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Fuga do Templo

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Era começo de tarde, o sol brilhava forte, era uma idiotice com a qual estava contando ser forçado a limpar todo o terreno externo do templo naquele horário quando seria tão menos cansativo em qualquer outra hora do dia, mas com os sacerdotes não tinha discussão, antigamente na época em que era muito caro para ser morto você concordava em fazer as tarefas com um sorriso ou apanhava e era deixado em jejum até mudar de ideia. Senti a punição várias vezes nos primeiros meses e mais algumas vezes depois, não é como se não estivesse acostumado, um dos meus antigos donos, chefes de uma fundição, gostavam de me queimar jogando lascas incandescentes de metal por diversão.
 Se livrar de um dono ruim era tarefa complicada, você tem que encontrar o equilíbrio entre se tornar um problema ao ponto de ser indesejado mas não ao ponto de ser morto.Quando fui vendido para o templo demorei para perceber que final-
mente aquela era a oportunidade que esperava. 
 Por um tempo foi o melhor trabalho escravo que já tive. Não era exaustivo ao ponto de te matar, recebia três refeições ao dia, não era acorrentado à cama na hora de dormir e o melhor de tudo tinha tempo livre. Tempo que gastei adquirindo conhecimento. Ninguém me ensinava nada é claro mas quando se vive sozinho tanto tempo aprendesse a dar um jeito. O único real desafio foi aprender a ler, depois conseguia, com paciência, pegar livros velhos que ninguém lembrava que existia e até tomos da área proibida facilmente. Você se torna invisível depois de um tempo como servo.
 Demorei pouco para perceber que aquela religião, assim como todas as outras sobre as quais li, eram uma farsa e seus sacerdotes um bando de charlatões.Seus textos sagrados eram aglomerados de outras culturas e seus sermões mentiras. Mas a verdade não era óbvia para todos e a religião prosperava rápido enganando de pessoas simples a nobres importantes, consequentemente o templo enriquecia. Os anos passaram e a ostentação só era menor do que a arrogância de seus membros, mais tarde aprendi que o poder geralmente faz isso com mentes fracas, os sacerdotes pararam de dar valor a vida de pessoas inferiores e quando se tornou comum servos morrerem em festas decidi que estava na hora de fugir. Não tinha idade ou instrução o bastante mas o risco de ficar ali era grande demais. Planejava minha fuga a um bom tempo, apesar disso os muros eram altos, os guardas impiedosos, iria precisar de sorte e eu sabia que muita coisa podia dar errado, fui dormir cheio de incertezas. 
 Até que naquela noite escutei a voz alta e clara quase como se uma pessoa estivesse do meu lado ‘’ Vá para a oitava cela e toque na pedra circular no chão’’ levantei assustado girei pelo meu pequeno aposento buscando alguém mas eu estava sozinho, ainda tremendo criei coragem e perguntei por quem mas “Por quê?” alguns segundos se passaram e escutei a resposta “Para que você seja livre” a tentação e curiosidade superaram o medo a proposta era boa e a situação sobrenatural demais para recusar então eu fui. Com o meu toque a pedra se desfez revelando páginas intactas de um livro escritas com uma letra desconhecida e a voz disse “Vou te mostrar um religião de verdade”.
 Já era metade da tarde faltava muito para terminar a limpeza quando escutei um sacerdote gordo gritando meu nome, um dos nomes falsos de escravos que não é mais meu, ordenando “Ande logo com isso seu vagabundo” com a bronca sabia que a hora se aproximava, a sua impaciência iria criar a oportunidade que eu precisava, diminui o ritmo o máximo possível mas sem levantar suspeitas, era experiente em incomodar as pessoas. Não demorou muito e ele foi embora provavelmente se sentia importante demais para vigiar um escravo do lado de fora e afinal que mal eu poderia fazer?
 Soltei o ancinho e andei na direção da antiga capela com sorte teria 2 horas para passar pelos guardas do muro. Mas primeiro parei na frente da árvore que a voz me orientou ir, ao chegar perto ela falou ansiosamente “AQUI” o mais rápido que pude mas ainda achando estar louco e querendo acabar logo com aquilo puxei as páginas e comecei a ler as palavras que antes não sabia ler. Não aconteceu nada durante a maior parte da leitura mas ao me aproximar do final olhei para o lado e estava lá a criatura branca e azul um pouco translúcida com rosto indistinguível e um corpo humano mas nem de homem ou de mulher ela gritou alguma coisa que não escutei e desmaiei. Acordei sem saber se haviam se passado uma horas ou um minuto não estava no mesmo lugar ao olhar para trás todo o templo e parte do muro estava em chamas as pessoas corriam desesperadas e na minha frente para minha surpresa ainda estava lá, ela não apareceu em sonho ou por segundos em uma visão a criatura estava sólida na minha frente, eu ainda estava em choque ela se aproximou e disse “Encontre as páginas que faltam” concordei “Diga para todos minha palavra por que você é o primeiro de muitos” as pessoas nos percebem começaram a gritar, Deus continuou “E a partir de hoje o seu nome é Daciolo”

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