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Fascículo 7 - O CANTO NOVO DE UMA RAÇA: PRÉ-MODERNISMO E MODERNISMO

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g7
O Canto Novo 
de uma Raça
Pré-Modernismo e Modernismo
Raymundo Nettol
i
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e
r
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CURSO
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e
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e
Realização
Parnaso
Montanha grega, 
morada de Apolo 
e das musas 
inspiradoras 
dos artistas.
1.
DO RIGOR 
DA DISCIPLINA 
ÀS VAIAS
ualquer aluno do en-
sino médio em Litera-
tura já ouviu falar em 
Parnasianismo. Possí-
vel saber também que 
dois autores franceses, 
Théophile Gautier e 
Leconte de Lisle, lan-
çaram O Parnaso con-
temporâneo (1866), uma 
antologia de poemas na 
qual predominava uma 
reação antirromântica, ou seja, que procura-
va resgatar a visão de arte como sinônimo 
de beleza formal alcançada por meio de 
trabalho cuidadoso e detalhista – comba-
tiam o sentimentalismo excessivo dos poe-
tas românticos que, criam, haviam abando-
nado os rigores formais na sua composição, 
comprometendo a sua qualidade artística. 
Alguns desses poetas do “Parnaso” europeu 
se destacariam, mais tarde, no Simbolismo.
SABATINA
Théophile Gautier, além de poeta 
era um excelente contista, seguidor 
de E.T.A Hoffmann. Sua profana “A 
morte amorosa” é um dos contos 
fantásticos mais encontrados em 
antologias do gênero. Gautier 
afirmava que “a arte não existe para 
a humanidade, para a sociedade ou 
para a moral, mas para si mesma”.
Passando a régua no século XIX, no 
Brasil, Canções românticas (1878), de Al-
berto de Oliveira – apesar do título –, 
marca o início do Parnasianismo, que 
recebeu adesões, como Olavo Bilac, Rai-
mundo Correia, Alberto de Oliveira e Vi-
cente de Carvalho, embora, numa atitude 
irreverente, diz Bilac, que viria a ser o seu 
expoente maior no país: “No Brasil nunca 
houve Parnasianismo. O que há entre nós 
atualmente é a febre da Perfeição, a bata-
lha sagrada da Forma, em serviço da Ideia 
e da Concepção. [...] Nenhum dos poetas 
da nova geração quer fazer do verso um 
instrumento sem vida; nenhum deles quer 
transformar a Musa num belo cadáver. O 
que eles não querem é que a Vênus grega 
seja coxa e desajeitada e faça caretas em 
vez de sorrir” (CASTELLO, 1999, v.1, p. 299)
O certo é que a estética parnasiana, mes-
mo sem adotar a objetividade da escola fran-
cesa – o “amordaçamento das emoções”, 
como se refere Ivan Junqueira –, abraçou o 
cuidado com a criação dos versos perfeitos 
(gramática e métrica), a manutenção do rit-
mo, a escolha intransigente das rimas e o 
olhar voltado para a antiguidade clássica.
O Simbolismo, levando em considera-
ção as obras de Cruz e Sousa de 1893 como 
marco da escola no país, chegaria apenas 
quinze anos depois, com fria recepção do 
público, ao contrário de sua antecessora.
É nesse ponto que Sânzio de Azevedo 
nos chama a atenção para uma singula-
ridade na historiografia da Literatura Cea-
rense. No Ceará, o Simbolismo nos chega 
antes do Parnasianismo, pois como vi-
mos no módulo anterior, ele viria no vapor, 
diretamente de Portugal, com influência de 
Antônio Nobre, e não de Cruz e Sousa ou de 
outros anteriores a ele no Brasil. 
Aqui, ainda no século XIX, quando o 
Simbolismo já figurava em, pelo menos, Lí-
vio Barreto (Dolentes) e Lopes Filho (Phan-
tos), Álvaro Martins publica, em 1903, o 
soneto “A aranha”, “manifestação verdadei-
ramente inaugural da arte marmórea entre 
98 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
SABATINA
Sugestões de leitura: Bilac vê estrelas 
(Companha das Letras, 2000), romance 
de Ruy Castro, misto de ficção e 
realidade; Roteiro da poesia brasileira: 
parnasianismo (Global, 2006) e Alberto 
de Oliveira (série Essencial da ABL, 2011), 
ambos de Sânzio de Azevedo.”
Muitos autores apontam Fanfarras 
(1882), de Teófilo Dias, como a estreia 
do Parnasianismo brasileiro. Contudo, 
Péricles Eugênio da Silva Ramos, 
em sua Poesia simbolista, caracteriza 
a obra como precursora não do 
Parnasianismo, mas do Simbolismo, 
critério também aceito por Sânzio de 
Azevedo em sua historiografia.
CONFEITOS
nós [cearenses]” (AZEVEDO, 1976, p.287). 
Entretanto, mesmo com tal aracnídea poe-
sia, de “parnasiano puro” Martins nos deixa-
ria somente este soneto. Entre alguns nomes 
do Parnasianismo cearense: Antônio Sales 
(especialmente em Poesias e Minha terra), 
o pernambucano Alf. Castro (considerado 
por Azevedo o iniciador do Parnasianis-
mo no Ceará, principalmente no inédito 
Ocaso em fogo), Júlio Maciel (que Azevedo 
assim enquadra: “Sua feição definitiva é a de 
poeta parnasiano, com notas simbolistas, 
mas compôs versos à moda futurista, sob o 
pseudônimo de ‘Lúcio Várzea’”), Cruz Filho 
(parnasiano, mas com matizes românticos 
e simbolistas), Carlos Gondim, Otacílio de 
Azevedo (seu poema “Carro de bois” seria 
premiado em concurso lançado pela revista 
Ilustração Brasileira (RJ) e mereceu desta-
que na História da Literatura Cearense, de 
Dolor Barreira) e Mário Linhares.
MALACA
CHETAS
Emílio de Menezes fez publicar, na 
revista Fon-Fon (RJ), um soneto de 
Júlio Maciel (“Aeternum Vale”), que foi 
estampado com destaque e em página 
inteira, acompanhado de um bilhete 
elogioso do consagrado parnasiano, 
que afirmava, a respeito do jovem 
poeta cearense: ‘Júlio Maciel, dos 
poetas novos, é, sem contestação, 
um dos melhores pela emoção, pelo 
contorno do verso e pela justa, sóbria e 
precisa feição de sua vernaculidade.’” 
(AZEVEDO, 1976, 316)
CURSO literatura cearense 99
MALACA
CHETAS
Álvaro Martins, o “Alvarins” do Liberta-
dor, é um dos fundadores da Padaria Es-
piritual e, saindo da primeira, do Centro 
Literário. Chegou a publicar no Rio de 
janeiro, ao lado de José do Patrocínio. 
Sua obra de estreia é Os pescadores da 
Taíba (1895), já no Centro Literário.
A importância de Alf. Castro reside 
não somente na qualidade de sua po-
esia, mas também e principalmente no 
fato de situar-se no mais genuíno e 
puro Parnasianismo, no sentido fran-
cês do termo, o que é raro na literatura 
nacional. (AZEVEDO, 1976, 301)
BOLACHINHAS
A seguir, dois exemplos de sonetos 
parnasianos:
Aos pinchos, pela sombra, indolente e moroso, 
O batráquio estacou do fundo poço à borda, 
E um momento quedou, como quem se recorda, 
Surpreso ante a visão do poço silencioso...
Ao fundo, onde do céu, que de nuvens se borda,
Reflexa a imagem vê – pelo céu luminoso 
Vê da Lua pairar o áureo disco radioso: 
E o disforme animal de júbilo transborda... 
Um momento quedou, mudo e perplexo. Ao centro
A tentá-lo, a ilusão do astro de ouro flutua, 
E o monstro eis que se arroja, a súbitas, lá dentro...
E a água convulsionou-se, em círculos ondeantes,
Num naufrágio de luz, em que perece a Lua, 
Dissolvida em rubis, topázios e diamantes.
Cruz Filho, “A ilusão do sapo”.
Há uma ressurreição no Sertão rudo. 
Uma ressurreição! – Verde e risonho
É o vale, verde a serra, é verde tudo
Em que os meus olhos, deslumbrado, ponho. 
Bruto alcantil de aspecto mau, desnudo
Esvão de terra, ríspido e tristonho,
– Agora têm branduras de veludo, 
Verdes agora os vejo, como em sonho!
Em cisma, a sós, contemplo verde liana,
Verde, tão verde, com carícia humana
As ruínas afagando a uma tapera. 
E na contemplação que me não cansa, 
Sinto quão doce és tu, cor da Esperança,
– Até nos olhos de quem nada espera...
Júlio Maciel, “Verde”.
100 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
Eu sei que tudo é como o fumo leve: 
Foge: mas, porque a vida seja breve, 
Há sempre um dia mais para quem ama.
Mário da Silveira, em Coroa de rosas e de 
espinhos (1921).
uita gente discute o que 
afinal é o Pré-Moder-
nismo. Eu mesmo sem-
pre tive a impressão de 
ser “pré” ou “pós”, assim 
como “para”, algo indefi-
nível, indeterminado, ou 
mesmo de menor impor-
tância. Ou seja, o que vem 
“antes” (pré), depois (pós) 
ou “ao lado” (para) de. É como a linha imagi-
nária do Equador: concretamente não exis-
te, mas todo mundo sabe onde fica.
Devido a grandes mudanças sociais da 
época, o foco e os interesses da produção 
literária eram diversos e, por vezes, diver-
gentes, o que é percebido nas característi-
cas estéticas das publicações no período. 
E justamente por não existir um critério 
estéticoque reúna e defina a produção 
denominada pré-modernista, nem mes-
mo que a classifique como escola literária 
(reunia realistas, parnasianos, simbolistas 
e algumas antecipações modernistas), al-
guns autores definem esse “período de 
transição” baseados em um princípio cro-
nológico. Daí, são consideradas obras pré-
-modernistas, aquelas que nos chegaram 
depois de 1902, data de publicação de Os 
sertões, de Euclides da Cunha, até 1922, 
ano da Semana de Arte Moderna, marco 
do Modernismo brasileiro.
BOLACHINHAS
Alfredo Bosi, a respeito da questão, em seu 
Pré-Modernismo, admite que o termo pode 
ser entendido em 2 sentidos que nem sempre 
coincidem: (1) dando ao prefixo “pré” uma 
conotação meramente temporal de ante-
rioridade; e (2) dando ao mesmo elemento 
um sentido forte de precedência temática e 
formal em relação à literatura modernista.
Assim, no Brasil, Euclides da Cunha, 
Lima Barreto, Monteiro Lobato, Graça 
Aranha, o inclassificável e enigmático fe-
nômeno Augusto dos Anjos, entre outros, 
foram devidamente enquadrados como 
“pré-modernistas”.
Sânzio de Azevedo, ao referir-se a esta 
“fase de transição” nos apresenta dois re-
presentantes: Mário da Silveira (1899-
1921) e Leão de Vasconcelos (1898-1965).
Deixemos o Leão sossegado e vamos 
fazer um breve comentário sobre o “eter-
namente jovem” Mário. Pelo que se sabe, 
Mário da Silveira, de origem humilde, tinha 
um excelente cabedal cultural e erudito, 
devido à leitura intensa dos clássicos. Pes-
simista em sua condição de poeta e huma-
no, em 1916, publicou No silêncio da noite 
(fragmentos), dedicado a Carlos Gondim 
e Luiz de Castro, que trazia a epígrafe de 
Álvares de Azevedo: “O passado é um tú-
mulo”. Em 1919, realizou a conferência “A 
eterna emotividade helênica”, na Casa de 
Juvenal Galeno – na época, ainda “Salão”. 
Em breve passagem no Rio de Janeiro, atuou 
como secretário de João do Rio n’A Pátria, 
cultivando amizade com Raul de Leoni (au-
tor de Luz mediterrânea, de 1921, cuja anto-
logia de poemas – pela Global/2002 – é pre-
faciada e organizada pelo cearense Pedro 
Lyra) e Ronald de Carvalho. 
O termo “Pré-Modernismo” foi criado 
pelo crítico Alceu Amoroso Lima 
(o Tristão de Ataíde), em Contribuição 
à história do Modernismo (1939).
2.
PRÉ-MODERNISMO 
E A LINHA DO EQUADOR
BOLACHINHAS
Leão de Vasconcelos, em 1933, 
é apresentado em La Revista 
Americana de Buenos Aires como 
“o renovador do lirismo brasileiro” 
e, em 1935, foi eleito, segundo a 
Revista Brasileira nº 8, “o maior poeta 
moço do Brasil”. Seus poemas são 
traduzidos em diversos países.
Provavelmente entre 1920 e 1921, es-
creveu o poema “Laus Purissimae”, “canto-
-novo dedicado ao Mediterrâneo, ‘o grande 
mar sempre novo’, produção que seria uma 
antecipação de Raul de Leoni” (ALENCAR, 
1984, p.30), composto não somente de ver-
sos polimétricos, mas de versos livres, ali-
nhando-se aos pressupostos modernistas, 
razão única pela qual figura neste espaço.
Já em Fortaleza, em 1921, em praça públi-
ca, é covardemente assassinado. O motivo: 
passional! Amou além da cota. Nas vestes, 
“não havia única moeda, mas um soneto...” 
história tantas vezes repetida. A obra Coroa 
de rosas e de espinhos seria então publicada 
por amigos, em tiragem de 500 exemplares, 
prefaciada por Antônio Sales.
Azevedo, em análise da produção de Sil-
veira, afirma que “como a poesia de Raul de 
Leoni, a sua é ao mesmo tempo clássica e 
renovadora” e “[...] o poeta já começava a li-
bertar-se não somente do metro regular, mas 
também do poema polimétrico, por muitos 
erroneamente chamado de poema em verso 
livre. ‘Laus Purissimae’ [...] em seu prenúncio 
de Modernismo, pende muito mais para 
CURSO literatura cearense 101
Polimétricos
Formado por 
versos de 
várias medidas: 
heptassílabos, 
octossílabos, 
alexandrinos etc.
Simbolismo do que para outra qualquer es-
tética” (AZEVEDO, 1976, p.369-370).
Talvez a juventude eloquente – morreu 
aos 21 anos –, o linguajar e o conhecimen-
to clássico dessem um charme especial 
ao rapaz que, ao ser convidado para uma 
palestra do Grêmio Literário Paula Ney, 
recusou-se, justificando a nocividade 
desses grêmios literários, pois que deles 
surgiam poetas, comprovando o estado 
de sua própria maldição. 
Embora a estrutura (forma) do referido 
poema tenda à renovadora, a temática e os 
motivos estão bem distantes do que viria a 
ser o lastro dos modernistas puros, diga-
mos assim, nem daqueles do “Sul” nem do 
“Norte”, como veremos a seguir. 
Lastro
Base sólida 
que legitima ou 
autoriza alguma 
coisa; fundamento.
3.
AVANT-GARDE 
MODERNISTA 
assagem de séculos. Os no-
vos tempos assistiam ao sur-
gimento de um cenário artísti-
co dinâmico, criativo e diverso 
– para alguns, assustador e de 
extremo mau-gosto. O avanço 
tecnológico (a “Era da Eletrici-
dade”, o cinema, o telefone, o 
telégrafo sem fio, o automó-
vel, o avião...), a revolução na 
Física, a psicanálise, os conflitos entre paí-
ses, tudo isso e algo mais gerava um turbi-
lhão de novas ideias e uma grande agitação, 
especialmente dos grupos denominados 
vanguardas que, de uma forma ou de ou-
tra, criavam novas referências, renovando o 
olhar sobre as linguagens artísticas, muitas 
vezes de forma agressiva, desafiadora e/ou 
iconoclasta. Ser vanguarda seria antecipar 
novos caminhos, prenunciar bases e crité-
rios estéticos para este mundo “em transfor-
mação”. Daí, é nesse contexto que surgiriam 
os europeus Futurismo, Dadaísmo, Cubismo, 
Expressionismo, Surrealismo e seus respecti-
vos e chocantes manifestos.
Para resumir o que nos interessa: “A prin-
cipal herança das vanguardas europeias 
para a Literatura Brasileira [...] é o impulso 
de (1) destruir os modelos arcaicos, (2) 
desafiar o gosto estabelecido e (3) propor 
um olhar inovador ao mundo” (ABAURRE; 
PONTARA, 2005, p.504), ou seja, ruptura e 
transformação seriam as palavras de or-
dem para a fase heroica – como dizia Mário 
de Andrade – da primeira geração moder-
nista, que é o objeto deste módulo.
BOLACHINHAS
Coroa de Rosas e de Espinhos só teria 
uma segunda edição quase 90 anos 
depois, sob a coordenação do autor 
deste fascículo, na época, na Secult/CE.
102 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
4.
MODERNISMO 
NA PENUMBRA
stávamos cansados dos parnasia-
nos brilhantes e bem arrumados, 
dos versos esculturais e lantejou-
lantes, de poesia eloquente, cheia 
de estardalhaço, de cores e luzes. 
[...] O governo Serpa [Justinia-
no de] estimulava as atividades 
mentais, inclusive fazendo reviver 
a velha Academia Cearense, por 
tantos anos silente. A fundação de 
grêmios literários; as rodinhas de livraria e 
as reuniões vesperais no Café Riché ( já nos 
seus últimos meses); as tertúlias improvisa-
das do Art-Noveau fronteiro [ambos, frente a 
frente numa das esquinas da praça do Fer-
reira]; as perspectivas das festas e comemo-
rações do Primeiro Centenário da Indepen-
dência, tudo isso contribuía para o clima de 
efervescência mental, de agitação intelec-
tual. Havia, na verdade, vibração e até mes-
mo alegria naquela quadra ridente e buli-
çosa da capital cearense. Processava-se um 
surto de renovação na vida da cidade com 
pouco mais de 70 mil habitantes. [...] Foi 
nesse ambiente de calor e exaltação que o 
livro delicado e delicioso de Ribeiro Couto 
[refere-se a O jardim das confidências, sua 
obra de estreia, em 1921] aportou à capital 
cearense, acendendo entusiasmos na moci-
dade. [...] A temática do poeta santista era 
outra novidade. Não mais fidalgas e castelãs 
e sim raparigas doentes de bairros pobres 
transformadas pelo poeta em princesinhas 
sem coroa. Estudantes enfermos. Lâmpa-
das morrentes. Alcovas sombrias, quase 
solitárias, tresandando a tristeza e remédio. 
Pregões de vendedores, crepúsculos enevo-
ados pela neblina. Estaçõezinhas modestas 
de subúrbios. Portões fechados a cadeado, 
parques desertos, arrabaldes ermos. Elegias 
e baladas, mas tudo bem do terra a terra, 
do cotidiano humilde de São Paulo, sem 
imagens atrevidas, semrutilâncias e sem 
delírios. Tudo isso, pela força contrastan-
te, comovia a gente moça da Terra do Sol.” 
(ALENCAR, 1984, p. 30-31)
A tela acima, pintada por Edigar de 
Alencar, sobrinho do poeta, pintor e modi-
nheiro Raimundo Ramos Filho (1871-1916), 
o “Ramos Cotoco”, nos mostra uma Fortale-
za Belle Époque (1860-1930) – momento de 
aformoseamento da cidade, do deslumbre 
com a sensação cinematográfica de pro-
gresso provinciano – que antecede à Sema-
na de Arte Moderna de 1922. 
No mesmo texto em que Edigar expõe o 
fascínio da mocidade cearense pela poéti-
ca, denominada penumbrista, de Ribei-
ro Couto – que para variar teria entre suas 
obras mais conhecidas o romance Cabocla, 
após ser novela de TV –, diz que ela impac-
MALACA 
CHETAS
Edigar de Alencar (1901-1993), cultor 
de vasta obra em diversos gêneros, 
desde adolescente frequentou grêmios 
artísticos e literários e escrevia para 
periódicos como A Jandaia, Fênix e 
Fortaleza. Em 1925, lançou a revista 
literária Fanfarra (propriedade de 
Jorge C. Garcia e Jeová Rosa), que teria 
um projeto gráfico avançado para os 
poucos recursos que possuía. Em 1926, 
embarcou para o Rio de Janeiro, onde 
residiria até o fim de sua vida.
CURSO literatura cearense 103
SABATINA
taria alguns jovens poetas e intelectuais dos 
meios literários e jornalísticos, membros de 
agremiações e comerciários. Entre os poe-
tas, Jáder de Carvalho, Leão de Vascon-
celos e o próprio Edigar de Alencar que, 
em 1922, nas coletâneas A poesia cearense 
no Centenário e em Os novos do Ceará no 
Primeiro Centenário da Independência, pu-
blicariam “manifestações penumbristas”.
E o que seria esse tal penumbrismo, 
que não era, sabemos, uma escola literária? 
O próprio Couto, em 1957, em carta a Rodri-
go Octávio Filho, diria: 
“um certo jeito, um tom, um clima de ex-
pressão poética [...] a incorporação da 
vida vivida, a rua, os quintais, o quarto 
do estudante Batista, as pombas voando 
quando passa o trem do subúrbio, a mu-
lher do bar (Milonguita), o amigo que em 
segredo ama a irmã do amigo e na cara do 
outro revê a amada, o pudor das aspira-
ções obscuras, a mãe fatigada que espera 
o filho boêmio altas horas da noite, o ru-
mor de passos na rua deserta, enfim a vida 
de toda gente, a dignidade do cotidiano 
autêntico, natural, humano, sem nenhu-
ma ênfase e nenhuma oratória.” 
Referia-se, ao final, à sua oposição ao 
Parnasianismo.
Com a criação da revista Fanfarra, de For-
taleza, em 1925, Edigar usaria o veículo para 
promover também os versos de influência ri-
beirocoutiana, assim como poesias “à feição 
de Guilherme de Almeida”, referindo-se aqui 
ao livro Raça, do poeta, publicado em 1925.
A coletânea Os novos do Ceará no 
Primeiro Centenário da Independência, 
organizada pelo jornalista Aldo Prado, 
é a tácita (ou não) manifestação 
de protesto de uma nova geração 
deixada de fora da coletânea A poesia 
cearense no Centenário, organizada 
por Sales Campos.
MALACA 
CHETAS
No Ceará desse período, entre os 
maiores opositores do penumbrismo 
e do futurismo, Antônio Sales, o 
mesmo da Padaria Espiritual, que 
publicaria no Correio do Ceará uma 
série de poemetos irônicos e críticas 
sob o pseudônimo “Artúnio Vales”, 
o poeta Cruz Filho, Sales Campos, 
Leonardo Mota, Antônio Furtado e 
Elias Malmann, entre outros. Edigar 
de Alencar, que escrevia para A 
Jandaia, respondia as críticas dos 
desafetos com outras, sob a máscara 
dos pseudônimos “Zefo Turista” e 
“Melpiche da Noite”.
104 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
5.
E O MODERNISMO 
FOI? NÃO FOI?
ão nos deteremos no que 
vastamente encontra-
mos nos compêndios de 
Literatura Brasileira, que 
afirmam ser esta primei-
ra geração, a do “espírito 
destruidor” do Modernis-
mo, a eclodir nos salões 
do Teatro Municipal de 
São Paulo, apoiada con-
fortável, econômica e so-
cialmente pela elite paulista: a Semana de 
Arte Moderna de 1922.
Mas, vá lá, onde é que nós entramos nis-
so? Pois bem, o escritor gaúcho Raul Bopp 
(1898-1984), que jovem já havia fundado 
periódicos no Rio Grande do Sul, não esta-
va em São Paulo durante a Semana – que 
ele denominava “reação modernista” ou 
“insurreição literária de 22” –, mas no Rio 
de Janeiro, o que fez com que acompa-
nhasse os seus acontecimentos a distância, 
assim como também nos seus reflexos em 
outros estados brasileiros. Conta-nos:
Passada a fase de alvoroço, provocado pela 
Semana de Arte Moderna, começou-se a 
formar uma lenta consciência do Movi-
mento. O impacto de ideias de vanguarda 
lançou os intelectuais em posições novas. 
Consequentemente, verificou-se, em vá-
rios setores, um abandono gradativo dos 
princípios, que sujeitavam letras e artes aos 
moldes formais da época. Iniciou-se um ci-
clo diferente para a conquista da expressão 
própria, em ruptura com o conformismo 
acadêmico. A evolução era inevitável. Com 
ela, desenvolveram-se formas embrionárias 
de um Renascimento brasileiro. Um espíri-
to jovem alastrou-se, com entusiasmo, por 
vários recantos do país, sob o impulso de 
ritmos construtivos. Foi um ponto de partida 
para escritores e artistas irem se buscando, 
aos poucos, com uma nova compreensão 
do momento. Embora não tivesse exercido 
uma influência imediata, o Movimento for-
mou, gradualmente, e com um alcance cole-
tivo, um conjunto de ideias básicas, coeren-
tes com a realidade brasileira” (BOPP, 2012).
Observamos que esse movimento inspi-
rado pelas ideias europeias e que queria, 100 
anos depois, proclamar a sua “independên-
cia” dos valores estrangeiros – aparente con-
tradição – faria uma forte campanha, espe-
cialmente por meio de artigos em jornais 
(tinham bastante acesso a eles), lançamen-
to de revistas e manifestos – entre eles, 
em 1928, o “Manifesto da Antropofagia”, que 
mais impactaria no Ceará –, além de excur-
sões de militantes, como Raul Bopp e Gui-
lherme de Almeida, aos demais estados. 
Guilherme de Almeida (1890-1969), um 
dos “semanistas” e maiores divulgadores do 
Modernismo, e que viria a ser, anos depois, o 
primeiro modernista a ingressar na Aca-
demia Brasileira de letras, em 1925, percor-
reu algumas capitais brasileiras, como Porto 
Alegre, Recife e Fortaleza, em conferência, 
a princípio, a convite do jornalista, escritor 
e advogado pernambucano Joaquim Ino-
josa, principal divulgador do Modernismo 
– dizia-se “Futurismo” – nas terras nordes-
tinas. Inojosa conta que após o seu primei-
ro encontro com os “semanistas”, recebeu 
CURSO literatura cearense 105
BOLACHINHAS
“luvas para desafio: livros e exemplares da 
Klaxon – a senha da renovação” (INOJOSA, 
1969, P.44). Neroaldo Pontes de Azevedo diz 
que após esse encontro “seu comportamen-
to é o de um convertido, logo ungido após-
tolo, predestinado a pregar entre os ‘gentios’ 
a mensagem do ‘credo novo’” (AZEVEDO, 
1996, p.42). Havia publicado em outubro de 
1922, em A Tarde, o artigo “Que é Futurismo”, 
iniciando a grande peleja “passadistas versus 
futuristas”, frequente até 1924. Como veículo 
de divulgação da nova corrente, utilizava a 
revista Mauriceia, por ele dirigida, conflitando 
com o Centro Regionalista do Nordeste e 
os seus defensores. Mais tarde, em 1924, pu-
blicaria também a plaquete A Arte Moderna, 
que, acredita Neroaldo, seria a responsável 
em divulgar o modernismo no Nordeste, 
além de propagar o que se passava no Norte-
-Nordeste para os demais estados brasileiros.
Em Recife, em 1925, em sua conferência, 
Almeida se contrapunha ao regionalismo, 
provocando o seu maior defensor, o escri-
tor, jornalista, ensaísta e sociólogo Gilberto 
Freyre (1900-1987), que publicaria, em re-
presália ao “Almeida crítico” – pois o “Almei-
da poeta” tinha seu valor –, no Diário de Per-
nambuco, o artigo “A Propósito de Guilherme 
de Almeida”, no qual dizia que o conceito 
de tradição do poeta era o de um “tristonho 
peso-morto”, e que ele não distinguia “o re-
gionalismo à Jeca Tatu, caricaturesco e arre-
vesado, do regionalismo que é apenas uma 
forma mais direta, mais sincera, mais prática,mais viva de ser brasileiro.” 
Também o paraibano José Lins do 
Rego (1901-1957), que acreditava que o 
bom romancista é aquele que consegue 
conferir universalidade à sua terra, e 
que combatia o ideário da Semana da Arte 
Moderna, negando-a enquanto “expres-
são centralizadora de um movimento 
de âmbito nacional” (CHAGURI, 2008), 
comenta que o principal objetivo do regio-
nalismo nordestino era “transformar o chão 
do Nordeste: de Pernambuco, num pedaço 
de mundo. Era expandir-se ao invés de 
registrou o poeta Filgueiras Lima), era edita-
do, pela Tipografia Urânia, a mesma que iria 
editar, em 1930, O quinze, de Rachel de Quei-
roz, O Canto novo da raça, um livrinho mais 
horizontal do que vertical, sem numeração 
nas suas 40 páginas. Tinha nada menos do 
que quatro autores: Jáder de Carvalho, 
Sidney Netto, Franklin Nascimento e Mo-
zart Firmeza (Pereira Júnior). Na capa, a 
dedicatória, não a Guilherme de Almeida, o 
arauto paulista da nova estética, mas a um 
poeta do Rio de Janeiro: ‘Homenagem a Ro-
nald de Carvalho’” (AZEVEDO, 2012).
Baseado em outra afirmativa de Azevedo 
– “ o Modernismo na terra de Alencar, apesar 
de precedido por notas de surdina penum-
brista, vai explodir mesmo é em clangores de 
forte telurismo” – sendo Jáder de Carva-
lho o mais telúrico dos autores da obra.
Em “Modernismo”, um de seus poemas 
do livro, um exemplo de “poema-piada”:
Teu cabelo à Rodolfo,
tuas olheiras românticas,
teus quadris inquietos e atordoadores
teus seios bico-de-pássaro
– dão-me a ideia cabal deste século ultra-
-chique.
Ontem, quando deixavas o cinema.
– o colo nu,
os braços nus,
a perna escandalosamente nua,
eu tive a súbita impressão de que,
na bolsa de ouro a te pender da mão, 
vinha, (de precavida que és!)
– o teu vestido. 
(Jáder de Carvalho, 1927)
Mesmo sendo considerada marco do 
modernismo cearense, a segunda 
edição de O canto novo da raça só seria 
lançada 83 anos depois, organizada 
por Raymundo Netto e publicada pela 
Secretaria da Cultura do Estado do 
Ceará, gestão do prof. Auto Filho, com 
apresentação de Sânzio de Azevedo, 
ilustrações de Audifax Rios e acréscimo 
da “Biografia Perdida” de Franklin 
Nascimento, por Raymundo Netto.
Poema-Piada
Textos curtos que 
desencadeiam efeitos 
humorísticos por meio 
de trocadilhos ou jogos 
verbais. Muito utilizado 
entre modernistas, 
especialmente por 
Oswald de Andrade.
restringir-se. Por esse modo o Nordeste 
absorvia o movimento moderno no que ele 
tinha de mais sério. Queríamos ser do Brasil 
sendo cada vez mais da Paraíba, do Reci-
fe, de Alagoas, do Ceará” (REGO, 1957, p.50).
Percebemos que esses embates entre as 
realidades do Sul-Sudeste e do Norte-Nordes-
te, além da temática regionalista, não é de hoje.
O fato é que Guilherme de Almeida veio 
a Fortaleza e foi acolhido pelo jornalista Gil-
berto Câmara em sua casa, na rua da Escadi-
nha, hoje Travessa Baturité, sede da Casa de 
Cultura Christiano Câmara, a mesma que 
abrigaria mais tarde o escultor paulista Hum-
berto Cozzo, responsável pelo monumento 
de Centenário de José de Alencar (1929), que 
é, de acordo com o artista plástico Roberto 
Galvão, “marco simbólico embrionário das 
novas manifestações plásticas em Fortaleza”.
Proferiu sua palestra “A revelação do 
Brasil pela poesia moderna” no Theatro 
José de Alencar, publicada na íntegra pela 
Ceará Illustrado, revista criada em 1924, sob 
a direção do jornalista e poeta baiano De-
mócrito Rocha (1888-1943).
Sobre a influência dessa visita, diz Sân-
zio de Azevedo:
Tenha ou não a pregação de Guilherme de 
Almeida repercutido na intelectualidade 
cearense, o certo é que dois anos depois, em 
1927 (e não 1928, como equivocadamente 
106 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
BOLACHINHAS
(1) Jáder de Carvalho é um dos 
maiores poetas de sua geração e um 
dos nomes mais lembrados e estudados 
atualmente. Fundou jornais, publicou 
poemas, ensaios e romances; (2) 
Sidney Netto publicou ainda muitos 
livros, mesmo quando imerso em sua 
boemia; (3) Franklin Nascimento, 
apesar de ter poemas publicados 
em vários periódicos locais e até em 
outros estados, como a Revista de 
Antropofagia, após o casamento, em 
1933, afastou-se do meio literário; (4) 
Mozart Firmeza publicaria ainda livros 
de crônicas e poesia. No Rio, cursou 
Escola de Belas-Artes. Mais tarde, 
atuaria em jornais como crítico de arte.
SABATINA
Guilherme de Almeida é um dos 
fundadores da revista Klaxon (também 
dos anúncios da “Lacta”), criador do 
projeto gráfico de sua capa e da capa 
da primeira edição de Pauliceia des-
vairada, de Mário de Andrade.
Em 26 de abril de 1928, o jornal O 
POVO anunciava: “Na vitrine da Casa 
Almeida, acha-se em exposição uma 
original tela a óleo de Pereira Júnior, 
em que o apreciado artista retrata o 
nosso colega de imprensa Mozart 
Firmeza – que não é outro senão 
o próprio Pereira Junior. O referido 
trabalho prima pelo exotismo com que 
foram lançadas as tintas em chocante 
disposição futurista, pouco conheci-
da em nossa capital” (GALVÃO, 2008).
MALACA 
CHETAS
Sidney Netto, embora tenha um papel 
destacado no Modernismo cearense, seus 
poemas guardavam mais “traços românti-
cos e simbolistas”.
Franklin Nascimento, em sua produ-
ção, se localiza bem em sua época, citando 
o maxixe e o charleston, lutas de classe – era 
admirador ferrenho de Luís Carlos Prestes 
– (“à noveau-riche”, “cantarolava a Interna-
cional!”), os avanços tecnológicos e a ins-
piração de um Manifesto Futurista – na sua 
ligação com a velocidade e automóveis (“mil 
fios elétricos”,“com teus autos chispantes, 
senhoris, de mistura/com fordzinhos pernal-
tas”, “bombas de gasolina”, “antenas de tua 
primeira estação radiográfica”, “à luz dessas 
minúsculas lâmpadas ½ watt”, “moléculas 
de aço da machino-factura”, entre outros. 
Sem dúvida, “Em louvor da princesa do ver-
de mar...” é a sua melhor contribuição à obra.
Mozart Firmeza (Pereira Júnior), um 
dos autores, tem uma particularidade: além 
de escritor, era pintor – e irmão de pintor, 
no caso, de Nilo Firmeza, o “Estrigas”. Escre-
via “Mozart Firmeza”; pintava o seu pseudô-
nimo “Pereira Júnior”.
Sânzio de Azevedo detecta nos poemas 
de Firmeza, além da preocupação social, a 
dicção mais próxima do penumbrismo. 
Como todos os bons modernistas da-
quele período, ou mesmo em um futuro, 
seja no Ceará ou em qualquer outra parte 
do país, percebemos uma pluralidade de 
orientações e mesmo de contradições, 
alguns com maior “pureza modernista” ou 
que ainda trariam notas neoparnasianas, 
pós-simbolistas, em resumo, “passadistas”.
Bom mesmo e necessário para um estudo 
crítico e reflexivo em literatura é mergulhar 
na obra, nadar na onda desses versos que 
engatinhavam naquela que nos chegava em O 
canto novo da raça, que, como aponta Azeve-
do, “é o legítimo iniciador do Modernismo 
no Ceará” e, assim, tornando-se, como obser-
va Assis Brasil, “um dos primeiros estados a 
tomar conhecimento da Semana de Arte Mo-
derna de 22, deflagrada em São Paulo”. 
CURSO literatura cearense 107
BOLACHINHAS6.
MARACAJÁ NÃO 
É PARA TODO 
MUNDO, NÃO!
O modernismo que eu entendo é esse 
que nós fazemos: modernismo nacional, 
saturado de tudo quanto é nosso, original, 
sugestivo, impressionante... Querem saber? 
Se eu continuasse a dizer o que penso do 
modernismo não acabaria mais...
Demócrito Rocha, O POVO 
(13 de junho de 1929). 
m 7 de janeiro de 1928, o baiano 
Demócrito Rocha, ex-diretor li-
terário d’O Ceará, após uma surra 
de policiais no centro da cidade, a 
mando do govenador que estava 
bastante impressionado com a sin-
ceridade do jornalista, decidiu fun-
dar o seu próprio jornal: O POVO. 
O periódico é hoje o mais antigo 
em exercício no Ceará, sendo nele 
encartados os fascículos de nosso “curso-
-movimento” Literatura Cearense.
Vamos agora explicar o porquê de o poeta 
Filgueiras Lima afirmar ser esse jornalista “a 
coluna mestra do Modernismo no Ceará”.
Demócrito, como falamos anteriormen-
te, havia criado a Revista Illustrada, a mes-
maque o próprio editor distribuía pessoal-
mente nas praças e cafés e que divulgou e 
contribuiu na promoção da excursão de 
Guilherme de Almeida em Fortaleza. Como 
jornalista atento e telegrafista, acompa-
nhava os movimentos que aconteciam não 
somente nos estados do “Sul” do país, mas 
nos vizinhos do Siará Grande. Era também 
poeta, amava a literatura, um ser gregário, 
criador do banco da Opinião Pública. 
Havia descoberto o talento de Rachel de 
Queiroz, quando ainda adolescente “Rita 
de Queluz”, e a inseriu em seu jornal, assim 
como fez com o jovem Paulo Sarasate, 
que viria a ser seu braço direito para tudo – 
e futuramente, seu genro. 
Daí, Sânzio de Azevedo nos dizer que 
“Percorrendo-se as páginas d’O POVO de 
1928 e 1929 [os dois primeiros anos do pe-
riódico], veem-se desfilar os nomes dos 
mais destacados poetas [cearenses] do mo-
vimento na época: Mário de Andrade (do 
Norte), Filgueiras Lima, Edigar de Alencar, 
Heitor Marçal, Sidney Netto, Rachel de Quei-
roz, Mozart Firmeza (Pereira Júnior), Franklin 
Nascimento, Jáder de Carvalho, Martins 
d’Alvarez, Silveira Filho, Lúcio Várzea (pseu-
dônimo de Júlio Maciel) e tantos outros 
vanguardistas de então.” Entre esses nomes, 
havia outro, o de “Antônio Garrido”, na ver-
dade o pseudônimo de Demócrito, que não 
assinava poesia com seu nome oficial. 
Ainda em 1928, em O POVO, a estreia 
da seção “Modernistas e Passadistas”, para 
não sarapantar ninguém, provavelmente 
a exemplo de Inojosa – “Passadistas versus 
Futuristas” – que existiu de 1922 a 1924. Na 
coluna, também modernistas de outros cen-
tros, como Guilherme de Almeida, Ascenso 
Ferreira (muito festejado no Ceará), Ronald 
de Carvalho, Pagu, Álvaro Moreyra, Jorge de 
Lima, Cassiano Ricardo, Jacó Pim Pim (pseu-
dônimo de Raul Bopp), Abguar Bastos, Mário 
de Andrade, Ribeiro Couto, entre outros. 
Na obra O Modernismo na poesia cearen-
se: primeiros tempos, Azevedo traz conside-
rações sobre alguns autores que figuravam 
na coluna e destacava Heitor Marçal como 
o mais comprometido com o Modernismo, 
“notadamente a vertente regionalista”. 
Nasciam e morriam várias revistas que 
propagavam a bandeira modernista – mes-
mo quando ainda traziam contribuições 
de “cunho tradicional” –, como a Klaxon 
(1922-1923), Belém Nova (1923-1929), Es-
tética (1924-1925), Terra Roxa e Outras Ter-
ras (1926), Verde (1927-1928), Festa (1927-
1928 – 1ª fase), A Revista (1925-1926)... Elas 
papocavam de todos os cantos do país e 
tinham objetivos maiores do que apenas 
servirem de meio de divulgação da pro-
dução literária e artística de seus colabo-
radores. Elas demarcavam um espaço 
privilegiado de sociabilidade entre os 
jovens renovadores da arte, legitimando 
a coautoralidade, o coletivo, facilitando o 
livre trânsito de suas ideias.
Não é de estranhar que diante da efer-
vescência cultural (usando um termo bem 
passadista), do interesse de tantos e da 
agitação da Antropofagia – que em maio 
de 1928 havia lançado a sua revista, em “1ª 
dentição” –, Demócrito não viesse com o 
empreendimento de sua própria revista 
modernista. E assim sairia de um forno 
(não de Padaria), em 7 de abril de 1929, um 
domingo, o suplemento literário Maracajá: 
folha modernista do Ceará, em referência ao 
felídeo encontrado com mais frequência na 
região Amazônica e cujo nome é originário 
da língua tupi. Na primeira página, a mar-
ca produzida a partir do clichê em madeira 
de umburana de juazeiro feito pelo artista 
R. Moreira. A sua redação ficaria a cargo de 
Antônio Garrido (Demócrito), Paulo Sara-
sate e Mário de Andrade (do Norte). 
E é Sarasate que nos revela a origem do 
título da revista: “Maracajá, cujo nome de-
sentranhei das matas nordestinas, com ple-
no assentimento de Demócrito Rocha, para 
com ele batizar a publicação modernista do 
Ceará. [...] Com a minha cooperação, a de 
Mário de Andrade (do Norte) – inteligência 
Conta Rachel de Queiroz de seu primeiro 
encontro com o diretor literário d’O 
Ceará: “Demócrito, que já era a esse 
tempo o padrinho, o irmão mais 
velho, o companheiro diário e o crítico 
condescendente de quase todos os 
aprendizes de literatura e de jornalismo, 
em Fortaleza – também me agregou 
à sua comunidade de discípulos, 
imediatamente após essa apresentação”.
108 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
SABATINA
SABATINA
Em 1921, enquanto víamos 
modernistas que divulgavam o 
Futurismo, por outro lado, os 
regionalistas defendiam uma nova 
escrita, uma nova sensibilidade 
estética – que não desconsiderava a 
tradição – com o olhar voltado para o 
nacional, tanto quanto para o regional. 
A revista baiana Arco & Flexa teve 
rápida duração (1928-1929). Seu 
diretor era Pinto de Aguiar e a 
redação era na casa do diretor. 
As edições variavam entre 66 a 77 
páginas. A escolha do título, claro, 
afirmava um caráter de nacionalismo 
brasileiro: o índio, sempre ele. Um 
de seus maiores e mais articulados 
colaboradores foi Carlos Chiacchio.
vivíssima, capaz de largos voos e toda sorte 
de aventuras nos horizontes do pensamen-
to – Demócrito Rocha, instituindo Maraca-
já, teve o mérito de sacudir, através do ‘gato 
bravio’, o ambiente literário local, impulsio-
nando com maiores energias o movimento 
que, em 1928, atingira o seu clímax no Rio 
e em São Paulo e já se refletia no país. [...] 
Foi um marco notável, que os intelectuais 
do Sul saudaram com entusiasmo, mas não 
passou disso” (SARASATE, 1968).
E haveria algum modelo em especial, al-
guma outra revista além das citadas que os 
influenciasse nessa decisão? Sim, pelo que 
vimos, não pensar em publicar uma é 
que seria difícil, mas para baldear o core-
to, trazemos essa informação do nosso Má-
rio de Andrade, que, em Cipó de Fogo, em 
1931, publicaria sua carta a Teodoro Cabral, 
explicando: “O nosso primeiro movimento, 
com Maracajá, foi um avanço para a derru-
bada. Nós vivíamos, da Bahia ao Amazonas, 
sem um surto de progresso mental, no ter-
reno literário. Na poesia, de um modo par-
ticular, santo Deus! Ainda se perpetravam 
sonetos! Arco & Flexa, em São Salvador, foi, 
se não me engano, a nossa principal su-
gestão. Quando nos veio Arco & Flexa, Ma-
racajá se fez. Este, o primeiro movimento”.
E por falar em Salvador, adiantamos 
que, da mesma forma que lá aconteceu, 
no Ceará o primeiro movimento modernis-
ta surgiu em torno da literatura local, não 
abrangendo sobremaneira as demais ar-
tes. Haveria então um segundo movimento, 
também na década de 1940, que coincidiria 
e, em nosso caso, até se emparelharia como 
um “despertar das artes”. Mas esta é uma 
história CLÃdestina, que fica para o próximo 
módulo. Continuemos!
Rachel de Queiroz, uma das colabora-
doras da revista – que se lançaria ao mundo, 
posteriormente, como uma de nossas maio-
res romancistas –, relatou: “Destinava-se o 
Maracajá a pregar o modernismo pelas terras 
nordestinas, e nele todos nós desferimos 
voo [...] Sei que tivemos a glória insigne de 
nos ver lidos e comentados por alguns dos 
grandes do Rio e São Paulo, para nós, então, 
as duas metades inacessíveis do Paraíso.”
BOLACHINHAS Não temos dúvida de que o espírito da turma da Maracajá seria o mesmo prati-
cado pela Padaria Espiritual e, mais tarde, 
pelo grupo CLÃ: apresentar a produção li-
terária do Ceará para todo o Brasil e até 
ao exterior. Por vezes, até com os mesmos 
exageros ou utilizando o tom gracejador 
dos “tempos heroicos”, como esse texto de 
“Garrido” em Maracajá nº 2:
O primeiro número de Maracajá foi espalha-
do por todo o globo e até por fora do referi-
do asteroide. A esta hora, qualquer habitan-
te de Marte já estará fazendo antropofagia. 
Vocês lá do Sul que escreveram sobre o 
gato selvagem do Nordeste, toquem nos 
ossos. Isso!
Nós estamos ligados por um sentimento 
único – o da voracidade.
Juntemo-nos para comer tudo o que deva 
ser comido no Brasil.
Demócrito Rocha (assinando “Antônio Gar-
rido”) Maracajá nº 2, em 20 de maio de 1929.
De fato, em nossas pesquisas, encontra-
mos várias citações, artigos, notas sobre olançamento da Maracajá cearense: O Globo 
(RJ), Correio Paulistano (SP), Diário Carioca 
(RJ), Diário de S. Paulo (SP), Diário da Tarde 
(PR), Diário de Notícias (RS), Movimento Bra-
sileiro (RJ), O Jornal (RJ), Revista da Antropo-
fagia (SP), entre outros.
Um dos periódicos nos quais mais per-
cebemos esse movimento é o A Manhã (RJ). 
Inclusive é nele que encontramos a carta que 
Antônio Sales – reconhecido articulador e 
“mestre-sala” da literatura cearense – envia 
a Raul Bopp, pedindo para não ser mais in-
termediador dos recados entre os “antropo-
fagistas paulistas” e os “canibais cearenses”, 
e que se entendessem diretamente com eles, 
“cuja fera simbólica, o Maracajá, tem sua 
toca na redação d’O POVO, à rua Barão do 
Rio Branco, 239. E abro os braços com o de-
sejo de abraçá-los, mas realmente para não 
ser engolido”. Esse mesmo texto seria publi-
cado no Diário de S. Paulo, quando acolhia a 
2ª dentição da Revista da Antropofagia.
Sim, Raul Bopp, autor de Cobra Norato, 
seria uma espécie de “embaixador do Mo-
dernismo de lá” por aqui, assim como em 
outros estados. Ele mesmo explica a sua 
atuação na época: 
A minha participação, foi mais no sentido de 
divulgação da revista [da Antropofagia], 
de estabelecer contatos, solicitar matérias, 
colaborações, realizar um trabalho editorial. 
A revista era uma espécie de cartão de visita 
para todo o intelectual do Brasil. Era uma coi-
sa nova, moderna, radical, ousada, diferente 
do que se publicava na época. Nosso público 
era muito restrito e contávamos ainda com 
problemas de distribuição. (BOPP, 2012)
Bopp enviaria uma carta para Heitor 
Marçal sobre o “movimento renovador”, 
anunciando: “O Maracajá foi um dia de festa 
por aqui [Rio de Janeiro e São Paulo]. Man-
da coisas do Garrido, do Mário de lá, para 
correr uma carreira com o daqui. Turf. E o 
Franklin Nascimento? Mande prosa. Prosa 
Raul Bopp seria o responsável pela 
sugestão do título “Abaporu” (antropó-
fago) à obra de Tarsila do Amaral e pelo 
apelido “Pagu”, pelo qual se tornaria 
conhecida a jornalista Patrícia Galvão, 
a “musa dos modernistas”. Carlos 
Drummond de Andrade dizia ser Cobra 
Norato (1931) “possivelmente o mais 
brasileiro de todos os poemas brasilei-
ros, escritos em qualquer tempo.”
110 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
BOLACHINHAS
Em 17 de agosto de 1929, O POVO 
anunciava uma edição especial de 
Maracajá. Nessa edição, os modernistas 
escreveriam poemas em homenagem às 
misses eleitas no concurso do Gazeta de 
Notícias. Além dos poemas, a edição se-
ria enriquecida por clichês com imagens 
das senhorinhas participantes do torneio 
de beleza. A 3ª edição da Maracajá não 
saiu, mas a ideia de Mário de Andrade se 
concretizou em outro veículo. 
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SILVEIRA, Mário da. Coroa de rosas e de 
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irreverente, Pau. Isso agora é uma espécie 
de termidor antropofágico. Pau em tudo, na 
alta burguesia das letras. [...] A gente aqui 
não conhece nada do Norte.” (Maracajá nº 2)
E assim, Bopp, que assinaria em algu-
mas revistas sob pseudônimo “Jacó Pim 
Pim”, entre todos os modernistas, foi o que 
mais teve relações com os modernis-
tas de cá, publicando inclusive no jornal O 
POVO (não necessariamente literatura) e em 
Maracajá, correspondendo-se com a reda-
ção por anos, mesmo quando fora do país, 
além de angariar contribuições cearenses 
e publicá-las na Revista da Antropofagia, e, 
possivelmente, entre outros periódicos. Isso, 
a distância, pois só esteve no Ceará em 2 
momentos. O primeiro em 1921, quando 
não tinha contato com nenhum deles, e, ra-
pidamente, em 22 de junho de 1931, ou seja, 
dois anos após o fim da revista cearense, 
em almoço no restaurante Beira-Mar, “cerca-
do de bons amigos da turma de Maracajá”. 
Irônico é que, enquanto a Agência de No-
tícias do poeta cearense Américo Facó, para 
quem Raul Bopp trabalhava, era uma espécie 
de central que reunia os intelectuais antropó-
fagos, como Oswald de Andrade a proclamar a 
sua revolução caraíba – “Tupi or not tupi thats 
is the question” –, no Ceará, era na redação de 
O POVO que nossos modernistas se vestiam 
em cocares, se armavam de maracás e plane-
javam mudar o mundo. Em especial: Paulo 
Sarasate e Mário de Andrade (do Norte).
Acreditem: a Maracajá, mesmo com todo 
esse alvoroço, em um ano que a Bolsa de Va-
lores “crackou”, resultando na crise econômi-
ca mundial, e sendo o papel jornal calibrado 
pelo dólar, “guardou as garras” ainda na se-
gunda edição, de 26 de maio de 1929.
Provavelmente inconformados com esse 
fim, alguns dos colaboradores da Maracajá 
decidiriam resistir criando um novo veículo: 
O Cipó de Fogo, lançado independente-
mente de qualquer jornal, em 27 de setem-
bro de 1931, com direção “por enquanto e 
para efeitos gerais” de Mário de Andrade 
– assinando sem o habitual (do Norte) – e 
anunciando: “Cipó de Fogo circula em todo 
mundo civilizado, consequentemente será 
pouco lido no Ceará”.
O periódico, cuja linha de frente trazia, 
além de Mário, João Jacques e Heitor Mar-
çal, e que garantia ter a colaboração de to-
dos os modernistas cearenses, sem exceção, 
só chegou a ter o primeiro número, pro-
vavelmente por “caquexia pecuniária”, como 
tantos até hoje. Mário, em alguns anos, seria 
um dos maiores incentivadores da criação 
do movimento que resultaria no CLÃ. 
 
CONCLUSÃO
Você, caro(a) cursista, deve estar sentindo a 
falta de comentários sobre o conteúdo des-
ses dois periódicos, Maracajá e Cipó de Fogo. 
Curioso(a), quer saber quem colaborou nes-
sas raras edições e o que escreveu, como es-
creveu... Não é verdade? Isso nos deixa mui-
to felizes, mas o espaço é curto e mais feliz 
ainda você ficará ao saber que poderá matar a 
sua curiosidade diretamente na FONTE. Sim, 
na Biblioteca Virtual do AVA, você poderá 
lê-los e relê-los, analisá-los, do jeitinho que sa-
íram e com o mesmo impacto dos leitores dos 
anos 29 e 31. Já pensou? Fica com a gente!
“Negrada do Maracajá, [...] Vocês são uns 
bichos! Publicar uma folha modernista 
nesse Ceará mole e bambo é coragem 
como todos os diachos”. Edigar de Alen-
car, O POVO (20.5.1929).
CURSO literatura cearense 111
AUTOR
Raymundo Netto
É jornalista, escritor, editor e produtor cultural. 
Autor de obras literárias premiadas em diversos 
gêneros. É cronista convidado do caderno 
“Vida& Arte” do jornal O POVO desde 2007. 
Foi coeditor das revistas CAOS Portátil, 
Para Mamíferos e curador da Maracajá (2019). 
 Atuou como coordenador de Políticas do Livro 
e de Acervos da Secult/CE, responsável pela curadoria 
 e edição das suas coleções (2008-2011) – compostas, 
especialmente, por obras esgotadas ou inéditas 
da Literatura Cearense –, curador da IX Bienal 
Internacional do Livro do Ceará, redator e elaborador 
do Prêmio Literário para Autor(a) Cearense 
e um dos coordenadores da I Feira do Livro do Ceará 
em Cabo Verde. Coordena e executa diversos projetos 
na área da educação e cultura e é gerente editorial 
 e de projetos da Fundação Demócrito Rocha. 
Mantém o blog AlmanaCULTURA desde 2009.
ILUSTRADOR
Carlus Campos 
Artista gráfico, pintor e gravador, começou a carreira 
em 1987 como ilustrador no jornal O POVO. Na 
construção do seu trabalho, aborda várias técnicas 
como: xilogravura, pintura, infogravura, aquarelas 
e desenho. Ilustrou revistas nacionais importantes 
como a Caros Amigos e a Bravo. Dentro da produção 
gráfica ganhou prêmios em salões de Recife, 
São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.
Realização
Apoio
Patrocínio
FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR)
João Dummar Neto Presidente
André Avelino de Azevedo Diretor Administrativo-Financeiro
Marcos Tardin Gerente Geral
Raymundo Netto Gerente Editorial e de Projetos
Aurelino Freitas, Emanuela Fernandes 
e Fabrícia Góis Analistas de Projetos
UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (UANE)
Viviane Pereira Gerente Pedagógica
Marisa Ferreira Coordenadora de Cursos
Joel Bruno Designer Educacional
CURSO LITERATURA CEARENSE
Raymundo Netto Coordenador Geral, 
Editorial e Estabelecimento de Texto
Lílian Martins Coordenadora de Conteúdo
Emanuela Fernandes Assistente Editorial
Amaurício Cortez Editor de Design e Projeto Gráfico
Miqueias Mesquita Diagramador
Carlus Campos Ilustrador
Luísa Duavy Produtora
ISBN: 978-65-86094-22-0 (Coleção)
ISBN: 978-65-86094-18-3 (Fascículo 7)
Este curso é parte integrante do programa 
Circuito de Artes e Juventudes 2019, Pronac nº 190198, 
processo nº 01400.000464/2019-94, em parceria com a 
Secretaria Especial da Cultura do Ministério da Cidadania.
Todos os direitos desta edição reservados à:
Fundação Demócrito Rocha
Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora 
CEP: 60.055-402 - Fortaleza-Ceará 
Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148
fdr.org.br 
fundacao@fdr.org.br

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