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1 2 3 SUMÁRIO 1. Política Transversal .................................................................................................. 4 2. Decreto Nº 8.727, DE 28 de abril de 2016 ............................................................... 6 3 Conceito de Gênero e sua Importância para a Análise das Relações Sociais. ... 9 3.1 Relações de Gênero ............................................................................................... 9 3.2 A categoria gênero ............................................................................................... 11 4. Usos da categoria “geração” ................................................................................ 14 4.1 Os Jovens .............................................................................................................. 17 4.2 Os Velhos .............................................................................................................. 19 4.3 Violência, Gênero e Idade .................................................................................... 20 QUESTÕES DE PROVAS ............................................................................................ 28 GABARITO ................................................................................................................... 37 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................ 41 4 Relações de Gênero Intergeracionais é um tema que se encontra inserido nas Políticas Transversais. O conteúdo desta aula aborda a categoria gênero e geração que também se encontra em outros conteúdos das aulas de Serviço Social. No conteúdo das questões de provas com comentários e sem comentários, estaremos aprofundando o aspecto das relações de gênero e intergeracionais inserida no âmbito do conhecimento do Serviço Social. 1. POLÍTICA TRANSVERSAL Embora o uso do termo "transversalidade" esteja se tornando, a cada momento, mais comum no Brasil, muitas dúvidas ainda pairam sobre o seu significado. A literatura que se propõe a debater o tema oscila entre explicar a transversalidade como uma mera importação da ideia difundida na Europa de gender maintreaming (dimensão de gênero) e o debate sobre formas alternativas de gestão pública. O termo transversalidade, costuma ser visto nos debates sobre políticas de combate à desigualdade entre homens e mulheres por sua relação com o gender mainstreaming (dimensão de gênero). No entanto, no governo federal brasileiro entre 2003 e 2012, três são as Secretarias reconhecidas agentes de políticas transversais: a Secretaria de Políticas para Mulheres (SPM), a Secretaria de Direitos Humanos (SDH) e a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR). Além de realizar uma reconstrução histórica de como se desenvolveram os órgãos governamentais brasileiros que tratam da temática de gênero, também foi feito um esforço de caracterização das três Secretarias. Assim, após a caracterização que demonstrou aspectos formais dos órgãos, são apresentadas análises de entrevistas com gestores das Secretarias que demonstram o uso transversalidade nas suas ações cotidianas de trabalho. Os apontamentos sistematizados a partir desses depoimentos, contribuíram para a realização de uma análise, do ponto de vista da gestão pública, sobre como o termo transversalidade é utilizado para se tratar de ações relacionadas ao combate a um problema "maldito". 5 No Brasil, "além das políticas mais tradicionais, desenvolvem-se uma série de políticas de corte transversal que podem ter caráter tanto de proteção quanto de promoção social, semelhante às ações voltadas à igualdade de gênero e racial, assim como as destinadas especificamente às etapas do ciclo de vida, conforme as políticas voltadas para as crianças, adolescentes, juventudes e idosos". Políticas Setoriais: Previdência, Assistência, Saúde, Trabalho, Educação Cultura - divididas entre as de promoção e proteção; Políticas Transversais: destinadas, mas não restritas, aos grupos minoritários: políticas de igualdade, gênero, idoso, juventude, criança, adolescente - englobam proteção e promoção. 2015/CETRO/MDS. A análise da recente Política Social Brasileira passa pelo entendimento do que se chama política setorial e política transversal. Diante desses conceitos, assinale a alternativa que apresenta apenas tipos de política transversal. a) Igualdade de Gênero/ Igualdade Racial/ Idosos. b) Juventude/ Idosos/ Cultura. c) Desenvolvimento Agrário/ Educação/ Assistência Social. d) Assistência Social/ Igualdade Racial/ Juventude. e) Educação/ Juventude/ Igualdade de Gênero. Resposta Correta: Letra a) Igualdade de Gênero/ Igualdade Racial/ Idosos. 6 2. DECRETO Nº 8.727, DE 28 DE ABRIL DE 2016 Dispõe sobre o uso do nome social e o reconhecimento da identidade de gênero de pessoas travestis e transexuais no âmbito da administração pública federal direta, autárquica e fundacional. A PRESIDENTA DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, caput, inciso VI, alínea “a”, da Constituição, e tendo em vista o disposto no art. 1º, caput, inciso III, no art. 3º, caput, inciso IV; e no art. 5º, caput, da Constituição, DECRETA: Art. 1º Este Decreto dispõe sobre o uso do nome social e o reconhecimento da identidade de gênero de pessoas travestis ou transexuais no âmbito da administração pública federal direta, autárquica e fundacional. Parágrafo único. Para os fins deste Decreto, considera-se: I - nome social - designação pela qual a pessoa travesti ou transexual se identifica e é socialmente reconhecida; e II - identidade de gênero - dimensão da identidade de uma pessoa que diz respeito à forma como se relaciona com as representações de masculinidade e feminilidade e como isso se traduz em sua prática social, sem guardar relação necessária com o sexo atribuído no nascimento. Art. 2º Os órgãos e as entidades da administração pública federal direta, autárquica e fundacional, em seus atos e procedimentos, deverão adotar o nome social da pessoa travesti ou transexual, de acordo com seu requerimento e com o disposto neste Decreto. 7 Parágrafo único. É vedado o uso de expressões pejorativas e discriminatórias para referir-se a pessoas travestis ou transexuais. Art. 3º Os registros dos sistemas de informação, de cadastros, de programas, de serviços, de fichas, de formulários, de prontuários e congêneres dos órgãos e das entidades da administração pública federal direta, autárquica e fundacional deverão conter o campo “nome social” em destaque, acompanhado do nome civil, que será utilizado apenas para fins administrativos internos. Art. 4º Constará nos documentos oficiais o nome social da pessoa travesti ou transexual, se requerido expressamente pelo interessado, acompanhado do nome civil. Art. 5º O órgão ou a entidade da administração pública federal direta, autárquica e fundacional poderá empregar o nome civil da pessoa travesti ou transexual, acompanhado do nome social, apenas quando estritamente necessário ao atendimento do interesse público e à salvaguarda de direitos de terceiros. Art. 6º - A pessoa travesti ou transexual poderá requerer, a qualquer tempo, a inclusão de seu nome social em documentos oficiais e nos registros dos sistemas de informação, de cadastros, de programas, de serviços, de fichas, de formulários, de prontuários e congêneres dos órgãos e das entidades da administração pública federal direta, autárquica e fundacional. Art. 7º Este Decreto entra em vigor: I - um ano após a data de sua publicação, quanto ao art. 3o; e II - na data de sua publicação, quanto aos demais dispositivos. Brasília, 28de abril de 2016; 195º da Independência e 128º da República. DILMA ROUSSEFF Nilma Lino Gomes 8 2016/FCC/AL-MS. A regulamentação nacional trouxe, no âmbito da Administração pública federal direta, autárquica e fundacional o uso do nome social e a identidade de gênero, o que tem sido adotado pela política pública de assistência social. Nessa linha, compreende-se que: a) é obrigatório constar nos documentos oficiais, nos registros de sistema de informação, nos cadastros, nas fichas, nos formulários e nos prontuários o nome social da pessoa travesti ou transexual, independentemente de ser requerido pelo interessado. b) é proibido constar nos documentos oficiais o nome civil para a pessoa que tem o nome social. c) a identidade de gênero é a designação pela qual a pessoa travesti ou transexual se identifica e é socialmente reconhecida. d) a identidade de gênero é a dimensão da identidade de uma pessoa que diz respeito à forma como se relaciona com as representações de masculinidade e feminilidade, e como isso se traduz em sua prática social, sem guardar relação necessária com o sexo atribuído no nascimento. e) a identidade de gênero é a forma como uma pessoa se relaciona com as representações de masculinidade e feminilidade, estando diretamente vinculada com o sexo atribuído no nascimento, podendo ainda definir um nome social que é a designação pela qual a pessoa é socialmente reconhecida. Resposta Correta: Letra d) a identidade de gênero é a dimensão da identidade de uma pessoa que diz respeito à forma como se relaciona com as representações de masculinidade e feminilidade, e como isso se traduz em sua prática social, sem guardar relação necessária com o sexo atribuído no nascimento. Comentário: DECRETO Nº 8.727, DE 28 DE ABRIL DE 2016: I - nome social - designação pela qual a pessoa travesti ou transexual se identifica e é socialmente reconhecida; II - identidade de gênero - dimensão da identidade de uma pessoa que diz respeito à forma como se relaciona com as representações de masculinidade e feminilidade e como isso se traduz em sua prática social, sem guardar relação necessária com o sexo atribuído no nascimento. 9 3 CONCEITO DE GÊNERO E SUA IMPORTÂNCIA PARA A ANÁLISE DAS RELAÇÕES SOCIAIS 3.1 Relações de Gênero A produção de nossa existência tem bases biológicas que implicam a intervenção conjunta dos dois sexos, o macho e a fêmea. A produção social da existência, em todas as sociedades conhecidas, implica por sua vez, na intervenção conjunta dos dois gêneros, o masculino e o feminino. Cada um dos gêneros representa uma particular contribuição na produção e reprodução da existência. Para Izquierdo poderíamos nos referir aos gêneros como obras culturais, modelos de comportamento mutuamente excludentes cuja aplicação supõem o hiperdesenvolvimento de um número de potencialidades comuns aos humanos em detrimento de outras. Modelos que se impõem ditatorialmente às pessoas em função do seu sexo. Mas esta só seria uma aproximação superestrutural do fenômeno dos gêneros. A autora chama a atenção para as palavras de Marx quando este diz que na produção social de sua existência, os homens entram em relações determinadas, necessárias, independentes de sua vontade; estas relações de produção correspondem a um grau determinado de desenvolvimento de suas forças produtivos materiais. O conjunto destas relações de produção constituem a estrutura econômica da sociedade, a base real, sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política e a qual correspondem formas sociais determinadas de consciência. Não é a consciência dos homens o que determina a realidade; ao contrário, a realidade social é a que determina sua consciência (Marx apud IZQUIERDO, 199). A existência de gêneros é a manifestação de uma desigual distribuição de responsabilidade na produção social da existência. A sociedade estabelece uma distribuição de responsabilidades que são alheias as vontades das pessoas, sendo que os critérios desta distribuição são sexistas, classistas e racistas. Do lugar que é atribuído socialmente a cada um, dependerá a forma como se terá 10 acesso à própria sobrevivência como sexo, classe e raça, sendo que esta relação com a realidade comporta uma visão particular da mesma. A construção dos gêneros se dá através da dinâmica das relações sociais. Os seres humanos só se constroem como tal em relação com os outros. Saffioti (1992, p. 210) considera que não se trata de perceber apenas corpos que entram em relação com outro. É a totalidade formada pelo corpo, pelo intelecto, pela emoção, pelo caráter do EU, que entra em relação com o outro. Cada ser humano é a história de suas relações sociais, perpassadas por antagonismos e contradições de gênero, classe, raça/etnia. Chamamos a atenção, ao que Izquierdo coloca como sendo o espaço social do gênero, já que isso tem uma grande importância quando se analisa a questão da mulher na relação com a atividade trabalho. Para a autora, o modo masculino, que contribui para a produção da existência, é diferente do feminino. Além disso as atividades masculinas produtoras da existência estão imbricadas em espaços distintos das femininas, que resultam em duas esferas: esfera de sobrevivência (doméstica); esfera de transcendência (pública). Cada uma destas esferas constitui o espaço social de um dos gêneros, sendo a esfera doméstica o espaço próprio do gênero feminino e a esfera pública própria do gênero masculino. A autora lembra que a separação da sobrevivência e da transcendência em duas esferas, converte as atividades que se desenvolvem em cada uma delas em alienadas, porque uma carece de sentido se não se refere à outra. A questão não é tanto estabelecer valorações a respeito da importância relativa de cada uma das esferas, mas assinalar que linearmente e circularmente, sobrevivência e transcendência doméstica e pública, masculinidade e feminilidade não são outra coisa que as duas caras da mesma realidade única e indivisível. A tentativa de construir o ser mulher enquanto subordinado, ou melhor, como diz Saffioti (1992), como dominada-explorada, vai ter a marca da naturalização, do 11 inquestionável, já que dado pela natureza. Todos os espaços de aprendizado, os processos de socialização vão reforçar os preconceitos e estereótipos dos gêneros como próprios de uma suposta natureza (feminina e masculina), apoiando-se sobretudo na determinação biológica. A diferença biológica vai se transformar em desigualdade social e tomar uma aparência de naturalidade. As relações de gênero, refletem concepções de gênero internalizadas por homens e mulheres. “Eis porque o machismo não constitui privilégio de homens, sendo a maioria das mulheres também suas portadoras. Não basta que um dos gêneros conheça e pratique atribuições que lhes são conferidas pela sociedade, é imprescindível que cada gênero conheça as responsabilidades do outro gênero” (Saffioti, 1992, p. 10). O “quem somos” vai se constituindo através das relações com os outros, com o mundo dado, objetivo. Cada indivíduo encarna as relações sociais, configurando uma identidade pessoal, uma história de vida e um projeto de vida. Neste processo, o fato de se pertencer a um gênero ou outro, ser menino ou menina também conformam as referências iniciais no mundo. 3.2 A categoria gênero A categoria gênero vai ser desenvolvida pelas teóricas do feminismo contemporâneo sob a perspectiva de compreender e responder, dentro de parâmetros científicos, a situação de desigualdade entre os sexos e como esta situação opera na realidade e interfere no conjunto das relações sociais. Varikas (1989) afirma que ao tomar emprestado o termo da gramática e da linguagem, as feministas postularam a necessidade de superar o sexo biológico,mais ou menos dado pela natureza, do sexo social, produto de uma construção social permanente, que forma em cada sociedade humana, a organização das relações entre os homens e as mulheres. A noção de gênero adquire um duplo 12 caráter epistemológico, de um lado, funciona como categoria descritiva da realidade social, que concede uma nova visibilidade para as mulheres, referindo- se a diversas formas de discriminação e opressão, tão simbólicos quanto materiais, e de outro, como categoria analítica, como um novo esquema de leitura dos fenômenos sociais. A principal importância desta abordagem é que além de ser um conceito que tenta desconstruir a relação entre as mulheres e a natureza é como nos diz Suárez (2000) um conceito acionado para distinguir e descrever categorias sociais (uso empírico) e para explicar as relações que se estabelecem entre elas (uso analítico). Para Kergoat (1996), que fala em “relações sociais de sexo” o conceito leva a uma visão sexuada dos fundamentos e da organização da sociedade, ancorada materialmente na divisão sexual do trabalho, num esforço para pensar de forma particular, mas não fragmentada, o conjunto do social, já que as relações de gênero existem em todos os lugares, em todos os níveis do social. Esta abordagem deve estar integrada em uma análise global da sociedade e ser pensada em termos dinâmicos, pois repousa em antagonismos e contradições. Lauretis (1994), iniciando a reflexão sobre o termo gênero a partir da gramática e de como este aparece na forma gramatical de diferentes maneiras, ou mesmo ausentes, conforme a língua, verifica que: gênero é uma representação não apenas no sentido de que cada palavra, cada signo, representa seu referente, seja ele um objeto, uma coisa, ou ser animado. O termo “gênero” é, na verdade, a representação de uma relação, a relação de pertencer a uma classe, um grupo, uma categoria. Gênero é a representação de uma relação(...) o gênero constrói uma relação entre uma entidade e outras entidades previamente constituídas como uma classe, uma relação de pertencer(...) Assim, gênero representa não um indivíduo e sim uma relação, uma relação social; em outras palavras, representa um indivíduo por meio de uma classe (Lauretis, 1994, p. 210). Seguindo o texto de Lauretis (1994), as concepções de masculino e feminino, nas quais todos os seres humanos são classificados, formam em cada cultura, um sistema de gênero, um sistema simbólico ou um sistema de significações que relaciona o sexo a conteúdos culturais de acordo com valores e hierarquias sociais. Vale destacar, pela pertinência ao tema deste texto, que embora os significados 13 possam variar de uma cultura para outra, qualquer sistema de sexo-gênero está sempre intimamente interligado a fatores políticos e econômicos em cada sociedade. Sob essa ótica, a construção cultural do sexo em gênero e a assimetria que caracteriza todos os sistemas de gênero através de diferentes culturas são entendidas como sendo sistematicamente ligadas à organização da desigualdade social (Lauretis, p. 212). Uma das principais proposições do texto de Lauretis (1994) é quanto à construção do gênero enquanto produto e processo: a construção do gênero é tanto produto quanto o processo de sua representação”. Para ela o “sistema sexo-gênero, enfim, é tanto uma construção sociocultural quanto um aparato semiótico, um sistema de representações que atribui significado (identidade, valor, prestígio, posição de parentesco, status dentro da hierarquia social etc.) a indivíduos dentro da sociedade. Se as representações de gênero são posições sociais que trazem consigo significados diferenciais, então o fato de alguém ser representado ou se representar como masculino ou feminino subentende a totalidade daqueles atributos social (Lauretis, 1994, p. 212). Lauretis (1994, p. 216), chama a atenção para a relação ideologia-gênero. Diz ela: pois, se o sistema sexo-gênero é um conjunto de relações sociais que se mantém por meio da existência social, então o gênero é efetivamente uma instância primordial da ideologia, e obviamente não só para as mulheres. Além disso, trata-se de uma instância fundamental de ideologia, independentemente do fato de que certos indivíduos se vejam fundamentalmente definidos (oprimidos) pelo gênero, como as feministas culturais brancas, ou por relações de classe e raça, como é o caso das mulheres de cor. 14 4. USOS DA CATEGORIA “GERAÇÃO” Independentemente da larga utilização dessa categoria no cotidiano, em que passou a designar até as etapas do progresso técnico (por exemplo, maquinário de última geração), os usos do par conceitual idade/geração no campo da análise científica, particularmente no âmbito das ciências sociais, podem ser sintetizados segundo três perspectivas ou sentidos principais (Attias-Donfut, 1988; Delbes & Gaymu, 1993) que terminam por ser, em parte, intercambiáveis, embora criticamente observados também em seus deslizamentos de sentido (Attias-Donfut, 1988, 1991): coortes, grupos etários e gerações propriamente ditas. Coorte é referência estatística ou demográfica e basicamente designa um conjunto de indivíduos nascidos em um mesmo intervalo de tempo, expostos a determinados eventos de caráter demográfico. Em princípio, entre as três noções, encerraria o sentido menos geral ou sociológico, mas não é assim para alguns estudiosos. Para Bengtson (1995), por exemplo, coorte é o que deveria ser usado no sentido social mais amplo, geração referindo-se apenas ao âmbito da família, no sentido genealógico. Bengtson (1995) critica duramente o uso de geração, pela imprecisão, propondo até, em seu lugar, o termo linhagem, porém ao mesmo tempo edita toda uma discussão teórica em que geração é inevitável – a paradigmática equidade entre as gerações. A tradição antropológica é responsável pela segunda acepção de geração, que se expressa, basicamente, em termos de idades (grupos etários, categorias de idade, classes de idade etc.) referindo-se quase sempre à filiação, guardando um sentido ou uma função classificatória que inclui tanto as posições na família como na própria organização social mais ampla. Essa acepção tangencia outros sentidos não exclusivamente cronológicos, quando enfatiza atributos culturalmente definidos, como na proposta de Meyer Fortes (1984), de estágios de maturação. 15 Essa classificação primeira e fundante que as idades historicamente alcançam, em interseção com o sexo/gênero, permanece na sociedade contemporânea e se mantém como gerações na família e (ou) etapas no curso da vida, idades biossociais para assunção de direitos e deveres que são cobrados, permitidos ou admitidos, mas também passíveis de contestação, tanto nas relações cotidianas como nas normas jurídicas e prescrições oriundas do Estado Derivam daí as “idades da vida”, traduzidas hoje aproximadamente em infância, juventude, maturidade e velhice, mas que atravessaram o imaginário dos últimos séculos, registradas em ilustrações de publicações, capas de livros, almanaques, depois também nomeadas ou tratadas como “gerações”, principalmente na atualidade. Essas “idades” tornaram-se também “ramos” de uma sociologia das gerações – sociologia da juventude, sociologia do envelhecimento. O sentido mais plenamente sociológico, ou macrossociológico – geração, propriamente dita – designa um coletivo de indivíduos que vivem em determinada época ou tempo social, têm aproximadamente a mesma idade e compartilham alguma forma de experiência ou vivência, ou têm a potencialidade para tal. Tanto o conceito como, sobretudo, uma estimativa dos limites ou justificativa de vigência social de uma geração – possibilidade de eficácia política ou cultural – no tempo, constroem-se ao longo de uma trajetória de reflexãosociológica que vem de Comte a Mentré (1920) e amadurece com Mannheim (1928), com um desenvolvimento paralelo e não diretamente comunicante com este, na proposta de Ortega (1923). Mannheim (1928: 134) define geração em vários momentos e etapas de desenvolvimento do seu texto na Sociologia do conhecimento, sempre acentuando seu sentido histórico: [...] indivíduos que pertencem à mesma geração [...] estão ligados [...] a uma posição comum na dimensão histórica do processo social, [o que significaria uma predisposição para] um certo modo característico de pensamento e experiência e um tipo característico de ação historicamente relevante (Mannheim, 1928: 135-136). 16 Embora esse seja o sentido básico de sua concepção, Mannheim não desvincula, evidentemente, geração e grupo de idade: [...] o fenômeno social geração nada mais representa do que um tipo particular de identidade de situação de grupos de idade mergulhados num processo histórico social (idem: 137). Situa, também, a base biológica da vida humana, para reforçar, pelo contraste, o sentido histórico dos fenômenos sociais: Na verdade, o traço mais surpreendente do processo histórico parece ser o de os fatores biológicos básicos operarem duma forma latente e só poderem ser compreendidos através dos fenômenos sociais e históricos que constituem uma esfera acima deles. Apresentadas alternativas de definições de geração que, em boa parte, confluem, duas questões básicas imediatamente se impõem e guardam intensa atualidade. Ao se observar que o mesmo contexto social não afeta igualmente todos os indivíduos de um grupo de idade e vivência classificado ou auto identificado como geração, verifica-se que segmentos dessa geração podem assumir posturas e caminhos sociais diferentes, ou até opostos. É o caso de padrões ou de movimentos culturais que se manifestam diversamente na mesma conservadores, cada um reunindo indivíduos de idade aproximada num cenário social semelhante. Por outro lado, cada momento histórico se realiza com a presença simultânea de experiências e trajetórias de vida. Mannheim detém-se criativamente sobre ambas as questões. Propõe a categoria “unidade de geração” para designar a potencialidade – ou não – de formação de “grupos concretos” em que se fracionariam as gerações e, por outro lado, incorpora a brilhante formulação sobre a “não contemporaneidade do contemporâneo”: Todas as pessoas convivem com pessoas da mesma e de diferentes idades [...]. Mas para cada uma o mesmo tempo é um tempo diferente [...] (Mannheim, 1928: 124). Na sociedade longeva que vem se constituindo nas últimas décadas – quando, cada vez mais frequentemente, coexistem quatro e até cinco gerações na mesma família, pois, desse ponto de vista, as gerações quase não se substituem, se sucedem– , a reflexão de Mannheim constitui-se em importante ponto de partida analítico e inspiração para a pesquisa. Ao enunciar os pressupostos básicos de uma teoria de gerações – até hoje a mais completa e elucidativa –, Mannheim dedicou-se, nesse campo, concretamente, a estudos sobre a juventude; aos jovens como agentes 17 “naturais” da mudança social, ou aos jovens problematizados como membros de grupos ou facções políticas radicais. 4.1 Os Jovens Será sobre a juventude, o segmento etário privilegiadamente estimulado ao novo e à mudança e, portanto, com o potencial maior de expressar-se enquanto geração social, que todos, durante largo tempo, apenas se debruçarão. E continuam a debruçar- se. Apesar do reconhecimento, desde o próprio Mannheim (1961), de que essa potencialidade da juventude se dá por seu maior espírito de aventura e descompromisso com o status quo, mas que depende da natureza da sociedade o uso delas. Também Eisenstadt (1976) longa e amplamente analisa os jovens e os movimentos juvenis, não em termos centrais de geração social, como o título de seu livro clássico De geração a geração promete. Eisenstadt centra-se em grupos etários e em graus etários, no geral construindo uma panorâmica de grupos jovens em suas formas básicas de organização e inter-relação com as “gerações” – essas últimas no sentido de posições na família. Preocupado em analisar a função dos grupos etários na interação social, Eisenstadt (1976: 32) discerne uma possível origem e razão de ser desses grupos, assinalando que eles: [...] se originam das tensões entre as gerações e sua função é descobrir válvulas de escape para estas tensões [...]. [Nesse sentido], podem funcionar como mecanismos de ajustamento secundário ou, em alguns casos, como ponto de partida para a formação de grupos anormativos (idem: 32). E segue explicando: Os grupos etários tendem a surgir quando a estrutura da família, ou do grupo de descendência, bloqueia as oportunidades dos membros mais jovens de alcançar status social dentro da família [...] (ibidem:233). Mas refere uma diversidade de situações, pois: [...] os grupos etários que existem sob estas condições diferem consideravelmente daqueles existentes [...] sob critérios universalistas de integração dos sistemas sociais (ibidem: 29), 18 os quais ensejam a constituição de grupos etários homogêneos e intermedeiam a transição da família para a sociedade mais ampla. Se, em fases históricas anteriores, os grupos etários já tinham afluência ou visibilidade, na contemporaneidade, principalmente nas cidades, grassam as “tribos” que dão vazão às mais variadas formas de expressão de pertencimento grupal, atingindo modificações inusitadas até do próprio corpo. Os jovens diferenciam-se cuidadosamente das gerações mais velhas, dividindo-se estas entre a crítica a eles e a que serve de modelo para um aprendizado imitativo... Entretanto, com a ampliação significativa das formas de sociabilidade não familial, essa tendência atual à formação ou agregação em grupos etários vem atingindo também os mais velhos, que passam a constituir objeto recente de visibilidade social e exposição ao consumo capitalista de serviços, paralelamente à ampliação de uma esfera de liberdade individual, em inédita expressão coletiva nos grupos de lazer e cultura para a “terceira idade” e, inesperadamente, na política, no movimento dos aposentados. Também com foco preciso nos grupos jovens, se começou a discutir geração no Brasil nas décadas de 1960 e 1970, o que correspondeu à referida tendência praticamente mundial, caracterizada por um afã interpretativo diante dos numerosos e amplos movimentos juvenis então em ação: estudantis, hippies, contra a guerra do Vietnã, a “segunda onda” do feminismo, movimento negro etc. Registra-se variada produção sobre uma possível geração jovem, referenciada, sobretudo, à categoria “estudante” e a um quase teoricamente prescrito “conflito de gerações.” A retomada ou redescoberta da discussão sobre “solidariedade entre as gerações” só se daria nos anos 1990, mais em breves referências que em trabalho teórico. Ocorre, com ênfase, a propósito da preocupação social com o contraditório – desejável e, ao mesmo tempo, indesejado – alcance da longevidade. E dar-se-á, em sua dupla vertente, em termos classificatórios de gerações e em suas inter-relações. Por um lado, a expectativa de solidariedade privada, a sempre esperada e crescentemente induzida solidariedade na família, nestes tempos de desemprego estrutural e desincumbências sociais do Estado; mas também, e pelas mesmas razões estruturais, uma atualmente inescapável discussão sobre a solidariedade pública entre as gerações. Ao mesmo tempo, 19 ensaiando-se retomar, de forma ampliada, uma ênfase, quase em moldes de antecipado enredo de “ficção científica”, no conflito entre “gerações” jovens e velhas, agora a propósito de uma vagamente preconizada e nunca realizada equidade entre as gerações. 4.2 Os Velhos A demografia assinala que há, proporcionalmente,cada vez menos crianças – o que aponta para uma provável dificuldade de reposição populacional no futuro. Anuncia também o “pior”, os velhos aumentam em número e longevidade, o que municia certos gestores sociais a argumentar que isto pode levar à “quebra” do sistema previdenciário e pôr em perigo a própria reprodução da sociedade. Estes são dos mais recentes “problemas sociais”. E no centro deles estão, afinal, os velhos. A “geração” que inquieta, enquanto vai se desdobrando em anos e diversidades, e enseja uma nova e interessante questão teórica, também existencial e política: ✓ Entre 60 e 110 anos de vida, que percurso geracional pode ser traçado? ✓ Quantas “gerações” de velhos estão coexistindo neste novo espaço cronológico e social de 50 anos? ✓ Qual a “contemporaneidade” possível entre elas? As gerações, como as classes sociais, não existem isoladamente, mas em referência mútua, contraposição ou até oposição umas às outras. Uma geração é ou se torna aquilo que o jogo de poder enseja nas relações com as outras. Esse movimento ocorre segundo as condições sociais vigentes em cada momento ou tempo social e o modo possível de apreensão e resposta dos atores sociais geracionais. É preciso lembrar sempre que, no interior de cada grupo geracional ou de idade, constroem-se representações, identidades e situações sociais que se confrontam com as de outros grupos ou categorias sociais. Ao mesmo tempo, essas relações realizam-se em articulação com condições identitárias definidas a partir de outras dimensões relacionais, principalmente a de gênero e a de classe social (Britto da Motta, 1999). 20 4.3 Violência, Gênero e Idade Dos grandes temas e questões da atualidade, o envelhecimento e sua personificação nas figuras da idosa e do idoso vem sendo o de expressão social e analítica mais tardia. Politicamente ausente na grande expansão mundial de movimentos nas crises dos anos 1960 (movimentos estudantis, movimento hippie, feminista, negro etc.), no Brasil vai palidamente aparecendo no contexto da retomada democrática dos anos 1980, porém bem atrás do que estavam sendo as expressões feminista, negra e jovem do movimento social. Firma-se, afinal, nos anos 1990, fruto de um visível crescimento demográfico e, como no caso dos outros segmentos sociais, também através de movimentos: o político, dos aposentados, de luta pela afirmação da previdência pública, e o cultural/comercial dos programas, clubes e universidades “para a terceira idade”. Mas, ao mesmo tempo, firmando-se também como o referido “problema”: objeto de discussão sobre os repetidamente alegados déficits da Previdência e a necessidades de “reforma da Previdência”, pelo Estado e o “perigo” que a crescente longevidade, com o seu extenso cortejo de velhos, representaria para a própria reprodução social. Trajetória que se desenrola paralela à da maior visibilidade teórica da categoria geração, fundamento analítico infungível na discussão de situações sociais referentes às idades em sua comunidade de vivências e experiências, mas a derradeira categoria relacional a ser cientificamente trabalhada nas pesquisas atuais, quando uma articulação analítica gênero, classe e raça torna-se de uso rapidamente consensual, como já referido (Britto da Motta, 1999). Em conformidade com essa percepção lenta, em vários aspectos ou situações da vida social a existência e a significação dos idosos neles também é percebida tardiamente, ou quase nunca. É o caso exemplar da violência, particularmente a violência contra a mulher idosa. Se a luta atual contra a violência tem, afinal, um crescente e justificado reconhecimento social, apoiada por políticas públicas, propostas, em maioria, pelo movimento feminista, a violência contra as mulheres não se restringe à vitimização daquelas em idade jovem, no período reprodutivo, como retrata a grande maioria dos trabalhos e assumem as instituições sociais. Ao contrário, essa violência continua e ganha novas formas velhice adentro. Sendo, neste caso, a expressão gritante das relações intergeracionais, tanto quanto das relações e desigualdade de gênero, 21 porque exercida, como começam a demonstrar as pesquisas, majoritariamente por filhos, filhas e netos sobre suas mães e avós. Vive-se, no Brasil, um tempo em que a violência parece ter crescido e estar por toda parte. Com maior intensidade e novas formas. Mas o que será realmente novo nesse quadro? Além de um redobrado afã em estudar ou propor formas de prevenção ou contenção do fenômeno? Adorno e Cardia (1999) historiam uma trajetória brasileira de recurso à violência nas relações cotidianas desde a sociedade agrária tradicional. A violência como modo conhecido e socialmente aceito de solução de conflitos. Na atual produção feminista de denúncia social e teorização específica sobre formas e intensidade – que também parecem crescentes – de violência contra a mulher, pode-se tangenciar ou plenamente confirmar essa informação sobre a presença antiga e ubíqua da violência nas relações cotidianas, inclusive no apregoado “lar doce lar” – e não apenas no Brasil – explicando-a como constitutiva das próprias relações de gênero, expressão da legitimação da dominação patriarcal sobre as mulheres (Saffioti, 1994). De logo se percebe que essas referências, assim como as próprias políticas adotadas, cingem-se à situação das mulheres jovens e adultas plenas, isto é, das não velhas. Fica esquecido que as mulheres participam, física e socialmente, de diferentes grupos de idade, e mais, de que em todas essas etapas de vida, elas são, pelo menos potencialmente, objetos de violência – apenas essa violência costuma ter especificidades segundo a sua faixa de idade e, em parte, a motivação do agressor (a), além de ter intensidades de repercussão social também diferenciadas. O caso das mulheres idosas, frequentemente silenciado ou “abafado” pela família – ciosa de sua imagem social de proteção e tranquilidade – quando ocorre no âmbito doméstico, apresenta motivações e manifestações múltiplas, em que a sexual é a mais rara e os maus-tratos, a negligência e a espoliação financeira, as mais comuns. Garrido (2004) reporta várias modalidades de violência, percebidas através do atendimento de equipes do Programa Saúde da Família (PSF) na Bahia, em que se destacam duas. Primeiro, em relação a exagero de carga de trabalho: 22 A mulher idosa queixa-se aos profissionais de saúde de sobrecarga de responsabilidades, pois precisam cuidar de netos e/ou bisnetos. Na visão dos técnicos, as responsabilidades e os aborrecimentos resultantes dessas atividades contribuem para o agravamento de enfermidades crônicas, a exemplo da hipertensão arterial. Essas vicissitudes são geralmente comentadas nos grupos educativos de diabetes e hipertensão, nos encontros de idosos ou nas visitas domiciliares [...] (Garrido, 2004: 87). A segunda modalidade condensa-se em relato – de sentido muito geral e ao mesmo tempo grave – de suspeita de assassinato de uma senhora idosa, eliminação geracional, que a classificação de violência de gênero é insuficiente para caracterizar. Relata Garrido: Os profissionais da Unidade do PSF foram comunicados pelos vizinhos daquela senhora de que um morador estaria tentando assassinar a própria mãe, utilizando-se de “chumbinho” para envenená-la (idem: 88). Transcreve o depoimento da visitadora do programa: Essa senhora mesmo. Até a neta dela me disse: “Olhe B., eu tô vendo a hora de acontecer alguma coisa com minha avó e o povo achar que minha mãe compartilhou.” Ele é violento. [...] Quando nós fomos fazer a visita, ela fazia queixa dele assim, ó: “Ô minha filha, me tire daqui que esse homem vai me matar.” [...] Porque vieram denunciar que ela tinha dado uma crise que ele tinha dado chumbinho (ACS 01) (ibidem: 87). E continua Garrido: Antesdisso, vários episódios de violência contra a mãe e a esposa já vinham ocorrendo, resultando, inclusive, em internamentos com lesões graves. Esta senhora veio a óbito, porém não houve queixa formal do fato e tampouco foi possível confirmar a suspeita de envenenamento (ibidem: 88). E arremata, deixando-nos um elemento para reflexão e mobilização: Os vizinhos e profissionais de saúde tiveram, como possíveis barreiras de impedimento, a esfera privada do evento e o receio de pôr em risco a segurança pessoal (ibidem: 88, grifo da autora) 23 Realmente, sobre a violência contra os idosos muito poucos se manifestam. Na vida cotidiana, mas também na política e na pesquisa acadêmica. No Brasil, algumas vozes se destacam, mais ou menos individualmente, a exemplo de Camarano (2004), Debert (2001), Debert & Gregori (2008), Faleiros (2007, 2009) e Minayo (2003). Fala mais sistematicamente apenas a gerontologia. Entretanto, guardando suas origens na medicina e no serviço social, apresenta escassa expressão teórica quanto ao contexto e ao tom em que se dão as relações sociais e, portanto, também as ações violentas. Um ponto comum entre os estudos sociológicos sobre violência e os estudos diretamente feministas sobre esse mesmo tema é justamente a omissão em relação à violência contra esse segmento social frequentemente invisibilizado: os idosos. Além da ausência de uma consequente extensão de enfoque teórico que os contemple, que seria, além do de gênero, o das relações entre as gerações, tanto quanto o concomitante projeto possível de ações públicas para prevenir e combater essa agressão. Evidente que o enfoque analítico da violência contra as idosas converge para as relações de gênero, principalmente no caso da violência doméstica, a mais comum a esse segmento geracional – mas perde eficácia interpretativa e explicativa se se detiver apenas aí. A violência praticada por esses homens, filhos (maioria dos agressores), mas também filhas e, não raro, netos contra essas mulheres (maioria entre os idosos agredidos) que são também suas mães ou avós, é expressão e consequência de vivências ou conflitos que se armam, basicamente, na esfera das relações intergeracionais. Embora possam também ser, alternativamente, mas na mesma clave geracional, consequências ou revides de más atuações maternas, de maus-tratos dessas mulheres sobre os filhos, no passado. A violência contra as idosas deve ser vista/analisada como fenômeno que se dá em âmbito geracional, que ganha maior visibilidade por conta da situação de gênero: exerce-se preponderantemente sobre as mulheres – pelo próprio fato demográfico de que elas são maioria, mesmo – porém, devido, igualmente, à esperada “fragilidade” feminina – física, afetiva e social. Ou analisada ao reverso: uma violência de gênero que se realiza majoritariamente no contexto geracional. Por isso, é infungível a análise dos 24 acontecimentos no contexto articulado dessas duas dimensões, de gênero e de gerações. Como isto não costuma acontecer, é de se perguntar: por que tanta dificuldade em se perceber a condição geracional e seus embates? Lembre-se que Bourdieu (1983), no conhecido artigo “A juventude é apenas uma palavra”, já dizia: Na divisão lógica entre os jovens e os velhos, trata-se do poder, da divisão (no sentido de repartição) dos poderes. As classificações por idade (mas também por sexo, ou, é claro, por classe...) acabam sempre por impor limites e produzir uma ordem onde cada um deve se manter, em relação à qual cada um deve se manter em seu lugar (idem: 112, grifo do autor) E sobre os conflitos entre gerações: Uma coisa muito simples e na qual não se pensa é que as aspirações das sucessivas gerações de pais e filhos são construídas em relação a estados diferentes da estrutura de distribuição de bens e de oportunidades de acesso aos diferentes bens: aquilo que para os pais era um privilégio extraordinário (na época em que eles tinham 20 anos, por exemplo, havia uma pessoa entre mil da sua idade e do seu meio que possuía um automóvel) se tornou banal, estatisticamente. E muitos conflitos de gerações são conflitos entre sistemas de aspirações constituídos em épocas diferentes (ibidem: 118). Também Lenoir (1998: 68), em sua análise das categorias de idade, deixa bem claras as manobras e lutas pelo poder entre as gerações: “[...] o que está em questão é a definição dos poderes associados aos diferentes momentos do ciclo da vida [...]. ” E nessa definição de idades, sempre ligadas a um lugar e uma definição no espaço social, Lenoir adverte ao sociólogo para levar em consideração, em sua análise não só as relações de força entre as gerações e entre as classes sociais, mas também as representações dominantes das práticas legítimas associadas à definição de sua faixa etária (idem: 68). Em relação à velhice, lembra que essa definição é tão arbitrária quanto a de outra qualquer idade, porém no caso tem o agravante de que se tornar “velho” significa, em verdade, tornar-se velho demais para exercer determinada atividade ou ter acesso, de forma legitima, a certas categorias de bens ou posições sociais. E muito da violência contra os velhos evidencia-se, deve-se à recusa, consciente ou até instintiva destes, a ocupar o (não) lugar social e vital que os mais jovens enxergam para eles e lhes 25 designam: de abdicar da posse dos bens materiais – da aposentadoria, da pensão, da casa – ou até de retirar-se da própria vida, incômodas criaturas que atravancam os espaços da casa e as redes de relações, e “dão trabalho”. Ao lado disto, há uma tendência, inerente ao imaginário social, a construir representações ou tipos sociais ideais em relação às idades da vida. Principalmente àquela idade predileta, a que resumiria os anseios mais caros de realização de vida dos grupos sociais. É o que ocorre em relação aos adultos jovens. Como expressa Foracchi (1972): A plenitude do status, a amplitude de participação, a identificação completa com os ideais que a sustentam são condições que definem o adulto perante a sociedade em que vive (idem, p. 19). [E mais:] Cada etapa [geracional] é [...] compreendida em contraposição e em contraste com a anterior ou com a subsequente (ibidem: 19). Em verdade, há uma rejeição social, histórica, à condição de velhice, personificada nos idosos, que nas objetivações próprias da modernidade se constitui, ao mesmo tempo, em negação do passado e do futuro; rejeição a uma figura de certo modo ambígua, que remete ao mesmo tempo ao passado (ao que já passou e se tornou “superado”, “inútil” e oneroso) e ao futuro; o futuro que ele aponta e se nos afigura à espera de cada um – doenças, perdas, dependência e fealdade; senilidade e proximidade da morte. Que desencadeia uma pulsão a “exorcizar” esse fantasma do futuro, afastando-se dele ou até ensaiando destruí- lo (Britto da Motta, 1998). Afinal, entre o descarte, real ou simbólico, dos velhos no passado e o apossamento atual de suas aposentadorias e pensões por filhos e outros parentes, e por empréstimos consignados fraudulentos, deixando-os (ações públicas e privadas) à míngua, há diferença apenas de tempo social e geografia. Faleiros (2007) retrata, com propriedade, muito do quadro brasileiro atual: [...] uma sociedade que, ao mesmo tempo, produz desemprego e condições precárias de vida e valoriza o consumo, acirrando-se os conflitos de gerações. Essa precariedade, articulada à redução do Estado e à competitividade, leva os conflitos sociais para dentro de casa, de forma muito explícita, com a pressão por sobrevivência, por atender às exigências de consumo e mesmo ao tráfico/consumo de drogas (idem: 369) 26 Mesmo no cotidiano mais tranquilo das nossas “famílias bem estruturadas” atuais, ainda assim pode se notar – na observação cotidiana e na pesquisa empírica– a comum e pressionante tentativa de interferência, ou até de ingerência, por parte dos mais jovens, sobre a vida dos “seus” idosos; principalmente das mulheres. Atividades, saídas, uso do dinheiro, até vida sexual- afetiva, tudo é acompanhado pelo menos com humor crítico e, não raro, tentativamente regulado – e os motivos podem ser, ou não, expressão de real cuidado e afetividade. De qualquer modo – e por melhor que esta seja a intenção –, trata-se de um protecionismo cerceador, que tem contribuído para que as mulheres idosas aspirem e realizem a possibilidade, socialmente recente, de morarem sozinhas. Ato libertador, nem sempre totalmente eficaz. Independentemente de seu conteúdo afetivo, diferentemente das relações de gênero, as relações entre as gerações histórica e cotidianamente desenvolvem-se na direção de substituição e até de aniquilamento. Pela morte biológica e pela “morte” ou olvido social. As relações violentas constituem-se no auge da realização disto. O processo de substituição geracional é atenuado – inclusive quanto à sua percepção – pelo fato de que se realiza no decorrer do tempo. Um tempo às vezes longo, em um contexto em que se espera e, evidentemente, também se realizam relações de solidariedade e afeto. Solidariedade que se desenvolve tanto por obrigação social, pública, formalizada por injunção do Estado, como pela presença próxima, familial, às vezes contraditória, de uma afetividade positiva que, ao mesmo tempo, pode se transmudar, segundo diferentes situações e temporalidades, em sentimento ou ação negativa. As substituições dão-se em todas as dimensões: dos papéis estruturais na família; nos cargos/ocupações no trabalho, onde guardam competitividade mais contundente; nos postos/situações individualizadas, na política; nos grupos geracionais na produção cultural (também na ação política) e na economia. A crescente longevidade atual enseja menos substituições “naturais”, o que é muito perceptível no âmbito da família: os indivíduos permanecem muito mais tempo em seus papéis geracionais – de avós, pais, netos etc. –, além de atingirem um número maior de papéis, de certa forma superpondo-os. Sendo-se, simultaneamente (e por mais tempo) bisavô, avô, pai, filho. E o ser tudo isto é 27 também uma condição que evidentemente se desenvolve na dimensão de gênero e conforme o habitus de classe em determinado tempo social. Ora, exatamente por essa amplitude ou heterogeneidade identitária é que podemos repetir, com Mannheim, que “o mesmo tempo” histórico não é igual para todos. O que significa que as unidades de geração poderão apresentar características diferentes também segundo as várias pertinências identitárias de gênero e de classe social dos que as compõem. 28 QUESTÕES DE PROVAS 1. 2015/CETRO/MDS. A análise da recente Política Social Brasileira passa pelo entendimento do que se chama política setorial e política transversal. Diante desses conceitos, assinale a alternativa que apresenta apenas tipos de política transversal. a) Igualdade de Gênero/ Igualdade Racial/ Idosos. b) Juventude/ Idosos/ Cultura. c) Desenvolvimento Agrário/ Educação/ Assistência Social. d) Assistência Social/ Igualdade Racial/ Juventude. e) Educação/ Juventude/ Igualdade de Gênero. 2. 2016/FCC/AL-MS. A regulamentação nacional trouxe, no âmbito da Administração pública federal direta, autárquica e fundacional o uso do nome social e a identidade de gênero, o que tem sido adotado pela política pública de assistência social. Nessa linha, compreende-se que: a) é obrigatório constar nos documentos oficiais, nos registros de sistema de informação, nos cadastros, nas fichas, nos formulários e nos prontuários o nome social da pessoa travesti ou transexual, independentemente de ser requerido pelo interessado. b) é proibido constar nos documentos oficiais o nome civil para a pessoa que tem o nome social. c) a identidade de gênero é a designação pela qual a pessoa travesti ou transexual se identifica e é socialmente reconhecida. d) a identidade de gênero é a dimensão da identidade de uma pessoa que diz respeito à forma como se relaciona com as representações de masculinidade e feminilidade, e como isso se traduz em sua prática social, sem guardar relação necessária com o sexo atribuído no nascimento. e) a identidade de gênero é a forma como uma pessoa se relaciona com as representações de masculinidade e feminilidade, estando diretamente vinculada com o sexo atribuído no nascimento, podendo ainda definir um nome social que é a designação pela qual a pessoa é socialmente reconhecida. 29 3. 2010CESPE/MS. A categoria gênero pode ser compreendida como categoria relacional que busca explicar a igualdade dos seres humanos, restringindo a discussão à mulher e ao seu papel na sociedade. Certo/ Errado 4. 2010/CESPE/MS. As transformações nas relações familiares e de gênero são consideradas como indicadoras de fortalecimento da sociedade pós-moderna, caracterizada por estruturas familiares hierárquicas e verticalizadas na forma de interação. Certo/Errado 5. 2010/CESPE/Banco da Amazônia. As possibilidades de inclusão dos membros da família no mercado de trabalho são estabelecidas por meio das relações de gênero e dos atuais padrões de absorção da força de trabalho pelo mercado. Assim, como não há troca nem transferência entre seus membros na inserção no mercado de trabalho, os rearranjos familiares nem sempre possibilitam a conservação do padrão e das condições econômicas de uma família. Certo Errado 6. 2012/CESPE/TJ-AL. Assinale a opção correta a respeito das análises e concepções de família. a) A ampliação da expectativa de vida da população brasileira, além de possibilitar maior convivência entre as gerações, fortalece os vínculos familiares e, consequentemente, reduz o nível de dificuldades decorrentes dos acontecimentos próprios do curso de vida das famílias. b) Nas relações estabelecidas ao longo dos anos entre família e Estado, a família, independentemente de suas condições de vida, é reconhecida como capaz quando protege e cuida de seus membros, e incapaz, quando falha, tanto nos aspectos materiais quanto nos socioafetivos. c) No Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária, família natural é concebida como a estrutura familiar do tipo nuclear, ou seja, preconiza-se um modelo ideal de família com ênfase no desempenho adequado dos papéis sociais de cada membro familiar. d) No Brasil, existe uma política familiar específica apoiada no atual padrão homogêneo de política social. e) Tratando-se de intervenção profissional que envolva família, tomada como sujeito central, recomenda-se a adoção de modelos de atenção vinculados à perspectiva da 30 normatividade/estabilidade e o atendimento direto para restaurar a capacidade de desempenhar funções. 7. 2015/FGV/TJ-SC. “(...) a identificação do grupo conjugal como forma básica e elementar, e a percepção de parentesco e da divisão de papéis como fenômenos naturais, são obstáculos para a análise da instituição família. Por esta razão, propõe dissolver sua aparência de naturalidade, percebendo-a como criação humana mutável” (Bruschini, 1993:50). A partir dessa citação, analise as afirmativas a seguir: I) O modelo nuclear de família, tão natural no imaginário coletivo, só se consolidou por volta do século XVIII, como expressão da hegemonia da burguesia na direção política, econômica, moral e ideológica das sociedades capitalistas. II) Arranjos familiares diferentes do modelo nuclear sempre existiram, mas eram marginalizados, representados como disfuncionais e imorais, sobretudo se presentes nas classes mais empobrecidas. O mito da “harmoniafamiliar” era atributo exclusivo da família nuclear. III) O processo de reconhecimento normativo, político e simbólico das configurações familiares distintas do modelo dominante se revela na compreensão do conceito de instituição como um conjunto de práticas ou de relações sociais concretas que se reproduzem, e, nessa reprodução, se legitimam. Está correto o que se afirma em: a) somente I; b) somente II; c) somente I e II; d) somente II e III; e) I, II e III. 8. 2012/CESPE/TJ-AC. A vulnerabilidade de crianças e adolescentes à exploração sexual é intensificada pelo aumento da pobreza, da desigualdade social e de gênero, bem como pela demanda contínua por sexo com crianças, que é reforçada por um ambiente de tolerância social, cumplicidade e impunidade. Certo/Errado 9. 2012/CESPE/TJ-AL. A Lei n.º 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) resguarda os direitos da mulher contra a violência doméstica e familiar, caracterizada como 31 forma de violação dos direitos humanos. Em relação a essa temática e ao que dispõe a referida norma, assinale a opção correta. a) O termo gênero representa a aceitação do determinismo biológico como decisivo para a compreensão da relação entre homem e mulher. b) A referida lei, além de estabelecer que os crimes nela previstos sejam julgados exclusivamente nos juizados especializados, prevê a aplicação de penas de pagamentos de cestas básicas para os casos de violência de menor gravidade. c) A concessão de medidas protetivas de urgência está condicionada à realização de audiência das partes e à manifestação do Ministério Público, não podendo tais medidas ser novamente concedidas no prazo de trinta dias. d) À equipe de atendimento multidisciplinar é vedado emitir, verbalmente, opinião técnica em audiência quando o agressor estiver presente. e) A violência de gênero, transmitida de geração para geração, configura modelos patriarcais de família, em que o poder masculino impõe à mulher uma cultura de subjugação. 10. 2010/TJ-SC. Estabelece o artigo 5º da Lei Maria da Penha: "Configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial". Nos termos do referido artigo, a violência contra a mulher pode ocorrer: I. No âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas. II. No âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa. III. Em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor coabite com a ofendida. a) Todas as proposições estão corretas. b) Apenas a proposição I está correta. c) Apenas a proposição III está correta. d) As proposições II e III estão corretas. e) As proposições I e II estão corretas. 11. 2012/ESAF/MI. A respeito dos direitos das mulheres na Lei Maria da Penha (Lei n. 11.340, de 7 de agosto de 2006), assinale a opção correta. 32 a) A Lei disciplina toda ação ou omissão praticada contra a mulher que lhe cause algum dano. b) A Lei restringe à residência, o local de ocorrência da violência motivada por uma relação de afeto ou de convivência doméstica ou familiar, entre o agressor e a mulher ofendida. c) A Lei estabelece a discriminação positiva ao assegurar à mulher, de modo diferenciado, condições privilegiadas, em relação ao homem, nas questões atinentes à violência de gênero. d) A violência moral é caracterizada, na Lei, por ações ou omissões que visam degradar, dominar, humilhar outra pessoa, controlando seus atos e comportamentos. e) É importante ressaltar que qualquer mulher e homem podem ser sujeitos dos crimes previstos na Lei Maria da Penha (Um homem que agride uma mulher na rua para roubar sua bolsa). 12. 2012/FCC/MPE-PE. Os princípios ético-profissionais do Serviço Social são fundamentados na concepção: a) de liberdade nos moldes do liberalismo, compreendendo-a apenas como livre-arbítrio ou como individualismo. b) de cidadania baseada na ordem civil e política para a satisfação das necessidades básicas dos indivíduos, nos limites postos pela reprodução das relações sociais no capitalismo. c) de difusão das práticas de mediação das políticas sociais, dentro dos parâmetros estabelecidos na lógica minimalista que está presente na distribuição dos benefícios e programas. d) da neutralidade e de sua vinculação com os usuários dos serviços sociais que apontem para a sua inserção no sistema de proteção social, que preconiza a melhoria das condições de vida da população e manutenção do projeto societário vigente. e) de vinculação explícita com os usuários e com a construção de um novo projeto societário, que preconiza o fim da dominação ou exploração de classe, etnia e gênero. 13. 2014/CETRO/FUNDAÇÃO CASA. Além da adoção das correções gramaticais e ortográficas no Código de Ética do Assistente Social, de modo a aperfeiçoá-lo e adequá-lo às novas regras da Língua Portuguesa, a Resolução CFESS nº 594/2011 substitui a designação: a) “orientação sexual” por “opção sexual” e “identidade de gênero” por “gênero”. b) “afetividade” por “união homoafetiva” e “identidade” por “origem”. 33 c) “opção sexual” por “orientação sexual” e “gênero” por “identidade de gênero”. d) “união entre pessoas do mesmo sexo” por “união homoafetiva” e “sexualidade” por “opção sexual”. e) “opção sexual” por “união entre pessoas do mesmo sexo” e “gênero” por “masculino e feminino”. 14. 2015/COVEST-COPSET/UFPE. Analise: “Empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando o respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados e à discussão das diferenças". Esse trecho, extraído do Código de Ética Profissional do/a Assistente Social, se refere a: a) dever do (a) assistente social nas suas relações com os/as usuários/as. b) princípio fundamental. c) diretrizes para o exercício profissional. d) dever do/a assistente social nas suas relações com a Justiça. e) dever do Conselho Federal de Serviço Social. 15. 2012/FCC/MPE-AP. O código de ética profissional do assistente social, editado em 1993, traz em seus princípios, uma vinculação ao “processo de construção de uma nova ordem societária, sem dominação e exploração de classe, etnia e gênero”. Esse posicionamento tem correspondência: a) na superação do modelo capitalista de produção, que teve seu arrefecimento no início da década de 90 com a crise do petróleo. b) na incorporação como pressuposto ético da categoria profissional dos assistentes sociais em favor de lutas contra a violência doméstica que atingia muito mais as mulheres, o que ocorreu em parceria com o movimento nacional de luta pela emancipação feminina. c) nas conquistas históricas que têm correspondência no conjunto das forças sociais democrático-populares e se coloca na perspectiva de superação do conservadorismo no serviço social. d) nas conquistas históricas que respondem ao novo pressuposto moral e figura no campo da poliarquia estrutural que as sociedades da América Latina estavam experimentando nos anos 90. e) na superação do antigo modelo de práticas profissionais orientadas pela corrente fenomenológica, cujo pressuposto baseava-se no processo de educação emancipatória. 34 16. 2012/FUNCAB/MPE-RO. Na Convenção sobre o Direito das Pessoas com Deficiência da ONU, fica determinado que os Estados Partes tomarão todas as medidas apropriadas de natureza legislativa, administrativa, social, educacional e outras, para proteger as pessoas com deficiência, tanto dentro como fora do lar, contra todas as formas de exploração, violência e abuso,incluindo aspectos relacionados com: a) a geração. b) o gênero. c) a habitação. d) a liberdade. e) a economia. 17. UEPB/2013. “O direito a uma vida livre de violência é um dos direitos básicos de toda mulher. É pela garantia desse direito que marchamos hoje e marcharemos sempre, até que todas sejamos livres”. Esse texto constava entre os inúmeros cartazes na Segunda Marcha das Vadias no Distrito Federal. Com base nos seus conhecimentos sobre o tema, são verdadeiras as afirmativas, EXCETO: a) A violência física contra a mulher é o estágio de uma série de violências verbais, simbólicas, psicológicas que atingem mulheres todos os dias. A discriminação histórica contra a mulher não é fruto de uma concepção patriarcal que ainda impera, mesmo inconscientemente, na sociedade. b) A marcha das vadias objetiva conscientizar a sociedade de que a culpa do estupro não é da mulher e o estupro não dever estar associado ao modo como ela se veste. Protestam contra a culpabilização das vítimas nos casos das violências sofridas. Criticam também as instituições que sustentam a dominação e a exploração contra a mulher. c) A mercantilização do corpo da mulher, do prazer e a banalização da exploração sexual são dimensões da globalização econômica. A mulher é considerada alvo estratégico do consumismo e o apelo sexual o elemento central nesse método. d) Mulheres trabalhadoras assalariadas, depois do trabalho nas fábricas, no comércio, no campo ou como empregadas domésticas, são subordinadas à dupla jornada de trabalho ao realizarem as tarefas domésticas ao chegarem em casa. Já as mulheres burguesas ou de classe média alta, mesmo que trabalhem, relegam as mulheres mais pobres a essa segunda atividade. Logo, em sua grande maioria são as mulheres pobres 35 e trabalhadoras exploradas e oprimidas que lutam de forma consciente contra a opressão. e) A opressão ao sexo feminino nas empresas se dá na prática do assédio e abuso sexual em troca da manutenção do emprego e das promoções de cargos. As mulheres que não aceitam esses “pré-requisitos” têm que se desdobrar e demonstrar capacidade e superioridade para se manter em seus empregos. 18. Unicentro/2012. Considerando-se as teorias sociológicas a respeito das questões sobre gênero, assinale V nas afirmativas verdadeiras e F, nas falsas. ( ) O termo gênero faz referência a uma construção cultural, enfatizando o caráter social e histórico das diferenças sexuais. ( ) Vários elementos estão envolvidos na constituição das relações de gênero, tais como a organização política, econômica e social. ( ) A referência a gênero leva a pensar nas maneiras como as sociedades entendem o que é “ser homem” e “ser mulher”, o que consideram “masculino” e “feminino”. ( ) O termo gênero se refere às diferenças biológicas e naturais dos seres humanos. A alternativa que contém a sequência correta, de cima para baixo, é a: a) F F V F b) V V V F c) V F F V d) F V V F e) V V V V 19. Unioeste/2012. O conceito de gênero tem como objetivo explicitar que as diferenças entre homens e mulheres não são apenas de ordem física ou biológica. Antes disso, as relações de gênero estão diretamente relacionadas às características atribuídas a cada sexo pela sociedade e sua cultura. Sobre o conceito de gênero, é correto afirmar que: a) o conceito de gênero começa a ser utilizado de forma mais ampla no final da década de 1970 por pesquisadoras interessadas em compreender o fenômeno do feminismo e o processo de opressão sofrido pelas mulheres naquele momento histórico. b) os estudos de Margareth Mead sobre a importância da cultura na determinação dos papéis sociais e nos usos e costumes de homens e mulheres pouco contribuíram para o desenvolvimento do conceito. 36 c) os estudos contemporâneos sobre as relações de gênero apresentam uma completa ruptura com as concepções desenvolvidas por Joan Scott a respeito da temática que, em sua teoria, previa uma grande importância para o conceito ao não restringi-lo a história das mulheres. d) em uma sociedade democrática e com uma ampla liberdade sexual o conceito de gênero não é representativo, pois sua sustentação está centrada exclusivamente nos conflitos entre os sexos. e) os estudos realizados por Georg Simmel sobre a história da família e sobre o impacto do dinheiro nas relações entre os sexos demonstram que as organizações das estruturas de parentesco não possuem relação com as concepções históricas do conceito de gênero. 20. Uel /2011 Leia o texto a seguir, que remete ao debate sobre questões de gênero. A violência contra a mulher acontece cotidianamente e nem sempre ganha destaque na imprensa, afirmou a ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Nilcéa Freire [...]. “Quando surgem casos, principalmente com pessoas famosas, que chegam aos jornais, é que a sociedade efetivamente se dá conta de que aquilo acontece cotidianamente e não sai nos jornais. As mulheres são violentadas, são subjugadas cotidianamente [...]”, afirmou a ministra. [...] “Eliza morreu porque contrariou um homem que achou que lhe deveria impor um castigo. Ela morreu como morrem tantas outras quando rompem relacionamentos violentos”, disse a ministra. (“Violência contra as mulheres é diária”, diz ministra, Agência Brasil, Brasília, 11 jul. 2010.) Com base no texto e nos conhecimentos socioantropológicos sobre o tema, é correto afirmar: a) Questões de gênero são definidas a partir da classe social, razão pela qual são mais presentes nas camadas populares do que entre as elites. b) As identidades sociais masculina e feminina são configuradas a partir de características biológicas imutáveis presentes em cada um. c) As diferenças de gênero são determinadas no terreno econômico, daí o fato de serem produto da sociedade capitalista. d) As experiências socialistas do século XX demonstram que nelas as questões de gênero são resolvidas de modo a estabelecer a igualdade real entre homens e mulheres. e) As relações de gênero são construídas socialmente e favorecem, nas condições históricas atuais, a dominação masculina. 37 GABARITO 1 A 2 D 3 ERRADO 4 ERRADO 5 CERTO 6 B 7 E 8 CERTA 9 E 10 E 11 C 12 E 13 E 14 B 15 C 16 B 17 A 18 B 19 A 20 E 38 PONTOS COMENTADOS E NÃO COMENTAOS RELAÇÕES DE GÊNERO INTERGERACIONAIS • Tipos de Política Transversal: Igualdade de Gênero/ Igualdade Racial/ Idosos. • DECRETO Nº 8.727, DE 28 DE ABRIL DE 2016: I - nome social - designação pela qual a pessoa travesti ou transexual se identifica e é socialmente reconhecida; II - identidade de gênero - dimensão da identidade de uma pessoa que diz respeito à forma como se relaciona com as representações de masculinidade e feminilidade e como isso se traduz em sua prática social, sem guardar relação necessária com o sexo atribuído no nascimento. • A construção dos gêneros se dá através da dinâmica das relações sociais. Os seres humanos só se constroem como tal em relação com os outros. Não se trata de perceber apenas corpos que entram em relação com outro. É a totalidade formada pelo corpo, pelo intelecto, pela emoção, pelo caráter do Eu, que entra em relação com o outro. Cada ser humano é a história de suas relações sociais, perpassadas por antagonismos e contradições de gênero, classe, raça/etnia. A alternativa está errada. Não se restringe a mulher as suas relações na sociedade. É, para além, a relação entre seres humanos e correspondem a um grau determinado de desenvolvimento de suas forças produtivos materiais. • A lógica de atendimento dos serviços, geralmente, está orientada para as famílias que por falimento ou pobreza falharam na responsabilidade de cuidado e proteção de seus membros. Nesta perspectiva os interesses,tanto de natureza política como sociocultural, recaem sobre as formas diagnosticadas como marginais ou patológicas. Nas relações estabelecidas ao longo dos anos entre família e Estado, a família, independentemente de suas condições de vida, é reconhecida como capaz quando protege e cuida de seus membros, e incapaz, quando falha, tanto nos aspectos materiais quanto nos socioafetivos. • I) O modelo nuclear de família, tão natural no imaginário coletivo, só se consolidou por volta do século XVIII, como expressão da hegemonia da burguesia na direção política, econômica, moral e ideológica das sociedades capitalistas. II) Arranjos familiares diferentes do modelo nuclear sempre existiram, mas eram marginalizados, representados como disfuncionais e imorais, sobretudo se presentes nas classes mais empobrecidas. O mito da “harmonia familiar” era atributo 39 exclusivo da família nuclear. III) O processo de reconhecimento normativo, político e simbólico das configurações familiares distintas do modelo dominante se revela na compreensão do conceito de instituição como um conjunto de práticas ou de relações sociais concretas que se reproduzem, e, nessa reprodução, se legitimam. • A vulnerabilidade de crianças e adolescentes à exploração sexual é intensificada pelo aumento da pobreza, da desigualdade social e de gênero, bem como pela demanda contínua por sexo com crianças, que é reforçada por um ambiente de tolerância social, cumplicidade e impunidade. • A cultura de subjugação da mulher e, por consequência, da violência de gênero, tem, com efeito, sério lastro em um modelo patriarcal de família, típica das antigas gerações. • Art. 5º Para os efeitos da Lei Maria da Penha, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. • Especificamente em relação ao sujeito passivo da violência doméstica e familiar, há uma exigência de uma qualidade especial: Ser mulher. Por isso, estão protegidas pela Lei Maria da Penha não apenas esposas, companheiras, amantes, namoradas ou ex-namoradas, como também filhas e netas do agressor, sua mãe, sogra, avó, ou qualquer outra parente do sexo feminino com a qual haja uma relação doméstica, familiar ou íntima de afeto. Na atualidade, nem toda discriminação é proibida ou desvaliosa para o ordenamento jurídico. Um exemplo de discriminação positiva é a Lei Maria da Penha. Ela constitui-se em um critério de equiparação desigual igualitário e representa uma das medidas apresentadas pelo Estado para permitir que ocorra o aceleramento da igualdade de fato entre o homem e a mulher, circunscrita aos casos de violência doméstica e familiar, já que o alcance da Lei é limitado. A Lei estabelece a discriminação positiva ao assegurar à mulher, de modo diferenciado, condições privilegiadas, em relação ao homem, nas questões atinentes à violência de gênero. 40 • PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS – CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL- Reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas políticas a ela inerentes - autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais; - Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do autoritarismo; - Ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial de toda sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis sociais e políticos das classes trabalhadoras; - Defesa do aprofundamento da democracia, enquanto socialização da participação política e da riqueza socialmente produzida; - Posicionamento em favor da equidade e justiça social, que assegure universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas sociais, bem como sua gestão democrática; - Empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando o respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados e à discussão das diferenças; - Garantia do pluralismo, através do respeito às correntes profissionais democráticas existentes e suas expressões teóricas, e compromisso com o constante aprimoramento intelectual; - Opção por um projeto profissional vinculado ao processo de construção de uma nova ordem societária, sem dominação exploração de classe, etnia e gênero; - Articulação com os movimentos de outras categorias profissionais que partilhem dos princípios deste Código e com a luta geral dos trabalhadores; - Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população e com o aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência profissional; - Exercício do Serviço Social sem ser discriminado, nem discriminar, por questões de inserção de classe social, gênero, etnia, religião, nacionalidade, opção sexual, idade e condição física. • Em consulta a Resolução 594/2011: (...) Art.2º. Adotar as correções gramaticais e ortográficas no Código de Ética do Assistente Social de modo a aperfeiçoá-lo e adequá-lo as novas regras da língua portuguesa. Art. 3º. Substituir a designação “opção sexual” por “orientação sexual” e no princípio XI substituir gênero por “identidade de gênero”. Art. 4º. Introduzir em todo o texto do Código de Ética do Assistente Social, de que trata a Resolução CFESS nº 273/93, a linguagem de gênero, adotando forma feminina e masculina: “o/a; os/as; trabalhadores/as, etc.”. • Segundo o Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (Cartilha - 2007), os Estados Partes tomarão todas as medidas apropriadas de natureza legislativa, administrativa, social, educacional e outras, para proteger as pessoas com deficiência, tanto dentro como fora do lar, contra todas as formas de exploração, violência e abuso, incluindo aspectos relacionados a gênero. Os Estados Partes também tomarão todas as medidas apropriadas para 41 prevenir todas as formas de exploração, violência e abuso, assegurando, entre outras coisas, formas apropriadas de atendimento e apoio que levem em conta o gênero e a idade das pessoas com deficiência e de seus familiares e atendentes, inclusive mediante a provisão de informação e educação sobre a maneira de evitar, reconhecer e denunciar casos de exploração, violência e abuso. Os Estados Partes assegurarão que os serviços de proteção levem em conta a idade, o gênero e a deficiência das pessoas. • Questões Verdadeiras: O termo gênero faz referência a uma construção cultural, enfatizando o caráter social e histórico das diferenças sexuais. Vários elementos estão envolvidos na constituição das relações de gênero, tais como a organização política, econômica e social. A referência a gênero leva a pensar nas maneiras como as sociedades entendem o que é “ser homem” e “ser mulher”, o que consideram “masculino” e “feminino”. • O conceito de gênero começa a ser utilizado de forma mais ampla no final da década de 1970 por pesquisadoras interessadas em compreender o fenômeno do feminismo e o processo de opressão sofrido pelas mulheres naquele momento histórico. As relações de gênero são construídas socialmente e favorecem, nas condições históricas atuais, a dominação masculina. BIBLIOGRAFIA CARLOTO, Cássia Maria. Conceito de Gênero e sua Importância para Análise das Relações Sociais. Acesse: http://bit.ly/2obLoPY DECRETO Nº 8.727, DE 28 DE ABRIL DE 2016. Acesse: http://bit.ly/2okma42 MOTTA,
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