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DIAGNOSTICO DE FISSURAS EM ESTRUTURA DE CONCRETO 
ARMADO 
Marcos Camargo Teixeira – ​marcosct@gmail.com 
Projetos, Execução e Controle de Estruturas e Fundações 
Instituto de Pós-Graduação e Graduação – IPOG 
João Pessoa, 15/05/2015 
 
Resumo 
O concreto é o principal material empregado para estruturas de construção civil do 
Brasil, porém se não forem tomados cuidados no projeto, execução e manutenção 
este material poderá ter seu desempenho comprometido. 
Na área da patologia o dano mais comum que se apresenta no concreto é a 
fissuração excessiva, que tem diversas causas, que vão desde modificações internas 
de comportamento ao longo do tempo, passando por modificações da própria 
constituição do material até por efeito de esforços aplicados às peças. 
O presente trabalho pretende abordar de forma introdutória um procedimento para 
diagnostico de patologias na construção civil, as formas e causas que normalmente 
causam as fissuras nas peças estruturais, de forma a orientar os primeiros passos 
para a identificação do problema e suas causas. 
Palavras chaves: patologia, concreto armado, fissuras, procedimento, diagnóstico 
 
1. Introdução 
O combate dos efeitos causados por uma fissura passa pela identificação precisa de 
todos os aspectos do problema, isto é, seus sintomas, a maneira que elas ocorrem, 
origem, suas causas e as consequências de seu surgimento no comportamento 
estrutural da edificação. As causas de fissuras são variadas e a investigação delas 
requer conhecimento da tecnologia dos materiais e da mecânica da estrutura, além 
disso o investigador deve ter paciência, curiosidade e imaginação para poder montar o 
diagnóstico. Entretanto, a utilização de uma metodologia no enfoque dos casos pode 
facilitar o processo de investigação. 
 
O presente artigo tem o objetivo de abordar uma metodologia de diagnostico e as 
principais causas de fissuras nas edificações de concreto armado, ajudando o 
investigador na pesquisa das causas. 
 
2. Procedimento para diagnóstico de patologias 
A investigação necessária para se ter um diagnóstico da(s) causa(s) de patologias 
normalmente é um processo iterativo, onde, conforme a complexidade do problema, 
haverá necessidade de se repetir alguns passos para confirmação do diagnóstico e 
procedimentos da conduta do tratamento a ser feito. 
Há uma tendências em se dar um diagnóstico antes de se conhecer o histórico do 
problema, o que pode causar erros no entendimento e no tratamento do mesmo. Por 
isso, é fundamental que o investigador elimine qualquer ​idéia pré-estabelecida antes 
de iniciar sua investigação. Ou seja, a investigação nunca deve ser a confirmação de 
uma opinião ja formada, mas sim o primeiro passo para se formar uma opinião sólida 
sobre o caso. 
A proposta de LICHTENSTEIN é dividir o processo de diagnósticos da patologia em 
3 partes conforme o esquema a seguir: 
mailto:marcosct@gmail.com
 
 
 
Figura 1 - Esquema Para Diagnostico de Patologias 
 
 
2.1. PARTE 1 - LEVANTAMETO DE SUBSÍDIOS 
Nesta etapa, deverão ser coletadas e organizadas todas as informações pertinentes ao 
entendimento do caso. Os dados poderão ser coletados de diversas fontes, e pode ser 
dividida em 3 grupos 
 
VISTORIA DO LOCAL​: nesse momento o técnico se aproxima fisicamente 
com o problema e procura pesquisar o maior número possível de informações 
a partir desta possibilidade de contato físico. 
Nesse passo, o técnico deverá ​determinar a existência e a gravidade do 
problema patológico​, comparando o desempenho da estrutura encontrado com 
a exigível e a avaliação da possibilidade de ruptura da estrutura avaliada; 
definir seu alcance e extensão​, com o macro-mapeando das fissuras, locando 
os pontos afetados sem maiores rigores qualitativos das mesmas, e com o 
micro-mapeamento, onde as características de cada fissura é descrita 
detalhadamente em cada peça estrutural; ​caracterizar os materiais e a 
patologia​, quantificando as impressões encontradas pelo técnico; ​registro dos 
resultados, onde o técnico ira registrar manualmente suas observações 
incluindo fotos, croquis, anotações em planta, etc. 
 
ANAMNESE​: é a pesquisa da história do problema e da edificação. Nessa 
fase o técnico buscar entender como e quando o problema se manifestou e 
procurar relacioná-lo com a historia de vida da edificação desde sua 
concepção, passando pela construção e uso. Para isso, o técnico terá que 
buscar informações com os envolvidos com o edifício (construtor, usuário, 
vizinhos, funcionários, operários, técnicos de manutenção, agentes 
governamentais, etc) que esclareçam essa história, perguntando a eles quando 
surgiu o problema, se já houve algum tipo de intervenção, se houve mudança 
no projeto original, se houve algum evento importante que possa de causado o 
surgimento do problema, etc. Outra técnica que deverá ser utilizada para 
descrever todo esse histórico é a pesquisa de documentos formais, desde 
projetos, ​as built, ​diários de obras, relatórios gerenciais, relatórios de 
manutenção, correspondências, Notas fiscais de materiais, contrato de 
execução de serviços, etc. 
 
ENSAIOS COMPLEMENTARES​: Poderá ocorrer casos em que o técnico 
precise de dados físicos, químicos e/ou biológicos complementares que a 
simples vistoria e pesquisa histórica não fornecem. Esses ensaios podem ser 
feitos ​inloco​, como ensaios de resistência a compressão, tensão, etc. ou 
ensaios laboratoriais com amostras retiradas do local como, por exemplo, 
análise físico-química do material. Um ensaio pertinente para fissuras é a 
colocação de sensores para medir a abertura da fissura ao longo do tempo, e 
poder classificá-las como fissuras ativas ou estabilizadas. 
 
2.2. PARTE 2 - DIAGNÓSTICO 
De posse dos subsídios levantados, o técnico irá traçar hipóteses que identificam a 
origem do problema, suas causas, .os fenômenos intervenientes e os mecanismo de 
ocorrência. Esse processo de formulação de hipóteses provoca novas necessidades de 
dados o que demonstra a característica iterativa do processo. 
É importante salientar que nem sempre as causas reais poderão ser determinadas, pois 
um único problema pode provir de varias causas e sintomas semelhantes podem ser 
causados por ações diferentes. O importante é que o levantamento e o diagnósticos 
sejam suficientes e confirmados para que se possa basear a definição de conduta de 
forma objetiva. 
 
A seguir veremos as principais manifestações para o surgimento de fissuras e 
algumas de suas causas que podem subsidiar a construção de diagnósticos das fissuras 
nas edificações. 
 
a) Assentamento Plástico​: Movimento do concreto ainda fresco. Normalmente se 
manifesta por fissuras no sentido da armadura nas lajes e vigas ou em arcos no 
topo de pilares. 
 
Figura 2 - Fissura provocada por assentamento plástico 
 
● Causas: 
Falha na especificação do concreto (alta relação água/cimento, falta 
de finos, etc) 
Armaduras com diâmetros excessivos ou malhas densas 
Cimento com finura inadequada 
Areia com poucos finos e/ou grãos achatados 
Agregado com diâmetro elevado 
Vibração prolongada 
Cura inadequada 
Concretagem em temperaturas baixas 
Formas não estanques 
 
b) Dessecação Superficial​: Fissuras causadas pela retração plástica, que é a perda 
deágua do concreto ainda não endurecido, ocasionados por agentes externos 
como vento, baixa umidade relativa do ar, alta temperatura, etc. 
 
Figura 3 – Fissura ocasionada por retração plástica em concreto ainda fresco 
● Causas: 
Falha na especificação do concreto (alta relação água/cimento, falta 
de finos, etc) 
Cimento com finura elevada 
Cimento com alto teor de aluminato de cálcio (C​3​A) 
Cura inadequada 
Concretagem em clima de baixa umidade e/ou alta temperatura 
e/ou ventos intensos 
Falta de proteção do concreto contra a ação direta do sol 
Excesso de vibração 
Falha na composição do concreto 
Agregados e formas não saturados, resultando em alta absorção. 
c) Movimentação de Formas: ​Qualquer movimento de forma que ocorrer entre o 
momento do lançamento e a pega do concreto pode ocasionar fissuras internas 
ou superficiais. As fissuras internas são um perigo adicional pois podem 
provocar bolsas de água internas provocando corrosão nas armaduras. 
As fissuras ocasionadas por esse problema se estabilizam no momento em que 
não há mais movimento da forma ou quando o concreto endurece. 
 
(a) ​ (b) 
Figura 4 - Fissuras interna (a) e superficial (b) ocasionadas pelo movimento de forma 
● Causas: 
Falha no projeto de formas – cargas submedmensionadas, falta de 
dados e/ou detalhes 
Agregados com peso específico maior que o indicado em projeto 
Material da forma e escoramento com resistência menor que 
especificada em projeto 
Falha no escoramento (prumo, apoio, área de contato, etc) 
Falha no lançamento do concreto 
Falha na confecção das formas 
Vibração prolongada 
Amarração ineficaz de cantos e detalhes construtivos 
 
 
d) Retração Hidráulica​: Perda de água do concreto endurecido para ambientes 
com umidade relativa baixa, ocasionando a diminuição do volume da pasta, 
resultando em fissuras em peças quando há restrição de movimento. 
 
 
Figura 5 – Fissura por retração hidráulica em viga de pórtico com pilares de grande rigidez (a) e de 
baixa rigidez (b) 
 
 
 
Figura 6 - Fissura ocasionadas por retração hidráulica em pórtico com vigas de diferentes taxa de 
armadura (a) e em muro de arrimo (b) 
● Causas: 
Falha na especificação do concreto (alta relação água/cimento, falta 
de finos, etc) 
Falta de especificação de junta de dilatação e controle 
Grandes superfícies de concreto em contato com ambiente seco 
Detalhamento de armadura incorreto usando grandes diâmetros 
muito espaçados 
Uso de cimento com finura elevada 
Uso de cimento com alta resistência inicial (ARI) 
Agregados com pequenos módulos de deformação 
Presença de Argila nos agregados 
Concreto com abatimento alto (fluido ou plástico) 
Cobrimento inadequado das armaduras 
Concretagem em clima com baixa umidade relativa do ar e/ou 
temperatura muito alta 
Peça estrutural construída em ambiente com baixa umidade relativa 
do ar constante (exemplo Brasilia) 
 
e) Movimentação Térmica​: A movimentação térmica pode ser ocasionados por 
influências internas ou externas. 
i. Influências internas​: Calor de Hidratação do Concreto. 
 
A geração de calor devida às reações exotérmicas de hidratação do 
cimento, origina, em estruturas de concreto, tensões de origem térmica 
que tracionam o concreto ainda não endurecido 
(DAL MOLIN, 1988:33) 
 
A elevação da temperatura é elevada e, principalmente, em concretagens de 
grandes volumes a camada superficial que entra em contato com o ambiente 
esfria mais rapidamente que a parte interna, provocando camadas distintas. A 
camada superficial, mais fria que a camada interna, se contrai, isto é, diminui 
de volume e, por consequência ocasiona fissuras que, segundo CANOVAS, se 
cortam em ângulos aproximadamente retos e a distância entre as fissuras 
paralelas se dá a 2 a 4 vezes sua profundidade, formando uma rede reticulada 
com elevado número de fissuras cuja profundidade pode ser excessiva. 
 
 
Figura 7 - Fissura por causada por movimentação térmica devido ao calor de hidratação. 
● Causas: 
Falha na especificação do cimento (alta proporção de C​3​A e C​3​S) 
Inexistência ou previsão incorreta das junta de dilatação 
Composição do concreto incorreta (Proporçao de cimento, aditivos, 
etc) 
Uso de cimento com finura elevada 
Uso de cimento com alto calor de hidratação 
Agregados com baixas difusibilidade térmica 
Concretagem em temperatura muito alta 
Cura inadequada 
Aeração do ambiente insuficiente 
Temperatura inicial do concreto elevada 
 
ii. Influências externas: ​A patologia causada por efeito térmico está associada 
ao grau de vinculação dos elementos e da contração térmica que o concreto 
sofrerá. Esse tipo de fissura pode ocorrer em elementos estruturais muito 
extensos sem junta de dilatação ou em canto de lajes com a dilatação da 
viga de apoio. 
 
Figura 8 - Fissura por movimentação térmica 
● Causas: 
Inexistência ou previsão incorreta de juntas de dilatação 
Armaduras não dimensionadas para absorver movimentação 
térmica 
Falha na consideração em projeto de incidência raios solares 
Insolação precoce 
 
 
f) Corrosão das armaduras​: O concreto é um material naturalmente protetor 
contra corrosão da armadura, pois por seu caráter alcalino impede as reações 
químicas além de ser uma capa isolante servindo de barreira entre o aço e o 
meio ambiente. Entretanto, determinadas circunstâncias essa característica 
resultando na perda da proteção, dentre as quais se destacam: 
● Carbonatação – em contato com dióxido de carbono (CO​2​), o hidróxido de 
cálcio (Ca(OH)​2​) reage, precipitando em carbonato de cálcio (CaCO​3​) e 
Água (H​2​O), baixando o PH do concreto. 
 
Figura 9 - Carbonatação do Concreto 
● Agentes agressivos – Dentre os agentes agressivos que atacam a armadura 
mesmo em ambiente alcalino, o que mais se destaca é o cloreto, que pode 
estar incorporado ao concreto – por meio de uso de água que contem esse 
componente – ou quando há cloreto na atmosfera – em áreas próxima ao 
mar por exemplo. 
● Condições Ambientais ​– A corrosão da armadura pode ser acelerada 
quando o concreto armado encontra-se em ambientes com a combinação 
de chuvas intensas e secagem rápida associada a alta temperaturas (zonas 
intertropicais) e em áreas com chuvas acidas (regiões industrializadas). 
● Cobrimento da armadura ​– quanto menor a relação água/cimento e maior o 
cobrimento, menor é a possibilidade de corrosão na armadura, pois esses 
dois fatores contribuem diretamente para a impermeabilidade do concreto 
dificultando que agentes químicos percolem pelo concreto até a armadura. 
● Fissuração ​– As fissuras encontradas nas peças de concreto são portas de 
entrada para quaisquer agentes agressivos a armadura. 
 
 
Figura 10 - Corrosão de armaduras 
Os produtos decorrentes dos processos de corrosão têm volumes maiores do 
que as barras de aço sem corrosão, de tal forma que causam pressões na 
estrutura do concreto provocando fissuras e lascamentos do concreto. 
 
O processo de corrosão são visíveis, pois provocam manchas de cor, 
principalmente, marrom-avermelhada, mesmo antes da formação de fissura. 
 
● Causas: 
Detalhes construtivos que favorecem o acumulo de água 
Detalhamento da armadura que impedem a boa realização da 
concretagem e compactação 
Composição do concreto inapropriada para o ambiente 
(permeabilidade alta, uso de agua, agregados e/ou aditivos com 
excesso de cloretos) 
Cobrimento inapropriado 
Limitação de abertura de fissura incorreta 
Má avaliação de agentes agressivos no ambienteLançamento e/ou cura do concreto inadequados 
Uso de material de limpeza agressivo como acido muriático. 
 
g) Reações com sulfatos​: Os principais sais de sulfatos são encontrados em águas 
marinhas, subterrâneas (principalmente em solos argilosos) e muitos solos. 
Esses sais, sob certas circunstancias atacam o concreto que ao sofrer reações 
químicas provocam produtos expansíveis, que por sua vez provocam fissuras 
facilitando a entrada de novos agentes deletérios. 
 
O concreto atacado por sulfatos têm característica esbranquiçada 
(eflorescência) e sua deterioração começa normalmente pelos cantos e arestas 
seguida por fissuração e desprendimento de lascas com características 
semelhantes às aquelas que ocorrem por dessecação superficial (pele de 
crocodilo), fazendo com que o concreto se fragmente facilmente. 
 
Figura 11 - Eflorescência no Concreto 
 
 
● Causas: 
Falha na especificação do concreto (alta relação água/cimento, falta 
de finos, etc) 
Uso de Cimento com alto teor de C​3​A 
Avaliação inadequado da exposição do concreto aos sulfatos 
Cura inadequada 
Adensamento insuficiente 
Absorção de águas residuais industriais não tratadas. 
 
h) Reações Alcali-Agragado​: É a reação entre os álcalis (Na​2​O e K​2​O) 
encontrados no cimento com substancias reativas, principalmente a sílica 
reativa. O resultado dessa reação é um gel expansivo que absorve água com 
consequente amento de volume. Como esse gel encontra-se confinado na pasta 
do concreto, a expansão provoca pressões internas resultando em fissuras e 
deterioração da pasta. 
As reações álcali-agregado ocorrem na presença de água (cura e relação 
água/cimento) ou vapor d’água (umidade relativa do ar) e se manifestam sob 
forma de fissuras aleatórias (pele de crocodilo), com aumento gradual de 
número, abertura e extensão, podendo, em alguns casos, seguir a direção das 
armaduras nas lajes, paredes e vigas. 
O concreto afetado por esta reação pode apresentar exsudação de gel de sílica 
depositada na superfície e endurecida após contato com o atmosfera 
Por se desenvolver lentamente as fissuras podem demorar até 5 anos para 
aparecer. 
 
Figura 12 - Fissuras causadas por Reação Alcali-Agregado 
● Causas: 
Cura inadequada 
Uso de cimento com alto teor de álcalis 
Uso de agregados reativos 
Alta relação água cimento 
 
i) Sobrecarga​: Sabe-se que as fissuras são inevitáveis quando a estrutura é 
submetida a esforços de tração, compressão, flexão e torção. Entretanto, 
podem (e devem) ser controladas através dos cálculos estruturais em função da 
durabilidade, estética e funcionalidade. A Norma 6118 estabelece a abertura 
máxima permitida das fissuras em função do nível de agressividade do meio 
ambiente. 
É comum encontrar aumento na taxa de armadura em peças estruturais por 
conta do controle de fissuras e a não observação dessa verificação no calculo 
pode ser a porta de entrada para outros problemas aqui já citados. 
As fissuras causadas por ação de carga externas se manifestam de diversas 
formas: 
 
● Tração: As fissuras causadas por tração aparecem praticamente 
simultaneamente e de forma repentina quando a carga atinge o valor de 
resistência do concreto a tração. Essas fissuras se apresentam de forma 
regular e sempre perpendicular a direção do esforço atuante. 
 
 
Figura 13 - Exemplo de fissuras provocada por tração 
 
 
● Compressão​: As fissuras por compressão podem aparecer antes da carga 
solicitante atingir a carga de ruptura, podendo progredir ao longo do 
tempo. Elas adotam formas distintas conforme a vinculação do elemento, 
sua forma e rigidez 
 
● Flexão​: As fissuras por flexão aparecem normalmente em esforços bem 
menores ao de ruptura, não representando, por tanto, perigo de colapso da 
estrutura. 
 
Vigas 
Nas flexões simples, o banzo tracionado inicia o processo de fissuração 
quando a carga de tração atinge o limite de resistência do concreto a tração 
e ocorrem de forma perpendicular a trajetória das tensões principais na 
viga. São praticamente verticais no terço médio do vão e se inclinam até 
60​o conforme se aproximam dos apoios. As aberturas iniciam-se na linha 
neutra e se abrem a medida que se aproximam da face inferior da viga. As 
aberturas e espaçamentos entre fissuras dependem da quantidade de 
armadura, sua aderência ao concreto e do cobrimento adotado. 
No caso da Flexão Composta (flexo-compressão) é bem provável que as 
fissuras apareçam primeiro no banzo comprimido da viga. 
 
 
Figura 14 - Viga submetida a ensaio de flexão 
 
 
Lajes 
 
Em lajes de grandes vãos os momentos volventes podem produzir fissuras 
inclinadas nos cantos das lajes, constituindo aproximadamente um 
triangulo isósceles com estes cantos. 
Uma segunda forma de fissura em laje é quando há a ruptura, as fissuras 
aparecerão na linha de giro da laje conforme suas condições de vinculação 
(engastada, apoiada) 
A terceira forma de fissura em laje é quando não há armadura negativa em 
lajes concretadas de forma continua, porem projetadas como apoiadas. 
Essas fissuras aparecem no contorno das lajes, 
Por último, as fissuras por esmagamento em laje ocorre quando há carga 
concentrada superior a resistência a compressão do concreto. 
● Cisalhamento​: A fissura de cisalhamento pura origina-se na alma da viga e 
expande perpendicularmente a fibra tracionada até dividir a viga em duas 
partes. Esse processo é rápido podendo levar a viga ao colapso. 
 
Figura 15 - Fissura por cisalhamento em viga 
● Torção​: As fissuras por torção aparecem em todas as faces da viga com 
desenvolvimento helicoidal. 
 
● Causas: 
Projeto que não atende as normas 
Projeto mal concebido 
Avaliação incorreta das cargas 
Erro de calculo 
Interpretação errada do projeto 
Mudança de uso, aumentando cargas (novo pavimento, por 
exemplo) ou diminuindo resistência (retirada de pilares, furos em 
vigas, etc) 
 
j) Detalhes Construtivos​: De nada adianta fazer os cálculos estruturais 
corretamente se o detalhamento da armação for equivocada. A norma 
apresenta uma série de restrições e exigências afim de diminuir grandes 
equívocos, no entanto ainda assim há muitos erros na concepção dos detalhes 
construtivos, dando origem às fissuras. 
São muitos os casos de erros de concepção, se destacando: 
● Consoles​: Deve-se assegurar a distribuição de uniforme de pressões no 
contato utilizando dispositivo de contato como placas de neoprene. A 
superfície de apoio deve ser menor que a armação do banzo tracionado 
para garantir a integridade dos bordos do console e as barras de aço só 
podem ser dobradas quando a placa de apoio ficar atrás do inicio da 
curvatura da dobra e não existirem cargas horizontais grandes. 
● Mudanças de direção das forças: Quando há mudança de direção das 
forças nas pecas de concreto, como por exemplo vigas em curva, peças 
com cantos salientes, entre outras, há a necessidade de levar em 
consideração as ações provocadas pelo empuxo ao vazio, exigindo 
normalmente armação especial. 
● Transmissão indireta das cargas: Como o concreto não é resistente a 
tração, quando houver a necessidade de pendurar qualquer elemento numa 
peça de concreto é necessário garantir que a força de tração provocada 
pelo pendulicário seja aplicada no banzo de compressão da peça de 
concreto, isto é, na partesuperior de uma viga, por exemplo. Essa garantia 
pode ser feita através de tirantes. 
Essa condição pode ser repetida quando uma viga de maior altura está 
apoiada em uma outra de menor altura. Neste caso a transmissão pode ser 
feita pelo prolongamento da armação longitudinal da viga mais alta, 
ancorando na parte superior da viga de menor altura. 
● Estribos em pilares: Os estribos de pilares só garantem contra flambagem 
aquelas barras que estiverem distante do canto do pilar em no máximo 20 
vezes o diâmetro do estribo. Sendo necessário estribos complementares 
quando essa configuração nao for atingida 
● Aberturas em Lajes e Vigas: ​O comportamento resistente das lajes com 
aberturas depende da forma, tamanho e posição dessas aberturas. 
Aberturas retangulares com tamanho de até um quinto do vão, a simples 
colocação de barras que caíram na posição do vão nos bordos da abertura 
garantem a resistência contra fissuração. Nas vigas só se pode executar 
aberturas onde houver ação exclusiva de força cortante desde que estejam 
na alma e nas bielas de compressão. As aberturas circulares são as mais 
indicadas por ter menos concentração de tensão. 
● Lajes em balanço: Nas lajes em balanço deve-se tomar alguns cuidados 
para que não apareçam fissuras indesejadas. O primeiro deles é a garantia 
do cobrimento das armaduras que deve estar uniforme em toda a face da 
laje. 
Outro cuidado é com a continuidade de carga em balanços superiores. A 
deformação das lajes do pavimento superiores podem sobrecarregar a 
alvenaria nos pavimentos inferiores, gerando tensões para as quais a 
estrutura não foi dimensionada 
Por fim, o cuidado com o escoramento para que não haja tração onde a 
peça foi dimensionada a compressão, usando escoramento parcial apenas 
nas extremidades por exemplo. 
● Eletrodutos embutidos na Laje: ​Comumente aparecem fissuras nas lajes 
direcionadas diretamente até os pontos de iluminação. Essas fissuras 
podem ser ocasionadas por falta de cobrimento adequado do eletroduto ou 
pelo efeito de aquecimento ocasionando movimentação térmica. 
 
● Causas: 
Falha ao detalhar a estrutura conforme seu real funcionamento 
Falta de clareza nos projetos 
Erro de interpretação dos projetos 
Aplicação de aços com diferentes comportamentos mecânicos na 
mesma peça estrutural 
Falha na montagem dos elementos estruturais 
Desconhecimento do desenvolvimento das tensões no concreto 
 
k) Fundações: ​Dentre os problemas de fundações, o que deve ser melhor 
observado são os recalques diferenciais. Os recalques provocam 
movimentação na estrutura, gerando tensões não previstas em projeto, 
causando fissuras indesejáveis que se apresentam na superfícies dos elementos 
que tem a propriedade de serem lugar geométrico das normais aos esforços de 
tração. 
Segundo VARGAS, os recalques podem ser classificados como normais 
(Previsíveis e calculáveis), indeterminados (previsíveis, porem não são 
passiveis de calculo), por deterioração da fundação ou imprevisíveis 
(construções vizinhas, rebaixamento do lençol freático, etc) 
● Causas: 
Falta de investigação do solo 
Erro de calculo 
Tipo de fundação diferente na mesma edificação 
Tipo de fundação inapropriada para o solo 
Qualidade do material empregado inapropriado 
Dificuldade de concretagem abaixo do nível dágua 
Falha no sistema de esgotamento da agua subterrânea 
Falha na compactação do terreno 
Sobrecarga ocasionada por edificações vizinhas 
Presença e desenvolvimento de arvores na vizinhança 
Escavação sem os devidos cuidados 
Deterioração das peças de fundação 
Vibrações 
Sobrecarga com a adição ao projeto original (cobertura, 
pavimentos, etc) 
 
 
2.3. PARTE 3 – DEFINIÇÃO DE CONDUTA 
Nesta etapa define-se a solução a ser adotada para resolver o problema levantado. 
Dentre as diversas alternativas, escolhe-se aquela que apresentar o menor grau de 
incerteza quanto a sua eficiência, o custo/beneficio e tecnologias disponíveis no local. 
Há diversas metodologias de correção de fissuras. A seguir serão descritas algumas 
delas de forma genérica. 
 
 
Figura 16 – Diagrama de soluções para fissuras 
 
a) Fissuras Passivas​: As fissuras passivas são geralmente resultado de um evento 
que já passou ou se estabilizou, não havendo, então, mais ações que favoreçam 
seu crescimento de tal forma que as peças fissuradas podem ser recuperadas de 
forma a recuperarem seu estado original de trabalho. 
 
● Injeção de Resina Epoxi​: A resina Epoxi é um tipo de resina que ao ser 
preparada adquire aspecto bastante fluído (baixa viscosidade) que permite 
a penetração em pequenas aberturas inferiores a 0,1mm. Após certo tempo 
o material endurece e solidifica, adquirindo elevada resistência mecânica. 
● Injeção com Nata de Cimento​: A Nata de Cimento é uma mistura de água 
e cimento, normalmente com fator da ordem de 0,4, adicionado 
plastificantes e expansores. A mistura deve ser feita com equipamento 
especial que garanta a mistura homogênea e a consistência final parecida 
com a de tinta espessa 
● Selagem Superficial com Epoxi​: Para fissuras superficiais e menores que 
0,6mm pode-se preencher (selar) as fissuras com epóxi. A diferença do 
processo é que enquanto na injeção se adiciona a resina através de 
pequenos furos feitos ao longo da fissura, a selagem é feita com a abertura 
de uma calha no eixo da fissura e preenchida com a resina epóxi. Apos o 
procedimento, a peça pode ser revestida normalmente. 
● Revestimentos: Já que as fissuras estão estabilizadas, pode-se usar 
qualquer tipo de revestimento, desde que estes tenham boa aderência, 
espessura e absorvam as imperfeições existentes. 
 
b) Fissuras Ativas​: Se há indícios de movimentação das fissuras (crescimento, 
expansão...) é preciso criar mecanismos para garantir a movimentação da 
estrutura antes de reparar a fissura. Devolver a estrutura a característica 
monolítica nesse caso, fará com que novas fissuras se formem. 
 
● Pinturas Flexíveis​: A aplicação de tinta flexível com tela de náilon 
(opcional) é bastante conveniente quando há rede de fissuras espelhadas na 
superfície, sendo demasiadamente oneroso tratar cada uma separadamente. 
● Selante Elástico​: Para garantir a movimentação da estrutura, a fissura deve 
ser considerada como junta e o selante deve ser capaz de absorver as 
tenções desenvolvidas no local, com características de elasticidade e 
deformabilidade permanente. Para tanto, a fissura deve ser alargada 
(abertura de berço) em função da taxa de trabalho do material utilizado no 
selante, que por sua vez deve-se aderir as laterais do berço e o fundo livre 
para movimentação. 
 
3. Considerações Finais 
 
É de censo comum que as obras de reparo de qualquer patologia são mais onerosas 
que a prevenção delas tanto na fase de projeto, execução e manutenção de uso. 
 
Por outro lado é impossível garantir que as estruturas não irão sofrer com 
quaisquer tipos de patologias ao longo de sua vida útil, seja pelos erros acumulados 
ao longo de sua concepção, construção, uso e/ou por motivos alheios a estrutura 
por si, como construção nas vizinhança ou mudanças ambientais que podem tornar 
o meio mais agressivo do que foi projetado. 
 
Isto posto, o campo de manutenção corretiva de estruturas torna-se vasto e com 
muitas aplicações.Uma das áreas abordadas neste artigo é patologia do concreto 
armado, mas diretamente ligado ao aparecimento de fissuras. 
 
As diversas formas de fissuras são sintomas das anomalias pelo qual a estrutura 
esta passando e são portas de entradas para novas patologias. Podemos fazer uma 
analogia das fissuras como uma gripe, que por si só pode ser grave e levar a óbito, 
como pode ser porta de entrada para novas doenças ou pode ser um doença 
passageira sem menores danos. 
 
As fissuras do tipo passiva (ou estabilizada) indicam que suas causas não atuam 
mais e por tanto o tratamento tem a função de proteger a estrutura contra agentes 
agressivos e/ou reforçar a peça que, dependendo das características das fissuras, 
pode estar em eminência de ruptura por perda de resistencia. 
 
As fissuras ativas indicam que a tendência é de rotular a estrutura naquele ponto ou 
de levar a colapso. Caso seja a primeira hipótese, não é necessário estabilizar a 
fissura, pelo contrario. O ideal seja acelerar, isto é, criar uma junta no ponto de 
fissura para que a estrutura trabalhe como ela esta demandando. No caso de 
possível colapso, a intervenção com reforço se faz necessário pois demonstra que a 
estrutura não está suportanto mais os esforços atuantes naquele momento (seja por 
sobrecarga ou perda de resistência devido aos diversos casos apresentados) 
 
É importante salientar que a pesquisa das causas das fissuras é fundamental para 
perceber o comportamento futuro da estrutura e , assim, fazer o tratamento correto 
para cada caso. 
 
 
Bibliografia 
 
1. CANOVAS, M.F. – ​Patologia y terapêutica del hermigon armado​, Madrid, 
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2. CARMONA FILHO, ANTONIO & CARMONA, THOMAS GARCIA – 
Fissuração nas Estruturas de Concreto – Boletim Técnico ALCONPAT 
Internacional, Mérida – Mexico 2013 
3. DAL MOLIN, DENISE CARPENA – ​Fissuras Em Estrutura de Concreto 
Armado​, Dissertação de Mestrado da UFRS, 1988. 
4. LAPA, JOSÉ SILVA – ​Patologia, Recuperação e Reparo das Estruturas de 
Concreto​, Monografia de especialização em Construção Civil, Departamento 
de Materiais e Construção da Faculdade de Engenharia da UFMG, 2008 
5. LICHTENSTEIN, NORBERTO B. – ​Patologia das Construções​, Boletim 
Técnico 08/86 – Departamento de Engenharia de Construção Civil da Escola 
Politécnica da USP (PCC-USP), 1986 
6. VARGAS, MILTON – ​Fundações de Edificios​, Escola Politécnica da USP, 
1982