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CONTABILIDADE PÚBLICA Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS Autoria: Carline Rakowski Savariz. CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Jóice Gadotti Consatti Norberto Siegel Camila Roczanski Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Marcelo Bucci Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2019 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. SA265c Savariz, Carline Rakowski Contabilidade pública. / Carline Rakowski Savariz. – Indaial: UNIASSELVI, 2019. 123 p.; il. ISBN 978-85-7141-297-2 1.Finanças públicas – Contabilidade – Brasil. II. Centro Universi- tário Leonardo Da Vinci. CDD 351.72 Impresso por: Sumário APRESENTAÇÃO ..........................................................................05 CAPÍTULO 1 Contabilidade Pública .................................................................07 CAPÍTULO 2 Demonstrações Contábeis Aplicadas À Administração Pública ................................................................41 CAPÍTULO 3 Dívida Pública E Fundos Especiais ............................................95 APRESENTAÇÃO Caro acadêmico, o livro de Contabilidade Pública tem por objetivo apresentar alguns conceitos básicos sobre a contabilidade que é aplicada ao setor público. Ao longo deste material, você terá contato com aspectos iniciais da contabilidade pública, as demonstrações contábeis que o setor público é obrigado a apresentar e também algumas definições e funcionalidades da dívida pública e títulos especiais. Tais conteúdos estão divididos em três capítulos. No primeiro capítulo, você terá conhecimento sobre as informações dos detalhes da contabilidade aplicada ao setor público, as principais leis que regulam a contabilidade aplicada ao setor público, as normas contábeis e o que foi publicado até o momento atual, bem como o manual de contabilidade aplicada ao setor público, ainda serão demonstrados os sistemas de informações contábeis, ou seja, como as informações contábeis geradas no ente público são segregadas. Esta segregação existe para melhor controle e organização das contas públicas. O segundo capítulo tem por finalidade apresentar as demonstrações contábeis aplicadas ao setor público, tais como o Balanço Orçamentário, que trata da previsão de receitas e fixação de despesas. Serão mostrados os conceitos e os quadros que integram a demonstração. Após serão apresentados o Balanço Financeiro, o Balanço Patrimonial, a Demonstração das Variações Patrimoniais, as Demonstrações dos Fluxos de Caixa e, por último, as Demonstrações das Variações Patrimoniais. No terceiro capítulo serão apresentados os aspectos teóricos e práticos sobre a dívida pública, conceitos e alguns indicadores utilizados para demonstrar a situação da dívida pública. Há ainda alguns gráficos e análises para que se consiga entender os valores apresentados, além dos fundos especiais aplicados ao setor público. Nele serão expostos os conceitos e as leis que asseguram e normatizam estes fundos. Bons estudos! CAPÍTULO 1 CONTABILIDADE PÚBLICA A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem: Saber: este capítulo tem como objetivos o contato com a contabilidade pública e conhecer os termos e as noções contábeis aplicadas à gestão pública. Fazer: o aluno, ao fi nal do capítulo, deverá saber os conceitos básicos contábeis, tais como: contabilidade aplicada à administração pública, sistemas de informações, exercício fi nanceiro, regimes contábeis, plano e sistema de contas, escrituração e prestação de contas. O aluno deverá entender, também, que a contabilidade pública tem suas particularidades com relação à contabilidade aplicada às empresas. 8 Contabilidade Pública 9 CONTABILIDADE PÚBLICA Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO A contabilidade pública tem como objetivo o planejamento, a avaliação, o controle e a tomada de decisões por parte dos administradores e administrados. A contabilidade aplicada à administração pública tem suas particularidades que a diferem da contabilidade aplicada às empresas privadas. Para isso, compreender os conceitos básicos é importante para que o aluno possa entender os demonstrativos contábeis públicos e como eles são elaborados. Para tanto, estudar leis, normas, princípios, regimes de escrituração, entender o plano de contas e como é feita a prestação de contas das entidades públicas é importante não somente para futuros contadores, mas também para a sociedade em geral. Uma vez que entendermos os conceitos básicos, nós, como cidadãos, poderemos acompanhar mais incisivamente as contas públicas. Este livro tem esse objetivo, fazer o estudante entender melhor a contabilidade pública e como ela é elaborada até o momento de publicação dos demonstrativos contábeis. Portanto, neste capítulo, o aluno terá conhecimento sobre as informações da contabilidade aplicada ao setor público e perceberá que ela se difere da contabilidade aplicada às empresas privadas. Será capaz de adquirir conhecimento sobre sistemas de informações, exercício fi nanceiro, regimes contábeis, plano e sistema de contas, escrituração e prestação de contas. O capítulo está dividido da seguinte forma: na primeira seção, veremos os detalhes da contabilidade aplicada ao setor público, as principais leis que regulam a contabilidade aplicada ao setor público, as normas contábeis e o que foi publicado até o momento atual, bem como o manual de contabilidade aplicada ao setor público. Na segunda seção, serão demonstrados os sistemas de informações contábeis, ou seja, como as informações contábeis geradas no ente público são segregadas, esta segregação existe para melhor controle e organização das contas públicas. Na terceira seção, serão apresentados o exercício fi nanceiro e os regimes de escrituração contábil aplicados às contas públicas e as diferenças entre eles. Na quarta seção, serão evidenciados o plano de contas aplicado ao setor público (PCASP) e o objetivo de ter um plano de contas, serão também apresentados os níveis e como a escrituração deve obedecer aos desdobramentos do plano de contas. 10 Contabilidade Pública Na última seção, será apresentado como é feita a prestação de contas do setor público. Portanto, o capítulo está segregado em cinco seções e ao fi nal serão apresentados alguns exercícios de fi xação do que foi visto durante o capítulo. Bons estudos! 2 CONTABILIDADE PÚBLICA A contabilidade é uma ciência social que tem por objetivo o estudo e o controle do patrimônio, em sua essência geral esta é a defi nição de contabilidade. No entanto, a contabilidade atua em diversas subdivisões, entre elas a contabilidade pública. A contabilidade pública possui suas particularidades, isto é, leis e normas que conduzem as contas públicas. Além disso, a contabilidade aplicada ao setor público no Brasil tem passado por mudanças signifi cativas, uma vez que as normas de convergência aos padrões internacionais de contabilidade estendem-se às demonstrações contábeis públicas. Diante dessas perspectivas, entender o contexto atual da contabilidade pública nos ajuda não somente como detentores do conhecimento, mas também como cidadãos no acompanhamento das contas públicas. 2.1 CONTABILIDADE APLICADA À ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA A contabilidade aplicada à administração pública é uma das subdivisões da contabilidade aplicada aos diversos tipos de atividade e está voltada ao estudo e à análise dosfatos administrativos que ocorrem na administração pública. Visa fornecer à administração, informações sobre registro, controle e acompanhamento das variações do patrimônio do Estado, organização e execução de orçamentos, controle de custos e efi ciência do setor público (SILVA, 2011). Entende-se por entidade do setor público os órgãos, os fundos e as pessoas jurídicas de direito público ou que, possuindo personalidade jurídica de direito privado, recebam, guardem, movimentem, gerenciem ou apliquem dinheiro, bens e valores públicos na execução de suas atividades. Além do mais, entende-se que a Contabilidade Aplicada ao Setor Público tem por objetivo fornecer aos usuários informações sobre os resultados alcançados e os aspectos de natureza orçamentária, econômica, fi nanceira e física do 11 CONTABILIDADE PÚBLICA Capítulo 1 patrimônio da entidade do setor público e suas mutações (BRASIL, 2008). Essas informações auxiliam o processo de tomada de decisões por parte dos agentes e administradores públicos, a adequada prestação de contas e o suporte necessário para a instrumentalização do controle social, este último, entendido como um compromisso ético profi ssional, que tem como pressuposto o fornecimento de informações compreensíveis e úteis aos usuários e o exercício da cidadania para controle sobre o uso desse patrimônio (ROSA, 2011). Quanto aos usuários dessas informações, Silva (2011) demonstra alguns grupos interessados na informação governamental: QUADRO 1 – USUÁRIOS DE INFORMAÇÕES Tipos de Usuários Usuários Usuários relacionados à regulação legislativa e à elaboração dos atos normativos pertinentes Poder Judiciário Poder Legislativo Poder Executivo Dirigentes de cada entidade e seus des- dobramentos técnicos e administrativos Usuários da Previdência Social Trabalhadores ativos Empresários Sindicatos Benefi ciários de aposentadorias e pensões Usuários relacionados com a prestação de contas dos governantes Interesse no cumprimento da legalidade e utiliza- ção correta dos recursos públicos Poder Legislativo Tribunal de Contas Cidadãos em geral Interesse geral nas ações administrativas Contribuintes Empresários Trabalhadores Usuários relacionados aos aspectos econô- micos e fi nanceiros do Estado Como fi nanciadores Bancos públicos Bancos privados Entidades de crédito e fi nanciamento em geral Como investidores Bancos em geral Agências de rating Cidadãos em geral 12 Contabilidade Pública Usuários relacionados ao controle interno e à auditoria Dirigentes da entidade de todos os níveis Representantes dos funcionários ou trabalhadores FONTE: Silva (2011) Os grupos dos cidadãos estão interessados nas demonstrações contábeis com o objetivo de avaliar as condições fi nanceiras e a probabilidade de aumento de impostos. Nesses grupos podem ser encontradas diversas associações de defesa do cidadão com interesse nos relatórios para exigir o aumento da aplicação em determinadas funções, como educação, saúde e saneamento. Aos membros do Poder Legislativo, na condição de usuário, cumpre avaliar a condição fi nanceira global, inclusive a estrutura da dívida e os recursos disponíveis, calculando a dívida consolidada líquida. O objetivo desse grupo é monitorar o resultado para assegurar o cumprimento das fi nanças públicas. Preocupam-se ainda com os níveis e as fontes de recursos e o nível e os tipos de gastos, principalmente nas funções em que estabeleceram aplicação mínima, como educação e saúde. Os investidores e os credores precisam da informação sobre recursos fi nanceiros disponíveis e preocupam-se com a avaliação das responsabilidades atuais e contingentes, bem como a posição da dívida consolidada do governo com o objetivo de identifi car sua habilidade para continuar arrecadando e comprometendo recursos, principalmente com relação à continuidade de certos gastos de natureza fi xa. Para isso, precisam conhecer os resultados operacionais e os dados de fl uxo monetário, com o objetivo de fazer análise das tendências e identifi car pontos fortes e fracos na geração de recursos, principalmente na amortização da dívida. Conforme o Conselho Federal de Contabilidade, o objeto da Contabilidade Aplicada ao Setor Público é o patrimônio público e tem como função social refl etir, sistematicamente, o ciclo da administração pública para evidenciar informações necessárias à tomada de decisões, à prestação de contas e à instrumentalização do controle social. Patrimônio Público é o conjunto de direitos e bens, tangíveis ou intangíveis, onerados ou não, adquiridos, formados, produzidos, recebidos, mantidos ou utilizados pelas entidades do setor público, que seja portador ou represente um fl uxo de benefícios, presente ou futuro, inerente à prestação de serviços públicos ou à exploração econômica por entidades do setor público e suas obrigações (BRASIL, 2008). 13 CONTABILIDADE PÚBLICA Capítulo 1 Dados os conceitos da contabilidade aplicada à administração pública, seu objetivo, objeto, função social e usuários, agora precisamos entender como ela é regulamentada. Temos as leis, as normas e os princípios que orientam a contabilidade aplicada ao setor público. Primeiramente, devemos saber que o campo de atuação da contabilidade pública são as pessoas jurídicas de Direito Público Interno, como a União, o Estado, o Distrito Federal, os Municípios e suas autarquias, também algumas fundações públicas e algumas empresas públicas. As pessoas jurídicas de direito público externas que representam os Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo direito internacional público. Também as empresas de direito privado, que são as associações, as sociedades, as fundações, as organizações religiosas e os partidos políticos. Agora vamos para a lei principal que orienta a contabilidade aplicada à administração pública, que é a Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964. Conforme Art. 1º, esta lei estatui normas gerais de direito fi nanceiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal, de acordo com o disposto no art. 5º, inciso XV, letra b, da Constituição Federal. A Lei nº 4.320/1964 proporcionou melhor controle das fi nanças públicas e ajudou na construção de uma administração fi nanceira e contábil sólida por meio do principal instrumento, que é o Orçamento Público. Conforme o Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público - MCASP (BRASIL, 2017, p. 22): O orçamento público ganhou signifi cativa importância no Brasil. Como consequência, as normas relativas a registros e demonstrações contábeis, vigentes até hoje, acabaram por dar enfoque sobretudo aos conceitos orçamentários, em detrimento da evidenciação dos aspectos patrimoniais. A Lei nº 4.320/1964 pode ser consultada pelo seguinte link: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L4320.htm>. Aliada ao melhor controle das contas públicas, podemos salientar a Lei Complementar nº 101, de 4 de março de 2000, ou como é conhecida: Lei de Responsabilidade Fiscal. Essa lei tem por objetivo dispor sobre a responsabilidade na gestão fi scal. 14 Contabilidade Pública O que é a responsabilidade na gestão fi scal? Conforme § 1o do Art. 1º, a responsabilidade na gestão fi scal pressupõe a ação planejada e transparente, em que se previnem riscos e corrigem desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas, mediante o cumprimento de metas de resultados entre receitas e despesas e a obediência a limites e condições no que tange à renúncia de receita, geração de despesas com pessoal, da seguridade social e outras, dívidas consolidada e mobiliária, operações de crédito, inclusive por antecipação de receita, concessão de garantia e inscrição em Restos a Pagar. A Lei de Responsabilidade é um marco na regulamentação das contas públicas, pois como foi demonstrado anteriormente, ela impõe limites para os gastospúblicos. Desta forma, consegue controlar e estipular sanções caso haja o descumprimento do que a lei impõe. A Lei de Responsabilidade Fiscal pode ser consultada pelo link: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LCP/Lcp101.htm>. Conhecidas as principais leis que abrangem a contabilidade aplicada ao setor público, tem-se as normas contábeis aplicadas ao setor público. As normas contábeis que são aplicadas ao setor público atualmente são as chamadas Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público - NBC TSP. O que são normas contábeis? As Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC) constituem-se num conjunto de regras e procedimentos de conduta que devem ser observados como requisitos para o exercício da profi ssão contábil, bem como os conceitos doutrinários, princípios, estrutura técnica e procedimentos a serem aplicados na realização dos trabalhos previstos nas normas aprovadas por resolução emitidas pelo CFC. No ano de 1998, o Conselho Federal de Contabilidade (CFC), considerando a necessidade da complementação da estrutura das Normas Brasileiras de Contabilidade voltadas à área pública, constituiu o Grupo de Estudos para atender tal fi nalidade. A partir de então, o CFC foi constituindo grupos de estudos e de trabalhos para atender às necessidades de normatização para a época e para responder às consultas que eram formuladas pelos profi ssionais do setor. 15 CONTABILIDADE PÚBLICA Capítulo 1 Passados dez anos, o CFC decidiu dar um impulso nesse processo de normatização da contabilidade pública no Brasil. Por meio de parceria fi rmada com o Ministério da Fazenda e a Associação dos Membros dos Tribunais de Contas, foi fi rmado o documento denominado “Orientações Estratégicas para a Contabilidade Aplicada ao Setor Público”, contendo as seguintes diretrizes: • Promover o desenvolvimento conceitual da Contabilidade aplicada ao setor público no Brasil. • Estimular a convergência aos padrões internacionais de Contabilidade aplicada ao setor público. • Fortalecer institucionalmente a Contabilidade aplicada ao setor público no seu papel de fonte de informação da situação patrimonial das entidades governamentais e similares. Assim, no exercício de 2008, foram editadas as primeiras normas contábeis brasileiras específi cas para o setor público: as NBC T 16 (BRASIL, 2008). Estas normas foram muito importantes para a mudança no modelo contábil das entidades públicas brasileiras. As NBC T 16 utilizaram alguns conceitos das normas internacionais, promovendo inovações no setor público nacional. Após a edição das NBC T 16, a Secretaria do Tesouro Nacional, órgão central de contabilidade da União, foi incorporando gradativamente os ditames das normas nos entes públicos nacionais, iniciando pelo próprio Governo Federal, construindo um modelo contábil, cuja primeira fase de implementação terminou sendo concretizada no exercício de 2015 para a maioria dos entes públicos brasileiros. Apesar de toda a revolução ocorrida no modelo contábil governamental, foi observado que seria necessário avançar no processo de convergência às normas internacionais. Limitações conceituais das NBC T 16, necessidade de normas que tratem de casos específi cos do setor público e conclusão da convergência das normas no setor privado são exemplos de fatores que voltaram a impulsionar o processo de convergência para o setor público. No ano de 2015, o CFC reformulou o GA NBC TSP com o objetivo de impulsionar o processo de convergência das normas contábeis do setor público aos padrões internacionais. Nesta nova fase, o trabalho do GA NBC TSP tem sido o de harmonizar as normas internacionais (International Public Sector Accounting Standards - IPSAS) à realidade brasileira. A harmonização exige não apenas a tradução das normas para a língua portuguesa, mas a análise sobre a aplicabilidade do contexto das normas internacionais à realidade dos entes públicos brasileiros. 16 Contabilidade Pública Em outubro de 2016, o CFC aprovou a Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Informação Contábil de Propósito Geral pelas Entidades do Setor Público (Estrutura Conceitual), que estabelece os conceitos que devem ser aplicados no desenvolvimento das demais Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público (NBC TSP) do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), destinados às entidades do setor público. Além disso, tais conceitos são aplicáveis à elaboração e à divulgação formal dos Relatórios Contábeis de Propósito Geral das Entidades do Setor Público (RCPG). A referida estrutura conceitual teve seus efeitos aplicados a partir de 1º de janeiro de 2017 e revogou a partir desta data as resoluções e as normas a seguir: • a Resolução CFC nº 750/1993, que dispõe sobre os princípios de contabilidade; • a Resolução CFC nº 1.111/2007, que aprovou o Apêndice II da Resolução CFC nº 750/1993; • a Resolução CFC nº 1.128/2008, que aprovou a NBC T 16.1 - Conceituação, Objeto e Campo de Aplicação; • a Resolução CFC nº 1.129/2008, que aprovou a NBC T 16.2 - Patrimônio e Sistemas Contábeis; • a Resolução CFC nº 1.130/2008, que aprovou a NBC T 16.3 - Planejamento e seus Instrumentos sob o Enfoque Contábil; • a Resolução CFC nº 1.131/2008, que aprovou a NBC T 16.4 - Transações no Setor Público; • a Resolução CFC nº 1.132/2008, que aprovou a NBC T 16.5 - Registro Contábil; • os arts. 1º, 2º e 3º da Resolução CFC nº 1.268/2009, que alterou, incluiu e excluiu itens das NBC T 16.1, 16.2 e 16.6, que tratam das NBC T aplicadas ao setor público; • a Resolução CFC nº 1.282/2010, que atualizou e consolidou dispositivos da Resolução CFC nº 750/1993; • a Resolução CFC nº 1.367/2011, que alterou o Apêndice II da Resolução CFC nº 750/1993; • os arts. 1º e 2º da Resolução CFC nº 1.437/2013, que alterou, incluiu e excluiu itens das NBC T 16.1, 16.2, 16.4, 16.5, 16.6, 16.10 e 16.11, que tratam das NBC T aplicadas ao setor público; • os itens 12(a), 12(b), 12(c), 12(d), 27 e 28 da NBC T 16.6 (R1), que trata das demonstrações contábeis. Dessa forma, a partir de janeiro de 2017, temos 17 NBC TSP: 17 CONTABILIDADE PÚBLICA Capítulo 1 QUADRO 2 – NBC TSP Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público NBCT Estrutura Conceitual Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Informação Contábil de Propósito Geral pelas Entidades do Setor Público NBCT SP 01 Receitas de Transação sem Contraprestação NBCT SP 02 Receitas de Transação com Contraprestação NBCT SP 03 Provisões, Passivos Contingentes e Ativos Contingentes NBCT SP 04 Estoques NBCT SP 05 Contratos de Concessão de Serviços Públicos: Concedente. NBCT SP 06 Propriedade para Investimento NBCT SP 07 Ativo Imobilizado NBCT SP 08 Ativo Intangível NBCT SP 09 Redução ao Valor Recuperável de Ativo Não Gerador de Caixa NBCT SP 10 Redução ao Valor Recuperável de Ativo Gerador de Caixa NBCT 16.6 Demonstrações Contábeis NBCT 16.7 Consolidação das Demonstrações Contábeis NBCT 16.8 Controle Interno NBCT 16.9 Depreciação, amortização e exaustão NBCT 16.10 Avaliação e Mensuração de Ativos e Passivos NBCT 16.11 Sistema de Informação de Custos FONTE: A autora Deve ser dada atenção à extinção dos princípios contábeis e à entrada em vigor das Características Qualitativas, conforme consta na Estrutura Conceitual. As características qualitativas da informação incluída nos RCPG são atributos que tornam a informação útil para os usuários e dão suporte ao cumprimento dos objetivos da informação contábil. O objetivo da elaboração e divulgação da informação contábil é fornecer informação para fi ns de prestação de contas e responsabilização (accountability) e tomada de decisão. As características qualitativas da informação incluídas nos RCPG são a relevância, a representação fi dedigna, a compreensibilidade, a tempestividade, a comparabilidade e a verifi cabilidade. Relevância: as informações fi nanceiras e não fi nanceiras são relevantescaso sejam capazes de infl uenciar signifi cativamente o cumprimento dos objetivos da elaboração e da divulgação da informação contábil. As informações fi nanceiras e não fi nanceiras são capazes de exercer essa infl uência quando têm valor confi rmatório, preditivo ou ambos. A informação pode ser capaz de infl uenciar e, desse modo, ser relevante, mesmo se alguns usuários decidirem não a considerar ou já estiverem cientes dela. Representação Fidedigna: para ser útil como informação contábil, a informação deve corresponder à representação fi dedigna dos fenômenos 18 Contabilidade Pública econômicos e outros que se pretenda representar. A representação fi dedigna é alcançada quando a representação do fenômeno é completa, neutra e livre de erro material. A informação que representa fi elmente um fenômeno econômico ou outro fenômeno retrata a substância da transação, a qual pode não corresponder, necessariamente, à sua forma jurídica. Compreensibilidade: a compreensibilidade é a qualidade da informação que permite que os usuários compreendam o seu signifi cado. Os RCPG devem apresentar a informação de maneira que corresponda às necessidades e à base do conhecimento dos usuários, bem como a natureza da informação apresentada. Por exemplo, as explicações acerca das informações fi nanceiras e não fi nanceiras e as informações adicionais acerca da prestação de serviços e outros resultados durante o exercício, além das expectativas para os períodos futuros, devem ser escritas em linguagem simples e apresentadas de maneira que sejam prontamente compreensíveis pelos usuários. A compreensão é aprimorada quando a informação é classifi cada e apresentada de maneira clara e sucinta. A comparabilidade pode também aprimorar a compreensibilidade. Tempestividade: tempestividade signifi ca ter informação disponível para os usuários antes que ela perca a sua capacidade de ser útil para fi ns de prestação de contas e responsabilização (accountability) e tomada de decisão. Ter informação disponível mais rapidamente pode aprimorar a sua utilidade como insumo para processos de avaliação da prestação de contas e responsabilização (accountability) e a sua capacidade de informar e infl uenciar os processos decisórios. A ausência de tempestividade pode tornar a informação menos útil. Comparabilidade: comparabilidade é a qualidade da informação que possibilita aos usuários identifi car semelhanças e diferenças entre dois conjuntos de fenômenos. A comparabilidade não é uma qualidade de item individual de informação, mas, antes, a qualidade da relação entre dois ou mais itens de informação. Verifi cabilidade: a verifi cabilidade é a qualidade da informação que ajuda a assegurar aos usuários que a informação contida nos RCPG representa fi elmente os fenômenos econômicos ou de outra natureza que se propõe a representar. A suportabilidade, ou seja, a qualidade referente àquilo que dá suporte a algo, algumas vezes é utilizada para descrever esta qualidade, quando aplicada em relação à informação explicativa e à informação quantitativa fi nanceira e não fi nanceira prospectiva divulgada nos RCPG. Quer referida como verifi cabilidade ou como suportabilidade, a característica implica que dois observadores esclarecidos e independentes podem chegar ao consenso geral, mas não necessariamente à concordância completa, em que: 19 CONTABILIDADE PÚBLICA Capítulo 1 • a informação representa os fenômenos econômicos e de outra natureza, os quais se pretende representar sem erro material ou viés; ou • o reconhecimento apropriado, a mensuração ou o método de representação foi aplicado sem erro material ou viés. Todas as normas de contabilidade aplicadas ao setor público podem ser consultadas no link: <https://cfc.org.br/tecnica/normas- brasileiras-de-contabilidade/nbc-tsp-do-setor-publico/>. O que são as normas internacionais aplicadas ao setor público? As Normas Internacionais de Contabilidade para o Setor Público - IPSAS - foram desenvolvidas com a fi nalidade de normatizar questões que dizem respeito a demonstrações contábeis para fi ns gerais de todas as entidades do setor público. As entidades do setor público incluem: governos nacionais, governos regionais (por exemplo, estadual, provincial, territorial), governos locais (por exemplo, municipal) e suas entidades componentes (por exemplo, departamentos, agências, conselhos, comissões, ministérios, secretarias, autarquias, fundações, fundos), a menos que de outra forma seja determinado. As Normas não se aplicam às Empresas Estatais (EEs). EEs aplicam as Normas Internacionais de Contabilidade (IFRS) emitidas pelo International Accounting Standards Board (IASB). As IPSAS incluem uma defi nição de EEs. Além disso, com o intuito de colaborar com o processo de elaboração e execução do orçamento, além de contribuir para resgatar o objeto da contabilidade como ciência, que é o patrimônio, contamos com o Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público, que está na 7ª edição. Com isso, a contabilidade pode atender à demanda de informações requeridas por seus usuários, possibilitando a análise de demonstrações contábeis adequadas aos padrões internacionais, sob os enfoques orçamentário e patrimonial, com base em um Plano de Contas Nacional. 20 Contabilidade Pública O Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público pode ser encontrado no link: <http://www.tesouro.fazenda. gov.br /documents/10180/456785/MCASP+7%C2%AA%20 edi%C3%A7%C3%A3o+Vers%C3%A3o+Final.pdf/6e874adb-44d7- 490c-8967-b0acd3923f6d>. Como demonstrado ao longo da seção, a contabilidade aplicada ao setor público obedece a leis, normas e características qualitativas. Resumidamente, ela é regulamentada pela Lei nº 4.320/64, Lei Complementar nº 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal), Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público - NBC TSP - e dentro destas as características qualitativas e o Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público. 2.2 SISTEMAS DE INFORMAÇÕES Como já vimos, a contabilidade pública se difere das demais, uma vez que as entidades do setor público têm como objetivo prestar contas para a sociedade, diferentemente das empresas do setor privado, que buscam obter lucros. Além dessa característica primordial que difere as duas contabilidades, temos as seguintes particularidades: • O orçamento público: A Constituição brasileira exige a elaboração do orçamento anual, a sua aprovação pelo poder Legislativo e a sua disponibilização à sociedade. (...) a elaboração de demonstrativo que apresenta e compara a execução do orçamento com o orçamento previsto é o mecanismo normalmente utilizado para demonstrar a conformidade com os requisitos legais relativos às fi nanças públicas (BRASIL, 2017, p. 22). • Programas e longevidade do setor público: Muitos programas do setor público são de longo prazo, e a capacidade para cumprir os compromissos depende dos tributos e das contribuições a serem arrecadados no futuro. Consequentemente, as demonstrações que evidenciam a situação patrimonial e o desempenho não fornecem todas as informações que os usuários precisam conhecer a respeito dos programas de longo prazo (BRASIL, 2017, p. 22). 21 CONTABILIDADE PÚBLICA Capítulo 1 •Os ativos e os passivos públicos: No setor público, a principal razão de se manterem ativos imobilizados e outros ativos é voltada para o potencial de serviços desses ativos e, não, para a sua capacidade de gerar fl uxos de caixa. Em razão dos tipos de serviços prestados, uma parcela signifi cativa dos ativos utilizados pelas entidades do setor público é especializada, como os ativos de infraestrutura e os ativos militares (BRASIL, 2017, p. 23). • O setor público como órgão regulador: Muitos governos e outras entidades do setor público possuem poder de regulação de entidades que operam em determinados setores da economia, de forma direta ou por meio de agênciasreguladoras. A principal razão da regulação é assegurar o interesse público de acordo com objetivos defi nidos nas políticas públicas ou quando existem falhas de mercados para determinados serviços (BRASIL, 2017, p. 23). A contabilidade pública possui normas e conceitos próprios (como já visto) que a regem, portanto, apresenta algumas peculiaridades que a diferenciam dos outros ramos da contabilidade. Eis as principais diferenças: QUADRO 3 – PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE AS CONTABILIDADES PÚBLICA E EMPRESARIAL Contabilidade Pública Contabilidade Empresarial (Geral) Possui caráter conservador - registro dos atos e fatos baseados em normas legais. Possui maior liberdade - além das normas que a regem, baseia-se em consenso da classe contábil. Não apura lucro, mas défi cit ou superávit. Objetiva apurar lucro - exceção para as entida- des sem fi ns lucrativos. Acompanha e registra a elaboração e a execu- ção orçamentária (art. 83, da Lei nº 4.320/64). Não registra a execução dos orçamentos, pois são atos administrativos. Na União possui sistema único, integrado, infor- matizado e padronizado para fi ns de registro dos atos e fatos contábeis. Os sistemas de controle e registros contábeis não são padronizados, geralmente são adquiridos no mercado ou elaborados pelas próprias empresas. As receitas e as despesas passam por diversas fases ou estágios. Receitas (planejamento, exe- cução, controle e avaliação) e despesas (plane- jamento, execução, controle e avaliação). As receitas e as despesas devem ser incluídas na apuração do resultado do período em que ocorreram, sempre simultaneamente quando se correlacionarem, independentemente de recebi- mento ou pagamento. Exercício fi nanceiro - coincide com o ano civil e vai de 1º de janeiro a 31 de dezembro. O exercício social terá duração de 1 ano e a data do término será fi xada no estatuto. Na constituição da companhia e nos casos de alteração estatutária o exercício social poderá ter duração diversa. FONTE: Carvalho (2010) 22 Contabilidade Pública Conhecidos os conceitos das principais diferenças encontradas na contabilidade aplicada ao setor público, devemos saber que para acompanhar as contas públicas temos três sistemas de informações que objetivam fornecer as informações para este acompanhamento, são eles: • Sistema Orçamentário: que tem como fi nalidade evidenciar as informações provenientes do orçamento público, desde a sua aprovação até a sua execução. As informações provenientes do sistema orçamentário são a base para a elaboração de relatórios e demonstrações contábeis (essas que serão vistas no próximo capítulo) como o Relatório Resumido da Execução Orçamentária (RREO) e para o Balanço Orçamentário e Financeiro. • Sistema Patrimonial: que tem como fi nalidade fornecer informações relativas ao patrimônio das entidades públicas. O sistema patrimonial deve obedecer às normas que estejam alinhadas com o reconhecimento e a mensuração de ativos e passivos. As informações do sistema patrimonial são a base para a elaboração de algumas demonstrações contábeis, são elas: o Balanço Patrimonial e a Demonstração das Variações Patrimoniais. • Sistema Fiscal: que tem por objetivo fornecer informações relativas aos indicadores provenientes da Lei de Responsabilidade Fiscal. Como vimos anteriormente, a Lei de Responsabilidade Fiscal impõe limites e orientações acerca das despesas com pessoal, operações de crédito e da dívida consolidada, além da apuração da disponibilidade de caixa, do resultado primário e do resultado nominal. Estas informações provindas do aspecto fi scal têm por objetivo verifi car o equilíbrio das contas públicas. Como vimos no decorrer desta seção, a contabilidade aplicada ao setor público é diferente da contabilidade aplicada às empresas privadas, pois não tem por objetivo lucros, mas, sim, prestar contas à sociedade. O orçamento público é importante para as entidades públicas, mantém caráter regulador, atuam com longevidade as ações e os órgãos públicos, além do uso diferenciado dos ativos e passivos públicos. Diante disso, os sistemas de informações contábeis são divididos em três e fornecem informações variadas, tanto para acompanhamento das contas públicas quanto para a elaboração de demonstrações contábeis. 23 CONTABILIDADE PÚBLICA Capítulo 1 2.3 EXERCÍCIO FINANCEIRO E REGIMES CONTÁBEIS As operações contábeis são registradas de acordo com a sua ocorrência e período contábil. O período contábil em questão é o exercício fi nanceiro, conforme o art. 34 da Lei nº 4.320/1964, o exercício fi nanceiro coincidirá com o ano civil, ou seja, de 1º de janeiro a 31 de dezembro de cada ano. Já o Art. 35 da Lei nº 4.320/1964 afi rma que pertencem ao exercício fi nanceiro: as receitas nele arrecadadas e as despesas nele legalmente empenhadas. Os atos contábeis são os eventos que ocasionam variações patrimoniais, eles são classifi cados como aumentativos: aumentam o patrimônio da entidade; diminutivos: diminuem o patrimônio da entidade; e mistos: em que apenas há permuta entre os elementos patrimoniais, não alterando quantitativamente o patrimônio. Estes fatos contábeis devem seguir um regime de escrituração, mas o que são os regimes de escrituração? O regime de escrituração é o sistema de escrituração contábil que a empresa (ou entidade pública) adota para reconhecimento de receitas e despesas. Na contabilidade pública também são adotados regimes de escrituração, porém, diferentemente da forma como é adotado para as empresas privadas. Enquanto as empresas privadas adotam um sistema único, ou seja, ou adotam o regime de caixa ou de competência, na contabilidade pública são adotados os dois concomitantemente, sendo considerado um regime misto. O Regime de Caixa é o regime no qual as receitas/despesas são registradas no momento do recebimento/pagamento mediante dinheiro ou equivalentes. O Regime de Competência é o regime de escrituração, as receitas/despesas são registradas no momento da ocorrência, sem ter ocorrido o pagamento ou o recebimento, conforme quadro a seguir: 24 Contabilidade Pública QUADRO 4 – REGIMES DE ESCRITURAÇÃO DA CONTABILIDADE PÚBLICA Contas de Natureza de informação Orçamentária Contas de Natureza de informação Patrimonial Evento Critério BaseNormativa Evento Critério Base Normativa Receita Orçamentária Arrecadação Lei n° 4.320/1964 art. 35 Variação Patrimonial Aumentativa Competência NBC TSP - Estrutra Conceitual Despesa Orçamentária Empenho Lei n° 4.320/1964 art. 35 Variação Patrimonial Diminutiva Competência NBC TSP - Estrutra Conceitual FONTE: Brasil (2017) Conforme visto nesta seção, existem dois regimes de escrituração, a contabilidade utiliza os dois. Vimos também que o exercício fi nanceiro obedece ao mesmo período do exercício civil. 2.4 ESCRITURAÇÃO, PLANO E SISTEMAS DE CONTAS O plano de contas aplicado ao setor público - PCASP - é essencial para a escrituração dos atos e fatos contábeis. Ele obedece a um padrão para que sejam escriturados de forma padronizada e sistemática pelo órgão público. Portanto, precisamos entender qual é o objetivo do plano de contas e como é a sua estrutura. Conforme o MCASP (BRASIL, 2017), que orienta os procedimentos contábeis aplicados ao setor público, o PCASP tem por objetivo: • Padronizar os registros contábeis das entidades do setor público. • Distinguir os registros de natureza patrimonial, orçamentária e de controle. • Atender à administração direta e à administração indireta das três esferas de governo, inclusive quanto às peculiaridades das empresas estatais dependentes e dos Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS). 25 CONTABILIDADE PÚBLICA Capítulo 1 • Permitir o detalhamento das contas contábeis, a partir do nível mínimo estabelecido pela STN, de modo que possa ser adequado às peculiaridades de cada ente. • Permitir a consolidação nacional das contaspúblicas. • Permitir a elaboração das Demonstrações Contábeis Aplicadas ao Setor Público (DCASP) e dos demonstrativos do Relatório Resumido de Execução Orçamentária (RREO) e do Relatório de Gestão Fiscal (RGF). • Permitir a adequada prestação de contas, o levantamento das estatísticas de fi nanças públicas, a elaboração de relatórios nos padrões adotados por organismos internacionais - a exemplo do Government Finance Statistics Manual (GFSM) do Fundo Monetário Internacional (FMI), bem como o levantamento de outros relatórios úteis à gestão. • Contribuir para a adequada tomada de decisão e para a racionalização de custos no setor público. • Contribuir para a transparência da gestão fi scal e para o controle social. Conhecidos os objetivos do PCASP, vamos agora entender como é a sua estrutura. Como vimos na seção anterior, temos os sistemas de informações contábeis, que são segregados em patrimonial, orçamentário e fi scal. Então, são deles que as informações são originadas, chamadas de natureza da informação contábil, estas informações são organizadas de acordo com o plano de contas. São separadas como natureza da informação contábil e vão registrar, processar e evidenciar as seguintes informações: • Orçamentária: os atos e os fatos relacionados ao planejamento e à execução orçamentária. • Patrimonial: os fatos fi nanceiros e não fi nanceiros relacionados com a composição do patrimônio público e suas variações qualitativas e quantitativas. • De controle: os atos de gestão cujos efeitos possam produzir modifi cações no patrimônio da entidade do setor público, bem como aqueles com funções específi cas de controle. O plano de contas, buscando melhor detalhamento da natureza das informações, segue uma divisão de oito (8) classes, são elas: Classes da natureza patrimonial: elas são sempre acompanhadas primeiramente do número da primeira classe e o nome da conta em seguida, conforme: 1. ATIVO 26 Contabilidade Pública 2. PASSIVO 3. VARIAÇÕES PATRIMONIAIS DIMINUTIVAS 4. VARIAÇÕES PATRIMONIAIS AUMENTATIVAS Da mesma forma, as classes de natureza orçamentária, também acompanhadas de número e da primeira classe e o nome da conta em seguida: 5. CONTROLES DA APROVAÇÃO DO PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO 6. CONTROLES DA EXECUÇÃO DO PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO Por último, temos as classes de natureza de controle: 7. CONTROLES DEVEDORES 8. CONTROLES CREDORES Conhecida a primeira classe de contas, veremos como ocorrem os desdobramentos das demais contas, conforme mostrado na fi gura a seguir: FIGURA 1 – DESDOBRAMENTO DO PLANO DE CONTAS FONTE: Brasil (2017) Como vimos anteriormente, no primeiro nível tem-se as informações de natureza orçamentária, patrimonial e de controle. Na fi gura anterior vimos que temos obrigatoriamente desdobramento até o sétimo nível. Já no Quadro 5, a seguir, temos as informações relativas ao segundo nível, denominadas de Grupos. 27 CONTABILIDADE PÚBLICA Capítulo 1 QUADRO 5 – DESDOBRAMENTO PLANO DE CONTAS Desdobramento plano de contas no segundo nível 1 – Ativo 1.1 - Ativo Circulante 1.2 - Ativo Não Circulante 2 – Passivo e Patrimônio Líquido 2.1 - Passivo Circulante 2.2 - Passivo Não Circulante 2.3 - Patrimônio Líquido 3 – Variação Patrimonial Diminutiva 3.1 - Pessoal e Encargos 3.2 - Benefícios Previdenciários e Assistenciais 3.3 - Uso de Bens, Serviços e Consumo de Capital Fixo 3.4 - Variações Patrimoniais Diminutivas Financeiras 3.5 - Transferências e Delegações Concedidas 3.6 - Desvalorização e Perda de Ativos e Incorporação de Passivos 3.7 - Tributárias 3.8 - Custo das Mercadorias Vendidas, dos Produtos Vendidos e dos Serviços Prestados 3.9 - Outras Variações Patrimoniais Diminutivas 4 – Variação Patrimonial Aumentativa 4.1 - Impostos, Taxas e Contribuições de Melhoria 4.2 - Contribuições 4.3 - Exploração e venda de bens, serviços e direitos 4.4 - Variações Patrimoniais Aumentativas Financeiras 4.5 - Transferências e Delegações Recebidas 4.6 - Valorização e Ganhos com Ativos e Desincorporação de Passivos 4.9 - Outras Variações Patrimoniais Aumentativas 5 – Controles da Aprovação do Planejamento e Orçamento 5.1 - Planejamento Aprovado 5.2 - Orçamento Aprovado 5.3 - Inscrição de Restos a Pagar 6 – Controles da Execução do Planejamento e Orçamento 6.1 - Execução do Planejamento 6.2 - Execução do Orçamento 6.3 - Execução de Restos a Pagar 7 – Controles Devedores 7.1 - Atos Potenciais 7.2 - Administração Financeira 7.3 - Dívida Ativa 7.4 - Riscos Fiscais 7.5 - Consórcios Públicos 7.8 - Custos 7.9 - Outros Controles 8 – Controles Credores 8.1 - Execução dos Atos Potenciais 8.2 - Execução da Administração Financeira 8.3 - Execução da Dívida Ativa 8.4 - Execução dos Riscos Fiscais 8.5 - Execução dos Consórcios Públicos 8.8 - Apuração de Custos 8.9 - Outros Controles FONTE: Brasil (2017) A partir destes níveis 1 e 2 apresentados no quadro anterior, o ente federativo detalhará as suas contas em seus devidos planos de contas. Os entes da federação só poderão ter autonomia para detalhar mais o plano de contas a partir do que foi publicado no PCASP. Por exemplo: se no PCASP está detalhado até o nível 6, então o ente da federação poderá, a partir do 7º nível, detalhar mais o plano de contas. 28 Contabilidade Pública Tem-se no nível 5 o código de consolidação das demonstrações contábeis, neste nível são detalhadas as contas que são ou não incluídas na consolidação das demonstrações contábeis. O quinto nível é detalhado em INTRA OFSS (Orçamento Fiscal e da Seguridade Social), INTER OFSS (Orçamento Fiscal e da Seguridade Social) e consolidado. No quadro a seguir tem-se o conceito: QUADRO 6 – DETALHAMENTO DO NÍVEL 5 5º Nível (Subtítulo) – Consolidação x.x.x.x.1.xx.xx CONSOLIDAÇÃO Compreende os saldos que não serão excluídos nos demonstrativos consolidados do orçamento fi scal e da seguridade social (OFSS). x.x.x.x.2.xx.xx INTRA OFSS Compreende os saldos que serão excluídos nos demonstrativos consolidados do Orçamento Fiscal e da Seguridade Social (OFSS) do mesmo ente. x.x.x.x.3.xx.xx INTER OFSS – UNIÃO Compreende os saldos que serão excluídos nos demonstrativos consolidados do Orçamento Fiscal e da Seguridade Social (OFSS) de entes públicos distintos, resultantes das transações entre o ente e a União. x.x.x.x.4.xx.xx INTER OFSS – ESTADO Compreende os saldos que serão excluídos nos demonstrativos consolidados do Orçamento Fiscal e da Seguridade Social (OFSS) de entes públicos distintos, resultantes das transações entre o ente e um estado. x.x.x.x.5.xx.xx INTER OFSS – MUNICÍPIO Compreende os saldos que serão excluídos nos demonstrativos consolidados do Orçamento Fiscal e da Seguridade Social (OFSS) de entes pú- blicos distintos, resultantes das transações entre o ente e um município. FONTE: Brasil (2017) Como visto no quadro anterior, são utilizados os respectivos dígitos para segregar e detalhar o nível 5, a fi m de auxiliar na consolidação das demonstrações contábeis dos entes públicos. No entanto, devemos saber quais são as operações que pertencem a cada grupo do nível 5. Vejamos o Quadro 7: 29 CONTABILIDADE PÚBLICA Capítulo 1 QUADRO 7 – OPERAÇÕES IDENTIFICADAS NO NÍVEL 5 Operações Identifi cadas no Nível 5 1 – Consolidação Transações entre uma entidade que pertence ao OFSS de um ente público e uma entidade privada, por exemplo: pessoas físicas; empresas, associações e fundações privadas; organizações sociais; organismos internacionais. Transações entre uma entidade que pertence ao OFSS de um ente público e uma entidade pública que não pertence ao OFSS de qualquer ente público, por exemplo: empresas estatais independentes. Alterações patrimoniais dentro de uma mesma entidade, por exemplo: depre- ciação. Registro e a baixa de ativos, no caso de transferência de ativos entre entida- des públicas, por exemplo: doação de bens de um ente a outro, transferência dos créditos para inscrição em dívida ativa entre a unidadede origem e a unidade responsável por sua inscrição. Transações entre uma entidade que pertence ao OFSS de um ente público e uma entidade que não pertença a nenhum OFSS, porém, seja obrigada a utilizar o PCASP. Exemplo: conselhos profi ssionais. Registros de uma entidade que utilize o PCASP por exigência normativa ou voluntariamente, porém, não faça parte do OFSS de nenhum dos entes. Exemplo: conselhos profi ssionais e empresas estatais independentes. 2 - Intra OFSS Identifi carão as operações decorrentes de transações entre entidades que pertencem ao OFSS do mesmo ente público. 3, 4 e 5 - Inter OFSS Identifi carão as operações decorrentes de transações entre entidades que pertencem a OFSS de entes públicos distintos, tais como: a. Repartição dos créditos tributários do ente público federal para o ente esta- dual ou municipal. b. Alterações patrimoniais decorrentes da transferência de bens móveis ou imóveis entre entes públicos distintos que utilizam o PCASP. FONTE: Brasil (2017) Conhecidos os níveis do plano de contas, agora temos os elementos necessários para a escrituração ou lançamentos dos atos e fatos contábeis. Da mesma forma que ocorre nas empresas privadas, a contabilidade pública obedece ao método das partidas dobradas, que consiste em débitos e créditos relativos às operações. Vejamos como esses lançamentos ocorrem utilizando-se as oito classes pertencentes ao nível 1 (ativo, passivo e patrimônio líquido, variações patrimoniais aumentativas, variações patrimoniais diminutivas, controles da aprovação do planejamento e orçamento, controles de execução do planejamento e orçamento, controles devedores e controles credores). Os débitos e os créditos deverão ocorrer apenas entre elementos da mesma natureza das contas, ou seja: 30 Contabilidade Pública • Lançamentos de natureza patrimonial: apenas debitam e creditam contas das classes 1, 2, 3 e 4. • Lançamentos de natureza orçamentária: apenas debitam e creditam contas das classes 5 e 6. • Lançamentos de natureza de controle: apenas debitam e creditam contas das classes 7 e 8. É incorreto creditar uma conta com elemento de natureza orçamentária de classe 5 e debitar elemento de natureza patrimonial de classe 2. O correto é que os lançamentos contábeis ocorram entre elementos da mesma natureza, ou seja: debitar conta de natureza orçamentária 5 e creditar conta de natureza orçamentária também (5). Vejamos um exemplo de lançamento contábil correto. A fi xação da despesa apenas poderá ser registrada por meio do seguinte lançamento: Fixação de despesa Natureza da informação: orçamentária D 5.2.2.1.1.xx.xx Dotação Inicial C 6.2.2.1.1.xx.xx Crédito Disponível Veja que tanto o débito quanto o crédito são feitos entre elementos da mesma natureza. Então, como visto no decorrer da seção, o plano de contas aplicado ao setor público segue uma hierarquia de desdobramento e os entes da federação devem obedecer ao desdobramento até o sétimo nível, após isso poderá ser mais detalhado de forma autônoma pelo ente federativo. Vimos também que a escrituração das contas públicas deve ocorrer entre os elementos da mesma natureza. 2.5 PRESTAÇÃO DE CONTAS As empresas privadas são obrigadas a publicar demonstrativos contábeis do exercício fi nanceiro anterior a fi m de prestar contas aos seus investidores. Os órgãos públicos também têm a obrigação de publicação de demonstrativos e relatórios contábeis com o objetivo de prestar contas à sociedade. Para isso, todos os conteúdos apontados durante o capítulo orientam a elaboração dos demonstrativos contábeis para posteriormente ocorrer a prestação de contas. 31 CONTABILIDADE PÚBLICA Capítulo 1 Como vimos anteriormente, a contabilidade pública permite aos usuários das informações dela provenientes acompanhar a origem e a aplicação dos recursos públicos. Por isso a prestação de contas é importante para a sociedade. Como é feita essa prestação de contas? Primeiramente, ela é feita por meio da publicação das demonstrações e dos relatórios contábeis. A Lei Complementar nº 101/2000 institui quais são as demonstrações contábeis aplicadas ao setor público, que são: • Balanço Orçamentário. • Balanço Financeiro. • Balanço Patrimonial. • Demonstração das Variações Patrimoniais. • Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC). • Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL). A publicação da Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011, foi importante para o acompanhamento das contas públicas, pois conforme instituído pela lei: Art. 1o Esta Lei dispõe sobre os procedimentos a serem observados pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, com o fi m de garantir o acesso a informações previsto no inciso XXXIII do art. 5o, no inciso II do § 3º do art. 37 e no § 2º do art. 216 da Constituição Federal. Parágrafo único. Subordinam-se ao regime desta Lei: I - os órgãos públicos integrantes da administração direta dos Poderes Executivo, Legislativo, incluindo as Cortes de Contas, e Judiciário e do Ministério Público; II - as autarquias, as fundações públicas, as empresas públicas, as sociedades de economia mista e demais entidades controladas direta ou indiretamente pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios (BRASIL, 2011, s.p.). O Portal de Transparência do Governo é um dos canais de prestação de contas à sociedade, já que são neles que as informações estão presentes, desde os demonstrativos contábeis até informações mais detalhadas da origem de receitas e gastos públicos. O Portal de Transparência pode ser acessado pelo seguinte link: <http://www.portaltransparencia.gov.br/>. 32 Contabilidade Pública 1 Quais são as leis mais importantes aplicadas à contabilidade pública? R.: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2 Como a Lei nº 101/2000 - Lei de Responsabilidade Fiscal - atua sobre as contas públicas? R.: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 3 Quais são os objetivos da entidade pública em manter um plano de contas? R.: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Com relação a essa seção, vimos sobre a prestação de contas e como encontrar estas informações no site do governo. A prestação de contas é importante para o cidadão no acompanhamento dos gastos públicos. 33 CONTABILIDADE PÚBLICA Capítulo 1 4 O plano de contas possui uma série de desdobramentos com relação aos níveis hierárquicos. Como eles são estruturados? Qual é o mínimo de níveis obrigatórios nos PCASPs? R.: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 5 Do que trata o nível 5 do plano de contas? Qual a importância dele para os órgãos públicos? R.: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 6 Qual é o período do exercício fi nanceiro? R.: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 7 Como os órgãos públicos prestam contas à sociedade? R.: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ LEITURA COMPLEMENTAR PROCESSO de Implantação do Plano de Contas Aplicado ao Setor Público (PCASP): Análise sobre a percepção de contadores públicos sobre o Sistema de Planejamento e Gestão Fiscal de Santa Catarina (SIGEF) Autores: Ana Paula Theodoro e Fabrícia Silva da Rosa (2017). Palavras-chave: Teoria Institucional. Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público (NBCASP). Plano de Contas Aplicado ao Setor Público (PCASP). 34 Contabilidade Pública As entidades públicas brasileiras estão passando por grandes mudanças nos últimos anos, caracterizadas pelo uso de ferramentas contábeis capazes de expressar informações que servirão de base para consolidação de relatórios no setor público. Conforme Silva (2011), com a edição das NBC TSP foi aberto o caminho para a uniformização dos procedimentos contábeis e o reconhecimento da contabilidade como ciência que estuda o patrimônio. Em 2008, o Ministério da Fazenda editou a Portaria nº 184, que trata sobre as diretrizes a serem observadas no Setor Público referente aos procedimentos, práticas, elaboração e divulgação das demonstrações contábeis, de forma a torná-las correspondentes com as Normas Internacionais de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público (NBCASP), expressas pela International Public Sector Accounting Standards - IPSAS -, e elaboradas pelo International Federation of Accountants - IFAC -, entidade responsável por elaborar as normas internacionais de contabilidade. Neste sentido, as NBCASP, de acordo com Rosa (2013, p. 4), “além de serem consideradas um marco conceitual, constituem uma verdadeira revolução na Contabilidade do setor público brasileiro”. Essas normas internacionais foram introduzidas no Brasil a partir de um cronograma de transição pelos entes subnacionais, como Estados e Municípios, além da própria União, respeitando-se um cronograma que ainda está em andamento no país, e o Plano de Contas Aplicado ao Setor Público (PCASP), segundo Rosa (2013), seria adotado integralmente até o fi m de 2014, conforme estabelecido no cronograma de ações constantes no anexo l da portaria/STN 439, de 12/07/2012. Segundo Feitosa (2012), o objetivo geral do PCASP orbita em torno da redução de divergências conceituais e procedimentais, em benefício da transparência da gestão fi scal, da racionalização de custos nos entes da Federação e do controle social. A forma de cumprimento dos objetivos estabelecidos no cronograma foi defi nida por cada ente subnacional, mantendo assim seus próprios controles para alcançar os objetivos, mas acredita-se que devem ter sido cumpridos, em maior ou menor grau. Partindo do pressuposto que as organizações acabaram por realizar as mudanças, uma das teorias que estão sendo utilizadas para compreendê-las é a teoria institucional (BURNS; SCAPENS, 2000). Essa teoria, segundo Frezatti et al. (2009), sob a vertente da Velha Economia Institucional, prevê que a contabilidade deve ser tratada como uma instituição, que conduz suas próprias características conceituais. 35 CONTABILIDADE PÚBLICA Capítulo 1 De acordo com Scott (2004), ao verifi car transformações em organizações, que abrangem características do comportamento humano, como a determinação de novas regras e a modifi cação de estruturas organizacionais, a teoria institucional age com efi cácia para entender os resultados de tais mudanças. Cruz, Major e Scapens (2009) destacam que, de acordo com essa base teórica, regras são estabelecidas e devem tornar-se práticas para a organização. Neste artigo, especifi ca-se esse processo de mudança ocorrida no âmbito do Estado de Santa Catarina, entidade subnacional, obrigada a executar os procedimentos de adoção do PCASP, a partir das Normas Internacionais de Contabilidade Aplicada ao Setor Público - NBCASP -, inseridas pelo Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público - MCASP - e isso precisava ser absorvido pelos sistemas de informação dos entes públicos e, no caso do Estado de Santa Catarina, pelo Sistema de Planejamento e Gestão Fiscal de Santa Catarina - SIGEF. Neste contexto, o referido artigo tem por objetivo analisar a percepção de contadores públicos no processo de implantação do plano de contas aplicado ao setor público - PCASP - no Estado de Santa Catarina. Para tanto, baseou-se na Teoria Institucional com ênfase na Velha Economia Institucional, as NBCASP, considerando a implantação do PCASP no SIGEF e o impacto de sua utilização com a mudança, buscando auferir resultados a partir de um questionário que foi direcionado às pessoas que colocaram em prática e às que foram impactadas com a sua utilização. O estudo objetivou analisar a percepção de contadores públicos no processo de implantação do Plano de Contas Aplicado ao Setor Público (PCASP) no Estado de Santa Catarina. Para tanto, foi elaborado um questionário visando identifi car como este processo foi planejado pelos gestores, codifi cado, incorporado, reproduzido e institucionalizado no Estado, sob a percepção dos Contadores da Fazenda Estadual. Assim, foram realizadas perguntas aos atores desse processo, quais sejam, a Diretoria de Contabilidade Geral, envolvendo a Direção e os Gerentes das Gerências de Contabilidade Centralizada e de Sistemas de Gestão Fiscal, e os Contadores da Fazenda Estadual, em uma população de 85 pessoas, tendo respondido 33 profi ssionais, caracterizando a amostra do estudo. Na análise de resultados, as respostas do gestor da DCOG nesse processo indicaram um planejamento para a implantação do PCASP dentro do cronograma estabelecido pelas normas, com a criação de um grupo de trabalho específi co para esse fi m, além de debate e sugestões entre os gerentes, coordenadores 36 Contabilidade Pública e assessores, sintetizando que um dos princípios da diretoria é a inovação constante na busca da desburocratização e promoção da transparência. O papel dos sistemas de informação é imprescindível para a formulação de qualquer mudança dentro de um organismo complexo, como é o Estado, e as respostas do responsável por esse setor demonstraram que havia objetivos claros na mudança do processo, como o cumprimento do cronograma estabelecido e a minimização do impacto para os usuários do sistema, que segundo esse gestor, foram cumpridos. Ao analisar as respostas do gestor da equipe do grupo de trabalho responsável pela implementação do PCASP, entende-se que a execução do planejamento foi bem-sucedida, pois o objetivo de minimizar o impacto junto aos usuários foi atendido, além de citar a sensibilização da mudança em razão de treinamentos realizados. Um dos aspectos importantes da pesquisa foi perceber que os respondentes têm uma boa experiência na função que exercem, em razão de estarem pelo menos há mais de seis anos no cargo, o que ajuda no processo de análise. Além disso, na percepção desses usuários, a imposição legal e a padronização foram determinantes para a mudança, e quemesmo depois de implementada, ainda existem situações a serem abordadas. Para o processo de codifi cação, notou-se uma predominância das respostas quanto à aceitação e à participação do processo de planejamento pelos usuários, além da percepção de sucesso na execução e acompanhamento das mudanças dentro do processo de incorporação. No processo de reprodução das mudanças, notou-se que não houve muitos questionamentos individuais ou de grupos quanto ao modelo de mudança em si, o que se conjuga com a visão de imposição legal tratada no item dos motivos. De outra forma, a maioria concordou que foi receptiva quanto à mudança e que ela ajudou a melhorar as rotinas contábeis, embora não houvesse monitoramento nessa etapa. A análise da percepção dos gestores de topo e dos contadores sobre o processo de institucionalização revelou que houve tempo sufi ciente para funcionamento do PCASP, confi abilidade das informações e salto de qualidade nas informações contábeis após esse processo. Em questões complementares, observou-se que as principais mudanças citadas foram em rotinas contábeis, o que melhora o funcionamento da máquina pública no enfoque no patrimônio, melhorando a gestão e o regime de 37 CONTABILIDADE PÚBLICA Capítulo 1 competência, corolário da contabilidade. Também se identifi cou que a mudança foi aderente aos valores e às crenças da organização e que as difi culdades estiveram relacionadas à adaptação às novas rotinas e à quebra de paradigmas, o que pode ser considerado como hipótese da mudança conceitual. Claro que tudo isso foi vencido por cada pessoa ao longo do processo de maneira particular, mas as respostas indicaram um caminho universal, o conhecimento, e este foi adquirido nesse processo por estudo minucioso em razão de envolvimento com a mudança e capacitações e treinamentos disponibilizados. Por fi m, o estudo foi limitado a usuários que são contadores por formação, mas não foram os únicos impactados, pois atualmente muitas pessoas inserem informações que são utilizadas pela contabilidade, já que o SIGEF é utilizado para registrar toda a execução orçamentária, fi nanceira e patrimonial do Estado, além de módulos gerenciais integrados, como contratos administrativos, transferências e precatórios, entre outros e, assim, sugere-se um estudo com os demais usuários que inserem tais informações para perceber o real impacto da implantação do PCASP em Santa Catarina. Para a implantação de mudanças em processos semelhantes, sugere- se a elaboração de um planejamento, com acompanhamento na execução e monitoramento de sua execução, com participação das pessoas impactadas pela mudança, práticas consideradas válidas pelos respondentes no processo de implantação do PCASP. FONTE: <http://dvl.ccn.ufsc.br/8congresso/anais/7CCF/20170815150224.pdf>. Acesso em: 19 jan. 2019. 3 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Como vimos, esse capítulo teve por objetivo fazer o aluno ter contato com a contabilidade pública e conhecer os termos e as noções contábeis aplicados à gestão pública. Para isso, foi apresentado ao aluno como a contabilidade é aplicada ao setor público por meio de leis (Lei nº 4.320/1964 e Lei nº 101/2000), que consistem nas leis mais importantes que regem a contabilidade pública e impõem limites aos gastos públicos, bem como das normas e manual. Na segunda seção, o aluno pôde ver que as informações contábeis que têm sua origem na atuação dos entes públicos são segregadas em três (orçamentária, patrimonial e fi scal), tendo por objetivo organizar as contas públicas, permitindo 38 Contabilidade Pública assim a elaboração dos demonstrativos e relatórios contábeis que servirão para a prestação de contas à comunidade. Após isso, o aluno pôde aprender sobre o exercício fi nanceiro que rege a elaboração das demonstrações contábeis, bem como os sistemas de escrituração contábil que as entidades públicas estão sujeitas. Após, foi apresentado o plano de contas e como deve ocorrer a escrituração dos atos e fatos contábeis, observando que as leis, as normas e os princípios, assim como os sistemas de informações e regimes contábeis estão presentes para organizar e elaborar o plano de contas dos lançamentos contábeis. Por último, foi apresentado ao aluno como ocorre a prestação de contas dos órgãos públicos e o acesso à informação pública, fechando, desta forma, as cinco seções presentes nesse capítulo. Portanto, espera-se que ao fi nal da leitura do capítulo o aluno seja capaz de entender as particularidades da contabilidade pública em relação à contabilidade das empresas privadas, bem como ter conhecimentos sobre esses elementos básicos apresentados. Ao entender esses elementos, é garantido que o aluno terá conhecimento de como são elaboradas as demonstrações contábeis e como é a atuação do contador nos órgãos públicos. No próximo capítulo, o aluno terá conhecimento das demonstrações contábeis obrigatórias que a entidade pública deverá publicar, obedecendo o que foi visto até aqui. REFERÊNCIAS BRASIL. Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público (MCASP): exercício 2017. 7. ed. Portaria Conjunta STN/SOF n. 2, de 22 de dezembro de 2016. 2017. Disponível em: <http://www.tesouro. fazenda.gov.br/documents/10180/456785/MCASP+7%C2%AA%20 edi%C3%A7%C3%A3o+Vers%C3%A3o+Final.pdf/6e874adb-44d7-490c-8967- b0acd3923f6d>. Acesso em: 19 jan. 2019. ______. Lei n. 12.527, de 18 de novembro de 2011. Regula o acesso a informações previsto no inciso XXXIII do art. 5o, no inciso II do § 3o do art. 37 e no § 2o do art. 216 da Constituição Federal; altera a Lei no 8.112, de 11 de dezembro de 1990; revoga a Lei no 11.111, de 5 de maio de 2005, e dispositivos da Lei no 8.159, de 8 de janeiro de 1991; e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12527.htm>. Acesso em: 19 jan. 2019. 39 CONTABILIDADE PÚBLICA Capítulo 1 ______. Resolução CFC n. 1.128. Aprova a NBC T 16.1 – Conceituação, Objeto e Campo de Aplicação. 2008. Disponível em: <https://internet. sefaz.es.gov.br/contas/contabilidade/orientacaoContabil/arquivos/ normasbrasileirasdecontabilidadeaplicadasaosetorpublicoealteracoes.pdf>. Acesso em: 19 jan. 2019. ______. Lei Complementar n. 101, de 4 de maio de 2000. Estabelece normas de fi nanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fi scal e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/ LCP/Lcp101.htm>. Acesso em: 1 nov. 2018. ______. Lei n. 4.320, de 17 de março de 1964. Estatui Normas Gerais de Direito Financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. Disponível em: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L4320.htm>. Acesso em: 20 out. 2018. CARVALHO, D. Orçamento e contabilidade pública: teoria, prática e mais de 800 exercícios. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. ROSA, M. B. Contabilidade do setor público. São Paulo: Atlas, 2011. SILVA, L. M. da. Contabilidade governamental: um enfoque administrativo da nova contabilidade pública. São Paulo: Atlas, 2011. THEODORO, A. P.; ROSA, F. S. da. Processo de Implantação do Plano de Contas Aplicado ao Setor Público (PCASP): análise sobre a percepção de contadores públicos sobre o Sistema de Planejamento e Gestão Fiscal de Santa Catarina (SIGEF), 2017. 40 Contabilidade Pública CAPÍTULO 2 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS APLICADAS À ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem: Saber: o objetivo do capítulo é apresentar aos alunos as demonstrações contábeis aplicadas à administração pública. Fazer: ao fi nal deste capítulo, o aluno deverá saber quais são as demonstrações contábeis aplicadas ao setor público e compreender suas particularidades e diferenças com relação à contabilidade de empresas. 42 Contabilidade Pública 43 DEMONSTRAÇÕESCONTÁBEIS APLICADAS À ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Capítulo 2 1 CONTEXTUALIZAÇÃO O Capítulo 2 tem por fi nalidade apresentar ao aluno as demonstrações contábeis aplicadas ao setor público, que possuem particularidades em relação às demonstrações contábeis aplicadas às empresas privadas. Primeiramente será apresentado o Balanço Orçamentário, que trata da previsão de receitas e fi xação de despesas, serão mostrados os conceitos e os quadros que integram a demonstração. Após serão apresentados o Balanço Financeiro, o Balanço Patrimonial, a Demonstração das Variações Patrimoniais, as Demonstrações dos Fluxos de Caixa e, por último, as Demonstrações das Variações Patrimoniais. Neste capítulo também serão propostas duas leituras complementares que são adaptadas de artigos científi cos. Estas leituras complementares, além de fazerem o aluno ter contato com a pesquisa científi ca, trará melhor compreensão dos conceitos apresentados. Ao fi nal do capítulo será permitido ao aluno fazer exercícios de revisão para que possa memorizar e testar os seus conhecimentos. Bons estudos! 2 ELEMENTOS DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS Para a elaboração das demonstrações contábeis aplicadas ao setor público são utilizados elementos contábeis patrimoniais, de resultado e orçamentário. De acordo com a NBC TSP -Estrutura Conceitual, tanto a estrutura de apresentação quanto os elementos “fornecem um ponto inicial para reconhecer, classifi car e agregar dados e atividades econômicas de maneira a fornecer aos usuários informação que satisfaça aos objetivos e atinja as características qualitativas da informação contábil, levando em consideração as restrições sobre esta” (BRASIL, 2017, p. 141). Cabe destacar que neste livro serão apresentados os conceitos dos elementos contábeis que compõem as demonstrações e não seus critérios de reconhecimento, que são eles: • Ativo. • Passivo. • Receitas. 44 Contabilidade Pública • Despesas. • Contribuições dos proprietários. • Distribuições dos proprietários. 2.1 ATIVO O conceito de ativo é: um recurso controlado no presente pela entidade como resultado de evento passado. Se sabemos que o ativo é um recurso, o que é um recurso? Recurso é um item com potencial de serviços ou com a capacidade de gerar benefícios econômicos. A forma física não é uma condição necessária para um recurso. O potencial de serviços ou a capacidade de gerar benefícios econômicos pode surgir diretamente do próprio recurso ou dos direitos de sua utilização. Alguns recursos incluem os direitos da entidade a uma série de benefícios, inclusive, por exemplo, o direito a: • Utilizar o recurso para a prestação de serviços (inclusive bens). • Utilizar os recursos de terceiros para prestar serviços, como arrendamento mercantil. • Converter o recurso em caixa por meio da sua alienação. • Benefi ciar-se da valorização do recurso. • Receber fl uxos de caixa. Então, o ativo é um recurso controlado no presente pela entidade. Ser controlado no presente é a capacidade de a empresa poder usar o recurso ou controlá-lo visando benefícios econômicos. Como forma de saber se a empresa controla o recurso no presente, podem ser observados os seguintes indicadores, conforme publicado no MCASP (BRASIL, 2017): • Ser propriedade legal. • Ter acesso ao recurso ou ter a capacidade de negar ou restringir o acesso ao recurso. • Meios que assegurem que o recurso seja utilizado para alcançar os seus objetivos. • A existência de direito legítimo ao potencial de serviços ou à capacidade para gerar os benefícios econômicos advindos do recurso. Ainda, o ativo deve ser proveniente de evento passado, isto é, os ativos sempre são originados de alguma transação que ocorreu no passado, como 45 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS APLICADAS À ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Capítulo 2 compra de ativos por meio de uma transação comercial (com contrapartida) ou emissão de licenças para bandas de frequência de transmissões de telecomunicações (sem contraprestação). Agora conseguimos identifi car que um ativo é um recurso controlado no presente pela entidade como resultado de evento passado, mas os ativos podem ser classifi cados em Circulante e Não Circulante. Os ativos circulantes são classifi cados como aqueles que estão disponíveis para a realização imediata ou até doze meses após a data da elaboração das demonstrações contábeis. Já o ativo não circulante é aquele que tem expectativa de realização além dos doze meses após a elaboração das demonstrações contábeis, além dos ativos fi nanceiros, que são os valores e os créditos realizáveis que independem de autorização orçamentária e, por último, o ativo fi nanceiro e não fi nanceiro, que são os bens, os créditos e os valores, que para alienação ou mobilização, dependem de autorização legislativa. 2.2 PASSIVO Passivo pode ser defi nido como: uma obrigação presente, derivada de evento passado, cuja extinção deva resultar na saída de recursos da entidade. Obrigação presente é aquela que ocorre por força de lei ou não, a qual não possa ser evitada pela entidade. O passivo é classifi cado como Circulante e Não Circulante. De acordo com o MCASP (BRASIL, 2017), os passivos devem ser classifi cados como circulantes quando corresponderem a valores exigíveis até doze meses após a data das demonstrações contábeis. Os demais passivos devem ser classifi cados como não circulantes. Os passivos fi nanceiros são aquelas dívidas fundadas e outros pagamentos que independem de autorização orçamentária. Já o passivo permanente são as dívidas fundadas e outras que dependam de autorização legislativa. 46 Contabilidade Pública 2.3 PATRIMÔNIO LÍQUIDO / SITUAÇÃO PATRIMONIAL LÍQUIDA A situação patrimonial, seja de entidade privada ou pública, é entendida como a diferença entre o ativo e o passivo. Esta situação patrimonial é reconhecida no Balanço Patrimonial como Patrimônio Líquido. No entanto, a situação patrimonial líquida pode ser positiva ou negativa. O patrimônio líquido é composto por: patrimônio ou capital social, reserva de capital, ajustes de avaliação patrimonial, reservas de lucros e demais reservas, ações em tesouraria, resultados acumulados e o resultado do período. 3 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS APLICADAS AO SETOR PÚBLICO Assim como as empresas privadas, nas entidades públicas a publicação de demonstrações contábeis são de caráter obrigatório. De acordo com o Manual de Contabilidade Aplicado ao Setor Público (BRASIL, 2017), as demonstrações contábeis aplicadas ao setor público são: • Balanço Orçamentário. • Balanço Financeiro. • Balanço Patrimonial. • Demonstração das Variações Patrimoniais. • Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC). • Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL). 3.1 BALANÇO ORÇAMENTÁRIO O Balanço Orçamentário é a demonstração contábil que evidenciará as receitas e as despesas previstas em confronto com as realizadas. Nele são apresentadas as receitas e as despesas por categoria econômica e sua origem. A previsão inicial é que exista equilíbrio entre as receitas previstas e as despesas fi xadas, ou seja, os valores de despesas fi xadas não poderiam ultrapassar os valores de receitas previstas. Pode ocorrer de a entidade pública abrir créditos adicionais para fi xação de despesas com valores de superávit de anos anteriores, somente desta forma 47 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS APLICADAS À ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Capítulo 2 valores maiores de despesas fi xadas não causam desequilíbrio das contas públicas. De acordo com o MCASP (BRASIL, 2017), recomenda-se a utilização de notas explicativas para esclarecimentos a respeito da utilização do superávit fi nanceiro e de reabertura de créditos especiais e extraordinários, bem como suas infl uências no resultado orçamentário, de forma a possibilitar a correta interpretação das informações. O Balanço Orçamentário é composto por: • Quadro Principal. • Quadro da Execução dos Restos
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