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TCC - Pamela de Souza Alves - Depressão Pós-Parto - Contribuições da teoria de Bowlby

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Pamela de souza Alves
Depressão pós-parto:
CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA DE BOWLBY
São josé dos campos
2018
Pamela de souza alves
Depressão pós-parto:
CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA DE BOWLBY
Projeto apresentado ao Curso de Psicologia, da Instituição Anhanguera-Kroton, unidade São José dos Campos
Orientadora: Andresa Gomes
São José dos Campos
2018
PAMELA DE SOUZA ALVES
DEPRESSÃO PÓS-PARTO:
CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA DE BOWLBY
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Anhanguera Educacional, como requisito parcial para a obtenção do título de graduado em Psicologia.
BANCA EXAMINADORA
 Orientadora: Andresa Gomes
 Prof (a). Ma. Ana Karina de Castro Brito
 Prof (a). Esp. Ana Cristina de Oliveira Bertoncini
 São José dos Campos, 06 de dezembro de 2018
”Um dia, quando olhares para trás, verás que os dias mais belos foram aqueles em que lutaste”.
Sigmund Freud
Dedico este trabalho a Deus, por ter me dado condições de lutar e alcançar os objetivos, mesmo com os obstáculos pelo caminho me deu forças para não desistir.
AGRADECIMENTOS 
Agradeço a minha mãe, por ter me apoiado quando decidi ir a faculdade, pois sempre se preocupou junto comigo a respeito dos meus problemas durante esse processo, demonstrando interesse nos dias de prova e me perguntando se fui bem.
Ao meu pai, que me ajudou com as despesas da faculdade, que nos momentos de apertos e desânimos não me abandonou, mesmo sem condições fez o melhor para que eu não desistisse.
Aos meus irmãos, que quando cheguei a desabafar sobre o que ocorria, acolheram minhas angustias e não me deixaram desamparada, fazendo o que estava ao alcance para ajudar.
A minha amiga de turma Fabiana Alves, que mesmo com os seus próprios problemas e passando pelo mesmo processo que eu, sempre esteve ali para me socorrer nas horas de aperto, deixava as vezes de fazer o dela para me ajudar, agradeço de coração, pois aprendi muito com ela, e com muita paciência ficava horas me dando atenção sobre minhas dúvidas
Ao meu grande amigo Alan Paiva Testa, que por acreditar em mim, me incentivou a tomar a iniciativa de estudar, me ajudou a abrir os olhos a respeito da minha opção profissional, fazendo com que eu tivesse certeza que era isso que eu queria, não só deixando os planos no papel e sim tomando a coragem de concretizar aquele desejo de me tornar uma psicóloga.
E finalmente quero agradecer aos mestres, que ao longo destes anos acadêmicos, dedicaram atenção e sapiência para que nos formássemos com primazia e profissionalismo.
ALVES, Pamela de Souza. Depressão Pós-Parto: Contribuições da Teoria de Bowlby. 2018. 65 fls. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Psicologia) – Faculdade Anhanguera-Kroton, São José dos Campos, 2018.
RESUMO
O presente estudo, reuniu uma série de pontos de vista teóricos, acerca da depressão pós-parto, buscando como norte referencial, as contribuições de John Bowlby, no que tange ao tratamento da depressão pós-parto, visto que Bowlby entendeu o quanto o arcabouço educacional e relacional do bebê, pode ser a chave para o tratamento da depressão pós-parto e o quanto ela pode ser suprimida neste período do recém nascimento de uma criança, visto o entendimento do estado de sofrimento psíquico da mãe, como um distúrbio psicoafetivo. Esta obra versou a respeito da vida de John Bolwby, discorrendo sobre a etiologia, prevalência e os efeitos da depressão pós-parto, bem como aprofundou nas mais importantes teorias de John Bowlby, que foram a “Teoria do Apego” e a “Teoria da Vinculação” em face da depressão pós-parto, identificando a relação destas teorias ante este transtorno psíquico tão devastador. Por fim, teste trabalho enfatizou os efeitos da depressão pós-parto na vida da mulher, buscando uma melhor compreensão no trato mãe-bebê, assim como seus agentes neuropsicológicos e a questão desta transferência entre gerações da depressão pós-parto, sob a ótica de que a depressão tem o seu rito cíclico, uma vez que experimentada na relação mãe-bebê. 
Palavras-chave: Depressão; Pós-parto; Bowlby; Vinculação; Mãe-bebê.
ALVES, Pamela de Souza. Postpartum Depression: Contributions from Bowlby's Theory. 2018. 65 fls. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Psychology) – Faculdade Anhanguera-Kroton, São José dos Campos, 2018.
ABSTRACT
The present study brought together a number of theoretical points of view about postpartum depression, seeking as a reference point the contributions of John Bowlby in the treatment of postpartum depression, since Bowlby understood how much the educational framework and relational relationship of the baby, may be the key to the treatment of postpartum depression and how much it can be suppressed in this period of a child's newborn because of the understanding of the mother's state of psychic suffering as a psycho-affective disorder. This book dealt with the life of John Bolwby, discussing the etiology, prevalence, and effects of postpartum depression, as well as deepening John Bowlby's most important theories of "Attachment Theory" and "Theory of Binding "in the face of postpartum depression, identifying the relationship of these theories to this psychic disorder so devastating. Finally, the study emphasized the effects of postpartum depression on women's lives, seeking a better understanding of the mother-baby trait, as well as their neuropsychological agents and the question of this transference between generations of postpartum depression, from the point of view of that depression has its cyclical rite once experienced in the mother-baby relationship.
Key-words: Depression; Post childbirth; Bowlby; Linking; Mother-baby.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO	10
2. A DEPRESSÃO PÓS-PARTO E A RELAÇÃO COM A TEORIA DE BOWLBY	12
2.1 QUEM FOI JOHN BOWLBY	14
2.2 ETIOLOGIA DA DEPRESSÃO PÓS-PARTO	19
2.3 A DEPRESSÃO PÓS-PARTO E SUA PREVALÊNCIA	21
2.4 EFEITOS DA DEPRESSÃO PÓS-PARTO NO COTIDIANO FEMININO	23
3. RELAÇÃO: APEGO X DEPRESSÃO PÓS-PARTO	27
3.1 CONSEQUÊNCIA CÍCLICA DA DEPRESSÃO PÓS-PARTO	32
3.2 VÍNCULOS FAMILIARES X DEPRESSÃO PÓS-PARTO	35
3.3 INGERÊNCIA DEPRESSIVA NA VIDA DA MULHER	38
4. PAPEL DA DEPRESSÃO PÓS-PARTO NO TRATO MÃE-BEBÊ	41
4.1 AGENTES NEUROPSICOLÓGICOS NA DEPRESSÃO PÓS-PARTO	45
4.2 TRANSFERÊNCIA TRANSGERACIONAL PSÍQUICA	50
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS	56
10
2
1. INTRODUÇÃO
O fito deste Trabalho, é realizar uma pesquisa através de obras que trouxessem luz a um juízo da depressão pós-parto, com seu arcabouço nas obras que formam a trilogia “Apego e Perda” de John Bowlby, assim como uma revisão na obra “Situação Estranha” de Mary Ainsworth e no artigo “Apego a Psicopatologia” (1996) Mary Main que traz uma antítese com arguição psicanalítica, com o escopo de examinar a relevância de seus estudos diante de suas percepções de explanação e difusão, buscando ainda o abeiramento do conceito e a metapsicologia desde a teoria de pulsão do apego como fatores de erudição da depressão pós-parto.
O que vem fomentando esta obra a aprofundar a pesquisa sobre a Depressão Pós-parto, com as contribuições dos conceitos de John Bowlby, manifestam-se ante a observância das discrepâncias apresentadas durante anos, entre os psicanalistas, relativamente à magnitude da obra de John Bowlby com relação a psicanálise infantil e do prestígio que o seu trabalho atingiu em meio aos doutrinadores contemporâneos da psicanálise infantil.
Dado a relevância deste doutrinador britânico, psicólogo, psiquiatra e psicanalista, em sua obra pioneira sobre a Teoria do Apego, o presente Trabalho trará em seu primeiro capítulo, exposta uma biografia sucinta de Edward John Mostyn Bowlby e todos os liames da teoria do apego, em uma mescla de parametrização das suas memórias individuais em um paradoxo com a sua teoria, que sempre caminharam de maneira equidistante.
A depressão pós-parto é abordada nesta obra como um transtorno psíquico do ciclo gravídico puerperal, tratando-se de uma consequência posterior ao ciclo de gravidez edo parto, vivenciado por inúmeras mulheres, com extrema carência de orientação psicológica, sendo apresentada então no segundo capítulo deste trabalho de conclusão de curso.
Este trabalho, tratará ainda em seu terceiro capítulo, dos requisitos psicanalíticos e biológicos, intentando buscar a relação da teoria do apego como uma atenuante da depressão pós-parto, destacando John Bowlby e o fundamental avanço nas pesquisas que corroboram toda a sua tese, buscando ainda na doutrina de Mary Ainsworth, atingindo mais aprofundamentos na teoria. 
Contudo, destacaremos por toda esta obra, até a sua conclusão, o quanto é comum termos casos de mulheres que sofrem terrivelmente com a depressão pós-parto, tendo motivações de cunho psicossocial, biológico e subjetivo, sendo que para John Bowlby, o laço entre a mãe e o bebê, são essenciais para um desenvolvimento mais eficaz da criança, atingindo uma boa saúde mental e um pleno crescimento, no que tange a sua personalidade e ainda aclarando o fato de que a depressão pós-parto pode acarretar de forma cíclica o bebê, estigmatizando-o inconscientemente, trazendo em si a possibilidade de aflorar esta depressão, sendo mulher, posterior ao parto ou homem em qualquer circunstância vital que o coloque em pressão. 
A temática desta obra, enseja o intenso almejo em buscar um entendimento mais amplo desta relação tão significativa, neste elo mãe e filho, principalmente quando este elo é tocado pelos transtornos depressivos na etapa que compreende o pós-parto, tema este que contém em si, compreende inenarrável magnitude no que tange aos contatos iniciais da mãe com este bebê, que se desenvolverá de acordo com este contato, mesmo ante a incapacitação desta mãe, em dar carinho e atenção ao seu filho recém-nascido, ou seja, esta obra busca explanar ainda mais a compreensão destes fatos, sob a ótica de John Bowlby e suas contribuições doutrinárias.
2. A DEPRESSÃO PÓS-PARTO E A RELAÇÃO COM A TEORIA DE BOWLBY
A depressão pós-parto é um óbice de saúde pública, que atenta a saúde da mãe com afetação substancial a progressão do bebê, de acordo com Moraes et al. (2006), pois a depressão pós-parto trata de manifestações em traços sintomáticos encetados da quarta a oitava semanas, posteriores ao parto. Inclusive chegando a cinquenta e duas semanas posteriores ao parto, que podem permanecer por um período de mais de um ano.
A depressão pós-parto é uma patologia que assola milhares de mulheres no mundo todo e com sequelas que vão além do período de quarentena. Ao se considerar o adoecimento como um processo, a patologia não simplesmente surge no paciente, mas ela é constituída na sua subjetividade (SIMONETTI, 2004, p. 15). Ao buscar conhecer sua origem, pode-se além da atuação interventiva, se desenvolver uma prática mais focada na prevenção.
Este estudo através de uma revisão bibliográfica baseada na psicanalise, tem como objetivo observar em qual estágio do desenvolvimento psíquico a depressão pós-parto tem seu início e como amenizar os possíveis efeitos decorrentes, durante e após a gestação. 
A depressão pós-parto é abordada nesta obra como um transtorno psíquico do ciclo gravídico puerperal (ROSENBERG, 2007, p. 109), tratando-se de uma consequência posterior ao ciclo de gravidez, bem como ao ciclo do parto, vivenciado por inúmeras mulheres, com extrema carência de orientação psicológica.
A depressão é um distúrbio que muitas vezes é visto pelo senso comum como inexistente, este trabalho tem como objetivo social partilhar informações ao público em geral. Consequentemente o público acadêmico e a comunidade cientifica poderá usufruir de um estudo que visa observar a depressão em relação a teoria do apego, oferecendo mais uma perspectiva de como se constitui a depressão sob a visão de Bowlby e todos os liames da teoria do apego, em uma mescla de parametrização das suas memórias individuais em um paradoxo com a sua teoria, que sempre caminharam de maneira consideravelmente equidistante (DIJKEN, VEER, et al, 1998, p. 247).
A desordem psicológica decorrente do interim pós-parto, que assola tantas mulheres no Brasil e no mundo, advém em grande parte da própria depressão pós-parto, a psicose puerperal e o baby blues (FRIZZO, PICCININI, 2005, p. 47), há ainda, uma classificação descrita como distúrbio de pânico pós-parto associado ao puerpério (BAPTISTA, BAPTISTA E OLIVEIRA, 2004, p. 50), estabelecido essencialmente de expressões de estrutura intelectual, concernentes a condutas e ao afeto.
Dentre as classificações supracitadas, o papel fundamental de John Bowlby, foi estabelecido no elo afetivo mãe-bebê, dado a fundamental necessidade da mãe suprir todas carências de seu filho, ante o estresse estabelecido na pressão de administrar diversas situações advindas de seu lar, como dona de casa, muitas vezes chefe do lar e mãe, tendo que administrar ainda seus sentimentos, não deixando que eles contaminem seu humor e repassem todo este misto de emoções para o bebê, eis que a teoria do apego, tem em sua essencial relevância, o intento de amenizar os distúrbios gerados fisicamente, em absoluta decorrência desta depressão posterior ao parto.
Os estudos de John Bowlby, são peças chave neste estudo, contudo quem foi John Bowlby? Como desenvolveu e como a sua obra estabeleceu a importância na formação e no rompimento de um laço afetivo? O que este psicanalista inglês queria estabelecer no desenvolvimento da criança, ante a depressão pós-parto que atinge a mãe diretamente e influem na personalidade futura desta criança, em relação a interação social e emocional? Enfim, conheceremos primeiramente, este psiquiatra e psicanalista inglês, que ao longo de toda a sua vida, ampliou os seus estudos nas relações mãe-bebê, tornando-se fundamental referência em diversas outras obras de cunho relacional. 
2.1 QUEM FOI JOHN BOWLBY
Edward John Mostyn Bowlby, nascido na Inglaterra, no ano de 1907, filho de Sir Anthony Alfred Bowlby, respeitável cirurgião militar, de classe média alta, notório pela coragem evidenciada no campo de batalha da primeira guerra mundial. John Bowlby, foi fruto da terceirização de sua criação, sendo cuidado por uma babá, conforme os costumes britânicos da época (HAGGBLOOM, et al, 2002, p. 139). Teve em sua fase de construção de personalidade, peculiaridades de uma família londrina, na qual tinham uma racionada aproximação com a mãe, no caso de John, apenas em horário específico após o chá da tarde, momento este em que sua mãe fazia uma leitura para os filhos. O período de férias, era incomparavelmente onde mais gozava do contato com a mãe, pois caminhavam e desfrutavam de um ambiente familiar e em contato com a natureza (BOWLBY; KING, 2004, p. 17).
John obteve o seu primeiro trauma de infância, ao ser separado de sua babá, pois ao deixar o emprego, desamparou o pequeno John de tal forma, que chegou a descrever o fato anos mais tarde como algo similar ao abandono de uma mãe, tendo em vista o fato de a sua mãe ter sido uma mulher firme em sua conduta, que priorizava a educação dos filhos, consubstanciada em uma metodologia resultante em homens fortes e preparados para uma sociedade que os testaria mais tarde constantemente, para poder colocar em prática tal metodologia, a mãe de John Bowlby, era rude e em muitas oportunidades fria perante as solicitações naturais de atenção, apreço, carícias e mimos, sendo inclusive descrito em uma de suas biografias como um gesto metodológico educacional que compreendia o intento de não mimar os filhos (COATES, 2004).
John Bowlby, ainda pôde vivenciar na prática, o prosaico infortúnio da maioria das crianças da Inglaterra nesta época, quando aos sete anos foi para um colégio interno, fator importante para o desenvolvimento futuro como psicanalista. Já em sua adolescência, iniciou seus estudos acadêmicos em 1925, na Trinity College Cambridge, aconselhado por seu pai cirurgião, sendo muito premiado por diversos trabalhos acadêmicos, já demonstrando ser um destaque entre seus colegas, trabalhou voluntariamente em escolas progressistas e lecionandopôde perceber quão numerosa era a quantidade de crianças órfãs, sofrendo a perda maternal tão cedo, tornando-o gabaritado a explorar os estudos concernentes a estas crianças sendo então convencido por John Alford a integrar a Priory Gate, uma escola para jovens instáveis que o colocou um passo à frente na especialização da psiquiatria infantil, tendo John Alford como um indispensável parceiro (KANTER, 2007).
Bowlby se formou em 1933 na University College in London, entrando concomitantemente na Britsh Psychoanalytical Association (BPS). Em 1937 formou-se como analista, tendo em sua primeira análise a supervisão de Melanie Klein, discípula de Freud assumida, advinda da Escola Inglesa de Psicanálise e com um desenvolvimento bem avançado na ideia da relação objetal entre mãe e filho, sendo que inúmeros psicanalistas tinham de forma axiomática que a primeira relação objetal mãe-bebê, estaria na gênese de todo o relacionamento futuro na vida individual (GOMES; LEVY, 2009), contudo Klein influiu de forma antagônica o trabalho de Bowlby, dando amplitude em seu interesse na transmissão transgeracional.
As perspectivas de seu progresso, traziam em seu escopo a prática, tendo na vivência das crianças um resultado extremamente satisfatório, pois a questão comportamental revelava aspectos individuais da mãe e da criança. “O fato de Bowlby ter sido analisado por Joan Riviere (1883-1962) com a supervisão de Nina Searl nos casos clínicos, foram fatores essencialmente determinantes para que obtivesse êxito em sua primeira análise, o que o tornou um membro titular da British Psychoanalytical Society (BPS) ” (DIAS, 2016, p. 93).
John Bowlby teve muitas influências que balizaram suas obras, tornando-as arcabouço de seus estudos futuros sobre a teoria do apego, sendo que a Escola Húngara teve destaque nos escritos de Ferenczi, Benedek e Hermann, que defendiam e aprofundavam a relevância da ligação objeto primário e mãe, assim como as obras de Spitz, Fairbairn e Suttie, dando ainda mais consistência em suas teorias psicanalíticas. (AINSWORTH, 1976, p. 155)
Considerado um autor pós-freudiano, com um aprofundado estudo específico da relação mãe-bebê, atuou como psiquiatra de maiores de idade no Maudsley Hospital e posteriormente no Child Guidance Clinic in London, tendo então um entendimento inicial sobre transgeracionalidade na transferência de neuroses, fundamentalmente característico em seus trabalhos.
John Bowlby casou-se em 1938 e foi pai de quatro filhos. Obtendo dentro do seio familiar, a importante experiência, no convívio com crianças, observando dentro de seu lar a interação de sua esposa com seus filhos, período este, que esteve em Cambridge e pode conhecer Evan Durbin, que anos depois viria a ser um membro do Partido Trabalhista (KLEINMAN, 2015, p. 125), com enfoque no bem-estar social e sendo importante para o nascimento da primeira obra de John Bowlby, o livro Personal Aggressiveness and War, obra esta, que tinha um grande direcionamento a psicoterapia infantil como uma prevenção não só para a mudança do ser, mas sim na sociedade em um todo, “entretanto Evan Durbin veio a óbito ao fim da segunda guerra mundial, deixando John Bowlby muito triste, contudo muito mais comprometido com o aprofundamento nos estudos concernentes ao processo da dor gerada pelo luto”(HOLMES, 2014, p. 23).
Neste processo de desenvolvimento e avanço em seus estudos, John Bowlby começou no decenário dos anos 40, a difundir os primeiros artigos e em virtude dos acontecimentos caóticos da Segunda Guerra Mundial, trabalhou no direcionamento do egresso das crianças, nas quais a destinavam as regiões interioranas da Grã-Bretanha, dando ênfase no aprofundamento de estudos que esquadrinhavam o abalo gerado pela segregação imatura dos filhos menores de cinco anos de idade, ante as suas mães, dirigindo inclusive um projeto de remoção destas crianças de Londres, juntamente com Susan Isaacs, psicanalista Kleiniana.
Sustentou seu embasamento com as experiências obtidas com estas crianças apartadas de suas mães, enaltecendo indagações concernentes a separações e suas consequências, com textos publicados que tratavam da tríade criança, mãe e ambiente, pois John Bowlby construía um universo que não se limitava apenas ao psiquismo pueril, bem como mergulhava na realidade social, envolto a todo arcabouço de sua educação. Esta experiência, amparou de forma embrionária o seu mais reconhecido estudo da tese do apego, iniciada em um artigo que escreveu, intitulado The Influence of Early Enviroment in the Development of Neurosis and Neurotic Character; 1940; Int. Journal of Psychoanal, XXI 1-25, que no futuro, influiria diretamente a sua teoria do apego, publicou ainda o artigo Forty-Four Juvenile Thieves, Their Characters and Home Live, em 1944, que tratava da ligação entre a ausência materna e a delinquência. A relevância deste artigo o levou a designação para atuar na Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1949, assim como tornou-se chefe do Departamento Infantil da Clínica Tavistock em Londres, substituindo a terminologia do departamento para o título de Departamento para Crianças e Pais (The Department for Children and Parents).
Em sua trajetória pôde contar com o trabalho de Esther Bick com a criação de um projeto baseado na treinagem de psicoterapia infantil, não obstante, buscando apartar seus conceitos com direcionamentos cada vez mais substanciais aos arquétipos familiais de convívio em conjunturas distintas, tanto as que percorriam uma progressão salutífera quanto as que tinham um seguimento com desdobramentos patológicos, da imisção do raciocínio Kleiniano, teve a iniciativa de alçar-se em um prisma ainda mais elevado de exploração, criando uma equipe para avançar mais os seus estudos e em 1948, após uma exitosa conquista de recursos financeiros para operar suas descobertas, empregando James Robertson na análise e contemplação de crianças internadas em hospitais, frutificando a produção do filme “A Two-Year-Old Goes To Hospital” (1952), na qual discorrem sobre o choque da carência e consternação experimentadas pelas criancinhas defronte a inexorável ruptura ante seus cuidadores, sendo este filme, um vicissitudinário elemento ante a abordagem terapêutica de crianças que se encontram imergidas na melancólica atmosfera hospitalar, abrindo precedentes para que a permanência dos pais no interim que compreende a estadia de seus filhos, internado no hospital.
Publicou em 1951, o livro “Maternal Care and Mental Health” que abrangia o estudo do laço afetivo intermitente, como fundamental para a vitalidade psíquica infantil, deixando muito claro que ausências nutricionais, sociais ou de saúde, seriam menos danosas para o seu desenvolvimento, do que a inópia psicológica, consolidando o seu estudo com entonações progressivamente biológicas a sua base teórica e defendendo este axioma no início dos anos 50, consubstanciado em seu fascínio pela biologia darwiniana, bem como pela etologia, com influição de Robert Hinde, aclarando ainda mais a cerne do elo mãe-filho, expondo a Bowlby o valor da otimização da obra de Harlow, trabalhando com macacos rhesus, entendendo após assistir fitas gravadas por Harlow, a estrutura do apego sob a ótica da biologia evolucionária como um rumo para o avanço de suas teorias sobre o apego.
Bowlby, visava elaborar com fundamentação científica, uma teoria psicanalítica sobre relação objetal (LAPLANCHE; PONTALIS, 1990), entendendo na idiossincrasia do apego, uma tática de subsistência produzida naturalmente na ordem evolucionária, tendo escopo uno da prática do apego, o estreitamento máximo do laço mãe-bebê, afirmando com grande ênfase que sem a tutela materna a criança morreria, pois tratava-se do mais relevante aparato de provisão vital, colocando em um patamar superior na classificação de valores que incluem o instinto sexual e o instinto alimentar.
Em sua brilhante vida como um pensador e notório autor, teve destaque na tríade que metodiza conceitualmente as obras que versam sobre o apego, a perda e a separação, enfatizandoa obra “Cuidados Maternos e Saúde Mental” (1951), Apego, Perda e Separação” trilogia (1969, 1973, 1980), tornando-o grande referência entre psicanalistas e psicólogos. Já em seu epílogo vital, John Bowlby explorou esmiuçadamente os estudos concernentes a infância, assim como as enfermidades psicossomáticas de Charles Darwin, consubstanciando ainda mais seu interesse na área dos estudos biológicos, Bowlby morreu no dia 2 de setembro de 1990, aos 83 anos na Escócia, deixou uma última obra póstuma, biográfica de Charles Darwin.
2.2 ETIOLOGIA DA DEPRESSÃO PÓS-PARTO
A depressão pós-parto, pode ser um fator emocional com diversas fontes de propagação, todavia, não se pode atribuir especificamente sua etiologia, entretanto, o que se pode evidenciar são algumas fontes de favorecimento de sua propagação, “salientando questões sociais, problemas no consentimento da gestação, pincipalmente quando não se trata da primeira gestação, o pouco tempo de convivência com o parceiro, adversidades obstétricas, tato com o bebê posterior ao nascimento, agressões sofridas dentro do lar, falta de apoio do parceiro ou da família, acúmulo de funções domésticas e os conflitos advindos da maternidade” (SANTOS JR et al, 2009, p. 24).
A etiologia da depressão pós-parto, pode estar associada a agentes biológicos, que em vista do conceito de John Bowlby, pode ter se iniciado em sua infância e ser desenvolvida como uma herança genética, é um fator cíclico, uma vez que Bowlby observou inúmeras crianças órfãs, buscando entender o que certas privações de carinho, atenção ou companhia, poderia desenvolver nesta criança, quando atingisse a fase adulta.
Pode também, a etiologia advir de um distúrbio de humor ou ansiedade historial, bem como um “distúrbio de indisposição pré-menstrual ou de patologias psiquiátricas oriundos da linhagem familiar” (RYAN et al, 2005). Questões sociais também podem ser atribuídas a fatores etiológicos da depressão pós-parto, sendo que com grande relevância, dado a frequência com que ocorre na sociedade, tal como, a maternidade estabelecida em uma idade abaixo dos dezesseis anos.
A sociedade, em um todo, compreende inúmeros itens de base para a propagação da depressão pós-parto, em mulheres que participam de episódios com altos índices estressores, no período que compreende aproximadamente um ano anterior ao parto ou com mulheres que convivem com companheiros hostis em situações constantemente conflitantes ou que ainda, chegam ao fim da gravidez sem um companheiro de fato, seja por ter passado por um divórcio ou pelo fato de o progenitor não ter encarado a gravidez como um compromisso a ser encarado em parceria, podendo ainda estar atribuído a fatores de inocupação laboral, tão comuns nesta sociedade contemporânea, dentre estas, ainda aliadas a um histórico de distúrbio psiquiátrico preexistente, em uma pessoa com perfil confuso, “em determinados casos vivenciando uma gravidez indesejada, ante a frustração do bebê não ter o sexo almejado, resultando em escassez de assistência social e até mesmo deficiência no apoio emocional, culminando muitas vezes em um aborto involuntário” (GOMES, 2010; TESSARI, 2006).
Há uma variante de emoções que são externadas pela mulher que vivencia o período gestacional, que oscilam constantemente, sugestionando qual será o caminho que tomará o relacionamento mãe-bebê, tal como é referenciado em pesquisa de Bergant et al, (1999), onde a condição psicossocial e obstétrica eram fatores determinantes para a deflagração de uma depressão pós-parto, dado toda a vicissitude na qual a mulher é exposta no interstício pós-natal, sendo das mais corriqueiras como a consternação concernente ao seu status social, até as mais complexas, como ansiedade, situações que condicionam uma mudança radical do cotidiano familiar, desde o vínculo marital, até o laço materno, enaltecendo um panorama de depressão, ante o exaurimento de suas esperanças de quem descreveu um quadro completamente distinto de como seria de fato sua vida, “tendo em vista, como é desenvolvida cada circunstância de sobrepeso no âmbito do trabalho doméstico” (ROMITO et al, 1999).
A sociedade constrói sistematicamente, ambientes propícios a evolução constante de patologia depressiva no período pós-parto em mulheres, pelo simples fator cultural, que expõe a mulher a uma responsabilidade natural, com tons de primazia evidenciados no papel de mãe, tornando-se uma imposição de nível assaz elevado, que as mulheres trazem consigo, fomentando o coro da sociedade que estabelece a perfeição maternal, como uma sugestão obrigacional, estimulando os distúrbios emocionais que desconstroem a capacitação natural de um mulher de conceber e aleitar seus filhos, convertendo-as detentora absoluta de excelência maternal diante de suas compreensíveis inabilidades em administrar tanta pressão, principalmente pelo fato de haverem discrepâncias nas incumbências do lar, que são estabelecidas pela mulher atuante no domínio interno do lar e homem, detentor da obrigação de prover a família no domínio externo, solidificando a cultura de que a paternidade e a maternidade são características em cada sociedade, porém com papéis determinados.
2.3 A DEPRESSÃO PÓS-PARTO E SUA PREVALÊNCIA
Vivemos em um mundo onde mazelas psicológicas se tornam cada vez mais comuns, a depressão é um mal que assola o mundo todo e não seria diferente com as mulheres que vivem toda a pressão de gerar uma criança, e dado o número de habitantes em nosso planeta, constata-se que da mesma forma que o há muita depressão pós-parto entre as mulheres em todo o mundo, há uma grande deficiência, tanto no diagnóstico, quanto no tratamento, “inclusive com números que já demonstraram que 25% da população mundial, era vítima ou seria, de um quadro moderado ou grave de depressão” (WILKINSON et al, 2003), porém de acordo Organização Mundial de Saúde (OMS) a prevalência global de depressão pós-parto alcançou o índice atual de 26,3%, mais alta que a estimada anteriormente pela própria pela Organização Mundial da Saúde (OMS), destacando ainda que em países de baixa renda, que é de 19,8%.
As mulheres detêm maior emotividade em relação aos homens, conquanto, a depressão atinge o público feminino em um índice estimado de 50% a mais, do que atinge aos homens, tornando a prevalência ainda maior em mulheres que detiveram este distúrbio no passado, “em situações particularmente femininas são maiores os índices de acometimento da depressão pelas mulheres, destacando os episódios que envolvem a gravidez” (LARA, et al, 2004).
É notório o status de maiores vítimas da depressão, tanto que há fundamentações genéticas e biológicas, acerca desta prevalência de depressão nas mulheres, corroborada pela renomada psicanalista Inês Catão, com denso material probante, principalmente na obra “A tristeza das mães e seus riscos para o bebê” (2002) enfatizando as alterações de temperamento no decorrer do período menstrual e principalmente no parto, sendo que são oriundas de variações hormonais, muito características nestes episódios, eis um fator fundamental para que não haja uma disseminação de estudiosos, buscando uma explanação maior acerca de uma classificação específica da prevalência da depressão pós-parto, presumivelmente, classificações na mudança de humor pode conotar uma pormenorização do “blues”, gerando o equívoco comum da confusão com a depressão, gerando disparidades nos desfechos das pesquisas (GANESH et al, 2010).
A depressão pós-parto, pode ser iniciada durante a gravidez, com alguns apontamentos de que em torno de 50% das mulheres, já tem a depressão pós-parto iniciada antes mesmo do pós-parto propriamente dito, o fator determinante é a condição de estabelecimento social desta mãe e a sua despretensão em estruturar a família, seja ela constituída ou não, a questão social é fundamental no desenvolvimento da depressão pós-parto, “há inclusive um estudo que aponta as cifras de 8 a cada 10 mulheres é identificada a consternação da maternidade (postpartum blues), distúrbio caracterizado pelas constantes alteraçõesde humor dado sua instabilidade emocional, pranto aleatório, perda do sono, que habitualmente costumam prolongar-se por duas semanas posteriores ao parto” (ZINGA., et al, 2005).
A última década, foi fundamental para a o estabelecimento da ideia de que, adversidades psicológicas com direcionamento para depressão, tornam a gravidez de muitas mulheres uma luta na qual, tornarão combalidos, tanto a mãe, quanto o bebê, principalmente vinculando a conceituação de Bowlby, concernente ao apego, pois a mãe que sofre com a depressão pós-parto, fará o seu filho sofrer, e, sendo menina, terá maiores chances de ter a depressão pós-parto quando adulta, é cíclico e certeiro, não obstante, o avanço nas pesquisas, pôde trazer elucidação quanto aos fatores de risco e principalmente uma base maior de conhecimento, no que tange a fragilidade biológica para os distúrbios de ânimo no ínterim pós-parto, mas um grande número de conclusões desfavoráveis dentre os autores contemporâneos, revela o fato de que a depressão pós-parto, ainda carecer de uma atenção especial, pois ainda não pode ser detectada com primazia.
2.4 EFEITOS DA DEPRESSÃO PÓS-PARTO NO COTIDIANO FEMININO
Dentre todas as atividades possivelmente estressantes que possam existir, muito provavelmente, nenhuma estará cercada de tantos desafios e responsabilidades quanto a maternidade, mesmo diante de um quadro tão desfavorável, no que tange ao autocontrole emocional, ainda convivemos com uma cultura que contribui para toda esta dificuldade, pois propaga encargos em demasia, sem disseminar nenhuma espécie de capacitação, atribuindo tudo a natureza feminina. É difícil para uma mãe administrar tantas vicissitudes em um período menor que um ano, na qual, culmina no nascimento de um bebê, cuja a tutela é absoluta da mãe nas primeiras situações vitais, junte todos estes elementos a inexperiência desta mãe e obterá um quadro de desequilíbrio psicológico suficiente para desencadear uma depressão, levando a buscar em seu passado, sentimentos reveladores sobre si, culminando em um misto de entusiasmo e descontentamento, em uma montanha russa que pode levá-la a picos depressivos ante sua predominância e ao mesmo tempo debilidade, sua autoridade em vista de um desobediente e babélico choro.
Uma pesquisa foi realizada na Universidade Católica de Brasília (ARRAIS, 2005);
[...]em quatro mães com depressão pós-parto, sendo atendidas nesta Universidade e buscando entender os aspectos subjetivos deste distúrbio psicoafetivo, analisando tudo que abarca a cultura de polarização da responsabilidade materna e não aspectos naturais ou biológicos, obtendo então a tese de que ser mãe na prática, é girar a engrenagem axiomática preponderante, vinculados a ciência, ao formalismo religioso e a questão social, aliado ao instinto materno, ligado a forma biológica, concomitantes a questões histórico-espaciais determinantes. (p. 54)
Um estudo interessante, está relacionado a obra “Ser Mãe: Narrativas de hoje” de Kimy Otsuka Stasevskas, na qual entrevistou quinze jovens mães, avaliando o cotidiano dessas mães, a respeito desta relevante indagação que é ser mãe, resultando em respostas com o seguinte direcionamento:
[...]diante das transformações da sociedade, da família e dos papéis femininos, coloca-se para a mulher uma dupla responsabilidade em prover o seu sustento e cuidar dos filhos. No entanto, é nessa luta que parece residir a percepção de um amadurecimento enquanto pessoa, um aval de “adultice” e de maturidade que é revelado na ponta de orgulho existente nas narrativas destas batalhas do cotidiano. Mas é importante ressaltar que essas mulheres consideram grande a sobrecarga que representa esta vida de dupla jornada, sem companheiro e pertencendo a uma camada pobre da população (STASEVSKAS, 1999, p. 132).
A pesquisa supracitada, traz contornos culturais, estabelecidos ao longo do tempo, com influição arcaica em vista das práticas hodiernas, tendo em vista ainda, uma sociedade que mesclou seus papéis de postulantes a chefe do lar, toda esta mudança cheio de alternâncias, resultou em episódios depressivos que pode começar antes mesmo do parto e se prolongar por até doze meses posterior ao parto, uma consternação de cunho moroso e claramente oriundo do entorno familiar, em sua cultura de sociedade onde a modernidade ainda está algemada nos costumes do passado, tornando o processo de cautela ante o filho, um enorme desafio que resultam muitas vezes em manifestação depressiva.
Os efeitos da depressão pós-parto no cotidiano feminino, conforme mencionado por Field, et al. (1990) são cada vez mais intensos e dolorosos, muitas vezes estendendo este quadro de tristeza, para uma depressão a longo prazo, gerando perda de autoestima e no pior dos quadros, fragmentando a relação mãe-bebê, expondo o filho a uma sensação de tristeza, por ele ainda desconhecida, deixando que a ausência do afeto, influencie de maneira determinante o seu futuro, sendo no caso de uma filha, tornando ela uma futura candidata a sofrer com a depressão pós-parto, sendo este filho homem, um pai ausente, ou que não venha a assumir o seu papel paterno, ou ainda, que transmita a mãe, esta sensação tétrica, que a envolve e se aflora posterior parto, uma relação cíclica conceituada por John Bowlby.
Segundo Zinga, et al. (2005), os efeitos da depressão pós-parto podem atingir mulheres de todas as idades, oscilando em relação a forma como atingem e a sua força, trata-se de uma questão associada a personalidade, que inclusive é um outro fator construído na infância e que pode influenciar também na vida adulta desta mulher que acabou por engravidar, tendo uma personalidade com característica puérpera, advindas de sua criação, estilo de vida, enquadramento social e uma predisposição natural a ser uma vítima de um quadro depressivo, tanto em sua gravidez, quanto posterior a ela, sendo fator determinante, seu atual status de relacionamento com o parceiro.
A anunciação da puérpera pode ser demasiadamente tímida, gerando a carência de privação principalmente quanto as expectativas desta mãe, tendo em vista o fato de que se criam perspectivas em relação ao que será a experiência materna, a recepção do bebê ante esta maternidade, com um cenário não tão romântico quanto ao que se imagina, “resultando em decepções direcionadas a si e ao bebê, a ambiguidade emocional que envolve esta mãe, a coloca em um invólucro de responsabilidades, que caminham ao seu lado” (BOTEGA; DIAS, 2002, p. 285), mães deprimidas podem acreditar que o recém-nascido sofre de doenças ou malformações, podem se sentir culpadas por não sentirem amor pelo bebê, por não estarem cuidando dele (BOTEGA; DIAS, 2002, p. 291).
De acordo com Santos (1995 apud ANDRADE, 2002, p. 165), comportamentos excêntricos, também podem aturdir a mãe, manifestando pujança ávida, vibrante, tagarela, com aflições ante sua condição corpórea e demonstrando zelo descomunal na higienização do lar e sua organização, tem por expectativa, uma via sacra destinada as recepções dos visitantes, na qual cumpre com fervor, recebendo-as com indescritível satisfação, demonstrando uma energia imponente, com soberania absoluta, sugestionando a tranquilidade de quem não necessita de amparo exterior, tendo como efeito colateral somatizações corriqueiras, mas que vão afligindo-a fisicamente, até que se alcance o ponto mais vulnerável que é o emocional, gerando eventualmente uma ansiedade depressiva, pranto ocasional, buscando exclusividade na atenção do companheiro, descontentamento em variadas escalas, intolerância deflagrada ou até mesmo sinais de auto desvalorização e de autoacusação.
Conforme Camorotti (2001 apud CATÃO, 2002, p. 49) o convívio afetuoso na relação mãe-bebê é afetado diante de um quadro de depressão da mãe, servindo de impeditivo no direcionamento de sensações aprazíveis ao rebento, assimilando uma ótica para o bebê cheia de restrições, enxergando óbices no tratar com o seu filho, com a visão turva de um enfadonho dependente, sendo então este, “o foco de uma depressão pós-parto que deve ser diagnosticadapreviamente e tratada amplamente” (SCHWENGBER; PICCININI, 2003), pois uma ação adversa, pode expor esta criança a um futuro cheio de incertezas e complexidade em lidar com outros colegas, assim como apontado na Teoria do apego de John Bowlby.
3. RELAÇÃO: APEGO X DEPRESSÃO PÓS-PARTO
O objetivo específico da obra é esquadrinhar o epicentro da natureza psicanalista, atuando com uma base teórica, técnica e axiomática, sob a ótica do inglês John Bowlby (1907-1990) e o seu mundialmente notório, estudo sobre suas teorias de cunho comportamental, que predizem inovadores conceitos, revolucionando o pensamento científico sobre o universo do vínculo mãe-criança, destacando sua fundamentação teórica no aprofundamento do corolário para a criança, diante da ruptura dos elos afetuosos oriundos da depressão pós-parto, estipulados na infância, agregando ainda um minucioso estudo dos princípios gerais da depressão pós-parto, evidenciando os ditames estruturais de um pré-natal psicológico, que trata de uma ingerência grupal acessória ao pré-natal médico convencional, na qual há uma pré-disposição em demandar propiciamente, um ambiente adequado a exteriorização do que as gestantes fantasiam, aprofundando ideias perante testemunhos de suas vivências, os medos e angustias que carregam, assim como as alegrias e consternações oriundas do procedimento gravídico-puerperal.
A temática proclamada, é concernente ao substancial intento do legítimo fundador da teoria do apego em aclarar toda a ambivalência materna, em seus mais arraigados e extremos sentimentos de amor e ódio ante seus rebentos, consubstanciados em equívocos remorsos e análises da maternagem, elucidando o fato de que nem tudo se resume a felicidade e contento, quando há uma gravidez resultante de um nascituro, psicologicamente mal quisto pela mãe, que transborda reações heterogêneas nutridas por sensações de culpa, por ações vitais, vitimadas por uma transição natural da vida.
Resultados estes que tornam inviáveis algumas atividades que anteriormente eram facilmente executadas, em uma vida autônoma, que de uma hora para outra passa a gerir outra vida, restringindo horários, relacionamento, vida social, carreira profissional, transformando visceralmente a vida desta mãe, muitas vezes resultando em sentimentos positivos, assim como negativos, capazes de gerar psicopatologias advindas de uma refutação deste sortimento de sentimentos experimentados no ciclo gravídico puerperal, destarte, através desta obra que progredirá com base analítica de fontes diretas, da mesma maneira que foi supramencionado nos conceitos de John Bowlby (1907-1990), assim como em fontes secundárias, tais como doutrinas contemporâneas de psicanálise e a diáspora do método de pesquisa sobre as teorias de vinculação.
A base teórica dos conceitos de Bowlby (1907-1990), “nas áreas da psicanálise, psicologia do desenvolvimento, etologia, ciências cognitivas e teoria dos sistemas de controle, foram frutos dos estudos iniciais da teoria do apego” (BRETHERTON, 1992, p. 775), dentro deste conceito inicial, seu trabalho foi destacado pelas sete características do apego, ainda, as quatro classificações dos padrões de apego e o cuidador, sendo estabelecido em seu arcabouço doutrinário, caminhos conceituais que evidenciavam a importância do vínculo mãe-filho
Esta base teórica, destaca a relação que as crianças apresentavam ante os adultos, no intento de buscarem uma tutela materna ao estreitarem seus laços, atingindo um desenvolvimento, com amparo nos cuidados de seus tutores. Diante desta afirmativa, conseguimos vislumbrar a tese de que o apego é uma ferramenta espontânea, que norteia a energia, que baliza a veemência com que uma criança desenvolve os seus questionamentos, contudo, “garante com este modo operante, uma maior proximidade com os adultos, fornecedores naturais de um status protetivo, gerador de uma fundamental sensação de segurança, assegurando um crescimento repleto de enquadramentos a uma sociedade cheia de ofertas boas e ruins, estudos estes que balizaram a teoria do apego” (AINSWORTH, 1963, p. 67), com seu desenvolvimento sócio emocional (AINSWORTH; BOWLBY, 1991). 
	A teoria do apego, desenvolvida especialmente por John Bowlby (1969), tem raízes no pensamento psicanalítico, particularmente na ênfase sobre o significado do primeiríssimo relacionamento entre a mãe e a criança (BOWLBY, 1996), que é reflexiva e pode de maneira cíclica, desencadear na fase adulta, uma possível aversão ao seu bebê, vitimando esta mãe com o fardo da depressão pós-parto e novamente comprometendo esta criança as mazelas psicológicas, de quem não teve o devido apego de sua cuidadora. 
Apego é uma ligação afetiva que uma pessoa forma com outra. Já na relação do bebê com sua mãe, formas ou padrões de apego começam a se estabelecer, assim como com outros familiares e amigos. O apego é de grande valor para a adaptação do indivíduo e assegura que suas necessidades físicas e psicossociais sejam satisfeitas, promovendo a sobrevivência da criança e tornando-a forte para o incerto e cheio de óbices, futuro e descrevendo um padrão comportamental para esta criança em suas etapas iniciais.
De acordo com Bee (2003, p. 196) para se descrever como esse padrão surge, Bowlby (1907-1990) introduziu alguns conceitos da teoria etológica “relacionando conceitos evolutivos ao estudo do comportamento”. A criança nasce com repertório comportamental inato e instintivo, que elicia cuidados nas pessoas, como por exemplo, chorar, sorrir, contato visual, etc., este tipo de comportamento será expressado quando o bebê estiver assustado, cansado, com fome ou sob estresse, levando-o a transparecer sinais que podem desencadear a aproximação e motivação de cuidador. 
	De maneira similar, a mãe está munida com vários comportamentos instintivos em relação ao bebê, como responder ao choro ou falar com ele com uma voz baixa e aguda. Juntos, esses padrões instintivos aproximam a mãe e o bebê em uma intrincada cadeia de estímulos e respostas que levam a criança a estabelecer um apego específico aquele adulto (BOWLBY, 1969).
O comportamento de apego é definido, então, como qualquer forma de comportamento que resulta em uma pessoa alcançar e manter proximidade com algum outro indivíduo considerado mais apto para lidar com o mundo (BOWLBY, 1988, p.38).
A depressão pós-parto é dotada de três espécies, sendo elas o baby blues, a psicose puerperal e o distúrbio de pânico pós-parto associado ao puerpério, ocorrem reações conscientes e inconscientes durante esse processo puerperal, dentro de seu ambiente familiar e social, ativando profundas ansiedades. A mãe deprimida, pode apresentar necessidade de isolamento. A debilidade física e a decepção com sentimentos de fracasso e desilusão, têm também aspectos regressivos que se somam aos já produzidos pelo parto, fazendo com que a puérpera se sinta mais carente e dependente de proteção (FRIZZO; PICCININI, 2005).
A depressão pós-parto é um acometimento melancólico, que psicologicamente orienta a mãe a subverter o rumo de certas condutas, trazendo confusões que muito provavelmente atentarão contra a moral e os bons costumes, porém para a mãe que experimenta esta sensação no pós-parto, pode ser acompanhada de uma privação parcial, cujo resultado é uma incalculável angústia, gerada por um misto de sentimentos culminantes na especificidade desta depressão, segundo a menção de Bowlby (2006):
Uma criança pequena, ainda imatura de mente e corpo, não pode lidar bem com todas estas emoções e impulsos. A forma pela qual ela reage a estas perturbações em sua vida interior poderá resultar em distúrbios nervosos e numa personalidade instável (BOWLBY, 2006, p. 4).
A depressão pós-parto materna, pode ser conceituada como, uma reação em um certo momento, posterior ao nascimento da criança, onde o vínculo mãe-bebê é alterado por uma instabilidade emocional, gerando uma interferência suficientemente perigosa, não existe parecer explícito e nem a possibilidade de se fazer, intentando apurar as complicações do laço afetivomãe-bebê ou se isso, de fato afeta o desenvolvimento deste bebê, porém, há um entendimento de que existem fatores relacionados que podem sim estabelecer este comprometimento (BOWLBY, 1981).
É importante ressaltar que o alicerce desta relação mãe-bebê, está fortemente relacionado ao cuddliness (aconchego), este termo em inglês, trata da inclinação do bebê, para se aconchegar, se entregar ao colo dos pais, tutores ou quem quer que possa lhes oferecer carinho e aconchego, sendo então o bebê, o detentor, o protagonista desta relação, e é de sua competência o escopo de criar um laço de apego, entendendo assim que é uma ação conjunta onde os papéis são estabelecidos com o entendimento de um papel específico para cada parte, não se tratando apenas do physically holding (cuidado físico), mas sim do amor propriamente dito, propagado como um processo natura (BOWLBY, 1984), “deixando gravado em sua memória, toda a estrutura que os uniu, tornando mais tolerável a possibilidade de separações naturais” (FERRARIS, 2005).
Contudo, evidencia-se “cada vez mais, o forte estreitamento na qualificação do comunicar cotidiano entre mãe e filho, posteriores as fases de adaptação deste relacionamento”, conforme é mencionado por Maldonado (2000), trata de uma grande especulação das partes sobre o comportamento de cada um, onde uma peculiar criptografia comportamental, vai sendo decifrada por ambos nesta relação, tanto a mãe com o filho, como o contrário, tendo em vista a maior dificuldade da criança em se adequar ao mundo novo a que veio, dado toas as vicissitudes encontradas, assim como existe uma luta concernente a mãe, que deverá se reestabelecer após uma gravidez que deixa marcas físicas, depois de um trabalho de parto que pode deixá-la vulnerável, “principalmente no fato de a mãe, à partir daquele momento, passará a concentrar todos os seus esforços no bebê e não apenas em si”, conforme a citação Marques (2003, p. 85-94).
Por fim, podemos entender que segundo Frizzo e Piccinini (2005) que trazem em sua obra, firme conceituação, quanto a caracterização do fato de que “mães deprimidas são menos responsáveis” e segundo os mesmos autores, “a depressão da mãe compromete não só ela, mas o bebê também e até o pai, que tem papel diferenciado nesta relação estrutural e seu poder de direcionar os membros desta estrutura familiar”.
3.1 CONSEQUÊNCIA CÍCLICA DA DEPRESSÃO PÓS-PARTO
A compreensão no processo de adoecimento na depressão pós-parto, à luz da teoria do apego, elucida neste trabalho de conclusão de curso, através de textos, artigos e livros sobre a depressão pós-parto, os conceitos de John Bowlby, nas entrelinhas de inúmeras informações referenciais, com autores que trabalharam a depressão pós-parto, com base conceitual em John Bowlby, que em sua teoria, acabou desenvolvendo uma pesquisa sobre o laço entre a mãe e o bebê, ou outros cuidadores. O autor em questão era psiquiatra e psicanalista e aprofundou seus estudos tendo muita proximidade com crianças órfãs e sem moradia, ante os seus dilemas e obstáculos apresentados no pós-guerra.
Em vista do interesse por estas crianças, John Bowlby deu vida ao desenvolvimento da teoria do apego, sendo que o trabalho de conclusão de curso ainda apresenta nesta revisão bibliográfica, os aprofundamentos da psicanalista Mary Ainsworth (1978), pois ambos desenvolveram pesquisas que ajudam no entendimento da depressão pós-parto, com uma gênese em sua própria infância, por este fator, já se pode entender que o apego é fundamental, para que não haja ruptura no laço mãe-filho, quanto menos que isso desencadeie uma patologia depressiva em virtude do nascimento desta criança, que herdará uma predisposição depressiva.
O conceito essencial da teoria do apego escrita por Bowlby, aliada a aproximação das obras de doutrinadores da psicanálise que corroboram as teorias deste conceito de aproximação da mãe com o bebê, são fundamentais para o entendimento patológico, é importante entender o que ocorre no período pós-parto e ainda entender qual o tempo de duração desta depressão pós-parto, estudos trazem a explanação de que, a depressão pós-parto mesmo sem uma etiologia específica, trata de “sintomas, que tem o seu princípio apresentado da quarta a oitava semana, chegando inclusive a cinquenta e duas semanas posteriores ao parto, podendo ainda permanecer por mais de um ano, acontecimento este que varia de 10% a 16% das novas mães” (KLAUS et al., 2000).
Outro fator importante apontado, é de que os sintomas mais costumeiros na depressão pós-parto, que são normalmente identificados ao aproximar do primeiro mês, sendo dos mais comuns a neurastenia, o choro constante, sentimentos depressivos, geradores de fraqueza e desestímulo, ocasionando um transtorno alimentar e de sono, gerando inclusive desinteresse pelo sexo e a total perturbação de seus atos cotidianos, fora os sentimentos de incapacidade ante simples obstáculos da vida (PEARLSTEIN, 2009).
Outro sentimento corrente é a ansiedade, que inclusive tem ligação aprofundada com o bem-estar do bebê e acaba persistindo, posto que médicos e enfermeiras tendem a acalmar mães neste estado, geralmente, esta ansiedade é manifestada na forma de desafeto pelo filho, acompanhadas de autoacusação e culpa, resultantes de preocupação excessiva, por não encontrarem um caminho para um padrão aceitável para ser mãe (PEARLSTEIN, 2009). 
De acordo com Faisal-Cury et al., (2004) manifestações psicossomáticas como cefaleia, erupções vaginais, dores nas costas e dor abdominal, podem ser apresentadas na depressão pós-parto, sem uma motivação orgânica visível, tanto que o aparecimento de um ou alguns destes sintomas, são um panorama comum entre as mulheres. As mães geralmente apresentam estes sintomas, nas suas buscas incessantes em atender as carências do bebê, resultando em abstenção do sono, tornando-se parte de uma rotina lesiva a saúde mental da mãe, que muito possivelmente carecerá de amparo.
 Ao longo do ciclo pós-parto, a relação mãe-bebê é estabelecida, de forma conturbada quando a mãe é acometida pela depressão pós-parto, compreendendo este fato, a relação de apego pode ter função-chave na cessão de traços transgeneracionais, no vínculo entre o cuidador e seu filho. Nessa acepção, “as ligações parentais e quebras de vínculos primários devido perecimento ou abandono, têm um choque vital a evolução individual, pelo fato de que instauram um padrão internalizado de funcionamento e de interação” (FONAGY, 1999).
A depressão tem uma relação categórica com a genética da mulher, pois seus genes são detentores de uma possibilidade de no mínimo quarenta por cento de chances, de uma reprodução patológica, sendo o restante destes genes atribuídos a questões de atmosfera e agentes extrínsecos, vislumbrando a possibilidade ser uma herança deixada por sua mãe e que possivelmente será compartilhada com sua filha (STONEMAN et al, 1989), a teoria do apego de Bowlby, volta a ser um ponto de cisão da depressão pós-parto, visto que estes quarenta por cento trazidos em sua genética de chances de desenvolver a depressão pós-parto, pode ser manifestado em experiências simples, tal como amamentar, um gesto de amor, um ato tão amorosamente ético, que pode custar o sofrimento através da dor e ser associado a uma tortura psicológica que expõe seus sentimentos a um misto de reações distintas de seu padecimento psicológico.
A sociedade traz de forma cada vez mais consuetudinária, a ideia de que a mulher deve amamentar, doa a quem doer, no caso, que doa na mãe, sendo que infelizmente isto é disseminado culturalmente, como uma obrigação implícita na natureza da mulher, a ponto de qualificar a mulher por este ato, automaticamente rejeitando aquela que por algum motivo tenha dificuldade em amamentar e pior ainda para aquelas que não consigam desbravar com sucesso uma obrigação natural de uma prática que denota verdadeiramente o amor materno, ou seja inabilitando a mulher para a atividade materna, desencadeando um estresse emocional tão pesaroso, que a depressão pode influenciar no sentimento quepossui pela criança, bem como por si própria, trazendo confusão entre emoções opostas, que muito provavelmente serão descarregadas com uma contagiante consternação, suficiente para influir no ambiente familiar, atingindo o companheiro, o filho e seja qual for o membro que compõe este ambiente, sendo parametrizado com a teoria da vinculação de John Bowlby.
3.2 VÍNCULOS FAMILIARES X DEPRESSÃO PÓS-PARTO
Os vínculos familiares são um ponto de análise de diversos autores, como desencadeadores da condição patológica de depressão pós-parto, nada obstante, ressalta-se que a constituição de uma nova família, é uma ação plurilateral, onde interesses unilaterais se convergem em uma união adjetivada por matrimônio, com pressupostos de particularidades que se fundem em favor da longevidade, a pertinência deste tema é tanta, que John Bowlby (1982), advertia sobra a vinculação, “ser tão comum e da natureza do ser humano, quanto qualquer outra capacidade fisiológica vital, fundamental para sua sobrevivência”, faz parte de seu âmago, condiz com a necessidade natural. 
O mundo foi construído através de vínculos, a própria citação bíblica de Adão e Eva (BÍBLIA, Gênesis 2;18-25), nos remete ao conceito de vinculação, e esta relação social é consubstanciada na prática do amor, que é edificado entre pessoas distintas a partir de suas decisões inicialmente unilaterais, até que o matrimonio consagre a bilateralidade e com a expansão da família o estabelecimento de decisões plurilaterais, sendo assim, sacramenta-se a oficialização de um ato que incidirá em vicissitudes pontuais, geradoras de instabilidade psicológica devido a mudança e naturalmente com as emoções desta nova etapa de estruturação familiar, é acrescentado o peso da responsabilidade, uma vez que esta expansão é seguida de uma gravidez, é triplicado o nível de estresse, uma vez que mal administrado este estresse, pode desencadear de fato em distúrbios psicológicos de considerável impacto.
Diante da vicissitude de inclusão de um filho na vida de um casal, “a estrutura familiar em um todo, absorve esta impactante mudança como um enorme desafio, sendo que os esforços antes destinados ao fortalecimento da relação marital, agora são fracionadas com a vinda de uma criança, adicionando a peculiar tarefa de mantê-los gerenciados sob os mesmos padrões” (CARTER; MCGOLDRICK, 1995), este novo norteador no relacionamento, iniciado no parto e conseguinte no pós-parto, ampliam o horizonte das vinculações, que são tão fundamentais para a vida, contudo, sobrecarregam principalmente a mulher, dado a especificidade das atribuições estabelecidas no relacionamento, de acordo com os critérios culturais estabelecidos pela sociedade.
Dado o fator de a vinculação tratar de uma primordialidade fundamental do ser humano na evolução dos laços afetivos de convívio, independentemente de sua escala, sendo arcabouços de segurança para aqueles que se sustentam com o equilíbrio unicamente possível pela conexão de encaixe exclusivo concernente a cada casal, assim como estabelecido no laço entre a mãe e o filho, destarte, o pensamento que conceitua a vinculação estabelecida por John Bowlby (1978) e Mary Ainsworth (1989), onde afirma a tese de “que a ligação de afeto formado com outra pessoa, os une e se conserva no tempo”, sendo esta uma condição muito característica de um gerador de estresse e consequentemente um distúrbio emocional, podendo levar a depressão pós-parto.
Tem que se destacar uma peculiaridade na teoria da vinculação, visto que ela difere e tem conceituação diferenciada do comportamento de vinculação, pois a questão comportamental é caracterizada pela ação de contatar com a postulante a vinculação, ao passo que a teoria da vinculação trata do elo afetivo estabelecido (AINSWORTH, 1991), desta forma, entende-se que a característica de vinculação independe do período de vinculação, seja quem for a vinculada, todavia, o convívio sim é determinante para um progresso qualitativo. Quando o vinculado é o filho, o mesmo enxerga em sua mãe, o alicerce confiável, o porto seguro, o amparo imediato, o primeiro recurso a ser buscado, bem como no relacionamento conjugal, ambos postulam como bases seguras e de apoio um ao outro, o que mais uma vez, pode servir de aparato para uma responsabilidade geradora deste concentrado e determinante estresse.
Deve-se levar em consideração a propensão biológica do comportamento de vinculação, é um processo natural nesta busca por elos afetivos, trata-se de um instinto de sobrevivência, a busca por acolhimento e resguardo ante episódios que afrontem a estabilidade vital, tais mecanismos são parte de um sistema de controle, que conforme pontuou John Bowlby (1978), “situa-se no sistema nervoso central, cuja incumbência são a regulação da cativação e o grau de envolvimento com o agente vinculado”.
A questão comportamental de vinculação se sucede desde o momento de seu nascimento, até os três anos de idade, organizando o arquétipo comportamental de forma mais concisa e complexa, John Bolwby (1978, p. 74) , conceituava esta estrutura como “um dos processos norteadores de triagem do vinculado”, com destaque a inclinação natural da direção sensorial do bebê, ante determinadas incitações, o aprendizado via demonstração, fatores que compõem a organização de sensações que servem de pareceres memoriais que constroem de fato e de forma corroborada a parte comportamental.
O que fica evidente e pode elucidar esta intersecção conceitual entre a teoria da vinculação e depressão pós-parto é que, a teoria da vinculação de John Bowlby, pode explicar sob a ótica da mãe, esta necessidade de vinculação pelo laço afetivo, fator este que precede uma responsabilidade tão cheia de expectativas, que acaba desencadeando a depressão pós-parto da mãe, muitas vezes pela tristeza gratuita que a faz acreditar que não será capaz de cumprir esta missão que é a maternidade, a depressão pós-parto é a quebra do instinto natural de se vincular, de se apegar, Bowlby que sofreu forte influência de Darwin, quando começou sua fase de estudos etológicos sob a ótica da psicologia progressiva, concomitante a teoria da evolução, tendo como premissa maior o fato de que o vínculo é estabelecido conforme se desenvolve este laço afetivo, assim como um animal que nasce do ovo e a primeira figura que vê, acredita ser sua mãe, mas que na verdade o relacionamento é quem vai determinar o grau deste laço, sendo que a mãe que não entende esta norma vital, acaba sendo vítima de uma depressão que interferirá nesta vinculação significativamente.
3.3 INGERÊNCIA DEPRESSIVA NA VIDA DA MULHER
A depressão pós-parto pode interferir na vida de uma mulher de maneira avassaladora, sendo que o quadro sintomático pode permanecer por muitos anos, tornando a possibilidade da obtenção de um panorama de prolongamento de distúrbios depressivos contumazes, abalando não só a vitalidade psicológica materna, mas todo o quadro parental que a rodeie, seja o companheiro, bem como os filhos, por mais que se trate de um quadro superficial de depressão, “isso pode acarretar de forma visceral o relacionamento da mãe com o filho, obstaculizando o convívio” (SCHMIDT et al, 2005, p. 61-68), “implicando inclusive no progresso intelectual dos filhos” (COOPER; MURRAY, 1998).
“A ingerência depressiva na vida mulher constitui reflexo comportamental com aspectos híbridos” (WEINBERG & TRONICK, 1998), pois é muito comum observar reações desanimadas, com aflições, encolerizadas espontaneamente, com pranto constante, sentimentos de solidão em mulheres que sofrem com a depressão pós-parto, tais ingerências, também são atribuídas a distúrbios alimentares e de sono, com déficit de atenção, demasiada sensação de culpa com tendência de suicídio volitivo.
Fatores primordiais para que haja negligência nos cuidados com a criança, em vista de sua confusão momentânea quanto a real atribuição no desígnio materno, resultando em tristeza incontrolável e uma certa omissão nos cuidados da criança, da mesma maneira que, fracassa na incumbência de zelar pelo filho emum ostracismo que a coloca em um patamar de culpa (ANDRADE et al, 2006), o resultado acaba em um bombardeio de sentimentos que alvejam a criança de maneira desordeira, tornando-a confusa na recepção destas emoções maternas, tão mescladas em seus devaneios depressivos.
Faz-se a observação de que “estes sentimentos podem gerar um equívoco no diagnóstico, pois sinais de depressão em muitos casos são associados a alterações comportamentais e psicológicas das puérperas, coincidindo com patologias da tiroide” (RUSHI et al., 2009), existindo inclusive a possibilidade de técnicos da saúde, não identificarem devido seu teor parcamente agressivo de depressão não psicótica, naturalmente resultando em um deterioramento do quadro depressivo, ante um período mais extenso.
Outro item de distúrbio que fica muito evidente no período posterior ao parto, trata da ansiedade, que tem seu início em uma demasiada obsessão com os cuidados maternais, correlacionados a manutenção alimentar e a saúde num todo, sendo que a ansiedade pode afligir de forma inexorável, gerando um excessivo estresse que a faz acreditar que é uma mãe ruim para o seu bebê, sendo que essa ansiedade pode ter nascido no período de gravidez, em virtude de um cenário social e cultural favoráveis a patologias depressivas, se agravando no período posterior ao parto, tendo a sensação de incapacidade na criação deste filho, atingindo todo o ambiente familiar.
Depressão ou ansiedade durante a gravidez, eventos recentes estressantes, apoio social precário, história prévia de depressão, estresse assistencial, baixa autoestima, neuroticismo materno, complicações obstétricas e gestacionais, atribuições cognitivas negativas, estado civil único, relacionamento ruim com parceiro e baixo nível socioeconômico. (STEWART, et al., 2004, p.97).
Dentre os sintomas que vitimam as mulheres na depressão pós-parto, a ansiedade é o que mais resulta em reações adversas ao seu estado normal de personalidade e caráter, talvez o que mais altere o seu cotidiano familiar, a ponto de no ápice desta neurastenia, busque um escape de tudo aquilo que a vincule a depressão pós-parto, amiúde, atenuando esta ansiedade em empreitadas que conflitem com seu caráter, procurando o antídoto para esta ansiedade longe do ambiente familiar, expandindo a carga laboral por conta própria, contraindo relacionamentos fora do matrimônio, “atraindo pra si, somatizações que revertam em enfermidades esporádicas ou em incidentes que ocasionem em fraturas, tudo isso para alcançar muitas vezas uma determinada importância, no intuito se sentir o centro das atenções novamente” (GUEDES-SILVA, et al., 2003).
A ingerência também pode ser fisicamente exposta, através de cefaleia, dores nas costas, erupções vaginais e desconforto abdominal, sem uma clara motivação natural, acompanhados de ininterrupta consternação, diminuição de apetite e libido, bem como pensamentos compulsivos, que muitas vezes culminam em uma angústia incontrolável, assim como diversas visões negativas a respeito do futuro, um quadro totalmente desfavorável a interação mãe-bebê, absorvidos pela criança por meio da atenção reduzida que recebe, a quase nula comunicação, seja ela visual, assim como vocal, a pouca sinalização através das gestuais, incluindo o pouco contato físico, denotando claramente o estado de uma mãe com depressão pós-parto.
4. PAPEL DA DEPRESSÃO PÓS-PARTO NO TRATO MÃE-BEBÊ
A depressão pós-parto sob a ótica de Spitz (1979) analisada em sua gênese axiológica, traz percepção psicanalítica em relação a evolução da personalidade do bebê, tendo papel avassalador quando acometida pela depressão pós-parto, pois este bebê acaba vivenciando em seu momento de descobertas, o primeiro contato com a perda, que não é a física, mas se assemelha, pois possui um contraste de complexidades que refletirão nas emoções deste bebê, é uma perda similar ao desaparecimento da mãe ou até mesmo a sua morte, ou seja, este bebê é exposto a um abandono presencial com nome de depressão pós-parto.
De acordo com Klein e Riviere (1970), a depressão pós-parto gera uma perda emocional oriunda dos atos de distanciamento da mãe, mesmo havendo uma presença física desta mãe, é insuficiente para que o bebê a enxergue como um objeto bom, no entanto vê-se como empecilho na vinculação, uma vez que este objeto na qual o bebê investiria todo o seu apego, se torna cada vez menos aderente ante a depressão pós-parto, fator principal do distanciamento materno, o primeiro fator de afetação apontado por Bowlby (1990) está no vínculo, pois esta necessidade humana é imprescindível nos primeiros anos de vida e pode influenciar para toda a vida desta criança:
[0 vinculo] inclui o choro e o chamamento, que suscitam cuidados e desvelos, o seguimento e o apego, e também os vigorosos protestos se uma criança ficar sozinha ou na companhia de estranhos. Com a idade, a frequência e intensidade com que esse comportamento se manifesta diminuem gradativamente. No entanto, todas essas formas de comportamento persistem como parte importante do equipamento comportamental do homem. Nos adultos, elas são especialmente evidentes quando uma pessoa está consternada, doente ou assustada. Os padrões de comportamento de ligação manifestados por um indivíduo dependem em parte, de sua idade atual, sexo, e circunstancias, e, em parte, das experiências que teve com figuras de ligação nos primeiros anos de sua vida (BOWLBY, 1990, p. 171).
Dando ênfase na tese que trata do cuidado materno primário, destacando-o como circunstância substancial para uma mãe de fato tutelar a criança em suas necessidades fundamentais, saciando-a integralmente. Na visão “winnicottiana” a mãe dita como suficientemente boa é capaz de saciar esta necessidade, pois é vital para que o bebê tenha uma evolução mental adequada, pois de acordo com Winnicott (1988), o papel da mãe é totalmente intuitivo:
Há coisas muito sutis que a mãe tem ciência, compreende, sabe por intuição e sem qualquer apreciação intelectual daquilo que está acontecendo, às quais ela só pode chegar se a deixarmos com toda responsabilidade neste campo específico (WINNICOTT, 1987/2006, p. 55).
O conceito de “preocupação materna primária” de Winnicott é um paralelo importante, pois reafirma o impacto causado pela depressão pós-parto no trato mãe-bebê e ainda evidencia a teoria da vinculação de John Bowlby, pois ambos podem traçar um perfil resultante em uma criança que possivelmente desenvolverá depressão, sendo do sexo feminino então, a probabilidade desta depressão ser manifestada no período gestacional é ainda maior, contudo, o conceito winnicottiano é o ponto que evidencia o holding (sustentação), pois todo este processo vital abarca além do suporte físico, o suporte psíquico também, formando esta intersecção conceitual com ditames inerentes a abordagem materna distante, ser óbice para uma vinculação saudável, contudo, o sofrimento da mãe atormentada pela depressão pós-parto vai influenciar negativamente, mas a mãe focada na preocupação materna primária pode ter êxito no desenvolvimento do bebê e em uma possível amortização de seu estado depressivo, pois gerou possibilidades de desenvolvimento para este bebê:
A mãe que desenvolve esse estado ao qual chamei de preocupação materna primária fornece um contexto para que a constituição da criança comece a manifestar-se, para que as tendências ao desenvolvimento comecem a desdobrar-se, e para que o bebê comece a experimentar movimentos espontâneos e se torne dono das sensações correspondentes a essa etapa inicial da vida (WINNICOTT, 1956/2000, p. 403).
A conceituação de capacidade de reverie por Bion (PARKER, 1995) tangeu elaboração, consubstanciado na concepção de que o papel da mãe de aplicação do seu “aparelho para pensar” a consciência do bebê, apontando e revelando suas condições cognitivas e percepções, sendo este um período onde não detém mecanismos para a sua realização, quanto menos uma realização apropriada, “ficando evidente a conexão entre o que é dito por teóricos psicanalíticos e a biologia”,Bowlby (1973) viabilizou a ligação dessas duas áreas da ciência, tornando os pontos relevantes de ambas, chaves para maior compreensão no trato mãe-bebê, intitulando este estudo de “sistema de apego”, às bases neuropsicológicas que guiam o elo do bebê com seu objeto cuidador, tratando-se de um complexo emocional e comportamental engendrado por ele como ingênito e espontâneo, análogo as sensações de fome e sede, veículos de contiguidade e comunicabilidade com sua mãe no robustecimento do trato mãe-bebê, ante o detrimento ocasionado pela depressão pós-parto.
A interação mãe-bebê é hoje concebida como um processo ao longo do qual a mãe entra em comunicação com o bebê, enviando-lhe certas “mensagens”, enquanto que o bebê, por sua vez, “responde” à mãe com a ajuda de seus próprios meios. A interação mãe-bebê aparece assim como o protótipo primitivo de todas as formas ulteriores de troca. (STOLERU, 1987, p. 86).
Esta obra já vislumbrava no arcabouço conceitual de John Bowlby (1973), aspectos da depressão pós-parto da mãe oriundas do sistema de apego, repaginando e direcionando os seus estudos para o entendimento da gênese patológica da depressão pós-parto, no intento de atenuar esta depressão, acrescentando ainda uma assimilação de Trevarthen e Aitken (1994) com sua psicologia empírica na qual amplia esta percepção do sistema supramencionado, sugerindo que um determinado conjunto de neurônios organizados geneticamente esculpam uma “formação motivacional intrínseca”, promovendo de forma embrionária às faculdades do cérebro do bebê para o trato carinhoso, o apego desta criança é inter-relacional e desenvolvido no convívio com as pessoas.
Há uma perspectiva sob uma ótica evolucionista, que faz uma pontuação conceitual dos doutrinadores que versam sobre o sistema de apego, trazendo à tona, o parecer de que este sistema de apego amplifica as possibilidades de sobrevivência do bebê, extraindo do cérebro um raciocínio amadurecido, no que tange ao atendimento imediato de seus desejos ou necessidades do dia a dia, sendo que são tarefas difíceis de serem executadas pelo cérebro imaturo, contudo, o sistema de apego trabalha com maior eficácia este lado e desenvolvendo este bebê com mais possibilidades de progressão, pois o trato mãe-bebê influi substancialmente no futuro desta criança, sendo que a mãe que consegue o objetivo de não atingir este bebê com seu distanciamento oriundo da depressão pós-parto, consegue a obtenção de um resultado positivo e importantíssimo para a condução de um sistema de apego estável, sendo que uma condução instável deste sistema de apego, pode ocasionar em um quadro precoce de ansiedade que acompanhará esta criança por toda a vida, a expondo a quadros depressivos e principalmente quando se tratar de uma mulher, torná-la refém de uma depressão pós-parto, que de maneira cíclica, também vitimará seu filho de maneira trangeracional.
Um complexo anatômico e fisiológico, e junto a isso, um potencial para o desenvolvimento de uma personalidade humana. Há uma tendência geral voltada para o crescimento físico, e uma tendência ao desenvolvimento da parte psíquica da integração psicossomática; há tanto no campo físico quanto no psicológico, as tendências hereditárias, e estas, ao lado da psique incluem as tendências que levam a integração ou à consumação da totalidade. (WINNICOTT, 1968, p. 79)
Este quadro cíclico de depressão pós-parto, em muitas oportunidades se traveste de insegurança, pois a mulher crê em seu despreparo para a maternidade e não em um quadro depressivo, ela entende que é desqualificada para a realização da maternidade com protagonismo, se amparando na instabilidade emocional típica do estado gravídico, execrando a tudo e a todos durante este período e por muitas vezes dissimulando seus sentimentos, agravando ainda mais este estado depressivo, por sentir-se vitimada pela inexperiência e por enxergar as outras mães como pessoas que venceram facilmente este desafio, se coloca em uma situação de estresse e depressão. A mulher tende a se sentir muito mais responsável do que as condições fáticas exigem, visto que dentro dela um bebê se desenvolve diariamente, a amedrontando de forma descomunal e por ser a portadora desta vida nova, como um receptáculo para a criança, cria a ótica de ter um parasita absorvendo a sua força vital (KITZINGER, 1987).
4.1 AGENTES NEUROPSICOLÓGICOS NA DEPRESSÃO PÓS-PARTO
Ter um filho é um processo que demanda grande equilíbrio psicológico, quando se trata do primogênito, a carga emocional pode triplicar, tratado inclusive por muitos doutrinadores como fator de surgimento de mazelas psicológicas, tais como a depressão (seja ela qual for), as psicoses pós-parto e outras manifestações psicossomáticas (SZEJER & STEWART, 1997). A depressão relacionada a natividade de uma criança, compete a uma mescla de prognósticos encetados da quarta a oitava semana após o parto com já mencionado nesta obra, tendo em seu panorama sintomático neurastenia, pranto constante, solidão, falta de esperança, energia e encorajamento, perda da libido, bloqueio nutricional e de repouso, o quadro depressivo costuma surgir de maneira traiçoeira e deve ser observado nestas duas semanas iniciais do pós-parto (SILVA & BOTTI, 2005).
O briefing psiquiátrico exalta como manifestação básica, o desenvolvimento e o corolário terapêutico da depressão pós-parto, “descrevendo-os como similares aos da depressão major, clinicamente relevante, com o especificador de tempo” (WICKBERG & HWANG, 1997; APA, 2000), a pujança desta condição depressiva costuma se diferenciar quanto a sua manifestação, visto que está intrínseco a individualidade desta mãe, envolvendo todas as questões sociais, culturais, que geram a intersecção com as vicissitudes biológicas e psicológicas que ocorrem posteriores ao momento do parto (SILVA ET AL., 2003).
Esta depressão varia muito de intensidade em cada mulher, e se deve a vários fatores: a tensão que frequentemente surge no decorrer do parto, a dor que eventualmente suportou, em parte, talvez enormes mudanças metabólicas que se processam neste período (MALDONADO ET AL, 1987, p. 66).
O que cabe ressaltar é a condição estabelecida de consternação pós-parto, contudo com um desânimo enfático, característicos de uma depressão pós-parto com agentes neuropsicológicos que se alongam por um período consideravelmente mais extenso, tornando-se consequentemente em regra, mais gravosos, tanto que no caso da ansiedade na depressão pós-parto, fica evidente o quanto mais intenso costuma ser comparado a tristeza pós-parto, porquanto que se destaca uma demasiada tormenta psicológica, no que tange a saúde e bem-estar deste bebê (SMITH & JAFFE, 2007).
Todo e qualquer gesto de uma mãe posterior ao parto, em relação ao bebê, tende a ser uma ação com contornos de exagero, visto que em sua grande maioria, as mulheres costumam valorizar e dar importância desmedida aos pequenos acontecimentos, que muito provavelmente mais tarde, serão costumeiros, enxergarão em qualquer oscilação de temperatura da criança, como uma possibilidade de ser uma simples gripe ou uma devastadora meningite. Uma mãe que vivencia este tipo de reação no pós-parto, tende a ser mais suscetível a ataques de pânico, podendo ter ainda sensações de horror, palpitações, bem como uma relutância na respiração, acompanhada de tremores constantes.
Tudo isso reflete em uma total auto atribuição de incapacitação no labor maternal, consubstanciado na tese de que sua incapacitação é latente e concentrada em sua baixa estabilidade emocional, resultante na nula ou quase nula, convicção para postular com liderança materna, os mais prosaicos afazeres domésticos que são direcionados a uma prioridade absoluta que é cuidar de uma criança recém-nascida, visto que sofre de padecimento cognitivo do mundo, fazendo-a ter uma ótica idiossincrática extremamente melancólica, em todo e qualquer fato cotidiano, dando-a a percepção de que até mesmo diante a clareza da circunstância comprovadamente favorável, ainda assim, experimentará um dissabor, oriundo de

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