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ICONOGRAFIA DOS nos estados da Paraíba e Pernambuco Marcelle Torres ORIXÁS ICONOGRAFIA DOS Aluna Marcelle de Morais Torres Irineu Orientador João Batista Guedes Campina Grande - PB, 10 novembro de 2023 Relatório técnico-científico apresentado ao curso de Design da Universidade Federal de Campina Grande, como requisito para obtenção do título de bacharel em Design. nos estados da Paraíba e Pernambuco ORIXÁS Irineu, Marcelle de Morais Torres Iconografia dos orixás nos Estados da Paraíba e Pernambuco [livro eletrônico] / Marcelle de Morais Torres Irineu. -- 1. ed. -- Campina Grande, PB Ed. da Autora, 2023. PDF Bibliografia. ISBN 978-65-00-87148-7 1. Artes 2. Design - Aspectos sociais 3. Iconografia 4. Orixás 5. Paraíba (Estado) - Aspectos religiosos 6. Pernambuco (PE) - Aspectos religiosos 7. Simbolismo na arte 8. Religiões afro-brasileiras I. Título. Índices para catálogo sistemático: 1. Orixás : Iconografia : Artes 741 Aline Graziele Benitez - Bibliotecária - CRB-1/3129 23-182155 CDD-741 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Para os meus Ancestrais, todos aqueles que vieram antes de mim. Aqueles que habitam meu sangue e coração, e que com seus encontros e desencontros, construíram existência. Para minha mamãe Oxum, meu pai Oxaguiã, e minha mãe Yemanjá, por todos os caminhos abertos. O percurso da humanidade se transforma quando o homem manipula a primeira ferramenta; o percurso da minha vida muda quando empunho o primeiro lápis. Por isso, sou profundamente grata aos meus pais Marcelo Irineu e Ângela Irineu que me proporcionaram esse momento tão sublime, tal como permitiram-me riscar as paredes de casa desde sempre; os meus primeiros projetos. Assim, consequentemente, tornei-me uma desenhista. Em todo esse percurso, meus pais não me deixaram sozinha um minuto sequer, inclusive no andamento deste trabalho, onde se tornaram meus assistentes de campo. Não sendo o suficiente, também fui acompanhada pela minha irmã, Gabriella Torres, companheira ao longo da vida e, claro, da graduação, servindo muitas vezes de usuária, persona e assistente. Agradeço a esse trio sensacional e alicerce da minha existência. Fui uma desenhista que nunca se contentou com a arte pela arte; gostava de livros e números. Isso devo aos meus avós paternos João Irineu e Socorro Figueiredo, que me acompanharam diariamente nas caronas desde a escola até a universidade, e nunca me negaram livros de presente e tudo aquilo referente ao meu conhecimento. Por falar em apreço por conhecimento, isso é algo que também aprendi e agradeço aos meus avós maternos, Luzinete Morais e Paulo Torres. Vovó Luzi, uma educadora nata, apaixonada pela escola e por transformar vidas através do conhecimento. Meu avô Paulo, in memoriam, um designer vernacular, vidraceiro, que executou tantos projetos, o qual nunca pude agradecer em vida a habilidade que herdei com réguas e esquadros, que me foi muito útil no curso de Design. Na Universidade Federal de Campina Grande, na Unidade Acadêmica de Design, pude colocar em prática todas essas inspirações e ambições que me rodeavam, e fazer o que verdadeiramente amo. Agradeço aos professores que também me inspiraram nesse caminho e que servem de referência para mim e muitas vezes me estenderam a mão, sobretudo ao meu orientador João Batista Guedes e aos professores Camila Assis Peres Silva, Isis Tatiane de Barros Macedo Veloso, Luís Felipe de Almeida Lucena e Mércia Rejane Rangel Batista. Agradeço também aos colegas que surgiram na universidade, em especial a Marina Martins, Hellen Lopes e Ana Luíza Queiroz pela companhia na “alegria e na doença” ao longo dos últimos quatro anos. Afinal, não ando só; só ando em boa companhia. Também agradeço ao meu companheiro Gabriel Leal, à minha irmã de coração Anna Motta, ao meu cunhado Agradecimentos Ícaro Leal, ao meu sobrinho Henrique Leal, e à minha psicóloga Fernanda Marreiro, que me deram força, muitas alegrias e muito amor nessa trajetória. Falar de Design e do divino me parece natural – ora, se Deus criou e projetou tudo e todas as coisas, não seria Ele também um designer? Se o Design está em quase tudo o que nos cerca no mundo material, em todas coisas, onipresente e onipotente, talvez ele certamente tenha um pouco de Deus. Agradeço aos irmãos de fé afro-brasileira que tornaram esse trabalho possível: a toda egbé do Ilê Axé Oyá Gigande, ao Babalorixá Tatá de Oyá, à ekedi Iolanda Alves (Gopi Gana) e a Luiz Ottoni. Ao Ilê Obá Ogunté, Sítio de Pai Adão, sobretudo ao egbomi Idelfonso, ao Babalorixá Manoel Papai, e ao seu neto ogã Lucas. À cientista da religião Larissa Lira pelo acervo cedido, bem como aos queridos fotógrafos que também me cederam os seus acervos: Paulinho Filizola do Terreiro Xambá e Paula Teixeira da A bebé Wura Fotografia. Aos artistas pernambucanos Diogum e Mestre Bila por cederem suas obras e conversarem sobre o assunto. Ao artista sergipano Breno Loeser e ao paulista Matheus Henrique, por cederem suas ilustrações que acompanham a iconografia de cada orixá. A iconografia dos orixás é envolta de pureza de intenções; não quer convencer, tampouco doutrinar, basta simplesmente ornamentar. Ela é funcional e representativa, não dogmática. Seus objetos são ferramentas de contar histórias. Penso em Oxum, penso nos rios, nas cachoeiras, no dourado, no amarelo, nos espelhos, e isso basta para me recordar dela e sentir o seu axé, sem cânones. Não é preciso escrituras sagradas, feições humanas envoltas por aréolas; o ícone basta. Agradeço a todos os designers e artistas de axé que mantêm viva essa tradição, que espero poder contribuir agora. “Sentava conosco nos botequins mais alegres, donzela do estrelado negro. Dançava o samba de roda com sua saia dourada de astros, requebrando as negras ancas africanas, os seios como ondas agitadas. Brincava na roda da capoeira, sabia os golpes dos mestres e até inventava, inventadeira danada, desrespeitadora das regras, noite mais brincalhona! Na roda das iaôs era o orixá mais aclamado, cavalo de todos os santos, de Oxalufã com seus cajados de prata, curvado Oxalá, de Iemanjá parindo peixes, de Xangô do raio e do trovão, de Oxóssi das florestas molhadas, de Omolu com suas mãos de bexiga, era Oxumaré das sete cores do arco- íris, o dengue de Oxum e a guerreira Iansã, os rios e fontes de Euá. Todas as cores e todas as contas, as ervas de Ossani e suas mandingas, seus feitiços, suas bruxarias de sombras e iluminuras.” Jorge Amado em “Pastores da Noite” (1964). IRINEU, Marcelle de Morais Torres. Iconografia dos Orixás nos estados da Paraíba e Pernambuco. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharel em Design). Unidade Acadêmica de Design, Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande, 2023. Este trabalho de conclusão de curso visa estudar a iconografia dos Orixás na região dos estados da Paraíba e de Pernambuco, sob uma perspectiva de Design, focando na análise visual e formal. Os Orixás são deidades da religião afro-brasileira com representações visuais e simbólicas ligadas à natureza, cores e ícones. O estudo busca catalogar as formas, cores, texturas e símbolos presentes na iconografia dos Orixás, fornecendo referências e diretrizes para designers, artistas e outros profissionais interessados na compreensão visual desses ícones religiosos. Os objetivos incluem identificar as simbologias nos ritos afro-brasileiros, catalogar as simbologias dos principais Orixás e entender a relação entre os seus elementos visuais e as formas no Design. A pesquisa se limita à região Nordeste do Brasil, com foco nos estados da Paraíba e de Pernambuco. O estudo visa valorizar a riqueza visual e estética da iconografia dos Orixás, fortalecer a representatividade dos cultos afro-brasileiros e contribuir para o campo acadêmico. O resultado será a criaçãode painéis síntese para a análise visual da iconografia dos 10 Orixás mais cultuados: Exu, Ogum, Oxóssi, Omulu Obaluaê, Nanã, Oxum, Iansã, Xangô, Yemanjá e Oxalá. Resumo IRINEU, Marcelle de Morais Torres. Iconography of Orishas in the states of Paraíba and Pernambuco. Undergraduate Thesis (Bachelor of Design). Design Academic Unit, Federal University of Campina Grande, Campina Grande, 2023. This undergraduate thesis aims to study the iconography of the Orishas in the region of the states of Paraíba and Pernambuco from a Design perspective, focusing on visual and formal analysis. The Orishas are deities of Afro-Brazilian religion with visual and symbolic representations linked to nature, colors, and icons. The study seeks to catalog the forms, colors, textures, and symbols present in the iconography of the Orishas, providing references and guidelines for designers, artists, and other professionals interested in the visual understanding of these religious icons. Objectives include identifying the symbolism in Afro-Brazilian rituals, cataloging the symbolism of the main Orishas, and understanding the relationship between their visual elements and shapes in Design. The research is limited to the northeastern region of Brazil, with a focus on the Paraíba and Pernambuco states. The study aims to valorize the visual and aesthetic richness of the Orishas’ iconography, strengthen the representation of Afro-Brazilian cults, and contribute to the academic field. The result will be the creation of synthesis panels for visual analysis of the iconography of the 10 most worshipped Orishas: Esu, Ogun, Omulu, Nana, Osun, Oya, Sango, Yemoja and Obatala. Abstract Lista de figuras Figura 01: “Candomblé Joãozinho Da Gomeia, Salvador, Brasil, 1946”, por Pierre Verger. (Fonte: Fundação Pierre Verger) Figura 02: Primeira edição de “Iconografia dos Deuses Africanos no Candomblé da Bahia”, por Carybé, 1980. (Fonte: Capadócia Arte e Antiguidades) Figura 03: Adereços de Oxum em “Iconografia dos Deuses Africanos no Candomblé da Bahia”, por Carybé, 1980. Figura 04: “Ifa - divination”, Kétou, Bénin, 1948-1953. (Fonte: Fundação Pierre Verger). Figura 05: Imagens de santos católicos em altar afro-brasileiro no Sítio de Pai Adão, em Recife - PE, 2018. (Fonte: Folha PE). Figura 06: Hildo Leal da Rosa do Terreiro Xambá em Olinda - PE, segurando uma imagem de Santa Barbára, 2022. (Fonte: Paulinho Filizola). Figura 07: Catimbó de Luís Gonzaga Angelo, João Pessoa - PB, 1938. (Fonte: Folha de S. Paulo). Figura 08: Trono ou banco esculpido do culto de Yemanjá presente na obra “As Bellas-Artes nos colonos pretos do Brasil: a esculptura”, 1904. Figura 09: Evolução dos símbolos de cabeça. (Fonte: Ramos, 1947). Figura 21 e 22: Quarto de Orixá do Ilê Axé Oyá Gigandê (Fonte: acervo do Ilê). Figura 23: Oxum por Diogum. (Fonte: acervo pessoal do artista). Figura 24: Balangandã baiano (Fonte: Bauhaus Leilões) Figura 25: Assentamentos no Sítio de Pai Adão - Recife - PE (Fonte: a autora). Figura 26: Representação de Exu pelo artista sergipano Breno Loeser, 2023 (Fonte: Acervo do artista). Figura 27: Exu no Ilé Asè Omi Karelewà - João Pessoa - PB (Fonte: acervo do Ilê) Figura 28: Representação de Exu pelo artista pernambucano Diogum, 2023 (Fonte: Acervo do artista). Figura 29 e 30: Tridente de Exu. (Fonte: Nova Zé Artigos Religiosos). Figura 31: Tridente de Exu. (Fonte: Casa Lírio Verde). Figura 32: Tridente de Exu. (Fonte: Lu Art’s Bijouterias). Figura 33: Cabeça de Exu pelo artista sergipano Breno Loeser, 2023. (Fonte: Acervo do artista). Figura 34: Escultura de Exu por Mestre Bila - Tracunhaém - PE (Fonte: a autora) Figura 35: Estatueta de Exu. Met Museum. (Fonte: The Met). Figura 36: Estatueta de Exu. Coleção Robilotta, MASP. (Fonte: Afreaka). Figura 37: Ogó de Exu. (Fonte: Atêlie D’Oxê). Figura 38: Ogó de Exu. (Fonte: Mercado Livre). Figura 39: Ogó de Exu. (Fonte: Shopee). Figura 40: Ogó de Exu. (Fonte: Elo7). Figura 41 a 43: Presentes de Exu no Terreiro Xambá - Olinda-PE. (Fonte: Paulinho Filizola). Figura 44: Presente para Exu no Ilé Asè Omi Karelewà - João Pessoa - PB (Fonte: acervo do Ilê). Figura 45: Quartinha para Exu (Fonte: Amazon). Figura 46: Quartinha para Exu (Fonte: Shopee). Figura 47: Fio de conta para Exu (Fonte: Universo Religioso). Figura 48: Ogum no Ilê Axé Odé Tá Ofá Sílná - João Pessoa - PB (Fonte: Abebé Wúra Fotografias) Figura 49: Representação tradicional de São Jorge (Fonte: Domínio Público). Figura 50: Balangandã de Ogum (Fonte: Mercadão da Fé). Figura 51: Balangandã de Ogum no Museu Afro da Bahia (Fonte: Museu Afro da Bahia - UFBA). Figura 10: Altar para Xangô no Terreiro Xambá, Olinda - PE, 2023. (Fonte: Paulinho Filizola). Figura 11: Médium em transe com Orixá Ogum, no Ilê Axé Odé Tá Ofá Silná em João Pessoa - PB, 2023. (Fonte: Abebewura Fotografia). Figura 12: Obra “Oxalá”, de Emanoel Araujo, 2007, coleção do artista. (Fonte: MASP). Figura 13: Peça da exposição “Templo de Oxalá”, de Rubem Valentim, 1977. (Fonte: Museu de Arte Moderna – Bahia). Figura 14: Peças de Isaac Silva e Adriana Meira para o desfile da 44ª Casa de Criadores, 2018. (Fonte: Lilian Pacce.) Figura 15: Desfile de Walério Araújo - 31º Casa de Criadores, 2012. (Fonte: Agência Click News). Figura 16: Desfile da escola de Samba Viradouro em 2020. (Fonte: Uol). Figura 17: Desfile da escola de Grande Rio em 2022. (Fonte: G1). Figura 18: Machados e outros artefatos ritualísticos relacionados ao orixá Xangô. (Fonte: a autora). Figura 19: Entrada do Sítio de Pai Adão no bairro de Água Fria em Recife - PE. (Fonte: a autora). Figura 20: Pintura no salão do Ilê Oba Ogunté. (Fonte: a autora). Congonhal - Paulista - PE (Fonte: Acervo do ilê) Figura 69: Fio de conta de Ogum (Fonte: Manacá Fios). Figura 70: Igbá de Ogum (Fonte: Casa do Lírio Verde). Figura 71: Espada de São Jorge (Fonte: Água Verde Floricultura). Figura 72: Oxóssi pelo artista Abdias Nascimento, Okê Oxóssi, 1970, Abdias Nascimento, acervo MASP. Figura 73: Oxóssi pelo artista sergipano Breno Loeser, 2023 (Fonte: Acervo do artista). Figura 74: Ofá de Oxóssi. (Fonte: Atêlie D’Oxê). Figura 75: Ofá de Oxóssi (Fonte: Nova Zé Artigos Religiosos). Figura 76: Ofá de Oxóssi. (Fonte: SP Artes). Figura 77: Ofá de Oxóssi (Fonte: Francisco Brennand). Figura 78 e 79: Chapéu de Oxóssi (Fonte: Cabaret de Marie). Figura 80: Chapéu de Oxóssi (Fonte: Chapéus 25). Figura 81: Chapéu de Oxóssi (Fonte: Ateliê Duas Coroas). Figura 82: Erukerê de Oxóssi. (Fonte: Atêlie D’Oxê). Figura 83 e 84: Erukerê de Oxósssi (Fonte: Atêlie Duas Coroas). Figura 85: Erukerê de Oxósssi (Fonte: Cabaret de Marie). Figura 52 e 53: Ilustrações de Carybé em Iconografia dos Deuses Africanos. (Fonte: Acervo do artista - Facebook). Figura 54: Espada de Ogum (Fonte: Nova Zé Artigos Religiosos). Figura 55: Ilustração de Carybé em Iconografia dos Deuses Africanos. (Fonte: Acervo do artista - Facebook). Figura 56: Espada de Ogum (Fonte: Reino das Ferramentas). Figura 57: Espada de Ogum (Fonte: Desconto no preço). Figura 58: Capacete de Ogum (Fonte: Mercadão de Niterói). Figura 59: Capacete de Ogum (Fonte: Americanas). Figura 60: Capacete de Ogum (Fonte: Mercadão de Niterói). Figura 61: Capacete de Ogum (Fonte: Ateliê Duas Coroas). Figura 62 e 63: Facão de Ogum Ilê Axé Alaketu Obá Yzô - Igarassu - PE (Fonte: Acervo do fotógrafo Kayo Real) Figura 64: Correntes para Ogum no Ilê Axé Odé Tá Ofá Sílná - João Pessoa - PB (Fonte: Abebé Wúra Fotografias) Figura 65 e 66: Ogum no Ilê Axé Odé Tá Ofá Sílná - João Pessoa - PB (Fonte: Abebé Wúra Fotografias) Figura 67: Ogum em Ilê de Candomblé Ketu - João Pessoa - PB (Fonte: Larissa Lira) Figura 68: Pequeno Ogum no Ilê Axé Figura 86: Bolo para Oxóssi no Ilê Axé Odé Tá Ofá Sílná - João Pessoa - PB (Fonte: Larissa Lira). Figura 87: Ferramentas de Oxóssi no Sítio de Pai Adão - Recife - PE (Fonte:A autora). Figura 88 e 89: Ornamento de Oxóssi no Ilê Axé Odé Tá Ofá Sílná - João Pessoa - PB (Fonte: Abebé Wúra Fotografias). Figura 90: Oxóssi no Ilê Axé Odé Tá Ofá Sílná - João Pessoa - PB (Fonte: Abebé Wúra Fotografias). Figura 91: Oxóssi no Centro Cultural Ilé Àxé Omi Karélewà - João Pessoa - PB (Fonte: Acervo do Ilê). Figura 92: Louça de barro (Fonte: Casa Lírio Verde). Figura 93: Fio de conta de Oxóssi (Fonte: Elo7). Figura 94: Omulu pelo artista sergipano Breno Loeser, 2023 (Fonte: Acervo do artista). Figura 95: Armário Cabana dos Irmãos Campana, 2010 (Fonte: Firma Casa). Figura 96: Xaxará de Omolu (Fonte: Paraíso Místico). Figura 97: Ilustração de Carybé em Iconografia dos Deuses Africanos (Fonte: Acervo do artista - Facebook). Figura 98: Xaxará de Omolu (Fonte: Mercado Livre). Figura 99: Xaxará de Omolu (Fonte: Casa dos Lírios). Figura 100: Obra sem título do Mestre Didi (Fonte: Almeida e Dale). Figura 101: Presentes para Omulu no Ilé Àsé Ìyá Omi Órun - Recife - PE (Fonte: Acervo do Ilê). Figura 102: Médiuns de Omulu no Ilé Asè Omi Karelewà - João Pessoa - PB (Fonte: acervo do Ilê). Figura 103, 104, 105: Omulus no Ilê Axé Odé Tá Ofá Sílná - João Pessoa - PB (Fonte: Abebé Wúra Fotografias). Figura 106 a 107: Omulu no Ilê Axé Odé Tá Ofá Sílná - João Pessoa - PB (Fonte: Abebé Wúra Fotografias). Figura 108 e 109: Omulu do Afoxé Omolu Pakeru do Terreiro Xambá - Olinda - PE (Fonte: Paulinho Filizola). Figura 110: Cerimônia para Omulu no Ilé Asè Omi Karelewà - João Pessoa - PB (Fonte: acervo do Ilê). Figura 111: Fio de contas de Omulu (Fonte: Ateliê Oliveria Guias). Figura 112: Nanã no terreiro de Mãe Zefinha de Nanã - Recife - PE (Fonte: Larissa Lira). Figura 113: Nanã Ilé Asè Omi Karelewà - João Pessoa - PB (Fonte: acervo do Ilê). Figura 114: Ibiri de Nanã (Fonte: Ateliê Duas Coroas). Figura 115: Ibiri de Nanã (Fonte: Casa do Lírio Verde). Figura 116: Ilustração de Carybé em Iconografia dos Deuses Africanos (Fonte: Acervo do artista - Facebook). Figura 117: Ibiri de Nanã (Fonte: Ateliê Duas Coroas). Figura 118 a 119: Nanã no terreiro de Mãe Zefinha de Nanã - Recife - PE (Fonte: Larissa Lira). Figura 120: Oxum por Emanoel Araujo, 2007 (Fonte: Masp). Figura 121: Oxum pelo artista sergipano Breno Loeser, 2023 (Fonte: Acervo do artista). Figura 122: Abebé de Oxum (Fonte: Awô Omi). Figura 123: Abebé de Oxum (Fonte: Mercado Livre). Figura 124: Abebé de Oxum (Fonte: Ateliê Duas Coroas). Figura 125: Adê de Oxum (Fonte: Ateliê Duas Coroas). Figura 126: Adê de Oxum (Fonte: Mercado Livre). Figura 127: Adê de Oxum (Fonte: Olegario Lemos). Figura 128 a 129: Oxum no Terreiro Xambá - Olinda - PE (Fonte: Paulinho Filizola). Figura 130: Oxum no Ilê Axé Odé Tá Ofá Sílná - João Pessoa - PB (Fonte: Abebé Wúra Fotografias). Figura 131: Oxum no Terreiro Nosso Senhor do Bonfim - Campina Grande - PB (Fonte: Larissa Lira). Figura 132 a 136: Oxum no Terreiro Xambá - Olinda - PE (Fonte: Paulinho Filizola). Figura 137 a 141: Oxum no Terreiro Xambá - Olinda - PE (Fonte: Paulinho Filizola). Figura 142 e 143: Oxum no Ilê Axé Odé Tá Ofá Sílná - João Pessoa - PB (Fonte: Abebé Wúra Fotografias). Figura 144: Oxum no Sítio de Pai Adão - Recife - PE (Fonte: A autora). Figura 145: Iansã do Pai Altair Medeiros Tavares do Ilê Axé Oyá Gigandê - Campina Grande - PB (Fonte: Diogo Marques). Figura 146: Espada de Iansã (Fonte: Arte Metal Orixás). Figura 147: Espada de Iansã (Fonte: Ateliê 7 Raios). Figura 148 e 149: Espada de Iansã (Fonte: Ateliê Duas Coroas). Figura 150 a 153: Eruexim de Iansã (Fonte: Ateliê Duas Coroas). Figura 154: Chifre de Búfalo (Fonte: Ateliê Duas Coroas). Figura 155: Chifre de Búfalo (Fonte: Casa do Cigano). Figura 156: Acessório de Ibá (assentamento) de Iansã em formato de raio (Fonte: Casa Lírio Verde). Figura 157: Adê de Iansã com borboleta (Fonte: Ateliê Duas Coroas). Figura 158: Iansã no Ilê Axé Oyá Gigandê - Campina Grande - PB (Fonte: acervo do Ilê). Figura 159: Iansã no Ilê Axé Oloxum - Recife - PE (Fonte: acervo do Ilê). Figura 160: Festa de Iansã no Terreiro Xambá - Olinda - PE (Fonte: Paulinho Filizola). Figura 161: Iansã no Ilê Axé Oyá Gigandê - Campina Grande - PB (Fonte: acervo do Ilê). Figura 162: Iansã no Ilê Axé Oyá Gigandê - Campina Grande - PB (Fonte: acervo do Ilê). Figura 163: Iansã no Terreiro Xambá - Olinda - PE (Fonte: Paulinho Filizola). Figura 164: Placa em referência a Iansã no Ilê Axé Oyá Gigandê - Campina Grande - PB (Fonte: acervo do Ilê). Figura 165: Xangô por Emanoel Araujo, 2021 (Fonte: Artsy). Figura 166: Xangô pelo artista sergipano Breno Loeser, 2023 (Fonte: Acervo do artista). Figura 167: Machados de Xangô (Fonte: Ateliê Duas Coroas). Figura 168: Machados de Xangô (Fonte: Nova Zé Artigos Religiosos). Figura 169: Machados de Xangô (Fonte: Ateliê Duas Coroas). Figura 170: Ilustração de Carybé em Iconografia dos Deuses Africanos (Fonte: Acervo do artista - Facebook). Figura 171: Coroa de Xangô (Fonte: Ateliê Duas Coroas). Figura 172: Coroa de Xangô (Fonte: Mercado de Fé). Figura 173: Coroa de Xangô (Fonte: Ateliê Duas Coroas). Figura 174: Coroa de Xangô (Fonte: Olegario Lemos). Figura 175: Xére de Xangô (Fonte: Casa do Lírio Verde). Figura 176: Xére de Xangô (Fonte: Loja Joia do Axé). Figura 177: Xére de Xangô (Fonte: Artesanato Líder). Figura 178: Xére de Xangô (Fonte: Nova Zé Artigos Religiosos). Figura 179 a 183: Xangô no Sítio de Pai Adão - Recife - PE (Fonte: a autora). Figura 184 a 187: Xangô no Terreiro Xambá - Olinda - PE (Fonte: Paulinho Filizola). Figura 188 e 189: Xangô no Terreiro Xambá - Olinda - PE (Fonte: Paulinho Filizola). Figura 190: Xangô no Ilê Axé Odé Tá Ofá Sílná - João Pessoa - PB (Fonte: Abebé Wúra Fotografias). Figura 191: Xangô no Ilê Axé Alaketu Obá Yzô - Paulista - PE (Fonte: Kayo na Real). Figura 192: Xangô no Ilé Àsé Ìyá Omi Órun - Recife - PE (Fonte: Acervo do Ilê). Figura 193: Yemanjá no Sítio de Pai Adão - Recife - PE (Fonte: a autora). Figura 194: Madrinha Nidinha de Yemanjá do Terreiro Xambá - Olinda - PE (Fonte: Paulinho Filizola). Figura 195: Abebé de Yemanjá (Fonte: Ateliê Duas Coroas). Figura 196: Ilustração de Carybé em Iconografia dos Deuses Africanos (Fonte: Acervo do artista - Facebook). Figura 197: Abebé de Yemanjá (Fonte: Ateliê Duas Coroas). Figura 198: Abebé de Yemanjá (Fonte: Casa Lírio Verde). Figura 199: Abebé de Yemanjá (Fonte: Apetrechos de Orixá). Figura 200: Abebé de Yemanjá (Fonte: Apetrechos de Orixá). Figura 201 a 203: Adê de Yemanjá (Fonte: Ateliê Duas Coroas). Figura 204: Adê de Yemanjá (Fonte: Canal Multivendas). Figura 205: Adê de Yemanjá (Fonte: Mercadão de Niterói). Figura 206: Adê de Yemanjá (Fonte: Ateliê Duas Coroas). Figura 207 e 208: Fiéis de Yemanjá do Terreiro Xambá - Olinda - PE (Fonte: Paulinho Filizola). Figura 209: Yemanjá no Sítio de Pai Adão - Recife - PE (Fonte: a autora). Figura 210 a 213: Abebés de Yemanjá do Terreiro Xambá - Olinda - PE (Fonte: Paulinho Filizola). Figura 214: Abebé de Yemanjá do Terreiro Xambá - Olinda - PE (Fonte: Paulinho Filizola). Figura 215 a 216: Yemanjá no Sítio de Pai Adão - Recife - PE (Fonte: a autora). Figura 217: Altar de Oxalá de Emanuel Araújo, 2010 (Fonte: Google Arts & Culture). Figura 218: Oxalá pelo artista sergipano Breno Loeser, 2023 (Fonte: Acervo do artista). Figura 219: Ilustração de Carybé em Iconografia dos Deuses Africanos (Fonte: Acervo do artista - Facebook). Figura 220: Opaxorô de Oxalá (Fonte: Sol de Aruanda Axé). Figura 221 a 224: Opaxorô de Oxalá (Fonte: Ateliê Duas Coroas). Figura 225: Oxalá no Ilê Axé Oyá Gigandê - Campina Grande - PB (Fonte: acervo do Ilê). Figura 226: Oxalá no Ilé Asè Omi Karelewà - João Pessoa - PB (Fonte: acervo do Ilê). Figura 227: Oxalá no Ilê Axé Odé Tá Ofá Sílná - João Pessoa - PB (Fonte: Abebé Wúra Fotografias). Figura 228: Oxalá no Ilê Axé Odé Tá Ofá Sílná - João Pessoa - PB(Fonte: Abebé Wúra Fotografias). Figura 229 e 232: Oxalá no Terreiro Xambá - Olinda - PE (Fonte: Paulinho Filizola). Figura 233: Conjunto de adereços Oxalá (Fonte: Fundação Joaquim Nabuco). Figura 234: Oxalá por Ricardo Pessoa - Caruaru - PE (Fonte: acervo pessoal do artista). Figura 235: Oxalá por Isabela Galvão - Recife - PE (Fonte: acervo pessoal do artista). Figura 236: Oxalá por Diogum - Recife - PE (Fonte: acervo pessoal do artista). Figura 237: Adjá três bocas (Fonte: Mercadão de Niterói). Figura 238: Adjá de cobre (Fonte: Bacacheri Online). Figura 239: Adjá de latão (Fonte: Ervanária Central). Figura 240: Adjá de Yemanjá (Fonte: Loja Umbanda Divina). Figura 241: Adjá de Iansã (Fonte: Magazine Luiza). Figura 242: Tridente de Exu por Matheus Henrique (Fonte: acervo do artista). Figura 243: Indumentária de Exu por Matheus Henrique (Fonte: acervo do artista). Figura 244: Ogó de Exu por Matheus Henrique (Fonte: acervo do artista). Figura 245: Cinto de Exu por Carybé (Fonte: Vogue Brasil). Figura 246: Esquema cromático de Exu (Fonte: a autora). Figura 247: Cabaça (Fonte: Capoeira Shop). Figura 248: Búzio (Fonte: Freepik). Figura 249: Balangandã de Ogum por Carybé (Fonte: Acervo do artista - Facebook). Figura 250: Espada de Ogum por Carybé e Facão de Ogum por Matheus Henrique (Fonte: Acervo do artista - Facebook / Acervo do artista). Figura 251: Indumentária de Ogum por Matheus Henrique (Fonte: acervo do artista). Figura 252: Espada de São Jorge (Fonte: iStock). Figura 253: Esquema cromático de Ogum (Fonte: a autora). Figura 254: Palha da costa (Fonte: African Artesanato). Figura 255: Ferro (Fonte: Brasil Escola). Figura 256: Ofá por Carybé (Fonte: Acervo do artista - Facebook). Figura 257: Erukerê por Carybé (Fonte: Acervo do artista - Facebook). Figura 258: Indumentária de Oxóssi por Carybé (Fonte: Acervo do artista - Facebook). Figura 259: Pena de pavão (Fonte: iStock). Figura 260: Esquema cromático de Oxóssi (Fonte: a autora). Figura 261: Erukerê (Fonte: Ateliê Duas Coroas). Figura 262: Penas de aves (Fonte: iStock). Figura 263: Folha de latão (Fonte: Amazon). Figura 264: Xaxará por Carybé (Fonte: Acervo do artista - Facebook). Figura 265: Cabaça por Matheus Henrique (Fonte: acervo do artista). Figura 266: Indumentária de Omulu por Matheus Henrique (Fonte: acervo do artista). Figura 267: Esquema cromático de Omulu (Fonte: a autora). Figura 268: Cabaça (Fonte: Capoeira Shop). Figura 269: Búzio (Fonte: Freepik). Figura 270: Palha da costa (Fonte: African Artesanato). Figura 271: Chapa de cobre (Fonte: Amazon). Figura 272: Ibiri por Carybé (Fonte: Acervo do artista - Facebook). Figura 273: Indumentária de Nanã por Matheus Henrique (Fonte: acervo do artista). Figura 274: Vassoura (Fonte: iStock). Figura 275: Conchas e búzios por Matheus Henrique (Fonte: acervo do artista). Figura 276: Esquema cromático de Nanã (Fonte: a autora). Figura 277: Búzio (Fonte: Freepik). Figura 278: Palha da costa (Fonte: African Artesanato). Figura 279: Chapa de alumínio (Fonte: Amazon). Figura 280: Abebé de Oxum por Carybé (Fonte: Acervo do artista - Facebook). Figura 281: Indumentária de Oxum por Matheus Henrique (Fonte: acervo do artista). Figura 282: Flores por Carybé (Fonte: Google Arts & Culture). Figura 283: Joias de Oxum por Carybé (Fonte: Acervo do artista - Facebook). Figura 284: Esquema cromático de Oxum (Fonte: a autora). Figura 285: Chapa de alumínio (Fonte: Amazon). Figura 286: Miçanga (Fonte: Elo7). Figura 287: Espada e Eruexim de Iansã por Carybé (Fonte: Acervo do artista - Facebook). Figura 288: Chifres de Iansã por Carybé (Fonte: Acervo do artista - Facebook) Figura 289: Adê de Iansã por Carybé (Fonte: Acervo do artista - Facebook). Figura 290: Indumentária de Iansã por Matheus Henrique (Fonte: acervo do artista). Figura 291: Esquema cromático de Oxum (Fonte: a autora). Figura 292: Chifre de búfalo (Fonte: Casa do Cigano). Figura 293: Palha da costa (Fonte: African Artesanato). Figura 294: Chapa de cobre (Fonte: Amazon). Figura 295: Oxês de Xangô por Carybé (Fonte: Acervo do artista - Facebook). Figura 296: Xére de Xangô por Matheus Henrique (Fonte: acervo do artista). Figura 297: Indumentária de Xangô por Matheus Henrique (Fonte: acervo do artista). Figura 298: Pedras (Fonte: iStock). Figura 299: Esquema cromático de Xangô (Fonte: a autora). Figura 300: Granito (Fonte: Amazon). Figura 301: Chapa de cobre (Fonte: Amazon). Figura 302: Abebé de Yemanjá por Carybé (Fonte: Acervo do artista - Facebook). Figura 303: Indumentária de Yemanjá por Matheus Henrique (Fonte: acervo do artista). Figura 304: Serigrafia de Yemanjá e peixes por Carybé (Fonte: Acervo do artista - Facebook). Figura 305: Esquema cromático de Yemanjá (Fonte: a autora). Figura 306: Búzio (Fonte: Freepik). Figura 307: Concha (Fonte: Louris Bijou). Figura 308: Pérola (Fonte: Louris Bijou). Figura 309: Chapa de alumínio (Fonte: Amazon). Figura 310: Abebé de Yemanjá por Carybé (Fonte: Acervo do artista - Facebook). Figura 311: Indumentária de Oxalá por Matheus Henrique (Fonte: acervo do artista). Figura 312: Pombo (Fonte: iStock). Figura 313: Caracóis (Fonte: iStock). Figura 314: Esquema cromático de Oxalá (Fonte: a autora). Figura 315: Conchas brancas (Fonte: Mercado Livre). Figura 316: Chapa de alumínio (Fonte: Amazon). Figura 317: Assentamento de Oxalá no Sítio de Pai Adão (Fonte: a autora). Sumário 1. Introdução 1.1. Objetivo Geral 1.1.1. Objetivos Específicos 1.2. Delimitação 1.3. Finalidade 2. Revisão Sistemática 2.1. As Religiões Afro-brasileiras 2.1.1. Os Orixás 2.1.2. O Candomblé em Pernambuco e na Paraíba 2.2. Aplicações da Iconografia 2.2.1. Uso sacro 2.2.2. Uso laico 3. Métodos e Procedimentos Operacionais 3.1. Pesquisa de Campo 3.1.1. Ilê Axé Obá Ogunté 3.1.2. Ilê Axé Oyá Gigandê 3.2. Os Artistas do Axé 4. Iconografia dos Orixás 4.1. Exu 4.2. Ogum 4.3. Oxóssi 4.4. Omulu Obaluaê 4.5. Nanã 4.6. Oxum 4.7. Iansã 4.8. Xangô 4.9. Yemanjá 4.10. Oxalá 4.11. Objetos comuns 5. Síntese Iconográfica 5.1. Exu 5.2. Ogum 5.3. Oxóssi 5.4. Omolu 5.5. Nanã 5.6. Oxum 5.7. Iansã 5.8. Xangô 5.9. Yemanjá 5.10. Oxalá 5.11. Quadro sintético 6. Conclusão 7. Referências Bibliográficas 14 16 16 16 16 17 17 19 20 21 22 23 25 25 25 27 28 29 30 47 90 114 63 99 82 108 35 53 93 117 69 102 88 111 41 57 96 121 76 105 125 127 14 Introdução1. Este trabalho tem como finalidade realizar um levantamento e análise visual e formal dos ícones, símbolos e representações visuais dos Orixás nos estados da Paraíba e de Pernambuco, sob uma perspectiva de Design, com ênfase na análise formal. Sabemos que a origem dos cultos de matriz africana no Novo Mundo – nos quais os Orixás estão inseridos – remonta ao período colonial (Verger, 1981). No Brasil, os cultos dos povos yorubás chegaram através dos navios negreiros, e aqui sofreram diversas alterações. Contudo, fincaram sólidas raízes e tornaram-se um símbolo e uma razão para a resistência. Permanecem ainda como pontos centrais das religiões afro- brasileiras, seja no Candomblé ou Umbanda, as figuras dos Orixás, deuses africanos. Estes, foram reis, guerreiros, figuras importantes de diversas tribos que ascenderam à qualidade de deuses e ancestrais. Para Pierre Verger (1981, p.9), “A passagem da vida terrestre à condição de orixá desses seres excepcionais, possuidores de um axé poderoso, produz-se em geral em um momento de paixão, cujas lendas conservarama lembrança.” A representação no meio material dessas figuras dotadas de “axé” – energia pura – ocorre a partir de uma série de associações com elementos da natureza, símbolos e cores. A esse conjunto de elementos se denomina a iconografia dos Orixás. Uma catalogação precedente desta iconografia foi publicada em 1981, realizada pelo artista argentino Hector Julio Páride Bernabó (1911 - 1997), mais conhecido pelo nome artístico de Carybé. Contando com textos de Pierre Verger (1902 - 1996), Jorge Amado (1912 - 2001) e Waldeloir Rego (1930 - 2001), a obra “Iconografia dos deuses africanos no candomblé da Bahia” é uma coletânea de 128 registros visuais em aquarela feitas por Carybé entre os anos de 1940 e 1980. Para o autor (1981, p.4), o livro funciona como um “documentário honesto e preciso das coisas do Candomblé”, contudo, em sua pesquisa, sobressai-se mais o seu interesse artístico em retratar o tema do que em reproduzir precisamente, com rigor científico e analítico à iconografia do Candomblé. Sobre essa iconografia das religiões afro- brasileiras, podemos ainda notar que: “Essa rica iconografia não se limita ao domínio religioso em si, fazendo-se presente também na cultura brasileira em geral, por vezes sem uma delimitação rígida de fronteiras. Isso ocorre por meio de diversos canais através dos quais signos litúrgicos ganham novos usos sociais profanos, 15 bem como novos objetos se incorporam aos cultos. Festas como o carnaval, maracatus, afoxés, congadas e outros blocos festivos e/ ou musicais, festividades religiosas com intensa participação popular, como as festas do Bonfim ou de Iemanjá, além do trânsito de símbolos pelos domínios da gastronomia, da moda, da decoração e, evidentemente, das artes plásticas (como o demonstra expressivamente o acervo do Museu Afro Brasil); tudo isso constitui canais pelos quais a iconografia religiosa afro- brasileira ganha representatividade popular mais ampla e ultrapassa as fronteiras dos terreiros, evidenciando uma intensa plasticidade e dinâmica de apropriações.” (MARCUSSI, 2011, p.2). Ao longo da história, obras com o intuito de catalogar aspectos visuais e iconográficos de um dado tema tiveram grande importância para o Design e para a Arquitetura, tal qual “A Gramática do Ornamento” de Owen Jonas (1856). Diante disso, sob um olhar de Designer, é evidente a rica oportunidade que esse universo oferece de explorar formas, cores, texturas, símbolos, e catalogá-los e analisá-los formalmente com ferramentas de análise visual. Com base nos resultados obtidos, espera-se contribuir para a compreensão do design e da iconografia dos orixás como manifestações culturais e artísticas, fornecendo referências e diretrizes para designers, artistas e estudantes interessados na criação e na interpretação visual dos ícones e símbolos religiosos. » Figura 02 - Primeira edição de “Iconografia dos Deuses Africanos no Candomblé da Bahia”, por Carybé, 1980. (Fonte: Capadócia Arte e Antiguidades) » Figura 03 - Adereços de Oxum em “Iconografia dos Deuses Africanos no Candomblé da Bahia”, por Carybé, 1980. » Página anterior: Figura 01 - “Candomblé Joãozinho Da Gomeia, Salvador, Brasil, 1946”, por Pierre Verger. (Fonte: Fundação Pierre Verger) 16 Valorizar a riqueza visual e estética presente na iconografia dos orixás. Fortalecer a representatividade dos cultos de matriz afro-brasileira e das figuras dos Orixás na área do Design de Produto. Fornecer no campo acadêmico um material organizado sob uma perspectiva de Design acerca dos Orixás. Desenvolver painéis síntese que facilitem a análise e o estudo visual sobre a Iconografia de cada um dos 10 Orixás mais cultuados do Panteão Afro-brasileiro - Exu, Ogum, Oxóssi, Omulu Obaluaê, Nanã, Oxum, Iansã, Xangô, Yemanjá e Oxalá. Finalidade1.3. Elaborar um guia de referências visuais sob uma perspectiva de Design da iconografia dos Orixás nos estados da Paraíba e Pernambuco. Esta pesquisa terá uma delimitação geográfica na região Nordeste do Brasil, com ênfase nos estados da Paraíba e de Pernambuco. O estudo irá examinar o universo simbólico e material dos cultos afro-brasileiros nessa área específica, abrangendo a iconografia do Design dos Orixás e explorando as representações visuais associadas aos Orixás. Ao concentrar-se no eixo Paraíba/Pernambuco, a pesquisa tem como objetivo aprofundar os aspectos culturais e visuais do Design dos Orixás encontrados nesse contexto geográfico específico. • Analisar formalmente as simbologias presentes nos ritos afro-brasileiros; • Catalogar estruturas formais, cores e ícones dos 10 principais Orixás do panteão afro-brasileiro; • Propor diretrizes de Design baseadas nas representações dos Orixás para servir como referência a novos projetos de Design. Objetivo Geral Delimitação Objetivos Específicos1.1.1. 1.1. 1.2. 17 Revisão Sistemática 2. Os cultos afro-brasileiros que melhor se preservaram no Nordeste brasileiro são os de origem nagô, dos povos Iorubás (Verger, 1981). Um registro importante dessa história consta na obra “Sources of Yoruba History”, do historiador nigeriano Saburi Oladeni Biobaku (1973), onde explica que: O termo ‘yorùbá’ aplica-se a um grupo linguístico de vários milhões de indivíduos. Além da linguagem comum, os yorùbá estão unidos por uma mesma cultura e tradições de sua origem comum, na cidade de Ifé, mas não parece que tenham jamais constituído uma única entidade política e também é duvidoso que, antes do século XIX, eles se chamassem uns aos outros por um mesmo nome.” (BIOBAKU, 1973). Ainda para Verger (1981), com a chegada dos navios negreiros no Brasil, houve um grande esforço por parte dos colonizadores em unificar essas diferenças, não se limitando apenas entre aquelas que já existiam entre os iorubás em si – povos de Ifé, Egbá, Ijebu e Ijexá –, mas também entre outros povos africanos de diferentes regiões. O autor cita que: A presença dessas religiões africanas no novo mundo é uma consequência imprevista do tráfico de escravos. Disso resultou, no Novo Mundo, uma multidão de cativos que não falavam a mesma língua, possuindo hábitos de vida diferentes e religiões distintas. (VERGER, 1981, p.13). É evidente que essa unificação total sonhada pelos colonizadores nunca ocorreu, embora tenha trazido consequências como o apagamento de singularidades desses povos das quais sequer podemos ter conhecimento hoje. Contudo, nos dias atuais, as diferenças que sobreviveram a esse processo apresentam-se como uma das razões pelas quais ainda existe uma grande pluralidade de cultos afro-brasileiros, cada um com suas peculiaridades, variações de ritos, entidades cultuadas, cânticos e representações. Não obstante, esse fator como interferência no surgimento dos cultos afro- brasileiros, há ainda o que conhecemos como sincretismo religioso. Este foi outro processo ainda decorrente da escravidão, imposto pelos colonizadores europeus. Para compreender o sincretismo, é necessário ter em mente o contexto do século As Religiões Afro-brasileiras2.1. 18 XVI. Marcado não somente por grandes descobertas, mas também por guerras religiosas no mundo europeu, sobretudo a Reforma Protestante, estamos falando de um tempo onde o catolicismo vinha perdendo espaço no mundo. É justamente nesse mesmo cenário de Grandes Navegações e Contra-Reforma, que surgem companhias com o intuito de conquistar novos fiéis católicos, como a Companhia de Jesus, “que impôs seu espírito ao mundo católico” (HOLANDA, 1936, p.37). Logo, o processo de conversão dos povos escravizados, torna-se um negócio muito vantajoso politicamente. Assim, os povos africanos são proibidos de expressarem a sua fé em seus deuses e passam a ter contato com as figuras dos santos católicos. Como forma de burlar essa proibição e manter o culto aos Orixás e suas entidades, surge o sincretismo. Ao mesmo tempo em que eram impedidos de abandonaros santos católicos e de praticar seus ritos, os yorubás passam a “despistar os seus senhores sobre a natureza das danças que estavam autorizados a realizar, aos domingos, quando se reagrupavam em batuques por nações de origem.” (VERGER, 1981, p.16). Por outro lado, o sociólogo Gilberto Freyre comenta que o processo do sincretismo aproximou as culturas dos escravizados com a dos colonizadores: [...] A religião tornou-se o ponto de encontro e de confraternização entre as duas culturas, a do senhor e a do negro e nunca uma intransponível e dura barreira. [...] A liberdade do escravo de conservar e até de ostentar em festas públicas [...] formas e acessórios de sua mítica, de sua cultura fetichista e totêmica, dá bem uma ideia do processo de aproximação das duas culturas no Brasil. (FREYRE, 1946, p. 586-588) Não se resumindo apenas a festas e à “cultura fetichista e totêmica” puramente africana, o sincretismo também ocupou um lugar na representação iconográfica de cada Orixá a partir do momento em que passaram a ser associados aos santos católicos. Verger (1981) explica que: Iemanjá, mãe de numerosos outros orixás, foi sincretizada com Nossa Senhora da Conceição, e Nanã Buruku, a mais idosa das divindades das águas, foi comparada a Sant’Ana, mãe da Virgem Maria. Oiá-Iansã, primeira mulher de Xangô, ligada às tempestades e aos relâmpagos, foi identificada com Santa Bárbara. Segundo a lenda, o pai dessa santa sacrificou-a devido à sua conversão ao cristianismo, sendo ele próprio, logo em seguida, atingido por um raio e reduzido a cinzas. Os santos católicos, ao se aproximarem dos deuses africanos, tornavam-se mais compreensíveis e familiares aos recém-convertidos. É difícil saber se essa tentativa contribuiu efetivamente para converter os africanos, ou se ela os encorajou na utilização dos santos para dissimular as suas verdadeiras crenças. (VERGER, 1981, p.16). Hoje, mais de 500 anos depois, os cultos afro-brasileiros ainda permanecem em pluralidade. No Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010, a população os aborda em diferentes categorias quando perguntada sobre qual religião praticam: Candomblé (167.363 pessoas), Umbanda (407.331 pessoas), Umbanda e Candomblé (588.797 pessoas) e, por fim, outras declarações de religiosidades afro-brasileiras (14.103 pessoas). » Figura 05 - Imagens de santos católicos em altar afro-brasileiro no Sítio de Pai Adão, em Recife - PE, 2018. (Fonte: Folha PE). » Página anterior: Figura 04 - Jogo de búzios, tradição africana presente nos cultos afro- brasileiros. “Ifa - divination”, Kétou, Bénin, 1948-1953. (Fonte: Fundação Pierre Verger). 19 Os Orixás são as figuras centrais dos cultos afro-brasileiros, incluindo os já citados: Candomblé e Umbanda. O termo em yorubá, “Orisá” é a combinação de outras duas palavras: “ori”, que significa “cabeça” e “sá”, que significa “rei”. Logo, os “Orisás” são os “reis que habitam as cabeças”. (Beniste, 2011, p.591, 683). De fato, muitos destes foram reis e guerreiros africanos, ancestrais – outro conceito muito importante para o culto – que ascenderam ao status de deuses. Pierre Verger (1981, p.9), por exemplo, ao citar o orixá Xangô, diz que na África “esse orixá está praticamente à sua disposição para garantir e defender a estabilidade e a continuidade da dinastia e a proteção de seus súditos”. Ainda citando Verger (1981), sobre o aspecto material dessas entidades: O orixá é uma força pura, axé [energia] imaterial que só se torna perceptível aos seres humanos incorporando-se em um deles. (VERGER, 1981, p.10). Embora não haja um único panteão yorubá bem definido, Reginaldo Prandi, na obra “Mitologia dos Orixás”, cataloga contos de 29 orixás. Contudo, no Brasil, o número de Orixás cultuados varia entre 12 e 16 entidades, dentre eles Oxalá, Omulu, Obaluaê, Yemanjá, Oxum, Oyá Iansã, Odé Oxóssi, Xangô, Ogum, Nanã e Exu. Estes são associados e representados com grande pluralidade nos cultos por elementos da natureza, cores e símbolos, e suas representações são muito diferentes das africanas, dado o processo colonial e o sincretismo. (ALMEIDA et al, 2016). Os Orixás2.1.1. » Figura 07 - Catimbó de Luís Gonzaga Angelo, João Pessoa - PB, 1938. (Fonte: Folha de S. Paulo). 20 A tradição do Candomblé no estado de Pernambuco, também conhecido como “Xangô”, começou a ser registrada em 1937 na obra “Xangôs no Nordeste” de Gonçalves Fernandes. O livro descreve de forma detalhada não apenas a repressão policial enfrentada pelos praticantes do Xangô naquela época, mas também fornece uma visão geral dos cultos afro-brasileiros, aqui denominados como “negrofetichista”, no Recife: Não se encontra no Recife um só culto negrofetichista puro. As diversas modificações sofridas através do tempo, iniciando-se com a transferência na adoração dos “encantados da Costa” em imagens de santos católicos, maneira de conciliar a imposição do senhor com os sentimentos de veneração do escravo africano aos seus deuses, trouxeram o enlaçamento com a religião do branco. A esse ecletismo religioso juntou-se a influência espírita. (FERNANDES, 1937, p.10). Embora não seja mencionado nenhum pioneiro específico do Candomblé no estado, a origem de um dos terreiros de Candomblé Nagô mais antigos é descrita: o Sítio de Pai Adão, fundado por Ifatinunké, uma africana vinda da Nigéria, que ao chegar em Pernambuco, recebe o nome de Inês Joaquina da Costa – a conhecida Tia Inês (LIMA apud SILVA et al, 2010). Por volta do ano de 1875, ela funda o Sítio, e após a sua morte, assume a liderança do terreiro Felipe Sabino da Costa, o Pai Adão, um africano nascido na região do Lago, que não só popularizou o Ilê Axé Obá Ogunté, como o Candomblé Nagô no estado. Ainda sobre o culto Nagô, advindo da Nigéria e Benin, em Pernambuco, o antropólogo Waldemar Valente diz: Temos a impressão de que em Pernambuco a absorção foi mesmo maior que na Bahia. Em todos os terreiros que temos frequentado sentimos a influência da poderosa cultura iorubana. O domínio quase completo do aspecto religioso nagô (VALENTE, 1977, p.32). De fato, o Candomblé Nagô predomina não apenas em Pernambuco, onde mescla diversas influências e cânticos iorubás, mas também no estado da Paraíba. Segundo Lima (2020), o Candomblé Paraibano e a Umbanda surgiram no estado por volta dos anos 1960, quase meio século após o surgimento do Xangô no Recife. Antes desse período, a religião afro-brasileira predominante no estado da Paraíba era a Jurema Sagrada, que envolvia elementos dos cultos indígenas e africanos, porém, não necessariamente o culto aos Orixás. Mas foi através da Jurema Sagrada que Maria Barbosa de Souza, mais conhecida como Mãe Beata de Yemanjá, teve seu primeiro contato com um culto afro-brasileiro em uma casa na cidade de João Pessoa - PB. Essa mulher, negra e sem escolarização, viria a se tornar a matriarca do Candomblé na Paraíba. Após visitar o Sítio de Pai Adão e outros terreiros na Bahia – como o de Mãe Menininha do Gantois – ela passou a praticar o Candomblé Nagô misturado com elementos da Umbanda, na Paraíba. (LIMA, 2020). O Candomblé em Pernambuco e na Paraíba2.1.2. 21 A documentação da iconografia afro-brasileira começa no ano de 1904, na Bahia, com a publicação do texto “As Bellas-Artes nos colonos pretos do Brasil: a esculptura”, de Raimundo Nina Rodrigues, que apresentou fotografias e análise de objetos de arte sacra negra (SILVA, 2019). Sobre a obra de Nina Rodrigues, Silva (2019) explica que: Suas descrições etnográficas não só afirmavam as qualidades artísticas das esculturas, como demonstravam a existência de uma produção e de um espaço religioso afro-brasileiro. Não era só arte, mas arte religiosa negra. O autor utilizou o seu apurado senso estético para entender as esculturas dos iorubás. Esforçou-se para se sensibilizar diante de uma produção visual que não se estruturavapela preocupação de materializar o belo - manifestação e conceito estético tão caro à arte europeia -, mas para perceber a relação estética utilitária das esculturas. (SILVA, 2020, p. 58) Contudo, apesar da grande contribuição de Nina Rodrigues para o estudo da iconografia afro-brasileira, o seu trabalho é carregado de carga heterodoxa, pois ao mesmo tempo em que documenta o tema, reforça ideias racistas e higienistas, de que o negro seria inferior ao branco. Ainda de acordo com Silva (2019), anos mais tarde, na década de 1930, o antropólogo Arthur Ramos dá continuidade às pesquisas sobre arte afro-brasileira, correlacionando com as suas origens na arte africana. Ao retomar a análise dos objetos mapeados por Nina Rodrigues, Ramos fornece descrições completas e formais de cada um. Sob uma perspectiva plástica, reconhece o processo de influências e adaptações que a arte yorubá passa para a construção da arte afro-brasileira, além de através de um método comparativo, buscar semelhanças entre os símbolos afro-brasileiros e os de outras culturas, como percebemos na figura 9. As pesquisas de Nina Rodrigues e Ramos, dois antropólogos, são as precursoras no estudo da iconografia dos Orixás. Apesar de não aprofundarem em suas análises os aspectos visuais dos símbolos presentes nos objetos coletados, podemos perceber o esforço em compreendê-los, sobretudo no aspecto antropológico. Outros nomes surgiram ao longo da história para dar continuidade a essas pesquisas, como o sociólogo francês Roger Bastide (1898-1974), o historiador Mário Barata (1921-2007), o médico Clarival do Prado Valladares (1918-1983); todos buscando compreender muito mais a origem e formação desses símbolos do que uma análise profunda de aspectos formais, tampouco de Design. Contudo, vale ressaltar que esses símbolos não são propagados de maneira Aplicações da Iconografia2.2. » Figura 08 - Trono ou banco esculpido do culto de Yemanjá presente na obra “As Bellas-Artes nos colonos pretos do Brasil: a esculptura”, 1904. » Figura 09 - Evolução dos símbolos de cabeça. Da esquerda para a direita, cabeça de touro de Knossos, na ilha de Creta; cabeça de touro da antiga Arábia; cabeça de Xangô do culto afro- brasileiro embaixo”, Ilustrações de Santa Rosa. Fonte: Ramos (1947, p. 186, figuras 1 a 3). heterogênea, variando tanto geograficamente quanto por questões relacionadas ao seu tipo de aplicação. Valladares (1976) percebeu esses caminhos distintos que essa arte afro- brasileira traçava no Brasil e propôs uma divisão para o estudo da iconografia afro- brasileira: iconografia em uso sacro, ou seja, ritualístico, e a iconografia em uso laico, em ambientes não-ritualísticos. Essa divisão é importante para compreender como os símbolos utilizados nos terreiros e ilês, de Candomblé ou Umbanda, divergem dos que aparecem no campo das artes plásticas, literatura, moda, joalheria, entre outros. 22 Os Orixás e outras divindades sempre foram representadas materialmente nos cultos africanos, sobretudo por símbolos e abstrações, não necessariamente de forma figurativa. (SALOMÃO, 2012). Essa representação tanto em objetos, também conhecido como fetiches, quanto por meio de gestos, dança, roupas, entre outros. Não obstante a aplicação material dos ícones nesses objetos, é necessária ainda a realização de rituais de consagração para que ele se torne de fato sagrado e apto para o uso ritualístico. Assim, nos terreiros, esses ícones ocupam lugar nos altares e pejis, os “quartos de Orixá” onde são realizadas as cerimônias de oferendas aos deuses africanos; nos salões, onde os fiéis dançam, cantam e tem contato direto com os Orixás através de médiuns em transe, devidamente identificados pela vestimenta com as cores, símbolos, fios de conta e materiais de cada Orixá. Uso sacro2.2.1. » Figura 10 - Altar para Xangô no Terreiro Xambá, Olinda - PE, 2023. (Fonte: Paulinho Filizola). » Figura 11 - Médium em transe com Orixá Ogum, no Ilê Axé Odé Tá Ofá Silná em João Pessoa - PB, 2023. (Fonte: Abebewura Fotografia). 23 Para além das paredes dos terreiros, a figura sagrada dos Orixás passou a ocupar espaço também na produção artística brasileira. Sem finalidade ritualística, mas representativa, existe uma infinidade de artistas que representaram os Orixás nas artes plásticas, e podemos citar: Heitor dos Prazeres (1898-1966); Carybé (1911- 1997); Emanoel Araújo (1940-2022); Rubem Valentim (1922-1991); e Jorge dos Anjos (1957 -). A riqueza com a qual os Orixás são representados na arte transcende aspectos figurativos, de representações antropomórficas, como podemos perceber nas obras ao lado de Emanoel Araujo e Rubem Valentim, na figura 12 e 13, respectivamente. Ambas utilizam do meio tridimensional para representar o mesmo Orixá, Oxalá. A sua identificação ocorre através de seus ícones: o uso da cor branca pura, cor do Orixá conhecido como “senhor do branco”; o eixo vertical faz referência a uma de suas ferramentas, o Opaxorô, uma espécie de cajado onde o Oxalá se apoia quando incorporado através de seus médiuns em terra. Esse mesmo tipo de associação ocorre quando outros Orixás são representados: a sua iconografia permite o reconhecimento mesmo em situações onde não existem figuras humanas. Uso laico2.2.2. » Figura 12 - Obra “Oxalá”, de Emanoel Araujo, 2007, coleção do artista. (Fonte: MASP). » Figura 13 - Peça da exposição “Templo de Oxalá”, de Rubem Valentim, 1977. (Fonte: Museu de Arte Moderna – Bahia). 24 Também podemos notar o uso da iconografia de forma laica na moda, um campo que permite a experimentação de várias maneiras: texturas, estampas, materiais, silhuetas, entre outras. De maneira bastante divergente da moda utilizada no meio ritualístico, os Orixás têm sido referenciados nas passarelas em obras de estilistas brasileiros, como os baianos Isaac Silva (1989 - ) e Adriana Meira (1983 - ), que em 2018 realizaram uma coleção intitulada de “Yabás”, nome dado ao grupo de Orixás femininas como Oxum, Nanã, Yemanjá e Iansã (fig.14). Além do uso das cores referentes a cada uma, foram também utilizados desenhos figurativos de suas representações humanas, incluindo outros ícones. Outro nome de destaque é o pernambucano Walério Araújo (1970 - ), que em 2012 lançou uma coleção inteira inspirada não apenas nos Orixás, mas também em outras entidades do Candomblé e Umbanda. A sua representação de Yemanjá (fig.15), deu- se tanto de forma figurativa, com a tradicional imagem da Orixá, branca, de azul, sob o mar, quanto por meio do uso de outros de seus ícones: o tecido azul, transparente como água; pérolas, do mar; e, por fim, o desenho de uma silhueta esvoaçante como ondas. É fácil associar a figura dos Orixás à moda, bem como aos momentos festivos, inclusive ao Carnaval. Esses têm sido tema recorrente nos grandes desfiles de carnavais por vários anos no Sambódromo da Marquês Sapucaí no Rio de Janeiro - RJ. A relação dos cultos de matriz africana e do carnaval remonta às origens do samba: Desde os primórdios, pode-se constatar um estreito vínculo da religiosidade com o samba e consequentemente com o carnaval carioca. Após longo período de proibição e perseguição dos espaços religiosos onde se praticavam as religiões de matrizes africanas, chegou um momento em que, por conveniência política, concluiu-se pela legalização do funcionamento das casas. [...] O samba, que no passado teve parte de sua liberdade e criatividade engessada, com o afastamento dos sambistas, de suas motivações originais do fazer sambas-enredo voltados para os aspectos comunitários, o canto coletivo e à narrativa contada em grupo, recupera suas características e sentido originais. Com isso, a religiosidade africana, ainda que tivesse ficado sufocada no samba por tantos anos, em razão da tutela ideológica, a partir dos anos 70 é recuperada no samba de enredo. (ROCHA et SILVA,2013, p.55). Podemos perceber os ícones dos Orixás em uso com destaque pelas escolas campeãs nos últimos carnavais do Rio de Janeiro: Em 2020, Oxum esteve presente no desfile da Unidos do Viradouro (fig.16); em 2022, foi a vez de Exu desfilar com a Acadêmicos do Grande Rio (fig.17). » Figura 14 - Peças de Isaac Silva e Adriana Meira para o desfile da 44ª Casa de Criadores, 2018. (Fonte: Lilian Pacce.) » Figura 15 - Desfile de Walério Araújo - 31º Casa de Criadores, 2012. (Fonte: Agência Click News). » Figura 16 - Desfile da escola de Samba Viradouro em 2020. (Fonte: Uol). » Figura 17 - Desfile da escola de Grande Rio em 2022. (Fonte: G1). 25 Métodos e Procedimentos Operacionais 3. Para o desenvolvimento desta pesquisa, fez-se necessário um estudo aprofundado da iconografia dos Orixás, envolvendo revisão bibliográfica sobre a religião afro- brasileira do Candomblé, seus rituais, mitologia e simbolismo, bem como a sua história nos estados da Paraíba e de Pernambuco, conforme apresentado no capítulo anterior. Também foi realizada uma revisão sistemática sobre estudos prévios envolvendo a iconografia dos Orixás e suas áreas de uso e um levantamento iconográfico preliminar on-line com pesquisa de imagens de terreiros nos estados estudados. Outra atividade relacionada ao levantamento de dados foi a realização da pesquisa de campo de cunho etnográfico por meio de visitas a terreiros existentes na delimitação geográfica proposta. Foram visitadas duas “casas de Orixá”: o Ilê Axé Oyá Gigandê, na cidade de Campina Grande - Paraíba e o Ilê Axé Obá Ogunté, o Sítio de Pai Adão, em Recife - Pernambuco. As descrições etnográficas são fundamentais para contextualizar a iconografia, símbolos e outros aspectos das religiões de matriz afro- brasileira para aqueles leitores que nunca tenham visitado um templo deste culto. Buscou-se durante esta etapa, seguir algumas das metodologias propostas pelo antropólogo Bronislaw Malinowski em sua obra “Argonautas do Pacífico Ocidental” de 1922, tal qual a observação do comportamento real dos praticantes de cultos perante os símbolos apresentados sem coagi-los, transformá-los ou influenciá-los. O objetivo de tal método é tornar a observação real, objetiva e imparcial, assim mantendo uma atmosfera de sinceridade diante da iconografia estudada, para só então passar para a etapa de análise formal. Em complemento à pesquisa de campo nos terreiros, também foi visitada a 23ª edição da Feneart – Feira Nacional de Artesanato e Cultura – que ocorreu entre os dias 05 e 16 de julho de 2023 na cidade de Recife - PE. Neste evento, foram observados 16 artistas expositores que trabalham com a temática dos Orixás, sendo alguns deles entrevistados sobre sua percepção e reprodução da iconografia dos Orixás. O objetivo destas entrevistas foi compreender quais os aspectos fundamentais para a identificação e criação dos ícones de cada um dos 10 deuses africanos que serão estudados aqui. Paralelamente, foi realizada a coleta de imagens a serem analisadas neste trabalho através da cessão do acervo dos artistas plásticos Breno Loeser e Matheus Henrique, e também imagens de fotógrafos de terreiros, como Paulo Filizola (Terreiro Xambá - Olinda - PE), Larissa Lira (mestre em Ciências da Religião pela UFPB), Kayo na Real (Ilê Axé Alaketu Obá Yzô - Paulista - PE e Sítio de Pai Adão - Recife - PE), Paula Teixeira (Ilê Axé Odé Tá Ofá Sílná - João Pessoa - PB). Também foram consultados os acervos fotográficos dos terreiros Ilê Axé Oyá Gigandê (Campina Grande - PB), Ilê Axé Oloxum (Olinda - PE), Ilé Asè Omi Karelewà (João Pessoa - PB), Ilê Axé Congonhal (Paulista - PE). Para o levantamento de imagens de objetos e produtos, foram consultados lojas e ateliês de artigos especializados on-line. Por fim, a partir dessas etapas, e através da observação minuciosa das representações dos orixás, buscou-se identificar semelhanças entre as diversas fontes, e foi realizada a elaboração de painéis-síntese referentes a cada um dos Orixás, acompanhados de uma análise formal, observando ponto, forma, proporção, linha, cor, textura e composição, tendo como referência as obras “Arte e Percepção Visual” de Rudolf Arnheim (1996) e “Princípios da Forma e Desenho” de Wucius Wong (2001). Localizado à Estrada Velha de Água Fria, número 1644, na cidade de Recife - PE, o Sítio de Pai Adão é um dos primeiros terreiros do estado de Pernambuco e tombado como Patrimônio Cultural do Brasil pelo IPHAN. “É muito difícil”, disse Manoel Papai, babalorixá do Ilê Axé Obá Ogunté, quando perguntado sobre os símbolos dos Orixás. Estamos diante da maior autoridade do Candomblé Nagô no estado, e ouvir essas palavras, fora de contexto, traz de fato uma série de preocupações. Manoel do Nascimento Costa, neto de Pai Adão, e além de sacerdote é pesquisador, já tendo colaborado com a UFPE como consultor. Assim como o avô, é um grande precursor do culto nagô pelo mundo, já viajou até Portugal e Cuba. Por que seria difícil falar sobre os símbolos das entidades que têm sido cultuadas há quase três séculos naquele mesmo local? A resposta é complexa e está estreitamente ligada à perseguição sofrida pelos cultos afro-brasileiros ao longo dos anos. Manoel Papai mostra imediatamente a capela ao lado e pede que as portas sejam abertas. É a Capela de Santa Inês, santa Pesquisa de Campo nos Terreiros3.1. Ilê Axé Obá Ogunté em Recife - PE3.1.1. 26 católica homônima à fundadora da casa, a Ifatinuké ou Tia Inês Joaquina da Costa. A pequena construção é uma das primeiras coisas que se vê ao adentrar o terreno do sítio, logo atrás do gigante pé de abricó e iroko, e abriga um grande acervo de imagens de santos católicos, misturados com esculturas, símbolos e artefatos de Orixás que um dia pertenceram aos membros agora já falecidos do terreiro. O local conta uma história de resistência e ancestralidade: a capela, os santos serviam para despistar a repressão policial, e embora tenha garantido a sobrevivência do terreiro, colaboraram para o apagamento dos símbolos propriamente africanos. Sua localização é estratégica e por anos serviu como escudo para a construção que vem por trás: o salão e quartos onde são cultuados os Orixás. Podemos encontrar machados de Xangô feitos de forma vernacular em pedra, madeira e pregos, assim como uns mais detalhados que se assemelham aos africanos; espelhos para Oxum cujos formatos fazem referência ao sol; adornos para Iansã cobertos de raios; entre uma infinidade de símbolos. O pé de iroko, árvore sagrada, servia no passado também para esconder essas peças durante as invasões da polícia (HALLEY, 2020, p. 14.). Contudo, é inegável o apego à crença cristã: membros do terreiro me contam que os mais antigos apenas permitiam a iniciação no candomblé após receberem sacramentos católicos, como o batizado e a primeira comunhão. Também não é incomum que rezem o terço ou frequentem a missa. Manoel Papai diz que os negros precisavam saber três línguas: português, yorubá e latim, a língua da igreja. Justifica ainda que a barreira imposta pela diferença de idiomas fez com que a Jurema Sagrada – onde se canta em português – crescesse mais que o Candomblé no estado. Entre todas essas barreiras, sobrevivem certos símbolos. A Yemanjá (fig. 20) pintada à mão no salão principal assemelha-se a uma sereia, mas sua interpretação em nada tem a ver com esses seres míticos europeus. É vista como a mãe e rainha das águas que não abandonou os seus filhos nos navios negreiros. Seus símbolos estão por todo o canto do terreiro; a lua, estrela e ondas que acompanham fazem parte do design da logomarca do terreiro (fig. 19), assim como a cor azul. São composições simples, de poucos elementos, atreladas a significados próprios transmitidos de forma oral durante a prática religiosa, muitas vezes feita pelos próprios membros do terreiro. » Figura 18 - Machadose outros artefatos ritualísticos relacionados ao orixá Xangô. (Fonte: a autora). » Figura 20 - Pintura no salão do Ilê Oba Ogunté. (Fonte: a autora). » Figura 19 - Entrada do Sítio de Pai Adão no bairro de Água Fria em Recife - PE. (Fonte: a autora). 27 Ilê Axé Oyá Gigandê em Campina Grande - PB3.1.2. Localizado em uma casa à rua Joaquim Alves Caluête, número 65 no bairro do Jeremias em Campina Grande - PB, o Ilê Axé Oyá Gigandê mantém viva a tradição nagô na Paraíba. É dirigido pelo babalorixá Altair Medeiros Tavares, o Pai Tatá de Oyá, que faz questão de conservar as raízes do Candomblé nagô advindas do Recife. É interessante observar como o terreiro mantém as tradições advindas do Sítio de Pai Adão no estado da Paraíba. Esse fato reflete-se diretamente nas representações dos orixás cultuados, mantendo intactos os mesmos símbolos e cores. O Ilê Axé Oyá Gigandê é um exemplo vivo de como o Candomblé paraibano bebe diretamente das suas raízes pernambucanas, tornando impossível falar dos Orixás na Paraíba sem falar dos orixás em Pernambuco. Nele, foram coletadas imagens referentes aos quartos de Orixá (fig. 21 e 22), um local específico do rito afro-brasileiro dedicado à veneração e ao culto das divindades. Nesses denominados quartos, são dispostos objetos ritualísticos, fios de contas, oferendas como as comidas de santo, flores, velas, entre outros. » Figura 21 e 22 - Quarto de Orixá do Ilê Axé Oyá Gigandê (Fonte: acervo do Ilê). 28 Os Artistas do Axé3.2. Contribuem para a construção da iconografia dos Orixás nos estados estudados a presença dos artistas e artesãos. Dentre os artistas aqui citados, alguns estiveram presentes na Feira Nacional de Arte e Cultura. A Fenearte é a maior feira de artesanato da América Latina. Dentre os 305 estandes de artesãos, artistas e designers, 16 retratavam os Orixás em sua arte. Muitas são as abordagens e mídias utilizadas para representar essas figuras sagradas, como esculturas em barro, ferro, e até mesmo em palitos de fósforo. Alguns dos artistas foram entrevistados e explicaram sobre o processo criativo de trabalhar com tais símbolos. Um deles, o artista Diogum, possui um trabalho singular eminentemente baseado na iconografia dos Orixás. Natural do Recife, desde 2018 têm desenvolvido esculturas em ferro – material não escolhido por acaso, tendo em vista que é associado ao orixá Ogum – e em 2021 começou a trabalhar com os orixás individualmente. Por meio dos símbolos, representa cada orixá com poucas linhas, sem cores, mas ainda assim tornando possível a sua identificação. As esculturas em ferro pendular são uma alusão direta e intencional aos balangandãs, jóias muito utilizadas pelas baianas. Sobre o seu trabalho, Diogum conta que: “Desde o início queria trabalhar com símbolos e arquétipos, pra passar mensagens de fé, positividade, proteção… Comecei com pássaros, fiz vários, representando a liberdade. E em 2021 comecei a representar os Orixás, através de seus símbolos. Por exemplo Oxum: leque, flores, espelhos, água doce, búzios, peixe, cachoeira, beleza, universo feminino... Isso tudo me lembra Oxum. Mas queria fazer algo diferente com o ferro. E inspiradas nas “joias de crioula”, que são balangandãs, estou fazendo as peças de forma pendular, que dão leveza e movimento às obras .” A mesma lógica serve para peças de outros Orixás. Os símbolos são retirados de seus próprios mitos e lendas, assim como do ritual das religiões afro-brasileiras e servem como base para composições em eixo vertical e simétricas. Esse exemplo serve como modus operandi para o processo criativo de quase todos os outros artistas do axé: associar símbolos, combiná-los de acordo com a tradição yorubá e assim representar os Orixás. » Figura 23 - Oxum por Diogum. ((Fonte: acervo pessoal do artista). » Figura 24 - Balangandã baiano (Fonte: Bauhaus Leilões). 29 Iconografia dos Orixás4. Cada Orixá possui particularidades que o torna único, tendo em vista que de acordo com a tradição yorubá, são diferentes forças da natureza associadas a elementos distintos, desde animais a objetos. Para cada um se definem paletas de cores, símbolos, folhas, ferramentas, tanto para uso sacro quanto laico. Esse esquema complexo é o meio por onde o animismo das religiões afro-brasileiras se expressa, o qual chamamos de iconografia dos Orixás. Essa rica iconografia é expressa de forma sacra através de objetos ritualísticos que ocupam os quartos de Orixá, dos fios de conta, e da indumentária que representa cada Orixá, vestido por seus respectivos médiuns. Também é expressa de forma laica, através do trabalho de artistas locais. Logo, para além de símbolos e ilustrações, as imagens a seguir representam a materialização do sagrado dos cultos afro-brasileiros. » Figura 25 - Assentamentos no Sítio de Pai Adão - Recife - PE (Fonte: a autora). 30 EXU 31 Exu4.1. Exu é o orixá da comunicação, mensageiro sagaz entre Olorun e Orun (céu e terra). Masculino e impulsivo, é dotado de energia dinâmica. Sua iconografia pode ser confusa dado o fato de ser cultuado tanto como orixá no candomblé quanto como egun (entidade) na Umbanda e em outros cultos afro- brasileiros. No Candomblé Paraibano e Pernambucano são raras e quase inexistentes as representações de Exu em médiuns incorporados (fig. 26), tal qual ocorre com outros Orixás. Acredita-se que dada a sua natureza volátil, não poderia se materializar em um médium. Portanto, a maioria de seus ícones nesta região são encontrados em esculturas, assentamentos e fios de contas. » Figura 27 - Exu no Ilé Asè Omi Karelewà - João Pessoa - PB (Fonte: acervo do Ilê) » Figura 28 - Representação de Exu pelo artista pernambucano Diogum, 2023 (Fonte: Acervo do artista). 32 Em esculturas antropomórficas, predominam representações com a cabeça alongada, em outra referência ao falo masculino (fig. 33 e 34). Essa é uma herança direta das representações africanas de Exu, que são ainda mais explícitas e alongadas (fig. 35 e 36). Fig. 33 Fig. 35 Fig. 36 Fig. 34 Contudo, um de seus ícones mais conhecidos, associados tanto ao orixá quanto ao egun, é o tridente (fig. 29-32). Este, pode ser marcado ou não por uma ondulação horizontal a fim de representar movimento (fig. 31, 32). Por vezes, as pontas do tridente assemelham-se a falos, outro elemento associado à masculinidade exacerbada de Exu. Fig. 29 Fig. 30 Fig. 31 Fig. 32 A sua iconografia é marcada por elementos visuais que reforçam a ideia de verticalidade associada ao masculino também nos objetos. O ogó (fig. 37-40), o seu objeto ritualístico, é equilibrado em simetria com duas cabaças dispostas lado a lado, em mais uma referência direta ao órgão masculino. Fig. 37 Fig. 39 Fig. 40 Fig. 38 » Figura 29 e 30 - Tridente de Exu. (Fonte: Nova Zé Artigos Religiosos). » Figura 31 - Tridente de Exu. (Fonte: Casa Lírio Verde). » Figura 32 - Tridente de Exu. (Fonte: Lu Art’s Bijouterias). » Figura 32 - Cabeça de Exu pelo artista sergipano Breno Loeser, 2023. (Fonte: Acervo do artista). » Figura 34 - Escultura de Exu por Mestre Bila - Tracunhaém - PE (Fonte: a autora) » Figura 35 - Estatueta de Exu. Met Museum. (Fonte: The Met). » Figura 36 - Estatueta de Exu. Coleção Robilotta, MASP. (Fonte: Afreaka). » Figura 37 - Ogó de Exu. (Fonte: Atêlie D’Oxê). » Figura 38 - Ogó de Exu. (Fonte: Mercado Livre). » Figura 39 - Ogó de Exu. (Fonte: Shopee). » Figura 40 - Ogó de Exu. (Fonte: Elo7). 33 Fig. 41 Fig. 43 Fig. 42 Fig. 44 A paleta de cores dentro da iconografia de Exu é composta principalmente de vermelho e preto, por vezes expandindo-se para englobar outros tons terrosos e quentes, como o marrom e o dourado. Essas cores se repetem tanto de forma deliberada em suas representações visuais e objetos ritualísticos – velas, louças, como nas figuras 42 e44 – quanto de forma orgânica em suas oferendas, compostas geralmente pelo padê – farofa com azeite de dendê (fig. 43) – e pimentas vermelhas (fig. 41). Além disso, o uso de cores quentes remetem aos elementos naturais terra e fogo, associados ao calor e dinamismo próprio do orixá. » Figura 41 a 43 - Presentes de Exu no Terreiro Xambá - Olinda-PE. (Fonte: Paulinho Filizola). 34 » Figura 45 - Quartinha para Exu (Fonte: Amazon). » Figura 46 - Quartinha para Exu (Fonte: Shopee). » Figura 47 - Fio de conta para Exu (Fonte: Universo Religioso). Fig. 45 Fig. 46 Fig. 47 O uso de fios de conta ou “guias” (fig. 47) para Exu não é tão comum nos rituais de Candomblé. Esses colares são mais utilizados na Umbanda, Jurema e outros cultos afro-brasileiros, associados a Exu como egun – entidades como “Exu Tranca-Rua”, “Exu Tiriri”, “Exu Caveira”, entre inúmeras outras – e não a Exu orixá. Contudo, as cores preta e vermelha são utilizadas nas miçangas de ambas representações, assim como o símbolo do tridente, em formato de pequenos pingentes. Nas quartinhas (fig. 45 e 46) que compõem os assentamentos nos pejis – quartos de orixá – repete-se o mesmo esquema cromático de tons de vermelho e preto, por vezes sendo adornadas por símbolos, como o tridente. 35 OGUM 36 Ogum4.2. Ogum é o orixá da guerra, cuja mitologia yorubá conta que ensinou aos homens a arte da manipulação do ferro. Sua iconografia é indissociável do seu sincretismo com São Jorge. O guerreiro da Capadócia empresta alguns de seus elementos ao orixá africano, como o capacete tal qual um galea de soldado romano e a espada em estilo europeu (fig. 49). » Figura 49 - Representação tradicional de São Jorge (Fonte: Domínio Público). » Figura 48 - Ogum no Ilê Axé Odé Tá Ofá Sílná - João Pessoa - PB (Fonte: Abebé Wúra). 37 Não poderia faltar para o guerreiro Ogum a sua espada. Essa, apresenta-se de forma reta e vertical (fig. 54 e 55), com aspecto rígido e austero, em total ausência de movimento, ou com uma suave curva em sua ponta superior (fig. 56 e 57), que traz certo dinamismo à espada metálica. Fig. 54 Fig. 56 Fig. 57 Fig. 55 Como manipulador do ferro, um dos principais símbolos de Ogum é o balangandã (fig. 50-53). Um conjunto de várias ferramentas penduradas sob um eixo horizontal, sobrepostas ou não por um arco, em perfeito equilíbrio de tamanho e espaço, que reforçam sua destreza. Fig. 50 Fig. 51 Fig. 52 Fig. 53 O capacete é um dos ícones de Ogum herdados diretamente de São Jorge. São capacetes cujo desenho pouco tem a ver com a tradição africana e mais com a europeia, embora haja algumas adaptações de materiais típicos da arte africana, como a palha da costa. A variação de materiais é vasta, envolvendo desde latão à lantejoulas. Fig. 58 Fig. 60 Fig. 61 Fig. 59 » Figura 50 - Balangandã de Ogum (Fonte: Mercadão da Fé). » Figura 51 - Balangandã de Ogum no Museu Afro da Bahia (Fonte: Museu Afro da Bahia - UFBA). » Figura 52 e 53 - Ilustrações de Carybé em Iconografia dos Deuses Africanos. (Fonte: Acervo do artista - Facebook). » Figura 54 - Espada de Ogum (Fonte: Nova Zé Artigos Religiosos). » Figura 55 - Ilustração de Carybé em Iconografia dos Deuses Africanos. (Fonte: Acervo do artista - Facebook). » Figura 56 - Espada de Ogum (Fonte: Reino das Ferramentas). » Figura 57 - Espada de Ogum (Fonte: Desconto no preço). » Figura 58 - Capacete de Ogum (Fonte: Mercadão de Niterói). » Figura 59 - Capacete de Ogum (Fonte: Americanas). » Figura 60 - Capacete de Ogum (Fonte: Mercadão de Niterói). » Figura 61 - Capacete de Ogum (Fonte: Ateliê Duas Coroas). 38 Fig. 62 Fig. 63 Fig. 64 » Figura 62 e 63 - Facão de Ogum Ilê Axé Alaketu Obá Yzô - Igarassu - PE (Fonte: Acervo do fotógrafo Kayo Real) » Figura 64 - Correntes para Ogum no Ilê Axé Odé Um fato curioso observado durante a pesquisa de campo foi a adaptação da representação de objetos ritualísticos presentes tradicionalmente na iconografia por outros elementos à disposição. Isso percebe-se na adaptação da espada de guerreiro pelo facão de mato (fig. 62 e 63); das ferramentas dos balangandãs por, simplesmente, correntes de ferro (fig. 64). Certamente, a aquisição desses objetos é mais fácil e barata. Esse caso mostra o constante dinamismo sobre o qual a iconografia dos Orixás está submetida, onde de forma não canônica, objetos com aspecto formal e funcional similares, como a espada e a faca, podem ser equivalentes. 39 Fig. 65 Fig. 66 Fig. 68Fig. 67 Além do ferro, outro material associado à Ogum são as fibras de ráfias, sendo as mais populares a palha da costa ou o mariwo – a folha do dendezeiro. Essas fibras não são sua exclusividade, sendo encontradas em representações de outros orixás e objetos do rito afro-brasileiro, contudo em Ogum recebem grande destaque sendo aplicadas na crista de seus capacetes e utilizadas nas mãos como lança (fig. 66-67). A flexibilidade e leveza desses materiais proporcionam movimento e dinamismo à figura austera de Ogum. » Figura 67 - Ogum em Ilê de Candomblé Ketu - João Pessoa - PB (Fonte: Larissa Lira). » Figura 65 e 66 - Ogum no Ilê Axé Odé Tá Ofá Sílná - João Pessoa - PB (Fonte: Abebé Wúra Fotografias). » Figura 68 - Pequeno Ogum no Ilê Axé Congonhal - Paulista - PE (Fonte: Acervo do ilê). 40 Fig. 69 Fig. 70 Fig. 71 As cores associadas a Ogum são o azul escuro e, em menor quantidade, o vermelho e branco, e em alguns casos, verde. Essas cores interagem sobretudo nas vestimentas, pois na maioria das nações de Candomblé, na Paraíba e Pernambuco como nagô e ketu, os fios de conta de Ogum são apenas azuis escuros (fig. 69). Em outros objetos ritualísticos como o igbá (fig. 71), conjunto de louça presente no assentamento do Orixá, quando não em barro cru, a cor azul também é presente para o orixá. A planta espada de São Jorge (fig. 70) também é muito associada ao orixá e pode ser uma das explicações para a adição do verde na sua paleta de cores. » Figura 70 - Igbá de Ogum (Fonte: Casa do Lírio Verde). » Figura 69 - Fio de conta de Ogum (Fonte: Manacá Fios). » Figura 71 - Espada de São Jorge (Fonte: Água Verde Floricultura). 41 OXÓSSI 42 Oxóssi4.3. Oxóssi ou Odé, é o orixá das matas. É o certeiro “caçador de uma flecha só”, sendo também associado à fartura e à natureza. Por essa forte relação com as matas, constantemente é também associado à figura dos caboclos e povos originários através de processos de sincretismo. Possui uma iconografia facilmente reconhecível, marcada sobretudo pelo símbolo do ofá, o seu arco e flecha (fig. 72). » Página anterior: Figura 72 - Oxóssi pelo artista Abdias Nascimento, Okê Oxóssi, 1970, Abdias Nascimento, acervo MASP. 43 Outro elemento marcante da iconografia de Oxóssi é a estilização do chapéu de boiadeiro, com dobra em uma das laterais. É um esforço para reforçar o arquétipo de caçador: sempre acompanhado do ornamento de penas e outros diversos materiais, como peles naturais ou sintéticas, búzios e miçangas. Fig. 78 Fig. 80 Fig. 79 Fig. 81 O ofá (fig. 74-77) é um símbolo curioso, sendo a mais simples das ferramentas dos orixás visualmente. É a simplificação formal máxima de um arco e flecha, o seu instrumento de caça. Composto apenas por um semicírculo cortado transversalmente por um eixo vertical simétrico, além de símbolo é um objeto de aspecto bidimensional utilizado por médiuns em transe com o Orixá e nos assentamentos. Fig. 74 Fig. 76 Fig. 75 Fig. 77 O erukerê é um objeto ritualístico do Orixá. Consiste em pêlos do rabo de animais de cor preferencialmente escura, como búfalo e boi, amarrados em um cabo de madeira ou couro. Utilizado por médiuns em transe no ritual, sua função não é puramente ornamental, mas sim a de espantar espíritos. Um objeto similar também está presente na iconografia de Iansã. Fig.82Fig. 84 Fig. 83 Fig. 85 » Figura 74: Ofá de Oxóssi. (Fonte: Atêlie D’Oxê). » Figura 75: Ofá de Oxóssi (Fonte: Nova Zé Artigos Religiosos). » Figura 76: Ofá de Oxóssi. (Fonte: SP Artes). » Figura 77: Ofá de Oxóssi (Fonte: Francisco Brennand). » Figura 78 e 79: Chapéu de Oxóssi (Fonte: Cabaret de Marie). » Figura 80: Chapéu de Oxóssi (Fonte: Chapéus 25). » Figura 81: Chapéu de Oxóssi (Fonte: Ateliê Duas Coroas). » Figura 82: Erukerê de Oxóssi. (Fonte: Atêlie D’Oxê). » Figura 83 e 84: Erukerê de Oxósssi. (Fonte: Atêlie Duas Coroas). » Figura 85: Erukerê de Oxósssi. (Fonte: Cabaret de Marie). 44 Fig. 86 Fig. 88 Fig. 87 Fig. 89 Os ofás de Oxóssi são aplicados nas mais diversas funções: nos assentamentos de ferro dos quartos de orixá (fig. 87), em tamanho reduzido como ornamento nos fios de conta (fig. 88), em tamanho real como ferramenta para médiuns em transe (fig. 89), e até mesmo na ornamentação de bolos em dias de festa (fig. 86). » Figura 86: Bolo para Oxóssi no Ilê Axé Odé Tá Ofá Sílná - João Pessoa - PB (Fonte: Larissa Lira). » Figura 87: Ferramentas de Oxóssi no Sítio de Pai Adão - Recife - PE (Fonte: A autora). » Figura 88 e 89: Ornamento de Oxóssi no Ilê Axé Odé Tá Ofá Sílná - João Pessoa - PB (Fonte: Abebé Wúra Fotografias). 45 Fig. 90 Fig. 92 Fig. 91 Nos salões dos terreiros, Oxóssi se assemelha e se comporta de fato como um majestoso caçador, empunhado sempre o ofá e o erukerê, ou em sua ausência, fazendo gestos de flecha com as mãos. » Figura 90 e 91: Oxóssi no Ilê Axé Odé Tá Ofá Sílná - João Pessoa - PB (Fonte: Abebé Wúra Fotografias). » Figura 92: Oxóssi no Centro Cultural Ilé Àxé Omi Karélewà - João Pessoa - PB (Fonte: Acervo do Ilê). 46 Fig. 93 Fig. 94 Para Oxóssi, sobressai-se o igbá – conjunto de louça no assentamento – em barro cru, um reforço a sua estreita relação com as coisas da natureza. Nos fios de contas, na Paraíba e em Pernambuco, a cor predominante é o azul turquesa, enquanto em outras regiões do Brasil, como na Bahia, é o verde. Sua paleta de cores, para além do tradicional branco, remete à de um pavão: azul turquesa, composto com verde e dourado. » Figura 93: Louça de barro (Fonte: Casa Lírio Verde). » Figura 94: Fio de conta de Oxóssi (Fonte: Elo7). 47 OMULU 48 Omulu Obaluaê4.4. Omulu ou Obaluaê é o Orixá associado às doenças, à terra quente, e à morte. É facilmente reconhecido pelo corpo coberto da cabeça aos pés por uma veste de palha da costa. Tal construção formal é simples, mas impactante, como podemos perceber quando aplicada ao Design de mobiliário, no armário “Cabana” (fig. 96) dos irmãos Campana. » Figura 96: Armário Cabana dos Irmãos Campana, 2010. (Fonte: Firma Casa). 49 O xaxará é o objeto ritualístico de Omulu, composto de palha da costa e ornamentos diversos, como búzios, tecidos, cabaças. Em formato de cônico, além de remeter à própria forma da vestimenta do Orixá, também tem como função simbolizar o local de armazenamento dos seus remédios e curas. Fig. 97 Fig. 99 Fig. 98 Fig. 100 Os ornamentos do xaxará são construídos em um processo artesanal e de forma livre, não seguindo nenhum cânone. Os búzios podem se unir produzindo desenhos semelhantes à flores, ou em linha reta. O xaxará pode inclusive ser trabalhado e ressignificado, como no trabalho do baiano Mestre Didi (fig. 101). Utilizada não apenas como vestimenta e objeto ritualístico do orixá, a palha da costa é um material-chave, também aplicado nos seus altares e presentes (fig. 99). Outro material natural muito associado a Omulu, é a pipoca, também conhecida como “flor do obaluaê”. Fig. 101 Fig. 102 » Figura 97: Xaxará de Omolu (Fonte: Paraíso Místico). » Figura 98: Ilustração de Carybé em Iconografia dos Deuses Africanos. (Fonte: Acervo do artista - Facebook). » Figura 99: Xaxará de Omolu (Fonte: Mercado Livre). » Figura 100: Xaxará de Omolu (Fonte: Casa dos Lírios). » Figura 101: Obra sem título do Mestre Didi (Fonte: Almeida e Dale). » Figura 102: Presentes para Omulu no Ilé Àsé Ìyá Omi Orun - Recife - PE (Fonte: Acervo do Ilê). 50 Fig. 103 Fig. 105 Fig. 104 Fig. 106 As representações de Omulu (fig.103-104) nos médiuns em transe remetem aos zangbetos na África, entidades também inteiramente cobertas pela palha da costa. Esse material peculiar confere um extremo movimento à dança e gestos do orixá, tornando a sua presença imponente e fazendo com que ocupe um grande volume de espaço no salão. O tratamento da palha pode mantê-la em cor natural, ou ainda tingi-la nos tons do orixá, como vermelho (fig. 103). » Figura 103: Médiuns de Omulu no Ilé Asè Omi Karelewà - João Pessoa - PB (Fonte: acervo do Ilê). » Figura 104, 105, 106: Omulus no Ilê Axé Odé Tá Ofá Sílná - João Pessoa - PB (Fonte: Abebé Wúra Fotografias). 51 Fig. 107 Fig. 109 Fig. 108 Fig. 110 A palha da costa é de fato o mais marcante dos seus elementos, sendo utilizada inclusive como decoração em dias festivos do orixá, como o Olubajé, tornando fácil o seu reconhecimento (fig. 107 e 108). O mesmo ocorre fora do terreiro, como é percebido no bloco Afoxé Omulu Pákèrú Awô (fig. 109 e 110), na cidade de Olinda - PE, onde a palha da costa e cabaças adornam os estandartes e são redesenhadas nos figurinos. » Figura 107 a 108: Omulu no Ilê Axé Odé Tá Ofá Sílná - João Pessoa - PB (Fonte: Abebé Wúra Fotografias) » Figura 109 e 110: Omulu do Afoxé Omolu Pakeru do Terreiro Xambá - Olinda - PE (Fonte: Paulinho Filizola) 52 Fig. 111 Fig. 112 A paleta de cores associada a Omulu consiste em branco, preto e vermelho, além do marrom característico de seus materiais, como a palha da costa e cabaça. Essas cores serão encontradas nas suas vestimentas, em decorações no terreiro (fig. 111), e sobretudo, nos fios de conta (fig. 112). » Figura 111: Cerimônia para Omolu no Ilé Asè Omi Karelewà - João Pessoa - PB (Fonte: acervo do Ilê) » Figura 112: Fio de contas de Omulu (Fonte: Ateliê Oliveria Guias). 53 NANÃ 54 Nanã4.5. A mais velha das orixás femininas, Nanã (fig. 113) na tradição afro-brasileira é dotada de sabedoria e nostalgia, sendo associada à saudade. Na natureza, são os pântanos que pertencem à Nanã. Durante a pesquisa, notou-se que na Paraíba e em Pernambuco é uma orixá menos cultuada, o que dificulta, mas não impede, o estudo de sua iconografia na região. » Figura 113 - Nanã no terreiro de Mãe Zefinha de Nanã - Recife - PE (Fonte: Larissa Lira) » Figura 114: Nanã Ilé Asè Omi Karelewà - João Pessoa - PB (Fonte: acervo do Ilê) 55 Fig. 115 Fig. 117 Fig. 116 Fig. 118 Seu objeto ritualístico é o ibiri (fig. 115-118), similar ao xaxará de Omulu que vimos anteriormente. Ele também consiste em um cetro cônico de palha da costa, contudo, possui uma volta na ponta superior, tornando-o assimétrico. Essa pequena curva torna o objeto mais feminino e gracioso, visualmente menos agressivo do que xaxará. Essa delicadeza reflete-se em seu uso: é utilizado por médiuns em transe, segurado não nas mãos, mas sim nos braços, tal qual se segura um bebê, Não poderia também faltar-lhe ornamentos: o ibiri costuma ser coberto com búzios, fitas e tecidos, preferencialmente na cor roxa, a cor de Nanã. » Figura 115: Ibiri de Nanã (Fonte: Ateliê Duas Coroas). » Figura 116: Ibiri de Nanã (Fonte: Casa do Lírio Verde). » Figura 117: Ilustração de Carybé em Iconografia dos Deuses Africanos. (Fonte: Acervo do artista - Facebook). » Figura 118: Ibiri de Nanã (Fonte: Ateliê Duas Coroas). 56 Fig. 119 Fig. 120 Vale aqui ressaltar o terreiro llê Ómó Òrìsà Nanan-Buruku de Mãe Zefinha situado na região de Sapucaia - PE (fig. 113) como um dos poucos onde Nanã é cultuada como orixá regente na Paraíba e em Pernambuco. É um bom exemplo de que o principal elemento da iconografia de Nanã é a sua cor roxa. Essa cor exclusiva de suas representações, varia em tonalidades, fato que não se repeteem nenhum outro orixá. No terreiro de mãe Zefinha, o roxo apresenta-se nos atabaques e afoxés, nos fios de conta (fig. 119), nas vestimentas e cartazes (fig. 120). » Figura 119 a 120: Nanã no terreiro de Mãe Zefinha de Nanã - Recife - PE (Fonte: Larissa Lira). 57 OXUM 58 Oxum4.6. Oxum é a orixá do ouro, da fertilidade, dos rios e cachoeiras, a mais bela dos Orixás. Sua iconografia é marcada pela abundância, algo que ela também representa, sempre coberta de adornos dourados. É geralmente representada como uma mulher, mas também pode aparecer de forma estilizada em obras como a de Emanoel Araújo (fig. 121), identificada através do dourado, das pedras preciosas, e do ventre fértil arredondado no meio da peça. » Figura 121 - Oxum por Emanoel Araujo, 2007 (Fonte: Masp). » Figura 122: Oxum pelo artista sergipano Breno Loeser, 2023 (Fonte: Acervo do artista). 59 O abebé é um dos principais símbolos de Oxum, representando a sua vaidade. Consiste em um leque/espelho de mão (algo que também está presente na iconografia de Yemanjá, como veremos), sempre dourado, simétrico e coberto de ornamentos. Esses espelhos conformam-se nos mais variados desenhos e ornamentos, incluindo símbolos associados à Orixá, como os peixes dos rios (fig. 123) e flores (fig. 124). Outro detalhe curioso, é que nem sempre os abebés serão acompanhados por espelhos reais, consistindo apenas em um objeto figurativo (fig. 125). Fig. 123 Fig. 125 Fig. 124 » Figura 123: Abebé de Oxum (Fonte: Awô Omi). » Figura 124: Abebé de Oxum (Fonte: Mercado Livre). » Figura 125: Abebé de Oxum (Fonte: Ateliê Duas Coroas). Os adês são ornamentos de cabeça utilizados pelas orixás femininas. São as coroas afro-brasileiras, muito ornamentadas pelos mais diversos materiais, naturais ou sintéticos, como miçangas vítreas ou plásticas (fig. 126), lantejoulas (fig. 127), metais (fig. 128), seda, tecidos sintéticos, o que estiver à disposição para enfeitar Oxum como uma rainha. Um elemento essencial nos adês são as franjas de miçangas, que cobrem o rosto dos médiuns em transe, transformando-os em algo mais próximo dos orixás. As franjas do adê de Oxum, certamente, sempre são douradas como fios de ouro. Fig. 126 Fig. 127 Fig. 128 » Figura 126: Adê de Oxum (Fonte: Ateliê Duas Coroas) » Figura 127: Adê de Oxum (Fonte: Mercado Livre). » Figura 128: Adê de Oxum (Fonte: Olegario Lemos). 60 Fig. 129 Fig. 131 Fig. 130 Fig. 132 Nos terreiros, tudo relacionado a Oxum é recoberto de bastante amarelo e dourado (fig. 130). Mas todos os olhos se voltam para os médiuns incorporados com a orixá (fig. 129, 131 e 132), e suas exuberantes vestimentas e adês. A franja de miçangas proporciona movimento e dinamismo, tornando impossível e hipnotizante a visualização do rosto de quem as vê. Também pode-se notar a presença de braceletes e colares dourados, um reforço da sua vaidade e feminilidade, e apreço por tudo aquilo que é belo e majestoso. » Figura 129 e 130: Oxum no Terreiro Xambá - Olinda - PE (Fonte: Paulinho Filizola) » Figura 131: Oxum no Ilê Axé Odé Tá Ofá Sílná - João Pessoa - PB (Fonte: Abebé Wúra Fotografias) » Figura 132: Oxum no Terreiro Nosso Senhor do Bonfim - Campina Grande - PB (Fonte: Larissa Lira). 61 Fig. 133 Fig. 135 Fig. 134 Fig. 136 Além de utilizados nas mãos (fig. 133, 135, 136 e 137), os abebés de Oxum também são dispostos em bases que os permitem ficar de pé, tal qual um ostensório católico (fig. 134). Isso permite a sua exposição nos quartos de orixá, junto à seus igbás (conjuntos de louças) e quartinhas. Fig. 137 » Figura 133 a 137: Oxum no Terreiro Xambá - Olinda - PE (Fonte: Paulinho Filizola). 62 Fig. 138 Fig. 140 Fig. 139 Fig. 141 Além das aplicações anteriores, o abebé pode ornamentar até mesmo bolos (fig. 138 e 139), pingentes dos fios de conta amarelos de Oxum (fig. 141), e almofadas (fig. 142). Em todos os casos, são ricamente ornamentados por lantejoulas, pedras e miçangas (fig. 140). Fig. 142 » Figura 138 a 142: Oxum no Terreiro Xambá - Olinda - PE (Fonte: Paulinho Filizola). 63 Fig. 143 Fig. 145 Fig. 144 Tudo para Oxum é ornamentado em abundância, com flores amarelas (fig. 143), uma diversidade de tecidos (fig. 144), e até mesmo o seu igbá é recoberto por motivos florais (fig. 145). » Figura 143 e 144: Oxum no Ilê Axé Odé Tá Ofá Sílná - João Pessoa - PB (Fonte: Abebé Wúra Fotografias) » Figura 145: Oxum no Sítio de Pai Adão - Recife - PE (Fonte: A autora). 64 IANSÃ 65 Iansã4.7. A yabá destemida deusa do vento, dos raios e trovões. Oyá ou Iansã (fig. 146), no sincretismo, é a Santa Bárbara do “Pagador de Promessas” de Dias Gomes, a “rainha dos raios” como escreveram Gil e Caetano. A iconografia de Iansã (fig. 147) distingue-se das demais orixás femininas por ser eminentemente guerreira, empunhar espadas e adagas, domar eguns e o vento. » Figura 146 - Iansã do Pai Altair Medeiros Tavares do Ilê Axé Oyá Gigandê - Campina Grande - PB (Fonte: Diogo Marques). 66 Iansã, assim como visto anteriormente em Ogum, também possui em sua iconografia espadas e adagas. Contudo, é nítida a diferença no seu desenho: enquanto as de Ogum são verticais e rígidas, essas desenham- se de formas mais curvas, curtas, e femininas (fig. 148-151). Fig. 148 Fig. 150 Fig. 149 Fig. 151 Semelhante ao erukerê de Oxóssi, Iansã terá como objeto ritualístico o Eruexim (fig. 152-155). Este, consiste em um cabo de couro ou madeira com pelos de animais, tendo no entanto Iansã predileção pelo búfalo, um de seu animais, em tons mais claros e quentes. Fig. 154 Fig. 152 Fig. 155 Fig. 153 Dentre os símbolos associados Oyá estão presentes os chifres de búfalo (fig. 156 e 157), assim como a borboleta (fig. 159), pois são animais em que se transforma na mitologia yorubá. O raio (fig. 158) em desenho estilizado também aparece em referência ao elemento natural que controla. Fig. 158 Fig. 156 Fig. 159 Fig. 157 » Figura 148: Espada de Iansã (Fonte: Arte Metal Orixás). » Figura 149: Espada de Iansã (Fonte: Ateliê 7 Raios). » Figura 150 e 151: Espada de Iansã (Fonte: Ateliê Duas Coroas). » Figura 152 a 155: Eruexim de Iansã (Fonte: Ateliê Duas Coroas). » Figura 156: Chifre de Búfalo (Fonte: Ateliê Duas Coroas). » Figura 157: Chifre de Búfalo (Fonte: Casa do Cigano). » Figura 158: Acessório de Ibá (assentamento) de Iansã em formato de raio (Fonte: Casa Lírio Verde). » Figura 159: Adê de Iansã com borboleta (Fonte: Ateliê Duas Coroas). 67 Fig. 160 Fig. 162 Fig. 163 Fig. 161 Nos salões dos terreiros (fig. 160-163), Iansã aparece com seus objetos ritualísticos em punho como a espada e o eruexim, além do adê característico das yabás. Suas cores variam, por entre o rosa, branco, vermelho e alaranjado, e outros tons quentes dentro desse espectro (fig. 161). Suas representações através dos médiuns em transe é marcada por dinamismo e movimento que remetem ao vento, um de seus principais elementos. O material dos eruexins permite a flexibilidade necessária, e quando em uso, formam variados desenhos pelo ar. » Figura 160: Iansã no Ilê Axé Oyá Gigandê - Campina Grande - PB (Fonte: acervo do Ilê) » Figura 161: Iansã no Ilê Axé Oloxum - Recife - PE (Fonte: acervo do Ilê) » Figura 162: Festa de Iansã no Terreiro Xambá - Olinda - PE (Fonte: Paulinho Filizola) 68 Fig. 164 Fig. 165 Fig. 166 O búfalo é de fato utilizado tanto de forma material com seus pelos no eruexim (fig. 164) e adornos com chifres (fig. 165), quanto de forma simbólica por meio de ilustrações, como no caso do desenho do logotipo do Ilê Axé Oyá Gigandê em Campina Grande - PB (fig. 166). » Figura 164: Iansã no Ilê Axé Oyá Gigandê - Campina Grande - PB (Fonte: acervo do Ilê) » Figura 165: Iansã no Terreiro Xambá - Olinda - PE (Fonte: Paulinho Filizola) » Figura 166: Placa em referência a Iansã no Ilê Axé Oyá Gigandê - Campina Grande - PB (Fonte:acervo do Ilê). 69 XANGÔ 70 Xangô4.8. Xangô é um dos orixás mais populares na Paraíba e em Pernambuco, sendo reconhecido também como o rei de Oyó, antigo império yorubá entre a Nigéria e o Benim. Essa noção de realeza é algo que prevalece em toda a sua iconografia no Brasil, além de ser associado com a justiça e guerra, Xangô é imponente, justo e equilibrado tanto de forma antropomórfica (fig. 167), quanto figurada na obra de Emanoel Araujo (fig. 168). » Figura 167 - Xangô por Emanoel Araujo, 2021 (Fonte: Artsy). » Figura 168: Xangô pelo artista sergipano Breno Loeser, 2023 (Fonte: Acervo do artista). 71 » Figura 169: Machados de Xangô (Fonte: Ateliê Duas Coroas). » Figura 170: Machados de Xangô (Fonte: Nova Zé Artigos Religiosos). » Figura 171: Machados de Xangô (Fonte: Ateliê Duas Coroas). » Figura 172: Ilustração de Carybé em Iconografia dos Deuses Africanos. (Fonte: Acervo do artista - Facebook). » Figura 173: Coroa de Xangô (Fonte: Ateliê Duas Coroas). » Figura 174: Coroa de Xangô (Fonte: Mercado de Fé). » Figura 175: Coroa de Xangô (Fonte: Ateliê Duas Coroas). » Figura 176: Coroa de Xangô (Fonte: Olegario Lemos). » Figura 177: Xére de Xangô (Fonte: Casa do Lírio Verde). » Figura 178: Xére de Xangô (Fonte: Loja Joia do Axé). » Figura 179: Xére de Xangô (Fonte: Artesanato Líder). » Figura 180: Xére de Xangô (Fonte: Nova Zé Artigos Religiosos). Para um rei não faltaria uma coroa. As coroas de Xangô assumem formatos diversos: enquanto umas optam por desenhos mais estilizados e geométricos (fig. 173 e 175), tal qual ocorreria na arte africana, outras apropriam-se do desenho europeu de coroa (174 e 176). A sua execução é feita em materiais, como metais, tecidos ou madeira, ornamentadas ou não. Fig. 173 Fig. 175 Fig. 174 Fig. 176 Os oxê (fig. 169-172) são os machados de Xangô. Isolados ou em par simétrico, o desenho de cada oxê é composto por dois triângulos espelhados de forma simétrica, encontrando seus vértices. A construção desse símbolo reflete dois princípios básicos de Xangô: a guerra e a justiça. Fig. 169 Fig. 171 Fig. 170 Fig. 172 O Xére é um instrumento de percussão, o chocalho ritualístico de Xangô, que certamente precisaria fazer barulho, já que é o deus do trovão. O xére pode ser cônico (fig. 177 e 178) ou arredondando e oval (fig. 179 e 180). Fig. 177 Fig. 179 Fig. 178 Fig. 180 72 Xangô é um Orixá especial em Pernambuco, afinal, os primeiros terreiros de Candomblé foram chamados com o seu nome - os “Xangôs do Recife”. Durante a pesquisa de campo no Sítio de Pai Adão na cidade, há uma grande ênfase para os seus objetos ritualísticos, observando-se tanto coroa (fig. 181), quanto oxês (fig. 182), xéres (fig. 183) e como ornamento em antigos pilões (fig. 184) que datam à época de fundação do terreiro. Observou-se também um oxê feito de forma improvisada com pedra de granito, pregos e corda (fig. 185). » Figura 181 a 185: Xangô no Sítio de Pai Adão - Recife - PE (Fonte: a autora). Fig. 181 Fig. 182 Fig. 183 Fig. 184 Fig. 185 73 O esquema cromático de Xangô consiste em vermelho e branco, em provável alusão à sua dicotomia entre guerra e justiça. Essa combinação aparece nos fios de contas e louças (fig. 186 e 189), nos bolos nos dias de festa (fig. 187) e nas toalhas (fig. 188), geralmente acompanhados do desenho de oxês. Os bolos vistos aqui são um curioso caso de como a iconografia dos orixás é dinâmica: misturam a tradição europeia da confeitaria e pâtisseries com os símbolos e cores dos orixás. » Figura 190 e 191: Xangô no Terreiro Xambá - Olinda - PE (Fonte: Paulinho Filizola). Fig. 186 Fig. 188 Fig. 187 Fig. 189 74 Os oxês, assim como outros ícones dos orixás, são aplicados nas mais diversas superfícies, de forma bidimensional ou tridimensional, em uma diversidade de materiais. Podem ser utilizados em madeira nos assentamentos nos quartos de orixá (fig. 190), no mesmo esquema de “ostensório” dos abebés de Oxum, como elemento decorativo em almofadas de tecido ornamentados por miçangas (fig. 191), pelas paredes do salão em papel. » Figura 190 e 191: Xangô no Terreiro Xambá - Olinda - PE (Fonte: Paulinho Filizola). Fig. 190 Fig. 191 75 Em terra, todos os elementos da iconografia de Xangô são incorporados nas indumentárias dos médiuns em transe. Nas mãos, o oxê é quase uma garantia (fig. 193 e 194), na cintura podemos encontrar o xére (fig. 194), na cabeça, coroas (fig. 192 e 193), e suas cores pela indumentária branca e vermelha, ornamentada sem exageros, tal qual um rei. » Figura 192: Xangô no Ilê Axé Odé Tá Ofá Sílná - João Pessoa - PB (Fonte: Abebé Wúra Fotografias) » Figura 193: Xangô no Ilê Axé Alaketu Obá Yzô - Paulista - PE (Fonte: Kayo na Real). » Figura 194: Xangô no Ilé Àsé Ìyá Omi Órun - Recife - PE (Fonte: Acervo do Ilê). Fig. 192 Fig. 193 Fig. 194 76 YEMANJÁ 77 Yemanjá4.9. Yemanjá (fig. 195) foi percebida como a mais cultuada e popular dos Orixás de Paraíba e Pernambuco. Ela é a rainha do mar, imersa no imaginário da cultura popular brasileira sendo representada por muitas faces: branca, negra, mãe e sereia. Sua iconografia é tão clara quanto a água: são elementos marinhos, azuis e maternais (fig. 196) que se consolidam através de seus símbolos. » Figura 195: Yemanjá no Sítio de Pai Adão - Recife - PE (Fonte: a autora). » Figura 196: Madrinha Nidinha de Yemanjá do Terreiro Xambá - Olinda - PE (Fonte: Paulinho Filizola) 78 Assim como Oxum – a outra yabá das águas – Yemanjá também porta um abebé, o seu espelho de mão. Os ícones presentes no desenho desses abebés são consistentes e relacionados ao mar e ao céu noturno, como luas e estrelas (fig. 197, 198 e 202), assim como peixes (fig. 199-201), tendo em vista que o seu nome significa “aquela cujos filhos são peixes”. » Figura 197: Abebé de Yemanjá (Fonte: Ateliê Duas Coroas). » Figura 198: Ilustração de Carybé (Fonte: Acervo do artista - Facebook). » Figura 199: Abebé de Yemanjá (Fonte: Ateliê Duas Coroas). » Figura 200: Abebé de Yemanjá (Fonte: Casa Lírio Verde). » Figura 201 e 202: Abebé de Yemanjá (Fonte: Apetrechos de Orixá). Ao contrário de Oxum, a sua cor será o prateado, como a lua sob o mar. Os seus adês (fig. 203-208) e abebés são ornamentados com certa moderação a mais do que na outra yabá, utilizando-se em abundância além das miçangas, de conchas e pérolas. São peças mais delicadas que refletem o seu aspecto maternal, e que por vezes, também farão com que seja confundida com uma sereia. » Figura 203 a 205: Adê de Yemanjá (Fonte: Ateliê Duas Coroas). » Figura 206: Adê de Yemanjá (Fonte: Canal Multivendas). » Figura 207: Adê de Yemanjá (Fonte: Mercadão de Niterói). » Figura 208: Adê de Yemanjá (Fonte: Ateliê Duas Coroas). Fig. 197 Fig. 200 Fig. 198 Fig. 201 Fig. 199 Fig. 202 Fig. 203 Fig. 206 Fig. 204 Fig. 207 Fig. 205 Fig. 208 79 O azul (fig. 209 e 210) será a cor mais utilizada para as suas representações, embora em minoria, algumas nações de Candomblé na Paraíba e em Pernambuco adotem o verde como sua principal cor. Essa cor se repetirá tanto nas vestimentas quanto nos seus objetos e representações visuais. Yemanjá também é representada como uma sereia (fig. 211), em um resultado do processo assimilação de conceitos entre mulher e peixe, ou de “latinização”, como citado pelo próprio Pierre Verger (1981). Sua composição é simples e vernacular, mostrando o mar, o céu e um pequeno barco ao fundo. » Página anterior: Figura 209 e 210: Fiéis de Yemanjá do Terreiro Xambá - Olinda - PE (Fonte: Paulinho Filizola) » Figura 211: Yemanjá no Sítio de Pai Adão - Recife - PE (Fonte: a autora). Fig. 209 Fig. 210 80 Assim como o abebé de Oxum e o oxê de Xangô, além do uso prático, o espelho de Yemanjá também será disposto de forma expositiva nos assentamentos dos quartos de orixás (fig. 212, 213, 215,216). O padrão de lua junto a estrela (ou estrelas) parece ser uma preferência no desenho dos abebés, repetindo-se diversas vezes em metal prateado ou outros materiais (fig. 213). Mas isso não impede que surjam outros desenhos, mais circulares, onde o abebé em escala menor aparece como um pingente nos fios de conta (fig. 216). » Página anterior: Figura 212 a 215: Abebés de Yemanjá do Terreiro Xambá - Olinda - PE (Fonte: Paulinho Filizola) » Figura 216: Abebé de Yemanjá do Terreiro Xambá - Olinda - PE (Fonte: Paulinho Filizola) Fig. 212 Fig. 214 Fig. 213 Fig. 215 Fig. 216 81 Fig. 217 Um perfeito exemplo de aplicação não figurativa dos seus símbolos é o logotipo do Sítio de Pai Adão (fig. 218). De forma simétrica, o símbolo original – lua e estrela – é disposto horizontalmente, e mais tarde, são acrescidas 6 ondas espelhadas, três de cada lado, formando uma base sólida mas de sutil movimento. As duas tonalidades de azul fazem o símbolo original emergir das ondas, totalizando 7 elementos – um número bastante simbólico na religião. Esse logotipo é aplicado em várias superfícies como identidade do terreiro, incluindo nos atabaques (fig. 217). » Página anterior: Figura 217 a 218: Yemanjá no Sítio de Pai Adão - Recife - PE (Fonte: a autora). Fig. 218 82 OXALÁ 83 Oxalá4.10. Oxalá, Orixalá ou Obatalá é o orixá supremo do panteão afro-brasileiro. É o orixá da paz, do branco, dotado de certa lentidão que reflete diretamente a sua calma. Sua iconografia é fácil de se compreender levando esses conceitos em consideração, mas sobretudo, a cor: não é tolerado nada além do branco. Ambientes inteiros voltados à Oxalá podem ser criados sob esse sentido, como na obra “Altar de Oxalá” de Emanoel Araujo (fig. 219). » Página anterior: Figura 219: Altar de Oxalá de Emanuel Araújo, 2010 (Fonte: Google Arts & Culture). » Figura 220: Oxalá pelo artista sergipano Breno Loeser, 2023. (Fonte: Acervo do artista). 84 O seu objeto ritualístico é o opaxorô (fig 221-226), uma espécie de cajado onde o curvado orixá se apoia quando em terra através dos médiuns em transe. Como regra geral, possui em seu topo a figura de algum dos animais associados ao orixá – o pombo branco, a paz (fig. 221, 222, 223, 225) ou a concha de caracol, a lentidão (fig. 224, 226). Ao longo do bastão principal, são dispostas cúpulas em hierarquia de tamanho – da menor para a maior, criando a impressão de que o opaxorô é uma construção ascendente. Em cada uma dessas cúpulas são dispostos pingentes que conferem à peça balanço e movimento, geralmente sendo as próprias conchas. » Figura 221 Ilustração de Carybé em Iconografia dos Deuses Africanos. (Fonte: Acervo do artista - Facebook). » Figura 222: Opaxorô de Oxalá (Fonte: Sol de Aruanda Axé). » Figura 223 a 226: Opaxorô de Oxalá (Fonte: Ateliê Duas Coroas). Fig. 221 Fig. 222 Fig. 223 Fig. 224 Fig. 225 Fig. 226 85 As representações de Oxalá no terreiro vestem inteiramente branco, desde o tecido até a menor miçanga, como símbolo de sua pureza e soberania. Se apoiam em opaxorôs para conseguir caminhar (fig. 227-229), tendo em vista que é um orixá velho e devagar. Seu rosto pode ser coberto por fios de contas (fig. 229) ou não (fig. 227). » Figura 227: Oxalá no Ilê Axé Oyá Gigandê - Campina Grande - PB (Fonte: acervo do Ilê). » Figura 228: Oxalá no Ilé Asè Omi Karelewà - João Pessoa - PB (Fonte: acervo do Ilê). » Figura 229: Oxalá no Ilê Axé Odé Tá Ofá Sílná - João Pessoa - PB (Fonte: Abebé Wúra Fotografias). Fig. 227 Fig. 228 Fig. 229 86 A regra da prevalência do branco permanece válida para objetos decorativos (fig. 230), e até mesmo na confeitaria dos bolos das festas do orixá (fig. 231-232). » Figura 230: Oxalá no Ilê Axé Odé Tá Ofá Sílná - João Pessoa - PB (Fonte: Abebé Wúra Fotografias). » Figura 231 e 232: Oxalá no Terreiro Xambá - Olinda - PE (Fonte: Paulinho Filizola). » Figura 233: Conjunto de adereços Oxalá (Fonte: Fundação Joaquim Nabuco). 87 Na ausência do branco, Oxalá é identificado em suas representações artísticas através do uso do opaxorô (fig. 234 e 235), ou através de outros dos seus símbolos, como o pombo (fig. 236). » Figura 234: Oxalá por Ricardo Pessoa - Caruaru - PE (Fonte: acervo pessoal do artista). » Figura 235: Oxalá por Isabela Galvão - Recife - PE (Fonte: acervo pessoal do artista). » Figura 236: Oxalá por Diogum - Recife - PE (Fonte: acervo pessoal do artista). Fig. 234 Fig. 235 Fig. 236 88 Objetos comuns para todos Orixás4.11. O objeto ritualístico comum a todos os Orixás é o adjá, um instrumento de percussão de metal utilizado nos xirês – cerimônias nos salões dos terreiros onde médiuns entram em transe com os Orixás. Diferentemente dos objetos vistos até agora, os adjás não são utilizados pelos médiuns, mas sim pelas ekedis – espécie de “zeladoras”, não médiuns, que cuidam dos participantes que estão incorporados. As ekedis empunham os adjás e os balançam por horas durante todo o xirê, não havendo troca entre um orixá e outro. Por esse motivo, embora existam, não são tão comuns os adjás dedicados a um orixá em específico. Sua forma básica consiste em três ou seis cones unidos pelo topo por um cabo. Os ornamentos que envolvem o adjá são diversos e podem variar de acordo com o Orixá regente do terreiro. No entanto, o mais comum são os adjás com poucos adornos em aço, na cor prata (fig. 237). A variação de materiais para cobre (fig. 238) ou latão dourado (fig. 239), também podem indicar de forma discreta associação a algum orixá. Por exemplo, cobre para Iansã, dourado para Oxum. Quando os ornamentos envolvem os adjás, eles fazem referência direta a iconografia do orixá ao qual é dedicado. No adjá da figura 240, podemos observar a além da cor prata, a presença do desenho de conchas, flores, e aplicação de pedras de strass, o que nos leva à associação com Yemanjá. Já na figura 241, a cor cobre juntamente ao desenho das borboletas, fazem referência a Iansã. Dessa forma, pequenos detalhes, como símbolos e cores produzem diferentes associações entre os orixás. » Figura 237: Adjá três bocas (Fonte: Mercadão de Niterói). » Figura 238: Adjá de cobre (Fonte: Bacacheri Online). » Figura 239: Adjá de latão (Fonte: Ervanária Central). » Figura 240: Adjá de Yemanjá (Fonte: Loja Umbanda Divina). » Figura 241: Adjá de Iansã (Fonte: Magazine Luiza). Fig. 237 Fig. 239 Fig. 238 Fig. 240 89 Síntese Iconográfica5. Os quadros síntese a seguir foram elaborados a partir do material coletado na pesquisa visual, com ilustrações, lista de uso, e análises formais dos principais elementos da iconografia de cada um dos 10 Orixás citados no trabalho. Também foram elaborados esquemas cromáticos para cada Orixá, apresentando as cores de forma proporcional a intensidade com a qual aparecem na iconografia e classificadas de acordo com o sistema Pantone®. Por fim, também foram adicionados aos quadros os principais materiais associados aos respectivos Orixás. 90 EXU 91 Exu5.1. Tridente O tridente é apresentado por meio de uma construção principal simétrica vertical, podendo ou não possuir uma ondulação assimétrica horizontal próximo a sua base. » Uso: 1) Nos quartos de Orixá, como ferramenta em ferro. 2) Em miniatura, como pingente nos fios de conta. 3) Como estampa, em tecidos. Fig. 242 Capacete Sua indumentária é marcada pela presença de um capacete curvo e alongado verticalmente, recoberto de ornamentos diversos, sobretudo com búzios. » Uso: 1) Por médiuns em transe. Fig. 243 Ogó Seu objeto ritualístico é o ogó, composto por um cabo de madeira com topo arredondado, em referência ao falo masculino. De maneira simétrica, são dispostas duas cabaças. » Uso: 1) Nos quartos de Orixá, como ferramenta em ferro. 2) Em miniatura, como pingente nos fios de conta. 3) Como estampa, em tecidos. Fig. 244 Cinto Além do capacete, outra peça da indumentáriade Exu é o cinto com 7 faixas, de pontas triangulares, sobrepostas por cabaças sustentadas por fitas. » Uso: 1) Por médiuns em transe. Fig. 245 92 Materiais Esquema cromático composto por vermelho, preto, branco e cores terrosas, além do dourado. Esquema cromático Uso abundante de materiais específicos, como a cabaça (Lagenaria siceraria) e as conchas de búzios (Monetaria moneta). Pantone 485 C Pantone Neutral Black C Pantone 732 C Pantone 804 C Pantone 11-0601 TPX Fig. 246 Fig. 247 Fig. 248 » Figura 242: Tridente de Exu por Matheus Henrique (Fonte: acervo do artista). » Figura 243: Indumentária de Exu por Matheus Henrique (Fonte: acervo do artista). » Figura 244: Ogó de Exu por Matheus Henrique (Fonte: acervo do artista). » Figura 245: Cinto de Exu por Carybé (Fonte: Vogue Brasil). » Figura 246: Esquema cromático de Exu (Fonte: a autora). » Figura 247: Cabaça (Fonte: Capoeira Shop). » Figura 248: Búzio (Fonte: Freepik). 93 OGUM 94 Ogum5.2. Balangandã É um conjunto de representações de ferramentas em miniaturas, como pás, enxadas e um conjunto de ferramentas em ferro unidas em um semicírculo. Pode ou não possuir um suporte para permanecer apoiado de pé. » Uso: 1) Nos quartos de Orixá, como ferramenta em ferro. Fig. 249 Espadas As espadas de Ogum são facilmente reconhecidas por seu desenho alongado, vertical e retilíneo. Contudo, podem haver variações onde a ponta da espada seja mais curva, de forma semelhante a um facão do mato. » Uso: 1) Nos quartos de Orixá, como objeto ritualístico; 2) Por médiuns em transe. Fig. 250 Capacete O capacete de Ogum possui duas partes: uma base metálica prateada, cujo desenho prioriza formas com ângulos retos e agudos em detrimento às curvas; e uma crina, construída através da união de longos fios de palha da costa. » Uso: 1) Por médiuns em transe. Fig. 251 Espada de São Jorge A planta Sansevieria trifasciata, ou simplesmente Espada de São Jorge, é associada a Ogum por ter forma similar a sua espada, alongada e vertical. » Uso: 1) Nos quartos de Orixá, como decoração; 2) Nos salões do terreiro, como decoração. Fig. 252 95 Materiais Esquema cromático composto por azul escuro e variações tonais, tendo o vermelho e o verde como cores secundárias. Esquema cromático Uso abundante de materiais específicos, como a palha da costa (Raphia vinifera) e metais de cor prateada, como o ferro. Fig. 253 Fig. 254 Fig. 255 » Figura 249: Balangandã de Ogum por Carybé (Fonte: Acervo do artista - Facebook). » Figura 250: Espada de Ogum por Carybé e Facão de Ogum por Matheus Henrique (Fonte: Acervo do artista - Facebook / Acervo do artista). » Figura 251: Indumentária de Ogum por Matheus Henrique (Fonte: acervo do artista). » Figura 252: Espada de São Jorge (Fonte: iStock). » Figura 253: Esquema cromático de Ogum (Fonte: a autora). » Figura 254: Palha da costa (Fonte: African Artesanato). » Figura 255: Ferro (Fonte: Brasil Escola). Pantone 7687 C Pantone 7684 C Pantone 7741 C Pantone 485 C 96 OXÓSSI 97 Oxóssi5.3. Ofá O ofá é o arco e flecha de Oxóssi, sendo representado tanto como objeto tridimensional quanto com símbolo bidimensional. É composto por um semicírculo cortado transversalmente por uma flecha na vertical. Fig. 256 » Uso: 1) Nos quartos de Orixá, como ferramenta 2) Em miniatura, como pingente nos fios de conta. 3) Como estampa, em tecidos. 4) Por médiuns em transe. Erukerê Seu objeto ritualístico é o Erukerê, composto por um cabo de madeira que prende pelos do rabo de animais em tons escuros, como cavalos, búfalos e bois. Fig. 257 » Uso: 1) Nos quartos de Orixá, como ferramenta. 2) Por médiuns em transe. Chapéu Sua indumentária é marcada pela presença de um chapéu de boiadeiro com uma aba dobrada, presa por penas de aves. Pode ser ornamentado ainda com fitas, búzios e aplicações de miçangas. Fig. 258 » Uso: 1) Por médiuns em transe. Penas As penas de aves são elementos incorporados à iconografia de Oxóssi em suas vestimentas e oferendas. Há uma predileção sobretudo pelas penas de pavão-indiano (Pavo cristatus) Fig. » Uso: 1) Por médiuns em transe. 98 Materiais Esquema cromático composto por azul turquesa, verde e variações tonais, além do dourado. Esquema cromático Uso de materiais de origem animal, como pelos, peles e penas, além de materiais metálicos de cor dourada, como latão. Fig. 261 Fig. 262 Fig. 263 » Figura 256: Ofá por Carybé (Fonte: Acervo do artista - Facebook). » Figura 257: Erukerê por Carybé (Fonte: Acervo do artista - Facebook). » Figura 258: Indumentária de Oxóssi por Carybé (Fonte: Acervo do artista - Facebook). » Figura 259: Pena de pavão (Fonte: iStock). » Figura 260: Esquema cromático de Oxóssi (Fonte: a autora). » Figura 261: Erukerê (Fonte: Ateliê Duas Coroas). » Figura 262: Penas de aves (Fonte: iStock). » Figura 263: Folha de latão (Fonte: Amazon).Fig. 260 Pantone 7702 C Pantone 7738 C Pantone 804 C Pantone 7741 C 99 OMULU 100 Omulu Obaluiâe5.4. Xaxará O xaxará é um objeto cônico e simétrico, tecido em palha da costa com pontas soltas no topo. Geralmente, é ricamente adornado com búzios e tecidos. Fig. 264 » Uso: 1) Nos quartos de Orixá, como ferramenta. 2) Por médiuns em transe. Cabaças Omulu é muito associado a materiais específicos, como a cabaça seca (Lagenaria siceraria), devido ao seu formato achatado no topo e largo na base se assemelhar com a representação física do Orixá. Fig. 265 » Uso: 1) Nos quartos de Orixá, como objeto ritualístico. 2) Como ornamento de objetos associados a Omulu. Capuz de palha O capuz de palha é o objeto que torna Omulu facilmente reconhecido e o cobre da cabeça aos pés. Por sua vez, o capuz pode ser ornamentado e complementado com uma espécie de coroa oval que cobre o ponto de união dos fios de palha da costa. Essa coroa é ornamentada com miçangas, búzios e cabaças. Contudo, existem versões mais simples do capuz de palha, onde a amarração que une todos os fios é visível e desprovida de adornos, Fig. 266 » Uso: 1) Por médiuns em transe. 101 Fig. 268 Fig. 269 Fig. 270 Fig. 271 » Figura 264: Xaxará por Carybé (Fonte: Acervo do artista - Facebook). » Figura 265: Cabaça por Matheus Henrique (Fonte: acervo do artista). » Figura 266: Indumentária de Omulu por Matheus Henrique (Fonte: acervo do artista). » Figura 267: Esquema cromático de Omulu (Fonte: a autora). » Figura 268: Cabaça (Fonte: Capoeira Shop). » Figura 269: Búzio (Fonte: Freepik). » Figura 270: Palha da costa (Fonte: African Artesanato). » Figura 271: Chapa de cobre (Fonte: Amazon). Materiais Esquema cromático composto por cores terrosas, vermelho, preto e branco. Esquema cromático Uso de materiais como a cabaça (Lagenaria siceraria), as conchas de búzios (Monetaria moneta), palha da costa (Raphia vinifera) e metais de cor acobreada. Pantone 11-0601 TPX Fig. 267 Pantone 7525 C Pantone 7567 C Pantone Neutral Black C Pantone 7628 C 102 NANÃ 103 Nanã5.5. Ibiri O Ibiri de Nanã é uma espécie de cetro tecido em palha da costa. É composto por um estreito e alongado cone central, que é afunilado até tornar-se flexível, sendo preso novamente em seu corpo, criando uma curva. Fig. 272 » Uso: 1) Nos quartos de Orixá, como ferramenta. 2) Por médiuns em transe. Adê Sua indumetária é marcada pela presença do adê, ou coroa, ornamentada sobretudo por laços, conchas e palha da costa, facilmente distinguido pela cor roxa da Orixá. Fig. 273 » Uso: 1) Por médiuns em transe. Vassoura Vassouras de palha simples construídas por um cabo vertical de madeira e base cônica de palha também são comumente associadas a Nanã, devido a sua associação com a terra. Fig. 274 » Uso: 1) Nos quartos de Orixá, como ferramenta. 2) Por médiuns em transe. Conchas e búzios Há uma ênfase para o usode conchas e búzios na iconografia de Nanã, adornando seus objetos ritualísticos e vestimentas. Fig. 275 » Uso: 1) Nos objetos ritualísticos, como ornamento 2) Nas vestimentas, por médiuns em transe. 104 Materiais Esquema cromático composto por amarelo, dourado e, branco. Esquema cromático Uso de materiais como as conchas de búzios (Monetaria moneta), palha da costa (Raphia vinifera) e metais de cor prateada. Fig. 276 Fig. 277 Fig. 278 Fig. 279 » Figura 272: Ibiri por Carybé (Fonte: Acervo do artista - Facebook). » Figura 273: Indumentária de Nanã por Matheus Henrique (Fonte: acervo do artista). » Figura 274: Vassoura (Fonte: iStock). » Figura 275: Conchas e búzios por Matheus Henrique (Fonte: acervo do artista). » Figura 276: Esquema cromático de Nanã (Fonte: a autora). » Figura 277: Búzio (Fonte: Freepik). » Figura 278: Palha da costa (Fonte: African Artesanato). » Figura 279: Chapa de alumínio (Fonte: Amazon). Pantone 7680 Pantone 2587 C Pantone 876 C Pantone 11-0601 TPX Pantone 666 C 105 OXUM 106 Oxum5.6. Abebés Os abebés são leques com espelhos, cujo desenho pode variar mas se assemelha ao de espelhos de mão, compostos por um cabo e parte superior arredondada. Fig. 280 » Uso: 1) Nos quartos de Orixá, como ferramenta. 2) Por médiuns em transe. Adê O adê de Oxum distingue-se pelo uso de metais dourados e uso de formas curvas e arredondadas. São ornamentados com uma ampla variedade de miçangas, tecidos e lantejoulas. Fig. 281 » Uso: 1) Por médiuns em transe. Flores Na iconografia de Oxum, diversos tipos de flores são associadas à sua figura, sobretudo as rosas amarelas (Rosa grandiflora). Fig. 282 » Uso: 1) Nos quartos de Orixá, como decoração. 2) Nos salões dos terreiros, como decoração. 3) De forma ilustrada, em estampas para a indumentária de Oxum. Joias Braceletes, pulseiras e colares de metais dourados, como latão, são joias que fazem parte da indumentária de Oxum. Fig. 283 » Uso: 1) Por médiuns em transe. 107 Materiais Esquema cromático composto por amarelo, dourado e, branco. Esquema cromático Uso abundante de materiais metálicos de cor dourada, como latão. Miçangas de cor amarela ou dourada. Fig. 284 Fig. 285 Fig. 286 » Figura 280: Abebé de Oxum por Carybé (Fonte: Acervo do artista - Facebook). » Figura 281: Indumentária de Oxum por Matheus Henrique (Fonte: acervo do artista). » Figura 282: Flores por Carybé (Fonte: Google Arts & Culture). » Figura 283: Joias de Oxum por Carybé (Fonte: Acervo do artista - Facebook). » Figura 284: Esquema cromático de Oxum (Fonte: a autora). » Figura 285: Chapa de alumínio (Fonte: Amazon). » Figura 286: Miçanga (Fonte: Elo7). Pantone 1365 C Pantone 7412 C Pantone 11-0601 TPX Pantone 7507 C 108 IANSÃ 109 Iansã5.7. Espada e Eruexim Um dos objetos ritualísticos de Iansã é a espada, com desenho achatado. Sua lâmina é figurativa, curta e curva; seu cabo pode ser ornamentado com fios de miçanga. O Eruexim é composto por um cabo de madeira e pelos de búfalo, preferencialmente de cor clara. Fig. 287 » Uso: 1) Nos quartos de Orixá, como ferramenta. 2) Por médiuns em transe. Búfalo Além dos pelos do rabo do búfalo, também é comum na iconografia de Iansã o uso de seus chifres como ornamento para as suas vestimentas. Fig. 288 » Uso: 1) Por médiuns em transe. Adê O adê de Iansã é ornamentado com laços, miçangas e fios de palha da costa, podendo incorporar elementos de sua iconografia, como a borboleta. Fig. 289 » Uso: 1) Por médiuns em transe. Raio A representação do um raio é um dos símbolos associados a Iansã, tanto de forma figurativa com desenho estilizado e geométrico, quando de maneira a tentar representar a sua forma natural e orgânica, como na fig. 266. Fig. 290 » Uso: 1) Nos quartos de Orixá, como ferramenta 2) Em miniatura, como pingente nos fios de conta. 3) Como estampa, em tecidos. 110 Fig. 291 Fig. 292 Fig. 293 Fig. 294 » Figura 287: Espada e Eruexim de Iansã por Carybé (Fonte: Acervo do artista - Facebook). » Figura 288: Chifres de Iansã por Carybé (Fonte: Acervo do artista - Facebook) » Figura 289: Adê de Iansã por Carybé (Fonte: Acervo do artista - Facebook). » Figura 290: Indumentária de Iansã por Matheus Henrique (Fonte: acervo do artista). » Figura 291: Esquema cromático de Oxum (Fonte: a autora). » Figura 292: Chifre de búfalo (Fonte: Casa do Cigano). » Figura 293: Palha da costa (Fonte: African Artesanato). » Figura 294: Chapa de cobre (Fonte: Amazon). Materiais Esquema cromático composto por rosa, vermelho, tons de laranja, além do dourado. Esquema cromático Uso abundante de materiais advindos do búfalo (Syncerus caffer), palha da costa (Raphia vinifera) e metais de cor acobreada. Pantone 1365 C Pantone 177 C Pantone 164 C Pantone Warm Red C 111 XANGÔ 112 Xangô5.8. Oxês Os oxês são os machados de Xangô, utilizados em par. É desenhado de forma simétrica a partir de um eixo vertical, espelhando dois triângulos isósceles. » Uso: 1) Nos quartos de Orixá, como ferramenta. 2) Por médiuns em transe. Fig. 295 Xerés Existem dois tipos de xerés, chocalhos. O mais característico da iconografia de Xangô é o xére cônico, desenhado com a sobreposição de dois cones espelhados horizontalmente. O segundo tipo consiste em um chocalho de forma oval, com cabo ornamentado. » Uso: 1) Por médiuns em transe. 2) Como instrumento de percussão nos ritos afro- brasileiros. Fig. 296 Coroa A indumentária de Xangô é marcada pela presença de uma coroa. O seu desenho é simétrico e similar aos de coroas europeias; é comum que sua superfície contenha ornamentos que fazem referência aos oxês, os machados. Fig. 297 » Uso: 1) Como estampa, em tecidos. 2) Por médiuns em transe. Pedras Pedras brutas e comuns de quartzo são associadas a Xangô como um de seus elementos, incorporando-se a iconografia. Fig. 298 » Uso: 1) Nos quartos de Orixá, como objeto ritualístico. 2) Como matéria-prima para oxês. 113 » Figura 295: Oxês de Xangô por Carybé (Fonte: Acervo do artista - Facebook). » Figura 296: Xére de Xangô por Matheus Henrique (Fonte: acervo do artista). » Figura 297: Indumentária de Xangô por Matheus Henrique (Fonte: acervo do artista). » Figura 298: Pedras (Fonte: iStock). » Figura 299: Esquema cromático de Xangô (Fonte: a autora). » Figura 300: Granito (Fonte: Amazon). » Figura 301: Chapa de cobre (Fonte: Amazon). Fig. 301 Materiais Esquema cromático composto exclusivamente por vermelho e branco. Esquema cromático Pantone 11-0601 TPX Pantone Warm Red C Fig. 299 Uso de pedras brutas, como granito; materiais metálicos de cor acobreada. Fig. 300 114 YEMANJÁ 115 Yemanjá5.9. Abebés Assim como na iconografia de Oxum, os abebés são leques com espelhos. Contudo, os abebés de Yemanjá assumem desenhos variados relacionados aos seus ícones, como lua e estrelas, e peixes. Fig. 302 » Uso: 1) Nos quartos de Orixá, como ferramenta. 2) Por médiuns em transe. Adê Os adês de Yemanjá são desenhados por linhas orgânicas, que fazem alusão às ondas do mar. Também são ornamentados por diversos tipos de conchas e outros materiais de origem marinha, como areia, pérolas e madrepérolas. Seus ornamentos podem fazer referências a algum dos elementos marinhos, como escamas de peixe. Fig. 303 » Uso: 1) Por médiuns em transe. Elementos marinhos A iconografia de Yemanjá é regada de elementos que remetem ao mar, redesenhados de forma ilustrativa e simplificada, como diversos tipos conchas, peixes, e ondas. Isso inclui também a sua representação como sereia. Fig. 304 » Uso:1) Em miniaturas, como pingentes nos fios de conta. 2) Como estampa, em tecidos e outras superfícies. 116 Uso abundante de conchas de búzios (Monetaria moneta) e outros moluscos, assim como pérolas e metaisde cor prata. Fig. 305 Fig. 306 Fig. 307 Fig. 308 Fig. 309 » Figura 302: Abebé de Yemanjá por Carybé (Fonte: Acervo do artista - Facebook). » Figura 303: Indumentária de Yemanjá por Matheus Henrique (Fonte: acervo do artista). » Figura 304: Serigrafia de Yemanjá e peixes por Carybé (Fonte: Acervo do artista - Facebook). » Figura 305: Esquema cromático de Yemanjá (Fonte: a autora). » Figura 306: Búzio (Fonte: Freepik). » Figura 307: Concha (Fonte: Louris Bijou). » Figura 308: Pérola (Fonte: Louris Bijou). » Figura 309: Chapa de alumínio (Fonte: Amazon). Materiais Esquema cromático composto por azul e variações tonais e, branco. Esquema cromático Pantone 292 C Pantone 7683 C Pantone 11-0601 TPX Pantone 543 C 117 OXALÁ 118 Oxalá5.10. Opaxorô O objeto ritualístico de Oxalá, o opaxorô, é uma espécie de cajado. Ao longo do bastão principal, são dispostas cúpulas em hierarquia de tamanho – da menor para a maior, adornadas com pingentes de conchas. Fig. 310 » Uso: 1) Nos quartos de Orixá, como ferramenta. 2) Por médiuns em transe. Adê O adê de Oxalá costuma ser simples e austero, com desenho de baixa complexidade e poucas linhas. Fios de conta brancos ou prateados cobrem o rosto do Orixá. Fig. 311 » Uso: 1) Por médiuns em transe. Pombo O desenho figurativo de um pombo branco é um elemento constante na iconografia de Oxalá. Fig. 312 » Uso: 1) Em miniaturas, como pingentes nos fios de conta. 2) Como estampa, em tecidos e outras superfícies. 3) Como ornamento em objetos ritualísticos. Conchas As conchas de animais como caramujo (Achatina fulica) e caracóis (Helix aspersa), curvas e espiraladas são associadas a Oxalá. Fig. 313 » Uso: 1) Em miniaturas, como pingentes nos fios de conta. 2) Como estampa, em tecidos e outras superfícies. 3) Como ornamento em objetos ritualísticos. 119 » Figura 310: Abebé de Yemanjá por Carybé (Fonte: Acervo do artista - Facebook). » Figura 311: Indumentária de Oxalá por Matheus Henrique (Fonte: acervo do artista). » Figura 312: Pombo (Fonte: iStock). » Figura 313: Caracóis (Fonte: iStock). » Figura 314: Esquema cromático de Oxalá (Fonte: a autora). » Figura 315: Conchas brancas (Fonte: Mercado Livre). » Figura 316: Chapa de alumínio (Fonte: Amazon). Uso de conchas de moluscos como Achatina fulica e Helix aspersa e metais de cor prateada. Fig. 314 Materiais Esquema cromático composto exclusivamente por branco e variações tonais. Esquema cromático Pantone 11-0601 TPX Pantone 11-1001 TCX Fig. 315 Fig. 316 120 121 Quadro sintético5.11. Preto, vermelho e cores terrosas DouradoTridente, pimentas vermelhas, cachaça Espada de São Jorge Ofá Capacete Capacete Chapéu de boiadeiro Ogó Balangandã e espadas Erukerê Búzios (Monetaria moneta), Cabaças (Lagenaria siceraria) Palha da costa (Raphia vinifera), ferro Materiais de origem animal, como pelos, peles e penas. Prateado Dourado Azul escuro e variações tonais, vermelho e verde Azul turquesa, verde e variações tonais, branco e dourado CoresMetalMateriais associadosElementos VisuaisIndumentáriaObjetos ritualísticosOrixá EXU OGUM OXÓSSI 122 Preto, vermelho e cores terrosas Acobreado Acobreado Cabaça Vassoura de palha Rosas Amarelas Búfalo e raio Capuz de palha Adê Adê Adê Xaxará Ibiri Erukerê Espada e Eruexim Palha da costa (Raphia vinifera), Búzios (Monetaria moneta), Cabaças (Lagenaria siceraria) Palha da costa (Raphia vinifera), Búzios (Monetaria moneta), Cabaças (Lagenaria siceraria) Latão, miçangas, lantejoulas. Materiais advindos do búfalo (Syncerus caffer), palha da costa (Raphia vinifera). Prateado Dourado Azul escuro e variações tonais, vermelho e verde Amarelo, dourado e, branco. Rosa, vermelho, tons de laranja, além do dourado. OMULU NANÃ OXUM IANSÃ 123 Vermelho e brancoAcobreado Pedra bruta Elementos marinhos Pombo branco e caracóis Coroa Adê Adê Oxês Abebé Opaxorô Pedras brutas, como granito. Conchas, pérolas, areia. Conchas de moluscos como Achatina fulica e Helix aspersa. Prateado Prateado Azul e variações tonais, branco Branco e variações tonais. XANGÔ YEMANJÁ OXALÁ 124 125 Conclusão6. Esta pesquisa abordou a iconografia dos orixás nos estados da Paraíba e Pernambuco, ressaltando a importância de explorar a intersecção entre o Design e as religiões afro- brasileiras. Devido a questões geográficas, o foco foi predominantemente direcionado ao candomblé nagô, a tradição pioneira dos cultos afro-brasileiros nos estados em estudo. Apesar da escassez de material bibliográfico sobre o tema, este estudo representa um avanço na compreensão das representações visuais que permeiam essas tradições religiosas e seu potencial no campo do Design. A delimitação geográfica adotada, embora generalize algumas particularidades iconográficas, forneceu um sólido ponto de partida para futuras pesquisas. A catalogação e documentação das diferenças que existem não apenas entre diferentes regiões geográficas do Brasil, mas também em outros países que cultuam essas mesmas entidades, bem como as variações entre nações dentro do Candomblé e Umbanda, e a exploração das nuances que caracterizam outras religiões afro-brasileiras, representam áreas promissoras de investigação que podem enriquecer ainda mais nosso entendimento da iconografia religiosa de matriz africana. A iconografia aqui apresentada revela um vasto campo de possibilidades para a aplicação do Design. O designer pode contribuir para a compreensão e geração de novos elementos visuais, por meio de técnicas de análise formal e metodologia visual, bem como por meio do estudo semântico e semiótico para decifrar os signos que acompanham os símbolos da iconografia. Além disso, a atuação do designer se estende à concepção, desenho e aprimoramento de objetos e ferramentas ritualísticas, especialmente aquelas utilizadas pelos médiuns em transe, garantindo melhorias técnicas, uso de materiais adequados e considerações ergonômicas, respeitando a importância dos materiais naturais biodegradáveis, como fibras, conchas e cerâmica, em conformidade com a tradição yorubá. Nesse contexto, caberia ainda um estudo mais aprofundado acerca dos materiais utilizados para a produção de objetos nos cultos afro-brasileiros e sua estreita relação com os materiais usados na arte africana. Sob uma perspectiva antropológica da cultura material, pode-se também buscar uma compreensão mais profunda da relação entre os materiais e os cultos afro-brasileiros, a fim de produzir objetos materialmente eloquentes que se integrem a essas crenças e tradições. O designer também pode colaborar com o design de interiores nos terreiros e outros espaços ritualísticos, com a possibilidade de projetar móveis, luminárias e espaços que respeitem a iconografia e a tradição material, enquanto são funcionais e esteticamente atraentes. Outras pesquisas podem se concentrar na catalogação e melhor compreensão, especificamente, do mobiliário utilizado nos ritos, como tronos, esteiras e tamboretes, bem como nos objetos usados para portar a luz nos ritos do candomblé, incluindo luminárias e suportes para velas, que desempenham um papel fundamental nas cerimônias. Além disso, o Design pode ser uma ferramenta para a criação de outros produtos de forma laica, como mobiliário, joias e moda que representem e respeitem as tradições religiosas afro-brasileiras, proporcionando visibilidade e atribuindo significado apropriado aos adeptos dessas religiões. No campo da moda, há um vasto território a ser explorado na pesquisa das indumentárias dos Orixás e dos cerimoniais afro-brasileiros, bem como no estudo das joias e fios de contas ricos em detalhes e simbolismo. O designer pode, portanto, contribuir no projeto de peças de indumentária e joalheria que valorizem esses elementos iconográficos. Em última análise, esta pesquisa destacaa riqueza e a complexidade da iconografia das religiões afro-brasileiras e realça o papel fundamental do designer na preservação e inovação dessas tradições. É evidente que o Design pode servir como uma ponte entre as tradições religiosas e a contemporaneidade, enriquecendo a experiência ritual, promovendo a representatividade e valorizando o patrimônio cultural das religiões afro-brasileiras. À medida que o campo do Design continua a evoluir, ele tem a oportunidade única de abraçar e enriquecer essas tradições, garantindo que prosperem e sejam apreciadas pelas gerações futuras. 126 127 Referências 1. Abebê De Oxum - 32cm - Em Latão. Disponível em: <https://produto.mercadolivre.com. br/MLB-786878683-abeb-de-oxum-32cm-em-lato-_JM>. Acesso em: 3 set. 2023. 2. Abebé de Oxum. Awoomi. Disponível em: < https://awoomi.com.br/produto/abebe-de- oxum/>. Acesso em: 3 set. 2023. 3. Acessório de Ibá. Disponível em: <https://www.casalirioverde.com.br/acessorios/ pingentes-gargantilhas/aces-orixa-10-raio-met-cobre>. Acesso em: 3 set. 2023. 4. Ade Paramenta Orixá Oxum Luxo Osun Dourada. 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