entretanto, sempre há possibilidade de aproximá-lo mais. O 
Efésios (Novo Comentário da Bíblia) 26 
conhecimento não é o apogeu das bênçãos pelas quais Paulo ora, pois ele 
roga uma experiência mais profunda ainda; que vós sejais tomados de 
toda a plenitude de Deus. Veja também Cl 2.9. O tempo aoristo do 
verbo tomados sugere que esta experiência não seja considerada como 
gradualmente adquirida, mas como uma realização positiva na vida do 
crente. 
 Segue-se, então, uma magnífica doxologia. Paulo já pediu grandes 
coisas, mas entende que seus pensamentos e suas aspirações mais 
sublimes nunca podem esgotar os recursos de Deus. Assim sendo, ele vai 
além, e pede que Deus opere infinitamente mais do que o coração 
humano possa esperar ou imaginar, além de tudo quanto pedimos ou 
pensamos (20). O alicerce desta esperança e confiança repousa no fato 
de que o poder do Espírito de Cristo opera em nós. Deus há de ser 
glorificado «na Igreja e em Cristo Jesus» (21, ARA); a Igreja é o corpo 
do qual Cristo é o Cabeça e os dois aqui são considerados como 
inseparáveis (veja 1.23). 
 
Efésios 4 
VII. A UNIDADE DO ESPÍRITO - 4.1-16 
 
 Aqui Paulo entrega a tocha a outros. Por muito tempo já, ele a tem 
levado. Agora ele é prisioneiro do Senhor (1, ARA). Pode pregar e 
escrever, mas a esfera em que pode pôr em prática os princípios do 
evangelho se limita a uma prisão. Cabe a outros, seus leitores, mostrarem 
ao mundo exterior como a verdade cristã pode ser praticada na vida 
cotidiana. 
 Rogo-vos, pois, eu... (1). O padrão estabelecido para a vida cristã 
é transcendentemente alto como é indicado nos capítulos anteriores. O 
apóstolo não deixa seus leitores em dúvida quanto às responsabilidades 
da vocação com que fostes chamados, que são muito grandes; contudo, 
vale-nos sempre o «poder que opera em nós» (3.20), sem o qual não 
pode haver sucesso, e com o qual não pode haver fracasso final. A 
Efésios (Novo Comentário da Bíblia) 27 
soberana vocação do cristão (cf. Fp 3.14) não deve torná-lo orgulhoso. 
As virtudes simples e humildes do vers. 2, que não podem ser mantidas 
pelo coração natural do homem, são essenciais à vida cristã diária. O 
pensamento pagão, tanto antigo como moderno, comumente as trata com 
repugnância, considerando-as como defeitos. O cristão deve depender da 
verdade revelada por Deus, e do poder do Espírito que habita em nós, 
para que se cumpra o bom propósito de Deus nas vidas humanas que lhe 
são consagradas. 
 Uma característica essencial do espírito cristão é a capacidade de 
suportar as fraquezas de outros, com longanimidade suportando uns 
aos outros em amor. A grande finalidade deste modo de agir é manter a 
unidade do Espírito pelo vínculo da paz (3). Os muitos cismas que 
aparecem na unidade cristã, através da história da Igreja, são devidos, 
não tanto a grandes crimes e a planos maquiavélicos entre irmãos, nem a 
vastas e profundas diferenças de opinião, mas, na maioria dos casos, à 
falta dessas simples virtudes, básicas à fé cristã, que sustêm a unidade de 
todos. 
 Esta unidade não tem de ser criada pelo cristão, pois já existe. Ele 
se esforça, portanto, em preservá-la (3). A realidade dessa unidade é 
agora desdobrada. Apresentam-se sete aspectos, em que os elementos 
caem em três grupos em torno das três Pessoas da Trindade. 
 Há, primeiro, um só corpo, a Igreja, que deve sua existência e 
unidade a um só Espírito, e que se dirige no poder daquele Espírito a 
um só alvo da esperança (4). 
 Em segundo lugar, há um só Senhor, Jesus Cristo, o grande objeto 
de uma só fé pela qual os homens crêem para a salvação, o qual tem 
dado à Igreja a ordenança inicial de um só batismo (5). 
 Em terceiro lugar, há um só Deus e Pai de todos, fonte suprema 
de toda unidade (6). 
 Depois de dar relevo à unidade em geral, Paulo volta agora à 
consideração dos cristãos individuais, que juntos constituem essa 
unidade. Não são peças uniformes de um mecanismo, cada um 
Efésios (Novo Comentário da Bíblia) 28 
possuindo uma individualidade que Deus reconhece e usa em Seu 
serviço. Cf. Rm 12, onde idéias semelhantes se apresentam. No verso 7 o 
apóstolo fala em termos gerais sobre o dom da graça de Deus, à qual 
repetidamente se refere, quando relata sua própria experiência dela, no 
cap. 3 (veja 3.2-7 e seg., onde Paulo identifica sua própria missão, aos 
gentios, com este dom da graça). 
 Agora ele aponta para cada um de nós, como possuidor de um 
semelhante dom da graça, o qual difere, entretanto, conforme o 
individual. As diferenças entre esses dons não são determinadas por 
habilidade ou capacidade natural, mas segundo a proporção do dom de 
Cristo. Cf. 1Co 12.1-11 n. Os «carismas» são associados à ascensão de 
Cristo (8; cf. 1.19 e seg.). Aqui se refere à figura do rei vitorioso (cf. Cl 
2.15 n.), distribuindo os despojos de guerra, como é sugerido pelo Sl 
68.18. Neste Salmo Deus é visto guiando seu povo, triunfalmente, 
através do deserto (vv. 4-7), através de Basã (vers. 15), e depois 
entrando, vitoriosamente, com 20.000 carros de guerra em Sião (vers. 
17). Paulo aponta para este Salmo, como prefigurando a triunfante 
ascensão de Cristo. Veja ainda Jo 7.39, onde o dom principal é indicado; 
cf. At 2. 
 Paulo explica esta referência no verso 8, abrindo um parêntese nos 
versos 9 e 10. A alusão à descida se refere, provavelmente, àquela do céu 
à terra na encarnação; esta é uma explicação satisfatória, embora alguns 
lhe dêem uma aplicação mais extensa baseando-se em 1Pe 1.18 e segs. A 
identidade daquele que sofreu humilhação na terra, mas que foi exaltado 
no céu, é ressaltada no verso 10. Esta exaltação preenche o grande 
propósito de Deus: para ele encher todas as coisas (veja também 1.23). 
 No verso 11 são mencionadas cinco ordens no ministério,em que 
se explicam alguns dos «dons» do verso 8. Os bem conhecidos termos 
«bispo», «presbítero» e «diácono» não aparecem, e por isso alguns 
sugerem que a razão para a omissão resida no fato de esses três termos se 
referirem aos oficiais das igrejas locais, enquanto aqui Paulo tem em 
vista a Igreja universal, e por conseguinte menciona os que servem à 
Efésios (Novo Comentário da Bíblia) 29 
Igreja em geral. Veja também 1Co 12.28 n. À medida que a história da 
Igreja progredia, todas as funções do ministério eram incorporadas nos 
três ofícios locais. O propósito para o qual Cristo dá à sua Igreja os 
referidos dons, não é que os beneficiados sejam seus únicos servos na 
Igreja e no mundo, mas que, através deles, cada membro da Igreja possa 
ser inspirado a servir a Seu Senhor. Entretanto, «a obra do ministério» 
tem sido de tal modo limitada aos oficiais das igrejas, que a Igreja 
universal, «o corpo de Cristo», não tem sido edificada como devia: 
somente poucos trabalham, enquanto a grande maioria dos membros das 
igrejas apenas acompanha, ignorando completamente sua tarefa 
divinamente ordenada. 
 Para a edificação do corpo de Cristo (12). A frase combina as 
duas figuras favoritas de Paulo, referindo-se à unidade estrutural e 
orgânica da Igreja. (cf. 1Co 3.16-17; 12.12-17 n.). Ele não receia usar 
metáforas misturadas, falando primeiro do templo que «cresce» (2.21), e 
aqui, do corpo que é edificado. Do lado divino, já existe uma unidade (4-
6); do lado humano, essa unidade deve ser alcançada pela Igreja, por 
meio do uso correto dos dons mencionados acima. 
 Progresso no conhecimento do Filho de Deus (13) é essencial 
para a realização dessa unidade. O conceito do «varão perfeito», 
desenvolve esta idéia de unidade. Nosso progresso espiritual não será 
determinado por individualismo, como se o propósito de Deus fosse a 
produção de grandes homens. O individualismo deve dar lugar àquela 
unidade orgânica, cujos interesses e objetivos estão muito além do 
alcance do indivíduo e que se definem aqui como a medida da 
estrutura da plenitude de Cristo. O individualismo é indício da 
imaturidade da infância. 
Eis o contraste feito aqui; devemos ser homens «maduros» e não 
meninos... levados em redor por todo vento de doutrina (14). O 
pensamento de Paulo focaliza a vacilação e a instabilidade infantil, bem 
como o individualismo. Os barquinhos estão à mercê do vento e das 
ondas de um modo desconhecido dos grandes veleiros. Os ventos são 
Efésios (Novo Comentário da Bíblia) 30 
uma figura dos homens que ensinam «outro evangelho» (cf. Gl 1.6-9), e 
que pervertem a verdade por astúcia. 
 Seguindo a verdade (15): o verbo não se limita ao ato de falar, 
mas inclui outras formas de testemunhar. Nesta epístola incontroversa 
Paulo não empreende nenhuma declaração de erros quaisquer, nem uma 
detalhada refutação dos mesmos. Recomenda uma ação positiva que 
seria a melhor proteção possível contra a infiltração de todo e qualquer 
erro. A melhor defesa é o ataque. Outro aspecto da resistência ao erro é a 
apresentação, ao inimigo, de uma frente de combate comum. 
 Cresçamos (15). O processo não se manifestará em moldes 
individualistas, mas será sujeito aos interesses da coletividade. 
Naquele... Cristo (15): uma recapitulação da idéia no verso 13. Este 
crescimento abrange não somente a parte essencialmente religiosa da 
vida, mas todos os seus aspectos. Ele deve ser governado, não pelos 
interesses diversos dos membros individuais do corpo, mas por Aquele 
que é o Cabeça, Cristo (15). 
 No verso 16 Paulo tem em vista a estrutura, maravilhosa e 
complicada, do corpo humano, firmemente unido por juntas e ligaduras 
apropriadas (veja passagem paralela, Cl 2.19, e cf. 1Co 12.12-27). Nisto 
ele reconhece o lugar e a influência de cada parte, funcionando 
«segundo a justa cooperação». Assim, pelo funcionamento correto das 
partes individuais é edificada uma estrutura coerente e harmoniosa. 
Novamente o apóstolo utiliza metáforas que indicam tanto a unidade 
espiritual como orgânica: ambas são necessárias na apresentação desta 
grande verdade. 
 
VIII. ELEMENTOS ÉTICOS DA VIDA CRISTÃ - 4.17-5.21 
 
 Um novo aspecto da experiência cristã se nos apresenta, em uma 
revisão dos elementos éticos, indispensáveis à vida espiritual. Note a 
permanência desta metáfora através dos capítulos 4 e 5 (4.1,17; 
5.2,8,15). Os vv. 17-19 apresentam a injunção na forma negativa: não... 
Efésios (Novo Comentário da Bíblia) 31 
como andam os gentios (17). Este «andar» dos gentios é apresentado 
como vão, entenebrecido, alheio, ignorante; e a razão dada para isto é a 
«dureza dos seus corações» (18; cf. 2.12). 
 A expressão vaidade dos próprios pensamentos (17) aponta o 
fato que a razão humana, sem a iluminação do Espírito de Deus, 
inevitavelmente leva à desilusão e ao fracasso. A afirmação é dura, mas 
a história da humanidade a confirma. 
 Obscurecido de entendimento (18). Mostra o estado natural do 
homem até que a experiência de 1.18 lhe chegue; até então, ele está 
alheio à vida de Deus. O fato da queda do homem (Gn 3) está em vista 
aqui; seu estado presente é o resultado, não só da separação de Deus, 
mas também da alienação ativa. A vida divina nos é necessária, mas não 
a possuímos por natureza. 
 Tendo-se tornado insensíveis (19); tais pessoas resistiram às 
ânsias da consciência e agora não se importam mais com ela. Esta 
condição abre a porta para o mal, enquanto eles, da sua própria vontade, 
entregam-se, sem restrição, aos deleites de toda espécie, como se 
consistisse nisso a principal tarefa da vida. (Veja Rm 1.21-28). 
 Mas não foi assim que aprendestes a Cristo (20). Nesta sucinta 
frase, o apóstolo desvia o pensamento de seus leitores daquelas idéias 
aviltantes para a fonte de toda a pureza que é Cristo. 
 A frase que começa com a palavra se do verso 21 tem a mesma 
construção de 3.2. A cláusula condicional não expressa dúvida, mas é 
usada para ênfase, a fim de que o leitor verifique a afirmação feita: «de 
fato o tendes ouvido» (ARA). 
 Aprendestes... tendes ouvido... fostes instruídos (20-21); cf. Jo 
6.45. 
 A verdade é em Jesus Cristo (21): cf. Jo 14.6. Sua instrução em 
Jesus Cristo é agora considerada, negativa e positivamente. Eles, por 
certo, abandonaram sua antiga maneira de viver, despindo-se dela como 
de uma roupa suja. A velha vida dominada pela vontade própria, chama-
se o velho homem, uma metáfora predileta de Paulo. Cf. Rm 6.6; Cl 3.9; 
Efésios (Novo Comentário da Bíblia) 32 
cf. também o conceito do primeiro e do segundo Adão, Rm 5.12-19; 1Co 
15.21-58. O lugar do velho homem será tomado por «uma nova criação» 
(2Co 5.17), o novo homem (24). A petição para renovação da vida é 
logo respondida pelo poder de Deus, como vemos no verso 24. O novo 
homem é o resultado de uma obra divina de criação, na qual se cumpre a 
exigência expressa em outra metáfora, «Necessário vos é nascer de 
novo» (Jo 3.7). A nova criação torna a ser semelhante a Deus, em 
manifestar justiça e retidão, em contraste com a impureza e o engano 
mencionados no verso 22. 
 A ligação dos vv. 25-31 com o que os precede é salientada pelo 
uso do mesmo verbo nos vv. 22 e 25, onde se traduz «despojeis» e 
«deixando», respectivamente. As implicações e conseqüências do 
despojamento do velho homem são as seguintes: há cinco coisas que 
devem ser renunciadas. 
 
 1. MENTIRA (VERSO 25). «Deixando a mentira» - A Mentira, 
tem um sentido mais amplo, não se limitando ao que se diz. A injunção é 
reforçada por uma citação em Zc 8.16, e por um apelo à união vital dos 
cristãos revelada na comunhão da Igreja. 
 
 2. IRA PECAMINOSA (VERSOS 26-27) - Há ira que é justa e 
este fato é ressaltado por uma citação do Sl 4.4 (versão dos LXX). A ira 
justa facilmente se transforma em ressentimento quando suscetibilidades 
pessoais começam a se fazerem sentir. Como Deus «não conserva para 
sempre sua ira» (Sl 103.9), assim também os homens são exortados a 
controlar bem a sua. Não se ponha o sol sobre vossaira (veja Dt 24.13-
15). Alimentar ira pessoal, ou mesmo irar-se justamente por longo 
tempo, faz com que o maligno entre em nossa vida. 
 
 3. FURTO (VERSO 28) - É provável que o furto tenha sido 
praticado por muitos dos gentios convertidos durante toda a sua vida, até 
a conversão. Em momentos de tentação o hábito podia ressurgir na vida 
Efésios (Novo Comentário da Bíblia) 33 
cristã. O remédio consiste em superar a tentação com labores honestos 
para se poder prover do necessário, tanto para uso pessoal, como para a 
carência de outros. A má vontade de trabalhar honestamente é a raiz de 
quase todas as formas de roubo. 
 
 4. LINGUAGEM TORPE (Versos 29 e 30) - A linguagem 
indecente pode tornar-se um hábito tão arraigado que estoura 
subitamente em circunstâncias inesperadas; veja Mc 14.71. Não basta 
suprimi-la; é preciso cultivar positivamente a que for boa. Devemos 
tentar edificar outros, ajudando-lhes pelas nossas palavras, e não 
simplesmente entretendo-os com uma conversa polida. A posição do 
verso 30 liga-o ao assunto da má conversa, e logo confrontamos o fato 
solene de que as nossas palavras, que julgamos tão superficialmente, 
podem entristecer o Espírito Santo (cf. Mt 12.37). Nossas palavras não 
deveriam ser apenas uma reação instintiva ao estímulo exterior, como o 
são freqüentemente. O Espírito Santo deveria controlá-las (veja vers. 
18). No qual fostes selados (30); cf. 1.13 n. 
 
 5. MAU HUMOR (VERSO 31) - Paixões más se expressam de 
vários modos, e cada uma deve ser deixada no despojamento do velho 
homem. 
 Injunções positivas (32) enchem o vácuo produzido pelas 
proibições negativas. Um requisito da comunhão cristã é o perdão, não 
apenas a bondade ou a delicadeza, mas um perdão congênere ao de 
Deus. Note a mesma ênfase na Oração Dominical (Mt 6.12-15). 
 
Efésios 5 
 No verso 1 o apóstolo aponta para o mais sublime exemplo, que se 
possa achar. A possibilidade de segui-lo é indicada pela referência à 
filiação: como filhos amados. 
 Andar (2): tropo metafórico trazido de 4.1-17, indicando 
claramente a continuação do mesmo assunto. Como no verso 1, o amor 
Efésios (Novo Comentário da Bíblia) 34 
cristão se apresenta no mais elevado grau: como também Cristo vos 
amou. Ele mostrou o seu amor entregando-se por nós, i. e., «em nosso 
favor». Tal é o amor cristão; não é um mero sentimento de afeição, mas 
um auto-sacrifício. 
 Como oferta e sacrifício (2). A natureza incidental desta 
referência à expiação do nosso Senhor, indica que este aspecto da sua 
morte era mutuamente aceito por Paulo e seus leitores. Ambas as 
palavras são usadas para sacrifícios, envolvendo o derramamento de 
sangue, mas quando usadas juntas, como aqui, a palavra oferta pode 
referir-se mais particularmente às oblações incruentas. O cumprimento 
cabal, em Cristo, das prefigurações velho-testamentárias é assim 
indicado. Em aroma suave (2). Cf. Gn 8.21; Lv 1.9,13,17, etc. Uma 
frase tomada do Velho Testamento, indicando a aceitação divina do 
sacrifício. 
 É claro que certos pecados ameaçaram a paz e a segurança dos 
cristãos gentios primitivos de um modo especial (3). Eles tinham sido 
criados neles (2.1-3), e evidentemente alguns, que se diziam cristãos, 
ainda acharam nos mesmos uma forte tentação. Veja especialmente as 
cartas de Paulo aos Coríntios. O único caminho seguro era nem sequer 
fazer menção de tais coisas; a idéia do mal, tanto quanto o ato, devia ser 
excluída. Isto, realmente, era o mínimo que uma profissão de fé podia 
exigir. Os pecados pequenos, dos quais os piores se derivam, são 
condenados logo depois (4). Há muitos em todas as classes da sociedade 
que não cometeriam os pecados mais grosseiros, mas que se deliciam em 
palavras vãs e chocarrices. 
 Inconvenientes (4); cf. «como convém a santos», no verso 
anterior. Os lábios do cristão devem constantemente se encherem com os 
louvores de Deus; não com aquele louvor extravagante e barulhento que 
provoca a zombaria dos homens, mas com um espírito de incessante 
gratidão, que se expressa de muitas maneiras afáveis que não podem 
senão influenciar o ímpio para o bem. Veja também 4.29. 
Efésios (Novo Comentário da Bíblia) 35 
 Sabei, pois isto; no verso 5 Paulo indica que seus leitores 
certamente compreenderão que ninguém que se entrega aos vis pecados 
já mencionados, terá parte alguma naquela herança que é seu quinhão em 
Cristo (1.14-3.6). Note-se a frase o reino de Cristo e de Deus; veja Mt 
25.34 e Tg 2.5. 
O verso 6 tem uma advertência contra o poder da propaganda 
insidiosa. Tem aplicação especial àqueles que se rendem à astúcia de 
falsos sectários, que vão de porta em porta à procura dos incautos. Veja 
também 4.14; vê-se a importância magistral deste assunto na seguinte 
declaração paulina: porque por estas coisas vem a ira de Deus sobre 
os filhos da desobediência. 
 A profissão de fé dos leitores os obriga, imprescindivelmente, a 
fugir do pecado. Na sua vida anterior, ofuscada pela incredulidade, eram 
participantes com eles, mas agora são a luz do mundo (8, cf. Mt 5.14). 
Novamente a exortação se repete para os cristãos andarem como devem 
(cf. 4.1,17; 5.1). 
 Fruto do Espírito (9) ou melhor: fruto da luz (ARA). Paulo 
introduz aqui o contraste entre estes frutos e as obras infrutíferas das 
trevas (11). O «fruto da luz» consiste em bondade e justiça e verdade, 
no sentido mais absoluto, indicado por toda. 
 Provando (10); pondo tudo à prova, os filhos da luz podem evitar 
o engano (cf. verso 6), e assim chegar a conhecer qual a vontade do 
Senhor. Mas, o cristão deve ir além da mera fuga das obras das trevas 
(11); tem de expor sua verdadeira natureza à influência da luz que há em 
si, e mostrar o que é na realidade. 
 É vergonha (12); cf. verso 3 n. Muito de que se lê nos jornais, 
revistas e novelas aumenta a dificuldade de o leitor conservar os 
pensamentos puros, e fornece tópicos sórdidos para todos, inclusive para 
os cristãos. 
 Porque tudo que se manifesta é luz (13). Considerando o que 
segue, parece melhor interpretar isto no sentido seguinte: que o mal, 
quando exposto à verdade, tem de mudar. Isto aconteceu na própria 
Efésios (Novo Comentário da Bíblia) 36 
experiência dos leitores. Agora deviam brilhar de tal modo, que outros 
experimentassem a mesma mudança. Para dar ênfase à idéia que tudo 
que se expõe à luz é transformado, Paulo cita umas palavras (14), de 
fonte desconhecida, possivelmente tiradas de um hino cristão primitivo 
(cf. verso 19). Elas chamam os homens para perceberem a obra 
transformadora da luz do mundo (Jo 8.12). 
 Vede como andais (15). Pela última vez na epístola repete-se a 
exortação a andar como cristãos (15; cf. também 4.1,17; 5.1,8). Eles 
devem exercitar-se com o máximo cuidado para não viver 
imprudentemente, como tantos fazem. Deste modo, aproveitarão cada 
oportunidade de fazer o bem nestes tempos maus. 
 Remindo (16); lit. «resgatando». O crente sempre deve ter o alvo 
de conhecer e fazer a vontade do Senhor (17). Esta deve ser a sua 
primeira preocupação. Que a vontade de Deus pode ser conhecida por 
aqueles que a buscam, já foi entendido, há muito (Sl 25.8). 
 O contraste notável do verso 18 não seria notado tão prontamente 
por um crente de nossa época; mas o hábito da embriaguez era tão 
universal entre as populações pagãs, das quais os cristãos gentios se 
originaram, que tal contraste lhes era realmente apropriado. Veja 
também At 2.15 e segs. O ébrio procura algum suposto «bem» em seus 
excessos, mesmo, talvez sua «inspiração». O verdadeiro «bem» se acha 
na plenitude do Espírito Santo. Aquilo que os homens procuram através 
da embriaguez não é encontrado desta forma; suas esperanças são 
inevitavelmente ilusórias. Tudo o que os homens procuram na satisfação 
de suas necessidades e desejos pode ser encontrado no Espírito Santo. 
Este verso relembra o entusiasmo dos cristãos primitivos. Sua religião 
não se tinha tornado ainda um formalismo frígido e correto. A 
camaradagem barulhenta dos beberrões é bem conhecida e,em vivo 
contraste com isso, Paulo retrata cristãos cheios do Espírito, que gozam 
de uma comunhão mais pura, e entoam cânticos mais nobres, enquanto 
se animam uns aos outros com os louvores de Deus (19). Paulo não fala 
aqui de uma forma de culto estereotipada, mas da expressão espontânea 
Efésios (Novo Comentário da Bíblia) 37 
de uma vigorosa vida espiritual. O verdadeiro louvor a Deus não é 
produto da efervescência superficial e extravagante: é uma coisa do 
coração. 
 Hinos e cânticos espirituais (19). Esta é uma indicação 
interessante de que a igreja primitiva desenvolveu sua própria expressão 
poética de culto e louvor, além do uso dos Salmos do Velho Testamento. 
Cf. Cl 3.16. Alguns comentadores fazem uma distinção entre os dois, 
sugerindo que os hinos fossem cantados pela congregação, enquanto os 
cânticos espirituais se constituíssem de solos. A incessante providência 
de Deus (20) é razão suficiente para as expressões de louvor 
mencionadas acima. 
 A auto-entrega do cristão a Cristo envolve uma relação para com 
os outros tão humilde como abnegada (21). 
 Sujeitando-vos uns aos outros: a exortação parece ser, talvez, 
curiosa para seguir uma recomendação à livre expressão do entusiasmo 
espiritual como se recomenda no verso 19. Mas é característico do 
testemunho cristão, que sua ousadia seja condicionada por uma constante 
preocupação com os sentimentos e o bem-estar dos outros e que por isso 
se submeta às ternas exigências das circunstâncias (cf. 1Co 14.26-33). O 
motivo para submissão não se encontra naqueles a quem é preciso 
submeter-se em amor: procurá-lo-emos em vão ali. Se olhamos somente 
para eles, pode tornar-se impossível nossa submissão. O motivo deve ser 
«o temor de Cristo» que é o termo equivalente no Novo Testamento ao 
do «temor do Senhor» no Velho. O princípio estabelecido, neste verso, é 
desenvolvido nas seções seguintes. 
 
IX. RELAÇÕES CRISTÃS NA VIDA FAMILIAR - 5.22-6.9 
 
 Na intimidade da vida no lar, a ética cristã é freqüentemente 
sujeita a um teste rigoroso. A boa ordem na sociedade e em todas as 
relações humanas depende do reconhecimento do princípio divinamente 
revelado de subordinação. Esta idéia é desenvolvida na exortação feita 
Efésios (Novo Comentário da Bíblia) 38 
no verso 21. Esses princípios Paulo aplica, agora, a esposas e maridos 
(22-23), a filhos e a pais (6.1-4) e a servos e senhores (6.5-9). Em cada 
caso Paulo começa com os inferiores, cuja responsabilidade principal é a 
obediência. 
 
a) Esposas e Maridos (5.22-33) 
 
 As mulheres sejam submissas (22). O sentimento deste verso 
contém uma idéia, tão distanciada do comum, e tão contrária à norma do 
mundo moderno, que alguns podem julgá-la a quinta essência do 
retrocesso nas relações sociais civilizadas. Não tem a mulher alcançado, 
pela marcha triunfal da civilização, igualdade com o homem, igualdade 
essa que sempre foi seu direito natural, mas que só chegou a ser 
reconhecida recentemente? Em resposta podemos afirmar que em muitas 
coisas, por exemplo, em qualidades espirituais, a mulher é, por 
ordenação divina, o par natural do homem. Mas, nas relações da vida 
familiar Deus estabeleceu uma certa ordem, pela qual a mulher deve 
estar sujeita ao marido. Veja notas sobre 1Co 11.2-16, e Cl 3.18. Esta 
subordinação não implica inferioridade (veja nota sobre 6.1). A sanção 
dada para encorajar as esposas neste rumo divinamente indicado, e 
contra o qual o ser natural pode rebelar-se, se acha nas palavras como ao 
Senhor. Visto que neste assunto Deus estabeleceu uma lei, o único 
caminho é de obedecer a essa lei por amor a Ele, e como a Ele. Muitos 
problemas domésticos, aparentemente insolúveis, encontrariam sua 
solução se este princípio lhes fosse aplicado. 
 A ordenação divina para a vida familiar é que o marido seja o 
cabeça da mulher (23), não em sentido despótico, nem por imposição 
do homem, mas como também Cristo é o cabeça da igreja (23). O 
marido deve basear sua conduta na de Cristo para com Sua igreja. Nesta 
relação não havia opressão, mas sacrifício, pois Ele é o salvador do 
corpo (o «corpo» sendo a Igreja, como em 1.23-4.16). Repete-se o 
preceito para dar-lhe ênfase (24). 
Efésios (Novo Comentário da Bíblia) 39 
 As responsabilidades especiais que se aplicam ao marido como 
cabeça são tratadas em mais detalhes do que as que se referem à 
subordinação da mulher. O padrão celestial é novamente apresentado, de 
modo que o marido cristão deve amar sua esposa como Cristo amou a 
Igreja. A atitude do marido para com a esposa não deve ser de domínio, 
mas de sacrifício próprio. Oxalá que as esposas aprendessem a lição dos 
versos que lhes são endereçados, e que os maridos, de sua parte, 
aplicassem, a si mesmos, os versos dirigidos a eles e não vice-versa! 
Paulo salienta, não os direitos, mas sim as responsabilidades. A 
harmonia e a felicidade serão adquiridas ao se cumprirem as 
responsabilidades antes de se insistir nos direitos. 
 Tendo introduzido a idéia do amor de Cristo pela Igreja, Paulo é 
levado a desenvolver este tema. O propósito de nosso Senhor em dar-se 
pela Igreja se expressa pelos dois termos santificar e purificar (26), os 
quais se referem à purificação do pecado pelo seu sangue, e à 
conseqüente santificação do povo purificado pela íntima operação do 
Espírito Santo (cf. verso 2). Aqui se fala da Igreja no sentido coletivo e 
não dos indivíduos que a compõem. 
 A lavagem de água pela palavra (26). Esta é uma referência 
quase certa ao batismo. A palavra se refere ou à confissão de fé (cf. At 
22.16; 1Pe 3.21), ou à fórmula batismal (veja Mt 28.19). 
 Para a apresentar a si mesmo (27). A metáfora de um casamento 
se repete. A função de apresentar a noiva ao noivo pertencia, 
normalmente, ao amigo do noivo. Cf. 2Co 11.2, onde Paulo se apresenta 
nesta luz. Aqui Cristo é tanto quem apresenta, como quem recebe. 
 Santa e sem defeito (27). Cf. Ef 1.4 e Cl 1.22. As palavras têm 
um significado sacrificatório (cf. Êx 12.5 e 1Pe 1.19), mas não são 
usadas aqui para indicar a perfeição da obra de Cristo na Sua Igreja. 
Paulo resiste à tentação, sempre presente nele, de desprender-se de todos 
os outros tópicos para falar das glórias do seu Senhor. Com um esforço, 
ao que parece, volta ao assunto que tem diante dos olhos, a saber, os 
deveres dos maridos. Tal é o cuidado e a ambição de Cristo para com o 
Efésios (Novo Comentário da Bíblia) 40 
Seu Corpo, a Igreja; assim também devem os maridos amar as suas 
mulheres como a seus próprios corpos (28), procurando o seu 
progresso nas coisas espirituais, e sempre lutando por uma união mais 
íntima nas coisas profundas de Deus. 
 Paulo agora passa da idéia de chefia para a de uma profunda e 
misteriosa unidade (29). Na união estreita e íntima do marido com a 
esposa, é muito justo e, no sentido mais elevado, bem natural, que o 
amor mais profundo e sublime os una. 
 Membros do seu corpo (30). A posição bem definida, que Paulo 
assume com referência à união estreita entre marido e mulher podia 
requerer evidências mais seguras do que uma simples asserção. 
 Esta evidência ele agora fornece (31), referindo-se a Gn 2.24, uma 
passagem cuja importância já foi indicada por nosso Senhor (Mc 10.6-9). 
Por isso deixará: a causa indicada em Gn 2.24, é o fato que «do varão 
foi tirada» a mulher. No segundo caso, quando Paulo diz: «mas eu me 
refiro a Cristo e à sua igreja», o motivo se baseia no fato muito mais 
excelente que nós somos membros do seu corpo (30). 
 O sentido neo-testamentário de mistério (32) é de algo oculto que 
«Deus agora revelou»; este contexto se refere à revelação portentosa da 
relação de Cristo para com a Igreja (cf. 3.1-13). Novamente, no verso 33, 
Paulo chama a atenção do leitor para o tema desta passagem, e sintetiza 
as lições aplicáveis tanto aos maridos como às mulheres. 
 
Efésios 6 
b) Filhos e pais (6.1-4) 
 
 A relação entre pais e filhos, que nas gerações passadas era tão 
intimamente mantida, tem perdido, em nossos dias, muito de sua 
solidariedade