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FOCUSCONCURSOS.COM.BR Processo Penal | Material de Apoio Professor Rodrigo Sengik. PRISÃO EM FLAGRANTE – I A PRISÃO AINDA NAS RUAS! 1) O ESTADO DE FLAGRANTE – MECANISMO DE ARCO-REFLEXO Para que a gente bem possa entender a prisão em flagrante, você vai pensar no mecanismo de arco-reflexo, aquele mesmo que aprendeu nas aulas de biologia. Pense em alguém, desatento de tudo, que acaba colocando a mão no fogo sem perceber o que estava fazendo. A reação dessa pessoa será imediata: em um arco-reflexo, ela tirará a mão do fogo, afastando-se do perigo. A prisão em flagrante é exatamente a mesma coisa, ou seja: um mecanismo de arco-reflexo que visa a afastar a sociedade do perigo ocasionado por um crime em andamento ou que acabou de acontecer. Logo, é medida de autodefesa da sociedade, que busca neutralizar, de modo imediato, o risco ocasionado pela infração penal. A PRISÃO EM FLAGRANTE É UM MOMENTO! Tenha muita atenção aqui: o mecanismo de arco-reflexo é um momento! A prisão em flagrante também tem de ser um momento! Se não for, tem coisa errada nessa história. Portanto, esqueça aquela história do prazo da prisão em flagrante. Apesar de muita gente falar que a prisão em flagrante tem prazo, isso non ecziste! Pense como o Tio Sengik e você vai bem compreender nosso tema. 2) CONCEITO BÁSICO DE PRISÃO EM FLAGRANTE – É SÓ PARA VOCÊ ENTENDER! A prisão em flagrante é medida de autodefesa da sociedade, caracterizada pela prisão daquele que está em situação de flagrância e que independe de prévia autorização judicial, exatamente por ser uma reação imediata, diante da agressão a ela causada pela infração penal em andamento ou que acabou de acontecer. 3) SUJEITOS DA PRISÃO EM FLAGRANTE Existem dois sujeitos da prisão em flagrante, o ativo e passivo. Ativo é aquele que efetiva a prisão em flagrante; passivo é aquele que é preso, exatamente porque foi encontrado em situação de flagrante delito. Então, fica assim: 3.1) SUJEITO ATIVO: quem prende. Há dois tipos de sujeitos ativos: o facultativo e o coercitivo/obrigatório. O sujeito ativo facultativo é o cidadão. Ele relaciona-se à situação em que a prisão em flagrante é facultativa e a privação da liberdade do criminoso é acobertada pelo exercício regular de direito, pois todos nós cidadão temos o direito de agir e neutralizar aquele que está e flagrante delito. O sujeito ativo coercitivo ou obrigatório é o policial (“autoridade policial e seus agentes” de acordo com o CPP). Ele age em situações em que a prisão em flagrante é coercitiva/obrigatória e a privação da liberdade do “criminoso” é acobertada pelo estrito cumprimento de dever legal. 3.2) SUJEITO PASSIVO: é aquele que é preso. A princípio, qualquer um pode ser preso em flagrante. E o que interessa de fato para nossos concursos é que o sujeito passivo da prisão em flagrante é aquele que está em situação de flagrante delito. Logo, é preciso saber quando alguém está nessa situação, o que chamamos de espécies de flagrantes. 4) ESPÉCIES DE FLAGRANTES 4.1) ESPÉCIES DE FLAGRANTE DO ARTIGO 302 DO CPP No artigo 302 do CPP, temos 3 espécies de flagrante, quais sejam: flagrante próprio, impróprio e presumido. Eles despencam em nossas provas. Por isso, tenha atenção aos desenhos dados em aula para que você nunca mais erre nada sobre esse tema. FLAGRANTE PRÓPRIO Esse tipo de flagrante também é conhecido como perfeito, real ou verdadeiro. Está previsto no artigo 302, I e II, do CPP e se caracteriza pela certeza visual do crime. É aquele em que o infrator está cometendo ou acabou de cometer a infração penal. Não restam dúvidas de ele agiu. 1 FOCUSCONCURSOS.COM.BR Processo Penal | Material de Apoio Professor Rodrigo Sengik. FLAGRANTE IMPRÓPRIO O flagrante impróprio é também conhecido como imperfeito, irreal ou quase-flagrante. Está previsto no artigo 302, III, do CPP. Ele se caracteriza pela presença de: 1) perseguição: deve ser ininterrupta (não importa o prazo; a perseguição apenas tem de ser ininterrupta do ponto de vista da vontade dos perseguidores); 2) logo após o cometimento do delito: esse “logo após” é o lapso temporal entre o acionamento da polícia, seu comparecimento ao local do delito e colheita de elementos necessários para que se dê início à perseguição. AS BANCAS ADORAM ESSE FLAGRANTE! As Bancas têm uma predileção por esse flagrante impróprio e o chamam de quase flagrante. Por quê? Exatamente, porque não é propriamente uma situação de flagrante, eis que não há certeza visual da infração penal. Além disso, se você ler o artigo 302, III, do CPP, vai encontrar o termo “presumir” aqui no flagrante impróprio, razão pela qual você pode confundi-lo com a próxima espécie de flagrante – mas são coisas totalmente diferentes – minha dica: leia o artigo 302 do CPP por completo, mas fique com os esquemas da aula, pois eles foram feitos para que você nunca mais confunda nada aqui! FLAGRANTE PRESUMIDO O flagrante presumido é também conhecido como ficto ou assimilado. Ele está previsto no artigo 302, IV, do CPP e é caracterizado pelo encontro fortuito do infrator numa situação em que me permita concluir que ele praticou um crime recentemente – o CPP diz assim: o sujeito é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração. Nesse caso, não é necessário haver perseguição, basta que o indivíduo seja encontrado com instrumentos que façam concluir ser ele o autor do crime. Além disto, deve-se atentar ao fato de a lei usar a expressão “logo depois”, ao invés de “logo após”, expressão que caracteriza do flagrante impróprio. Portanto, se aparecer o “logo depois”, estamos falando de flagrante presumido; se aparecer o “logo após”, deverá ser o flagrante impróprio. APRESENTAÇÃO ESPONTÂNEA/VOLUNTÁRIA Observe que o artigo 302 apresenta as espécies de flagrante e que, dentro delas, não há espaço para a apresentação espontânea. Por isso, os intérpretes da lei processual penal, por motivos diversos e bem estranhos, estabeleceram que, no caso de apresentação voluntária o infrator penal, este não pode ser preso em flagrante. Mas veja como é simples: se a prisão em flagrante é mecanismo de arco-reflexo da sociedade, quando o sujeito se apresenta espontaneamente para a Polícia, não há o se falar em resposta imediata diante de um risco, até porque o perigo causado pela conduta está controlado. Assim, você vai gravar que: NÃO CABE PRISÃO EM FLAGRANTE DAQUELE QUE SE APRESENTA ESPONTANEAMENTE! Nessa situação, apesar de não caber a prisão em flagrante, poderá ser decretada a prisão temporária ou preventiva, se estiverem presentes seus requisitos. FLAGRANTE NOS CRIMES PERMANENTES! Crimes permanentes são aqueles cuja conduta se estende no tempo. Portanto, enquanto houver permanência, há crime em andamento e, assim, há estado de flagrante delito. Desde modo, em qualquer momento em que a ação se estender no tempo, é possível a prisão em flagrante. Super fácil, lógico e você não precisa decorar nada. 2 FOCUSCONCURSOS.COM.BR Processo Penal | Material de Apoio Professor Rodrigo Sengik. 4.2) ESPÉCIES DE FLAGRANTES DA DOUTRINA, JURISPRUDÊNCIA E LEIS ESPECIAIS Além das espécies de flagrante do artigo 302 do CPP, você precisa conhecer outras que são citadas pela doutrina, jurisprudência e, hoje, leis especiais. São, basicamente, quatro espécies, sendo que duas delas são lícitas e duas são ilícitas. Vamos a elas! FLAGRANTE ESPERADO Nesse caso, a autoridade policial limita-se a aguardar o momento da prática do delito para efetuar a prisão em flagrante. Importa frisar que não há induzimento nem agente provocador. Assim, a Polícia apenas recebe informações, monta a operação, senta e pega um donuts e fica esperando o crime acontecer. A PERGUNTA É: O FLAGRANTE ESPERADO É LÍCITO, PROFESSOR SENGIK? CLARO QUE É! Ele é perfeitamente legal. FLAGRANTE PRORROGADO/RETARDADO/DIFERIDO/AÇÃO CONTROLADA Trata-se da famosa ação controlada. Consiste no retardamento da intervenção policial, que se devedar no momento mais oportuno do ponto de vista da colheita de provas, obtenção de informações e efetivação de prisões. Ex. clássico – deixar de prender a “mula” para também poder prender os traficantes maiores, em momento posterior. Essa espécie de flagrante está em diversas leis, mas duas são especiais para nós, quais sejam: LOC e Lei de Drogas. Leia-as: Artigo 8° da LOC (Lei 13850 – Lei das Organizações Criminosas). Consiste a ação controlada em retardar a intervenção policial ou administrativa relativa à ação praticada por organização criminosa ou a ela vinculada, desde que mantida sob observação e acompanhamento para que a medida legal se concretize no momento mais eficaz à formação de provas e obtenção de informações. § 1° O retardamento da intervenção policial ou administrativa será previamente comunicado ao juiz competente que, se for o caso, estabelecerá os seus limites e comunicará ao Ministério Público. § 2° A comunicação será sigilosamente distribuída de forma a não conter informações que possam indicar a operação a ser efetuada. § 3° Até o encerramento da diligência, o acesso aos autos será restrito ao juiz, ao Ministério Público e ao delegado de polícia, como forma de garantir o êxito das investigações. § 4º Ao término da diligência, elaborar-se-á auto circunstanciado acerca da ação controlada. Art. 9° Se a ação controlada envolver transposição de fronteiras, o retardamento da intervenção policial ou administrativa somente poderá ocorrer com a cooperação das autoridades dos países que figurem como provável itinerário ou destino do investigado, de modo a reduzir os riscos de fuga e extravio do produto, objeto, instrumento ou proveito do crime. Cuidado! Há, aqui, uma questão recorrente em concursos públicos: na LOC, não existe autorização judicial para a ação controlada. O que é exigido das autoridades é apenas a comunicação ao Juiz competente, que não irá autorizar a ação, mas, se for o caso, estabelecer seus limites. É importante memorizar essa informação! Artigo 53, II, da Lei 11343. Em qualquer fase da persecução criminal relativa aos crimes previstos nesta Lei, são permitidos, além dos previstos em lei, mediante autorização judicial e ouvido o Ministério Público, os seguintes procedimentos investigatórios:... II - a não-atuação policial sobre os portadores de drogas, seus precursores químicos ou outros produtos utilizados em sua produção, que se encontrem no território brasileiro, com a finalidade de identificar e responsabilizar maior número de integrantes de operações de tráfico e distribuição, sem prejuízo da ação penal cabível. Parágrafo único. Na hipótese do inciso II deste artigo, a autorização será concedida desde que sejam conhecidos o itinerário provável e a identificação dos agentes do delito ou de colaboradores. A PERGUNTA É: A AÇÃO CONTROLADA É LÍCITA, PROFESSOR SENGIK? CLARO QUE É! FLAGRANTE PREPARADO/PROVOCADO Também é conhecido como crime de ensaio e delito putativo por obra do agente provocador. Possui dois requisitos: 1) indução à prática do delito: quem induz a pessoa à prática do delito é chamado de agente provocador e pode ser tanto um particular quanto um policial; e 3 FOCUSCONCURSOS.COM.BR Processo Penal | Material de Apoio Professor Rodrigo Sengik. 2) adoção de precauções para que o delito não seja consumado, o que torna o crime impossível, razão pela qual a prisão é ilegal. Nesta seara, é importante lembrar o conteúdo da Súmula 145 do STF: Súmula 145 do STF. Não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação. A PERGUNTA É: O FLAGRANTE PROVOCADO É LÍCITO, PROFESSOR SENGIK? CLARO QUE NÃO! Essa é a regra. Porém, você deve ter especial atenção aos crimes de tipo misto alternativo (os crimes de ação múltipla, ou seja, aqueles em que o tipo penal incriminador tem uma lista plúrima de verbos), pois, neles, o sujeito não pode ser preso pela conduta fomentada pelo agente provocador, mas pode ser preso em flagrante por outros verbos que tenha praticado sem qualquer indução de terceiros. Exemplo: no artigo 33 da Lei 11.343 (Lei de Drogas), se o Policial simular que vai comprar drogas, não poderemos prender o traficante em razão do verbo “vender”, mas, como há diversos outros verbos no tipo penal em questão, poderemos prendê-lo pelas demais condutas, como: “trazer consigo”. Vejamos o artigo em questão: Artigo 33 da Lei 11343. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena – reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa. FLAGRANTE FORJADO Esse tipo de flagrante é também é conhecido como urdido ou maquinado. Ocorre quando autoridades policiais ou particulares criam provas de um crime inexistente, a fim de legitimar uma prisão em flagrante. Ex.: a patroa com orgulho ferido que coloca suas joias na bolsa da bela empregada com quem o patrão anda tendo um caso e a acusa de furto. A PERGUNTA É: O FLAGRANTE FORJADO É LÍCITO, PROFESSOR SENGIK? CLARO QUE NÃO! 5) LÁ VEM A BANCA! BANCA AQUI, BANCA ACOLÁ! 5.1) Ano: 2016 Banca: CESPE Órgão: PC-GO Prova: Escrivão de Polícia Substituto. A situação em que um indivíduo é preso em flagrante delito por ser surpreendido logo após cometer um homicídio caracteriza um: a) flagrante presumido. b) flagrante impróprio. c) flagrante assimilado. d) flagrante próprio. e) quase-flagrante. 5.2) Ano: 2017 Banca: IBADE Órgão: SEJUDH - MT Prova: Agente Penitenciário - Masculino/Feminino (+ provas). O flagrante impróprio ou quase flagrante, nos termos do Código de Processo Penal, ocorre quando o indivíduo: a) é encontrado, até seis horas após o crime, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração. b) é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor da infração. c) é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração. 4 FOCUSCONCURSOS.COM.BR Processo Penal | Material de Apoio Professor Rodrigo Sengik. d) está cometendo a infração penal. e) acaba de cometer a infração penal. 5.3) Ano: 2015 Banca: FUNIVERSA Órgão: PC-DF Prova: Delegado de Polícia. Considera-se flagrante diferido o(a): a) modalidade de flagrante proibida pela legislação processual penal brasileira, em que a autoridade policial, tendo notícia da prática de futura infração, coloca-se estrategicamente de modo a impedir a consumação do crime. b) obtido a partir de uma provocação do agente criminoso para controlar a ação delituosa e evitar o crime, com base na política criminal hodierna. c) realizado em momento imediatamente após a prática do crime, se o agente for encontrado com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele o autor da infração. d) ação policial de monitoramento e controle das ações criminosas desenvolvidas, transferindo-se o flagrante para momento de maior visibilidade das responsabilidades penais. e) lavrado quando o agente é perseguido, logo após o crime, pela autoridade policial, pelo ofendido ou por qualquer pessoa em situação que indique ser ele o autor da infração. 5.4) Ano: 2016 Banca: FUNCAB Órgão: PC-PA Prova: Escrivão de Polícia Civil. A prisão em flagrante consiste em medida restritiva de liberdade de natureza cautelar e processual. Em relação às espécies de flagrante, assinale a alternativa correta. a) Flagrante preparado é a possibilidade que a polícia possui de retardar a realização da prisão em flagrante, para obter maiores dados e informações a respeito do funcionamento, componentes e atuação de uma organização criminosa. b) Flagrante presumido consiste na hipótese em que o agente concluiu a infração penal, ou é interrompidopela chegada de terceiros, mas sem ser preso no local do delito, pois consegue fugir, fazendo com que haja perseguição por parte da polícia, da vítima ou de qualquer pessoa do povo. c) Flagrante impróprio refere-se ao caso em que a polícia se utiliza de um agente provocador, induzindo ou instigando o autor a praticar um determinado delito, para descobrir a real autoridade e materialidade de outro. d) Flagrante próprio constitui-se na situação do agente que, logo depois, da prática do crime, embora não tenha sido perseguido, é encontrado portando instrumentos, armas, objetos ou papéis que demonstrem, por presunção, ser ele o autor da infração. e) Flagrante esperado é a hipótese viável de autorizar a prisão em flagrante e a constituição válida do crime. Não há agente provocador, mas simplesmente chega à polícia a notícia de que um crime será cometido, deslocando agentes para o local, aguardando-se a ocorrência do delito, para realizara prisão. GABARITO: 5.1) D; 5.2) B; 5.3) D; 5.4) E. 5