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HISTÓRIA DA IGREJA - COMPLETO

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I CAPÍTULO
INTRODUÇÃO
PROPÓSITO DE DEUS COM A IGREJAtc "PROPÓSITO DE DEUS COM A IGREJA"
Com qual objetivo Deus criou o homem, chamou Abraão, 
chamou a você e constituiu sua Igreja? Qual o propósito de 
Deus desenrolado durante todo esse processo revelado entre Gênesis e Apocalipse? Será que o que Deus pretendia era apenas fundar uma Igreja onde os crentes se reunissem para cantar belos hinos ao som de um órgão de tubos num templo com torres, abóbadas, janelas coloridas, onde belos sinos tocam? Qual será então o plano central de Deus? 
Através desta introdução queremos mostrar que o objetivo máximo de Deus é ter o homem em íntima comunhão consigo. Isso é chamado por alguns teólogos como “Restauração”de todas as coisas. Todas as demais coisas apenas cooperam para o plano. De Gênesis a Apocalipse vemos este projeto de Deus em execução. Mas o que Deus quer “Restaurar”?
Lemos em Gn. 1:1-2 sobre a criação do Universo e como ficou a terra após a queda de Lúcifer - fato ocorrido, presumivelmente, entre o espaço de tempo correspondente aos versos 1 e 2 do livro de Gênesis.
É necessário salientar que satanás detinha sob seu domínio um terço dos anjos. Quando ele caiu arrastou consigo aqueles sobre quem dominava, conforme descrito em Apocalipse 12:4 - “...a sua cauda arrasta a terça parte das estrelas do céu...” Como conseqüência da queda Deus o lançou na terra juntamente com seus anjos. Nesse contexto ocorre uma tremenda batalha no céu, um terrível cataclisma com o confronto dos principados celestiais. O céu fica então desequilibrado. O que antes era um todo constituído de três partes perfeitas, agora estaria mantendo-se em dois terços. Os poderes celestiais que refletiam a unidade da trindade tornaram-se agora incompletos; a terra se tornou em caos e os demônios fizeram dela trevas e abismo em oposição ao Espírito de Deus que pairava sobre as águas.
Ficou um vazio que precisava ser preenchido, e o que veremos no decorrer deste estudo é que o propósito de Deus para a sua Igreja está em criar o homem para estar próximo de si, para contê-lo em seu espírito e preencher a lacuna deixada pela queda de satanaz. Estaremos para sempre com Ele. Fomos criados para estar nessa posição. Assim, as Escrituras sagradas e a História da Igreja nada mais são do que um grande romance entre um Deus cheio de amor e um povo adorador conquistado nesse mesmo amor. Lúcifer ministrava na presença de Deus, da mesma forma , Deus levanta então uma estirpe, a Igreja, para este mesmo fim e com tais qualificações.
No texto bíblico a expressão “... a terra era sem forma e vazia...”; é melhor entendida com “...a terra “se tornou sem forma e vazia”. É óbvio que o projeto inicial de Deus para ela não era esse. Tal afirmação é confirmada em Isaías 45:18 - “Porque assim diz o Senhor que criou os céus, o único Deus, que formou a terra, que a fez e a estabeleceu; que não a fez para ser um caos...” Percebe-se que se tornou sem forma e vazia pela presença do diabo e seus anjos aqui, mas não era assim no início. Em meio a esse lugar desforme Deus separa o Éden e no seu centro coloca o homem criado do pó da terra . Em outras palavras o Senhor estaria dizendo ao diabo: “tu tinhas uma posição diante de mim e por causa da maldade do teu coração não guardaste essa posição; estou criando um ser do pó da terra, do lugar onde foste precipitado. Este ser irá voluntariamente me amar e escolher, finalmente será instrumento da tua derrota e tomará para sempre o teu lugar na minha Presença e a tua posição no céu”.
Na criação do gênero humano, Deus fê-lo dotando-o de autoridade a qual lhe foi dada em testemunho que o próprio Deus pronunciou: “Criou, pois, Deus ao homem à sua imagem, à imagem de Deus os criou; homem e mulher os criou.” E Deus os abençoou e lhes disse: “Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai...” (Gênesis 1:27-29). O plano de Deus na criação era que por meio desse homem criado, seu reino fosse implantado. O homem, voluntariamente, buscaria a face do Deus vivo para destruir as obras do diabo. O Éden seria o princípio do manifestar da glória de Deus, que se estenderia por toda a terra. O homem tinha a incumbência de sujeitar, dominar e guardar o jardim.
Todavia o homem não estava só na sua decisão de servir e obedecer ou não a Deus. Mostra-nos a Bíblia que Lúcifer entra em cena com intento destruidor de, junto consigo próprio, arrastar o homem para o estado de rebelião e desobediência. O homem cai, e com a queda perde a autoridade de sujeitar e dominar a terra.
As trevas entram. Aparentemente os planos de Deus se frustram, mas a Bíblia nos mostra o domínio do Senhor sobre a História do homem e a imutabilidade de Sua Palavra. Aparentemente o propósito de dominar a terra tinha sido vencido e destruído, porém, Deus preservou a semente desta visão. Ele guardou isto nos corações dos homens que andaram com Ele. Em Gêneis 12:1-3 vemos Deus falando a Abraão para sair de sua casa e de sua parentela e peregrinar em busca de uma promessa. O objetivo desse chamamento era de cumprir seu plano, no qual Adão havia falhado. O Senhor disse a Abrão: “Sê tu uma bênção... em ti serão benditas todas as famílias da terra.” Isto é, toda a terra seria alcançada, dominada e abençoada.
Deus se compromete com Abraão, e estabelece condições para o cumprimento de suas promessas (ver Gn. 18:18, 19; 17-1). O que Deus prometera à Abraão seus filhos herdaram. Em Gênesis 28:10-17 temos a descrição do encontro de Deus com Jacó. Ele mais que seu avô, entendeu que a glória de Deus encheria toda a terra, e que isso seria através da Casa de Deus (Igreja) - Betel. É a escada que liga o céu a terra, que manifesta a vontade do trono na terra (Mt. 18:18-20). Jacó percebeu os meios que Deus usaria para que seu propósito fosse cumprido, nisso vemos um plano progressivo de Deus.
– Em Abraão: Promessa e aliança
– Jacó: Meios para se cumprir, alargamento da visão
– Moisés: Prática da visão de Jacó - Tabernáculo. O Tabernáculo era um símbolo, uma figura do que Deus, no futuro, faria comigo e consigo. Em nosso espírito humano, o nosso “santo dos santos”, receberíamos o próprio Espírito Divino que lá habitaria e se relacionaria conosco.
Este plano foi integralmente cumprido pela Igreja primitiva. Aquele povo, no poder do Espírito impactou e desestruturou o sistema mundano romano. Entretanto, com o decorrer do tempo a visão do reino perderia gradativamente a força e a Igreja abriria mão da fé e da vida do Espírito trocando esse tesouro pelo poder político, influência e riqueza. A organização e estrutura humana seriam apenas um velho monumento do que antes surgiu como um grande avivamento. Essa fase de escuridão durou até que viesse o tempo da Reforma quando Deus começa a “Restaurar” as verdades mais básicas que haviam perdido a vida. A Igreja do Senhor, encontra-se hoje num período de restauração. Um restaurar dos princípios que regem o coração de Deus, sem os quais sua mão fica tolhida de agir. A Igreja hoje deve dar continuidade ao que Abraão, Isaque e Jacó começaram, e que fora consumado em Jesus, na cruz do Calvário. Em Romanos 8, vemos que a natureza aguarda a manifestação dos filhos de Deus e em Atos 3 que o céu o reterá - Jesus - até o tempo da Restauração de todas as coisas. Assim, vemos o quanto somos privilegiados em ouvir estas coisas e conhecer esse tempo. Aleluia!
A semana de Deus, vivida pelo homem a partir de quando começa sua História em Adão, é dividida em seis dias de 1000 anos. De Adão a Abraão são 2 mil anos; de Abraão a Cristo mais 2 mil anos e do Senhor até nós, mais 2 mil anos. Esse último bloco de 2 milênios é chamado também de “os últimos dias”pelos profetas. Nesse intervalo situa-se a História da Igreja que vamos estudar. O que vamos ver a partir do próximo capítulo é esse tempo maravilhoso estabelecido por Deus, quando o que era reservado apenas para a nação de Israel estendeu-se para todas as nações gentílicas, alcançando a mim e a você. Aleluia!
Veremos que a estrutura da Igreja em células é o odre de Deus paraeste tempo do fim. É o modelo de Igreja que Deus está restaurando para alcançar o perdido. Novamente os homens voltaram a se concentrar nas cidades e não há modelo de Igreja que se “dilua” de modo mais eficaz no meio do povo do que a Igreja em pequenos grupos. Por outro lado postulados ainda do tempo da Reforma - por exemplo, o sacerdócio universal de cada crente - até os dias de hoje não tinham ainda sido colocados em prática, bloqueados pelo ranço clerical. O estilo de Igreja convencional, as Igrejas de Programas, são incapazes de se livrar desse clericalismo paralizante e de acompanhar o rítimo do crescimento das cidades. Estamos entrando num tempo em que Igrejas de 10 mil membros serão Igrejas pequenas. Já não será excessão vermos Igrejas de 50 mil, de 100 mil membros. Assim, a Igreja em células é pequena suficiente para discipular, suprir e envolver o novo crente e grande suficiente para abraçar toda uma cidade.
II CAPÍTULO 
A RICA RAIZ DA VIDEIRA
tc ""
Os Alicerces da Igreja Primitivatc "Os Alicerces da Igreja Primitiva"
Para entender o Corpo de Cristo na Nova Aliança, precisamos 
primeiro entender o trabalho do Espírito Santo no Velho 
Testamento. O dia de Pentecoste precedeu o mover do Espírito de Deus do fim dos tempos, especialmente para incluir os gentios que foram apenas adicionados à nação de Israel e feitos “co-participantes do Corpo” que incluia também os patriarcas e santos de todas as épocas. Em outras palavras, os gentios foram enxertados e vieram participar com Israel de sua rica raiz. A Igreja apostólica de fato está com suas raízes em Abraão, Isaque e Jacó. Eles conheciam a justificação pela fé de Paulo, e Abraão permaneceu como patriarca-cabeça de toda a família de Deus até hoje. Os profetas do Velho Testamento, mesmo sem conhecê-lo, tinham experimentado o espírito de Cristo dentro deles. De fato, todos os dons carismáticos do Espírito Santo no Novo Testamento foram tirados da experiência vivida pelos santos do Velho. Estes santos são vistos pelo autor de Hebreus (Cap. 11) como “maiores”, ou “os que deram bom testemunho”, como parte de uma comunidade na qual eles, sem nós, não poderiam ser aperfeiçoados. Assim, nós gentios, somos apenas a continuidade daquilo que Deus planejara para seu povo Israel.
A visão gloriosa de Paulo da Igreja como o Corpo de muitos membros foi da mesma maneira extraída dos símbolos e experiências dos profetas inspirados do antigo Israel. Moisés viu o Israel de Deus como um homem coletivo. Davi falou do Israel de Deus como que um corpo: “o filho que para ti fortaleceste...” Isaías viu o exaltado Servo sofredor como um homem singular, o Messias, e ainda como um homem coletivo, o verdadeiro Israel de Deus. Daniel também viu a vinda do Filho do Homem, na sua visão do capítulo 7, como um homem coletivo (Igreja).
Em todo o sentido da palavra, a igreja apostólica tem suas raízes na riqueza do Israel de Deus do Velho Testamento. A Igreja pentecostal de Atos foi apenas o brotar no final dos tempos da vinha plantada por Deus em Israel, milênios antes. A Igreja apostólica está profundamente enraizada em Noé, em Abraão, em José, Moisés, Davi, Daniel, Isaías e outros. O mesmo Espírito de Cristo que esteve neles caiu em plenitude, de uma maneira nova, no dia de Pentecoste, no ano 30 AD. A idéia de que a Igreja nasceu no dia de Pentecoste como um reino diferente do Israel de Deus não é coerente com o ensino apostólico do Novo Testamento e deturpa a continuidade do que Deus fez através de toda a velha e nova alianças.
A Preparação Para o Cristianismotc "A Preparação Para o Cristianismo"
Uma das coisas que tornam o estudo de História da Igreja uma inspiração é que este estudo nos convence de que Deus está operando a salvação do gênero humano no mundo em que vivemos. Em parte alguma vemos esta operação divina mais claramente do que na maneira maravilhosa como foi o mundo antigo preparado para a vinda de Jesus Cristo. Ele veio na PLENITUDE DOS TEMPOS, quando todas as coisas tinham sido preparadas pela mão do Pai para isto. O mundo foi trabalhado para que a vinda do Filho tivesse pleno êxito.
Paulo escreveu aos Gálatas que “quando a plenitude do tempo veio, Deus enviou seu Filho”. Nesta simples afirmação “a plenitude do Tempo”, Paulo resumiu longos séculos onde a soberania de Deus esteve presente num mover entre as nações a fim de preparar o mundo para a vinda de Jesus, o Messias.
É interessante notar que a inscrição que estava na cruz de Jesus foi escrita em hebraico, latim e grego. Estas três culturas, preparam o terreno para “vinda messiânica” no primeiro século.
A Contribuição dos Três Povostc "A Contribuição dos Três Povos"
1. Os Hebreustc "1. Os Hebreus"
a. Eram os mordomos da revelação de Deus no Velho 
Testamento.
b. Providenciaram o berço do Cristianismo (Jesus era Judeu 
e todos os primeiros cristãos também o eram).
c. Esperavam ardentemente o Messias que o Cristianismo 
anunciava.
d. Deram ao Cristianismo o Velho Testamento.
e. Sua influência na dispersão. Os Hebreus na sua dispersão 
levaram consigo, a todo lugar, o entendimento de um 
único e verdadeiro Deus: Jeová. Também profundamente 
arraigado estava a espera do Reino do Messias do final 
dos tempos. O Messias que era na verdade a esperança 
de Israel e a Luz dos gentios.
2. Os Gregostc "2. Os Gregos"
a. A cultura grega deu ao mundo conhecido uma língua 
incomparável, rica e que logo se tornou comum a todos. 
Inicialmente, o meio da proclamação apostólica foi a 
escrita (didaquê). O Cristianismo foi pregado e escrito no grego.
b. Os gregos dominavam o pensamento dos povos.
c. Desenvolveram a curiosidade intelectual e o raciocínio 
dos povos. Antes deles não houve nenhum outro povo 
que questionava as coisas. Eles desenvolveram a mente. 
Provaram a futilidade e a inutilidade da alma (as habilidades 
humanas, artes, literatura, filosofia e ciência). Como disse 
certo poeta grego: “Tudo o que a minha alma tem provado 
só tem deixado um vazio deprimente”. Assim, o caminho 
estava preparado para ouvir a audaciosa declaração do 
evangelho: “Cristo é a solução: Ele é tudo em todos” (Cl. 
3:11).
3. Os Romanostc "3. Os Romanos"
a. A cultura romana contribuiu para a “plenitude dos tempos” 
dando a unificação para todos os numerosos reinos, povos 
e línguas. Eles dominaram todo o mundo civilizado. Seu 
império abrangia 70 milhões de habitantes de diferentes 
línguas e nacionalidades. Foi neste Império que o Cris
tianismo esteve nos seus 3 primeiros séculos.
b. Quebraram as barreiras nacionais entre os homens 
juntando-os num só Império.
c. Trouxeram a paz mundial, a “Paz Romana” , que durou 
de 31 AC até 180 AD.
d. Facilitaram o intercâmbio entre os povos através de seu 
sistema de comunicação e transporte, correios, estradas 
excelentes e extermínio dos piratas e ladrões.
e. Enfim, Roma consolidou e compactou toda a massa da 
humanidade para que ela fosse mais facilmente levedada 
pelo Evangelho de Cristo.
É este o contexto preparado por Deus para a manifestação 
do Verbo Vivo por meio de quem tudo subsiste e para quem tudo foi feito: o Senhor Jesus Cristo.
III CAPÍTULO 
O MUNDO AO SURGIR DO CRISTIANISMO
Condições Religiosastc "Condições Religiosas"
Apesar de ainda serem cultivadas as religiões dos deuses e deusas 
da Grécia e Roma, a sua influência havia acabado e os homens 
cultos não criam mais nela. Havia entretanto a religião estatal romana; o culto aos imperadores. Além disso surgiram certos cultos primitivos e a adoração de divindades associadas a localidades, ocupações ou profissões.
Existiam na época, os mistérios herdados dos gregos que atraíam as massas. Estes cultos misteriosos eram cerimônias secretas e dramáticas ligadas a certas idéias relacionadas com a perpetuação da vida. Entre eles haviam alguns que ensinavam salvação e vida após a morte. Havia certa semelhança superficial destas religiões que influenciavam o mundo no começo da era cristã com o Cristianismo, como por exemplo: a organização desociedades de indivíduos independente de raça ou posição social, que tomavam refeições em comum; a prática de certas cerimônias que eram consideradas como purificação espiritual e também o culto de divindades que supostamente tinham sofrido a morte e ressuscitado, dando assim vida imortal a seus seguidores. Em aspectos mais profundos estas religiões muito se diferenciavam do Cristianismo.
Aquela era uma época de religiosidade. Havia um interesse e certa ansiedade por crenças e idéias que trouxessem mais satisfação à alma. E dentro disso haviam quatro coisas que preparavam as condições religiosas para a vinda de Jesus:

Uma Crença Progressiva num Deus Universal.

Um Sentimento de Culpa e Pecado Muito Generalizado.

Um Desejo de Purificação.

Um Grande Interesse nas Questões do Além-túmulo.
Condições Intelectuaistc "Condições Intelectuais"
O grande movimento filosófico grego que buscava a verdade chegou a seu fim. Ao surgir do Cristianismo o pensamento grego não fazia mais progresso. Haviam filosofias gregas em moda, mas nenhuma delas satisfazia a mente dos homens quanto às questões fundamentais e urgentes, como pecado, morte e vida futura. Entre os que pensavam havia um grande sentimento de insatisfação e uma busca de soluções para os problemas cruciais da vida.
Condições Moraistc "Condições Morais"
A sociedade da época era muito depravada moralmente. As classes mais corrompidas eram as mais altas, mas nas classes média e baixa, havia homens e mulheres que tinham vida virtuosa, com atitudes de nobreza e bondade. Entretanto, no final, ao fazermos a média, o resultado é realmente negro. A época era decadente e os espíritos dos homens estavam conturbados e insatisfeitos. Não existia nada que pudesse melhorar a situação até que o cristianismo começasse a exercer influência. A tendência geral era para um declínio moral. Assim, foi a um mundo decadente, sem esperança e muito corrompido que os primeiros missionários cristãos trouxeram as boas novas da salvação.
IV CAPÍTULO 
OS RAMOS BROTAM
A Igreja Apostólica do Primeiro Séculotc "A Igreja Apostólica do Primeiro Século"
O Senhor Jesus deixou clara a necessidade de uma sociedade 
constituída por Seus seguidores a fim de manifestar ao mundo 
o Evangelho e ministrar os ensinos que lhes dera. O objetivo era estender o Reino de Deus. Ele não modelou qualquer organização ou plano de governo para esta sociedade. Não indicou oficiais para exercerem autoridade sobre os membros de tal organização. Credo algum prescreveu para ela. Nenhum código de regras foi imposto. Não prescreveu ordens ou forma de culto. Apenas deu aos seguidores os atos religiosos mais simples: o Batismo com água, para perdão de pecados e a Ceia do Senhor, na qual usou um pouco dos elementos mais comuns da alimentação, pão e vinho, como uma comemoração e lembrança dele próprio, especialmente da Sua morte para a redenção dos homens. Assim, em nada daquilo que Jesus fez podemos descobrir a organização da Igreja. Fez mais do que dar organização: deu vida à Igreja.
Assim, uma característica da Igreja tem sido a presença e atividade de Jesus Cristo no seu meio. Esta é a verdadeira Igreja católica e apostólica. E no primeiro século, Cristo esteve verdadeiramente presente no Seu povo! No dia de Pentecoste Ele veio novamente para derramar Seu Espírito. Por este Espírito Ele estava ativo dentro deles, continuando Sua obra e revelando Seus ensinos através deles que foram constituídos como Seu corpo.
Neste capítulo sobre a Igreja primitiva, estamos olhando para quatro notáveis características:
A Mensagem Apostólicatc "A Mensagem Apostólica"
A mensagem apostólica, como nós já falamos pode ser dividida em duas partes: o “Kerygma” apostólico (proclamação) e o “Didaquê” apostólico (o ensino). A pregação apostólica não era uma fórmula mental religiosa, mas simplesmente a proclamação do próprio Cristo ressurreto. O ministério da Palavra era algo vivo, poderoso e impactante. O fato testemunhado da literal ressurreição de Cristo transformou os discípulos amedrontados em testemunhas ardentes. O simples fato de Cristo estar vivo transformou o zeloso perseguidor Saulo de Tarso num devoto defensor da causa do Nazareno, fazendo dele a mais poderosa personalidade humana na história da Igreja. Então a ressurreição tornou-se basicamente o apelo apostólico ao mundo. Jesus está vivo e bem vivo na terra!
O ensino apostólico no qual foram fundamentados os novos crentes era simples e prático. O ensino apostólico básico era o ensino de Jesus, juntamente com um vivo relacionamento com Deus como Pai em oração, de maridos com esposas em amor e comunhão, pais com filhos e de empregadores com empregados. O “didaquê” de Jesus, é centrado na misericórdia, no perdão e na amabilidade. Pedro, Paulo, Tiago e João - os escritores apostólicos - do mesmo modo, estavam interessados em resultados morais e resultados na vida prática. Havia um pouquinho de “teologia ortodoxa” técnica, rígida e bem definida que veio a ser altamente apreciada na Igreja decadente dos séculos seguintes. Entretanto, a era em que a doutrina tornou-se uma tradição religiosa, fria e presunçosa, ainda não tinha chegado. Essa religiosidade fria, veio a ser a mais forte característica da Igreja, quando esta entrou em declínio, como veremos em outros capítulos.
A Experiência Apostólicatc "A Experiência Apostólica"
Na Igreja do livro de Atos, Deus não tinha “netos”. Não havia segunda nem terceira geração de pessoas que “assumiam” ser cristãs absorvidas pela Igreja. Todo membro do Corpo de Cristo, seja homem, mulher ou criança, estava ali por causa de uma viva experiência com o Cristo ressurreto. Cristo nasceu dentro de homens pelo poder do Seu Espírito derramado. O Espírito interior era a única definição dada para tornar-se um cristão no livro de Atos.
Uma característica deste período era o seu aspecto escatológico (fim do tempo). Por causa do Espírito derramado havia “o Espírito de profecia” e um certo senso de fim dos tempos. Para eles vivendo no Espírito, Cristo estava verdadeiramente “vindo rapidamente” e esta esperança os estragou para qualquer outra coisa que não fosse o Seu reino celestial! Eles estavam, na verdade, como Abraão seu pai, “estrangeiros e peregrinos sobre a terra”, novamente muito diferentes da Igreja dos séculos que se seguiram.
Essa presença de Deus entre eles era tal que a sombra de Pedro curava e muitos sinais, prodígios, maravilhas, milagres e cura eram realizados pelos apóstolos. Isso impactava as massas e testificava que de fato Deus estava no meio deles.
A Vida e Adoração Apostólicatc "A Vida e Adoração Apostólica"
Enquanto este estágio espiritual da cristandade primitiva durou, a comunhão era um organismo antes que uma organização. Os membros tinham uma experiência comum. Eles estavam ligados e eram batizados em um Espírito. Eles tinham uma refeição comunitária, todos participavam juntos do pão, e todos tomavam juntos de um mesmo vinho. Não havia nenhum sistema rígido, hábitos não eram impostos a ninguém. Rotina e ordem sacra ainda não tinham vindo. Havia uma larga margem para a expontaneidade e iniciativa pessoal. Pessoas e dons tinham valor para tudo. A conduta fluia e não era um padrão pré-estabelecido. Havia lugar para uma variável independente. A comunhão era mais uma família do que uma denominação como nós vemos hoje. Amor antes que regras, a guiava. Tudo era único, e nada era repetitivo. Nenhum líder dominava as reuniões do grupo acima de Cristo. Nenhum programa era essencial. O pequeno corpo encontrava-se como uma comunidade do Espírito; e Paulo disse... “onde o Espírito está, aí há liberdade” - sem escravidão e sem rotina. O funcionamento era carismático, isto devido à manifestação dos “dons espirituais” que os presentes possuíam. O principal dom era o de profecia, que consistia na expressão de uma mensagem inspirada pelo Espírito por aqueles que tinham uma vida madura em Deus e de onde as profecias surgiam; elas normalmente eram construtivas e traziam luz. Eram “edificantes” como Paulo diria. Havia também algopersistentemente presente: Uma grande e forte força moral. Eles andavam no Espírito e davam à luz aos frutos do Espírito: amor, alegria, paz, longanimidade, amabilidade, bondade, fidelidade, humildade, domínio próprio..., o qual, como uma força construtiva interior faria deles um corpo singular, uma comunidade unida.
A característica singular da vida e da adoração apostólica era verdadeiramente a expontaneidade. O Cristo ressurreto está livre para se manifestar pelo poder do Seu Espírito na Sua Igreja! No Seu Corpo Ele livremente vivia, se movia e existia; novamente dando um grande contraste com o que veremos desenvolver-se nos séculos seguintes.
A Vida em Comunidade e na Estrutura de Células. tc "A Vida em Comunidade e na Estrutura de Células. "
Alguns historiadores se referem ao que é chamado de a “experiência de Jerusalém”, na qual “todos os que creram estavam juntos, e tinham todas as coisas em comum”. Este fenômeno não se deu somente em Jerusalém, e nem era uma experiência apenas. Enquanto que por um lado a comunidade apostólica não era todos vivendo sob um só teto, com uma única bolsa, por outro também não era uma utopia, uma “fantasia” ou um “experimento”. A comunidade apostólica era simplesmente a abundante manifestação do amor de Deus derramado nos corações de homens e mulheres pelo Espírito Santo, fazendo com que os que haviam crido tivessem “um coração e uma só alma” ao ponto de que “ninguém considerava nada exclusivamente seu; mas todos tinham tudo em comum”. Veja em Atos 4:32 a afirmação: “exclusivamente seu”. Isto evidencia que existia a propriedade individual das coisas mencionadas. O resto da afirmação evidencia que a prática era um “uso comum” no lugar de uma “propriedade comum”. “... tudo porém lhes era comum”. Assim, isto fazia com que “... não houvesse nenhum necessitado entre eles...”! E isto era uma simples obediência ao que Jesus ensinou: “Assim, portanto, nenhum de vocês pode ser meu discípulo se não renunciar a tudo quanto possui”. 
Aquela era uma Igreja em Células. Inicialmente, em Jerusalém, os crentes reuniam-se para evangelizar e receber algum ensino no átrio do templo, mas logo nos primeiros meses a Igreja já contava com mais de 15 mil pessoas. Era impossível reunir essa gente toda no pequeno átrio do templo. Assim, não vemos ênfase alguma nas reuniões públicas. Simplismente não havia estrutura física adequada para tanta gente. O livro de Atos dos Apóstolos mostra claramente que a Igreja estava nos lares e foi dessa forma que conseguiu alcançar, discipular e manter tanta gente. Os estudiosos afirmam que antes de ser destruida no ano 70 Jerusalém possuia uma Igreja em células de pelo menos 100 mil membros e cerca de 2/3 dos sacerdotes judeus obedecia à fé. Esse mesmo modelo de Igreja foi o vivido pelas igrejas entre os gentios. A Igreja nos lares é o que aparece nas epístolas paulinas como estrutura eclesiástica básica. E foi precisamente essa estrutura que minou o Império romano. Os primeiros templos cristãos que se têm noticia só apareceram no terceiro século. 
 A abundante vida de Deus, o ensino de Cristo vivo, prático e cheio de revelação, a atmosfera de oração constante, uma comunhão significativa e supridora era o ambiente de avivamento que aqueles irmãos viviam. Que contraste vemos com os séculos posteriores, mas exaltado seja o nome de Jesus pela restauração de toda esta realidade de vida na Igreja desta geração da qual eu e vocês fazemos parte.
V CAPÍTULO
VENTOS DE ADVERSIDADE
Esboço Histórico do Primeiro Séculotc "Esboço Histórico do Primeiro Século"
A primeira pregação do Evangelho, no Pentecoste, foi dirigida 
unicamente aos judeus. Por algum tempo, talvez dois ou três 
anos, as missões cristãs eram limitadas aos judeus, começando em Jerusalém e daí estendendo-se a toda a Judéia, Galiléia e circunvizinhança. Os primitivos cristãos não perceberam logo a extensão do propósito divino na salvação do mundo. Como hebreus, reconheciam que Jesus era o Messias esperado pelo seu povo. Portanto O consideravam como Salvador somente dos judeus, apesar de Jesus, por palavras e atos, ter-lhes ensinado coisa diferente.
A perseguição foi o meio pelo qual a Igreja nascente chegou a uma compreensão mais segura do Evangelho que Jesus lhes dera para pregar. Pela perseguição, a Igreja alcançou uma visão mais ampla da obra que Jesus lhes propusera.
No processo de desenvolvimento e expansão do evangelho até aos confins da terra, notamos o aparecimento de determinados centros geográficos influentes. O primeiro centro de influência apostólica foi Jerusalém, lar dos apóstolos Pedro e João. Estes homens eram duas das três colunas da Igreja em Jerusalém. Jesus era íntimo destes discípulos que provavelmente eram os apóstolos das “Igrejas da Judéia” (Gl. 1:22). A influência de Jerusalém, cujos membros cresceram em muitos milhares, era poderosa e bem fundamentada. 
A igreja foi espalhada através da perseguição e estava constantemente exposta a sofrimentos por causa da fé. Muitas vezes foram assolados pelos judeus inimigos do cristianismo. Eram também odiados por muitos, por serem uma permanente condenação dos costumes e conduta moral dos pagãos. A partir de Nero (54 a 68 AD), o governo romano começou a hostilizar o cristianismo, tentando eliminá-lo cruel e vigorosamente. Essa perseguição variava de intensidade à medida que variavam os governos (Veja apêndice 1). Durante a segunda metade do primeiro século o Cristianismo enfrentou o poder oficial como seu maior inimigo. Muitos cristãos simples ou famosos líderes como Paulo, ou inúmeros heróis desconhecidos receberam a coroa do martírio.
Como vimos antes, Jerusalém teve uma influência poderosa, mas nem sempre para o bem. De Jerusalém veio tudo o que era “Judaizante”, ênfase legalista que ameaçava as igrejas com um tradicionalismo farisáico e um apego exagerado à lei de Moisés. Os judaizantes diziam ser isso importante na justificação. Estes abusos requereram um posicionamento final por parte dos apóstolos. Assim, reuniram-se em Jerusalém para resolverem a questão legalista acima de Cristoacima de Cristodos judaizantes. Este encontro dos apóstolos em Jerusalém é chamado por alguns como o “Primeiro Concílio Geral da Igreja”.
De Jerusalém também vieram os “super-apóstolos”, aos quais Paulo chamou de “falsos Apóstolos e obreiros fraudulentos” que perseguiram seus passos e subverteram as comunidades com seus ensinos legalistas e judaizantes. A difundida e poderosa influência de Jerusalém como um centro foi finalmente diminuída pela sua destruição pelo imperador Tito em 70 AD. Este cerco e destruição veio cumprir literalmente as profecias de Jesus a respeito de Jerusalém em Mateus capítulo 24.
O erro básico do legalismo judáico era sutil e acabou sobrevivendo à queda de Jerusalém tornando a reaparecer nos ensinos dos antigos Pais Católicos (Cap. 9). Este erro básico acerca da verdadeira natureza da justificação - se por obras e mérito ou pela graça mediante a fé - produziu um amargo fruto na Idade Escura e ultimamente continua sendo a causa da irreconciliável diferença entre teólogos católicos e reformados (evangélicos). Para Paulo e para Lutero especialmente, a justificação repousava unicamente na imerecida e livre graça de Deus dada aos homens objetivamente em Cristo Jesus, pelos méritos do Seu Sangue “todo-expiante”. Para os cristãos, mais tarde, a justificação repousava na graça de Deus “subjetivamente ativa dentro dos homens”, induzindo-os às boas obras, claramente a obras da Lei!. Assim eles confundiram justificação com santificação, fazendo a justificação depender da santificação; e por aí corromperam o verdadeiro objetivo, da natureza graciosa da justificação que divindamente imputa (considera, dá) a justiça gratuitamente, sem depender de obra humana alguma.
No primeiro século, Antioquia da Síria veio a ser o segundo centro de influência apostólica, por algum tempo concorrendo com Jerusalém. Foi daqui, conforme Atos 13 e 14 que Paulo, o mestre, e Barnabé, o profeta, foram enviados para a sua primeira jornada missionáriaà Ásia Menor, onde estabeleceram as quatro igrejas Gálatas - Antioquia da Psídia, Listra, Icônio e Derbe. Nestas eles ordenaram presbíteros (vários), para cada comunidade - a forma mais simples de governo na igreja primitiva sob o comando do próprio Cristo.
Novamente de Antioquia da Síria Paulo parte para sua terceira jornada apostólica, na qual a igreja de Éfeso foi fundada. Esta veio a ser o terceiro centro dinâmico de influência. De Éfeso “... todos os que viviam na Ásia ouviram a Palavra do Senhor” (At. 19:10). Ásia significando a costa oeste da Ásia Menor. Desta missão apostólica resultou também a fundação de três pequenas comunidades no Vale Licos - Colossos, Laodicéia e Hierápolis - bem como a fundação de outras igrejas históricas da Ásia às quais João dispensou aquele piedoso cuidado e especial interesse como fica evidenciado em Apocalipse nas cartas às sete igrejas da Ásia.
Estes foram na verdade os anos em que a videira brotou. Apesar de suas muitas imperfeições e seus complexos problemas, como revela as correções dos apóstolos contidas nos escritos do Novo Testamento, esta era ainda a santa, católica e apostólica igreja, “... edificada sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular”! (Ef. 2:20).
APÊNDICE 1tc "APÊNDICE 1"
A Perseguição sob Nero (64 DC)tc "A Perseguição sob Nero (64 DC)"
Este texto datado do I século foi escrito por Tácito, um romano pagão da época de Nero.“Mas os empenhos humanos, as liberalidades do imperador e os sacrifícios aos deuses não conseguiram apagar o escândalo e silenciar os rumores de ter ordenado o incêndio de Roma. Para livrar-se de suspeitas, Nero culpou e castigou, com supremos refinamentos de crueldade, uma casta de homens detestados por suas abominações e vulgarmente chamados cristãos! Cristo, do qual seu nome deriva, foi executado por disposição de Pôncio Pilatos durante o reinado de Tibério. Algum tempo reprimida, esta superstição perniciosa voltou a brotar, já não apenas na Judéia, seu berço, mas na própria Roma, receptáculo de tudo o que é degradante produzido em qualquer recanto da terra. Tudo, em Roma, encontra seguidores. De início, pois, foram arrastados todos os que confessavam-se cristãos; logo, uma multidão enorme convicta não de ser incendiária, mas acusada de ser o opróbrio do gênero humano. Acrescente-se que, uma vez condenados a morrer, sua morte devia servir de distração, de sorte que alguns, costurados em peles de animais, expiravam despedaçados por cachorros, outros morriam crucificados, outros foram transformados em tochas vivas para iluminar a noite. Nero, para estes festejos, abriu de par em par seus jardins, organizando espetáculos circenses em que ele mesmo aparecia misturado com o populacho ou, vestido de cocheiro, conduzia sua carruagem. Suscitou-se assim um sentimento de comiseração até para com aqueles homens cujos delitos não mereciam castigos exemplares, tanto mais quando se pressentia que eram sacrificados não para o bem público, mas para satisfação da crueldade de um indivíduo.”
Documentos da Igreja Cristã - Páginas 26 e 27.
VI CAPÍTULO 
A CHUVA ACABA E SE VAI
A Transição do Primeiro para o Segundo Séculotc "A Transição do Primeiro para o Segundo Século"
Cinquenta anos após a morte de Paulo, uma cortina cai sobre 
a Igreja, através da qual nós tentamos inutilmente ver algo, 
e quando por fim esta cortina se levanta, nós achamos uma Igreja, em vários aspectos muito diferente daquela dos dias de Pedro, João e Paulo. Uma mudança drástica ocorreu nas décadas de transição do primeiro para o segundo século da era cristã. Enquanto alguns preferem ver nesta mudança um desenvolvimento da vida da Igreja de um degrau de glória outro melhor, os fatos infelizmente revelam completamente o contrário.
Os relatos do Apocalipse de João, o escrito apostólico final, mostra um movimento de declínio no final do primeiro século. A descrição de João acerca das igrejas da Ásia mostra comunidades desesperadamente emaranhadas numa teia de carnalidade, divisão e decadência. Éfeso, que 40 anos antes fora o palco de uma poderosa visitação pentecostal por Deus, é agora advertida: “Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te, e volta à prática das primeiras obras; e se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas” (Ap. 2:5).
O declínio do segundo século do cristianismo, em visão e prática, é visto como sendo algo ligado com o fato de:
1. A direção profética foi perdida.
2. A expectativa do retorno rápido do Senhor se enfraqueceu.
3. O lugar dos dons do Espírito Santo e de ministérios com 
forte realidade de vida foi substituído por esta nova 
geração de cristãos, por organizações e autoridade 
religiosas aparentes. O mesmo acontece hoje em 
estruturas denominacionais onde a autoridade do líder 
é mais LEGAL do que REAL.
4. A função apostólica foi perdida fazendo surgir Igrejas 
independentes e a mercê de ensinos errados e líderes 
carnais.
A Estrutura da Igrejatc "A Estrutura da Igreja"
Uma nova mudança ocorreu no governo das igrejas. Na igreja dos apóstolos, espontaneidade era a ordem do dia, mas no segundo século encontramos a triste mudança: a igreja tornou-se menos um organismo e mais uma organização. A estrutura começava a substituir a espontaneidade.
A igreja dos apóstolos era originalmente encabeçada por um colégio de presbíteros (bispos ou pastores) ou superintendentes da igreja, constituídos pelos apóstolos para ministrar (servir), ou pastorear o rebanho de Deus. Em função de que os homens dentro deste colégio diferiam em sua maturidade, autoridade, e nas suas habilidades para o serviço, distinções foram feitas mas não com títulos, como mais tarde aconteceu na igreja em declínio, quando bispos seriam distinguidos dos presbíteros.
O termo presbítero (ou ancião) e bispo (ou superintendente) denota no Novo Testamento um mesmo ofício. Eles aparecem sempre como uma pluralidade ou como um colégio numa mesma congregação, mesmo em cidades pequenas como Filipos, o ofício de presbítero/bispo era ensinar e reger a congregação. Eles eram os “pastores e mestres” (Ef. 4:11). Os presbíteros sempre formavam um colégio ou corpo: o presbitério. Eles sem dúvida, tinham uma relação de igualdade fraternal, mas não de igualdade de autoridade. A maior aproximação à idéia do episcopado antigo pode ser achada na posição única de Tiago, o irmão do Senhor. Mas na verdade ele era apenas “Primus Inter Pares”, ou o primeiro entre iguais. Na sua última visita a Jerusalém Paulo foi recebido pelo corpo de presbíteros, e a eles ele deu um relatório de seus trabalhos missionários. A autoridade de Tiago era nítida, devido principalmente à sua íntima relação com o Senhor e sua santidade pessoal. Em função disso obteve respeito dos próprios judeus não-convertidos.
A instituição do “episcopado” (um único líder) não pode ser vista na era apostólica, mas é certo que ela surgiu no meio do segundo século. Isto denota decadência pois mostra a incapacidade dos líderes destes período de se relacionarem sem se dividirem. A liderança de uma igreja por um grupo de líderes iguais é inviável e até impossível. Claramente vemos que Deus levantou cabeças, líderes com uma autoridade apostólica clara entre os demais irmãos. Assim, mesmo na pluralidade, claramente vemos na Igreja primitiva, que alguém tinha a palavra final no governo da Igreja. Um colégio de homens só pode ter uma só mente, estar ligado em amor, unido em espírito, ter o mesmo propósito, apenas enquanto a presença de Cristo e a sua atividade for bem forte dentro deles. Se assim não for, surgem os partidos, as facções e finalmente as denominações. O percurso de Deus hoje é no sentido inverso. Isto é, levar a Igreja à unidade. 
VII CAPÍTULO
TEMPESTADE DE AMEAÇAS
O Gnosticismotc "O Gnosticismo"
Fora dos ensinos legalistas dos judaizantes de Jerusalém, o outro 
maior erro do primeiro século foi o gnosticismo. Na sua forma 
inicial, uma heresia híbrida (metade de judaísmo e metade de misticismo oriental), o gnosticismoera uma teoria muito aproximada do cristianismo, por isto, muito perigosa. Ao mesmo tempo que se distanciava da doutrina cristã, também negava que Cristo tivesse tido uma vida física real.
Os ataques feitos pelo gnosticismo são facilmente vistos na igreja colossense, à qual Paulo escreve com sua mais forte linguagem. Os erros básicos do gnosticismo são comentados por Paulo nesta carta. Paulo combate a noção herética de que “Deus era inacessível”. Segundo os gnósticos só se pode aproximar de Deus através de uma longa graduação de intermediários celestiais, dos quais Jesus era meramente mais um. Daí explica-se porque estas hierarquias celestiais podiam ser adoradas. A insistência de Paulo é que apenas Cristo é o mediador, e Ele é tudo (Cl. 3:11). Nele reside toda a plenitude de Deus, e Nele somos completos (Cl. 2:9-10). Alguns historiadores são ingênuos, o suficiente para crer que a Igreja eventualmente exterminou o gnosticismo e o superou. Mas isto não é verdade. Toda doutrina de adoração das hostes celestiais com sua longa graduação de intermediários celestiais, incluindo a mãe do Senhor e as centenas de santos, foi simplesmente a presença definitiva dos erros gnósticos dentro do cristianismo decadente e que até hoje são praticados.
As tendências ascéticas e legalistas do gnosticismo nasceram do entendimento de que o corpo e qualquer matéria, é na sua essência mau. Consequentemente ensinou: “Não toque, não prove, não pegue!” (Cl. 2:21). Estes pensamentos tornaram-se a semente para a idéia de que o pecado habita no corpo físico. Por isso ensinavam a “severidade para com o corpo.” Mais tarde no século quarto isto influenciou a igreja na doutrina do celibato, isto é, o voto de abster-se totalmente do casamento e do sexo para se buscar a perfeita santidade.
Precisamos entender que o gnosticismo veio a ser uma das causas principais da estruturação mais formal da Igreja, pois esta estruturação tinha por objetivo proteger a Igreja desta heresia.
A grande influência gnóstica foi maior entre 135 e 160 AD, e continuou com força nos séculos seguintes. O declínio da presença do Espírito abria lugar para esta heresia como uma praga no segundo século, e ameaçou fazer afundar a fé cristã. Isso trouxe à Igreja sua mais grave crise desde a batalha de Paulo contra os judaizantes pela liberdade da lei.
A Igreja na sua tentativa de conter o gnosticismo desenvolveu uma organização única, mais fechada e um credo claramente definido, que contrastou com a expontânea e simples natureza do cristianismo primitivo.
Para que não subestimemos quão sutil era o erro gnóstico (Veja apêndice II) e ainda quão ortodoxos pareciam ser seus seguidores. Nós transcrevemos aqui um de seus hinos como evidência de sua aparente, mas falsa“ortodoxia” (apego firme às verdades mais importantes da fé cristã).
 Hino Gnósticotc " Hino Gnóstico"
Eu fui liberto de minhas cadeias.
E sou livre para Ti, meu Deus
Por causa do que tu fizeste
Permanecendo para defender minha causa
Remiste-me e socorreste-me
Por Tua Pessoa ter estado comigo,
me salvou na Tua graça
Eu recebi força e socorro de Ti.
Tu me deste luz à minha direita
e a minha esquerda.
Isto fez com que não houvesse
trevas ao meu redor.
Eu estava adornado com a cobertura
do Teu Espírito...
E me tornei todo à Tua verdade e
Santo na Tua retidão...
Eu me tornei do Senhor no Nome do Senhor
Eu fui justificado pela sua amorosidade
E sua paz permanece eternamente.
Amém!
APÊNDICE 2tc "APÊNDICE 2"
O Gnosticismotc "O Gnosticismo"
Tentativa de explicar Cristo com a filosofia pagã.tc "Tentativa de explicar Cristo com a filosofia pagã."
1. Gnosticismo do tipo sírio.tc "1. Gnosticismo do tipo sírio."
“Saturnino era antioquiano. Pensava, como Menandro, que há um Pai absolutamente, desconhecido que fez anjos, arcanjos, virtudes e potestades; o mundo, porém, e tudo quanto nele existe, foi feito por anjos em número de sete...
O Salvador, conforme saturnino, não nasceu, não teve corpo nem forma, mas foi visto em forma humana apenas em aparência. O Deus dos judeus, segundo ele, era um dos sete anjos; visto que todos os príncipes quiseram destruir Seu Pai, Cristo veio para aniquilar o Deus dos judeus e para salvar os que nele mesmo acreditassem; esses são os que possuem uma faísca da vida de Cristo. Saturnino foi o primeiro que afirmou a existência de duas estirpes de homens formadas pelos anjos: uma de bons e outra de maus. Sendo que os demônios davam seu apoio aos maus, o Salvador veio para destruir os demônios e os perversos, salvando os bons. Mas, ainda segundo Saturnino, casar-se e procriar filhos é obra de Satanás”.
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2. Gnosticismo do tipo egípcio.tc "2. Gnosticismo do tipo egípcio."
(Os princípios básicos de Basilides foram divulgados em forma mais poética e popular por Valentino, c. 140, o mais influente dos mestres gnósticos).
“Ensinou que a Mente foi o primogênito do Pai Ingênito. A Razão foi gerada pela Mente e, por sua vez, gerou a Prudência, e esta gerou a Sabedoria e o Poder. Da Sabedoria e do Poder nasceram as Virtudes, os Príncipes e os Anjos, que são chamados também de “Os Primeiros”. Estes fizeram o Primeiro Céu, do qual derivaram outros céus que, também geraram outros céus... (perfazendo um total de 365 céus).
Os anjos que presidem sobre o Céu inferior, que é visto por nós, ordenaram todas as coisas que há no mundo, dividindo entre si a Terra e as nações da Terra. Seu chefe é aquele que tem sido crido como o Deus dos judeus. Ele pretendeu sujeitar os demais povos aos judeus, provocando a resistência dos outros príncipes que se coligaram contra ele... Então o Pai Ingênito e Inominado... enviou sua Mente primogênita (chamado o Cristo) para libertar os que nEle cressem dos poderes que fizeram o mundo. Ele apareceu assim entre as nações dos príncipes em forma de homem, e realizou atos de poder. Ele, porém, não sofreu, mas certo Simão de Cirene foi movido a levar a cruz por Ele: Simão foi equivocadamente crucificado, tendo sido transfigurado por Ele de tal sorte que o populacho o tomou por Jesus. Jesus, entretanto, transmutou-se na forma de Simão, presenciando a agonia de seu sósia e dele escarnecendo. Quem, portanto, reconhecer e reverenciar o crucificado, ainda não deixou de ser escravo e sujeito ao domínio dos que fizeram nossos corpos. Quem, ao contrário, o negar, fica livre deles e conhece a disposição do Pai Ingênito.
Basilides ensina também que a salvação só concerne à alma, pois o corpo é naturalmente corruptível. As profecias em si mesmas provieram dos príncipes que fizeram o mundo. A lei foi dada pelo príncipe que tirou os israelitas da terra do Egito. Basilides prescreve ainda a perfeita indiferença para com as coisas imoladas aos ídolos, permitindo que as usemos sem temor; igualmente quer que consideremos como matéria absolutamente inocente as sensualidades elubricidades de toda classe...”
3. Gnosticismo do tipo judaizante.tc "3. Gnosticismo do tipo judaizante."
Fim do primeiro século.
“Igualmente um certo asiático, Cerinto, pensou que o mundo foi feito não pelo Deus Supremo, mas por alguma Virtude muito afastada e separada do príncipe que está acima de todas as coisas e cuja soberania absoluta não é reconhecida por tal Virtude. Acrescenta que Jesus não nasceu de Virgem, mas que foi filho de José e Maria, à maneira comum, embora seja superior aos demais em justiça, prudência e sabedoria. Após o batismo de Jesus, Cristo desceu sobre ele em forma de pomba procedendo do Príncipe que está sobre todas as coisas. Depois disso Jesus revelou o Pai Incógnito, realizando atos de poder. No fim, porém, Cristo retirou-se, deixando Jesus abandonado: o homem acima de CristoJesus sofreu sozinho e ressuscitou; porém, Cristo permaneceu impassível como convinha à sua natureza espiritual.
Os chamados ebionitas... só usam o Evangelho de São Mateus; rejeitam o apóstolo Paulo chamando-o de apóstata da Lei. Esforçam-se e se sujeitam aos usos e costumes da lei e à maneira de viver judia. Veneram Jerusalém como se fosse a casa de Deus.”
Documentos originais .
VIII CAPÍTULOFOLHAS VERDES NA SECA
A Igreja do Segundo Século (100 - 175 AD)tc "A Igreja do Segundo Século (100 - 175 AD)"
Nosso material de pesquisa para a história do cristianismo 
apostólico são basicamente as correspondências corretivas 
e instrutivas dos apóstolos. Isto inclui as três colunas de Jerusalém: Pedro, Tiago (irmão do Senhor) e João. Depois veio Paulo, o apóstolo dos gentios e autor de umas treze cartas. Fora destes quatro escritores apostólicos principais nós temos a correspondência de Judas, o evangelho de Marcos, discípulo de Pedro, e finalmente os escritos de Mateus, um dos doze, além das compilações históricas de Lucas que viajou com o próprio Paulo como parte de sua equipe apostólica. Esta correspondência dos apóstolos e dos homens que estavam bem perto deles veio a nós na forma do nosso Novo Testamento.
Os Escritores Pós-Apostólicostc "Os Escritores Pós-Apostólicos"
Nosso material para a história do cristianismo do segundo século são basicamente as correspondências e escritos dos homens chamados de “pais pós-apostólicos”. Entre estes estão Clemente de Roma (96 AD), Barnabé (132 AD), Inácio - “Bispo de Antioquia” (110 a 115 AD), e Policarpo de Esmirna, um dos discípulos do Apóstolo João (110-117 AD). A estes escritos podemos acrescentar também o “Didaquê” ou o “Ensino dos Doze Apóstolos”, datando de 130 - 160 AD. Estes escritos não foram feitos pelos Doze, mas veio a nós através dos seus discípulos como uma tentativa de resumir seus ensinos.
Em torno de vários destes homens, geralmente reputados como discípulos pessoais dos apóstolos originais, emergiu a liderança e autoridade do cristianismo no segundo século. Estes eram “folhas verdes na Sêca”. Nos seus escritos podemos ver significantes marcas do cristianismo do segundo século e tristemente constatar seu sutil desvio da vida e ensino apostólicos originais.

Clemente de Roma (96 AD) - Era um discípulo de Pedro. É provavelmente o escritor pós-apostólico mais antigo. A carta evangélica de Clemente à Igreja de Corinto, na qual ele pede sua unidade, foi publicamente lida nas assembléias da igreja primitiva de acordo com o historiador Eusébio, e incluída numa antiga coleção do cânon das escrituras. Nesta carta de Clemente, vemos que a igreja continua regida por um colégio de anciãos. Ele escreve: “apenas deixem o rebanho de Cristo em paz, com os seus anciãos que são colocados sobre ele” (I Ep. de clemente aos Co. 22:14). Mais tarde reconheceu apenas dois ofícios básicos na igreja, “os bispos e diáconos” (I ECCo 19:5-6; ele usa bispo e presbítero para o mesmo ofício). Ele chamou estes líderes da igreja de “Sacerdotes” (I ECCo 20:24), entretanto, por isso foi um dos primeiros a fazer distinção entre o “clero” e os “leigos”, um claro desvio do entendimento apostólico do sacerdócio de toda a igreja (I Pe 2:5). As duas maiores contribuições da carta de Clemente são seu fervoroso apelo a autoridade dos escritos de Paulo em seu clamor pela unidade, o que marca o início da formação do Cânon do Novo Testamento e também o vestígio deixado sobre a existência de sucessores para os apóstolos, mais tarde mal interpretado como “sucessão apostólica única” que deu orígem à reivindicação do bispo de Roma, do primado universal. No final Clemente simplesmente escreve: “Da mesma maneira nossos apóstolos souberam por nosso Senhor Jesus Cristo que surgiriam contendas por causa do ministério. Por isso, tendo uma perfeita presciência disto, designaram pessoas, como nós, a fim de darem direção para que quando morressem, outros homens escolhidos e aprovados os sucedessem no ministério” (I ECCo 19:16-17).
Na ausência do Espírito Santo, estas duas armas de ataque: o cânon dos escritos apostólicos como a verdade final, e o reconhecimento da verdadeira igreja como a única igreja dos apóstolos, foram destinadas a tornar-se as armas mais fortes e a saída contra a ameaça da heresia gnóstica com as suas “revelações e confusões”.

Policarpo (110-117 AD) - Santo mártir e discípulo pessoal de João, escreveu aos filipenses dizendo: “Policarpo e os presbíteros que estão com ele” (Ep. de Policarpo aos Fl. 1:1). Seu entendimento acerca do governo da igreja é o mesmo de Clemente. Como Clemente, ele também sugere a obediência aos escritos e a “sabedoria do ungido e célebre Paulo”. Este apelo tornou-se o próximo fundamento para a formulação de um Cânon dos escritos do Novo Testamento. Ele, como Clemente, reconhece apenas diáconos e anciãos na Igreja, entretanto também os chama mais tarde de “sacerdotes” (EP Fl. 2:13). Indicando assim uma sutil distinção entre “clero e leigos”.

Inácio (110-115 AD) - O Bispo de antioquia, supostamente escreveu sete cartas a várias igrejas quando estava a caminho de Roma onde morreu martirizado. Diferiu amplamente de Clemente e Policarpo. Inácio defende o episcopado, ofício de um único bispo que seria um irmão principal dentro de cada igreja, como o melhor meio de manter a saúde e unidade da igreja face o assalto das heresias que a dividiam. Inácio queria que o “episcopado” tivesse um incontestável controle sobre as igrejas locais. Ele não viu isto em nenhuma outra igreja além da sua própria, mas mesmo assim, enfatizou as virtudes do episcopado monárquico (bispo singular), tão forte quanto possível. Aos Efésios Inácio escreve que “sejam sujeitos ao seu bispo (no caso Onésimo, que escolhera entre outros anciãos e a quem ele mesmo atribuiu supremacia como bispo sobre os demais). Um grave desvio do entendimento apostólico.
Ainda em outra matéria, Inácio escreve aos efésios revelando sua forte convicção e respeito dos sacramentos de “nosso Deus Jesus Cristo... nascido e batizado, que através de sua paixão pôde purificar a água, para a lavagem do pecado” (EI Ef. 4:9). Ele depois ordena aos efésios: “obedeçam... seu bispo e o presbitério com inteira afeição; partam o mesmo pão, o qual é o remédio contra a imoralidade; nosso antídoto para que não morramos, mas vivamos para sempre em Cristo Jesus” EI Ef. 4:16). Em matéria de Cristologia, Inácio vê Jesus como o “inseparável espírito de Deus” (EI Mg. 4:12), “o qual procede de um Pai, e existe em um, e está de volta a um” (EI Mg. 2:11), Ele próprio, “o Pai, antes de todas as eras, apareceu no final a nós” (EI Mg. 2:5). Inácio, como Barnabé, reconhece do cristianismo como “não a observação de sábados, mas guardar o dia do Senhor no qual também nossa vida é elevada por Ele...” (EI Mg. 3:3).
Inácio escrevendo a Esmirna, foi o primeiro a chamar a igreja de “a igreja católica” (EI Esmirneanos 3:4), significando “a igreja universal”. Ele depois adverte aos esmirneanos que “não é lícito, sem o bispo nem batizar, e nem celebrar a Santa Comunhão”. Assim ele veio a ser o primeiro que fez tão ampla distinção entre o “clero” (alguns escolhidos) e os “leigos” (a massa). A ênfase de Inácio no “bispo Único” era tão fora do espírito do Cristianismo primitivo que alguns historiadores da igreja atualmente questionam a autenticidade dos escritos de “Inácio”. O aparecimento mais gradual desta distinção entre clero e leigos começou a ocorrer no final do primeiro século.
No início do segundo século as igrejas locais tinham anciãos e diáconos, que supervisionavam e dirigiam o trabalho da congregação. Mas a organização da igreja primitiva não era centrada na lei, mas no dom especial do Espírito. O ensino, a pregação, e a administração dos sacramentos eram conduzidos pelo “homem que tinha o Dom” na congregação. Um ancião podia tanto ensinar e pregar quanto ministrar os Sacramentos, mas ele o fazia não porque era “ancião”, mas porque ele era reconhecido como tendo “o dom”. Porém a falta geral de confiança nos dons especiais do Espírito, um desejo de mais ordem e uma urgente proteção contra as heresias resultaram na transferência gradual da pregação, do ensino e da ministração dos Sacramentos do “homem com o dom” para “o ancião”. As funções oficiais eram agora executadas apenas pelo ancião. O Ministério da Palavra e os sacramentos tornaram-se oficiais, o que estava começando a fazer a distinção entre “clero” e “leigos”.
Duranteo segundo e terceiro séculos uma outra importante mudança aconteceu. Ao invés do governo estar com um grupo de anciãos, as igrejas locais foram encabeçadas por um único homem, para o qual o nome de “bispo” foi exclusivamente reservado. A presença do “bispo” agora era essencial para a validade de qualquer ato da congregação. De fato, sem o bispo não havia igreja, e qualquer pessoa que desejasse tornar-se cristã precisava sujeitar-se ao bispo. Fora desta Igreja, a Igreja dos bispos, não havia salvação. É a Igreja Episcopal, sem apóstolos, sem vida, sem direção.
A homens como “Inácio”, que em suas próprias palavras amou e serviu pessoalmente a Jesus Cristo, podemos atribuir, entretanto, algumas sementes de erro, que surgiram numa honesta tentativa de conter o Gnosticismo. Contudo elas cresceram nos séculos seguintes e produziram um fruto muito amargo. Talvez na ausência do Espírito Santo, isto era o melhor que estes homens poderiam fazer nestas circunstâncias. Estes homens permaneceram como “folhas verdes” num tempo de seca e pouca luz.
APÊNDICE 3tc "APÊNDICE 3"
O Martírio de Policarpo, Discípulo de João.tc "O Martírio de Policarpo, Discípulo de João."
Documentos do Iº Séculotc "Documentos do Iº Século"
“Ao penetrar no recinto, uma voz celestial retumbou: Bom ânimo, Policarpo, mostra-te viril. Ninguém percebeu quem tinha falado, mas irmãos nossos presentes ouviram a voz. Enquanto avançava Policarpo, o tumulto atingia o paroxismo: Está preso Policarpo. Finalmente em presença do procônsul, este lhe perguntou se era Policarpo. E, ouvida a afirmativa, tentou persuadí-lo com perguntas e exortações a deixar sua fé: Considera tua idade, e semelhantes coisas como é de praxe nos lábios dos magistrados. Como acrescentasse: Jura pelo gênio do César, retrata-se; grita: abaixo os ateus! Policarpo, muito gravemente, olhando para os pagãos que enchiam as escadarias do estádio, e acenando para eles, suspirou e exclamou: Abaixo os ateus! O procônsul insistiu: Jura, e te soltarei. Insulta a Cristo. Policarpo respondeu: Oitenta e seis anos há que sirvo a Cristo. Cristo nunca me fez mal. Como blasfemaria contra meu Rei e Salvador?
O procônsul instou: Jura pela fortuna de César, já que decides ignorar quem sou. Escuta minha declaração, disse Policarpo: Eu sou cristão! Se desejas saber o ensino cristão, dá-me um dia e escuta-me. Disse então o procônsul: Persuade o povo. Policarpo retrucou: na tua presença parecer-se-ia justo explicar-me, porquanto aprendemos a prestar aos magistrados e autoridades estabelecidas por Deus a consideração que lhes é devida, na medida em que não contrariem nossa fé.
O procônsul disse: Tenho feras a meu dispor; se não te retratas, entregar-te-ei a elas. Ao que respondeu Policarpo: Ordena! Quando nós cristãos morremos, não passamos do melhor para pior; é nobre passar do mal para a justiça. Disse ainda o procônsul: Se não te retratas, mandarei que te queimem na fogueira, já que desprezas as feras. Disse então Policarpo: Ameaças-me com o fogo que arde uma hora e se apaga. Conheces tu o fogo da justiça vindoura? Sabes tu o castigo que devorará os ímpios? Não demores! Sentencia teu arbítrio!
Policarpo deu estas e outras respostas com alegria e firmeza e seu rosto irradiava a divina graça. O interrogatório perturbou não a ele, mas ao procônsul. Este acabou mandando seu arauto proclamar por três vezes, no meio do estádio, que Policarpo se confessara cristão. Então a turba pagã e judia não mais conteve sua ira e vociferou: Eis o doutor da Ásia, o pai dos cristãos, o destruidor dos deuses, que, com seu ensino, afasta os homens dos sacrifícios e da adoração. Enquanto tumultuavam, alguém solicitou ao asíarco Filipe que soltasse um leão contra o ancião. Filipe recusou, visto já ter terminado com os jogos. Neste caso, ao fogo com ele! Cumprir-se-ia a visão extática dos dias precedentes, quando o ancião viu sua almofada ardendo e anunciou: Hei de ser queimado vivo.
O desenlace precipitou-se. O povo amontoou lenha e ramos apanhados nas lojas e nos banhos públicos, distinguindo-se, como de costume, os judeus. Nem bem aprontada a fogueira, Policarpo despiu suas vestimentas, tirou sua cinta e tentou descalçar-se: ordinariamente não o fazia, porquanto os fiéis rivalizavam entre si para o ajudar a tocar seu corpo; tanta era sua santidade que, antes de seu martírio, já era objeto de veneração. Arranjou-se logo algo para o prender à fogueira; os carrascos pretendiam pregar seus membros, mas ele lhes disse: Deixai-me livre: Aquele que me deu forças para não temer o fogo, forças me dará para permanecer nele sem a ajuda de vossos pregos.
Não o pregaram; ataram-no simplesmente. Atado aí, mãos para trás, Policarpo parecia uma ovelha escolhida na grande grei para o sacrifício. Levantando os olhos, exclamou: Senhor Deus onipotente, Pai de Jesus Cristo, teu Filho predileto e abençoado por cujo ministério te conhecemos; Deus dos anjos e dos poderes, Deus da criação universal e de toda a família dos justos que vivem em tua presença; eu te louvo porque me julgaste digno deste dia e desta hora, digno de ser contado entre teus mártires e de compartilhar do cálice de teu Cristo, para ressuscitar à vida eterna da alma e do corpo na incorruptibilidade do Espírito Santo. Possa eu, hoje, ser recebido na tua presença como uma oblação preciosa e aceitável, preparada e formada por ti. Tu és fiel às tuas promessas, Deus fiel e verdadeiro. Por esta graça e por todas as coisas, eu te louvo, bendigo e glorifico em nome de Jesus Cristo, eterno e sumo-sacerdote, teu Filho amado. Por Ele que está contigo e o Espírito Santo, glória te seja dada agora e nos séculos vindouros. Amém!
Depois de Policarpo proferir este amém, os carrascos acenderam a fogueira e a chama alçou-se alta e brilhante. Neste momento presenciamos um sinal e nossa vida foi poupada quem sabe para relatar este milagre... O fogo tomou a forma de uma abóbada ou de uma vela inchada pelo vento e rodeou o corpo do confessor. Policarpo estava de pé não como carne que queima, mas como pão que se doura ou como ouro ou prata que se purificam. Sentíamos um perfume delicioso como de incenso ou arômatas preciosos.”
IX CAPÍTULO 
TENTATIVAS DE REFORMA E ADVERSIDADES
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O Marcionismotc "O Marcionismo"
Márcion - É chamado pelos historiadores como “o primeiro 
reformador da igreja”. Excomungado da igreja de Roma em 
144 AD por causa de sua forte heresia gnóstica e ensino cético (Cristo veio apenas em um corpo “fantasma”, não em carne), ele formou igrejas para si próprio que se espalharam por todo o império e que permaneceram até o quinto século. Márcion, um pregador da graça, rejeitou todas as formas de legalismo e judaismo que estavam prevalecendo na Igreja estruturada. Ele tentou compilar um cânon dos escritos apostólicos do Novo Testamento - o primeiro deste tipo - mas incluiu apenas os escritos de Paulo e o Evangelho de Lucas como a verdadeira interpretação, apostólica do evangelho da graça. O gnosticismo de Márcion forçou o cristianismo do segundo século a entrar ainda num sistema mais estruturado e formal de doutrina e organização.
O Montanismotc "O Montanismo"
Montano - Comandou um movimento mais tarde chamado pelo seu nome. Este movimento foi uma reforma carismática ocorrida por volta de 156 AD. Os cultos com glossolália (dom de línguas), profecias, visões, e uma expectativa escatológica estavam presentes no movimento montanista. Infelizmente, como muitos dos movimentos Pentecostais, também teve seus excessos “super-espirituais” de fanatismo. Eusébio comenta que os montanistas introduziram um novo tipo de profecia “contrária ao tradicional”. Montano e suas profetisas, Psicilla e Maximilla, permaneceram como genuínos reformadores no meio do estagnante, formal e morto cristianismo do segundo século. Tendo o montanismo constituído grande ameaça ao cristianismo estabelecido, foi formalmente condenado pelos sínodos de vários bispos da Ásia Menor. Ameaçados, os bispos jogaram fora tudo o que era genuino mover do Espírito Santo no Montanismo e entraram num formalismo aindamais estruturado. Podemos nos admirar de quais seriam os resultados se o segundo século tivesse recebido este mover Pentecostal genuíno e assim ajudado a estabelecê-lo. Como a história teria sido outra se a Igreja tivesse permitido ser renovada por ele!!!
As Perseguiçõestc "As Perseguições"
O cristianismo, como uma seita judáica, gozou inicialmente da proteção política romana, de liberdade para as religiões locais. Entretanto, em função de os crentes primitivos declararem que havia outro rei além de César, Jesus, não demorou muito para que a igreja fosse vista como uma séria ameaça à adoração ao imperador do Império Romano. O cristianismo era totalmente incompatível com o sistema de Roma - político, social e religioso. Assim, a perseguição começou no primeiro século sob Nero (54-68 AD), que falsamente acusou os cristãos de terem incendiado Roma. A perseguição continuou sob Domiciano (81-96). Sob o Imperador Trajano (98-117 AD), Inácio de Antioquia foi jogado às feras no Coliseu em Roma no ano 115 AD; Simeão de Jerusalém, sucessor de Tiago e um parente do Senhor, foi torturado por muitos dias e finalmente crucificado em 107 AD; o santo Policarpo de Esmirna, discípulo de João, foi queimado na fogueira em 155 AD pelo Imperador Antônio Pio. Sob Marco Aurélio (161-180 AD), a perseguição continuou por anos e incluiu a decapitação de Justino, o Mártir, o apologista de Roma em 166 AD. Isto mostra, no entanto, que o sangue dos mártires é semente de vida para a igreja, pois no ano 180 AD a Igreja já estava estabelecida em todas as partes do Império Romano e até além de suas fronteiras ao sul (África) e a oeste (Ásia). Era impressionante como aquela igreja em células permeava o solo do Império Romano e se alastrava numa multiplicação impossível de ser contida.
Os Apologistastc "Os Apologistas"
Os apologistas do segundo século eram escritores cristãos que defenderam a fé cristã contra as falsas acusações e calúnias lançadas pelos inimigos da igreja. A Ceia do Senhor foi mal interpretada como canibalismo, e a afeição e o amor entre os crentes foi confundido com imoralidade. A verdadeira igreja foi sempre destinada a ser mal interpretada e caluniada. Quando ela é aplaudida e popular, está em decadência.
O maior dos apologistas antigos que defenderam a Igreja foi Justino, o Mártir. Sua primeira apologia foi endereçada ao Imperador Antônio Pio e ao Senado, e a todo o povo romano, defendendo o cristianismo. Sua mais longa apologia é seu “Diálogo com Trifo, o Judeu”, uma explanação da fé cristã para os judeus. Outros apologistas foram Quadratus de Atenas (125 AD), Atenágoras (177 AD) e Melito, o bispo de Sardes (169-180 AD). Tertuliano (160-220 AD) também foi outro notável apologista. Além dos apologistas, os mestres também foram homens de grande utilidade no desenvolvimento do cristianismo daqueles dias. Destes um exemplo notável foi Orígenes de Alexandria (185-253 AD). Filho de pais crentes, com apenas dezoito anos de idade já era mestre na igreja de Alexandria. Veio a ser ali uma fortaleza que tornou o cristianismo divulgado e conhecido. Na perseguição por Décio, foi vítima de grandes crueldades. Estes homens, os apologistas e os mestres, foram extremamente úteis à vida do cristianismo naqueles dias.
Melito, o apologista, escreveu um impressionante documento a respeito de Jesus: “Jesus é tudo. Quando julga, Ele é a Lei; quando ensina, Ele é a Palavra; quando salva, é a Graça; quando Ele gera, Ele é o Pai; quando é gerado, Ele é o Filho; quando Ele sofre, ele é o Cordeiro; quando sepultado é homem; quando levantado é Deus. Tal é Jesus Cristo. A Ele a glória para sempre”. Tais homens foram parte de uma Igreja fiel em tempo de seca.
O Batismo nas Águas no Segundo Séculotc "O Batismo nas Águas no Segundo Século"
O parecer geral que se pode ver na igreja do segundo século era que o batismo lavava os pecados anteriores. Era o grande ato da purificação, iniciação à vida cristã e renascimento na vida eterna. Os discípulos primitivos geralmente batizavam “em Nome do Senhor Jesus Cristo” e os líderes cristãos do segundo e terceiro séculos conservaram a confissão na forma primitiva. O batismo em Nome de Cristo era válido sem outras fórmulas. O batismo, isto é o mais provável, até a metade do segundo século, só eram ministrados a adultos ou a quem já possuísse entendimento. A primeira menção de batismo infantil, é ainda obscura, mas acredita-se que foi cerca de 185 AD por Irineu. Por que surgiu o batismo infantil não há evidência certa. A opinião geral parece ser a da inocência na infância. O batismo infantil, entretanto, não se tornou universal até o sexto século.
O método de batismo, mais provável foi o por imersão, completa ou parcial. Isto está implícito em Rm 6:4 e Cl. 2:12. A imersão no batismo continuou até a Idade Média.
As Folhas Caem e o Outono Vemtc "As Folhas Caem e o Outono Vem"
Os Pais Católicos Primitivos (175-325 AD)tc "Os Pais Católicos Primitivos (175-325 AD)"
A era “ante-nicena” é o século que precede a convocação do Primeiro concílio geral da Igreja em Nicéia no ano 325 AD, pelo Imperador Constantino. Os homens proeminentes desta era são chamados “os pais católicos primitivos”. Destes, existem cinco que permaneceram como os mais brilhantes e devotos: Irineu, Tertuliano, Cipriano, Clemente e Orígenes.
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Irineu, com seu discípulo Hipólito, é considerado o mais antigo líder teológico da crescente Igreja Católica (nesta época havia apenas católicos e cismáticos, como gnósticos e montanistas). Nascido na Ásia Menor por volta de 130 AD. foi enviado como missionário para a parte ocidental do Império, ou seja para Lion na Gália (França) onde ele serviu como bispo até sua morte, por volta de 200 AD. Sua principal contribuição escrita foram seus cinco volumes “Contra Heresias”, escritos primeiramente para refutar o gnosticismo. Seu assunto principal era nossa grande salvação através “do único e verdadeiro Mestre, nosso Senhor Jesus Cristo, o qual por causa do seu amor transcendental tornou-se como nós somos, para que Ele pudesse conduzir-nos a ser como Ele próprio é” (Contra Heresias, prefácio).
As Duas Teologias tc "As Duas Teologias "
 Na Igreja do segundo e terceiro séculos começou a surgir uma diferença no pensamento teológico entre a mentalidade grega e a romana ou latina. Um prelúdio da divisão final entre as Igrejas Gregas e as Igrejas Latinas que ocorreu posteriormente.
A Teologia Latina, principalmente, representada por Tertuliano e seu sucessor Cipriano, ambos de Cártago no norte da África, tendia a ser mais prática, tratando da Igreja e da salvação, sendo também mais hostil ao gnosticismo e a filosofias mundanas em geral. Por outro lado a teologia grega, representada pela escola Alexandrina de Clemente e Orígenes, foi mais filosófica e idealística, tratando mais com as doutrinas de cristologia e a encarnação, procurando interpretar o gnosticismo à luz da ortodoxia cristã.
Os Teólogos Latinos do Ocidentetc "Os Teólogos Latinos do Ocidente"
Tertuliano de Cártago (155-255 AD), com sua brilhante mente, é sabiamente chamado de “o Pai da Teologia Latina”. Convertido do paganismo aos trinta anos, chegou ao nível de presbítero na Igreja de Cártago.
Em parte por causa de sua queixa à negligência moral da igreja de Roma, surgindo com proeminência sobre toda a cristandade, e também por outros motivos rompeu com a Igreja católica e uniu-se à puritana e mais ortodoxa seita carismática dos montanistas na passagem do segundo para o terceiro século. Ao mesmo tempo começou sua extensiva carreira literária de defesa apologética e ortodoxa do cristianismo. Em seus trinta tratados ele escreveu ordenadamente de uma maneira vívida e firme sobre a fé cristã. Escreveu contra os pagãos, os judeus e as injustiças do Império contra o cristianismo; escreveu sarcasticamente e maliciosamente contra a heresia gnóstica, defendendo a igreja dos apóstolos como a única e verdadeira dizendo que somente ela contém o depósito da verdade apostólica. Do ponto de vista montanista, ele igualmente atacou os “mornos” católicos.Escreve ainda sobre a oração, penitência, paciência, batismo e também sobre a cristologia trinitariana, sobre a qual discutiremos posteriormente. Ele enfatiza os temas tratados por Paulo: pecado e graça, pondo os fundamentos para a posterior teologia do grande pensador do norte da África - Agostinho, bispo de Hipona.
Cipriano de Cártago, nasceu em 200 AD e foi degolado em 14 de setembro de 258 AD. Ele converteu-se a Cristo aos 46 anos, pouco tempo antes de sua morte. Em obediência literal aos ensinos do evangelho, ele vendeu seus bens luxuriosos, dando o dinheiro aos pobres. Dois anos após seu batismo tornou-se um presbítero católico e logo depois disso foi eleito bispo de Cártago. No seu batismo ele escreveu: “... Pelo auxílio da água regeneradora a sujeira de minha maneira de viver foi lavada. Logo que bebi o Espírito, eu fui transformado pelo segundo nascimento, em um novo homem...”. Cipriano teve o montanista Tertuliano como seu mestre (através de seus escritos), ainda que possivelmente estes dois homens nunca tenham se encontrado pessoalmente.
A maior contribuição de Cipriano ao pensamento do terceiro século foi no desenvolvimento do catolicismo episcopal. A crença de que todos devem estar sujeitos a um “episcopos” para que esteja na única igreja Universal, foi advogada por ele em reação aos cismáticos de seus dias; ainda que ele mesmo nunca tenha atacado nominalmente seu venerado mestre, o montanista Tertuliano.
Em perfeito contraste com a mentalidade apostólica do primeiro século, Cipriano escreve: “Não importa quem seja e qual é seu caráter. Não é possível que tenha Deus por Pai, aquele que não tem a Igreja por sua mãe... A Igreja é constituída por bispos, e todos os atos da Igreja são controlados por estes líderes... Aquele que não está com o bispo, não está na Igreja...” (“Cartas” e “Unidade da Igreja”). Ainda que Cipriano considerou o bispo romano como “primus inter pares” (Primeiro entre iguais), e a Igreja romana como a mais alta em dignidade, resistiu à tentativa de Estêvão, bispo de Roma, de tomar as igrejas sob sua autoridade.
Os bispos romanos tiveram ainda uma longa caminhada pelos séculos, reivindicando para si mesmo a posição de única cabeça da Igreja Católica.
XI CAPÍTULO 
MAIS TEOLOGIA, MENOS VIDA
Os Teólogos Gregos do Orientetc "Os Teólogos Gregos do Oriente"
Clemente de Alexandria (150-220 AD) e Orígenes, seu 
discípulo, foram os principais líderes em Alexandria. Centro 
da segunda principal corrente de pensamento teológico.
A escola de catequese de Alexandria foi originalmente destinada apenas para o propósito de preparar os pagãos convertidos e os judeus para o batismo, e era dirigida por professores cristãos em suas casas. Diferente de Tertuliano com sua dura desconfiança da filosofia, e diferente de Cipriano com seu persistente organizacionalismo da Igreja, a escola grega procurou antes interpretar Deus e Cristo combinando as filosofias de seus dias com a mensagem do cristianismo, produzindo por este meio um verdadeiro “gnosticismo cristão”. Clemente não foi um teólogo sistemático; isto foi deixado para seu aluno e sucessor Orígenes, um dos mais brilhantes mestres e escritores na emergente igreja Cristã.
Orígenes (185-254 AD), filho do mártir cristão Leônides, nasceu em um lar cristão e subiu à liderança da escola de catequese alexandrina aos 18 anos. Desenvolveu sua teologia durante mais de 28 anos alcançando por isso, grande fama até ser excomungado em Alexandria pelo bispo Demétrio, seu superior, por ciúmes. Orígenes então abriu outra escola de ensino em Cesaréia, onde ministrou na palavra e escreveu por mais de 20 anos. Entre seus escritos estavam uma tradução do Antigo Testamento, e seu volumoso “Comentário das Escrituras”. Seu mais importante trabalho é provavelmente seus quatro volumes “De Principis”, a primeira grande apresentação sistemática das doutrinas do cristianismo, tido pelos historiadores como sendo a maior realização da Igreja ante-nicena. A falha teológica de Orígenes foi o uso exagerado do método alegórico, quase gnóstico, para interpretar a Bíblia. Assim, com este método, foi capaz de deduzir das Escrituras quase tudo que desejou. Uma das principais contribuições de Orígenes à teologia do terceiro século, foi sua cristologia.
Orígenes foi finalmente condenado no Quinto Concílio Geral da Igreja Católica em 553, por causa do seu “universalismo” dentro do qual ele ensinou que todos os homens e até os espíritos caídos seriam finalmente salvos. Isto foi um extremo, uma distorção do ensino apostólico sobre o triunfo total e universal de Cristo sobre o pecado e o mau.
Ao todo, estes cinco homens - Irineu, Tertuliano, Cipriano, Clemente e Orígenes - foram os principais pastores do pensamento cristão no final do segundo e início do terceiro século. Espiritualmente este período foi “o outono” antes da vinda daqueles ventos frios de controvérsia doutrinária, que seriam os precursores da vinda daquele sombrio e escuro inverno espiritual: a Idade Escura, Idade Média.
Mudanças Significativas na Era Ante-Nicenatc "Mudanças Significativas na Era Ante-Nicena"
Há cinco mudanças significantes que aconteceram na era ante-nicena de Irineu, Tertuliano, Cipriano, Clemente e Orígenes. Todas elas são resultado direto da crescente luta do frágil cristianismo católico, contra os heréticos cismáticos, particularmente os gnósticos. Estas cinco mudanças são:
1. O Aparecimento das Regras de Fé.
2. A Consolidação do Cânon dos Escritos do Novo 
Testamento.
3. O Fortalecimento do Episcopado.
4. A Crescente Supremacia da Igreja Romana.
5. Formação de uma Cristologia Definida (uma tentativa 
de definição de quem exatamente Jesus era).
Estaremos examinando cada um dos temas citados nos próximos capítulos.
O Desenvolvimento das Regras de Fétc "O Desenvolvimento das Regras de Fé"
A ameaça gnóstica, trazendo consigo suas próprias escrituras, revelações, métodos gnósticos e alegóricos de interpretação até dos escritos apostólicos originais, fez aparecer a necessidade de uma formulação de credos básicos dentro da Igreja Católica, pelos quais a verdade pudesse ser mais facilmente discernida do erro.
Em relação ao batismo, a mais primitiva confissão batismal usada era simplesmente “Jesus é Senhor”. Com a ameaça gnóstica, entretanto, um mais complexo credo, gradualmente se desenvolveu através do século, chamado de “O credo dos Apóstolos”, consistindo de doze afirmações apostólicas de fé, que era a confissão exigida de cada candidato ao batismo. Essa confissão dizia:
1. Eu creio em Deus, o Pai Todo-Poderoso;
2. Eu também creio em Jesus Cristo seu único Filho, nosso 
Senhor;
3. Concebido pelo Espírito Santo, nascido da virgem Maria;
4. Padecido sob Pôncio Pilatos, crucificado, morto e 
sepultado; Ele desceu ao inferno;
5. Ressuscitou novamente ao terceiro dia;
6. Subiu aos céus;
7. Onde está assentado à direita do Pai;
8. De onde Ele está vindo para julgar os vivos e os mortos;
9. Eu creio no Espírito Santo;
10. Na santa Igreja Católica, na comunhão dos santos;
11. Na remissão dos pecados;
12. Na ressurreição da carne e na vida eterna.
Esta foi a mais simples definição da doutrina original que surgiu na era pós-apostólica - suscinta, compreensiva e clara, mas infelizmente o que antes era vivificado passou a ser apenas letra morta. Muitos inconversos certamente citaram esta “reza” sem ter nenhuma revelação e fé no que estavam dizendo.
O Surgimento do Cânon dos Escritos Apostólicostc "O Surgimento do Cânon dos Escritos Apostólicos"
A palavra “cânon” vem da palavra grega “Kanon”, significando uma “vara de medir” ou “uma regra”. Esta é a palavra dada pelos pais da igreja primitiva àquele conjunto dos primeiros escritos apostólicos que seriam sozinhos a “vara de medir” ou “a regra” pela qual se avaliaria todas as outras revelações e escritos, especialmente aqueles dos gnósticos cismáticos. Por causa da circulação de certos evangelhos e epístolas gnósticas, Irineu insistiu que o teste da validade de qualquer escrito “inspirado” seria se ele foi ou não

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