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Fase Única: Perspectivas do Novo Solvente. Single Phase: New Solvent Perspectives. Este artigo foi escrito por N.M. Rodrigo Leygue-Alba. Ph.D. CEO, do Núcleo de Bioprocessos e Biotecnologia, NUBITECH. Caxias do Sul, RS, Brasil. 2020. Fase Única: Perspectivas do Novo Solvente. I.-Histórico. II.-Critérios na concepção da Fase Única II.1. Diagramas de Gibbs-Roozeboon. II. 2. O pH e o pHfu medidas de Acidez em Água e FU. II.-3. Comportamento da complexação de íons metálicos em Fase Únicas III.- Epilogo Resumo O sistema homogêneo de três solventes, um deles água, dois imiscíveis, e um totalmente miscível em ambos, formam, em proporções adequadas, uma fase homogênea, definida como Fase Única. Ao ser quebrado o equilíbrio homogêneo do sistema, pela adição de excesso do componente aquoso separa-se em duas fases permitindo uma extração em duas fases. Além de estudar-se como um sistema alternativo a extração convencional de duas fases, também se apreciou outras aplicações especialmente nos estudos das interações soluto/solvente. Abstract The homogeneous system of three solvents, one of them water, two immiscible, and one totally miscible in both, forms, in appropriate proportions, a homogeneous phase, defined as Single Phase. When the homogeneous equilibrium of the system is broken, by the addition of excess of the aqueous component, it is separated into two phases allowing an extraction in two phases. In addition to studying as an alternative system to conventional two-phase extraction, other applications were also appreciated, especially in the study of solute / solvent interactions. I.- Histórico. Embora se tenham passado algumas décadas desde que o Prof. Dr. Jose Walter Martins, catedrático do Instituto de Química da UNICAMP, Brasil. Idealizou uma nova técnica extrativa por solventes, aplicando a Fase Única (FU). Hoje, podemos afirmar que, estas experiências adquiriram importância científica na interpretação das interações soluto/solvente, nos estudos de cinética molecular, nas extrações liq./liq. e outras áreas da fisioquímica. São muitos os avanços científicos transformadores que vem de situações serendípicas reveladas pela observação aprimorada e sensível do autor. Foi assim, também, quando o Prof. Martins, trabalhando na separação de complexos organometálicos por extração convencional de duas fases, na sua rotina de laboratório, tinha que condicionar os solventes orgânicos, num recipiente, para sua posterior destilação e reciclagem, observou que às vezes, quando era adicionado álcool ou acetona, na mistura de duas fases, a mesma se tornava uma fase. Contudo, o importante era que as cores dos complexos, quase emulsionados, mantinham-se igual numa única fase. Observando isto, e por dedução achou que esta única fase ao ser quebrada, pela adição de um excesso de água, permitia a possibilidade de o complexo ser desfeito. Entretanto, isto não aconteceu e ao contrario o complexo colorido, metal-ligante, se solubilizou na fase orgânica como se tivesse sido extraído pela técnica convencional. Os questionamentos surgiram, “ipso facto”, seria que o complexo metal orgânico formado em meio aquoso e posteriormente transferido ao solvente da fase orgânica, seria o mesmo? A eficiência de processo permitiria também separar o complexo seletivamente e de forma quantitativa? Enfim, foram muitas as questões levantadas, inclusive, tinham-se confirmações, pela revisão bibliográfica da época, que nada tinha sido descrito sobre este fenômeno ou algo semelhante. Na resposta a algumas das questões levantadas o Prof. Martins, realizou sua Tese Doutoral, “Extração Liquido-Liquido por Fase Única: Estudo de Separação do Sistema Fe-Cu-Co com Tenoiltrifluoracetona e Água-Acetona-Ciclohexano (ou Benzeno)”. /1/ Neste estudo, implantaram-se as bases para a conceptualização diferenciada que descreveu os fenômenos particulares, da FU, em analogia com a extração convencional. Desta forma se iniciaram mais de uma dezena de estudos exploratórios sobre a FU. Vários foram realizados na formação acadêmica de seus autores, teses de mestrado doutorado, consolidando a FU como nova metodologia separativa em fase líquida /6,7,8,9,10,11,12,13,14,15,16,17,18,19,20/. Entretanto, alguns esclarecimentos deveriam ser necessários, como por exemplo, o pH, que é um parâmetro imprescindível a escala de acidez relacionada com o equilíbrio do solvente água. Na solução FU, foi necessário estudar em detalhe para torná-lo um indicativo dimensional semelhante para solução FU. Também, nestes estudos, foram descritos muitos comportamentos singulares que não foram apreciados nas extrações convencionais de duas fases. Provavelmente o sistema FU como metodologia separativa líquida, tenha sido conhecido de forma restrita nos centros científicos do Brasil. Porém, porque estes estudos originais não foram publicados em revistas internacionais? Como é de praxe na vida acadêmica. Após minha indagação ao Prof. Martins, numa confidencia especial ele diz: Quando percebi que o tema de FU era um assunto original e que, de certa forma, ainda não requeria uma infraestrutura laboratorial de alto investimento, achei que era o melhor tema para a formação cientifica, pois, se tinha um desafio de encontrar práticas laboratoriais que consolidem um conhecimento. Isto, sem dúvida, era inovador na formação de massa crítica que é fundamental para o desenvolvimento de um país. Um desprendimento altruísta para a relação científica nos países do terceiro mundo. A química, em termos históricos, foi considerada como orgânica e inorgânica. Orgânica em relação a vida e inorgânica em relação as rochas, embora estes conceitos tenham mudado muito a partir dos estudos dos complexos organo-metálicos. A FU vem ao encontro desta nova visão, pois possibilita pesquisas num ambiente onde a solubilidade dos compostos não está induzida a comportamentos estremos, de polar ou não polar, mais permite um ambiente intermediário, sugerido como sendo um meio “semipolar” /1/. Este meio se dá na formação do complexo metal/ligante em FU, e também após sua separação na ruptura do meio homogêneo em duas fases. II.- Critérios na Concepção da Fase Única II.1. Diagramas de Gibbs-Roozeboon. Por definição/1/ “Uma solução líquida ternaria numa só fase líquida composta de uma solução aquosa, um solvente orgânico imiscível na água e um terceiro solvente orgânico mutuamente solúvel na água e no primeiro solvente orgânico, é uma Fase Única.” Inicialmente a técnica separativa de FU foi dirigida para ser aplicada em processos analíticos extrativos de forma comparativa com a extração convencional de duas fases. Contudo, uma das linhas de pesquisa que surgiram foi interpretar respeito a formação do composto a ser extraído. No sistema convencional, ele se forma no meio aquoso, e é transferido para a fase orgânica. A solubilidade, do composto muda de uma alta polaridade (água) a uma menor do solvente orgânico. Na FU, sua formação, se dá num meio intermediário, pela presença conjunta dos três componentes, após isto, o equilíbrio da única fase é quebrado pela adição de um excesso de água permitindo a formação de duas fases finais. Assim o complexo é extraído pelo solvente orgânico, se a sua molecularidade permite uma solvolise do tipo semipolar. Além disto, se ele tiver um arranjo estrutural polarizável ele ficará retido no meio aquoso. O componente que é miscível na água e no solvente orgânico é denominado consoluto, suas propriedades físico químicas são diferenciadas, o mesmo, situa-se entre a alta polaridade da água e a não polaridade do componente orgânico. Os Diagramas deGibbs-Roozeboon/2/ explicitam a forma de compor um sistema FU. Utilizam-se diagramas triangulares equiláteros, em cujos vértices indicam o componente puro, 100%. E no lado oposto, representa o 0%. Para definir as proporções dos componentes que formam uma FU, utiliza-se a técnica do ponto de opalescência. Que é o limite interfacial entre uma e duas fases. Experimentalmente, encontra-se titulando quantidades variáveis de uma mistura dos componentes totalmente miscíveis, geralmente o solvente orgânico e o consoluto, em quantidades variáveis e se titula com água. As percentagens dos três componentes são os pontos de opalescência pelos que passa a linha binodal. Para familiarizar-nos melhor com os diagramas ternários referidos, podemos encontrar hoje, na rede virtual, uma ampla bibliografia descritiva/3,4/ que permite entender, didaticamente, sua construção e interpretação. Como exemplo de análise, no gráfico seguinte mostra-se um sistema de três componentes etilenoglicol/água /furfural. O etilenoglicol comporta-se como o consoluto, pela sua miscibilidade com água e furfural. Neste caso, pode-se apreciar que não existe uma solubilidade total entre água e furfural, indicado pela posição já que a linha binodal não atinge os vértices, na linha inferior. Assim, a linha das composições dos pontos de opalescência, de separação interfases, define a composição limite de separação de fases, determinando as duas regiões de uma e duas fases. Para melhor compreensão apresenta-se a seguir um diagrama de Gibbs- Roozeboon, onde se detalha alguns conceitos. Na linha binodal AB entre 2 e 3, ou curva limite de opalescência, se define um ponto P. chamado de ponto crítico, este ponto e determinado experimentalmente, sendo constituído pela mesma concentração do consoluto em ambas fases. A partir deste ponto qualquer outro, como o ponto R, separa-se em duas fases, uma enriquecida no componente 2 e a outra no componente 3. Ou seja, o ponto R se projeta em dois pontos C e D, que são as duas fases enriquecidas em componentes 2 e 3. Na figura, as linhas secantes “Tie- Line” (linhas de amarração) tem uma inclinação complementar a linha tangente projetada do ponto P, que se extrapolada fora do triangulo coincide e converge num ponto externo “Tie- Point” do qual podem ser projetadas todas as linhas que sejam requeridas para encontrar uma composição dos componentes nas duas fases. A visão destes sistemas nos estudos físico químicos foi dirigida, na sua maior parte, a analisar fenômenos relacionados com combustíveis, /7/ com sistemas de cristalização, etc. porém no caso da FU, J.W.Martins /1/ direciona esta nova visão, relacionando-a com a interação soluto/solvente, importante nos estudos de conformação molecular. A originalidade das ideias do Dr. Martins foi compreender que a cinética de formação dos complexos extraíveis em FU tinha um comportamento especial em relação das interações soluto/solvente. O que permitiria uma separação seletiva e de maior sensibilidade analítica. /1/. II. 2. O pH e o pHfu medidas de Acidez em Água e FU. A medida da acidez em meio aquoso é determinada pela escala de pH, e tem relação direta com a constante de dissociação da água. Assim a sua escala é de 0 a 14, isto não é restrito e existem valores analíticos comparativos de concentração de [H+] maiores que ó 0 da escala. Em termos analíticos o pH = 0; equivale a uma concentração de 1.0 M. em HCl. Pois, trata-se de um ácido monoprótico que possibilita definir uma escala complementar para soluções concentradas de alta acidez. A escala de acidez em FU teve que ser estudada antes de qualquer experiência laboratorial. Como a FU é uma mistura de dois solventes orgânicos e água, a constante de equilíbrio, da água, varia em função das quantidades de cada componente constitutivo da FU. Ou seja, para cada ponto de FU de um sistema deveria se definir uma escala de pH. Contudo, a medida do pH, conceitualmente, indica a existência de um próton com afinidade química, que mesmo solvolizado, tem capacidade de neutralização de íons ou “resíduos” de carga negativa. No caso da água é simples porque apenas se analisa [H+] e [OH-], porém, nos solventes orgânicos podem ser neutralizadas várias espécies diferentes, inclusive do próprio solvente, como aninas, carboxilas e outros. Entretanto, não seria necessário saber a concentração exata dos prótons laveis o importante estava, em analisar que na adição de uma base o valor eletrométrico, indicado pelos eléctrodos, aumente, e se diminui concentração de ácidos na FU o valor eletrométrico diminuía. Na experiência das titulações ácido/base em diferentes composições de FU, os resultados apontavam os mesmos formatos de experiências potenciométricas em meio aquoso. /1/. Desta forma, mesmo que os valores não fossem comparativos, o seu comportamento indicava que sim, poderia utilizar-se estes valores potenciométricos como escalas particulares de um pHfu. Indicando-se, sempre, as proporções de cada componente da FU. II.-3. Comportamento da complexação de íons metálicos em Fase Únicas A complexação dos íons metálicos em FU foi importante, pois demostraram a consistência dos sistemas de FU como, novos e diferenciados, solventes. Inicialmente, foi estudada a complexação de Fe com TTA em FU /1/ avaliando três parâmetros o pHfu, a densidade ótica (absorbância) e o porcentual de extração, comparativamente com a extração convencional do complexo em relação ao pH. Como mostrado na figura seguinte. Embora, não seja possível comparar a dimensão das medidas de pH, com pHfu. Pode-se apreciar na escala de pHfu uma faixa de cinco unidades de variação, o que permite, experimentalmente, estudos da cinética de formação do complexo metal/ligante, analisando com maior sensibilidade a variação da acides. Noutro caso, presentou-se um comportamento interessante na formação do complexo Fe-TTA em FU, o complexante TTA é pouco solúvel na água e na extração convencional ele está solúvel na fase orgânica. A complexidade nos estudos cinéticos para analisar o tipo solvatação sobre cada composto que intervém na reação, pode ser simplificado, pois, na FU o íon metálico e o complexante são solubilizados na mesma fase. Martins J.W. /1/demostra que a concentração do complexante pode ser diminuída até 4.5 de uma relação molar, mesmo com porcentagem de extração superiores a 90 %. Khopkar e De. /5/ Em estudos de extração convencional demostro que a relação molar deveria ser superior a 300 para se ter extrações acima de 90 %, o que significa concentração do TTA superior a 0.15 M. as tabelas seguintes mostram os dados comparativos em ambas metodologias. O incremento da afinidade para formar o complexo Fe-TTA em FU nos faz sugerir que posa ser devido à esfera de solvatação do Fe que em meio aquoso fica impedindo a formação do complexo Fe/TTA, pois o TTA está na fase orgânica, isto na extração convencional, ao contrário, na FU, conformadas na mistura dos três solventes induziriam uma conformação mais adequada no meio, quer dizer, uma semipolaridade que facilita a interação metal- ligante. Seguindo a linha anterior, foram realizados outros estudos, como o da formação do complexo “Azul de Molibdênio”, seguindo uma análise cinética na sua formação. O Ácido Silícico e Molibdato de Sódio, em meio ácido e presença de um redutor forte, como o Cloreto Estanoso, em meio aquoso, se forma um complexo azul, que pela sua sensibilidade é aplicado como metodologia analítica para determinação do Molibdênio por colorimétrica. A sua velocidade de formação, em meio aquoso, é quase instantânea, o que dificulta um estudo para propor um mecanismo de reação. Numa FU constituída de ÁlcoolIsoamílico, Etanol e Água a reação do Azul de Molibdênio, acontece sem o agente redutor, pois a própria FU, atua como um redutor e permite que a cinética da mesma seja suficientemente vagarosa tornando possíveis as medidas colorimétricas que identificam sua formação. As medidas colorimétricas foram realizadas em 670 nm. de comprimento de onda (λ), identificando-se cada etapa da formação pela variação das cores, que mudam de amarelo a verde e azul, aumentando a absorbância nesse comprimento de onda (λ). /6/. Esta é uma propriedade impar no comportamento dos solventes. III.- Epílogo. Apresentou-se neste trabalho, o início de um abrangente campo científico onde a FU poderá exercer importância em temas de pesquisa relacionados com a química analítica e principalmente com estudos sobre as interações soluto/solvente. A farta bibliografia das teses acadêmicas elencadas como referencias, mostra também inúmeras possibilidades que hoje poderiam ser resgatadas, pois as limitações inerentes, na época dos estudos, especialmente, na parte de tratamento de dados multivariados, hoje estão superadas pela informática de alto desempenho. Com este primeiro trabalho, publicado num portal científico de alta divulgação, temos como objetivo abrir uma alternativa, um meio, que seja uma ancora para publicar diversos estudos, que pela sua inovação e originalidade, saem do escopo da convencional linha acadêmica. Acreditamos que muitas inovações que venham a surgir serão uma base solida para a nova visão cientifica e tecnológica do século XXI. Finalmente, a homenagem ao prof. Dr. Jose Walter Martins, que na sua sabedoria, tinha muito claro que um tema original de ciência era o melhor instrumento para formar uma massa crítica cientifica, numa simplicidade longe dos holofotes brilhantes da ciência comercial. Bibliografia. 1.- MARTINS, J.W; Extração liquido-liquido por Fase Única. Estudo da separação no sistema Fe-Cu-Co com tenoiltriflouroacetona e agua – acetona – Ciclohexano (benzeno). Tese doutoramento Instituto de Química Unicamp.1974. 2.- ISAURA M.L. la Torre Aguilera, Días D, Cuellar L. Pérez V. 2016 Diagramas Ternarios. https://www.youtube.com/watch?v=yPt7q-drkc4 3.- MARTINEZ M. Diagrama de fase ternaria: Sistema de três líquidos. 2018. https://www.youtube.com/watch?v=YZAUGhqgG2M 4.-MARTINEZ VILLEGAS N. V. Diagramas Triangulares https://www.youtube.com/watch?v=-1UysPda7DE 5.- KHOPEKAR e De; Rapid Extraction of Iron(III) with 2- Thenoyltrifluoroacetone. Direct Colorimetric Determinationim Organic Phase . Anal. Chim. Acta. 22: 223-228,1960. 6.- LEYGUE-ALBA; N.M.R, Comerlato;M.H. Caraterísticas Redutoras de uma Fase Única Constituída por Álcool Amílico-Etanol-Água. 35° SBPC.44-D.2.1;1983. 7.- OLIVEIRA DE ALMEIDA A.L: Diagrama de Fases do Sistema, Nonilfenol Etoxilado/Solução de Glicerina/Diesel. Tese Mestrado,Centro de Tecnologia.UFRGN, 2017. 8.- SILVA, Jose da. Extração liquido-liquido por fase única de Fe,Cu e estudo de sinergismo para CO,Ni,Zn e U: sistema agua-acetona-bezeno com tenoiltrifluoroacetona e fosfato de Tri-n-Butila. 1978. [246] f. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Quimica, Campinas, SP. Disponível em: http://www.repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/250655. 1978 9.- SERON, Lucia Helena. 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