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Filosofando (4)

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46 
Contorno de mão na gruta de Pegada do astronauta Neil 
Pech-Merle, França. Era Paleolítica, Armstrong na chegada do 
cerca de 15 mil anos atrás. homem à Lua, em 1969. 
A primeira imagem é de uma impressão da pahna da mão, 
encontrada na gruta de Pech-Merle, na França, provavehnente 
de 15 mil anos atrás. A segunda, de 1969, é a pegada de Neil 
Annstrong, um dos três astronautas que chegaram pela primeira 
vez à Lua. 
Dê um titulo que relacione as duas imagens. 
o Para começar 
Conta-se que por volta de 1920 foram encontradas na Índia duas meninas 
que teriam crescido entre lobos. Essas crianças não possuíam quaisquer das 
características humanas: não choravam, não riam e, sobretudo, não faiavam. 
Seu processo de humanização só teve início quando passaram a participar do 
convivio humano. 
Um fato notável, porém, ocorreu nos Estados Unidos com Helen Keller 
(1880-1968), nascida cega e surda e que portanto não aprendera a falar. Desse 
modo, permaneceu praticamente exduída do processo de humanização até 
a idade de 7 anos, quando seus pais contrataram a professora Anne Sullivan. 
Essa mulher admirável conduziu Helen ao mundo humano das significa­
ções, de início pelo sentido do tato. Começou por dedilhar sinais nas mãos 
da menina, relacionando-os com os objetos, sem saber de início se a criança 
percebia a relação entre sinal e coisas. Até que 
um dia, ao bombearem a água de um poço, Helen 
deu o passo definitivo na direção da linguagem. 
Em sua autobiografia, ela relata: 
... minha professora colocou minha mão sob 
o jorro. À medida que o fluxo gelado escorria 
em minha mão, ela soletrou na outra a palavra 
água, primeiro devagarzinho e depois mais 
depressa. Fiquei quieta; toda a minha atenção 
concentrava-se no movimento de seus dedos. 
De repente senti uma nebulosa consciência de 
algo como que esquecido - uma impressão de 
retorno do pensamento; e de alguma forma o 
mistério da linguagem me foi revelado. Soube 
então que á-g-u-a significava a maravilhosa coisa 
fria que deslizava pela minha mão. [.. . ] Saí do 
poço ansiosa por aprender. Tudo tinha um nome, 
e cada nome dava origem a um novo pensClmento. 
Ao voltarmos para casa , todo objeto que eu 
tocava parecia vibrar, cheio de vida. Isso se dava 
porque eu via tudo com a nova e estranha visão 
que se me apresentara .1 
No mesmo dia Helen associou inúmeras outras 
"palavras" com objetos. Depois, com o tempo, apren­
deu a falar, a ler e a escrever. Tornou-se uma escri­
tora e conferencista conhecida mundialmente. 
Esses relatos nos propõem uma pergunta ini­
cial: seria a linguagem o elemento que caracteriza 
fundamentalmente a cultura humana e que distin­
gue o ser humano do animal? 
fJ Ocomportamento animal 
Muitas vezes nos surpreendemos com as 
semelhanças entre os humanos e os animais, 
principalmente com aqueles que se encon­
tram nos níveis mais altos da escala zoológica 
de desenvolvimento, como macacos e cães. Tal 
como eles, temos inteligência, demonstramos 
amor e ódio, sentimos prazer, dor e sofrimento, 
expressamos alegria, tristeza e desejos, além de 
tantas outras características comuns que des­
cobrimos no convívio com os animais. Por isso 
mesmo, indagamos: "Será que meu cachorro 
pensa?". E se pensa, em que o "pensamento" dele 
se distingue do meu? 
.. A ação por instinto 
Se os animais superiores são inteligentes, o 
mesmo não acontece com os animais que se situam 
nos níveis mais baixos da escal.a zoológica - tais 
como os insetos -, porque eles agem principal­
mente por reflexos e instintos. 
A ação instintiva é regida por leis biológicas, idên­
ticas na espécie e invariáveis de indivíduo para indi­
víduo. A rigidez do instinto dá a ilusão de perfeição, 
já que o animal executa certos atos com extrema 
habilidade. Não há quem não tenha observado com 
atenção e pasmo o "trabalho" paciente da aranha 
tecendo a teia. Todavia, esses atos não se renovam ­
não têm história -, portanto, permanecem os mes­
mos ao longo do tempo, salvo no que se refere às 
modificações decorrentes da evolução das espécies 
e das mutações genéticas. Ainda que ocorram essas 
alterações, elas continuam valendo para os descen­
dentes, por transmissão hereditária. 
A vespa "fabrica" a célula onde deposita 
o ovo; junto dele coloca insetos, dos quais 
a larva, ao nascer, irá se alimentar. Se 
retirarmos os insetos e o ovo, mesmo assim 
a vespa dará prosseguimento às etapas 
seguintes, até o fechamento adequado da 
célula, ainda que vazia. Esse com,portamento 
é "cego" porque não leva em conta a 
finalidade da "fabricação" da célula, ou seja. 
a preservação do ovo e da futura larva. 
Instinto. Do latim instinctu5 : impulso ou inclinação. 
Comportamento inato (que nasce com o indivíduo) 
e que lindepende das circunstâncias e do controle 
racional da vontade. 
Citado em: SAGAI'IJ, Car!. Os dragões do Éden:especulações sobre a evolução da inteligência humana. 
Rio de Janeiro: Francisco Alves. 1980. p. 90. 
Natureza e cultura Capítulo 4 
I 
Os atos instintivos ignoram a finalidade da pró­
pria ação. Em contrapartida, o ato humano volun­
tário é consciente da finalidade, isto é, o ato existe 
antes como pensamento, como possibilidade, e a 
execução resulta da escolha de meios necessários 
para atingir os fins propostos. Quando há interfe­
rências externas no processo, os planos são modifi­
cados para se adequarem à nova situação. 
• 	O uso da inteligência 
Ao contrário da rigidez dos reflexos e dos instin ­
tos, a inteligência dá uma resposta ao problema ou 
à situação nova de maneira improvisada e criativa. 
Esse tipo de comportamento é compartilhado por 
seres humanos e animais superiores. 
Experiências interessantes foram realizadas pelo 
psicólogo gestaltista Wolfgang Kéihler, quando ins­
talou nas Ilhas Canárias uma colônia de chimpan­
zés, na década de 1910. Em um dos experimentos, o 
animal faminto não conseguia alcançar as bananas 
penduradas no alto da jaula. Depois de um tempo, 
o chimpanzé resolveu o problema ao puxar um cai­
xote para alcançar a fruta. Segundo Kéihler, a solu­
ção encontrada pelo chimpanzé não foi imediata, 
mas ocorreu no momento em que o animal teve 
um in sigát. A visão global lhe permitiu estabelecer 
a relação entre o caixote e a fruta: esses dois elemen­
tos, antes separados e independentes, passaram a 
fazer parte de uma totalidade. 
Na ilustração, um 
exemplo de percepção 
global, em que 
vemos ora a figura 
de um saxofonista, 
ora o rosto de 
uma mulher. 
Trata-se de uma 
figura ambigua, 
com a qual os 
gestaltistas mostram 
não haver puro 
estimulo sensorial, 
porque nossa percepção 
já é orientada por um 
conhecimento anterior. 
A inteligência distingue-se do instinto pela fle­
xibilidade, pois as respostas variam de acordo com 
a situação e também de animal para animal. Tanto 
que Sultão, um dos chimpanzés mais inteligentes 
no experimento de Kéihler, foi o único a realizar a 
proeza de encaixar um bambu em outro para alcan ­
çar o alimento colocado mais alto. 
Portanto, os comportamentos descritos não se 
comparam à resposta instintiva, de simples reflexo, 
por tratar-se de atos de inteligência, de invenção. 
• 	A linguagem, limiar do humano 
Os animais também têm um certo tipo de lin­
guagem. Por exemplo, por meio de uma dança 
as abelhas indicam umas às outras onde acha­
ram pólen. Ninguém pode negar que o cachorro 
expressa emoção por sons que nos permitem iden ­
tificar medo, dor, prazer. Quando abana o rabo ou 
rosna, entendemos o que isso significa; e quando 
lhe dizemos "vamos passear", ele nos aguarda ale ­
gremente junto à porta. 
No exemplo das abelhas, estamos diante de uma 
linguagem programada biologicamente, idêntica 
em todos os indivíduos da espécie. No segundo 
exemplo, o cão rosna por instinto, mas entende seu 
dono pela inteligência, mediante aprendizagem por 
reflexo condicionado. 
Seria mesmo apenas isso? Para entender a lin­
guagem animal, foram feitos diversos experimentos 
com animais superiores, como chimpanzés. 
Na década de 1960, o casal de psicólogosRobert e 
Beatrice Gardner, sabendo que o chimpanzé não fala 
porque não dispõe de aparelho fonador adequado à 
reprodução da linguagem oral, recorreu à lingua­
gem de sinais dos deficientes auditivos. Realizaram 
então a façanha de ensinar de 100 a 200 expressões 
à chimpanzé Washoe, que foi capaz de formar frases 
com sujeito e predicado para pedir água, comida ou 
brinquedo. 
No entanto, mesmo que identifiquemos nas res­
postas dadas pelos animais associações semelhantes 
Inteligência. De modo amplo, capacidade de reso lver 
problemas práticos de maneira flexível e eficaz. No 
sentido estr itamente huma no, ca pacidade de solucio­
na r problemas pelo pensa mento abstrato (rac iocín io, 
simbolização). 
Gestaltista. Seguidor da Gestalt (em alemão, "figura ", 
"forma "), teoria ta mbém conhecida como Psicologia 
da Forma. 
Insight. Em inglês, "visão intern a". Para os psicólogos 
da Gestal t , é o conhecimento que deriva de " ilumina­
ção súbita ", "estalo", "visão global". 
Un idade 2 Antropologia filosófica 
às realizadas por humanos, trata-se de uma lingua­
gem rudimentar, que não alcança o nível de elabo­
ração simbólica de que somos capazes. Portanto, 
a linguagem hwnana é um divisor de águas entre a 
natureza humana e a dos animais. Somos seres que 
falam, e a palavra encontra-se no limiar do uni­
verso humano, como veremos no próximo capítulo, 
"Linguagem e pensamento'. 
o agir humano: a cultura 
A linguagem humana intervém como forma abs­
trata que nos distancia da experiência vivida e nos 
permite reorganizá-la em outro contexto, dando-lhe 
novo sentido. É pela palavra que nos situamos no 
tempo, para lembrar o que ocorreu no passado e 
antecipar o futuro pelo pensamento. Se a lingua­
gem, por meio da representação simbólica e abs­
trata, permite que nos distanciemos do mundo, 
também é ela que nos possibilita o retorno para agir 
sobre ele e transformá-lo. 
O mundo que resulta do pensar e do agir huma­
nos não pode ser chamado de natural. pois se 
encontra modificado e ampliado por nós. Portanto, 
as diferenças entre ser humano e animal não são 
apenas de grau, porque, enquanto o animal perma­
nece mergulhado na natureza, nós somos capazes 
de transformá-la em cultura. 
++ 
PARA SABER MAIS 
O que é cultura 
A palavra cultura tem vários significados, como 
cultura da terra ou cultura de uma pessoa letrada, 
"culta". Em antropologia, cultura significa tudo o 
que o ser humano produz ao construir sua existên­
cia : as práticas, as teorias, as instituições, os valores 
materiais e espirituais. Se o contato com o mundo 
é intermediado pelo símbolo, a cultura é o conjunto 
de símbolos elaborados por um povo. 
Dada a infinita possibilidade humana de sim­
bolizar, as culturas são múltiplas. Variam as for­
mas de pensar, de agir, de valorar; são diferentes as 
expressões artísticas e os modos de interpretação 
do mundo, tais como o mito, o senso comum, a fIlo­
sofia ou a ciência. Vale lembrar que a ação cultural 
é coletiva, por ser exercida como tarefa social, pela 
qual a palavra toma sentido pelo diálogo. 
.. Tradi9ão e ruptura 
O mundo cultural é um sistema de significados 
já estabelecidos por outros, de modo que, ao nas­
cer, a criança encontra-se diante de valores já dados. 
A língua que aprende, a maneira de se alimentar, o jeito 
de se sentar, andar, correr, brincar, o tom da voz nas 
conversas, as relações familiares; tudo, enfim, se acha 
codificado. Até na emoção, que nos parece wna mani­
festação tão espontânea, ficamos à mercê de regras 
que educam a nossa expressão desde a infância. 
PARA REFLETIR 
Pode-se falar em "nu natural"? Toda pessoa encon­
tra-se envolta em panos e portanto em interdições, 
pelas quais ê levada a ocultar sua nudez em nome 
de valores (sexuais, amorosos, estéticos) que lhe 
são ensinados. Portanto, o corpo humano nunca ê 
apresentado como mera anatomia. Discuta com seu 
colega como variam, conforme o tempo e o lugar, as 
regras sobre o cobrir-se e o desnudar-se. 
Todas as diferenças existentes no comporta­
mento modelado em sociedade resultam da maneira 
pela qual nela foram organizadas as relações entre 
os indivíduos. É por meio delas que se estabelecem 
os valores e as regras de conduta que norteiam a 
construção da vida social, econômica e política. 
Colcando. Renê Magritte, '953. 
Observe com um colega a tela de Magritte, 
pintor belga representante do surrealismo. 
Discutam o que lhes sugere essa "chuva" de 
homenzinhos de chapéu-coco iguais caindo 
sobre a cidade. O titulo da obra, Golconda, 
refere-se a uma cidade indiana em ruinas 
conhecida por seus tesouros, o que nos faz 
pensar que o titulo contrasta com o possivel 
tema da tela (quem sabe não se trata de uma 
ironia do pintor?) . 
Identifique um trecho do capitulo estudado 
até aqui que confirme a interpretação 
proposta por vocês. 
Naturexa e cultura Capftu lo 4 
Como fica. então. a individualidade diante do 11 Uma nova sociedade? 
peso da herança social? Haveria sempre o risco de 
o individuo perder sua liberdade e autenticidade? 
Martin Heidegger. filósofo alemão contemporâneo. 
alerta para o que chama de mundo do "se". pronome 
reflexivo que equivale ao impessoal agente. Veste-se. 
come-se. pensa-se, não como cada um gostaria de se 
vestir. comer ou pensar. mas como a maioria o faz. 
Será que esses sistemas de controle da sociedade 
aprisionam o individuo numa rede sem saída? 
Entretanto. assim como a massificação decorre 
da aceitação sem crítica de valores impostos pelo 
grupo social, também é verdade que a vida autên­
tica nasce na sociedade e a partir dela. Justamente 
aí encontramos o paradoxo de nossa existência 
social. 
PARA REFLETIR 
Um ermitão pode seconsiderarverdadeiramente soli­
tário? Na verdade, seu afastamento revela, em cada 
ato seu, a negação e, porta nto, a consciência e a lem­
bra nça da sociedade rejeitada. Seus valores, erguidos 
contra os da sociedade, se situam também a partir 
dela. Nesse caso, perguntamos: a recusa de se comu­
nicar não seria ainda um modo de comunicação? 
Se o processo de humanização se faz por meio 
das relações pessoais. será dos impasses e confron­
tos surgidos nessas relações que a consciência de si 
poderá emergir lentamente. O importante é manter 
viva a contradição fecunda de polos que se opõem, 
mas não se separam. Ou seja, ao mesmo tempo 
que nos reconhecemos como seres sociais. também 
somos pessoas. temos uma individualidade que nos 
distingue dos demais. 
Ainda que em todos os tempos e lugares sempre 
tenham ocorrido mudanças, as chamadas socieda­
des tradicionais fixavam hábitos mais duradouros 
que ordenavam a vida de maneira padronizada. 
com estilos de comportamento resistentes a alte­
rações, sempre introduzidas de maneira gradativa. 
No entanto. a partir dos anos de 1960 nota-se uma 
mudança de Jjaradigma.. porque os parâmetros que 
vinham orientando nosso modo de pensar. valorar e 
agir desde o Renascimento e a Idade Moderna come­
çaram a entrar em crise no final do século XIX, ace­
lerando-se muito rapidamente na segunda metade 
do século passado. 
.. A sociedade da informa~ão 
A formidável revolução da informática já se 
faz sentir na cultura contemporânea. Voltando 
no tempo. imaginemos a mudança de paradigma 
que representou. na Grécia Antiga, a introdução 
do alfabeto fonético. E no Renascimento. o que 
significou a democratização do saber pela inven­
ção dos tipos móveis. engenho que deu início à 
era da imprensa. Na contemporaneidade. os tex­
tos que circulavam nos livros. revistas e jornais 
se integraram às imagens e aos sons. primeiro 
pelo cinema e pela televisão. depois por todos os 
canais que as recentes descobertas tecnológicas 
tornaram disponíveis no campo da automação. 
robótica e microeletrônica. 
') Paradigma. Modelo, padrão; conjunto de teorias, 
técnicas, valores de uma determinada época que, 
de tempos em tempos, entram em crise. r 
Marc ChagaU. pintor russo de nascimento. viveu em 
Paris. onde sofreu influência do cubismo. do fauvismo e 
do simbolismo. Mas nunca seesqueceu da infância na 
aldeia em que nasceu. como mostra essa tela. Observe que 
duas diagonais dividem o quadro em partes antagônicas: à 
esquerda o animal e à direita o homem; acima o casal de 
camponeses e suas casas. abaixo a natureza vegetal. Em 
ambas as oposições a presença humana entrelaça-se com 
a natureza na expressão da cultura. 
Interprete a tela usando conceitos estudados até aqui. 
Eu e a aldeia. Marc ChagaI!, '9". 
Unidade 2 Antropologia filosófica 
Estamos vivendo a era da sociedade da informa­
ção e do conhecimento, que tem transformado de 
maneira radical todos os setores de nossas vidas. A 
influência da mídia e da informática acelerou o pro­
cesso de globalização, a partir de uma rede de comu­
nicação que nos coloca em contato com qualquer 
pessoa ou grupo em todos os lugares do planeta. 
Observe, por exemplo, a rapidez de comunicação 
que representaram o rádio, o telégrafo, a televisão, 
em comparação com os computadores pessoais, que 
hoje são janelas para o mundo. Possibilitam troca de 
arquivos, acesso a bancos de dados internacionais, 
divulgação de pesquisas, correio eletrônico e discus­
são em tempo real de temas os mais variados. 
Aparelhos eletrônicos cada vez menores não ces­
sam de ser inventados, desde celulares com inúme­
ros recursos além da função original, até as mais 
novas invenções, como o aparelho de mp3, que sur­
gem a cada momento e nos surpreendem por suas 
múltiplas possibilidades. 
As grandes transformações que tiveram início no 
final dos anos 1960 e meados da década de 1970 cria­
ram, entre outras inovações, uma nova estrutura social 
dominante: a sociedade em rede. Segundo o sociólogo 
Manuel Castells,2 uma sociedade em rede é um con­
jlll1to de nós interconectados que podem ser dos mais 
variados tipos. Por exemplo: rede de fluxos financei­
ros globais, de produção e distribuição de drogas, de 
gangues de rua, de sistemas de comunicação ou trans­
porte, de estúdios de entretenimento e tantas outras. 
Consequentemente, o impacto das novas mídias 
também se reflete nos nossos valores e crenças, a 
uma velocidade que não se compara a nenhuma 
outra época. O desafio dos novos tempos é ser 
capaz de selecionar a informação e refletir sobre 
seu significado. 
Nessa perspectiva, interprete a tira de Bob Thaves 
a seguü. 
PARA REFLETIR 
Em um país em que o analfabetismo ainda apre­
senta índices elevados, em plena era da informa­
ção, é grande o número de pessoas que não tem 
acesso aos computadores, "os anal'fabetos digitais". 
Discuta com seus colegas esse tema. 
D A cultura como construção 
humana 
Por mais que adestremos os animais superio­
res e os façamos se aproximar de comportamentos 
semelhantes aos humanos, eles jamais conseguüão 
transpor o limite que separa a natureza da cultura. 
Esse limiar encontra-se na linguagem simbólica, na 
ação criativa e intencional, na imaginação capaz de 
efetuar transformações inesperadas. 
A cultura é, portanto, um processo que caracteriza 
o ser humano como ser de mutação, de projeto, que 
se faz à medida que transcende, que ultrapassa a pró­
pria experiência. Quando o filósofo francês contem­
porâneo Georges Gusdorf - retomando de Heidegger 
e Sartre citação similar - diz que "o homem não é o 
que é, mas é o que não ê', não faz um simples jogo 
de palavras. Quer mostrar que o ser humano não se 
define por um modelo ou uma essência nem é apenas 
o que as circunstâncias fizeram dele. Define-se pelo 
lançar-se no futuro, antecipando, por meio de proje­
tos, sua ação consciente sobre o mundo. 
É evidente que essa condição de certo modo fra­
giliza o ser humano, pois não se encontra, como os 
animais, em harmonia com a natureza. Ao mesmo 
tempo, o que seria mera fragilidade transforma-se 
justamente em sua força, a característica humana 
mais nobre: a capacidade de produzir sua própria 
história e de se tornar sujeito de seus atos. 
PA~AM~ PA 'ERA PA INF~MAÇÃO' 
./ PA'U. A ''''U. PO 
E'XC"~ P" 
INFOR:MAÇÃO' 
la
§i
;j .. 
~i'
HTira de Frank ir & Ernest, de 
~ 8 80b Thaves, 
,, 3 
p publicada em 
'f-I} O Estado de S. 
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!~~e.!!!!:~~rJ~~~~~ID Paulo, em 2008. 
o que a tira nos diz sobre a informação na era em que estamos vivendo? 
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. v. I. 5. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2001. p. 498. 
(Série A Era da Informação: economia, sociedade e cultura). 
Natureza e cultura 
Leitura com menta 
Dos canibais 
"Durante muito tempo tive a meu lado um homem 
que permanecera dez ou doze anos nessa parte do Novo 
Mundo descoberto neste século, no lugar em que tomou 
pé Villegaignon e a que deu o nome de 'França Antártica'. 
Essa descoberta de um imenso país parece de grande 
alcance e presta-se a sérias reflexões. [...] 
Não vejo nada de bárbaro ou selvagem no que dizem 
daqueles povos; e, na verdade, cada qual considera bárbaro 
o que não se pratica em sua terra. E é natural, porque só 
podemos julgar da verdade eda razão de ser das coisas pelo 
exemplo e pela ideia dos usos e costumes do país em que 
vivemos. Neste a religião é sempre a melhor, a administra­
ção excelente, e tudo o mais perfeito. A essa gente chama­
mos selvagens como denominamos selvagens os frutos que 
a natureza produz sem intervenção do homem. [...] 
Ninguém concebeu jamais uma simpliôdade natural 
elevada atal grau, nem ninguém jamais acreditou pudesse 
a sociedade subsistir com tão poucos artifícios. Éum país 
[...] onde não há comércio de qualquer natureza, nem lite­
ratura, nem matemáticas; onde não existe hierarquia polí­
tica, nem domesticidade, nem ricos e pobres. Contratos, 
sucessão, partilhas aí são desconhecidos; em matéria de 
trabalho só sabem da ociosidade; o respeito aos parentes 
é o mesmo que dedicam a todos; o vestuário, a agricul­
tura, o trabalho dos metais aí se ignoram; não usam vinho 
nem trigo; as próprias palavras que exprimem a mentira, 
a traição, a dissimulação, a avareza, a inveja, a calúnia, o 
perdão, só excepcionalmente se ouvem . [ ...] 
Esses povos guerreiam os que se encontram além das 
montanhas, na terra firme. Fazem-no inteiramente nus, 
tendo como armas apenas seus arcos e suas espadas de 
madeira, pontiagudas como nossas lanças. E é admirável 
a resolução com que agem nesses combates que sempre 
QUEM~1 
Michel Eyquem de Montaigne 
(1533-1592), human ista efi lósofofran­
cês, é conhecido por seu Ensaios,que 
escreveu na primeira pessoa, refle­
tindo sobre os mais diversos assun­
tos do cotidiano, o que representou 
uma inovação na literatura filosófica. Michel de 
Sua postura cética o leva a denunciar Montaigne. Autor 
com agudeza e ironia os costumes do descon hecido, 
seutempo,a hipocrisiaeassupersti- século XVI. 
ções. Em um período de sangrentas 
lutas religiosas,critica os fanatismos que geram violência. 
No texto refere-se à "França Antártica", colônia francesa 
que Villegagnon instalou na Ilha de Guanabara. de 1555 
a 1567. até ser expulso pelos portugueses. 
Leitura complementar Unidade 2 
terminam com efusão de sangue e mortes, pois ignoram a 
fuga e o medo. Como troféu, traz cada qual acabeça do ini­
migo trucidado, a qual penduram à entrada de suas resi­
dências. Quanto aos prisioneiros, guardam-nos durante 
algum tempo, tratando-os bem e fornecendo-lhes tudo 
de que precisam até o dia em que resolvem acabar com 
eles. Aquele a quem pertence o prisioneiro convoca todos 
os seus amigos. No momento propício, amarra a um dos 
braços da vítima uma corda cuja outra extremidade ele 
segura nas mãos, o mesmo fazendo com o outro braço 
que fica entregue a seu melhor amigo, de modo a manter 
o condenado afastado de alguns passos e i ncapaz de rea­
ção. Isso feito, ambos o moem de bordoadas às vistas da 
assistência, assando-o em seguida, comendo-o e presen­
teando os amigos ausentes com pedaços da vítima. Não o 
fazem entretanto para se alimentarem, como o faziam os 
antigos citas, mas sim em sinal de vingança. [ ...] 
Não me parece excessivo julgar bárbaros tais atos de cruel­
dade, masque o fato de condenartais defeitos nãonos leve à 
cegueira acerca dos nossos. Estimo queé mais bárbaro comer 
um homem vivo do que o comer depois de morto; e é pior 
esquartejar um homem entre suplícios etormentos e o quei­
mar aos poucos, ou entregá-lo a cães e porcos, a pretexto de 
devoção e fé, como não somente o lemos mas vimos ocorrer 
entre vizinhos nossos conterrâneos; e isso em verdade é bem 
mais grave do que assar e comer um homem previamente 
executado. [.. . ] Podemos portanto qualificar esses povos 
como bárbaros em dando apenas ouvidos à inteligência, 
mas nunca se os compararmos a nós mesmos, que os exce­
demos em toda sorte de barbaridades." 
MONTAIGNE. Ensaios. São Paulo : Abril Cultural, 1972. p. 104-107. 
(Coleção Os Pensadores). 
Cita. Habitante da Cítia, região da Ásia Central. 
>Questão 
Comente as três frases extraídas do texto de Montaigne 
transpondo-as para os dias de hoje, a fim de indicar sua 
atualidade. 
a) "L .. ] cada qual considera bárbaro o que não se pratica 
em sua terra." 
b) "[...] que o fato de condenar tais defeitos não nos leve 
à cegueira acerca dos nossos." 
c) "Podemos portanto qualificar esses povos como bárba­
ros em dando apenas ouvidos à inteligência, mas nunca 
se os compararmos a nós mesmos, que os excedemos 
em toda sorte de barbaridades."

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