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CAPÍTUlO 2
dificuldAdeS de AprendizAgem: 
SignificAdo HiStórico e conceito AtuAl
A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
 3 Conhecer a historicidade e o conceito atual do termo dificuldades de aprendizagem. 
 3 Analisar as necessidades educacionais, no contexto escolar, dos alunos com 
dificuldade de aprendizagem. 
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 Dificuldades de Aprendizagem
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dificuldAdes de AprendizAgem:
significAdo Histórico e conceito AtuAl
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 Capítulo 2 
contextuAlizAção
no capítulo anterior, você estudou duas perspectivas do ato de aprender. 
Pressupondo que você refletiu sobre o ato de aprender do ser humano, à luz 
das duas perspectivas apresentadas, é chegada a hora de formular o seu 
conceito de aprendizagem. 
Aproveite o espaço a seguir para organizar um conceito de aprendizagem, 
com base em suas próprias experiências e no que você estudou.
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Partimos da delimitação de um conceito para aprendizagem para compreender 
a não-aprendizagem, pois, como o próprio termo sugere, a não-aprendizagem 
é oposta à aprendizagem. 
 Você percebe o que a não-aprendizagem é capaz de gerar na vida de 
um ser humano?
Visto que a aprendizagem gera desenvolvimento e evolução individual e 
social, a não-aprendizagem os impossibilita. Impedir a evolução individual é 
condenar a própria espécie à estagnação sociocultural e gerar novas situações 
de não-aprendizagem. É como um círculo vicioso.
vamos constatar em um exemplo prático, remetendo nosso pensamento 
à escola: uma criança recém-alfabetizada não consegue aprender (equilibrar 
os novos conceitos aos esquemas antigos ou fazer conexões sinápticas 
eficazes ou, ainda, relacionar o novo conceito real ao conteúdo potencial) 
as regras gramaticais para construção de um texto. Discretamente, sua não-
aprendizagem passa despercebida ao professor que a promove para a série 
ou o nível seguinte. Já no nível seguinte, a criança, que ainda não aprendeu as 
regras gramaticais, não consegue se expressar pela escrita e passa a se sentir 
mal diante de seus colegas. Consequentemente, a criança não ordena seu 
aprendizado em outras disciplinas, o que a deixa à margem do aprendizado 
escolar para aquele nível. Além disso, a criança se exclui do grupo, porque se 
sente diferente dos que aprendem. Suas atitudes no ambiente escolar passam 
a ser agressivas, repulsivas, negando suas habilidades e sua capacidade de 
aprender. Desse momento em diante, as dificuldades de aprendizagem só 
aumentam interferindo no desenvolvimento pessoal dessa criança. Pronto! A 
não-aprendizagem de um único conteúdo (nesse caso, regras gramaticais) 
gera uma série de comportamentos que dificultam a aprendizagem em todas 
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 Dificuldades de Aprendizagem
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as outras áreas. O círculo vicioso das dificuldades de aprendizagem está ativo 
na vida dessa criança. O fracasso escolar é praticamente certo!
Mas, afinal, o que são dificuldades de aprendizagem? Como podemos 
evitá-las no contexto escolar? Como devemos proceder no trabalho educativo 
com crianças com dificuldades de aprendizagem?
Neste capítulo, trataremos das questões do não-aprendizado e da 
evolução do conceito de dificuldades de aprendizagem ao longo da história 
da educação, bem como analisaremos as necessidades educacionais, no 
contexto escolar, dos alunos com dificuldades de aprendizagem.
você está pronto(a)?
dificuldAdeS de AprendizAgem
Muitos são os autores que, hoje, abordam a temática dificuldades de 
aprendizagem na escola. Isto porque é comum, em nossas escolas, existirem 
crianças com “nós” na aprendizagem.
Algumas vezes, esses “nós” na aprendizagem são causados pelo 
método de ensino ou pela didática do professor. Quando são detectados e 
diagnosticados como tais, podem ser desmanchados pelo próprio professor, 
que modifica sua estratégia de ensino. Todavia, nem sempre a causa do não-
aprendizado de um aluno está relacionada ao método de ensino ou à estrutura 
da escola. Neste caso, é imprescindível que os profissionais que atuam na 
escola compreendam o significado de dificuldades de aprendizagem. 
Vale dizer que, hoje, esse termo tem um significado específico e 
multifacetado, sendo, por vezes, confundido com outros termos, tais como 
problemas, distúrbios e/ou transtornos de aprendizagem. Sendo assim, convido 
você a um passeio pelo significado do termo dificuldades de aprendizagem 
nas décadas passadas e ao entendimento dos termos que, no contexto atual, 
derivaram dele.
conceito HiStórico
na década de 1970, foi amplamente difundida, no Brasil, a ideia das 
dificuldades de aprendizagem como uma Disfunção Cerebral Mínima (DCM).
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dificuldAdes de AprendizAgem:
significAdo Histórico e conceito AtuAl
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 Capítulo 2 
A DCM era empregada para designar problemas sociopedagógicos, 
como dislexia, disritmia e tantas outras “dis” que conhecemos hoje e que 
são, em grande parte, geradoras dos problemas de aprendizagem e do 
fracasso escolar. 
Imagine você que toda criança em processo de escolarização que não 
aprendia determinado conteúdo recebia o rótulo de portadora de DCM. 
Essa concepção das dificuldades de aprendizagem, enquanto DCM, 
surgiu na França, no final do século XIX e foi classificada pelos historiadores da 
área como Organicista, pois levantava hipóteses sobre doenças neurológicas 
e orgânicas dos alunos que não aprendiam. sendo assim, os médicos se 
ocuparam em interpretar as dificuldades de aprendizagem que ocorriam na 
escola. Em pouco tempo, a DCM tornou-se tão comum que os profissionais da 
saúde temiam uma banalização da área, pois,
Em curto espaço de tempo e com relativa facilidade, pais 
e professores também já adotaram o rótulo de DCM e, 
antes de qualquer referência, este diagnóstico surgia como 
queixa na consulta médica: ‘– Doutor, meu filho tem DCM.’ 
A impressão que se tinha era de que convivíamos com uma 
população de anormais, pois esta cifra atingia até 40% dos 
escolares (CYPEl apud BOssA, 2007, p. 51).
Com essa abordagem intitulada Organicista (problemas de diversas 
ordens com causas orgânicas), as dificuldades de aprendizagem e, por 
consequência, o fracasso escolar, foram tratados com medicamentos utilizados 
pela Psiquiatria e pela Neurologia. Isto significa que o aluno que não aprendia 
era diagnosticado como possuidor de uma falha orgânica, como um déficit 
neurológico e, por isso, recebia tratamento medicamentoso.
Cypel (1993) explica que o diagnóstico utilizado nas escolas e os 
encaminhamentos para o tratamento medicamentoso produziram um estigma 
para as dificuldades de aprendizagem na esfera escolar, pois passaram a ser 
conhecidas como “geração comital ou gardenal”.
Em um segundo momento da história da educação brasileira, na década de 
1980, as dificuldades de aprendizagem foram o foco de estudo da Psicologia 
Cognitiva. Segundo Sena (1999), supunha-se que as causas das dificuldades 
de aprendizagem estavam relacionadas a disfunções psicológicas, envolvendo 
um ou os quatro processos psicológicos fundamentais, que são a percepção, a 
memória, a linguagem e o pensamento. Assim, a investigação das causas para 
as dificuldades de aprendizagem se pautava no método comparativo, ou seja, 
os psicólogos comparavam um grupo de crianças que aprendia normalmente 
a um grupo de crianças que apresentava algum tipo de atraso no processo 
DCM, surgiu na 
França, no final do 
século XIX e foi 
classificada pelos 
historiadores da área 
como Organicista,pois levantava 
hipóteses sobre 
doenças neurológicas 
e orgânicas dos alunos 
que não aprendiam.
Psicologia Cognitiva, 
supunha-se que 
as causas das 
dificuldades de 
aprendizagem 
estavam relacionadas 
a disfunções 
psicológicas, 
envolvendo um ou 
os quatro processos 
psicológicos 
fundamentais, que 
são a percepção, a 
memória, a linguagem 
e o pensamento.
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 Dificuldades de Aprendizagem
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de aprendizagem. Sena (1999, p. 75) nos diz que os sintomas esperados 
na investigação eram “a desorganização espaço-temporal, os transtornos 
perceptivos visuais e auditivos, os transtornos de lateralidade, déficits na 
linguagem e atenção seletiva e os problemas de memória.”
Com o enfoque da Psicologia, outras explicações foram surgindo para as 
dificuldades de aprendizagem. Entre elas, a perspectiva Afetiva explicava o 
fracasso escolar como consequência de algum conflito emocional (consciente 
ou não) de origem familiar. logo, a responsabilidade pelas dificuldades de 
aprendizagem da criança centrava-se nela mesma e em sua família.
De acordo com Castanheira e Santiago (2008), as dificuldades de 
aprendizagem foram investigadas por mais duas abordagens, além das já 
descritas. As autoras citam a abordagem Questionamento da Escola que 
priorizava investigações de fatores escolares como geradores das dificuldades 
de aprendizagem. Entre esses fatores, se encontram “a inadequação dos 
métodos pedagógicos, as dificuldades na relação professor-aluno, a precária 
formação do professor, a falta de infra-estrutura das escolas da rede pública 
de ensino” (CAsTAnHEiRA; sAnTiAGO, 2008, p. 5).
Na abordagem Questionamento da Escola, a crença era que a 
causa da não-aprendizagem (ou dificuldades de aprendizagem) era 
exclusivamente da escola que não ensina. 
Outra abordagem citada por Castanheira e Santiago (2008) é a 
Desvantagem Sociocultural. Nessa abordagem, as dificuldades de 
aprendizagem e o fracasso escolar são gerados pelo meio sociofamiliar. 
segundo Castanheira e santiago (2008, p. 6), “um argumento central na 
articulação dessa abordagem é que as crianças das camadas populares, cuja 
distribuição de riqueza, numa sociedade capitalista, é desigual, apresentam 
uma linguagem deficitária, o que, em consequência, implicaria déficit cognitivo”.
Assim, a abordagem Desvantagem Sociocultural explica que 
os fatores que geram dificuldades de aprendizagem na escola são 
sociofamiliares, isentando assim a escola e a criança, em sua estrutura 
psicológica e neurológica.
As abordagens aqui apresentadas se revelaram ideologias dominantes 
nos momentos em que existiram. Entretanto, não podemos descartar a 
hipótese de coexistiram nas academias que se ocupavam com a discussão 
sobre as dificuldades de aprendizagem. Algumas delas ainda estão presentes 
nos argumentos que visam explicar as dificuldades de aprendizagem na 
escola. você já ouviu alguns desses argumentos? nós comumente ouvimos 
algumas explicações para as dificuldades de aprendizagem. Dentre elas, 
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significAdo Histórico e conceito AtuAl
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 Capítulo 2 
podemos citar afirmações como: “Essa criança não aprende, porque seus pais 
são analfabetos!” ou “Essa criança não aprende, porque tem sérios problemas 
emocionais dentro de casa!” ou, ainda, “Essa criança não aprende, porque tem 
problemas mentais!”.
Diante das afirmações apresentadas, por vezes equivocadas, nos 
perguntamos: Quais dessas afirmações são verdadeiras? Como devemos analisar 
as dificuldades de aprendizagem hoje?
Talvez você se pergunte a mesma coisa. Por isso, vamos à próxima seção 
na qual trataremos de esclarecer como as dificuldades de aprendizagem são 
analisadas na atualidade.
Atividade de Estudos:
Antes de partirmos para a próxima seção, preencha o quadro a seguir com 
base nas informações anteriores.
ABORDAGEM CARACTERÍsTiCAs REsUMiDAs
 ___________________________________________
 ___________________________________________
Organicista ___________________________________________
 ___________________________________________
 
 ___________________________________________
Psicologia ___________________________________________
Cognitiva ___________________________________________
 ___________________________________________
 
 ___________________________________________
 ___________________________________________
Afetiva ___________________________________________
 ___________________________________________
 
 ___________________________________________
Questionamento ___________________________________________
da Escola ___________________________________________
 ___________________________________________
 
 ___________________________________________
Desvantagem ___________________________________________
sociocultural ___________________________________________
 ___________________________________________
 
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 Dificuldades de Aprendizagem
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conceito AtuAl
 
Assim como nas décadas anteriores, as dificuldades de aprendizagem 
permeiam o ambiente escolar, assombrando o desenvolvimento de alguns 
alunos. Da mesma forma, as dificuldades de aprendizagem têm sido, ainda 
hoje, tema de investigação de diversos profissionais preocupados com o ato 
de aprender. Assim, psicólogos, psicopedagogos, pedagogos, neurologistas, 
neuropediatras, entre outros profissionais, buscam desvelar as causas das 
dificuldades de aprendizagem escolar. Apesar disso, Fonseca (1995, p. 72) 
afirma que “não se conseguiu, ainda, na arena do sistema de ensino, um 
consenso na definição das Dificuldades de Aprendizagem, porque elas têm 
emergido mais de pressões e de necessidades sociais e políticas do que de 
pressupostos empíricos e científicos”.
Diante da realidade escolar, podemos notar a aplicação de vários termos 
indicadores para as dificuldades de aprendizagem, tais como problemas, 
distúrbios e/ou transtornos de aprendizagem. Considerando esses diversos 
termos e abordagens explicativas para designar dificuldades de aprendizagem, 
podemos nos perguntar: Qual a diferença entre dificuldades, problemas, distúrbios 
e transtornos de aprendizagem? Ou melhor: Há diferença entre esses termos?
vejamos cada um deles separadamente.
a) Dificuldades e problemas de aprendizagem
Garcia Sánchez (2004) afirma que o termo dificuldades ou problemas de 
aprendizagem (DA) tem cinco princípios específicos:
1. As DAs são heterogêneas, inter e intra-individualmente;
2. As DAs pressupõem dificuldades significativas na aquisição 
e no uso da compreensão, da fala, da leitura, da escrita, do 
raciocínio e/ou habilidades matemáticas;
3. As DAs são instrínsecas ao indivíduo;
4. As DAs podem ocorrer de forma concomitante com outros 
problemas que constituem por si mesmos uma DA;
5. As DAs não se originam por influências extrínsecas.
 (GARCIA SÁNCHEZ, 2004, p. 22).
De acordo com Garcia Sánchez (2004), as DAs afetam significativamente 
as habilidades escolares e não devem ser relacionadas com aspectos 
situacionais e/ou ambientais.
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significAdo Histórico e conceito AtuAl
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 Capítulo 2 
no mesmo sentido, a Associação Brasileirade Psicocopedagogia (ABPp, 
2009), instituição nacional que orienta e representa a prática psicopedagógica 
brasileira, explica que só podemos falar em Dificuldades de Aprendizagem 
quando fazemos referência a alunos que:
- têm intelectualidade normal ou muito próxima da normalidade 
ou, ainda, superior; 
- não apresentam deficiências neurológicas ou sensoriais; 
- vivem num ambiente sociofamiliar normal; 
- têm rendimento escolar manifesto e reiteradamente 
insatisfatório. 
Podemos dizer, então, de acordo com a ABPp, que as dificuldades de 
aprendizagem (DAs) têm origem cognitiva, ou seja, não são causadas por 
pobreza ambiental, atraso mental ou transtornos emocionais.
Correia (2004, p. 373) revela que, atualmente, há seis categorias de DAs, 
que são:
1- Auditivo-lingüística. Prende-se a um problema de percepção 
que, freqüentemente, leva o aluno a ter dificuldade na 
execução ou compreensão das instruções que lhe são 
dadas. Não é, portanto, um problema de acuidade auditiva 
(o aluno consegue ouvir bem), mas sim de compreensão/ 
percepção daquilo que é ouvido.
2- visuo-espacial. Envolve características tão diversas, como 
uma inabilidade para compreender a cor, para diferenciar 
estímulos essenciais de secundários (problemas de figura-
fundo) e para visualizar orientações no espaço. Assim, 
aqueles alunos que apresentam problemas nas relações 
espaciais e direccionais têm, freqüentemente, dificuldades 
na leitura, começando, por exemplo, por ter problemas na 
leitura das letras ‘b’ e ‘d’ e ‘p’ e ‘q’ (reversões).
3- Motora. Aqui o aluno que apresenta DA ligada à área motora 
tem problemas de coordenação global ou fina ou, mesmo, 
de ambas, visíveis quer em casa quer na escola, criando, 
tantas vezes, problemas na escrita e no uso do teclado e do 
rato de um computador.
4- Organizacional. Este problema leva o aluno a experimentar 
dificuldades quanto à localização do princípio, meio e fim 
de uma tarefa. O aluno tem ainda dificuldade em resumir e 
organizar informação, o que o impede, com freqüência, de 
fazer os trabalhos de casa, apresentações orais e outras 
tarefas escolares afins.
De acordo com 
a ABPp, que as 
dificuldades de 
aprendizagem (DAs) 
têm origem cognitiva, 
ou seja, não são 
causadas por pobreza 
ambiental, atraso 
mental ou transtornos 
emocionais.
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 Dificuldades de Aprendizagem
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5- Acadêmica. Esta categoria é uma das mais comuns no seio 
das DAs. Os alunos tanto podem apresentar problemas na 
área da matemática, como serem dotados nesta mesma 
área e terem problemas severos na área da leitura ou da 
escrita, ou em ambas.
6- Socioemocional. O aluno com problemas nesta área tem 
dificuldade em cumprir regras sociais (esperar pela sua 
vez) e em interpretar expressões faciais, o que faz com que 
ele seja, muitas vezes, incapaz de desempenhar tarefas 
consentâneas com a sua idade cronológica e mental.
Outra autora que busca explicação para as dificuldades de aprendizagem 
é Baltazar (2001) que as classifica em primárias e secundárias, sendo que 
as primárias são aquelas cuja origem não é psico-neurológica. Exemplos de 
dificuldades de aprendizagem primárias são: os transtornos de leitura e escrita 
(dislexia, disortografia), da matemática (discalculia, acalculia), bem como os 
transtornos da linguagem falada (dislalia). As dificuldades de aprendizagem 
consideradas secundárias por Baltazar (2001) são aquelas consequentes 
de alterações biológicas específicas, como, por exemplo, das alterações 
neurológicas, das lesões ou paralisias cerebrais, da epilepsia e da deficiência 
mental, além das consequentes de alterações sensoriais, como a deficiência 
auditiva, a visual e a ambliopia.
Ambliopia: olho vago ou olho preguiçoso. É uma disfunção oftálmica 
caracterizada pela redução ou perda da visão num dos olhos.
vale ressaltar que essa teoria não é compatível com a teoria da 
Defectologia, de Vygotsky, que determina deficiência em primária e secundária.
Nutti (2002) iguala os termos dificuldades e problemas. A autora explica 
que as dificuldades ou problemas de aprendizagem podem ter uma das 
seguintes causas:
1. Causas externas à estrutura familiar e individual: originariam 
o problema de aprendizagem reativo, o qual afeta o aprender, 
mas não aprisiona a inteligência e, geralmente, surge do 
confronto entre o aluno e a instituição;
2. Causas internas à estrutura familiar e individual: originariam 
o problema considerado como sintoma e inibição, afetando 
a dinâmica de articulações necessárias entre organismo, 
corpo, inteligência e desejo, causando o desejo inconsciente 
de não conhecer e, portanto, de não aprender;
3. Modalidades de pensamento derivadas de uma estrutura 
psicótica, as quais ocorrem em menor número de casos;
4. Fatores de deficiência orgânica: em casos mais raros.
 (nUTTi, 2002, p. 4)
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significAdo Histórico e conceito AtuAl
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 Capítulo 2 
Considerando as definições para dificuldades de aprendizagem, vejamos, 
agora, no que este termo difere do termo distúrbios de aprendizagem. 
b) Distúrbios de aprendizagem
De acordo com Nutti (2002, p. 2) o termo distúrbios 
compõe-se do radical turbare e do prefixo dis. O radical 
turbare significa ‘alteração violenta na ordem natural’ e 
pode ser identificado também nas palavras turvo, turbilhão, 
perturbar e conturbar. O prefixo dis tem como significado 
‘alteração com sentido anormal, patológico’ e possui valor 
negativo. O prefixo dis é muito utilizado na terminologia 
médica (por exemplo: distensão, distrofia). Em síntese, do 
ponto do vista etimológico, a palavra distúrbio pode ser 
traduzida como ‘anormalidade patológica por alteração 
violenta na ordem natural’.
Nutti (2002, p. 3), ao afirmar que a expressão distúrbios de aprendizagem 
significa “anormalidade patológica por alteração violenta na ordem natural da 
aprendizagem” nos remete a “um problema ou a uma doença que acomete o 
aluno em nível individual e orgânico”. 
Na mesma direção, Capellini (2004) explica que os distúrbios de 
aprendizagem são gerados por fatores genéticos, neurológicos e ambientais, 
combinados ou não. De acordo com esta autora, os fatores pedagógicos e 
psicopedagógicos podem apenas agravar os distúrbios, mas não causá-los.
Ciasca (2003) também afirma que os distúrbios se referem a transtornos 
heterogêneos, intrínsecos ao aparato orgânico do sujeito, ou seja, é uma 
disfunção no sistema nervoso que afeta a aquisição e o uso da escrita, da fala, 
da leitura, do raciocínio e da habilidade matemática.
Para saber mais sobre distúrbios de aprendizagem, acesse: http://www.
psicopedagogiabrasil.com.br/disturbios.html.
A partir dos autores citados a respeito de distúrbios de aprendizagem, 
podemos entender que as causas desses distúrbios, diferentemente do que 
ocorre com as dificuldades de aprendizagem, são orgânicas, biológicas e 
neurológicas.
Veja, a seguir, a definição do termo transtornos de aprendizagem.
As causas 
desses distúrbios, 
diferentemente do 
que ocorre com 
as dificuldades de 
aprendizagem, são 
orgânicas, biológicas e 
neurológicas.
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 Dificuldades de Aprendizagem
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c) Transtorno de aprendizagem
De acordo com a Classificação Estatística Internacional de Doenças e 
Problemas Relacionados à Saúde – 10ª. Revisão (CID-10), o termo transtorno 
é utilizado para designar “a existência de um conjunto de sintomas ou 
comportamentos clinicamente reconhecível associado, na maioria dos casos, 
a sofrimento e interferência com funções pessoais.” (CiD-10, 1993, p. 5). 
A CID-10 enquadra as questões referentes à aprendizagem na 
categoria Transtornos do Desenvolvimento Psicológico, como Transtornos 
de Desenvolvimento das Habilidades Escolares (TEDHE). Os TEDHE não 
são consequência de outros transtornos,como problemas neurológicos, 
físicos etc., mas podem ocorrer associados a problemas como estes. Dessa 
forma, os TEDHE compreendem “grupos de transtornos manifestados por 
comprometimentos específicos e significativos no aprendizado de habilidades 
escolares.” (CiD-10, 1993, p. 237).
De acordo com nutti (2002, p. 4), os TEDHE possuem as seguintes 
características em comum:
• um início que ocorre invariavelmente no decorrer da infância;
• um comprometimento ou atraso no desenvolvimento de 
funções que são fortemente relacionadas à maturação 
biológica do sistema nervoso central;
• um curso estável que não envolve remissões (desaparecimentos) 
e recaídas que tendem a ser características de muitos 
transtornos mentais.
nutti (2002, p. 6) alerta, ainda, que os TEDHE são divididos em 
subcategorias que são:
• Transtorno específico da leitura.
• Transtorno específico do soletrar.
• Transtorno específico de habilidades aritméticas.
• Transtorno misto das habilidades escolares.
• Outros transtornos do desenvolvimento das habilidades 
escolares.
• Transtornos do desenvolvimento das habilidades escolares, 
não especificado.
TEDHE compreendem 
“grupos de transtornos 
manifestados por 
comprometimentos 
específicos e 
significativos no 
aprendizado de 
habilidades escolares.
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 Capítulo 2 
Apesar dessa explicação explícita no CiD-10, as causas dos transtornos de 
aprendizagem não são previamente definidas. Porém, podemos estabelecer uma 
relação de causa e efeito aos fatores biológicos associados aos não-biológicos.
Com base na explicação anterior, leia os relatos de casos que seguem e, 
depois, responda ao que pedimos.
Caso 1
Pedro* é um aluno com 8 anos e está na 3ª série, tem funcionamento 
mental dentro de sua faixa etária, ou seja, para construir conceitos precisa 
fazer o uso de material concreto, pois a criança, nessa faixa etária, ‘opera’ 
melhor vendo e vivendo o conhecimento. vamos imaginar uma aula de 
frações, em que a professora ensina dando uma aula expositiva. Pedro faz 
tentativas de entendimento, porém não consegue perceber que ¼ é menor 
que ½, pois precisa viver este conhecimento operando com materiais que 
podem provar essa idéia concretamente. Nesse caso, Pedro baseia-se, 
ainda, no pensamento figurativo. A criança vê assim: o número 4 é maior 
que o número 2, não percebendo a relação com o traço de fração a divisão 
de um inteiro em partes. Nesse caso, podemos ter o início de um ‘nó’ 
na aprendizagem, pois os conteúdos são articulados uns com os outros, 
cabendo a nós educadores buscar várias maneiras de explicação com a 
ajuda da criança, pois ela nos dirá em que nível de entendimento está.
* Por questões éticas, o nome do paciente foi trocado por “Pedro”.
Dulce Consuelo R. soares – psicopedagoga clínica/institucional, pedagoga/
professora de Arte e Educação da Unesa no Rio de Janeiro, professora de 
Filosofia da Esil Sociedade Educacional e autora do livro infantil A caixinha de 
insetos de Pedro: uma leitura psicopedagógica da escola do aluno e do professor. 
Fonte: sOAREs, Dulce Consuelo R. Psicopedagogia e sua importância no processo 
educacional. Disponível em: <http://hpp.ajato.com.br/dconsuelo/Psicopedagogia.html>.
Acesso em: 20 abr. 2009.
 
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 Dificuldades de Aprendizagem
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Caso 2
A professora estava angustiada, pois Aldo* não queria fazer as atividades, 
além de não dominar a leitura e a escrita. não apresentava necessidades 
especiais, mas muita dificuldade em aprender, devido, segundo relato, à sua 
vida sociocultural e econômica. A professora informou que a coordenadora 
da Educação Especial ficou de contatar com a assistente social do Posto de 
Saúde para verificar a situação familiar, visto que ele não convivia com a mãe 
nem com o pai, embora solicitasse muito esse convívio. 
O aluno agredia e provocava os colegas, até mesmo as professoras. só das 
aulas de Educação Física ele participava com entusiasmo. Um aspecto positivo 
salientado pela estagiária da turma diz respeito ao ambiente de inclusão que 
havia entre ele e os colegas. Mesmo se comportando agressivamente, Aldo 
não ficava isolado, mesmo porque seus amigos não eram de fazer intrigas, 
pois estavam sempre ocupados com atividades.
*Aldo – nome fictício.
Fonte: MOnTiCElli, Fernanda et all. Conselho de classe do bloco: de quando 
ficamos atentos ao sujeito que escreve e não à escrita de um sujeito...
Disponível em: <http://www.centrorefeducacional.com.br/escrsujeito.htm>. 
Acesso em: 20 abr. 2009.
1) Aponte uma possível classificação (dificuldades, problemas, transtorno 
ou distúrbios de aprendizagem) para os casos apresentados anteriormente. 
Justifique sua classificação.
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2) Em sua opinião, qual dos termos (dificuldades, problemas, transtornos 
e distúrbios) tem maior impacto no processo de aprendizagem escolar? 
Justifique sua resposta.
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 Capítulo 2 
Na sequência deste capítulo, refletiremos sobre as necessidades 
educacionais especiais dos alunos com dificuldades de aprendizagem no 
contexto escolar.
umA educAção diferenciAdA pArA AlunoS 
com dificuldAdeS de AprendizAgem no 
contexto eScolAr 
você estudou, na seção anterior, que as DAs estão diretamente 
relacionadas à incapacidade de aprender, por um ou por vários motivos. 
Isso nos faz pensar que as DAs podem ser detectadas em crianças com 
desenvolvimento geral normal. nesse sentido, Correia (2004) nos explica que 
o termo dificuldades de aprendizagem visa explicar o fracasso escolar desses 
alunos considerados normais.
Mas o que é ser normal?
De acordo com o dicionário Weiszflog (2008), a palavra “Normal” refere-
se a quem vive de acordo com a norma, com a regra. Em outras palavras, 
normalidade é um modo de estar em um padrão, correto e justo sob algum 
ponto de vista. A normalidade é estabelecida pela maioria em comum, de 
forma que aquele que se opuser à maioria é visto como anormal.
No ambiente escolar, ser normal é se encaixar nos padrões de 
aprendizagem e de comportamento. Assim, um aluno com deficiência ou uma 
criança com dificuldades de aprendizagem não são normais.
você deve ter estudado na disciplina Educação Especial e inclusão 
Escolar que, hoje, na escola, a concepção sobre ter uma deficiência mudou. 
segundo Coll, Palácios e Marchesi (1995), as indicações para os alunos com 
deficiências perpassam atitudes que visam à inclusão desses alunos. Neste 
sentido, de acordo com esses autores, o trabalho educacional com o aluno 
que não se encaixa no padrão de normalidade, seja um aluno com deficiência 
ou com DAs, deve iniciar nas seguintes ações:
• Compartilhamento – envolve cooperação nos níveis cognitivo 
e afetivo;
• Individualização – considera o ser como único no processo 
de aprendizagem;
• Automodificação – acredita na capacidade de realização do 
que é proposto;44
 Dificuldades de Aprendizagem
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• Significado – envolve respeito ao valor, aos objetivos;
• Competência – relacionado à autoestima e autoconfiança;
• Reciprocidade – implica em troca, cooperação e envolvimento;
• Planejamento – traçar metas educacionais e analisar os 
meios de alcançá-las.
O aluno que tem DAs não pode ser visto na escola como um aluno com 
deficiência, pois suas necessidades tocam questões puramente educacionais. 
Marchesi e Martins (1995, p. 11) explicam que o aluno que “apresenta algum 
problema de aprendizagem ao longo de sua escolarização exige uma atenção 
mais específica e maiores recursos educacionais do que os necessários para 
os colegas de sua idade”. A partir desses autores, podemos dizer que quem 
tem DAs precisa de uma educação diferenciada.
Atividade de Estudos
Dentre as características apresentadas anteriormente, eleja três que você 
considera imprescindíveis para o trabalho com aluno com DAs e justifique 
sua escolha.
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Na Declaração de Salamanca (um dos mais importantes documentos sobre 
a inclusão do aluno com deficiência), é reforçada a ideia de individualidade 
com qualidade na educação de indivíduos com deficiência.
veja as orientações apresentadas nesse documento, a partir do fragmento 
a seguir.
O aluno que 
“apresenta algum 
problema de 
aprendizagem 
ao longo de sua 
escolarização exige 
uma atenção mais 
específica e maiores 
recursos educacionais 
do que os necessários 
para os colegas de 
sua idade”. 
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dificuldAdes de AprendizAgem:
significAdo Histórico e conceito AtuAl
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 Capítulo 2 
DECLARAÇÃO DE SALAMANCA
Sobre Princípios, Políticas e Práticas na Área das Necessidades 
Educativas Especiais
[...]
2. Acreditamos e Proclamamos que:
• toda criança tem direito fundamental à educação e deve ser dada a 
oportunidade de atingir e manter o nível adequado de aprendizagem,
• toda criança possui características, interesses, habilidades e necessidades 
de aprendizagem que são únicas,
• sistemas educacionais deveriam ser designados e programas educacionais 
deveriam ser implementados no sentido de se levar em conta a vasta 
diversidade de tais características e necessidades,
• aqueles com necessidades educacionais especiais devem ter acesso 
à escola regular, que deveria acomodá-los dentro de uma Pedagogia 
centrada na criança, capaz de satisfazer a tais necessidades,
• escolas regulares que possuam tal orientação inclusiva constituem os 
meios mais eficazes de combater atitudes discriminatórias criando-
se comunidades acolhedoras, construindo uma sociedade inclusiva e 
alcançando educação para todos; além disso, tais escolas provêem uma 
educação efetiva à maioria das crianças e aprimoram a eficiência e, em 
última instância, o custo da eficácia de todo o sistema educacional.
3. nós congregamos todos os governos e demandamos que eles:
• atribuam a mais alta prioridade política e financeira ao aprimoramento de 
seus sistemas educacionais no sentido de se tornarem aptos a incluírem 
todas as crianças, independentemente de suas diferenças ou dificuldades 
individuais.
• adotem o princípio de educação inclusiva em forma de lei ou de política, 
matriculando todas as crianças em escolas regulares, a menos que existam 
fortes razões para agir de outra forma.
• desenvolvam projetos de demonstração e encorajem intercâmbios em 
países que possuam experiências de escolarização inclusiva.
• estabeleçam mecanismos participatórios e descentralizados para 
planejamento, revisão e avaliação de provisão educacional para crianças e 
adultos com necessidades educacionais especiais.
• encorajem e facilitem a participação de pais, comunidades e organizações 
de pessoas portadoras de deficiências nos processos de planejamento e 
tomada de decisão concernentes à provisão de serviços para necessidades 
educacionais especiais.
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 Dificuldades de Aprendizagem
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• invistam maiores esforços em estratégias de identificação e intervenção 
precoces, bem como nos aspectos vocacionais da educação inclusiva.
• garantam que, no contexto de uma mudança sistêmica, programas de 
treinamento de professores, tanto em serviço como durante a formação, 
incluam a provisão de educação especial dentro das escolas inclusivas. 
4. Nós também congregamos a comunidade internacional; em particular, 
nós congregamos: - governos com programas de cooperação internacional, 
agências financiadoras internacionais, especialmente as responsáveis pela 
Conferência Mundial em Educação para Todos, UnEsCO, UniCEF, UnDP e o 
Banco Mundial:
• a endossar a perspectiva de escolarização inclusiva e apoiar o 
desenvolvimento da educação especial como parte integrante de todos os 
programas educacionais; 
• As Nações Unidas e suas agências especializadas, em particular a ILO, 
WHO, UnEsCO e UniCEF:
• a reforçar seus estímulos de cooperação técnica, bem como reforçar suas 
cooperações e redes de trabalho para um apoio mais eficaz à já expandida 
e integrada provisão em educação especial;
• organizações não-governamentais envolvidas na programação e 
entrega de serviço nos países;
• a reforçar sua colaboração com as entidades oficiais nacionais 
e intensificar o envolvimento crescente delas no planejamento, 
implementação e avaliação de provisão em educação especial que seja 
inclusiva;
• UnEsCO, enquanto a agência educacional das nações Unidas, 
• a assegurar que educação especial faça parte de toda discussão que lide 
com educação para todos em vários foros;
• a mobilizar o apoio de organizações dos profissionais de ensino em 
questões relativas ao aprimoramento do treinamento de professores no 
que diz respeito a necessidades educacionais especiais.
• a estimular a comunidade acadêmica no sentido de fortalecer pesquisa, 
redes de trabalho e o estabelecimento de centros regionais de 
informação e documentação e, da mesma forma, a servir de exemplo 
em tais atividades e na disseminação dos resultados específicos e 
dos progressos alcançados em cada país no sentido de realizar o que 
almeja a presente Declaração.
• a mobilizar FUNDOS através da criação (dentro de seu próximo 
Planejamento a Médio Prazo. 1996-2000) de um programa extensivo de 
escolas inclusivas e programas de apoio comunitário, que permitiriam 
o lançamento de projetos-piloto que demonstrassem novas formas de 
disseminação e o desenvolvimento de indicadores de necessidade e de 
provisão de educação especial.
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dificuldAdes de AprendizAgem:
significAdo Histórico e conceito AtuAl
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 Capítulo 2 
5. Por último, expressamos nosso caloroso reconhecimento ao governo 
da Espanha e à UNESCO pela organização da Conferência e demandamo-
lhes realizarem todos os esforços no sentido de trazer esta Declaração e sua 
relativa Estrutura de Ação da comunidade mundial, especialmente em eventos 
importantes tais como o Tratado Mundial de Desenvolvimento social (em 
Kopenhagen, em 1995) e a Conferência Mundial sobre a Mulher (em Beijing, 
em 1995). Adotada por aclamação na cidade de salamanca, Espanha, neste 
décimo dia de junho de 1994.
Fonte: Declaração de salamanca (1994). Disponível em: <http://portal.mec.
gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf>. Acesso em: 15 abr. 2009.
Tratar a criança a partir dos princípios trazidos pela Declaração de 
salamanca é um dever da escola, do estado e das comunidades locais. 
Significapreocupar-se, de fato, com o desenvolvimento das crianças e jovens 
em idade escolar. Significa respeitar os limites e as habilidades individuais do 
educandos. Significa comprometimento com o futuro desses educandos.
 
Resumidamente, podemos dizer que toda criança merece uma educação 
individualizada e eficaz. Toda criança merece uma educação diferenciada, que 
satisfaça suas reais necessidades. Referimo-nos, sobretudo, às crianças que 
não conseguem aprender em condições padronizadas e que, por isso, sofrem 
com seus fracassos na escola.
AlgumAS conSiderAçÕeS
Toda criança é capaz de aprender! Toda criança gosta de aprender! O que 
ocorre, por vezes, é um desencantamento da criança pelo processo de aprendizagem 
gerado por algum entrave no meio do caminho. Esses entraves, ou “nós”, podem ser 
sanados com uma educação diferenciada no ambiente escolar, pois é este espaço 
que tem por princípio a escolarização oficial das crianças e dos jovens. Neste sentido, 
a escola deve oferecer estrutura, materiais e métodos adequados, acompanhamento 
profissional e educação de qualidade a todos os alunos, sem distinção. 
Os objetivos deste capítulo foram: conhecer a historicidade e o conceito atual 
do termo dificuldades de aprendizagem e analisar as necessidades educacionais, 
no contexto escolar, dos alunos com dificuldades de aprendizagem. Nele, você 
estudou que:
• O termo dificuldades de aprendizagem surgiu na França, no final do século 
XIX, e foi classificada pelos historiadores da área como Disfunção Cerebral 
Mínima (DCM) e como Organicista, pois levantava hipóteses sobre doenças 
neurológicas e orgânicas dos alunos que não aprendiam.
Toda criança
merece uma 
educação 
individualizada
e eficaz.
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 Dificuldades de Aprendizagem
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• Na década de 1980, as dificuldades de aprendizagem foram o foco de 
estudo da Psicologia Cognitiva, período em que a suposição era que as 
causas das dificuldades de aprendizagem fossem disfunções psicológicas, 
envolvendo um ou os quatro processos psicológicos fundamentais, que 
são: a percepção, a memória, a linguagem e o pensamento.
• Com o enfoque psicológico, a perspectiva Afetiva explicava o fracasso 
escolar como consequência de algum conflito emocional.
• A abordagem Questionamento da Escola explicava que os fatores escolares 
são os geradores das dificuldades de aprendizagem.
• A abordagem Desvantagem Sociocultural afirmava que as dificuldades de 
aprendizagem e o fracasso escolar são gerados pelo meio sociofamiliar.
• Atualmente, podemos notar a utilização de vários termos indicadores para 
as Dificuldades de Aprendizagem (DAs), tais como problemas, distúrbios 
e/ou transtornos de aprendizagem. Cada um desses termos tem uma 
definição própria.
• Quem tem DAs tem necessidades educacionais especiais e, por isso, exige 
uma atenção mais específica e maiores recursos educacionais do que os 
necessários para os colegas de sua idade.
• na Declaração de salamanca, foi reforçada a ideia de respeito à 
individualidade do aluno na coletividade do processo de aprendizagem 
de alunos com deficiência. A partir dessa declaração, podemos perceber 
que, não somente os alunos com deficiências precisam de uma educação 
diferenciada, mas todos os alunos que não se encaixam no padrão de 
normalidade esperado para sua faixa etária.
no próximo capítulo, a partir de exemplos e relatos de casos, você 
conhecerá algumas estratégias de intervenção e prevenção das dificuldades 
de aprendizagem que podem ser desenvolvidas na escola e analisará os 
efeitos da intervenção psicopedagógica na escola e na família do aluno com 
dificuldades de aprendizagem.
Tome fôlego e vamos em frente!
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 Capítulo 2 
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