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A Evolução da Logística Empresarial
Teoria e Prática ao Longo do Tempo
esde o surgimento da logís-
tica empresarial, ocorrido a 
partir do término da Segunda Guerra 
Mundial até a atualidade, houve uma 
evolução nas suas bases teóricas. O 
meio acadêmico, baseado na depu-
ração das idéias através de intensos 
debates cientí�cos, permitiu melhor 
compreensão dos aspectos básicos 
da logística empresarial. De simples 
sinônimo de gestão de transportes, 
passando pela incorporação de siner-
gia na sua gestão, até a sua assimila-
ção como um sistema de gestão das 
operações empresariais, ocorreram 
aprimoramentos da sua compreensão 
ao longo do tempo. Os últimos estu-
dos apontam a logística como uma 
função empresarial, responsável pela 
gestão das operações das empresas 
e como tal deve possuir um gestor de 
alto escalão para administrar as áreas 
de abrangência. Estas áreas compre-
endem o suprimento (compras e al-
moxarifado), a produção (de PCP a en-
genharia de produto), distribuição (da 
As bases teóricas da logística empresarial 
evoluíram consideravelmente nas últimas 3 
décadas, porém ainda não foram totalmente 
assimiladas no que diz respeito à sua prática nas 
empresas. A análise do hiato existente entre a teoria 
e sua aplicação prática, bem como a proposição de 
aceleração da aderência da teoria para a prática, 
torna-se de extrema relevância no contexto atual. 
Algumas propostas serão apresentadas neste 
sentido, considerando o atual status organizacional 
das empresas.
Mauro Roberto Schlüter (mauro@ipelog.com) é formado 
em Administração, com mestrado em Engenharia de 
Produção e doutorando em Engenharia de Produção pela 
UFRGS. Diretor do IPELOG e professor de Logística, com mais 
de 12 anos de experiência em pesquisa, ensino e aplicação 
prática da Logística. Palestrante sobre o assunto no Brasil e 
exterior.
: : Artigos
a
expedição até o cliente), utilização (da instalação à assistência técnica), e reversão 
(logística reversa de todos os resíduos).
A evolução da caracterização do ambiente de logística em uma empresa, cons-
truída pelo meio acadêmico, não foi acompanhada pelo meio empresarial. As áreas 
que compreendem a logística empresarial estão dispersas e são gerenciadas por 
funções, cujo objetivo é diverso da logística. Um bom exemplo daquilo que acon-
tece de forma corriqueira nas empresas, encontra-se na área de distribuição. Via 
de regra a área de distribuição está vinculada à área de comercialização, quando 
na verdade deveria estar conectada com as demais áreas sob o comando de uma 
só diretoria. As disfunções que ocorrem na aplicação prática sugerem que os ges-
tores das empresas ainda não conhecem os fundamentos da moderna logística. 
26
Existem alguns indícios que apontam 
para a falta de ensino (formal ou infor-
mal), ou ensino de�ciente nas escolas 
e demais entidades do setor, que tem 
como origem a falta de professores 
especializados. O resultado das de�ci-
ências mencionadas anteriormente é 
evidenciado através do baixo nível de 
competitividade logística das empresas 
de um modo geral.
A logística empresarial passou por 
dois momentos que marcaram de for-
ma indelével a história da sua evolução. 
O primeiro diz respeito à adaptação 
dos conceitos de logística militar para 
o meio empresarial e o segundo incor-
pora na logística o entendimento do 
custo logístico total. Ambos foram de 
extrema importância para a construção 
do conceito de logística empresarial e 
sua evolução ao longo do tempo.
O uso de técnicas de logística 
militar no meio civil
O meio militar foi o primeiro a uti-
lizar a logística para vencer guerras. A 
etimologia do termo tem origem fran-
cesa e seu signi�cado está ligado ao 
transporte, acantonamento e supri-
mentos de tropas militares. Garantir a 
efetividade da frente de combate nos 
territórios que demandavam conquis-
ta e/ou defesa para alcançar a vitória 
a qualquer custo, era o objetivo maior 
da logística militar. Para tanto, execu-
tava a gestão sistêmica das operações 
militares para garantir o seu objetivo. 
Os valores relacionados aos seus obje-
tivos não possuíam parâmetros de�ni-
dos metricamente, pois estavam em-
basados na manutenção da liberdade 
e pujança de uma nação. 
Após o término da Segunda Guer-
ra Mundial ocorreu a divisão da Europa 
em dois grandes blocos. O primeiro era 
formado pelos países capitalistas e o segun-
do pelos países sob in#uência da antiga União 
Soviética. Países que existiam na época foram assimi-
lados por cada bloco, de acordo com as conveniências dos vitoriosos. Hungria, 
Tchecoslováquia, Iugoslávia e Polônia foram exemplos de países que �caram sob 
jugo soviético. A Alemanha foi dividida em dois territórios: o capitalista e o co-
munista. Berlim também foi dividida ao meio, mas estava encravada em território 
comunista. Alguns meses após o término da Segunda Guerra, os comunistas res-
tringiram os acessos terrestres utilizados pelos capitalistas para suprir Berlim Oci-
dental. Diante do problema, os aliados capitalistas montaram uma operação de 
abastecimento aéreo. O cerco a Berlim Ocidental durou pouco mais de 11 meses 
e nesse período foram transportados mais 2,5 milhões de toneladas de produtos 
para abastecer a população. Foi uma operação de logística militar que uniu em-
presas particulares de prestação de serviços de transporte e armazenagem para 
abastecer uma população civil, sem que houvesse guerra declarada. Este fato é 
considerado histórico, pois foi a primeira vez que houve a transposição de técni-
cas de logística militar para logística civil, que serviu de base para o surgimento 
da logística empresarial.
Transposição da logística militar para o meio empresarial
A motivação que levou o uso das técnicas de logística militar para garantir o abas-
tecimento de uma população civil, não teve repetição após o cerco a Berlim. Novas 
motivações surgiram a partir da crise do petróleo no �nal dos anos 60 e início dos anos 
70. O aumento dos gastos com energia desestabilizou orçamentos em todos os níveis. 
Governos, empresas, famílias e pessoas tiveram os seus poderes aquisitivos achatados, 
gerando uma recessão no consumo de bens e serviços. Nesse período, houve um cres-
cimento intenso do uso de técnicas de marketing, que tinham como objetivo a reten-
ção e conquista de novos clientes. As técnicas de marketing surtiram efeitos positivos 
no contexto do cenário de então, porém havia rupturas de abastecimento. Nem sem-
pre os produtos estavam à disposição dos consumidores no momento em que estes 
demandavam. A situação tendia a um recrudescimento da ruptura e deveria ser sanada 
de forma efetiva. Diante disso, as empresas buscaram nas técnicas de guerra, o método 
utilizado para entregar a munição para a tropa, no momento em que esta necessitava 
para manter a conquista ou defesa do território, que era a logística. A logística passou a 
ser utilizada para disponibilizar produtos ao mercado, dentro da qualidade de serviços 
adequada às expectativas dos consumidores.
A teoria do custo logístico total
Em 1956, um trabalho acadêmico realizado por três estudantes da escola de 
Administração da Universidade de Harvard enfocou um estudo em que o trans-
As bases conceituais da 
moderna logística 
empresarial
27
porte aéreo, apesar do seu alto custo, 
se justi�cava através da erradicação de 
outras perdas. Culliton, Steele e Lewis 
abordaram este assunto e concluíram 
que os custos logísticos deveriam 
abordar todo o contexto da operação, 
inclusive as perdas inerentes ao que se 
deixa de ganhar. O exemplo a seguir 
esclarece melhor esta situação.
Exemplo:
Considere a necessidade 
de aquisição de microproces-
sadores da Malásia para uma 
empresa localizada no Brasil. 
Embora não exista urgência, o 
pagamento do produto deve 
ser feito por ocasião do embar-
que. As opções de escolha mo-
dal estão restritas ao aéreo e ao 
marítimo.Os dados relativos à 
tarifa e aos prazos de entrega 
são os seguintes:
Aéreo
Tarifa: US$ 14,000.00
Tempo de entrega: 3 dias
Marítimo
Tarifa: 3,000.00
Tempo de entrega: 48 dias
Qual seria a melhor opção de modal?
O cenário sugere que a tarifa seja 
o único fator de decisão, porém existe 
outro fator que não está expresso no 
cenário, trata-se do custo do dinheiro 
investido no produto durante o tempo 
em que este se encontra em transpor-
te. Se a empresa embarcar o produto 
pelo modal marítimo, deixa de ganhar 
a remuneração dos juros sobre o valor 
do pagamento do produto. A �gura 1 
demonstra esse fato.
Como a decisão deve ser tomada:
Pagamento no 
embarque do navio
Pagamento no 
embarque do avião
Pagamento 
48 dias
Pagamento 
3 dias antes
Se fosse receber 
hojeDiferença de 45 dias
Figura 1. Diagrama do custo �nanceiro.
A explicação é simples: se o modal escolhido fosse o marítimo, o pagamento 
deveria ocorrer 48 dias antes do recebimento. Mas se o modal escolhido fosse o aé-
reo, o valor do produto (US$ 2,000,000.00) poderia permanecer aplicado e geraria 
uma receita �nanceira superior ao valor da tarifa do transporte aéreo. O quadro a 
seguir mostra os valores que devem ser considerados na decisão deste cenário.
Modal Tarifa Custo Financeiro Custo Total
Marítimo 3,000.00 30,000.00 33,000.00
Aéreo 14,000.00 560.00 14,560.00
Diferença 11,000.00 29,440.00 18,440.00
O custo logístico total do cenário descrito acima é de R$ US$ 33,000.00 para 
o modal marítimo e de US$ 14,560.00 para o modal aéreo, fornecendo uma dife-
rença de US$ 18,440.00 favorável ao aéreo. 
O contrário ocorre para produtos de baixo valor agregado, como o arroz, por 
exemplo. Se o produto fosse o arroz, certamente o modal mais adequado seria o 
marítimo. Embora as decisões logísticas, em cenários nos quais os produtos são 
extremos de valor por item, possam ser tomadas acertadamente com base no 
empirismo, as mesmas não ocorrem em cenários nos quais o valor dos produtos 
é mediano e existe a presença de todos os modais.
A Teoria do Custo Logístico Total demonstra que existem outros custos que 
não estão aparentes e que devem ser considerados na decisão de cenários logís-
ticos. Uma decisão meramente operacional conduz o gestor a decidir pela menor 
tarifa, optando pelo modal marítimo. Já uma decisão de logística pressupõe a 
inclusão de outros fatores e valores, promovendo sinergia entre os elementos do 
cenário, direcionando pela opção aérea. O estudo, conduzido por Culliton, Ste-
ele e Lewis, foi de extrema importância para a concepção da logística tal qual 
é entendida atualmente, fornecendo as bases que separam a mera gestão das 
operações da gestão de logística.
O conceito de logística empresarial e sua caracterização
A logística empresarial possui um conceito formal, aceito e citado em todos 
os trabalhos cientí�cos ligados ao estudo do assunto. Este conceito foi formulado 
pelo Conselho de Logística Empresarial (CLM – Council of Ligistcal Management), 
28
atual Conselho de Pro�ssionais de Cadeias de Suprimento (CSCMP – Council of 
Supply Chain Management Professionals). A elaboração do conceito contou com 
o auxílio de vários pesquisadores de renome e sua tradução é descrita como:
O QUÊ:
OBJETIVOS:
ABRANGÊNCIA:
“gestão do #uxo de produtos e 
atividades correlatas”
“minimizar custos” 
“melhorar os níveis de serviço”
“desde as fontes de matéria-prima 
até o consumidor �nal”
A caracterização deste conceito sugere que a gestão das operações da em-
presa deva ser realizada de forma sistêmica na sua abrangência, porém não é isso 
que ocorre na prática do dia-a-dia das empresas.
A evolução da logística empresarial 
A logística empresarial passou por uma evolução ao longo do tempo. Desde 
o seu surgimento como uma técnica de gestão das operações de transporte até 
a sua compreensão como uma função empresarial, foram travadas inúmeras dis-
cussões no âmbito acadêmico. A depuração dessas discussões resultou em evo-
luções dos aspectos básicos que caracterizam o conceito de logística empresarial. 
Atualmente, a logística é compreendida como um sistema dentro das empresas, 
responsável pelas ações de apoio a conquista e defesa de mercados. A �gura 2 
mostra a evolução da logística a partir da década de 70.
Figura 2. Evolução da logística.
A inclusão da logística no meio 
empresarial iniciou nos anos 70 e evo-
luiu ao longo do tempo, incorporando 
novas áreas, até percepção de que a 
logística era um sistema da empresa.
Anos 70 – Logística é transporte
Com o surgimento da crise do pe-
tróleo e o seu impacto nos orçamentos 
de pessoas, empresas e governos, hou-
ve incremento de técnicas avançadas 
de marketing com o objetivo de reter e 
conquistar mais clientes. Porém, os ob-
jetivos de marketing eram comprome-
tidos pelas rupturas nas operações de 
entrega dos produtos nos pontos-de-
venda. Ao perceber esses problemas, as 
empresas buscaram no meio bélico os 
métodos que propiciavam a entrega da 
munição, quando esta era exigida pelos 
soldados na frente de combate, que é 
a logística. A incorporação da logística 
militar no meio empresarial assumiu 
outros valores, que posteriormente fo-
ram vinculados ao conceito formaliza-
do pelo CLM, que são os de minimizar 
custos e melhorar os níveis de serviço 
ao cliente. A logística empresarial sur-
ge no seu alvorecer, como uma técnica 
mercadológica com objetivo de erra-
dicar perdas ocasionadas pela falta do 
produto. Os maiores pensadores da lo-
gística empresarial em âmbito mundial 
surgiram da área de marketing (Donald 
Bowersox e Martin Christopher).
Anos 80 – Incorporação do 
suprimento
Enquanto que nos idos tempos de 
sua implementação como técnica que 
visava erradicar as rupturas de #uxo 
de entrega, notadamente junto às em-
presas que industrializavam produtos 
de consumo �nal, nos anos 80 houve 
um acréscimo de abrangência. Este 
Suprimento + Produção + Disbribuição + Utilização + Reversão
Anos 70 Transporte
Suprimento
Anos 2000
Anos 90
Anos 80
Produção
Utilização 
Reversão
Evolução da Logística
A visão sistêmica da logística empresarial
+
+
+
“o processo de planejamento, implementação e 
controle do fluxo e armazenagem eficientes e de baixo 
custo de matérias-primas, estoque em processo, 
produto acabado e informações relacionadas, desde 
o ponto de origem até o ponto de consumo, com o 
objetivo de atender aos requisitos do cliente“.
O conceito de logística empresarial possui três características básicas:
29
acréscimo se deu por conta das empresas que industrializavam partes e conjun-
tos de produtos de consumo �nal. Houve a percepção que a logística também 
poderia ser utilizada para erradicar rupturas nos fornecimentos das matérias-pri-
mas dessas empresas. A gestão dos estoques de produtos acabados foi ampliada 
para a área de suprimentos de matérias-primas, pois a logística de distribuição de 
uma empresa, que faz uma parte de um produto de consumo �nal, é a logística 
de suprimentos das empresas que fazem o produto de consumo �nal. Ao �nal 
dos anos 80, algumas empresas de vanguarda perceberam que a área de com-
pras também fazia parte da logística, através das compras de matérias-primas. 
Embora isso seja entendimento pací�co no meio acadêmico, algumas empresas 
ainda não incorporaram este conceito. Aliado a isso, alguns livros, cujas primei-
ras edições remontam os anos 70, ainda não incorporaram a área de compras, 
como, por exemplo, o livro “Logística Empresarial” de Ronald Ballou. Foi a partir 
dessa década que o meio acadêmico avançou nos estudos e distanciou-se do 
meio empresarial, criando um hiato entre a teoria desenvolvida e a sua respectiva 
aplicação prática.
Anos 90 – A logística é um sistema
Nos anos 90, a produção foi incorporada à logística empresarial. Os pesqui-
sadores sugeriram que a logística não poderia ser administrada de forma isolada 
(logística de entrada de matérias-primas e logísticade saída de produtos aca-
bados). Esta incorporação se deu de forma tímida, através da inclusão da PCP 
(Planejamento e Controle da Produção), de forma clara por alguns autores de 
renome, dentre eles Donald Bowersox, Martin Christopher e Douglas Lambert. 
Os argumentos utilizados para justi�car a inclusão da produção remetiam a te-
oria dos sistemas, criada pelo biólogo Ludwig Von Betalanfy e adaptada para as 
ciências empresarias. A teoria dos sistemas preconiza que um sistema possui uma 
série de características, dentre as mais importantes destacam-se: 
-
mizado;
As principais características de um sistema, quando transpostas para o am-
biente empresarial, evidenciam que as áreas compreendidas pelo #uxo de opera-
ções devam ser gerenciadas de forma conjunta.
Anos 2000 – A logística incorpora os serviços de utilização e a reversão
A partir dos anos 2000, a logística incorpora mais duas áreas, que apesar de 
estarem implícitas no contexto das operações, ganharam força pela sua elevada 
signi�cância. Os serviços que garantem a boa utilização dos produtos acabados, 
quais sejam assistência técnica, instalação e treinamento de utilização (quando 
for o caso), devem ser conduzidos pela logística, que se utiliza desse contato com 
o usuário como forma de aprimoramento do produto. Esta nova área é também 
denominada de “Logística de Serviços”. 
Além disso, a logística reversa ganha 
expressiva importância no contexto da 
gestão ambiental, muitas vezes com-
parada à prática da gestão ambiental. 
Tudo que não possuir utilidade de for-
ma nos processos logísticos interme-
diários de uma cadeia produtiva, deve 
ser reinserido no mesmo processo, em 
outros processos da mesma rede ou de 
outras redes, ou em outros processos 
de redes de outros sistemas logísticos. 
Embalagens, unitizadores, veículos, so-
bras e avarias precisam ser reutilizados 
e se possível não afetar o meio ambien-
te. Nesse contexto, a área de logística 
reversa assume a posição de sta� em 
um organograma logístico.
A aplicação prática da 
gestão logística
O hiato da aplicação da gestão lo-
gística existente entre as pesquisas de-
senvolvidas pelo setor acadêmico e a 
respectiva aplicação prática pelo setor 
empresarial, iniciou na década de 80 e 
ampliou-se a partir da década de 90. A 
década de 90 foi marcada pela incorpo-
ração da produção como mais uma área 
de abrangência da logística. A existência 
de um hiato entre teoria e prática é algo 
que se considera normal, uma vez que 
cabe ao meio acadêmico a busca pela 
vanguarda através do estabelecimento 
de bases teóricas sólidas e que garan-
tam a sua replicação prática. Ocorre, 
porém, que aplicar uma nova metodolo-
gia de gestão que altere as relações de 
poder estabelecidas nas empresas, qua-
se sempre é rejeitada. A transformação 
da teoria em prática é comprometida 
pelas pessoas que detêm o poder, prin-
cipalmente aquelas que serão afetadas 
negativamente pelos novos padrões de 
distribuição do poder.
30
O desenho dos organogramas das empresas mostra que as áreas compreen-
didas pela logística estão dispersas. De forma geral, o desenho do organograma 
é o que está demonstrado na �gura 3.
Diretor
Finanças Rec. Hum. Industrial Marketing
Compras
Transporte MP
Almoxarifado
PCP
Eng. Produto
Manufatura
Distribuição
CDs
Pós-venda
Figura 3 . Organograma conservador.
Uma pesquisa recente, realizada pelo IPELOG (Instituto de Pesquisa e Ensino 
em Logística), do Rio Grande do Sul, junto às grandes empresas (com mais de 500 
funcionários), no ano de 2004, teve como objetivo constatar como as empresas 
aplicavam a gestão da logística. Dentro do contexto da pesquisa, era solicitada a 
vinculação das áreas de compras, almoxarifado (ou estoque de matérias-primas), 
produção e distribuição, que são as mais signi�cativas sob o ponto de vista da 
gestão sistêmica da logística. O per�l dos pro�ssionais entrevistados era os ges-
tores responsáveis pela logística, compras, distribuição e produção. A pesquisa 
apurou que na maior parte das empresas, as áreas compreendidas pela logística 
ainda estavam dispersas e sem um comando uni�cado de gestão.
As respostas fornecidas pelos entrevistados para justi�car a falta de visão 
sistêmica para a logística foram as se-
guintes:
-
ra voraz de recursos �nanceiros e, 
portanto, necessita estar vinculada 
à área �nanceira;
gasta a maior parte dos recursos de 
operação (mão-de-obra, equipa-
mentos, energia, ferramentas, etc.) 
e, portanto, necessita de uma dire-
toria separada das demais áreas;
não faltarão produtos para entrega 
junto aos clientes, sendo vital para 
a área comercial.
Constatou-se também que os 
gestores das áreas compreendidas 
pela logística (suprimento, produção 
e distribuição) apontaram a existên-
cia de problemas no fluxo do produ-
to, relacionados aos objetivos con-
flitantes entre as diretorias as quais 
estavam subordinados. Na tentativa 
de sanar o problema, muitos busca-
vam canais informais de comunica-
ção entre seus pares para executar o 
planejamento de fluxo de operação 
com razoável eficiência e eficácia. 
Embora essa forma de comunicação 
seja uma solução parcial para a falta 
de visão sistêmica, pode ser compro-
metida a partir de um turn-over entre 
os seus integrantes.
O posicionamento ideal para a ges-
tão logística nas empresas é mostrado 
na �gura 4.
Gestor de logística
Suprimentos Produção
Serviço ao 
cliente
Compras
Transporte
Armazenagem
Distribuição
Treinamento
Logística reversa
Almoxarifado
PCP
Eng. Produto
Manufatura
Qualidade
Ass. Técnica
Diretor
Figura 4 . Organograma ideal para gestão logística.
Neste organograma, a logística é 
mostrada como um sistema da em-
presa, com todas as suas áreas sob o 
comando de um único gestor no nível 
de diretoria. 
O hiato entre a teoria e a prática su-
gere a ausência de conhecimento so-
bre logística entre os gestores de alto 
escalão das empresas.
31
O papel do ensino da logística na sua aplicação 
prática
A pesquisa realizada pelo IPELOG constatou uma correlação entre o ensino da 
logística e sua aplicação prática nas empresas da amostra. A maior parte dos entrevis-
tados participou de cursos informativos sobre logística e somente cinco informaram 
possuir cursos de formação em logística (pós-graduação), e nenhum diretor-presi-
dente ou superintendente fez algum tipo de curso de gestão estratégica nos últimos 
5 anos. Cursos informativos (de curta duração), são convenientes em situações nas 
quais a dinâmica de um determinado assunto impõe atualização constante (legisla-
ção tributária, tecnologia da informação, etc.), mas não para uma área de tamanha 
importância e complexidade como ocorre com a logística empresarial.
Cursos de formação especí�ca em logística são especialmente importantes 
para os gestores envolvidos nas áreas subordinadas a ela e cursos de gestão e 
estratégia empresarial são importantes como fonte de atualização de diretores 
das demais áreas da empresa (inclusive o diretor-presidente). Se todos conhe-
cerem as verdadeiras competências da logística empresarial, a aplicação prática 
se torna mais efetiva e ocorre em tempo mais curto.
Considerações &nais
A logística evoluiu consideravelmente a partir dos anos 70, culminando com 
a compreensão de que a sua competência é a gestão das operações empresa-
rias. A existência de um gap entre teoria e prática da abrangência da logística 
está ligada diretamente a questões de alterações no poder estabelecido nos 
atuais organogramas. Por outro lado, veri�ca-se que a autoridade para imple-
mentação de uma diretoria de logística, com visão sistêmica, é prejudicada pela 
falta de conhecimento que estes decisores possuem sobre logística.
A inexistência de uma diretoria de logística pode comprometer a competi-
tividade logística das empresas, provocada pela falta de sinergia de ações entre 
os diversos subsistemas.
A supressão do gap sóserá alcançada na medida em que os altos gestores 
das empresas, com autoridade para implementar a logística, obtiverem o co-
nhecimento necessário para tal.
: : Referências
1952.
-
Graw-Hill, Boston: 1998.
-
res Logísticos. Editora ECPGHS – Indaiatuba – 2005
32