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Literatura cearense

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l
11
Arievaldo Vianna
Stélio Torquato Lima
Mala de 
Romances
a Literatura de Cordel
Realização
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CURSO
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162 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
1.
A PELEJA 
DO CORDEL
Em memória de Arievaldo Vianna
Nordeste, por onde come-
çou o processo de coloni-
zação do Brasil, veio a ser 
o principal berço da acli-
matação do cordel vindo 
da Europa a uma nova re-
alidade social. 
Comprovamos isso 
com a presença de um 
conjunto de elementos que ainda hoje são 
recorrentes nas narrativas populares em 
verso, cujos enredos se destacam pelo uso 
de expressões linguísticas da região, pela 
presença de personagens do panteão local 
(fi guras do cangaço, profetas milagreiros, 
sertanejos astutos etc.), pela constância 
de elementos associados com o semiárido 
(secas, coronelismo, religiosidade popular 
etc.), entre outros. 
Alguns estados nordestinos exerceram 
um papel de destaque no processo de sis-
tematização da criação, publicação e 
distribuição do cordel. A capital de Per-
nambuco, onde já havia uma tipografi a 
desde 1815, foi o principal polo de im-
pressão dos folhetos no século XIX. Da 
Paraíba, saíram muitos poetas em direção 
a Recife, incluindo Leandro Gomes de 
Barros (1865-1918), poeta que, pela qua-
lidade e variedade de sua obra, veio a ser 
merecidamente considerado o pai da lite-
ratura de cordel brasileira.
Como veremos neste módulo, o Ceará 
também se confi gurou como um lugar im-
portante na impressão e difusão da litera-
tura de folhetos, tendo se tornado o berço 
acolhedor e exportador de vários cantado-
res e poetas populares, muitos deles que 
mesmo não residindo mais neste mundo, 
ainda continuam presentes nas praças e nas 
calçadas, por meio de suas obras ou perma-
nentemente vivos no declamar fervoroso e 
colorido de seus seguidores e leitores.
FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
A PELEJA 
DO CORDEL
Em memória de Arievaldo Vianna
Nordeste, por onde come-
çou o processo de coloni-
zação do Brasil, veio a ser 
o principal berço da acli-
matação do cordel vindo 
da Europa a uma nova re-
alidade social. 
Comprovamos isso 
com a presença de um 
conjunto de elementos que ainda hoje são 
narrativas populares em 
, cujos enredos se destacam pelo uso 
de expressões linguísticas da região, pela 
presença de personagens do panteão local 
(fi guras do cangaço, profetas milagreiros, 
sertanejos astutos etc.), pela constância 
de elementos associados com o semiárido 
(secas, coronelismo, religiosidade popular 
etc.), entre outros. 
Alguns estados nordestinos exerceram 
um papel de destaque no processo de sis-
tematização da criação, publicação e 
distribuição do cordel. A capital de Per-
nambuco, onde já havia uma tipografi a 
o principal polo de im-
pressão dos folhetos no século XIX. Da 
Paraíba, saíram muitos poetas em direção 
a Recife, incluindo Leandro Gomes de 
 (1865-1918), poeta que, pela qua-
lidade e variedade de sua obra, veio a ser 
merecidamente considerado o pai da lite-
ratura de cordel brasileira.
Como veremos neste módulo, o Ceará 
também se confi gurou como um lugar im-
portante na impressão e difusão da litera-
tura de folhetos, tendo se tornado o berço 
acolhedor e exportador de vários cantado-
res e poetas populares, muitos deles que 
mesmo não residindo mais neste mundo, 
ainda continuam presentes nas praças e nas 
calçadas, por meio de suas obras ou perma-
nentemente vivos no declamar fervoroso e 
colorido de seus seguidores e leitores.
BOLACHINHAS
Em 7 de janeiro de 1928, logo na 
edição nº 1 do jornal O POVO, do 
poeta Demócrito Rocha, encontramos 
a seção “Trovas e Cantigas do POVO”, 
página semanal de folk-lore, que traz “O 
casamento e o divórcio da lagartixa”, de 
Leandro Gomes de Barros, que chegou 
ao editor por meio da obra Violeiros do 
Norte, de Leonardo Mota.
CURSO literatura cearense 163
2.
NO FUNDO 
DA MALA DO 
FOLHETEIRO
omo ocorreu em outros esta-
dos nordestinos, os primeiros 
cordelistas cearenses deram 
continuidade a uma tradição 
poética oral remotíssima, 
que se manifestava através 
da criação de uma infi nidade 
de quadrinhas populares, 
cantigas de roda etc. Dessa 
tradição também descende a cantoria de 
viola, que igualmente se benefi ciou com o 
rico imaginário que a oralidade fomentou. 
Vindo depois, porque dependia de um 
maior aparato tecnológico (a imprensa), o 
cordel recebeu infl uência direta tanto da 
poesia oral quanto da cantoria, tendo her-
dado desta, temas, elementos estruturais e 
gêneros. Mas uma pergunta continua: quan-
do teve início, ainda que de forma inci-
piente, a produção cordelística no Ceará? 
Antes de esboçar uma resposta à ques-
tão, que se manterá provisória até novas 
descobertas por parte dos nossos pesquisa-
dores – que inclusive pode ser você, cursista 
–, é importante destacar que a poesia popu-
lar fl oresceu muito cedo em nosso estado, já 
circulando obras populares em cópias ma-
nuscritas pelo menos desde o século XVIII, 
muito antes, portanto, da chegada do 
prelo em nosso país. Importante isso, não?
Como destaca João Brígido (2009), en-
tre esses autores que buscaram um meio 
alternativo de difusão de suas criações po-
pulares incluía-se Manoel Felipe de Caste-
lo Branco, fi lho de Baturité (CE), que logo 
após o fracasso da Confederação do Equa-
dor (1824) desenvolveu um poema em déci-
mas, do qual são os trechos a seguir:
Suçuarana se chama/ Quem vendeu o Ara-
cati,/ E dizem que esse quati/ É fi lho de mu-
lher dama./ É notório e corre a fama/ Que o 
vendeu por um cruzado,/ E para ser embol-
sado/ Do Chaves este dinheiro,/ Jurou não 
ser brasileiro!/ Todo corcunda é malvado! 
(BRANCO, apud BRÍGIDO, 2009, p. 93 e 96)
Como se observa, o poema se desenvol-
ve a partir de um mote, “Todo corcunda é 
malvado”, cabendo destacar que “Corcun-
da” era o apelido dado aos imperialistas
que passaram a perseguir impiedosamente 
os republicanos envolvidos nas revoluções 
de 1817 e 1824. Trata-se, assim, de uma re-
corrência à produção popular como meio 
de espicaçar os adversários políticos, ou 
seja, uma forma de “revanche poética”, para 
empregar a expressão cunhada por Marti-
ne Kunz (2011, p. 60).
CURSO literatura cearense 
2.
NO FUNDO 
DA MALA DO 
FOLHETEIRO
omo ocorreu em outros esta-
dos nordestinos, os primeiros 
cordelistas cearenses deram 
continuidade a uma tradição 
poética oral remotíssima, 
que se manifestava através 
da criação de uma infi nidade 
de quadrinhas populares, 
cantigas de roda etc. Dessa 
tradição também descende a cantoria de 
viola, que igualmente se benefi ciou com o 
rico imaginário que a oralidade fomentou. 
Vindo depois, porque dependia de um 
maior aparato tecnológico (a imprensa), o 
cordel recebeu infl uência direta tanto da 
poesia oral quanto da cantoria, tendo her-
dado desta, temas, elementos estruturais e 
gêneros. Mas uma pergunta continua: quan-
do teve início, ainda que de forma inci-
piente, a produção cordelística no Ceará? 
Antes de esboçar uma resposta à ques-
tão, que se manterá provisória até novas 
descobertas por parte dos nossos pesquisa-
dores – que inclusive pode ser você, cursista 
–, é importante destacar que a poesia popu-
lar fl oresceu muito cedo em nosso estado, já 
circulando obras populares em cópias ma-
nuscritas pelo menos desde o século XVIII, 
muito antes, portanto, da chegada do 
prelo em nosso país
tre esses autores que buscaram um meio 
alternativo de difusão de suas criações po-
pulares incluía-se 
lo Branco
após o fracasso da Confederação do Equa-
dor (1824) desenvolveu um poema em déci-
mas, do qual são os trechos a seguir:
Como se observa, o poema se desenvol-ve a partir de um mote, “Todo corcunda é 
malvado”, cabendo destacar que 
da” era o apelido dado aos imperialistas
que passaram a perseguir impiedosamente 
os republicanos envolvidos nas revoluções 
de 1817 e 1824. Trata-se, assim, de uma re-
corrência à produção popular como meio 
de espicaçar os adversários políticos, ou 
seja, uma forma de “revanche poética”, para 
empregar a expressão cunhada por 
ne Kunz
164 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
No que diz respeito a obras publicadas 
pela imprensa, o pesquisador Gilmar de 
Carvalho (2006) defende, apoiado na re-
colha dos primeiros folhetos publicados 
no Ceará, que o início da produção de 
cordéis no Ceará não se deu antes de 
1912, quando ocorreu a queda da oligar-
quia Accioly. Foi em 1912, a propósito, que 
Marcos Franco Tranquilo publicou em 
Fortaleza Levanta-te, ó multidão!, folheto 
constante do acervo da Universidade Es-
tadual da Paraíba. Aliás, a cordelteca da 
referida instituição também possui um 
exemplar de Machadinha de Noé: aviso do 
padre Cícero Romão Batista, publicado em 
Juazeiro do Norte em 1911.
Espicaçar
Bicar, furar, 
magoar, torturar.
Vergastar
Golpear com 
vergasta, chicotear.
Sextilha
Estrofe de 6 versos.
É importante, no entanto, não esque-
cermos o papel que os jornais cearenses 
tiveram como veículo de difusão de cria-
ções literárias populares, tendo em vista 
que muitos dos periódicos que circularam 
em nosso estado no século XIX e primeiras 
décadas do século XX possuíam seções li-
terárias. Nessas seções, dividindo espaço 
com sonetos e outras produções de feição 
erudita, eram frequentes os textos de cariz 
popular, ainda que muitos deles assinados 
por autores consagrados no meio erudito, 
como Rodolfo Teófi lo e Juvenal Galeno.
Foi através dos periódicos que o padre e 
político cearense Alexandre Francisco Cer-
belon Verdeixa (1803-1872), mais conheci-
do como “Canoa Doida”, valeu-se da poesia 
para espicaçar seus desafetos. O pai do ro-
mancista José de Alencar, o senador Alencar, 
chamado por Verdeixa de “Padre Cobra”, tor-
nou-se um dos principais alvos da sátira im-
piedosa do poeta, que veio a escrever diver-
sos ABC vergastando seus inimigos, além 
de também ter feito uso da sextilha. 
O Rebate, com apenas quatro páginas, 
pioneiro do jornalismo impresso de 
juazeiro do Norte, foi fundado pelo 
padre Joaquim de Alencar Peixoto, em 
18 de julho de 1909, com o objetivo 
de contribuir para a emancipação de 
Juazeiro do Norte, que até então era 
uma vila pertencente ao Crato.
SABATINA MALACA
CHETAS
Américo Facó (1885-1953), poeta e 
jornalista, nasceu em Beberibe (CE). 
Publicou poemas no Jornal do Ceará, 
entre 1907 e 1908 (que iniciavam um 
parnasianismo no Ceará, mas que 
seriam renegados, futuramente, pelo 
autor). Em 1908, levou uma surra de 
policiais, a mando do governador 
do estado e, assim, em 1910, decidiu 
ir ao Rio de Janeiro, onde residiria 
até morrer. No Rio, logo enturmou-
se com muitos intelectuais. Fundou 
algumas revistas – Pan e Ideia ilustrada
(ambas em 1924) – e foi diretor da 
revista Fon-Fon, entre outras, como 
O espelho e Estética. Publicou o 
primeiro conto de Clarice Lispector, 
“Triunfo”, criou a Agência Brasileira de 
Notícias, empregou Sérgio Buarque 
de Holanda e Carlos Drummond de 
Andrade. Drummond dedicou a ele 
seu livro Claro enigma e, por conta da 
insistência e argumentos de Facó, ele 
publicaria O observador no escritório. 
Após a morte de Facó, além de lhe 
ofertar um poema e escrever sobre 
seus últimos dias, Drummond também 
iniciaria uma questão com a família 
de Facó (ele era solteiro e não tinha 
fi lhos) sobre o desmembramento e 
venda de sua biblioteca. As duas obras 
de Facó, Sinfonia negra (1946) e Poesia 
perdida (1951), foram enfeixadas 
por Raymundo Netto em publicação 
denominada Obra perdida de Américo 
Facó, na Coleção Nossa Cultura da 
Secult, em 2010.
CURSO literatura cearense 165
Como destaca Gilmar de Carvalho 
(2006), o jornal, através da seção “Lyra Po-
pular”, trouxe aos poucos letrados de Jua-
zeiro poemas em cordel do paraibano Le-
andro Gomes de Barros e do alagoano 
Pacífi co Pacato Cordeiro Manso. Ao mes-
mo tempo, serviu de espaço para a difusão 
da criação poética de autores cearenses, 
como Ana Almerinda Dias e José Augus-
to Siebras, além de autores que preferiram 
o anonimato ou se ocultar atrás de pseudô-
nimos, como “Jacy” e “Pajé”. 
A língua ferina do Canoa Doida se eviden-
cia com todo vigor no ABC que escreveu con-
tra João André Teixeira Mendes (1781-1874), 
cognominado de “Canela Preta”, ofi cial da 
Guarda Nacional, julgado (mas não senten-
ciado) pelas mortes do ten. Antônio Vieira 
do Lago Cavalcante e do ten. cel. José Caval-
cante de Luna Albuquerque. Do poema, lido 
pelo próprio autor numa sessão do júri na 
cidade do Icó, na década de 30 do século XIX, 
são os seguintes versos de abertura:
A [sic] muitos anos vivia/ João André 
fazendo morte,/ Deixando órfãos e viúvas/ 
Lastimando a sua sorte. 
Basta ver, em vinte e quatro,/ O que ele 
praticou,/ Quatro livres brasileiros/ Que ele 
aqui fuzilou. 
Carregado de tormentos/ É mui bom que 
pague agora,/ Entregando a sua vida/ 
Numa forca, sem demora. 
(VERDEIXA, apud SOMBRA, 1996, p.30-31)
Outro episódio interessante que mostra 
como a poesia popular valia-se dos jornais 
para o embate político é reportado pela pes-
quisadora Ruth Brito Lêmos Terra (1983). 
Trata-se de vários poemetos em formato de 
cordel escritos por alguém que se identifi cava 
como Marcos Franco Tranquilo, sendo os 
mesmos direcionados contra o “babaquara” 
Accioly, apelido pejorativo de Antônio Pinto 
Nogueira Accioly, governador do Ceará entre 
1896 e 1912. Mesmo havendo dúvidas sobre a 
verdadeira autoria dos poemas, suspeitando-
-se ora de Rodolfo Teófi lo, ora de Américo 
Facó, foi este que veio a ser castigado, levando 
uma surra impiedosa por parte dos capangas 
do oligarca na praça Marquês do Herval (hoje, 
praça José de Alencar). O aparente motivo 
foi ele ter assinado antes um poema no jor-
nal A República em que concluía assim: “Hei 
de açoitar-te a cara branca/Como se açoita a 
anca/ Dum mau cavalo, para pô-lo a trote.”
O jornal O Rebate, periódico de Juazeiro 
do Norte – polo inaugural da produção 
sistemática do cordel no Ceará –, desem-
penhou importante papel para a divulgação 
da obra tanto de cordelistas consagrados em 
outros estados quanto de autores locais.
MALACA
CHETAS
166 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
Nascido em 1827, na então Vila de Tou-
ros, que, à época, pertencia ao município de 
Extremoz, no Rio Grande do Norte, Santani-
nha faleceu em data desconhecida, mas pro-
vavelmente em alguma data a partir de 1883, 
quando seu nome não mais passa a fi gurar 
na imprensa. Veio em data ignorada para o 
Ceará, tornando-se trabalhador de um sítio 
da família Sombra em Maranguape. 
Sua habilidade de compor canções e 
recitar poemas ao som da rabeca, ins-
trumento que dominava, logo o levaria a 
frequentar os salões da elite cearense. E, 
importante destacar, no jornal O Cearense, 
de 1871, encontramos um poema seu sobre 
a Guerra de Paraguai, o que faz com que 
Santaninha anteceda em pelo menos duas 
décadas o “pai do cordel”, Leandro Gomes 
de Barros, que só começaria a publicar os 
seus cordéis a partir de 1889.
Deslocando-se para o Rio de Janeiro, ca-
pital do Império, em 1877, Santaninha deu 
prosseguimento a uma atividade artística 
que conciliava música e poesia popular, 
apresentando-se em lugares públicos em 
troca de contribuições dos passantes. Tam-
bém utilizou-se dos jornais para divulgar 
tanto os pontos de vendas de suas obras 
quanto os lugares e horários de suas apre-
sentações públicas ou privadas. 
Além de Santaninha, outros poetas vin-
dos de fora do estado deram importante 
contribuição para a fl oração da literatura 
de cordel no Ceará, contando-se entre eles 
o também potiguar Luiz da Costa Pinhei-
ro, o alagoano José Bernardo da Silva e o 
paraibano João de Cristo Rei. Juntam-sea 
eles os nomes dos cearenses João Mendes 
de Oliveira e José Cordeiro da Silva. O úl-
timo, a propósito, aproveitando a passagem 
de Lampião pela “Meca do Cariri” (Juazeiro 
do Norte) em 1926, escreveu o folheto Visita 
de Lampião a Juazeiro, no qual cita o nome 
de todos os cangaceiros do bando, nomes 
ditados pelo próprio Virgulino. Além desse 
cordel, escreveu, entre outros, Perseguições 
de Lampião pelas forças legais.
3. 
UM POETA 
POPULAR NA 
CAPITAL DO 
IMPÉRIO
omo já destacado, no Ceará 
do século XIX não havia ain-
da uma produção sistemática 
de cordéis. Podemos verifi car 
isso quando buscamos e não 
encontramos nos jornais cea-
renses daquele período qual-
quer anúncio de tipografi as 
que vendessem folhetos. Nos 
periódicos, era Juvenal Galeno pratica-
mente um sinônimo de poesia popular. 
Não obstante, como informam os pesqui-
sadores Arievaldo Vianna e Stélio Torqua-
to Lima (2017), autores deste fascículo, 
pelo menos um poeta verdadeiramente 
popular ganharia alguma notoriedade na 
mídia impressa da capital cearense: João 
Sant’Anna de Maria, o “Santaninha”, 
autor dos poemas em cordel Guerra do Pa-
raguai; Imposto do vintém; O célebre chapéu 
de sol de Sua Majestade o Imperador; A seca 
do Ceará; O pai da criança; O russinho; As 
moças chorando pelo fi m do carnaval, etc.
Juvenal Galeno já não é um nome 
desconhecido para os nossos cursistas. 
Temos ciência de seu pioneirismo em 
quase tudo a que se refere a nossa 
literatura, entretanto, há aqueles que 
por excesso desse admirar tendem 
a outorgar a ele, ou a outros, títulos 
equivocados, sem fundamento.
Por exemplo, o epíteto de “criador 
da poesia popular” Juvenal não o 
merece, nem o queria. 
A poesia popular surgiu com o 
desenvolvimento da humanidade, 
sabe-se lá Deus exatamente quando, 
primeiramente transmitida por 
gerações ancestrais pela 
oralidade. E Juvenal, no 
Prólogo de Lendas e 
canções populares, afi rma: 
“[...] ouvi e decorei seus 
cantos, suas queixas, suas 
lendas e profecias [...] – com 
ele [o povo] sorri e chorei, – e 
depois escrevi o que ele sentia, o 
que cantava, o que me dizia,
 o que me inspirava.”
Juvenal não criou a poesia popular, 
mas se inspirava na musa popular, a 
partir da qual criava a sua poética.
CURSO literatura cearense 167
Um importante editor de cordel que atuou 
em Fortaleza durante três décadas foi o parai-
bano Joaquim Batista de Sena (1912 - 1993). 
No início da década de 40, vendeu um sítio de 
sua propriedade e adquiriu sua primeira tipo-
grafi a, que funcionou algum tempo na cidade 
de Guarabira-PB, transferindo-se depois para 
Fortaleza-CE, onde atuou durante muitos anos. 
Na capital cearense, sua casa editorial 
chamou-se inicialmente Folhetaria São 
Joaquim ou Editora O Crepúsculo e fun-
cionou inicialmente no bairro Floresta (rua 
Estrela do Norte, 26, hoje, Álvaro Wayne). 
Depois a tipografi a adotou o nome de Fo-
lhetaria Graças Fátima e passou a funcio-
nar na rua Liberato Barroso, 725, no centro 
de Fortaleza. O poeta explicava a razão des-
se título: durante a passagem da imagem 
peregrina de Nossa Senhora de Fátima pelo 
Nordeste, na década de 50 do século XX, ele 
conseguiu ganhar muito dinheiro vendendo 
folhetos sobre a visita da santa, ampliando 
consideravelmente seus negócios.
Em 1973, vendeu sua gráfi ca e sua pro-
priedade literária para Manoel Caboclo 
e Silva e tentou estabelecer-se no Rio de 
Janeiro, também no ramo da literatura de 
cordel, mas não foi bem-sucedido. De vol-
ta ao Ceará, ainda editou alguns folhetos 
exitosos, como o que escreveu em parceria 
com Vidal Santos, sobre o famoso desas-
tre aéreo da Serra da Aratanha (Pacatuba-
-CE), onde faleceu, entre outros, o indus-
trial Edson Queiroz.
Por fi m, importa mencionar os nomes de 
outros dois editores pioneiros: Olegário Pe-
reira e Moisés Matias de Moura. O primeiro, 
que atuou em Juazeiro do Norte nas décadas 
de 1930 e 1940, adquiriu, como informa a edi-
ção de 4 de julho de 1944 do jornal Gazeta de 
Notícias, de Fortaleza, vários folhetos do Luís 
da Costa Pinheiro, alguns dos quais viriam 
depois a ser impressos na Tipografi a São 
Francisco, de José Bernardo da Silva. Já em 
relação ao pernambucano Moisés Matias de 
Moura, cabe destacar que atuou como poeta, 
editor e folheteiro em uma Fortaleza de 1929 
até o início da década de 1960, como destaca 
a pesquisa de Gilmar de Carvalho (2011).
E para fi nalizar este tópico, importan-
te lembrarmos que há ainda autores que 
escreveram cordéis, mas dividiram sua 
atividade criativa com outros gêneros e/
ou outras artes. É o caso de Patativa do 
Assaré (1909-2002) que, embora tenha pu-
blicado cordéis, destacou-se principalmen-
te na poesia-matuta, gênero também de 
caráter popular, mas que tem suas próprias 
regras, incluindo-se aí a tentativa de repro-
duzir a fala muito própria do sertanejo, o 
que não acontecia, por exemplo, na poe-
sia de Juvenal Galeno. Já Alberto Porfírio
(1926-2009), autor de dezenas de cordéis, 
incluindo A estátua do Jorge, também se 
destacou como cantador, além ter sido es-
cultor, xilogravurista e pesquisador. 
4.
O CORDEL, 
O PADRE CÍCERO 
E O HORÓSCOPO
omo já acentuado, é a partir 
de 1912 que tem início, pelo 
menos de forma mais siste-
mática, a produção de cordel 
no Ceará, tendo Juazeiro do 
Norte como polo central. Nes-
se período, os poetas popu-
lares que desejavam publicar 
seus escritos recorriam princi-
palmente à gráfi ca da Diocese do Crato.
O estabelecimento de Juazeiro como 
epicentro desse movimento não se deu por 
acaso: atraídos pela fi gura carismática do 
padre Cícero Romão Batista, que passara 
a ser visto como milagreiro após o episódio 
da hóstia transformada em sangue, ocorri-
do em 1889, muitos poetas (ou futuros poe-
tas) viriam ao Juazeiro do Norte, juntamen-
te com as intermináveis levas de romeiros, 
em busca de uma bênção do sacerdote.
Não à toa, com o passar dos anos, o padre 
Cícero viria a se tornar uma das fi guras mais 
presentes nos cordéis, só fi cando atrás do 
cangaceiro Lampião. Nessa perspectiva, não 
foram poucos os poetas que colocaram sua 
produção poética a serviço da publicização 
dos feitos e das profecias do “Padim”, contri-
buindo de forma decisiva para a construção 
do mito em torno do “Patriarca do Juazeiro”.
Consciente da força da poesia popular e 
da sua rápida capilaridade no processo de 
divulgação das ideias que defendia, o padre 
Cícero tornou-se um benfeitor dos poetas 
do povo. Emblemática dessa relação entre o 
sacerdote e os poetas devotos é a forma como 
José Bernardo da Silva (1901-1972) veio a in-
gressar na poesia, posteriormente se tornan-
do o maior editor de folhetos populares de 
todos os tempos e em todo o mundo.
Vindo pela primeira vez a Juazeiro do 
Norte em 1926, numa romaria feita em com-
panhia da mulher e da fi lha mais velha, Zé 
Bernardo pediu humildemente ao padre 
Cícero, em uma segunda vinda à cidade, a 
permissão para viver e trabalhar na cidade, 
recebendo do sacerdote a promessa de que 
ali seria muito feliz. Com a pouca oferta de 
trabalho, tornou-se vendedor ambulante de 
raízes e de outros produtos medicinais usa-
dos pelo povo, incorporando depois folhe-
tos de poesia popular. E vendo, com satisfa-
ção, que os livretos lhe rendiam bom lucro, 
aproveitou suas constantes viagens ao Reci-
fe para adquirir folhetos editados por João 
Martins de Athayde, de quem acabaria se 
tornando o maior revendedor (ou agente), 
como eram chamados os folheteiros. 
CURSO literatura cearense 169
Até 1936, ele, que começara a escrever 
cordéis em 1930, editava seus folhetos na 
gráfi ca do bispo do Crato, dom Francisco 
de Assis Pires. Naquele ano, a conselho do 
mesmo, adquiriu sua primeira máquina 
em Barbalha – uma rudimentar impressora 
de pedal –, que foi paga parceladamente. 
Assim veio a inaugurar a Folhetaria Silva, 
que, em 1939, seria renomeada como Ti-
pografi a São Francisco. 
Inicialmente voltada à impressão dos 
folhetos do próprio José Bernardo e de 
outros poetas da região, a Tipografi a São 
Franciscoganhou impulso extraordinário 
em 1949, quando João Martins de Athay-
de encerrou as atividades de sua editora e 
vendeu todo o acervo da mesma a José 
Bernardo, inclusive a obra do grande poe-
ta Leandro Gomes de Barros, cujos direitos 
autorais pertenciam a Athayde.
Nos anos 50, José Bernardo transforma-
va Juazeiro do Norte no maior polo do cor-
del, vindo a publicar os maiores clássicos do 
gênero, como Pavão misterioso, Alonso e Ma-
rina, História de Juvenal e o dragão, A vida de 
Cancão de Fogo e seu testamento, As proezas 
de João Grilo, História da Donzela Teodora e 
outras tantas histórias que faziam parte do 
acervo comprado legalmente por ele.
Sabedor de suas limitações como poeta, 
ou talvez por não se dedicar ao aprimora-
mento do estro, José Bernardo da Silva de-
cidiu se concentrar nas atividades de impres-
são e comercialização de folhetos. Mesmo 
assim, constam entre seus títulos A prantea-
da morte do reverendíssimo padre Cícero Ro-
mão Batista; Cinquentenário de Juazeiro e da-
dos históricos (Juazeiro em 1911); Combate ao 
defensor da honra com Lampião, o terror do 
Norte; Conselhos paternais; Cruzeiro do horto; 
História do príncipe que veio ao mundo sem 
ter nascido; Manifestação ao Padre Cícero Ro-
mão Batista pelo povo de Juazeiro do Norte; O 
defensor da honra ou Marilene e João Miguel; 
O príncipe Oscar e a rainha das águas.
Como podemos observar pelos títulos 
citados, além dos enredos de aventura, de 
mistério ou de amor, tramas bem ao gos-
to do povo ávido por fantasia e romance, 
predominava a poesia-reportagem na 
produção de José Bernardo, com obras 
tendo como conteúdo acontecimentos 
de grande repercussão social, e atuando 
o autor como uma espécie de cronista 
preocupado em informar (e interpretar) 
detalhes dos aspectos do cotidiano de 
interesse do povo. Nessa perspectiva, é 
interessante notar como boa parte de sua 
obra tem a figura do padre Cícero como 
personagem central, comprovando a 
importância que o sacerdote teve na vida 
e na obra do editor folheteiro. 
Não menos devoto ao padre Cícero foi 
o poeta João de Cristo Rei. Em 1930, o 
poeta paraibano leu para o padre Cícero 
o primeiro folheto que escrevera, receben-
do do sacerdote as seguintes palavras de 
aprovação: “Você de ora em diante vai ser 
poeta. Vai ser poeta.” Com isso, já em 1931 
mudou-se para Juazeiro do Norte, onde 
decidiu fazer da poesia sua profi ssão. As-
sim, logo buscou manter a autonomia so-
bre seus escritos, passando a imprimir em 
tipografi as do Crato e de Juazeiro os folhe-
tos que ele mesmo vendia nas feiras.
Até 1936, ele, que começara a escrever 
cordéis em 1930, editava seus folhetos na 
gráfi ca do bispo do Crato, dom Francisco 
de Assis Pires. Naquele ano, a conselho do 
mesmo, adquiriu sua primeira máquina 
em Barbalha – uma rudimentar impressora 
de pedal –, que foi paga parceladamente. 
Assim veio a inaugurar a Folhetaria Silva, 
que, em 1939, seria renomeada como Ti-
Sabedor de suas limitações como poeta, 
ou talvez por não se dedicar ao aprimora-
mento do estro, José Bernardo da Silva de-
cidiu se concentrar nas atividades de impres-
são e comercialização de folhetos. Mesmo 
assim, constam entre seus títulos A prantea-
da morte do reverendíssimo padre Cícero Ro- detalhes dos aspectos do cotidiano de 
170 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
Sua devoção a padre Cícero se compro-
va pela grande quantidade de títulos que 
dedicou ao sacerdote, incluindo O que diz 
meu Padrinho Cícero sobre a santa romaria; 
Os milagres de Padrinho Cícero; Profecia: 
vida e morte de Padrinho Cícero Romão; Pro-
fecia de Padrinho Cícero sobre os 3 estron-
dos, o desencanto do Horto e do rio Jordão. 
Ainda integrante do grupo de cordelistas 
ligados ao padre Cícero foi Manoel João 
da Silva, cognominado de “Manoel Cabo-
clo”, que, diferentemente dos dois poetas 
anteriores, era fi lho de Juazeiro do Norte.
Seus primeiros contatos com o universo 
da escrita e da leitura se deram através da 
poesia e de uma maneira particularmen-
te interessante: aos 13 anos, encantou-se 
com o poema Alonso e Marina, de Leandro 
Gomes de Barros, que enrolava uma bar-
ra de sabão comprada pelo avô. Isso lhe 
motivou a querer aprender a ler.
Em 1938, a convite de José Bernardo da 
Silva, passou a trabalhar como aprendiz na 
pequena Folhetaria Silva, a futura Tipogra-
fi a São Francisco, onde, com o tempo, veio 
a assumir várias funções, incluindo a revi-
são dos originais, a composição das matri-
zes e a edição e impressão dos folhetos.
Em 1949, devido ao desrespeito pelo pa-
trão aos seus direitos trabalhistas, Manoel 
Caboclo deixou a São Francisco, indo traba-
lhar com João Ferreira de Lima, astrólogo, 
poeta e editor do Almanaque de Pernambu-
co, que, não à toa, era impresso na Tipografi a 
de Zé Bernardo. A amizade com o poeta de 
Pernambuco, a propósito, deu-se pelo inte-
resse de ambos pelas chamadas ciências 
ocultas, tendo Caboclo se especializado na 
arte das adivinhações e se transformado no 
mais importante astrólogo de Juazeiro.
Valendo-se de sua vasta experiência 
como tipógrafo, Manoel Caboclo abriu, em 
parceria com João Ferreira de Lima, uma 
gráfi ca localizada próximo ao Mercado Cen-
tral de Juazeiro do Norte, onde passaram a 
imprimir o Almanaque de Pernambuco. 
Em julho de 1957, a sociedade entre 
João Ferreira de Lima e Manoel Caboclo se 
desfez, ocasião em que Caboclo comprou 
as três máquinas de impressão e uma má-
quina de cortar papel, tipos, além do direito 
de imprimir a obra do poeta pernambuca-
no. Nascia assim a Folhetaria Casa dos 
Horóscopos. Ali publicou trabalhos de sua 
autoria e de outros autores, como João 
Cordeiro e João de Cristo Rei. 
170 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
, cognominado de “Manoel Cabo-
clo”, que, diferentemente dos dois poetas 
anteriores, era fi lho de Juazeiro do Norte.
Seus primeiros contatos com o universo 
da escrita e da leitura se deram através da 
poesia e de uma maneira particularmen-
te interessante: aos 13 anos, encantou-se 
com o poema Alonso e Marina, de Leandro 
Gomes de Barros, que enrolava uma bar-
ra de sabão comprada pelo avô. Isso lhe 
motivou a querer aprender a ler.
autoria e de outros autores, como 
Cordeiro e João de Cristo Rei. 
Entre os vários cordéis que escreveu, 
incluem-se obras com enredos engraçados, 
como A briga de um comerciante com a vende-
dora de tabaco; Namoro da velha debaixo da 
cama; O casamento do negrão. Outras obras, 
investem em tramas sensacionalistas ou gro-
tescas, como é o caso dos folhetos O homem 
que deu à luz a um menino e O homem que deu 
à luz ao Diabo. Apesar destes, o tema da religio-
sidade foi frequentemente trabalhado pelo po-
eta, tendo como protagonistas principalmente 
o padre Cícero Romão ou o Frei Damião. São 
dessa temática os folhetos O homem que man-
dou comprar chuva ao Padre Cícero do Juazeiro; 
O milagre do Padre Cícero em Roma; O sermão 
do meu Padrinho no ano de 32; A mulher que 
virou bicho porque profanou o Frei Damião; A 
queixa de Satanás a Frei Damião (ou O Satanás 
resolveu falar com Frei Damião); Os milagres da 
estátua do frade Frei Damião. 
Por fi m, cabe dar destaque ainda ao 
nome de Expedito Sebastião da Silva, 
poeta que, como Manoel Caboclo, também 
nasceu em Juazeiro do Norte e trabalhou 
na Tipografi a São Francisco, onde ingres-
sou por recomendação do poeta Antônio 
Caetano de Palhares. 
Expedito incorporou uma nova função a 
partir da amizade que estabeleceu com o po-
eta e astrólogo pernambucano João Ferreira 
de Lima, que conseguia conciliar habilmen-
te a produção poética com a elaboração de 
almanaques, consultas astrológicas e con-
fecção de talismãs. E quando este passou a 
publicar seus almanaques na Tipografi a São 
Francisco, Expedito, que fazia a revisão dos 
originais, começou a estudar a astrologia. 
CURSO literatura cearense 171
A partir de então, o poeta Expedito Se-
bastião da Silva passou a realizar consultas 
e horóscopos por meio do envio pelo con-
sulente, atravésdo reembolso postal, dos 
dados pessoais e da quantia em dinheiro 
solicitada. Como resultado disso, viria a ga-
nhar o epíteto de poeta-astrólogo.
Contudo, com a morte de José Bernardo 
da Silva, em 23 de outubro de 1972, Expedito 
determinou-se a manter viva a icônica Ti-
pografi a São Francisco. Conhecendo como 
ninguém os títulos do catálogo da editora, 
sobretudo os clássicos que pertenceram ao 
espólio de João Martins de Athayde, sabia 
exatamente o que devia ser reeditado e qual 
a tiragem mais apropriada para cada título.
Todas essas atividades não impediram 
que se tornasse um autor prolífi co, tendo 
escrito mais de duzentas obras. Sobretu-
do, esmerou-se em manter a qualidade em 
toda sua produção, destacando-se como 
poeta que dominava tanto a rima, como 
a métrica e a oração. 
No tocante à religiosidade presente em 
vários de seus cordéis, é importante acentu-
ar que muitas vezes ela se traduziu em seus 
versos através da crítica aos novos costu-
mes, de que é exemplo o folheto A marcha 
dos cabeludos e os usos de hoje em dia. 
No que diz respeito em específi co a sua 
devoção ao padre Cícero, cabe citar os seguin-
tes títulos que evidenciam o protagonismo do 
sacerdote: A opinião dos romeiros sobre a cano-
nização do Padre Cicero pela Igreja Brasileira; 
O Padre Cícero, o sertanejo e os coronéis e Em 
defesa da memória do Padre Cícero. O último 
se constitui uma reação à publicação da obra 
Apostolado do embuste, de 1956, no qual o au-
tor, o padre Antônio Gomes de Araújo, procura 
mostrar os milagres do padre Cícero como uma 
sequência de fraudes. Furioso, Expedito, que já 
o refutara no cordel Verdades incontestáveis ou 
voz dos romeiros, não hesita em desqualifi car o 
autor, chamando-o de “infame cafajeste”, entre 
outros impropérios. Além disso, Expedito traz 
aspectos da vida e do sacerdócio do “Padim 
Ciço” na tentativa de revelar a sua santidade. 
Expedito, bem como os demais poetas 
aqui citados, assistiram à incrível ascensão 
do cordel em Juazeiro do Norte. Foi uma era 
em que, profundamente imersos no ambien-
te místico das romarias e da devoção ao pa-
dre Cícero, contribuíram para fazer da Meca 
cearense o maior polo da poesia popular 
impressa até praticamente o fi nal dos 
anos 50 do século XX. No entanto, sendo 
mais novo que os demais, Expedito viveu o 
bastante para vivenciar uma outra fase, quase 
contrária, na qual o cordel viveria uma fase de 
profundo declínio, quase chegando a experi-
mentar um processo de esgotamento e extin-
ção que, felizmente, não duraria para sempre.
5. 
O MISTÉRIO 
DO PAVÃO QUE 
RECOLHEU 
A CAUDA
m 1981, por ocasião do II Ciclo da 
Literatura de Cordel, encontro 
de poetas populares e pesquisa-
dores do cordel realizado na Uni-
versidade Federal do Ceará, o pro-
fessor Átila de Almeida decretava 
o “fi m do cordel” (Cf. Literatura po-
pular em questão, 1982, p. 17).
Convém ressaltar alguns fatores que 
ajudam a explicar esse declínio ao longos 
dos anos 70 e 80 do século XX: (1) adoção 
do sistema de impressão através da fo-
tografi a (mais conhecido como off -set), que 
permitindo tanto a redução do tempo quan-
to a melhoria da qualidade de impressão, 
representou um golpe de morte nas tipo-
grafi as artesanais; (2) o crescente proces-
so de urbanização das cidades nordes-
tinas, levando a novos padrões e hábitos 
de consumo e ao fortalecimento de novas 
mentalidades; (3) a ampliação do acesso 
dos nordestinos aos meios de comunica-
ção de massa, pincipalmente a TV, levando 
o público a se dividir entre outras formas 
de divertimento; (4) a popularização de 
outros gêneros literários e o aumento do 
preço do cordéis. Também, é claro, não se 
pode deixar de trazer novamente à lembran-
ça a morte de José Bernardo da Silva, com 
a (5) posterior diminuição das atividades 
da Tipografi a São Francisco. O somatório 
de tudo isso e de outras coisas mais podem, 
de alguma forma, tentar explicar o declínio 
do cordel nesse período.
determinou-se a manter viva a icônica Ti-
. Conhecendo como 
ninguém os títulos do catálogo da editora, 
SABATINA
172 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
O certo é que, mesmo nos momentos mais 
difíceis, alguns poetas cearenses resistiram, 
não interrompendo sua produção poética em 
cordel. Merecem destaque, nesse contexto, os 
nomes dos poetas Abraão Batista (também 
xilógrafo expressionista), Gonçalo Ferreira 
da Silva (cearense radicado há décadas no 
Rio de Janeiro, onde fundou a Academia Bra-
sileira de Literatura de Cordel) e Lucas Evan-
gelista (que é também compositor e canta-
dor). No período, merecem destaque ainda 
os poetas Gonzaga Vieira (ou “Gonzaga de 
Canindé”), Natan Marreiro, Pedro Bandeira
e Severino do Horto. 
Um fato importante a se destacar nesse 
período foi o aparecimento inesperado de 
um poeta em um cenário em que a poesia 
popular impressa não possuía ainda uma 
tradição, comprovando que, mesmo na 
difi culdade, a poesia popular continuava 
resistindo. Trata-se do surgimento do poe-
ta-pescador José da Rocha Freire, mais co-
nhecido como “Zé Melancia”, que apenas 
em 1951, quando contava 42 anos de idade, 
passou a produzir cordéis. Em textos como 
Galope por dentro do mar nos peixes nos pás-
saros do mar na jangada; Biografi a de Canoa 
Quebrada; e Dragão do Mar, fi lho de Canoa 
Quebrada; e Canção da vida do pescador, o 
autor escrevia sobre a realidade que o cir-
cundava, que incluía o ofício de pescador, a 
história do lugar em que nasceu e os heróis 
com os quais guardava laços, como os pes-
cadores Dragão do Mar e Jerônimo. 
6. 
ABRINDO 
A NOVA MALA 
DE ROMANCES
pesar do discurso pessimista 
de alguns de seus pesquisa-
dores (e até mesmo de poetas 
populares), o cordel resistiu 
aos anos mais duros, chegan-
do aos dias atuais com o vigor 
renovado, passando a ocupar 
espaços que antes lhe eram 
vedados. E, ao contrário do 
que se esperava, sendo privi-
legiado em compras governamentais, in-
gressando nas escolas, ganhando espaços 
em grandes eventos e sendo laureado em 
prêmios literários reconhecidos no país.
Para o revigoramento do cordel no Cea-
rá, porque não podemos falar de ressurei-
ção de algo que nunca morreu, concorre-
ram vários acontecimentos. Um deles foi, 
sem dúvida, o desenvolvimento de uma 
consciência coletiva que resultou no movi-
mento de integração dos nossos poetas 
populares em agremiações, que passa-
ram a concentrar esforços para conquistas 
comuns de seus associados.
Uma das primeiras foi a Academia Brasi-
leira de Cordel (ABC), cujo fundador e pre-
sidente era Vidal Santos. A instituição, cabe 
informar, passou a administrar, a distância, a 
Lira Nordestina (antiga Tipografi a São Fran-
cisco), quando esta veio a ser adquirida pelo 
Governo do Estado do Ceará. Essa administra-
ção, diga-se de passagem, recebeu várias críti-
cas, como as que assinou o pesquisador ma-
ranhense Ribamar Lopes (Cf. LOPES, 1987).
Ainda nos anos 80, nascia o Centro Cul-
tural dos Cordelistas do Nordeste, que 
surgiu da constatação dos poetas piauienses 
radicados no Ceará, Gerardo Carvalho Fro-
ta (o “Pardal”, atual presidente da instituição) 
e Guaipuan Vieira, a partir de uma pesqui-
sa realizada em 1985, de que eram poucos 
à época os cordelistas em ação em nosso 
estado. A partir daí, procuraram espaços que 
permitissem a venda das obras que os dois 
produziam. Juntaram-se a eles, JotAmaro, 
José Caetano e Horácio Custódio. Funda-
ram, então, em 1987, uma associação que ti-
nha inicialmente o nome de Centro Cultural 
dos Cordelistas do Ceará, que logo depois 
passou a ostentar o nome atual: Cecordel. 
Seguindo a cronologia, cabe destacar 
ainda outras duas importantes instituições 
de cordelistas que ajudaram a projetar o 
gênero poético em foco: A Academia dos 
Ribamar Lopes (1932-2006) é poeta, 
contista e ensaísta. Autor da famosa 
Antologia de Literatura de Cordel e 
prefaciador do Acorda Cordel em 
Sala de Aula, de Arievaldo Vianna, 
era um guardião da arte, valorizando 
os mestres, infl uenciando e 
acompanhando, com respeitosorigor, 
os jovens talentos e pesquisadores.
Publicou também Quinze casos contados
(contos), Viola da saudade (poesia) e 
Sete temas de cordel (ensaio) e Saudade 
enluarada (poesia - póstumo).
CONFEITOS
A Feira do Cordel Brasileiro foi 
idealizada e é organizada por Klévisson 
Viana, vencedor do Prêmio Jabuti de 
Literatura (2015) com O Guarani em cordel, 
uma adaptação da obra de José de 
Alencar. A ação, que acontece anualmente 
em Fortaleza, é uma das manifestações 
e celebrações mais coloridas e plurais 
do cordel brasileiro, acolhendo diversas 
gerações de mestres e artistas populares 
brasileiros, entre cordelistas, editores, 
xilogravadores, cantadores, repentistas, 
bonequeiros, rabequeiros e todo um 
mundo de boa gente.
CURSO literatura cearense 173
Cordelistas do Crato e a Associação de 
Escritores, Trovadores e Folheteiros do 
Estado do Ceará (Aestrofe).
Fundada em 1991 por Elói Teles de Mo-
rais, a Academia dos Cordelistas do Crato, 
atualmente presidida pela poeta Anilda 
Figueiredo, é composta por vinte poetas 
populares e tem realizado várias ações cul-
turais envolvendo seus associados, incluin-
do a apresentação de recitais em festas do 
município em que se localiza.
A Aestrofe foi fundada em 2006 pelo poeta, 
ilustrador e editor Klévisson Viana, atual 
presidente da instituição. A instituição con-
grega, além de poetas populares, também 
folheteiros, xilogravadores, capistas, 
folcloristas, declamadores, cantadores 
e todos os demais artistas e profi ssio-
nais que lidam com o universo da literatura 
de cordel e da cultura popular. Uma das 
principais ações da instituição é a organi-
zação da “Praça do Cordel”, espaço que as 
últimas Bienais Internacionais do Livro do 
Ceará têm destinado aos poetas populares 
cearenses, sendo reconhecida pela sua di-
versidade e animação dos participantes.
Cabe ainda incluir nesse rol de instituições 
congregadoras de poetas cearenses, a So-
ciedade dos Cordelistas Mauditos (sic), 
importante movimento de jovens poetas, 
cantadores e performers, fundado no ano 
de 2000 em Juazeiro do Norte. E, fazendo 
jus ao nome da associação, seus mem-
bros têm produzido obras marcadamente 
“engajadas” na luta dos direitos humanos, 
sendo comum as ideias que defendem en-
trarem em choque com o conservadorismo 
predominante na sociedade juazeirense. 
Outro fator que tem contribuído com 
a efervescência e resistência da produção 
cordelística cearense, notadamente de For-
taleza, é o surgimento de editoras especiali-
zadas na publicação de folhetos. Entre elas, 
merece destaque a editora Tupynanquim, 
fundada em 1995 pelo já citado Klévisson 
Viana. Inicialmente criada para a publica-
ção de obras em quadrinhos, passou em 
1999 a ter como foco a publicação de cor-
déis, vindo tanto a reeditar clássicos do gê-
nero, como a lançar novos poetas. 
174 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE174 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
 Outro acontecimento importante veio a 
ser a inclusão, em 2006, de cordéis assinados 
pelos poetas cearenses Arievaldo Vianna, 
Klévisson Viana e Rouxinol do Rinaré no 
projeto “Baião de Letras”, numa parceria da 
Secretaria de Educação com a Secretaria de 
Cultura do Estado do Ceará. A partir de então, 
o cordel viria a ser cada vez mais frequente no 
âmbito do sistema de ensino de todo o estado.
Além dos aqui já citados nesta seção, com 
toda a humildade de possíveis esquecimen-
tos ou desconhecimentos, incluem-se, entre 
os cordelistas contemporâneos do Ceará: 
Anilda Figueiredo, Antônio Marcos Bandeira, 
Antônio Queiroz de França, Arlene Holanda, 
Audifax Rios, Bastinha Job, Bia Lopes (fi lha 
do poeta, pesquisador e contista Ribamar 
Lopes), Costa Sena, Dalinha Catunda, Dideus 
Sales, Edésio Batista, Édson Neto, Eduar-
do Macedo, Elmo Nunes, Evaristo Geraldo, 
Fanka, Fernando Paixão, Francisco Melchí-
ades, Gadelha do Cordel, Godofrêdo Sólon, 
Guilherme Nobre, Ivonete Morais, Jarid Arraes 
(neta de Abraão Batista e fi lha de Hamurabi 
Merecem destaque outras duas editoras 
cearenses especializadas na publicação de 
cordéis: a Cordelaria Flor da Serra, fun-
dada pelo poeta e pedagogo Paiva Neves
em 2016, e a Rouxinol do Rinaré Edições 
& Folheteria, fundada em 2019 pelo fecun-
do poeta Antônio Carlos da Silva, mais 
conhecido pelo pseudônimo de “Rouxinol 
do Rinaré”. Ainda que recentemente fun-
dadas, as duas editoras também investem 
na estratégia já há tempos empregada pela 
Tupynanquim, ora reeditando cordéis clás-
sicos, ora a lançar obras de poetas contem-
porâneos, incluindo os novos talentos que 
não param de surgir, inclusive autores de 
outros gêneros que “experimentam” o cor-
del ou migram defi nitivamente para ele. 
CONFEITOS
REFERÊNCIAS 
BRÍGIDO, João. Miscelânea histórica. 2. ed. 
(fac-similar da edição pioneira de 1889). Fortaleza: 
Fundação Waldemar Alcântara, 2009.
CARVALHO, Gilmar de. Lyra Popular: o cordel do 
Juazeiro. Fortaleza: Museu do Ceará/Secretaria de 
Cultura do Estado do Ceará, 2006. (Outras Histórias, 37). 
__________. Moisés Matias de Moura: o cordel de 
Fortaleza. Fortaleza: Expressão, 2011.
CEARÁ/SECRETARIA DE CULTURA E DESPORTO/
CENTRO DE REFERÊNCIA CULTURAL (Org.). 
Literatura popular em questão. Fortaleza: IOCE, 
1982. (Povo e Cultura, 3).
DIÉGUES JÚNIOR, Manuel. Literatura de cordel. 2. 
ed. Rio de Janeiro: MEC, 1977.
KUNZ, Martine. Cordel: a voz do verso. Fortaleza/
CE: Secretaria da Cultura e Desporto do Ceará, 2001. 
(Outras Histórias, 6).
LOPES, José de Ribamar. A hora da verdade. In: D. O 
Letras, Ano II, n°.6, Fortaleza, 1987. 
 SOMBRA, Waldy. Padre Verdeixa: o Canoa Doida. 
Fortaleza: Unifor, 1996.
TERRA, Ruth. Memórias de lutas: a literatura de folhetos 
no Nordeste (1893-1930). São Paulo: Global, 1983.
VIANNA, Arievaldo. Acorda cordel na sala de aula: 
a literatura popular como ferramenta auxiliar na 
educação. 2. ed. Fortaleza: Encaixe, 2010.
___________; LIMA, Stélio Torquato. Santaninha, 
um poeta popular na capital do Império. 
Fortaleza: IMEPH, 2017.
CURSO literatura cearense 175
Batista, ambos cordelistas e xilogravuristas), 
Jesus Sindeaux, João Batista Vieira Fontene-
le (Jotabê), José Mapurunga, Josenir Lacer-
da, Josy Maria, Julie Oliveira (fi lha do poeta 
Rouxinol do Rinaré), Lucarocas, Luís Távora, 
Maria (a cangaceira), Maria Luciene, Mariana 
Lima (Jovelina do Ceará), Modesto, Moreira 
de Acopiara, Paiva Neves, Paola Tôrres, Paulo 
de Tarso Bezerra Gomes, Pedro Paulo Pauli-
no, Rafael Brito, Raul Poeta, Romário Braga, 
Salete Maria, Serra Azul (Piúdo), Siqueira, Sté-
lio Torquato, Tião Simpatia, Vânia Freitas, Zé 
do Jati e Zé Maria de Fortaleza, entre outros. 
 A eles se soma o nome de Geraldo Amâncio, 
o qual, apesar de ser um celebrado veterano 
na cantoria, só mais recentemente passou a 
se dedicar à poesia de bancada. 
Destacamos aqui a atuação fi rme, talen-
tosa e cada vez mais crescente do cordel 
de autoria feminina, contribuindo para 
erradicar o preconceito contra elas e a sua 
invisibilidade por muito tempo, comum no 
âmbito cordelístico, assim como no literário 
e intelectual de forma geral. 
Sob a batuta desses e de tantos outros 
poetas da contemporaneidade, o cordel 
do Ceará se mostra cada vez mais promis-
sor, afastando de vez o receio das gerações 
anteriores de que nosso cordel caminhas-
se para a extinção. 
Ajustado aos novos tempos, sendo ri-
camente estudado pela academia e dia-
logando com todas as artes (cinema, HQs, 
teatro etc.), o cordel invade as redes so-
ciais e também ganha a tela da TV em rede 
nacional pelos recitais de Bráulio Bessa. 
Ocupa lugar de destaque tanto nas Bienais 
do Livro quanto em feiras e festas de livros 
espalhadas pelo país. E, sobretudo, entra 
nas escolas, pela porta da frente, mostran-
do-se como ferramenta interessantíssima 
a serviço do processo de ensino-aprendi-
zagem e de fomento à leitura, como já an-
tecipava o Projeto Acorda Cordel, criado 
e desenvolvido há quase vinte anos por 
Arievaldo Vianna, e que, após ser testado 
comsucesso pela Secretaria de Educação 
do município de Canindé, foi apresentado 
em Brasília, em dezembro de 2002, duran-
te a III Conferência Nacional de Educação 
e Desporto, promovida pela Comissão de 
Educação da Câmara Federal. 
Em 2006, finalmente saiu a primeira 
edição desta obra (Cf. VIANA, 2010), com 
tiragem de dois mil exemplares, há muito 
esgotada. A retomada do Projeto Acorda 
Cordel resgata um trabalho vitorioso que 
deu grande contribuição para difusão da 
Literatura de Cordel nas escolas de todo o 
Brasil, ao mesmo tempo que influenciou 
às novas gerações, estas que, sabe-se lá 
um dia, trarão no coração o brado gosto-
so de um poema bem declamado.
Arievaldo Vianna, que não é 
apenas o idealizador do projeto 
Acorda Cordel, mas também o 
executor, consultor e capacitador 
de professores, acredita que 
o cordel facilita o processo 
de alfabetização por ser uma 
linguagem simples e de fácil 
alcance. Ora, ele mesmo fora 
alfabetizado pelo cordel.
Após um encontro em Brasília, 
na presença de Ziraldo, Lucélia 
Santos, Nelson Pereira dos Santos 
e de uma plateia de mais de 3 
mil pessoas, Arievaldo declamou 
“A gramática em cordel”, de José 
Maria de Fortaleza, e depois disso 
aumentou em muito o número 
de convites, viajando por diversos 
estados do país, não apenas 
ele, mas os demais cordelistas 
envolvidos no projeto.
Para saber mais:
acordacordel.blogspot.com
Realização
Apoio
Patrocínio
FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR)
João Dummar Neto Presidente
André Avelino de Azevedo Diretor Administrativo-Financeiro
Marcos Tardin Gerente Geral
Raymundo Netto Gerente Editorial e de Projetos
Aurelino Freitas, Emanuela Fernandes 
e Fabrícia Góis Analistas de Projetos
UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (UANE)
Viviane Pereira Gerente Pedagógica
Marisa Ferreira Coordenadora de Cursos
Joel Bruno Designer Educacional
CURSO LITERATURA CEARENSE
Raymundo Netto Coordenador Geral, 
Editorial e Estabelecimento de Texto
Lílian Martins Coordenadora de Conteúdo
Emanuela Fernandes Assistente Editorial
Amaurício Cortez Editor de Design e Projeto Gráfico
Miqueias Mesquita Diagramador
Carlus Campos Ilustrador
Luísa Duavy Produtora
ISBN: 978-65-86094-22-0 (Coleção)
ISBN: 978-65-86094-24-4 (Fascículo 11)
Este curso é parte integrante do programa
Circuito de Artes e Juventudes 2019, Pronac nº 190198, 
processo nº 01400.000464/2019-94, em parceria com a 
Secretaria Especial da Cultura do Ministério da Cidadania.
Todos os direitos desta edição reservados à:
Fundação Demócrito Rocha
Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora 
CEP: 60.055-402 - Fortaleza-Ceará 
Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148
fdr.org.br 
fundacao@fdr.org.br
AUTORES
Arievaldo Vianna
É poeta, xilogravador, chargista e ilustrador. Nasceu no 
sertão, criado à luz de lamparina, em contato com as 
cacimbas dos saberes do povo Nordestino e alfabetizado 
com auxílio do Cordel. Nos anos de 1990, lançou a caixinha 
de folhetos da Coleção Cancão de Fogo, sucesso de vendas 
e de crítica. Criador do Acorda Cordel na Sala de Aula, autor 
de mais de 120 folhetos de cordel e de 30 livros publicados, 
alguns adotados pelo PNBE. Falecido precocemente em 30 
de maio de 2020, a coautoria deste fascículo foi a sua última 
contribuição registrada ao cordel.
Stélio Torquato Lima
É graduado em Letras e Artes pela Universidade do Estado do 
Rio Grande do Norte (UERN), com mestrado em Estudos da 
Linguagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte 
(UFRN) e doutorado em Letras pela Universidade Federal da 
Paraíba (UFPB). É professor adjunto de Literaturas Africanas 
de Língua Portuguesa na UFC, onde também coordena o 
Grupo de Estudos Literatura Popular (GELP). É escritor, com 
mais de 150 títulos em cordel. Algumas de suas obras foram 
premiadas e selecionadas pelo Programa Nacional do Livro e 
do Material Didático (PNLD).
ILUSTRADOR
Carlus Campos 
Artista gráfi co, pintor e gravador, começou a carreira 
em 1987 como ilustrador no jornal O POVO. Na construção 
do seu trabalho, aborda várias técnicas como: xilogravura, 
pintura, infogravura, aquarelas e desenho. Ilustrou revistas 
nacionais importantes como a Caros Amigos e a Bravo. 
Dentro da produção gráfi ca ganhou prêmios em salões 
de Recife, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.
AUTORES
Arievaldo Vianna
É poeta, xilogravador, chargista e ilustrador. Nasceu no 
sertão, criado à luz de lamparina, em contato com as 
cacimbas dos saberes do povo Nordestino e alfabetizado 
com auxílio do Cordel. Nos anos de 1990, lançou a caixinha 
de folhetos da Coleção 
e de crítica. Criador do 
de mais de 120 folhetos de cordel e de 30 livros publicados, 
alguns adotados pelo PNBE. Falecido precocemente em 30 
de maio de 2020, a coautoria deste fascículo foi a sua última 
contribuição registrada ao cordel.
Stélio Torquato Lima
É graduado em Letras e Artes pela Universidade do Estado do 
Rio Grande do Norte (UERN), com mestrado em Estudos da 
Linguagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte 
(UFRN) e doutorado em Letras pela Universidade Federal da 
Paraíba (UFPB). É professor adjunto de Literaturas Africanas 
de Língua Portuguesa na UFC, onde também coordena o 
Grupo de Estudos Literatura Popular (GELP). É escritor, com 
mais de 150 títulos em cordel. Algumas de suas obras foram 
premiadas e selecionadas pelo Programa Nacional do Livro e 
do Material Didático (PNLD).
ILUSTRADOR
Carlus Campos 
Artista gráfi co, pintor e gravador, começou a carreira 
em 1987 como ilustrador no jornal O POVO. Na construção 
do seu trabalho, aborda várias técnicas como: xilogravura, 
pintura, infogravura, aquarelas e desenho. Ilustrou revistas 
nacionais importantes como a 
Dentro da produção gráfi ca ganhou prêmios em salões 
de Recife, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.

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