Buscar

Paul Ricoeur ~Como nós pensamos o indivíduo

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 3 páginas

Prévia do material em texto

TORNAR-SE INDIVÍDUO – PAUL RICOEUR
Para ampliar o entendimento acerca da teoria do indivíduo, é importante reconhecer que cada indivíduo é único, uma vez que apresenta características particulares, que não podem ser transferidas a outro indivíduo, e, vivemos como indivíduo na diversidade de indivíduos.
A partir deste entendimento, podemos considerar que a nossa singularidade decorre também da história, das condições sociais e materiais de cada um e a forma como nos relacionamos com a natureza e com outros. A forma como percebemos e representamos a realidade e damos sentidos a ela, manifesta a nossa singularidade.
Antes de iniciarmos a nossa reflexão, responda a seguinte questão no caderno:
Qual o significado da palavra subjetividade?
Resposta:
A partir do resultado da pesquisa sobre o significado de subjetividade, responda às seguintes questões no caderno:
1 - Quais elementos da minha singularidade trazem marcas da experiência histórica e coletiva da qual eu participo?
Resposta pessoal:
2 - Considerando a força das influências externas no meu desenvolvimento, ainda assim, sou capaz de discordar e fazer as minhas escolhas, mesmo que estas não sejam aquelas preferidas pela minha família e meus amigos?
Resposta pessoal:
3 - O que é hermenêutica no contexto filosófico?
Resposta pesquisada:
4 - Quais são os principais temas abordados por Paul Ricoeur em suas reflexões? Cite dois exemplos de obras que abordam os temas indicados.
Resposta pesquisada:
Agora, vamos ler o texto abaixo para entender melhor como nos individualizamos, ou seja, como cada um de nós se tornar indivíduo.
Paul Ricoeur 
Filósofo francês, nascido a 27 de fevereiro de 1913, em Valence, e falecido a 20 de maio de 2005, em Chatenay-Malabry, Paris, foi aluno de Gabriel Marcel e professor nas Universidades de Sorbonne e Chicago. O pensamento desenvolvido por Ricoeur revela as influências da fenomenologia de Husserl, do pensamento de Gabriel Marcel e da corrente personalista francesa, dirigida por Emmanuel Mounier. 
Como nós pensamos o indivíduo?
Em geral, podemos dizer que o indivíduo tem duas dimensões: ser membro de uma sociedade qualquer (como uma formiga em um formigueiro) e, em sentido moral, um ser independente e autônomo. Portanto, quando falamos de indivíduo, pensamos em um ser da espécie humana com autonomia e independência. 
A primeira preocupação de Paul Ricoeur é como, de modo geral, nos individualizamos. Como dizemos, por exemplo, que determinado ser é uma amostra indivisível de uma espécie? Como podemos afirmar que uma abelha, por exemplo, é um indivíduo da espécie das abelhas? O que faz que ela represente sua espécie? Igualmente, como um homem pode dizer que faz parte da espécie humana, mesmo considerando as diferenças?
O ponto de partida de Ricoeur é a linguagem, pois é por meio dela que nós pensamos e dizemos o mundo. Esse ato de dizer o mundo só é possível pela interpretação, sendo a linguagem a manifestação da interpretação do mundo. 
Em um diálogo, temos, necessariamente, dois interlocutores. No instante em que apenas um fala, nós temos o locutor. A locução exige alguém que ouça; portanto, falar é dirigir -se a. Uma interlocução exige o envolvimento de, pelo menos, dois seres – quem fala e quem ouve, ou ouvirá. No entanto, quando falamos, não apenas dizemos as coisas como são, mas criamos outras. Por exemplo, uma promessa. A promessa só existe a partir do ato da fala, ela é uma criação ética da própria linguagem, em meio a uma interlocução. Em geral, o “eu” aparece completamente unido em nossa fala, encaixado em tudo o que falamos. Por exemplo, quando alguém diz o gato está limpo, seria fácil acrescentar uma fala que remeta ao locutor: eu declaro que o gato está limpo. Mesmo sem perceber, cada vez que falamos, podemos nos remeter a nós mesmos, na condição de locutores.
Este “eu” que somos está ancorado na história e no tempo vivido – o agora –, porque esse “eu” tem um nome próprio e uma data de nascimento, fixada no tempo e no espaço. Ao dizer o próprio nome, nós fazemos uma correlação do agora com aquilo que já vivemos sob esse nome, quer seja a nossa família, quer sejam nossos documentos. É a correlação do presente vivo (dizer o nome) com algum outro ponto no tempo (passado).
 Do mesmo modo, podemos dizer isso do espaço, o lugar vivo agora, como a sala de aula, que pode ser correlato a outro espaço: pelo fato de dizermos eu estou na sala de aula, dizemos que não estamos em outro lugar, no qual já estivemos ou queríamos estar, por exemplo.
A Ipseidade é a fala que usamos para dizer o que pertence apenas ao indivíduo, à sua singularidade. Aquilo que, entre vários de uma espécie, diferencia um só. Somos seres que nos caracterizamos por instituir o mundo pela linguagem. Ademais, ela nos proporciona o que somos: seres que fazem uso dessa mesma linguagem para se expressar, interpretar e ouvir. Isso significa dizer que a linguagem nos proporciona o que somos e o que o mundo é. O indivíduo é o “eu” como si mesmo – idêntico somente a si, diferente de todos da sua espécie.
Para sabermos quem é este “eu”, o passo seguinte é narrá-lo. Ao narrar, somos obrigados a dizer a ação desse sujeito (indivíduo). O eu se faz conhecer quando conta (narra) sua história: “Eu nasci em Sorocaba”; “Eu sei ler”; “Eu sinto saudade de Maria” etc. Além disso, torna-se fundamental pensarmos que nossa narrativa (história) não diz apenas de um ser imutável (que não muda); ela é uma história de um ser em contínua mudança, pois esse ser se dá pela ação narrada, e cada ação é diferente, até mesmo a mais recente delas. Portanto, nós somos a nossa história contada e somos leitores de nós mesmos.
De fato, o uso da linguagem produz quem somos. Nossas palavras e sentidos que damos a elas estão recheados das mais diversas ideologias, que é um conjunto de ideias, valores e crenças que fundamenta como vemos o mundo, a nós e aos outros. Essas ideias, valores e crenças atuam em nossa própria narrativa (história). Se aprendermos desde criança palavras de discriminação, de categorização de pessoas, algo comum em universos sociais racistas, nossa leitura de nós mesmos pode estar profundamente constituída por esses preconceitos. Com a exclusão do outro, por exemplo, instituímo-nos de maneira vil como racistas.
No entanto, pode haver uma promessa que fazemos para sermos melhores dentro da sociedade, com ações de generosas e bonitas. Por isso, podemos partir de uma situação de narrativa de nós mesmos para outra, na tentativa ética de superarmos as injustiças e a exclusão do outro. A ética não depende exclusivamente do indivíduo por si mesmo, uma vez que esse indivíduo vive no mundo (sociedade), principalmente em relação ao outro, por meio de cooperação com base na linguagem (diálogo e serviço).
Para Ricoeur, a ideologia individualista propõe pensarmos que, independentemente dos outros, somos agentes éticos capazes de moldar a sociedade, e, a outro indivíduo que ouve a nossa promessa de sermos melhores, tem o direito de cobrar a promessa feita. Ao mantermos nossa promessa, estabelecemos um laço de confiança e de cooperação. Nossa narrativa (história) nos configurar juntamente com o outro. O dever ético não se dá apenas sobre o indivíduo, mas sobre a relação com o outro.
Depois da leitura do texto, vamos responder as questões abaixo:
1. Como nós pensamos o indivíduo?
2. Como a linguagem é capaz de dizer o indivíduo? Explique.
3. A linguagem pode demonstrar quem é indivíduo e quais ideias, valores e crenças que ele cultiva? Explique.
5. O que é Ipseidade, segundo Ricoeur?
6. Segundo Ricoeur, o que propõe a ideologia individualista?

Continue navegando