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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARA CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS CURSO DE GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL O suicídio altruísta: o que motiva alguém a se matar? Aluna: Victoria Albuquerque Queiroz Matricula: 1538130 Professor: Ubiracy de Souza Braga Fortaleza – Ceará 2020 Émile Durkheim em 1897, na frança escreve um livro titulado "o suicídio" o livro aborda três tipos de suicídio: o altruísta, o egoísta e o anômico. Sendo ambos os três influenciados diretamente pela sociedade da qual o indivíduo está inserido, tal sociedade funciona como fator determinante em relação ao seu comportamento, modo de se vestir, modo de se expressar e até mesmo o ponto de vista ideológico. O suicídio ocorre quando existe uma " falha " de conexão entre o indivíduo e a sociedade ao ponto de ser considerada irreparável para o mesmo e a única atitude possível para "reparar " o erro é acabando com a própria vida. Dentre os motivos que levam alguém a cometer tal ato variam bastante, no caso do altruísta segundo a Emilie Durkheim em seu objeto e método, pag.113: se o homem se mata, não é porque ele se arroga o direito de fazê-lo, mas o que é bem diferente, porque ele se sente no dever de fazê-lo. Se faltar a essa obrigação, ele é punido pela desonra e, mais freqüentemente, por castigos religiosos. [...] A questão da honra é o que há de mais importante, sem ela existe uma falha de conexão com a sociedade. A fim de "reparar" a falha o indivíduo tira a própria vida com o intuito de preservar a honra de alguém, seja dele mesmo, de um grupo de pessoas, de uma figura afetiva ou representativa, por uma "causa maior", é algo visto como uma "prova de amor". Sobre o suicídio egoísta é algo totalmente contrario ao altruísta, segundo a Emilie Durkheim em seu objeto e método, pag.114: chamamos de egoísmo o estado em que se encontra o ego quando ele vive sua vida pessoal e não obedece senão a ele próprio[...] o indivíduo não vê sentido em continuar na sociedade pois não consegue se ajustar a ela. Sentimentos de melancolia e raiva estão presentes na mente de forma intensa, resultando em um estado de individualismo constante o que causa a falha de conexão do indivíduo com a sociedade onde o destino final seria o suicídio. Por fim o suicídio anômico segundo a Emilie Durkheim em seu objeto e método, pag.117: Com efeito, no caso de desastres econômicos, produz-se uma espécie de desorganização que lança bruscamente certos indivíduos numa situação inferior á que eles ocupavam até então. A possibilidade de ser inferior é tido como algo a ser evitado a todo custo. A vergonha e o medo da desaprovação tornam desesperado o indivíduo que está alienado pela posse, seja de uma empresa, de um bem material ou de uma posse ideológica. A partir de uma mudança brusca na sociedade, o estado de caos prevalece, causando a desconexão do indivíduo com a sociedade, a partir desse estado de consciência a saída mais rápida seria tirar a própria vida. Dos três tipos acima apresentados o altruísta popularmente falando é o mais "maquiado" pela sociedade. Este é o único dos três a qual a sociedade aceita em um tempo menor e com mais facilidade, isto se dá pela justificativa da preservação da honra e da valorização do legado que é dado ao falecido e também em casos de abandono ou exclusão de algo ou alguém. A perca de conexão da sociedade com o indivíduo ocorre muitas vezes de uma hora para outra. O nacionalismo excessivo e o idealismo radical presentes na forma de alienação na sociedade são fatores instáveis podendo se tornar facilmente causas determinantes para os casos de suicídio altruísta. "Ou ficar a Pátria livre Ou morrer pelo Brasil!"- Hino da independência brasileira. A paixão pela pátria é alimentada pelo sentimento de pertencer a algo, a uma nação. Sentir-se em unidade com a sociedade é saudável até certo ponto, pois se o nacionalismo continuar crescendo de forma idealista, poderá se tornar até mesmo um fascismo. Um exemplo de tal fato seria o caso dos trezentos espartanos contra os dez mil persas na batalha de termopólias, a chance de alcançar a vitória era impossível dadas às circunstâncias, mesmo assim os soldados cheios de orgulho, preferiam morrer a desistir ou fugir. Se por acaso eles o fizessem seriam totalmente rejeitados pela sociedade espartana, seriam julgados como covardes e sem honra, a vida não seria mais suportável e a sociedade espartana teria o seu legado manchado, não seria lembrada como uma grande nação de um povo unido. Morrer como um herói seria um privilégio, seria a forma correta de registrar na história o quão lendário o exército espartano era. O sentimento de unidade era tão presente que a decisão unânime de morrer era romantizada. Outro fato importante a ser lembrado é o exemplo do fascismo alemão, o nazismo. Após a derrota do império alemão em 1945 e a ocorrência de um suicídio considerado anônimo da parte de Hitler, uma onda suicídios altruístas de líderes, generais e pessoas que apoiavam a figura pública de Hitler aconteceu como uma forma de apoio a causa. No caso de Hitler o discurso altamente elaborado como forma de manipulação se encaixa perfeitamente em um conceito de psicologia chamado "racionalização"; um mecanismo de defesa do ego que justifica ações cruéis como a agressão, tortura e assassinato em defesa de um bem maior que seria neste caso, a ordem política e a honra da nação que precisam ser defendidas a todo custo e os sacrifícios pelo caminho são necessários para que isso ocorra (BOCK,2001). A partir desta idéia a vida passa a ser banalizada, a única vida que realmente possui o real valor é a do líder principal, se esse reforço for retirado o indivíduo não se mantêm de pé. O sentido de permanecer em sociedade acaba e a conexão que era fundamentada pelo líder não existe mais, logo o indivíduo também não deverá existir, ocasionando assim um suicídio altruísta. A situação a qual estes fatos históricos foram submetidos, ou seja, o nacionalismo e idealismo radicais estão presentes até hoje no mundo, a sociedade impõe um padrão de valores que deve ser seguido e honrado a todo custo, quem discordar disso é imediatamente excluído da sociedade, é como se ele não existisse, a conexão com a sociedade é perdida e o indivíduo não se encaixa mais nela, a situação é a de abandono da sociedade o que leva a outra face do suicídio altruísta. Ter um cônjuge faz parte das metas a serem alcançadas pelas pessoas, tanto por conta de suas próprias necessidades afetivas, tanto por conta da cultura imposta pela sociedade. Essa cultura influencia diretamente no estilo de vida do casal e a condição a qual os dois são expostos. No caso da mulher, a qual é de fato um ser mais sensível e afetado de forma diferente pela sociedade em relação ao homem, o suicídio é mais provável da parte dela caso a figura do companheiro se extinguir do meio a qual ela pertence, pois o sentimento de abandono e solidão é um gatilho para a perca de conexão com a sociedade. O propósito de viver ao lado de um só homem pela vida toda, formar uma família ideal, envelhecer juntos, realização de sonhos e metas em casal e etc. é perdido, portanto não resta para a mulher outro propósito de vida ser alcançado por que não foi ensinado a ela, o seu dia-dia é totalmente diferente já que ela não vive mais pelo marido, a sociedade passa a ver a mulher viúva ou abandonada de forma diferente da qual ela está acostumada resultando assim em um caso de suicídio altruísta. Um exemplo de suicídio altruísta que envolve os dois gêneros seria o romance de William Shakespeare titulado Romeu e Julieta onde na cena final Julieta põe em prática seu plano de tomar uma substância que a faria parecer estar morta aos olhos das pessoas, para que assimtivesse a possibilidade de fugir sem preocupações com Romeu, porém a tentativa de avisar do plano a Romeu é fracassada e o mesmo toma para si a idéia de que Julieta está de fato morta. Desesperado pela perca da companheira, o jovem Romeu, aos pés do local onde Julieta "repousava", toma um frasco de veneno e morre, enquanto a mesma, após passado o efeito da substância, encontra Romeu sem vida e tomando o seu punhal comete o suicídio para permanecer "ao seu lado". No caso citado acima, inicialmente foi Romeu que perdeu o propósito de sua vida que seria uma vida conjugal com Julieta cometendo suicídio, porém, se tal situação fosse invertida e o plano de tomar a substância fosse de Romeu e a jovem Julieta não tivesse sido informada resultando assim na situação de perca do companheiro, a mesma teria cometido suicídio na mesma hora, tanto que, na versão original após ver que Romeu teria morrido e o seu esforço para ficar junto do mesmo teria sido em vão, ela se matou. Portanto, nenhum dos dois via propósito sem um ao outro resultando em um suicídio altruísta da parte dos dois. O exemplo literário acima também se aplica aos dias de hoje, não da mesma forma, mas com os mesmos princípios, perder alguém pode levar ao suicídio altruísta. Como diz o famoso filósofo Aristóteles: "Felicidade é ter algo que fazer, ter algo que amar e algo que esperar... ". Buscar a felicidade em alguém é involuntário do ser humano, você é feliz quando mantêm sua mente "ocupada" em algo que lhe dar prazer, isso se torna parte do seu dia-dia. O problema vem quando isso se torna uma dependência perigosa. O último caso a ser citado seria o de pessoas idosas que se encontram em um estado precário de saúde. A rotina do idoso muda, toda atenção é voltada para ele, preocupações e ansiedades viram estados comuns para entes próximos além de que na maioria dos casos, muito dinheiro é investido no tratamento o que causa uma sensação de estar incomodando as outras pessoas ao seu redor e que, na perspectiva do idoso ele acredita que já viveu o bastante, teria chegado a sua hora de morrer e que não precisaria mais ser gasto tanto dinheiro ou ser o foco de preocupações e ansiedades e assim o idoso iria parar de incomodar os outros. A necessidade de deixar um legado é evidente neste caso, o idoso quer deixar a mensagem de "missão cumprida" de que passou seus preciosos ensinamentos para a próxima geração. Se por acaso o idoso já tiver netos e bisnetos, a possibilidade do suicídio acontecer é muito maior visto que ele já viu realizar o sonho de poder agregar o seu conhecimento aos membros da família. Se for o caso de doenças mais sérias e que causam mais sofrimento e dor ao idoso como câncer, doenças pulmonares a qual é preciso aparelhos de respiração, ou doenças que também precisam de cuidados especiais, já comuns em idosos como o diabetes e a pressão alta. Com tanto sofrimento o idoso não vê motivos pelo qual deve viver. Existem também casos a qual os cuidados com o idoso são negligenciados, e em alguns casos o idoso é abandonado. Segundo ao estatuto do idoso: Art. 98. Abandonar o idoso em hospitais, casas de saúde, entidades de longa permanência, ou congêneres, ou não prover suas necessidades básicas, quando obrigado por lei ou mandado: Pena – detenção de 6 (seis) meses a 3 (três) anos e multa. Mesmo sendo crime, situações assim são comuns, o que praticamente obriga o idoso a tentar suicídio. Em todos os exemplos citados acima, a pessoa que se enquadra na terceira idade se encontra saturada da sociedade, e ao ver todas as circunstâncias e situações do momento, ele decide por fim cometer suicídio altruísta. A partir das idéias citadas ao longo deste artigo deve-se concluir que os governos de cada país em parceria com o conselho federal de serviço social dos mesmos devem tomar medidas de acompanhamento desses casos que muitas vezes são negligenciados pelos setores públicos. Deve-se prestar um apoio psicológico gratuito em cada região de forma com que seja acessível para as famílias, tal apoio deve ser administrado por assistentes sociais que farão um acompanhamento direto para com os usuários. REFERÊNCIAS: Emile Durkheim, objeto e método cap.11: suicídio altruísta BOCK, Ana. Psicologias uma introdução ao estudo de psicologia. 13° edição reformulada e ampliada-1999, São Paulo, 3° triagem 2001. <https://www.letras.mus.br/evaristo-ferreira-da-veiga/716500/> <https://citacoes.in/autores/aristoteles/> <https://jus.com.br/duvidas/199452/crime-de-abandono-de-idoso/> <https://www.todamateria.com.br/romeu-e-julieta/> <https://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia/batalha-de-termopilas-a-verdadeira-historia -dos-300-de-esparta.htm>
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