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FACULDADE SANTA LÚCIA MATERIAL DE APOIO 03 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL I PROFESSOR: Dairson Mendes de Souza CURSO: DIREITO – 1º SEMESTRE - 2019/1 PÁGINA 1 DE 58 A CIÊNCIA DO DIREITO Há dúvidas no tocante se o Direito é ou não uma ciência diante de uma série de pressupostos de difícil avaliação. Como ramo da ciência humana a ciência do direito teve e tem como substrato de pesquisa o homem em todos os aspectos valorativos de sua personalidade. A ciência do direito é uma ciência de investigação das condutas que tem em vista um “dever ser” jurídico, isto é, a Ciência do Direito investiga e estuda as normas jurídicas. Estas prescrevem aos indivíduos certas regras de conduta que devem ser obedecidas. Para justificar as dificuldades encontradas para se chegar a uma decisão segura (decidibilidade), pode ser citado como exemplo o motorista que deve parar no trânsito (dever ser jurídico). Quando o indivíduo pára, a ordem é cumprida. Assim, a norma jurídica é vivenciada como um mundo do “ser” dos fatos. Quando não pára, há violação do comando e portanto, ao mesmo tempo outro tipo de “ser”, um fato sancionado pela norma jurídica. O motorista poderia alegar inúmeros argumentos como, por exemplo, o fato do farol estar quebrado; ter sido instalado naquele dia; a competência da autoridade administrativa que autorizou a instalação. Estas questões fazem com que o cientista do direito encontre inúmeras dificuldades para se chegar a uma conclusão segura. É exatamente por causa destas variáveis que muitos doutrinadores afirmam que o Direito não é uma ciência, mas pode-se dizer, pelo menos do nosso ponto de vista, que o Direito é uma ciência dogmática, isto é, parte-se de uma posição já pacificada pelos estudiosos e, a seguir, aplicam-se as mesmas regras. FACULDADE SANTA LÚCIA MATERIAL DE APOIO 03 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL I PROFESSOR: Dairson Mendes de Souza CURSO: DIREITO – 1º SEMESTRE - 2019/1 PÁGINA 2 DE 58 Pode-se dizer, ainda, que o Direito é uma ciência do direito é uma ciência ética por excelência. A DEFINIÇÃO DO DIREITO Na magistral definição do grande poeta italiano Dante Alighieri, o Direito é a proporção real e pessoal de homem para homem que, conservada, conserva a sociedade e que, destruída, a destrói. No dizer de Goffredo Telles, o Direito é o nome de três realidades distintas, o nome de três diferentes objetos. É um termo que tem três sentidos. Pertence, portanto, à classe de palavras plurívocas. 1º realidade chamada Direito enquanto NORMA (Direito Objetivo) 2º realidade (sentido de permissão concedida pela norma jurídica. Trata-se, pois, da faculdade que o particular tem de processar alguém, eis que tutelado pela norma jurídica) é o Direito Subjetivo. 3º realidade é a qualidade do que é justo (MORAL). Etimologia da palavra Direito: Provém do adjetivo latino directus (directus, directa, directum), que, por sua vez, deriva do particípio passado do verbo dirigere (dirigo, dirigis, direxi, directum, dirigere). Este verbo significa endireitar, tornar reto, alinhar, directus designa a qualidade de ser conforme a linha reta. É o “Directum iter ad laudem” Caminho direito para a glória.” A palavra direito é devida pelo fato de sempre ter simbolizado o caminho do bem, o próprio bem, pela imagem da linha reta. É por esse motivo que a mão mais hábil é a “mão direita”. FACULDADE SANTA LÚCIA MATERIAL DE APOIO 03 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL I PROFESSOR: Dairson Mendes de Souza CURSO: DIREITO – 1º SEMESTRE - 2019/1 PÁGINA 3 DE 58 Em consequência, a palavra direito tem dois sentidos etimológicos, um sentido fundamental, referente ao mundo físico e um sentido analógico, referente ao mundo ético. Etimologicamente define-se o adjetivo direito nos seguintes termos: “qualidade de ser conforme a linha reta ou régua, ou a linha moral ou a regra (norma). As palavras régua e regra têm a mesma origem etimológica. Ambas provém de regula. Como adjetivo, repetimos, a palavra direito designa a qualidade de ser conforme a régua, ou a regra. Tudo que é conforme tem a forma de outro ou a ele se ajusta. É o que é ajustado, é justo. Um vestido ajustado é um vestido justo. Definições do Direito: Direito positivo: (jus in civitate positum) é o conjunto de normas estabelecidas pelo poder político que se impõem e regulam a vida social de um dado povo em determinada época. Direito objetivo: é o complexo de normas jurídicas que regem o comportamento humano, prescrevendo uma sanção no caso de sua violação. Trata-se do conjunto de normas vigentes em determinado Estado. Direito subjetivo, para Goffredo Telles Jr. é a permissão, dada por meio de norma jurídica válida, para fazer ou não fazer alguma coisa, para ter ou não ter algo, ou , ainda, a autorização para exigir, por meio dos órgãos competentes do poder público ou através dos processos legais, em caso de prejuízo causado por violação de norma, o cumprimento de norma infringida ou reparação do mal sofrido. Trata-se da faculdade ou prerrogativa de agir. Direito Natural (na visão do Prof. Ricardo Brancato): Para o Professor Alexandre Correa, o “jus naturalis é uma norma constituída de antemão pela natureza e não criação arbitrária do homem. “Justiniano o considerava um direito estabelecido pela Providência Divina, que é sempre bom e equitativo”. Os FACULDADE SANTA LÚCIA MATERIAL DE APOIO 03 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL I PROFESSOR: Dairson Mendes de Souza CURSO: DIREITO – 1º SEMESTRE - 2019/1 PÁGINA 4 DE 58 escolásticos (Idade Média) também se ocuparam do direito natural, ou seja, das normas morais emanadas de Deus, como Supremo Legislador, e que impedem os homens, à luz da razão, para a prática do Bem. Santo Tomás de Aquino dizia que uma das tendências naturais do homem é a prática do bem e a fuga do mal e que essa prática se conforma e adapta à própria razão humana. Difere do direito positivo, pois este é um direito temporal e espacial, ou seja, o conjunto de regras escritas e costumeiras em vigor num determinado país e em certo período. O direito natural, por seu turno, é um ordenamento supremo, ideal e constante, que determina o direito positivo. Lafayette dizia que o direito natural regula o direito positivo e que é a norma ideal para o qual o direito positivo tende sempre e da qual tanto mais se aproxima quanto mais se aperfeiçoa. A expressão Direito Natural quer dizer um Direito que deve existir independentemente de qualquer regra imposta aos indivíduos pelo constrangimento social organizado. O direito natural, a princípio estabeleceu e vigorou por força exclusiva de suas regras entre os grupos humanos primitivos. Como exemplo do direito natural temos o direito de ser livre, de viver, de constituir família, de reproduzir. Savigny afirma que o direito positivo é o único direito e Kelsen acha que a expressão envolve um pleonasmo. (Teoria Pura do Direito). A IMPORTÂNCIA DO DIREITO O direito exprime um anelo inquieto do coração humano. Ele acompanha a vida. Ele é, em suma, o reflexo do que somos. Somos destinados a viver em sociedade. Para o ser humano, viver é conviver. Aristóteles resume no conhecido aforismo. “O homem só ou é um bruto ou é um Deus.” Para São Tomaz de Aquino “a vida solitária só se tem verificado em três hipóteses: MALA FORTUNA (infortúnio, um naufrágio, por exemplo); CORRUPTIO NATURA (doente mental que não suporta a natureza) ou FACULDADE SANTA LÚCIA MATERIAL DE APOIO 03 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL I PROFESSOR: Dairson Mendes de Souza CURSO: DIREITO – 1º SEMESTRE - 2019/1 PÁGINA 5 DE 58 EXCELLENS NATURA (na de natureza excelente, como na de um ser humano que encontrou nasolidão e na mente o caminho da perfeição e da felicidade). As sagradas Escrituras fazem a eloquente advertência: DESGRAÇADO DO HOMEM SÓ, POIS QUANDO CAIR, NÃO TERÁ QUEM O LEVANTE. “ Eclesiastes IV, 9, 10. O Estado social é o estado de natureza do Homem. Direito é a disciplina da convivência. “A vida em sociedade seria impossível sem uma disciplina. Toda comunidade supõe uma organização que regulamente seu comportamento e dos vários indivíduos que a compõem. O convívio harmônico no corpo social e a própria persistência da sociedade dependem de um mecanismo regulador que estabeleça o que pode e o que não pode ser feito. Sem a limitação do exercício da atividade individual e da satisfação dos interesses particulares de cada um, o conflito seria inevitável e permanente. Daí a necessidade de um corpo de normas, mais ou menos desenvolvidas, expresso de modo mais formal e explícito ou menos formal e implícito, que pauta o comportamento dos indivíduos e do grupo social, exigindo, de modo obrigatório, a obediência de certos ditames.” As normas compõem-se de três elementos: hipótese, mandamento e sanção. Hipótese é a previsão abstrata de um comportamento. Mandamento é o comando estabelecido na norma. Sanção é a consequência desfavorável prevista para quem transgredir o que foi fixado no mandamento. Por exemplo, o artigo 129 do código penal estabelece: Ofender a integridade corporal ou saúde de outrem. Pena – detenção de três meses a um ano. No caso, a hipótese é o ato de ofender a integridade ou a saúde de outrem. O mandamento está implícito: é a proibição de praticar tal ato. A sanção é a pena que o ofensor deverá sofrer. Esse conjunto de disposições que regulam com força coativa a vida social são as normas jurídicas. Desempenham a função de mecanismos de frenagem de comportamentos antissociais, pela prévia delimitação dos interesses que serão objeto de proteção e repressão àqueles que conflitem com os interesses individuais ou FACULDADE SANTA LÚCIA MATERIAL DE APOIO 03 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL I PROFESSOR: Dairson Mendes de Souza CURSO: DIREITO – 1º SEMESTRE - 2019/1 PÁGINA 6 DE 58 sociais protegidos pelas normas. O Direito, portanto, em linhas gerais, é um conjunto de regras que disciplinam a vida social com força obrigatória. “ (pensamento do Prof. Bandeira de Melo). DIREITO E MORAL O direito apresenta algumas semelhanças com a moral, mas com ela não se confunde. Pode-se dizer que ambos são regras de conduta; todavia o Direito pertence à Ciência Dogmática do Direito e a Moral às Ciências Sociais. O Direito está ligado ao campo externo ao passo que a moral está intimamente ligada com a consciência do indivíduo. Para o caso de transgredir regra de Direito, existe a sanção, que é uma punição aplicada pelo Estado; quem transgride regras morais está sujeito ao remorso e ao arrependimento. DIVISÃO DO DIREITO: Direito Público, Direito Privado, Direitos Difusos e Coletivos. Direito Público: são as normas destinadas a disciplinar os interesses gerais da coletividade. Normalmente o Poder Público ou o Estado está num dos polos da relação jurídica. É dividido em direito público interno (direito constitucional, direito tributário, direito processual, direito penal e direito administrativo) e direito público externo (direito internacional público e direito internacional privado). O Direito Constitucional visa a regulamentar a estrutura básica do Estado e suas metas, além de fixar os direitos fundamentais da pessoa humana. O Direito Administrativo é um conjunto de regras destinadas ao funcionamento da administração pública no que concerne às relações entre a Administração e administrados. FACULDADE SANTA LÚCIA MATERIAL DE APOIO 03 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL I PROFESSOR: Dairson Mendes de Souza CURSO: DIREITO – 1º SEMESTRE - 2019/1 PÁGINA 7 DE 58 O Direito Tributário cuida da forma de instituição e arrecadação de tributos e tem por escopo a obtenção de receita para o Estado. O Direito Processual disciplina a atividade do Poder Judiciário e dos que a ele recorrem. O Direito Penal visa à repressão dos delitos. É um conjunto de leis que define os crimes e estabelecem as penas. Direito Privado: conjunto de regras que disciplinam a vida privada no que concerne às pessoas e seus bens, suas obrigações, contratos, vida em família e sucessões. O Código Civil de 2002 também tem um livro referente ao direito de empresa. Direitos difusos e coletivos: a definição é dada pelo artigo 81 do Código de Defesa do Consumidor, in verbis: Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo. Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de: I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato; II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base; III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum. Destacam-se o Direito do Consumidor, Estatuto do Idoso, Estatuto da Criança e do Adolescente e Direito do Trabalho. O direito do consumidor pode ser compreendido como um conjunto de normas destinadas a regular a relação jurídica de consumo existente entre o fornecedor e o consumidor. Outras definições de interesse: FACULDADE SANTA LÚCIA MATERIAL DE APOIO 03 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL I PROFESSOR: Dairson Mendes de Souza CURSO: DIREITO – 1º SEMESTRE - 2019/1 PÁGINA 8 DE 58 • Ética: ramo da filosofia que estuda os assuntos morais. Diferencia-se da moral, pois, enquanto esta se fundamenta na obediência a normas, tabus, costumes ou mandamentos culturais, hierárquicos ou religiosos recebidos, a ética, ao contrário, busca fundamentar o bom modo de viver pelo pensamento humano. • Cidadania (do latim, civitas, "cidade") é o conjunto de direitos e deveres ao qual um indivíduo está sujeito em relação à sociedade em que vive. É cidadão quem tem título de eleitor e pode votar e ser votado. • Direito social: aqueles relacionados ao piso vital mínimo de que toda pessoa necessita para sobreviver. É implementado a longo prazo pelo Estado. Ex: Previdência Social. O artigo 6º da Constituição Federal, sobre os direitos sociais, dispõe: Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 64, de 2010) Fontes do Direito: origem do Direito Lei Tratados Internacionais Jurisprudência Costume: “o costume jurídico é norma jurídica obrigatória, imposta ao setor da realidade que regula, passível de imposição pela autoridade pública e em especial pelo Poder Judiciário. É uma norrma “não escrita”, que surge da prática longa, diuturna e reiterada da sociedade.” Rizzatto Nunes. Manual de Introdução ao estudo do direito.”. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2000. Doutrina Princípios gerais do Direito http://pt.wikipedia.org/wiki/Moralidade http://pt.wikipedia.org/wiki/Pensamento http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc64.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc64.htm#art1 FACULDADE SANTA LÚCIA MATERIAL DE APOIO 03 DISCIPLINA: DIREITO CIVILI PROFESSOR: Dairson Mendes de Souza CURSO: DIREITO – 1º SEMESTRE - 2019/1 PÁGINA 9 DE 58 Analogia Equidade Considerações históricas sobre o Direito Romano Direito romano é o complexo de normas jurídicas que vigorou em Roma e nos países dominados pelos romanos há 2000 anos aproximadamente. É o conjunto de princípios que regeram a sociedade romana em diversas épocas de sua existência, desde sua origem até a morte de Justiniano. Importância histórica: os romanos tiveram aptidão especial para o direito. O direito atual é baseado nas compilações do direito romano. Pode-se dizer que o direito romano é o fundamento básico da civilização moderna. Segundo Ihering, Roma representa o triunfo da universalidade sobre o princípio da nacionalidade. Fases do Direito Romano: a) Período régio: 754 a.c. até 510 a.c – fundação de Roma até expulsão dos reis. b) Período da República: de 510 a.c até a instauração do Principado com Otaviano Augusto, em 27 a.c. c) Período do Principado: de Augusto até o Imperador Diocleciano, ou seja, 27 a.c. a 284 d.c. d) Período da Monarquia absoluta – de Diocleciano até a morte de Justiniano, em 565 d.c Período régio: Fase legendária dos sete reis. Roma, a princípio, foi um aglomerado modesto de trabalhadores do campo, reunidos no Lácio, distante alguns quilômetros da embocadura do Rio Tibre. O regime familiar era patriarcal, sob a chefia do pater familias. Este era o proprietário do fruto do trabalho da família, o senhor dos escravos, de sua mulher e filhos. Podia vendê-los como fazia com os produtos agrícolas. Era o juiz em matéria penal. Podia impor penas de morte a sua mulher, filhos e escravos. Possuía poder absoluto no seu âmbito de ação. A noção de família romana é mais ampla que a atual. O rei era o magistrado único, vitalício e irresponsável no sentido técnico. Era assistido por um conselho de anciãos, os quais primitivamente eram chefes de várias FACULDADE SANTA LÚCIA MATERIAL DE APOIO 03 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL I PROFESSOR: Dairson Mendes de Souza CURSO: DIREITO – 1º SEMESTRE - 2019/1 PÁGINA 10 DE 58 tribos. Todavia, tendo em vista o poder do pater famílias, pouca função judicial restava ao rei. O pater familias era encarregado do culto familiar dos antepassados. Em determinado momento cessa o absolutismo e surgem os comícios das assembléias do povo masculino. Nos comícios não eram votadas leis abstratas, mas casos concretos. Período da República: O Senado adquiriu importância política. Os cônsules ganharam o direito de comandar o exército, distribuir justiça civil e criminal, convocar comícios e nomear senadores. Para os plebeus foi criado o Tribuni plebis. Por iniciativa da plebe houve a codificação do Direito até então costumeiro. Surge o direito escrito (Lei das doze tábuas). Embora a Lei das XII tábuas contenha regras rudes, traz disposições sobre direito civil e penal. A família da Lei das XII tábuas ainda é tradicional e patriarcal. Período do Principado: Período do maior poderio de Roma. Fundado por Augusto, ocupa um período de mais de 300 anos. O Senado divide com o Imperador o Poder Judiciário. Em 212 a.c. Caracala estende a cidadania romana a todos os homens livres. Dessa época há as Institutas de Gaio, traduzidas para o português em 1953, por Alexandre Correia. Período da Monarquia absoluta: Vai de Diocleciano (284 a.c.) até a morte de Justiniano (565 d.c.) O centro de interesses do Império desloca-se para Constantinopla (hoje Istambul). Surge o Império Romano do Oriente e o Império Romano do Ocidente. O imperador detém todos os poderes. Não há grandes juristas no período. Codificação de Justiniano: Corpus Juris Civilis Código: a missão dos compilares levou dois anos. Em 7 de abril de 529, o imperador publica o Código e diz que entraria em vigor em 16 de abril do mesmo ano. O Código é uma reunião de todas as Constituições Imperiais editadas desde o governo do Imperador Adriano (117 até 138). Digesto ou pandectas: é obra mais completa que o Código. Trata-se da compilação dos textos dos jurisconsultos clássicos. Demorou três anos para ficar pronto. Analisaram mais de 1.500 livros. FACULDADE SANTA LÚCIA MATERIAL DE APOIO 03 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL I PROFESSOR: Dairson Mendes de Souza CURSO: DIREITO – 1º SEMESTRE - 2019/1 PÁGINA 11 DE 58 Institutas: obra de professores. São expostas noções gerais, definições e classificações. Foi publicada em 21 de novembro de 533 e entrou em vigor como manual de estudo no mesmo dia do Digesto. Cuida das pessoas, coisas e ações. Novelas: Constituições importantes entre 535 e 565. Contém reformas fundamentais, como no direito hereditário e no direito matrimonial. Bibliografia utilizada: VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: parte geral. 12. ed. São Paulo: Atlas. P. 29- 57. Sistemas jurídicos Cada país tem seu próprio ordenamento jurídico. Os ordenamentos jurídicos podem ser agrupados em sistemas jurídicos. Sistemas jurídicos podem ser definidos como um agrupamento de ordenamentos unidos por um conjunto de elementos comuns, tanto pelo regulamento da vida em sociedade, como pela existência de instituições jurídicas e administrativas semelhantes. É importante ressaltar que existe certa continuidade no Direito, independentemente ou não da revogação de uma lei ou do surgimento de um outro entendimento sobre o assunto, o que dá relevo aos sistemas jurídicos. O profissional do direito formado em um país está preparado para trabalhar com instituições jurídicas de um outro país cuja cultura seja muito diferente da sua? Se a resposta for negativa, é porque o jurista se defronta com um instituto de outro sistema jurídico. Por que estudar os fundamentos dos vários sistemas jurídicos? Porque ainda não vivemos num mundo globalizado juridicamente falando, ou seja, não existe um ordenamento jurídico único mundial, daí porque precisamos conhecer outros sistemas, em razão das inúmeras diferenças de tratamento dado às relações sociais e econômicas. Exemplo: sistema financeiro internacional. Você acredita que campos como a internet, por exemplo, demandaria uma legislação supranacional? FACULDADE SANTA LÚCIA MATERIAL DE APOIO 03 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL I PROFESSOR: Dairson Mendes de Souza CURSO: DIREITO – 1º SEMESTRE - 2019/1 PÁGINA 12 DE 58 Sistema romano-germânico: sistema a qual pertence o direito brasileiro, bem como o direito daqueles países que tomaram por base o direito germânico. Normas preocupadas com a justiça e com a moral. As obras de doutrina preocupam-se em ser dogmáticas e interpretar os textos legislativos. A jurisprudência e a prática do direito ficam a um plano secundário. As aulas são conferenciais. O direito civil é a base de todo o sistema jurídico, influindo até mesmo nos princípios do Direito Público. Common Law. É o direito da Inglaterra e dos países que o copiaram, principalmente os de língua inglesa. Foi elaborado a partir do direito costumeiro e hoje é baseado em decisões judiciais. Os Estados Unidos e o Canadá hoje se distanciam bastante do direito inglês. Inglaterra: o estudo do direito deve ser feito sob uma perspectiva histórica. É engano dizer que o direito inglês é costumeiro, porque hoje é um direito baseado nos precedentes judiciais. Common Law significa ser um direito comum a toda Inglaterra. Não existe propriamente a divisão do direito em público e privado, nem mesmo a divisão no direito privado entre direito comercial ou de empresa e direito civil. No sistema de common Law, o direito depende menos dos professores de Direito e mais dos juízes. Estados Unidos da América: Nos Estados Unidos existe um federalismo. Há um direito federal e um direito dos estados. A instituiçãodo Júri é muito mais viva do que na Inglaterra. O júri existe inclusive para questões de direito civil. O advogado, para exercer a prática em determinado estado, deve ser aprovado pelos Tribunais. O estudo do direito é pelo case method, ou seja, estudo de casos práticos, divergindo de nosso sistema. O professor fica com a missão de questionar os pontos controvertidos. Embora os Estados Unidos seja um país de common Law, existem existem que adotam o código civil. FACULDADE SANTA LÚCIA MATERIAL DE APOIO 03 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL I PROFESSOR: Dairson Mendes de Souza CURSO: DIREITO – 1º SEMESTRE - 2019/1 PÁGINA 13 DE 58 Relações entre o sistema romano-germânico e o common Law: Conforme elucida Sílvio de Salvo Venosa (Direito Civil: parte geral), “o sistema de common Law conserva sua sistemática bastante diversa de nosso sistema, mas há a tendência para avicinar os métodos de conceber cada vez mais a norma como fonte de Direito nos países de sistema inglês, com conteúdo do sistema romano, oferecendo soluções muito semelhantes. Essa tendência fica ainda mais clara quando falamos dos direitos chamados mistos, isto é, aqueles que usam elementos de um e de outro sistema, como Israel, Escócia e Província do Quebec, no Canadá. Direitos socialistas: Esse sistema ruiu juntamente com a queda da União Soviética e muro de Berlim. O sistema socialista iniciou-se em 1917 com a revolução comunista e espalhou-se pelos países que a União Soviética passou a ter influência política e econômica. A propriedade privada era restrita, o direito era praticamente somente público. O sistema socialista entendia que o direito era uma forma de opressão. Para eles, as lutas e a miséria cessariam quando se pusesse em prática uma solução adequada, correspondente ao modelo marxista. Impossível compreender o direito socialista sem conhecer os fundamentos e a teoria marxista. Era um direito revolucionário sob todos os pontos de vista O essencial da doutrina marxista está na convicção de que o antagonismo entre as classes é a causa de todos os males da sociedade. Sistemas filosóficos: Direito muçulmano: refere-se aos estados ligados pela religião Maometana. A concepção islâmica é de uma sociedade teocrática, em que o Estado apenas se justifica para servir a religião. Direito hindu: é o direito de todos os países do sudeste asiático. Direito chinês: dá ênfase à conciliação antes de um processo judicial. Para conhecê- lo, a doutrina de Confúcio é um bom começo. VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: parte geral. São Paulo: Atlas, 2010. v. 1 FACULDADE SANTA LÚCIA MATERIAL DE APOIO 03 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL I PROFESSOR: Dairson Mendes de Souza CURSO: DIREITO – 1º SEMESTRE - 2019/1 PÁGINA 14 DE 58 Sugestões de leitura: DAVID, René. Os grandes sistemas do direito contemporâneo. São Paulo, Martins Fontes, 1998. FIGES, Orlando. Sussurros: a vida privada na Rússia de Stalin. Rio de Janeiro: Record, 2010. ROBINSON, Francis. O mundo islâmico: o esplendor de uma fé. Barcelona: Folio, 2007. Conceito de Direito Civil: “Direito civil é o direito comum, o que rege as relações entre os particulares. Disciplina a vida das pessoas desde a concepção – e mesmo antes dela, quando permite que se contemple a prole eventual (CC, art. 1799,I) e confere relevância ao embrião excedentário (CC, 1597, IV) até a morte, e ainda depois dela, reconhecendo-se a eficácia pós mortem do testamento (CC, art. 1857) e exigindo respeito à memória dos mortos (CC, art. 12, parágrafo único)” Noções sobre o Direito Civil No período colonial vigoravam no Brasil as Ordenações Filipinas. Com a Independência, a legislação portuguesa continuou em vigência no Brasil. Somente teríamos uma legislação civilista pátria com a elaboração de um Código. A Constituição de 1824 referia-se a elaboração de um Código Civil “baseado na justiça e na equidade”. Várias tentativas de elaboração do Código Civil foram feitas. Após a proclamação da República, Clóvis Beviláqua elaborou o projeto do Código Civil. O Presidente da República encaminhou o projeto ao Congresso Nacional, em 1900. O Código foi aprovado em 1916 e entrou em vigência em 1º de janeiro de 1917. Com o desenvolvimento das relações sociais, surgiram outros microssistemas jurídicos. Ex: Lei do Divórcio (Lei 6.515/77); Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90); Lei dos Registros Públicos (Lei 6.015/73), Código de Defesa da Consumidor (Lei 8.078/90) e Lei do Inquilinato (Lei 8.245/91). FACULDADE SANTA LÚCIA MATERIAL DE APOIO 03 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL I PROFESSOR: Dairson Mendes de Souza CURSO: DIREITO – 1º SEMESTRE - 2019/1 PÁGINA 15 DE 58 Fenômeno da Constitucionalização do Direito Civil: alguns importantes institutos de Direito Civil ganharam status de natureza constitucional. Ex: contratos, propriedade e família. Argumentos favoráveis à codificação: • São importantes instrumentos de unificação do direito; • Constituem a estrutura fundamental do ordenamento jurídico de um país e, portanto, meio eficiente de unificação dos usos e costumes da população. • Organiza e sistematiza cientificamente o direito, possibilitando maior estabilidade das relações jurídicas. Argumentos contrários à codificação: • Fossiliza o direito; • Ideia de um código, com uma legislação estática, estaria ultrapassada; • Facilita a pretensão dos medíocres. Vale lembrar que o Código de Napoleão, de 1804, continua em vigência regulando a vida de um povo altamente civilizado: o francês. O Código Civil de 1916. Continha 1.807 artigos e era antecedido pela Lei de Introdução ao Código Civil. Refletia a sua época, com as concepções predominantes em fins do século XIX e no início do século XX, baseados no individualismo então preponderante. Todavia, a evolução social, o progresso cultural e o desenvolvimento científico trouxeram a necessidade de transformações no direito, com a elaboração de leis especiais. O direito de família sofreu profunda transformação. O surgimento de novas leis fez com que vários artigos do Código Civil de 1916 fossem revogados. Lei do Divórcio (Lei 6.515/77); Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90); Lei dos Registros Públicos (Lei 6.015/73), Código de Defesa da Consumidor (Lei 8.078/90) e Lei do Inquilinato (Lei 8.245/91); Código de Águas, Código de Minas. FACULDADE SANTA LÚCIA MATERIAL DE APOIO 03 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL I PROFESSOR: Dairson Mendes de Souza CURSO: DIREITO – 1º SEMESTRE - 2019/1 PÁGINA 16 DE 58 A Constituição de 1988 trouxe inovações no direito de família, especialmente no que diz respeito à filiação, direito das coisas (reconhecimento da função social da propriedade) , restringindo a liberdade de contratar em prol do interesse público. O Código Civil de 2002. Em 1967, foi nomeado uma Comissão de juristas, sob a supervisão de Miguel Reale, para elaboração de uma anteprojeto, apresentado em 1972. Foi encaminhado ao Congresso Nacional e transformou-se no Projeto de Lei 634/75. A demora na tramitação fez com que fosse atropelado por várias leis especiais e pela própria Constituição Federal. Conteúdo: Parte Geral Livro I Das Pessoas - 0001 a 0078 Livro II Dos Bens - 0079 a 0103 Livro III Dos Fatos Jurídicos - 0104 a 0232 Parte Especial Livro I Do Direito das Obrigações - 0233 a 0965 Livro II Do Direito de Empresa - 0966 a 1195 Livro III Do Direito das Coisas - 1196 a 1510 Livro IV Do Direito de Família - 1511 a 1783 Livro V Do Direito das Sucessões - 1784 a 2027 Livro Complementar Das Disposições Finais e Transitórias - 2028 a 2046 http://www.dji.com.br/codigos/2002_lei_010406_cc/010406_2002_cc__0001_0078.htm http://www.dji.com.br/codigos/2002_lei_010406_cc/010406_2002_cc__0079_0103.htmhttp://www.dji.com.br/codigos/2002_lei_010406_cc/010406_2002_cc__0104_0232.htm http://www.dji.com.br/codigos/2002_lei_010406_cc/010406_2002_cc___0233_0965.htm http://www.dji.com.br/codigos/2002_lei_010406_cc/010406_2002_cc___0966_1195.htm http://www.dji.com.br/codigos/2002_lei_010406_cc/010406_2002_cc___1196_1510.htm http://www.dji.com.br/codigos/2002_lei_010406_cc/010406_2002_cc___1511_1783.htm http://www.dji.com.br/codigos/2002_lei_010406_cc/010406_2002_cc___1784_2027.htm http://www.dji.com.br/codigos/2002_lei_010406_cc/010406_2002_cc___2028_2046.htm FACULDADE SANTA LÚCIA MATERIAL DE APOIO 03 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL I PROFESSOR: Dairson Mendes de Souza CURSO: DIREITO – 1º SEMESTRE - 2019/1 PÁGINA 17 DE 58 Princípios básicos: socialidade, eticidade e operabilidade. Sociabilidade: prevalência dos valores coletivos sobre os individuais, sem perda do valor fundamental da pessoa humana. Há uma revisão dos cinco principais personagens do direito privado tradicional: o proprietário, o contratante, o empresário, o pai de família e o testador. Eticidade: valor do ser humano como fonte de todos os demais valores. Ex: princípio do equilíbrio econômico do contrato como base de ética de todo o direito obrigacional. Operabilidade: o novo Código Civil evitou deixar muitas dúvidas, afastando as perplexidades e complexidades. Ex: diferenciação clara de prescrição e decadência. Direito Civil Constitucional: fenômeno ocorrido como advento da Constituição Federal de 1988. Bibliografia: GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. 10. Ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 32-47. Comentários à Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro (Decreto-Lei nº 4657, de 04 de setembro de 1942). Art. 1o Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada. § 1o Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada.(Vide Lei nº 2.410, de 1955) (Vide Decreto-Lei nº 333, de 1967) (Vide Lei 2.145, de 1953) § 2o (Revogado pela Lei nº 12.036, de 2009). § 3o Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova publicação. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L2410.htm#art5 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/1965-1988/Del0333.htm#art5 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L2145.htm#art16 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12036.htm#art4 FACULDADE SANTA LÚCIA MATERIAL DE APOIO 03 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL I PROFESSOR: Dairson Mendes de Souza CURSO: DIREITO – 1º SEMESTRE - 2019/1 PÁGINA 18 DE 58 § 4o As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova. Lei como fonte jurídica formal: a lei é a principal fonte do direito. Na maioria dos Estados a formulação do direito é obra exclusiva do legislador. A legislação é o processo pelo qual um ou vários órgãos estatais formulam e promulgam normas jurídicas de observância geral. Nos países anglo-saxões prevalecem o costumes. Supremacia da lei: existe uma tendência cada vez maior em codificar o direito. A fonte formal pode ser entendida como um processo ou meio pelo qual a norma jurídica se positiva com força obrigatória, com exigência e eficácia. Ex: processo legislativo, atividade jurisdicional, prática consuetudinária, poder negocial (contrato). Sentidos: • Amplíssima: sinônimo de norma jurídica (escritas ou costumeiras). Toda norma geral de conduta. • Ampla: legere (ler). Aquilo que se lê. Leis gravadas em tábuas na época dos romanos. • Estrita ou técnica: norma elaborada pelo Poder Legislativo, por meio do processo adequado. Processo legislativo: está previsto no artigo 59 da Constituição Federal, que dispõe, in verbis: Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de: I - emendas à Constituição; II - leis complementares; III - leis ordinárias; IV - leis delegadas; V - medidas provisórias; VI - decretos legislativos; VII - resoluções. FACULDADE SANTA LÚCIA MATERIAL DE APOIO 03 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL I PROFESSOR: Dairson Mendes de Souza CURSO: DIREITO – 1º SEMESTRE - 2019/1 PÁGINA 19 DE 58 Parágrafo único. Lei complementar disporá sobre a elaboração, redação, alteração e consolidação das leis. O processo legislativo pode ser definido como um conjunto de fases constitucionalmente estabelecidas pelos quais há de passar o projeto de lei, até a sua transformação em lei vigente. Incluem: iniciativa, discussão, deliberação, sanção, promulgação e publicação. Sanção ou veto (art. 66 da Constituição Federal), por inconstitucionalidade ou inconveniência. “Art. 66. A Casa na qual tenha sido concluída a votação enviará o projeto de lei ao Presidente da República, que, aquiescendo, o sancionará. § 1º - Se o Presidente da República considerar o projeto, no todo ou em parte, inconstitucional ou contrário ao interesse público, vetá-lo-á total ou parcialmente, no prazo de quinze dias úteis, contados da data do recebimento, e comunicará, dentro de quarenta e oito horas, ao Presidente do Senado Federal os motivos do veto. § 2º - O veto parcial somente abrangerá texto integral de artigo, de parágrafo, de inciso ou de alínea. § 3º - Decorrido o prazo de quinze dias, o silêncio do Presidente da República importará sanção. § 4º - O veto será apreciado em sessão conjunta, dentro de trinta dias a contar de seu recebimento, só podendo ser rejeitado pelo voto da maioria absoluta dos Deputados e Senadores, em escrutínio secreto. § 5º - Se o veto não for mantido, será o projeto enviado, para promulgação, ao Presidente da República. § 6º Esgotado sem deliberação o prazo estabelecido no § 4º, o veto será colocado na ordem do dia da sessão imediata, sobrestadas as demais proposições, até sua votação final. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001) § 7º - Se a lei não for promulgada dentro de quarenta e oito horas pelo Presidente da República, nos casos dos § 3º e § 5º, o Presidente do Senado a promulgará, e, se este não o fizer em igual prazo, caberá ao Vice-Presidente do Senado fazê-lo.” http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc32.htm#art66§6 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc32.htm#art66§6 FACULDADE SANTA LÚCIA MATERIAL DE APOIO 03 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL I PROFESSOR: Dairson Mendes de Souza CURSO: DIREITO – 1º SEMESTRE - 2019/1 PÁGINA 20 DE 58 A sanção pode ser expressa ou tácita, quando se omite, deixando que se esgote o prazo de 15 dias sem decisão (art. 66, § 2º CF). Promulgação: ato pelo qual o executivo autentica a lei autentica a lei, atestando sua existência, ordenando sua aplicação e cumprimento. Executoriedade e efeito da promulgação: impõe um dever, regulando a conduta social. A norma jurídica traça objetivamente a fronteira entre o lícito e o ilícito. Goffredo Telles Junior diz que a lei é um imperativo autorizante. Validade constitucional: disposição normativa é conforme as prescrições constitucionais. Validade formal: a lei deve ser elaborada por órgão competente em obediência aos procedimentos legais. Validade formal e eficácia: o simples fato da norma ter validade formal não significa que tenha eficácia. Ex: a facilitação da conversão da união estável em casamento está prevista na Constituição Federal, mas o Código Civil ainda não regula a matéria. Para que uma lei tenha vigência é necessário: • elaboração por órgão competente; • competência ratione materiae do órgão: a matéria objeto da norma deve estar contida na competência do órgão.• due process of law. • vigência temporal: qualidade atinente ao tempo de sua atuação, podendo ser invocada para produzir efeitos. Vacatio legis: lapso temporal existente entre a data de publicação da lei e a de sua entrada em vigor. Tal fenômeno ocorre quando a lei não entra em vigor na data da sua publicação. _______________________________________________________ FACULDADE SANTA LÚCIA MATERIAL DE APOIO 03 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL I PROFESSOR: Dairson Mendes de Souza CURSO: DIREITO – 1º SEMESTRE - 2019/1 PÁGINA 21 DE 58 Art. 2o Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue. (Vide Lei nº 3.991, de 1961) § 1o A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior. § 2o A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior. § 3o Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência. Hipóteses de cessação de vigência normativa: 1ª causa de cessação: para as leis de vigência temporária decurso de prazo; consecução do fim a que se propõe. Ex: suspensão de um concurso público. Cessação do estado de coisas não permanentes (estado de sítio, calamidade); 2ª causa de cessação: para as leis de vigência permanente. A lei tem vigência até que seja revogada por outra lei com que ela conflite. A lei velha perde sua eficácia pela ab-rogação e por derrogação. Ab-rogação ou ad-rogação é a revogação total da lei velha pela lei nova. Derrogação é a revogação parcial da lei velha pela lei nova. Isto significa que a lei nova, ao tratar do mesmo assunto de uma lei velha, pode acarretar as seguintes consequências: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1950-1969/L3991.htm FACULDADE SANTA LÚCIA MATERIAL DE APOIO 03 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL I PROFESSOR: Dairson Mendes de Souza CURSO: DIREITO – 1º SEMESTRE - 2019/1 PÁGINA 22 DE 58 Regulação total (lei velha é revogada); regulação parcial (subsiste na lei velha aquilo que não for contrário à lei nova) e sub-rogação (modificação, em acréscimo, da lei anterior. Não se permite a revogação da lei: • pelo simples desuso; • costume; • jurisprudência; • lei posterior de hierarquia inferior. Repristinação: nova vigência da lei revogada pela lei revogadora, decorrente da revogação desta última por uma terceira lei. A repristinação tácita é vedada no ordenamento jurídico brasileiro. Antinomia de normas: é o que ocorre quando existe incompatibilidade entre o conteúdo de duas leis, devendo-se estabelecer um critério para verificar quais das duas prevalece. Os principais critérios de resolução de antinomias são: hierárquico, cronológico e da especialidade. Questões. 1- Se a lei entrar em vigência no Brasil depois de 90 dias de sua publicação, quando entrará em vigência no exterior? 2- Imagine que uma lei nova possibilita ao proprietário de um imóvel proceder à edificação de uma edícula cujas dimensões estão nela descritas, sem a necessidade de alvará municipal, porém ela ainda não entrou em vigor. O proprietário poderá, desde a publicação, iniciar a construção? 3- Uma lei foi publicada pela imprensa oficial em 02/08/17, republicada em 03/01/18 e novamente em 19/02/18. Seu texto não dizia quando ela entraria em vigor. Quando entrará em vigor então? 4- Lei municipal publicada em 08 de março de 2017, com disposição expressa de que entraria em vigor no mesmo dia da sua publicação, viola frontalmente lei federal. Qual das duas prevalece? 5- Lei estadual, publicada em 2018, trata de determinado assunto contrariamente ao que ao que a Constituição Federal prescreve. Referida lei tem validade? Como ela pode a vir a ser declarada pelo Poder Judiciário? FACULDADE SANTA LÚCIA MATERIAL DE APOIO 03 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL I PROFESSOR: Dairson Mendes de Souza CURSO: DIREITO – 1º SEMESTRE - 2019/1 PÁGINA 23 DE 58 6- Lei nova trata do mesmo assunto que a lei velha. Em suas disposições finais constou: “revogam-se as disposições em contrário”. Essa frase precisaria constar do texto de lei? Por que? ________________________________________________________ Artigo 3º da LINDB Art. 3o Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece. O conhecimento da lei decorre da publicação. A promulgação constituirá o marco de seu existir a publicação fixará o momento em que se reputará conhecida. Não é possível notificar individualmente cada destinatário. Trata-se do princípio da inescusabilidade da ignorância da lei. Erro de direito: nada impede que um ato jurídico praticado sob o império de erro de direito oriundo de ignorância de prescrições legais se cancelem as consequências prejudiciais que este erro pode produzir. ____________________________________________________________ Artigo 4º da LINDB Art. 4o Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. Para o juiz aplicar corretamente uma lei ao caso concreto, deve existir o fenômeno da subsunção. Nem sempre isto é possível, dada a eventual inexistência de norma a ser aplicada ao caso concreto. Se isto ocorrer, o juiz deverá, primeiramente, aplicar a analogia; se não for possível, os costumes e, se não houver costumes aplicáveis à hipótese, os princípios gerais de direito. Espécies de lacunas: Normativa: ausência de norma sobre determinado caso. Ontológica: existe norma, mas ela não corresponde aos fatos sociais. Axiológica: ausência de norma justa. FACULDADE SANTA LÚCIA MATERIAL DE APOIO 03 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL I PROFESSOR: Dairson Mendes de Souza CURSO: DIREITO – 1º SEMESTRE - 2019/1 PÁGINA 24 DE 58 Lacuna como problema da jurisdição: o juiz não substitui o legislador, pois não cria regras gerais, mas individuais. A existência de lacuna não torna um comportamento obrigatório ou permitido, mas juridicamente indecidível, cabendo ao órgão judicante fazê-lo. Atentar-se para o que dispõe o artigo 335 do Código de Processo Civil: Art. 335. Em falta de normas jurídicas particulares, o juiz aplicará as regras de experiência comum subministradas pela observação do que ordinariamente acontece e ainda as regras da experiência técnica, ressalvado, quanto a esta, o exame pericial. Meios supletivos das lacunas: Analogia: aplicar, a um caso não contemplado de modo direto ou específico por uma norma jurídica, uma norma prevista para uma hipótese distinta, mas semelhante ao caso não contemplado. Envolve duas etapas: constatação de uma semelhança e juízo de valor que mostra a relevância das semelhanças sobre as diferenças. A analogia é tão somente um processo revelador de normas implícitas. Seu fundamento é a igualdade jurídica. É importante que haja semelhança e a mesma razão. Requisitos: • que o caso não esteja previsto na norma jurídica; • que o caso contemplado guarde semelhança com o previsto na norma; • elemento de identidade seja fundamental. Exemplo: Decreto 2682, de 07 de junho de 1912 regula a responsabilidade das companhias de estrada de ferro por danos causados a passageiros e a bagagens. Passou a ser aplicado a todas as espécies de transportes terrestres. Costumes: uso e a convicção jurídica. É a norma jurídica que deriva de uma longa prática uniforme. Ex: Chapada de Araripe no Ceará: cada lote de terra tem dois ou três dias do mês para o uso de água, sendo que as terras se transmitem com esse FACULDADE SANTA LÚCIA MATERIAL DE APOIO 03 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL I PROFESSOR: Dairson Mendes de Souza CURSO: DIREITO– 1º SEMESTRE - 2019/1 PÁGINA 25 DE 58 Condições: continuidade, diuturnidade, moralidade e obrigatoriedade. Costumes podem ser classificados em : Secundum legem – previstos na lei. Praeter legem – quando se reveste de caráter supletivo (art. 4º da LINDB). Contra legem – contrário a lei. Precedente do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo que julgou uma ação sobre o Mercado de Barretos onde os negócios são estabelecidos verbalmente, afastando-se a necessidade de documento. Princípios Gerais de Direito: normas do direito natural, isto é, valor genérico, que orientam a compreensão do sistema jurídico. Art. 5o Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum. Na interpretação da lei surge um problema: qual o critério para interpretação autêntica? Ao interpretar uma norma deve-se buscar a vontade da lei ou do legislador? Qual a interpretação e o sentido que podem por um fim prático à cadeia das múltiplas possibilidades interpretativas? Quais técnicas deveriam ser utilizadas? Gramatical, lógica, sistemática, histórico-evolutiva, teleológica? O juiz, para cumprir a sua função, baseado no artigo 5º da LINDB, fornecerá vários caminhos possíveis para uma decisão, que ao aplicar a norma ao caso concreto, atenda à sua finalidade social e ao bem comum. Para tanto, fará uma consideração dinâmica, construindo, cientificamente, além do subsistema normativo, o fático e o valorativo. Parêmia latina: in claris cessat intrepretatio. Será verdade? Quando surge a necessidade de interpretar a lei: “A necessidade de interpretar uma lei pode nascer: 1. defeitos em sua redação, resultando daí obscuridade e equivoco em seu sentido; 2. da concisão habitual e inevitável com que são escritas todas as leis, FACULDADE SANTA LÚCIA MATERIAL DE APOIO 03 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL I PROFESSOR: Dairson Mendes de Souza CURSO: DIREITO – 1º SEMESTRE - 2019/1 PÁGINA 26 DE 58 nascendo daí dúvidas não em seu sentido direto, mas em sua conformidade ou não-conformidade com os diversos casos ocorrentes, cumprindo, então, salvar incoerências e contradições virtuais de seus espíritos com as palavras; 3. de silencio” BAPTISTA, Francisco de Paula. Compêndio de Hermenêutica Jurídica. São Paulo, SP: Saraiva, 1984, p. 27-28. É certo que a obscuridade dificulta o entendimento, pois: a) a norma contém palavras fora do seu significado; b) a lei apresenta imprecisões; c) a norma contém fórmula falha, por lhe faltar palavras que complementem o sentido legal. Grande é a utilidade prática do artigo 5º da LINDB, pois a técnica da decisão requer uma solução justa ao caso singular sub judice, sem conflitar com o direito positivo, com o meio social. Técnicas interpretativas: • Técnica gramatical: sentido literal do texto normativo. As palavras podem ter significado comum e técnico. Deve-se dar preferência ao técnico. • Antinomia entre o gramatical e o lógico, este prevalece. O significado da palavra deve estar em consonância com a lei. O termo deve ser analisado comparando-o com os demais. • Processo lógico: raciocínios lógicos, analisando os períodos da lei, combinando-os entre si. • Lei posterior revoga lei anterior; princípio da especialidade (lei especial revoga lei geral; irretroatividade (lei posterior não pode atingir direito adquirido, ato jurídico perfeito e a coisa julgada). • Processo sistemático: considera o sistema em que se insere a norma. Nunca se deve ler o segundo parágrafo antes de ler o primeiro. FACULDADE SANTA LÚCIA MATERIAL DE APOIO 03 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL I PROFESSOR: Dairson Mendes de Souza CURSO: DIREITO – 1º SEMESTRE - 2019/1 PÁGINA 27 DE 58 • Técnica interpretativa-histórica: antecedentes da norma (processo legislativo, desde o projeto de lei, justificativa, exposição de motivos, emendas, aprovação e promulgação, além das circunstâncias fáticas que precederam a norma. • Processo sociológico ou o teleológico: procura a finalidade do preceito normativo. A presença de certos princípios para uma série indefinidas de casos, como a de boa-fé, exigência de justiça, respeito aos direitos de personalidade, igualdade perante a lei. A interpretação legal é essencialmente teleológica, pois deve buscar a finalidade social e valorativa da norma, ou seja, o resultado que se pretende alcançar na sua atuação prática. Pelo artigo 5º deve haver: • repulsa à exclusiva interpretação literal da lei ou a sua aplicação mecânica; • repúdio à busca da vontade do legislador que deve ser substituída pela intentio legis; • afastamento da ideia de in claris cessat interpretatio; • predomínio do caráter valorativo, político-social de interpretação. Fim social: não há lei que não contenha uma finalidade social imediata. A ordem jurídica é um conjunto de normas para tornar possível a sociabilidade humana. O aplicador deverá ter por escopo a felicidade da sociedade política. O intérprete aplicado poderá concluir que um caso que se enquadra na lei não deverá ser por ela regido, porque não está dentro de sua razão, não atendendo a sua finalidade social; poderá também aplicar a norma a hipóteses fáticas não contempladas pela letra da lei. O comando legal não poderá ser interpretado fora do meio social presente; imprescindível será adaptá-lo às necessidades sociais existentes no momento de sua aplicação. Bem comum: devem possuir os elementos de liberdade, paz, justiça, segurança, utilidade social, solidariedade ou cooperação. FACULDADE SANTA LÚCIA MATERIAL DE APOIO 03 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL I PROFESSOR: Dairson Mendes de Souza CURSO: DIREITO – 1º SEMESTRE - 2019/1 PÁGINA 28 DE 58 Direito fundamental da sociedade exige que certos requisitos condicionantes de uma vida digna para os cidadãos, significando a prevalência dos valores da pessoa humana sobre os interesses particulares dos indivíduos. O bem comum está longe de ser a soma bruta dos interesses individuais, como queira o individualismo, mas é a coordenação do bem dos indivíduos segundo um princípio ético. DINIZ, Maria Helena. Lei de introdução às normas do direito brasileiro interpretada. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. A eficácia das leis no tempo. A lei tem seu tempo de vigência. A partir da revogação, a lei é substituída por outra, que a partir dali produzirá efeitos. Mas a matéria não é tão simples assim. É que existem relações jurídicas que foram estabelecidas durante a vigente da lei revogada e que continuarão produzindo efeitos com o advento da lei nova. É preciso estabelecer o chamado direito intertemporal ou transitório nestes casos. Proibição do retrocesso. No que diz respeito aos direitos e às garantias fundamentais e sociais, o texto constitucional proíbe o retrocesso. Para resolver a questão do conflito de leis no tempo, existem duas regras: 1- Irretroatividade, ou seja, a lei nova não se aplica às situações jurídicas constituídas antes de sua vigência. 2- Efeito imediato, incidindo a nova lei a todas as situações concretizadas sob sua égide. Isto resulta que a lei nova somente se aplicará aos fatos ocorridos após a sua vigência; quanto às relações jurídicas passadas, continuarão a ser regidos pela lei velha. Veja-se o que dispõe o artigo 6º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro: FACULDADE SANTA LÚCIA MATERIAL DE APOIO 03 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL I PROFESSOR: Dairson Mendes de Souza CURSO: DIREITO – 1º SEMESTRE - 2019/1 PÁGINA 29 DE 58 Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. (Redação dada pela Lei nº 3.238, de 1957) § 1º Reputa-seato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou. (Incluído pela Lei nº 3.238, de 1957) § 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem. (Incluído pela Lei nº 3.238, de 1957) § 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso. (Incluído pela Lei nº 3.238, de 1957) Por sua vez, a Constituição Federal também possui determinação similar, em seu artigo 5º, XXXVI: Art. 5º....XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada No entanto, poderá haver a retroatividade, desde que prevista na lei e não houver ofensa ao ato jurídico perfeito, direito adquirido e a coisa julgada. Aplicação imediata da lei nova às relações jurídicas continuativas: no que diz respeito às relações continuativas (também chamadas de trato sucessivo), a sua existência e validade ficam submetidas à norma vigente no tempo de seu início; no entanto, sua eficácia fica submetida à lei nova. Exemplo: novo limite de multa (cláusula penal) às taxas condominiais, não podem ultrapassar 2% ao mês, segundo o Código Civil de 2002. No Código Civil de 1916, a multa poderia ser fixada em até 20% ao mês. Não existe direito adquirido em face do poder constituinte originário. Isto porque o surgimento de uma nova Constituição faz desaparecer a ordem jurídica anterior. Existe direito adquirido em face do poder constituinte derivado? Zeno Veloso entende que sim. E categoricamente afirma: “É inconstitucional emenda à Constituição que desrespeita esta garantia.” Comentários à Lei de Introdução ao Código Civil, p. 110. No entanto, o STF afirma que não há direito adquirido nem mesmo em face do Poder Constituinte Derivado. Cristiano Chaves de Farias e Nelson http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L3238.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L3238.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L3238.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L3238.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L3238.htm#art1 FACULDADE SANTA LÚCIA MATERIAL DE APOIO 03 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL I PROFESSOR: Dairson Mendes de Souza CURSO: DIREITO – 1º SEMESTRE - 2019/1 PÁGINA 30 DE 58 Rosenvald citam como exemplo a Reforma da Previdência Social que relativizou alguns direitos dos servidores públicos em razão da emenda Constitucional PEC nº 33. Relativização da coisa julgada: possibilidade. Exemplos: 1- propositura de nova ação de investigação de paternidade quando na primeira ação não foi feito exame de DNA em razão da inexistência desse exame à época. 2- § 5º do artigo 535 do novo Código de Processo Civil (Lei 13.105/15), que dispõe: Art. 535. A Fazenda Pública será intimada na pessoa de seu representante judicial, por carga, remessa ou meio eletrônico, para, querendo, no prazo de 30 (trinta) dias e nos próprios autos, impugnar a execução, podendo arguir: III - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação; § 5o Para efeito do disposto no inciso III do caput deste artigo, considera-se também inexigível a obrigação reconhecida em título executivo judicial fundado em lei ou ato normativo considerado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em aplicação ou interpretação da lei ou do ato normativo tido pelo Supremo Tribunal Federal como incompatível com a Constituição Federal, em controle de constitucionalidade concentrado ou difuso. 3- A relativização da coisa julgada em ações coletivas. Dissertação de Mestrado do Prof. Dairson Mendes de Souza. Conclusão. Os autores Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald tecem importantes conclusões sobre a matéria, aqui transcritas: 1) “A lei aplicável aos contratos será a do tempo de sua constituição no que diz respeito à sua existência e validade. Todavia, quanto à sua eficácia, aplicam-se as normas vigentes na data de sua execução. (...) 2) Os direitos sucessórios serão regidos pela lei em vigor no tempo da abertura da sucessão, que corresponde ao momento do óbito do autor da herança (CC, art. 1784). 3) O testamento submete-se às leis do tempo em que foi elaborado, inclusive no que tange à capacidade de testar (CC, art. 1861). 4) Não se perde a capacidade já adquirida pelo advento de uma lei revogadora, alterando as regras sobre a capacidade civil (exemplificando, se uma nova lei aumentar a capacidade plena, novamente, para os vinte e um anos, aquele que, contando com dezenove anos, era maior e capaz não retorna à incapacidade). 5) O casamento tem sua validade regida pelas normas vigentes quando de sua celebração, enquanto o regime de bens entre os cônjuges será disciplinado pela lei em vigor na http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm FACULDADE SANTA LÚCIA MATERIAL DE APOIO 03 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL I PROFESSOR: Dairson Mendes de Souza CURSO: DIREITO – 1º SEMESTRE - 2019/1 PÁGINA 31 DE 58 celebração do pacto antenupcial, no que tange à sua eficácia e validade, estando a eficácia submetida à lei atual. 6) A existência e a validade do pacto antenupcial estão submetidas à norma vigente no momento de sua celebração, mas a sua eficácia está subordinada à norma atual. Por isso, mesmo as pessoas casadas sob a égide do Código Civil de 1916 podem alterar o seu regime de bens, valendo-se do permissivo do § 2º do art. 1639 da Codificação, por dizer respeito aos seus efeitos; 7) A qualificação dos direitos reais submete-se à lei nova.” Eficácia das leis no espaço Princípio da territorialidade: as leis são editadas para serem aplicadas no território nacional. Princípio da extraterritorialidade: em determinadas hipóteses, aplica-se a norma estrangeira em território nacional ou a lei brasileira em território estrangeiro. O Brasil adota o princípio da territorialidade mitigada, temperada ou moderada, em razão de admitir, a um só tempo, as regras da territorialidade (arts. 8º e 9º da LINDB) e da extraterritorialidade (arts. 7º, 10, 12 e 17). Aplica-se a regra do estatuto pessoal (lei do domicílio da pessoa): Art. 7o A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família. § 1o Realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei brasileira quanto aos impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração. § 2o O casamento de estrangeiros poderá celebrar-se perante autoridades diplomáticas ou consulares do país de ambos os nubentes. (Redação dada pela Lei nº 3.238, de 1957) § 3o Tendo os nubentes domicílio diverso, regerá os casos de invalidade do matrimônio a lei do primeiro domicílio conjugal. § 4o O regime de bens, legal ou convencional, obedece à lei do país em que tiverem os nubentes domicílio, e, se este for diverso, a do primeiro domicílio conjugal. § 5º - O estrangeiro casado, que se naturalizar brasileiro, pode, mediante expressa anuência de seu cônjuge, requerer ao juiz, no ato de entrega do decreto de naturalização, se apostile ao mesmo a adoção do regime de comunhão parcial de bens, respeitados os direitos de terceiros e dada esta adoção ao competente registro. (Redação dada pela Lei nº 6.515, de 1977) § 6º O divórcio realizado no estrangeiro, se um ou ambos os cônjuges forem brasileiros, só será reconhecido no Brasil depois de 1 (um) ano da data da sentença, salvo se houver sido antecedida de separação judicial por igual prazo, caso em que a homologação produzirá efeito imediato, obedecidas as condições estabelecidas para a eficácia das sentenças estrangeiras no país. O Superior Tribunal de Justiça, na forma de seu regimentointerno, poderá reexaminar, a requerimento do interessado, decisões já proferidas em pedidos de homologação de http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L3238.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6515.htm#art49 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6515.htm#art49 FACULDADE SANTA LÚCIA MATERIAL DE APOIO 03 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL I PROFESSOR: Dairson Mendes de Souza CURSO: DIREITO – 1º SEMESTRE - 2019/1 PÁGINA 32 DE 58 sentenças estrangeiras de divórcio de brasileiros, a fim de que passem a produzir todos os efeitos legais. (Redação dada pela Lei nº 12.036, de 2009). § 7o Salvo o caso de abandono, o domicílio do chefe da família estende-se ao outro cônjuge e aos filhos não emancipados, e o do tutor ou curador aos incapazes sob sua guarda. § 8o Quando a pessoa não tiver domicílio, considerar-se-á domiciliada no lugar de sua residência ou naquele em que se encontre. Art. 8o Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a lei do país em que estiverem situados. § 1o Aplicar-se-á a lei do país em que for domiciliado o proprietário, quanto aos bens moveis que ele trouxer ou se destinarem a transporte para outros lugares. § 2o O penhor regula-se pela lei do domicílio que tiver a pessoa, em cuja posse se encontre a coisa apenhada. Art. 10. A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação dos bens. § 1º A sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus. (Redação dada pela Lei nº 9.047, de 1995) § 2o A lei do domicílio do herdeiro ou legatário regula a capacidade para suceder. Em algumas hipóteses, a lei brasileira afasta o estatuto social para prestigiar critérios específicos de aplicação da lei estrangeira em território nacional. Art. 8o Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a lei do país em que estiverem situados. (só o caput, os parágrafos são regulados pelo estatuto do domicílio) Art. 9o Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem. § 1o Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo de forma essencial, será esta observada, admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto aos requisitos extrínsecos do ato. § 2o A obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir o proponente. (só o parágrafo segundo) Art. 10. A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação dos bens. § 1º A sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus. (Redação dada pela Lei nº 9.047, de 1995) O respeito à ordem pública com filtro para a admissão da lei estrangeira no território nacional http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12036.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9047.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9047.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9047.htm FACULDADE SANTA LÚCIA MATERIAL DE APOIO 03 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL I PROFESSOR: Dairson Mendes de Souza CURSO: DIREITO – 1º SEMESTRE - 2019/1 PÁGINA 33 DE 58 Art. 17. As leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações de vontade, não terão eficácia no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes. Conceito de ordem pública: considerar os valores vigentes em determinado momento. O acatamento de uma norma estrangeira não pode tornar o seu resultado inconstitucional. Devem ser sopesados os princípios constitucionais. Prova dos fatos ocorridos no exterior Art. 13. A prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei que nele vigorar, quanto ao ônus e aos meios de produzir-se, não admitindo os tribunais brasileiros provas que a lei brasileira desconheça. Vale lembrar que a Constituição Federal proíbe a utilização das provas ilícitas (art. 5º, LVI). A lei de interceptação telefônica (Lei 9.296/96) só pode ser utilizada para investigação criminal. Assim, não pode ser aplicada no cível. Porém, se necessário for, excepcionalmente, se necessária a preservação da dignidade da pessoa humana, o juiz poderá permitir a interceptação. Ementa: EXECUÇÃO DE ALIMENTOS. INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA DO DEVEDOR DE ALIMENTOS. CABIMENTO. Tentada a localização do executado de todas as formas, residindo este em outro Estado e arrastando-se a execução por quase dois anos, mostra-se cabível a interceptação telefônica do devedor de alimentos. Se por um lado a Carta Magna protege o direto à intimidade, também abarcou o princípio da proteção integral a crianças e adolescentes. Assim, ponderand0-se os dois princípios sobrepõe-se o direito à vida dos alimentados. A própria possibilidade da prisão civil no caso de dívida alimentar evidencia tal assertiva. Tal medida dispõe inclusive de cunho pedagógico para que outros devedores de alimentos não mais se utilizem se subterfúgios para safarem-se da obrigação. Agravo provido. (SEGREDO DE JUSTIÇA) (Agravo de Instrumento Nº 70018683508, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Maria Berenice Dias, Julgado em 28/03/2007) Bibliografia utilizada: FARIAS, Cristiano Chaves de; Rosenvald, Nelson. Curso de Direito Civil: parte geral e LINDB. 13. ed. São Paulo: Atlas, p. 105-124 DA PESSOA NATURAL DA CAPACIDADE E DO INÍCIO DA PERSONALIDADE “Art. 1o Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil.” FACULDADE SANTA LÚCIA MATERIAL DE APOIO 03 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL I PROFESSOR: Dairson Mendes de Souza CURSO: DIREITO – 1º SEMESTRE - 2019/1 PÁGINA 34 DE 58 “Art. 2o A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.” O nascimento com vida pode ser comprovado por um exame denominado docimasia hidrostática de Galeno. A presença de ar nos pulmões é o que determina o início da personalidade. Outros sinais também comprovam o nascimento como, por exemplo, movimentos e choro da criança. O início da personalidade é o nascimento e não a data do registro do nascimento. Proteção jurídica do nascituro (do latim nasciturus, aquele que deverá nascer): Não há consenso na doutrina acerca da natureza jurídica do nascituro. Existem três teorias a respeito: teoria natalista (a personalidade jurídica só é adquirida a partir do nascimento com vida), teoria condicionalista (porque existe uma condição para que adquira a personalidade jurídica, que é o nascimento com vida) e a teoria conceptista (a partir da concepção já há proteção à sua personalidade jurídica). Alguns direitos do nascituro: • Reconhecimento da filiação do nascituro (artigo 1609, parágrafo único CC), in verbis: “Art. 1.609. O reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento é irrevogável e será feito: I - no registro do nascimento; II - por escritura pública ou escrito particular, a ser arquivado em cartório; III - por testamento, ainda que incidentalmente manifestado; IV - por manifestação direta e expressa perante o juiz, ainda que o reconhecimento não haja sido o objeto único e principal do ato que o contém. Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o nascimento do filho ou ser posterior ao seu falecimento, se ele deixar descendentes.” • Possibilidade de nomeaçãode curador ao nascituro (artigo 1709 CC) “Art. 1.779. Dar-se-á curador ao nascituro, se o pai falecer estando grávida a mulher, e não tendo o poder familiar.” Parágrafo único. Se a mulher estiver interdita, seu curador será o do nascituro. • Possibilidade de se fazer doação ao nascituro (art. 542 CC) “Art. 542. A doação feita ao nascituro valerá, sendo aceita pelo seu representante legal.” FACULDADE SANTA LÚCIA MATERIAL DE APOIO 03 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL I PROFESSOR: Dairson Mendes de Souza CURSO: DIREITO – 1º SEMESTRE - 2019/1 PÁGINA 35 DE 58 • Capacidade sucessória do nascituro (art. 1798 CC) “Art. 1.798. Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão.” • Direito à vida (art. 5º CF e art. 7º do ECA) e criminalização do aborto (art. 124 a 128 do Código Penal); art. 4º da Declaração Universal dos Direitos Humanos e • Alimentos gravídicos (Lei 11.804/08) • Estabilidade da gestante no âmbito do direito de trabalho. O escopo é a tutela do nascituro. • Possibilidade de responsabilidade civil da gestante por condutas prejudiciais ao nascituro durante a gravidez? O tema ainda não chegou aos tribunais brasileiros. DA INCAPACIDADE ABSOLUTA E RELATIVA Conceito de incapacidade: é a restrição legal ao exercício dos atos da vida civil, imposta pela lei somente aos que, excepcionalmente, necessitam de proteção, pois a capacidade é a regra. Formas de suprir a incapacidade: representação e assistência. E se não houver a representação e assistência? Vejam o que dispõem o Código Civil: O artigo 166, I, do CC, in verbis: “Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando: I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz;” O artigo 177, I, do CC, in verbis: “Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico: I - por incapacidade relativa do agente;” FACULDADE SANTA LÚCIA MATERIAL DE APOIO 03 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL I PROFESSOR: Dairson Mendes de Souza CURSO: DIREITO – 1º SEMESTRE - 2019/1 PÁGINA 36 DE 58 DOS ABSOLUTAMENTE INCAPAZES O artigo 3º do Código Civil dispõe sobre a incapacidade absoluta, in verbis: “Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos. (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015)” Em quase todos os ordenamentos jurídicos existe restrição da capacidade aos menores de idade. DOS RELATIVAMENTE INCAPAZES O artigo 4º do Código Civil dispõe sobre a incapacidade relativa, in verbis: “Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) IV - os pródigos. Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial. (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015).” Causas transitórias que podem impedir a expressão da vontade: arteriosclerose, excessiva pressão arterial, paralisia, embriaguez não habitual, uso eventual e excessivo de psicotrópico ou substâncias alucinógenas. DA CURATELA DOS INTERDITOS A capacidade é a regra; a incapacidade, exceção. Por isso, a incapacidade relativa exige prova cabal e, excetuada a hipótese do inciso I do artigo 4º do CC, deverá ser demonstrada em processo judicial de interdição. Com efeito, os relativamente incapazes deverão ser interditados, conforme previsão do artigo 1.767 do Código Civil, in verbis: “Art. 1.767. Estão sujeitos a curatela: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm#art114 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm#art114 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm#art114 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm#art114 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm#art114 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm#art114 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm#art114 FACULDADE SANTA LÚCIA MATERIAL DE APOIO 03 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL I PROFESSOR: Dairson Mendes de Souza CURSO: DIREITO – 1º SEMESTRE - 2019/1 PÁGINA 37 DE 58 I - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) II - (Revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) III - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) IV - (Revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) V - os pródigos.” Somente após decisão judicial pela interdição é que uma pessoa será considerada relativamente incapaz, nas hipóteses dos incisos II, III e IV do CC. Quem pode solicitar o pedido de interdição? A legitimidade para a propositura da ação de interdição está prevista no artigo 747, do CPC de 2015, in verbis: “Art. 747. A interdição pode ser promovida: I - pelo cônjuge ou companheiro; II - pelos parentes ou tutores; III - pelo representante da entidade em que se encontra abrigado o interditando; IV - pelo Ministério Público. Parágrafo único. A legitimidade deverá ser comprovada por documentação que acompanhe a petição inicial.” DA CESSAÇÃO DA INCAPACIDADE A cessação da incapacidade ocorre quando desaparece o motivo que a determinou. O artigo 5º do CC dispõe: “Art. 5o A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil. Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade: I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos; II - pelo casamento; III - pelo exercício de emprego público efetivo; IV - pela colação de grau em curso de ensino superior; V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria.” Maioridade: faz cessar a incapacidade decorrente da menoridade. Isto ocorre quando a pessoa faz aniversário aos 18 anos. Se nasceu no dia 29 de fevereiro do ano bissexto, completa a maioridade no dia 1º de março. Se ignora a data do nascimento, precisa de exame médico. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm#art114 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm#art123 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm#art114 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm#art114 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm#art123 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm#art114 FACULDADE SANTA LÚCIA MATERIAL DE APOIO 03 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL I PROFESSOR: Dairson Mendes de Souza CURSO: DIREITO – 1º SEMESTRE - 2019/1 PÁGINA 38 DE 58 A opção do legislador não é critério científico. No direito comparado as pessoas alcançam a maioridade: aos 18 anos, em Portugal e Argentina; aos 20, na Suíça; aos 21, na Itália, Alemanha e Espanha. Aos 25, no Chile. Aos 18 anos, no Brasil, a pessoa responde civilmente pelos danos causados a terceiros, ficando autorizados a praticar validamente todos os atos da vida civil, sem a assistência de um representante legal, como adotar uma criança, desde que 16 anos mais velho que o adotado (art.
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