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1 APRESENTAÇÃO De acordo com a nova LDB, Lei nº 9394/96, em seu art.12, inciso I, “os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de elaborar e executar sua proposta pedagógica”. Ao construirmos nosso Projeto Político – Pedagógico, procuramos fazê-lo de forma crítica, através de um processo que foi construído coletivamente com a perspectiva de atingir não só a comunidade escolar, mas a sociedade como um todo. Acreditamos que para enfrentar esse desafio de participantes desse PPP, necessitamos recuperar a identidade da escola. “A escola é o lugar de concepção, realização e avaliação de seu projeto educativo, uma vez que necessita organizar seu trabalho pedagógico com base em seus alunos”. (VEIGA, Ilma Passos). O primeiro passo para a construção de nosso PPP foi a definição do tipo de sociedade que vislumbram os professores, os alunos e a comunidade envolvida no âmbito desta escola. Num segundo momento fez-se necessária a definição do tipo de educação que queremos. “Todo projeto supõe rupturas com o presente e promessas para o futuro. Projetar significa tentar quebrar um estado confortável para arriscar-se, atravessar um período de instabilidade e buscar uma nova estabilidade em função da promessa que cada projeto contém de estado melhor do que o presente (. . .)” (GADOTTI, Moacir – 1994, p.579). A troca de ideias, opiniões e estudos entre o coletivo da comunidade escolar, possibilitou-nos estabelecer definições e decisões a cerca do tipo de educação e do tipo de cidadão almejamos “construir”. Sendo assim, ressaltamos a importância de toda a comunidade escolar estar assumindo de forma consciente, participativa e ativa o presente projeto, uma vez que o mesmo reflete convicções e desejos coletivos. 2 Identificação do Estabelecimento 1.1 – Colégio Estadual Miguel Dias – Ensino Fundamental e Médio Código nº 00015 Endereço: Rua Dr. Lincoln Graça, 746 Bairro: Centro CEP: 86455-000 Fone: (43) 3559-1596 Fax: (43) 3559-1260 1.2 – Município de Joaquim Távora Código nº 1290 1.3 – Dependência Administrativa - Estadual Código nº 02 1.4 – Núcleo Regional de Jacarezinho Código nº 17 1.5 – Entidade Mantenedora: Governo do Estado do Paraná 1.6 – Ato de autorização do Colégio Resolução nº 5717/78 de 30/10/78 1.7 – Ato de Reconhecimento do Colégio Resolução nº 3065/81 de 15/01/82 1.8 – Parecer do NRE de Aprovação do Regimento Escolar Nº 014/08 de 11/03/2005 1.9 – Distância do Colégio ao NRE 60 Km. 1.10 - E-mail jqamigueldias@seed.pr.gov.br 3 I – Organização da Entidade Escolar O Colégio Estadual Miguel Dias – Ensino Fundamental e Médio autorizado a funcionar pelo Decreto nº 5717/78 de 30/10/78 e reconhecido pela Resolução 3065/81 de 15/01/82, situa-se à Rua Dr. Lincoln Graça, nº 746, no município de Joaquim Távora, Estado do Paraná, mantido pelo Governo do Estado do Paraná. A escola é organizada pedagogicamente através dos níveis de ensino: 2ª fase do Ensino Fundamental e Ensino Médio. Quanto às modalidades, a escola atende alunos oriundos da zona rural, mas não oferta ensino específico para eles. A escola funciona nos seguintes horários: a) Matutino: 7h 35min às 12h Número de turmas: 13 Número de alunos: 325 Número de Professores: 46 Número de Pedagogos: 01 Número de Funcionários: 16 Diretora Auxiliar b) Vespertino: 13h às 17h 25min Número de turmas: 11 Número de alunos: 244 Número de Professores: 31 Número de Pedagogos: 03 Número de Funcionários: 14 Diretor c) Noturno: 19h às 23h Número de turmas: 10 Número de alunos: 131 Número de Professores: 49 Número Pedagogos: 01 Número de Funcionários: 09 Diretor As turmas estão distribuídas da seguinte maneira: a) Matutino – Ensino Fundamental: 5ª série: 03 turmas; 6ª série: 03 turmas; 7ª série: 02 turmas; 8ª série: 02 turmas. Ensino Médio: 1ª série: 01 turma; 2ª série: 01 turma; 3ª série: 01 turma. b) Vespertino – Ensino Fundamental: 4 5ª série: 03 turmas; 6ª série: 02 turmas; 7ª série: 02 turmas; 8ª série: 01 turma. Ensino Médio: 1ª série: 02 turmas; 2ª série: 01 turma. c) Noturno – Ensino Fundamental: 5ª série: 01 turma; 6ª série: 01 turma; 7ª série: 01 turma; 8ª série: 01 turma; Ensino Médio: 1ª série: 02 turmas; 2ª série: 02 turmas; 3ª série: 02 turmas. O Colégio Estadual Miguel Dias é bem localizado e possui uma infra-estrutura boa onde professores e funcionários podem usufruir dos seguintes espaços: a) Salas de aulas O Colégio possui, no total, 13 salas de aulas utilizadas nos três turnos da seguinte maneira: * Matutino: 13 salas * Vespertino: 11 salas * Noturno: 10 salas b) Sala de Apoio Pedagógico A sala de apoio, tem funcionado nos períodos matutino e vespertino. Seu atendimento é para no máximo 20 alunos das 5ªs séries que são trabalhados por professores de Português e Matemática de maneira diferenciada. Os alunos frequentam a sala de apoio duas vezes na semana, fazendo duas aulas de Português e duas de Matemática por dia. c) Sala de Recursos A escola deve ser vista como um espaço de todos e para todos, para que possa ser considerada inclusiva precisa transformar-se num espaço de decisão, com autonomia para ajustar-se ao contexto real e responder aos desafios que se apresentam. Baseado neste desejo, a escola deve buscar alternativas que garantam a permanência de todas as crianças e adolescentes no seu interior. 5 Assim, seu maior objetivo é a construção de uma sociedade inclusiva e compromissada com as minorias, cujo grupo inclui os portadores de necessidades educacionais especiais. De acordo com esta perspectiva, a escola ofertará a sala de recursos, que vem a ser um serviço de natureza pedagógica conduzida por professor especializado, o qual tem por função complementar o atendimento educacional realizado no Ensino Regular. Para ingressar na sala de recursos, o aluno deverá estar matriculado na classe comum no Ensino Fundamental de 5ª a 8ª séries, ser avaliado e observado pelos profissionais da educação, psicólogos, psicopedagogo, neurologistas e psiquiatras. A escola ofertará a sala de recursos nos períodos matutino e vespertino com atendimento de acordo com as necessidades, podendo ser atendido 2 vezes na semana, não ultrapassando duas horas/aulas diárias. Para atender as características específicas dos diferentes alunos em seu processo de aprender e construir conhecimento faz-se necessário modificar, melhorar, introduzir atividades alternativas e complementares para que o aluno desenvolva plenamente suas potencialidades. A sala de recursos é uma modalidade classificada como auxílio especial, que consiste em um espaço provido de materiais e equipamentos especiais, que o professor especializado fará uso para auxiliar os alunos excepcionais ou com distúrbio de aprendizagem, nos aspectos específicos que precisam de ajuda para se manter na classe comum, uma vez que o professor especializado deve desenvolver seu trabalho de forma cooperativa com os professores da sala comum. d) Sala de vídeo Com a vinda dos aparelhos de TVs a sala de vídeo foi desativada utilizando o aparelho de DVD nas TVs existentes nas salas de aula. As chaves e o controle das TVs são supervisionados pela equipe pedagógica, tendo lugar específico para guardá- las. O Colégio possui também dois aparelhos de vídeo-cassete, um televisor de 29’, um televisor de 20’ e um televisor de 14’. e) Biblioteca A Biblioteca do Colégio tem um acervo razoável utilizado pelos alunos e professores com a orientação de funcionários designadospara atendê-los nos três períodos. Na biblioteca os alunos também podem usar um computador com impressora para fazer trabalho. 6 f) Laboratório de Ciências O Colégio possui uma sala onde funciona o laboratório de Ciências. Ele é muito utilizado pelos professores de Ciências, Biologia, Química, Física e Matemática para fazer experiências relativas às suas disciplinas. Dispõe de microscópio, conjunto de vidraria, conjunto de instrumentos, reagentes, amostras coletadas e trazidas por alunos e professores, entre outros. g) Laboratório de Informática Na sala em que antes funcionava a Biblioteca, uma sala grande, passou a funcionar o laboratório de informática que conta com 20 computadores que são utilizados pelos professores nas horas atividades e alunos com a supervisão do professor. Há também uma impressora para uso dos professores. O uso pelo professor, ou junto com a turma deverá ser agendado previamente. O agendamento deverá ser feito pelo funcionário responsável pelo laboratório. Nesta sala também são realizadas as reuniões pedagógicas com os professores e a equipe pedagógica. h) Quadra As atividades de Educação Física, os teatros, as danças, as apresentações, as festas, entre outras, são realizadas nas duas quadras que o Colégio possui: uma com cobertura e outra com sombrite adquirido com o programa anjos da escola. Objetivos Gerais Para atingirmos nossas metas se faz necessário a elaboração de um P.P.P. onde a Educação Escolar possua um currículo organizado com base no contexto social e com uma gestão realmente democrática, pois somente assim ocorrerá uma aprendizagem transformadora e participativa. Pretendemos com este P.P.P. estudar conceitos e conteúdos básicos das várias áreas do conhecimento, em seus aspectos específicos e interdisciplinares interligando as propostas metodológicas as disciplinas, pois esta contribuição permitirá fazer as intervenções necessárias na realidade a fim de transformá-la. Têm por finalidade estimular no professor uma postura perspicaz, investigadora e criativa diante de seus alunos, colegas e, é claro, diante do próprio conhecimento e das práticas pedagógicas com as quais trabalha. Acreditamos que, assim, o professor 7 poderá conhecer um pouco mais sobre o modo de ser e viver de seus alunos, suas raízes, seu presente e seu futuro. Mostrar com clareza a fundamental importância que a escola tem com o programa educativo podendo de fato se constituir em uma unidade com maior grau de autonomia onde todos que dela fazem parte sejam comprometidos em atingir as metas a que se propuseram. A Escola através do trabalho pedagógico terá como objetivo direcionar a aprendizagem para a compreensão ampla de ideias e valores indispensáveis no momento atual. É importante termos conhecimentos e habilidades cognitivas e que assegurem o desenvolvimento profissional, de acordo com os novos padrões tecnológicos e com as formas de trabalho a eles associadas formando hábitos e valores que favoreçam a cultura e para que desenvolva a solidariedade e a rejeição às desigualdades sociais, valorizando suas formas próprias de pensar, de agir e de se expressar, sem desconsiderar o intercâmbio entre as diferentes culturas, oferecendo oportunidades para que possa apropriar-se delas. Marco Situacional. II – Histórico da realidade Ainda vivemos numa sociedade organizada injustamente em que impera o capitalismo e o preconceito; bem como desprovida de princípios éticos, morais e culturais. Almejamos uma sociedade mais organizada que vise à solidariedade, à igualdade, à valorização humana e a cultura como bem maior da Pátria. Uma sociedade alicerçada na seriedade de seus órgãos públicos com fidedignidade aos direitos do cidadão. A Escola, por sua vez, transformou-se em uma instituição assistencialista com muitas regras burocráticas e conceitos utópicos. Vive em busca de uma objetividade em seus ensinamentos referentes ao futuro do aluno do Ensino Médio; no entanto, é participativa na sociedade usando de dinamismo, atrativos e métodos diversificados para a aprendizagem e formação do caráter crítico do aluno. A necessidade nos dias atuais é da Escola resgatar a sua função primeira que é de ensinar e transmitir conhecimentos científicos incorporando nos alunos e este por sua vez, os transforme em benefícios para a sociedade na qual ele vive. 8 Histórico da Instituição Diante das concepções e paradigmas pertinentes a Escola é de fundamental necessidade evidenciar um pouco da história do Colégio Estadual Miguel Dias – Ensino Fundamental e Médio, da cidade de Joaquim Távora – Paraná, sito a Rua Dr. Lincoln Graça nº 746, CEP 86455-000, Telefone (43) 3559-1596, Fax (43) 3559-1260, mantido pelo poder público e administrativo, pela Secretaria de Estado da Educação. Os primeiros registros disponíveis em nosso acervo datam de janeiro de 1928, quando o Professor Francisco Benedetti assinou o termo de compromisso na função de diretor do ”Grupo Escolar de Afonso Camargo”, pois assim era denominado o povoado que deu origem à cidade de Joaquim Távora. O Grupo Escolar estava situado na antiga Prefeitura Municipal. O Capitão Miguel Dias, pioneiro na região, com o aumento da população, criou uma escola particular em sua propriedade, contratando professores de outras cidades, para que as crianças recebessem instrução escolar. Mais tarde, esta escola passou a ser “Escola Isolada” pertencente ao município de Santo Antônio da Platina. A partir de 1929 os documentos já nomeiam a primeira escola da comunidade de “Grupo Escolar Miguel Dias”. Contava o prédio com 4 salas. A construção do prédio era de madeira. Com o Decreto nº 2743 de 31 de março de 1930, a Escola passou a denominar- se Grupo Escolar Miguel Dias. Data de 06 de novembro de 1948 a instauração do novo prédio sob a direção do Professor Dalton Frederico de Mello. Esteve presente no Ato, o Senhor Governador do Estado do Paraná, Moisés Lupion que solenemente o inaugurou. O prédio, em alvenaria possuía 8 salas de aula, cantina, instalação sanitária, gabinete do diretor, sala de professores, cooperativa, almoxarifado, biblioteca, sala museu, gabinete médico e dentista. Neste estabelecimento funcionou o Ginásio Estadual Professor Francisco Benedetti, desde 1950 até 1962 e a Escola Normal de Grau Colegial “Prudente de Moraes”, desde o ano de 1956 até 1963. Ambas as Escolas desligaram-se deste, para o novo prédio do Ginásio Estadual “Professor Francisco Benedetti”. Pelo Decreto nº 7272 de 21/12/56, do Sr. Moisés Lupion, Governador do Estado, foi criada a Escola Técnica de Comércio de Joaquim Távora, funcionando no mesmo prédio do Grupo Escolar Miguel Dias. 9 A partir de 1962 passou-se a denominar Colégio Comercial Estadual de Joaquim Távora e Escola Reordenada de 2º Grau depois, de unirem-se veio à denominação de Colégio Estadual “Miguel Dias” Ensino de 1º e 2º Graus. Em 1998 houve nova alteração com a Del. 003/98 com a denominação de Colégio Estadual Miguel Dias – Ensino Fundamental e Médio. Caracterização da Comunidade Escolar O que se observa hoje, em relação aos alunos, especificamente da nossa escola, é que a maioria é oriunda das várias camadas sociais (zona urbana e rural): interessados e desinteressados, educados e mal-educados, estudiosos e preguiçosos, enfim, produto das estruturas morais, emocionais e afetivas provenientes das suas famílias. Percebe-se a pouca valorização que dão à escola como suporte para a ascensão social e pessoal, as mesmo assim devido à falta de emprego em nossa sociedade os alunos têm no estágio renumerado oportunidades de conseguir um trabalho de acordo com a legislação vigente. O que se pretendeentão é que os alunos descubram na escola uma perspectiva de futuro melhor, através dos conhecimentos nela adquiridos. Que sejam conscientes de sua cidadania e empenhados a participar da sociedade sendo agentes transformadores em seu meio. Assim como os alunos, nossos professores são marcados por características próprias que definem seus modos de pensar e agir dentro da comunidade escolar. Como cada um tem sua individualidade, a maneira de encarar o processo educativo é peculiar a cada um. No entanto, o que se percebe em nossa escola, de maneira geral, é que o conjunto de professores é muito persistente, dinâmico, criativo, comprometido realmente com a formação integral do aluno, apesar de em alguns momentos se remeterem a sentimentos de desilusão, frustração e estresse diante de determinadas situações. Nossos professores são conscientes de que a escola espera deles dedicação e comprometimento, assim como a promoção da ética e da união dentro do estabelecimento, mas também almejam respeito e valorização pelo seu trabalho. Nossos funcionários também têm consciência da importância do seu papel para a comunidade escolar e também de como devem desempenhá-lo. Compartilham também como os professores, do desejo de terem seu trabalho reconhecido e respeitado. Os pais são provenientes de várias camadas sociais, assim como já foi colocado sobre os alunos. Podemos considerar que a maioria dos pais pertence a uma classe 10 social média. Ainda assim, temos uma parte dos pais que pertencem à baixa, como consequência, muitas vezes não possuem estruturas necessárias para fazer um bom acompanhamento da vida escolar de seus filhos. Analisando de maneira crítica os dados estatísticos do colégio no que diz respeito à evasão e repetência (2006 – 2007 - 2009), percebeu-se que o índice de reprovação foi maior nas 5ªs séries talvez isso se explique pelo fato do impacto que os alunos de 4ª série sofrem ao chegar na 5ª série. Tudo é novo: muitos professores, muitas disciplinas, metodologias diferentes, espaço físico, geralmente, maior, muitos alunos na sala, enfim, é uma mudança brusca na vida escolar desses pequenos que, muitas vezes encontram-se perdidos, desorientados. Nosso colégio tem procurado fazer um trabalho diferenciado com as 5ªs séries: reuniões com os pais, alunos e professores, por turma, mostrando a importância da participação familiar na vida escolar dos alunos, bem como salientar os problemas enfrentados pelos professores em determinada turma para, em conjunto, apontarem as saídas. Além disso, é feito pela Equipe Pedagógica um trabalho de conversa individual com os pais, onde na troca de informações se procura adotar ações efetivas na resolução dos problemas. Organizou-se o Projeto FICA para atendimento aos alunos menores de 12 anos e implantou-se a sala de apoio e recursos para os alunos com dificuldades de aprendizagem. Foi desenvolvido também um trabalho sobre o ECA pela Equipe Pedagógica, onde o objetivo foi mostrar que todo cidadão possui direitos, mas também deveres. Com base ainda nos dados estatísticos dos últimos anos, percebeu-se também que o índice de transferência e evasão foi muito elevado. Muitos de nossos alunos do noturno optaram por transferir-se para a EJA, onde segundo eles, encontrariam mais facilidades quanto ao ensino, uma vez que, alunos que trabalham durante o dia não têm tempo para se dedicar ao ensino mais complexo. Este assunto tem sido um tema constante nas reuniões entre os profissionais da Educação deste colégio durante o ano letivo. Os professores concordaram que há necessidade de adequar a metodologia à realidade do ensino noturno com o intuito de tornar o aprendizado mais interessante e concreto, mais atraente e acessível, condizente com o que o aluno busca. Por se tratar de alunos com defasagem idade/série a preocupação deve recair em um programa teórico-metodológico especial direcionado à realidade desses educandos sem prejuízo ao ensino de qualidade. 11 É importante ressaltar a importância que tem a ação do professor dentro do processo ensino-aprendizagem, não só neste caso do Ensino Noturno, especificamente, mas em toda a ação dentro do processo educativo. O professor é peça fundamental, é ele quem contracena com nosso personagem principal: o aluno. É através do contato com o professor e sua maneira de ser e ensinar que o aluno aprende ou não. O que se percebe é que muitas teorias sobre como ensinar são escritas, todas condizentes com o momento em que se vive e todas muito eficientes, no entanto, se não houver quem as tire do papel e realmente as coloque em prática, seu sucesso não estará realmente garantido. Há necessidade de que o professor interiorize o processo de mudança da sua prática, pois o mesmo só ocorrerá de dentro para fora. Através da formação continuada: cursos, capacitações, reuniões, palestras pretende-se uma maior comoção de todos os profissionais da Educação no sentido de que percebam que os alunos são a razão de existir da escola sem eles, não estaríamos aqui. Sendo assim, nossa obrigação de executar um bom trabalho é para com eles e, consequentemente para a sociedade de uma maneira geral, pois a partir do momento que conseguirmos formar um aluno pensante e agente, o mesmo contribuirá positivamente para a realidade na qual está inserido, modificando-a sempre que houver necessidade. Em nossas reuniões pedagógicas temos procurado enfatizar a importância das boas relações de trabalho entre todos os profissionais da Educação e da necessidade de se envolver toda comunidade escolar em nossas atividades. Uma vez que, percebemos que nossos pais têm certa resistência nessa participação e envolvimento. Quanto ao horário das disciplinas, se obedece às 4 horas de efetivo trabalho, previstas na LDB, em cada período. Sendo que as aulas são de 50 minutos e o intervalo é de 15 minutos. Os materiais pedagógicos são adequados às disciplinas, quando não há, são adquiridos pela direção, na medida do possível. No processo de distribuição de aulas aos professores em efetivo exercício de regência de classe é observado o percentual de 20% (vinte por cento) da jornada de trabalho, destinado à hora atividade. A hora atividade é destinada para planejamento, reuniões pedagógicas, correção de tarefas dos alunos, estudos e reflexões sobre os conteúdos curriculares e ações, projetos e propostas metodológicas, troca de experiências, atendimento de alunos e pais e outros assuntos educacionais de interesse dos professores. À hora atividade em nosso colégio está organizada da seguinte maneira: 12 2ª feira: professores de História, geografia, filosofia, e sociologia Ensino Religioso; 3ª feira: professores de Matemática e Física; 4ª feira: professores de Artes, Educação Física; 5ª feira: professores de Ciências, Biologia e Química; 6ª feira: professores de Português, Inglês. Com relação às normas de convivência escolar, as mesmas estão dispostas nos Direitos e Deveres contidos no Regimento Escolar, o qual é entregue e comentado pelos professores com os alunos no início do ano escolar, principalmente com os alunos das 5ªs séries. No decorrer do ano letivo, os pais dos alunos com problemas disciplinares e de aprendizagem recebem bimestralmente um comunicado informando-os sobre o comportamento, aprendizado e faltas que seu filho apresentou nesse período. Esse comunicado é elaborado de acordo com as anotações diárias dos professores em fichas de ocorrências, por série; também se observa as anotações feitas pela Equipe Pedagógica na ficha individual de cada aluno. Cada turma tem um caderno organizado em fichas individuais dos alunos; nessas fichas, além das anotações das fichas deocorrências, também constam as advertências (orais ou escritas) e as suspensões, quando o aluno infringiu o regulamento previsto no Regimento Interno dessa escola. Quando isso acontece o pai é comunicado e pede-se que ele compareça à escola para juntos, resolvermos o problema. Os pais também são comunicados pela escola através de telefonemas, convites, visitas pessoais, serviço de informações e até pelo Conselho Tutelar, em casos especiais. Visando a uma gestão democrática, os pais participam de reuniões da APMF, do Conselho Escolar e da construção e aprovação do PPP. Quanto aos alunos, cada sala tem 02 (dois) líderes de turma cujo papel é ser o porta – voz da turma diante de indagações, reivindicações e esclarecimentos junto à equipe escolar. Procura-se, por parte de toda a organização escolar, respeitar as diferenças individuais dos alunos, promoverem uma maior integração professor-aluno escola, colhendo opiniões e ideias na Ata de Conselho de Classe, espaço onde os mesmos avaliam o desempenho dos professores bem como o desempenho da turma de maneira geral, além de darem sugestões para melhoria das dificuldades e problemas encontrados. Além dos programas Líderes de Turma, Ficha Individual dos Alunos, Fichas de Ocorrência, Ata de Conselho de Classe, Ficha da FICA, programas estes com 13 resultados positivos e incorporados ao cotidiano da escola, outros programas estão sendo criados e desenvolvidos com o objetivo de tornar o ensino mais atraente e concreto para os discentes que serão relacionados a seguir: a) Influência da Língua Inglesa em nosso cotidiano; b) A hora da leitura; c) Água é Saúde d) Ética e Cidadania; e) ECA. Visando a uma educação de qualidade que atenda a intencionalidade da escola, continua-se buscando novas formas e práticas, por parte de toda a comunidade escolar, que sejam compatíveis à realidade da escola, tendo sempre como norte o tipo de cidadão que queremos formar para agir nessa mesma realidade que poderá então, perpetuar-se ou transformar-se. Ressalta-se aqui a importância das boas relações de trabalho entre todos os profissionais da Educação, os pais e a comunidade em geral. A inclusão de alunos com necessidades especiais no ensino regular tem sido tema de discussão em nossas reuniões pedagógicas. Como sabemos: “... A inclusão educacional é um processo gradativo, dinâmico e em transformação que exige do Poder Público o absoluto respeito às diferenças individuais dos alunos e a responsabilidade quanto à oferta e manutenção dos serviços e apoios especializados mais apropriados ao atendimento de cada educando, tanto no âmbito da escola regular quanto da escola especial”. (SEED/DEE. Diretrizes Curriculares da Educação Especial – Curitiba: SEED. 2005). No entanto, é de conhecimento geral que a Escola não apresenta condições estruturais físicas, humanas e epistemológicas para receber alunos com necessidades especiais: mental, física, surdez, condutas típicas de quadros neurológicos, psiquiátricos e psicológicos graves e altas habilidades / superdotado. A escola conta com sala de recursos, mas há necessidade que tenha à disposição os serviços da Educação Especial que compõem a rede de apoio à inclusão, tais como: centro de atendimento especializado, professor de apoio permanente, profissional intérprete, instrutor surdo, entre outros. Além disso, há necessidade de que os órgãos responsáveis preparem o espaço físico, a capacitação dos profissionais da educação e toda a comunidade escolar, visando à socialização dos alunos que serão inclusos aos alunos que já frequentam o ensino regular e vice- versa. Traduzindo esse conjunto de reflexões para nossa realidade, a inclusão de todos os alunos com deficiência Especial contemplada nos princípios norteadores das ações 14 da escola no que se refere ao acolhimento e reconhecimento das diferenças desses alunos no contexto escolar, contribuindo para a efetivação de seu processo de aprendizagem e participação especial. Nossa escola tem alguns alunos com deficiência física, visual e auditiva. Marco Conceitual. III - Filosofia do Colégio A escola tem como tarefa difundir conteúdos concretos, indissociáveis da realidade pertinente, valorizando a apropriação do saber elaborado, mas, partindo do senso comum trazido pelo aluno, o senso proveniente da vivência da realidade econômica – social - cultural na qual o aluno está inserido, minimizando a seletividade social para a transformação da sociedade como um todo. A escola não deve ser para o aluno mais uma experiência amarga, excludente, destrutiva de sua auto-estima. Tanto a escola, como a prática docente não tem que reproduzir necessariamente a sociedade injusta e discriminatória que aí está. Há necessidade de que a escola se torne mais humana, pois somente em um clima humano nos tornamos humanos. As condições que impedem ou permitem as aprendizagens são materiais, mas também são de estrutura, de organização e de clima humano ou de relações sociais, humanas, culturais. Podemos ter escolas em boas condições físicas, equipadas, salários e condições de trabalho razoáveis e faltar clima humano. Nessas condições materiais e de trabalho os alunos poderão até aprender nossas matérias, passar, porém não aprenderão uma matéria, a principal, a serem humanos. Sendo assim, uma das dimensões básicas da ação educativa é aprender a ser, desenvolver-se no convívio com semelhantes e diversos em temporalidades do fazer-nos humanos, no convívio com sujeitos respeitados para expressar significados e aprender significados no convívio próprio de seu tempo cultural. Nosso ofício é revelar as leis da natureza, a produção do espaço, da vida, ensinar matérias, mas sobretudo revelar-nos às novas gerações, revelar a humanidade, a cultura, os significados que aprendemos e que vêm sendo aprendidos na história do desenvolvimento cultural. A educação deve orientar-se para o pleno desenvolvimento da personalidade e da dignidade humana, fortalecendo o respeito pelos direitos e liberdades inerentes a todos os seres humanos, independente da classe social a que pertença. A educação deve estar voltada para vida, preparando o aluno para exercer um papel atuante na comunidade em que vive, promovendo espaço para reflexões sobre acontecimentos e 15 desenvolvendo competências para mudanças. Uma educação que leve o indivíduo a atuar na sociedade vislumbrando novas perspectivas de transformação social e promoção da consciência cidadã. Uma educação que prime à cultura da leitura como base de toda relação interpessoal e compreensão do mundo. A ferramenta de trabalho do professor e, por conseguinte, de todos os profissionais da Educação é o ser humano, nada mais pertinente então que todos os envolvidos no processo ensino-aprendizagem tenham a concepção de que o homem é um ser social. O homem age na natureza transformando-a segundo suas necessidades e para além delas. Nesse processo de transformação, ele envolve múltiplas relações em determinado momento histórico, assim, acumula experiências e em decorrência destas, ele produz conhecimentos. Sua ação é intencional, planejada e direcionada (ação – reflexão – ação), mediada pelo trabalho, produzindo bens materiais e não materiais que são apropriados de diferentes formas por ele mesmo e por outros homens. É na divulgação da produção dos bens não-materiais que os profissionais da Educação encontram seu objetivo, uma vez que, fazendo com que o aluno se veja como sujeito histórico do seu momento e, em contrapartida, relacione com a produção histórica de outros sujeitos superando sua condição de objeto, caminhando na direção de suaemancipação como participante da histórica coletiva. A escola tem como tarefa formar o aluno crítico, participativo, responsável, criativo... para atuar na sociedade. Mas que sociedade? Temos uma opinião formada sobre como é a sociedade em que vivemos? Há necessidade de que todos os envolvidos com a Educação tenham bem claro que tipo de sociedade têm, e mais importante ainda, que tipo de sociedade queremos. Para Pinto (1994), “a sociedade configura todas as experiências individuais do homem, transmite-lhe resumidamente todos os conhecimentos adquiridos no passado do grupo e recolhe as constituições que o poder de cada indivíduo engendra e que oferece a sua comunidade”. Segundo Demerval Saviani, para entender o modo como funciona a sociedade é necessário compreender as leis que regem o desenvolvimento da sociedade, leis que não são naturais, obviamente, mas sim leis que se constituem historicamente. Infelizmente, como consequência de nossas leis, temos uma sociedade heterogênea e fragmentada, marcada por profundas desigualdades de todo o tipo: classe, etnia, gênero, religião... Uma sociedade em que a grande parte da população está excluída e condenada à marginalidade por não ter possibilidade de inserção no mercado de trabalho, devido também em grande parte, ao avanço tecnológico e 16 científico no modo de produção contemporâneo. Diz-se que vivemos numa democracia, no entanto, uma sociedade democrática não é aquela na qual os governantes são eleitos pelo voto, mas sim aquela onde o conjunto dos membros tem a possibilidade de participação em todos os processos decisórios que dizem respeito à sua vida, é a democracia participativa. É preciso ter claro que não há verdades eternas e absolutas nas relações entre sociedade e o Estado e que estas se fazem e se refazem pelo protagonizo dos seres sociais e que a busca de uma democracia substantiva, participante, regida por princípios éticos de liberdade e igualdade social, continua sendo um horizonte histórico, em resumo, uma utopia para a humanidade. 0 A escola hoje vai além da formação técnica que minimiza o conhecimento, prima pela formação crítica do aluno que permite ao estudante uma análise sobre os modos de produção e assim possa atuar no mundo do trabalho de forma mais autônoma, consciente e crítica. Mesmo não sendo uma educação técnica a escola inserida no social compartilha a necessidade dos jovens de inserir-se no mundo do trabalho. Nesta perspectiva e de acordo com a lei nº 11788/08 art. 1º o estágio não obrigatório visa ao aprendizado de competências próprias da atividade profissional e a contextualização curricular. O estágio não obrigatório permite a apropriação de saberes práticos que podem ou devem ser inseridos e se necessário transformados na escola, sempre acompanhado pela equipe pedagógica, mediando os conceitos históricos e os tácitos, de forma a promover uma educação de qualidade e transformadora. Que tipo de educação se faz necessária para transformar a sociedade em que vivemos? “A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. A educação é uma prática social, uma atividade específica dos homens situando-os dentro da história – ela não muda o mundo, mas o mundo pode ser mudado pela sua ação na sociedade e nas suas relações de trabalho. Segundo Boff (2000) se faz necessário desenvolver uma educação que nos abra uma democracia integral, capaz de produzir um tipo de desenvolvimento socialmente justo e ecologicamente sustentado. Nesse sentido, com o objetivo de formar o ser humano para gestar uma democracia aberta, a educação visa: 17 a) a apropriação pelo cidadão e pela comunidade dos instrumentos adequados para pensar a prática individual e social, ganhando uma visão globalizante da realidade que poderá orientá-lo em sua vida; b) a apropriação pelo cidadão e pela comunidade do conhecimento científico, político, cultural acumulado pela humanidade ao longo da história para garantir-lhe a satisfação de suas necessidades, bem como realizar suas opiniões; A apropriação por parte dos cidadãos e da comunidade, dos instrumentos de avaliação crítica do conhecimento acumulado, reciclá-lo e acrescentar-lhe novos conhecimentos através de todas as faculdades cognitivas humanas. Vista como processo de desenvolvimento da natureza humana, a educação tem suas finalidades voltadas para o aperfeiçoamento do homem que dela necessita para constituir-se e transformar a realidade. De acordo com a LDB 9394/96, art. 3º, o ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; III – pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas; IV – respeito à liberdade e apreço à tolerância; V – coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; VI – gratuidade de ensino público em estabelecimentos oficiais; VII – valorização do profissional da educação escolar; VIII – gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino; IX – garantia de padrão de qualidade; X – valorização da experiência extra-escolar; XI – vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais. A escola é a ponte de ligação entre a sociedade e a educação. É nela que o processo educativo acontece. É nela que situações econômicas, políticas, sociais, culturais, emocionais... são reveladas. A tarefa da escola é difundir conteúdos concretos, indissociáveis da realidade pertinente, produzidos historicamente, fazendo com que o aluno também se perceba como sujeito histórico de seu momento; no entanto, percebe-se que a escola tem executado uma tarefa muito maior: resgatar o cultivo de valores que os pais não passam mais aos filhos; conscientizar os alunos da 18 sua condição de cidadão portador de direitos e deveres; estimular o aluno a valorizar a escola como meio de ascensão pessoal e social. Enfim, hoje, a tarefa da escola não está sendo ensinar, mas educar. A escola está cumprindo o papel da família em muitos aspectos, muitos pais delegam à escola funções que são pertinentes a si próprios. É preciso que a família retome seu papel na formação da personalidade de seus filhos e que, juntamente com a escola, venham a somar forças. É na escola que o aluno tem acesso ao saber elaborado que é confrontado com o senso comum que ele traz da realidade em que vive. Sendo assim, é importante que a escola, assim como todos os envolvidos no processo ensino-aprendizagem, saiba que tipo de conhecimento é adequado para atingir os objetivos a que a escola se propõe. O conhecimento pressupõe as concepções de homem, de mundo e das condições sociais que o geram configurando as dinâmicas históricas que representam as necessidades do homem a cada momento, implicando necessariamente nova forma de ver a realidade, novo modo de atuação para obtenção de conhecimento, mudando, portanto a forma de interferir na realidade. Essa interferência traz consequências para a escola, cabendo a ela garantir a socialização do conhecimento que foi expropriado do trabalho nas suas relações. O conhecimento escolar é dinâmico e não uma mera simplificação do conhecimento científico adequado à determinada faixa etária e aos interesses dos alunos. O conhecimento escolar é resultado de fatos, conceitos, generalizações (confronto entre senso comum e saber elaborado), sendo, portanto, oobjeto de trabalho do professor. Conforme Freire, “o conhecimento é sempre conhecimento de alguma coisa”, é sempre “intencionado, isto é, está sempre dirigido para alguma coisa”. Portanto, há de se ter clareza com relação ao conhecimento escolar, pois como destaca Severino, “educar contra-ideologicamente é utilizar, com a devida competência e criatividade, as ferramentas do conhecimento, as únicas de que efetivamente o homem dispõe para dar sentido às práticas mediadoras de sua existência real”. Vivemos em um mundo onde a dependência científico-tecnológica pode determinar a dependência econômica e a perda de soberania, além de se impor como um elemento perpetuador da pobreza e da injustiça social. Sabemos que a Ciência e a Tecnologia representam fatores básicos e essenciais de produção nos tempos atuais. Diante disso, há necessidade de propostas alternativas em prol das crianças, adolescentes, jovens e adultos que buscam na educação básica e superior, possíveis espaços de cidadania que possam estar contemplados e atendidos no PEE. 19 A educação científico-tecnológico representa uma das possibilidades de melhorias no quadro da educação, uma vez que este conhecimento é necessário à compreensão dos processos produtivos e do desenvolvimento da sociedade, conforme pontua o Art. 35 da LDB 9.394/96. “O ensino médio, etapa final da educação básica, com duração mínima de três anos, terá como finalidades: - a compreensão dos fundamentos científicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina”. Devido à concentração de renda, a Ciência e a Tecnologia estão a serviço da manutenção do poder, restringindo-se a poucas empresas que financiam e investem nestas áreas. Como afirma o professor Doutor Domingos Leite de Lima Filho: “Se... por um lado, o modelo de produção capitalista generaliza a exigência do conhecimento sistematizado (educação escolar), por outro, baseia-se na propriedade privada dos meios de produção (e se nessa forma histórica de produção social o conhecimento é convertido em potência material, isto é, em meio de produção, ele também precisa ser apropriado distintamente pela sociedade). Decorre daí a fragmentação dos saberes e da escola: conteúdos e instituições escolares conforme o percurso social”. As proposições do PEE na temática “Ciências e Tecnologia” enfatizam que estas devem produzir e estar a serviço da sociedade, para atender especialmente as camadas sociais menos favorecidas. O impasse está justamente na compreensão de que, se queremos uma ciência e tecnologia a serviço das camadas desfavorecidas, o investimento deve vir para instituições públicas, onde o compromisso do governo estabeleça as prioridades e metas de investimento para sanar os problemas diagnosticados. O cientista e pesquisador moderno é um indivíduo que, além de buscar novos fatos, opera também como decodificador, capaz de, em sua especialidade, extrair e tornar acessível ao público os avanços na sua área específica de trabalho. Assim, fica claro, que ter no currículo, uma concepção de educação tecnológica não será suficiente para o acesso a todos, da Escola Pública, sem que haja uma vontade e ação política que possibilite investimento para que esses recursos tecnológicos (elementares e sofisticados) existam e possam ser ferramentas que contribuam para o desenvolvimento do pensar, sendo um meio de estabelecer relações entre o conhecimento científico, tecnológico e sócio-histórico, possibilitando articular ação, teoria e prática. Historicamente, o Brasil foi construído de cima para baixo e de fora para dentro, poderes coloniais, elites proprietárias, Estado realimentando as desigualdades e agravando as inclusões. Neste momento, se quer construir uma outra base social, 20 constituída por aqueles excluídos da história brasileira que, organizando-se na sociedade civil e nos diferentes movimentos sociais, acumularam forças e conseguem expressar-se, tomando as rédeas do seu destino, criando uma nação soberana e aberta ao diálogo e à participação. “A discussão do tema cidadania ocupa cada vez mais espaço nos meios de comunicação, nos segmentos sociais, políticos, culturais e religiosos. Todos, de diferentes tendências ideológicas, em seus vários matizes, exibem arroubos de fé democrática e cidadã. Até o homem comum a discute para reivindicar direitos. Mas, basta olhar em volta para perceber que, nas democracias burguesas, a cidadania coexiste, contraditoriamente, com as desigualdades. Os direitos são reconhecidos como naturais; porém, pelas relações de poder e exploração, não é assegurado seu exercício ao cidadão.” (Martins, R.B.). O grande desafio histórico é dar condições ao povo brasileiro de se tornar cidadão consciente, (sujeito de direitos), organizados e participativos do processo de construção político-social e cultural. Angel Pino in (Boff SEVERINO A.J. ZALVARA e outros. 1992, p 15-25), consideram que “o conceito de cidadania traduz ao mesmo tempo, um direito de exercício desse direito. Sem este, aquele é mera fórmula”. Portanto, a educação como um dos principais instrumentos de formação da cidadania deve ser entendida como a concretização dos direitos que permitem ao indivíduo sua inserção na sociedade. Em relação ao ensino – aprendizagem, sabemos que o aluno não aprende só na escola, desde o nascimento ele inicia esse processo que se desenrola por toda vida. Todavia, é na escola, através dos conhecimentos científicos que são ensinados, que o aluno vai analisar os conceitos que já possui e reconstruí-los. Como diz Gasparin: “a função principal da escola é fazer com que o aluno desaprenda”. Isto não quer dizer que o professor deva desprezar o que o aluno já sabe, pelo contrário, esses conceitos devem servir como meios de problematização para que se crie no aluno o interesse em querer aprender. O aluno só aprenderá se sentir necessidade. É preciso que o professor consiga desenvolver, criar em seu aluno essa necessidade. Aprendizagem significa “crescimento” do aluno. O importante na aprendizagem é o que o aluno vai fazer, na prática, com o que aprendeu. Sendo assim, o conteúdo deve servir para fora da sala de aula, seja num pequeno fazer, seja numa prática profissional. A educação deve acontecer dentro de um processo dialético: ação-reflexão; prática – teoria – prática; síntese – análise – síntese. Nesse processo de troca, professor e aluno ensinam e aprendem. O objetivo do professor deve ser no sentido de 21 levar o aluno a ver com outros olhos, outro espírito, aquilo que ele já sabe, por isso dizemos que ele reaprende, reconstrói e o importante: atua, na prática, de acordo com esta nova maneira de ver a realidade, de acordo com sua nova leitura do mundo. “O compromisso com uma escola democrática, articulada a um projeto de emancipação social, alimenta o cotidiano de muitos professores e professoras por todo o país, nos convidando a formular propostas que redefinam o sentido excludente que marca a escola brasileira. Uma proposta tem se mostrado polêmica: a não-retenção dos alunos e alunas ao longo da escolarização, que em muitos contextos tem sido denominada promoção automática e em outra progressão continuada. Há, inclusive, quem proponha significados diferentes para essas expressões. Argumentos a favor e contra a incorporação dessa prática têm sido apresentados tanto no cotidiano escolar, quanto nos debates acadêmicos. A promoção automática redefine o sentido da avaliação enfatizando seu caráter processual, dialógico e cooperativo, deixando para trás as práticas que vinculam este processo à dinâmica de seleção, controlee exclusão que orienta a reprovação escolar. Tal redefinição inscreve-se em um projeto de escolarização que coloca a centralidade no sujeito que aprende, vinculando a prática pedagógica à vida. Portanto, também os conteúdos escolares precisam ser revistos, redefinidos e ressignificados para que se articulem aos conhecimentos da vida. O trabalho pedagógico precisa ser configurado, pois a preocupação não é que o aluno ou aluna “passe de ano” ou “tire boa nota”, mas que aprenda. Aprendizagem não se refere apenas à retenção de determinados conteúdos para o momento em que serão verificados por meio dos exames, mas representa a apreensão de conhecimentos emancipatórios que ampliem a possibilidade de compreender, interpretar, analisar, atuar, enfim, interagir crítica e produtivamente com o mundo no qual o sujeito vive. A avaliação não se reduz a “dar nota” ao aluno, amplia-se como um movimento de compreensão do processo educacional, o que não pode ser feito sem compreensão dos processos de seus alunos e alunas, para propor procedimentos favoráveis à ampliação de conhecimentos em sua sala de aula. A avaliação deixa de se ocupar meramente do rendimento do aluno, passa a tratar da complexidade de dinâmica aprendizagem-ensino visando à produção de um processo pedagógico que propicie a aprendizagem e o desenvolvimento de todos. Produzir um novo sistema de avaliação, vinculado ao objetivo de democratizar a escola como parte de um amplo processo de democratização e emancipação social, demanda uma profunda, constante e coletiva reflexão sobre a cultura de avaliação 22 consolidada na escola e na sociedade. Portanto, indica a necessidade de um amplo debate sobre a reorganização da escola, as práticas cotidianamente realizadas em seu interior e as ações e definições governamentais; debate que não pode estar restrito aos profissionais da escola, mas tem que se abrir aos alunos e seus responsáveis. A defesa da não retenção dos alunos e alunas tem se confundido, par alguns com o desconhecimento de que a aprovação automática não elimina os profundos problemas, de natureza socioeconômica, mas também pedagógica enfrentados cotidianamente na escola brasileira. Com tal preocupação, salienta-se que sua adoção não significa a transformação automática no trabalho pedagógico e no projeto curricular de modo a favorecer uma melhor incorporação da diferença, tecida nos múltiplos contextos em que vivemos à prática escolar. A potencialidade da aprovação automática no enfrentamento dessa questão tem sido vista de modos diferentes, embora haja consenso de que ela, por si mesma, não resolve os enormes desafios postos à democratização da escola brasileira, embora seus defensores a vejam como parte de uma concepção de educação e de projeto pedagógico que encaminham possibilidades de sua transformação”. (Maria Teresa Esteban). Sabemos que argumentos contra ou a favor da reprovação dos alunos não faltam numa perspectiva de democratização da escola e de ampliação de sua qualidade. Esse debate continua e a necessidade de transformar a escola também. “A nova ordem mundial se reflete diretamente no sistema educacional, em especial na gestão da educação, num contexto de novas exigências de recursos humanos qualificados e sintonizados com as necessidades da democratização da sociedade. Nesse processo, não se pode desvincular a gestão democrática da escola do projeto pedagógico mais amplo”. (Jarbas José Cardoso). Uma reflexão que está se processando no campo educacional refere-se à passagem de uma administração mais centrada na concepção autoritária para uma administração centrada nos princípios democráticos. Esse processo demanda, especialmente, uma mudança no enfoque teórico e no conteúdo da administração e da própria natureza e prática social da escola. Os conceitos de democracia e prática democrática precisam ser compreendidos e interpretados no interior da escola para, a partir daí, estabelecer um processo de gestão que, fundamentalmente, esteja vinculado aos objetivos pedagógicos, políticos e culturais da escola. O conceito e a prática de gestão democrática ainda, não estão insuficientemente desenvolvidos nas organizações e instituições educacionais. Tanto o conceito de gestão quanto o de democracia não se originaram no interior da escola. No entanto, a 23 escola como campo privilegiado de intervenção política e ideológica traz na sua essência pedagógica a possibilidade de construção de novos paradigmas e práticas que priorizem a via democrática na escola e na sociedade. Não se pode desvincular a gestão democrática do processo pedagógico educativo mais amplo. A escola educa e forma o cidadão por suas relações pedagógicas. O processo social mais amplo de democratização do Estado e da sociedade demanda que as instituições sociais sejam governadas de forma democrática. Identifica-se, então, um movimento em relação à passagem da concepção tecnocrática à democrática. A primeira entende que as decisões cabem apenas aqueles que detêm os conhecimentos específicos; a segunda pressupõe a participação no processo de gestão. A participação do cidadão e o exercício de sua cidadania no campo educacional e, mais especialmente, na gestão da escola, estão ligados a um processo mais amplo de extensão da cidadania social à cidadania educacional. Nesse sentido, o pressuposto democrático da escola está ligado à sua função social. Não é possível à escola autoritária desenvolver uma gestão democrática. A gestão democrática tem uma dimensão exógena e endógena. A primeira está ligada à função social da escola, à sua vocação democrática no sentido de democratizar o conhecimento produzido e socializado por ela. A segunda refere-se à forma de organização interna da escola, contemplando os processos administrativos, a participação tanto da comunidade escolar quanto da sociedade civil nos projetos pedagógicos, político e administrativo da escola, ou seja, a forma como é administrada a escola. A escolha de diretores escolares por meio de eleições constitui um elemento importante de descentralização do poder e de construção da autonomia da escola. O processo eletivo representa uma dimensão democrática importante. No entanto, não se pode tomar como determinante de gestão democrática apenas a forma de escolha do diretor por meio de processo eletivo. A gestão constitui um processo pedagógico e apresenta um caráter dinâmico, dialético e que se dá no movimento político- administrativo da escola. O processo de gestão democrática constrói-se no interior da escola, na correlação de forças entre o instituído politicamente e o construído democraticamente. Não existem fórmulas de gestão democrática; ela se constrói no processo político e cultural da escola. A gestão democrática não se limita ao administrativo. Pressupõe autonomia administrativa financeira, assim como a autonomia para que cada escola possa 24 construir seu próprio projeto político pedagógico e estabelecer seu próprio sistema de avaliação. Com base nessa concepção organizativa a escola pode concretamente adotar um novo conteúdo e uma nova prática de gestão flue fundamentalmente priorizem a dimensão participativa. Alguns exemplos de concepções que priorizem a participação estão centrados na co-gestão, na administração colegiada, na democracia participante e na autogestão. A co-gestão está ligada ao princípio da co-decisão. Uma decisão só pode ser tomada por concordância das partes. A co-gestão busca o equilíbrio de poderes e de participação dos segmentos no interior da escola. Aadministração colegiada pressupõe a participação da comunidade nas decisões do processo de educação, representa uma instância coletiva de tomada de decisão e de análise dos problemas da escola. Seu objetivo é que os problemas da comunidade sejam considerados na política institucional do governo e do Estado. A democracia participante baseia-se no princípio de que seus membros elegem delegados para representar seus interesses. Só os delegados legitimamente escolhidos entre os constituintes têm autoridade para votar sobre assuntos a serem decididos. A auto-gestão pressupõe que todos os cidadãos se tornem administradores diretos de suas organizações. Seus membros formam um grupo que se auto-governa. Numa organização de auto-gestão a coletividade exerce os poderes do governo por meio de ação direta. No campo educacional procede a assertiva de que o sentido de democratização pode se verificar a democracia social, ou seja, à democracia de acesso à escola e à igualdade de oportunidades. Essa igualdade de oportunidades ocorre na formação do cidadão como ser social histórico e sujeito de relações. ““. . . a escola precisa ser concebida não mais como organização burocrática, mas como instância de articulação de projetos pedagógicos partilhados pela direção, professores, alunos e comunidade. (. . .) Nela todos os envolvidos são considerados cidadãos, atores participantes de um processo coletivo de fazer educação. Educação que constrói a partir de suas organizações e processos, a cidadania e a democracia”. (Bordignon, 1993:85-6). Ao se firmar como prática política essencialmente democrática, a administração compartilhada preocupa-se em instituir uma forma de organização escolar que enfrente e supere os conflitos por meio da síntese superadora resultante das convergências e sintonias dos diferentes grupos que integram a escola, por meio da participação coletiva. Elimina-se assim o espírito corporativo e competitivo existente no interior do 25 espaço escolar e inicia-se um processo permanente de participação na construção de uma educação comprometida com a transformação social. Isso exige uma escola emancipadora que propicie aos alunos, além das condições de domínio do saber sistematizado, o efetivo exercício democrático de participação nas decisões da vida escolar. E, através do desenvolvimento desse espírito cooperativo, os agentes educativos estarão contribuindo para que os educandos se tornem elementos ativos da transformação da sociedade. A eleição para Diretor de Escola adquire caráter ético-político: dirigir um PPP que constitui a identidade de luta concreta daqueles que buscam a inserção crítica da escola no processo de construção de uma sociedade justa e democrática. O entrecruzamento do projeto político da sociedade com os projetos pessoais e existentes dos educandos, educadores e pais instauram no PPP os fundamentos para o exercício da autoridade, da participação democrática, da disciplina, da organização das tarefas administrativas e do direito à apropriação do conhecimento que “por ser construtiva da condição humana, é um direito fundamental e, por isso mesmo uma exigência da cidadania”. (PINO, 1992, p.22) Este projeto determina o perfil do Diretor de Escola que pressupõe “capacidade de saber ouvir, alinhavar idéias, questionar, inferir, traduzir posições e sintetizar uma política de ação com propósito de coordenar efetivamente o processo educativo (. . .) o cumprimento da função social e política da educação escolar, que é a formação do cidadão participativo, responsável, crítico e criativo, através da transmissão e socialização da herança cultural acumulada’. (PRAIS, 1990, p.82-86). O candidato a Diretor da Escola deve revelar experiência pessoal e profissional, sensibilidade para lidar com situações adversas e estimular a interação entre os semelhantes e os diversos, na perspectiva do direito ao conhecimento, à amizade, aos valores, às ações que constroem a ética, a democracia e a justiça social. A eleição de Diretor de Escola constitui um momento privilegiado para reflexão coletiva de educação que reforça os processos de exclusão e de desumanização a que a população vem sendo submetida fora, e, muitas vezes, dentro da escola. A universalização do acesso e da permanência do aluno com vistas à aprendizagem de qualidade de todos exige uma inclusão efetiva de todos os sujeitos no processo educativo. É nesta perspectiva que se reconfigura o perfil de Diretor de Escola. É no diálogo com a categoria dos trabalhadores em Educação, e no aprofundamento de vínculos entre poder, escola, recursos públicos, escolarização básica de qualidade e afirmação dos direitos sociais do ser humano que se explicita o 26 perfil do Diretor que se identifica com o ideário político de uma sociedade justa, solidária e democrática. IV - Organização Curricular O Colégio Estadual Miguel Dias – Ensino Fundamental e Médio, de acordo com a LDB 9394/96, estabelece a proposta de séries anuais obedecendo à carga horária mínima de 800 horas distribuídas por um mínimo de 200 dias de efetivo trabalho escolar. Serão ministrados, nos períodos diurno e noturno, hora aula de 50 minutos, que somados na Matriz Curricular totalizará no Ensino Fundamental 3.840 h/a e 3.200 horas relógio, sendo que a carga horária da Base Nacional será de 2.880 h/a, no Ensino Médio perfazerá 2.880 h/a e 2.400 horas relógio, sendo que a carga horária da base Nacional compreenderá 2.160 h/a 720 h/a. “O currículo deve ser programado a partir da cultura universal acumulada, selecionado em forma de disciplinas que correspondam à realidade atual. Deve contemplar o básico para garantir a formação integral do aluno e o específico para garantir a diversidade. Sendo flexível, pode ser analisado e modificado pelo professor quando houver necessidade de adequação à realidade dos educandos”. (Professores CEMD - Capacitação – Julho de 2005). Os Estudos Culturais permitem – nos conceber o currículo como um campo de luta em torno da significação e da identidade. A partir dos Estudos Culturais, podemos ver o conhecimento e o currículo como campos culturais, como campos sujeitos à interpretação, nos quais os diferentes grupos tentam estabelecer sua hegemonia. Nessa perspectiva, o currículo é um artefato cultural em pelo menos dois sentidos: 1) a “instituição” do currículo é uma invenção social como qualquer outra; 2) o “conteúdo” do currículo é uma construção social. Como toda construção social, o currículo não pode ser compreendido sem uma análise das relações de poder que fizeram e fazem com que tenhamos esta definição determinada de currículo e não outra, que fizeram e fazem com que o currículo inclua um tipo determinado de conhecimento e não outro. No primeiro sentido, uma análise da instituição “currículo” inspirada nos Estudos Culturais descreveria o currículo, de modo geral, como o resultado de um processo de construção social. Não estamos muito longe aqui da idéia que era à “Nova Sociologia da Educação”, de que o currículo é um artefato social como qualquer outro. Com os Estudos Culturais, essa compreensão, entretanto, modificada e, ao mesmo tempo, 27 radicalizada. Sob a influência do pós-estruturalismo, uma análise do caráter construído do currículo enfatizaria o papel da linguagem e do discurso nesse processo de construção. Finalmente, uma análise cultural não deixaria de destacar as estreitas conexões entre a natureza construída do currículo e a produção de identidades culturais e sociais. No segundo sentido, uma perspectiva culturalista sobre o currículo procuraria descrever as diversas formasde conhecimento corporificadas no currículo como o resultado de um processo de construção social. Essa perspectiva procuraria incorporar ao currículo as diversas pesquisas e teorizações feitas no âmbito mais amplo dos Estudos Culturais – pesquisas que buscam focalizar as diversas formas de conhecimento como “epistemologias sociais”. Nessa visão, o conhecimento não é uma revelação ou um reflexo da natureza ou da realidade, mas o resultado de um processo de criação e interpretação social. Todas as formas de conhecimentos são vistas como o resultado dos aparatos-discursos, práticas, instituições, instrumentos, paradigmas – que fizeram com que fossem construídos como tais. Uma vantagem de uma concepção de currículo inspirada nos Estudos Culturais é que as diversas formas de conhecimento são de certa forma, equiparadas. Não há uma separação rígida entre o conhecimento tradicionalmente considerado como escolar e o conhecimento cotidiano das pessoas envolvidas no currículo. Ao ver todo conhecimento como um objeto cultural, uma concepção de currículo inspirada nos Estudos Culturais, equipararia de certa forma, o conhecimento propriamente escolar com, por exemplo, o conhecimento explícita ou implicitamente transmitido através do anúncio publicitário. Do ponto de vista dos Estudos Culturais, ambos expressam significados social e culturalmente construídos, ambos buscam influenciar e modificar as pessoas, ambos envolvidos em complexas relações de poder. Em outras palavras, ambos os tipos de conhecimento estão envolvidos numa economia do afeto que busca produzir certo tipo de subjetividade e identidade social. “A influência dos Estudos Culturais na elaboração de políticas de currículo e no currículo do cotidiano das salas de aula é mínima. A epistemologia dominante é fundamentalmente realista: o conhecimento é algo dado, natural. O conhecimento é um objeto pré-existente: ele já está lá; a tarefa da pedagogia e do currículo consiste em simplesmente revelá-lo”. (SILVA, Tomaz Tadeu Da. Documentos de Identidade: uma introdução às teorias do currículo. 1999). (. . .) O currículo pode ser descrito como um projeto educacional planejado e desenvolvido a partir de uma seleção da cultura e das experiências das quais deseja- 28 se que as novas gerações participem, a fim de socializá-las e capacitá-las para serem cidadãs e cidadãos solidários, responsáveis e democráticos. Toda instituição escolar quer estimular e ajudar o aluno a compreender e comprometer-se com experiências acumuladas pela humanidade e, mais concretamente, com a sociedade na qual vive. Em cada instituição escolar será efetuada uma reinterpretação peculiar desse legado cultural, em função das experiências prévias, conhecimentos, expectativas dos professores e dos estudantes que interagem nas salas de aula e no centro escolar, bem como dos recursos aos quais têm acesso, das condições de trabalho e da formação do corpo docente. A instituição educacional precisa proporcionar um conhecimento reflexivo e crítico da arte, da ciência, da tecnologia e da história cultural, não só como produtos do desenvolvimento alcançado pela humanidade em seu dever sócio-histórico, mas principalmente como instrumentos, procedimentos de análises, de transformação e criação de uma realidade natural e social concreta. A questão é como selecionar o organizar a cultura e a ciência da humanidade para que possa ser assimilada e para que também sejam construídas as destrezas, habilidades, procedimentos, atitudes e valores que ajudarão esses alunos e alunas a incorporar-se à sociedade, como membros de pleno direito. Vivemos em uma sociedade na qual muitas pessoas não são capazes de imaginar outras possibilidades de seleção e organização dos conteúdos escolares diferentes dos modelos tradicionais que experimentaram pessoalmente. Sem dúvidas, a forma mais clássica de organização do conteúdo, ainda predominante atualmente, é o modelo linear disciplinar, ou conjunto de disciplinas justapostas, na maioria das vezes de uma forma bastante arbitrária. Isso ocasiona o fim originário da educação como conhecimento, compreensão do mundo e capacitação para viver ativamente no mesmo. Em uma organização escolar de disciplinas, o domínio de cada matéria como requisito para a mobilidade dentro do sistema educacional, para aprovar e ascender dentro da dinâmica de ciclos e etapas na qual está estruturada a permanência nas instituições educacionais passa, com demasiada frequência, a converter-se na verdadeira e única meta educacional. O currículo linear-disciplinar acaba configurando- se, na maioria dos casos, como um currículo quebra-cabeças ou tipo coleção, conforme a terminologia de Brasil Bernstein (1988). Nesta modalidade de enquadramento, agentes externos à sala de aula é que “controlam totalmente a seleção, organização, ritmo, critérios de comunicação e a posição... além da disposição da localização física (Bernstein, B., 1993, p. 48). Nesta perspectiva de interação, 29 aqueles que trabalham e convivem nas salas de aula e instituições docentes, professores e estudantes, não dispõem de uma margem de opções possíveis para decidir que conteúdos devem selecionar, nem sua forma de organização. Os resultados deste tipo de proposta curricular, não, entre outros, a incompreensão daquilo que é estudado à força, por coerção mais ou menos manifesta, pois tal fragmentação de conhecimentos causa dificuldade para compreender o que foi estudado – memorizado. Em um modelo de organização linear-disciplinar, as crianças costumam considerar os conteúdos escolares, como um elemento a mais a ser consumido, como qualquer outro objeto desta sociedade de consumo e acumulação. A capacidade crítica, de reflexão, sobre os pontos de vista conflituosos que se manifestam no conhecimento científico e popular e sobre o contexto e os condicionantes sociais de toda pesquisa e modo de conhecer é relegada a um lugar muito secundário, chegando mesmo a ser esquecida e acumulada. Não são incentivadas atividades, destinadas a constatar que todo conhecimento é produzido em um contexto social, econômico e político específico, que o mediatiza e condiciona. Outra característica importante deste currículo centrado nas matérias é que o professor ou a professora dirigem e controlam em todos os momentos as interações consideradas admissíveis. A transmissão passa a ocupar o primeiro lugar, enfatizando- se aspectos como “domínio verbal” e relegando-se dimensões imprescindíveis, como a pesquisa, discussão e reflexão, para lugares muito secundários, ou inclusive anulando- as. É preciso, além de analisar o conhecimento selecionado, ver a que interesse ele serve, que linha científica representa, analisando também as ausências temáticas, os temas ou parcelas da realidade que são ocultados, pretendendo que não existam. Também se ensina através daquilo que se oculta. “A cultura não é um acúmulo de prioridades universais, válidos desde e para sempre, mas uma permanente construção sócio-histórica, fruto das confrontações de grupos com interesses econômicos, culturais, políticos, militares e religiosos específicos. Por isso, tampouco podemos analisar escolas e colégios como instituições isoladas, sem ligações diretas com o contexto econômico, cultural, político, militar e religioso no qual estão inseridas”. (Torres Santomé, J. , 1991) . Uma instituição escolar e professores que esqueçam as considerações sobre o perigo inerente a um currículo organizado e desenvolvido mediante a justaposição de disciplinas, correm o risco de gerar um modelo de “educação bancária”, segundo a terminologia de Paulo Freire, em que o mais importante passa a ser a acumulação 30somatória do conhecimento. Este passa a ser considerado algo que serve apenas para ser possuído, deixando-se de lado seus objetivos primordiais: a funcionalidade liberadora. “Quanto mais os educadores forem exercitados no arquivo dos depósitos que lhes são feitos, tanto menos desenvolverão em si a consciência crítica da qual resultaria sua inserção no mundo como transformadores dele. Como sujeitos do mesmo”. (Freire, P., 1973, p. 79). Ante as críticas ao modelo de currículo de disciplinas, enquanto são destacados as vantagens da pesquisa e do estudo interdisciplinar e a necessidade de adequação às peculiaridades psicológicos dos alunos e alunas, (especialmente aos requisitos de globalização e significatividade dos conteúdos), adquire força a alternativa de um currículo integrado. Uma das razões que vêm sendo utilizadas para defender currículos integrados é que eles são uma forma de equilibrar um ensino excessivamente centrado na memorização de conteúdos, possibilitando assim que se implantem os processos. A educação da pessoa também precisa incluir a capacidade de tratar e aplicar os conhecimentos, estimar suas limitações e desenvolver os meios para superá-las. Junto com a revalorização do papel da experiência também se coloca a necessidade de realçar a importância dos processos na aprendizagem. Assim, surgem numerosas listas daqueles processos que a escolarização precisa favorecer. Entre eles, incluem-se as destrezas básicas como as de observação, comunicação, dedução, medição, classificação, previsão e outros processos mais complexos, como: organizar a informação, tomar decisões, analisar variáveis, comparar e contrastar, sintetizar, avaliar etc. A opção por projetos curriculares integrados trata de criar as condições necessárias para propiciar a motivação pela aprendizagem, ao existir uma maior liberdade para selecionar questões de estudo e pesquisa mais familiares e assuntos ou problemas mais interessantes para os estudantes. Os alunos e alunas vêem que as atividades diárias da sala de aula, os usos de metodologias científicas, estruturas conceituais, a realização de determinadas experiências etc., servem para solucionar seus problemas na vida real. Deste modo podem chegar a compreender essa realidade cotidiana, e ir revisando e superando seus próprios conceitos errôneos sobre a realidade. O desenvolvimento do pensamento crítico de meninos e meninas, bem como sua socialização em geral, são favorecidos com os programas integrados, ao 31 facilitarem a compreensão das relações entre os distintos saberes e a sociedade: ao ajudá-los a refletir, compreender e criticar os valores e interesses promovidos e favorecidos por um determinado conhecimento, ou forma de conhecimento. A partir de perspectivas sociológicas, a integração é defendida como uma forma de educação que propicia visões da realidade nas quais as pessoas aparecem como sujeito da história, como as peças – chave para entender o mundo; consequentemente, como uma boa estratégia para estimular o compromisso de alunos e alunas com sua realidade e para obrigar-se a uma participação mais ativa, responsável, crítica e eficiente na mesma. Não se deve esquecer que o currículo integrado, como conceito e proposta de trabalho, na prática pode se reduzir a um simples slogan, servindo, portanto, a fins sócio-políticos ocultos. Fins que muitos professores não chegam a desentranhar e que são incentivados por decisões e intervenções elaboradas em outras instâncias superiores à sala de aula: administração educacional, editoras, direções escolares, etc. Nesse sentido, os professores poderiam afirmar que trabalham com base nos currículos integrados, mas na verdade, em suas finalidades ocultas, eles são similares aos de qualquer outro mais tradicional e disciplinar, isto é, refletindo valores e fins reprodutores de desigualdades sócio-econômicos e culturais, embora avalizados socialmente por um slogan progressista e prestigioso como o de “currículo integrado”. Pode-se dizer que os projetos curriculares, nos quais se trabalha com conteúdos culturais mais inter – relacionados ou integrados, têm a finalidade de responder questões como as seguintes: 1 – Que alunos e alunas enfrentem a cada momento conteúdos relevantes. 2 – Que os conteúdos que se encontram nas fronteiras das disciplinas, aqueles que são objeto de atenção em várias áreas do conhecimento e disciplinas, possam realmente ser abordados. 3 – Contribuir para pensar na interdisciplinaridade, para criação de hábitos intelectuais que obriguem a levar em consideração as intervenções humanas de todas as perspectivas e ponto de vista possíveis, é outra das finalidades dos projetos curriculares integrados. 4 – A integração curricular também favorece a visibilidade dos valores, ideologias e interesses presentes em todas as questões sociais e culturais. 5 – Trabalhar com base em projetos curriculares integrados favorece a “colegialidade” nas instituições escolares. 32 6 - Educação baseada na interdisciplinaridade também permite que alunos e alunas possam se adaptar a uma inevitável mobilidade nos futuros empregos. 7 – Esta modalidade de organização do currículo, na medida em que desperta o interesse e a curiosidade dos estudantes, pois o que se estuda, sempre está vinculado a questões reais e práticas estimulam os sujeitos a analisar os problemas nos quais se envolvem e a procurar alguma solução para eles. Consequentemente, é um tipo de educação que incentiva a formação de pessoas criativas e inovadoras. Nesta sociedade da informação em que vivemos as maiores dificuldades não estão relacionadas com a sua obtenção, mas em saber integrá-la e analisá-la criticamente. Visando a uma maior integração curricular, considera-se válida a opção de apresentar o marco para a seleção cultural obrigatória do currículo em uma série de áreas do conhecimento e experiência. Essas áreas do conhecimento e experiência tratam de identificar as principais vias pelas quais os seres humanos conhecem experimentam, constroem e reconstroem a realidade; como organizam e sistematizam suas consecuções mais importantes e necessárias. Tais áreas podem ir se concretizando e diferenciando de forma progressiva ao longo do sistema educacional, conforme as características psicológicas e culturais dos alunos e alunas permitam e possibilitem uma maior especificação e aprofundamento no conhecimento. No desenvolvimento do currículo, na prática cotidiana na instituição escolar, as diferentes áreas do conhecimento e experiência deverão entrelaçar-se complementar- se e reforçar-se mutuamente, para contribuir de modo mais eficaz e significativo com esse trabalho de construção e reconstrução dos conhecimentos e dos conceitos, habilidades, atitudes, valores, hábitos que uma sociedade estabelece democraticamente ao considerá-los necessários para uma vida mais digna, ativa, autônoma, solidária e democrática. Educação das Relações Étnico – Raciais e o Ensino de História e Cultura Afro – Brasileira e Africana. A Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003, e a Lei nº 11.646, de 10 de março de 2008 altera a Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena e dá outras providências. 33 Art. 1º - A Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar acrescida dos seguintes arts. 26-A, 79-A, e 79-B. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e Médio, oficiais e particulares,
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