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1 Disciplina: Fundamentos da Neuropsicopedagogia Autores: M.e Elys Regina Andretta Revisão de Conteúdos: Carolinne Prado Engelhardt Revisão Ortográfica: M.e Jacqueline Morissugui Cardoso Ano: 2017 Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de Marketing da Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança de direitos autorais. 2 FICHA CATALOGRÁFICA ANDRETTA, Elys Regina. Fundamentos da Neuropsicopedagogia / Elys Regina Andreatta – Curitiba, 2017. 44 p. Revisão de Conteúdos: Carolinne Prado Engelhardt. Revisão Ortográfica: Jacqueline Morissugui Cardoso. Material didático da disciplina de Fundamentos da Neuropsicopedagogia – Faculdade São Braz (FSB), 2017. 3 Fundamentos da Neuropsicopedagogia 2017 4 PALAVRA DA INSTITUIÇÃO Caro(a) aluno(a), Seja bem-vindo(a) à Faculdade São Braz! Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão Universitária. A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas também brasileiros conscientes de sua cidadania. Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e grupos de estudos o que proporciona excelente integração entre professores e estudantes. Bons estudos e conte sempre conosco! Faculdade São Braz 5 Apresentação da Disciplina A neuropsicopedagogia é uma especialidade na qual convergem várias ciências como: a neurologia, pedagogia, psicologia cognitiva. Como cada uma dessas ciências contribui com a neuropsicopedagogia, respectivamente com o estudo do funcionamento do sistema nervoso, saberes relacionados à educação e a prevenção e tratamento de enfermidades mentais e comportamentais. O material da disciplina de Fundamentos da Neuropsicopedagogia teve o intuito de auxiliar a compreensão da importância da neuropsicopedagogia como ferramenta fundamental para um maior entendimento e desenvolvimento, para a reflexão, identificação, intervenção, prevenção e avaliação dos processos de ensino e aprendizagem. Todas essas ações permitirão ao profissional neuropsicopedagogo contribuir holisticamente com a educação e, principalmente, atuar adequadamente e eficazmente na intervenção nas situações de dificuldades ou problemas específicos de aprendizagem. Este material apresentará os conceitos da Neuropsicopedagogia, sua trajetória histórica e, também, algumas considerações sobre a atuação do profissional neuropsicopedagogo. Será conhecida a legislação da área da saúde que abrange esta área e quais os campos de atuação desse profissional. De maneira geral, todos os temas que serão tratados nesta disciplina são imprescindíveis para aqueles que desejam uma maior compreensão acerca da neuropsicopedagogia e sua contribuição para a sociedade. Espera-se que os assuntos estudados e que as reflexões realizadas no decorrer dos capítulos contribuam para sua formação e atuação como profissional neuropsicopedagogo. Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de Marketing da Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança de direitos autorais. 6 AULA 1 – O que é Neuropsicopedagogia? Conceitos e Definições Apresentação da Aula 01 Esta aula apresentará os conceitos e definições da Neuropsicopedagogia, além de compreender historicamente a trajetória dessa área das neurociências, que estuda o sistema nervoso e sua atuação no comportamento humano com enfoque na aprendizagem. Será conhecida também a legislação educacional que abrange essa área, muito importante para os profissionais que desejam ampliar sua compreensão acerca da complexidade da aprendizagem. Para iniciar os estudos, serão feitas algumas reflexões acerca do conceito de Neuropsicopedagogia e sua contribuição para o campo da educação. Falar-se-á sobre a legislação que rege essa profissão e qual o campo de atuação desse profissional. 1. Introdução à Neuropsicopedagogia Atualmente, a educação, em suas diversas modalidades, se ocupa da maneira de como atender mais adequadamente aos aprendizes dentro do ambiente escolar por meio de metodologias e práticas que se ajustem ao contexto do indivíduo. A neuropsicopedagogia se ocupa da criança ou adolescente que tem dificuldade de aprendizagem e de relacionamento interpessoal, ela busca analisar os processos cognitivos, verificar as causas e fatores provenientes de disfunções neurais consequentes de uma lesão neurológica de origem genética, congênita ou adquirida. A partir de um diagnóstico, há uma intervenção clínica em educandos com padrões de baixo desempenho e que apresentam disfunções neurais. Os profissionais dessa área constantemente buscam atualizações, pois cada vez mais estão sendo procurados por instituições de ensino que tem por objetivo ofertar uma educação de qualidade para crianças e adolescentes que possuem alguma deficiência cognitiva. Com o seu vasto conhecimento sobre as bases neurológicas do aprendizado e do comportamento, esses 7 profissionais contribuem para que a aprendizagem, em diversos contextos, seja satisfatória e efetiva. Os cursos de especialização em neuropsicopedagogia se destinam àqueles profissionais que desejam um maior entendimento sobre o que é a aprendizagem. Ademais, essa ciência, permite que as funções cerebrais sejam investigadas, além de fornecer dados que auxiliam na tomada de decisão para a escolha de um tratamento adequado à necessidade de cada indivíduo. Neuropsicopedagogos são profissionais da Neuropsicopedagogia, que têm o compromisso com a constante busca do saber, do aprimoramento, de melhorar o ensino-aprendizagem e ter conhecimento sobre o neurodesenvolvimento do indivíduo [...] (OLIVEIRA, 2014, p.16) 1.1 O que é Neuropsicopedagogia? A Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia (SBNPp), em seu Código De Ética Técnico Profissional da Neuropsicopedagogia, a define como: RESOLUÇÃO SBNPp n° 03/2014 Dispõe sobre o CÓDIGO DE ÉTICA TÉCNICO PROFISSIONAL DA NEUROPSICOPEDAGOGIA: Artigo 10 CAPÍTULO II. DA DEFINIÇÃO, DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS E DIRETRIZES Artigo 10. A Neuropsicopedagogia é uma ciência transdisciplinar, fundamentada nos conhecimentos da Neurociências aplicada à educação, com interfaces da Pedagogia e Psicologia Cognitiva que tem como objeto formal de estudo a relação entre o funcionamento do sistema nervoso e a aprendizagem humana numa perspectiva de reintegração pessoal, social e educacional. (SBNPp – 2016, p.3) Disponível em: http://www.sbnpp.com.br/wp-content/uploads/2016/11/Codigo-de-etica- atualizado-2016.pdf Pode-se dizer que a Neuropsicopedagogia é área de estudo da neurociência que estuda o sistema nervoso e sua atuação no comportamento humano, tendo como enfoque a aprendizagem. Mas, para se chegar a um melhor entendimento do que é a Neuropsicopedagogia,serão feitas algumas 8 considerações acerca das neurociências e sua contribuição para essa área de estudo. O neuropsicopedagogo, por meio dos seus conhecimentos, consegue identificar no indivíduo, seja ela criança ou adolescente, as dificuldades relacionadas com a aprendizagem e, por meio da intervenção ele passa a atendê-lo de maneira mais adequada para que a aprendizagem ocorra. Porém, isso não quer dizer que a aprendizagem não ocorre para algumas pessoas, ela sempre acontece sim, mas com a diferença que para uns ela vem acompanhada de estimulação e com atividades orientadas de acordo com o grau de dificuldade de cada um. 1.2 O que é Neurociência? As pesquisas realizadas para entender o funcionamento do cérebro humano ocorrem há muito tempo. Há mais ou menos 7.000 anos algumas pessoas tinham seus cérebros perfurados por meio da trepanação, que é um processo no qual eram feitos orifícios no cérebro com objetivos filosóficos, religiosos ou místicos. Assim como as sangrias, a trepanação era realizada para dizimar os demônios e maus espíritos do corpo do paciente, mas essa cerimonia não tinha nenhuma intenção terapêutica. Fonte:http://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Arqueologia/noticia/2015/06/solucao- para-problemas-mentais-na-antiguidade-furar-cabeca-dos-pacientes.html Muitos estudiosos, ao longo dos anos, se dedicaram ao estudo do funcionamento do mecanismo cerebral. Porém, foi Alexander Romanovich Luria que fez pesquisas relevantes sobre o tema. Luria, durante a Segunda Guerra Mundial, observou o comportamento dos pacientes com lesões cerebrais e, por meio de anotações fez um levantamento sobre as alterações 9 comportamentais oriundas dessas lesões. Com esse procedimento, Luria pretendia identificar as bases neurológicas do comportamento. Ademais, esses estudos deram início, de certa maneira, ao elo entre a psicologia e a neurociência. Vídeo Assista ao vídeo Cérebro – Máquina de aprender – Parte 01 de 05, o qual mostra sobre uma professora de Juiz de Fora em Minas Gerais, que usa da neurociência e faz a diferença na vida das crianças. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=nCKY3TmRX2M&list=PLxYtbI gLQaIAJj2_7tOVKDg-nUi7wNQ_r Para Ventura (2010, p.123), a neurociência possui uma importante interface com a Educação, Psicologia Cognitiva e Pedagogia em uma abordagem transdisciplinar, e a define assim: A neurociência compreende o estudo do sistema nervoso e suas ligações com toda a fisiologia do organismo, incluindo a relação entre cérebro e comportamento. O controle neural das funções vegetativas – digestão, circulação, respiração, homeostase, temperatura-, das funções sensoriais e motoras, da locomoção, reprodução, alimentação e ingestão de água, os mecanismos da atenção e memória, aprendizagem, emoção, linguagem e comunicação, são temas de estudo da neurociência. (VENTURA, 2010, p.123). A Neurociência, somada à Educação, promove um melhor entendimento sobre o que é o processo de aprendizagem. No que diz respeito ao docente, esse deve ser autônomo para tomar decisões quando reconhecem que existe um problema com seu aluno e, que esse problema deve ser tratado de maneira diferenciada, pois muitos professores ficam sem saber o que fazer por falta de uma formação adequada nessa área. Os estudos sobre os processos cerebrais é um assunto bastante pesquisado e, consequentemente, sofre constantes mudanças e novas concepções surgem ou são reformuladas em consonância com as 10 neurociências. Diferentes áreas de conhecimentos constataram que os estudos das neurociências são necessários para complementar os seus e, sendo assim, surgiu o interesse por parte das diferentes áreas da ciência, são elas: neurobiologia, neurofisiologia, neuroquímica, neuropediatria, neuropsicologia, neuropedagogia e também a Neuropsicopedagogia. Saiba Mais Neurociências é o estudo científico do sistema nervoso de uma forma ampla e, assim, compreende cinco disciplinas: 1) Neurociência molecular: trata a função das moléculas; 2) Neurociência celular: estuda a constituição e função das células no sistema nervoso; 3) Neurociência sistêmica: descreve e analisa as regiões do sistema nervoso e está ligado à neuroanatomia. Em outras palavras, divide o sistema nervoso em partes e nomeia essas partes e busca compreender as suas funções; 4) Neurociência comportamental: ligada diretamente à psicologia, especialmente a psicologia comportamental. Relaciona o estudo do organismo com o meio, centrando o seu estudo sobre os comportamentos internos, como pensamentos, emoções e os comportamentos visíveis como a fala, gestos e outras ações, em geral. 5) Neurociência cognitiva: centra o seu estudo sobre os comportamentos ainda mais complexos, como memória, aprendizagem, enfim, a capacidade cognitiva de uma determinada pessoa em um determinado momento. Disponível em: http://www.psicologiamsn.com/2014/01/o- que-e-neurociencia.html 1.3 Neuropsicopedagogia e Legislação A Neuropsicopedagogia enfoca no entendimento do processo de aprendizagem e o funcionamento do sistema nervoso na interface que compreende uma abordagem transdisciplinar que perpassa as neurociências, e desta maneira realiza o diagnóstico e faz a intervenção adequada para a prevenção diante das dificuldades e distúrbios da aprendizagem. 11 A Neuropsicopedagogia ainda não está devidamente regulamentada. O Conselho Regional de Psicologia regulamentou apenas o Especialista em Neuropsicologia. Segundo a SBNPp (Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia), o campo de atuação do neuropsicopedagogo deve estar centrado em um plano de intervenção específico e ele pode atuar nos seguintes locais: Consultório particular, clínicas; Posto de Saúde; Centro de Referência de Assistência Social - CRAS (caso tenha autorização); Terceiro Setor e Hospitais. O profissional neuropsicopedagogo que possui titulação institucional, está autorizado a trabalhar com a coletividade e dentro dos seguintes locais de atuação: Instituições escolares; Centros e Associações Educacionais; Instituições de Ensino Superior; Terceiro Setor, como: ONGs (Organização não Governamental), OCIPs (Organização da Sociedade Civil de Interesse público) entre outros. O Código Técnico Profissional da Neuropsicopedagogia estabelece os critérios que orientam os profissionais da Neuropsicopedagogia no Brasil. Em seu artigo 30 constam as orientações sobre o trabalho que o profissional Neuropsicopedagogo deve desenvolver de acordo com seu contexto de atuação, são eles: 12 NEUROPSICOPEDAGOGIA CLÍNICA Observação, identificação e análise dos ambientes sociais no qual está inserido a pessoa atendida, focando nas questões relacionadas a aprendizagem e ao desenvolvimento humano nas áreas motoras, cognitivas e comportamentais; Avaliação, intervenção e acompanhamento do indivíduo com dificuldades de aprendizagem, transtornos, síndromes ou altas habilidades que causam prejuízos na aprendizagem escolar e social, através de um plano de intervenção específico que prevê sessões contínuas de atendimento Criação de estratégias que viabilizem o desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem do aluno; Utilização de protocolos e instrumentos de avaliação e reabilitação devidamente validados, respeitando sua formação de graduação; Elaboração de relatórios, laudos e pareceres técnicos profissionais; Encaminhamento a outros profissionais quando o caso for de outra área de atuação/especialização. NEUROPSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL Observação, identificação e análise dos ambientes e dos grupos de pessoas atendidas, focando nas questões relacionadas a aprendizagem e ao desenvolvimento humano nasáreas motoras, cognitivas e comportamentais, considerando os preceitos da Neurociência aplicada a Educação, em interface com a Pedagogia e Psicologia Cognitiva. Criação de estratégias que viabilizem o desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem dos que são atendidos nos espaços coletivos. Encaminhamento de pessoas atendidas a outros profissionais quando o caso for de outra área de atuação/especialização contribuir com aspectos específicos que influenciam na aprendizagem e no desenvolvimento humano. Assim, a neuropsicopedagogia clínica atua em equipe multiprofissional, avalia e intervém em crianças e adolescentes com dificuldades escolares, porém necessitará de supervisão clínica. Todavia, é importante ressaltar, que em agosto de 2016, a SBNPp publicou uma Nota Técnica nº 01/2016, a qual especifica as atividades do neuropsicopedagogo e a regulamentação da sua formação. Saiba Mais Acesse o site da SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEUROPSICOPEDAGOGIA – SBNPP e leia na íntegra a 13 NOTA TÉCNICA Nº 01/2016. Disponível em: http://www.sbnpp.com.br/wp- content/uploads/2016/11/Nota-T%C3%A9cnica-01-2016- agosto.pdf Ao fazer uma reflexão sobre a neuropsicopedagogia, é possível concluir que essa área de estudo é muito importante para o campo da educação, pois ela auxilia àqueles que possuem alguma deficiência cognitiva e de relacionamento interpessoal, fatores que interferem na aprendizagem do indivíduo. Resumo da Aula 01 No decorrer desta aula discutiu-se acerca da neuropsicopedagogia e sobre o seu surgimento no âmbito das neurociências. Foram feitas algumas reflexões sobre a formação do psicopedagogo, de acordo com a legislação vigente. Por fim, conheceu-se e refletiu-se sobre o histórico das neurociências e sua contribuição para a área da educação. Atividade de Aprendizagem Pesquise sobre a relação entre o cérebro e a aprendizagem e discorra sobre os tópicos que foram estudados em aula. Aula 2 – Ciências e Práticas que Compõem a Neuropsicopedagogia Apresentação da Aula 02 A neuropsicopedagogia é uma área de estudo recente e ainda bastante pesquisada. Nesta aula serão feitas algumas reflexões acerca da formação da neuropsicopedagogia e as demais áreas do conhecimento que a compõem. Falar-se-á também sobre a importância e as contribuições dessa área e do profissional neuropsicopedagogo para a formação do cidadão. 14 2 Conhecendo as Ciências que Formam a Neuropsicopedagogia Serão iniciados os estudos fazendo algumas reflexões sobre a neuropsicopedagogia e sobre as ciências que a compõem. Falar-se-á sobre sua trajetória ao longo do seu desenvolvimento e quais são suas contribuições para a educação e para o educando com problemas de aprendizagem. Para compreender a área, deve-se compreender a origem do seu nome: NEURO – Do grego Neuron, nervo e Logos, estudo. A neurologia é a especialidade médica que trata das enfermidades do cérebro. Estuda a estrutura, função e desenvolvimento do sistema nervoso (central, periférico e autônomo) e músculos. O neurologista é um médico que se especializou no estudo das enfermidades e transtornos que afetam o sistema nervoso. PSICO – Etimologicamente psicologia deriva das palavras gregas psyché (alma, espírito) e logos (estudo, razão, compreensão). É uma ciência que estuda a conduta e os fenômenos mentais subjacentes. O psicólogo previne e trata as enfermidades mentais, distúrbios emocionais e de personalidade. PEDAGOGIA – a palavra pedagogia tem sua origem no grego antigo paidagogós. Esta palavra é composta por paidos, criança; gogia, conduzir ou levar. Portanto, o conceito fazia referência ao escravo que levava as crianças para a escola. Atualmente a pedagogia é o conjunto de saberes relacionados à educação, entendida como um fenômeno que pertence intrinsicamente a espécie humana e que se desenvolve socialmente. Portanto, é uma ciência aplicada com características psicossociais que tem a educação como principal objeto de estudo. NEURO + PSICO + PEDAGOGIA É a especialidade na qual convergem várias ciências, como a neurologia, pedagogia, psicologia e educação. Ela avalia, diagnostica e oferece tratamento especializado para os problemas de aprendizagem, de linguagem, conduta e desempenho escolar. 15 2.1 Contextualização A neuroeducação é o estudo das relações neurológicas e a aprendizagem que promove uma melhor integração entre as ciências da educação e o setor da neurociência vinculada a cognição, aproveitando os conhecimentos sobre o funcionamento cerebral para ensinar e aprender melhor. A pedagogia é a ciência responsável pela formação, educação, instrução e desenvolvimento dos cidadãos de uma sociedade. Em razão disso, a pedagogia necessita de um maior envolvimento com as diferentes disciplinas do conhecimento científico, sobretudo as que podem contribuir com uma visão mais global do ser humano e que facilite sua abordagem desde uma teoria heurística. As práticas e/ou estratégias pedagógicas utilizadas durante o processo de ensino e aprendizagem influenciam na organização do sistema nervoso, resultando em novos comportamentos e atitudes. No século passado, nos anos 20, ocorreu a união da pedagogia com a psicologia. A partir dessa união houve o aparecimento e desenvolvimento de novos campos do conhecimento, tanto a nível empírico quanto teórico para ambas as disciplinas. Entretanto, a relação com a neuropsicologia se deu a partir dos anos 80 do século passado, embora seja relevante mencionar que a ideia de uma educação baseada nas propriedades da cognição e o cérebro humano como um órgão do conhecimento remonta às últimas décadas do século XIX. Foi da psicologia que a neuropsicopedagogia herdou os conhecimentos sobre o comportamento humano, emocionais, afetivos e motivacionais, que geralmente estão envolvidos com a aprendizagem. A partir do envolvimento com as neurociências, a psicologia trouxe consigo abordagens diferenciadas que contribuíram para que a área pedagógica, e as demais envolvidas com o processo educacional, percebessem o ser humano como uma visão sistêmica. A partir dessa constatação essas áreas começaram a interagir de forma interdisciplinar e como resultado dessa interação surgiu a Neuroeducação. Caracterizada pela multi e interdisciplinaridade, a Neuroeducação chegou para oferecer alternativas para a docência e, também, para as 16 pesquisas relacionadas à educação em uma abordagem que envolve o conhecimento e a inteligência, integrando as três áreas: a Psicologia, a Educação e as Neurociências, e as demais áreas que se estabeleceram com a integração dos campos: Neuropsicopedagogia, Neuropsicologia e Psicopedagogia. Hennemann (2015), em seu artigo Considerações sobre o Livro Neuropsicopedagogia Clínica – Introdução, Conceitos, Teoria e Prática, elaborou um quadro comparativo, baseado na obra de Russo (2015), das diferentes áreas, a saber: Quadro 1 - Diferenciações e semelhanças entre a Neuropsicopedagogia, Neuropsicologia e Psicopedagogia Neuropsicopedagogia Neuropsicologia Psicopedagogia Bases Neurociência + Psicologia + Pedagogia Neurociência + Psicologia Psicologia + Pedagogia Instrumentos de avaliação Faz uso de testes não privativos (instrumentos que podem ser utilizados tanto pela Psicologia quanto por outras profissões), realizando avaliação, intervenção e acompanhamento do indivíduo com dificuldades de aprendizagem, transtornos, síndromes ou alta habilidades que causam prejuízo na aprendizagem escolar e social. Faz uso de instrumentos especificamente padronizados avaliando as funções neuropsicológicas (habilidades de atenção, percepção, linguagem, raciocínio, abstração, memória, aprendizagem, habilidades acadêmicas, processamento de informações, visuoconstrução,afeto, funções motoras e executivas. Faz uso de métodos, instrumentos e recursos próprios para a compreensão do processo de aprendizagem, cabíveis na intervenção. Atuação Atua na avaliação, intervenção, acompanhamento, orientação de estudos e no ensino de estratégias de aprendizagem. Atua no diagnóstico no tratamento e na pesquisa da cognição, das emoções, da personalidade e do comportamento sob o enfoque da relação entre esses aspectos e o funcionamento cerebral. Atua em Educação e Saúde que se ocupa do processo de aprendizagem considerando o sujeito, a família, a escola, a sociedade e o contexto socio- histórico, utilizando procedimentos 17 próprios, fundamentados em diferentes referenciais teóricos Semelhanças Natureza Multiprofissional, inter e transdisciplinar e o estudo do desenvolvimento humano e dos processos de ensino e aprendizagem. Fonte: Russo, 2015. A neuropsicopedagogia é uma área de estudos ainda muito recente, ela propõe uma visão diferente do ser humano que está em formação e, deve ser complementada com outras visões, de outras áreas, que permitam aproximar- se do estudante de maneira mais integral. Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Leia a obra Neuropsicopedagogia Clínica – Introdução, Conceitos, Teoria e Prática (Rita M.T.Russo), a autora faz considerações acerca do profissional Neuropsicopedagogo, suas funções e atuações. 2.2 Neuropsicopedagogia e a Escola/Professor A aprendizagem humana é intrínseca à experiência, porém, quando se trata do ensino/aprendizagem nas escolas, essa questão é compreendida como um ensino tradicional, centrado na quantidade de informações e o professor como detentor do conhecimento. Ainda existem professores cujo foco é somente a escola, e não estão aptos para reconhecer àqueles que possuem alguma dificuldade relacionada à aprendizagem, pois esses esperam que todos os alunos aprendam de uma mesma maneira. Se está vivendo em uma época de muitos avanços na área dos estudos do cérebro e, considerando esse 18 aspecto, é incabível querer que os alunos somente memorizem informações, já que existem outros recursos para ajudá-los a assimilar conhecimentos. É nesse contexto que a Neuropsicopedagogia pode contribuir para auxiliar esses alunos com problemas de aprendizagem, pois é uma área que está formada por outras áreas que contribuem para esse reconhecimento, são elas: a Neurociência e as Ciências da Cognição. Por isso, a neuropsicopedagogia, além de focar no aluno, ela também tem como foco instruir o professor para que tenha conhecimento e condições de reconhecer as dificuldades dos aprendizes que estão relacionadas ao cérebro, à inteligência e à memória no complexo sistema cognitivo humano. Saiba Mais Para se compreender mais sobre a neurociência, acesse o artigo Neuropsicopedagogia: novas perspectivas para a aprendizagem e saiba mais sobre os princípios de Tokuma- Espinosa. Disponível em: http://neuropsicopedagogianasaladeaula.blogspot.com.br/201 2/10/neuropsicopedagogia-novas-perspectivas.html Segundo Marcuschi (2007), os estudos cognitivos do ser humano são vistos como um fenômeno essencialmente social, elaborado intersubjeti- vamente no plano do discurso. A cognição é considerada um sistema criativo, pois cria e recria suas aprendizagens. A sala de aula, por exemplo, é um local no qual ocorre a interação, então cabe ao professor criar situações de aprendizagem com significação. Uma forma de fazê-lo é utilizar metáforas, pois além de figuras de linguagem elas são ferramentas muito eficazes para a compreensão, porque acercam a cognição do aluno ao seu componente cultural direto. Portanto, conhecer os alunos e mapear suas cognições, contribui para a escolha de temas para as próximas aulas, com o uso das metáforas, por exemplo, e que contribuam efetivamente com o aprendizado. 2.3 Neuropsicopedagogia e Práticas: Algumas Considerações 19 Os conhecimentos neuropsicopedagógicos permitem entender como se dá a aprendizagem em cada indivíduo e, dessa maneira, oferecem possibilidades educacionais positivas para todos, quebrando o paradigma de que a aprendizagem só acontece para algumas pessoas. Na verdade, ela sempre acontece, porém para alguns com mais dificuldade devido à presença de algum problema de aprendizagem. Considerando esse contexto, é oportuno mencionar os princípios da neuroeducação postulados por Espinosa (2008), que são utilizados como componentes muito importantes nas intervenções neuropsicopedagógicas, a saber: Estudantes aprendem melhor quando são altamente motivados do que quando não têm motivação; Stress impacta o aprendizado; Ansiedade bloqueia oportunidades de aprendizado; Estados depressivos podem impedir o aprendizado; O tom de voz de outras pessoas é rapidamente julgado no cérebro como ameaçador ou não ameaçador; As faces das pessoas são julgadas quase que instantaneamente (i.e. intenções boas ou más); Feedback é importante para o aprendizado; Emoções têm papéis-chave no aprendizado; Movimento pode potencializar as oportunidades de aprendizado; Nutrição impacta o aprendizado; Sono impacta consolidação de memória; Curiosidade A consolidação das memórias ocorre pouco a pouco, a cada período de sono, quando as condições químicas cerebrais são propícias à neuroplasticidade. O sono e o aprendizado são importantes fatores para o processo de aquisição e armazenamento de conhecimento. Disponível em: http://inescozzo.com/sono-memoria-e- aprendizagem/ 20 Estilos de aprendizado (preferências cognitivas) são devidas à estrutura única do cérebro de cada indivíduo; Diferenciação nas práticas de sala de aula são justificadas pelas diferentes inteligências dos alunos. Considerando os princípios acima mencionados, pode-se afirmar que a aprendizagem não envolve somente a memorização de conteúdos, envolve também outros fatores, tais como: motivação, emoção, interação, entre outros. A escola deve dar acesso aos neuropsicopedagogos, pois esses profissionais possuem competência para identificar como se dá a aprendizagem do aluno e, também, com relação à metodologia que está sendo utilizada pelo professor, pois suas ações, baseadas nos princípios mencionados acima, podem orientar o professor quanto a sua metodologia para que haja uma aprendizagem mais significativa, visando possibilitar a verdadeira inclusão escolar e social. Vídeo Assista ao vídeo Cérebro – Máquina de aprender – Parte 05 de 05, e veja sobre como o cérebro funciona e duas formas que auxiliam para se pensar melhor, que é a leitura e o exercício físico. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=JmF2B- fuaxQ&list=PLxYtbIgLQaIAJj2_7tOVKDg-nUi7wNQ_r&index=5 2.4 O Neuropsicopedagogo A Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia (SBNPp) Conselho Técnico – Profissional, na Nota Técnica nº 01/2016, faz orientações acerca das atividades do Neuropsicopedagogo de acordo com as demandas nos diferentes contextos de atuação. A nota técnica visa informar os órgãos competentes interessados, sobre a inclusão do cargo de Neuropsicopedagogo no quadro efetivo de profissionais, pois são essenciais para o encaminhamento de educandos com problemas de aprendizagem. 21 Saiba Mais Leia a Nota Técnica nº 01/2016 da Sociedade Brasileira De Neuropsicopedagogia na íntegra, e saiba mais sobre as funções do profissional Neuropsicopedagogo Disponível em: http://www.sbnpp.com.br/wp- content/uploads/2016/05/SBNPP-CTP-Nota- T%C3%A9cnica-n.-01-2016.pdf O Neuropsicopedagogo pode atuar em dois contextos: no âmbito Institucional, voltado especificamente à Educação, Especial Inclusiva, e no âmbito Clínico. Conheça a descrição detalhada das funções desse profissional no Art. 29 e 30:Resolução 03/2014 da SBNPp – NOTA TÉCNICA Art. 29 Ao Neuropsicopedagogo com formação na área Institucional, conforme descrito no Capítulo V, fica delimitada sua atuação com atendimentos neuropsicopedagógicos exclusivamente em ambientes escolares e/ou instituições de atendimento coletivo. §1°. Entende-se que sua atuação na área de Institucional, ou de educação especial, de educação inclusiva escolar deve contemplar: a) Observação, identificação e análise do ambiente escolar nas questões relacionadas ao desenvolvimento humano do aluno nas áreas motoras, cognitivas e comportamentais; b) Criação de estratégias que viabilizem o desenvolvimento do processo ensino- aprendizagem do aluno; c) Encaminhamento do aluno a outros profissionais quando o caso for de outra área de atuação/especialização. Art. 30 Ao Neuropsicopedagogo com formação clínica, conforme descrito no Capítulo V, fica delimitada sua atuação com atendimentos neuropsicopedagógicos individualizados em setting adequado, como consultório particular, espaço de atendimento, posto de saúde, terceiro setor. Os atendimentos em local escolar ou hospitalar devem acontecer de forma individual e em local adequado. §1°. Entende-se que sua atuação na área clínica ou de atendimento multiprofissional deve contemplar: a) Observação, identificação e análise do ambiente escolar nas questões relacionadas ao desenvolvimento humano do aluno nas áreas motoras, cognitivas e comportamentais; b) Avaliação, intervenção e acompanhamento do indivíduo com dificuldades de aprendizagem, transtornos, síndromes ou altas habilidades que causam prejuízos na aprendizagem escolar e social; 22 c) Criação de estratégias que viabilizem o desenvolvimento do processo ensino- aprendizagem do aluno; d) Utilização de protocolos e instrumentos de avaliação e reabilitação devidamente validados, respeitando sua formação de graduação; e) Elaboração de relatórios e pareceres técnicos-profissionais; f) Encaminhamento a outros profissionais quando o caso for de outra área de atuação/especialização. O especialista em Neuropsicopedagogia, como visto anteriormente, pode atuar em diferentes contextos. Ele é um profissional que está apto a compreender o processo cognitivo e suas implicações na aprendizagem, pois os conhecimentos adquiridos durante sua formação, lhe permitem reconhecer os transtornos, síndromes, patologias e distúrbios manifestados no indivíduo. A partir da identificação dos sintomas, esse profissional proporá uma intervenção neuropsicopedagógica que será realizada em conjunto com os professores, escola (equipe pedagógica), familiares e demais profissionais que participam do cotidiano do educando. Vídeo Assista ao vídeo indicado e saiba quais são as contribuições da Neurociência para o processo de formação da nova competência do professor-educador do século XXI. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=M5F2S5D5CDE Dessa forma, a aula refletiu sobre a formação da área neuropsicopedagogia e sua importância para o tratamento dos problemas de aprendizagem, além de discutir sobre as funções e o papel do neuropsicopedagogo no ambiente escolar. Foi visto também que a neuropsicopedagogia é uma área de estudos ainda muito recente e que ainda tem um longo caminho a percorrer até que seja reconhecida como uma ciência. Resumo da Aula 02 23 Esta aula abordou os principais temas relacionados à formação da área da neuropsicopedagogia e do profissional neuropsicopedagogo. Foram feitas algumas considerações a respeito das práticas aplicadas ao contexto escolar, e apresentou-se alguns itens que são fundamentais para as intervenções neuropsicopedagógicas. Atividade de Aprendizagem Discorra sobre o papel do neuropsicopedagogo e sua importância no ambiente escolar. Aula 3 – O Neuropsicopedagogo e sua Atuação nos Casos de Transtornos e Distúrbios Apresentação da Aula 03 O neuropsicopedagogo é um profissional muito importante no que diz respeito ao tratamento dos transtornos e distúrbios relacionados à aprendizagem. Nesta aula serão abordadas algumas considerações acerca da diferença entre dificuldade e transtorno de aprendizagem e qual o papel desse profissional nos casos especiais. Será iniciado os estudos fazendo algumas reflexões sobre a atuação profissional do neuropsicopedagogo e sua atuação nos problemas de aprendizagem. Serão vistas as principais diferenças entre transtornos e dificuldades de aprendizagem e, por fim, falar-se-á sobre a identificação, intervenção, encaminhamento e atuação do neuropsicopedagogo. 3 O Neuropsicopedagogo e os Problemas de Aprendizagem Para que se possa entender a função do neuropsicopedagogo e sua atuação com alunos que apresentam problemas de aprendizagem, é 24 imprescindível um esclarecimento acerca do que é a dificuldade de aprendizagem e transtorno, e qual é o papel do cérebro no processo de aprendizagem. Alguns teóricos da área afirmam que os problemas de aprendizagem são decorrentes da “ensinagem”, pois a falta de estímulos pode gerar o fracasso escolar. Portanto, é necessária uma análise cuidadosa sobre as possíveis causas, sintomas e, também, as consequências e tratamento. Segundo Sara Paín, os problemas de aprendizagem não devem ser considerados erros: […] são perturbações produzidas durante a aquisição e não nos mecanismos de conservação e disponibilidade […]; é necessário procurar compreender os problemas de aprendizagem não sobre o que se está fazendo, mas sim sobre como se está fazendo (SARA PAÍN 1992, p. 32). 3.1 Transtornos de Aprendizagem “O que significa transtorno de aprendizagem?”. O conceito de transtorno de aprendizagem é ainda muito difícil de definir, pois essa situação é resultado das controvérsias teóricas que existem entre as diferentes disciplinas envolvidas nesse assunto (neurologia, psicologia, neuropsicologia, neuropsicopedagogía, fonoaudiologia, pedagogia, educação, entre outras). O Transtorno de Aprendizagem está relacionado com a falta de habilidade específica, como leitura, escrita ou matemática, em aprendizes que apresentam resultados inferiores ao esperado para o seu nível de desenvolvimento. A National Joint Comittee on Learning Disabilities (1988, s/p), conceituou os problemas de aprendizagem como: Dificuldade de aprendizagem é um termo geral que se refere a um grupo heterogêneo de transtornos manifestados por dificuldades significativas na aquisição e uso da escuta, fala, leitura, escrita, raciocínio ou habilidades matemáticas. Estes transtornos são intrínsecos ao indivíduo, supondo-se que são devido à disfunção do sistema nervoso central, e podem ocorrer ao longo do ciclo vital. Podem existir junto com as dificuldades de aprendizagem, problemas nas condutas de autorregulação, percepção social e interação social, mas não constituem por si próprias, uma dificuldade de aprendizado. Ainda que as dificuldades de aprendizado possam ocorrer concomitantemente com outras condições incapacitantes como, por 25 exemplo, transtornos emocionais graves ou com influências extrínsecas (tais como as diferenças culturais, instrução inapropriada ou insuficiente), não são o resultado dessas condições ou influências. A Organização Mundial da Saúde (1992) descreve os transtornos de aprendizagem no CID-10, e a Associação Psiquiátrica Americana (2013) no DSM-V. Esses manuais utilizam o termo “transtorno” para evitar problemas maiores quanto ao uso dos termos “doença” ou “enfermidade” As primeiras acepções sobre transtornos surgiram do campo da medicina e tem como finalidade dar explicações biológicas de etiologia e as causas das dificuldades de aprendizagem. No século XX, a psicologia se ocupa de encontrar formas de classificar e selecionar os indivíduos que entram na escola e, para isso, Alfred Binet e Théodore Simoncriaram um teste para medir a capacidade mental em crianças, a escala Binet-Simon surgiu em 1905. A escala de inteligência, resultado do teste, permitia classificar as crianças que podiam frequentar a sala de aula convencional daqueles que deveriam receber um tratamento especial. Saiba Mais O QUE É A ESCALA BINET-SIMON Consistia em um teste desenvolvido para medir a inteligência em geral. Possui uma série de problemas que deveriam ser resolvidos em um determinado espaço de tempo e acompanhado pelo psicólogo. Disponível em: http://www.histedbr.fe.unicamp.br/revista/edicoes/39/res02_ 39.pdf A partir dos estudos de Binet, surgiu uma corrente psicométrica que desenvolveu uma série de escalas para medir a inteligência e, o resultado classificava os indivíduos. Porém, houve uma série de críticas a esse tipo de teste, pois acreditava-se que eles não mediam o que era proposto a medir. Quanto as críticas positivas, elas afirmam que por meio desses testes foi possível fazer um resumo de ideias que possibilitaram que sua utilização seja 26 mais fácil de ser aplicada. Também foi possível a criação de scores para medir e tabelar os vários esquemas e estruturas (ROTH, RAAB, GRECO, 1998). Curiosidade Ainda no século XX, foram utilizadas várias denominações relacionadas aos problemas de aprendizagem, muitos dos quais surgiram da descrição de problemas específicos para a aprendizagem de leitura, escrita, cálculo ou dificuldades comportamentais que afetam o rendimento escolar. Em 1896, Pringle Morganf defrontou-se com um adolescente de 14 anos que, apesar de parecer muito inteligente, apresentava incapacidade com a linguagem escrita. Morgan chamou este evento de “cegueira verbal”, mais tarde foi chamada de “cegueira verbal congénita”, “dislexia congênita”, “estrefossimbolia”, “alexia do desenvolvimento”, “dislexia constitucional”, e até “parte do contínuo das perturbações de linguagem, caracterizada por um défice no processamento verbal dos sons”. 3.2 Quais as Origens dos Transtornos de Aprendizagem? Segundo o DSM IV, o transtorno de aprendizagem ocorre quando o rendimento do indivíduo em leitura, cálculo ou expressão escrita é inferior ao esperado por faixa etária, escolarização ou nível de inteligência. A falta de oportunidades, o ensino deficiente, fatores culturais, problemas de visão ou audição alteradas ou retardo mental são as possíveis causas de variações no rendimento escolar. (DSM IV, 1992). Por outro lado, o DSM V afirma que o transtorno da aprendizagem é um transtorno de origem biológica e que está relacionado com as anomalias no nível cognitivo e que resultam em manifestações comportamentais. Conforme Fontes (2007), a origem biológica se dá por fatores genéticos, epigenéticos e ambientais, que agem no potencial cerebral, na percepção ou no processamento das informações verbais e não verbais com eficácia e precisão. 27 Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Leia na íntegra o Manual Diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (2014), no qual se encontrará informações importantes sobre enfermidades e diagnósticos. 3.3 O que é Aprendizagem? A Aprendizagem implica em uma construção progressiva de organizações cognitivas que vão se estruturando de acordo com a interação entre o meio ambiente e as experiências do indivíduo. Tal fato explica que, o homem dotado de uma estrutura biológica, ao entrar em contato com diferentes situações, tem a capacidade de processar as diversas informações e estruturá- las pelo seu grau de importância, ou seja, assimila somente as informações que lhe pareçam relevantes e significativas. Por esse motivo é que são muito importantes os fatores emocionais e sociais, pois tais fatores implicam em uma tomada de consciência na sua relação consigo mesmo e com os outros, em função dos seus interesses, valores, atitudes e crenças. 3.4 Transtorno de Aprendizagem ou Dificuldade Escolar? Segundo Bateman apud Brunet (1998), as crianças com dificuldades específicas de aprendizagem são aquelas que apresentam uma divergência educacional significativa entre seu potencial intelectual e seu nível de desempenho, relacionada com desordens básicas nos processos de aprendizagem e que podem, ou não, estar acompanhados de uma disfunção verificada no sistema nervoso central e não são secundários a um retardo mental generalizado, a uma desvantagem cultural ou educativa, a perturbações emocionais severas ou uma perda sensorial. 28 Para identificar se é transtorno ou dificuldade, é importante compreender quais são os problemas que a criança está apresentando e, se esses problemas são mais gerais ou específicos de desenvolvimento. Nos casos de dificuldade de aprendizagem não há alterações funcionais, propriamente ditas, de base neurológica, que possam impedir ou limitar a aprendizagem. Nesses casos o problema é externo à criança, embora a criança não esteja aprendendo, o problema não está efetivamente nela. O problema pode ter origem em fatores socioeconômicos, problemas de natureza familiar, limitações ou, principalmente, problemas de natureza pedagógica, ou seja, as escolas nem sempre estão devidamente preparadas para dar conta da diversidade de perfis de aprendizagem e da diversidade de aprendizes. Muitas vezes a proposta que a escola apresenta pode ser útil e efetiva para algumas crianças, mas para outras pode não ter a mesma eficiência. As dificuldades podem ser transitórias e podem ser superadas caso os alunos sejam bem ensinados. As dificuldades podem ser geradas pela própria escola em sua forma de ensinar. Já os Transtornos de Aprendizagem são transtornos provocados por alterações funcionais e são intrínsecas às crianças, são de base neurológica e fazem parte de sua constituição neurológica. As condições sociais e pedagógicas podem estar presentes, podem ser boas ou desfavoráveis, mas não são elas os verdadeiros fatores causadores dessas limitações. Se o professor possui uma boa formação para trabalhar nessas situações, o fator escolar será altamente favorável. Se a escola/professor não tem preparo para esta situação isso pode agravar o problema apresentado pelo indivíduo. Curiosidade Os Sinais e Sintomas na primeira infância que identificam distúrbios de aprendizagem: 29 Atraso no desenvolvimento motor; Atraso ou deficiência na aquisição da fala; Dificuldade para entender o que ouve; Chora muito, tímida e irritadiça; Inquieta, agitada e muda de atividade com frequência; Dificuldade de adaptação aos primeiros anos escolares; Distúrbios do sono com pesadelos, terror noturno, sonambulismo e enurese noturna. O transtorno de aprendizagem é a dificuldade persistente que traz prejuízo na evolução do desenvolvimento do aprendiz, é um fator complicador no processo de aprendizagem da criança. O déficit de atenção, dislexia, hiperatividade, disgrafia e discalculia são alguns dos problemas mais comuns que as crianças podem apresentar na vida acadêmica, são transtornos considerados de base neurológica e que se apresentam na forma de um distúrbio funcional. Essas dificuldades tendem a ser mais permanentes, são dificuldades mais duradouras e elas persistem apesar dos possíveis avanços que a criança pode ter, apesar da ajuda que está recebendo do ponto de vista pedagógico, intervenção fonoaudiológica, psicopedagógica, etc. É importante que as diferenças entre dificuldades e transtornos possam ser identificadas e diferenciadas e, também, compreender quais são os problemas que a criança está apresentando e, se esses problemas são mais gerais ou específicos de desenvolvimento. “As limitações fazem parte do quadro de transtorno de aprendizagens?” “São de natureza funcional?” “Ou essas dificuldades são mais transitórias e passageiras?” Dependem, acima de tudo, de modificaçõesdentro do contexto escolar ou da sala de aula. A diferença mais marcante entre as dificuldades de aprendizagem e os transtornos de aprendizagem é o tempo de reação. As crianças com dificuldades escolares, quando sofrem uma intervenção bem dirigida, tendem a responder rapidamente, e na maior parte das vezes as 30 dificuldades desaparecem. Portanto, é a resposta à intervenção que vai ajudar a fazer a diferença entre os verdadeiros transtornos de aprendizagem daqueles problemas que estão muito presentes da sala de aula, ou seja, as dificuldades de aprendizagem. Outro ponto relevante é que a formação de professores deve ser aprimorada para que a aprendizagem seja otimizada para diminuir as dificuldades escolares e facilitar a aprendizagem de alunos com transtornos. 3.5 Quando Encaminhar os Indivíduos com Dificuldades de Aprendizagem? É normal encontrar alunos com dificuldades variadas com a leitura e com a escrita. Muitas crianças, apesar da idade, não estão alfabetizadas. Outros fatores importantes são: dificuldade para memorizar, de atenção e desinteresse por tudo que diz respeito à sala de aula. Além desses fatores, há também a queixa com relação à preguiça em sala de aula, o indivíduo não consegue acompanhar a turma, há uma defasagem entre o seu desempenho e o da turma. Apresentam problemas de lentidão e comportamento, além de limitações com a matemática. É importante que pais e professores fiquem atentos aos pequenos sinais de dificuldades de aprendizagem que muitas vezes são confundidos com preguiça e relaxamento. A preguiça ou relaxamento sempre acompanha uma dificuldade, porque o nosso cérebro sempre procura esconder a deficiência atrás da preguiça. Toda criança que apresentar dificuldade com aprendizagem, deve se submeter a um trabalho de elevação da autoestima para que ela saiba que pode aprender. Vídeo Acesse o vídeo Veja as características específicas de cada transtorno de aprendizagem, o qual mostra um pouco das características específicas de cada transtorno de aprendizagem e como se deve atuar para auxiliar o aprendizado e desenvolvimento dessas crianças. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Zi8nJ0Jg7HI&t=109s 31 As reflexões feitas sobre as dificuldades e transtornos e suas consequências para indivíduos afetados, tiveram o intuito de proporcionar uma maior compreensão sobre a atuação do profissional e dos familiares envolvidos neste contexto, pois toda criança com problemas de aprendizagem deve ser submetida a um tratamento imediato para que, futuramente, ela tenha qualidade de vida. Resumo da Aula 03 Nesta aula falou-se sobre as diferenças entre as dificuldades e transtornos de aprendizagem e suas consequências para os indivíduos afetados. Nesse contexto se fez algumas considerações acerca do papel da escola, do professor, da família e do neuropsicopedagodo quando o problema é identificado. Atividade de Aprendizagem Discorra sobre a diferença entre o Transtorno de aprendizagem e a Dificuldade Escolar. Aula 4 - As Dificuldades de Aprendizagem e suas Implicações nos Contextos Social, Educacional e Familiar Apresentação da Aula 04 Sabe-se que as dificuldades de aprendizagem estão presentes no cotidiano das famílias, das escolas e, que muitas crianças, ou até mesmo adultos, se não forem tratados, são ou serão marginalizados pela sociedade. Portanto, a identificação, o diagnóstico, a intervenção e o encaminhamento, são ações fundamentais para garantir um futuro melhor e de mais qualidade de vida para esses indivíduos. Por isso é importante que se conheça as 32 particularidades das dificuldades de aprendizagem, como identificá-las e tratá- las. Inicia-se os estudos fazendo algumas reflexões sobre a avaliação neuropsicopedagógica, sobre a importância de um diagnóstico correto das dificuldades e o posterior encaminhamento dos indivíduos afetados aos profissionais habilitados. Serão conhecidos também alguns transtornos mais frequentes nas crianças e quais são os sintomas de cada uma delas. 4 A Avaliação Neuropsicopedagógica A neuropsicopedagogia é uma área que tem denominadores comuns com as demais disciplinas que a compõem: a convalidação dos conhecimentos teóricos, os modelos de intervenção e demais ferramentas de trabalho profissional. Sua base conceitual e técnico-procedimental se fundamenta no conhecimento interdisciplinar das bases neuropsicológicas e comportamentais no que concerne à aprendizagem escolar, bem como às alterações cognitivas e comportamentais do desenvolvimento que afetam os processos de aprendizagem escolar. A neuropsicopedagia prioriza as questões pedagógicas e funções psicológicas, com enfoque na escola, em suas práticas e em suas metodologias. 4.1 Dificuldades de Aprendizagem Escolar - Identificação e Diagnóstico Identificar corretamente as causas da “não aprendizagem” é imprescindível para a elaboração de um diagnóstico correto, pois podem ocorrer casos de alunos que apresentam dificuldades semelhantes, mas as causas das manifestações são diferentes. Quando os pais ou professores constatam algum tipo de dificuldade de aprendizagem na criança, a reação nem sempre é positiva, pois muitos pais, por total desconhecimento sobre o assunto, se negam a acreditar na existência de um problema real que pode ser um transtorno ou até uma síndrome neuropsíquica, e acabam rotulando seu próprio filho de preguiçoso ou desinteressado. 33 Por outro lado, existem os professores despreparados e desinformados, mesmo que sua profissão exija tais conhecimentos, geralmente incorrem exatamente no mesmo erro dos pais da criança. Sem saber como atuar nesses casos, os professores insistem que o aluno realize algum um tipo de atividade e, percebendo que não está obtendo resultados positivos com a ação, o professor passa a rotulá-lo de preguiçoso e relapso, sem procurar identificar se existe alguma dificuldade de aprendizagem. A preguiça contumaz e a desatenção podem estar mascarando um mecanismo de defesa que esteja escondendo uma dificuldade verdadeira. E essa dificuldade, que tanto pode ter origem num simples bloqueio ou em alguma patologia neuropsíquica precisa ser descoberta, pois ela necessita ser identificada e acompanhada por um profissional. Caso não haja uma intervenção nessa situação, certamente os resultados serão desastrosos, pois gerará sentimentos de inferioridade na criança devido aos rótulos de desatenciosa e preguiçosa e até mesmo de “burra”. Para essas crianças com problemas de aprendizagem, frequentar a escola representará um período de desespero, sacrifício, tristeza e revolta, e desta maneira se terá, então, um aluno cujas perspectivas de vida são muito negativas. Esse aluno pode apresentar apatia em relação à aula e à escola e, para tentar mascarar sua dificuldade ele tenderá a demonstrar inquietude, comportamento inadequado e, dificilmente conseguirá superar sozinho suas dificuldades para poder crescer intelectual e emocionalmente. Geralmente esse tipo de aluno desiste de estudar porque se sente incapaz de aprender. É preciso que pais, professores, e demais envolvidos com a criança com problemas de aprendizagem entendam que essa realidade pode ser revertida e, que cada uma dessas crianças tem a sua individualidade, pois dessa maneira as características específicas podem ser identificadas. Quando identificadas as dificuldades e, se estão acima da média, é imprescindível a intervenção e encaminhamento para profissionais especializados para que deem início ao acompanhamento especial em casa e na escola. 4.2 Identificação e Diagnóstico 34 A partir da identificação e, dependendo do tipo de dificuldade, surgem diversos caminhos a serem percorridos. Se for o caso, o médico identificará e dará início ao tratamentode alguma anomalia neuropsíquica, e o psicólogo identificará e tratará alguma dificuldade comportamental, se for o caso. De acordo com a situação apresentada e diagnosticada em um primeiro momento, será necessário a ajuda de outros profissionais, como: fonoaudiólogos, nutricionista, etc. Os pais e professores devem se preocupar com o desenvolvimento pessoal, emocional e intelectual da criança. É importante que haja a identificação de suas habilidades atuais, mostrando-lhe, a todo momento, a sua capacidade e inteligência, pois esse processo servirá de auxílio para a elevação da autoestima da criança. A continuidade do processo pode reduzir ou eliminar os sintomas que antes eram impeditivos ao seu desenvolvimento. Importante O CID 10 menciona que a categoria Transtornos específicos do desenvolvimento das habilidades escolares (F81), divide-se em subcategorias, são elas: CID 10 – F81 Transtornos específicos do desenvolvimento das habilidades escolares CID 10 - F81.0 - Transtorno específico da leitura CID 10 - F81.1 - Transtorno específico do soletrar CID 10 - F81.2. - Transtorno específico de habilidades aritméticas CID 10 - F81.3 - Transtorno misto das habilidades escolares CID 10 F81.8 - Outros transtornos do desenvolvimento das habilidades escolares CID 10 - F81.9 - Transtornos do desenvolvimento das habilidades escolares, não especificado. Fonte: http://www.cid10.com.br/ 35 4.3 Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) “O que acontece quando a criança apresenta dificuldades para estudar, para fazer as tarefas da escola e, apesar do seu esforço ela não consegue progredir?” Uma das causas desse problema pode ser o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Segundo Paín (1992), o TDAH, é um transtorno de origem neurobiológica que se caracteriza, principalmente, pela falta de atenção, impulsividade e hiperatividade. Esses sintomas se refletem em diferentes comportamentos e/ou problemas que a criança apresenta e que interferem em seu processo de aprendizagem, são eles: Dificuldades para organizar-se com seu horário a curto, médio e longo prazo, em casa ou na escola. Dificuldade para organizar seu trabalho e seu material escolar. Dificuldades para manter a atenção, principalmente nas atividades de longa duração. Dificuldades para obedecer a ordens ou instruções que são dadas pelos adultos. Precipitação na hora de realizar tarefas. Demonstra falta de concentração em suas atividades. Geralmente perde ou esquece o material escolar. Vídeo Assista ao vídeo TDAH, o qual fala sobre o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, mostrando como acontece, suas causas e facilitadores, e a importância de o compreender. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=zl02W9WsbD4 Algumas dificuldades específicas na aprendizagem das crianças com TDAH são: 36 Leitura: Geralmente, devido à impulsividade e à desatenção, a criança com TDAH apresenta uma leitura precipitada e incorreta, o que resulta em pouca compreensão do texto. Os erros mais comuns são: omissão de letras e/ou palavras, adição de letras e/ou palavras, repetições, substituição de palavras, vacilações (demora para ler) e, devido a rapidez na leitura, ocorre a vocalização incorreta das palavras que leu. Cálculo e matemática: Apresentam dificuldades para converter o concreto em abstrato e para utilizar o pensamento lógico, ou seja, para interpretar e imaginar o enunciado de um problema, pois não fazem abstração dos dados. Apresentam dificuldades nas operações básicas: somar, diminuir, dividir e multiplicar Escrita: Apresentam dificuldades com as atividades manuais, como: pintar, cortar, jogar com peças pequenas. Sua caligrafia é irregular e pouco organizada. Tem dificuldade para memorizar conteúdos e regras e, mesmo que as saibam, cometem erros na hora de utilizá-las. Fala: Apresentam falta de organização na fala, pensa pouco para falar, pois seu pensamento vai mais rápido que sua fala. Falam muito e de maneira impulsiva, falam de assuntos que não estão relacionados com a tarefa que estão executando e se distraem com seu próprio discurso. Importante As manifestações do TDAH em escolares variam em torno de 9% para o déficit de atenção até 40% para a hiperatividade, mas nem toda criança com TDAH tem dislexia ou distúrbio de aprendizagem em comorbidade (associação entre problemas – relação negativa com outros problemas de saúde). 4.4 O que é Dislexia? A dislexia é um transtorno que se manifesta com a dificuldade para aprender a ler, por meio de métodos convencionais de instrução, apesar da 37 criança possuir um nível normal de inteligência e oportunidades socioculturais adequadas. É um problema de aprendizagem por ser patológico, que apresenta inibição cognitiva ou sintomática, envolve a leitura e escrita, além de dificuldades com cálculos, leitura lenta e compassada. Segundo a IDA - International Dyslexia Association (2002) a dislexia: A Dislexia do desenvolvimento é considerada um transtorno específico de aprendizagem de origem neurobiológica, caracterizada por dificuldade no reconhecimento preciso e/ou fluente da palavra, na habilidade de decodificação e em soletração. Essas dificuldades normalmente resultam de um déficit no componente fonológico da linguagem e são inesperadas em relação à idade e outras habilidades cognitivas. (IDA – International Dyslexia Association, 2002, s/p.) Em termos técnicos, a Dislexia é um distúrbio neurológico que leva a: Dificuldade na decodificação da leitura e escrita e resulta no prejuízo da compreensão do que é lido. Dificuldades no processamento da informação; Afeta as operações de precisão e rapidez no ato de ler e escrever, assim como a escrita ortográfica e as produções de textos; Pode ocorrer a Discalculia; De origem genética e hereditária. Saiba Mais Para compreender um pouco mais sobre a Discalculia, veja o artigo do CogniFit, A Discalculia Infantil: tratamento, exercícios, causas, sintomas, tipos de discalculia, avaliação e definição. Disponível em: https://www.cognifit.com/br/pathology/dyscalculia 38 Importante 1. Elogiar e premiar sempre o trabalho e esforço; 2. Supervisionar as tarefas com paciência; 3. Não fazer comparações com outros irmãos e/ou alunos; 4. Importante considerar que para essas crianças é muito difícil estudar. Fonte: http://www.thepicta.com/media/1378616207271646117_4029610883 Assim, a dislexia é o efeito de múltiplas causas que podem ser agrupadas em dois polos. De um lado estão os fatores neurofisiológicos e, por outro lado, estão os conflitos psíquicos provocados pelas pressões e tensões presentes no ambiente onde a criança se desenvolve. Esses fatores levam a formação de grupos de problemas fundamentais, que se encontram na maior parte no transtorno do disléxico, cuja gravidade e interdependência é diferente em cada indivíduo. Portanto, a dislexia é uma manifestação de um serie de transtornos que podem se apresentar de um modo global, embora seja mais frequente o aparecimento, de alguns deles, de forma isolada, são eles: Lateralidade ruim: A lateralidade é o processo pelo qual a criança desenvolve a preferência ou dominância de um lado de seu corpo sobre o 39 outro. Se o predomínio é do lado direito, é um sujeito destro, se é do lado esquerdo é canhoto, e se não conseguiu um domínio lateral em alguns dos lados, se chama ambidestro. Quando bebê a criança é considerada ambidestra. Segundo Gesell (1987), geralmente a lateralidade se define após os 5 ou 6 anos de idade, embora algumas crianças manifestem um predomínio lateral mais precocemente. As crianças que apresentam alguma alteração na evolução de sua lateralidade, geralmente apresentamtranstornos de organização na visão do espaço e da linguagem que são fatores que constituem o eixo da problemática do disléxico. Grande parte dos casos disléxicos se dá em crianças que não tem um predomínio lateral definido. A lateralidade influi na motricidade, de modo que uma criança com a lateralidade mal definida, geralmente apresenta dificuldades para realizar trabalhos manuais e seus traço gráficos são descoordenados. Falta de ritmo: é percebida tanto na realização de movimentos quanto na linguagem, com pausas mal colocadas, que são evidenciadas na leitura e na escrita. Existem outros fatores que fazem parte dos problemas fundamentais que se encontram no transtorno disléxico, porém foram vistos apenas alguns devido à complexidade do tema. Falta de atenção: Devido ao esforço intelectual que utilizam para superar suas dificuldades perceptivas específicas, apresentam um alto grau de fadiga. Por essa razão aprender a ler e escrever se torna um momento difícil e desinteressante. Desinteresse pelo estudo: A falta de atenção, unida a um meio familiar e escolar pouco estimulantes, faz com que percam o interesse pelas tarefas escolares e, consequentemente seu rendimento e qualificações escolares são baixos. Inadaptação pessoal: o disléxico, por não ter uma boa orientação no espaço e no tempo, não possui ponto de referência ou de apoio, apresentando, consequentemente, insegurança e falta de estabilidade em suas reações. Como mecanismo de compensação, tem excesso de confiança em si mesmo e, muitas vezes é vaidoso, aspectos que o levam a defender suas opiniões radicalmente. 40 O diagnóstico é feito de uma forma multiprofissional, ou seja, depende da avaliação de vários profissionais, são eles: psicólogo, neuropsicólogo, psicopedagogo, neurologista, oftalmologista, psiquiatra, entre outros. É necessário avaliar se a criança apresenta disfunção visual ou auditiva, desordem neurológica, se houve algum tipo de alteração afetiva que promoveu o fracasso escolar e, por isso, ela apresenta dificuldade no aprendizado. São muitos os fatores envolvidos no diagnóstico e, por isso, é importante fazer um levantamento ou anamnese. Uma vez traçado o diagnóstico, são vários os caminhos a serem percorridos. Em um primeiro momento devem ser avaliadas quais são as dificuldades que a criança apresenta, cada criança apresenta um tipo de dificuldade. Uma criança pode apresentar dificuldade ortográfica com inversão de letras, outra criança pode ter uma dificuldade específica no cálculo, etc. A partir dessa observação é importante o profissional mapear as dificuldades para poder fazer as intervenções específicas para cada dificuldade. Essas ações podem amenizar o problema. É muito importante que haja uma identificação precoce do problema, pois as crianças com dislexia frequentemente fracassam na escola e perdem a motivação. São rotulados de preguiçosos e burros, provocando a perda da autoestima e, consequentemente o abandonam a escola. Saiba Mais Acesse o link indicado e leia o texto: Déficit de Atenção e Dislexia na Escola Escrito pela ABDA (Associação Brasileira do Déficit de Atenção) e aprenda mais sobre o assunto. Disponível em: http://www.tdah.org.br/br/artigos/textos/item/374- d%C3%A9ficit-de-aten%C3%A7%C3%A3o-e-dislexia-na- escola.html 41 Algumas das consequências da negligência no correto tratamento da dislexia são: evasão escolar, depressão precoce, baixa autoestima, transtornos de conduta e baixo alcance ocupacional. Assim, ao fazer uma reflexão sobre as dificuldades de aprendizagem, percebe-se que qualquer alteração identificada nas condições internas do indivíduo, em termos de sua estrutura neurobiológica e psicológica, bem como interferências em sua realidade ambiental, familiar e social, pode ocasionar dificuldades no processo de aprendizagem. Por isso, é de suma importância a avaliação de caráter mais complexo e específico, como é a neuropsico- pedagógica. Resumo da Aula 04 No decorrer desta aula foi discutido acerca das dificuldades de aprendizagem e a importância de se conhecer as características de cada dificuldade e/ou transtorno. Se aprendeu sobre como se dá o processo de diagnóstico, intervenção, encaminhamento e tratamento. Por fim, foram conhecidas as consequências decorrentes do não tratamento ou de um diagnóstico equivocado. Atividade de Aprendizagem Faça uma comparação entre os sintomas característicos da dislexia e o TDAH. Elabore um texto apontando as principais diferenças de diagnóstico. 42 Resumo da Disciplina Chegou-se ao fim da disciplina Fundamentos da Neuropsicopedagogia, na qual foram apresentados os conceitos e definições sobre a Neuropsicopedagia e as ciências que a compõem, ou seja, a Neurociência, a Psicologia e a Pedagogia. Também foram feitas considerações acerca do profissional neuropsicopedagogo e sua atuação mediante o tratamento dos problemas de aprendizagem no contexto escolar. Discutiu-se sobre as dificuldades e transtornos de aprendizagem e as diferenças de diagnósticos existentes entre esses dois tipos de problemas. Os estudos da neurociência ligados ao processo de aprendizagem são considerados uma revolução para o meio educacional, porque a educação e aprendizagem estão relacionadas com os processos neurais, com redes que se estabelecem, com neurônios que se comunicam e fazem novas sinapses, o que resulta em aprendizagem. A Neurociência, somada à Educação, promove um melhor entendimento sobre o que é o processo de aprendizagem. Nesse contexto relacionado ao docente a neurociência contribui para auxiliar o professor na tomada de decisões quando identificado um transtorno e/ou dificuldade de aprendizagem. Todos esses temas foram estudados com o intuito de promover uma reflexão acerca dos problemas relacionados à aprendizagem, suas origens e quais as ações necessárias para entender a realidade neuropsíquica cognitiva do sujeito, visando identificar suas potencialidades cognitivas, independentemente do tipo de dificuldade de aprendizagem, tais como, distúrbio, transtorno ou qualquer anomalia neuropsíquica que esteja presente. Cabe ao profissional neuropsicopedagogo treinar professores despreparados e, também, orientar os pais sobre o entendimento neuropsicocognitivo de seus alunos e filhos, visando possibilitar a verdadeira inclusão escolar e social. Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de Marketing da Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança de direitos autorais. 43 REFERÊNCIAS BATEMAN, B. D. et Chard, D, J. (1995) Identifying Students Who Have Learning Disabilities. The Oregon Conference Monograph, vol 7. BIBLIOTECA VIRTUAL EM SAÚDE. Estatística Internacional de doenças e problemas relacionados à saúde CID 10 – Transtornos de Aprendizagem. Disponível em: http://trigramas.bireme.br/cgibin/mx/cgi=@1?collection=CID10p&maxrel=10&mi nsim=0.30&text=Transtornos%20de%20Aprendizagem>Acesso em 31 de maio de 2017. BRASIL Secretaria de Educação Especial. Portal de ajudas técnicas para educação: equipamento e material pedagógico para educação, capacitação e recreação da pessoa com deficiência física: recursos pedagógicos adaptados. Secretaria de Educação Especial - Brasília: MEC: SEESP, 2002. BRUNET, J. P. (1998) Definición de las dificultades de aprendizaje. II Encuentro Mundial de Educación Especial. Ciudad de La Habana. Cuba. CHAMAT, Leila Sara José. 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