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Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br PROCESSO ADMINISTRATIVO 1 PROCESSO ADMINISTRATIVO Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br PROCESSO ADMINISTRATIVO 2 www.questoesdiscursivas.com.br Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br PROCESSO ADMINISTRATIVO 3 AUTORES: BALTAZAR RODRIGUES Procurador do Estado do Rio de Janeiro - PGE/RJ. Sócio do escritório Fontana, Maurell, Gaio e Rodrigues Advogados. Mestre em Direito Processual pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ. Ex- Diretor Jurídico do Fundo Único de Previdência Social do Estado do Rio de Janeiro (Rioprevidência - 2013/2014). Aprovado nos seguintes concursos: PGE/RJ (15º lugar - 2010); Advogado do BNDES (65º lugar - 2009). RODRIGO DUARTE Advogado da União. Ex-Oficial de Justiça e Avaliador Federal no TRF da 2ª Região; Ex-Técnico Administrativo do Ministério Público da União (MPU) e Ex-Técnico de Atividade Judiciária no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ); Aprovado e nomeado no concurso de Analista Processual do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPE/RJ). MIGUEL BLAJCHMAN (Organizador) Advogado. Fundador do site Questões Discursivas. Ex-Analista de Planejamento e Orçamento da Secretaria Municipal da Fazenda do Rio de Janeiro (SMF/RJ). Aprovado nos seguintes concursos: Analista de Controle Externo do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE/RJ). Analista e Técnico do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPE/RJ) e Advogado da Dataprev. Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br PROCESSO ADMINISTRATIVO 4 ÍNDICE PROCESSO ADMINISTRATIVO 1. ANALISTA JUDICIÁRIO – TRF3 – 2019 – FCC 2. PROCURADOR MUNICIPAL – PGM-JAÚ/RO – 2019 – IBADE 3. PROCURADOR LEGISLATIVO – ASSEMBLEIA DE GOIÁS – 2019 – IADES 4. DELEGADO DE POLÍCIA – PCRS – 2018 – FUNDATEC 5. DELEGADO DE POLÍCIA – PCPI – 2018 – NUCEPE 6. PROMOTOR DE JUSTIÇA – MPE/PR – 2016 – BANCA PRÓPRIA 7. PROMOTOR DE JUSTIÇA – MPE/RR – 2017 – CESPE 8. ANALISTA – DNIT – 2013 - ESAF 9. DELEGADO DE POLÍCIA – PCGO – 2017 – CESPE 10. DELEGADO DE POLÍCIA – PCGO – 2017 – CESPE 11. ANALISTA JUDICIÁRIO – TJGO – 2012 – UFG 12. ANALISTA JUDICIÁRIO - TRF3 - 2014 - FCC 13. ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO - TCE/AM - FCC - 2013 14. ANALISTA JUDICIÁRIO - ÁREA ADMINISTRATIVA - TRT18 - FCC - 2008 15. AUDITOR DE CONTROLE INTERNO - PREF. DE SÃO PAULO - 2015 – VUNESP Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br PROCESSO ADMINISTRATIVO 5 PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR ANALISTA JUDICIÁRIO – TRF3 – 2019 – FCC ESTUDO DE CASO - Servidor público federal, ocupante de cargo efetivo e classificado em unidade administrativa com atribuições decisórias emdeterminado Ministério foi denunciado anonimamente como sujeito ativo de infração disciplinar. Segundo narrado pela denúncia anônima, o servidor facilitava a emissão de decisões favoráveis aos requerentes mediante ocultação e adulteração de documentos. Pelo que indicava a denúncia, havia recebimento de gratificação pelo servidor. Diante da repercussão negativa na mídia para a Administração pública, a instauração, apuração e decisão do caso por meio de processo administrativo disciplinar ocorreu em tempo recorde. Ao servidor foi dado conhecimento sobre a tramitação do processo na mesma decisão que determinou seu afastamento do cargo. Não lhe foi permitida a constituição de advogado para apresentação de defesa, de forma que o próprio servidor o fez por conta própria, mediante razões escritas, precedido de vista de parte dos documentos que instruíam os autos do processo disciplinar. Após decisão condenatória que culminou em pena de demissão e imediata extinção do vínculo funcional, foi dada vista ao servidor, que então pôde constituir advogado para apresentação de recurso. De acordo com a narrativa trazida aos autos, responda, fundamentadamente: a. A decisão que afastou o servidor público do cargo está amparada na legalidade? b. A extinção do vínculo funcional decretada na decisão condenatória da infração disciplinar possui fundamento legal? c. Há vício formal ou material no processo disciplinar no que concerne à garantia da ampla defesa e do contraditório? SUGESTÃO DE RESPOSTA: O art. 147 da Lei nº 8.112/90 aduz que como medida cautelar e a fim de que o servidor não venha a influir na apuração da irregularidade, a autoridade instauradora do processo disciplinar poderá determinar o seu afastamento do exercício do cargo, pelo prazo de até sessenta dias, sem prejuízo da remuneração. Afastar preventivamente o servidor do cargo é uma medida extrema e, por isso, deve ser feita de forma bem ponderada. O afastamento tem por razão diminuir ou evitar que a pessoa que responde a um processo administrativa disciplinar possa influenciar na escorreita apuração dos fatos. Saliente-se que o pedido de afastamento pode ser solicitada pela comissão processante ou, de ofício, por parte da autoridade que instaura o processo administrativo disciplinar. Logo, existe base legal para o afastamento do servidor. Importante frisar que o enunciado da questão não apresenta maiores informações sobre a necessidade de afastamento do servidor, especialmente porque aduz apenas sobre denúncia anônima e sem respeito ao contraditório e à ampla defesa. Com base nisso, o afastamento preventivo mostra-se medida de grande desproporcionalidade, especialmente porque não há indicação de fundamentos concretos ou indícios robustos de que o servidor poderia influenciar na apuração. Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br PROCESSO ADMINISTRATIVO 6 No que se refere à extinção do vínculo funcional, se ficar comprovado que o servidor praticou a conduta narrada na denúncia anônima, ele fica sujeito à aplicação da penalidade de demissão, nos termos do art. 117, IX e XII, da Lei nº 8.112/90. Acerca dos vícios formais e materiais, eles são vários. O primeiro ponto de dúvidas envolve a denúncia anônima. Com base na Súmula nº 611 do STJ, desde que devidamente motivada e com amparo em investigação ou sindicância, é permitida a instauração de processo administrativo disciplinar com base em denúncia anônima, em face do poder-dever de autotutela imposto à Administração. Acerca da presença de advogado, o art. 156 da Lei nº 8.112/90 dispõe que é assegurado ao servidor o direito de acompanhar o processo pessoalmente ou por intermédio de procurador, arrolar e reinquirir testemunhas, produzir provas e contraprovas e formular quesitos, quando se tratar de prova pericial. Assim, o poder público não poderia impedir o servidor de constituir advogado, muito embora a Súmula Vinculante nº 5 aduza que a falta de advogado em processo administrativo disciplinar não ofende o texto constitucional. Outro tema importante abrange a notificação prévia do servidor. Ela existe para que o servidor tenha ciência da instauração de um processo administrativo disciplinar e, com isso, permitir que ele exerça o direito ao contraditório e à ampla defesa. O art. 46 da Lei nº 9.784/99 aduz que os interessados têm direito à vista do processo e a obter certidões ou cópias reprográficas dos dados e documentos que o integram, ressalvados os dados e documentos de terceiros protegidos por sigilo ou pelo direito à privacidade, à honra e à imagem. Pelo que consta do enunciado, verifica-se que foi dado conhecimento ao servidor acerca da tramitação do processo administrativa disciplinar na mesma decisão que determinou o afastamento do cargo. Com isso, apesar de não estar claro, tudo indica que o aludido servidor não foi notificado previamente. No que tange à vista dos autos, importante frisar que a comissão processante deve disponibilizar vista dos autos ao acusado e ao eventual procurador por ele constituído, com base no art. 161, §1°, da lei 8.112/1990 e art. 46 da Lei nº 9.784/88. O enunciado mencionaque foi permitida vista parcial dos documentos, e antes do oferecimento de razões escritas, bem como depois da decisão condenatória. Por fim, entende-se por atos da comissão processante aqueles que busquem colher ou produzir provas, configurando a chamada instrução processual. Nesse momento processual caberá à comissão processante empreender acareações, depoimentos, investigações e outros atos pertinentes, tudo com vistas a apurar elementos de autoria e materialidade. Portanto, a comissão processante tem o dever de permitir que o acusado e seu eventual procurador possam participar desses atos, devendo haver intimação deles e também permitindo que possam produzir provas que entenderem pertinentes. Percebe-se, pelo enunciado, que isso não ocorreu. Outra ilegalidade está no fato de que Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br PROCESSO ADMINISTRATIVO 7 não ocorreu interrogatório do acusado, contrariando o disposto no art. 159 da Lei nº 8.112/90. PROCURADOR MUNICIPAL – PGM-JAÚ/RO – 2019 – IBADE No dia 10 de janeiro do ano em curso, dois policiais militares realizaram a ronda no calçadão em determinado local e, nesse transcurso, uma mulher sedutora, de beleza estonteante, atraente e de corpo escultural, de alta sensualidade, caminhava com passos firmes, arrastando os olhares de um dos policiais que não se contendo com o corpo escultural da jovem, sussurra, em voz meio baixa, no ouvido da cidadã, dizendo- lhe: “Cantada não arranca pedaço, você é muito gostosa!”. De repente, surge em cena seu noivo, desarmado, que presenciou o ocorrido pois se encontrava atrás dela manuseando o seu telefone. Nesse ínterim, esse parte para forte discussão com os policiais e, posteriormente, surge uma luta corporal e, tendo como consequência, disparo de vários tiros, culminando com a morte do jovem. Aberta Sindicância para apuração dos indícios, a comissão sindicante, após instruir e colher os devidos depoimentos, opina pelo afastamento dos policiais e abertura do processo administrativo disciplinar. O contraditório e ampla defesa foi assegurada, resultando na aplicação, pela autoridade competente, da penalidade máxima de demissão dos PMs envolvidos pela conduta antijurídica incompatível com o mister funcional. Revoltados e inconformados, os policiais demitidos promovem uma demanda no âmbito do Judiciário, postulando à anulação do ato de exclusão, cumulando-se sucessivamente o pleito de reintegração no posto e percepção de verbas indenizatórias (soldos que não foram pagos durante o período de afastamento). Com base na situação hipotética acima apresentada, responda, de forma fundamentada, às seguintes indagações. 1. Com a abertura do processo administrativo disciplinar, os policiais militares poderiam alegar, preliminarmente, que houve violação dos princípios da ampla defesa e contraditório na sindicância? 2. Qual é a natureza jurídica da sindicância administrativa? 3. Quais as principais diferenças entre a sindicância e o processo administrativo disciplinar? 4. Caso ocorra a absolvição em sede penal, a sentença surtirá efeitos sobre a decisão administrativa? SUGESTÃO DE RESPOSTA: Instaurado o processo administrativo disciplinar não há que se alegar mácula na fase de sindicância, porque esta apura as irregularidades funcionais para depois fundamentar a instauração do processo punitivo, dispensando-se a defesa do investigado nessa fase de mero expediente investigatório. Cabível o ato administrativo precedido do processo regular que, baseado na fundamentação legal da punição, determina a demissão do servidor investigado. Ressalta-se que o procedimento de sindicância tem caráter prévio, preparatório e inquisitório e visa instruir de elementos para a instauração do processo administrativo disciplinar, chamado de principal. Contudo, a sindicância pode embasar Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br PROCESSO ADMINISTRATIVO 8 ou não o processo principal, já que o processo administrativo posterior é autônomo podendo prescindir da sindicância. Diante do caso, não cabe aos ex-policiais arguirem cerceamento de defesa nana fase da sindicância, pois neste momento não há acusados e sim investigados que somente assumirão esta posição no processo administrativo principal. Em nosso ordenamento jurídico a sindicância não se confunde com processo disciplinar, traduzindo mera apuração sumária de fatos, que, se confirmados e identificada a autoria, conduz à instauração de inquérito, a partir do qual ao indiciado deve ser assegurada ampla defesa. Caso ocorra a absolvição em sede penal, não basta o trânsito em julgado da sentença criminal. Seria preciso provar que não houve falta residual, isto é, que os fatos imputados aos policiais não ocorreram ou que eles não os praticaram. A absolvição criminal é irrelevante na esfera administrativa mesmo quando fundada na ausência de tipicidade do fato, por ser a falta administrativa um residium em relação ao ilícito penal. PROCURADOR LEGISLATIVO – ASSEMBLEIA DE GOIÁS – 2019 – IADES Leia, com atenção, as informações a seguir. Após ciência da prática de irregularidade funcional por ato de servidor público da Câmara Legislativa do Estado de Goiás, a autoridade competente publicou ato administrativo que constituiu a comissão processante sem, no entanto, descrever, de forma detalhada, as irregularidades investigadas. Após o trâmite regular do inquérito administrativo, a comissão processante do respectivo processo administrativo disciplinar (PAD) apresentou à autoridade competente o relatório final, que recomendou a aplicação da pena de suspensão de 120 dias, sem intimar previamente o servidor. Ato contínuo, a autoridade competente aplicou a pena sugerida pela comissão. Acerca da situação hipotética apresentada, de acordo com a doutrina especializada e a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (STJ), redija um texto dissertativo e (ou) descritivo, de forma fundamentada, abordando o seguinte conteúdo: a) Necessidade de descrição pormenorizada das irregularidades investigadas no ato de instauração do PAD; b) Necessidade de intimação do servidor após a apresentação do relatório final pela comissão processante; e c) Possibilidade de o Poder Judiciário atuar no controle jurisdicional do ato punitivo. SUGESTÃO DE RESPOSTA: O candidato deve abordar os seguintes pontos: 1) Ausência de necessidade de descrição das irregularidades investigadas; 2) Necessidade de indicação da materialidade da transgressão objeto da apuração; 3) Desnecessidade de intimação do servidor após a apresentação do relatório final; Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br PROCESSO ADMINISTRATIVO 9 4) Ausência de previsão legal para intimação do servidor público; 5) Ausência de ofensa ao contraditório e à ampla defesa; 6) Possibilidade de atuação do Poder Judiciário no caso; 7) Presença de controle de legalidade; 8) Ausência de mérito administrativo; 9) Ilegalidade do ato punitivo por extrapolação da margem de discricionariedade do administrador público, segundo os limites concedidos pelo legislador; e 10) Pena de suspensão de até 90 (noventa) dias – art. 291 da Resolução no 1.073/2001, cc art. 130 da Lei no 8.112/1990. Segundo o Superior Tribunal de Justiça (STJ), é desnecessária a descrição pormenorizada das irregularidades investigadas, no ato administrativo de instauração de processo administrativo disciplinar. Para o STJ, basta indicar a materialidade da transgressão objeto da apuração. Ainda segundo o STJ, por ausência de previsão legal, a falta de intimação do servidor público, após a apresentação do relatório final pela comissão processante, em processo administrativo disciplinar, não configura ofensa às garantias do contraditório e da ampla defesa. Para a Corte, eventual afronta a tais princípios somente restará caracterizada quando negado à parte trazer para o processo, no momento oportuno, elementos tendentesao esclarecimento da verdade dos fatos, ou ainda, em respeito à dialeticidade do processo, responder ao que houver sido alegado pela parte adversa. Portanto, o fato de o acusado não ter sido intimado para se manifestar a respeito do relatório final, por si só, não traz nenhum tipo de prejuízo à defesa, seja porque o momento para produção de provas ou para a impugnação da acusação feita pela administração dá-se em fase anterior, durante a instrução do PAD, seja porque poderia interpor recurso administrativo contra a decisão final da autoridade competente encarregada de julgar. Quanto à possibilidade de controle judicial, regra geral, o Poder Judiciário não pode se imiscuir no mérito administrativo, que trata da discricionariedade conferida por lei ao administrador, em que se permite ao agente público decidir acerca da oportunidade e conveniência da prática do ato. Entretanto, no presente caso, a atuação do controle jurisdicional do ato punitivo é possível no presente caso, porquanto a administração extrapolou os limites legais para o prazo da pena de suspensão que é de, no máximo, 90 (noventa) dias. Houve ilegalidade na prática do ato punitivo. Nesse sentido, para o STJ, a atuação do Poder Judiciário, no controle jurisdicional do PAD, limita-se ao exame da regularidade do procedimento e à legalidade do ato, à luz dos princípios do contraditório, da ampla defesa e do devido processo legal, sendo-lhe vedada qualquer incursão no mérito administrativo a impedir a análise e valoração das provas constantes no processo disciplinar. FONTE JURISPRUDENCIAL: STJ, RMS 57703 / PI, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, Julg. 04/12/2018, Publ. DJe 10/12/2018; MS 21.898/DF, Rel. Ministra REGINA HELENA COSTA, PRIMEIRA SEÇÃO, DJe 01/06/2018; e MS 20.348/DF, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, PRIMEIRA SEÇÃO, DJe 03/09/2015. FONTE DOUTRINÁRIA: DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. São Paulo: Atlas, 2017, p. 257-262. Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br PROCESSO ADMINISTRATIVO 10 MARINELA, Fernanda. Direito administrativo. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 357-359. MAZZA, Alexandre. Manual de direito administrativo. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 266- 267. DELEGADO DE POLÍCIA – PCRS – 2018 – FUNDATEC Adenor da Silva, policial civil, lotado na Delegacia de Polícia de Arroio do Tigre, foi convocado pelo Delegado de Polícia Titular do órgão para atender a uma ocorrência de roubo a estabelecimento comercial. Alegando estar de folga, não atendeu à convocação, deixando de cumprir a tarefa que lhe foi incumbida. Nesse contexto fático, analise a conduta do policial civil sob o enfoque da responsabilidade administrativo-disciplinar, indicando (com a devida fundamentação legal) a infração disciplinar a ele imputável e a respectiva classificação, o meio de apuração e a autoridade competente para promove-la, bem como a penalidade cabível. SUGESTÃO DE RESPOSTA: Adenor da Silva praticou infração disciplinar prevista no art. 81, XXIX, da Lei nº 7.366/80, que tipifica a conduta do policial no momento em que ele se negou a atender a ocorrência policial (o que constitui infração, mesmo ele estando em período de folga), deixando de cumprir tarefa de que foi incumbido. A infração disciplinar praticada por Adenor é classificada como transgressão grave, nos termos do art. 82, III, § 3º, da Lei nº 7.366/80 e tem como meio de apuração a sindicância, estabelecida no art. 98 da Lei nº 7.366/80, cuja autoridade competente para a instauração será o Delegado de Polícia titular da delegacia onde o servidor está lotado, ou seja, o titular da delegacia de polícia de Arroio do Tigre. A penalidade cabível para a conduta do servidor policial será a suspensão de 31 a 90 dias, conforme art. 89, I, da Lei nº 7.366/80. DELEGADO DE POLÍCIA – PCPI – 2018 – NUCEPE Beltrano é Delegado da Polícia Civil do Estado do Piauí. Em dezembro de 2017, chegou à Corregedoria da Polícia Civil, a denúncia anônima de que Beltrano teria cometido, ainda no mês de fevereiro de 2011, no exercício do cargo de Delegado, grave infração de natureza administrativa, prevista como hipótese geradora da perda do cargo público. Considerando a situação posta e com fundamento nas normas incidentes, na doutrina, bem como na jurisprudência dos tribunais superiores, discorra, em um único texto, sobre os seguintes tópicos: 1. A denúncia anônima é instrumento juridicamente idôneo para dar origem a processo administrativo disciplinar? 2. O transcurso do tempo, desde o momento em que teria ocorrido a suposta infração, inviabiliza a apuração disciplinar? SUGESTÃO DE RESPOSTA: Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br PROCESSO ADMINISTRATIVO 11 Consoante entendimento sumulado do STJ, a denúncia anônima é sim instrumento jurídico idôneo para dar origem a processo administrativo disciplinar. Há um poder-dever de autotutela imposto à Administração Pública no sentido de apurar imediatamente as irregularidades que tiver ciência, não sendo possível arquivar denúncia plausível de irregularidade sob o simples e único argumento de que é anônima. Contudo, mostra-se pertinente uma necessidade de investigação preliminar para apurar a verossimilhança da denúncia anônima e coletar elementos de convicção. Caso constatada a existência de indícios de materialidade e autoria da irregularidade, o resultado da apuração preliminar servirá como fundamento para a instauração do processo disciplinar. Somado a isso é, importante haver prudência e discrição na realização da investigação preliminar, em caráter reservado, de modo a resguardar os direitos da personalidade do denunciado. Quanto à segunda indagação, destaque-se que há a existência de prazos para exercício da pretensão punitiva disciplinar, de modo a preservar a estabilidade das relações jurídicas e a segurança jurídica, bem como sancionar eventual inércia da Administração Pública. Os prazos variam conforme a gravidade da infração disciplinar cometida. No caso de infração punida com demissão o prazo é de cinco anos. Como o termo inicial do prazo é a data do conhecimento do fato pela autoridade competente para a instauração do processo administrativo disciplinar, e não o momento em que foi cometida a infração, não foi consumada a prescrição no caso apontado no enunciado. PROMOTOR DE JUSTIÇA – MPE/PR – 2016 – BANCA PRÓPRIA Explique qual critério deve ser adotado pela autoridade administrativa competente para julgamento de processo administrativo disciplinar para escolha e dosimetria de sanções, nas hipóteses de concurso formal ou de infrações continuadas, à míngua de disposição expressa a respeito no estatuto respectivo. SUGESTÃO DE RESPOSTA: Há duas correntes sobre o tema. A primeira sustenta que as sanções devem ser aplicadas cumulativamente. Tal corrente doutrinária compreende que as regras de cálculo de pena nas hipóteses de concurso formal próprio (CP, art. 70, caput, primeira parte) e crime continuado (CP, art. 71) não podem ser aplicadas analogicamente às infrações disciplinares, na medida em que se trata de ficções. Logo, a ausência de norma semelhante no estatuto disciplinar não significaria lacuna, mas sim a opção do legislador pelo sistema de cúmulo material. Outra corrente doutrinária sustenta a possibilidade de aplicação analógica das regras do art. 70 e 71, do Código Penal. A similitude entre ramos sancionadores do Direito e o postulado da proporcionalidade autorizariam tal solução. Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br PROCESSO ADMINISTRATIVO 12 PROMOTOR DE JUSTIÇA – MPE/RR – 2017 – CESPE Após instauração e instrução de processo administrativo disciplinar, a comissão processante de um órgão público do estado de Roraima concluiu pela absolvição de determinado servidor público desse órgão por insuficiência de provas. Do exame do relatório da comissão remanesceram dúvidas quanto à necessidade decontinuidade das diligências investigativas, razão por que a autoridade competente designou nova comissão processante, que, depois de realizar novas diligências instrutórias, concluiu pela prática de ato de improbidade administrativa que causa prejuízo ao erário o fato de o servidor ter usado de forma intencional e em seu proveito bem do acervo patrimonial do poder público, o que culmina na penalidade de demissão. Considerando essa situação hipotética e o entendimento do STF sobre a matéria, responda, de modo fundamentado, aos seguintes questionamentos. 1 Foi válida a designação de nova comissão processante? [valor: 0,70 ponto] 2 Foi correta a classificação da conduta do servidor? [valor: 0,60 ponto] 3 É possível que a própria administração pública apure e puna, na esfera disciplinar, servidor público pela prática de ato de improbidade com base no Regime Jurídico dos Servidores Públicos Civis do Estado de Roraima? [valor: 0,60 ponto] SUGESTÃO DE RESPOSTA: O STF tem entendido ser possível a realização de diligências instrutórias com a designação de nova comissão processante, no caso de, a partir do exame do relatório da primeira comissão, haver motivação e dúvida razoável que ampare a continuidade das diligências investigativas. Segundo o princípio da verdade material, a autoridade julgadora pode baixar os autos do processo administrativo disciplinar em diligência, dado que, entre outros motivos, a autoridade julgadora do processo administrativo disciplinar não se vincula ao relatório da comissão processante. O uso, por servidor público, em proveito próprio, de bens integrantes do acervo patrimonial do poder público constitui prática de improbidade administrativa que resulta em enriquecimento ilícito, já que o agente aufere dolosamente vantagem patrimonial indevida. Portanto, está incorreta a capitulação como ato de improbidade que causa prejuízo ao erário. Com base na independência das instâncias, ao prever a demissão do servidor que incorre em ato de improbidade administrativa, o estatuto dos servidores faz remissão às condutas tipificadas na Lei de Improbidade Administrativa, que podem ser apuradas e punidas pela própria administração. Entretanto, na esfera disciplinar, somente é reconhecível a prática de ato de improbidade administrativa doloso, nunca culposo. Inclusive, o STF reputa correta a capitulação do fato imputado a servidor como improbidade administrativa quando a situação posta trata de improbidade por ato de enriquecimento ilícito em que se exige o elemento dolo. Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br PROCESSO ADMINISTRATIVO 13 FONTES: Maria Sylvia Zanella di Pietro. Direito administrativo. São Paulo: Atlas, 2015, p. 990; Alexandre Mazza. Manual de direito administrativo. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 651; Antonio Carlos Alencar Carvalho. Manual de processo administrativo disciplinar e sindicância. 4.ª ed. Belo Horizonte: Fórum, 2014, p. 1.464-5; José Armando da Costa. Direito administrativo disciplinar, São Paulo, Método, 2009, p. 537 (“pelo menos na esfera disciplinar, somente é reconhecível a prática de ato de improbidade administrativa doloso, nunca culposo.”); e STF: RMS 33666/DF, rel. orig. min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão min. Edson Fachin, 31/5/2016. (RMS-33666). ANALISTA – DNIT – 2013 - ESAF A respeito do processo administrativo federal e tendo por base a disciplina que lhe foi dada pela Lei n. 9.784/99 e respectivas alterações, discorra sobre os seguintes aspectos: a) Os princípios do processo administrativo e a importância do processo para o Estado de Direito. b) A competência administrativa. c) O dever de decidir e a motivação dos atos administrativos. d) As formas de extinção do processo. e) O recurso administrativo e a revisão. SUGESTÃO DE RESPOSTA: Entende-se por processo administrativo a concatenação de atos, sequencial e ordenadamente praticados, tendo por escopo a prática de uma finalidade específica, tal como a homologação de uma licitação ou o julgamento de um PAD. O processo administrativo possui importância porque permite a concretização do interesse público através da documentação formal que gerou a prática de um ato, atendendo aos reclamos do respeito ao devido processo legal e toda a principiologia inerente. É a maneira pela qual a Administração Pública legitima sua atuação perante a sociedade e também perante a ótica interna, admitindo o controle judicial posterior de legalidade e/ou de constitucionalidade. A doutrina mais abalizada entende que a existência de uma procedimentalização evita a concentração decisória em um ato imediato e único, assegurando a manifestação para todos os interessados. No tocante aos princípios, além de todos os princípios constitucionais inerentes à Administração Pública (previstos no art. 37 da CRFB) e os contidos no art. 5º da CRFB (notadamente o devido processo legal, o contraditório e a ampla defesa), existem alguns que são específicos aos processos administrativos. O primeiro deles é o do impulso oficial, isto é, de forma diversa do que ocorre no exercício da função jurisdicional, os processos administrativos podem ser instaurados sem a necessidade de provocação de qualquer particular interessado. Portanto, uma notícia de jornal pode fazer com que o Poder Público inicie um processo administrativo para apurar uma possível fraude em licitações. Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br PROCESSO ADMINISTRATIVO 14 O segundo deles é o da instrumentalidade das formas, isto é, o processo é o instrumento para aplicação da lei, de modo que as exigências a ele pertinentes devem ser adequada se proporcionais ao fim que se pretende atingir. Como consequência, vislumbra-se o aproveitamento dos atos processuais,que admite o saneamento do processo quando se tratar de nulidade sanável, cuja inobservância não prejudique a administração ou o administrado. O terceiro princípio é o do informalismo, isto é, os atos praticados em processos administrativos não dependem de forma prescrita em lei, de forma que requerimentos e petições de particulares não precisam seguir as mesmas formalidades existentes em um processo judicial. Logicamente, informalismo não significa ausência total de formas ou permissão para processos desordenados ou bagunçados. Um quarto princípio é o da verdade real, ou seja, busca-se a verdade material, ainda que sejam apresentadas provas ou manifestações fora do prazo. Diversamente da esfera judicial, que se baseia no que está contido nos autos processuais, não admitindo manifestações extemporâneas, o processo administrativo admite, por exemplo, que uma defesa seja protocolada fora do prazo, ou que um recurso intempestivo seja dado como fora do prazo, mas, diante da autotutela, as razões ali elencadas podem servir para modificar um ato. Um quinto princípio é o da gratuidade, ou seja, inexiste cobrança de custas, emolumentos ou ônus sucumbenciais, já que o Poder Público busca tutelar o interesse coletivo. Tanto é verdade que a Súmula Vinculante nº 21 proíbe a exigência de depósito ou arrolamento prévio de dinheiro ou bens para admissibilidade de recurso administrativo. O sexto princípio é o da motivação, ou seja, é o dever imposto ao Estado indicar os pressupostos de fato e de direito que determinaram a prática dos atos administrativos. Com isso, permite-se a possibilidade de recurso, o controle social e o próprio controle jurisdicional. Aduza-se que a motivação pode ser simples, mas não simplória, indicando os dispositivos normativos pertinentes, bem como que se aceita a chamada motivação per alliunde (adotando as razões expostas em uma manifestação/ato anterior, como um parecer jurídico). Correlato ao dever de motivação está o dever de decidir, de forma que, regra geral, o Poder Público deve exarar uma manifestação, salvo se o silêncio tiver alguma intenção expressa (um consentimento, por exemplo). Acerca da competênciaadministrativa,ela é irrenunciável e se exerce pelos órgãos administrativos a que foi atribuída como própria, salvo os casos de delegação e avocação legalmente admitidos. Entende-se que competência é uma qualidade legítima de jurisdição ou autoridade para conhecer e julgar certo feito submetido à sua deliberação. Em paralelo com a competência, está a temática recursal, ou seja, o duplo grau é obrigação, de forma que deve ser ofertado ao particular a possibilidade de recorrer. Saliente-se que o recurso administrativo pode fazer com que a situação do particular Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br PROCESSO ADMINISTRATIVO 15 piore, mas, se isso puder ocorrer, deve-se oportunizar manifestação prévia ao possível afetado. Diferente é o caso da revisão, que não pode piorar a situação da pessoa. Logo, a doutrina menciona que é admitida a reformatio in pejus no recurso administrativo, mas não se admite reformatio in pejus na revisão administrativa. JURISPRUDÊNCIA RELACIONADA: Súmula Vinculante nº 21 - É inconstitucional a exigência de depósito ou arrolamento prévios de dinheiro ou bens para admissibilidade de recurso administrativo. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ORDINARIO EM MANDADO DE SEGURANCA. ADMINISTRATIVO. ATO ADMINISTRATIVO. MOTIVAÇÃO. AUSÊNCIA. 1. O motivo e requisito necessário a formação do aro administrativo e a motivação, alçada a categoria de principio, e obrigatória ao exame da legalidade, da finalidade e da moralidade administrativa. 2. Como aro diverso e autônomo que e, o aro administrativo que torna sem efeito aro anterior, requer fundamentação própria, não havendo falar em retificação, se o ato subsequente não se limita a emendar eventual falha ou erro formal, importando na desconstituição integral do ato anterior. ( ... ). 4. Agravo regimental improvido". (AgRg no RMS 15.350/DF, rei. Min. Hamilton Carvalhido, DJ 8.9.2003). DELEGADO DE POLÍCIA – PCGO – 2017 – CESPE Um agente policial civil, envolvido em esquema criminoso de facilitação para organização criminosa de informações sigilosas e privilegiadas a respeito da realização de operações, tendo auferido, com isso, vantagens pecuniárias, foi demitido após apuração em processo administrativo disciplinar. Como fundamento da penalidade administrativa, a autoridade julgadora, além da adoção de outras provas, baseou-se no uso de interceptações telefônicas produzidas em processo criminal com sentença condenatória proferida. O policial demitido ajuizou ação requerendo reintegração ao cargo, alegando impossibilidade de utilização, em processo administrativo disciplinar, das interceptações telefônicas emprestadas de processo penal, principalmente porque a sentença de condenação criminal sequer havia transitado em julgado. Nessa situação hipotética, está correta a alegação apontada pelo servidor demitido? Fundamente a sua resposta considerando o entendimento dos tribunais superiores. SUGESTÃO DE RESPOSTA: De acordo com o entendimento prevalente no STJ, é legítima a utilização, em processo administrativo disciplinar, de provas emprestadas de processo penal instaurado pelos mesmos fatos, ainda que a sentença da condenação criminal não tenha transitado em julgado, ou seja, não tenha se tornado definitiva. É imprescindível, entretanto, que haja submissão ao contraditório e à ampla defesa, de forma a evitar máculas a esses importantes princípios constitucionais. Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br PROCESSO ADMINISTRATIVO 16 A Súmula nº 591 do STJ claramente menciona que é permitida a prova emprestada no processo administrativo disciplinar, desde que devidamente autorizada pelo juízo competente e respeitados o contraditório e a ampla defesa. No que tange à ilegalidade do uso de provas produzidas em processo penal ainda não transitado em julgado, dois motivos atestam a legalidade delas. O primeiro diz respeito à independência existente entre as instâncias administrativa e criminal. Assim, salvo em casos excepcionais, o resultado de uma não contamina a conclusão do outro. O segundo motivo é que, inexistindo dúvida fundada ou comprovada sobre a nulidade das provas, não deve prosperar o argumento de que estas somente seriam servíveis com o trânsito em julgado do feito criminal. Por fim, ainda que se aceitasse a tese de ilegalidade do uso de prova emprestada, pelo enunciado verifica-se que outras provas serviram de fundamento para a sanção administrativa aplicada aos agentes públicos. JURISPRUDÊNCIA APLICADA: ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. POLICIAL CIVIL ESTADUAL. DELITO ADMINISTRATIVO TAMBÉM APURADO COMO CRIME DE CONCUSSÃO. ALEGAÇÕES DE NULIDADE DO PROCESSO DISCIPLINAR. PROVAS EMPRESTADAS. CABIMENTO. EXCESSO DE PRAZO. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DE DANOS. PENALIDADE DE DEMISSÃO. INCIDÊNCIA DA NORMA APLICÁVEL COM RELAÇÃO AOS FATOS APURADOS. INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO DA PROPORCIONALIDADE E DA RAZOABILIDADE. AUSÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO. (...)3. Há sintonia entre as partes do processo penal e os fatos que deram origem aos dois processos, assim como existem outras provas nos autos do PAD a corroborar as provas emprestadas. As referidas provas foram transladadas por meio da devida autorização do juízo criminal e submetidas ao contraditório, tendo havido direito de defesa. A Primeira Seção do STJ tem aceitado o empréstimo de provas, desde que haja atenção ao devido processo legal e ao contraditório. Precedentes: MS 17.472/DF, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, Primeira Seção, DJe 22.6.2012; MS 15.787/DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Seção, DJe 6.8.2012; e MS 16.122/DF, Rel. Min. Castro Meira, Primeira Seção, DJe 24.5.2011. (...)Recurso ordinário improvido. DELEGADO DE POLÍCIA – PCGO – 2017 – CESPE Segundo o STF, o processo administrativo prepara, fundamenta e legitima a atuação do administrador, bem como representa elemento de transparência para essa atuação. A respeito do processo administrativo, redija um texto dissertativo, à luz da Lei 9784 de 1999, atendendo ao que se pede a seguir: 1 – Discorra sobre o direito do administrado previsto na referida lei, quanto ao tratamento dispendido por autoridades e servidores (3 pontos). 2 – Cite cinco casos em que os atos administrativos devem ser motivados (4,5 pontos). 3 – Informe que atos não são passíveis de delegação a outro órgão ou titular (2 pontos). Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br PROCESSO ADMINISTRATIVO 17 SUGESTÃO DE RESPOSTA: A Lei nº 9.784/99 regula o processo administrativo federal genérico, isto é, normas básicas sobre o processo administrativo no âmbito da Administração Federal direta e indireta, visando, em especial, a proteção dos direitos dos administrados e ao melhor cumprimento dos fins da Administração. Ademais, conforme o art. 1º, §1º, da Lei nº 9.784/99, o Legislativo Federal e o Judiciário Federal sofrem a incidência dessa norma quando no desempenho de função administrativa. Importante mencionar que essa lei, por ser genérica, faz com que os processos administrativos específicos continuem a ser regidos por lei própria, sendo que a Lei nº 9.784/99 é aplicada subsidiariamente. No que tange aos direitos do administrado, além de toda a proteção constitucional, notadamente o princípio do contraditório e da ampla defesa, há alguns direitos expressamente previstos. O primeiro deles é o de ser tratado com respeito pelas autoridades e servidores, que deverão facilitar o exercício de seus direitos e o cumprimento de suas obrigações. O segundo dever é ter ciência da tramitação dos processos administrativos em que tenha a condição de interessado, ter vista dos autos, obter cópias de documentos neles contidos e conhecer as decisões proferidas. O terceiro dever é poder formular alegações e apresentar documentos antes da decisão, os quais serão objeto de consideração pelo órgão competente. O quarto dever expresso é o de fazer-se assistir, facultativamente, por advogado,salvo quando obrigatória a representação, por força de lei. Em relação ao item 2 do enunciado, o art. 50 da Lei nº 9.784/99 elenca o rol de atos que devem ser motivados, com indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos. Podem ser citados como exemplo: atos que neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses; atos que imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções; atos que decidam processos administrativos de concurso ou seleção pública; atos que dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo licitatório; atos que decidam recursos administrativos; atos que decorram de reexame de ofício; atos que deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão ou discrepem de pareceres, laudos, propostas e relatórios oficiais; e atos que importem anulação, revogação, suspensão ou convalidação de ato administrativo. Acerca do item 3, segundo o art. 13 da Lei nº 9.784/99, os atos que não são passíveis de delegação são: a edição de atos de caráter normativo; a decisão de recursos administrativos; e as matérias de competência exclusiva do órgão ou autoridade. Frise-se que o ato de delegação especificará as matérias e poderes transferidos, os limites da atuação do delegado, a duração e os objetivos da delegação e o recurso cabível, podendo conter ressalva de exercício da atribuição delegada. Além disso, é revogável a qualquer tempo pela autoridade delegante. ANALISTA JUDICIÁRIO – TJGO – 2012 – UFG Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br PROCESSO ADMINISTRATIVO 18 Disserte sobre a sindicância abordando conceito, características, diferenciando do processo administrativo disciplinar. SUGESTÃO DE RESPOSTA: A sindicância é o meio sumário de investigação para apuração de falhas ou infrações administrativas, ou fatos anômalos que tenham gravidade e comprometam o serviço público. Tem como característica a informalidade e a sumariedade, sendo um procedimento utilizado como cautela para evitar imputações injustas e desnecessárias ao servidor público. A sindicância não se confunde com processo administrativo disciplinar, um não depende necessariamente do outro. O processo administrativo é mais formal e utilizado para apuração de infrações mais graves. De acordo com a Lei de Organização Judiciária a sindicância será utilizada para a apuração de infrações cujas penas imputadas sejam de suspensão, censura, multa e advertência. Já, se para a infração a ser investigada for prevista pena de demissão deverá ser instaurado processo administrativo disciplinar. ANALISTA JUDICIÁRIO - TRF3 - 2014 - FCC ESTUDO DE CASO - Ricardo, servidor público ocupante de cargo efetivo em Tribunal Federal, utilizou veículo pertencente ao Tribunal para fins estranhos ao serviço, retirando-o, sem a devida autorização da garagem do edifício no qual funciona o Tribunal, para realizar, no final de semana, viagem ao litoral. Carlos, amigo de Ricardo, conduziu o veículo e transportou, além de Ricardo, mais quatro passageiros, cobrando dos mesmos R$ 50,00 (cinquenta reais) pelo traslado. Carlos conhecia a procedência do veículo. Saulo, chefe imediato de Ricardo, sabia do ocorrido e não adotou qualquer medida para impedir que Ricardo utilizasse o veículo oficial em proveito próprio e tampouco comunicou ao Diretor da repartição. Considerando as disposições da Lei nº 8.112/90, que trata do regime jurídico dos servidores públicos civis da União, bem como a Lei no 8.429/92, que estabelece as sanções aplicáveis aos atos de improbidade administrativa, responda, fundamentadamente, às seguintes indagações: a.A que penalidade Ricardo está sujeito? Quem é a autoridade competente para aplicação da pena e quais são as fases do correspondente processo disciplinar? Qual o prazo prescricional da correspondente ação disciplinar? Esse prazo é passível de interrupção? Em caso positivo, em que hipótese(s)? b. Ricardo se sujeita, mesmo na hipótese de condenação na esfera administrativa, às sanções previstas na Lei de Improbidade Administrativa? Quais seriam essas sanções? Carlos, que não é servidor público, também está sujeito às referidas sanções? É determinante, para fins de configuração da(s) conduta(s) como ato de improbidade, a comprovação do dano ao patrimônio público? c. Saulo também pode responder por ato de improbidade? Admite-se que conduta omissiva seja configurada como ato de improbidade? SUGESTÃO DE RESPOSTA: Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br PROCESSO ADMINISTRATIVO 19 A Lei nº 8.112/90, conhecida como estatuto dos servidores públicos federais, elenca as penalidades que podem ser aplicadas a tais pessoas em caso de descumprimento dos deveres institucionais: advertência; suspensão; demissão; cassação de aposentadoria ou disponibilidade; destituição de cargo em comissão; e destituição de função comissionada. Deve ser ressaltado que a exoneração não se constitui em penalidade, ainda que se refira a um cargo em comissão. Isso é uma característica do cargo em comissão, ou seja, ele é de livre nomeação e livre exoneração. Diante do narrado no enunciado da questão, Ricardo enquadrou-se na previsão legal de transgressão às normas proibitivas da Lei nº 8.112/90 (art. 132, XIII; e 117, XVI), especificamente na modalidade de utilizar pessoal ou recursos materiais da repartição em serviços ou atividades particulares. Assim, Ricardo estará sujeito à pena de demissão e a autoridade competente para aplicá-la é o presidente do tribunal ao qual esteja vinculado, com base no art. 141, I, da Lei nº 8.112/90. O prazo prescricional da ação disciplinar é de cinco anos. Ressalte-se que ele pode ser interrompido mediante a abertura de sindicância ou instauração de processo administrativo disciplinar. As fases do processo administrativo disciplinar englobam a instauração, inquérito administrativo (instrução, defesa e relatório) e julgamento. No que tange às sanções de improbidade administrativa, Ricardo está sujeito a elas, ante o fato de serem independentes das punições penais, civis e administrativas, conforme art. 12 da Lei nº 8.429/92. No caso de Ricardo, ele incorreu nos atos de improbidade que importam enriquecimento ilícito, pois auferiu vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de cargo, mandato, função, emprego ou atividade. Carlos, mesmo não sendo servidor, está sujeito às sanções da Lei de Improbidade Administrativa, com base no art. 3º dessa norma. Esse artigo menciona que as disposições da Lei nº 8.429/92 são aplicáveis, no que couber, a quem não for agente público, bastando concorrer ou induzir para a prática do ato de improbidade ou dele se beneficiar. Em relação à ocorrência de dano, a sanção independe da efetiva ocorrência de dano, salvo no tocante à pena de ressarcimento. Acerca de Saulo, importante frisar que a omissão também pode configurar ato de improbidade, com base no art. 10 da Lei nº 8.429/92. GABARITO DA BANCA EXAMINADORA: A Prova Estudo de Caso destinar-se-á a avaliar o domínio de conteúdo dos temas abordados, a experiência prévia do candidato e sua adequabilidade quanto às atribuições do cargo e especialidade. A Prova Estudo de Caso terá caráter eliminatório e classificatório. Cada uma das questões será avaliada na escala de 0 (zero) a 100 (cem) pontos, considerando-se habilitado o candidato que tiver obtido, no conjunto das Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br PROCESSO ADMINISTRATIVO 20 duas questões, média igual ou superior a 60 (sessenta). a.De acordo com o artigo 132, XIII c/c artigo 117, XVI, a pena é de demissão. A autoridade competente para a aplicação da pena é o Presidente do Tribunal (art. 141, I) e as fases do processo disciplinar são: instauração, com a publicação do ato que instituir a comissão; inquérito administrativo, que compreende instrução, defesa e relatório; e julgamento (art. 151). O prazo prescricional é de 05 (cinco) anos, podendo ser interrompido com a abertura de sindicânciaou instauração de processo disciplinar, até a decisão final proferida por autoridade competente (art. 142, I e § 3º). b.Sim, pois as sanções são independentes, conforme artigo 12. As sanções passíveis de serem aplicadas a Ricardo são aquelas previstas no artigo 12, I, da Lei no 8.429/92, quais sejam, perda de bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, ressarcimento integral do dano, quando houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de 8 (oito) a 10 (dez) anos, pagamento de multa civil de até três vezes o valor do acréscimo patrimonial e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de 05 (cinco) anos. Sim, pois, de acordo com o disposto no art. 3º, as disposições da referida Lei são aplicáveis, no que couber, àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta. Não, pois, conforme disposto no artigo 21, I, a aplicação das sanções previstas na referida Lei independe da efetiva ocorrência de dano ao patrimônio público, salvo quanto à pena de ressarcimento. c. Sim, a conduta praticada por Saulo encontra-se prevista no artigo 10, II, da Lei de Improbidade Administrativa e admite-se conduta omissiva, pois de acordo com o aludido dispositivo legal, constitui ato de improbidade qualquer ação ou omissão que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres da Administração. ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO - TCE/AM - FCC - 2013 ESTUDO DE CASO - No curso de determinado processo administrativo, regido pela Lei Federal 9.784/99 (Lei que regula o Processo Administrativo no âmbito da Administração Pública Federal), João, titular de direitos e interesses e parte no aludido processo, ingressa com recurso administrativo contra determinada decisão proferida pela autoridade responsável. A respeito do mencionado recurso administrativo, responda fundamentadamente: a. Qual prazo para sua interposição? b. Para qual autoridade o recurso será dirigido? Aborde sobre o eventual cabimento de reconsideração. C. Será julgado, no máximo, por quantas instâncias? d. Possui, como regra, efeito suspensivo? SUGESTÃO DE RESPOSTA: A Constituição Federal assegura o contraditório e a ampla defesa para os litigantes em processo judicial e administrativo. Segundo a norma que regula o Processo Administrativo no âmbito da Administração Pública Federal, é de dez dias o prazo para interposição de recurso administrativo, salvo disposição legal específica. Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br PROCESSO ADMINISTRATIVO 21 O recurso contra decisão administrativa será encaminhado inicialmente à autoridade que exarou a decisão. E, após apreciar as alegações recursais e documentos acostados, poderá ela, no prazo de cinco dias, reconsiderar a decisão. Não havendo reconsideração da autoridade recorrida, o recurso será enviado à autoridade superior. Importante aduzir que o recurso administrativo tramitará no máximo por três instâncias administrativas, salvo disposição legal diversa. É comum, na esfera administrativa, interpor-se pedido de reconsideração contra decisão, mesmo após o trânsito em julgado administrativo. Em não existindo previsão para interposição de recurso, ele não é e não pode ser considerado recurso, não sendo assim conhecido como tal. Em homenagem aos princípios que regem o processo administrativo, em especial o da legalidade e o da verdade material, que orienta e autoriza a Administração Pública a aceitar e buscar as provas que entender necessárias, havendo fatos novos ou circunstâncias que venham a demonstrar, a posteriori, a existência de vícios que tornem ilegal o ato administrativo, pela autotutela administrativa, o Poder Público pode rever os seus atos. Os processos administrativos de que resultem sanções poderão ser revistos, a qualquer tempo, a pedido ou de ofício, quando surgirem fatos novos ou circunstâncias relevantes suscetíveis de justificar a inadequação da sanção aplicada. O recurso administrativo não tem efeito suspensivo, salvo disposição legal em contrário. No entanto, havendo justo receio de prejuízo de difícil ou incerta reparação decorrente da execução, a autoridade recorrida ou a imediatamente superior poderá, de ofício ou a pedido, dar efeito suspensivo ao recurso. ANALISTA JUDICIÁRIO - ÁREA ADMINISTRATIVA - TRT18 - FCC - 2008 ESTUDO DE CASO - Constatada a existência de acumulação irregular de cargos por parte de Humberto, funcionário público federal do Poder Executivo, este permaneceu silente depois de notificado para fazer opção por um dos cargos acumulados. Em consequência, nos termos da Lei nº 8.112/90, deve ser instaurado processo de verificação de acumulação de cargos. Discorra sintética e fundamentadamente a respeito desse processo, comentando sobre: a) a natureza do procedimento e a forma de instauração; b) citação e defesa (possibilidade, ou não, de ainda ocorrer o desligamento de um dos cargos); c) relatório da Comissão; d) decisão (considerando que a autoridade competente acolheu o parecer da Comissão, que reconheceu a ilegalidade da acumulação); e) aplicação da pena de demissão (indicar quem é a autoridade competente para aplicá-la). SUGESTÃO DE RESPOSTA: O acúmulo de cargos, empregos ou funções é vedado pela atual Constituição com o escopo de evitar que o agente público não consiga dedicar tempo suficiente e adequado para a consecução de seu mister. Logo, o importante princípio constitucional da eficiência pode ser encontrado como um substrato jurídico para essa proibição. Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br PROCESSO ADMINISTRATIVO 22 Porém, a própria Constituição elenca um rol de exceções justamente pelo fato de que em algumas situações, devido ao caráter peculiar da função, é até recomendável haver a acumulação. Desta forma, Administração e o agente acabam sendo beneficiados. Como o servidor foi notificado e quedou-se silente, não resta outra alternativa a não ser a instauração de um processo administrativo disciplinar, pelo rito sumário, para apurar eventuais irregularidades. O prazo para sua conclusão é de 30 dias, podendo ser prorrogado por mais 15. A partir disso, ocorrerá a instauração, com a publicação do ato que constituir a comissão, a ser composta por dois servidores estáveis, e simultaneamente indicar a autoria e a materialidade da transgressão objeto da apuração; a instrução sumária, que compreende indiciação, defesa e relatório; e, por fim, o julgamento. A instauração do processo ocorrerá através de ato administrativo, normalmente portaria, que indicará a comissão processante composta por servidores, bem como apontará a autoria e materialidade da suposta transgressão. A indicação da autoria dar-se-á pelo nome e matrícula do servidor, e a materialidade pela descrição dos cargos, empregos ou funções públicas em situação de acumulação ilegal, dos órgãos ou entidades de vinculação, das datas de ingresso, do horário de trabalho e do correspondente regime jurídico. A comissão promoverá a citação pessoal do servidor indiciado por intermédio de sua chefia imediata para apresentar defesa escrita, sendo assegurada vista do processo na repartição. Com a abertura de prazo para defesa, restará evidenciada a boa-fé se o servidor optar por um dos cargos. Assim, fica evidenciado que é possível ao servidor se desligar de um dos cargos mesmo com a instauração do processo administrativo disciplinar. Apresentada a defesa, a comissão elaborará relatório conclusivo quanto à inocência ou à responsabilidade do servidor, em que resumirá as peças principais dos autos, opinará sobre a licitude da acumulação em exame, indicará o respectivo dispositivo legale remeterá o processo à autoridade instauradora, para julgamento. Caracterizada a acumulação ilegal e provada a má-fé, aplicar-se-á a pena de demissão, destituição ou cassação de aposentadoria ou disponibilidade em relação aos cargos, empregos ou funções públicas em regime de acumulação ilegal, hipótese em que os órgãos ou entidades de vinculação serão comunicados. A aplicação da pena de demissão, destituição ou cassação será feita pela autoridade máxima do órgão. AUDITOR DE CONTROLE INTERNO - PREF. DE SÃO PAULO - 2015 – VUNESP Um servidor público municipal responde a processo criminal e inquérito administrativo por ter sido flagrado exigindo propina, valendo-se do cargo que ocupa. Se for absolvido por insuficiência de provas para condenação na esfera criminal por sentença transitada em julgado, responda: a) Em razão disso, deve ser absolvido no inquérito Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br PROCESSO ADMINISTRATIVO 23 administrativo? Justifique e discorra brevemente sobre as hipóteses em que a absolvição criminal repercute na esfera administrativa. b) Nos termos do Estatuto dos Funcionários Públicos do Município de São Paulo, uma vez que o funcionário seja submetido a inquérito administrativo, o mesmo poderá ser exonerado a pedido? Fundamente de forma breve a resposta. SUGESTÃO DE RESPOSTA: No caso em apreço, discute-se a repercussão de sentença criminal na esfera administrativa acerca de conduta baseada nos mesmos atos praticados por agente público. Em princípio, a separação de poderes (prevista no art. 2º da CRFB) expressa que essas esferas de investigação e punição são absolutamente independentes, uma vez que não é possível que um Poder tolha a esfera de atribuições de outro. Porém, o Estado é único e essa unidade deve guiar uma certa coerência entre os atos do Poder Público, mesmo se tratando de funções típicas de poderes diferentes. Assim, é notório que uma absolvição criminal, desde que observados certos requisitos, deve implicar numa absolvição na esfera administrativa. Pois bem: quais seriam, então, tais requisitos que acabam por condicionar a decisão administrativa em função de uma sentença criminal? Em primeiro lugar, os processos (administrativo disciplinar e criminal) devem versar exatamente sobre os mesmos fatos; ou, ao menos, o processo criminal deve apurar fatos que são antecedentes lógicos dos fatos que deram causa à investigação administrativa. Segundo: não pode se estar diante do chamado resíduo administrativo, que vem a ser um ilícito que só existe na esfera administrativa, não passível de punição criminal. Terceiro, a sentença criminal deve ser condenatória ou absolutória por negativa de delito ou de autoria, pois apenas essas espécies de decisões são capazes de construir um juízo de certeza acerca da existência ou inexistência da conduta delituosa. Vale dizer: a sentença criminal que absolve o réu por insuficiência de provas não é passível de influenciar a esfera administrativa. Essa espécie de sentença decorre do princípio da presunção de inocência (in dubio pro reo, previsto no art. 5º, LVII, da CRFB), segundo o qual a existência de dúvidas acerca de determinada questão, em um processo criminal, deve necessariamente induzir a um julgamento mais favorável ao acusado. Ou seja: inexistindo certeza sobre a autoria e a materialidade do delito em âmbito criminal, o servidor não deve necessariamente ser absolvido também no inquérito administrativo. De acordo com o art. 194 do Estatuto dos Funcionários Públicos do Município de São Paulo, o servidor submetido a inquérito administrativo só pode ser exonerado a pedido após comprovada a sua inocência ou o cumprimento da punição que lhe foi imposta (salvo nas hipóteses de abandono de cargo ou de faltas injustificadas, nas quais a possibilidade de exoneração a pedido será concedida pela autoridade competente para impor as penalidades).
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