Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 PROJETO ACÚSTICO DE UMA SALA DE CONCERTOS Anna Laura Beneduzi Dalmolin¹, Natália Volken Lutz², Petra Schmidt³, Tailine Luísa Schuster⁴ 1 Resumo: A contribuição deste estudo é avaliar e melhorar o condicionamento e desempenho acústico de uma sala de concertos através da escolha de materiais que apresentam coeficiente de absorção desejável para que o resultado final do projeto seja positivo e atenda às expectativas propostas. Neste estudo, o tempo de reverberação será definido para a frequência de 500 Hz. Palavras-chave: Tempo de reverberação; Desempenho e condicionamento acústico; NBR 15.575; NBR 12.179. 1 INTRODUÇÃO De acordo com estudos publicados pela OMS - Organização Mundial de Saúde, a poluição sonora é extremamente prejudicial à saúde dos seres humanos, sendo responsável por causas distúrbios do sono, estresses, conflitos, irritabilidade através da liberação de cortisol e adrenalina (hormônios). Desta forma, os materiais empregados e medidas construtivas devem contribuir de forma positiva com o desempenho e condicionamento acústico das edificações, neste caso, com a sala de concertos. Assim, deve-se analisar do que é constituída a fachada do local, bem como materiais das cadeiras/poltronas, revestimento de piso e paredes e entre outros. (BORGES, 2013). Segundo a NBR 12179 (ABNT, 1992), o termo “reverberação” é designado como o período de tempo, expresso em unidades de segundo, que o som deixa de existir, ou seja, que não possa mais ser ouvido. Ainda, é definido como “tempo necessário para que o som sofra um decréscimo de intensidade de 60 dB”. ¹Acadêmica em Engenharia Civil pela Universidade do Vale do Taquari- UNIVATES de Lajeado- RS. anna.beneduzi@universo.univates.br ²Acadêmica em Engenharia Civil pela Universidade do Vale do Taquari- UNIVATES de Lajeado- RS. natalia.lutz@universo.univates.br ³Acadêmica em Engenharia Civil pela Universidade do Vale do Taquari- UNIVATES de Lajeado- RS. petra.schmidt@universo.univates.br ⁴Acadêmica em Engenharia Civil pela Universidade do Vale do Taquari- UNIVATES de Lajeado- RS. tailine.schuster@universo.univates.br mailto:anna.beneduzi@universo.univates.br 2 Ainda, de acordo com Serrano (2018), em relação ao cumprimento dos requisitos de desempenho acústico, os profissionais como arquitetos, engenheiros e outros técnicos com mão-de-obra especializada devem estar atentos à manutenção das condições especificadas no projeto e pelos fabricantes, a fim de garantir que vazamentos de ruídos indesejados não aconteçam. Devem haver ensaios em laboratório das soluções e materiais escolhidos, controle e fiscalização dos parâmetros da execução, qualidade e treinamento constante da mão-de-obra envolvida. De acordo com o dito acima, o presente estudo de projeto prevê um tratamento acústico para uma sala de concertos, visando as exigências das normas brasileiras para que o mesmo possa atender com satisfação o conforto auditivo das pessoas que ali estarão futuramente. 2 METODOLOGIA O presente estudo analisou, primeiramente, o volume da edificação, neste caso, a sala de concertos, com este dado foi possível determinar o Tempo de Reverberação, utilizando a Tabela de tempo ótimo de reverberação (FIGURA 1) que, conforme a NBR 12179 (ABNT, 1992), é o “tempo necessário para que um som deixe de ser ouvido após a extinção da fonte sonora”, este tempo é expresso em segundos e é o tempo necessário para que som sofra um decréscimo de intensidade de 60 dB. Figura 1 - Tabela de tempo ótimo de reverberação. Fonte: ABNT NBR 12179/1992. 3 Para determinar qual o tempo de reverberação, deve-se observar alguns fatores, sendo eles o volume do ambiente e a área de absorção, que leva em conta as superfícies com as quais o som entra em contato e seus respectivos coeficientes, sendo calculado pela seguinte equação: Onde: ● TR = tempo de reverberação do ambiente estudado em [s]; ● V é o volume do recinto [m³]; ● A é a absorção total [sabines métricos]. A área de absorção total é a soma das áreas das superfícies do ambiente que multiplicam seus respectivos coeficientes, através da fórmula: Onde: ● S é a área das superfícies da sala [m²]; ● α o coeficiente de absorção sonora [adimensional]. Foram calculados o tempo de reverberação considerando a sala totalmente ocupada, 80% ocupada e 60% ocupada. Após encontrar o tempo de reverberação inicial de cada situação observou-se que este não se enquadra no tempo de reverberação ótimo determinado pela ABNT, portanto foram propostas soluções para corrigir as condições acústicas da sala. 2.1 Dados iniciais da sala de conferência A sala de concertos possui capacidade para receber um público de 122 pessoas, a disposição dos objetos dentro da sala de concertos está representado na Figura 2. 4 Figura 2 - Projeto original da sala de conferência. Fonte: Autoras (2020). A sala de concertos estudada apresenta um volume de 794,01 m³, conforme a Tabela 1, utilizando a Tabela de tempo ótimo de reverberação (FIGURA 1) foi possível determinar o tempo de reverberação e os valores encontrados estão localizados na Tabela 2. Tabela 1 - Dados da sala de concertos. Espaço Área (m²) Pé Direito (m) Volume (m³) Auditório 231,67 3,50 810,85 Palco 33,67 0,50 16,84 Total 794,01 Fonte: Autoras (2020). Tabela 2 - Variações do Tempo de Reverberação permitidas para a sala de concertos. Frequência (hz) TR Mínimo (s) TR Ótimo (s) TR Máximo (s) 500 1,04 1,15 1,26 Fonte: Autoras (2020). 5 Os materiais originalmente utilizados na sala de concertos e suas respectivas áreas estão listadas na Tabela 3. Tabela 3 - Materiais e suas respectivas áreas. Material Comprimento (m) Largura (m) Área (m²) Total (m²) Piso cerâmico 196,58 196,58 Palco de madeira 33,67 33,67 Cadeiras (122 unidades) 0,45 0,45 0,20 24,71 Teto em concreto rebocado e pintado 231,67 231,67 Paredes em alvenaria com reboco liso 156,54 156,54 Janelas com vidro liso 6mm 10,00 3,00 30,00 30,00 Fonte: Autoras (2020). Para determinar a área de absorção total dos materiais, foi necessário identificar, através da NBR 12179 (ABNT, 1992), os coeficientes de absorção acústica, para a frequência de 500 Hz, de cada elemento presente na sala e então multiplicá-los pela área superficial de cada material, conforme demonstra a Tabela 4. Tabela 4 - Total de absorção para frequência de 500 Hz com público lotado. Materiais originais do ambiente Área (m²) α p/ 500 Hz Absorção Parcial Piso cerâmico 196,58 0,01 1,97 Cadeiras de madeira (122 unidades) 24,71 0,05 1,24 Teto em concreto rebocado e pintado 231,67 0,03 6,95 Paredes em alvenaria com reboco liso 156,54 0,02 3,13 Janelas com vidro liso 6mm 30,00 0,18 5,40 Palco de madeira 33,67 0,25 8,42 Público (122 pessoas) 122 0,38 46,36 Absorção Total 73,46 Fonte: Autoras (2020). 6 Posteriormente foi realizado o mesmo cálculo, porém para uma ocupação de 80% do público presente, no qual obtivemos os valores anotados na Tabela 5. Tabela 5 - Total de absorção para frequência de 500 Hz com 80% do público. 80% DE PÚBLICO Materiais originais do ambiente Área (m²) α p/ 500 Hz Absorção Parcial Piso cerâmico 196,58 0,01 1,97 Cadeiras de madeira (122 unidades) 24,71 0,05 1,24 Teto em concreto rebocado e pintado 170,00 0,03 6,95 Paredes em alvenaria com reboco liso 146,00 0,02 3,13 Janelas com vidro liso 6mm 26,01 0,18 5,40 Palco de madeira 33,67 0,25 8,42 Público (80%) 98 0,38 37,24 Absorção Total 64,34 Fonte: Autoras (2020). E por fim calculamos absorção total para 60% do público presente (TABELA 6). Tabela 6 - Total de absorção para frequência de 500 Hz com 60% do público. 60% DE PÚBLICO Materiais originais do ambiente Área (m²) α p/ 500 Hz Absorção ParcialPiso cerâmico 196,58 0,01 1,97 Cadeiras de madeira (122 unidades) 24,71 0,05 1,24 Teto em concreto rebocado e pintado 170,00 0,03 5,10 Paredes em alvenaria com reboco liso 146,00 0,02 2,92 Janelas com vidro liso 6mm 26,01 0,18 4,68 Palco de madeira 33,67 0,25 8,42 Público (60%) 74 0,38 28,12 Absorção Total 52,44 Fonte: Autoras (2020). 7 Para verificar se o tempo de reverberação está adequado foi calculado o valor a área de absorção utilizando o tempo de reverberação ótimo, especificado na Tabela 2, que é igual a TR = 1,15. Após determinar a área de absorção ótima, este resultado foi comparado com a área de absorção de cada porcentagem de público presente, segundo a Tabela 7. Diminui-se então a área de absorção ótima com o valor calculado de cada público, a fim de verificar se o tempo de reverberação atinge o desejado, dentro do tolerável de 10%, para mais ou menos, sendo o TR mínimo e o TR máximo (TABELA 2). Tabela 7 - Diferença entre áreas de absorção ótima e calculada. 100% do público 80% do público 60% do público Tempo de Reverberação Calculado 1,74 1,99 2,44 Área de Absorção Total Calculada 73,46 64,34 52,44 Área de Absorção Ótima 111,16 111,16 111,16 Diferença entre áreas 37,70 46,82 58,72 Fonte: Autoras (2020). Também é possível observar na tabela acima que o tempo de reverberação encontrado é maior que o máximo tolerável de 1,26. Portanto se faz necessário realizar algumas alterações nos materiais presentes na sala de concertos, com o intuito de melhorar o condicionamento acústico da mesma e poder proporcionar o conforto acústico ideal para a atividade desejada na edificação. 2.2 Proposta para melhoria acústica da sala de concertos Para realizar a melhoria acústica da sala de concertos, atendendo as premissas das normas brasileiras vigentes, realizou-se a adequação dos seguintes materiais: tapete de 5 mm de espessura, cadeiras estofadas com couro sintético, madeira compensada de 3 mm, a 50 mm da parede, espaço vazio. 8 Figura 3 - Projeto original da sala de conferência. Fonte: Autoras (2020). Estão representadas nas Tabelas 8, 9 e 10 os materiais inseridos em projeto, bem como os coeficientes de absorção alfa sabines para a frequência de 500 Hz. As tabelas apresentam os valores referentes a total lotação da sala, 80% de lotação e 60% de lotação do público. 9 Tabela 8 - Total de absorção para frequência de 500 Hz com público lotado. PÚBLICO LOTADO Materiais Propostos Área (m²) α p/ 500 Hz Absorção Parcial Tapete de 5 mm de espessura 196,58 0,15 29,49 Cadeira estofada com couro sintético 24,71 0,15 3,71 Teto em concreto rebocado e pintado 231,67 0,03 6,95 Madeira compensada de 3 mm, a 50 mm da parede, espaço vazio 121,54 0,18 21,88 Paredes em alvenaria com reboco liso 35,00 0,02 0,70 Janelas com vidro liso 6mm 30,00 0,18 5,40 Palco de madeira 33,67 0,25 8,42 Público (espaço lotado) 122,00 0,38 46,36 Absorção Total 122,90 Fonte: Autoras (2020). Tabela 9 - Total de absorção para frequência de 500 Hz com 80% do público. 80% DE PÚBLICO Materiais Propostos Área (m²) α p/ 500 Hz Absorção Parcial Tapete de 5 mm de espessura 196,58 0,15 29,49 Cadeira estofada com couro sintético 24,71 0,15 3,71 Teto em concreto rebocado e pintado 231,67 0,03 6,95 Madeira compensada de 3 mm, a 50 mm da parede, espaço vazio 121,54 0,18 21,88 Paredes em alvenaria com reboco liso 35,00 0,02 0,70 Janelas com vidro liso 6mm 30,00 0,18 5,40 Palco de madeira 33,67 0,25 8,42 Público (80%) 98,00 0,38 37,24 Absorção Total 113,78 Fonte: Autoras (2020). 10 Tabela 10 - Total de absorção para frequência de 500 Hz com 60% do público. 60% DE PÚBLICO Materiais Propostos Área (m²) α p/ 500 Hz Absorção Parcial Tapete de 5 mm de espessura 196,58 0,15 29,49 Cadeira estofada com couro sintético 24,71 0,15 3,71 Teto em concreto rebocado e pintado 231,67 0,03 6,95 Madeira compensada de 3 mm, a 50 mm da parede, espaço vazio 121,54 0,18 21,88 Paredes em alvenaria com reboco liso 35,00 0,02 0,70 Janelas com vidro liso 6mm 30,00 0,18 5,40 Palco de madeira 33,67 0,25 8,42 Público (60%) 74,00 0,38 28,12 Absorção Total 104,66 Fonte: Autoras (2020). É possível notar na Tabela 11 que os tempos de reverberação calculados são menores que o máximo tolerável, de 1,26. Assim, para 100% do público presente o valor do tempo de reverberação calculado ficou em 1,04, para 80% do público presente ficou em 1,12 e para 60% do público presente ficou em 1,22. Desta forma, proporcionando o conforto acústico ideal para a realização das atividades na sala de concertos. Tabela 11 - Diferença entre áreas de absorção ótima e calculada. 100% do público 80% do público 60% do público Tempo de Reverberação Calculado 1,04 1,12 1,22 Área de Absorção Total Calculada 122,90 113,78 104,66 Área de Absorção Ótima 111,16 111,16 111,16 Diferença entre áreas -11,74 -2,62 6,50 Fonte: Autoras (2020). 11 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES A proposta de melhoria da sala seguiu duas condicionantes que não podiam ser alteradas, sendo elas a fachada interna de vidro sem cortinas e o forro que só poderia receber revestimento em 15% da área. Foi proposto então a troca do piso cerâmico pelo tapete com 5mm de espessura, as cadeiras de madeira maciça foram substituídas por cadeiras estofadas em couro sintético e foi adicionado painel em madeira compensada de 3mm de espessura a 50mm da parede, sendo este espaço entre o painel e a parede um espaço vazio. Como pode se observar a partir da Tabela 11 em comparação a Tabela 7 foi que com as devidas mudanças foi possível manter o tempo de reverberação entre o limite máximo e mínimo, garantindo que, estando à sala com público máximo ou com 60% do público presente, o conforto acústico é garantido. Ao realizar a escolha dos materiais que seriam substituídos foram observados os coeficientes de absorção sonora, para que fosse possível determinar quais materiais deviam ser trocados. Ao considerar as metragens de cada material presente na sala, optou-se pela melhoria acústica utilizando o tapete com 5mm de espessura, com um coeficiente de absorção de 0,15 para frequência de 500Hz, comparado com o piso cerâmico que apresentava um coeficiente de 0,01. Essa mudança foi a que mais influenciou na melhoria acústica do ambiente, absorvendo 29,49 sabines métricos. A adição do painel em madeira compensada de 3 mm também obteve uma absorção de 21,88 sabines métricos, apresentando um coeficiente de 0,18, contribuindo no conforto acústico da sala. Esses elementos se destacam devido ao seu coeficiente, mas principalmente pela sua área superficial de absorção. Também foram alteradas as cadeiras de madeira por cadeiras estofadas em couro sintético, com seu coeficiente de 0,15, contribuiu não só na melhoria acústica como conforto físico do público. Todas essas mudanças somadas possibilitaram que a sala de concertos pudesse se adaptar e se enquadrar nos quesitos da NBR 12.179. 4 CONCLUSÕES Este estudo evidenciou que através da análise dos diferentes tempos de reverberação dos materiais, podemos fazer adaptações em um ambiente alterando as 12 superfícies dos objetos componentes e atingindo uma melhoria significativa na acústica do concerto, enquadrando os resultados nos parâmetros estipulados pela norma. Através dos resultados encontrados, conseguimos perceber o quanto é importante estudar e analisar o desempenho acústico para encontrar soluções eficazes, e o quanto as adequações influenciam positivamente em um projeto. Também é importante ressaltar que na concepção do projeto é importante saber a finalidade da edificação para incorporaros materiais mais adequados conforme a NBR 12.179. REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12.179: Tratamento acústico em recintos fechados. Rio de Janeiro: ABNT, 1992. _________. NBR 15.575: Edificações Habitacionais – Desempenho. Rio de Janeiro: ABNT, 2013. BORGES, R. M. Análise de desempenho térmico e acústico de unidades habitacionais construídas no conjunto habitacional Benjamin José Cardoso em Viçosa-MG. Minas Gerais, 2013. Dissertação (Magister Scientiae em Engenharia Civil). SERRANO, P. Aplicando a norma de desempenho acústico em edificações. Portal Acústica, 2018. Disponível em:<http://portalacustica.info/norma-de -desempenho- acustica-2//>. Acesso em: 23 Mar. 2020. http://portalacustica.info/norma-de-desempenho-acustica-2/ http://portalacustica.info/norma-de-desempenho-acustica-2/ http://portalacustica.info/norma-de-desempenho-acustica-2/
Compartilhar