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Brasília-DF. Fisioterapia traumato-ortopédica do membro inFerior Elaboração Samuel Straceri Lodovichi Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 5 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................................................................... 6 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 8 UNIDADE I ANATOMIA E BIOMECÂNICA DOS MEMBROS INFERIORES ....................................................................... 9 CAPÍTULO 1 ANATOMIA E BIOMECÂNICA DOS MEMBROS INFERIORES .......................................................... 9 CAPÍTULO 2 TÓPICOS EM ANATOMIA FUNCIONAL DO JOELHO .................................................................. 17 CAPÍTULO 3 TÓPICOS EM ANATOMIA FUNCIONAL DO TORNOZELO E PÉ .................................................... 22 UNIDADE II PATOLOGIAS COMUNS DOS MEMBROS INFERIORES ............................................................................. 26 CAPÍTULO 1 PATOLOGIAS RECORRENTES DO QUADRIL ............................................................................... 26 CAPÍTULO 2 PATOLOGIAS RECORRENTES DO JOELHO ................................................................................ 30 CAPÍTULO 3 PATOLOGIAS RECORRENTES DO TORNOZELO E PÉ ....................................................................................................................................... 38 UNIDADE III TRAUMATOLOGIA DOS MMII ................................................................................................................ 42 CAPÍTULO 1 TÓPICOS EM TRAUMATOLOGIA DOS MEMBROS INFERIORES .................................................... 42 CAPÍTULO 2 TRAUMATOLOGIA DO JOELHO ................................................................................................ 50 CAPÍTULO 3 TRAUMATOLOGIA DO PÉ E TORNOZELO .................................................................................. 56 CAPÍTULO 4 TÓPICOS EM ARTROPLASTIAS .................................................................................................. 61 UNIDADE IV AVALIAÇÃO E REABILITAÇÃO DOS MEMBROS INFERIORES .................................................................... 64 CAPÍTULO 1 TÓPICOS EM AVALIAÇÃO DOS MEMBROS INFERIORES ............................................................ 64 CAPÍTULO 2 TÓPICOS EM AVALIAÇÃO DO JOELHO ................................................................................... 67 CAPÍTULO 3 TÓPICOS EM AVALIAÇÃO DO TORNOZELO ............................................................................. 72 CAPÍTULO 4 REABILITAÇÃO DO QUADRIL ................................................................................................... 74 CAPÍTULO 5 REABILITAÇÃO DO JOELHO .................................................................................................... 79 CAPÍTULO 6 REABILITAÇÃO DO TORNOZELO .............................................................................................. 85 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 88 5 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 6 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 7 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 8 Introdução As lesões dos membros inferiores são problemas frequentes nos consultórios médicos e de fisioterapia aqui no Brasil e em todo o mundo. Por causa da grande incidência de disfunções ortopédicas e traumatológicas dos quadris, joelhos e tornozelos, faz-se necessário um entendimento mais aprofundado acerca das patologias que estas articulações sofrem e discutirmos qual ou quais os melhores métodos para a avaliação e tratamento. Na última década, vários pesquisadores têm-se debruçado sobre as reais fontes dos problemas e disfunções dos membros inferiores, deixando de lado antigas convicções sobre como tratar. Embora ainda tenhamos um ranço daquela fisioterapia convencional do calor, frio, aparelhos de eletrotermofototerapia (e que ainda têm sua utilidade em alguns casos), isto deve ser superado, pois devemos nos atentar para as últimas evidências no que diz respeito ao correto diagnóstico e tratamento destas patologias que afetam os quadris, joelhos e tornozelos. Portanto, caro leitor, o propósito deste material, é levar até você o que se tem discutido atualmente na reabilitação das doenças e fraturas que acometem os membros inferiores, de uma forma sucinta, porém, objetiva, calcada na ciência atual e com relevância clínica. Objetivos » Mostrar ao aluno as novas modalidades no manejo, diagnóstico e tratamento dos membros inferiores. » Rever e aprofundar conceitos cinesiológicos e biomecânicos dos membros inferiores. » Estimular o aluno na busca de conhecimento adicional acerca do estudo dos quadris, joelhos e tornozelos. 9 UNIDADE I ANATOMIA E BIOMECÂNICA DOSMEMBROS INFERIORES CAPÍTULO 1 Anatomia e biomecânica dos membros inferiores Quadril Anatomia e cinesiologia do quadril O membro inferior é responsável pela sustentação do peso do corpo e locomoção. O quadril, ou articulação coxofemoral é formado pela união do acetábulo da pelve e a cabeça do fêmur, o osso mais longo do corpo humano. A articulação do quadril é sinovial do tipo esferoide e possui 3 graus de liberdade, denominada triaxial (DRAKE, VOGL, MITCHELL, 2010). Figura 1. Osso do quadril (ílio, ísquio e púbis). Fonte: Drake, 2010. 10 UNIDADE I │ ANATOMIA E BIOMECÂNICA DOS MEMBROS INFERIORES Figura 2. Cartilagem articular e lábio acetabular. Fonte: Drake, 2010. Algumas estruturas são responsáveis por estabilizarem a articulação do quadril, são elas: lábio acetabular, ligamento iliofemoral, isquiofemoral e pubofemoral. Veja a seguir (DRAKE, VOGL, MITCHELL, 2010). » Lábio acetabular: anel fibrocartilaginoso que aprofunda a cavidade acetabular aumentando a congruência da articulação. » Ligamento iliofemoral: suporte anterior ao quadril resiste movimentos de hiperextensão, rotação medial e lateral. » Ligamento isquiofemoral: resiste os movimentos de adução e rotação medial. » Ligamento pubofemoral: resiste os movimentos de abdução e rotação lateral. » Ligamento redondo da cabeça do fêmur: não apresenta função mecânica específica, mas sim para suprimento sanguíneo para a cabeça do fêmur. 11 ANATOMIA E BIOMECÂNICA DOS MEMBROS INFERIORES │ UNIDADE I Figura 3. Ligamento Iliofemoral. Fonte: Kapandji, 2001. Figura 4. Ligamento isquifemoral e cápsula articular. Fonte: Kapandji, 2001. Figura 5. Ligamentos do quadril. Fonte: Kapandji, 2001. 12 UNIDADE I │ ANATOMIA E BIOMECÂNICA DOS MEMBROS INFERIORES Os movimentos do quadril são: flexão/extensão no eixo frontal e plano sagital, abdução/ adução no eixo sagital e plano frontal e rotação medial/lateral no eixo longitudinal e plano transverso. O movimento de cincundução do quadril é a combinação simultânea de movimentos elementares realizados ao redor de três eixos (KAPANDJI, 2000). Amplitude de movimento de referência para os movimentos do quadril (MAGEE, 2010): » Flexão: 0°-120º » Extensão: 0º-20º » Abdução: 0º-45º » Adução: 0°-30º - Deve ser combinada com flexão ou extensão. » Rotação medial: 0°-35° » Rotação lateral: 0°-45° Figura 6. Movimentos do quadril. Fonte: Kapandji, 2001. 13 ANATOMIA E BIOMECÂNICA DOS MEMBROS INFERIORES │ UNIDADE I Figura 7. Músculo quadríceps. Fonte: Drake, 2010. Figura 8. Músculos glúteos. Fonte: Drake, 2010. 14 UNIDADE I │ ANATOMIA E BIOMECÂNICA DOS MEMBROS INFERIORES Figura 9. Músculo iliopsoas. Fonte: Drake, 2010. Conceitos biomecânicos do quadril Balança de Pauwels Durante a marcha (apoio monopodal) todo peso do corpo tende a indicar a pelve para o lado sem apoio, porém isso não acontece devido à ação da musculatura oposta abdutora. A balança se resume em: braço de alavanca do peso corpóreo que é aproximadamente duas a três vezes maior que o braço da musculatura abdutora. Para manter o equilíbrio do quadril, a força muscular deve ser aproximadamente três vezes maior que o peso corpóreo (NEUMANN, 2011). BCO3X > BABD Figura 10. Balança de Pauwels. Fonte: Neumann, 2011. 15 ANATOMIA E BIOMECÂNICA DOS MEMBROS INFERIORES │ UNIDADE I Figura 11. Balança de Pauwels. Fonte: Neumann, 2011. Sinal de Trendelemburg Ao avaliar a musculatura abdutora de quadril com apoio unipodal, pode-se observar a queda da pelve. Se isso ocorrer, podemos afirmar que há diminuição de força da musculatura abdutora da perna de apoio, produzindo queda da pelve contralateral. Figura 12. Sinal de Trendelemburg. Fonte: Magee, 2010. 16 UNIDADE I │ ANATOMIA E BIOMECÂNICA DOS MEMBROS INFERIORES Ângulo de inclinação do colo do fêmur O eixo do colo femoral é oblíquo para cima formando um ângulo de 125° no adulto. Essa conformação do fêmur faz com que o plano frontal que passa pela cabeça do fêmur e pelos côndilos femorais, deixe a diáfise e sua extremidade superior com uma conformação anterior. O ângulo de inclinação varia de acordo com os indivíduos e em determinadas épocas da vida, resultante de adaptações funcionais (KAPANDJI, 2001). Figura 13. Ângulo de inclinação da cabeça femoral. Fonte: Kapandji, 2001. » KAPANDJI, A. I. Fisiologia articular: membro inferior. 5. ed. 2001. » NEUMANN, D. A. Cinesiologia do aparelho musculoesquelético: fundamentos para reabilitação, 2011. 17 CAPÍTULO 2 Tópicos em anatomia funcional do joelho Joelho Anatomia e cinesiologia do joelho A articulação do joelho é uma articulação complexa com pouca congruência articular, e para isso deve ser suportada por ligamentos e músculos. É frequentemente exposta a severos esforços e por isso é também frequentemente lesada. O joelho é formado por duas articulações: femorotibial (sinovial do tipo condilar) e femoropatelar (sinovial do tipo plana). A patela é o maior osso sesamoide do corpo humano e tem grande importância para a produção de torque do quadríceps, já que aumenta a distância do centro do joelho (DRAKE, VOGL, MITCHELL, 2010). Figura 14. Patela. Fonte: Drake, 2010. 18 UNIDADE I │ ANATOMIA E BIOMECÂNICA DOS MEMBROS INFERIORES Figura 15. Anatomia do joelho. Fonte: Drake, 2010. Figura 16. Anatomia do joelho. Fonte: Drake, 2010. 19 ANATOMIA E BIOMECÂNICA DOS MEMBROS INFERIORES │ UNIDADE I A amplitude de movimento de referência do joelho é: » Flexão: 0°-120°. » Extensão: 0°-10° Maior que 0° é caracterizado como hiperextensão. » Rotação medial e lateral: movimento acessório com o joelho em flexão de 90°. No joelho podemos encontrar alguns desvios laterais conhecidos como valgo ou varo. Normalmente há uma tendência ao posicionamento valgo de joelho pela presença do ângulo Q. Quando exacerbado, pode gerar sobrecarga no compartimento lateral da articulação femorotibial. Quando há alteração da angulação do joelho para posição varo, há sobrecarga sobre o compartimento medial da articulação femorotibial (MAGEE, 2010). Figura 17. Ângulo Q. Fonte: Magee, 2010. 20 UNIDADE I │ ANATOMIA E BIOMECÂNICA DOS MEMBROS INFERIORES Figura 18. Desvios joelho. Fonte: Magee, 2010. Os meniscos no joelho são responsáveis por aumentar a congruência articular, melhorar a distribuição de carga, absorver choques e melhorar lubrificação na articulação. São dois meniscos, um lateral e um medial. O menisco medial está fixo ao ligamento colateral medial e por este motivo apresenta menor mobilidade tornando-o mais susceptível a lesões (DRAKE, VOGL, MITCHELL, 2010). Os ligamentos que estabilizam a articulação do joelho são: » Ligamento colateral medial: suporta estresse em valgo. » Ligamento colateral lateral: suporta estresse em varo. » Ligamento cruzado anterior: impede translação anterior da tíbia em relação ao fêmur. » Ligamento cruzado posterior: impede translação posterior da tíbia em relação ao fêmur. 21 ANATOMIA E BIOMECÂNICA DOS MEMBROS INFERIORES │ UNIDADE I Figura 19. Músculo isquiotibiais. Fonte: Drake, 2010. Conceitos biomecânicos do joelho Devemos nos atentar para o funcionamento da articulação femoropatelar, motivo de lesões frequentes. A falta de conhecimento desta articulação leva a tratamentos ineficazes e muitas vezes lesivos ao paciente. Basicamente, a patela entra em contato com a tróclea do fêmur a 0°, com uma área de contato mínima. Em 135° de flexão, as duas facetas laterais mantêm íntimo contato com a tróclea. À medida que o joelho migra para 90°, a área de contato patela-fêmur vai mais para seu polo inferior. Entre 60-90°, a patela se encaixa no sulco intercondilar do fêmur e possui uma área de contato maior. Mas, embora com uma área de contato maior, a pressão por unidade de área ainda é relativamente alta. Já nos últimos graus de extensão (20-30°), o ponto de contato retorna ao polo inferior e perde o seu encaixe. A perda do encaixe faz com que o paciente luxe a patela nesta angulaçãonormalmente. Lembre-se portanto que em CCA, a angulação ideal para trabalhar vai de 90-45° em média, pois mantemos uma área de contato relativamente ótima para não sobrecarregar a cartilagem articular, mesmo com a ativação do quadríceps (NEUMANN, 2011). 22 CAPÍTULO 3 Tópicos em anatomia funcional do tornozelo e pé Tornozelo e pé Anatomia e cinesiologia do tornozelo e pé Proporciona base de suporte para o corpo, além de servir como uma alavanca rígida para a execução da marcha. A articulação do tornozelo promove adaptações às mudanças de superfície. Podemos dividir em três segmentos, a saber: » retropé: calcâneo e tálus; » mediopé: navicular, cuboide e cuneiformes; » antepé: metatarsos e falanges. As articulações tibiofibular proximal (sinovial do tipo plana) e distal (sindesmose) funcionam exclusivamente para o tornozelo (DRAKE, VOGL, MITCHELL, 2010). Figura 20. Articulação tibiofibular proximal. Fonte: Drake, 2010. 23 ANATOMIA E BIOMECÂNICA DOS MEMBROS INFERIORES │ UNIDADE I As estruturas estabilizadoras da articulação tibiofibular são: » ligamento tibiofibular anterior; » ligamento tibiofibular posterior; » membrana interóssea. Responsáveis por manter a união entre tíbia e fíbula Figura 21. Articulação tibiofibular distal. Fonte: Drake, 2010. A articulação talocrural corresponde à tibiotalar e talofibular e é caracterizada como sinovial em gínglimo. É a articulação mais congruente do corpo humano e em posição neutra forma um ângulo reto entre o pé e a tíbia. A amplitude de movimento de referência é: » Flexão plantar: 50° » Dorsiflexão: 20° Os ligamentos responsáveis por estabilizar a articulação talocrural são: » Ligamento colateral medial – deltoide (lig. tibiotalar anterior, lig. tibionavicular, lig. tibiocalcâneo, lig. tibiotalar posterior): impedem uma inclinação excessiva lateral do talus do calcâneo. » Ligamento talofibular anterior: impede translação anterior do tálus em relação à tíbia e a fíbula. » Ligamento talofibular posterior: impede translação posterior do tálus em relação à tíbia e à fíbula. 24 UNIDADE I │ ANATOMIA E BIOMECÂNICA DOS MEMBROS INFERIORES » Ligamento calcâneo fibular: impede uma inclinação excessiva medial do tálus e do calcâneo. A articulação subtalar ou talocalcânea é formada entre o tálus inferiormente e o calcâneo superiormente. Os ligamentos que estabilizam a articulação subtalar são: » Ligamento talocalcâneo interósseo. » Ligamento talocalcâneo posterior. » Ligamento talocacâneo lateral. Responsáveis pela união entre tálus e calcâneo Figura 22. Articulação subtalar. Fonte: Drake, 2010. 25 ANATOMIA E BIOMECÂNICA DOS MEMBROS INFERIORES │ UNIDADE I Figura 23. Músculo tríceps sural. Fonte: Drake, 2010. Conceitos biomecânicos do tornozelo Basicamente, precisamos ter conhecimento do funcionamento da “pinça bimaleolar”. Para a realização da dorsiflexão, o tálus rola e desliza para trás, abrindo a pinça, mas bloqueando-a ao mesmo tempo. Dessa forma, há maior encaixe articular e maior estabilidade para a articulação. Já na flexão plantar, o tálus rola e desliza para frente, afrouxando a pinça, desbloqueando a articulação e diminuindo a estabilidade da articulação. Isso explica porque o paciente normalmente faz uma entorse em flexão plantar, do que em dorsiflexão (NEUMANN, 2011). NEUMANN, D. A. Cinesiologia do aparelho musculoesquelético: fundamentos para reabilitação. 2011. 26 UNIDADE II PATOLOGIAS COMUNS DOS MEMBROS INFERIORES CAPÍTULO 1 Patologias recorrentes do quadril Patologias comuns do complexo do quadril Osteoatrose de quadril (Coxartrose) A osteoartrose ou osteoartrite (OA) é popularmente conhecida como desgaste da cartilagem articular, porém já sabemos que há o envolvimento de todas as estruturas articulares, como cartilagem, ligamentos e a estrutura óssea (American College of Rheumatology). É caracterizada por um colapso articular, mudanças ósseas, degeneração dos tendões e ligamentos e possui manifestações clínicas caracterizadas por estágios inflamatórios (LITTLE; FOSANG, 2010). Apesar das manifestações clínicas de estágios inflamatórios, a osteoartrose não é considerada uma doença inflamatória. Figura 24. Osteoatrose de quadril (Coxartrose). Fonte: <http://medicinadoquadril.com.br/site/coxartrose/>. 27 PATOLOGIAS COMUNS DOS MEMBROS INFERIORES │ UNIDADE II Etiologia A evolução da patologia pode iniciar com uma alteração de metabolismo da cartilagem articular. Alguns estudos mostram que o funcionamento dos condrócitos se altera e este pode ser o início do processo. Os condrócitos são células mesenquimais e tem importância no metabolismo da cartilagem, pois, sintetizam colágeno, proteoglinacos e proteinases, e se o funcionamento local está alterado, a síntese de matriz óssea não é mais a mesma, alterando a fisiologia articular (FELICE et al., 2002, HWANG; KIM, 2015). Fatores que também influenciam no desenvolvimento da patologia são: genéticos, bioquímicos, mecânicos, idade, sexo, hereditariedade e obesidade (American College of Rheumatology). Manifestações clínicas Ao exame físico paciente pode apresentar edemaciamento local, restrição de amplitude de movimento, dor à palpação e ao movimento principalmente nos estágios inflamatórios, crepitação articular, diminuição de força, alterações na conformação óssea, alterações no equilíbrio e marcha e déficits funcionais. Impacto femoroacetabular Definição Entende-se por uma condição patológica em que ocorre uma incongruência articular entre acetábulo e colo femoral durante a mobilização do quadril, principalmente nos movimentos de flexão e rotação interna do quadril (ZIPPERER; HESS; JACINTO, 2012). O impacto sintomático pode evoluir para lesões do lábio acetabular e da cartilagem articular, sendo responsável pelo surgimento antecipado das condições degenerativas do quadril (POLESELLO, 2009). O impacto resulta de duas condições anatômicas diferentes, definindo sua classificação em Pincer ou Came. No impacto classificado como Pincer, a alteração encontra-se no acetábulo, já o tipo Came a alteração encontra-se na região entre cabeça e colo femoral (FRASSON et al, 2015). 28 UNIDADE II │ PATOLOGIAS COMUNS DOS MEMBROS INFERIORES Figura 25. Impacto femoroacetabular. Fonte: Magee, 2010. Etiologia O aparecimento e a evolução do quadro de impacto femoroacetabular estão relacionados com alterações morfológicas do acetábulo no crescimento ósseo ou decorrente de traumas prévios, por exemplo, fraturas com consolidação inadequada (CRESTANI; TELOKEN; GUSMÃO, 2006). Manifestações clínicas Os sintomas comumente aparecem em adultos, em média, na segunda e terceira década de vida. Iniciam com dores do quadril, relacionada com a região inguinal, e ao demostrar a dor, apresenta padrão em “C” (BYRD; JONES, 2004). Figura 26. Sinal do “C”. Fonte: Magee, 2010. Para a prática de atividade física pode haver restrição, e os movimentos mais limitados e provocantes são: flexão, rotação interna e adução de quadril. Podem relatar que após muito tempo na posição sentada a dor piora (CRESTANI; TELOKEN; GUSMÃO, 2006). 29 PATOLOGIAS COMUNS DOS MEMBROS INFERIORES │ UNIDADE II Figura 27. Movimento de flexão de quadril. Fonte: Kapandji, 2001. Figura 28. Movimento de rotação interna de quadril. Fonte: Kapandji, 2001. 30 CAPÍTULO 2 Patologias recorrentes do joelho Patologias comuns do joelho Lesão do Ligamento Cruzado Anterior (LCA) Uma das lesões mais comuns entre os esportistas, principalmente jogadores de futebol, com alta incidência, porém com dados escassos na literatura sobre casos relatados. Comumente, a lesão do LCA é a responsável pelo fim da prática esportiva em muitos esportistas, pelo seu tempo prolongado de recuperação (BRITOS; SOARES; REBELO, 2009). Figura 29. Ligamento cruzado anterior. Fonte: Drake, 2010. Etiologia A lesão do LCA está relacionada com mecanismo de lesão sem contato físico e frequentemente associado com forças de desaceleração.A somatória de uma força em valgo, joelho em leve flexão com rotação da perna com o pé fixo, comumente 31 PATOLOGIAS COMUNS DOS MEMBROS INFERIORES │ UNIDADE II resulta em ruptura do ligamento de forma parcial ou total (FATARELLI, ALMEIDA, NASCIMENTO, 2004). Figura 30. Ruptura do LCA. Fonte: Magee, 2010. Manifestações clínicas Imediatamente no momento da lesão, o paciente pode relatar ter sentido um estalo ou mesmo ouvido um som no momento da torção. Outra manifestação comum nos primeiros minutos é o derrame articular e edemaciamento da região. Os pacientes relatam que não conseguem mais dar continuidade na prática esportiva. O sintoma álgico pode aparecer no momento da torção, porém alguns pacientes podem relatar que no meio da noite, após algumas horas do ocorrido, a dor apareceu de forma significativa. Depois de passado o período de maior quadro inflamatório o paciente pode começar a relatar que o joelho está apresentando falseios. Dependendo do grau da lesão, confirmado pelo exame de ressonância magnética, será determinado o tratamento conservador ou cirúrgico. De qualquer maneira, para tratamento cirúrgico, espera se em média uns 02 meses para sanar o processo inflamatório e ser possível visualizar o grau da lesão. Uma observação importante é que a sintomatologia do paciente irá variar se tiverem ocorrido outras lesões associadas, dependendo do mecanismo da lesão (ANDREWS; HARRELSON, 2005). 32 UNIDADE II │ PATOLOGIAS COMUNS DOS MEMBROS INFERIORES Lesões meniscais Definição As lesões meniscais podem ser definidas como traumáticas geralmente associadas a traumas rotacionais ou em flexão de joelho, ou degenerativas que são associadas a processos cirúrgicos prévios como meniscectomias parciais ou lesões ligamentares prévias (CAMACHO 2009). Figura 31. Meniscos. Fonte: Drake, 2010. Figura 32. Menisco com reparo cirúrgico. Fonte: Drake, 2010. Podemos definir as lesões meniscais traumáticas com relação à conformidade do trauma. São elas: 33 PATOLOGIAS COMUNS DOS MEMBROS INFERIORES │ UNIDADE II Lesão meniscal horizontal Figura 33. Menisco com lesão horizontal. Fonte: Stoller, 2004. Lesão meniscal longitudinal Geralmente está associada com lesão de LCA prévia (STOLLER, 1987). Figura 34. Menisco com lesão longitudinal. Fonte: Stoller, 2004. Lesão meniscal radial Figura 35. Menisco com lesão radial ou transversa. Fonte: Stoller, 2004. Lesão meniscal em “flap” Padrão de lesão meniscal mais comum (STOLLER, 1987). 34 UNIDADE II │ PATOLOGIAS COMUNS DOS MEMBROS INFERIORES Figura 36. Menisco com lesão em Flap. Fonte: Stoller, 2004. Lesão meniscal em alça de balde Figura 37. Menisco com “alça de balde”. Fonte: Magee, 2010. Para as lesões degenerativas é comumente encontrada em indivíduos, em média, na 4a década de vida e pode estar associada à osteoartrose de joelho. Etiologia As lesões meniscais traumáticas são resultantes de forças de cisalhamento (lesão meniscal horizontal), aumento de carga axial (lesão meniscal longitudinal) e cargas rotacionais (lesão meniscal radial). Pode estar associada a mecanismos de entorse de joelho (lesão meniscal em flap) ou decorrente de traumas de grande intensidade, podendo dividir o menisco em duas porções (lesão meniscal em alça de balde) (STOLLER, 1987). Manifestações clínicas O paciente comumente apresenta dor na interlinha articular do joelho à palpação. Pode apresentar sintomas de travamento do joelho principalmente quando relacionado às 35 PATOLOGIAS COMUNS DOS MEMBROS INFERIORES │ UNIDADE II lesões em flap ou alça de balde. Relata sintomas nas atividades de vida diária como descer e subir escadas ou realizar agachamento. Síndrome da Dor Patelofemoral (SDPF) Definição Condição clínica caracteriza por dor retro e/ou peripatelar associada com atividades envolvendo o membro inferior (POWERS, 2010). Até os anos 1960, a dor anterior no joelho era atribuída a uma condição clínica caracterizada como condromalácia patelar. Porém a condromalácia está diretamente relacionada com alterações na cartilagem. O que foi contestado é que as dores anteriores no joelho não estariam relacionadas diretamente com alguma alteração, já que pacientes apresentavam dor anterior no joelho, porém sem qualquer alteração cartilagínea (LESLIE; BENTLEY, 1978). Atualmente usamos a nomenclatura de síndrome da dor patelofemoral, e as manifestações clínicas e tratamento estão relacionadas com alterações biomecânicas encontradas em cada indivíduo. Etiologia O desenvolvimento da SDPF irá variar de acordo com a condição de cada paciente. O que sabemos é que tem maior incidência no sexo feminino e com maior predomínio em indivíduos que praticam alguma atividade física. Estudos sugerem que pode estar relacionado ao desenvolvimento da SDPF, mau alinhamento patelar, retração dos retináculos no joelho, ou retração muscular ou do trato iliotibial, fraqueza de musculatura do quadril, joelho valgo (aumento do ângulo Q), pronação do pé entre outros (POWERS, 2003; SOUZA et al. 2010). 36 UNIDADE II │ PATOLOGIAS COMUNS DOS MEMBROS INFERIORES Figura 38. Alinhamento patelar. Fonte: Roque et al. 2012. Figura 39. Ângulo Q. Fonte: Magee, 2010. Manifestações clínicas Paciente apresenta dor anterior que pode ser exacerbada ao estender o joelho em cadeia cinética aberta além dos 45° ou agachar. Quando há correção do alinhamento patelar, se este for presente, paciente realiza movimento de estender o joelho e a dor é aliviada. Comumente encontramos nestes pacientes, presença de valgo dinâmico, que é quando há aumento do posicionamento valgo do joelho durante alguma atividade, por exemplo, um salto (MAIA et al. 2012). Uma manifestação comum é a diminuição da força da musculatura de quadril como glúteo médio e máximo principalmente que deverá ser avaliada para intervenção durante o tratamento (CABRAL, et al. 2008). 37 PATOLOGIAS COMUNS DOS MEMBROS INFERIORES │ UNIDADE II Figura 40. Correção do alinhamento patelar com taping. Fonte: Dutton, 2010. 38 CAPÍTULO 3 Patologias recorrentes do tornozelo e pé Patologias comuns do tornozelo e pé Entorse de tornozelo A entorse é uma lesão articular abrupta que gera alongamento de estruturas capsuloligamentares e que pode levar a ruptura ou não dos ligamentos do tornozelo. Frequentemente acomete indivíduos que realizam alguma prática esportiva, mas principalmente para aqueles praticantes de futebol, vôlei e basquete. Pode ser classificada em grau 1 (estiramento ligamentar), grau 2 (lesão ligamentar parcial) e grau 3 (lesão ligamentar total) (RODRIGUES; WAISBERG, 2009). O mecanismo mais comum é a entorse em inversão por algumas razões anatômicas, sendo elas: » O maléolo lateral projeta-se mais distalmente do que o maléolo medial, ou seja, a obstrução óssea para eversão é maior do que para inversão. » O ligamento deltoide (compartimento medial) apresenta maior resistência aos movimentos do que os ligamentos laterais. Figura 41. Exemplificação entorse. Fonte: Drake, 2010. 39 PATOLOGIAS COMUNS DOS MEMBROS INFERIORES │ UNIDADE II Figura 42. Mecanismo de entorse em inversão. Fonte: Drake, 2010. Manifestações clínicas Alguns achados no exame físico podem indicar com precisão a condição do paciente, principalmente se o exame for realizado alguns dias após a lesão. Autores relatam que a presença de edema persistente após o episódio de entorse pode indicar algum comprometimento. A dor à palpação no ligamento estirado também pode ser um indicativo de lesão, e quanto mais rápido for o desenvolvimento do edema e aparecimento de hematoma, maior a chance de uma ruptura ligamentar. Para as lesões mais graves, imediatamente após a entorse, o indivíduo relata não conseguir mais colocar o pé no chão e fazer apoio para marcha (ANDREWS; HARRELSON, 2005). Instabilidade Crônica do Tornozelo (ICT) Definição A ICT é uma condição crônica caracterizada por repetitivos episódios de entorse de tornozelo, gerando instabilidade mecânica e funcional.Após um primeiro episódio de 40 UNIDADE II │ PATOLOGIAS COMUNS DOS MEMBROS INFERIORES entorse a recorrência de próximos episódios pode ser de 40% se essa condição não for tratada, podendo evoluir para uma ICT (BICICI; KARATAS; BALTACA, 2012). A causa de instabilidade mecânica pode ser atribuída a fatores que alteram a biomecânica da articulação após as entorses, como uma frouxidão patológica, uma disfunção do movimento artrocinemático, impacto, inflamação sinovial e alterações degenerativas. A instabilidade funcional é atribuída a deficiências específicas na propriocepção, controle neuromuscular, controle postural ou força após a lesão (HERTEL, 2002). Figura 43. Instabilidade crônica do tornozelo. Fonte: Hertel, 2002. Etiologia Como citado anteriormente, o desenvolvimento da ICT está relacionado com um primeiro episódio de entorse de tornozelo. As três maiores contribuições para a estabilidade do tornozelo são: a congruência das superfícies articulares quando estão expostas a descarga de peso, os ligamentos que dão estabilidade estática e as unidades musculotendínias que permitem a estabilização dinâmica da articulação (HERTEL, 2002). Qualquer dano a essas estruturas, pode ser o inicio de um quadro de ICT. 41 PATOLOGIAS COMUNS DOS MEMBROS INFERIORES │ UNIDADE II Estudos relatam que após uma lesão ligamentar ocorre déficit das aferências nervosas articulares localizadas nessas estruturas. Concluíram, também, que é de maior responsabilidade deste feedback aferente, as informações provenientes da pele, músculos, tendões e outros receptores articulares (SOUZA, 2004). Após um primeiro episódio de entorse e dependendo do grau da lesão, faz-se necessário que o indivíduo passe por um tratamento fisioterapêutico para prevenção de novos episódios. Manifestações clínicas Pacientes com ICT relatam apresentar entorses recorrentes, presença de edema articular após esforço físico, redução da prática de atividade física por dor ou sensação de falseios, dificuldade para marcha em terrenos instáveis, aumento de amplitude de movimento para flexão plantar por estiramento dos ligamentos acometidos, crepitação articular e dor à palpação ou à descarga de peso (REFSHAUGE; HILLER, 2012). 42 UNIDADE IIITRAUMATOLOGIA DOS MMII CAPÍTULO 1 Tópicos em traumatologia dos membros inferiores Conceitos básicos sobre osteossíntese Para iniciarmos nosso estudo sobre as fraturas, vamos falar um pouco sobre as osteossínteses. E o que vem a ser osteossíntese? Sabemos que após uma fratura, há um processo de consolidação óssea, certo? A osteossíntese nada mais é do que uma placa, parafuso ou qualquer outro material que ajude na fixação e manutenção da estabilidade óssea local, do segmento fraturado, para assim dar possibilidade da região consolidar-se adequadamente. No nosso dia a dia, encontraremos os seguintes implantes: » placas; » parafusos; » bandas de tensão; » fios de Kirschner; » fixadores externos; » hastes intramedulares. As placas e parafusos, muitas vezes erroneamente chamados de pinos (pino é outra coisa) são largamente conhecidos e utilizados em nosso meio. Veremos em fraturas de fêmur, calcâneo, punho etc. 43 TRAUMATOLOGIA DOS MMII │ UNIDADE III Figura 44. Parafusos. Fonte: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-36162011000200005>. As bandas de tensão são estruturas que foram criadas para transformar forças de tração, de separação em forças de compressão. Facilitam a consolidação óssea. Veremos muito em fraturas de cotovelo e patela. Na coluna não é utilizada normalmente. Figura 45. Bandas de tensão. Fonte: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-78522005000500009>. Os fios de Kirschner são fios de aço utilizados em fraturas simples, pediátricas, e na maioria das vezes para tratamentos rápidos, de algumas semanas. 44 UNIDADE III │ TRAUMATOLOGIA DOS MMII Figura 46. Fios de Kirschner. Fonte: <http://www.scielo.br/pdf/rbort/v46n4/04.pdf>. Os fixadores externos são estruturas criadas para fraturas complexas, cominutivas e expostas. Podem ser divididos em fixadores circulares e lineares. Na verdade são implantes provisórios na maioria das vezes. Você os utiliza para fixar e estabilizar a fratura e preparar o segmento para um implante fixo, como placas e parafusos. Figura 47. Fixadores externos. Fonte: <http://www.ifor.com.br/?p=html/fixadores_externos>. E por fim, as hastes intramedulares são hastes, como o próprio nome diz, utilizadas para fixação de fraturas de tíbia e fêmur, por exemplo. Atualmente é padrão ouro no tratamento destes tipos de fraturas. 45 TRAUMATOLOGIA DOS MMII │ UNIDADE III Figura 48. Hastes intramedulares. Fonte: <https://ortopediasp.wordpress.com/tag/haste-intramedular/>. Ficou curioso para saber mais sobre implantes? Para mais informações, sugerimos a seguinte leitura: SCHATZKER, J.; TILE, M. Tratamento cirúrgico das fraturas. 2. ed. 2002. Para facilitar nosso entendimento, existe uma classificação universal alfanumérica das fraturas, chamada AO. Esta classificação foi criada para facilitar a comunicação entre cirurgiões e profissionais da saúde que lidam com as fraturas, sem a necessidade de memorizar todas as classificações que se utilizam de nomes de pesquisadores. (SCHATZKER, 2002) No nosso caso, como vamos falar de quadril, joelho e tornozelo, nossas fraturas são chamadas pelos seguintes códigos: » Fêmur: 3 » Tíbia/Fíbula: 4 » Pé: 8 Além disso, podemos dividir a fratura em três partes: terço proximal, médio e distal, sendo chamadas pelos números 1, 2 e 3 respectivamente. Portanto, como exemplo, uma fratura do terço médio do fêmur seria uma “3.2”. Entenderam? Agora, vamos falar das principais fraturas do membro inferior, começando pelo quadril. 46 UNIDADE III │ TRAUMATOLOGIA DOS MMII Fraturas do quadril Bem, são inúmeras as fraturas, portanto vamos elencar as principais e as que aparecem frequentemente nos nossos consultórios. Figura 49. Classificação AO. Fonte: Schatzker, 2002. Fratura do colo do fêmur Estes tipos de fraturas proximais possuem uma predominância em pessoas idosas e mais no sexo feminino (HEBERT, 2005). Normalmente, a fragilidade óssea é um dos principais causadores das fraturas proximais e podem estar relacionadas à osteoporose. O grande problema da fratura do colo é as comorbidades, as complicações que podem ocorrer. Por isso, é considerada uma fratura grave. (SCHATZKER, 2002) Obviamente, o RX é o exame de imagem para a detecção da fratura, e recomendam-se duas incidências: a AP e a Perfil (lateral). Interessante notar que esta fratura está diretamente ligada à vascularização desta região. Se houver lesão de vasos locais, a irrigação para a fratura ficará comprometida e pode haver não consolidação do local fraturado. Pela 47 TRAUMATOLOGIA DOS MMII │ UNIDADE III classificação AO é uma fratura classificada como 31-B. Pela classificação normal, utiliza- se a classificação de Garden. » Garden 1= fraturas incompletas ou impactadas. » Garden 2= completas não desviadas. » Garden 3= parcialmente desviada. » Garden 4= totalmente desviada. Melhor prognóstico, obviamente a Garden 1 e 2. Garden 3 e 4 o risco de perda da vascularização é bem maior. (HEBERT, 2005) O tratamento destas fraturas normalmente segue a conduta cirúrgica, pois o tratamento conservador muitas vezes pode não apresentar bons resultados e complicar futuramente. Para as fraturas 1 e 2, pode-se utilizar parafusos canulados, em média 2 ou 3, fazendo uso de técnicas pouco invasiva. Já nas fraturas 3 e 4, recupera-se o alinhamento normal da cabeça femoral com parafusos canulados e placas. Em alguns casos, normalmente após os 65, pode-se fazer uso de artroplastia, evitando-se assim risco de não consolidação e complicações. De acordo com cada caso, opta-se por artroplastias parciais ou totais (LU-YAO, 1994). Figura 50. Fratura do colo femoral. Fonte: Sizinio, 2009. 48 UNIDADE III │ TRAUMATOLOGIA DOS MMIIFigura 51. Parafusos canulados. Fonte: Sizinio 2009. Fraturas transtrocantéricas São fraturas que acontecem entre os trocânteres menor e maior. De localização extracapsular, ocorrem em uma área bastante vascularizada e com bom prognóstico e baixo risco de necrose. (HEBERT, 2005) Segundo Schatzker (2002), pela classificação AO é considerada uma fratura 31-A, sendo: » A1=estáveis. » A2=desviadas e fragmentadas, instáveis. » A3= com traço invertido. Normalmente o tratamento cirúrgico é o mais indicado. Utiliza-se com maior frequência placas mais parafusos, fazendo uso do sistema DHS (Dynamic Hip Screw). Caso a fratura seja muito instável, pode-se utilizar uma placa mais alongada para dar mais estabilidade. 49 TRAUMATOLOGIA DOS MMII │ UNIDADE III Figura 52. Sistema DHS. Fonte: <https://www2.aofoundation.org> Pode-se fazer uso também das hastes bloqueadas. Autores afirmam que este método seria superior ao uso da DHS dependendo do traço da fratura, mas na maioria dos casos não há diferenças clinicamente importantes entre um método e outro (PARKER; HANDOLL, 2005). Figura 53. DHS. Fonte: Sizinio, 2009. 50 CAPÍTULO 2 Traumatologia do joelho Nesta seção, iremos abordar as fraturas correspondentes ao fêmur distal e patela, que são fraturas comuns em nosso meio. Fratura do fêmur distal Embora não seja tão comum no jovem, quando acontece é por trauma de alta energia, como, por exemplo, um acidente automobilístico. Por isso que escolhemos falar dela. Atualmente, lidamos com inúmeros pacientes que sofreram acidentes, e para tanto, precisamos estar preparados para lidar com estas situações. Não há um mecanismo de trauma exclusivo que leva a esta fratura. Além disso, existem três tipos que podem acontecer: » fratura supracondilar; » fratura unicondilar; » supra e intercondilar. Independente dos tipos de fratura listados acima, o paciente apresentará dor, crepitação, às vezes deformidade e incapacidade para permanecer em pé. Figura 54. Fratura distal do fêmur. Fonte: <https://www2.aofoundation.org> 51 TRAUMATOLOGIA DOS MMII │ UNIDADE III O tratamento cirúrgico é o de escolha normalmente, pois o conservador pode não apresentar bons resultados em longo prazo e trazer complicações ao paciente. Radiografias AP mais Perfil são suficientes para detectar uma fratura deste tipo. Segundo a classificação AO, esta fratura é considerada uma 3.3, podendo ser A, B ou C. Figura 55. Classificação AO. Fonte: <https://www2.aofoundation.org> O tratamento para este tipo de fratura segue alguma regras. Se for conservador, pode fazer uso da tração por 6 a 12 semanas no leito, seguida por imobilização gessada até plena recuperação. Outro artifício que pode ser usado é a tala ortopédica, que pode permanecer com o paciente durante três semanas e depois retirada para mobilização. Todas estas possibilidades acima podem ser realizadas, mas trazem prejuízos com facilidade para o paciente, como artrose precoce, perda da redução do segmento, desvios dos fragmentos que não conseguem ser mantidos na posição e consolidação viciosa. Já o tratamento cirúrgico apresenta bons resultados e menores complicações. Mas, segundo Muller et al. (1991) devemos ter mente os seguintes parâmetros: 52 UNIDADE III │ TRAUMATOLOGIA DOS MMII » restabelecer a anatomia articular; » redução, com alinhamento axial, comprimento e correção da rotação local; » fixação estável; » mobilidade precoce. Se possível, operar este paciente em 24 a 48 horas após acidente, a fim de evitar maiores complicações. Normalmente, utiliza-se do sistema DCS (Dynamic Condilar Screw), que consiste em uma placa angulada (95°) e permite melhor compressão da fratura pelo parafuso condilar (HEBERT, 2005). Figura 56. Placa DCS. Fonte: Sizinio, 2009. Como alternativa, pode-se fazer uso de uma haste do tipo DFN (Distal Femoral Nail), constituída de parafusos para fixação e uma haste bloqueada que perpassa a medula do osso. 53 TRAUMATOLOGIA DOS MMII │ UNIDADE III Figura 57. Haste DFN. Paciente portador de fratura do colo e diálise femoral tratado com DFN e parafuso canulados. a) Radiografia pré-operatória; b e c) Radiografias no pós-operatório imediato em AP e perfil; d e e) 1 ano e 2 meses de pós-operatório, radiografias em AP e perfil; Fonte: Sizinio, 2009. Neste tipo de fratura devemos iniciar nossa reabilitação o mais rápido possível, ainda no leito com movimentação precoce. Fratura de patela Os mecanismos de fratura deste osso, que é o maior osso sesamoide do nosso corpo, pode ser dividido em duas partes: trauma direto ou tração violenta do aparelho extensor. De ocorrência entre os 20 a 50 anos de idade, podem também ser divididas em quatro tipos de traços de fratura: » transversas; » longitudinais; » cominutivas; » osteocondrais. O paciente apresentará dor, edema, incapacidade funcional e impossibilidade para flexionar e estender o joelho. Orienta-se RX em incidências AP mais Perfil, e se necessitar, tomografia computadorizada ou ressonância magnética. Opta-se pelo tratamento conservador quando o desvio não ultrapassar 4 mm e função adequada do aparelho extensor. Caso contrário, opta-se pela cirurgia. E qual é o tratamento cirúrgico? 54 UNIDADE III │ TRAUMATOLOGIA DOS MMII Normalmente, faz-se cerclagem, também conhecida como banda de tensão. Utiliza-se fios de Kirschner para esta amarração, que transforma as forças de tração em forças de compressão, permitindo bom alinhamento, mobilidade precoce e diminuição da possibilidade de desvios do fragmento fraturado, quando comparado à fixação por parafusos no foco de fratura. Em casos mais graves, com cominuição importante, pode-se realizar a patelectomia parcial ou total, que é a retirada de parte ou a totalidade da patela. O grande problema disso é a perda da vantagem mecânica que a patela promove para o funcionamento do aparelho extensor (SCHATZKER, 2002). Importantíssimo, fisioterapeuta! A mobilidade precoce é de suma importância para estes pacientes! Lembre- se que a patela está fixa! Portanto, a mobilidade patelar, com ganhos de flexoextensão progressivamente e na tolerância do seu paciente só beneficiará o mesmo! Nada de perder tempo! Figura 58. Banda de tensão em patela. Fonte: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-78522005000500009>. 55 TRAUMATOLOGIA DOS MMII │ UNIDADE III Figura 59. Patelectomia total. Fonte: Sizinio, 2009. 56 CAPÍTULO 3 Traumatologia do pé e tornozelo Vamos falar agora sobre algumas fraturas que acometem esta porção do nosso corpo, tão importante para a marcha. Fratura do pilão tibial Podemos entender fratura de pilão tibial como aquelas que afetam a metáfise distal e epífise da tíbia, além de fratura associada da fíbula. Embora sejam menos frequentes, quando acontecem são graves. Por isso, nossa escolha em mostrá-la para você, caro leitor. Exames como raio X em incidência AP mais Perfil podem evidenciar a fratura, mas em alguns casos necessita-se de tomografia computadorizada. Normalmente, este tipo de fratura acontece por acidentes, quedas de altura, e às vezes explosão do chão e do piso onde o paciente se encontra. Outro grande problema desta fratura, é que como normalmente afeta a articulação, pode afetar também a cartilagem articular, deixando sequelas, como a osteoartrose, além de rigidez articular (HEBERT, 2005). Usamos como classificação a preconizada pela AO, sendo fraturas distais da tíbia (3), com código B e C (SCHATZKER, 2002). » Fratura B: há destacamento da epífise distal da tíbia, mas outra parte da superfície articular em relação normal com a metáfise ou diáfise. » Fratura C: fratura com traços intra-articulares, separados da metáfise ou diáfise tibial. 57 TRAUMATOLOGIA DOS MMII │ UNIDADE III Figura 60. Classificação AO. Fonte: <https://www2.aofoundation.org> Pode-se optar por tratamento conservador (incruento), com bota gessada de 4 a 6 semanas, seguida de descarga de peso precocee mobilização. No tratamento cirúrgico, opta-se por placa e parafuso, com redução anatômica, e se houver necessidade, enxerto ósseo. Em casos graves, pode-se realizar a artrodese, que é a fusão articular. Este tipo de cirurgia traz grandes complicações ao paciente, em virtude da perda da ADM (amplitude de movimento) e compensações musculares e articulares (HEBERT, 2005). De uma forma geral, é uma fratura com um prognóstico não tão bom, visto que há facilidade de complicações, como rigidez articular por exemplo. Outras que podemos destacar são as necroses de pele, infecção e necrose óssea. Portanto, o cirurgião deve realizar um bom planejamento do tratamento, e no pós-operatório, o fisioterapeuta deve não medir esforços para cuidar adequadamente deste paciente, pois perda de tempo ou não saber o que fazer, pode prejudicar e muito a reabilitação deste indivíduo (DUTTON, 2007). 58 UNIDADE III │ TRAUMATOLOGIA DOS MMII Figura 61. Tratamento cirúrgico de fratura do pilão tibial com artrodese. Fonte: Sizinio, 2009. Fratura de calcâneo Segundo Hebert (2005), o calcâneo é o osso mais frequentemente fraturado. E para piorar, as fraturas são normalmente intra-articulares, o que dificulta sua recuperação podendo trazer muitas vezes incapacidade para o paciente. Ocorrem por mecanismo de tração, carga axial, como por exemplo, queda de altura. Como incidências para a correta detecção do foco d fratura recomenda-se a lateral, AP, axial posterior e oblíquas. Existem diversas classificações para as fraturas do calcâneo, e a mais utilizada é a de Sanders e Gregory (1995): » Tipo 1: sem desvio articular. » Tipo 2: fraturas em duas partes da faceta posterior. » Tipo 3: três partes, com fragmento central afundado. » Tipo 4: fraturas muito cominutivas. 59 TRAUMATOLOGIA DOS MMII │ UNIDADE III Figura 62. Classificação das fraturas do calcâneo. Fonte: Schatzker, 2002. O tratamento é ainda controverso, pois existem múltiplos protocolos de tratamento (SCHATZKER, 2002). Se for extra-articular, pode-se optar por tratamento conservador com gesso por quatro semanas. Havendo desvio maior que 1 cm, opta-se pelo tratamento cirúrgico, com redução aberta e fixação interna com parafuso. Utiliza-se bota (robotfoot) no pós- operatório por 4 a 6 semanas. Agora, se for uma fratura articular, a situação se complica um pouco mais. Opta-se por tratamento cirúrgico, mas se utilizarmos de placa e parafuso, a descarga de peso deve ser retardada. O ideal ainda é a utilização de parafusos canulados, com apoio permitido entre 10 e 12 semanas (DUTTON, 2010). Como é uma fratura complexa, o fisioterapeuta deve estar em contato com o cirurgião, a fim de decidirem conjuntamente as questões da descarga de peso precoce ou não, e progressões no tratamento (MACNICOL, 2002). 60 UNIDADE III │ TRAUMATOLOGIA DOS MMII Figura 63. Fratura de calcâneo com placa. Fonte: Dutton, 2010. 61 CAPÍTULO 4 Tópicos em artroplastias Artroplastias Artroplastias do quadril Tentar promover uma melhor conformação articular e aliviar a dor do paciente utilizando-se de próteses para o quadril datam por volta de 1800, mas sem materiais adequados e que surtiam um bom efeito. Mas foi só a partir da década de 1950 que as próteses começaram a tomar a forma que conhecemos hoje, pelos trabalhos de Sir John Charnley, que combinou material plástico e metal. As próteses basicamente podem ser de metal e plástico ou cerâmica. Utiliza-se também cimento para diminuir o estresse do material das próteses e diminuir a pressão por unidade de área. Mas não vá pensando que é o cimento usado nas construções! Este cimento ósseo chama-se metilmetacrilato. Há a possibilidade também de utilizamos a prótese sem o cimento, apenas com travamento por pressão ou crescimento ósseo interno, que “segura” o implante no local desejado. Esta prótese normalmente apresenta porosidades que facilitam a aderência e o crescimento ósseo local. A cabeça femoral pode apresentar os seguintes tamanhos: 22, 26, 28 ou 32 mm. Já o comprimento do colo femoral varia de 30 a 40 mm e a distância da cabeça à haste femoral pode variar entre 38-45 mm. Haste femoral normalmente possui um comprimento vertical de 12 a 18 cm (HEBERT, 2005). As próteses também podem ser totais ou parciais. No total, tanto o fêmur quanto o acetábulo são substituídos pelos materiais. Já na parcial, normalmente faz-se uso da prótese femoral apenas e mantém-se o acetábulo (DUTTON, 2010). Tanto a cimentada quanto prótese não cimentada do quadril possui pontos positivos e negativos. Cabe ao cirurgião e à sua equipe decidirem qual o melhor método seguir de acordo com as características individuais do paciente e suas necessidades. 62 UNIDADE III │ TRAUMATOLOGIA DOS MMII Figura 64. Prótese total quadril. Fonte: Sizinio, 2009. Artroplastias do joelho As artroplastias do joelho têm se mostrado com demanda considerável nas últimas décadas, e cada vez se faz mais presente nas clínicas de fisioterapia. É indicada em fraturas graves ou nas artroses do joelho. Utiliza-se de material plástico (polietileno) e metal. Indicada para pacientes acima dos 60 anos, mas em alguns casos pode-se fazer antes. Faz-se uma ressecção da porção proximal do fêmur e substitui-se por peça metálica. Na tíbia fixa-se o material plástico para articular-se com a parte metálica do fêmur. Embora surjam complicações em alguns pacientes como infecção e soltura do material, se a cirurgia tiver sido bem realizada, sem intercorrências, a reabilitação corre positivamente, com recuperação da flexoextensão em pouco tempo. Mas lembre-se: não tentar recuperar a flexão total de seu paciente com prótese de joelho acima dos 100°. Normalmente as próteses não permitem movimentação acima desta angulação. A deambulação, tanto nas próteses de quadril quanto nas de joelho podem começar já no hospital, com andador ou muletas, no 2o ou 3o dia de PO. 63 TRAUMATOLOGIA DOS MMII │ UNIDADE III Figura 65. Artroplastia total de joelho. Fonte: Sizinio, 2009. Figura 66. Prótese total de joelho em RX. Fonte: Sizinio, 2009. 64 UNIDADE IV AVALIAÇÃO E REABILITAÇÃO DOS MEMBROS INFERIORES CAPÍTULO 1 Tópicos em avaliação dos membros inferiores Avaliação do quadril Toda avaliação começa com a inspeção. Procure perceber marcas na pele, cicatrizes, edemas (o que não é muito comum nesta região), hematomas etc. Avalie os movimentos ativos e passivos e perceba se há restrição ou dor durante os movimentos. Dor também durante os movimentos passivos pode sugerir disfunções em tecidos como ligamentos, cápsula. Dor aos movimentos ativos e não nos passivos pode sugerir disfunção muscular ou tendínea. Vamos a seguir mostrar os principais testes para a avaliação do quadril. Teste do comprimento real e aparente Paciente em decúbito dorsal. Com uma fita métrica, meça da EIAS até o maléolo medial (comprimento aparente). Logo em seguida, meça da cicatriz umbilical até o maléolo medial (comprimento real). 65 AVALIAÇÃO E REABILITAÇÃO DOS MEMBROS INFERIORES│ UNIDADE IV Figura 67. Comprimento real e aparente. Fonte: Magee, 2010. Teste de Nelaton-Galeazzi Avalia o comprimento do fêmur e tíbia na criança. Inspecione a criança de frente e de perfil e note se há alguma alteração de comprimento em fêmur ou tíbia (MAGEE, 2010). Figura 68. Sinal de Nelaton-Galeazzi. Fonte: Magee, 2010. Teste de Trendelenburg Pede-se ao paciente que permaneça em pé sobre uma perna apenas. Queda da pelve para o lado contralateral à perna suspensa denota fraqueza do glúteo médio e é um sinal de Trendelenburg positivo (CIPRIANO, 2002). 66 UNIDADE III │ TRAUMATOLOGIA DOS MMII Figura 69. Teste de Trendelemburg. Fonte: Magee, 2010. Teste de Thomas Avalia o comprimento dos flexores do quadril. Paciente permanece em decúbito dorsal, com os joelhos para fora da maca. O terapeuta então flexiona o quadril da perna testada e avalia se há levantamento do membro inferior contralateral da maca. Caso haja, é um sinal positivopara encurtamento adaptativo de flexores de quadril, mais pronunciadamente de Iliopsoas. Caso o joelho estenda, sugere- se encurtamento de reto femoral. Se o joelho flexionar-se, encurtamento associado de sartório (KENDALL, 2000). Figura 70. Teste de Thomas. Fonte: Kendall, 2000. 67 CAPÍTULO 2 Tópicos em avaliação do joelho Avaliação do joelho Vamos falar agora sobre os principais pontos da avaliação do joelho. Embora tenhamos que mostrar os testes especiais de joelho, não se pode esquecer jamais que o quadril tem papel importante na gênese de muitas patologias do joelho. A insuficiência da musculatura do quadril pode levar muitas vezes a disfunções de movimento e sobrecarga à articulação do joelho. Retomaremos este tópico quando falarmos sobre tratamento. Incialmente avalie os movimentos ativos e passivos, procurando por instabilidades, restrições de ADM e dor. Inspecione também se há marcas, cicatrizes, edemas, hematomas e hipotrofias/atrofias musculares, principalmente no quadríceps. Vamos agora aos testes especiais. Teste da gaveta anterior Avalia a integridade do ligamento cruzado anterior, responsável por impedir a translação anterior da tíbia sobre o fêmur. Posicione o paciente em decúbito dorsal, joelhos flexionados a 90°. Segure firmemente a tíbia do joelho que queira avaliar, sente-se sobre o pé do paciente e tracione para frente o planalto tibial. Note se há jogo articular maior em comparação ao lado contralateral, ou seja, se a tíbia se desloca anteriormente em comparação ao joelho oposto. (CIPRIANO, 2005) 68 UNIDADE IV │ AVALIAÇÃO E REABILITAÇÃO DOS MEMBROS INFERIORES Figura 71. Teste da gaveta anterior. Fonte: Magee, 2010. Teste da gaveta posterior O teste de gaveta posterior avalia a integridade do Ligamento Cruzado Posterior (LCP). Realiza-se da mesma forma que o teste anterior, porém ao invés de tracionar a tíbia para sua frente, empurre-a para trás, procurando por instabilidade e movimento acima do normal em comparação ao joelho oposto. (CIPRIANO, 2005) Figura 72. Teste da gaveta posterior. Fonte: Magee, 2010. Teste do estresse em varo O teste do estresse em varo avalia a integridade do ligamento colateral lateral. Posicione o paciente em decúbito dorsal, com joelhos e quadris estendidos. Segure o joelho da perna que queira avaliar e faça uma força na porção média da tíbia, fixando o 69 AVALIAÇÃO E REABILITAÇÃO DOS MEMBROS INFERIORES│ UNIDADE IV fêmur na região distal (MAGEE, 2010). Esta força deve ser em direção à linha média, como mostra a figura a seguir. Figura 73. Teste do estresse em varo. Fonte: Magee, 2010. Teste do estresse em valgo Teste que avalia a integridade do ligamento colateral medial. Faz-se da mesma forma que o teste anterior, porém aplica-se uma força na tíbia para longe da linha média, como se quisesse “abrir” o compartimento medial do joelho. Figura 74. Teste do estresse em valgo. Fonte: Magee, 2010. Teste de McMurray Avalia a integridade dos meniscos medial e lateral. 70 UNIDADE IV │ AVALIAÇÃO E REABILITAÇÃO DOS MEMBROS INFERIORES Posicione o paciente em decúbito dorsal, com o joelho flexionado que queira avaliar. Então, flexione o quadril e joelho, levantando-os da maca, e faça um movimento de compressão e rotação para lateral e medial do joelho. Dor nestes movimentos sugere-se lesão meniscal. Rodando joelho medialmente, expõe-se mais facilmente o menisco medial. Aproveite para palpá-lo. Caso haja dor, sugere-se lesão do menisco medial. Rodando para lateral, expõe-se o menisco lateral. Fazendo o mesmo procedimento, veja se o paciente refere dor. (MAGEE, 2010) Figura 75. Teste de McMurray. Fonte: <www.medscape.com>. Teste de compressão e raspagem Este teste avalia comprometimento da articulação femoropatelar. Pede-se ao paciente para deitar-se em decúbito dorsal, com quadris e joelhos estendidos. Faz-se então uma compressão por sobre a patela avaliada e ao mesmo tempo atrita-se contra a tróclea. Dor neste procedimento indica disfunção e/ou lesão da femoropatelar (MAGEE, 2010) 71 AVALIAÇÃO E REABILITAÇÃO DOS MEMBROS INFERIORES│ UNIDADE IV Figura 76. Teste de compressão e raspagem. Fonte: Magee, 2010. 72 CAPÍTULO 3 Tópicos em avaliação do tornozelo Avaliação do tornozelo Bem, finalmente vamos falar sobre a avaliação do tornozelo. Como sempre, avalie os movimentos ativos e passivos: dorsiflexão, flexão plantar, eversão e inversão, e procure por dor, restrição e instabilidades. Como testes especiais do tornozelo, listamos os principais a seguir. Teste da gaveta anterior Avalia a integridade do ligamento talofibular anterior. Assim como na gaveta anterior do joelho, fixa-se o pé do paciente, mas aqui se puxa o tálus e calcâneo para frente. Com a outra mão, desloca-se posteriormente a tíbia. Movimentos anormais, com ADM aumentada em comparação ao pé oposto, sugere-se lesão do ligamento (HOPPENFELD, 2002) Figura 77. Gaveta anterior do tornozelo. Fonte: Magee, 2010. Teste da gaveta posterior Avalia a integridade do ligamento talofibular posterior. Exatamente como na manobra anterior, mas desta vez empurre a tíbia para frente, e o calcâneo e tálus para trás. Sinal de Homans Avalia possível Tromboflebite da extremidade inferior (CIPRIANO, 2005). 73 Figura 78. Sinal de Homans. Fonte: Cipriano, 2005. Teste de Thompson Avalia integridade do tendão calcâneo. Pede-se ao paciente para ficar em decúbito ventral, e o examinador flexiona o joelho da perna testada. Aplica-se então uma compressão intermitente na panturrilha do paciente. O reflexo característico normal é flexão plantar. Caso isso não ocorra, sugere- se ruptura parcial ou total do tendão calcâneo (HOPPENFELD, 2002) Figura 79. Teste de Thompson. Fonte: Hoppenfeld, 2002. 74 CAPÍTULO 4 Reabilitação do quadril Reabilitação das patologias dos MMII (Membros inferiores) Bem, leitor, finalmente, chegamos à seção sobre o tratamento. Atualmente, tratar patologias do membro inferior não se tem resumido apenas àquela articulação em questão, ou seja, se seu paciente apresenta dor e disfunção no joelho, não necessariamente o problema dele é primariamente no joelho! O quadril pode influenciar e muito no aparecimento da dor, por exemplo. Portanto, a fisioterapia traumato-ortopédica tem evoluído muito nos últimos anos, e se o fisioterapeuta não acompanhar esta evolução, se tornará obsoleto em sua avaliação, diagnóstico e tratamento. Para darmos início à nossa discussão sobre tratamento, vamos começar pelas patologias do quadril. Osteoartrite de quadril Se tratada de modo conservador, devemos nos atentar para que nem todas as condições osteoartríticas irão responder ao tratamento fisioterapêutico, sendo encaminhadas para a artroplastia de quadril. De um modo geral, o quadril destes pacientes normalmente está sofrendo sobrecarga por diminuição de força muscular. Se é causa ou consequência, não sabemos ainda. O que sabemos é que se há fraqueza da musculatura estabilizadora do quadril, como glúteo médio, glúteo máximo e piriforme, possivelmente estes pacientes irão desenvolver mais dor, e consequentemente, mais sobrecarga na articulação, levando assim a um círculo vicioso. Nós devemos tentar quebrar este ciclo, iniciando com programas de fortalecimento e controle motor para esta musculatura. Portanto, baseado na literatura vigente, devemos nos nortear da seguinte forma no tratamento da osteoratrite de quadril: 75 AVALIAÇÃO E REABILITAÇÃO DOS MEMBROS INFERIORES│ UNIDADE IV » Mobilizações articulares, segundo Maitland e Mulligan, para diminuir o quadro álgico e buscar recuperar o movimento artrocinemático da articulação. » Assim que possível, iniciar com um programa de fortalecimento de abdutores e rotadores laterais do quadril. Inicialmente, sem carga, para adquirir controle motor, e depois naturalmente, progredindo na repetição e carga conforme tolerância do paciente. » Treino de equilíbrio em pranchas instáveis e outras formas de desequilíbrios Caso o pacientenão responda ao tratamento conservador, ele será encaminhado para a cirurgia. E o que devemos então fazer neste tipo de paciente no PO? PO 1 a 3 dias » Paciente no leito: estará com espaçador abdutor entre as pernas. Fisioterapeuta deverá mobilizar tornozelos, joelhos e quadril passivamente. No PO2, paciente deve ser estimulado a sentar em poltrona. No PO3, deve ser estimulado a ficar em pé e andar com andador pelo corredor do hospital. Sim! Ele já pode andar! PO 4 » Paciente possivelmente já de alta. » Inicie com exercícios de baixa carga para fortalecimento dos quadris. A partir daqui, avance semana a semana no treino de fortalecimento do seu paciente, buscando enfatizar o treino de glúteos e marcha. A bengala pode ser utilizada a partir do 30o dia de PO. Até esta data, procure ser cuidadoso nos movimentos de flexão, rotação medial e adução, pois são movimentos que podem levar à luxação da prótese. Recomende isso ao seu paciente também! Fraturas do quadril Mas o leitor pode estar se perguntando: e as fraturas? São difíceis de reabilitar? 76 UNIDADE IV │ AVALIAÇÃO E REABILITAÇÃO DOS MEMBROS INFERIORES É claro que não podemos generalizar, mas na maioria dos casos, se o paciente realizou cirurgia com um profissional experiente e não houve nenhuma intercorrência, a reabilitação caminha bem mais tranquila. Vamos dar um exemplo de fratura bem comum em nosso meio e que foi citada nos capítulos anteriores: a fratura de colo femoral. Para vocês terem uma ideia, neste tipo de fratura, o paciente pode deambular a partir do 2o dia de PO! Por isso, não precisa ter medo de reabilitar um paciente com fratura de quadril. A fratura se bem fixada, não dá a possibilidade de soltura do material. Você deve apenas sempre manter contato com o cirurgião, a fim de decidirem o melhor caminho para cada paciente. Só haverá soltura do material caso haja infecção, trauma novamente, ou o paciente não siga as recomendações do fisioterapeuta. PO1 a 3 dias » Com o paciente no leito ainda, mobilize passivamente tornozelos, joelhos e quadris, se possível. Não há contra indicações para a mobilização. Apenas se o cirurgião lhe indicar. » No PO2, ponha o paciente sentado e inicie com exercícios para o quadríceps com carga manual, de acordo com a tolerância do paciente. » No PO3, ponha o paciente em pé, ensinando-o a deambular com a ajuda do andador pelo corredor do hospital. » Já de alta, continue com o andador até por volta do PO30. Até lá, intensifique as mobilizações, caso haja ainda restrição de ADM. Atenção: não pode haver restrição de movimento com 30 dias de PO! » O treino de fortalecimento dos glúteos aqui também é muito importante. São eles que darão estabilidade para seu paciente voltar a deambular naturalmente. Vá conforme tolerância do paciente subindo a carga e as repetições. Inicie em decúbito dorsal, fazendo abdução horizontal já no PO7-8, ativo assistido. A partir do momento que o paciente consiga deixar em decúbito lateral, pode-se iniciar com abdução nesta posição. » Não esqueça também de fortalecer o quadríceps e gastrocnêmios. O quadríceps já pode começar ainda no leito, no PO2-3. Os gastrocnêmios podem começar com apoio bipodal por volta da 3a semana. 77 AVALIAÇÃO E REABILITAÇÃO DOS MEMBROS INFERIORES│ UNIDADE IV Cada paciente evoluirá de uma forma, mas de um modo geral, nas artroplastias o indivíduo estará apto as suas atividades normais dentro de 4 meses. Nas fraturas tratadas cirurgicamente, dentro de 6 meses. Estamos falando de andador, pois são fraturas que normalmente acometem o idoso. Caso seja jovem, pode-se já iniciar com marcha com muletas axilares bilateral. Inicialmente, o paciente solta apenas 15% do peso corporal sobre o membro fraturado, e gradativamente, vai dando mais carga para o fêmur. Leva-se em consideração um tempo médio de 10 a 12 semanas para a fratura estar consolidada. O andador ou muleta deve ser usado até o tempo de consolidação, retirando a cargo do fisioterapeuta e médico em comum acordo. Figura 80. Exercício avançado de glúteo médio em decúbito lateral. Fonte: Kisner, 2016. Figura 81. Exercício para glúteo máximo (fase avançada). Fonte: Kisner, 2016. 78 UNIDADE IV │ AVALIAÇÃO E REABILITAÇÃO DOS MEMBROS INFERIORES Figura 82. Exercício para glúteo máximo (fase inicial). Fonte: Kisner, 2016. Caro leitor, existe um questionário usado para avaliar a incapacidade relacionada ao procedimento de artroplastia do quadril, já adaptado e validado para nossa língua. Chama-se HARRIS HIP SCORE. Caso você se depare com um paciente pós-artroplastia de quadril e identifique a necessidade de avaliar e quantificar sua incapacidade, ou até mesmo como medida de comparação pré e pós-tratamento, esse é um bom questionário para isso. (GUIMARÃES et al., 2010). 79 CAPÍTULO 5 Reabilitação do joelho Reabilitação das patologias do joelho Vamos falar agora um pouco sobre a reabilitação das patologias do joelho, sendo no tratamento conservador ou cirúrgico. Elegemos as patologias mais do nosso dia a dia, que são as lesões de LCA e menisco. Vamos começar por essas lesões, e depois falamos sobre o tratamento fisioterapêutico no pós- operatório de fraturas do joelho. Lesões de LCA Segundo Hebert (2005) a reabilitação pós-cirurgia do LCA deve levar em conta o tipo de enxerto, seu posicionamento e todo o processo de maturação. Existem diversos protocolos para reabilitação do LCA, e aqui vamos fazer um apanhado do que há na literatura atual para pós-operatório e oferecer a você, leitor, um protocolo para seguir e obviamente adicionar a sua expertise. Vamos dividir por fases para facilitar a compreensão. Fase 1: da semana 4 até a semana 12 » Mobilização do paciente no leito, mesmo com dreno. » Exercícios de bombeamento do tornozelo, » Mobilizações patelares, Já na clínica: » Uso de eletroestimulação em quadríceps, com isometria. » Mobilizações patelares. » Estímulo à deambulação com muletas axilares. » Estímulo ao ganho de ADM de flexão e extensão, na tolerância do paciente. Não é necessário forçar! » Fortalecimento de toda a cadeia do quadril e gastrocnemios. 80 UNIDADE IV │ AVALIAÇÃO E REABILITAÇÃO DOS MEMBROS INFERIORES A partir do momento que a dor começa a ceder, libera-se exercícios isotônicos para quadríceps, respeitando o ângulo de 90-45° em CCA e 0-45° em CCF, pois são angulações de proteção patelar e do ligamento cruzado anterior. Não respeitar esta angulação até a alta, corre-se o risco de lesão femoropatelar e forçar a tensão ligamentar. (HOPPENFELD, 2005) Não realizar elevação com a perna estendida se o paciente apresentar sinal de lag, que é a semiflexão do joelho. Denota insuficiência de quadríceps além de problemas com o enxerto. Assim que possível, liberar o paciente para exercícios em CCF, pois se leva o mesmo a atividades mais funcionais quando comparado a exercícios de CCA. (DUTTON, 2010) Fase 2: da semana 13 a semana 20 Manter, de forma progressiva, os avanços nos exercícios do paciente, tanto em CCA quanto CCF, subindo carga e repetições. Pode-se iniciar antes, mas na fase 2 é obrigatório o paciente estar já realizando exercícios proprioceptivos, para reeducação sensório-motora. Pode-se também levar o paciente para pequenas corridas, na esteira, por exemplo, se estiver sem dor ou quadro inflamatório. Iniciar gesto esportivo, por exemplo se for jogador de futebol, pode-se começar com treino com bola. Fase 3: da semana 21 a semana 24 Continuar os avanços e dificuldades nos exercícios propostos. Nesta fase o paciente não deve apresentar de forma alguma dor, derrame articular ou limitação de ADM. Caso um destes fatores esteja presente, deve-se investigar minuciosamente o que está de errado nas condutas tomadas. A muleta axilar só deve ser usada até no máximo 15 dias pós-cirurgia. Não há necessidade de mais tempo. 81 AVALIAÇÃO E REABILITAÇÃO DOS MEMBROS INFERIORES│ UNIDADE IV Convém lembrar que os exercícios para os glúteossão de extrema importância na reabilitação de quaisquer patologias do joelho, seja conservador ou cirúrgico. Os exercícios propostos acima para o quadril podem e devem ser usados para a reabilitação do joelho. Lesão meniscal As lesões meniscais são um problema desafiador muitas vezes para o fisioterapeuta, pois dependendo do sítio da lesão (mas localizado no corpo do menisco) o tratamento conservador pode se tornar inviável. (HEBERT, 2005) Felizmente, com o avanço das técnicas fisioterapêuticas calcadas na biomecânica e cinesiologia, a reabilitação tem-se mostrado muito eficaz nestes casos. Em lesões com fissuras no aspecto mais externo dos meniscos, o fisioterapeuta tem grandes chances de recuperar seu paciente, por meio, mais uma vez, da estabilização da região por meio do quadril. E é esta lesão que vamos discutir. Se seu paciente se apresenta com lesão meniscal já diagnosticada por exames de imagem e clínico, no caso uma lesão meniscal medial, o seu raciocínio clínico deve ser o seguinte: » controle analgésico e anti-inflamatório por meio de recursos eletrotermofototerapêuticos; » exercícios para fortalecimento de glúteo máximo, médio e piriforme, pois ajudarão na estabilização do complexo do joelho e diminuirão a sobrecarga sobre a articulação femorotibial; » exercício para adutores, com carga leve. Os adutores ajudam a estabilizar o compartimento medial da articulação do joelho. Cuidado com carga e repetições. Ao menor sinal de dor, interrompa. Quando possível, retorne. Este exemplo apresentado acima reflete não “uma receita de bolo” mas sim um direcionamento para você. Ao treinarmos o complexo póstero-lateral do quadril, estamos diminuindo a sobrecarga sobre o joelho e neutralizando as forças que agem sobre ele, evitando assim rotações excessivas. Já o adutor auxilia na manutenção da estabilidade do compartimento medial, evitando sobrecarga local. Com isso, diminui-se o cisalhamento local. Mas e as meniscectomias? A retirada parcial do menisco não traz grandes dificuldades para o fisioterapeuta. Em média, a reabilitação dura 6 semanas, e o paciente não tem 82 UNIDADE IV │ AVALIAÇÃO E REABILITAÇÃO DOS MEMBROS INFERIORES a necessidade de utilizar muletas. Só usar para conforto. Gradativamente, inicie com exercícios para os quadris e avance com exercícios em CCF, respeitando a dor do paciente. A ADM deve ser completa já na primeira semana! Fraturas de patela As fraturas da patela correspondem a mais ou menos 1% de todas as fraturas. Embora seja um número pequeno, são fraturas que muitas vezes o fisioterapeuta não sabe como agir no pós-operatório. Pois bem, estamos aqui para ajudar. » Com o paciente ainda no leito, pode-se mobilizar a patela. O implante está fixo e não se soltará. Vá de acordo com a tolerância do paciente. » Mobilize quadris e tornozelos. » Exercícios de bombeamento dos tornozelos são importantes nesta fase. Com o paciente em sua clínica: » Inicie com descarga de peso proprioceptiva, com muletas axilares, descarregando apenas 15% do peso corporal na perna afetada. » exercícios de fortalecimento para o quadríceps já podem começar a partir do PO6-7. Faça isometria caso o paciente não consiga realizar isotonia. Todo movimento ativo ou ativo-assistido é positivo para articulação! Portanto, não tenha receio de mobilizar! Mas você pode me perguntar: e a flexão? Posso incentivar a flexão? Não corro o risco do implante se soltar? Você pode ir trabalhando a flexão. Se em 12 semanas seu paciente não atingir mais de 90°, será necessário rever sua conduta ou retirar o material de síntese. Até as 12 semanas, a flexão deve ser melhorada pouco a pouco. Mas normalmente antes, o paciente já consegue flexão total sem dor. (SCHATZKER, 2002). 83 AVALIAÇÃO E REABILITAÇÃO DOS MEMBROS INFERIORES│ UNIDADE IV Na verdade, neste tipo de fratura, a flexão transforma as forças de tração em forças de compressão. Por isso, a consolidação da fratura será estimulada. Fraturas de fêmur distal As fraturas de fêmur distal afetam significativamente a articulação do joelho. Portanto aqui vão algumas dicas para sua reabilitação. » Muletas axilares devem ser utilizadas até cerca de 10 semanas, retirando de acordo com comunicação direta com o cirurgião. » Já no leito, mobilizações de patela, tornozelos e quadris. Não tenha medo de mobilizar passivamente a femorotibial. Está fixado e não irá soltar. » No PO2-3, estimule o treino de marcha com muletas no corredor do hospital, deixando apenas 15% do peso corpóreo no membro afetado. Na clínica: » Fortalecimento de quadris é liberado, subindo carga e repetição conforme tolerado. » Fortalecimento de quadríceps em CCA respeitando a angulação de proteção (90-45°) de acordo com a tolerância do paciente. Pode-se iniciar a partir da primeira semana. » CCF a partir da 4a semana. » Mobilizações em joelho e movimentos ativos para ganho de flexoextensão são estimulados, dentro e fora da clínica, em ambiente domiciliar. » Um dos exercícios mais interessantes que existem para ganho de flexoextensão de joelho, e que pode ser feito já nos primeiros dias de PO é o wall slide. Deslize o membro afetado do paciente até a ADM suportada, e então com a outra perna, auxilie na extensão. A perna contralateral serve como apoio em todos os momentos. Veja a figura a seguir. 84 UNIDADE IV │ AVALIAÇÃO E REABILITAÇÃO DOS MEMBROS INFERIORES Figura 83. Exercício wall slide para ganho de flexoextensão do joelho. Fonte: Kisner, 2016. Leitor, se sentir a necessidade de avaliar a incapacidade relacionada a lesões traumáticas no joelho, o questionário LYSHOLM é indicado (PECCIN; CICONELLI; COHEN, 2006). 85 CAPÍTULO 6 Reabilitação do tornozelo Reabilitação das patologias do tornozelo Entorse de tornozelo O entorse de tornozelo, ou torsão de tornozelo pode acometer vários ligamentos, mas o mais conhecido é o entorse em inversão. Neste tipo de entorse, o ligamento mais comumente lesionado é o talofibular anterior (DUTTON, 2007). Este tipo de lesão normalmente é tratado conservadoramente. Inicia-se com o acrônimo em inglês RICE: repouso, gelo, compressão e elevação. Embora genérica esta recomendação, ainda hoje se faz uso dela. Não há necessidade de proteção, apenas repouso relativo do membro (em graus II e III pode-se usar uma bota chamada de robotfoot) por 3-4 semanas. O gelo é importante nas primeiras 72 horas. Mais tempo do que isso, o gelo perde seu valor terapêutico como controle da inflamação. A compressão com faixa elástica ou atadura serve para ajudarmos na drenagem do edema. Lembre-se que esta compressão não deve ser excessiva e incômoda ao paciente. A elevação também deve ser feita para controle do edema, lembrando sempre que o membro deve estar suspenso no nível do coração, cerca de 100°. Abaixo disso, a elevação não tem muita serventia para drenagem do edema. Este protocolo deve ser seguido nas primeiras 72 horas, podendo se estender dependendo da severidade do quadro. (HOPPENFELD, 2001; CANALE, 2006) Na primeira semana, fazendo-se uso do protocolo RICE, os exercícios já podem começar. » exercícios de bombeamento para tornozelo; » técnicas de mobilização articular para controle do quadro álgico; » recursos eletrotermofototerapêuticos para controle do quadro álgico, inflamatório e potencializar a regeneração tecidual. A partir da 3a semana, com o quadro doloroso diminuído, pode-se iniciar com exercícios de fortalecimento para a musculatura do tornozelo, como os inversores, eversores, 86 UNIDADE IV │ AVALIAÇÃO E REABILITAÇÃO DOS MEMBROS INFERIORES flexores plantares e dorsiflexores, subindo carga e repetição de acordo com a tolerância do paciente. » Lembre-se que o apoio pode ser normal, não devendo ser evitado em entorses grau I. Nos graus II ou III, pode-se estar usando a bota ortopédica, mas desmama-se o mais rápido possível dela. » Lembre-se também de trabalhar os músculos do quadril, pois ajudarão a prevenir futuros episódios
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