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1 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 5 2 CONCRETO ..................................................................................................... 6 2.1 Concreto armado ....................................................................................... 6 2.2 Concreto protendido ................................................................................... 6 2.3 Durabilidade ............................................................................................... 7 3 PATOLOGIAS ................................................................................................... 8 3.1 Causas intrínsecas de manifestações patológicas em estruturas de concreto ............................................................................................................... 8 3.1.1 Falhas humanas durante a construção ....................................................... 8 3.1.1.1 Deficiências de concretagem ................................................................... 8 3.1.1.2 Inadequação de escoramentos e formas ............................................... 11 3.1.1.3 Inexistência do controle de qualidade .................................................... 12 3.1.2 Falhas humanas durante a utilização ....................................................... 12 3.1.2.1 Causas naturais ..................................................................................... 12 3.1.2.2 Causas próprias a estrutura porosa do concreto ................................... 13 3.1.2.3 Causas químicas ................................................................................... 13 3.1.2.4 Causas físicas ....................................................................................... 13 3.1.2.5 Causas biológicas .................................................................................. 14 3.2 Causas extrínsecas de manifestações patológicas em estruturas de concreto ............................................................................................................. 14 3.2.1 Falhas humanas durante o projeto ........................................................... 15 3.2.1.1 Incorreção na consideração de juntas de dilatação ............................... 15 3.2.2 Falhas humanas durante o projeto ........................................................... 15 3.2.2.1 Sobrecargas exageradas ....................................................................... 15 3 3.2.2.2 Alteração das condições do terreno de fundação .................................. 15 3.2.3 Ações mecânicas ...................................................................................... 16 3.2.3.1 Choques de veículos ............................................................................. 16 3.2.3.1 Acidentes (ações imprevisíveis) ............................................................ 16 3.2.4 Ações físicas ............................................................................................. 17 3.2.5 Ações químicas ........................................................................................ 18 3.2.6 Ações biológicas ....................................................................................... 19 3.3 Processos físicos de deterioração do concreto ........................................ 20 3.3.1 Fissuração ................................................................................................ 20 3.3.1.1 Contração plástica do concreto ............................................................. 21 3.3.1.2 Assentamento do concreto/Perda de aderência .................................... 21 3.3.1.3 Movimentação de formas e escoramentos ............................................ 21 3.3.1.4 Corrosão das armaduras ....................................................................... 22 3.3.2 Desagregação do concreto ....................................................................... 23 3.3.2 Desgaste do concreto ............................................................................... 24 4 RECUPERAÇÃO DE PATOLOGIAS .............................................................. 26 4.1 Recuperação superficial do concreto ....................................................... 27 4.1.1 Polimento .................................................................................................. 29 4.1.2 Lavagem ................................................................................................... 29 4.1.2.1 Uso de soluções ácidas ......................................................................... 29 4.1.2.2 Uso de soluções alcalinas ..................................................................... 30 4.1.2.3 Uso de jatos d’água e de areia .............................................................. 30 4.1.2.4 Uso de jatos de ar comprimido .............................................................. 30 4.1.2.5 Jato de limalha de aço ........................................................................... 31 4.1.2.6 Apicoamento .......................................................................................... 31 4 4.1.3 Saturação ................................................................................................. 32 4.1.4 Corte ......................................................................................................... 32 4.2 Recuperação de danos profundos no concreto ........................................ 33 4.2.1 Reparo com graute ................................................................................... 33 4.2.1.1 Grautes minerais.................................................................................... 34 4.2.1.2 Grautes orgânicos.................................................................................. 34 4.2.2 Reparo com concreto convencional .......................................................... 35 4.2.3 Reparo com concreto projetado ................................................................ 35 4.2.4 Reparo com argamassa ............................................................................ 36 4.2.4.1 Argamassa de cimento e areia .............................................................. 36 4.2.4.2 Argamassa tipo “farofa” ......................................................................... 37 4.2.4.3 Argamassa com polímeros .................................................................... 37 4.2.4.4 Argamassa epoxídica ............................................................................ 37 4.2.4.5 Argamassa projetada com adesivo acelerador ...................................... 38 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... 39 5 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequênciaa ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 6 2 CONCRETO O concreto, no sentido mais amplo, é qualquer produto ou massa produzido a partir do uso de um meio cimentante. Geralmente esse meio é o produto da reação entre um cimento hidráulico e água, mas atualmente mesmo essa definição pode cobrir uma larga gama de produtos. O concreto pode ser produzido com vários tipos de cimento e também conter pozolanas, como cinza volante, escória de alto-forno, sílica ativa, adições minerais, agregados de concreto reciclado, aditivos, polímeros e fibras. Além disso, esses concretos podem ser aquecidos, curados a vapor, auto clavados, tratados a vácuo, prensados, vibrados por impactos (shock-vibrated), extrudados e projetados (NEVILLE; BROOKS, 2013). O concreto simples, em geral, é pouco adequado como elemento estrutural resistente, pois apresenta boa resistência à compressão, mas pouca à tração (cerca de 10% da resistência à compressão), tipo de solicitação normalmente verificado em quase todas as estruturas usuais (BASTOS, 2006; CARVALHO, 2007). 2.1 Concreto armado A principal caraterística estrutural do concreto é apresentar boa resistência à solicitação de compressão, mas se mostra frágil à tração e consequentemente à flexão e cortante. Por este motivo, o concreto é normalmente associado ao aço, pois trabalham solidariamente, situação possível em razão das forças de aderência entre as superfícies. Logo, é a aderência que define o elemento estrutural concreto armado (CARVALHO, 2007; ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2014). 2.2 Concreto protendido No concreto protendido, a ideia básica é aplicar tensões prévias de compressão nas regiões da peça que serão tracionadas pela ação do carregamento externo. Deste modo, as tensões de tração são diminuídas ou até mesmo anuladas 7 pelas tensões de compressão pré-existentes ou pré-aplicadas. A protensão atua como melhora na característica negativa de baixa resistência do concreto à tração (TEJEDOR, 2013). 2.3 Durabilidade Nenhum material é indefinidamente durável, pois suas propriedades variam em decorrência da interação da sua estrutura, mais especificamente, da sua microestrutura com o meio ambiente. As variações ocorrem ao longo do tempo e a vida útil de um determinado material se esgota quando suas propriedades tornam seu uso inseguro ou antieconômico [ROQUE, J.A., MORENO JUNIOR, A.L., 2005]. Para a NBR 6118: Durabilidade consiste na capacidade de a estrutura resistir às influências ambientais previstas e definidas em conjunto pelo autor do projeto estrutural e o contratante, no início dos trabalhos de elaboração do projeto. 8 3 PATOLOGIAS Patologia pode ser definida como a parte da Engenharia que estuda os sintomas, os mecanismos, as causas e as origens dos danos das obras civis, visando o diagnóstico do problema [HELENE, 2003]. Os agentes causadores de manifestações patológicas possuem diversas origens, desde falha humana, tanto no projeto como execução, até problemas com a estrutura química dos componentes dos materiais, ou ainda, ataques de agentes agressivos ao material concreto. Para uma melhor compreensão das causas e origens, estas foram divididas e detalhadas em três grandes grupos, apresentados a seguir: causas intrínsecas de manifestações patológicas, causas extrínsecas, e processo físico de deterioração do concreto. 3.1 Causas intrínsecas de manifestações patológicas em estruturas de concreto SOUZA e RIPPER (1998) classificam causas intrínsecas como aquelas em que os processos de deterioração das estruturas são inerentes a elas mesmas, ou seja, as que se originam dos materiais e das peças estruturais, durante as fases de execução ou utilização, por falhas humanas, por questões próprias ao material concreto e por ações externas, inclusive acidentes. 3.1.1 Falhas humanas durante a construção 3.1.1.1 Deficiências de concretagem Em relação à concretagem deve-se levar em conta vários fatores tais como transporte, lançamento, juntas de concretagem, adensamento e cura para que esta tenha o resultado esperado. O transporte do concreto feito em obra ou em concreteiras, desde sua saída, seja em carrinhos de mão ou em caminhões até o momento final de sua aplicação, 9 deve ser feito de tal maneira a não permitir que a massa seque e perca sua fluidez, o que resultaria em uma redução da trabalhabilidade do mesmo. Portanto é de grande importância que o funcionário responsável pela concretagem esteja ciente disto e tenha uma noção intuitiva do volume que cada porção de concreto irá preencher. No caso da concretagem de pilares, a altura de queda livre não deve ultrapassar dois metros para que seja evitada a segregação dos componentes da mistura (ISAIA, 1988). A Figura 1 mostra vazios no pé de um pilar devido ao lançamento do concreto a uma altura maior que a mínima. Figura 1 - Vazios de concretagem em pé de pilar. Fonte: FIGUEROLA, 2006. Conforme NEVILLE (2013), o lançamento e o adensamento são dois processos que ocorrem quase simultaneamente, e a qualidade dos mesmos está diretamente ligada à resistência, impermeabilidade e durabilidade do concreto endurecido. Para que o sucesso desejado seja alcançado, destacam-se os pontos a seguir. Evitar o arrastamento do concreto. Lançamento do concreto deve ocorrer de maneira uniforme, com camadas de mesmo tamanho e evitando-se lançar o mesmo em grandes pilhas e montes. 10 A espessura das camadas lançadas deve ser compatível com o equipamento usado para o adensamento. Após o lançamento de uma camada de concreto, esta deve ser adensada antes de receber a próxima, de modo a expulsar o ar aprisionado na pasta de concreto. Inevitavelmente, devido ao lançamento ter que ser interrompido por causa do transporte que vai abastecendo o local concretado em partes, ter-se-á juntas de concretagem. O mais aconselhado é que estas juntas não se localizem em regiões de elevadas tensões tangenciais e em locais onde ofereçam riscos de deslizamentos de uma face com a outra. ISAIA (1988) lista uma série de importantes medidas a serem tomadas durante a execução da junta para evitar ou minimizar os danos que a mesma causa: A região no qual a concretagem será interrompida, até o próximo volume de concreto ser lançado, deve ser previamente estudada para que se localizem em regiões pouco solicitadas, principalmente ao cisalhamento. Cravar barras de aço no concreto velho com objetivo de aliviar os esforços no plano da junta. A nata da superfície do concreto velho deve ser removida pelo processo de apicoamento, com objetivo de que a mesma se torne mais rugosa, oferecendo uma maior aderência para a camada seguinte a ser lançada. Os locais de maior solicitação da junta, que são os pontos de contato entre as camadas, são os mais suscetíveis a passagem da água ou qualquer outro fluído. Para esta situação, é indicado o uso de adesivo estrutural na face da camada que vai receber o concreto fresco, de modo a aumentar a estanqueidade e impermeabilidade. A Figura 2 mostra um exemplo de execução correta e incorreta de juntas localizadas em suportes inclinados. 11 Figura 2 - Junta de concretagem. Fonte: THOMAZ, 1989. Segundo MARCELLI (2007), o procedimento da cura do concreto muitas vezes não é levado a sério e não recebe a devida importância e cuidados necessários, principalmente em obras de pequeno e médio porte. Há um agravamento quando a execução é realizada por empreiteiros com pouco conhecimento técnico e que trabalham há bastante tempo no ramo e por isso acreditam que já aprenderam tudo o que é necessário, assim acabam não renovando e aprimorando suas técnicas, alegando que suas construções nunca sofreram danos. O quegeralmente não sabem e não levam em conta, é que a cura do concreto se dá devido a uma reação química da água com o cimento. Uma perda de água por evaporação trará como consequência que esta reação não ocorra de maneira completa, levando assim a uma redução da resistência mecânica do concreto, o que pode acarretar a ocorrência de manifestações patológicas na estrutura. 3.1.1.2 Inadequação de escoramentos e formas Segundo MARCELLI (2007), além do fator que remete à segurança da estrutura, deve-se atentar para a necessidade de projetar e executar de maneira correta as formas, devido ao problema de que, quando formas e escoramentos são projetados ou executados incorretamente, acabam por afetar a questão econômica, adicionando valores extras no orçamento final e acarretando prejuízos, pois 12 geralmente implicam serviços adicionais para corrigir os danos, comprometendo a estética. As formas que servem como delimitações do concreto e das barras de aço, devem ser executadas da maneira mais próxima possível da indicada no projeto, obedecer às medidas, assim como o nível e prumo dos elementos estruturais. A montagem deve ser feita corretamente, de maneira a conferir travamento para que no momento ou após o recebimento do concreto não mudem de formato devido ao peso que irão sofrer, caso contrário ocorrerá pequenas mudanças na geometria ou até mesmo aberturas em vigas, pilares, lajes e qualquer outro elemento estrutural, originando problemas patológicos (TAKATA, 2009): 3.1.1.3 Inexistência do controle de qualidade A falta de controle de qualidade quando se trata de estruturas de concreto é um fator muito preponderante na ocorrência de patologias. Sendo o concreto um dos materiais responsáveis pela durabilidade e pela resistência do elemento estrutural, necessitando de um criterioso padrão de qualidade, tanto na produção quanto na execução de qualquer estrutura. “É uma questão fundamental, um ponto de máxima importância, a de que, de forma a se diminuir a possibilidade de deterioração precoce da estrutura, se tenha, durante toda a fase de execução da obra, a assistência de um engenheiro tecnologista e se preste total obediência ás Normas, no que diz respeito à composição e confecção do concreto” (THOMAZ 1989, p.34) 3.1.2 Falhas humanas durante a utilização 3.1.2.1 Causas naturais Consistem nas causas inerentes e próprias das características e propriedades do material concreto, e como o mesmo reage ao ambiente e aos esforços solicitantes a que é exigido durante a vida útil da estrutura. As causas naturais não têm ligação com falhas humanas ou de máquinas e equipamentos. 13 3.1.2.2 Causas próprias a estrutura porosa do concreto Segundo FUSCO (2008), o concreto é um material poroso, e essa característica pode comprometer sua durabilidade devido ao ataque do meio ambiente, principalmente pelo gás carbônico, gerando a carbonatação, e consequentemente o risco de corrosão da estrutura. Outros agentes que podem prejudicar o concreto são os produtos clorados utilizados como materiais de limpeza. Em especial o ácido muriático, que consiste em um dos mais nocivos, sendo um produto que em contato com as armaduras pode causar grandes danos. 3.1.2.3 Causas químicas Segundo SOUZA e RIPPER (1998), para que ocorra uma boa aderência entre o cimento e os agregados, desenvolvem-se combinações químicas entre os mesmos e os componentes hidratados do cimento. Estas combinações são benéficas, pois contribuem para o aumento da resistência mecânica e homogeneidade do concreto, mas em contrapartida em alguns casos, podem ocorrer reações químicas expansivas, que acabam por anular a coesão do concreto. O grande problema desta patologia está no fato que ela possui caráter expansivo, acarretando deste modo fissuração, que por consequência aumenta a porosidade do concreto, deixando este mais suscetível à penetração de vários outros elementos nocivos geradores de patologia. Também a resistência mecânica sofrerá uma redução significativa se as devidas medidas não forem tomadas. Pode- se notar também algumas vezes um gel resultante da reação que escorre das figuras (FUSCO, 2008). 3.1.2.4 Causas físicas Como causas físicas agentes de deterioração das estruturas tem-se a variação da temperatura, insolação, vento e água e tem atuação principalmente 14 durante o período da cura no endurecimento do concreto, variando seus efeitos conforme a composição interna da estrutura de concreto. 3.1.2.5 Causas biológicas PEREIRA (2012) classifica os danos causados pelos agentes biológicos em físicos e mecânicos, estéticos, químicos assimilatórios, e químicos não assimilatórios. Os danos físicos e mecânicos se caracterizam por pressões causadas devido ao desenvolvimento dos microrganismos, que podem levar a estrutura à fissuração. Não há consumo do concreto. Os danos estéticos consistem na mudança de cor e tonalidade da estrutura, não alteram a composição química e a funcionalidade do concreto. Danos químicos assimilatórios, ocorrem quando os microrganismos consomem componentes do concreto e liberam ácidos agressivos como o sulfureto de cálcio. Danos químicos não assimilatórios, são os que ocorrem devido ao metabolismo dos microrganismos que liberam compostos para o ambiente, que por sua vez reagem com os componentes do concreto decompondo seus minerais. 3.2 Causas extrínsecas de manifestações patológicas em estruturas de concreto SOUZA e RIPPER (1988) classificam as causas extrínsecas como sendo aquelas que ocorrem independentemente da estrutura em si, assim como da composição dos materiais e de erros de execução. De maneira geral podem ser entendidas como os fatores que atacam a estrutura de fora para dentro durante a concepção e vida útil da estrutura. 15 3.2.1 Falhas humanas durante o projeto 3.2.1.1 Incorreção na consideração de juntas de dilatação Segundo THOMAZ (1989), os elementos estruturais que compõem uma construção estão expostos à variação de temperatura tanto sazonais como diárias, o que leva a uma variação dimensional dos mesmos (dilatação ou contração), sendo muitas vezes restringidos por vínculos que os envolvem e por consequência geram tensões que podem provocar fissuração. 3.2.2 Falhas humanas durante o projeto 3.2.2.1 Sobrecargas exageradas As sobrecargas são causadoras de patologia quando o engenheiro calculista realiza o projeto de forma a obedecer aos valores indicados pelas normas vigentes, mas que durante a utilização da estrutura são acrescidas cargas que ultrapassam a que foi usada no projeto, vindo assim a gerar patologias. Em geral, isto ocorre em depósitos em que se armazenam equipamentos pesados. 3.2.2.2 Alteração das condições do terreno de fundação Segundo SOUZA e RIPPER (1988), existem casos no qual as condições do terreno e da fundação são modificadas sem haver um cuidado com as construções já existentes, de modo a alterar as condições de estabilidade das estruturas e do terreno. Pode-se citar como modificações, o rebaixamento do lençol freático e execução de obras na proximidade de uma já existente. 16 Figura 3 - Recalques gerados pelo rebaixamento do lençol freático. Fonte: MARCELLI, 2007. 3.2.3 Ações mecânicas 3.2.3.1 Choques de veículos Choques de veículos podem ser causadores ou agravantes de manifestações patológicas em estruturas de concreto, reduzindo drasticamente a resistência mecânica e podendo levar ao colapso (SANTOS, 2014). 3.2.3.1 Acidentes (ações imprevisíveis) Consistem em ações no qual a estrutura sofre de maneira imprevisível. Geralmente são solicitações bruscas, como inundações, sismos, incêndios, choques de veículos inesperados. Segundo CÁNOVAS (1988), as mudanças que ocorrem no concreto durante o incêndio vão se dando com aumento da temperatura. Ao chegar a 100°C, a água capilar contida no interior doconcreto começa a evaporar, entre 200°C e 300°C é totalmente evaporada. Entre 300°C e 400°C ocorre a perda do gel do cimento e consequentemente aparecem as primeiras fissuras. Aos 600°C aqueles agregados que não possuem o mesmo coeficiente de dilatação térmica sofrem expansão e com diferentes intensidades, assim gerando desagregação do concreto. 17 MARCELLI (2010, p. 214) “Quando se atinge temperaturas de 900°C, o cimento se encontra em risco de destruição total”. O quadro 1 mostra a redução da resistência do material concreto diante de um aumento da temperatura. Quadro 1 – Resistência do concreto diante da elevação de temperatura. ALTERAÇÕES NA RESISTÊNCIA DO CONCRETO DEVIDO À ELEVAÇÃO DE TEMPERATURA TEMPERATURA (°C) TRAÇÃO (%) COMPRESSÃO (%) 100 100 100 200 70 85 300 40 75 400 20 50 800 5 50 Fonte: MARCELLI, 2007. Nos incêndios geralmente são distinguidas três fases: a inicial, no qual gradualmente a temperatura sobe. A segunda fase, que é conhecida como “flash over”, no qual há a maior intensidade do fogo possível. Na terceira fase ocorre a redução gradual, até a extinção do fogo, pois os comburentes já foram queimados. Segundo SOUZA e RIPPER (1998, p.51): O instante mais crítico para a estrutura ocorre entre a primeira e a segunda fase, que é quando a temperatura se eleva de forma brusca, atingindo valores entre 1250°C e 1300°C. 3.2.4 Ações físicas Considera-se como principais ações físicas, que originam a degradação de estruturas, as variações de temperatura, incidência direta do sol e ação da água. Segundo THOMAZ (1989): Todo e qualquer material utilizado em uma construção estará sujeito a dilatações e contrações devido à variação da temperatura. A intensidade desta variação, que qualquer elemento estrutural sofrerá varia, de material para material, podendo-se considerar, com algumas exceções, que as movimentações sofridas são quase sempre iguais em todas as direções. 18 3.2.5 Ações químicas Os agentes químicos enquanto considerados causadores de degradação extrínsecos, agem na vida útil da estrutura e atuam de modo semelhante enquanto agentes intrínsecos. Pode-se citar como alguns agressores: ar e gases, águas agressivas, águas puras, reações com ácidos e sais, reações com sulfatos e o gás carbônico quando traz o problema da carbonatação. Segundo NEVILLE (2013, p. 259): O concreto atacado por sulfatos tem uma aparência característica, cor esbranquiçada, com a deterioração começando pelas bordas e cantos, seguida por fissuração e lascamento do concreto. Tendo como causadora desta aparência a formação do sulfato de cálcio (gesso) e sulfoaluminato de cálcio que acabam por ocupar um volume maior do que os compostos anteriores os quais eles substituíram, levando a uma expansão da estrutura do concreto e consequentemente a lascamentos, fissurações, descamação, desintegração e até mesmo redução da resistência mecânica da mesma. Figura 4- Lascamento do concreto por ataque de sulfatos. Fonte: THOMAZ, 2013. CASCUDO (1994), afirma que o processo de carbonatação, geralmente é um condicionador da corrosão das armaduras de estruturas de concreto armado. 19 O processo tem como agente causador o gás carbônico que penetra da superfície externa para a interna, geralmente por meio da difusão. Conforme BARIN (2008): A carbonatação é a ação do CO2, em presença de umidade e outros gases ácidos presentes na atmosfera, como SO2 e H2S, que reagem nas superfícies expostas ao concreto, com os produtos de hidratação do cimento, principalmente com o hidróxido de cálcio, composto cristalino, que forma produtos sólidos, como o carbonato de cálcio (CaCOH3)” (BARIN 2008, p.40). Segundo SOUZA e RIPPER (1998), se a carbonatação atingisse apenas a camada superficial, sem ultrapassar o cobrimento, este processo seria favorável ao elemento estrutural, pois como já dito, haveria uma diminuição da porosidade e um aumento da resistência mecânica. Porém, com a alcalinidade reduzida para valores próximos a um PH 8,5 e a armadura despassivada, o processo ao alcançar as armaduras de aço leva as mesmas a corrosão, desde que haja a presença de água e oxigênio, comprometendo seriamente a durabilidade. Conforme CASCUDO (1997), a despassivação da armadura devido à carbonatação, deixa está extremamente vulnerável à corrosão e praticamente totalmente exposta à atmosfera sem qualquer proteção. 3.2.6 Ações biológicas Ações biológicas podem ser agentes de degradação do concreto em casos em que a vegetação penetra por entre as falhas da concretagem ou mesmo em juntas de dilatação tornando a estrutura mais porosa e consequentemente reduzindo a resistência mecânica. Segundo MARCELLI (2007), algumas estruturas apresentam trincas sem qualquer indicio de falha da parte estrutural tanto na execução como projeto. Isso pode ocorrer devido a um fator externo que pode ser as raízes de uma árvore plantada próxima à edificação de modo que, passado algum tempo, penetram o solo até atingirem as fundações, podendo levantar a construção quando for leve ou causar recalques diferenciais que geram trincas como mostrado na Figura 5. 20 Figura 5 - Trincas causadas pela proximidade com raízes de árvores. Fonte: MARCELLI, 2007. Um caso mais raro e mais difícil de ocorrer é quando formigueiros se instalam no solo abaixo da fundação, acabando por afofar o mesmo e levando a recalques diferenciais, que gerarão patologias na estrutura. 3.3 Processos físicos de deterioração do concreto Como efeito direto e visível da atuação dos agentes extrínsecos e intrínsecos, os processos físicos de deterioração são muitas vezes o sincretismo dos dois últimos (SOUZA e RIPPER, 1998). 3.3.1 Fissuração Segundo CÁNOVAS (1988), são patologias que além do próprio risco que trazem para a segurança da estrutura, também acabam por ser uma porta aberta para a ocorrência de corrosões das armaduras, já que acabam por desproteger o aço. A seguir serão apresentadas algumas das principais causas da fissuração em estruturas de concreto. 21 3.3.1.1 Contração plástica do concreto Em estruturas de concreto, a contração plástica é geralmente a primeira causa que pode gerar fissuras no elemento estrutural, devido a ocorrer logo após a concretagem. Este processo consiste na redução de volume devido à superioridade da taxa de perda da água em relação à taxa de água que foi exsudada, causada pela rápida evaporação da água que está na superfície da mistura antes mesmo do endurecimento da pasta de concreto. Geralmente sua ocorrência se dá em estruturas com grande área superficial, como as lajes (AMARAL, 2011). 3.3.1.2 Assentamento do concreto/Perda de aderência Segundo SOUZA e RIPPER (1998), esse tipo de fissura que se forma devido ao assentamento do concreto, acarreta o efeito parede, que consiste em um vazio que é formado na parte inferior da barra de aço, assim causando uma perda de aderência e fissuras. No caso de as barras estarem próximas e em grande número, poderá haver uma interação entre as fissuras, gerando um quadro mais grave. 3.3.1.3 Movimentação de formas e escoramentos MARCELLI (2007) afirma que em vigas, a fissuração por movimentação de formas, se dá geralmente pela ausência de travamento das bordas superiores, de modo que com o movimento e o peso que o processo de concretagem gera, a forma acaba por ficar suscetível a se deformar, com sua parte superior se deslocando para fora da viga. Em vigas altas nem mesmo o travamento superior impede a deformação, para este caso, o indicado é o uso de tirantes intermediários para evitar o “embarrigamento” da estrutura. No caso de pilares, a movimentação da forma geralmente ocorre pela falta de travamento adequado na sua base, pois é a região que o mesmo recebe a maior pressão devido ao concreto. 22 3.3.1.4 Corrosão das armaduras SOUZA e RIPPER (1998)caracterizam a corrosão das armaduras como sendo a deterioração da camada passivante localizada ao redor da superfície das barras. Sendo esta película formada pelo impedimento da dissolução do ferro, devido à alta alcalinidade da solução aquosa existente no concreto. MARCELLI (2007) afirma que a corrosão da armadura consiste em um processo eletroquímico, que pode ter sua eficiência aumentada por alguns fatores como: agentes agressivos externos e internos, que foram adicionados ao concreto, ou ainda que foram gerados pelo ambiente. Para a corrosão ocorrer de fato, é preciso da presença dos elementos: presença de oxigênio e umidade, e o estabelecimento de uma célula eletroquímica. MARCELLI (2007) afirma que: Nos elementos estruturais em que o aço já foi vítima do processo de corrosão, ocorre um aumento de volume em até oito vezes na parte afetada da armadura, produzindo tensões de tração que o concreto não resiste, surgindo então pequenas fissuras ao longo das armaduras situadas mais próximas da superfície do elemento (MARCELLI 2007, p.113). FUSCO (2008) cita que além do dano causado pela patologia no que diz respeito à resistência mecânica da estrutura, ainda há o agravante de facilitar a penetração de outros agentes nocivos, que podem prejudicar ainda mais as armaduras e o concreto. Figura 6 - Processo de corrosão na armadura. 23 Fonte: MARCELLI, 2007. 3.3.2 Desagregação do concreto SOUZA e RIPPER (1998) entendem a desagregação do concreto, como a separação física do mesmo em fatias, de modo que a estrutura acaba por perder a capacidade resistente a esforços na região desagregada. CÁNOVAS (1988) afirma que os componentes do concreto perdem sua coesão, reduzindo significantemente a resistência mecânica. Vários são os fatores que podem ser causadores da desagregação: fissuração, movimentação das formas, corrosão do concreto, ataques biológicos e o fenômeno da calcinação que consiste na perda de resistência e mudança de cor do concreto, que ocorre quando o mesmo se encontra na presença de fogo e começa a se desintegrar em uma temperatura próxima à 600º C. Figura 7 - Desagregação do concreto em viga. Fonte: ARALDI, 2013. 24 3.3.2 Desgaste do concreto O desgaste da superfície do concreto ocorre geralmente por abrasão, erosão e cavitação. Segundo SILVA (2011), a abrasão consiste no desprendimento do material superficial devido ao arraste, fricção ou atrito causado pela passagem de pessoas, veículos, ou até mesmo por partículas carregadas pelo vento. Tendo ocorrência com maior frequência em lugares de intensa circulação de pessoas e grande tráfego. A magnitude da perda das partículas depende de vários fatores tais como: baixa resistência do concreto, exsudação excessiva, cura inadequada e até mesmo ao ataque químico de agentes agressores. Figura 8 - Piso desgastado por abrasão. Fonte: LATORRE, 2002. A erosão se dá pelo movimento de fluídos ar ou água, os quais agem sobre a superfície do concreto de modo a desgasta-la devido à colisão que esta sofre das partículas em suspensão. Em geral, ocorre em pilares de pontes, canais de irrigação, tubulações e vertedouros SILVA (2011). 25 Figura 9 - Pilar erodido. Fonte: LATORRE, 2002. Outra forma de desgaste sofrida pelas superfícies é pela ação da cavitação. Este processo consiste na formação de bolhas de vapor quando a água está em alta velocidade na ordem de 12m/s. Estas bolhas quando entram em regiões de maior pressão implodem e se impactam, deixando um aspecto corroído na superfície e um efeito mais nocivo quanto maior for o número de bolhas e menores forem. Quando uma região sofre este processo, o problema se agrava devido à mesma se tornar mais propensa a sofrer novamente a cavitação, de modo que o desgaste tenha uma tendência de aumentar cada vez mais caso não for reparado (SOUZA E RIPPER, 1998). Figura 10 - Patologia causada pela cavitação. Fonte: LATORRE, 2002. 26 4 RECUPERAÇÃO DE PATOLOGIAS A qualidade dos serviços de recuperação ou de reforço de estruturas de concreto depende da análise precisa das causas que os tornaram necessários e do estudo detalhado dos efeitos produzidos. Definidos estes dois pontos, passa-se então à escolha da técnica adequada, que inclui a cuidadosa seleção dos materiais e equipamentos a serem empregados e mesmo da mão de obra necessária para a execução do serviço. Os serviços de reforço requerem sempre a prévia elaboração de trabalhos de cálculo estrutural, sejam estes serviços derivados de necessidade de alteração na funcionalidade da estrutura (como um aumento da carga de utilização) ou como consequência de danificação sofrida pela estrutura, casos em que o reforço estará inserido nos trabalhos de recuperação. Segundo SOUZA e RIPPER (1998), é através do cálculo que é possível estabelecer os parâmetros necessários para estabelecimento de alguns fatores, como: a) Definição precisa das peças da estrutura em que será necessário proceder-se ao reforço - e a extensão desta intervenção - e daquelas em que será suficiente apenas a recuperação, entendendo-se como tal a reconstituição das características geométricas, de resistência e desempenho originais; b) Determinação da capacidade resistente residual da estrutura, ou da peça estrutural, e, consequentemente, definição do tipo, intensidade e extensão do reforço necessário; c) Indicação da necessidade ou não da adoção de procedimentos de escoramento durante os trabalhos; d) Avaliação do grau de segurança em que se encontra a estrutura, antes, durante e depois da execução do reforço; e) Escolha da técnica executiva a utilizar; f) Determinação das tarefas necessárias e das quantidades reais de trabalho a realizar, isto é, definição do custo real da empreitada, em conjunto com os elementos da inspeção técnica realizada. 27 SOUZA e RIPPER (1998) citam que o custo final de obras de recuperação ou reforço de estruturas de concreto é função direta da solução (projeto) adotada para a execução da mesma, considerando-se aí incluídos cálculos, metodologias, especificações de materiais e trabalhos complementares, como escoramentos e andaimes, por exemplo, que são muitas vezes determinantes na avaliação da própria viabilidade econômica da obra. Somente assim poderá o proprietário estar apto a decidir, sempre aconselhado pelo especialista, pela execução dos serviços de recuperação e/ou reforço, ou, por outro lado, pela não intervenção, ou ainda pela demolição e reconstrução, total ou parcial, da estrutura. 4.1 Recuperação superficial do concreto Todos as recuperações e reforços estruturais em peças de concreto devem seguir uma conduta rigorosa na preparação e limpeza do substrato, que são os procedimentos preliminares obrigatórios antes da execução do reforço/restauro. Não adianta usar sistemas e materiais apropriados sem preparar adequadamente o substrato, pois o risco de insucesso será muito grande, a ponto de comprometer integralmente a restauração ou reforço. De acordo com MARCELLI (2007), o primeiro serviço é o de preparo do substrato, e pode ser feito de várias maneiras, dependendo das condições locais, da natureza e grandeza dos serviços a serem executados. Quadro 2 – Procedimentos para preparo do substrato. ITEM PROCEDIMENTOS PREPARO DO SUBSTRATO CONCRETO COM SUPERFÍCIE SECA ÚMIDA 01 Escarificação manual Adequado Adequado 02 Disco de desbaste Aceitável Adequado 03 Escarificação mecânica Adequado Adequado 04 Demolição Adequado Adequado 05 Lixamento manual Inadequado Aceitável 06 Lixamento elétrico Adequado Aceitável 28 07 Escovamento manual Adequado Aceitável 08 Pistola de agulha Inadequado Inadequado 09 Jato de areia seca/úmida Adequado Adequado 10 Disco de corte Aceitável Adequado 11 Queima controlada Adequado Inadequado 12Remoção de óleo/graxa Inadequado Adequado 13 Máquina de desbaste Aceitável Adequado Fonte: MARCELLI (2007) A limpeza da superfície é o procedimento que deverá ser executado depois da preparação do substrato e instantes antes da aplicação dos produtos de reforço/restauro. Quadro 3 – Procedimentos para limpeza da superfície de concreto. ITEM PROCEDIMENTOS LIMPEZA CONCRETO COM SUPERFÍCIE SECA ÚMIDA 01 Jato de água fria Inadequado Adequado 02 Jato de água quente Inadequado Adequado 03 Vapor Inadequado Adequado 04 Soluções ácidas Inadequado Aceitável 05 Soluções alcalinas Inadequado Adequado 06 Remoção de óleos/graxas Inadequado Inadequado 07 Jato de ar comprimido Adequado Aceitável 08 Solvente voláteis (acetona) Adequado Adequado 09 Saturação de água Inadequado Inadequado 10 Aspiração a vácuo Adequado Inadequado Fonte: MARCELLI (2007) 29 4.1.1 Polimento Esta técnica é utilizada para reduzir a aspereza da superfície do concreto, tornando-a novamente lisa e isenta de partículas soltas, utilizando-se de equipamentos mecânicos, como lixadeiras portáteis ou máquinas de polir pesadas utilizadas quando a área a ser recuperada é muito extensa (SOUZA, 2006). 4.1.2 Lavagem 4.1.2.1 Uso de soluções ácidas As soluções ácidas ajudam a remover os defeitos que a água não conseguiria. Essa lavagem remove tintas, ferrugens, graxas, carbonatos, resíduos e manchas de cimento, por exemplo. Esta técnica não deve ser utilizada quando se tem uma espessura de cobrimento da armadura reduzida, ou quando o local deteriorado estiver próximo às juntas de dilatação, evitando assim que a solução penetre nessas juntas, ou seja, evitando que ela penetre em locais onde não se tem garantia de sua remoção total. Usa-se, nesses casos, soluções alcalinas (SOUZA, 2006). Inicia-se o processo saturando a superfície onde será aplicada a solução, para evitar que a mesma não penetre na camada sadia de concreto, posteriormente aplica-se a solução por aspersão ou com uso de uma broxa em pequenas áreas até que cesse o processo de descontaminação, ou seja, quando cessar a reação do produto com o concreto deteriorado. Terminada essa etapa inicia-se a lavagem, garantindo sempre a total remoção da solução, primeiramente com o uso de uma solução neutralizadora e posteriormente com jatos de água natural. Segundo SOUZA e RIPPER (1998), apurou-se que as soluções como a mistura de ácido fosfórico e glicólico, a mistura na proporção de 1:7:6 de plasma de nitrato de sódio, glicerina e água quente respectivamente não obtêm o mesmo resultado comparando-as com o uso da solução de ácido muriático diluído em água. 30 4.1.2.2 Uso de soluções alcalinas A lavagem utilizando-se soluções alcalinas possui o mesmo procedimento das soluções ácidas, no que diz respeito à lavagem preliminar e aplicação. Porém, diferencia-se quanto aos cuidados que se deve tomar com estes agentes. Quando se utiliza esse tipo de solução em concretos com agregados reativos, o contato entre os dois pode provocar uma reação denominada álcalis-agregado, que é uma reação expansiva, pela formação de sólidos em meio confinado (SOUZA e RIPPER, 1998). 4.1.2.3 Uso de jatos d’água e de areia Esta técnica remove a camada deteriorada de concreto, utilizando-se de jatos d’água fria potável, normalmente em conjunto com jatos de areia, tanto com o uso alternado da água e da areia, quanto com a mistura dos dois da mesma forma que no concreto projetado por via seca. Após o término de sua utilização, é necessário o uso de jatos de ar comprimido e de água fria antes da aplicação do material de recuperação. Segundo SOUZA e RIPPER (1998) esse método serve também como alternativa ao apicoamento do concreto, promovendo a remoção da camada mais externa de concreto, porém é menos produtivo comparado a sua utilização somente para limpeza, cerca de 25% a 30% a menos. Utilizam-se também jatos de água quente com removedores biodegradáveis quando se quer remover das superfícies resíduos muito gordurosos ou manchas muito impregnadas, mas para isso deve-se contratar operadores experientes e usar o EPI (Equipamento de Proteção Individual) adequado (AZEVEDO, 2011). 4.1.2.4 Uso de jatos de ar comprimido O jato de ar comprimido é utilizado para complementação da limpeza quando o uso dos jatos de água ou areia não for suficiente. Ele tem a função de promover 31 a remoção das partículas em cavidades, devendo sempre o sopro ser procedido do interior para o exterior ou ainda para a secagem de superfícies ou de fissuras antes da injeção das mesmas (SOUZA, 2006). 4.1.2.5 Jato de limalha de aço Este método possui boa eficiência para grandes áreas e não há a necessidade do uso de água. O jato quebra a superfície de concreto menos resistente, e proporciona a abertura imediata dos poros, fazendo com que aumente a aderência do material de recuperação (SOUZA, 2006). 4.1.2.6 Apicoamento Este tipo de procedimento é utilizado para remoção da camada externa do concreto que será complementada com o material de recuperação, segundo SOUZA e RIPPER (1998) a espessura de retirada nesse método não ultrapassa 10 mm. Figura 11 - Apicoamento manual da superfície de concreto. Fonte: SERCPINT (2011) 32 O apicoamento exige cuidados específicos e é executado de forma artesanal. É proibido golpear a região, para que a integridade das arestas e contornos da região em tratamento sejam preservados (DER/SP, 2006). 4.1.3 Saturação O processo de saturação da superfície do concreto serve para aumentar a aderência do material de recuperação (concreto ou argamassas de base cimentícia). Segundo SOUZA e RIPPER (1998), o tempo médio de saturação é de aproximadamente 12 horas. A aplicação de água pode ser por verti mento contínuo, o que pode ser simples em casos de lajes ou outras superfícies horizontais, ou por molhagem de elementos intermediários, como sacos de estopa, que são então aplicados sobre as superfícies, o que é muito usado não só horizontalmente, mas também em vigas e pilares. No caso de paredes verticais, é comum garantir-se a molhagem contínua através de uma mangueira furada - furos com espaçamento da ordem dos 15 cm - funcionando como "sprinklers". Deve-se observar que a superfície que receberá o material de recuperação tem que estar apenas úmida sem possuir poças de água. 4.1.4 Corte O corte é a remoção de porções profundas de concreto degradado. Esse processo utiliza-se de martelo demolidor com massa de 6 a 10 kg, com ponteiro terminando em ponta viva. Segundo Andrade y Perdrix (1992): Caso não haja o corte do concreto além das armaduras, limpando-se somente o lado exterior e deixando a parte posterior recoberta pelo concreto velho, isso dá início a uma pilha de corrosão eletroquímica por diferença de material. Para melhor aderência do novo concreto, a superfície interna do corte deve ter suas arestas arredondadas e na forma de um talude de 1:3, segundo SOUZA e RIPPER (1998). Terminado o corte a superfície do concreto deve seguir uma 33 sequência de limpeza, que são: jateamento de areia, seguido de jateamento de ar comprimido, terminando com jateamento de água. Figura 12 - Aspecto final da cavidade na intervenção de corte de concreto Fonte: SOUZA e RIPPER (1998) 4.2 Recuperação de danos profundos no concreto Os danos no concreto podem ser classificados entre danos superficiais, danos semiprofundos e danos profundos. Danos superficiais são aqueles de até 2,0cm de profundidade, danos profundos são aqueles de até 5,0 cm de profundidade, e a partir deste valor são os danos considerados profundos (SOUZA e RIPPER, 1998). Já MARCELLI (2007), cita que os danos superficiais são aqueles que compreendem um valor de até 2,5cm de profundidade. 4.2.1 Reparo com graute O reparo com graute é bastante utilizado quando se precisa desformarrapidamente o local reparado para utilização da estrutura. Como o graute atinge alta resistência muito rápido, as formas podem ser retiradas depois de 24 horas de executado (SOUZA e RIPPER, 1998). Este produto possui boa fluidez, compacidade, uniformidade e não apresenta retração e é auto adensável. A cura deve ser úmida e por 3 dias (MARCELLI, 2007). 34 De acordo com TULA (2002), pode-se classificar os tipos de graute em: grautes minerais (à base de cimento) e grautes poliméricos ou orgânicos (à base de resina). 4.2.1.1 Grautes minerais Os grautes minerais, à base de cimento, podem ser classificados segundo o tamanho do agregado utilizado: a) Grautes injetáveis: agregado muito fino: partículas menores que 75 mícrons; b) Grautes de argamassa: agregado miúdo: máxima característica menor ou igual a 4,8 mm; c) Grautes de microconcreto: pedrisco ou brita 0: dimensão máxima característica menor ou igual a 9,5 mm; d) Grautes de concreto: com adição de até 30% de brita 1: dimensão máxima característica menor ou igual a 19 mm. Os grautes de base mineral recebem uma classificação de acordo com a utilização preponderante. Assim, encontram-se no mercado denominações do tipo: de uso geral, de construção, de uso industrial, para injeção, de reparo, de uso submerso, para altas temperaturas, entre outras. Alguns fabricantes ainda sugerem pequenas variações à classificação descrita para ressaltar alguma característica particular de um determinado produto ou, ainda, a adição de algum elemento particular (TULA, 2002). 4.2.1.2 Grautes orgânicos De acordo com TULA (2002), os grautes de base orgânica são materiais de características e usos mais específicos, recomendados para situações especiais em 35 que se exige alta aderência e resistência a cargas cíclicas e dinâmicas, pois não sofrem o efeito de fadiga comum aos grautes à base de cimento. 4.2.2 Reparo com concreto convencional Este método exige a execução de formas e alto conhecimento da tecnologia do concreto, para que sejam feitas dosagens adequadas e que garanta um baixo valor do fator água/cimento. Deve-se observar que na execução desta técnica, deve ser feito a concretagem um nível acima do reparo. Isto serve para garantir o total preenchimento do local a ser reparado. Chama-se “cachimbo” a abertura por onde o concreto passará (SOUZA e RIPPER, 1998), no caso de pilares. Para as vigas, o dispositivo que se assemelha ao cachimbo é o de “pressão”. Figura 13 - Detalhe da forma. Fonte: SOUZA e RIPPER (1998) 4.2.3 Reparo com concreto projetado A NBR 14026, diferencia concreto projetado de argamassa projetada. Concreto projetado é: Concreto com dimensão máxima característica do agregado maior ou igual a 9,5mm, transportado através de uma tubulação, projetado sob pressão sobre uma superfície, com compactação simultânea. 36 Esta técnica de reparo com concreto projetado consiste em se conduzir concreto ou argamassa sob pressão contínua, através de uma mangueira ou mangote, projetando-o em alta velocidade sobre a base, ou seja, acima de 120 m/s (SOUZA e RIPPER, 1998). A força do jato comprime o material, sem necessidade de vibradores, deixando-o bem aderido à superfície projetada, podendo o locar a ser reparado estar em qualquer posição (horizontal, vertical ou inclinada). Corretamente aplicado, o concreto projetado é um material estruturalmente adequado e durável, capaz de excelente aderência com outro concreto, aço, alvenaria e outros materiais. Entretanto, estas propriedades favoráveis dependem de um correto planejamento, supervisão constante, operador habilitado e atenção contínua durante sua aplicação (AZEVEDO, 2011). 4.2.4 Reparo com argamassa Esta é uma técnica que é utilizada em pequenas áreas, e em profundidades de até 5,0 cm. Esta técnica é normalmente empregada apenas para os casos em que o que está deteriorado é a camada de concreto de cobrimento das armaduras, sendo, portanto, de grande importância que o interior do elemento estrutural não apresente anomalias, ou, caso as apresente, que elas sejam sanadas antes da utilização desta técnica (RELVAS, 2004). 4.2.4.1 Argamassa de cimento e areia Geralmente confeccionada no traço de 1:3 e com fator água/cimento de 0,45 (SHEHATA, 1998). Pode ser, ou não, aplicada em cima de um adesivo epoxídico. Não será necessário se a base estiver devidamente enrugada, a fim de garantir a aderência do novo material à base. A cura, segundo RELVAS (2004), dura de 1 a 3 dias, dependendo das condições climáticas em que a superfície se situa. E não deve ser feito mais do que 1,0cm de camada por vez. Ou seja, apenas deve-se proceder à próxima camada 37 quando a anterior já estiver curada e resistente, a fim de minimizar os efeitos da retração. 4.2.4.2 Argamassa tipo “farofa” Segundo BEZERRA (1998), argamassa farofa é aquela que É uma mistura de cimento Portland com areia fina, na proporção de uma parte de cimento para 2,5 a 3 partes de areia em peso, com o fator água/cimento compreendido entre os valores 0,33 e 0,40. É importante observar se não surgem fissuras de retração nesta argamassa. Para que isso não ocorra, BEZERRA (1998) indica o uso de aditivos expansivos e promover a cura por 5 dias. 4.2.4.3 Argamassa com polímeros MARCELLI (2007) define argamassa polimérica: São argamassas à base de metil-metacrilato ou epóxi e apresentam as vantagens de fácil moldagem, apesar de necessitar de forma, têm boa aderência e resultado estético satisfatório. No entanto, requerem mão-de- obra especializada e geralmente são caras. Atualmente é utilizada na sua grande maioria argamassa industrializada, adicionada principalmente de adesivo acrílico, pois este pode ser utilizado em ambiente externo. Há também argamassas com polímeros PVA, que são pouco utilizados devido a sua restrição de uso em ambiente externo (AGUIAR, 2011). 4.2.4.4 Argamassa epoxídica SOUZA e RIPPER (1998) caracteriza argamassa epoxídica: Apresentam excepcional aderência ao aço e ao concreto, são recomendadas para recuperar superfícies de concreto de vertedouros, canais, bordas de juntas de dilatação de estruturas de concreto, pistas e rodovias de concreto de CP e elementos estruturais expostos a agentes agressivos, além de também serem apropriadas para todos os casos de 38 reparos nos quais haja a necessidade de liberação da estrutura poucas horas após a execução do serviço. Segundo JOHNSON (1973), quando se trata de recuperar seções de espessura fina ou quando se deve pôr em serviço a obra antes que a argamassa ou o concreto normal tenha tempo de endurecer, deve-se utilizar uma argamassa tendo a resina epóxi como aglomerante. Nos demais casos, é mais econômico utilizar-se outro tipo de argamassa. MARCELLI (2007) também define argamassa epoxídica: Como o próprio nome diz, são colas à base de epóxi com alto poder de aderir o concreto velho ao novo, além de ser uma eficiente barreira de proteção contra os ataques de agentes agressivos; no entanto, requer forma e nem sempre apresenta um resultado estético satisfatório. 4.2.4.5 Argamassa projetada com adesivo acelerador Segundo SOUZA e RIPPER (1998), a argamassa deve ser misturada a seco, com um traço cimento/areia de 1:3 até 1:4,5, e o fator água-cimento deve ficar compreendido entre 0,35 e 0,55, juntando-se o aditivo acelerador na proporção de 2% a 6% do peso de cimento. 39 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118: Projeto de estruturas de concreto: procedimentos. Rio de Janeiro, 2014. 170 p. AGUIAR, J. E. Avaliação dos ensaios de durabilidade do concreto armado a partir de estruturas duráveis. Tese de M. 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