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Literatura cearense

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4 Mulheres Escritorasas pioneiras do século XIXGildênia Moura e Carla Castro
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CURSO
Realização
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Bárbara de Alencar, Jovita Feitosa 
e Maria Tomásia 
são tipos que honram o nosso sexo 
pela sinceridade do 
sentimento que as impelem 
a transpor o poético 
domínio do lar”
Alba Valdez, em Dias de Luz: 
recordações da adolescência (1907)
1.
NEM PERNAS, 
NEM BRAÇOS 
CRUZADOS 
uando falamos em lite-
ratura de autoria femi-
nina cearense, logo nos 
vem à mente o nome 
de Rachel de Queiroz 
(1910-2003). Nascida em 
Fortaleza no dia 17 de 
novembro de 1910 e fa-
lecida no Rio de Janeiro 
em 4 de novembro de 
2003, a autora foi tradu-
tora, romancista, poeti-
sa, jornalista e cronista. Eternizada pelo ro-
mance de estreia O quinze e pela vasta obra 
produzida, foi ela a primeira mulher a ingres-
sar na Academia Brasileira de Letras, em 1977. 
50 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
CONFEITOS
to da crítica literária nacional, procuramos 
fontes locais que pudessem preencher 
essa lacuna, entre eles: Dolor Barreira, Má-
rio Linhares, barão de Studart e Sânzio de 
Azevedo, mas ainda assim havia poucas 
referências sobre as escritoras desse perí-
odo. Entre elas: Alba Valdez (1874-1962), 
a primeira mulher a ingressar na Academia 
Cearense de Letras, pioneira ao levantar a 
bandeira do feminismo no estado ao ser 
uma das fundadoras da Liga Feminista 
Cearense ainda em 1904; Francisca Clo-
tilde (1862-1935), professora, poetisa, dra-
maturga, autora do romance A divorciada, 
em 1904; as irmãs Henriqueta Galeno 
(1887-1964) e Júlia Galeno (1890-1978), 
filhas do poeta Juvenal Galeno e Emília 
Freitas (1855- 1908), autora do romance A 
rainha do ignoto, em 1899.
Esses eram os nomes de escritoras ci-
tados com maior recorrência nos estudos 
sobre a Literatura Cearense, mas não para-
mos neles, fomos mais além, descruzamos 
os braços da crítica e desbravamos arquivos 
públicos, banco de dados de periódicos, 
percorremos páginas e páginas das mais 
diferentes fontes bibliográficas para encon-
trar essas mulheres de mãos dadas com o 
nosso passado literário. 
Neste módulo, você irá conhecer um 
pouco mais sobre essas escritoras que moti-
vam nossos estudos dentro e fora da acade-
mia. Iremos discutir, na poesia e na prosa, o 
seu legado, além de refletir sobre a presença 
e a ausência de cada uma delas na literatura 
e na historiografia cearense do século XIX e 
início do século XX. Vem com a gente!
Entretanto, Rachel pertence à literatura dos 
séculos XX e XXI. Você pode se perguntar: e 
nos séculos anteriores a mulher cearense 
não participava do mundo das letras? Have-
ria, portanto, outras escritoras que lhe ante-
cederam? Teriam sido além de intelectuais, 
também atuantes nos movimentos sociais 
como, por exemplo, na causa abolicionista? 
Quem teriam sido as pioneiras escritoras ce-
arenses do século XIX ao início do século XX?
A nossa curiosidade é ainda maior se le-
varmos em consideração que “a Belle Épo-
que [no Ceará, de 1860 a 1930] foi sem dúvi-
das a época de ouro da instituição literária, 
tanto no Brasil, como na Europa e em todo 
o mundo, marcado pela influência cultural 
europeia”. (SEVCENKO, 1989, p.226)
Para responder a essas questões, bus-
camos em vão encontrar os seus nomes 
nos compêndios Formação da Literatura 
Brasileira, de Antonio Candido, e História 
Concisa da Literatura Brasileira, de Alfredo 
Bosi. Diante dessa notória invisibilização 
histórica ou mesmo pelo desconhecimen-
Emília Freitas, nacionalmente 
projetada na contemporaneidade, 
pela redescoberta do seu 
romance A rainha do ignoto (1899), 
produziu também poemas, alguns 
publicados em jornais da época 
e outros reunidos no livro 
Canções do lar (1891).
CURSO literatura cearense 51
 2.
POETISAS 
À MARGEM 
Fico feliz, as mulheres não estiveram assim 
tão ausentes do romance brasileiro, apenas 
foram lançadas ao oblívio. Ainda surgirão 
outras. No Ceará, terra de matriarcado, 
com heroínas, potentadas, guerreiras 
valentes, abolicionistas, haveria de haver 
romancistas anteriores a Rachel de Queiroz. 
“Mas a rotina da educação provinciana, a 
timidez, a resignação um tanto oriental do 
seu temperamento, tudo leva a negligenciar 
o cultivo do espírito em proveito das 
utilidades da feminilidade tradicional”, 
como escreveu nosso poeta Antônio Sales, 
citado no livro da professora Cecília Maria 
Cunha, Além do amor e das flores: primeiras 
escritoras cearenses.
Ana Miranda, em “As nitio-abás 
de antigamente” (O POVO)
A literatura, e particularmente o jornalismo, 
foi o primeiro universo masculino a se 
deixar invadir, estranhamente sem muitas 
dificuldades, pelas mulheres. Certamente 
as mulheres, sempre relegadas aos ofícios 
domésticos, eram consideradas inofensivas 
porque incapazes. Nesta perspectiva, a 
linguagem “sutil e perfumada” seria o 
melhor disfarce.
Anne Carrier
oje sabemos que não só no 
Ceará, mas em todo o mun-
do, houve um apagamento 
histórico do nome das es-
critoras. Para a pesquisado-
ra Constância Lima Duarte, 
este fenômeno se chama 
“memoricídio”. O termo é 
utilizado para se referir ao 
apagamento das produções artísticas 
e científicas de autoria feminina com 
o intuito de silenciá-las e invisibilizar suas 
produções intelectuais. No Ceará, é possível 
verificarmos isso ao consultarmos os livros 
de literatura e de história cearenses. 
Para ilustrar essa discussão, citamos, 
por exemplo, os nomes das irmãs Amélia 
de Alencar Mattos e Olga de Alencar Mat-
tos que, ainda em 1902, editaram o jornal O 
Astro, originário de Baturité e que anos de-
pois transferiu-se para Fortaleza. O periódi-
co dirigido por mulheres foi editado durante 
sete anos e ainda assim os nomes de suas 
dirigentes são completamente desconheci-
dos da história, da literatura e da imprensa 
cearenses. O Astro é, em plena virada do sé-
culo, um valioso exemplo de afirmação 
do poder de atuação das mulheres fora 
do ambiente doméstico e à frente de im-
portantes estabelecimentos comerciais.
Nesse sentido, foram os periódicos os 
principais meios de publicação para muitas 
das escritoras brasileiras. O Ceará não foge 
a esta regra, sendo a poesia escolhida como 
o gênero inicial da nossa formação literária 
desde os Oiteiros, sendo naturalmente o 
pórtico também para o ingresso das primei-
ras mulheres na literatura cearense. 
Por exemplo, Úrsula Garcia (1864-
1905), que além de poetisa, foi cronista, 
ensaísta e a primeira mulher nordestina 
a fazer jornalismo político. Entre tantas 
funções e cargos que ocupou, foi membro 
da Liga Feminina do Ceará, do Le Monde 
Marche e da Oficina Literária Martins Júnior. 
Em 1902, fundou, juntamente com Amélia 
Beviláqua – esposa do jurista Clóvis Bevi-
láqua –, a revista feminina O Lyrio. Sobre a 
autora, o escritor Dimas Macedo nos revela: 
Colaborou em jornais e revistas do Ceará e, 
em Pernambuco, registrou assídua presen-
ça nas páginas de O Lyrio, e ali publicou O 
livro de Bella, em 1901, segundo Raimun-
do de Menezes, no seu Dicionário literário 
brasileiro (Rio, 2ª ed., 1978). Para Luís da 
Câmara Cascudo, Úrsula Garcia foi “um es-
pírito tranquilo e doce, a exemplo das mo-
ças prendadas de outrora. Escreveu muito, 
52 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
MALACA
CHETAS
A palestra “Memoricídio” foi proferida 
durante o XVIII Seminário Internacional 
Mulher & Literatura, no dia 14 de agosto 
de 2019, na Universidade Federal de 
Sergipe (UFS), campus São Cristóvão, 
no auditório da Reitoria, com o subtítulo 
“o apagamento da história das mulheres 
na literatura e na imprensa”. 
Com os jornais, revistas e livros vindos 
do estrangeiro ou mesmo publicados 
no Brasil, mas com influência europeia, 
os papéis destinados às mulheres 
ficaram restritos às funções familiares 
e domésticas, com o enaltecimento 
da figura da “mãe”. O Ceará também 
tentou incorporar a cultura europeia. 
A Fortaleza de 1860 a 1930 recebeu 
reformas urbanas com característicasfrancesas, período denominado de 
Belle Époque. A influência europeia 
não ficava apenas nas construções e 
reformas de prédios, mas também nos 
costumes, na moda, na literatura e na 
educação da burguesia fortalezense.
BOLACHINHAS
mas sua produção está esparsa e ignorada. 
Diversos artigos de política regional, de sua 
autoria, divulgados sem assinatura, eram 
dados como pertencendo aos jornalistas 
do tempo, tal a graça do retoque, a delica-
deza do estilo, a finura dos reparos e a força 
convincente da argumentação”.
Na obra História literária do Ceará, Mário 
Linhares nos conta que Úrsula Garcia “deixou 
vultoso número de poesias publicadas em 
revistas e jornais, nas quais ressalta um su-
ave sentimento lírico, uma requintada deli-
cadeza de coração”. (LINHARES, 1948, p.106). 
Dessa primeira geração de mulheres 
de letras, destacamos ainda nomes pouco 
conhecidos como o da poeta Abigail Sam-
paio (1897-1990). Nascida em Paracuru (CE) 
em 9 de dezembro de 1897, filha de Josué 
Assis Sampaio e Luiza Vieira Sampaio. Pu-
blicou o livro Luar de prata, em 1923, e não 
Luar de pátria como descrevem erronea-
mente alguns livros, como Evolução da poe-
sia e do romance Cearenses, de Artur Eduar-
do Benevides, e inúmeros sites da internet. 
Luar de Prata foi traduzido e publicado em 
espanhol, em 1929, no Uruguai. Em colabo-
ração com sua irmã Maria Sampaio publi-
cou Átomos e scentelhas (1928), Corolas de 
cristal (versos) e Manacá. A poetisa colabo-
rou em diversos jornais e revistas do Brasil, 
do Uruguai e da Argentina, e faleceu em 29 
de novembro de 1990.
Maria Sampaio de Andrade (1888-
1975), irmã de Abigail Sampaio, nasceu 
também em Paracuru (CE), no dia 7 de 
janeiro de 1888. Seus poemas foram pu-
blicados em diversas revistas e periódicos 
nacionais e internacionais. Casada com o 
jornalista Claro de Andrade Júnior, tiveram 
cinco filhos. A poetisa, além de coautora 
do livro Átomos e scentelhas, publicou po-
emas em O malho, bem como nas revis-
tas Fon-Fon e Vida doméstica, do Rio de Ja-
neiro. A autora faleceu no ano de 1975 e foi 
sepultada no distrito de Guaribas, em São 
Gonçalo do Amarante (CE). O poema “Pa-
racuru”, a seguir, de Átomos e scentelhas, é 
uma homenagem a sua terra natal:
CURSO literatura cearense 53
Volto ao fim de algum tempo a essa terra onde tive
Meu berço, e que tristeza e que mudança agora!...
No seu regaço amigo e doce já não vive
Aquela mesma gente álacre e sã de outr’ora.
O mesmo glauco mar, o mesmo céu embora!
– Invólucro vazio – arrasada Ninive –
E numa compunção em que a alma se estertora,
Genuflexa a rezar por longo tempo estive.
Miserére da dor em requiem de agonia
Mandei ao céu de além na asa da ventania,
Que passava também cantando uma oração....
Contraste do que foste, eu vejo, em triste assomo,
Que tu, terra infeliz, porém bendita, és como
Uma esfera sem luz perdida na amplidão.
A revista Vida doméstica, do Rio de Ja-
neiro (abr/1930), em uma breve resenha de 
Átomos e scentelhas as apresenta: 
Maria e Abigail Sampaio são duas irmãs. 
Ambas poetisas e de inspirado estro, 
como se pode ver pelos sonetos que se-
guem. Maria [...] não oculta nos Átomos 
os seus pendores parnasianos. É uma 
poetisa de talento. O melhor trabalho da 
parte que lhe coube é o soneto “Árvore”. A 
sra. Abigail produziu parte de Scentelhas, 
que se distingue por um tom de ingenui-
dade: pequeninos episódios sentimen-
tais, emoções panteístas, tudo numa 
autêntica estilização acentuadamente 
jeune-fille. É dela o soneto “Velhice”.
A este grupo de mulheres pioneiras, de-
vemos trazer o nome de Ana Facó (1855-
1922). Professora, por profissão – atuou 
como diretora do primeiro Grupo Escolar 
de Fortaleza, em 1907, lá atuando até apo-
sentar-se em 1913 –, a escritora, por sua 
vez, colaborou bem menos nos periódicos, 
mas em compensação, redigiu mais livros 
do que as demais escritoras de sua época. 
São eles: Rapto jocoso: romance popular 
histórico (1937) e Nuvens, ambos roman-
ces, Minha palmatória (1906), contos edu-
cativos, Comédias e cançonetas, inventário 
de peça teatrais, Páginas íntimas (1938), 
memórias, e Poesias, entre outros – como, 
No bonde, também de poesias, e textos 
dispersos em outros periódicos. 
Entretanto, só conseguiu publicar o seu 
livro de contos e os dois romances em for-
mato seriado de folhetins em jornais: Jornal 
do Ceará (1907), como confirma Abelardo F. 
Montenegro em O romance cearense (1953) 
(AZEVEDO, 1976, p. 208), e Minha palmató-
ria, em A República (1899). Este, destinado 
à educação moral de seus alunos, traz, em 
tom humorístico, característico da produção 
ficcional da autora, os modismos e esnobis-
mos da época, como o “afrancesamento” da 
alta sociedade fortalezense na Belle Époque.
O conjunto de sua obra só saiu impres-
so em formato livro entre 1937 e 1938, após 
sua morte, por iniciativa de sua família.
As narrativas dos romances de Ana ver-
sam sobre histórias de “amor contrariado”. 
A primeira, Nuvens, acontece no seio da 
mocidade da capital cearense, em plena 
Belle Époque, enquanto que Rapto jocoso 
traz como cenário uma aldeia no interior 
cearense – Beberibe (CE). Mais uma vez há o 
predomínio do tom divertido e até irônico da 
narrativa, privilegiando os diálogos repletos 
– com certo excesso de tratamento proposi-
tal de linguagem – de expressões e provér-
bios populares, uma marca das produções 
regionalistas. Os costumes da época, como 
bailes, brincadeiras e casamentos matutos 
são cuidadosamente descritos, ao passo que 
as personagens são construídas nitidamen-
te enraizadas na realidade cearense com o 
predomínio da análise psicológica de suas 
protagonistas. A ação do romance é rápida, 
o que é uma novidade para a época, e pre-
dominam o humor e as cenas pitorescas que 
tornam ainda mais leve e agradável a leitura.
Álacre
Alegre, animada
MALACA
CHETAS
Ana Facó assinava com o pseudônimo 
“Nítia-Abá” que, em tupi-guarani, 
significa “ninguém”.
54 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
BOLACHINHAS PASSANDO
A LIMPO
MALACA
CHETAS
Geraldina Amaral, biógrafa e ex-aluna 
de Ana Facó, diz sobre seus romances ( jor-
nal Âncora, em 1952): “[...] deu um aspecto 
cuidadoso, principalmente no que se refe-
re à forma, à linguagem; e não se esqueceu 
ela que a fabulação também deve preocu-
par a artista. Não se impressionou apenas 
com a plástica, burilando a palavra, mas 
com a concepção, com o processo mental 
que daria corpo e alma às personagens, 
saliência e cor aos fatos e coisas.”
Mas se esta seção se dedica a falar das 
poetisas cearenses, não podemos dei-
xar de incluir aqui a obra poética de Ana 
Facó: Poesias (1937). A pesquisadora Cecí-
lia Cunha nos descreve que o livro é “com-
posto de três partes: o lar, o jardim, mãe e 
a filha. O início é bastante descritivo do lar 
onde moram mãe e filha, pois o pai está 
morto. O ponto central [...] é a descoberta 
do amor de Alnira: o sofrimento e depois a 
felicidade.” (CUNHA, 2008, p. 207). 
Para aguçar ainda mais a sua curiosida-
de sobre a autora, o poema “A mulher”:
Emancipam-se os escravos
E a mulher escrava jaz,
Sem que seja discutida
Sua escravidão mantida
Por quem dela mui se apraz,
Qual não crendo que haver possa
Mulher livre e doce paz.
[...]
Negar-lhe toda a ciência,
E até seu próprio dever
Não lhe ensinas. Mas se um dia
Cede ingênua, sem porfia, 
Às seduções do teu ser,
No lamaçal da miséria
Sacudida vai gemer.
Cecília Cunha conclui que “[...] Ana Facó 
pode ser considerada como a autora que 
mais insiste em abordar aspectos da 
vida feminina em seus escritos.”
Por último, gostaríamos ainda de incluir 
no hall das escritoras cearenses pioneiras 
Antônia Sampaio Fontes (1884-1963). 
Nascida em Baturité, em 24 de fevereiro de 
1884, filha de Antônio Jardim e Maria Sam-
paio Jardim. Casou-se com Israel Pinheiro 
Fontes, fugindo da seca foi com o esposo 
para o Acre, voltando para o Ceará anos de-
pois. O casal teve seis filhos. A poetisa fale-
ceu no dia 2 de março de 1963. Seus poemas 
foram reunidos e publicados postumamen-te por seu neto Eduardo Fontes, em dois li-
vros Relíquias do coração e Samambaia. 
A seguir, o poema “Rosas” de Antônia 
Sampaio Fonte, publicado em A Razão (1930):
Já desfralda a flâmula da Aliança!
O céu se abre e mãos cadenciosas
Jogam do Além, em profusão mil rosas,
Por sobre vós, ó bravos da esperança!
Rosas de amor, de fé, perseverança,
Da cor do sangue, ó almas valorosas!
Avante pois, que as lindas perfumosas,
Sirvam de glória a paz que já se alcança.
Rosas no peito e rosas nas granadas,
Rosas no mar e ao longe das estradas,
Rosas no altar da Pátria que estremece!
Rosas do Azul que vêm de João Pessoa,
Que despertando, em rosas abençoa
Esse raiar de sol que resplandece!
Esperamos, ao apresentar essas escrito-
ras ao público leitor, dar voz a elas, artistas 
que tiveram significativa participação no 
enriquecimento cultural, educacional e in-
telectual cearense e que não devem jamais 
ser silenciadas pelo esquecimento da crítica. 
Conhecê-las é oportunizar também o en-
contro com novos mananciais, estabelecer 
diálogos com o cânone, criar bases para fu-
turas pesquisas. Ansiamos também que você 
tenha ainda mais curiosidade em conhecer 
as mulheres que escreveram e escrevem em 
sua cidade, em seu estado, em seu país.
Em Dicionário de literatura cearense de 
Raimundo Girão e Maria da Conceição 
Sousa, na Cronologia da cultura cearense 
de Silva Nobre e no importante Dicionário 
crítico de escritoras brasileiras de Nelly 
Novaes Coelho o nome da poetisa 
cearense foi erroneamente grafado 
como Antonieta Sampaio e não como 
Antônia. Somente ao encontrar o raro 
exemplar de Relíquias do coração, na 
biblioteca da Universidade de Fortaleza, 
é que a pesquisadora Carla Castro 
descobriu a grafia correta de seu nome.
Ângela Barros Leal atesta que o 
poema “Alnira”, da primeira parte 
de Poesias, foi encenado em quase 
todas as escolas cearenses, mesmo 
depois da morte da autora.
O Romantismo aliado ao 
compromisso social de Victor 
Hugo era o modelo literário 
preferido por Ana Facó, que 
mantinha em sua sala, em 
destaque, um retrato do escritor.
CURSO literatura cearense 55
3.
ANNA NOGUEIRA BAPTISTA 
E A PARTICIPAÇÃO FEMININA 
NA PADARIA ESPIRITUAL
Eu não sei que tristeza indefinida 
Traz-me um luar assim... Ave erradia, 
em um misto de dor e de alegria,
 voa minh’alma em busca d’outra vida.
Anna Nogueira Baptista, em “Ao luar”, 
Almanach de Pernambuco (1930)
Padaria Espiritual foi uma 
agremiação literária ideali-
zada pelo irrequieto escritor 
Antônio Sales. Falaremos 
mais sobre ela no próximo 
módulo, mas, por ora, o 
que importa é que em seu 
“Programa de Instalação”, 
uma espécie de Estatuto, 
dizia que a Padaria era uma 
“sociedade de rapazes de letras e artes”. 
Entretanto, em seu periódico, intitulado O 
Pão, encontramos dois poemas da escrito-
ra Anna Nogueira Baptista (1870-1967). O 
primeiro deles, “No templo” (30 de setem-
bro de 1896, ed. 34, ano III, pg. 6), sugere 
uma prece a Nossa Senhora, pedindo a aju-
da para as ternas mães e noivas amorosas.
Nesta suave hora de sol posto
Nossa Senhora, a boa Mãe Clemente,
Sorri p’ra nós do trono seu fulgente
Cheia de amor e de inefável gosto.
Ela, consolação, arrimo, encosto
Dos que na vida lutam tristemente,
Abre o seu coração bondosamente
E carinhosa inclina o meigo rosto.
Recebe as orações dos desgraçados,
As mansas preces dos afortunados,
De onde resumam doces contrições...
Ouve as sentidas queixas piedosas
Das tenras mães e noivas amorosas
Que põem nela os frágeis corações...
56 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
A autora parecia prenunciar o desas-
tre pessoal que haveria de acometê-la três 
anos depois da publicação. Pois, casada 
com o poeta Manoel Sabino Baptista, a es-
critora ficaria viúva três anos depois, após 
uma doença que duraria oito dias. Anna, 
mãe de dois filhos e esperando um terceiro 
se viu de uma hora para outra precisando se 
valer da sua própria fé e do trabalho como 
professora para o sustento da família. 
O segundo poema publicado n’ O Pão 
(31 de outubro de 1896, ed. 36, Ano III, pág. 8) 
se intitula Vita nuova (“A dor é como coruja/ 
Não gosta de claridade.”). Essa foi a última 
edição do periódico. Em nossas pesquisas 
evidenciamos que a colaboração de Anna 
Nogueira Baptista vai além dessas publica-
ções, como podemos perceber nos jornais 
que descrevem as fornadas da Padaria em 
que a escritora também participava e é cita-
da entre os presentes, como em A República 
(29 de setembro de 1897), quando da distri-
buição de Dolentes, de Lívio Barreto, e em O 
Pará (4 de janeiro de 1899 – a sessão havia 
sido realizada em 20 de dezembro de 1898), 
onde, ao lado de Rodolfo Teófilo, Walter Ca-
valcanti, Arthur Teófilo e Antônio de Castro, 
ela declama “Ele passou” (versos). 
E quem seria essa única mulher a per-
filar entre os padeiros da Padaria Espiritu-
al? Nascida em Icó em 22 de outubro de 
1870, a autora desde cedo dedicou-se aos 
estudos de francês e à produção poética. 
O jornal Libertador (13.12.1886) estampou 
o seu poema “Não sei cantar” quando ela 
tinha apenas 16 anos.
Sua colaboração em periódicos foi 
muito expressiva assinando sonetos, mas 
surpreendentemente também assinando 
traduções de poetas franceses, como Paul 
Verlaine, François Coppée e Sully Prudhom-
me. Transferindo-se para Fortaleza, parti-
cipou de rodas literárias e colaborou com 
periódicos locais, como Libertador, Consti-
tuição, A República, O Domingo, O Repórter, A 
Evolução ( jornais), A Quinzena e Almanaque 
do Ceará (revistas). Encontramos registros 
de publicações em outros estados, como 
Pernambuco, Rio de Janeiro e Maranhão. 
Em 1896, Anna casou-se com Sabino Bap-
tista, o “Sátiro Alegrete” da Padaria Espiritu-
al. Em 1899, o casal decidiu viver em Belém 
do Pará. Sabino, a fim de fazer os prepara-
tivos de chegada da família, parte sozinho 
e quando retorna da sua viagem é acome-
tido pela varíola, vindo a falecer no dia 16 
de agosto de 1899. No ano seguinte, Anna 
passa a viver com a sua irmã em Recife, de 
onde colabora com a revista O Lyrio. Apenas 
aos 94 anos de idade, seus netos e bisnetos 
se reuniram para publicar Versos, sua única 
obra publicada em vida. Dois anos depois, 
Anna Nogueira falece no Rio de Janeiro.
CURSO literatura cearense 57
os séculos XIX e início do 
século XX, no Ceará, houve 
vozes femininas que en-
frentaram a sociedade con-
servadora, época em que 
somente os homens pode-
riam se destacar tanto nas 
letras como na educação. 
Algumas mulheres tiveram 
coragem de participar des-
te universo masculino, umas obtiveram 
apoio da família, outras, ao contrário, tive-
ram que romper com ela e com os valores 
religiosos e sociais para buscarem seu so-
nho de liberdade. E muitas, naturalmente, 
sofreram por causa destas rupturas.
É a partir dos meados do século XIX, no 
movimento literário do Romantismo, que 
passamos a ter a presença de mulheres 
atuando nesse território masculino, mas 
ainda timidamente. Contudo, com o ad-
vento do Realismo e do Naturalismo e do 
espírito cientificista dessa escola literária, a 
4.
A INVISIBILIDADE 
DA PROSA CEARENSE 
DE AUTORIA FEMININA 
intelectualidade feminina tomou um impul-
so maior no Brasil. Destacam-se na escola 
romântica cearense as seguintes escritoras: 
Serafina Pontes, Ana Facó, Emília Frei-
tas e Francisca Clotilde. Observa-se que 
a partir de 1870, com o fortalecimento da 
imprensa, as mulheres puderam participar 
desse universo literário. Entretanto, a par-
ticipação feminina ainda era tímida, com 
receio de represálias da sociedade, na qual 
dominava a opinião masculina. 
58 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
SABATINAEm 1887 é criado o Clube Literário. Dois meses depois, surge a revista A Quinzena. A 
participação feminina em A Quinzena veio 
a partir do seu terceiro número, com Fran-
cisca Clotilde, educadora da Escola Nor-
mal do Ceará, publica “A Educação moral 
das crianças na escola”. Em julho do ano 
seguinte, Francisca Clotilde lançariacom o 
seu companheiro, o capitão Antônio Duar-
te Bezerra, e um outro colega, o semanário 
científico, literário e noticioso A Evolução, 
que duraria até 1889. 
Entretanto, apesar da autora assinar 
grande parte dos textos, o seu nome não 
consta na primeira página do periódico. 
Aliás, ela aparece, às vezes e mais discre-
tamente, como “colega de redação”, como 
constatamos em A Evolução de 19.12.1888. 
Ainda em 1888, o nome de F. Clotilde é 
incluído, com destaque desta vez, no grupo 
dos colaboradores da revista O Domingo. 
Francisca Clotilde também escreveu 
um livro de contos, publicado em 
1897, sob o título Coleção de contos. 
Nele permanece o predomínio dos 
moldes românticos que percorreu toda 
a sua produção literária. Em sua obra 
mais popular, o romance A divorciada 
(1902), apesar do título parecer uma 
evocação à luta feminista, a obra em 
nada levanta bandeiras de ativismos 
políticos, tampouco traz características 
da escola literária realista. 
Aproveite e faça a sua leitura deste 
clássico. Comprove, reflita, discorde, 
critique. Ele está disponível na 
Biblioteca Virtual do seu Ambiente 
Virtual de Aprendizagem (AVA).
Porém, é com a revista mensal A Estrela que 
sua colaboração será mais profícua, atu-
ando durante os 15 anos de existência do 
periódico, conforme veremos mais a seguir.
Em 30 maio de 1892 foi fundada, em 
Fortaleza, a agremiação literária Padaria 
Espiritual, que passou a ser conhecida na-
cionalmente devido à original fanfarrice do 
seu “Programa de Instalação”. Contudo, sem 
participação feminina, era uma academia 
voltada para os homens das letras, com ex-
ceção da presença de dois poemas de Anna 
Nogueira em seu periódico O Pão. Paralela-
mente à Padaria Espiritual, surge na capital 
da província mais um grupo com manifesta-
ções literárias, o Centro Literário, em 1894, 
que publicou a revista Iracema. O Centro 
permaneceu por dez anos, vindo a desapa-
recer em 1904. Apesar da grande atuação 
literária, há apenas uma participação femi-
nina no Centro Literário, a de Alba Valdez.
CURSO literatura cearense 59
BOLACHINHAS MALACA
CHETAS
Heloísa Buarque de Holanda constata 
que “A primeira agremiação literária 
feminina de que se tem notícia foi a 
Liga Feminista Cearense, fundada 
em 1904 por Alba Valdez, identificada 
no meio literário como defensora do 
direito da ascensão cultural, econômica 
e política para mulheres.”
fase, com a exclusão de Alba, não há partici-
pação de mulheres nem como sócias e nem 
como patronas, o que só voltaria a aconte-
cer em 1937, com o seu retorno ao quadro. 
No ano de 1905 algumas agremiações 
ainda atuavam, apesar da pouca produ-
ção. Tem-se, no entanto, participação fe-
minina no Almanach do Ceará com os so-
netos “Manhã no campo” de Josefa Forte e 
“Ninho desfeito” de Francisca Clotilde. Em 
relação à prosa, há “Fragmentos de meu 
livro de impressões”, de Adília de Luna 
Freire, nome de matrimônio de Adília de 
Albuquerque Moraes.
Naquele período, a revista A Estrela é 
considerada o meio impresso que mais 
permaneceu em circulação no Ceará, de 
1906 a 1921, sendo organizada apenas por 
mulheres. Inicialmente, por Antonieta Clotil-
de, filha de Francisca Clotilde, e Carmen Tau-
maturgo, em Baturité (CE). Depois, com a mu-
dança de Francisca Clotilde e a família para 
Aracati, a revista ficou sob os cuidados de An-
tonieta e Francisca Clotilde. Destacaram-se 
nos meados do século XIX na escrita feminina 
na prosa: Alba Valdez, com o livro de crôni-
cas Em Sonho... (fantasias), Francisca Clotil-
de, com o romance A divorciada, Emília Frei-
tas com A rainha do ignoto e Ana Facó, com 
os romances Rapto jocoso e Nuvens.
Conheça mais sobre estas escritoras e 
suas obras no material complementar deste 
módulo, disponível na Biblioteca Virtual do 
seu Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA).
Maria Rodrigues Peixe, a “Alba 
Valdez”, ingressou a primeira vez na 
Academia em 1922, na Cadeira nº 
8, foi retirada em 1930, em outra 
reforma, e reingressou em 1937 
na cadeira nº 22. Antônio Sales 
a apresenta como “a pena mais 
aprimorada que tem produzido a 
mentalidade feminina.”
Ainda no ano de 1894, período de uma 
forte produção literária em Fortaleza, tem-
-se a implantação da Academia Cearense, 
em 15 de agosto. Essa associação teve algu-
mas fases. Na primeira, era constituída por 
trinta sócios e durou até 17 de julho de 1922. 
Em sua primeira fase criou uma revista lite-
rária, de 1896 a 1914, intitulada Revista da 
Academia Cearense. A Academia teve sua 
segunda fase de 1922 até 1930. O número 
de associados foi elevado para quarenta, 
incluindo Alba Valdez, sendo ela a primeira 
participação feminina da agremiação. A 
terceira fase da Academia se inicia em 1930, 
também com quarenta membros. Nessa 
60 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
obre a presença feminina na cena 
pública, somente algumas escri-
toras tentaram ingressar nos no-
vos grêmios literários que se mul-
tiplicaram, a partir de 1875, em 
Fortaleza. No século XIX, somente 
Francisca Clotilde pertenceu ao 
Clube Literário (1887-1888). No 
século XX, foi a vez de Alba Val-
dez firmar presença em diversas agremia-
ções, sendo em algumas delas pioneira: foi 
sócia do Centro Literário a partir de 19001, 
da Sociedade de História e Geografia do 
Ceará2, em 1911, e foi a primeira mulher a 
pertencer a Academia Cearense de Letras3. 
1 Criado em 1894, o Centro sofreu nessa 
data uma grande reorganização, ingressando 
37 novos membros.
2 Ela ingressará no Instituto do Ceará somente 
em 1936, ocupando a cadeira antes pertencente 
à Júlia Leão de Vasconcelos
3 Quando a Academia Cearense de Letras passou 
por uma reorganização em 1930, a escritora foi 
retirada por ser “considerada da velha guarda”, 
segundo Olga Monte Barroso, em seu livro 
Mulheres do Brasil: pensamento e ação, vol.2, 
Em 1904, fundou a primeira “associação de 
letras”4 feminina: a Liga Feminista Cea-
rense com a ajuda, por exemplo, das irmãs 
Alencar e de Adília de Luna Freire. Como ve-
mos, o pioneirismo da escritora não foi so-
mente na literatura, mas também nas áreas 
da educação e do jornalismo onde colabo-
rou escrevendo para jornais e revistas, em 
Fortaleza, e em outras cidades do Brasil. 
Há quem diga que ela serviu até de inspi-
ração ao pintor Raimundo Cela (1890-1954) 
para a imagem feminina da Liberdade no 
célebre painel “Abolição dos Escravos” de 
1938, fato lembrado no discurso de posse 
de Eduardo Campos (1923-2007), em 1963, 
na cadeira de número 22 que havia perten-
cido à Alba Valdez na Academia Cearense 
de Letras. Durante a primeira guerra mun-
dial, Alba Valdez foi a primeira secretária da 
Cruz Vermelha Cearense, em 1918, enquan-
to Henriqueta Galeno foi uma de suas nu-
merosas diretoras. 
Fortaleza: ed. Henriqueta Galeno, 1971, p. 487. 
Somente em 1953, foi reintegrada na agremiação. 
4 A República, 24.06.1904, p.2.
5.
A VIDA SOCIAL, POLÍTICA 
E LITERÁRIA DAS PIONEIRAS
CURSO literatura cearense 61
Por falar em Henriqueta Galeno, em 
1919 foi a vez da escritora protagonizar um 
círculo literário na sociedade cearense da 
época em que pudessem também partici-
par as mulheres escritoras. Assim, nascia 
o Salão Juvenal Galeno, que tinha, entre 
seus objetivos, divulgar o trabalho artístico-
-literário do seu pai, o poeta Juvenal Ga-
leno, e reunir a intelectualidade cearense. 
O Salão, hoje Casa de Juvenal Galeno, 
prossegue em atividades até os dias atuais, 
sendo o equipamento cultural mais antigo 
em exercício no estado. 
Em 1902, as irmãs Alencar fundariam, 
em Baturité, o periódico O Astro do qual fa-
lamos anteriormente.
Na causa abolicionista, os nomes das 
escritoras Emília Freitas – reconhecida 
como a “poetisa dos escravos” – e Fran-
cisca Clotilde são os que mais se desta-
cam. Em janeiro e março de 1883, Emília 
Freitas pronunciou diversos discursos para 
a recém-criada sociedade abolicionista 
feminina Cearenses Libertadoras, sob o 
comando de Mária Tomásia. Além disso em 
seu romance A rainha do ignoto, aescrito-
ra também denunciava a escravidão, além 
da causa republicana e do espiritismo. En-
quanto isso, Francisca Clotilde publicava 
no principal órgão abolicionista, Liberta-
dor, diversos poemas saudando a abolição 
dos escravizados no Ceará. Participaram 
também dessa causa, escritoras como 
Serafina Pontes e Ignácia de Mattos Dias. 
Os abusos da oligarquia acciolina é um 
caso à parte de repercussão nas letras cea-
renses. Coube à Francisca Clotilde a reação 
feminina contra os desmandos do governa-
dor Nogueira Acioli que, à imagem das For-
talezenses reunidas em dezembro de 1911 
numa Liga Feminina Pró-Ceará Livre, fez 
campanha em Aracati para o candidato da 
oposição, Franco Rabelo, escrevendo arti-
gos na Folha do Comércio (1912). 
Sobre a causa feminista existem muitas 
contradições das mulheres de letras, que 
em geral não assumem uma posição clara, 
seja no direito de trabalhar, de votar ou de 
62 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
BIBLIOGRAFIA
ALMEIDA, Gildênia Moura de Araújo. 
Mulheres beletristas e educadoras: 
Francisca Clotilde na sociedade cearense 
– de 1862 a 1935. Tese (Doutorado em 
Educação). Fortaleza: Universidade 
Federal do Ceará (UFC), 2012, 356f.
___________. A Divorciada de Francisca 
Clotilde. In: SILVA, Fernanda M. D. 
da e MENEZES, Jailene de A. (orgs.). 
Escritores cearenses: múltiplos olhares. 
Fortaleza: Premius, 2013. p.21-37. ISBN: 
978-85-7924-283-0 
______________. A destemida Francisca 
Clotilde. In: ANDRADE, Francisco A. et al 
(orgs.). Mulheres e histórias: sedução por 
saberes e ações. Curitiba, PR: Editora CRV, 
2016, p. 191-198. ISBN: 978-85-444-1179-7
AZEVEDO, Sânzio de. Literatura 
Cearense. Fortaleza: Academia Cearense 
de Letras, 1976.
BARREIRA, Dolor. História da Literatura 
Cearense. Fortaleza: Editora Instituto do 
Ceará, 1948 (1º e 2º Tomos).
BITTENCOURT, Adalzira. Dicionário bio-
bibliográfico de mulheres ilustres, 
notáveis e intelectuais do Brasil 
(ilustrado). Volume 1. Rio de Janeiro: 
Editora Pongetti, 1969.
CASTRO, Carla. Resquícios de 
memórias: dicionário biobibliográfico de 
escritoras e ilustres cearenses do século 
XIX. Fortaleza: Expressão Gráfica, 2019.
CUNHA, Cecília. Além do amor e das flores: 
primeiras escritoras cearenses. Fortaleza: 
Expressão Gráfica e Editora, 2008.
GIRÃO, Raimundo; SOUSA, Maria da 
Conceição. Dicionário de Literatura 
Cearense. Fortaleza: Imprensa Oficial do 
Estado, 1987.
GIRÃO. Valdelice Carneiro. Bibliografia 
Cearense séculos XIX e XX – 1º Volume 
(1825-1930). Fortaleza: ABC Editora, 2001.
LINHARES, MÁRIO. História Literária 
do Ceará. Rio de Janeiro: Jornal do 
Comércio/Rodrigues & Cia, 1948.
MACEDO, Dimas. Literatura Feminina 
Cearense – Introdução. Disponível 
em: http://dimasmacedo.blogspot.
com/2012/08/literatura-feminina-
cearense-introducao.html. 
se divorciar. A exceção é, sem dúvida, Ana 
Facó que em Páginas íntimas, escrito an-
tes de 1915, mas publicado apenas após a 
morte da autora, como já dissemos, recla-
ma da falta de oportunidades de trabalho 
e de vida para a mulher, da desigualdade 
entre os sexos e do homem, que “fez da 
mulher fonte sedutora de suas distrações 
e deu-lhe para campo de suas ações o 
lar, somente o lar”. Ela termina saudando 
a abertura do mercado do trabalho para 
a mulher, que, neste início de século XX, 
“felizmente (...) já vai competindo com o 
homem em grande número de empregos”.
 CONCLUSÃO
Cursista, lacunas devem ter ficado nesse 
trabalho, contudo o lado positivo de uma 
pesquisa é isso: nunca tem fim, passando 
de uma mão para outra. Cada ponto que 
não pôde ser desvendado por completo, ou 
algo que ficou nas entrelinhas, remete-nos a 
novos estudos. Assim, todo trabalho de um 
pesquisador está sujeito a outros estudos, 
pesquisas e descobertas. Claro, evitando-se 
os “achismos” e “ouvi dizer”, embasados no 
cotejamento, análise e reflexão de boas fon-
tes, mesmo que contraditórias. 
Contudo, podemos afirmar que essas 
mulheres ousaram e não se amedronta-
ram em enfrentar uma sociedade conser-
vadora, patriarcalista e patrimonialista. 
Elas contribuíram para uma nova realida-
de feminina no solo cearense, com direito 
à participação e atuação em um universo 
tão considerado masculino: a intelectua-
lidade. Esperamos que, com este módulo, 
tenhamos despertado os leitores a futuras 
investigações, pois no universo do gêne-
ro feminino, no meio da intelectualidade, 
tanto na literatura como nas demais artes, 
ainda há muito para ser estudado.
CURSO literatura cearense 63
AUTORAS
Gildênia Moura
Graduada em Letras (UFC) e Pedagogia (Unip), 
com especialização em Literatura (Uece), detém 
mestrado em Letras (UFC), doutorado em Educação 
(UFC) e pós-doc em História da Educação (UFPB). 
Professora (aposentada) da Rede Pública Municipal 
de Maracanaú e da Rede Estadual do Ceará (Seduc-
Crede 1), atuando na célula de formação de 
professores. Tutora da Universidade Aberta do Brasil 
(UAB), UFC Virtual e Uece-EaD. Integra a Academia 
Maracanauense de Letras (AML), cadeira nº 14, cuja 
patrona é a escritora Francisca Clotilde.
Carla Castro
Graduada em Pedagogia, Letras/Português e Direito, 
é especialista em Língua Portuguesa e Literatura 
Brasileira. Cursa o mestrado em Literatura Comparada 
na UFC, onde investiga a Literatura de autoria feminina 
cearense do século XIX. É autora de A Vida em Versos e 
Resquícios de Memórias: dicionário biobibliográfico de 
escritoras e ilustres cearenses do século dezenove.
ILUSTRADOR
Carlus Campos 
Artista gráfico, pintor e gravador, começou a carreira 
em 1987 como ilustrador no jornal O POVO. Na 
construção do seu trabalho, aborda várias técnicas 
como: xilogravura, pintura, infogravura, aquarelas 
e desenho. Ilustrou revistas nacionais importantes 
como a Caros Amigos e a Bravo. Dentro da produção 
gráfica ganhou prêmios em salões de Recife, 
São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.
Realização
Apoio
Patrocínio
FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR)
João Dummar Neto Presidente
André Avelino de Azevedo Diretor Administrativo-Financeiro
Marcos Tardin Gerente Geral
Raymundo Netto Gerente Editorial e de Projetos
Aurelino Freitas, Emanuela Fernandes 
e Fabrícia Góis Analistas de Projetos
UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (UANE)
Viviane Pereira Gerente Pedagógica
Marisa Ferreira Coordenadora de Cursos
Joel Bruno Designer Educacional
CURSO LITERATURA CEARENSE
Raymundo Netto Coordenador Geral, 
Editorial e Estabelecimento de Texto
Lílian Martins Coordenadora de Conteúdo
Emanuela Fernandes Assistente Editorial
Amaurício Cortez Editor de Design e Projeto Gráfico
Miqueias Mesquita Diagramador
Carlus Campos Ilustrador
Luísa Duavy Produtora
ISBN: 978-65-86094-22-0 (Coleção)
ISBN: 978-65-86094-26-8 (Fascículo 4)
Este curso é parte integrante do programa 
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