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Análise Crítica do Discurso

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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/216743944
Análise de discurso (para a) crítica: o texto como material de pesquisa
Book · January 2011
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783
2 authors, including:
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Análise interdiscursiva de políticas públicas View project
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Viviane De Melo Resende
University of Brasília
120 PUBLICATIONS   554 CITATIONS   
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All content following this page was uploaded by Viviane De Melo Resende on 11 July 2018.
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https://www.researchgate.net/publication/216743944_Analise_de_discurso_para_a_critica_o_texto_como_material_de_pesquisa?enrichId=rgreq-c8f5fafcfd2583acedcb5815f84c697f-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzIxNjc0Mzk0NDtBUzo2NDY5OTgwODg3NjEzNDRAMTUzMTI2Nzc3MzEzNQ%3D%3D&el=1_x_2&_esc=publicationCoverPdf
https://www.researchgate.net/publication/216743944_Analise_de_discurso_para_a_critica_o_texto_como_material_de_pesquisa?enrichId=rgreq-c8f5fafcfd2583acedcb5815f84c697f-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzIxNjc0Mzk0NDtBUzo2NDY5OTgwODg3NjEzNDRAMTUzMTI2Nzc3MzEzNQ%3D%3D&el=1_x_3&_esc=publicationCoverPdf
https://www.researchgate.net/project/Analise-interdiscursiva-de-politicas-publicas?enrichId=rgreq-c8f5fafcfd2583acedcb5815f84c697f-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzIxNjc0Mzk0NDtBUzo2NDY5OTgwODg3NjEzNDRAMTUzMTI2Nzc3MzEzNQ%3D%3D&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf
https://www.researchgate.net/project/Organizacao-da-Colecao-Faces-da-Cultura-e-da-Comunicacao-Organizacional?enrichId=rgreq-c8f5fafcfd2583acedcb5815f84c697f-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzIxNjc0Mzk0NDtBUzo2NDY5OTgwODg3NjEzNDRAMTUzMTI2Nzc3MzEzNQ%3D%3D&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf
https://www.researchgate.net/?enrichId=rgreq-c8f5fafcfd2583acedcb5815f84c697f-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzIxNjc0Mzk0NDtBUzo2NDY5OTgwODg3NjEzNDRAMTUzMTI2Nzc3MzEzNQ%3D%3D&el=1_x_1&_esc=publicationCoverPdf
https://www.researchgate.net/profile/Viviane_Resende2?enrichId=rgreq-c8f5fafcfd2583acedcb5815f84c697f-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzIxNjc0Mzk0NDtBUzo2NDY5OTgwODg3NjEzNDRAMTUzMTI2Nzc3MzEzNQ%3D%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf
https://www.researchgate.net/profile/Viviane_Resende2?enrichId=rgreq-c8f5fafcfd2583acedcb5815f84c697f-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzIxNjc0Mzk0NDtBUzo2NDY5OTgwODg3NjEzNDRAMTUzMTI2Nzc3MzEzNQ%3D%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf
https://www.researchgate.net/institution/University_of_Brasilia?enrichId=rgreq-c8f5fafcfd2583acedcb5815f84c697f-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzIxNjc0Mzk0NDtBUzo2NDY5OTgwODg3NjEzNDRAMTUzMTI2Nzc3MzEzNQ%3D%3D&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf
https://www.researchgate.net/profile/Viviane_Resende2?enrichId=rgreq-c8f5fafcfd2583acedcb5815f84c697f-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzIxNjc0Mzk0NDtBUzo2NDY5OTgwODg3NjEzNDRAMTUzMTI2Nzc3MzEzNQ%3D%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf
https://www.researchgate.net/profile/Viviane_Resende2?enrichId=rgreq-c8f5fafcfd2583acedcb5815f84c697f-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzIxNjc0Mzk0NDtBUzo2NDY5OTgwODg3NjEzNDRAMTUzMTI2Nzc3MzEzNQ%3D%3D&el=1_x_10&_esc=publicationCoverPdf
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Índices para catálogo sistemático:
 
 1. Análise de discurso crítica 410
 2. Linguística 410
 3. Discurso 410
 Ramalho, Viviane - Resende, Viviane de Melo 
 Análise de discurso (para a) crítica: O texto como material 
de pesquisa - Viviane Ramalho - Viviane de Melo Resende
 
 Coleção: Linguagem e Sociedade Vol. 1
 Campinas, SP : Pontes Editores, 2011. 
	 Bibliografia.
 ISBN 978-85-7113-336-5
1. Análise de discurso crítica 2. Linguística 3. Discurso I. Título 
Copyright © 2011 das autoras
Coordenação Editorial: Pontes Editores
Editoração e capa: Eckel Wayne
Revisão: Pontes Editores
Coleção: Linguagem e Sociedade - Vol. 1
Coordenação da Coleção: Kleber Aparecido da Silva
POntES EditOrES
rua Francisco Otaviano, 789 - Jd. Chapadão
Campinas - SP - 13070-056
Fone 19 3252.6011
Fax 19 3253.0769
ponteseditores@ponteseditores.com.br
www.ponteseditores.com.br
2011
impresso no Brasil
5
Análise de discurso (pArA A) críticA: o texto como mAteriAl de pesquisA
PREFÁCIO
Este	livro	dá	continuidade	às	reflexões	das	autoras	sobre	
a proposta da Análise de Discurso Crítica de subsidiar cienti-
ficamente	pesquisas	que	têm	no	texto	o	seu	principal	material	
de trabalho. 
As	discussões	iniciais,	que	têm	servido	de	referência	para	
trabalhos com a Análise de Discurso Crítica no Brasil não só 
na	área	específica	da	Linguística	como	também	em	Linguística	
Aplicada,	Educação,	Ciências	Sociais,	Comunicação,	dentre	
outros,	são	aprofundadas	neste	trabalho.	O	aprofundamento	
nas	discussões	não	 compromete	 a	 proposta	 de	divulgar	 de	
modo claro e acessível os estudos críticos da linguagem de-
senvolvidos pela ADC de origem britânica. 
Com abordagem interdisciplinar e didática, as autoras 
avançam	na	apresentação	da	teoria,	método	e	aplicação	analítica	
da	ADC,	sem	perder	de	vista	o	amplo	e	diversificado	público	a	
quem	interessa	o	assunto.	Oferecem,	de	modo	claro	e	objetivo,	
exemplos	de	práticas	de	análise	assim	como	um	prático	Glos-
sário	que	descreve	e	sintetiza	intrincados	conceitos	e	categorias	
de	análise	textual.	Retomando	noções	preliminares	e	ao	mesmo	
tempo	oferecendo	novas	informações	e	perspectivas	de	aplica-
ção da ADC, as autoras esmeram-se em tornar mais acessíveis 
complexos	estudos	interdisciplinares	desenvolvidos	na	Ingla-
terra,	que	ainda	carecem	de	maior	sistematização	no	Brasil.	
Desse	modo,	o	livro	é	um	convite	tanto	para	a	iniciação	
quanto	para	o	aprofundamento	na	Análise	de	Discurso	Críti-
ca,	destinado	não	só	a	leitores/as,	estudantes,	pesquisadores/
as	e	professores/as	que	já	conhecem	reflexões	anteriores	das	
autoras,	mas	 também	 àqueles/as	 que	 pretendem	dar	 seus	
primeiros passos rumo a uma perspectiva crítica dos estudos 
da linguagem.
Brasília,	fevereiro	de	2011
Prof.	Dr.	Kleber	Aparecido	da	Silva
Universidade de Brasília (UnB)
Coordenador	Geral	da	Série	“Linguagem	e	Sociedade”
SUMÁRIO
Prefácio .........................................................................5
Apresentação .................................................................9
Capítulo 1
Análise de Discurso Crítica: 
resgatando	noções	preliminares ....................................11
Capítulo 2
ADC como abordagem teórica 
para estudos críticos do discurso ...................................31
Capítulo 3
ADC como abordagem teórico-metodológica 
para estudos do discurso ...............................................73
Capítulo 4
Análise	textual	aplicada:	categorias	analíticas	
e	exemplos	de	análise ....................................................111
Posfácio .........................................................................157
Glossário .......................................................................159
Referências	Bibliográficas ............................................179
As autoras ......................................................................193
9
Análise de discurso (pArA A) críticA: o texto como mAteriAl de pesquisA
APRESENTAÇÃO
Neste	livro,	avançamos	em	discussões	anteriores	sobre	a	
Análise de Discurso Crítica (ADC) de vertente britânica, mas 
sem perder de vista leitores/as iniciantes ou de outras áreas de 
conhecimento. Retomamos alguns conceitos centrais da disci-
plina	para,	então,	discutirmos	um	dos	principais	diferenciais	
da	ADC	britânica,	que	é	fornecer	subsídios	científicos	para	
estudos	qualitativos	que	têm	no	texto	o	seu	principal	material	
de	 pesquisa.	Ao	 contrário	 de	 trabalhos	 anteriores,	 em	que	
abordamos principalmente a origem da ADC e os diversos 
diálogos	teóricos	que	a	constituem,	neste	livro	o	foco	é	no	
trabalho	de	pesquisa	com	o	principal	material	empírico	em	
ADC:	o	texto.	
No	primeiro	 capítulo,	 resgatamos	 noções	 importantespara	a	compreensão	da	proposta	científica	da	ADC,	tais	como	
“discurso”,	“poder	como	hegemonia”,	“ideologia”.	Procura-
mos	destacar	por	que	essas	noções	fundamentam	a	concepção	
de linguagem como prática social e como instrumento de 
poder, sendo, portanto, pontos de partida para a compreensão 
da proposta teórica e metodológica em ADC.
No	segundo	capítulo,	buscamos	esclarecer	motivos	que	
fazem	esta	ser	uma	vertente	crítica	para	estudos	da	linguagem.	
Também	refletimos	sobre	a	concepção	de	“texto	como	evento	
discursivo”,	em	cujo	cerne	estão	as	compreensões	de	“prática	
social”	e	“ordens	de	discurso”.	Como	parte	dessa	reflexão,	
apresentamos	os	significados	do	discurso,	uma	proposta	da	
ADC	de	compreender	a	linguagem	segundo	sua	funcionali-
10
Análise de discurso (pArA A) críticA: o texto como mAteriAl de pesquisA
dade	nas	práticas	sociais:	como	forma	de	agir	no	mundo	e	se	
relacionar,	de	representar	e	de	identificar	a	si,	a	outrem	e	a	
aspectos do mundo. 
No terceiro capítulo, buscamos esclarecer procedimentos 
teórico-metodológicos	para	realização	de	pesquisas	qualita-
tivas subsidiadas pela proposta da ADC. Discutimos o arca-
bouço metodológico básico – inspirado no Realismo Crítico 
–,	que	é	motivado	por	problemas	sociodiscursivos	e	composto	
por	investigações	de	cunho	social	e	discursivo.	Também	le-
vantamos	reflexões	sobre	os	dois	principais	paradigmas	de	
investigação em ADC.
Por	fim,	no	Capítulo	4,	discutimos	e	exemplificamos	o	
processo	de	análise	textual,	praticado	na	ADC	como	parte	do	
processo	de	análise	de	discurso.	A	partir	de	um	texto	jorna-
lístico,	fazemos	explanações	sobre	traços	textuais	moldados	
por	modos	de	agir/gêneros,	modos	de	representar/discursos	e	
modos de ser/estilos, analisando categorias como avaliação, 
coesão,	estrutura	genérica,	interdiscursividade,	intertextuali-
dade, dentre outras. 
Para	 sistematizar	 a	 discussão,	 oferecemos	 ao	final	 do	
livro	um	Glossário	que	sintetiza	alguns	conceitos	centrais,	que	
aparecem	em	negrito	no	texto,	bem	como	todas	as	categorias	
de análise trabalhadas. 
Com este livro, esperamos contribuir para a divulgação e 
compreensão	da	proposta	científica	da	ADC,	buscando	suprir	
a	reconhecida	carência	de	maior	sistematização	desses	estudos	
no Brasil e, ainda, ampliar as possibilidades de diálogos mais 
efetivos	entre	a	ADC	e	outras	disciplinas.		
 
11
Análise de discurso (pArA A) críticA: o texto como mAteriAl de pesquisA
cApítulo 1
ANÁLISE DE DISCURSO CRíTICA: 
RESGATANDO	NOçõES	PRELImINARES
Neste	capítulo,	retomamos	noções	preliminares	da	ADC,	
tais	como	“discurso”,	“poder	como	hegemonia”,	“ideologia”,	
que	fundamentam	a	concepção	de	linguagem	como	prática	
social e como instrumento de poder.
Uma	vez	que	em	ADC	as	análises	discursivas	precisam	
articular	análises	linguísticas	do	texto	e	explanações	de	caráter	
social, então os conceitos de ‘discurso’, ‘hegemonia’ e ‘ideo-
logia’	adquirem	relevo.	Isso	porque	esses	conceitos	apontam	
tanto	para	as	instanciações	discursivas	específicas	que	anali-
samos	quanto	para	as	práticas	sociais	a	elas	associadas.	É	por	
isso	que	consideramos	esses	conceitos	um	bom	começo	para	
um	livro	como	este,	que	busca	intrumentalizar	pesquisadores/
as para análises discursivas.
Assim, abordamos o conceito de ‘discurso’, pedra ba-
silar	de	todo	o	referencial	da	ADC.	Respondemos	questões	
como	‘o	que	é	discurso?’,	‘por	que	a	ADC	é	crítica?’,	‘o	que	
significa	a	relação	dialética	entre	linguagem	e	sociedade,	de	
que	tanto	se	fala	em	ADC?’,	‘qual	é	a	relação	entre	discurso	
e	prática	social?’.	Discutimos,	também,	a	heterogeneidade	de	
abordagens	em	ADC,	esclarecendo	que	não	se	trata	de	cam-
po	homogêneo,	ao	contrário,	constitui-se	de	um	conjunto	de	
abordagens	diversas	que,	no	entanto,	mantêm	continuidades.	
Retomamos,	ainda,	os	conceitos	de	hegemonia	de	Gramsci	e	
12
Análise de discurso (pArA A) críticA: o texto como mAteriAl de pesquisA
de ideologia de Thompson, relacionando-os ao conceito de 
discurso e debatendo sua relevância em análises discursivas 
críticas.
1.1 o que é disCurso?
Para	entender	o	que	é	discurso	na	concepção	de	ADC	de-
senvolvida por Fairclough (1989, 1995, 2001, 2003a) e Chou-
liaraki e Fairclough (1999), precisamos partir da compreensão 
de	que	a	ADC	é	uma	abordagem	científica	interdisciplinar	para	
estudos críticos da linguagem como prática social. 
A Análise de Discurso Crítica, em um sentido amplo, 
refere-se a um conjunto de abordagens científicas 
interdisciplinares para estudos críticos da linguagem como 
prática social. 
Assim,	tomando	pressupostos	de	abordagens	das	ciências	
sociais, a ADC desenvolveu modelos para o estudo situado do 
funcionamento	da	linguagem	na	sociedade.	Daí	a	centralida-
de	do	conceito	de	‘discurso’,	um	conceito	que	é,	ao	mesmo	
tempo, ligado aos estudos da linguagem e a diversos avanços 
das	ciências	sociais.
Como esclarecem Fairclough (2003a) e Chouliaraki e 
Fairclough (1999), a proposta insere-se na tradição da ciência 
social crítica,	comprometida	em	oferecer	suporte	científico	
para	 questionamentos	 de	problemas	 sociais	 relacionados	 a	
poder	e	justiça.	
O “C” de ADC justifica-se por seu engajamento com a 
tradição da “ciência social crítica”, que visa oferecer 
suporte científico para a crítica situada de problemas 
sociais relacionados ao poder como controle. 
13
Análise de discurso (pArA A) críticA: o texto como mAteriAl de pesquisA
Sua característica interdisciplinar	explica-se	pelo	“rom-
pimento	de	fronteiras	epistemológicas”	com	teorias	sociais,	
pelo	qual	objetiva	subsidiar	sua	própria	abordagem	sociodis-
cursiva	assim	como	oferecer	suporte	para	que	pesquisas	sociais	
possam	contemplar,	também,	aspectos	discursivos	(Resende	&	
Ramalho,	2006,	p.	14).	Isso	porque	a	linguagem	se	mostra	um	
recurso	capaz	de	ser	usado	tanto	para	estabelecer	e	sustentar	
relações	de	dominação	quanto,	ao	contrário,	para	contestar	e	
superar tais problemas. 
Na	perspectiva	sociodiscursiva	da	ADC,	a	linguagem	é	
parte	irredutível	da	vida	social,	o	que	pressupõe	relação	interna	
e dialética de linguagem-sociedade,	em	que	“questões	sociais	
são,	em	parte,	questões	de	discurso”,	e	vice-versa	(Chouliaraki	
&	Fairclough,	1999,	p.	vii).	1
A perspectiva da linguagem como parte irredutível da 
vida social pressupõe relação interna e dialética entre 
linguagem e sociedade, pois questões sociais são também 
questões discursivas, e vice-versa.
Os	estudos	que	assumem	uma	postura	mais	centrada	na	
estrutura,	isto	é,	nas	características	mais	fixas	da	linguagem	(ou	
“semiose”	para	abarcar	manifestações	linguísticas	tanto	verbais	
quanto	não	verbais),	tendem	a	investigar	a	linguagem	apenas	
como	sistema	semiótico,	desprezando	de	algum	modo	os	atores	
que	dela	fazem	uso.	Por	outro	lado,	aqueles	que	se	centram	mais	
na	ação	dos	agentes	sociais,	isto	é,	nos	eventos	individualizados	
mais	flexíveis,	tendem	a	investigar	a	linguagem	com	base	em	
textos	isolados,	sem	atentar	para	as	estruturações	presentes	tanto	
na	sociedade	quanto	no	uso	da	linguagem.	
Entre essas duas posturas, está a concepção da ADC de 
linguagem como parte da prática social. Nessa perspectiva, o 
1	 Os	originais	em	língua	estrangeira	foram	traduzidos	pelas	autoras.
14
Análise de discurso (pArA A) críticA: o texto como mAteriAl de pesquisA
conceito	de	discurso	é	central,	pois	aponta	tanto	para	o	sistema	
quanto	para	seu	uso	contextualizado.
O conceito de prática social refere-se a uma entidade 
intermediária, que se situa entre as estruturas sociais mais 
fixas e as ações individuais mais flexíveis
(Chouliaraki & Fairclough, 1999).
É	precisamente	isso	o	que	justifica	o	fato	de	a	ADC	não	
pesquisar	 a	 linguagem	como	 sistema	 semiótico	nem	como	
textos	 isolados,	mas,	 sim,	o	discurso, entendido como um 
momento, uma parte, digamos assim, de toda prática social. 
Esse	conceito	complexo	de	discurso	nos	permite,	em	pesquisas	
situadas, compreender o uso da linguagem como ancorado 
em	estruturações	semióticas	e	sociais,	sem	perder	de	vista	a	
flexibilidade	dos	eventos	comunicativos,que	permite	a	cria-
tividade	na	produção	de	textos.
A ADC não pesquisa a linguagem como sistema semiótico 
nem como textos isolados, mas, sim, o discurso como um 
momento de toda prática social.
Aprofundaremos	essa	discussão	ao	longo	do	livro,	por	
isso	agora	 importa	esclarecer	apenas	que,	para	a	ADC,	em	
todos	os	níveis	da	vida	social,	desde	os	mais	fixos	(estrutu-
ras sociais)	aos	mais	flexíveis	 (eventos sociais), passando 
pelo nível intermediário (práticas sociais), a linguagem está 
presente. 
Conforme	Fairclough	(2003a),	entre	a	estrutura,	em	que	
a	linguagem	figura	como	sistema	semiótico	(com	as	opções	
lexicais,	gramaticais,	semânticas,	e	outras,	que	ela	oferece),	
e	os	eventos,	em	que	a	linguagem	se	manifesta	como	textos	
particulares	(produzidos	em	contextos	e	situações	específicas,	
por indivíduos particulares), estão as práticas sociais. As prá-
15
Análise de discurso (pArA A) críticA: o texto como mAteriAl de pesquisA
ticas,	então,	constituem	o	“ponto	de	conexão	entre	estruturas 
abstratas, com seus mecanismos, e eventos concretos”,	isto	é,	
entre	“sociedade	e	pessoas	vivendo	suas	vidas”,	nos	termos	
de Chouliaraki e Fairclough (1999, p. 21). 
Nas	práticas	sociais,	a	linguagem	se	manifesta	como	dis-
curso: como uma parte irredutível das maneiras como agimos 
e	interagimos,	representamos	e	identificamos	a	nós	mesmos,	
aos outros e a aspectos do mundo por meio da linguagem. 
Recapitulemos,	então,	na	Figura	1,	os	significados	dos	
conceitos	de	estrutura,	prática	e	evento	no	que	diz	respeito	à	
linguagem:
Figura 1 – Relação entre estruturação social e discursiva
Fonte: Resende (2009a, p. 33).
Práticas sociais são “maneiras recorrentes, situadas 
temporal e espacialmente, pelas quais agimos e 
interagimos no mundo” (Chouliaraki & Fairclough, 1999, 
p. 21). São entidades intermediadoras entre o potencial 
abstrato presente nas estruturas e a realização desse 
potencial em eventos concretos.
Isso	significa	que	o	fluxo	de	nossa	vida	diária	sempre	
envolve ação e interação, relações sociais, pessoas (com 
crenças, valores, atitudes, histórias etc.), mundo material e 
discurso (Fairclough,	2003a).	Ou,	na	definição	Chouliaraki	
16
Análise de discurso (pArA A) críticA: o texto como mAteriAl de pesquisA
&	Fairclough	 (1999),	atividade material, relações sociais, 
fenômeno mental e discurso.Isto	 é,	 pessoas	 usam	 recursos	
do mundo material (como agora nós estamos usando papel, 
tinta,	um	espaço	físico	para	ler	etc.)	para	agir	e	interagir	com	
outras	pessoas	(que	têm	suas	próprias	crenças,	valores),	esta-
belecendo	relações	sociais	(em	nosso	caso,	a	relação	leitor/a	
–	autoras),	fazendo	uso	da	linguagem,	seja	diretamente	(como	
o	 livro	que	você	está	 lendo	ou	o	professor	que	possa	estar	
falando)	ou	indiretamente	(o	que	você	pode	estar	pensando	
agora).	É	aqui,	nas	práticas	sociais,	que	se	explica	o	conceito	
de discurso. 
Então, discurso, para responder a nossa pergunta do 
início	desta	seção,	é	o	momento	integrante	e	irredutível	das	
práticas	sociais	que	envolve	a	semiose/linguagem	em	arti-
culação	 com	os	demais	momentos	das	práticas:	 fenômeno	
mental,	relações	sociais	e	mundo	material.	Essa	articulação	é	
indicada na Figura 2:
Figura 2 – Articulação irredutível entre os momentos da prática social
Ao	fazermos	uso	da	linguagem	em	nossas	vidas	cotidia-
nas, recorremos a maneiras particulares de representar, de agir 
e interagir e de identificarmos o mundo e a nós mesmos/as. 
17
Análise de discurso (pArA A) críticA: o texto como mAteriAl de pesquisA
Isto	é,	assim	como	todas	as	outras	pessoas	–	cada	qual	com	
suas	particularidades	e	em	seu	contexto	histórico,	político,	
cultural –, lançamos mão de discursos, gêneros e estilos 
específicos,	em	dadas	situações	sociais	também	específicas.	
Nesse	sentido	é	que	falamos	em	“discurso	político	neoliberal”,	
por	exemplo.	
Sendo assim, como Fairclough (2003a, p. 26) esclarece, 
sobre	 o	 termo	 “discurso”	 recaem	dois	 significados.	Como	
substantivo	mais	 abstrato,	 significa	 “linguagem	como	mo-
mento	irredutível	da	vida	social”.	Por	outro	lado,	como	um	
substantivo	mais	concreto,	discurso	significa	um	“modo	par-
ticular	de	 representar	parte	do	mundo”,	 ligado	a	 interesses	
específicos.	Essa	 duplicidade	de	 sentidos	 não	 compromete	
a	compreensão	aqui	porque,	para	tratar	da	segunda	acepção,	
mais	 concreta,	 falaremos	 em	 discursos	 “particulares”	 ou	
“discursos”,	no	plural.
O termo ‘discurso’ possui dois significados em ADC.
Como substantivo mais abstrato, significa o momento 
irredutível da prática social associado à linguagem; como 
substantivo mais concreto, significa um modo particular 
de representar nossa experiência no mundo.
Quando	ouvimos	uma	pessoa	se	referindo	a	um	evento	
como	 “ação	 policial”	 e	 uma	 outra	 pessoa	 se	 referindo	 ao	
mesmo	evento	como	“crime”	ou,	ainda,	uma	se	referindo	a	
alguém	como	“jovem”	e	outra	como	“delinquente”,	fica	claro	
o	que	significa	representar	o	mundo	de	maneiras	particulares,	
que	revelam	modos	também	particulares	de	ver	e	entender	o	
mundo,	as	pessoas,	as	relações	sociais,	as	lutas	de	poder.	
Essas	diferentes	perspectivas	do	mundo,	ou	 seja,	 esses	
discursos	que	se	ligam	a	campos	sociais	específicos	e	a	projetos	
particulares,	podem	ser	disseminados	como	se	fossem	universais,	
&	Fairclough	 (1999),	atividade material, relações sociais, 
fenômeno mental e discurso.Isto	 é,	 pessoas	 usam	 recursos	
do mundo material (como agora nós estamos usando papel, 
tinta,	um	espaço	físico	para	ler	etc.)	para	agir	e	interagir	com	
outras	pessoas	(que	têm	suas	próprias	crenças,	valores),	esta-
belecendo	relações	sociais	(em	nosso	caso,	a	relação	leitor/a	
–	autoras),	fazendo	uso	da	linguagem,	seja	diretamente	(como	
o	 livro	que	você	está	 lendo	ou	o	professor	que	possa	estar	
falando)	ou	indiretamente	(o	que	você	pode	estar	pensando	
agora).	É	aqui,	nas	práticas	sociais,	que	se	explica	o	conceito	
de discurso. 
Então, discurso, para responder a nossa pergunta do 
início	desta	seção,	é	o	momento	integrante	e	irredutível	das	
práticas	sociais	que	envolve	a	semiose/linguagem	em	arti-
culação	 com	os	demais	momentos	das	práticas:	 fenômeno	
mental,	relações	sociais	e	mundo	material.	Essa	articulação	é	
indicada na Figura 2:
Figura 2 – Articulação irredutível entre os momentos da prática social
Ao	fazermos	uso	da	linguagem	em	nossas	vidas	cotidia-
nas, recorremos a maneiras particulares de representar, de agir 
e interagir e de identificarmos o mundo e a nós mesmos/as. 
18
Análise de discurso (pArA A) críticA: o texto como mAteriAl de pesquisA
isto	é,	como	se	essa	representação	particular	fosse	a	mais	correta,	
a	mais	justa,	legítima	e	aceitável.	Isso,	sobretudo	na	nossa	“socie-
dade	da	informação”,	pode	ser	uma	das	mais	poderosas	armas	de	
luta	pelo	poder.	Parafraseando	Canclini	(2006,	p.	43),	os	efeitos	
da	disseminação	de	alguns	“discursos	particulares”	estariam	
entre	as	explicações	para	a	seguinte	pergunta	inquietante:	“por	
que	líderes	que	empobrecem	as	maiorias	conseguem	manter	sua	
aprovação	entre	as	massas	prejudicadas?”.	
1.2 análise de disCurso CrítiCa Como 
Campo heterogêneo
Como	já	vimos,	o	 termo	“Análise	de	Discurso	Crítica”	
não	se	refere	a	uma	abordagem	única	e	estável	dos	estudos	de	
linguagem. Ao contrário, a ADC, como campo de investiga-
ção	do	discurso	em	práticas	contextualizadas,	é	heterogênea,		
instável e aberta.
É	heterogênea	porque	há	uma	gama	variada	de	aborda-
gens	que	se	identificam	com	o	rótulo	‘ADC’.	Assim,	não	ape-
nas	os	avanços	trazidos	pela	abordagem	de	Norman	Fairclough	
são	identificados	com	a	ADC,	mas	também	as	perspectivas	
de	autores	como	Teun	Van	Dijk	(1989),	Ruth	Wodak	(1996),	
Blommaert (2005), Theo van Leeuwen (2008), entre outros/as. 
Todas essas abordagens são legitimamente associadas à Aná-
lise	de	Discurso	Crítica,	e	cada	uma	delas	provê	acercamento	
teórico	e	instrumental	específico	para	pesquisas	discursivas.
Também	na	América	Latina	há	avanços	que	devem	ser	
considerados	quando	se	fala	em	ADC.	Pesquisadores/as	lati-noamericanos/as	têm	contribuído,	nesse	sentido,	para	a	difusão	
da	ADC	como	teoria	e	método	de	investigação,	gerando	abor-
dagens	próprias,	questionando	as	abordagens	já	legitimadas	e	
introduzindo	avanços	que	não	podem	nem	devem	ser	minimiza-
dos	(ver,	por	exemplo,	magalhães,	2000;	Berardi,	2003;	meurer,	
19
Análise de discurso (pArA A) críticA: o texto como mAteriAl de pesquisA
2004;	Pardo	Abril,	2008;	Pardo	2008;	Resende,	2009a;	Silva,	
2009;	Ramalho,	2010a).	A	esse	respeito,	Pardo	Abril	(2007,	p.	
32)	enfatiza	que	“a	chegada	dos	estudos	discursivos	críticos	à	
América	Latina	constitui	uma	de	suas	principais	razões	de	cres-
cimento	e	expansão,	pois	se	desenvolveram	múltiplas	aplicações	
dos	princípios	teóricos	na	análise	de	situações	e	problemáticas	
concretas,	o	que	resultou	no	desenvolvimento	das	teorias	e	dos	
métodos,	e	na	ampliação	de	perspectivas”.
Essa heterogeneidade de abordagens – essa abertura para 
a	diferença	–	é	o	que	impulsiona	a	ADC	para	um	aperfeiçoa-
mento	constante.	Uma	vez	que	as	diferentes	abordagens	não	
estão	fechadas	para	o	diálogo,	e	que	em	pesquisas	situadas	
é	possível	lançar	mão	de	conceitos	e	categorias	oriundos	de	
diversas perspectivas, a possibilidade de criatividade nos 
desenhos	de	pesquisa	é	grande.
Assim,	a	heterogeneidade	que	caracteriza	a	ADC	garante	
também	sua	instabilidade.	É	instável	não	apenas	porque	há	
possibilidade	de	 combinações	 entre	 diferentes	 abordagens,	
mas	também	porque	um	dos	pressupostos	básicos	de	análises	
discursivas	críticas	é	a	interdisciplinaridade:	“um	elemento	im-
portante	das	análises	que	se	realizam	em	ADC	é	que	requerem	
que	o/a	investigador/a	tenha	presentes	não	apenas	elementos	
de	análise	linguística,	mas	também	de	corte	sociológico	(...).	
A	ADC	constitui-se,	dessa	maneira,	teoria	e	método	abertos	à	
interdisciplinaridade”	(Andrade	et al., 2008, p.124).
Não	é	difícil	perceber	por	que	uma	perspectiva	teórica	do	
discurso	como	a	que	vimos	até	aqui	não	poderia	se	fechar	em	
fronteiras	disciplinares	rígidas.	E	a	compreensão	do	discurso	
como	parte	 das	 práticas	 sociais	 jamais	 poderia	 ter	 surgido	
dentro	das	fronteiras	da	Linguística,	sem	apropriação	de	con-
ceitos	e	teorias	oriundas	das	ciências	sociais.	É	por	isso	que	o	
próprio surgimento da ADC nos estudos de linguagem só pode 
ser compreendido com base em diálogos interdisciplinares. 
20
Análise de discurso (pArA A) críticA: o texto como mAteriAl de pesquisA
A ADC caracteriza-se por uma heterogeneidade de 
abordagens que estabelecem diferentes relações 
interdisciplinares com diferentes disciplinas das 
ciências sociais. Essas relações interdisciplinares 
foram fundamentais para o surgimento da ADC e são 
fundamentais para seus avanços.
Apesar	de	sua	instabilidade	e	de	sua	heterogeneidade,	é	
de	se	esperar	que	haja	elementos	norteadores	comuns,	capazes	
de	manter	agregadas	as	diferentes	abordagens	de	ADC.	Caso	
contrário,	não	teríamos	as	continuidades	que	fazem	da	ADC	
um campo de investigação.
Além	da	abordagem	interdisciplinar,	as	principais	conti-
nuidades	observadas	entre	as	diferentes	vertentes	dos	estudos	
críticos	do	discurso	são	seu	posicionamento	explícito,	isto	é,	
seu	engajamento	social,	e	a	utilização	de	análises	sistemáticas	
de	textos	como	método	de	pesquisa	(Resende,	2009a).
Pesquisas	 em	ADC	 não	 partem	 de	meros	 interesses	
acadêmicos,	de	reflexão	autocentrada	na	metalinguagem	do	
campo.	Ao	contrário,	pesquisas	em	ADC	só	se	justificam	se	
enquadradas	 na	 perspectiva	 crítica.	 Interessam	à	ADC	 in-
vestigações	que	relacionam	o	uso	da	linguagem	a	contextos	
situados	que	envolvem	o	poder,	pois	a	ADC	define-se	pela	
motivação	de	“investigar	criticamente	como	a	desigualdade	
social	é	expressa,	sinalizada,	constituída,	legitimada	pelo	uso	
do	discurso”	(Wodak,	2004,	p.	225).
Isso tem duas implicações imediatas: as categorias 
linguísticas são utilizadas em ADC como ferramentas 
para a investigação de problemas sociais, e a unidade 
mínima de análise é o texto, entendido de modo amplo 
no que envolve suas condições de produção, distribuição 
e consumo, e seu funcionamento em práticas sociais 
situadas.
21
Análise de discurso (pArA A) críticA: o texto como mAteriAl de pesquisA
Assim, as categorias linguísticas aplicadas à análise de 
textos	concretos	não	se	justificam	em	si	mesmas,	mas	no	que	
possibilitam	 compreender	 acerca	 do	 funcionamento	 social	
da	 linguagem.	 Isso	 porque	 “a	 análise	 de	 discurso	 é	 uma	
ferramenta,	mais	que	um	fim	em	si	mesma,	para	explorar	o	
modo sistemático como os atores ou grupos sociais legitimam 
maneiras	de	ver	o	mundo,	ou	como	se	opõem	a	elas	propondo	
modos	alternativos	às	formas	hegemônicas	de	construção	da	
realidade	social”	(Quiroz,	2008,	p.79).
A ADC, então, ao mesmo tempo rejeita análises linguísti-
cas	que	não	se	mostrem	relevantes	para	a	crítica	social	e	exige 
que	a	crítica	social	oriunda	de	pesquisas	nesse	campo	sejam	
baseadas	em	análises	linguísticas	situadas.	É	por	isso	que	se	
pode	classificar	a	ADC	como	Análise	de	Discurso	Textualmen-
te Orientada (Fairclough, 2001). O propósito das análises em 
ADC	é,	portanto,	mapear	conexões	entre	escolhas	de	atores	
sociais	ou	grupos,	em	textos	e	eventos	discursivos	específicos,	
e	questões	mais	amplas,	de	cunho	social,	envolvendo	poder.
Em ADC, a análise linguística e a crítica social devem, 
necessariamente, estar interrelacionadas: a análise 
linguística alimenta a crítica social, e a crítica social 
justifica a análise linguística.
Assim,	 temos	 que	 o	 suporte	 científico	 oferecido	 pela	
ADC,	para	questionamentos	de	problemas	parcialmente	dis-
cursivos	relacionados	a	poder,	envolve	o	trabalho	com	textos,	
em	qualquer	modalidade	–	orais,	sonoros,	escritos,	visuais	–	e	
sob	qualquer	forma	–	entrevistas,	reportagens,	publicidades,	
narrativas	de	vida,	filmes	e	assim	por	diante.	Esse	principal	
material	empírico	com	que	o/a	analista	de	discurso	trabalha	
carrega propriedades sociodiscursivas muito relevantes, resul-
tantes de sua produção e circulação na sociedade e, ao mesmo 
tempo, constituintes dessa mesma sociedade. Essa discussão 
22
Análise de discurso (pArA A) críticA: o texto como mAteriAl de pesquisA
não	é	simples	e,	conforme	discutiremos	no	capítulo	seguinte,	
está relacionada à concepção de mundo da ADC. 
Por	 ora,	 cabe	 entender	 que,	 como	evento discursivo 
ligado a práticas sociais, o texto	 traz	em	si	 traços	da	ação	
individual	e	social	que	lhe	deu	origem	e	de	que	fez	parte;	da	
interação	possibilitada	também	por	ele;	das	relações	sociais,	
mais	ou	menos	assimétricas,	entre	as	pessoas	envolvidas	na	
interação;	 de	 suas	 crenças,	 valores,	 histórias;	 do	 contexto	
sócio-histórico	 específico	 num	mundo	material	 particular,	
com mais ou menos recursos. 
Essa	percepção	de	texto	como	parte	discursiva	empírica	
de	 eventos	 sociais	 baseia-se	 numa	 visão	 funcionalista	 da	
linguagem,	que	a	entende	como	um	recurso	de	que	pessoas	
lançam mão em suas vidas diárias para interagir e se relacio-
nar, para representar aspectos do mundo assim como para 
‘ser’,	para	identificar	a	si	e	aos	outros.	Consequentemente,	a	
linguagem	é	também	resultado	desse	uso	social.	
Essa	compreensão	funcionalista,	que	concebe	o	discurso	
como modo de interagir e se relacionar, de representar e de 
identificar(-se)	em	práticas	sociais,	oferece	meios	para	inves-
tigar	traços	dessas	ações	materializadas	em	textos	–	material	
empírico	pelo	qual	se	pode	investigar	níveis	mais	profundos	da	
realidade.	Conforme	explicamos	no	capítulo	seguinte,	a	visão	
de mundo realista crítica da ADC supera a crença em estudos 
sociais	‘objetivos’.	Para	a	ADC,	como	o	mundo	social	é	aberto	
e	estratificado,	só	se	pode	ter	acesso	ao	nível	mais	profundo,	
‘o	 potencial’,	 passando	pelo	filtro	 de	 nosso	 conhecimento	
empírico (e crenças, valores, atitudes, ideologias) sobre ele, 
o nível mais imediato. 
Os textos que analisamos nos oferecem ‘pistas’ para a 
compreensão das práticas sociais investigadas. Como 
a relação entre o discurso e os demais momentosdas 
23
Análise de discurso (pArA A) críticA: o texto como mAteriAl de pesquisA
práticas é de articulação e interiorização, por meio dos 
textos (produzidos em eventos discursivos situados) 
podemos compreender o funcionamento social dessas 
práticas.
Esse	 é	 um	 fundamento	basilar	 do	 trabalho	de	análise 
textual,	que	é	uma	parte	da	análise	de	discurso.	O	proces-
so	de	análise	 textual,	em	que	 investigamos	com	categorias	
analíticas traços de modos de (inter-)agir/relacionar-se, 
representar	 e	 identificar(-se)	 em	práticas	 sociais,	 é	 sempre	
parcial	e	subjetivo.	O	que	lhe	confere	cientificidade	é	o	tra-
balho	explanatório,	isto	é,	de	compreensão	conjugado	com	a	
explanação.	Pela	compreensão descrevemos e interpretamos 
propriedades	de	textos,	e	pela	explanação	investigamos	o	texto	
como	material	empírico	à	luz	de	conceitos,	de	um	arcabouço	
teórico particular.
1.3 poder Como hegemonia
Se, para essa perspectiva crítica, a relação linguagem-
sociedade	 é	 interna	 e	 dialética,	 então	 isso	 significa	 que	 a	
linguagem	constitui-se	socialmente,	mas	também	tem	“con-
sequências	e	efeitos	sociais,	políticos,	cognitivos,	morais	e	
materiais”	(Fairclough,	2003a,	p.	14).	Como	ciência	crítica,	
a	ADC	preocupa-se	com	efeitos	ideológicos	que	(sentidos	de)	
textos	possam	ter	sobre	relações	sociais,	ações	e	interações,	
conhecimentos, crenças, atitudes, valores, identidades. Isto 
é,	sentidos	a	serviço	de	projetos	particulares	de	dominação	e	
exploração,	que	sustentam	a	distribuição	desigual	de	poder.	
Como ciência crítica, a ADC preocupa-se com efeitos 
ideológicos de sentidos de textos sobre relações sociais, 
ações e interações, conhecimentos, crenças, atitudes, 
valores, identidades. 
24
Análise de discurso (pArA A) críticA: o texto como mAteriAl de pesquisA
Ao	contrário	de	outras	teorias	que	veem	o	poder	como	
uma	força	de	coação	unilateral	da	estrutura	sobre	o	indiví-
duo,	que	dela	não	consegue	se	libertar,	para	a	ADC	o	poder	é	
temporário,	com	equilíbrio	apenas	instável.	Por	isso,	relações	
assimétricas	de	poder	são	passíveis	de	mudança	e	superação.	
No cerne de tal entendimento, está o conceito de poder como 
hegemonia,	de	Gramsci	(1988;	1995).			
Essa concepção de poder em termos de hegemonia im-
plica	uma	 inerente	 ‘instabilidade’,	 um	 ‘equilíbrio	 instável’.	
Para	Gramsci,	no	contexto	político	de	democracias	ocidentais,	
o	poder	de	uma	classe	em	aliança	com	outras	forças	sociais	(a	
exemplo	dos	 ‘líderes	que	empobrecem	as	maiorias’,	citados	
anteriormente	em	referência	a	Canclini)	sobre	a	sociedade	como	
um	todo	(as	‘massas	eleitoras’,	por	exemplo)	nunca	é	atingido	
senão parcial e temporariamente. A instabilidade da hegemonia 
é	o	que	caracteriza	o	conceito	de	‘luta	hegemônica’.	
Para grupos particulares se manterem temporariamente em 
posição	hegemônica,	é	necessário	estabelecer	e	sustentar	liderança	
moral, política e intelectual na vida social. Isso pode ser parcial-
mente	assegurado,	segundo	Eagleton	(1997,	p.	108),	pela	“difusão	
de uma visão de mundo particular pela sociedade como um todo, 
igualando, assim, o próprio interesse de um grupo em aliança com 
o	da	sociedade	em	geral”	(Resende	&	Ramalho,	2006).	
Há distintas maneiras de se instaurar e manter a hegemonia, 
dentre	elas,	a	luta	hegemônica	travada	no/pelo	discurso.	Quando	
essas	perspectivas	favorecem	algumas	poucas	pessoas	em	de-
trimento	de	outras,	temos	representações	ideológicas,	voltadas	
para a distribuição desigual de poder baseada no consenso. 
A luta hegemônica travada no/pelo discurso é uma das 
maneiras de se instaurar e manter a hegemonia. Quando 
o abuso de poder é instaurado e mantido por meio de 
significados discursivos, está em jogo a ideologia.
25
Análise de discurso (pArA A) críticA: o texto como mAteriAl de pesquisA
É	por	isso	que	o	conceito	de	poder	como	hegemonia,	con-
quistado	mais	pelo	consenso	que	pelo	uso	da	força,	reforça	a	
relevância das ideologias, veiculadas pelo discurso. Parte das 
lutas	hegemônicas	é	a	luta	pela	instauração,	sustentação,	univer-
salização	de	discursos	particulares.	É	nesse	sentido	que	temos	
“ordens	do	discurso	hegemônicas”,	como	a	ordem	do	discurso	
da política neoliberal, da biomedicina ocidental, e assim por 
diante.	Na	próxima	seção,	discutiremos	o	conceito	de	ideologia	
como	forma	simbólica	a	serviço	de	relações	de	dominação.
1.4 ideologia na perspeCtiva CrítiCa
Seguindo a perspectiva crítica de Thompson (2002a), 
na ADC ‘ideologia’	é	um	conceito	inerentemente	negativo.	
É	um	instrumento	semiótico	de	lutas	de	poder,	ou	seja,	uma	
das	formas	de	se	assegurar	temporariamente	a	hegemonia	pela	
disseminação de uma representação particular de mundo como 
se	fosse	a	única	possível	e	legítima.	Sentidos	ideológicos	são	
aqueles	que	servem	necessariamente,	em	circunstâncias	parti-
culares,	“para	estabelecer	e	sustentar	relações	de	dominação”	
(Thompson, 2002a, p. 77). Assim, o primeiro passo para a 
superação	de	relações	assimétricas	de	poder,	e	para	a	(auto)
emancipação	daqueles	que	 se	encontram	em	desvantagem,	
pode estar no desvelamento de ideologias. 
Segundo	Fairclough	(1989,	p.	85),	a	ideologia	é	mais	efe-
tiva	quando	sua	ação	é	menos	visível,	de	forma	que	“se	alguém	
se	torna	consciente	de	que	um	determinado	aspecto	do	senso	
comum sustenta desigualdades de poder em detrimento de si 
próprio,	aquele	aspecto	deixa	de	ser	senso	comum	e	pode	perder	
a	potencialidade	de	sustentar	desigualdades	de	poder,	isto	é,	de	
funcionar	 ideologicamente”.	Se	 reproduzimos	acriticamente	
um aspecto problemático do senso comum, a ideologia segue 
contribuindo para sustentar desigualdades. Se, ao contrário, 
26
Análise de discurso (pArA A) críticA: o texto como mAteriAl de pesquisA
desvelamos,	 desnaturalizamos	o	 senso	 comum,	de	maneira	
consciente,	existe	a	possibilidade	de	coibirmos,	anularmos	seu	
funcionamento	 ideológico.	Para	prosseguir	 com	o	 exemplo	
anterior, se as ‘massas eleitoras’ se tornam mais conscientes 
de	que	estão	sendo	prejudicadas	por	‘líderes	que	empobrecem	
a maioria’ podem, de algum modo, começar a romper o senso 
comum,	de	forma	que	discursos	particulares	que	sustentam	de-
sigualdades	podem	ter	sua	potencialidade	ideológica	reduzida.
Para	a	ADC,	são	objetos	de	preocupação,	portanto,	aquelas	
representações	particulares	que	podem	contribuir	para	a	distri-
buição	desigual	de	poder,	ou	seja,	para	projetos	específicos	de	
dominação.	Ao	contrário	de	concepções	neutras,	que	caracterizam	
fenômenos	ideológicos	sem	considerá-los	como	necessariamente	
enganadores e ilusórios, ou ligados a interesses de algum grupo 
em	particular,	na	concepção	crítica	 ideologia	é,	por	natureza,	
hegemônica	e,	como	tal,	inerentemente	negativa.	Aqui,	sentidos 
ideológicos servem necessariamente ao consenso, à universa-
lização	de	interesses	particulares	projetados	para	estabelecer	e	
sustentar	relações	de	dominação	(Thompson,	2002a).	
Para a ADC, a ideologia é, por natureza, hegemônica 
e inerentemente negativa. Os sentidos veiculados em 
textos são classificados como ideológicos apenas se 
servem à universalização de interesses particulares 
projetados para estabelecer e sustentar relações de 
dominação. Thompson (2002a) elenca uma série de 
‘modos de operação da ideologia’ que são muito úteis 
como categorias em análises discursivas críticas (sobre 
isso, veja também Resende & Ramalho, 2006).
A	ADC	mantém	um	diálogo	fundamental	com	a	abordagem	
crítica de ideologia de Thompson (2002a). A partir de alguns as-
pectos	da	teoria	marxista	de	ideologia,	o	autor	sugere	cinco	modos	
gerais	de	operação	da	ideologia,	ligados	a	estratégias	típicas	de	
construção	simbólica,	conforme	sintetizamos	no	Quadro	1:
27
Análise de discurso (pArA A) críticA: o texto como mAteriAl de pesquisA
Quadro 1 – Modos gerais de operação da ideologia 
mODOS	GERAIS	DE	OPERAçÃO	
DA	IDEOLOGIA
ESTRATÉGIAS	TÍPICAS	DE	CONS-
TRUÇÃO SIMBÓLICA
LEGITImAçÃO
Relações	de	dominação	são	represen-
tadas como legítimas
RACIONALIZAÇÃO (uma cadeia 
de	 raciocínio	 procura	 justificar	 um	
conjuntode	relações)
UNIVERSALIZAÇÃO (interesses 
específicos	 são	 apresentados	 como	
interesses gerais)
NARRATIVIZAçÃO	(exigências	de	
legitimação inseridas em histórias do 
passado	que	legitimam	o	presente)
DISSIMULAÇÃO
Relações	de	dominação	são	ocultadas,	
negadas ou obscurecidas
DESLOCAMENTO (deslocamento 
contextual	de	termos	e	expressões)
EUFEMIZAÇÃO (valoração positiva 
de	instituições,	ações	ou	relações)
TROPO	 (sinédoque,	 metonímia,	
metáfora)
UNIFICAÇÃO
Construção simbólica de identidade 
coletiva
PADRONIZAçÃO	 (um	 referencial	
padrão	 proposto	 como	 fundamento	
partilhado)
SIMBOLIZAÇÃO DA UNIDADE 
(construção de símbolos de unidade 
e	identificação	coletiva)
28
Análise de discurso (pArA A) críticA: o texto como mAteriAl de pesquisA
FRAGmENTAçÃO
Segmentação de indivíduos e grupos 
que	 possam	 representar	 ameaça	 ao	
grupo dominante
DIFERENCIAçÃO	(ênfase	em	carac-
terísticas	que	desunem	e	impedem	a	
constituição	de	desafio	efetivo)
EXPURGO	DO	OUTRO	(construção	
simbólica de um inimigo)
REIFICAÇÃO
Retratação de uma situação transitória 
como permanente e natural
NATURALIZAÇÃO (criação social e 
histórica tratada como acontecimento 
natural)
ETERNALIZAçÃO	 (fenômenos	
sócio-históricos apresentados como 
permanentes)
NOMINALIZAÇÃO/ PASSIVAÇÃO 
(concentração da atenção em certos 
temas	 em	 prejuízo	 de	 outros,	 com	
apagamento	de	atores	e	ações)
Adaptado	de	Resende	&	Ramalho	(2006,	p.	52),	com	base	em	Thompson	(2002a,	
p. 81). 
Nessa	proposta	fluida	e	aberta	de	Thompson	(2002a),	a	
partir	da	qual	podemos	investigar	outros	modos	e	estratégias	
ideológicas, a legitimação consiste em um modo de repre-
sentar	relações	de	dominação	como	sendo	justas	e	dignas	de	
apoio.	Segundo	os	“três	tipos	puros	de	dominação	legítima”,	
de	Weber	(1999),	Thompson	(2002a)	indica	três	estratégicas	
típicas de construção simbólica voltadas para legitimar re-
lações	de	dominação:	a	racionalização,	a	universalização	e	
a	narrativização.	A	estratégia	de	racionalização	consiste	em	
utilizar	fundamentos	racionais,	apelos	à	legalidade,	a	bases	
jurídicas	para	legitimar	relações	assimétricas	de	poder.	A	uni-
versalização,	por	sua	vez,	diz	respeito	à	estratégia	de	difundir,	
29
Análise de discurso (pArA A) críticA: o texto como mAteriAl de pesquisA
disseminar	 representações	 particulares	 como	 se	 fossem	de	
interesse	geral,	universal.	A	narrativização,	por	fim,	consiste	
na	estratégia	de	reproduzir	histórias,	no	curso	de	nossas	vidas	
cotidianas,	que	legitimam	relações	de	dominação	com	base	em	
tradições,	costumes,	dotes	carismáticos,	prestígio	de	pessoas	
particulares. 
A dissimulação, um segundo modo geral de operação da 
ideologia,	consiste	em	ocultar,	negar	ou	obscurecer	relações	
de	 dominação.	Thompson	 (2002a)	 aponta	 três	 estratégicas	
típicas de construção simbólica ligadas a esse modo geral: o 
deslocamento,	a	eufemização	e	o	tropo.	Pelo	deslocamento,	
termos geralmente ligados a um campo particular são usados 
com	referência	a	outro,	de	forma	que	o	segundo	agrega	as	
conotações	positivas	ou	negativas	do	primeiro.	Pela	estratégia	
da	eufemização,	ações,	 instituições	ou	 relações	sociais	 são	
representadas positivamente, obscurecendo aspectos pro-
blemáticos.	O	tropo	refere-se	ao	uso	figurado	da	linguagem	
voltado	para	ocultar,	negar,	obscurecer	relações	assimétricas	
de	poder.	Com	base	nessa	estratégia,	hibridismos discursivos 
em	propagandas	de	medicamento	podem	operar	“metáforas	
acionais”,	ideologicamente	orientadas	para	ofuscar	assimetrias	
entre	 “peritos/as”	 e	 “leigos/as”	 (sobre	 isso,	 veja	Ramalho,	
2009a;	2010a,c).
A	unificação,	 terceiro	modo	 geral,	 consiste	 em	 cons-
truir	 simbolicamente	 uma	 forma	 de	 unidade	 que	 interliga	
indivíduos numa identidade coletiva, independentemente das 
divisões	que	possam	separá-los.	Duas	estratégias	principais	
são	relacionadas	a	esse	modo:	a	padronização,	baseada	num	
referencial	padrão	partilhado,	e	a	simbolização,	a	construção	
de	símbolos	de	identificação	coletiva.	
A	fragmentação	segmenta	indivíduos	ou	grupos	poten-
cialmente	capazes	de	desafiar	forças	e	interesses	dominantes.	
Thompson	(2002a)	destaca	duas	possíveis	estratégias	de	frag-
30
Análise de discurso (pArA A) críticA: o texto como mAteriAl de pesquisA
mentação:	a	diferenciação,	em	que	se	enfatizam	características	
que	desunem	grupos	coesos,	ou	impedem	sua	constituição;	e	
o	expurgo	do	outro,	em	que	indivíduos	ou	grupos	que	possam	
constituir	obstáculo	ao	poder	hegemônico	são	representados	
como	inimigo	que	devem	ser	combatidos	(Ramalho,	2005;	
Resende, 2009b). 
A	 reificação,	 o	 quinto	 e	 último	modo	de	 operação	da	
ideologia discutido em Thompson (2002a), consiste na repre-
sentação	de	situações	 transitórias,	sociais,	históricas,	como	
se	fossem	permanentes,	naturais	e	atemporais.	São	quatro	as	
estratégias	 ligadas	 a	 esse	modo:	 a	naturalização,	pela	qual	
criações	sociais	e	históricas	são	representadas	como	aconte-
cimentos	do	mundo	natural;	a	eternalização,	estratégia	pela	
qual	 fenômenos	 sócio-históricos	 são	 representados	 como	
permanentes;	a	nominalização	e	a	passivação,	em	que	eventos	
e processos sociais são destituídos de ação humana, pelo apa-
gamento	de	atores	e	ações.	Exemplificaremos	alguns	modos	
gerais	de	operação	da	ideologia	e	respectivas	estratégias	de	
construção	simbólica	no	Capítulo	4,	em	que	desenvolvemos	
uma	análise	textual.
Nas	ideias	e	conceitos	que	vimos	até	aqui	se	fundamenta	a	
proposta	crítica	da	ADC	para	estudos	de	problemas	sociais	que	
podem ser parcialmente sustentados/superados pelo discurso. 
No	próximo	capítulo,	voltamos	nosso	olhar	para	a	proposta	
teórica	que	 sustenta,	 em	 termos	ontológicos,	 a	 vertente	de	
ADC	associada	aos	trabalhos	de	Fairclough.	Aprofundamos,	
também,	a	discussão	em	torno	de	gêneros,	discursos	e	estilos	
como modos relativamente estáveis de agir, representar e 
identificar(-se)	discursivamente.
31
Análise de discurso (pArA A) críticA: o texto como mAteriAl de pesquisA
cApítulo 2
	ADC	COmO	ABORDAGEm	TEóRICA	PARA	
ESTUDOS CRíTICOS DO DISCURSO
No Capítulo 2, discutimos a postura ‘crítica’ da ADC 
nos	estudos	da	linguagem,	localizando-a	numa	visão	cien-
tífica	de	crítica	social;	no	campo	da	pesquisa	social	crítica,	
e	na	teoria	e	análise	linguística	(Chouliaraki	&	Fairclough,	
1999).	Também	 refletimos	 sobre	 a	 concepção	 de	 ‘texto	
como	evento	discursivo’,	em	que	são	centrais	as	noções	de	
‘prática social’ e ‘ordens do discurso’ – o aspecto discursivo 
de	(redes	de)	práticas	sociais.	Com	essas	noções,	podemos	
compreender	os	significados	do	discurso,	uma	proposta	da	
ADC de conceber o discurso a partir das maneiras como 
ele	figura	em	práticas	sociais:	como	modos	(inter-)agir,	de	
representar e de ser.
2.1 por que CrítiCa?
A	perspectiva	 ‘crítica’	 da	ADC,	 herdada	 também	de	
suas origens na Linguística Crítica (cf.	Resende	&	Ramalho,	
2006),	assenta-se	no	diálogo	com	a	Ciência	Social	Crítica,	
comprometida	com	o	questionamento	de	aspectos	políticos	e	
morais da vida social (Fairclough, 2003a). No caso da vertente 
de ADC desenvolvida por Fairclough, sobretudo no diálogo 
com o Realismo Crítico (RC). 
32
Análise de discurso (pArA A) críticA: o texto como mAteriAl de pesquisA
Na	filosofia	de	Bhaskar	(1989;	1998),	expoente	do	Re-
alismo Crítico,	o	mundo	é	um	sistema	aberto,	em	constante	
mudança	 e	 constituído	por	 diferentes	 domínios	 (potencial,	
realizado e	empírico;	ver	a	seguir),	assim	como	por	diferen-
tes	estratos.	Os	estratos	–	físico,	biológico,	social,	semiótico	
etc. – possuem estruturas distintivas e mecanismos gerativos 
que	se	situam	no	domínio	do	potencial,	ou	seja,	do	que	pode	
ou não ser ativado. Quando são ativados simultaneamente, 
causam	efeitos	imprevisíveis	nos	demais	domínios.	
No domínio potencial, mecanismos gerativos de di-
versos	estratos	(físico,	biológico,	social,	semiótico,	dentre	
outros) operam simultaneamente com seus poderes causais, 
gerando	efeitos	nos	outros	domínios.	Sayer	 (2000,	p.	 11)	
exemplifica:
fenômenos	sociaissão	emergentes	de	fenôme-
nos	biológicos,	que	são,	por	seu	turno,	emer-
gentes	dos	estratos	físicos	e	químicos.	Assim,	a	
prática social da conversação depende do estado 
fisiológico	dos	agentes,	incluindo	os	sinais	en-
viados	e	recebidos	em	torno	de	nossas	células	
nervosas,	mas	a	conversação	não	é	redutível	a	
estes	 processos	fisiológicos.	 [...]	Embora	 nós	
não precisemos voltar ao nível da biologia ou 
da	química	para	explicar	os	fenômenos	sociais,	
isto	não	significa	que	os	primeiros	não	tenham	
efeito	 sobre	 a	 sociedade.	Tampouco	 significa	
que	podemos	ignorar	a	maneira	pela	qual	afe-
tamos	estes	estratos,	por	exemplo,	através	de-
contracepção, medicina, agricultura e poluição.
A	relação	de	interdependência	causal	implica	que	a	ope-
ração	de	qualquer	mecanismo	gerativo	dos	diferentes	estratos	
é	 sempre	mediada	pela	 operação	 simultânea	de	 outros,	 de	
forma	tal	que	não	são	redutíveis	a	um	e	sempre	dependem	(e	
interiorizam	traços)	de	outros.	Por	isso,	não	há	necessidade	
33
Análise de discurso (pArA A) críticA: o texto como mAteriAl de pesquisA
de	voltar	ao	estrato	da	biologia,	da	física	ou	da	química	para	
investigar	fenômenos	sociais,	mas	isso	não	anula	efeitos	bio-
lógicos,	físicos	e	químicos	sobre	a	sociedade,	e	vice-versa.	
Não	há	necessidade,	por	exemplo,	de	voltar	ao	estrato	da	
química	ou	da	biologia	para	investigar	o	fenômeno	social	da	
‘semioticização	do	medicamento’,	em	que	produtos	farma-
cêuticos	são	convertidos	em	‘símbolos	de	saúde’	(Ramalho,	
2010a).	Embora	os	medicamentos	como	objetos	estejam,	sem	
dúvida,	ligados	à	biologia	e	à	química,	para	estudar	os	efeitos	
sociais	de	textos	que	anunciam	medicamentos	não	precisamos	
voltar	a	esses	estratos:	o	estudo	que	tomamos	aqui	com	exem-
plo centrou-se em aspectos dos estratos semiótico e social.
A	ontologia	estratificada	do	Realismo	Crítico	sustenta,	
ainda,	a	existência	de	três	domínios da realidade: potencial, 
realizado	e	empírico. 1 Bhaskar (1998, p. 41) representa essa 
ontologia	numa	figura	que	adaptamos	aqui:
Figura	3	–	Ontologia	estratificada	do	Realismo	Crítico
1	 Bhaskar	(1989)	utiliza	os	termos	‘real’, ‘actual’ e ‘empirical’	para	se	referir	
aos	três	domínios	da	realidade.	Quanto	ao	nível	do	que	Bhaskar	designa	
‘real’,	preferimos	utilizar	a	nomenclatura	‘potencial’,	conforme	adaptação	
de	Fairclough	(2003).	Entendemos	que	‘potencial’	designa	mais	claramente	
o	domínio	da	realidade	ligado	aos	poderes	dos	objetos	sociais	potencial-
mente ativados em eventos. Em relação ao domínio ‘actual’, consideramos 
que	‘atual’	em	português	não	carrega	o	mesmo	significado	de	‘actual’ em 
inglês,	que	se	refere	ao	que	‘se	realiza’	de	fato	em	um	dado	evento,	por	isso	
preferimos	a	tradução	por	‘realizado’	(Resende,	2009a).	Essas	traduções	são	
mantidas	nas	citações	de	originais	em	inglês.
34
Análise de discurso (pArA A) críticA: o texto como mAteriAl de pesquisA
A	Figura	3	representa	a	estratificação	do	mundo	em	três	
domínios	–	potencial,	realizado e	empírico.	Conforme	Sayer	
(2000,	p.	09),	o	domínio	do	potencial	corresponde	“ao	que	
quer	que	exista,	seja	natural	ou	social,	independentemente	de	
ser	um	objeto	empírico	para	nós	e	de	termos	uma	compreensão	
adequada	de	sua	natureza”.	É	o	domínio	dos	objetos,	suas	es-
truturas,	mecanismos	e	poderes	causais.	Sejam	físicos,	como	
minerais,	ou	sociais,	como	burocracias,	esses	objetos	“têm	
uma	certa	estrutura	e	poderes	causais,	isto	é,	capacidade	de	
se	comportarem	de	formas	particulares,	e	tendências	causais	
ou	poderes	passivos,	isto	é,	susceptibilidades	a	certas	formas	
de	mudança”.	
Na	ontologia	da	estratificação	da	realidade,	o	potencial	é	
o domínio das estruturas, mecanismos e poderes causais dos 
objetos,	ao	passo	que	o	realizado,	como	Sayer	(2000,	p.	10)	
explica,	refere-se	a	“o	que	acontece	se e quando estes poderes 
são	ativados”,	ou	seja,	àquilo	que	esses	poderes	fazem	e	ao	
que	ocorre	quando	eles	são	ativados.	
Para	exemplificar	com	base	na	linguagem,	podemos	asso-
ciar o sistema semiótico	(a	potencialidade	para	significar)	com	
o domínio do potencial e, por outro lado, os sentidos de textos 
com o domínio do realizado	(o	significado).	O	realizado	é	o	
domínio dos eventos	que	passam	ou	não	por	nossa	experiência. 
O	empírico,	por	sua	vez,	é	o	domínio	das	experiências efetivas, 
a	parte	do	potencial	e	do	realizado	que	é	experienciada	por	
atores	sociais	específicos.	Neste	caso,	o	exemplo	seriam	os	
textos	(orais,	escritos,	visuais,	multimodais)	com	que	de	fato	
tivemos contato em nossa vida.
Se	o	potencial	é	o	domínio	dos	poderes	causais	e	o	re-
alizado	é	o	domínio	dos	eventos	em	que	se	acionam	esses	
poderes,	o	empírico,	por	sua	vez,	é	o	que	se	percebe	da	ati-
vação	desses	poderes	no	nível	dos	eventos	experienciados.	
Em	outros	termos,	é	o	que	se	experiencia	do	potencial	e	do	
35
Análise de discurso (pArA A) críticA: o texto como mAteriAl de pesquisA
realizado,	mas	que	não	esgota	a	possibilidade	do	que	tenha,	
ou poderia ter, acontecido. 
Essa	 concepção	 de	 mundo,	 que	 vem	 informando	
pesquisas	 brasileiras	 como	 as	 de	 Papa	 (2008),	 Ramalho	
(2008)	e	Resende	(2008),	pressupõe	a	inviabilidade	de	se	
ter	acesso	direto	aos	domínios	do	potencial	e	do	realizado,	
já	que	só	podem	ser	alcançados	pela	mediação	de	nosso	
conhecimento	e	experiência	(e	de	nossas	crenças	e	atitu-
des),	ou	seja,	a	partir	do	empírico.	Para	Bhaskar	(1978,	p.	
36),	constituiriam	“falácias	epistêmicas”	pretender,	por	um	
lado,	estudar	o	“mundo	real”	de	maneira	“objetiva”,	visto	
que	só	podemos	estudar	o	mundo	real	passando	pelo	filtro	
de	 nossas	 experiências;	 e,	 por	 outro,	 conceber	 o	mundo	
como	constituído	apenas	pelo	domínio	empírico,	ou	seja,	
por	aquilo	que	experienciamos.	
Esse	 ponto	 é	 fundamental	 para	 a	 abordagem	 teórico-
metodológica da ADC, por descartar a possibilidade de 
pesquisas	‘objetivas’	em	análise	de	discurso,	que	acessariam	
diretamente	 a	 ‘realidade’.	Como	 já	 vimos,	 a	 cientificidade	
de	pesquisas	em	ADC	está	no	processo	de	investigação	em	
que	o	material	empírico	é	explanado	segundo	um	arcabouço	
teórico particular.
	Nos	princípios	gerais	do	RC	que	vimos	até	aqui	assenta-
se	 a	 compreensão	 de	 que	 o	 discurso	 tem	 efeitos	 na	 vida	
social,	os	quais	não	podem	ser	suficientemente	investigados	
levando-se em consideração apenas o aspecto discursivo de 
práticas sociais. 
Textos,	 como	 resultados	 de	 eventos	 discursivos,	 têm	
efeitos	na	vida	social	que	não	podem	ser	investigados	apenas	
com base no aspecto discursivo de práticas sociais. Tendo 
isso	em	vista,	parece	claro	perceber	que	análises	discursivas	
críticas não podem ser pautadas apenas no aspecto discur-
sivo das práticas, sob o risco de se perder de vista a relação 
36
Análise de discurso (pArA A) críticA: o texto como mAteriAl de pesquisA
dialética	 entre	 os	momentos	 da	 prática	 e	 o	 potencial	 do	
discurso para a compreensão de outros aspectos da prática 
(Resende, 2009d).
De acordo com Chouliaraki e Fairclough (1999, p. 67), 
a	 lógica	da	análise	crítica	é	 relacional/dialética,	“orientada	
para mostrar como o momento discursivo trabalha na prática 
social,	do	ponto	de	vista	de	seus	efeitos	em	lutas	hegemônicas	
e	relações	de	dominação”.	Ou,	em	outros	termos,	orientada	
para	investigar	e	mostrar	conexões	e	relações	causais	que	estão	
ocultas	em	relações	assimétricas	de	poder	(Fairclough,	2003a).
A ADC é ‘crítica’ porque sua abordagem é relacional/
dialética, orientada para a compreensão dos modos 
como o momento discursivo trabalha na prática social, 
especificamente no que se refere a seus efeitos em lutas 
hegemônicas.
Como	 já	vimos,	o	 foco	dessa	abordagem relacional/
dialética,	 igualmente	 informada	pela	ciência	social	crítica,	
não está na estrutura social,	mais	‘fixa’	e	abstrata,	tampouco	
na ação individual,	mais	‘flexível’	e	concreta.	Está,	de	fato,	
na entidade intermediária das práticas sociais. E o conceito 
de	‘prática	social’	como	entidade	intermediária	é	mais	um	dos	
aspectos	do	RC	recontextualizados	em	ADC.
O Realismo Crítico endossauma concepção transforma-
cional de constituição da sociedade que,	segundo	Bhaskar	
(1989,	p.	32-37),	difere	dos	“modelos”	do	“voluntarismo”,	
da	“reificação”,	e	até	mesmo	do	“dialético”.	Segundo	o	au-
tor, no voluntarismo	objetos	sociais	são	resultado	apenas	do	
comportamento intencional de indivíduos. No modelo de 
reificação,	 objetos	 sociais	 são	 externos	 e	 exercem	coerção	
sobre indivíduos. No dialético,	por	sua	vez,	 ‘sociedades’	e	
‘indivíduos’ são dois momentos de um mesmo processo: as 
sociedades	criam	indivíduos,	e	indivíduos	afetam	sociedades.	
37
Análise de discurso (pArA A) críticA: o texto como mAteriAl de pesquisA
Nos	termos	de	Bhaskar,	“no	primeiro	modelo	[voluntarismo],	
há	ações,	mas	não	condições.	No	segundo	modelo	[reificação],	
há	condições,	mas	não	ações.	No	terceiro	modelo	[dialética],	
por	sua	vez,	não	há	distinção	entre	ações	e	condições”.	
Embora	identifique	afinidades	entre	as	concepções	trans-
formacional	e	dialética,	Curry	(2000,	p.	102)	pondera	que	a	
primeira	difere	da	segunda	no	“aspecto	crucial	da	irredutibi-
lidade	das	estruturas	aos	agentes	que	as	transformam”.	Isso	
significa	que,	na	perspectiva	transformacional,	em	um	dado	
corte	sincrônico	a	sociedade	não	é	criação	dos	seres	humanos,	
mas	pré-existe	a	eles	(embora	diacronicamente	a	sociedade	
seja	resultado	da	ação	dos	seres	humanos).	
A respeito desse aspecto temporal da relação estrutura-
ação,	Resende	(2009a,	p.	28)	explica	que	é	possível	discutir	
essa relação em termos de sincronia e diacronia:
A concepção realista crítica da relação entre estru-
tura	e	ação,	então,	enfatiza	que	as	estruturas	sociais	
são	condição	necessária	e	pré-existente	à	agência	
intencional,	mas	também	que	elas	existem	apenas	
em	virtude	da	agência.	Nessa	concepção,	então,	as	
estruturas sociais são tanto condição como resul-
tado	da	agência	humana,	que	ao	mesmo	tempo	as	
reproduz	 e	 as	 transforma.	Um	 aspecto	 essencial	
desse	modelo	 (e	 que	 o	 diferencia	 da	Teoria	 da	
Estruturação	de	Giddens,	segundo	Archer,	1998),	
é	a	assimetria	histórica	entre	estrutura	e	ação	–	o	
fato	de	que	as	estruturas	são	sempre	prévias,	isto	
é,	embora	na	agência	seja	potencialmente	possível	
transformar	 estruturas	 (e	 não	 apenas	 reproduzi-
las),	 as	 estruturas	 com	 as	 quais	 um	 ator	 social	
lida	hoje	foram	conformadas	em	ações	anteriores	
de	atores	sociais	que	o	antecederam.	(...)	Então	é	
possível propor uma relação temporal (em termos 
de sincronia/diacronia) entre os dois elementos da 
recursividade	estrutura/agência.
38
Análise de discurso (pArA A) críticA: o texto como mAteriAl de pesquisA
A	sociedade	existe	em	virtude	da	agência	humana,	mas	
não	é	redutível	a	ela,	e	vice-versa.	Como	Sayer	(2000,	p.	19)	
exemplifica,	ações	sempre	pressupõem	recursos	pré-existentes	
e	meios:	“falar	pressupõe	uma	língua;	uma	língua,	uma	co-
munidade e recursos materiais, como cordas vocais ou outros 
meios	de	se	efetuar	sons	inteligíveis”.	Tal	postura	implica	que	
‘sociedades’ e ‘indivíduos’, ou estruturas e agência humana 
não são redutíveis a um, mas, sim, causalmente interdepen-
dentes. 
Sociedades e indivíduos, ou estruturas sociais e agência 
humana, são causalmente interdependentes, mas não 
se confundem.
Assim,	Bhaskar	(1989,	p.	34)	entende	que	sociedade	é
tanto a condição sempre presente (causa material) e 
o resultado	continuamente	reproduzido	da	agência	
humana. E práxis	 é	 tanto	produção consciente, e 
reprodução (normalmente inconsciente) das con-
dições	 de	produção,	 que	 configuram	a	 sociedade.	
O	primeiro	refere-se	à	dualidade da estrutura, e o 
último	à	dualidade da práxis. 
A	 relação	 entre	 estrutura	 e	 agência	 tem	 caráter	 dual:	
estrutura	é	condição	sincrônica,	causa	material,	mas	também	
é	resultado	diacrônico	da	atividade	humana,	a	qual,	por	sua	
vez,	reproduz	e	transforma	essa	causa	material.	A	concepção	
de	que	seres	humanos	não	criam	estruturas	sociais,	mas	as	
(re)produzem	à	medida	que	as	utilizam	como	condições	para	
suas	atividades,	é	representada	na	Figura	4:	
39
Análise de discurso (pArA A) críticA: o texto como mAteriAl de pesquisA
Figura	4	–	Concepção	transformacional	de	constituição	da	sociedade
Fonte: Ramalho (2007, p. 87), com base em Bhaskar (1998).
Na Figura 4, o movimento descendente da seta repre-
senta a ação humana como dependente de regras e recursos 
(incluindo mecanismos e seus poderes causais) disponíveis 
na	estrutura	social.	Ao	mesmo	tempo	em	que	essa	estrutura,	
na	qualidade	de	meio,	é	facilitadora,	por	permitir a ação, ela 
também	é	constrangedora, pois ‘regula’ condutas. 
Por outro lado, o movimento ascendente da seta repre-
senta	que	o	acionamento	de	regras	e	recursos	de	estruturas	
sociais por atores sociais pode resultar em reprodução ou 
transformação de tal estrutura, como resultado. Assim, ação 
e estrutura	constituem-se	transformacional	e	reciprocamente.	
Em práticas sociais, agentes individuais se valem da estrutura 
social, (re)articulando mecanismos e poderes causais, e a (re)
produzem,	gerando	no	mundo	efeitos	imprevisíveis.	
Com	base	em	tais	princípios,	mas	também	em	Harvey	
(1992),	a	ADC	localiza	seu	objeto	de	estudo	nas	práticas so-
ciais	–	“o	ponto	de	conexão	entre	estruturas	abstratas,	com	seus	
mecanismos,	e	eventos	concretos”	(Chouliaraki	&	Fairclough,	
1999,	p.	21).	Isso	significa	que	pesquisas	em	ADC	não	devem	
focalizar	apenas	o	discurso,	sob	os	riscos	que	já	destacamos.
As	práticas	sociais	são	um	foco	coerente	para	uma	abor-
dagem	como	a	ADC,	porque	permitem,	por	sua	característica	
intermediária,	manter	o	foco	simultaneamente	nas	potencia-
lidades das estruturas e na individualidade dos eventos. Isso 
40
Análise de discurso (pArA A) críticA: o texto como mAteriAl de pesquisA
evita os erros do voluntarismo	(Já	que	cada	texto	ou	instan-
ciação	discursiva	não	é	plenamente	 livre,	mas	 responde	às	
contingências	do	contexto	e	às	restrições	do	sistema,	inclusive	
em termos do potencial semiótico) e do reificacionismo (apesar 
das	contingências	contextuais	e	das	restrições	do	sistema,	há	
uma	liberdade	relativa	capaz,	inclusive,	de	provocar	transfor-
mações	nas	estruturas	sociais	e	semióticas).
2.2 linguagem e prátiCa soCial
Como discutimos, a ADC concebe a linguagem como 
um dos estratos do mundo. O ‘estrato semiótico’, com seus 
mecanismos	e	poderes	gerativos,	mantém	relações	simultâneas	
e	 transformacionais	 com	os	demais	 estratos	 (social,	 físico,	
químico,	biológico	etc.),	de	modo	que	internaliza	traços	de	
outros	estratos,	assim	como	tem	efeitos	sobre	eles.	Tal	com-
preensão	de	mundo	fundamenta	a	ideia	de	que	a	linguagem	
tem	efeitos	nas	práticas	e	eventos	sociais.	
Isso	significa,	conforme	Fairclough	(2003a),	que	a	lin-
guagem	é	parte	integrante	e	irredutível	do	social,	em	todos	
os níveis, como discutimos no Capítulo 1 e ilustramos agora 
na Figura 5: 
Figura 5 – Linguagem como momento da vida social
Níveis do social Níveis da linguagem
Estrutura social Sistema semiótico 
Práticas sociais Ordens do discurso
Eventos sociais Textos	
Com base em Fairclough (2003a: 220).
41
Análise de discurso (pArA A) críticA: o texto como mAteriAl de pesquisA
Na	Figura	5,	representamos	três	diferentes	níveis	da	vida	
social	correlacionados	a	três	níveis	da	linguagem,	conforme	
proposto em Fairclough (2003a). No gradiente decrescente, 
temos, no nível mais abstrato das estruturas, a linguagem como 
sistema semiótico	–	com	sua	rede	de	opções	lexicogramaticais.	
No nível intermediário das práticas sociais, temos a lin-
guagem como ordens do discurso	–	“as	combinações	particu-
lares	de	gêneros,	discursos	e	estilos,	que	constituem	o	aspecto	
discursivo	de	redes	de	práticas	sociais”,	a	faceta	socialmente	
estruturada da linguagem (Fairclough, 2003a, p. 220). 
Por	fim,	no	nível	mais	 concreto	dos	 eventos,	 temos	 a	
linguagem	como	texto	–	o	principal	material	empírico	com	
que	analistas	de	discurso	trabalham,	mas	não	o	único.	Disso	
advém	o	entendimento	de	que	o	objeto	de	estudo	da	ADC	não	
é	a	linguagem	como	estrutura	(sistema	semiótico),tampouco	
apenas	como	evento	(texto),	mas	também	como	prática social, 
ou	seja, análises discursivas críticas privilegiam o espaço das 
ordens do discurso como espaço de geração de conhecimento 
sobre o funcionamento social da linguagem.	É	claro	que	para	
tanto	 investigam	as	 instanciações	materializadas	em	 textos	
concretos,	isto	é,	têm	como	material	analítico	as concretiza-
ções do potencial do sistema semiótico em eventos discursivos 
situados.	 Por	 isso	 podemos	 dizer	 que	 análises	 discursivas	
críticas	transitam	entre	os	três	níveis	da	linguagem,	o	que	só	
é	possível	graças	ao	foco	no	nível	intermediário	das	ordens	
do discurso (Resende, 2010c).
Vamos	lembrar	que,	em	ADC,	o	termo	‘discurso’	adqui-
re	duas	acepções.	Como	substantivo	mais	abstrato,	significa	
‘linguagem e outros tipos de semiose como momento irredu-
tível	da	vida	social’	ao	passo	que,	como	um	substantivo	mais	
concreto,	significa	‘modos	particulares	de	representar	parte	
do mundo’. De acordo com a primeira acepção, em práticas 
sociais	a	linguagem	figura	como	discurso:	o	momento	semi-
42
Análise de discurso (pArA A) críticA: o texto como mAteriAl de pesquisA
ótico	que	se	articula	com	os	demais	momentos	das	práticas	–	
fenômeno	mental,	relações	sociais,	mundo	material.	Conforme	
a	 segunda	 acepção,	 os	 diferentes	momentos	 semióticos	 de	
diferentes	práticas	dão	origem	a	(redes	de)	ordens	do	discurso,	
formadas	por	gêneros,	discursos	e	estilos	particulares	de	cada	
campo ou atividade social. Observe-se a Figura 6:
Figura 6 – Discurso e prática social
Na	Figura	 6,	 temos	 a	 prática	 social	 conformada	 por	
uma articulação situada de elementos chamados ‘momentos 
da prática’ – discurso (no conceito mais abstrato), relações 
sociais, fenômeno mental e atividade material. No momento 
semiótico da prática (discurso), temos a articulação de outros 
três	elementos,	que	configuram,	juntos,	o	momento	discursivo	
da prática. Trata-se de discursos (no conceito mais concreto), 
gêneros e estilos,	os	elementos	conformadores	de	uma	ordem	
do discurso.
+
+
43
Análise de discurso (pArA A) críticA: o texto como mAteriAl de pesquisA
Por	isso,	na	qualidade	de	“ponto	de	conexão	entre	estru-
turas abstratas, com seus mecanismos, e eventos concretos”	
(Chouliaraki	&	Fairclough,	1999,	p.	21),	ou	entre	“estrutura”	
e	“agência”	 (Bhaskar,	1989),	práticas	 sociais	 são	maneiras	
recorrentes,	situadas	 temporal	e	espacialmente,	pelas	quais	
pessoas	interagem	no	mundo.	Conforme	Fairclough	(2003a),	
práticas sempre articulam ação e interação (relações sociais), 
pessoas com crenças, valores, atitudes, histórias (fenômeno 
mental), mundo material (que possibilita a atividade material) 
e discurso. 
Em	práticas	particulares,	esses	elementos	mantêm	entre	si	
constantes	relações	dialéticas	de	articulação	e	internalização,	
sem	se	reduzirem	a	um,	tornando-se	“momentos”	da	prática.	
Resende	&	Ramalho	(2004,	2005,	2006)	explicam	que	essas	
relações	 dialéticas	 de	 articulação	 e	 internalização	 entre	 os	
momentos de práticas sociais particulares podem ser tanto 
minimizadas	para	se	aplicar	à	articulação	interna	de	cada	mo-
mento de uma prática (como ilustramos na Figura 6 em relação 
ao	momento	semiótico),	quanto	ampliadas	para	se	aplicar	à	
articulação	externa	entre	práticas	organizadas em redes. 
No	primeiro	caso,	tomando	como	exemplo	o	momento	
discursivo	de	práticas,	há	relações	dialéticas	entre	seus	três	
momentos	internos:	gêneros,	discursos,	estilos.	No	segundo	
caso,	relações	dialéticas	entre	diferentes	práticas,	associadas	a	
diferentes	campos	sociais,	formam	redes	das	quais	as	próprias	
práticas passam a constituir momentos. 
Nas	práticas	sociais	cotidianas,	utilizamos	o	discurso	de	
três	principais	maneiras	simultâneas	e	dialéticas:	para	agir	e	
interagir,	para	representar	aspectos	do	mundo	e	para	identificar	
a nós mesmos/as e a outros/as. 
O discurso tem três principais significados nas práticas: 
ação e interação, representação de aspectos do mundo e 
44
Análise de discurso (pArA A) críticA: o texto como mAteriAl de pesquisA
(auto)identificação. Esses três significados são simultâneos 
em toda prática: a linguagem é funcionalmente complexa.
Essas	principais	maneiras	como	o	discurso	figura	simultâ-
nea e dialeticamente em práticas sociais correlacionam-se aos 
três	momentos	de	ordens	do	discurso,	os	momentos	internos	do	
momento	semiótico	das	práticas	(gêneros,	discursos	e	estilos,	
respectivamente).
Gêneros	discursivos	são,	portanto,	maneiras	relativamen-
te estáveis de agir e interagir discursivamente na vida social. 
Discursos são maneiras relativamente estáveis de representar 
aspectos do mundo, de pontos de vista particulares. Estilos, 
por	fim,	são	maneiras	relativamente	estáveis	de	 identificar,	
discursivamente, a si e a outrem. 
Essas	maneiras	de	(inter)agir,	representar	e	identificar(-se)	
em	práticas	sociais	internalizam	traços	de	outros	momentos	das	
práticas, assim como concorrem para constituir esses outros mo-
mentos, tendo em vista a articulação interna entre os momentos 
das práticas sociais. Assim, a linguagem constitui-se socialmente 
na	mesma	medida	em	que	tem	“consequências	e	efeitos	sociais,	
políticos,	cognitivos,	morais	e	materiais”	 (Fairclough,	2003a,	
p.	14).	Isso	explica	porque,	em	ADC,	dizemos	que	o	discurso	é	
socialmente constitutivo e constituído socialmente.
A relação linguagem-sociedade é interna: o discurso é 
socialmente constitutivo e constituído socialmente.
2.3 as (redes de) ordens do disCurso
Considerar a importância do social, e não só do semióti-
co,	na	manutenção	do	potencial	mais	ou	menos	(in)definido	
da	linguagem	para	criar	significados	implica	reconhecer	as	
(redes de) ordens do discurso como um sistema,	isto	é,	um	
45
Análise de discurso (pArA A) críticA: o texto como mAteriAl de pesquisA
potencial	semiótico	estruturado	que	possibilita	e	regula	nossas	
ações	discursivas,	tal	como	as	práticas	sociais	possibilitam	e	
regulam	nossas	ações	sociais.	
Sobre	o	assunto,	Chouliaraki	&	Fairclough	(1999)	ob-
servam	que,	ainda	que	reconheça	a	importância	do	‘contexto	
social’ e conceba a linguagem como um sistema aberto, pas-
sível	de	mudança,	a	Linguística	Sistêmico-Funcional	–	teoria	
linguística	que	informa	essa	vertente	de	ADC	–	vincula	tal	
abertura somente ao sistema semiótico. 
Para uma abordagem discursiva, como Chouliaraki e 
Fairclough	 ainda	 explicam,	 o	 potencial	 de	 significados	 da	
linguagem deve ser entendido não só a partir da noção de 
sistema	semiótico,	mas	também	de	sistema social de ordens 
do discurso,	 as	“combinações	particulares	de	gêneros,	dis-
cursos	e	estilos,	que	constituem	o	aspecto	discursivo	de	redes	
de	práticas	sociais”	(Fairclough,	2003a,	p.	220).	Conforme	
Chouliaraki e Fairclough (1999, p. 151-2),
a linguagem, como um sistema aberto, tem capacida-
de	ilimitada	para	a	construção	de	significado	através	
de	conexões	gerativas	sintagmáticas	e	paradigmáti-
cas,	mas	é	o	dinamismo	da	ordem	do	discurso,	capaz	
de	gerar	novas	articulações	de	discursos	e	gêneros,	
que	mantém	a	linguagem	como	um	sistema	aberto	
(...).	Por	outro	lado,	é	a	fixidez	da	ordem	do	discurso	
que	limita	o	poder	gerativo	da	linguagem,	impedindo	
certas	conexões. 
Para	a	autora	e	o	autor,	o	foco	em	mudanças	no	sistema,	
possibilitadas	e	constrangidas	por	conexões	gerativas	sintag-
máticas	e	paradigmáticas,	ajuda	a	explicar	o	poder	gerativo	
da	linguagem,	mas	não	é	suficiente.	É	necessário	reconhecer	
que	o	sistema	aberto	da	linguagem	é	mantido	tanto	por	seus	
recursos	‘internos’	(lexicogramaticais,	semânticos)	quanto	por	
recursos	‘externos’,	assegurados	pelo	dinamismo	das	ordens	
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Análise de discurso (pArA A) críticA: o texto como mAteriAl de pesquisA
do discurso de cada campo social. Uma possível representação 
dessa	proposta	é	apresentada	a	seguir,	na	Figura	7: 2
Figura 7 – Estrutura dupla da linguagem
Na	Figura	 7,	 uma	 adaptação	 do	 que	 propõe	Halliday	
(2004, p. 25), representamos dois sistemas constituintes da lin-
guagem.	O	sistema	semiótico,interno,	formado	por	diferentes	
estratos	(semântico,	lexicogramatical,	fonológico,	fonético),	e	
o	sistema	de	redes	de	ordens	do	discurso,	de	natureza	socio-
discursiva.	Esse	segundo	sistema,	a	faceta	social	da	estrutura	
da	linguagem,	também	é	estratificado,	conforme	ilustramos	
na Figura 8, a seguir: 
2	 As	figuras	7	e	8	são	representações	das	autoras,	baseadas	em	Halliday	(2004).	
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Análise de discurso (pArA A) críticA: o texto como mAteriAl de pesquisA
Figura 8 – Estratos do sistema de ordens do discurso
Os estratos do sistema de redes de ordens do discurso são 
gêneros,	discursos	e	estilos.	Como	integram	redes	de	práticas	
sociais dinâmicas, e, portanto, redes de ordens do discurso, 
são	mais	bem	definidos	 como	 ‘momentos’.	Assim	como	o	
sistema	 semiótico,	o	 sistema	 social	da	 linguagem	 formado	
por	 ordens	 do	 discurso	 também	constitui	 redes	 potenciais	
de	opções,	e,	portanto,	de	significados.	Entretanto,	a	rede	de	
opções	de	ordens	do	discurso	não	é	formada	por	palavras	e	
orações	(ainda	que	seja	possibilitada	por	elas),	mas,	sim,	por	
gêneros,	“tipos	de	linguagem	ligados	a	uma	atividade	social	
particular”,	discursos,	“tipo	de	linguagem	usado	para	construir	
algum	aspecto	da	realidade	de	uma	perspectiva	particular”,	e	
estilos,	“tipo	de	linguagem	usado	por	uma	categoria	particular	
de pessoas e relacionado com sua identidade”	(Chouliaraki	
&	Fairclough,	1999,	p.	63).	
48
Análise de discurso (pArA A) críticA: o texto como mAteriAl de pesquisA
A rede de opções de ordens de discurso é formada por 
gêneros, discursos e estilos: modos relativamente estáveis 
de agir, representar e identificar discursivamente.
Esses	três	momentos	figuram	em	práticas	como	recursos	
sincrônicos	para	a	ação	humana,	e	como	produtos	diacrônicos	
dela.	Isso	implica	que	a	abertura	da	linguagem	para	significar	
é	mantida	tanto	por	recursos	disponíveis	‘dentro’	do	sistema	
quanto	pelo	dinamismo	das	ordens	do	discurso.	Novas	articu-
lações	de	discursos,	gêneros	e	estilos	de	diferentes	(redes	de)	
ordens	do	discurso	também	contribuem	para	a	construção	de	
significados.	A	possibilidade	de	articulação	desses	elementos	
está ligada à criatividade na produção de eventos discursivos, 
apesar dos constrangimentos do sistema, semiótico e social. 
Assim,	temos	que	a	relação	transformacional	estrutura-ação	
social repete-se na relação estrutura-ação discursiva.
O potencial da linguagem para significar é mantido 
tanto por recursos disponíveis no sistema quanto por 
recursos disponíveis nas (redes de) ordens do discurso. A 
possibilidade de novas articulações de discursos, gêneros 
e estilos de diferentes ordens do discurso está ligada à 
criatividade discursiva. Isso significa que a estabilidade 
é relativa.
Assim,	 por	 um	 lado,	 o	 poder	 gerativo	do	 semiótico	 é	
mediado pelo poder gerativo de outros momentos da prática 
social. Por outro, a semiose tem estrutura dupla,	 formada	
pela	rede	de	opções	do	sistema semiótico (linguagem como 
estrutura)	mas	também	pela	rede	de	opções	do	sistema social 
da linguagem, as redes de ordens do discurso (linguagem 
como momento da prática social). 
Elementos de ordens do discurso são categorias tanto 
discursivas	quanto	sociais,	que	ultrapassam	a	fronteira	entre	o	
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Análise de discurso (pArA A) críticA: o texto como mAteriAl de pesquisA
linguístico	e	o	não	linguístico.	Por	isso,	a	análise	de	gêneros,	
discursos	e	estilos	 (e	 seus	 respectivos	 significados/	 formas	
em	textos)	possibilita	a	explanação	da	relação	entre	discurso,	
relações	sociais,	atividade	material	e	fenômeno	mental	(Fair-
clough, 2003a).
Por meio da análise de gêneros, discursos e estilos em 
textos situados, é possível investigar relações entre 
aspectos discursivos e não discursivos de práticas sociais.
Os	 três	modos	 como	 o	 discurso	 figura	 simultânea	 e	
dialeticamente em práticas sociais – como modo de (inter)
agir,	 de	 representar	 e	 de	 identificar(-se)	 –	 correlacionam-
se	 a	 três	 principais	 significados do discurso, ligados 
aos	 três	 elementos	 de	 ordens	 do	 discurso,	 gêneros,	 dis-
cursos	 e	 estilos.	 Na	 Figura	 9,	 a	 seguir,	 reproduzimos	
a	 representação	 de	 Resende	&	Ramalho	 (2005,	 p.	 43): 
 
Figura	9	–	Relação	dialética	entre	os	significados	do	discurso
 
Fonte:	Resende	&	Ramalho	(2005,	p.	43).
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Análise de discurso (pArA A) críticA: o texto como mAteriAl de pesquisA
A Figura 9 associa o significado acional/relacional do 
discurso, relativo a modos de (inter)agir discursivamente, a 
gêneros. O significado representacional, ligado a maneiras 
particulares	de	representar	aspectos	do	mundo,	é	associado	a	
discursos. O significado identificacional,	por	sua	vez,	relativo	
a	maneiras	de	identificar(-se),	associa-se	a	estilos. 
Os três tipos de significado sempre presentes em textos 
associam-se aos elementos constituintes de ordens do 
discurso: o significado acional a gêneros, o significado 
representacional a discursos, o significado identificacional 
a estilos (Fairclough, 2003a).
Embora	gêneros,	discursos	e	estilos,	assim	como	os	sig-
nificados	do	discurso,	tenham	suas	especificidades,	a	relação	
entre	eles	é	dialética.	Cada	qual	internaliza	traços	de	outros,	
de	maneira	que	nunca	se	excluem	ou	se	reduzem	a	um.
Fairclough	(2003a,	p.	25)	avalia	que	o	ponto	de	partida	
nos	três	principais	significados	do	discurso	ajuda	a	efetivar	
a	 proposta	 de	 alcançar	 a	 relação	dialética	 entre	momentos	
semióticos	e	não	semióticos	do	social.	Além	disso,	avança	
na percepção não só do sistema semiótico,	mas	também	do	
sistema social de redes de ordens do discurso.	Isso	se	explica	
pelo	fato	de	gêneros,	discursos	e	estilos,	como	maneiras	rela-
tivamente	estáveis	de	(inter)agir,	representar	e	identificar(-se)	
em práticas sociais, não serem categorias puramente linguís-
ticas.	Uma	vez	que	práticas	articulam	discurso	com	outros	
momentos	(relações	sociais,	 fenômeno	mental,	mundo	ma-
terial), elementos de ordens do discurso são categorias tanto 
discursivas	quanto	sociais,	que	“atravessam	a	divisão	entre	o	
discursivo	e	o	não	discursivo”.	
Neste	ponto,	é	importante	lembrar	não	só	que	o	conceito	
de	“ordem	do	discurso”	tem	origem	nos	estudos	de	Foucault	
51
Análise de discurso (pArA A) críticA: o texto como mAteriAl de pesquisA
(2003	[1971])	mas	também	que	os	três	significados	do	dis-
curso	(ação,	representação	e	identificação)	comentados	aqui	
associam-se	aos	três	grandes	eixos	da	obra	de	Foucault	(1994):	
o eixo do poder, o eixo do saber e o eixo da ética. 
O	significado	acional	relaciona-se	ao	eixo	do	poder,	ou	
seja,	a	‘relações	de	ação	sobre	os	outros’.	Nessa	perspectiva	
é	que	se	entende	que	gêneros,	como	maneiras	de	(inter)agir	
e	 relacionar-se	discursivamente,	 implicam	relações	com	os	
outros,	mas	também	ação sobre os outros e poder.	O	signifi-
cado	representacional	relaciona-se	ao	eixo	do	saber.	Discur-
sos, como maneiras particulares de representar aspectos do 
mundo,	pressupõem	controle sobre as coisas e conhecimento. 
O	significado	identificacional	relaciona-se	ao	eixo	da	ética.	
Estilos,	maneiras	de	identificar	a	si	e	aos	outros,	pressupõem	
identidades sociais e individuais,	ligadas	às	‘relações	consigo	
mesmo’,	ao	‘sujeito	moral’.	Sistematizando,	temos	o	Quadro	
2, a seguir:
Quadro	2	–	Relações	entre	os	significados	do	discurso,	de	Fairclough	(2003),
	e	os	eixos	de	Foucault	(1994)
Significados 
(Fairclough, 2003)
Elementos de ordens 
do discurso
Eixos 
(Foucault, 1994)
Significado	acional Gêneros Eixo	do	poder
Significado	representacional Discursos Eixo	do	saber
Significado	identificacional Estilos Eixo	da	ética
Os	três	eixos	da	obra	de	Foucault	não	são	isolados,	mas	
também	dialeticamente	articulados,	ou	seja,	o	controle	sobre	
as	coisas	(eixo	do	saber)	é	mediado	pelas	relações	com/	sobre	
os	outros	(eixo	do	poder),	assim	como	as	relações	com/	sobre	
os	outros	pressupõem	relações	consigo	mesmo	(eixo	da	ética),	
e assim por diante. Por isso, Fairclough (2003a, p. 29) lembra 
que	a	relação	entre	os	significados	do	discurso

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