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Gálatas (MHenry)

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GÁLATAS 
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 Introdução 
 Capítulo 1 Capítulo 3 Capítulo 5 
 Capítulo 2 Capítulo 4 Capítulo 6 
 
Introdução 
As igrejas da Galácia estavam formadas em parte por judeus 
convertidos, e em parte por gentios convertidos, como era o caso da 
Igreja em geral. Paulo afirma o seu caráter apostólico, e as doutrinas que 
ensinou para confirmar as igrejas da Galácia na fé em Cristo, 
especialmente naquilo que diz respeito ao importante ponto da 
justificação que é somente alcançada pela fé. Deste modo, o tema é 
principalmente o mesmo discutido na Epístola aos Romanos, isto é, da 
justificação somente pela fé. 
Contudo, nesta epístola dirige-se a atenção em particular ao ponto 
em que os homens são justificados pela fé, sem as obras da lei de 
Moisés. Sobre a importância das doutrinas estabelecidas com destaque 
nesta epístola, Lutero diz: "Temos que temer como o maior perigo, e 
como o perigo mais próximo, que Satanás retire de nós esta doutrina da 
fé e tome a trazer à Igreja a doutrina das obras e das tradições dos 
homens. Daí a necessidade de que esta doutrina seja mantida em prática 
contínua e exercida em público, tanto na forma de leitura como através 
do ouvir. Se esta doutrina se perder, então se perderam a doutrina da 
verdade, da vida e da salvação". 
 
Gálatas 1 
Versículos 1-5: O apóstolo Paulo afirma o seu caráter apostólico 
contra aqueles que o desprestigiavam; 6-9: Repreende os gálatas por 
rebelarem-se contra o Evangelho de Cristo, por causa da influência de 
maus mestres;10-14: Prova a autoridade divina de sua doutrina e 
Gálatas (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 2 
missão, e declara o que era antes de sua chamada e conversão; 15-24: 
O seu procedimento posterior. 
Vv. 1-5. Paulo era um apóstolo de Jesus Cristo; foi expressamente 
nomeado por Ele, e em conseqüência por Deus Pai, que é um com Ele 
em sua natureza Divina, e nomeou a Cristo como Mediador. A graça 
incluí a boa vontade de Deus para conosco, e a sua boa obra em nós; e a 
paz, que é todo este consolo interior ou prosperidade exterior de que nós 
realmente necessitamos. Estas procedem de Deus Pai como uma fonte 
por meio de Jesus Cristo; porém, devemos observar em primeiro lugar a 
graça, e em seguida a paz. Não pode haver paz verdadeira sem a graça. 
Cristo entregou-se a si mesmo por nossos pecados, para fazer 
expiação por nós: isto era exigido pela justiça de Deus e submeteu-se a 
isto livremente. Aqui deve ser observada a infinita grandeza do preço 
que foi pago, e, então, será evidente que o poder do pecado é tão grande 
que não poderia ser retirado, de modo algum, salvo se o Filho de Deus 
fosse entregue como resgate. Aquele que considera bem estas coisas, 
compreende que o pecado é o mais horrível que se poderia expressar, o 
que deveria nos comover e, sem dúvida, nos assustar. 
Observemos bem e especialmente as palavras "por nossos pecados", 
porque aqui trata-se novamente de nossa frágil natureza, que deseja 
primeiramente ser digna por suas próprias obras; essa deseja levar à 
presença dEle aqueles que estão sadios, e não aqueles que precisam de 
um médico. Não somente para nos redimir da ira de Deus e da maldição 
da lei, mas também para nos separar dos maus costumes e das más 
práticas, aos quais estávamos naturalmente escravizados. É vão que 
aqueles que ainda não foram libertos deste mundo presente por meio da 
santificação do Espírito, tenham a expectativa de serem libertos de sua 
condenação pelo sangue de Jesus. 
Vv. 6-9. Aqueles que desejam estabelecer qualquer outro caminho 
ao céu, e que não seja aquele que é revelado pelo Evangelho de Cristo, 
se encontrarão miseravelmente errados. O apóstolo faz com que os 
gálatas tenham a devida sensação de sua culpa por abandonarem o 
Gálatas (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 3 
caminho da justificação segundo o Evangelho, ainda que a repreensão 
tenha sido feita com ternura, e os retrate como levados a esta condição 
por obra de alguns que os perturbavam. Devemos ser fiéis quando 
repreendemos outras pessoas, e dedicar-nos, contudo, a restaurá-los com 
o espírito de mansidão. 
Alguns desejam instalar as obras da lei, ao invés da justiça de Cristo, 
e, deste modo, corrompem o cristianismo. O apóstolo o denuncia de modo 
solene, declarando como maldito todo aquele que tente colocar um 
fundamento tão falso. Todos os demais evangelhos, que não sejam o 
Evangelho da graça de Cristo, afagam para o orgulho da justiça própria, ou 
favorecem às luxúrias mundanas; são invenções de Satanás. Enquanto 
declaramos que reprovar a lei moral como regra de vida tende a desonrar a 
Cristo, e a destruir a verdadeira religião, devemos também declarar que 
toda a dependência das boas obras para a justificação, sejam reais, sejam 
imaginárias, são igualmente fatais pala aqueles que persistirem nelas. 
Enquanto formos zelosos pelas boas obras, tenhamos o cuidado de não 
colocá-las no lugar que pertence exclusivamente à justiça de Cristo, e não 
propor algo que possa trair o nosso próximo com um engano tão terrível. 
Vv. 10-14. Ao pregar o Evangelho, o apóstolo procurava levar 
pessoas à obediência, não aos homens, mas a Deus. Paulo não desejava 
alterar a doutrina de Cristo, fosse para ganhar o favor deles, fosse para 
evitar a ira dos tais. Em um assunto tão importante não devemos temer a 
ira dos homens, nem buscar o favor destes utilizando palavras de 
sabedoria humana. 
Quanto à maneira como ele recebeu o Evangelho, foi por meio de 
uma revelação do céu. Não foi levado ao cristianismo, como muitos, 
somente por meio de uma educação cristã. 
Vv. 15-24. Paulo foi levado de uma forma maravilhosa ao 
conhecimento e à fé em Cristo. 
Todos aqueles que são convertidos para a salvação são chamados 
pela graça de Deus; a conversão deles é uma obra de seu poder e de sua 
graça, que neles operam. Teremos pouco proveito se tivermos a Cristo 
Gálatas (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 4 
somente revelado a nós, se Ele também não estiver revelado em nós. 
Estava preparado para obedecer imediatamente, a despeito de seus 
próprios interesses, de seu crédito, conforto mundano ou de sua própria 
vida. Que motivo é de ação de graças e de alegria para os membros da 
Igreja de Cristo, quando tomam conhecimento de casos semelhantes para 
louvor da glória de sua graça, quer seja na vida de alguém que já tenham 
visto alguma vez, ou que jamais tenham visto! Eles glorificaram a Deus 
por seu poder e misericórdia ao salvar tais pessoas, e por todo o serviço 
feito ao seu povo e à sua causa, e pelo serviço que também pode ser 
esperado pela posteridade, por aqueles que ainda o servirão. 
 
Gálatas 2 
Versículos 1-10: O apóstolo declara que foi reconhecido como o 
apóstolo dos gentios; 11-14: Resistiu publicamente a Pedro por seu 
comportamento voltado ao judaísmo; 15-21: Daí passa à doutrina da 
justificação por meio da fé em Cristo, sem as obras da lei. 
Vv. 1-10. Observemos a fidelidade do apóstolo ao dar um relato 
completo da doutrina que havia pregado entre os gentios, e que ainda 
estava decidido a pregar, a do cristianismo, livre de toda a mescla com o 
judaísmo. Esta doutrina seria desagradável para muitos, mas ele não 
temia reconhecê-la. A sua preocupação era que não decaísse o êxito de 
seus trabalhos passados, ou que fosse prejudicado em sua futura 
utilidade. Enquanto dependermos claramente de Deus para o êxito em 
nossos labores, devemos utilizar toda a cautela necessária para eliminar 
erros, e contra os opositores. Há coisas que podem ser cumpridas de 
modo lícito; porém, quando não podem ser feitas sem trair a verdade, 
devem ser rejeitadas. Não devemos dar lugar a nenhuma conduta pela 
qual a verdade do Evangelho possa ser censurada. 
Ainda que Paulo conversasse com os outros apóstolos, não recebeu 
destes nada novo para o seu conhecimento ou autoridade. Deram-se 
conta da graça que lhe foi dada, e estenderama ele e a Barnabé as 
destras em comunhão, pelo que reconheciam que fora nomeado no ofício 
Gálatas (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 5 
e dignidade de apóstolo, como eles mesmos o foram. Acordaram que os 
dois deveriam ir aos gentios, enquanto eles continuariam pregando para 
os judeus; julgaram que a idéia de dividirem-se deste modo na obra era 
do agrado de Cristo. 
Aqui aprendemos que o Evangelho não pertence a nós, mas a Deus, 
e que nós os homens somos apenas seus guardiães. Por esta razão temos 
que louvar a Deus. O apóstolo mostrou a sua disposição à caridade e o 
quão disposto estava para aceitar aos judeus convertidos como irmãos, 
ainda que muitos dos apóstolos dificilmente permitiriam igual favor a 
estes; porém, somente a diferença de opiniões não era um motivo justo 
para que não os ajudasse. Aqui está um padrão do amor cristão, que 
devemos sempre estender a todos os discípulos de Cristo. 
Vv. 11-14. Apesar do caráter de Pedro, quando Paulo o viu agindo 
de modo prejudicial à verdade do Evangelho e à paz da Igreja, não teve 
medo de repreendê-lo. Quando viu que Pedro e os demais não viviam 
conforme o princípio que é ensinado pelo Evangelho, e que eles 
professavam, a saber, que pela morte de Cristo foi derrubado o muro de 
separação entre os judeus e os gentios, e a observância da lei de Moisés 
deixava de estar em vigência; como a ofensa de Pedro era pública, Paulo 
o repreendeu publicamente. Existe uma diferença muito grande entre a 
prudência de Paulo, que sustentou e utilizou por certo tempo as 
cerimônias da lei como se não fossem pecaminosas, e a conduta tímida 
de Pedro que, por apartar-se dos gentios, levou outros a pensar que estas 
cerimônias eram necessárias. 
Vv. 15-19. Tendo Paulo assim demonstrado que não era inferior a 
nenhum dos apóstolos, nem ao próprio Pedro, fala da grande doutrina 
fundamental do Evangelho. Para que cremos em Cristo? Não foi para 
que fôssemos justificados por meio da fé em Cristo? Sendo assim, não é 
uma atitude néscia retornarmos à lei, e esperar que sejamos justificados 
pelos méritos de obras morais, dos sacrifícios ou das cerimônias? A 
ocasião desta declaração surgiu sem dúvida da lei cerimonial; porém, o 
Gálatas (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 6 
argumento é tão forte contra toda a dependência das obras da lei moral, 
que jamais seria capaz de obter a justificação. 
Para dar maior peso a este fato, acrescenta-se aqui: "Pois, se nós, 
que procuramos ser justificados em Cristo, nós mesmos também somos 
achados pecadores, é, porventura, Cristo ministro do pecado? De 
maneira nenhuma". Isto seria muito desonroso para Cristo e também 
traria muitos danos para eles. Considerando a mesma lei, entendeu que 
não deveria esperar a justificação por meio das obras da lei, e que agora 
já não havia mais necessidade dos sacrifícios e das purificações, uma vez 
que estes foram terminados em Cristo quando Ele mesmo se ofereceu 
como sacrifício por nós. Não esperava nem tinha algum temor; não mais 
do que um homem morto para os seus inimigos. Porém, o efeito desta 
situação não era uma vida descuidada e ilícita. Era necessário que ele 
pudesse viver para Deus e ser dedicado a Ele por meio dos motivos e da 
graça do Evangelho. Esta não é uma nova objeção, porém, é 
extremamente injusto que a doutrina da justificação exclusivamente pela 
fé estimule as pessoas a pecarem. Não é assim, porque aproveitar-se da 
graça que é concedida gratuitamente, ou de sua doutrina, é viver em 
pecado, é procurar fazer com que Cristo seja ministro do pecado, uma 
idéia que deveria estremecer a todos os corações cristãos. 
Vv. 20,21. Aqui, em sua própria pessoa, o apóstolo descreve a vida 
espiritual e reservada do crente. o velho homem foi crucificado (Rm 
6.6); porém, o novo homem está vivo; o pecado é mortificado e a graça é 
vivificada. Tem as consolações e os triunfos da graça, e esta graça não é 
de si mesmo, mas de outro. Os crentes se vêem vivendo em um estado de 
dependência de Cristo. Daí que, ainda que viva na carne, contudo, não 
vive segundo a carne. Aqueles que possuem a verdadeira fé vivem por 
meio desta fé; e a fé se afirma em que Cristo deu-se a si mesmo por nós. 
Ele nos amou, e entregou a sua vida por nós. É como se o apóstolo 
dissesse: O Senhor me viu fugindo mais e mais dEle. Tal maldade, erro e 
ignorância, estavam em minha vontade e entendimento, e não era 
Gálatas (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 7 
possível que eu fosse resgatado por outro meio que não fosse o preço que 
Ele pagou. Consideremos bem este preço. 
Aqui podemos observar a falsa fé que muitos têm. A confissão 
deles está de acordo: têm a forma da piedade, mas sem o poder desta. 
Pensam que crêem bem nos artigos da fé, mas estão enganados. Crer em 
Cristo crucificado não é somente crer que Ele foi crucificado, mas 
também crer que eu estou crucificado com Ele. Isto é conhecer a Cristo 
crucificado. Daí aprendemos qual é a natureza da graça. A graça de Deus 
não pode estar unida ao mérito do homem. Ele não é a graça a menos 
que seja de todas as formas livremente concedida. Quanto mais o crente 
confie em Cristo para tudo, mais devotamente andará diante dEle em 
todas as suas ordenanças e mandamentos. Cristo vive e reina nele, e ele 
vive aqui na terra pela fé no Filho de Deus, que trabalha em sua vida por 
amor, produz a obediência e muda a sua imagem. Deste modo, não abusa 
da graça de Deus nem a torna vã. 
 
Gálatas 3 
Versículos 1- 5: Os gálatas são repreendidos por desviarem-se da 
grande doutrina da justificação, que somente acontece pela fé em Cristo; 
6-9: Esta doutrina é afirmada a partir do exemplo de Abraão; 10-14: O 
teor da lei e a gravidade de sua maldição; 15-18: O pacto da promessa que 
a lei não podia anular; 19-25: A lei foi um aio para guiar-nos a Cristo; 26-
29: No Evangelho todos os crentes são um em Cristo Jesus. 
Vv. 1-5. Vários fatores contribuíam para que o estado néscio dos 
cristãos gálatas se tornasse ainda mais grave. A doutrina da cruz lhes 
fora pregada, e a ceia do Senhor lhes era ministrada. Em ambas, Cristo 
crucificado e a natureza de seus sofrimentos lhes haviam sido expostos 
de modo pleno e claro. 
Eles foram feitos participantes do Espírito Santo pela ministração 
da lei ou por conta de algumas obras que fizeram em obediência a ela? 
Não foi por terem ouvido e abraçado a doutrina da fé exclusivamente em 
Cristo, que sozinha é suficiente para a justificação? Não foi por meio do 
Gálatas (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 8 
primeiro, mas deste último. Não são sábios aqueles que toleram ser 
desviados do ministério e da doutrina em que foram abençoados para o 
seu próprio proveito espiritual. 
Ah! Que os homens não se desviem da doutrina de Cristo 
crucificado, que é uma doutrina de importância absoluta, para ouvirem 
distinções inúteis, pregações puramente morais ou loucas imaginações! 
O deus deste mundo cegou o entendimento dos homens usando diversos 
homens e meios, para que aprendessem anão confiar no Salvador 
crucificado. Podemos perguntar de modo direto: Onde há o fruto do 
Espírito Santo de modo mais evidente? Naqueles que pregam a 
justificação por meio das obras da lei, ou naqueles que pregam a doutrina 
da fé? Com toda a segurança, nestes últimos. 
Vv. 6-14. O apóstolo pro,~a a doutrina, de cuja rejeição havia 
culpado os gálatas. A saber, a da justificação pela fé, sem as obras da lei. 
Ele o faz a partir do exemplo de Abraão, cuja fé se firmou na Palavra e 
na promessa de Deus, e por crer foi reconhecido e aceito por Deus como 
sendo um homem justo. É dito que as Escrituras prevêem, porque aquEle 
que previu foi o Espírito Santo, que inspirou as Escrituras. Abraão foi 
abençoado por causa da fé que possuía na promessa de Deus; e esta é a 
única forma pela qual os demais obtêm este privilégio. Então, estudemos 
o assunto, a natureza e os efeitos da fé de Abraão, porque quem pode 
escapar da maldição da santa lei de alguma outra maneira? A maldição é 
contrária a todos os pecadores; portanto,é contrária a todos os homens, 
porque todos pecaram, e todos se fizeram culpáveis diante de Deus; e 
como transgressores da lei, estamos debaixo de sua maldição, e em vão 
buscaremos a justificação por meio dela. Os justos ou retos são somente 
aqueles que são libertos da morte e da ira, e que são restaurados a um 
estado de vida no favor de Deus: somente através da fé é que as pessoas 
chegam a ser justas. 
Assim vemos, pois, que a justificação por meio da fé não é uma 
doutrina nova, mas foi ensinada na Igreja de Deus muito antes dos 
Gálatas (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 9 
tempos em que o Evangelho foi introduzido. Na verdade, é a única 
maneira pela qual os pecadores foram ou podem ser justificados. 
Mesmo não tendo sentido esperar a libertação por meio da lei, 
existe um caminho aberto para que o homem escape da maldição, e 
recupere o favor de Deus, a saber, por meio da fé em Cristo. Cristo nos 
redimiu da maldição da lei; foi feito pecado, ou uma oferta pelo pecado 
por nós; não separado de Deus, mas por certo tempo sujeito ao castigo 
divino. Os intensos sofrimentos do Filho de Deus advertem os pecadores 
aos gritos, para que fujam da ira vindoura, mais do que de todas as 
maldições da lei, porque, como é que Deus poderia salvar a um homem 
que permanece sob o pecado, tendo em vista que não poupou o seu 
próprio Filho, quando os nossos pecados foram carregados sobre Ele? 
Porém, ao mesmo tempo, Cristo, da cruz, convida os pecadores a que de 
modo livre e de graça, refugiem-se nEle. 
Vv. 15-18. O pacto que Deus fez com Abraão não foi cancelado por 
meio da entrega da lei a Moisés. O pacto foi estabelecido com Abraão e 
com a sua semente. Ele ainda está em vigor. Cristo permanece para 
sempre em pessoa e na semente espiritual de Abraão, que são seus por 
meio da fé. Por esta razão conhecemos a diferença entre as promessas da 
lei e as promessas do Evangelho. As promessas da lei são feitas à pessoa 
de cada ser humano; as promessas do Evangelho são feitas 
primeiramente a Cristo, e depois feitas por meio dEle aos que pela fé são 
enxertados nEle. 
Para dividir corretamente a Palavra da verdade, deve ser 
estabelecida uma grande diferença entre a promessa e a lei quanto aos 
efeitos interiores e a toda a prática da vida. Quando a promessa se 
mescla com a lei, anula-se e converte-se em lei. Que Cristo esteja sempre 
diante de nossos olhos como argumento seguro para a defesa da fé, 
contra a dependência da justiça humana. 
Vv. 19-22. Se esta promessa foi suficiente para a salvação, então 
para que serviu a lei? Os israelitas, mesmo tendo sido escolhidos para 
serem o povo peculiar de Deus, eram pecadores como os demais. A lei 
Gálatas (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 10 
não foi concebida para descobrir uma maneira de justificar, diferente 
daquela que fora dada pela promessa, mas para conduzir os homens a 
enxergarem a necessidade que tinham da promessa, mostrando-lhes a 
gravidade do pecado, e para dirigi-los somente a Cristo, por meio de 
quem poderiam ser perdoados e justificados. 
A lei foi dada pelo ministério dos anjos e pela mão de um mediador, 
Moisés; porém, a promessa foi feita pelo próprio Deus. Daí temos que a 
lei não poderia ser projetada para revogar a promessa. Como o próprio 
vocábulo indica, o mediador é um amigo que se interpõe entre duas 
partes e que não age somente em relação a uma, ou a favor de uma das 
partes. A grande intenção da lei era que a promessa por fé em Jesus 
Cristo fosse dada àqueles que crêem; àqueles que, estando convictos de 
sua culpa, e da insuficiência da lei para efetuar a justiça por eles, 
pudessem ser persuadidos a crer em Cristo, e, assim, alcançarem o 
benefício da promessa. Não é possível que a santa, justa e boa lei de 
Deus, a norma do dever para todos, seja contrária ao Evangelho de 
Cristo. A lei empreende todos os esforços para promover o Evangelho. 
Vv. 23-25. A lei não ensinava um conhecimento vivo e Salvador, 
porém, por meio de seus ritos e cerimônias, especialmente por seus 
sacrifícios, apontava para Cristo, para que eles fossem justificados pela 
fé nEle. Deste modo, a palavra "aio" significava um servo que tinha a 
incumbência de levá-los a Cristo, como as crianças eram levadas à 
escola pelos servos encarregados de atendê-los; para que fossem mais 
plenamente ensinados por Ele, que é o verdadeiro caminho de 
justificação e salvação, o qual existe unicamente pela fé em Cristo. 
Destaca-se a grande vantagem do estado do Evangelho, no qual 
desfrutamos a revelação da graça e da misericórdia divina, mais 
claramente do que os judeus de antigamente. A maioria dos homens 
continua presa como se estivesse em um calabouço escuro, apaixonados 
por seus pecados, cegos e adormecidos por Satanás, por meio dos 
prazeres, preocupações e esforços mundanos. Porém, o pecador 
despertado descobre o seu terrível estado, e sente que a misericórdia e a 
Gálatas (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 11 
graça de Deus são a sua única esperança. Os terrores da lei costumam ser 
utilizados pelo Espírito Santo, que produz a convicção, para mostrar ao 
pecador que este precisa de Cristo, para levá-lo a confiar em seus 
sofrimentos e méritos e possa ser justificado pela fé. Então, a lei, pelo 
ensino do Espírito Santo chega a ser a sua amada norma do dever e a sua 
norma para o exame diário de si mesmo. Utilizando-a deste modo, 
aprende a confiar mais claramente no Salvador. 
Vv. 26-29. Os verdadeiros cristãos desfrutam de grandes privilégios 
sujeitos ao Evangelho, e já não são mais contados como servos, mas 
como filhos; agora não são mantidos a determinada distância e sujeitos a 
certas restrições como os judeus. Tendo aceito a Cristo Jesus como o seu 
Senhor e Salvador, e confiando somente nEle para a justificação e a 
salvação, eles chegam a ser filhos de Deus. Porém, nenhuma forma 
exterior ou confissão é capaz de garantir estas bênçãos, porque se 
alguém não tem o Espírito de Cristo, não pertence a Ele. 
No batismo nós nos revestimos de Cristo; por meio deste 
professamos que somos seus discípulos. sendo batizados em Cristo, 
somos batizados em sua morte, porque assim como Ele morreu e 
ressuscitou, nós morremos para o pecado e andamos em uma vida nova e 
santa. Revestir-se de Cristo, de acordo com o Evangelho, não consiste na 
imitação daquilo que é exterior, mas em ter um novo nascimento, uma 
completa transformação. 
Aquele que faz com que os crentes sejam herdeiros proverá o 
necessário para eles. Portanto, o nosso afã deve ser o de cumprir os 
deveres que são de nossa responsabilidade, e devemos lançar sobre Deus 
todas as nossas outras ansiedades. Devemos ter um interesse especial 
pelo céu; as coisas desta vida não passam de ninharias. A cidade de Deus 
no céu é a porção ou a parte de seus filhos. Procuremos nos assegurar de 
ser participantes destas promessas, acima de todas as outras coisas nesta 
vida. 
 
 
Gálatas (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 12 
Gálatas 4 
Versículos 1-7. O ato néscio de retornar à observância da lei 
visando a justificação; 8-11: A feliz transformação realizada na vida dos 
crentes gentios; 12-18: O apóstolo argumenta contra a atitude tola de 
seguir os falsos mestres; 19,20: Expressa a sua intensa preocupação por 
eles; 21-31: Em seguida explica a diferença entre aquilo que deve ser 
esperado da lei, e aquilo que deve ser esperado do Evangelho. 
Vv. 1-7. O apóstolo trata claramente com aqueles que queriam 
impor a lei de Moisés com o Evangelho de Cristo, propondo-se a sujeitar 
os crentes à escravidão. Não podiam compreender plenamente o 
significado da lei que havia sido dada por Moisés. Como esta era uma 
dispensação de trevas, era de escravidão; eles estavam presos a tantos 
ritos e observâncias fatigantes por aquilo que lhes era ensinado, e eram 
mantidos sujeitos a tais, como uma criança que fica sujeita a tutores e 
curadores. sob a dispensação do Evangelho, aprendemos sobre a 
condição mais feliz dos cristãos. 
Observemos nestes versos as maravilhas do amore da misericórdia 
divina, particularmente de Deus Pai, ao enviar o seu Filho ao mundo 
para redimir-nos e salvar-nos; do Filho de Deus, ao sujeitar-se a tanta 
baixeza e a sofrer tanto por nós; e do Espírito Santo, ao condescender e 
habitar nos corações dos crentes para tais propósitos de graça. Além do 
mais, observemos as vantagens de que os cristãos desfrutam por meio do 
Evangelho. Ainda que sejamos por natureza filhos da ira e da 
desobediência, chegamos a ser, por graça, filhos do amor, e participamos 
da natureza dos filhos de Deus; porque Ele fará com que todos os seus 
filhos sejam parecidos com Ele. O Filho Primogênito é o herdeiro entre 
os homens, e todos os filhos de Deus terão a herança dos primogênitos. 
Que o temperamento e a conduta dos filhos demonstre para sempre a 
nossa adoção, e que o Espírito Santo testifique com o nosso espírito de 
que somos filhos e herdeiros de Deus. 
Vv. 8-11. A mudança feliz pela qual os gálatas voltaram-se dos 
ídolos mortos ao Deus vivo, e receberam por meio de Cristo a adoção de 
Gálatas (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 13 
filhos, foi o efeito de sua graça rica e ofertada gratuitamente. Eles foram 
postos sob a obrigação maior de manterem a liberdade com que Ele os 
libertou. Todo o conhecimento que temos a respeito de Deus tem início 
em seu lado; conhecemo-lo porque somos conhecidos por Ele. Mesmo a 
nossa fé proibindo a idolatria, ainda há muitos que praticam a idolatria 
espiritual em seus corações. Aquilo que o homem mais amar e aquilo 
que mais lhe interessar será o seu deus. Alguns têm as suas riquezas 
como o seu deus; alguns, os seus prazeres; e outros, as suas luxúrias. 
Muitos adoram, sem saber, a um deus feito por eles mesmos; um deus 
que foi fabricado repleto de misericórdias, mas sem nenhuma justiça. Por 
que se convencem de que haverá misericórdia de Deus para eles, mesmo 
que não se arrependam e ainda continuem a praticar os seus pecados? 
É possível que aqueles que fizeram uma grande profissão de fé em 
sua religião, sejam posteriormente desviados da pureza e da 
simplicidade. Quanto mais misericórdia tenha sido mostrada por Deus, 
por ter levado pessoas a conhecerem o Evangelho, a liberdade e os 
privilégios deste, maior é o pecado destas pessoas e mais néscio é o seu 
modo de agir por suportarem que eles mesmos sejam privados de 
tamanhas bênçãos. Daí, pois, que todos os membros da Igreja devam 
aprender a temer o seu próprio ego, e a julgarem a si mesmos. Não 
devemos nos contentar com termos em nós apenas algumas coisas boas. 
Paulo teve o temor de que o seu trabalho se tornasse vão, mas ainda se 
esforça; e, fazê-lo assim, aconteça o que acontecer, será a verdadeira 
sabedoria e temor a Deus. Cada homem deve se lembrar disto em sua 
posição e em sua chamada. 
Vv. 12-18. O apóstolo deseja que eles sejam unânimes com ele 
quanto à lei de Moisés, e unidos a ele em amor. Ao repreendermos aos 
outros, devemos ter o cuidado de convencê-los de que a nossa 
repreensão vem de uma sincera consideração da honra de Deus e da fé, e 
do bem estar das pessoas a quem estamos nos dirigindo. O apóstolo 
relembra aos gálatas a dificuldade com que trabalhou quando esteve 
entre eles pela primeira vez, e observa que foi um mensageiro bem 
Gálatas (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 14 
recebido por eles. Contudo, quão incertos são o favor e o respeito dos 
homens! Esforcemo-nos para que sejamos aceitos por Deus. 
Certa vez vos considerastes felizes por terdes recebido o 
Evangelho; agora tendes razão para pensar o contrário? Os cristãos 
jamais devem deixar de dizer a verdade por temerem ofender ao 
próximo. Os falsos mestres que desviaram os gálatas da verdade do 
Evangelho eram homens astutos. Aparentavam ser afetuosos, mas não 
eram sinceros e nem retos. É dada uma regra excelente: é sempre bom 
que sejamos zelosos por algo bom não somente por uma vez, ou de 
tempos em tempos, mas sempre. seria uma felicidade para a Igreja de 
Cristo se este zelo fosse melhor sustentado pelos cristãos. 
Vv. 19,20. Os gálatas estavam prontos para considerar o apóstolo 
como um inimigo, mas este lhes assegura que era amigo deles, e que 
tinha sentimentos paternais em relação a eles. Tem dúvidas quanto ao 
estado deles e anseia conhecer o resultado dos enganos que atravessavam 
na ocasião. Nada é uma prova tão segura de que um pecador passou para 
o estado de justificado, do que quando Cristo está sendo formado nele 
pela renovação do Espírito Santo, e isto não seria alcançado se os 
homens dependessem da lei para serem aceitos por Deus. 
Vv. 21-27. A diferença entre os crentes que descansam somente em 
Cristo e aqueles que confiam na lei, é explicada pelas histórias de Isaque 
e Ismael. Estas coisas são alegorias nas quais o Espírito de Deus revela 
algo mais além do sentido literal e histórico das palavras. 
Sara e Agar eram emblemas adequados das duas diferentes 
dispensações do pacto. A Jerusalém celestial, a verdadeira Igreja do alto, 
representada por Sara, está em estado de liberdade e é a mãe de todos os 
crentes que são nascidos do Espírito Santo. Por meio da regeneração e da 
verdadeira fé, tornaram-se parte da semente de Abraão, conforme a 
promessa feita a ele. 
Vv. 28-31. Aplica-se a história aqui exposta. Então, irmãos, não 
somos filhos da escrava, mas da livre. se os privilégios de todos os 
crentes são tão grandes de acordo com o novo pacto, que absurdo seria 
Gálatas (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 15 
que os convertidos gentios estivessem sujeitos a esta lei, que não foi 
capaz de livrar os judeus incrédulos da escravidão ou da condenação! 
Nós não teríamos encontrado esta alegoria na história de Sara e 
Agar se ela não nos fosse revelada, e não podemos duvidar que assim foi 
planejado pelo Espírito Santo. Esta é uma explicação deste assunto, e 
não um argumento que o comprove. Nisto estão prefigurados os dois 
pactos, o das obras e o da graça, os professos da lei e os professos do 
Evangelho. 
As obras e os frutos produzidos pelo poder do homem são legais, 
mas se surgirem da fé em Cristo, serão evangélicos. O espírito do 
primeiro pacto é de escravidão ao pecado e à morte. O espírito do 
segundo pacto é de liberdade e de libertação; não de liberdade para 
pecar, mas dentro dos limites dos deveres e para cumprir estes deveres. 
O primeiro é um espírito de perseguição; o segundo é um espírito de 
amor. Que olhem para este, aqueles professos que tenham um espírito 
violento, duro e autoritário em relação ao povo de Deus. Assim como 
Abraão despediu Agar, assim é possível que o crente se desvie em 
algumas coisas no pacto de obras, quando por incredulidade e 
negligência em relação à promessa, atue em seu próprio dever em 
conformidade com a lei; ou em um caminho de violência, não de amor, 
para com os seus irmãos. Contudo, não faz parte de seu espírito agir 
deste modo, e jamais terá repouso até que retorne à sua dependência de 
Cristo. Confiemos a nossa alma às Escrituras e repousemos, e 
mostremos, por uma esperança evangélica, e por alegre obediência, que a 
nossa conversão e o nosso tesouro estão, sem dúvida, no céu. 
 
Gálatas 5 
Versículos 1-12: Uma fervorosa exortação a estarem firmes na 
liberdade do Evangelho; 13l5: Uma fervorosa exortação a terem o 
cuidado de não consentirem com um temperamento pecador; 16-26. 
Urna fervorosa exortação a caminharem no Espírito, e não darem lugar 
às luxúrias da carne: as obras de ambos são descritas. 
Gálatas (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 16 
Vv. 1-6. Cristo não será o Salvador de alguém que não o receba e 
confie nEle como o seu único Salvador. Demos ouvidos às advertências 
e às exortações do apóstolo, a estarmos firmes na doutrina e na liberdade 
do Evangelho. Todos os verdadeiros cristãos, que são ensinados pelo 
Espírito Santo, esperam pela vida eterna, pela recompensa da justiça, e 
pelo objeto de sua esperança, como dádiva de Deus por meio de sua fé 
em Jesus Cristo, e não por amor às suas próprias obras. 
O judeu convertido pode observar as cerimôniasou afirmar a sua 
liberdade; o gentio pode desprezá-las ou tomar parte nelas, sempre e 
quando não dependa destas. Nenhum privilégio ou profissão exterior de 
fé, servirão para que sejam aceitos por Deus, sem que tenham a fé 
sincera em nosso Senhor Jesus Cristo. A verdadeira fé é uma graça que 
age, trabalha por amor a Deus e aos nossos irmãos. Que estejamos entre 
aqueles que, pelo Espírito Santo, aguardam a esperança da justiça pela 
fé. 
O perigo anterior não estava em coisas sem importância em si 
mesmas, como agora o são em muitas formas e observâncias. Porém, 
sem a fé que trabalha por meio do amor, tudo mais carece de valor, e 
comparado a isto, todas as demais coisas são de escasso valor. 
Vv. 7-12. A vida do cristão é uma carreira na qual ele deve correr e 
manter-se, se desejar alcançar o prêmio. Não basta que professemos o 
cristianismo; devemos correr bem, vivendo conforme esta confissão. 
Muitos que começam bem na religião são prejudicados em seu avanço 
ou desviam-se pelo caminho. Aqueles que começaram a desviar-se do 
caminho e a mostrarem-se cansados, deveriam perguntar a si mesmos, de 
modo sério, o que é que lhes está atrapalhando. 
A opinião ou a persuasão (v. 8) era sem dúvida a de mesclar as obras 
da lei com a fé em Cristo quanto à justificação. O apóstolo deixa que eles 
mesmos julguem de onde surgiu o problema, e mostra o suficiente para 
indicar que esta situação deve-se a Satanás, e a mais ninguém. 
Para as igrejas cristãs, é perigoso dar ânimo àqueles que seguem a 
erros destruidores, e especialmente àqueles que os difundem. Ao 
Gálatas (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 17 
repreender o pecado e o erro, devemos sempre distinguir entre os líderes 
e os liderados. Os judeus se ofendiam por ser pregado que Cristo é a 
única salvação para os pecadores. se Paulo e os demais tivessem aceito 
que a observância da lei de Moisés deveria unir-se à fé em Cristo, como 
necessária para a salvação, então os crentes poderiam evitar muitos dos 
sofrimentos que tiveram. Deve-se resistir aos primeiros indícios deste 
fermento. Certamente aqueles que persistem em perturbar a Igreja de 
Cristo, devem suportar o seu juízo. 
Vv. 13-15. O Evangelho é uma doutrina que está de acordo com a 
piedade (1 Tm 6.3), e está longe de consentir com o menor pecado que 
seja, e vem nos submeter à obrigação mais forte de evitá-lo e vencê-lo. O 
apóstolo insiste em que toda a lei se cumpre em uma só palavra: Amarás 
o teu próximo como a ti mesmo. se os cristãos, que devem ajudar-se uns 
aos outros e regozijarem-se uns nos outros, brigam entre si, o que se 
pode esperar senão que o Deus de amor negue a sua graça, e que o 
Espírito de amor se retire, e prevaleça o espírito maligno que procura 
destruí-los? 
Bom seria que os crentes se posicionassem contra o pecado em si 
mesmos e nos lugares aonde vivem, ao invés de morderem-se e devorarem-
se uns aos outros, sob o pretexto de terem diferentes opiniões. 
Vv. 16-26. Se fôssemos cuidadosos para agir sob a direção e poder 
do bendito Espírito Santo, mesmo que não fôssemos libertos dos 
estímulos e da oposição da natureza corrupta que procura permanecer em 
nós, esta não nos dominaria. Os crentes estão envolvidos em um conflito, 
onde desejam esta graça capaz de alcançar a vitória plena e rápida. 
Aqueles que desejam entregar-se à direção do Espírito Santo, não estão 
sob a lei como pacto de obras, nem expostos à sua espantosa maldição. O 
ódio que possuem contra o pecado e a sua busca pela santidade mostram 
que possuem uma parte na salvação que é trazida pelo Evangelho. 
As obras da carne são muitas, e são manifestas. Estes pecados 
excluíram os homens do céu. Porém, quantas pessoas que se dizem 
cristãs vivem desta maneira, e declaram que estão à espera do céu! Os 
Gálatas (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 18 
frutos do Espírito, ou da natureza renovada que devemos ter, são 
enumerados. Assim, o apóstolo os nomeia, bem como as obras da carne, 
que são daninhas não somente para os próprios homens, mas tendem a 
tomá-los mutuamente nocivos. Deste modo o apóstolo observa aqui o 
fruto do Espírito, que tende a tornar os cristãos mutuamente agradáveis e 
felizes. O fruto do Espírito mostra a evidência de que eles são dirigidos 
pelo Espírito. 
A descrição das obras da carne e do fruto do Espírito nos diz o que 
devemos evitar e resistir, e o que devemos desejar e cultivar; este é o 
anelo e a obra sincera de todos os verdadeiros cristãos. O pecado já não 
reina agora em seus corpos mortais, de modo que o obedeçam (Rm 
6.12), pois eles procuram destruí-lo. O Senhor Jesus Cristo jamais 
reconhecerá aqueles que se rendem para serem servos do pecado. E não 
basta que cessemos de fazer o mal, mas devemos aprender a fazer o bem. 
A nossa conversação deverá estar de acordo com o princípio que nos 
dirige e nos governa (Rm 8.5). Devemos mortificar as obras da carne, e a 
caminhar na nova vida sem desejar a -vanglória, nem de modo indevido 
a estima e o aplauso dos homens; não provoquemo-nos nem invejemo-
nos mutuamente, mas buscando dar estes bons frutos com maior 
abundância, que são, por meio de Jesus Cristo, para o louvor e a glória 
de Deus. 
 
Gálatas 6 
Versículos 1-5: Exortações à mansidão, à bondade e à humildade; 
6-11: Exortação à bondade para com todos os homens, especialmente 
para com os crentes; 12-15: Os gálatas são advertidos contra os mestres 
judaizantes; 16-18: Uma bênção solene. 
Vv. 1-5. Devemos levar as cargas uns dos outros. Assim estaremos 
cumprindo a lei de Cristo. Isto nos obriga à tolerância mútua e à 
compaixão de uns para com os outros, conforme o exemplo que Ele nos 
deu. É o nosso dever levarmos as cargas uns dos outros como 
companheiros de viagem. 
Gálatas (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 19 
É muito comum que os homens considerem-se mais sábios e 
melhores do que todos os demais, e bons para comandarem os outros. 
Enganam-se a si mesmos; pretendem ter algo maior do que aquilo que 
realmente possuem, e enganando-se a si mesmos, cedo ou tarde 
enfrentarão os lamentáveis efeitos de suas atitudes. Estes jamais terão a 
estima de Deus e nem a dos homens. Cada um é advertido a analisar a 
sua própria obra. Quanto melhor conheçamos o nosso coração e os 
nossos modos, menos desprezaremos aos demais, e estaremos mais 
dispostos para ajudá-los quando tiverem enfermidades ou aflições. Quão 
leves parecem os pecados aos homens quando os praticam, e os 
considerarão como uma carga pesada quando tiverem que dar conta 
destes a Deus. Ninguém é capaz de pagar o resgate por um irmão, e o 
pecado é um grande peso espiritual para a alma; e quanto menos alguém 
sentir este peso, mais motivos terá para suspeitar de si mesmo. A maioria 
dos homens está morta em seus pecados e, portanto, estes não vêm e nem 
sentem o peso espiritual do pecado. Ao sentirmos o peso e a carga 
espiritual que são os nossos pecados, devemos procurar ser aliviados 
pelo Salvador, e dar-nos por advertidos contra todo o pecado. 
Vv. 6-11. Muitos escusam-se da obra da religião, mesmo fingindo 
participar desta e professá-la. Podem ser capazes de imporem-se aos 
demais, porém, estarão se enganado se pensam que podem enganar a 
Deus, que conhece os seus corações e as suas atitudes. E como Ele não 
pode ser enganado, ninguém será capaz de zombar dEle. O nosso tempo 
é um tempo de semeadura; no outro mundo segaremos aquilo que 
semearmos agora. 
Há dois tipos de semeadura; uma para a carne e outra para o 
Espírito. Assim será a prestação de contas no porvir. Aqueles que levam 
uma vida sexual pecaminosa e uma vida carnal, não deverão esperar 
outro fruto deste caminho que não seja a miséria e a fruto. Porém, 
aqueles que, sob a direção e o poder do Espírito Santo, levam uma vida 
de fé em Cristo e são abundantes na graça cristã, colherão do Espírito 
Santo a vida eterna. 
Gálatas (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 20 
Todos nós temos uma forte inclinação a nos cansarmos do dever, 
particularmente de fazer o bem. Devemos vigiar com grande cuidadoe 
guardar-nos a este respeito. A recompensa é prometida somente àqueles 
que perseveram em fazer o bem. 
Aqui há uma exortação a todos, para que façam o bem no lugar em 
que estão. Devemos ter o cuidado de fazer o bem em nossa vida, e fazer 
dele a atividade de nossa existência, especialmente quando se 
apresentarem ocasiões novas, e até onde sejamos capazes de fazê-lo por 
nosso próprio poder. 
Vv. 12-15. Os corações orgulhosos, vãos e carnais, contentam-se 
precisamente com uma religião que lhes ajude a fingir bem. Porém, o 
apóstolo professa a sua própria fé, esperança e gozo, e que a sua 
principal glória está na cruz de Cristo, pela qual expressam-se aqui os 
seus sofrimentos e a sua dolorosa morte na cruz, que é a doutrina da 
salvação por meio do Redentor crucificado. Por Cristo ou pela cruz de 
Cristo, o mundo está crucificado para o crente e o crente para o mundo. 
Quanto mais consideremos os sofrimentos do Redentor que pode 
salvar a todo o mundo, embora apenas uma parte deste venha a Ele, 
menos provável será que amemos o mundo. O apóstolo era pouco 
afetado pelos aparentes encantos do mundo, como seria um espectador 
por qualquer coisa graciosa, se tivesse em vista alguém crucificado, 
contemplando a este sofrendo as agonias da morte. Este não era mais 
afetado pelos objetos que o rodeavam, como poderia ser alguém que 
expira, por alguma das perspectivas que os seus olhos moribundos 
pudessem ver a partir da cruz em que estava pendurado. E quanto a todos 
aqueles que creram ou que têm verdadeiramente crido em Cristo Jesus, 
todas as coisas lhe são reputadas como inválidas, quando são 
comparadas a Ele. Existe uma nova criação: as coisas velhas passaram; 
aqui estão os novos pontos de vista, e as novas disposições são trazidas 
sob a influência regeneradora do Deus Espírito Santo. Os crentes são 
levados a um novo mundo e, sendo criados em Cristo Jesus para as boas 
obras, são formados para uma vida de santidade. Esta é uma mudança de 
Gálatas (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 21 
pensamentos e uma transformação de coração, pelas quais somos 
capacitados para crermos no Senhor Jesus e a vivermos para Deus; e 
aonde quer que venha a faltar esta religião interior e prática, as 
profissões exteriores ou os títulos jamais serão substituídos. 
Vv. 16-18. Uma nova criação à imagem de Cristo, que demonstre a 
fé nEle, é a maior distinção entre um homem e outro, e uma bênção 
declarada a todos aqueles que andam conforme esta regra. As bênçãos 
são paz e misericórdia. Paz com Deus e com a nossa consciência, e todos 
os consolos desta vida, à medida que sejam necessários. E a misericórdia 
e o interesse pelo amor e pelo favor gratuitos de Deus em Cristo são o 
manancial e a fonte de todas as demais bênçãos. 
A Palavra de Deus escrita é a regra pela qual devemos nos dirigir, 
tanto por seus preceitos como por suas doutrinas. Que a sua graça esteja 
sempre com o nosso espírito para santificar-nos, vivificar-nos e alegrar-
nos, e que nós estejamos sempre prontos para sustentar a honra daquEle 
que é, sem dúvida, a nossa vida. O apóstolo trazia em seu corpo as 
marcas do Senhor Jesus, as cicatrizes dos ferimentos infligidos pelos 
inimigos perseguidores, porque se apegava fortemente a Cristo e à 
doutrina do Evangelho. 
O apóstolo trata os gálatas como seus irmãos, mostrando desta 
forma a sua humildade e o seu afeto por estes, e conclui a epístola com 
uma oração muito séria, pedindo que eles desfrutem do favor de Cristo 
Jesus em seus efeitos, ao invés de fazê-lo em suas provas. Não 
precisamos desejar mais do que a graça de nosso Senhor para sermos 
felizes. O apóstolo não ora para que a lei de Moisés ou a justiça das 
obras seja com eles, mas que a graça de Cristo seja com cada um deles, 
para que possa estar em seus corações e com o espírito de cada um deles, 
avivando-os, consolando-os e fortalecendo-os. A tudo isto coloca o seu 
amém, expressando o seu desejo de que assim seja, e a sua fé de que 
assim seria. 
 
	GÁLATAS 
	Introdução 
	Gálatas 1 
	Gálatas 2 
	Gálatas 3 
	Gálatas 4 
	Gálatas 5 
	Gálatas 6

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