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2013 OrganizaçãO dO TrabalhO PedagógicO Prof. Mônica Maria Baruffi Prof. Vilisa Rudenco Gomes Copyright © UNIASSELVI 2013 Elaboração: Prof. Prof.ª Mônica Maria Baruffi Prof.ª Vilisa Rudenco Gomes Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 370.733 B295o Baruffi, Mônica Maria Organização do Trabalho Pedagógico/ Mônica Maria Baruffi, Vilisa Rudenco Gomes. Indaial : Uniasselvi, 2013. 278 p. : il ISBN 978-85-7830-829-2 1. Prática de Ensino. 2. Avaliação Educacional. 3. Pedagogia.I. Centro Universitário Leonardo da Vinci. Impresso por: III aPresenTaçãO Caro(a) acadêmico(a), você está recebendo em suas mãos o caderno de Organização do Trabalho Pedagógico, disciplina que possui grande importância em sua formação acadêmica. O objetivo deste caderno é fazer com que você aprenda a planejar e organizar o processo de ensino-aprendizagem. Além deste objetivo, o caderno tem também o intuito de auxiliá-lo(a) a dominar a organização, a execução e a avaliação do processo de ensino-aprendizagem. Receba este caderno com carinho, pois o mesmo foi construído com o desejo de ver você, acadêmico(a), cada vez mais preparado(a) para alcançar seus objetivos e transformar a sua realidade e a de muitos à sua volta. Perceba que em qualquer área de atuação profissional é necessária uma visão aberta, ser crítico, criativo e aberto às mudanças, para que estas sejam auxiliares em nossa transformação. Pois, “Não basta saber, é preciso saber fazer”. Bem-vindo(a) ao mundo da Organização do Trabalho Pedagógico! Prof.ª Mônica Maria Baruffi Prof.ª Vilisa Rudenco. “A possibilidade de inovação nas instituições educativas não pode ser proposta seriamente sem um novo conceito de profissionalização do professor, que deve romper com a inércia e práticas do passado assumidas passivamente como elementos intrínsecos à profissão”. FONTE: IMBERNÓN, Francisco, Formação docente e profissional: formar-se para a mudança e a incerteza, 9. ed. São Paulo: Cortez Editora, 2011, p. 20. IV NOTA Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! V VI VII UNIDADE 1 – AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NA PRÁTICA ESCOLAR ..................... 1 TÓPICO 1 – PROCESSO HISTÓRICO E SOCIAL DAS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS 3 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 3 2 COMPREENDENDO AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA ...................................................................................................................................... 3 3 PRIMEIRA TENDÊNCIA: PEDAGOGIA LIBERAL ................................................................. 5 3.1 JEAN-JACQUES ROUSSEAU (1712-1778) .............................................................................. 9 3.1.1 A contribuição do pensamento de Rousseau para a educação ................................... 10 3.2 JOHANN HEINRICH PESTALOZZI (1746-1827) .................................................................. 10 3.3 JOHANN HEINRICH HERBART (1776-1841) ....................................................................... 12 4 OS IDEAIS DA BURGUESIA ........................................................................................................ 15 5 TENDÊNCIA LIBERAL: PEDAGOGIA TRADICIONAL ........................................................ 19 6 PEDAGOGIA TRADICIONAL E SEU DESENVOLVIMENTO NO CONTEXTO BRASILEIRO ..................................................................................................................................... 21 6.1 O ILUMINISMO LUSO-BRASILEIRO ..................................................................................... 22 7 A SOCIEDADE REPUBLICANA E A PEDAGOGIA TRADICIONAL ................................. 24 7.1 A RETOMADA DO ENTUSIASMO PELA EDUCAÇÃO DURANTE A PRIMEIRA REPÚBLICA ................................................................................................................................. 25 7.1.1 John Dewey (1859-1952) .................................................................................................... 26 7.1.2 Kilpatrick (1871-1965) ........................................................................................................ 28 7.1.3 Decroly (1871-1932) ........................................................................................................... 29 7.1.4 Montessori (1870-1952) ...................................................................................................... 30 8 TENDÊNCIA LIBERAL RENOVADA PROGRESSIVISTA ..................................................... 31 8.1 TENDÊNCIA LIBERAL: RENOVADA PROGRESSIVISTA NO CONTEXTO BRASILEIRO – A ESCOLA NOVA .......................................................................................... 33 8.2 O MANIFESTO DOS PIONEIROS NA SEGUNDA REPÚBLICA ....................................... 36 9 TENDÊNCIA LIBERAL RENOVADA NÃO DIRETIVA .......................................................... 38 10 TENDÊNCIA LIBERAL TECNICISTA ....................................................................................... 40 10.1 CONTEXTUALIZANDO A IDEOLOGIA TECNICISTA .................................................... 44 10.2 O PERÍODO TECNICISTA E O ACORDO MEC-USAID .................................................... 47 11 PEDAGOGIA PROGRESSISTA .................................................................................................. 48 11.1 TENDÊNCIA PROGRESSISTA LIBERTADORA ................................................................ 49 11.2 TENDÊNCIA PROGRESSISTA LIBERTÁRIA ..................................................................... 51 11.3 TENDÊNCIA PROGRESSISTA “CRÍTICO-SOCIAL DOS CONTEÚDOS” .................... 54 RESUMO DO TÓPICO 1 .................................................................................................................... 57 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 59 TÓPICO 2 – MÉTODO DIALÉTICO ............................................................................................... 61 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................61 2 COMPREENDENDO A DIALÉTICA ........................................................................................... 61 3 O MÉTODO DIALÉTICO ............................................................................................................... 67 4 A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO – MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA ....................... 70 5 O RECONHECIMENTO DO REAL E O COMPROMISSO POLÍTICO ............................... 73 sumáriO VIII RESUMO DO TÓPICO 2 .................................................................................................................... 76 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 77 TÓPICO 3 – A PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA E O TRABALHO PEDAGÓGICO DO EDUCADOR ........................................................................................................... 79 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 79 2 A PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA ..................................................................................... 79 3 A TEORIA HISTÓRICO-CULTURAL DE VYGOTSKY ........................................................... 84 3.1 INTERAÇÃO ENTRE APRENDIZADO E DESENVOLVIMENTO ..................................... 88 3.2 A FORMAÇÃO DE CONCEITOS ............................................................................................. 88 4 O TRABALHO PEDAGÓGICO DO EDUCADOR .................................................................... 89 LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................................... 94 RESUMO DO TÓPICO 3 .................................................................................................................... 103 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 105 UNIDADE 2 – PLANEJAMENTO .................................................................................................... 107 TÓPICO 1 – O PLANEJAMENTO E SUAS DIVERSAS CONCEPÇÕES ................................. 109 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 109 2 BREVE HISTÓRICO SOBRE O PLANEJAMENTO .................................................................. 109 3 APROFUNDAMENTO DAS CONCEPÇÕES DE PLANEJAMENTO ................................... 113 4 O PLANEJAMENTO DE ENSINO É NECESSÁRIO? ............................................................... 120 LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................................... 125 RESUMO DO TÓPICO 1 .................................................................................................................... 128 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 130 TÓPICO 2 – FASES DO PLANEJAMENTO DE ENSINO ........................................................... 131 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 131 2 A PARTICIPAÇÃO DO PROFESSOR NA REALIZAÇÃO DO PLANEJAMENTO DE ENSINO ....................................................................................................................................... 131 2.1 O QUE SÃO E QUAIS SÃO OS OBJETIVOS DE ENSINO? .................................................. 135 2.2 DEFINIÇÃO E UTILIZAÇÃO DOS OBJETIVOS GERAIS .................................................... 136 2.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS: CONCEITOS E EMPREGO ...................................................... 140 3 OS CONTEÚDOS E SUA SELEÇÃO ............................................................................................ 142 3.1 SELEÇÃO DOS CONTEÚDOS ................................................................................................. 144 4 MÉTODO DE ENSINO ................................................................................................................... 148 4.1 RECURSO DE ENSINO ............................................................................................................. 153 4.2 O QUE É AVALIAÇÃO? ............................................................................................................ 155 4.3 O CONSELHO DE CLASSE E SUA FUNÇÃO ....................................................................... 164 RESUMO DO TÓPICO 2 .................................................................................................................... 169 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 171 TÓPICO 3 – NÍVEIS DE PLANEJAMENTO .................................................................................. 173 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 173 2 ANÁLISE HISTÓRICA DO PLANEJAMENTO NACIONAL DA EDUCAÇÃO ................ 173 3 PLANEJAMENTO ESCOLAR ........................................................................................................ 178 3.1 PLANEJAMENTO CURRICULAR .......................................................................................... 179 3.2 PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO ..................................................................................... 180 3.3 PLANO DE CURSO .................................................................................................................... 184 3.4 PLANO DE UNIDADE .............................................................................................................. 185 3.5 PLANO DE AULA ...................................................................................................................... 187 4 PROJETOS DE ENSINO E DEMAIS TIPOLOGIAS ................................................................. 188 IX 4.1 O QUE É PROJETO DE ENSINO? ............................................................................................ 189 4.2 PROJETO DE PESQUISA ........................................................................................................... 190 4.3 PROJETO DE APRENDIZAGEM OU DE TRABALHO ........................................................ 190 5 PLANEJAMENTO SETORIAL ....................................................................................................... 195 5.1 PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO (PNE) 2001-2010 .................................................... 199 5.2 PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO – PNE – (2010-2020) .............................................. 200 LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................................... 211 RESUMO DO TÓPICO 3 .................................................................................................................... 214 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 216 UNIDADE 3 – AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM ................................................................... 217 TÓPICO 1 – AVALIAÇÃO NO CONTEXTO EDUCACIONAL ................................................ 219 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 219 2 SOBRE AVALIAÇÃO ....................................................................................................................... 220 3 A AVALIAÇÃO MEDIADORA ......................................................................................................222 RESUMO DO TÓPICO 1 .................................................................................................................... 228 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 229 TÓPICO 2 – AS MODALIDADES E FUNÇÕES DA AVALIAÇÃO: MODALIDADES AVALIATIVAS ............................................................................................................... 231 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 231 2 AS MODALIDADES DA AVALIAÇÃO ...................................................................................... 233 2.1 AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA ................................................................................................. 233 2.2 AVALIAÇÃO FORMATIVA ...................................................................................................... 235 2.3 AVALIAÇÃO SOMATIVA ......................................................................................................... 239 LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................................... 242 RESUMO DO TÓPICO 2 .................................................................................................................... 246 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 247 TÓPICO 3 – TÉCNICAS E INSTRUMENTOS AVALIATIVOS: O ATO DE AVALIAR ........ 249 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 249 2 TÉCNICAS E INSTRUMENTOS AVALIATIVOS ..................................................................... 249 2.1 OBSERVAÇÃO E SEU REGISTRO ............................................................................................ 253 2.2 AUTOAVALIAÇÃO .................................................................................................................... 254 2.3 PROVA ORAL .............................................................................................................................. 256 2.4 PROVA ESCRITA DISSERTATIVA ........................................................................................... 256 2.5 TESTAGEM E PROVAS OBJETIVAS ........................................................................................ 257 2.6 PORTFÓLIO ................................................................................................................................. 261 LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................................... 263 RESUMO DO TÓPICO 3 .................................................................................................................... 268 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 269 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................................... 271 X 1 UNIDADE 1 AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NA PRÁTICA ESCOLAR OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade você será capaz de: • classificar as tendências pedagógicas, identificando pressupostos teóricos que embasam o trabalho docente; • reconhecer a matriz teórica que embasa o método dialético e o uso deste em sala de aula; • compreender a pedagogia histórico-crítica, refletindo sobre o caráter histórico e social do desenvolvimento da sociedade, bem como, sobre o papel do professor neste processo A Unidade 1 está dividida em três tópicos. No final de cada tópico você encontrará atividades que possibilitarão o aprofundamento de conteúdos na área, propiciando uma reflexão sobre o contexto histórico e social em que foram inseridas as tendências pedagógicas. TÓPICO 1 – PROCESSO HISTÓRICO E SOCIAL DAS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS TÓPICO 2 – MÉTODO DIALÉTICO TÓPICO 3 – A PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA E O TRABALHO PEDAGÓGICO DO EDUCADOR 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 PROCESSO HISTÓRICO E SOCIAL DAS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS 1 INTRODUÇÃO Caro(a) acadêmico(a)! Estudar as tendências pedagógicas significa compreender o processo histórico e social pelo qual passou uma determinada sociedade. Dessa forma podemos dizer que as tendências pedagógicas foram muito influenciadas pelo contexto político, econômico e ideológico de uma determinada nação. 2 COMPREENDENDO AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA Sabemos que a prática escolar está implicada em condicionantes de ordem política que refletem as diferentes concepções de sujeito e de mundo que se formaram nas tramas das relações sociais. Para conhecermos as tendências que fizeram parte da história da educação brasileira é preciso compreender a política educacional, a legislação em vigor, as ações e intenções do governo, dos partidos, dos sindicatos em cada um dos períodos históricos. Nesse sentido, podemos dizer que existem várias concepções de aprendizagem que adentraram ou ainda adentram a escola brasileira e que estão fundamentadas em diferentes teorias epistemológicas, as quais subsidiam o professor em sua prática pedagógica. Em alguns casos, vocês perceberão que as tendências se complementam ou divergem, de forma que, conhecê-las, pode nos dar propriedade para avaliarmos nossa prática em sala de aula, reconhecendo fatores que permitem nos aproximarmos ou nos distinguirmos dos demais. A compreensão destas tendências pedagógicas poderá contribuir para a superação de práticas de exclusão e separação. A escola cumpre funções que lhe são dadas pela sociedade. A sociedade, por sua vez, é composta por classes sociais com interesses antagônicos, de forma que o papel da escola não se reduz apenas ao pedagógico, estando também implicado nos pressupostos teóricos metodológicos que fundamentam UNIDADE 1 | AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NA PRÁTICA ESCOLAR 4 a educação num dado momento político, histórico e social. Portanto, é preciso refletir sobre as perspectivas das relações entre educação e sociedade. FIGURA 1 – SOCIEDADE X EDUCAÇÃO FONTE: Disponível em: <http://1.bp.blogspot.com/-u2CnKQROhZ8/TZy1qbk9-sI/ AAAAAAAAAYc/vL3jX2DrXCk/s1600/C%25C3%25B3pia%2B%25282%2529%2Bde%2Bsocie dade%2Be%2Beduca%25C3%25A7%25C3%25A3o.jpg>. Acesso em: 21 out. 2013. A reflexão docente, segundo Paulo Freire (2011), é o princípio da formação do educador, é de fundamental importância conhecer o conhecimento já existente e estar aberto à produção do conhecimento ainda não existente. Para tanto, lhe apresentamos agora as tendências pedagógicas que compuseram o quadro da educação brasileira, para que com elas façamos uma apropriação crítica do passado, reconhecendo as legitimações políticas e ideológicas, que muitas vezes, de forma subjetiva, nos levaram à subserviência e à submissão. Portanto, vamos conhecer mais sobre a história das tendências pedagógicas e verificar que estas fazem parte da prática pedagógica de pais, alunos e professores, percebendo que não se encontram em seu estado natural. As tendências pedagógicas estão divididas em duas correntes, são elas: a Pedagogia Liberal e a Pedagogia Progressista. A Pedagogia Liberal é apresentada nas formas Tradicional; Renovada Progressivista; Renovada não Diretiva; e Tecnicista. A Pedagogia Progressivista é subdividida em Libertadora; Libertária; e Crítico-social dos Conteúdos. No decorrer do texto você entenderá cada uma delas. TÓPICO 1 | PROCESSO HISTÓRICO E SOCIAL DAS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS 5 3 PRIMEIRA TENDÊNCIA: PEDAGOGIA LIBERAL Ao contrário do que se pensa, a tendência liberal não possui similitudes com o termo LIBERAL. Segundo Libâneo (2003,p. 21), o termo não se caracteriza como avançado, democrático ou aberto. Para o autor: A pedagogia liberal sustenta a ideia de que a escola tem por função preparar os indivíduos para o desempenho de papéis sociais, de acordo com as aptidões individuais, por isso os indivíduos precisam aprender a se adaptar aos valores e às normas vigentes na sociedade de classes através do desenvolvimento da cultura individual. A ênfase no aspecto cultural esconde a realidade das diferenças de classes, pois, embora difunda a ideia de igualdade de oportunidades, não leva em conta a desigualdade de condições. O termo liberal provém de liberalismo, que é uma doutrina de caráter econômico e político, calcada no ideário de liberdade individual, uma pré- história do capitalismo com início a partir das revoluções burguesas. Do ponto de visa econômico, trata-se de um conjunto de práticas que estimularam a livre concorrência, a ausência de impostos sobre produtos importados e não interferência do Estado na economia. Do ponto de vista político, significou participação no parlamento, possibilitando uma série de vantagens obtidas pela burguesia durante o seu processo de ascensão e deposição do poder absolutista do rei, que era sustentado no direito divino. As principais revoluções burguesas ocorreram na segunda metade do século XVIII e são conhecidas como: Revolução Industrial, Revolução Americana e Revolução Francesa. NOTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL Teve início na Inglaterra no século XVIII e espalhou-se rapidamente por outros países, intensificando-se no século XIX. Seu ponto forte foi a utilização da energia a vapor e o surgimento das máquinas, o que permitiu a produção em grande escala das fábricas, trazendo o trabalho assalariado e o desenvolvimento da sociedade industrial urbana. Dessa forma, a indústria passou a ser a atividade econômica básica, em lugar do comércio, acarretando um aumento da produção de bens de consumo industrializados. A produção industrial trouxe a necessidade de encontrar mercados consumidores para esses bens e mercados fornecedores de matéria-prima a baixo custo, forçando o rompimento do pacto colonial, causando a independência das colônias e o livre comércio. FONTE: Adaptado de: Piletti e Piletti (1999). UNIDADE 1 | AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NA PRÁTICA ESCOLAR 6 FIGURA 2 – REVOLUÇÃO INDUSTRIAL FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=revolu%C3%A7 %C3%A3o+industrial&tbm=isch&tbo=u&source=univ&sa=X&ei=OstnUuuOOYmC 8gSlwoHYCA&ved=0CEYQsAQ&biw=1280&bih=580>. Acesso em: 21 out. 2013. NOTA REVOLUÇÃO AMERICANA Em 1776, os Estados Unidos da América libertaram-se do domínio da Inglaterra. Na declaração da independência foi estabelecida a igualdade perante a lei, a função dos governos de garantir os direitos da população e o princípio de que o poder dos governantes dependia da anuência do povo. A forma de governo adotada foi a república com a introdução das três esferas legislativas: executivo, legislativo e judiciário. FONTE: Adaptado de: Piletti e Piletti (1999). TÓPICO 1 | PROCESSO HISTÓRICO E SOCIAL DAS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS 7 FIGURA 3 – REVOLUÇÃO AMERICANA FONTE: Disponível em: <http://jogos.br.msn.com/noticias/%E2%80%98ass assin%E2%80%99s-creed-3%E2%80%99-poder%C3%A1-se-passar-durante- a-revolu%C3%A7%C3%A3o-americana>. Acesso em: 21 out. 2013. NOTA REVOLUÇÃO FRANCESA Data de 1789 e representou a vitória da burguesia e do povo contra os privilégios da nobreza e do clero que perfaziam cerca de 2% da população da França. Essa classe não pagava impostos e recebia vantagens da monarquia. Com a vitória da burguesia, foram abolidos os privilégios da nobreza e do clero. Foi promulgada a declaração dos direitos do homem e do cidadão. A Revolução Francesa extinguiu a monarquia absoluta e separou a Igreja do Estado. Esta revolução inspirou inúmeros movimentos contra o colonialismo e os privilégios da nobreza em várias partes do mundo, inclusive no Brasil. FONTE: Adaptado de: Piletti e Piletti (1999) UNIDADE 1 | AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NA PRÁTICA ESCOLAR 8 FONTE: Disponível em: <http://www.brasilescola.com/historiag/revolucao-francesa. htm>. Acesso em: 21 out. 2013. FIGURA 4 – REVOLUÇÃO FRANCESA Podemos dizer que a passagem da Idade Moderna para a Idade Contemporânea se deu no final do século XVIII e se caracterizou pelas revoluções burguesas, seguidas das ideias iluministas que trouxeram o fim do absolutismo e a consolidação do capitalismo industrial. Essas revoluções repercutiram no campo da educação, com a separação entre Igreja e Estado e com o desenvolvimento dos sistemas públicos de educação. Rousseau, Pestalozzi, Herbart e Froebel foram educadores que se destacaram com ideias iluministas durante o século XIX e pelas inovações que propuseram, de modo especial, no campo da educação das crianças. Vamos conhecê-las? FIGURA 5 – ROUSSEAU FONTE: Disponível em: <http://www.infoescola.com/filosofia/jean- jacques-rousseau/>. Acesso em: 22 out. 2013. TÓPICO 1 | PROCESSO HISTÓRICO E SOCIAL DAS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS 9 3.1 JEAN-JACQUES ROUSSEAU (1712-1778) Filósofo e escritor, Rousseau nasceu em Genebra, na Suíça, e morreu na França. Participou do movimento do Iluminismo. Suas ideias eram favoráveis à liberdade intelectual e à independência do homem. Segundo ele, a felicidade e o bem-estar são direitos naturais de todas as pessoas e não privilégios apenas dos monarcas. A organização social e a educação existem para garantir esses direitos. Propunha a Pedagogia da existência. Contrapôs-se fortemente às ideias da época sobre a natureza humana. Para ele, a natureza humana seria essencialmente má e caberia à educação destruir sua natureza original, substituindo-a por outra, moldada pela sociedade. A influência de Rousseau no campo educacional deveu-se à sua obra Emílio (1762), que trouxe o manifesto do novo pensamento pedagógico. Nela, o autor pregou que seria conveniente dar à criança a possibilidade de um desenvolvimento livre e espontâneo. Sua primeira frase do livro é: “Tudo é bom ao sair das mãos do autor da natureza; mas tudo se degenera nas mãos do homem”. A educação não devia ter por objetivo a preparação da criança para o futuro nem modelá-la para determinados fins: a educação devia ser a própria vida da criança, deve respeitar seu desenvolvimento natural. Como não é um adulto, não deve estudar matérias de adulto, como geralmente acontecia. A educação é um processo contínuo, que dura por toda a vida. Segundo Rousseau, não é necessário ensinar a criança a ler, mas desenvolver seus sentidos por meio do contato íntimo com as forças e fenômenos da natureza. Dessa forma, a criança julga, prevê e raciocina sobre tudo que se relaciona com ela. Em relação à educação da criança dos 12 aos 15 anos, Rousseau disse que os conteúdos a serem ensinados devem estar de acordo com a curiosidade, com a ânsia de conhecer e com o emprego prático na sociedade, rejeitando-se os conteúdos de que os indivíduos não têm gosto natural. A aprendizagem de um ofício tem muitas vantagens sociais e ajuda na educação. Rousseau teve cinco filhos que confiou a um internato, terminando por jamais se encontrar com eles. No final da vida, a dor do abandono o levou a um complexo de perseguição e à loucura. FONTE: Adaptado de: Piletti e Piletti (1999) UNIDADE 1 | AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NA PRÁTICA ESCOLAR 10 3.1.1 A contribuição do pensamento de Rousseau para a educação Até Rousseau a criança era considerada um adulto em miniatura, tratado pelos padrões dos adultos, vestindo-se com roupas de adulto, frequentando bares e tabernas. Rousseau foi praticamente o primeiro a considerar a infância da criança, seus sentimentos, desejos e ideias próprias. Foi precursor da psicologia do desenvolvimento, ao dar atenção às diversas fases do desenvolvimento infantil e ao defender uma educação diferente para cada fase. A partir de Rousseau começou a intensificar-se a psicologia na educação e o olhar para acriança a partir da sua natureza, dos instintos, de suas capacidades e tendências em oposição aos padrões e normas impostos pela sociedade. Essa tendência teve ponto alto no século XIX e influenciou Pestalozzi, Herbart e Froebel. Suas ideias influenciaram inclusive o Movimento da Educação Nova (1932). FONTE: Adaptado de: Piletti e Piletti (1999) 3.2 JOHANN HEINRICH PESTALOZZI (1746-1827) FONTE: Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/formacao/ formacao-inicial/teorico-incorporou-afeto-sala-aula-423096.shtml>. Acesso em: 21 out. 2013. FIGURA 6 – PESTALOZZI TÓPICO 1 | PROCESSO HISTÓRICO E SOCIAL DAS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS 11 Pestalozzi, educador suíço, nasceu em Zurique. Desde os tempos de estudante participou de movimentos de reforma social. Pestalozzi tentou colocar em prática e desenvolver as ideias de Rousseau sobre educação, inicialmente com seu próprio filho. Em 1774 fundou uma escola profissional para pobres, onde tentou ensinar os rudimentos de agricultura e de comércio, iniciativa que fracassou poucos anos depois. Em 1805 fundou o famoso internato de Yverdon, que durante seus 20 anos de funcionamento foi frequentado por estudantes de todos os países da Europa. FONTE: Adaptado de: <http://www.laifi.com/laifi.php?id_laifi=4922&idC=75110#>. Acesso em: 19 nov. 2013. Os princípios gerais dos métodos propostos por Pestalozzi foram resumidos por Morf (apud PILETTI; PILETTI, 1999, p. 134), um de seus discípulos: 1- A observação ou percepção sensorial (intuição) é a base da instrução. 2- A linguagem deve estar sempre ligada à observação (intuição), isto é, ao objeto ou conteúdo. 3- A época de aprender não é época de julgamento e crítica. 4- Em qualquer ramo, o ensino deve começar pelos elementos mais simples e proceder gradualmente de acordo com o desenvolvimento da criança, isto é, em ordem psicológica. 5- Tempo suficiente deve ser consagrado a cada ponto do ensino, a fim de assegurar o domínio completo dele pelo aluno. 6- O ensino deve ter por alvo o desenvolvimento e não a exposição dogmática. 7- O mestre deve respeitar a individualidade do aluno. 8- O fim principal do ensino elementar não é ministrar conhecimentos e talento ao aluno, mas sim desenvolver e aumentar os poderes de sua inteligência. 9- O saber deve corresponder ao poder e a aprendizagem à conquista de técnicas. 10- As relações entre o professor e o aluno, especialmente em disciplina, devem ser baseadas e reguladas pelo amor. 11- A instrução deve estar subordinada ao fim mais elevado da educação. UNIDADE 1 | AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NA PRÁTICA ESCOLAR 12 3.3 JOHANN HEINRICH HERBART (1776-1841) FIGURA 7 – HERBART FONTE: Disponível em: <http://ebmeierjochen.files.wordpress. com/2008/09/herbart_31.jpg>. Acesso em: 21 out. 2013. Filósofo, teórico da educação e psicólogo alemão, estudou na Universidade de Jena, onde foi discípulo de Fichte. Aprofundou as propostas de Pestalozzi, dando-lhes um cunho mais teórico. Em 1797 esteve na Suíça e visitou a escola dirigida por Pestalozzi. Como teórico da educação, defendeu a ideia de que o ensino deve fundamentar-se na aplicação dos conhecimentos da psicologia. Para ele, a instrução como mera informação não é educativa. A educação só é possível na medida em que se desperta o interesse dos alunos pelas matérias escolares, e esse interesse só pode ser despertado pela seleção correta dos conteúdos. Conteúdos: os estudos deveriam ser unificados, correlacionados, a partir da própria história da humanidade. Na medida em que o desenvolvimento do indivíduo recapitula, até certo ponto, o desenvolvimento da humanidade, Herbart propõe que se comecem os estudos pelos poemas de Homero, que seriam seguidos por outra parte da literatura grega e romana combinadas com certos períodos da história, escolhidos em função da progressiva complexidade. Isto é: começando pelos fatos mais simples e evoluindo progressivamente para os mais complexos. TÓPICO 1 | PROCESSO HISTÓRICO E SOCIAL DAS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS 13 No ensino herbartiano, o primeiro passo é o da preparação, que significa basicamente a recordação da lição anterior e a partir disso um novo conhecimento é colocado diante dos alunos que necessita ser assimilado. A assimilação ocorre por comparação do novo com o velho; o novo é assimilado a partir do velho. Criou o sistema que denominou “instrução educativa”. Esse sistema, segundo o educador brasileiro Lourenço Filho, propõe um ensino que, através de situações sucessivas e bem reguladas pelo mestre, fortalece a inteligência e, pelo cultivo dela, forma a vontade e o caráter. Herbart sugeriu que cada lição obedecesse a fases estabelecidas ou passos formais. Seriam eles: preparação, apresentação, assimilação, generalização e aplicação. FONTE: Adaptado de: <http://www.drb-assessoria.com.br/historia_ideias_pedagogicas.pdf>. Acesso em: 19 nov. 2013. FRIEDRICH FROEBEL (1782-1852) FIGURA 8 – FROEBEL FONTE: Disponível em: <http://2.bp.blogspot.com/_ Ave3NwOv9qQ/S-JnzzHCSKI/AAAAAAAAADA/ORUV1oBuwp4/ s1600/froebel.jpg>. Acesso em: 23 out. 2013. Nascido em 21 de abril de 1782 na Turíngia, Friedrich Wilhelm August Froebel é o sexto filho de um pastor. A mãe morreu seis meses após seu nascimento, por complicações do parto. O pequeno Friedrich é deixado à própria sorte, pois a madrasta não lhe dá atenção. UNIDADE 1 | AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NA PRÁTICA ESCOLAR 14 O pai o considera um “mau sujeito”, com recursos intelectuais limitados. Obriga-o a assistir aos ofícios religiosos, fechado na sacristia. O jovem Froebel, de tanto refletir sobre o sentido da Bíblia e sobre os mistérios da natureza, adquire hábitos de autodidata. Depois de frequentar a escola primária, é acolhido por seu tio Hoffmann, frequenta a escola comunal. Sua escolaridade termina em 1796, quando recebe o certificado do curso, experiência que o marca e reforça seu sentimento religioso. Froebel nunca terá uma formação superior. O pai, que persiste em julgá-lo pouco inteligente, deseja que aprenda um ofício. Ele inicia então uma formação em agrimensura com um silvicultor, mas desiste depois de dois anos. Em 1799, matricula-se no curso de ciências naturais da Universidade de Jena, mas interrompe os estudos no semestre do verão de 1801 por razões financeiras; é obrigado a retornar para junto do pai, muito doente, para ajudá- lo na sua missão até a morte dele em fevereiro de 1802. Os estudos interrompidos na Universidade de Jena tinham reforçado um sentimento precoce da natureza, que já se expressava no interesse pela agrimensura. Aliás, em junho de 1805 é contratado pela “Escola Modelo”, de Frankfurt, que aplica os princípios pedagógicos de Pestalozzi. De imediato, Froebel sente que encontrou seu caminho. Aprofundou o conhecimento das teorias de Pestalozzi, ao mesmo tempo em que se dedicava zelosamente aos seus alunos. Froebel empreende então estudos ambiciosos para adquirir as bases necessárias à sua ação de pedagogo e de professor especializado. Impõe-se como tarefa estudar as disciplinas filosóficas, antropologia, fisiologia, ética e pedagogia teórica, a fim de utilizá-las no ensino do conhecimento da língua (materna), da história, da geografia e do método. A grande contribuição de Froebel para a educação foram seus estudos e aplicações práticas acerca dos jardins de infância. Dessa forma, ficou historicamente conhecido como criador dos jardins de infância. Para ele, a infância está contida na voz de Deus, de forma que a educação deve deixar a criança se desenvolver reforçando sua capacidade criativa com cores, ritmos e figuras, a escola é o lugar onde a criança deve aprender as coisas importantes da vida, os elementos essenciais da verdade, da justiça, da personalidade livre, da responsabilidade, da iniciativa, não as estudando, mas vivendo-as. A atividade lúdica é privilegiada por entender o significado funcional do jogo e do brinquedo, como também do trabalho manual, o estudo da natureza enquanto processos espontâneosda criança e, ao mesmo tempo, educativos. TÓPICO 1 | PROCESSO HISTÓRICO E SOCIAL DAS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS 15 A concepção de jardins de infância, para o autor, é que esses devem ajudar os alunos a se expressarem baseando-se na autoatividade. A aquisição de conhecimento está em segundo plano, subordinado ao crescimento através da atividade. FONTE: Adaptado de: <http://ayrtonbecalle.files.wordpress.com/2012/05/friedrich-frc3b6bel. pdf>. Acesso em: 19 nov. 2013. 4 OS IDEAIS DA BURGUESIA O lema da burguesia era: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. No final do século XVIII, a população se encontrava sob o regime absolutista de governo. O povo era uma classe composta por banqueiros, advogados, médicos, comerciantes, funcionários públicos e camponeses (que perfaziam a maioria da população) e estava revoltado com a soberania do monarca, com seus altos gastos, altos impostos e a falta de abertura política. FIGURA 9 – LIBERDADE, IGUALDADE E FRATERNIDADE FONTE: Disponível em: <http://cinemaedebate.com/2009/06/25/ casablanca-1942/>. Acesso em: 23 out. 2013. Nesta época, espalhava-se na Europa o ideário iluminista, movimento cultural desenvolvido pela própria burguesia que difundia ideias liberais para a política e para a economia. Sob a alegação de que todos nascem iguais e com liberdade, exigiam a democracia. A Revolução Francesa propôs uma educação pública obrigatória, direito de todos e dever do Estado. Foi elaborado o “Plano Nacional de Educação”, texto apresentado por Lepelletier (1760-1793) inspirado nos ideais de Rousseau. UNIDADE 1 | AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NA PRÁTICA ESCOLAR 16 O texto de Lepelletier sintetizou as aspirações da união entre educação e política. Defendia o ensino público, gratuito, obrigatório e igual para todos, até a criança atingir os 12 anos de idade. Baseado na afirmação de Rousseau de que o homem é naturalmente bom, não haveria necessidade de religião, bastaria a ciência para formar o homem. Ao Estado caberia somente o oferecimento de uniformes e alimentação, auxílio que estaria condicionado à execução de tarefas diárias. Para os professores, seria designado um salário fixo, e as despesas com educação ficariam a cargo de todos os cidadãos, sendo que os mais ricos ficariam incumbidos das maiores taxas. O Plano Nacional de Educação não chegou a ser posto em prática, entretanto, suas ideias inspiradas no liberalismo do século XVIII tiveram notável influência nos sistemas nacionais de educação criados no século XIX. FONTE: Disponível em: <http://www.slideshare.net/guest1a17a4/histria-das-idias-pedaggicas>. Acesso em: 19 nov. 2013. Mostesquieu (1689-1755), em sua obra “O espírito das leis” (1748), dedicou um capítulo à educação no qual defendia a necessidade da criação de leis educacionais que garantissem às famílias a educação de seus filhos. Para os iluministas, “Os filhos pertencem à República, antes de pertencerem aos pais”, célebre frase de Danton (1759-1794). NOTA ILUMINISMO – RAZÃO ACIMA DE TUDO Na Europa do século XVIII tornou-se cada vez mais comum entre cientistas, escritores e filósofos buscar respostas racionais para vários aspectos da sociedade, da natureza e do universo. Esses pensadores queriam saber, por exemplo, por que os corpos se movem, qual a composição da água, qual a melhor forma de governo, por que existem desigualdades sociais e muitas outras coisas. FONTE: Disponível em: <http://arquivosememorias.blogspot.com.br/>. Acesso em: 19 nov. 2013. Essas respostas não poderiam mais ser dadas pela Bíblia. Tudo que havia sido considerado verdade no passado agora deveria ser questionado e examinado com cuidado, até que sua veracidade fosse confirmada ou desmentida. As respostas deveriam trazer uma explicação racional. Para os iluministas, as pessoas deveriam aprender a pensar por si mesmas. O Iluminismo tinha a finalidade de formar o homem moderno, livre, ativo e responsável socialmente, que rompia com a ligação da educação com a religião. FONTE: Adaptado de: Piletti e Piletti (1999). TÓPICO 1 | PROCESSO HISTÓRICO E SOCIAL DAS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS 17 A burguesia se junta ao povo e convoca uma revolução, a chamada “Revolução Burguesa”, permitindo a publicação da famosa “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão” na França, que estabelece igualdade de todos perante a lei, o direito à propriedade privada e a resistência à repressão. Os burgueses pretendiam garantir a liberdade de religião, econômica e de expressão. A burguesia, por sua vez, afirma-se como camada social dominante, se consolidando como uma importante força econômica e política, responsável pelo progresso técnico. Segundo Saviani (1991, p. 45), desde então os interesses da burguesia: [...] não caminham mais em direção à transformação da sociedade; ao contrário, os interesses dela coincidem com a perpetuação da sociedade. É nesse sentido que ela já não está mais na linha do desenvolvimento histórico, mas está contra a história. A história é contra os interesses da burguesia. Então, para a burguesia se defender desses interesses, ela não tem outra saída senão negar a história, passando a reagir contra o movimento da história. É nesse momento que a escola tradicional, a pedagogia da essência, já não vai servir e a burguesia vai propor a pedagogia da existência. Ora, vejam vocês: o que é a pedagogia da existência, senão, diferentemente da pedagogia da essência que é uma pedagogia que se fundava no igualitarismo, uma pedagogia da legitimação das desigualdades? Com base neste tipo de pedagogia, considera-se que os homens não são essencialmente iguais; os homens são essencialmente diferentes, e nós temos que respeitar as diferenças entre os homens. Com o desenvolvimento do capitalismo industrial, as antigas estruturas escolares tornaram-se anacrônicas, não atendendo mais às exigências de mercado. Novas classes sociais se desenvolveram: a burguesia e o proletariado. A escola não poderia continuar sendo a mesma, servindo às elites, até porque o desenvolvimento industrial passou a exigir trabalhadores qualificados para atuarem nas indústrias, de forma que a burguesia industrial começou a perceber a necessidade de um mínimo de instrução da classe trabalhadora. “Os ‘ignorantes’ deveriam socializar-se, isto é, deveriam ser ‘educados’ para tornarem- se bons cidadãos e trabalhadores disciplinados” (HARPER; BABETE, apud PILETTI; PILETTI, 1999, p. 32). A burguesia necessitava então modernizar a escola, colocando ênfase nos conteúdos técnicos e científicos e não mais humanísticos. Ao lado da escola dos ricos foi surgindo e se desenvolvendo a escola dos pobres, reforçando a segregação social existente. Enquanto os filhos dos pobres eram obrigados a se contentar com a escola primária, os filhos dos ricos tinham acesso ao ginásio e ao ensino superior, privilégio da burguesia. A classe proletária via na escola uma forma de ascensão social, um instrumento de emancipação e de educação das classes menos favorecidas. Reivindicavam o direito de frequentar uma mesma escola em condições de igualdade. O ensino público é visto como a melhor maneira de alcançar a democracia. UNIDADE 1 | AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NA PRÁTICA ESCOLAR 18 Pouco a pouco, o sistema de duas escolas separadas vai sendo substituído por um único sistema. Surge a escola aberta a todos e a seleção passa a ser feita no decorrer dos anos escolares, em que os melhores vão sendo selecionados para continuarem os estudos, os outros vão ficando pelo caminho. Para Saviani (1991), aciona-se a escola redentora da humanidade, universal, gratuita e obrigatória como um instrumento de consolidação da ordem democrática. Apesar de a escola ser a mesma, com as mesmas matérias e os mesmos professores, os filhos da burguesia, por terem maior intimidade com a cultura e com os valores burgueses que são repassados pela escola, acabam por ter mais facilidades em ultrapassar as barreiras escolares e assim prosseguir ao ensino superior. Caro(a) acadêmico(a)!Podemos compreender até agora que a escola até então foi uma necessidade da burguesia, do processo de industrialização e do contexto político. Por isso, podemos entender que educação liberal é sinônima de escola burguesa. Vamos retornar a falar das duas correntes pedagógicas. Agora, de forma mais aprofundada, descreveremos como ocorreram as manifestações em cada uma das duas correntes. Vamos relembrar, segundo Libâneo (2003), que a Pedagogia Liberal é composta pela: • Tradicional. • Renovada progressivista. • Renovada não diretiva. • Tecnicista. E a Pedagogia Pogressivista que se opôs a essa corrente está dividida em: • Libertadora. • Libertária. • Crítico-social dos conteúdos. Vamos agora compreender por que cada uma delas foi eleita por determinada época e sociedade. TÓPICO 1 | PROCESSO HISTÓRICO E SOCIAL DAS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS 19 5 TENDÊNCIA LIBERAL: PEDAGOGIA TRADICIONAL Como podemos perceber, a tendência liberal é uma extensão dos preceitos das revoluções burguesas e dos ideais iluministas, os quais estabelecem que a função da escola seja a de preparar os indivíduos para o desempenho de papéis sociais previamente definidos, a partir das características individuais. Neste caso, podemos dizer que a função da escola é a adequação ao social, em que os indivíduos precisam se adaptar aos valores e normas da sociedade e as diferenças entre classes sociais não são consideradas. A escola não leva em conta as desigualdades de condições. Para Libâneo (2003), esta tendência consiste na preparação intelectual e moral dos alunos para assumir uma posição na sociedade. O caminho é o mesmo para todos, mas é preciso esforço do próprio aluno, e os menos capazes devem lutar para superar suas dificuldades e conquistar seu lugar junto aos capazes. A autoridade do professor é condição na pedagogia tradicional. Todas as atenções devem estar voltadas ao professor, que transmite o conteúdo como verdade absoluta, de maneira expositiva e unilateral. O professor é considerado o detentor do saber e os alunos são apenas agentes passivos desse processo. Os métodos da pedagogia tradicional se baseiam na exposição oral e na demonstração dos conteúdos, a prática pedagógica é estática, de treino intensivo por meio da repetição e da memorização. A capacidade de assimilação independe da faixa etária em que os alunos se encontram. As matérias devem ser desenvolvidas numa progressão lógica estabelecida pelo adulto, sem levar em conta as características de cada idade da criança. Nesta corrente, a aprendizagem é mecânica, garantida pela coação, repetição e treino intensivo. A avaliação é realizada pela verificação a curto prazo, por meio de chamada oral, deveres de casa, e a longo prazo por meio de provas escritas e trabalhos de casa. O sistema é de emulação e classificação, contando com punições, notas baixas e apelos aos pais. Segundo Saviani (1997), a organização escolar desta corrente inspirou-se no princípio da burguesia: “Educação, direito de todos, dever do Estado”. Tratava-se de construir uma sociedade democrática e consolidar a democracia burguesa. UNIDADE 1 | AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NA PRÁTICA ESCOLAR 20 Porém, a escola tradicional não conseguiu fazer com que todos que ingressavam nela fossem bem-sucedidos, e ainda teve que curvar-se ao fato de que nem todos os bem-sucedidos se ajustavam ao tipo de sociedade que se queria consolidar (SAVIANI, 1997). Começaram então a se avolumar críticas a essa teoria e a escola passa a ser chamada de escola tradicional. FIGURA 10 – ESCOLA TRADICIONAL FONTE: Disponível em: <http://normalista2010cne.blogspot.com. br/2010_09_01_archive.html>. Acesso em: 20 out. 2013. Saviani (1997) classifica a Pedagogia Tradicional como intelectualista e enciclopédica, apontando-a como formal e acrítica, pois os conteúdos apresentados não levam em conta a experiência do aluno e de suas realidades sociais. Filosoficamente, classifica-a como Pedagogia da essência ou essencialista, onde a condição futura do homem já estaria determinada por seu próprio nascimento: [...] ao serem criados os homens segundo uma essência predeterminada, também já seus destinos eram definidos previamente; consequentemente, a diferenciação da sociedade entre senhores e servos já estava marcada pela própria concepção que se tinha da essência humana. Então, a essência humana justificava as diferenças (SAVIANI, 1997, p. 42). Para Ghiraldelli (1992), a Pedagogia Tradicional brasileira mistura-se com os princípios do jesuitismo, como também das teorias pedagógicas americanas e alemãs, com substrato do herbartiano. Vamos conferir? TÓPICO 1 | PROCESSO HISTÓRICO E SOCIAL DAS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS 21 6 PEDAGOGIA TRADICIONAL E SEU DESENVOLVIMENTO NO CONTEXTO BRASILEIRO A Pedagogia tradicional vai dos jesuítas até os anos que precederam o lançamento do Movimento dos Pioneiros da Educação Nova. A tendência tradicional, segundo Libâneo (2008), sofreu influência católica, herbartiana e positivista. O ensino jesuítico nos legou um ensino de caráter literário, verbalista e retórico, que estimulou a emulação através de prêmios e castigos e se classificava como humanismo clássico. “Este ensino era composto por formas dogmáticas de pensamento, pela prática de exercícios intelectuais, fortalecendo o raciocínio para a prática de leituras de textos, que se configuraram em uma enérgica reação contra o pensamento crítico iniciado na Europa” (GOMES, 2012, p. 59). Os conhecimentos deveriam ser adquiridos por meio de exercícios com modelos a serem seguidos pela repetição e pelo treinamento. Um dos principais preceitos do ensino jesuítico era a repetição como técnica de inculcar tópicos e normas. NOTA Os jesuítas permaneceram 210 anos no Brasil. Sua vinda foi uma reação da Igreja Católica às reformas protestantes. Sua preocupação era não perder fiéis e controlar a educação dos países católicos, adquirindo novos fiéis. O objetivo principal dessa contrarreforma era a educação de líderes. Partindo dessa preocupação, a Igreja Católica também criou várias ordens religiosas, entre elas a Companhia de Jesus, fundada em 1534, pelo padre espanhol Inácio de Loyola. Os primeiros jesuítas chegaram ao Brasil por volta de 1549, procurando converter o maior número de nativos à fé cristã. Converter os índios ao cristianismo não era a única preocupação dos jesuítas, eles também queriam educar os filhos dos colonos, visando à formação de novos missionários. FONTE: Adaptado de: Ghiraldelli (2001) Os jesuítas chegaram a fundar vários colégios para a formação de religiosos e filhos da elite colonial, trouxeram um padrão pedagógico que se configurava em um documento, escrito por Inácio de Loyola, conhecido como Ratio Studiorum, visando à formação integral do homem humanista e cristão de acordo com a fé e a cultura daquele tempo (GHIRALDELLI, 2001). UNIDADE 1 | AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NA PRÁTICA ESCOLAR 22 FIGURA 11 – INÁCIO DE LOYOLA. FONTE: Disponível em: <http://wiara.pl/files/10/07/31/590595_ IgnatiusLoyola_7.jpg>. Acesso em: 19 out. 2013. 6.1 O ILUMINISMO LUSO-BRASILEIRO De acordo com Gomes (2012, p. 63): Em 1759, Pombal, imbuído dos ideais iluministas, expulsa os jesuítas, empreendendo uma série de reformas no sentido de adaptar Portugal e suas colônias ao mundo moderno, tanto do ponto de vista econômico, político quanto cultural, dando, nesse momento, ao ensino brasileiro, um caráter público, uma vez que o Estado assume a educação no Brasil. Durante este período foi decretada a extinção do curso de Humanidades, substituindo-o por aulas régias que se caracterizavam por aulas avulsas de matemática, física, ciências naturais, além de gramática latina, grego e retórica. “Cada aula era régia autônoma e isolada. Essa foi a primeira forma de ensino público no país”, criando também a figura do Diretor Geral dos Estudos, para nomear e fiscalizar a ação dos professores” (GHIRALDELLI, 2001, p. 15). O ensino laico oficializou-se no Brasila partir de 1759. O Estado assumiu a educação em Portugal e no Brasil. As reformas pombalinas visavam romper com o modelo jesuítico. Para Pombal, esses padres eram retrógrados cultural e politicamente para aquele período, e também os considerava ambiciosos e poderosos em demasia, pois possuíam inúmeros bens. A expulsão dos jesuítas desmantelou uma estrutura que já tinha se organizado administrativamente em relação ao ensino, porém, alguns seminários para formação de padres foram mantidos pelo clero. “Esses padres, filhos de TÓPICO 1 | PROCESSO HISTÓRICO E SOCIAL DAS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS 23 proprietários de terra na colônia, compuseram os quadros dos novos professores que serviram à aristocracia rural, dando continuidade à pedagogia jesuítica” (GOMES, 2012, p. 64). FIGURA 12 – PEDAGOGIA JESUÍTICA FONTE: Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/_wuVGqIyKF60/ S1XuoXfSH_I/AAAAAAAAAAM/sTmSoxOZ3Xw/s200/1.jpg>. Acesso em: 20 out. 2013. Segundo Ghiraldelli (1992, p. 20), “um século depois da expulsão dos jesuítas ainda permanecia na cabeça dos professores um regrário didático com origem no Ratio, o que mostra a incapacidade do pensamento laico em superar a organização da cultura forjada pelo catolicismo no Brasil”. Caro(a) acadêmico(a)! Podemos perceber que as reformas pombalinas tinham um caráter elitista, destinadas principalmente à classe oligárquica, pois não havia mais professores para os indígenas e nem para os negros, uma vez que a coroa não possuía interesse filosófico ou mesmo religioso com essas populações. As décadas derradeiras do império ensejaram profundas transformações na sociedade daquela época. Devido à expansão da lavoura cafeeira, instalações portuárias, ferrovias e redes telegráficas possibilitaram um avanço industrial e uma urbanização significativa devido ao fim do regime de escravidão e à chegada dos imigrantes europeus, em substituição aos escravos para o trabalho assalariado. Para Libâneo (2008), nos anos finais do império desponta uma tomada de consciência sobre as relações entre a educação e o desenvolvimento nacional. Vários projetos e pareceres são propostos em virtude da situação do ensino no Brasil. Tais pareceres estavam impregnados de ideias trazidas de países europeus e dos Estados Unidos, inspiradas em autores como Herbart, Pestalozzi e Comte. UNIDADE 1 | AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NA PRÁTICA ESCOLAR 24 Todos esses fatores elencados acima colocaram o país no rumo da modernização. No quadro dessas transformações, o império ruiu (GHIRALDELLI, 1992), abrindo caminho para a adoção de um novo regime político: a República. 7 A SOCIEDADE REPUBLICANA E A PEDAGOGIA TRADICIONAL A República só foi proclamada em 1889. Não foi um movimento popular, mas militar e ocasionou profundas mudanças sociais, econômicas e políticas para o Brasil, que sai do escravismo e se insere lentamente numa sociedade urbana industrial marcada pelo poder das oligarquias, dos coronéis e dos cafeicultores. O federalismo atendia aos interesses dos cafeicultores paulistas, que apoiaram a queda da monarquia, fato que beneficiava também grandes fazendeiros de outros estados. Dessa forma, podemos dizer que o controle da vida econômica e política ficou nas mãos das oligarquias. FIGURA 13 – ELEMENTOS DEMOCRÁTICOS E OLIGÁRQUICOS EM UM MESMO REGIME FONTE: Disponível em: <http://www.brasilescola.com/sociologia/democracia- oligarquia.htm>. Acesso em: 20 out. 2013. Segundo Libâneo (2008), ao iniciar o período republicano, desenvolvem- se condições propícias ao aparecimento de movimento de renovação pedagógica e cultural. TÓPICO 1 | PROCESSO HISTÓRICO E SOCIAL DAS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS 25 7.1 A RETOMADA DO ENTUSIASMO PELA EDUCAÇÃO DURANTE A PRIMEIRA REPÚBLICA Um surto de nacionalismo e patriotismo acomete novamente a população por consequência da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) (GHIRALDELLI, 1992) e boa parte dos intelectuais se volta para a questão do desenvolvimento do país e principalmente para a problemática da educação popular. Com o relativo crescimento industrial dos anos 10, a população fazia pressões em favor da escolarização; em 1920, 75% da população não estava alfabetizada. A sociedade republicana se apresentou bem mais complexa que a sociedade imperial, (ROMANELLI, 2001). Essa nova sociedade já não abrangia apenas a massa homogênea dos agregados das fazendas e dos pequenos comerciantes e artífices da zona urbana. A heterogeneidade da população era composta por intelectuais, padres, militares em franco prestígio, além de uma burguesia industrial que ensaiava seus primeiros passos e um grande contingente de imigrantes, e ainda as populações que se ocupavam da lavoura, que representavam na sociedade acentuada divergência de interesses, origens e posições, caracterizando o caráter heterogênico da época. O sistema de ensino estava sob o comando político, econômico e social de duas classes aliadas: as elites culturais e políticas e as velhas oligarquias do café do tempo do império. Para Ghiraldelli (1992), dois grandes movimentos em prol da educação merecem destaque durante a Primeira República: o “entusiasmo pela educação” e o “otimismo pedagógico” que se dedicaram à necessidade de abertura e aperfeiçoamento de escolas. Porém, a oligarquia rural projetou no ensino a mesma mentalidade da colônia, em que a burguesia industrial, em franca ascensão, absorveu os modos de comportamento das classes latifundiárias e imprimiu à nação um estilo de vida ruralístico; questões sobre democracia, federalismo e educação popular deixaram de ser prioritárias. A esta classe interessavam o comércio do café e a manutenção do poder através de mecanismos eleitorais pouco democráticos, como voto de cabresto, corrupção, fraude eleitoral etc. “As oligarquias agrárias, principalmente setores ligados à lavoura cafeeira, atuaram como classe dominante e dirigente nos 40 anos de duração da primeira república”. (GHIRALDELLI, 1992, p. 27). Nesse sentido, os planos democráticos e o “entusiasmo” pela educação dos primeiros anos da república foram sufocados pela política oligárquica, que comandava a economia do país, só sendo retomados com a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). UNIDADE 1 | AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NA PRÁTICA ESCOLAR 26 Inúmeros movimentos, conhecidos como “Ligas Nacionalistas”, divulgaram a nova fase do “entusiasmo” pedagógico, que, imbuídos do fervor nacionalista, pregavam um patriotismo exacerbado e a erradicação do analfabetismo, entendendo que este fator contribuía para a perpetuação das oligarquias no poder. Expressou-se assim o desejo da burguesia urbana em afrontar a política das oligarquias, e chega ao Brasil a literatura norte-americana de Dewey, tendo Anísio Teixeira (aluno de Dewey no mestrado) como seu principal divulgador. Em especial, em meados dos anos vinte, nossos intelectuais interessados em educação puderam ler, entre outros autores, o filósofo norte-americano John Dewey, um dos mais destacados teóricos da educação nova americana, que se insurge contra as pedagogias que pretendem formar o espírito de fora para dentro (GHIRALDELLI, 2001). Seus textos causaram grande impacto na sociedade americana e a partir dos anos 20 começaram a conquistar a intelectualidade jovem no Brasil que estava preocupada com as questões educacionais. Para Libâneo (2008), a Educação nova acentua-se nos anos 20, postulando novos objetivos, novos programas e métodos a partir de influências de movimentos sociais e políticos e do desenvolvimento da biologia, psicologia e sociologia. Suas bases teóricas têm como suporte uma concepção científica da educação, em que princípios e leis do processo educativo devem subordinar-se às exigências da verificação experimental dos fatos. 7.1.1 John Dewey (1859-1952) FIGURA 14 – JOHN DEWEY FONTE: Disponível em: <http://american-education.org/ uploads/posts/2011-05/1305141922_john-dewey.jpg>. Acesso em: 20 out. 2013. TÓPICO 1 | PROCESSO HISTÓRICO E SOCIAL DAS TENDÊNCIASPEDAGÓGICAS 27 John Dewey nasceu em Burlington (Vermont), em 1859. Filho de comerciante, graduou-se na Universidade de Vermont, foi educador, reformista social, professor e filósofo do pragmatismo americano. Na Universidade recebeu influência de Hegel, seu pensamento baseava-se na convicção moral de que “democracia é liberdade”. O compromisso de Dewey com a democracia e com a integração entre teoria e prática foi, sobretudo, evidente em sua carreira de reformador da educação. Em 1894, se tornou diretor do Departamento de Filosofia, Psicologia e Educação de Chicago. Ali permaneceu por dez anos. Quando vivia em Michigan, Dewey conheceu a futura esposa, Alice Chipman, uma de suas estudantes. Alice chegara à universidade depois de vários anos como professora em escolas de Michigan e influenciou, mais do que ninguém, a direção que os interesses do marido tomariam no final da década de 1880. Quando se casou, Dewey começou a interessar-se ativamente pelo ensino público. Dewey estava convencido de que muitos problemas da prática educacional de sua época se deviam ao fato de estarem fundamentados em uma epistemologia dualista errônea – que atacou em seus escritos da década de 1890 sobre Psicologia e Lógica –, pelo que se propôs a elaborar uma pedagogia baseada em seu próprio funcionalismo e instrumentalismo. Sua obra como psicólogo e pensador da educação gerou uma reação contra as práticas educativas do seu tempo, excessivamente rígidas e formais. Dewey percebeu que a criança é uma criatura ativa, exploradora e inquisitiva, e por isso a tarefa da educação consiste em alimentar a experiência introduzida pelo conhecimento e pelas aptidões naturais. Dewey elucidou o caráter progressivo dos Estados Unidos e para ele a investigação é um processo que corrige a si mesmo, conduzido num contexto histórico e cultural específico, ou seja, o conhecimento é apenas aquilo que se encontra garantido pela investigação. Dedicou muito tempo a observar o crescimento de seus próprios filhos, por isso estava convencido de que não havia diferença entre a experiência de crianças e dos adultos. Ambos são sujeitos que aprendem com o enfrentamento de situações problemáticas que surgem no curso das atividades que merecerem seu interesse. Fez uma crítica ostensiva aos tradicionalistas por não relacionarem as disciplinas do currículo aos interesses das crianças, segundo o próprio Dewey: "Na realidade, os interesses não são senão atitudes de respeito de possíveis experiências; seu valor reside na força que proporcionam, não no sucesso que representam” (DEWEY,1902, apud TEIXEIRA, 2010). Para o autor, o pensar é o instrumento destinado a resolver os problemas da experiência e o conhecimento é a acumulação de sabedoria que gera a resolução desses problemas. Suas conclusões teóricas tiveram pouco UNIDADE 1 | AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NA PRÁTICA ESCOLAR 28 impacto na Pedagogia e, nas escolas, pois se ignorava a identidade das crianças sem diferi-la da dos adultos. Dewey afirmava que as crianças não chegavam à escola como lousa limpa na qual os professores poderiam escrever as lições sobre a civilização. Quando a criança chega à classe, “já é intensamente ativa e a incumbência da educação consiste em assumir a atividade e orientá-la” (DEWEY, 1899, p. 25 apud TEIXEIRA, 2010). O conhecimento deve ser uma atividade voltada para a experiência, deve ser estimulado o espírito de iniciativa e de independência do aluno, levando-o à autonomia e ao autogoverno, virtudes da modernidade. Para o autor, a criança possui quatro impulsos inatos: o de comunicar, o de construir, o de indagar e o de expressar-se de forma mais precisa, que constituem os recursos naturais, o capital para investir, de cujo exercício depende o crescimento ativo da criança. Para ele, a criança também leva interesses e atividades de seu lar e do entorno em que vive, cabendo ao educador a tarefa de usar a matéria orientando as atividades para “resultados positivos”. O lema de Dewey é “aprender fazendo”. FONTE: Adaptado de: <http://www.teleminiweb.com.br/Educadores/artigos/pdf/introdu-edu- bra.pdf>; <http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:LQ_vYL8luVoJ:ead.ines. gov.br/moodle/pluginfile.php/1229/mod_folder/content/2/Livros/Dewey.pdf%3Fforcedownload %3D1+&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br>. Acesso em: 19 nov. 2011. 7.1.2 Kilpatrick (1871-1965) FIGURA 15 – WILLIAM HEARD KILPATRICK FONTE: Disponível em: <http://sitios.itesm.mx/va/dide2tecnicas_ didacticas/aop/images/Kilpatrick.jpg>. Acesso em: 20 out. 2013. TÓPICO 1 | PROCESSO HISTÓRICO E SOCIAL DAS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS 29 Willian Heard Kilpatrick (1871-1965) deu prosseguimento ao trabalho de Dewey, dando-lhe uma configuração mais prática. Tendo em vista um ensino mais global e menos segmentado e disperso, Kilpatrick propôs o método dos projetos. Inicialmente, projeto era uma tarefa manual que a criança realizava fora da escola: semear, cultivar e colher cerais, criar animais etc. Com Kilpatrick esse termo adquire um sentido mais amplo. Como método didático, passou a significar uma atividade intencional, que consiste em fazer algo em um ambiente natural, integrando e globalizando todo o estudo com base nessa atividade. Construir uma casinha de coelhos, por exemplo, pode ser uma oportunidade para a aprendizagem de geometria, desenho, cálculo, história natural, ciências, estudos sociais etc. FONTE: Disponível: <http://historiaefilosofiadaeducacao.blogspot.com.br/>. Acesso em: 19 nov. 2013. 7.1.3 Decroly (1871-1932) FIGURA 16 – OVIDE DECROLY FONTE: Disponível em: <http://www.conocimientosweb.info competencias/ovide-decroly.html>. Acesso em: 20 out. 2013. O médico belga Ovide Decroly (1871-1932), a partir de experiências com crianças normais e anormais – para as quais abriu escolas –, também se preocupou com o aspecto da globalização do ensino, isto é, com o processo que integra toda a aprendizagem em certa unidade da experiência infantil. Segundo Decroly, as unidades de globalização, a que ele chama de “centros de interesse”, devem ser determinadas de acordo com as necessidades primordiais da criança – alimentação, respiração, UNIDADE 1 | AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NA PRÁTICA ESCOLAR 30 asseio, proteção contra as intempéries e os perigos, jogo e trabalho– e todas as atividades escolares, em todas as matérias, devem girar em torno de tais centros. Esses centros são os seguintes: a criança e a família; a criança e o mundo animal; a criança e o mundo vegetal; a criança e o mundo geográfico; a criança e o universo. Em relação a cada um desses centros de interesse, seguem-se três etapas de aprendizagem: observação direta das coisas, associação das coisas observadas e expressão do pensamento da criança através do desenho, da modelagem e de outros trabalhos manuais. FONTE: Disponível em: <http://pedagogia.tripod.com/infantil/declory1.htm>. Acesso em: 19 nov. 2013. 7.1.4 Montessori (1870-1952) FIGURA 17 – MARIA MONTESSORI FONTE: Disponível em: <http://t1.gstatic.com/images?q=tbn: ANd9GcQ5mQY4ekxZ9OLTY2ECeZ7YIT0iiTRpwFQW P3AUC6mCSvDxOCQMRg>. Acesso em: 25 out. 2013. A princípio, a médica italiana Maria Montessori (1870-1952) trabalhava na recuperação de crianças anormais, utilizando materiais educativos. No entanto, o êxito conseguido nesse trabalho foi tal que ela passou a pensar na aplicação do mesmo método para a educação de crianças normais. Foi assim que, em 1907, abriu-se em Roma a primeira Casa dei bambini, para crianças em idade pré-escolar que não tinham com quem ficar durante o dia. Maria Montessori concebe a educação como autoeducação, em que o fundamental é proporcionar à criança um ambiente livre de obstáculos não naturais e enriquecidos com materiais adequados. TÓPICO 1 | PROCESSO HISTÓRICO E SOCIAL DAS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS 31 Tudo na Casa dei bambini tem a dimensão da própria criança: mesas, cadeiras, banheiros, estantes, armários etc. são feitos em tamanho pequeno, de forma a permitir às criançasenorme liberdade de locomoção e domínio de ambiente. Os materiais de estudos são ricos e variados: caixas de vários tamanhos, cubos, prismas, sólidos de diversas formas para serem encaixados em aberturas especiais, botões para abotoar e desabotoar, superfícies ásperas e lisas de várias graduações, campainhas de sons diversos, cartões coloridos etc. Tais materiais servem, antes de tudo, para educar os sentidos, que são a base do juízo e do raciocínio. FONTE: Disponível em: <http://historiaefilosofiadaeducacao.blogspot.com.br/2008/08/educao- contempornea.html>. Acesso em: 19 nov. 2013. 8 TENDÊNCIA LIBERAL RENOVADA PROGRESSIVISTA As novas leituras, as transformações sociais e culturais abriram um novo caminho no campo educacional, em que o aluno passa a ser o centro e o sujeito do processo educativo e os métodos ativos de aprendizagem passam a ser os mais adequados para a eficiência deste processo. A concepção de aluno como centro implica o entendimento de que a aprendizagem deve ser significativa, ou seja, o aluno não aprende mais por treino ou memorização com atividades repetitivas, ele aprende quando a atividade possui significado para ele, satisfazendo suas necessidades. Dessa forma, o currículo deve conter as necessidades dos alunos no contexto em que vivem, como ponto de partida para que sejam alcançados os objetivos educacionais gerais. Com os métodos ativos, o aluno aprende de forma mais rápida e duradoura, pois aprende fazendo. O aluno passa de ouvinte passivo para sujeito agente do processo, tendo uma participação ativa, realizando experimentos, pesquisas, trabalhos em grupo, resolvendo situações-problema, procurando construir por ele próprio o conhecimento. UNIDADE 1 | AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NA PRÁTICA ESCOLAR 32 FIGURA 18 – MÉTODO – APRENDER FAZENDO FONTE: Disponível em: <http://www.ort.org.br/biotecnologia/o-curso- bt>. Acesso em: 19 out. 2013. Segundo Piletti e Piletti (1999), o professor seria um auxiliar, um orientador e não um mero transmissor de conhecimentos. A relação professor-aluno ocorre em um clima de convivência democrática, tal como deve ser a vida em sociedade. A disciplina surge da tomada de consciência dos limites, de forma que a solidariedade, a participação, o respeito às regras se encaminham para o alcance dos objetivos. Nesta tendência, portanto, a finalidade da escola é adequar as necessidades do sujeito ao meio social. O papel da escola é o de oportunizar experiências que devem satisfazer o interesse dos alunos e as exigências sociais ao mesmo tempo. Nota-se ainda a preocupação desta tendência com crianças “anormais” (SAVIANI, 1997). Decroly e Montessori se converteram a essa pedagogia a partir da preocupação que tinham com essas crianças. A partir de tais experiências em que se pretendeu generalizar procedimentos pedagógicos para o sistema escolar, Saviani (1997, p. 12) explica que: TÓPICO 1 | PROCESSO HISTÓRICO E SOCIAL DAS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS 33 Nota-se, então, uma espécie de bio-psicologização da sociedade, da educação e da escola. Ao conceito de ‘anormalidade biológica’ construído a partir da constatação de deficiências neurofisiológicas, se acrescenta o conceito de ‘anormalidade psíquica’ detectada através dos testes de inteligência, de personalidade etc., que começa a se multiplicar. Forja-se uma pedagogia que advoga um tratamento diferencial a partir da descoberta das diferenças individuais. Caro(a) acadêmico(a)! Pudemos perceber que a escola viu-se colocada em um vasto movimento de ideias e reformas, que pretendiam adequá-la aos novos tempos e às novas realidades. Percebemos, ainda, o deslocamento do eixo lógico para o psicológico, dos conteúdos cognitivos para os processos pedagógicos, do professor para o aluno, do esforço para o interesse, da disciplina para a espontaneidade, do diretivismo para o não diretivismo, da quantidade para a qualidade, ou seja, uma pedagogia baseada principalmente nas contribuições da psicologia e da biologia. FONTE: Disponível em: < http://pead.faced.ufrgs.br/sites/publico/eixo3/artesvisuais/bloco_I/ tematica_1/popup_04.html>. Acesso em: 9 nov. 2013. De acordo com Gadotti (1998), o discurso da Pedagogia Nova não questionou as raízes das desigualdades sociais. Dewey privilegiou o aspecto psicológico da educação, em prejuízo da análise da organização capitalista da sociedade, como fator essencial para a determinação da estrutura educacional. Apesar de suas posições político-ideológicas, Dewey construiu ideias de caráter progressista, como o autogoverno dos estudantes, mas negligenciou a discussão sobre a legitimidade do poder político, além da defesa da escola pública e ativa. 8.1 TENDÊNCIA LIBERAL: RENOVADA PROGRESSIVISTA NO CONTEXTO BRASILEIRO – A ESCOLA NOVA Com o fim da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o mundo reconheceu os Estados Unidos da América como potência mundial, logo passamos a tê-los também como credores, passamos ainda a admirá-los por meio de informações que nos chegavam através da imprensa, cinema, literatura etc., passamos a ter certo apreço pelo que veio a ser conhecido mais tarde como American Way of Life. UNIDADE 1 | AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NA PRÁTICA ESCOLAR 34 FIGURA 19 – IMAGEM REPRESENTATIVA DO MOVIMENTO CONHECIDO COMO AMERICAN WAY OF LIFE (MODO DE VIDA ESTADUNIDENSE) FONTE: Disponível em: <http://modovestir.blogspot.com br/2009/07/american-way-of-lifeeletrodomesticos-e.html>. Acesso em: 17 out. 2013. Assim, começamos a absorver de modo mais intenso a literatura pedagógica norte-americana. Esta literatura foi, em parte, o conteúdo do movimento do “otimismo pedagógico”. Nesta época, não eram apenas escolas que queríamos, mas, como diziam os textos que nos chegavam, era preciso também alterar nossa pedagogia, nossa arquitetura escolar, nossa relação de ensino-aprendizagem, nossa forma de administrar as escolas e a educação em geral, nossas formas de avaliação, nossa psicopedagogia. Várias pessoas acharam que, se tínhamos de começar, que já se começasse pelo que era o mais moderno. FONTE: Adaptado de: <http://www.teleminiweb.com.br/Educadores/artigos/pdf/introdu-edu- bra.pdf>. Acesso em: 19 nov. 2013. O imperialismo americano impôs não só padrões de novos consumos, não só de bens materiais como de bens culturais, que trouxeram ao Brasil as teorias pedagógicas do Movimento da Escola Nova, que tem Anísio Teixeira como seu principal representante no Brasil. O movimento pedia mudanças na educação tradicional, deu importância substancial à liberdade da criança e ao interesse do educando, enfatizou os métodos ativos de ensino-aprendizagem, com atenção à liberdade e ao interesse do aluno, adotou métodos de trabalho em grupo, incentivando a prática de trabalhos manuais na escola. Valorizou principalmente os estudos de psicologia experimental e colocou a criança no centro do processo pedagógico. TÓPICO 1 | PROCESSO HISTÓRICO E SOCIAL DAS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS 35 Jovens intelectuais como Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo, Lorenço Filho, Francisco Campos etc., promoveram reformas educacionais inspiradas nos princípios da Pedagogia Nova. De acordo com Gomes (2012, p. 73-74): Esse foi um movimento derivado da doutrina de Dewey (1859-1952), que se esboçou na década de 20, com a adesão de intelectuais como Anísio Teixeira (1900-1971), Fernando de Azevedo (1894-1974), Lourenço Filho (1897-1970). O movimento nas décadas seguintes recebeu apoio e influenciou a educação brasileira em diferentes momentos por influência de intelectuais, primeiro com Cecília Meireles (1901-1964) na década de 1940 e depois da década de 1960 com Darcy Ribeiro (1922-1997) e Florestan Fernandes (1920-1995), que viam no sistema estatal de ensino público o único meio efetivo de combate às desigualdades sociais da nação. Esse movimento tornou-se marco inaugural do projeto de renovação educacional do país, reivindicando que o Estado organizasse um plano geral de educação e propondo uma educação laica, pública,
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