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Análise e relação do filme O enigma de Kaspar Hauser e suas repercussões com base nas teorias de Vigotsky

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Análise e relação do filme O enigma de Kaspar Hauser e a obra Uma introdução à história de 
Victor de Aveyron e suas repercussões com base nas teorias de Vigotsky. 
 
 Apesar de quase todos os seres humanos terem se desenvolvido cognitivamente ao 
longo de suas vidas, a forma na qual esse desenvolvimento se sucede sempre despertou a 
curiosidade de algumas pessoas. Para responder esse questionamento algumas teorias sobre o 
desenvolvimento humano foram ponderadas, como a de Lev S. Vigotsky. Sua hipótese, apesar 
de interacionista, tem uma abordagem socioconstrutivista que credita a construção do homem 
ao ambiente no qual ele vive. Ao considerar que o ser humano se desenvolve em um ambiente 
social - e que este também está exposto a mudanças históricas - o homem deixa de ser um ser 
meramente biológico e se torna ativo, social e histórico. 
 A teoria de Vigotsky é sustentada por três pilares: 
 1) As funções psicológicas possuem um suporte biológico, ou seja, apesar de não 
atribuir a genética o desenvolvimento de uma pessoa, o psicólogo afirma que para pensar e 
raciocinar é necessário que exista uma estrutura cerebral que permita esse pensamento. 
 2) O funcionamento psicológico de um indivíduo se desenvolve a partir das relações 
entre ele e o mundo externo. 
 3) A relação entre homem e mundo é mediada por símbolos – instrumentos que 
possibilitam uma apreensão melhor da realidade. Um exemplo desses símbolos é a linguagem. 
 Dois personagens podem ser utilizados para dar veracidade aos principais pontos 
dessa tese, em primeiro lugar Kaspar Hauser. Hauser é protagonista do filme O enigma de 
Kaspar Hauser que conta a história de um rapaz que ao passar boa parte da sua vida em um 
porão não teve acesso algum a sociedade. Não sabia falar e sequer andar. Seu único 
relacionamento era com um homem adulto que o alimentava e vestia. Até que um dia, esse 
mesmo senhor, ao segurar as mãos de Kaspar, o ensina a escrever o próprio nome. Em 
seguida, instrui o rapaz – que até então não emitia nada além de grunhidos – a repetir uma 
frase “Eu quero ser um cavaleiro, como o meu pai era”. Após adotar os ensinamentos, ele é 
carregado pelo senhor até a cidade e posteriormente abandonado com uma carta na mão. A 
mercê da sociedade e por não saber se comunicar, o menino desperta a curiosidade da 
população e é tratado como um animal exótico; O segundo personagem a ser analisado, mas 
dessa vez verídico, é Victor de Aveyron. Um menino selvagem e aparentemente surdo-mudo 
encontrado na França por volta de 1800. Suas histórias de vida comprovam vários 
fundamentos da teoria de Vigotsky: 
 Os meninos, apesar de terem um aparelho vocal apto para se comunicar, não 
desenvolveram essa capacidade sozinhos. Hauser precisou escutar as pessoas da cidade 
conversando e soletrando sílabas para ele, para que refletisse e percebesse que também 
possuía a habilidade de emitir sons. Victor, ao contrário, apesar de também emitir grunhidos 
semelhantes ao de um bicho selvagem, mesmo após ser “resgatado” não adquiriu a 
capacidade de falar, uma vez que, mesmo na civilização acabou sendo isolado. Ao levarem o 
garoto para estudar no Instituto Nacional de Surdos-Mudos o impediram de ouvir as conversas 
alheias e posteriormente, aprender a falar também. Visto que escutar a língua é parte 
fundamental para o aprendizado dela. 
 Ainda que andar sobre dois pés seja uma habilidade biológica, possibilitada pela 
estrutural corporal humana, Kaspar e Victor não sabiam andar. Enquanto o primeiro mal 
conseguia permanecer em pé, o segundo se locomovia à galopes ou de quatro, como um 
animal (provavelmente capacidade adquirida após observar um). Porém, ao longo de suas 
interações com a sociedade, ambos conseguiram adquirir essa habilidade. 
 Logo no início do filme, Kaspar Hauser é acolhido por uma família que lhe serve o 
jantar, no entanto, ao ser colocado na mesa de frente com um prato e uma colher, o menino 
simplesmente não soube como manusear e segurar o talher. Biologicamente suas mãos 
sofreram uma evolução para que fosse permitido esse “gesto de pinça” com os dedos, no 
entanto, enquanto não foi demonstrado na prática e colocado em suas mãos o objeto, o rapaz 
não desenvolveu a capacidade de segurar. Portanto, é possível concluir que apenas a parte 
genética de um indivíduo não é responsável pelo seu desenvolvimento, mas que ele precisa 
interagir com o meio para que isso ocorra. 
 Para Vigotsky, o desenvolvimento se dá através de uma passagem do pensamento 
elementar para o pensamento superior. No pensamento elementar, a pessoa, geralmente uma 
criança, é conduzida a realizar algumas ações, sem questionar ou pensar a respeito, ela 
simplesmente faz por ser uma “ordem”. No filme, apesar de Kaspar não ser uma criança, ele 
não passou pelas fases de desenvolvimento e ainda possui uma heteronomia muito grande 
que é representada na cena em que as autoridades da cidade o encaminham para que ele 
“trabalhe” e ganhe dinheiro como atração de circo. Sem contrariar, o garoto permanece 
parado enquanto todos se divertem as suas custas. Já o pensamento superior é composto por 
comportamentos intencionais, ou seja, quando a pessoa realmente se direciona a determinada 
atividade. Um exemplo é a cena onde Kaspar planta algumas sementes de uma forma que, 
quando crescessem, formassem o seu nome com as folhas. 
 Além disso, o processo de desenvolvimento da relação do indivíduo com o meio é 
mediado por pessoas (normalmente adultos) ou pelo próprio objeto. Ao ser apresentado a 
uma vela acesa, Hauser fica encantado e tenta diversas vezes tocar a chama, mas ao conseguir 
acaba se queimando e chorando para expressar sua dor. A partir de então, o menino entende 
que ao tocar o fogo ele pode se queimar e que isso irá machucar, logo, na ausência de um 
adulto que alertasse sobre como a chama era perigosa, o próprio fogo acabou por ensiná-lo 
através da experiência. 
 Ao contrário de Victor de Aveyron que passou praticamente toda sua vida isolado e 
veio a falecer sem grandes avanços cognitivos, Kaspar Hauser, ao se comunicar e conhecer 
diversas pessoas criou zonas de desenvolvimento proximal – elos entre ele (individuo) e o 
conhecimento - e isso fez com que aprendesse enquanto os observava. Para Vigotsky, essa 
zona é fundamental para que aja desenvolvimento e aprendizagem, uma vez que, tê-la é peça 
fundamental para construir uma zona de desenvolvimento real (manifestação das capacidades 
atuais, mesmo que auxiliadas por um adulto) e, consequentemente, uma zona de 
desenvolvimento potencial (formada por capacidades que podem ser adquiridas ao longo do 
tempo). Ao ouvir um homem tocar piano, Kaspar fica emocionado e triste por ainda não saber 
tocar tão bem e se manifesta dizendo “Por que não consigo tocar piano igual respiro?”, porém, 
com o passar dos anos ele sai da zona real, onde mal sabia tocar, e desenvolve seu potencial, 
quando finalmente aprende a tocar bem. 
 A passagem de Kaspar de um ser meramente biológico, inicialmente preso em um 
calabouço sem entender sua real condição, que mal conseguia andar, emitir sons e refletir 
representa a teoria de Lev S. Vigotsky, uma vez que, ao ter contato com a sociedade e ser 
adotado por um “guardião” inglês, aprende a fazer tudo que antes possuía dificuldade, desde 
conversar e correr até questionar o conceito de religião e qual a função das mulheres na 
sociedade: “Para que servem as mulheres? (...) Só servem para ficarem sentadas? E por que 
só lhes permitem cozinhar e fazer crochê?”. Kaspar traduz em um personagem tudo o que a 
tese de Vigotsky defende: as pessoas nascem seres vivos e se tornam seres humanos.

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