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l 11 Arievaldo Vianna Stélio Torquato Lima Mala de Romances a Literatura de Cordel Realização l i t e r a t u r a CURSO c e a r e n s e lllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllStélio Torquato LimaRealizaçãoeratura arense 162 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE 1. A PELEJA DO CORDEL Em memória de Arievaldo Vianna Nordeste, por onde come- çou o processo de coloni- zação do Brasil, veio a ser o principal berço da acli- matação do cordel vindo da Europa a uma nova re- alidade social. Comprovamos isso com a presença de um conjunto de elementos que ainda hoje são recorrentes nas narrativas populares em verso, cujos enredos se destacam pelo uso de expressões linguísticas da região, pela presença de personagens do panteão local (fi guras do cangaço, profetas milagreiros, sertanejos astutos etc.), pela constância de elementos associados com o semiárido (secas, coronelismo, religiosidade popular etc.), entre outros. Alguns estados nordestinos exerceram um papel de destaque no processo de sis- tematização da criação, publicação e distribuição do cordel. A capital de Per- nambuco, onde já havia uma tipografi a desde 1815, foi o principal polo de im- pressão dos folhetos no século XIX. Da Paraíba, saíram muitos poetas em direção a Recife, incluindo Leandro Gomes de Barros (1865-1918), poeta que, pela qua- lidade e variedade de sua obra, veio a ser merecidamente considerado o pai da lite- ratura de cordel brasileira. Como veremos neste módulo, o Ceará também se confi gurou como um lugar im- portante na impressão e difusão da litera- tura de folhetos, tendo se tornado o berço acolhedor e exportador de vários cantado- res e poetas populares, muitos deles que mesmo não residindo mais neste mundo, ainda continuam presentes nas praças e nas calçadas, por meio de suas obras ou perma- nentemente vivos no declamar fervoroso e colorido de seus seguidores e leitores. FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE A PELEJA DO CORDEL Em memória de Arievaldo Vianna Nordeste, por onde come- çou o processo de coloni- zação do Brasil, veio a ser o principal berço da acli- matação do cordel vindo da Europa a uma nova re- alidade social. Comprovamos isso com a presença de um conjunto de elementos que ainda hoje são narrativas populares em , cujos enredos se destacam pelo uso de expressões linguísticas da região, pela presença de personagens do panteão local (fi guras do cangaço, profetas milagreiros, sertanejos astutos etc.), pela constância de elementos associados com o semiárido (secas, coronelismo, religiosidade popular etc.), entre outros. Alguns estados nordestinos exerceram um papel de destaque no processo de sis- tematização da criação, publicação e distribuição do cordel. A capital de Per- nambuco, onde já havia uma tipografi a o principal polo de im- pressão dos folhetos no século XIX. Da Paraíba, saíram muitos poetas em direção a Recife, incluindo Leandro Gomes de (1865-1918), poeta que, pela qua- lidade e variedade de sua obra, veio a ser merecidamente considerado o pai da lite- ratura de cordel brasileira. Como veremos neste módulo, o Ceará também se confi gurou como um lugar im- portante na impressão e difusão da litera- tura de folhetos, tendo se tornado o berço acolhedor e exportador de vários cantado- res e poetas populares, muitos deles que mesmo não residindo mais neste mundo, ainda continuam presentes nas praças e nas calçadas, por meio de suas obras ou perma- nentemente vivos no declamar fervoroso e colorido de seus seguidores e leitores. BOLACHINHAS Em 7 de janeiro de 1928, logo na edição nº 1 do jornal O POVO, do poeta Demócrito Rocha, encontramos a seção “Trovas e Cantigas do POVO”, página semanal de folk-lore, que traz “O casamento e o divórcio da lagartixa”, de Leandro Gomes de Barros, que chegou ao editor por meio da obra Violeiros do Norte, de Leonardo Mota. CURSO literatura cearense 163 2. NO FUNDO DA MALA DO FOLHETEIRO omo ocorreu em outros esta- dos nordestinos, os primeiros cordelistas cearenses deram continuidade a uma tradição poética oral remotíssima, que se manifestava através da criação de uma infi nidade de quadrinhas populares, cantigas de roda etc. Dessa tradição também descende a cantoria de viola, que igualmente se benefi ciou com o rico imaginário que a oralidade fomentou. Vindo depois, porque dependia de um maior aparato tecnológico (a imprensa), o cordel recebeu infl uência direta tanto da poesia oral quanto da cantoria, tendo her- dado desta, temas, elementos estruturais e gêneros. Mas uma pergunta continua: quan- do teve início, ainda que de forma inci- piente, a produção cordelística no Ceará? Antes de esboçar uma resposta à ques- tão, que se manterá provisória até novas descobertas por parte dos nossos pesquisa- dores – que inclusive pode ser você, cursista –, é importante destacar que a poesia popu- lar fl oresceu muito cedo em nosso estado, já circulando obras populares em cópias ma- nuscritas pelo menos desde o século XVIII, muito antes, portanto, da chegada do prelo em nosso país. Importante isso, não? Como destaca João Brígido (2009), en- tre esses autores que buscaram um meio alternativo de difusão de suas criações po- pulares incluía-se Manoel Felipe de Caste- lo Branco, fi lho de Baturité (CE), que logo após o fracasso da Confederação do Equa- dor (1824) desenvolveu um poema em déci- mas, do qual são os trechos a seguir: Suçuarana se chama/ Quem vendeu o Ara- cati,/ E dizem que esse quati/ É fi lho de mu- lher dama./ É notório e corre a fama/ Que o vendeu por um cruzado,/ E para ser embol- sado/ Do Chaves este dinheiro,/ Jurou não ser brasileiro!/ Todo corcunda é malvado! (BRANCO, apud BRÍGIDO, 2009, p. 93 e 96) Como se observa, o poema se desenvol- ve a partir de um mote, “Todo corcunda é malvado”, cabendo destacar que “Corcun- da” era o apelido dado aos imperialistas que passaram a perseguir impiedosamente os republicanos envolvidos nas revoluções de 1817 e 1824. Trata-se, assim, de uma re- corrência à produção popular como meio de espicaçar os adversários políticos, ou seja, uma forma de “revanche poética”, para empregar a expressão cunhada por Marti- ne Kunz (2011, p. 60). CURSO literatura cearense 2. NO FUNDO DA MALA DO FOLHETEIRO omo ocorreu em outros esta- dos nordestinos, os primeiros cordelistas cearenses deram continuidade a uma tradição poética oral remotíssima, que se manifestava através da criação de uma infi nidade de quadrinhas populares, cantigas de roda etc. Dessa tradição também descende a cantoria de viola, que igualmente se benefi ciou com o rico imaginário que a oralidade fomentou. Vindo depois, porque dependia de um maior aparato tecnológico (a imprensa), o cordel recebeu infl uência direta tanto da poesia oral quanto da cantoria, tendo her- dado desta, temas, elementos estruturais e gêneros. Mas uma pergunta continua: quan- do teve início, ainda que de forma inci- piente, a produção cordelística no Ceará? Antes de esboçar uma resposta à ques- tão, que se manterá provisória até novas descobertas por parte dos nossos pesquisa- dores – que inclusive pode ser você, cursista –, é importante destacar que a poesia popu- lar fl oresceu muito cedo em nosso estado, já circulando obras populares em cópias ma- nuscritas pelo menos desde o século XVIII, muito antes, portanto, da chegada do prelo em nosso país tre esses autores que buscaram um meio alternativo de difusão de suas criações po- pulares incluía-se lo Branco após o fracasso da Confederação do Equa- dor (1824) desenvolveu um poema em déci- mas, do qual são os trechos a seguir: Como se observa, o poema se desenvol-ve a partir de um mote, “Todo corcunda é malvado”, cabendo destacar que da” era o apelido dado aos imperialistas que passaram a perseguir impiedosamente os republicanos envolvidos nas revoluções de 1817 e 1824. Trata-se, assim, de uma re- corrência à produção popular como meio de espicaçar os adversários políticos, ou seja, uma forma de “revanche poética”, para empregar a expressão cunhada por ne Kunz 164 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE No que diz respeito a obras publicadas pela imprensa, o pesquisador Gilmar de Carvalho (2006) defende, apoiado na re- colha dos primeiros folhetos publicados no Ceará, que o início da produção de cordéis no Ceará não se deu antes de 1912, quando ocorreu a queda da oligar- quia Accioly. Foi em 1912, a propósito, que Marcos Franco Tranquilo publicou em Fortaleza Levanta-te, ó multidão!, folheto constante do acervo da Universidade Es- tadual da Paraíba. Aliás, a cordelteca da referida instituição também possui um exemplar de Machadinha de Noé: aviso do padre Cícero Romão Batista, publicado em Juazeiro do Norte em 1911. Espicaçar Bicar, furar, magoar, torturar. Vergastar Golpear com vergasta, chicotear. Sextilha Estrofe de 6 versos. É importante, no entanto, não esque- cermos o papel que os jornais cearenses tiveram como veículo de difusão de cria- ções literárias populares, tendo em vista que muitos dos periódicos que circularam em nosso estado no século XIX e primeiras décadas do século XX possuíam seções li- terárias. Nessas seções, dividindo espaço com sonetos e outras produções de feição erudita, eram frequentes os textos de cariz popular, ainda que muitos deles assinados por autores consagrados no meio erudito, como Rodolfo Teófi lo e Juvenal Galeno. Foi através dos periódicos que o padre e político cearense Alexandre Francisco Cer- belon Verdeixa (1803-1872), mais conheci- do como “Canoa Doida”, valeu-se da poesia para espicaçar seus desafetos. O pai do ro- mancista José de Alencar, o senador Alencar, chamado por Verdeixa de “Padre Cobra”, tor- nou-se um dos principais alvos da sátira im- piedosa do poeta, que veio a escrever diver- sos ABC vergastando seus inimigos, além de também ter feito uso da sextilha. O Rebate, com apenas quatro páginas, pioneiro do jornalismo impresso de juazeiro do Norte, foi fundado pelo padre Joaquim de Alencar Peixoto, em 18 de julho de 1909, com o objetivo de contribuir para a emancipação de Juazeiro do Norte, que até então era uma vila pertencente ao Crato. SABATINA MALACA CHETAS Américo Facó (1885-1953), poeta e jornalista, nasceu em Beberibe (CE). Publicou poemas no Jornal do Ceará, entre 1907 e 1908 (que iniciavam um parnasianismo no Ceará, mas que seriam renegados, futuramente, pelo autor). Em 1908, levou uma surra de policiais, a mando do governador do estado e, assim, em 1910, decidiu ir ao Rio de Janeiro, onde residiria até morrer. No Rio, logo enturmou- se com muitos intelectuais. Fundou algumas revistas – Pan e Ideia ilustrada (ambas em 1924) – e foi diretor da revista Fon-Fon, entre outras, como O espelho e Estética. Publicou o primeiro conto de Clarice Lispector, “Triunfo”, criou a Agência Brasileira de Notícias, empregou Sérgio Buarque de Holanda e Carlos Drummond de Andrade. Drummond dedicou a ele seu livro Claro enigma e, por conta da insistência e argumentos de Facó, ele publicaria O observador no escritório. Após a morte de Facó, além de lhe ofertar um poema e escrever sobre seus últimos dias, Drummond também iniciaria uma questão com a família de Facó (ele era solteiro e não tinha fi lhos) sobre o desmembramento e venda de sua biblioteca. As duas obras de Facó, Sinfonia negra (1946) e Poesia perdida (1951), foram enfeixadas por Raymundo Netto em publicação denominada Obra perdida de Américo Facó, na Coleção Nossa Cultura da Secult, em 2010. CURSO literatura cearense 165 Como destaca Gilmar de Carvalho (2006), o jornal, através da seção “Lyra Po- pular”, trouxe aos poucos letrados de Jua- zeiro poemas em cordel do paraibano Le- andro Gomes de Barros e do alagoano Pacífi co Pacato Cordeiro Manso. Ao mes- mo tempo, serviu de espaço para a difusão da criação poética de autores cearenses, como Ana Almerinda Dias e José Augus- to Siebras, além de autores que preferiram o anonimato ou se ocultar atrás de pseudô- nimos, como “Jacy” e “Pajé”. A língua ferina do Canoa Doida se eviden- cia com todo vigor no ABC que escreveu con- tra João André Teixeira Mendes (1781-1874), cognominado de “Canela Preta”, ofi cial da Guarda Nacional, julgado (mas não senten- ciado) pelas mortes do ten. Antônio Vieira do Lago Cavalcante e do ten. cel. José Caval- cante de Luna Albuquerque. Do poema, lido pelo próprio autor numa sessão do júri na cidade do Icó, na década de 30 do século XIX, são os seguintes versos de abertura: A [sic] muitos anos vivia/ João André fazendo morte,/ Deixando órfãos e viúvas/ Lastimando a sua sorte. Basta ver, em vinte e quatro,/ O que ele praticou,/ Quatro livres brasileiros/ Que ele aqui fuzilou. Carregado de tormentos/ É mui bom que pague agora,/ Entregando a sua vida/ Numa forca, sem demora. (VERDEIXA, apud SOMBRA, 1996, p.30-31) Outro episódio interessante que mostra como a poesia popular valia-se dos jornais para o embate político é reportado pela pes- quisadora Ruth Brito Lêmos Terra (1983). Trata-se de vários poemetos em formato de cordel escritos por alguém que se identifi cava como Marcos Franco Tranquilo, sendo os mesmos direcionados contra o “babaquara” Accioly, apelido pejorativo de Antônio Pinto Nogueira Accioly, governador do Ceará entre 1896 e 1912. Mesmo havendo dúvidas sobre a verdadeira autoria dos poemas, suspeitando- -se ora de Rodolfo Teófi lo, ora de Américo Facó, foi este que veio a ser castigado, levando uma surra impiedosa por parte dos capangas do oligarca na praça Marquês do Herval (hoje, praça José de Alencar). O aparente motivo foi ele ter assinado antes um poema no jor- nal A República em que concluía assim: “Hei de açoitar-te a cara branca/Como se açoita a anca/ Dum mau cavalo, para pô-lo a trote.” O jornal O Rebate, periódico de Juazeiro do Norte – polo inaugural da produção sistemática do cordel no Ceará –, desem- penhou importante papel para a divulgação da obra tanto de cordelistas consagrados em outros estados quanto de autores locais. MALACA CHETAS 166 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE Nascido em 1827, na então Vila de Tou- ros, que, à época, pertencia ao município de Extremoz, no Rio Grande do Norte, Santani- nha faleceu em data desconhecida, mas pro- vavelmente em alguma data a partir de 1883, quando seu nome não mais passa a fi gurar na imprensa. Veio em data ignorada para o Ceará, tornando-se trabalhador de um sítio da família Sombra em Maranguape. Sua habilidade de compor canções e recitar poemas ao som da rabeca, ins- trumento que dominava, logo o levaria a frequentar os salões da elite cearense. E, importante destacar, no jornal O Cearense, de 1871, encontramos um poema seu sobre a Guerra de Paraguai, o que faz com que Santaninha anteceda em pelo menos duas décadas o “pai do cordel”, Leandro Gomes de Barros, que só começaria a publicar os seus cordéis a partir de 1889. Deslocando-se para o Rio de Janeiro, ca- pital do Império, em 1877, Santaninha deu prosseguimento a uma atividade artística que conciliava música e poesia popular, apresentando-se em lugares públicos em troca de contribuições dos passantes. Tam- bém utilizou-se dos jornais para divulgar tanto os pontos de vendas de suas obras quanto os lugares e horários de suas apre- sentações públicas ou privadas. Além de Santaninha, outros poetas vin- dos de fora do estado deram importante contribuição para a fl oração da literatura de cordel no Ceará, contando-se entre eles o também potiguar Luiz da Costa Pinhei- ro, o alagoano José Bernardo da Silva e o paraibano João de Cristo Rei. Juntam-sea eles os nomes dos cearenses João Mendes de Oliveira e José Cordeiro da Silva. O úl- timo, a propósito, aproveitando a passagem de Lampião pela “Meca do Cariri” (Juazeiro do Norte) em 1926, escreveu o folheto Visita de Lampião a Juazeiro, no qual cita o nome de todos os cangaceiros do bando, nomes ditados pelo próprio Virgulino. Além desse cordel, escreveu, entre outros, Perseguições de Lampião pelas forças legais. 3. UM POETA POPULAR NA CAPITAL DO IMPÉRIO omo já destacado, no Ceará do século XIX não havia ain- da uma produção sistemática de cordéis. Podemos verifi car isso quando buscamos e não encontramos nos jornais cea- renses daquele período qual- quer anúncio de tipografi as que vendessem folhetos. Nos periódicos, era Juvenal Galeno pratica- mente um sinônimo de poesia popular. Não obstante, como informam os pesqui- sadores Arievaldo Vianna e Stélio Torqua- to Lima (2017), autores deste fascículo, pelo menos um poeta verdadeiramente popular ganharia alguma notoriedade na mídia impressa da capital cearense: João Sant’Anna de Maria, o “Santaninha”, autor dos poemas em cordel Guerra do Pa- raguai; Imposto do vintém; O célebre chapéu de sol de Sua Majestade o Imperador; A seca do Ceará; O pai da criança; O russinho; As moças chorando pelo fi m do carnaval, etc. Juvenal Galeno já não é um nome desconhecido para os nossos cursistas. Temos ciência de seu pioneirismo em quase tudo a que se refere a nossa literatura, entretanto, há aqueles que por excesso desse admirar tendem a outorgar a ele, ou a outros, títulos equivocados, sem fundamento. Por exemplo, o epíteto de “criador da poesia popular” Juvenal não o merece, nem o queria. A poesia popular surgiu com o desenvolvimento da humanidade, sabe-se lá Deus exatamente quando, primeiramente transmitida por gerações ancestrais pela oralidade. E Juvenal, no Prólogo de Lendas e canções populares, afi rma: “[...] ouvi e decorei seus cantos, suas queixas, suas lendas e profecias [...] – com ele [o povo] sorri e chorei, – e depois escrevi o que ele sentia, o que cantava, o que me dizia, o que me inspirava.” Juvenal não criou a poesia popular, mas se inspirava na musa popular, a partir da qual criava a sua poética. CURSO literatura cearense 167 Um importante editor de cordel que atuou em Fortaleza durante três décadas foi o parai- bano Joaquim Batista de Sena (1912 - 1993). No início da década de 40, vendeu um sítio de sua propriedade e adquiriu sua primeira tipo- grafi a, que funcionou algum tempo na cidade de Guarabira-PB, transferindo-se depois para Fortaleza-CE, onde atuou durante muitos anos. Na capital cearense, sua casa editorial chamou-se inicialmente Folhetaria São Joaquim ou Editora O Crepúsculo e fun- cionou inicialmente no bairro Floresta (rua Estrela do Norte, 26, hoje, Álvaro Wayne). Depois a tipografi a adotou o nome de Fo- lhetaria Graças Fátima e passou a funcio- nar na rua Liberato Barroso, 725, no centro de Fortaleza. O poeta explicava a razão des- se título: durante a passagem da imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima pelo Nordeste, na década de 50 do século XX, ele conseguiu ganhar muito dinheiro vendendo folhetos sobre a visita da santa, ampliando consideravelmente seus negócios. Em 1973, vendeu sua gráfi ca e sua pro- priedade literária para Manoel Caboclo e Silva e tentou estabelecer-se no Rio de Janeiro, também no ramo da literatura de cordel, mas não foi bem-sucedido. De vol- ta ao Ceará, ainda editou alguns folhetos exitosos, como o que escreveu em parceria com Vidal Santos, sobre o famoso desas- tre aéreo da Serra da Aratanha (Pacatuba- -CE), onde faleceu, entre outros, o indus- trial Edson Queiroz. Por fi m, importa mencionar os nomes de outros dois editores pioneiros: Olegário Pe- reira e Moisés Matias de Moura. O primeiro, que atuou em Juazeiro do Norte nas décadas de 1930 e 1940, adquiriu, como informa a edi- ção de 4 de julho de 1944 do jornal Gazeta de Notícias, de Fortaleza, vários folhetos do Luís da Costa Pinheiro, alguns dos quais viriam depois a ser impressos na Tipografi a São Francisco, de José Bernardo da Silva. Já em relação ao pernambucano Moisés Matias de Moura, cabe destacar que atuou como poeta, editor e folheteiro em uma Fortaleza de 1929 até o início da década de 1960, como destaca a pesquisa de Gilmar de Carvalho (2011). E para fi nalizar este tópico, importan- te lembrarmos que há ainda autores que escreveram cordéis, mas dividiram sua atividade criativa com outros gêneros e/ ou outras artes. É o caso de Patativa do Assaré (1909-2002) que, embora tenha pu- blicado cordéis, destacou-se principalmen- te na poesia-matuta, gênero também de caráter popular, mas que tem suas próprias regras, incluindo-se aí a tentativa de repro- duzir a fala muito própria do sertanejo, o que não acontecia, por exemplo, na poe- sia de Juvenal Galeno. Já Alberto Porfírio (1926-2009), autor de dezenas de cordéis, incluindo A estátua do Jorge, também se destacou como cantador, além ter sido es- cultor, xilogravurista e pesquisador. 4. O CORDEL, O PADRE CÍCERO E O HORÓSCOPO omo já acentuado, é a partir de 1912 que tem início, pelo menos de forma mais siste- mática, a produção de cordel no Ceará, tendo Juazeiro do Norte como polo central. Nes- se período, os poetas popu- lares que desejavam publicar seus escritos recorriam princi- palmente à gráfi ca da Diocese do Crato. O estabelecimento de Juazeiro como epicentro desse movimento não se deu por acaso: atraídos pela fi gura carismática do padre Cícero Romão Batista, que passara a ser visto como milagreiro após o episódio da hóstia transformada em sangue, ocorri- do em 1889, muitos poetas (ou futuros poe- tas) viriam ao Juazeiro do Norte, juntamen- te com as intermináveis levas de romeiros, em busca de uma bênção do sacerdote. Não à toa, com o passar dos anos, o padre Cícero viria a se tornar uma das fi guras mais presentes nos cordéis, só fi cando atrás do cangaceiro Lampião. Nessa perspectiva, não foram poucos os poetas que colocaram sua produção poética a serviço da publicização dos feitos e das profecias do “Padim”, contri- buindo de forma decisiva para a construção do mito em torno do “Patriarca do Juazeiro”. Consciente da força da poesia popular e da sua rápida capilaridade no processo de divulgação das ideias que defendia, o padre Cícero tornou-se um benfeitor dos poetas do povo. Emblemática dessa relação entre o sacerdote e os poetas devotos é a forma como José Bernardo da Silva (1901-1972) veio a in- gressar na poesia, posteriormente se tornan- do o maior editor de folhetos populares de todos os tempos e em todo o mundo. Vindo pela primeira vez a Juazeiro do Norte em 1926, numa romaria feita em com- panhia da mulher e da fi lha mais velha, Zé Bernardo pediu humildemente ao padre Cícero, em uma segunda vinda à cidade, a permissão para viver e trabalhar na cidade, recebendo do sacerdote a promessa de que ali seria muito feliz. Com a pouca oferta de trabalho, tornou-se vendedor ambulante de raízes e de outros produtos medicinais usa- dos pelo povo, incorporando depois folhe- tos de poesia popular. E vendo, com satisfa- ção, que os livretos lhe rendiam bom lucro, aproveitou suas constantes viagens ao Reci- fe para adquirir folhetos editados por João Martins de Athayde, de quem acabaria se tornando o maior revendedor (ou agente), como eram chamados os folheteiros. CURSO literatura cearense 169 Até 1936, ele, que começara a escrever cordéis em 1930, editava seus folhetos na gráfi ca do bispo do Crato, dom Francisco de Assis Pires. Naquele ano, a conselho do mesmo, adquiriu sua primeira máquina em Barbalha – uma rudimentar impressora de pedal –, que foi paga parceladamente. Assim veio a inaugurar a Folhetaria Silva, que, em 1939, seria renomeada como Ti- pografi a São Francisco. Inicialmente voltada à impressão dos folhetos do próprio José Bernardo e de outros poetas da região, a Tipografi a São Franciscoganhou impulso extraordinário em 1949, quando João Martins de Athay- de encerrou as atividades de sua editora e vendeu todo o acervo da mesma a José Bernardo, inclusive a obra do grande poe- ta Leandro Gomes de Barros, cujos direitos autorais pertenciam a Athayde. Nos anos 50, José Bernardo transforma- va Juazeiro do Norte no maior polo do cor- del, vindo a publicar os maiores clássicos do gênero, como Pavão misterioso, Alonso e Ma- rina, História de Juvenal e o dragão, A vida de Cancão de Fogo e seu testamento, As proezas de João Grilo, História da Donzela Teodora e outras tantas histórias que faziam parte do acervo comprado legalmente por ele. Sabedor de suas limitações como poeta, ou talvez por não se dedicar ao aprimora- mento do estro, José Bernardo da Silva de- cidiu se concentrar nas atividades de impres- são e comercialização de folhetos. Mesmo assim, constam entre seus títulos A prantea- da morte do reverendíssimo padre Cícero Ro- mão Batista; Cinquentenário de Juazeiro e da- dos históricos (Juazeiro em 1911); Combate ao defensor da honra com Lampião, o terror do Norte; Conselhos paternais; Cruzeiro do horto; História do príncipe que veio ao mundo sem ter nascido; Manifestação ao Padre Cícero Ro- mão Batista pelo povo de Juazeiro do Norte; O defensor da honra ou Marilene e João Miguel; O príncipe Oscar e a rainha das águas. Como podemos observar pelos títulos citados, além dos enredos de aventura, de mistério ou de amor, tramas bem ao gos- to do povo ávido por fantasia e romance, predominava a poesia-reportagem na produção de José Bernardo, com obras tendo como conteúdo acontecimentos de grande repercussão social, e atuando o autor como uma espécie de cronista preocupado em informar (e interpretar) detalhes dos aspectos do cotidiano de interesse do povo. Nessa perspectiva, é interessante notar como boa parte de sua obra tem a figura do padre Cícero como personagem central, comprovando a importância que o sacerdote teve na vida e na obra do editor folheteiro. Não menos devoto ao padre Cícero foi o poeta João de Cristo Rei. Em 1930, o poeta paraibano leu para o padre Cícero o primeiro folheto que escrevera, receben- do do sacerdote as seguintes palavras de aprovação: “Você de ora em diante vai ser poeta. Vai ser poeta.” Com isso, já em 1931 mudou-se para Juazeiro do Norte, onde decidiu fazer da poesia sua profi ssão. As- sim, logo buscou manter a autonomia so- bre seus escritos, passando a imprimir em tipografi as do Crato e de Juazeiro os folhe- tos que ele mesmo vendia nas feiras. Até 1936, ele, que começara a escrever cordéis em 1930, editava seus folhetos na gráfi ca do bispo do Crato, dom Francisco de Assis Pires. Naquele ano, a conselho do mesmo, adquiriu sua primeira máquina em Barbalha – uma rudimentar impressora de pedal –, que foi paga parceladamente. Assim veio a inaugurar a Folhetaria Silva, que, em 1939, seria renomeada como Ti- Sabedor de suas limitações como poeta, ou talvez por não se dedicar ao aprimora- mento do estro, José Bernardo da Silva de- cidiu se concentrar nas atividades de impres- são e comercialização de folhetos. Mesmo assim, constam entre seus títulos A prantea- da morte do reverendíssimo padre Cícero Ro- detalhes dos aspectos do cotidiano de 170 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE Sua devoção a padre Cícero se compro- va pela grande quantidade de títulos que dedicou ao sacerdote, incluindo O que diz meu Padrinho Cícero sobre a santa romaria; Os milagres de Padrinho Cícero; Profecia: vida e morte de Padrinho Cícero Romão; Pro- fecia de Padrinho Cícero sobre os 3 estron- dos, o desencanto do Horto e do rio Jordão. Ainda integrante do grupo de cordelistas ligados ao padre Cícero foi Manoel João da Silva, cognominado de “Manoel Cabo- clo”, que, diferentemente dos dois poetas anteriores, era fi lho de Juazeiro do Norte. Seus primeiros contatos com o universo da escrita e da leitura se deram através da poesia e de uma maneira particularmen- te interessante: aos 13 anos, encantou-se com o poema Alonso e Marina, de Leandro Gomes de Barros, que enrolava uma bar- ra de sabão comprada pelo avô. Isso lhe motivou a querer aprender a ler. Em 1938, a convite de José Bernardo da Silva, passou a trabalhar como aprendiz na pequena Folhetaria Silva, a futura Tipogra- fi a São Francisco, onde, com o tempo, veio a assumir várias funções, incluindo a revi- são dos originais, a composição das matri- zes e a edição e impressão dos folhetos. Em 1949, devido ao desrespeito pelo pa- trão aos seus direitos trabalhistas, Manoel Caboclo deixou a São Francisco, indo traba- lhar com João Ferreira de Lima, astrólogo, poeta e editor do Almanaque de Pernambu- co, que, não à toa, era impresso na Tipografi a de Zé Bernardo. A amizade com o poeta de Pernambuco, a propósito, deu-se pelo inte- resse de ambos pelas chamadas ciências ocultas, tendo Caboclo se especializado na arte das adivinhações e se transformado no mais importante astrólogo de Juazeiro. Valendo-se de sua vasta experiência como tipógrafo, Manoel Caboclo abriu, em parceria com João Ferreira de Lima, uma gráfi ca localizada próximo ao Mercado Cen- tral de Juazeiro do Norte, onde passaram a imprimir o Almanaque de Pernambuco. Em julho de 1957, a sociedade entre João Ferreira de Lima e Manoel Caboclo se desfez, ocasião em que Caboclo comprou as três máquinas de impressão e uma má- quina de cortar papel, tipos, além do direito de imprimir a obra do poeta pernambuca- no. Nascia assim a Folhetaria Casa dos Horóscopos. Ali publicou trabalhos de sua autoria e de outros autores, como João Cordeiro e João de Cristo Rei. 170 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE , cognominado de “Manoel Cabo- clo”, que, diferentemente dos dois poetas anteriores, era fi lho de Juazeiro do Norte. Seus primeiros contatos com o universo da escrita e da leitura se deram através da poesia e de uma maneira particularmen- te interessante: aos 13 anos, encantou-se com o poema Alonso e Marina, de Leandro Gomes de Barros, que enrolava uma bar- ra de sabão comprada pelo avô. Isso lhe motivou a querer aprender a ler. autoria e de outros autores, como Cordeiro e João de Cristo Rei. Entre os vários cordéis que escreveu, incluem-se obras com enredos engraçados, como A briga de um comerciante com a vende- dora de tabaco; Namoro da velha debaixo da cama; O casamento do negrão. Outras obras, investem em tramas sensacionalistas ou gro- tescas, como é o caso dos folhetos O homem que deu à luz a um menino e O homem que deu à luz ao Diabo. Apesar destes, o tema da religio- sidade foi frequentemente trabalhado pelo po- eta, tendo como protagonistas principalmente o padre Cícero Romão ou o Frei Damião. São dessa temática os folhetos O homem que man- dou comprar chuva ao Padre Cícero do Juazeiro; O milagre do Padre Cícero em Roma; O sermão do meu Padrinho no ano de 32; A mulher que virou bicho porque profanou o Frei Damião; A queixa de Satanás a Frei Damião (ou O Satanás resolveu falar com Frei Damião); Os milagres da estátua do frade Frei Damião. Por fi m, cabe dar destaque ainda ao nome de Expedito Sebastião da Silva, poeta que, como Manoel Caboclo, também nasceu em Juazeiro do Norte e trabalhou na Tipografi a São Francisco, onde ingres- sou por recomendação do poeta Antônio Caetano de Palhares. Expedito incorporou uma nova função a partir da amizade que estabeleceu com o po- eta e astrólogo pernambucano João Ferreira de Lima, que conseguia conciliar habilmen- te a produção poética com a elaboração de almanaques, consultas astrológicas e con- fecção de talismãs. E quando este passou a publicar seus almanaques na Tipografi a São Francisco, Expedito, que fazia a revisão dos originais, começou a estudar a astrologia. CURSO literatura cearense 171 A partir de então, o poeta Expedito Se- bastião da Silva passou a realizar consultas e horóscopos por meio do envio pelo con- sulente, atravésdo reembolso postal, dos dados pessoais e da quantia em dinheiro solicitada. Como resultado disso, viria a ga- nhar o epíteto de poeta-astrólogo. Contudo, com a morte de José Bernardo da Silva, em 23 de outubro de 1972, Expedito determinou-se a manter viva a icônica Ti- pografi a São Francisco. Conhecendo como ninguém os títulos do catálogo da editora, sobretudo os clássicos que pertenceram ao espólio de João Martins de Athayde, sabia exatamente o que devia ser reeditado e qual a tiragem mais apropriada para cada título. Todas essas atividades não impediram que se tornasse um autor prolífi co, tendo escrito mais de duzentas obras. Sobretu- do, esmerou-se em manter a qualidade em toda sua produção, destacando-se como poeta que dominava tanto a rima, como a métrica e a oração. No tocante à religiosidade presente em vários de seus cordéis, é importante acentu- ar que muitas vezes ela se traduziu em seus versos através da crítica aos novos costu- mes, de que é exemplo o folheto A marcha dos cabeludos e os usos de hoje em dia. No que diz respeito em específi co a sua devoção ao padre Cícero, cabe citar os seguin- tes títulos que evidenciam o protagonismo do sacerdote: A opinião dos romeiros sobre a cano- nização do Padre Cicero pela Igreja Brasileira; O Padre Cícero, o sertanejo e os coronéis e Em defesa da memória do Padre Cícero. O último se constitui uma reação à publicação da obra Apostolado do embuste, de 1956, no qual o au- tor, o padre Antônio Gomes de Araújo, procura mostrar os milagres do padre Cícero como uma sequência de fraudes. Furioso, Expedito, que já o refutara no cordel Verdades incontestáveis ou voz dos romeiros, não hesita em desqualifi car o autor, chamando-o de “infame cafajeste”, entre outros impropérios. Além disso, Expedito traz aspectos da vida e do sacerdócio do “Padim Ciço” na tentativa de revelar a sua santidade. Expedito, bem como os demais poetas aqui citados, assistiram à incrível ascensão do cordel em Juazeiro do Norte. Foi uma era em que, profundamente imersos no ambien- te místico das romarias e da devoção ao pa- dre Cícero, contribuíram para fazer da Meca cearense o maior polo da poesia popular impressa até praticamente o fi nal dos anos 50 do século XX. No entanto, sendo mais novo que os demais, Expedito viveu o bastante para vivenciar uma outra fase, quase contrária, na qual o cordel viveria uma fase de profundo declínio, quase chegando a experi- mentar um processo de esgotamento e extin- ção que, felizmente, não duraria para sempre. 5. O MISTÉRIO DO PAVÃO QUE RECOLHEU A CAUDA m 1981, por ocasião do II Ciclo da Literatura de Cordel, encontro de poetas populares e pesquisa- dores do cordel realizado na Uni- versidade Federal do Ceará, o pro- fessor Átila de Almeida decretava o “fi m do cordel” (Cf. Literatura po- pular em questão, 1982, p. 17). Convém ressaltar alguns fatores que ajudam a explicar esse declínio ao longos dos anos 70 e 80 do século XX: (1) adoção do sistema de impressão através da fo- tografi a (mais conhecido como off -set), que permitindo tanto a redução do tempo quan- to a melhoria da qualidade de impressão, representou um golpe de morte nas tipo- grafi as artesanais; (2) o crescente proces- so de urbanização das cidades nordes- tinas, levando a novos padrões e hábitos de consumo e ao fortalecimento de novas mentalidades; (3) a ampliação do acesso dos nordestinos aos meios de comunica- ção de massa, pincipalmente a TV, levando o público a se dividir entre outras formas de divertimento; (4) a popularização de outros gêneros literários e o aumento do preço do cordéis. Também, é claro, não se pode deixar de trazer novamente à lembran- ça a morte de José Bernardo da Silva, com a (5) posterior diminuição das atividades da Tipografi a São Francisco. O somatório de tudo isso e de outras coisas mais podem, de alguma forma, tentar explicar o declínio do cordel nesse período. determinou-se a manter viva a icônica Ti- . Conhecendo como ninguém os títulos do catálogo da editora, SABATINA 172 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE O certo é que, mesmo nos momentos mais difíceis, alguns poetas cearenses resistiram, não interrompendo sua produção poética em cordel. Merecem destaque, nesse contexto, os nomes dos poetas Abraão Batista (também xilógrafo expressionista), Gonçalo Ferreira da Silva (cearense radicado há décadas no Rio de Janeiro, onde fundou a Academia Bra- sileira de Literatura de Cordel) e Lucas Evan- gelista (que é também compositor e canta- dor). No período, merecem destaque ainda os poetas Gonzaga Vieira (ou “Gonzaga de Canindé”), Natan Marreiro, Pedro Bandeira e Severino do Horto. Um fato importante a se destacar nesse período foi o aparecimento inesperado de um poeta em um cenário em que a poesia popular impressa não possuía ainda uma tradição, comprovando que, mesmo na difi culdade, a poesia popular continuava resistindo. Trata-se do surgimento do poe- ta-pescador José da Rocha Freire, mais co- nhecido como “Zé Melancia”, que apenas em 1951, quando contava 42 anos de idade, passou a produzir cordéis. Em textos como Galope por dentro do mar nos peixes nos pás- saros do mar na jangada; Biografi a de Canoa Quebrada; e Dragão do Mar, fi lho de Canoa Quebrada; e Canção da vida do pescador, o autor escrevia sobre a realidade que o cir- cundava, que incluía o ofício de pescador, a história do lugar em que nasceu e os heróis com os quais guardava laços, como os pes- cadores Dragão do Mar e Jerônimo. 6. ABRINDO A NOVA MALA DE ROMANCES pesar do discurso pessimista de alguns de seus pesquisa- dores (e até mesmo de poetas populares), o cordel resistiu aos anos mais duros, chegan- do aos dias atuais com o vigor renovado, passando a ocupar espaços que antes lhe eram vedados. E, ao contrário do que se esperava, sendo privi- legiado em compras governamentais, in- gressando nas escolas, ganhando espaços em grandes eventos e sendo laureado em prêmios literários reconhecidos no país. Para o revigoramento do cordel no Cea- rá, porque não podemos falar de ressurei- ção de algo que nunca morreu, concorre- ram vários acontecimentos. Um deles foi, sem dúvida, o desenvolvimento de uma consciência coletiva que resultou no movi- mento de integração dos nossos poetas populares em agremiações, que passa- ram a concentrar esforços para conquistas comuns de seus associados. Uma das primeiras foi a Academia Brasi- leira de Cordel (ABC), cujo fundador e pre- sidente era Vidal Santos. A instituição, cabe informar, passou a administrar, a distância, a Lira Nordestina (antiga Tipografi a São Fran- cisco), quando esta veio a ser adquirida pelo Governo do Estado do Ceará. Essa administra- ção, diga-se de passagem, recebeu várias críti- cas, como as que assinou o pesquisador ma- ranhense Ribamar Lopes (Cf. LOPES, 1987). Ainda nos anos 80, nascia o Centro Cul- tural dos Cordelistas do Nordeste, que surgiu da constatação dos poetas piauienses radicados no Ceará, Gerardo Carvalho Fro- ta (o “Pardal”, atual presidente da instituição) e Guaipuan Vieira, a partir de uma pesqui- sa realizada em 1985, de que eram poucos à época os cordelistas em ação em nosso estado. A partir daí, procuraram espaços que permitissem a venda das obras que os dois produziam. Juntaram-se a eles, JotAmaro, José Caetano e Horácio Custódio. Funda- ram, então, em 1987, uma associação que ti- nha inicialmente o nome de Centro Cultural dos Cordelistas do Ceará, que logo depois passou a ostentar o nome atual: Cecordel. Seguindo a cronologia, cabe destacar ainda outras duas importantes instituições de cordelistas que ajudaram a projetar o gênero poético em foco: A Academia dos Ribamar Lopes (1932-2006) é poeta, contista e ensaísta. Autor da famosa Antologia de Literatura de Cordel e prefaciador do Acorda Cordel em Sala de Aula, de Arievaldo Vianna, era um guardião da arte, valorizando os mestres, infl uenciando e acompanhando, com respeitosorigor, os jovens talentos e pesquisadores. Publicou também Quinze casos contados (contos), Viola da saudade (poesia) e Sete temas de cordel (ensaio) e Saudade enluarada (poesia - póstumo). CONFEITOS A Feira do Cordel Brasileiro foi idealizada e é organizada por Klévisson Viana, vencedor do Prêmio Jabuti de Literatura (2015) com O Guarani em cordel, uma adaptação da obra de José de Alencar. A ação, que acontece anualmente em Fortaleza, é uma das manifestações e celebrações mais coloridas e plurais do cordel brasileiro, acolhendo diversas gerações de mestres e artistas populares brasileiros, entre cordelistas, editores, xilogravadores, cantadores, repentistas, bonequeiros, rabequeiros e todo um mundo de boa gente. CURSO literatura cearense 173 Cordelistas do Crato e a Associação de Escritores, Trovadores e Folheteiros do Estado do Ceará (Aestrofe). Fundada em 1991 por Elói Teles de Mo- rais, a Academia dos Cordelistas do Crato, atualmente presidida pela poeta Anilda Figueiredo, é composta por vinte poetas populares e tem realizado várias ações cul- turais envolvendo seus associados, incluin- do a apresentação de recitais em festas do município em que se localiza. A Aestrofe foi fundada em 2006 pelo poeta, ilustrador e editor Klévisson Viana, atual presidente da instituição. A instituição con- grega, além de poetas populares, também folheteiros, xilogravadores, capistas, folcloristas, declamadores, cantadores e todos os demais artistas e profi ssio- nais que lidam com o universo da literatura de cordel e da cultura popular. Uma das principais ações da instituição é a organi- zação da “Praça do Cordel”, espaço que as últimas Bienais Internacionais do Livro do Ceará têm destinado aos poetas populares cearenses, sendo reconhecida pela sua di- versidade e animação dos participantes. Cabe ainda incluir nesse rol de instituições congregadoras de poetas cearenses, a So- ciedade dos Cordelistas Mauditos (sic), importante movimento de jovens poetas, cantadores e performers, fundado no ano de 2000 em Juazeiro do Norte. E, fazendo jus ao nome da associação, seus mem- bros têm produzido obras marcadamente “engajadas” na luta dos direitos humanos, sendo comum as ideias que defendem en- trarem em choque com o conservadorismo predominante na sociedade juazeirense. Outro fator que tem contribuído com a efervescência e resistência da produção cordelística cearense, notadamente de For- taleza, é o surgimento de editoras especiali- zadas na publicação de folhetos. Entre elas, merece destaque a editora Tupynanquim, fundada em 1995 pelo já citado Klévisson Viana. Inicialmente criada para a publica- ção de obras em quadrinhos, passou em 1999 a ter como foco a publicação de cor- déis, vindo tanto a reeditar clássicos do gê- nero, como a lançar novos poetas. 174 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE174 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE Outro acontecimento importante veio a ser a inclusão, em 2006, de cordéis assinados pelos poetas cearenses Arievaldo Vianna, Klévisson Viana e Rouxinol do Rinaré no projeto “Baião de Letras”, numa parceria da Secretaria de Educação com a Secretaria de Cultura do Estado do Ceará. A partir de então, o cordel viria a ser cada vez mais frequente no âmbito do sistema de ensino de todo o estado. Além dos aqui já citados nesta seção, com toda a humildade de possíveis esquecimen- tos ou desconhecimentos, incluem-se, entre os cordelistas contemporâneos do Ceará: Anilda Figueiredo, Antônio Marcos Bandeira, Antônio Queiroz de França, Arlene Holanda, Audifax Rios, Bastinha Job, Bia Lopes (fi lha do poeta, pesquisador e contista Ribamar Lopes), Costa Sena, Dalinha Catunda, Dideus Sales, Edésio Batista, Édson Neto, Eduar- do Macedo, Elmo Nunes, Evaristo Geraldo, Fanka, Fernando Paixão, Francisco Melchí- ades, Gadelha do Cordel, Godofrêdo Sólon, Guilherme Nobre, Ivonete Morais, Jarid Arraes (neta de Abraão Batista e fi lha de Hamurabi Merecem destaque outras duas editoras cearenses especializadas na publicação de cordéis: a Cordelaria Flor da Serra, fun- dada pelo poeta e pedagogo Paiva Neves em 2016, e a Rouxinol do Rinaré Edições & Folheteria, fundada em 2019 pelo fecun- do poeta Antônio Carlos da Silva, mais conhecido pelo pseudônimo de “Rouxinol do Rinaré”. Ainda que recentemente fun- dadas, as duas editoras também investem na estratégia já há tempos empregada pela Tupynanquim, ora reeditando cordéis clás- sicos, ora a lançar obras de poetas contem- porâneos, incluindo os novos talentos que não param de surgir, inclusive autores de outros gêneros que “experimentam” o cor- del ou migram defi nitivamente para ele. CONFEITOS REFERÊNCIAS BRÍGIDO, João. Miscelânea histórica. 2. ed. (fac-similar da edição pioneira de 1889). Fortaleza: Fundação Waldemar Alcântara, 2009. CARVALHO, Gilmar de. Lyra Popular: o cordel do Juazeiro. Fortaleza: Museu do Ceará/Secretaria de Cultura do Estado do Ceará, 2006. (Outras Histórias, 37). __________. Moisés Matias de Moura: o cordel de Fortaleza. Fortaleza: Expressão, 2011. CEARÁ/SECRETARIA DE CULTURA E DESPORTO/ CENTRO DE REFERÊNCIA CULTURAL (Org.). Literatura popular em questão. Fortaleza: IOCE, 1982. (Povo e Cultura, 3). DIÉGUES JÚNIOR, Manuel. Literatura de cordel. 2. ed. Rio de Janeiro: MEC, 1977. KUNZ, Martine. Cordel: a voz do verso. Fortaleza/ CE: Secretaria da Cultura e Desporto do Ceará, 2001. (Outras Histórias, 6). LOPES, José de Ribamar. A hora da verdade. In: D. O Letras, Ano II, n°.6, Fortaleza, 1987. SOMBRA, Waldy. Padre Verdeixa: o Canoa Doida. Fortaleza: Unifor, 1996. TERRA, Ruth. Memórias de lutas: a literatura de folhetos no Nordeste (1893-1930). São Paulo: Global, 1983. VIANNA, Arievaldo. Acorda cordel na sala de aula: a literatura popular como ferramenta auxiliar na educação. 2. ed. Fortaleza: Encaixe, 2010. ___________; LIMA, Stélio Torquato. Santaninha, um poeta popular na capital do Império. Fortaleza: IMEPH, 2017. CURSO literatura cearense 175 Batista, ambos cordelistas e xilogravuristas), Jesus Sindeaux, João Batista Vieira Fontene- le (Jotabê), José Mapurunga, Josenir Lacer- da, Josy Maria, Julie Oliveira (fi lha do poeta Rouxinol do Rinaré), Lucarocas, Luís Távora, Maria (a cangaceira), Maria Luciene, Mariana Lima (Jovelina do Ceará), Modesto, Moreira de Acopiara, Paiva Neves, Paola Tôrres, Paulo de Tarso Bezerra Gomes, Pedro Paulo Pauli- no, Rafael Brito, Raul Poeta, Romário Braga, Salete Maria, Serra Azul (Piúdo), Siqueira, Sté- lio Torquato, Tião Simpatia, Vânia Freitas, Zé do Jati e Zé Maria de Fortaleza, entre outros. A eles se soma o nome de Geraldo Amâncio, o qual, apesar de ser um celebrado veterano na cantoria, só mais recentemente passou a se dedicar à poesia de bancada. Destacamos aqui a atuação fi rme, talen- tosa e cada vez mais crescente do cordel de autoria feminina, contribuindo para erradicar o preconceito contra elas e a sua invisibilidade por muito tempo, comum no âmbito cordelístico, assim como no literário e intelectual de forma geral. Sob a batuta desses e de tantos outros poetas da contemporaneidade, o cordel do Ceará se mostra cada vez mais promis- sor, afastando de vez o receio das gerações anteriores de que nosso cordel caminhas- se para a extinção. Ajustado aos novos tempos, sendo ri- camente estudado pela academia e dia- logando com todas as artes (cinema, HQs, teatro etc.), o cordel invade as redes so- ciais e também ganha a tela da TV em rede nacional pelos recitais de Bráulio Bessa. Ocupa lugar de destaque tanto nas Bienais do Livro quanto em feiras e festas de livros espalhadas pelo país. E, sobretudo, entra nas escolas, pela porta da frente, mostran- do-se como ferramenta interessantíssima a serviço do processo de ensino-aprendi- zagem e de fomento à leitura, como já an- tecipava o Projeto Acorda Cordel, criado e desenvolvido há quase vinte anos por Arievaldo Vianna, e que, após ser testado comsucesso pela Secretaria de Educação do município de Canindé, foi apresentado em Brasília, em dezembro de 2002, duran- te a III Conferência Nacional de Educação e Desporto, promovida pela Comissão de Educação da Câmara Federal. Em 2006, finalmente saiu a primeira edição desta obra (Cf. VIANA, 2010), com tiragem de dois mil exemplares, há muito esgotada. A retomada do Projeto Acorda Cordel resgata um trabalho vitorioso que deu grande contribuição para difusão da Literatura de Cordel nas escolas de todo o Brasil, ao mesmo tempo que influenciou às novas gerações, estas que, sabe-se lá um dia, trarão no coração o brado gosto- so de um poema bem declamado. Arievaldo Vianna, que não é apenas o idealizador do projeto Acorda Cordel, mas também o executor, consultor e capacitador de professores, acredita que o cordel facilita o processo de alfabetização por ser uma linguagem simples e de fácil alcance. Ora, ele mesmo fora alfabetizado pelo cordel. Após um encontro em Brasília, na presença de Ziraldo, Lucélia Santos, Nelson Pereira dos Santos e de uma plateia de mais de 3 mil pessoas, Arievaldo declamou “A gramática em cordel”, de José Maria de Fortaleza, e depois disso aumentou em muito o número de convites, viajando por diversos estados do país, não apenas ele, mas os demais cordelistas envolvidos no projeto. Para saber mais: acordacordel.blogspot.com Realização Apoio Patrocínio FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR) João Dummar Neto Presidente André Avelino de Azevedo Diretor Administrativo-Financeiro Marcos Tardin Gerente Geral Raymundo Netto Gerente Editorial e de Projetos Aurelino Freitas, Emanuela Fernandes e Fabrícia Góis Analistas de Projetos UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (UANE) Viviane Pereira Gerente Pedagógica Marisa Ferreira Coordenadora de Cursos Joel Bruno Designer Educacional CURSO LITERATURA CEARENSE Raymundo Netto Coordenador Geral, Editorial e Estabelecimento de Texto Lílian Martins Coordenadora de Conteúdo Emanuela Fernandes Assistente Editorial Amaurício Cortez Editor de Design e Projeto Gráfico Miqueias Mesquita Diagramador Carlus Campos Ilustrador Luísa Duavy Produtora ISBN: 978-65-86094-22-0 (Coleção) ISBN: 978-65-86094-24-4 (Fascículo 11) Este curso é parte integrante do programa Circuito de Artes e Juventudes 2019, Pronac nº 190198, processo nº 01400.000464/2019-94, em parceria com a Secretaria Especial da Cultura do Ministério da Cidadania. Todos os direitos desta edição reservados à: Fundação Demócrito Rocha Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora CEP: 60.055-402 - Fortaleza-Ceará Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148 fdr.org.br fundacao@fdr.org.br AUTORES Arievaldo Vianna É poeta, xilogravador, chargista e ilustrador. Nasceu no sertão, criado à luz de lamparina, em contato com as cacimbas dos saberes do povo Nordestino e alfabetizado com auxílio do Cordel. Nos anos de 1990, lançou a caixinha de folhetos da Coleção Cancão de Fogo, sucesso de vendas e de crítica. Criador do Acorda Cordel na Sala de Aula, autor de mais de 120 folhetos de cordel e de 30 livros publicados, alguns adotados pelo PNBE. Falecido precocemente em 30 de maio de 2020, a coautoria deste fascículo foi a sua última contribuição registrada ao cordel. Stélio Torquato Lima É graduado em Letras e Artes pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), com mestrado em Estudos da Linguagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e doutorado em Letras pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). É professor adjunto de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa na UFC, onde também coordena o Grupo de Estudos Literatura Popular (GELP). É escritor, com mais de 150 títulos em cordel. Algumas de suas obras foram premiadas e selecionadas pelo Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD). ILUSTRADOR Carlus Campos Artista gráfi co, pintor e gravador, começou a carreira em 1987 como ilustrador no jornal O POVO. Na construção do seu trabalho, aborda várias técnicas como: xilogravura, pintura, infogravura, aquarelas e desenho. Ilustrou revistas nacionais importantes como a Caros Amigos e a Bravo. Dentro da produção gráfi ca ganhou prêmios em salões de Recife, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. AUTORES Arievaldo Vianna É poeta, xilogravador, chargista e ilustrador. Nasceu no sertão, criado à luz de lamparina, em contato com as cacimbas dos saberes do povo Nordestino e alfabetizado com auxílio do Cordel. Nos anos de 1990, lançou a caixinha de folhetos da Coleção e de crítica. Criador do de mais de 120 folhetos de cordel e de 30 livros publicados, alguns adotados pelo PNBE. Falecido precocemente em 30 de maio de 2020, a coautoria deste fascículo foi a sua última contribuição registrada ao cordel. Stélio Torquato Lima É graduado em Letras e Artes pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), com mestrado em Estudos da Linguagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e doutorado em Letras pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). É professor adjunto de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa na UFC, onde também coordena o Grupo de Estudos Literatura Popular (GELP). É escritor, com mais de 150 títulos em cordel. Algumas de suas obras foram premiadas e selecionadas pelo Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD). ILUSTRADOR Carlus Campos Artista gráfi co, pintor e gravador, começou a carreira em 1987 como ilustrador no jornal O POVO. Na construção do seu trabalho, aborda várias técnicas como: xilogravura, pintura, infogravura, aquarelas e desenho. Ilustrou revistas nacionais importantes como a Dentro da produção gráfi ca ganhou prêmios em salões de Recife, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.
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