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Idade Média – formação do feudalismo 07 Aula 4A História 1 O termo Idade Média é utilizado para denominar o período cronológico intermediário entre as idades Antiga e Moderna. Trata-se de um longo perí- odo histórico de cerca de mil anos que se inicia com a queda de Roma (476), no século V da era cristã, até a queda de Constantinopla (1453), invadida pelos turcos em meados do século XV. Por ser um longo período histórico, é necessário estabelecer uma divisão cronológica da Idade Média em duas etapas distintas: a Alta e a Baixa Idade Média. V VI VII VIII IX X XI XII XIII XIV XV ALTA IDADE MÉDIA BAIXA IDADE MÉDIA Formação do Feudalismo Consolidação e apogeu do sistema feudal Crise do Feudalismo Principais características Entre as características mais importantes do feudalismo, podemos citar as seguintes: • Ruralização da sociedade Já a partir do século III, a economia romana em decadência levava a sociedade a um processo de ruralização. A invasão dos germânicos acentuou esse quadro. • Fragmentação do poder central No sistema feudal, a propriedade senhorial do feudo incluía o poder militar, o poder judicial, o poder político e até o direito de cunhar moedas. A autoridade do rei, teoricamente o suserano supremo, dependia da extensão e da riqueza de seus feudos. • Privatização da defesa Os senhores feudais possuíam seus próprios exércitos. Esse processo de privatização da defesa acelerou-se a partir dos ataques vikings, sarracenos e húngaros. • Clericalização da sociedade A partir do momento em que o cristianismo tornou-se a religião oficial do Império Romano, a proporção de clérigos na sociedade aumentou enor- memente. Além do crescimento quantitativo, ocorreu também um aumento qualitativo, pois o clero tornou-se um grupo diferenciado dos demais, pos- suidor de privilégios especiais e de grande poder político-econômico. É bom lembrar que o clero detinha o monopólio da comuni- cação com Deus, tornando-se o responsável pela salvação de todos os homens. • Relações de dependência pes- soal Os servos subordinavam-se a um senhor. Este, por sua vez, pode- ria se subordinar a um outro senhor mais poderoso e assim por diante – eram as relações de suserania e vassalagem. • Mudança de mentalidade A mentalidade do homem me- dieval era marcada por um grande sentimento religioso e predomina- va o pensamento teocêntrico: “Deus é a medida de todas as coisas”, em vez da síntese clássica, “O homem é a medida de todas as coisas”. Economia feudal A sociedade e a economia durante o feudalismo eram essen- cialmente agrárias. No trato com a terra, as técnicas eram precárias. Os animais eram atrelados ao arado pelo pescoço, o que diminuía sensivelmente sua força de tração. Arava-se superficial- mente o solo. Enfim, podemos afir- mar que a produtividade era muito baixa, chegando-se ao cúmulo de se colher, para cada semente semeada, duas, dando a ridícula proporção de um para dois. 2 Semiextensivo O uso de instrumentos de trabalho rudimentares e de técnicas precárias de produção geraram uma econo- mia de subsistência, na qual se produzia apenas para o consumo próprio. Uma economia agrária, mas não exclusiva- mente. Devemos abandonar a imagem, exage- rada, de uma agricultura feudal fechada, isola- da e autossuficiente. É verdade que a pequena produtividade fazia com que qualquer acidente natural (chuvas em excesso ou em falta, pragas) ou humano (guerras, trabalho inadequado ou insuficiente) provocasse períodos de escassez. Desta forma, sempre assustado com a possibili- dade da fome, cada senhorio procurava suprir suas necessidades, produzindo para seu consu- mo tudo o que ali fosse possível... Mas, quando era preciso recorrer à produção de outras re- giões, havia circuitos comerciais para isso. Em suma, era uma agricultura apenas tendente à subsistência. FRANCO Júnior, Hilário. O feudalismo. 10. ed. São Paulo: Brasiliense, 1991. p. 31 A historiografia tradicional sempre procurou salien- tar o caráter fechado na economia feudal. Segundo os historiadores atuais, entre os séculos VI e IX houve uma retração das atividades comerciais. Já a partir dos sécu- los X e XI, ocorreu um grande desenvolvimento urbano e comercial. Portanto, o feudalismo não foi incompatível com o comércio. O sistema feudal só entrou em crise no período da Baixa Idade Média, séculos XIV e XV (epide- mias, guerras, etc.). Sociedade feudal A sociedade feudal era uma sociedade de ordem. Segundo Adalberto de Laon, o domínio da fé é uno, mas há um triplo estatuto na ordem. A lei humana impõe duas condições: o nobre e o servo não estão submetidos ao mesmo regime. Os guerreiros são pro- tetores das igrejas. Eles defendem os poderosos e os fracos, protegem todo mundo inclusive a si próprios. Os servos, por sua vez, têm outra condição. Essa raça de infelizes não tem nada sem sofrimento... Nenhum homem livre pode viver sem ele... A casa de Deus, que parece una, é, portanto, tripla: uns rezam, outros combatem e outros trabalham. Todos os três formam um conjunto e não se separam: a obra de uns permite o trabalho dos outros dois e cada qual, por sua vez, presta seu apoio aos outros. Assim como a ordem celeste é una e trina, o mesmo deve acontecer com a ordem terrestre. Como na cidade de Deus existe desigualdade, o mesmo deve acontecer na cidade do homem. Esse esquema ideal dividia a sociedade feudal em oratores (clérigos), bellatores (guerreiros) e laborato- res (trabalhadores). Nobreza Era constituída por duques, marqueses e condes, que pertenciam à antiga nobreza e eram chamados grandes feudatários porque tinham o direito de enfeudar, isto é, podiam conceder feudos a outros nobres, seus vassalos. A pequena nobreza era formada por barões, viscondes e cavaleiros, que podiam receber feudos, mas não podiam enfeudar, ou seja, ter vassalos. A vida da nobreza feudal era regulada de maneira particular no que diz respeito à habitação, aos hábitos sociais, às ocupações e às diversões: vida no castelo, caça, guerra privada, torneios, cavalaria. A guerra privada era uma guerra entre senhores feudais, motivada pela ambição de conquistar feudos, ou por simples amor pela luta e pela aventura. Matavam, pilhavam e incendiavam. A Igreja procurou impedir tais violências, tomando medidas drásticas, tais como: • a Paz de Deus, que punia os que violassem os luga- res de adoração, roubassem os pobres e injuriassem os sacerdotes; • a Trégua de Deus, que proibia a luta de sexta-feira ao amanhecer de segunda-feira e em época de plantio e de colheita. Os infratores eram excomungados. Servos Forma de trabalho característica do feudalismo foi a servidão. O servo era um camponês que, dispondo de instru- mentos de trabalho e do usufruto de uma exploração, se encontrava, todavia, ligado a um senhor por toda espécie de compromissos pessoais e tributos. Havia também os vilões camponeses que tinham, em geral, uma condição de vida pouco melhor que a maioria (os servos), pois muitos possuíam instrumen- tos de trabalho e pagavam menos impostos. As principais obrigações dos servos eram: corveia, o camponês trabalhava três dias por semana para o se- nhor; talha consistia na entrega de parte da produção ao senhor; quando se casava, o camponês era obrigado a pagar uma taxa chamada formariage; já quando su- cedia ao pai na posse do manso, pagava a mão-morta. Uma obrigação singular eram as banalidades: o camponês as pagava quando usava as instalações do senhor, como, por exemplo, o forno, o moinho e o lagar. Porém não houve um só tipo de servo nem um só tipo de servidão. Na verdade, ocorreram variações, dependendo da época e do local. Aula 07 3História 4A Poder político A organização política feudal era descentralizada e o poder fragmentado, diluído nas mãos dos senhores feudais e do clero. O rei tinha poucos poderes no mundo feudal. Em geral, era uma figura decorativa, tendo poderes apenas noseu feudo. De maneira geral, possuía o poder de direito mas não o exercia de fato (na prática). Por meio do contrato de enfeudação, o monarca distri- buía terras aos nobres. • A enfeudação consistia na homenagem e na investi- dura: • a homenagem era a cerimônia em que o vassalo prestava juramento de fidelidade e de obediência ao suserano; • a investidura consistia na entrega ao vassalo de um galho de árvore, uma lança ou outro objeto que simbolizava o feudo. • O contrato de enfeudação implicava direitos e obrigações recíprocas, de modo que o rompimento do acordo era considerado uma traição e provocava o confisco do feudo. • O suserano, ou seja, aquele que entregava o feudo, de- veria prestar auxílio militar e dar assistência judiciária ao seu vassalo. • Já o vassalo deveria prestar serviço militar, comparecer ao tribunal do senhor e pagar taxas quando herdasse o feudo. Na Europa Medieval, existia uma cadeia de relações vassálicas, em que quase todos os membros da aristocracia eram, ao mesmo tempo, suseranos e vassalos. Igreja medieval Com o esfacelamento do Im pério Romano, a Igreja Católica tornou-se a única instituição a manter-se coesa; daí o aumento da sua influência sobre o cotidia- no das pessoas, bem como sobre a vida política, social e econômica dos reinos que se formaram na parte ociden- tal do antigo Império Romano. É bom destacar que, nos primeiros sécu los, o cristianismo é uma religião de vilas e cidades. As massas es tão cristianizadas superficialmen te e, nas áreas rurais, o grau de idolatria e costumes pagãos eram enormes. Somente em torno do século VIII é pos- sível se falar de uma Europa só com a parte ocidental razoavelmente cristianizada. Vale lembrar que a diversidade de povos, de línguas, de cultura fez com que os dogmas cristãos fossem inter- pretados de forma diferente. Qual seria a interpretação verdadeira? As interpretações considera das errôneas passaram a ser chamadas de heresias. Heresia (do grego haíresis) significa escolher. Com o advento do cris tianismo, a palavra recebeu uma conotação pejorativa de doutrina con trária à fé cristã. Nos primórdios do cristianismo, o maior castigo imposto aos hereges era a exclusão deles da vida entre os cristãos. São Paulo aconselhava que não comessem com eles, e São João, que não os saudassem. Mas, quando a religião católica tornou- -se a oficial no Império Romano, as coisas mudaram e as punições tornaram-se severas. Enfim, na Europa Ocidental, após a queda do Império Romano, a única institui ção poderosa e universal era a Igreja, que passou a ter uma estrutura cen tralizada, autoritária e supranacional. A Igreja se fazia presente do nas cimento até a morte. Viver fora dela, na Europa cristã, era quase impossível. Organização A organização da Igreja era cen tralizada, hierárquica e extremamente autoritária. Os sacerdotes (arcebispos, bispos e párocos) consti- tuíam o clero secular, assim chamado porque os seus mem bros viviam na sociedade ou no mundo (do latim, saeculum). A paróquia era um pequeno distrito, cuja direção pertencia a um pároco ou cura, que vivia em con tato com o povo. Os bispos governavam as dioce- ses, constituídas de várias paróquias. Já os arcebispos tinham a seu cargo uma arquidiocese, título honorífi co atribuído a algumas dioceses devido à sua antiguidade e importância. Os tribunais eclesiásticos eram importantes, pois, além de julgarem os membros do clero, pronunciavam- -se sobre todos os assuntos vinculados à Igreja, como contratos celebrados sob juramento, testamentos, ques- tões referentes a órfãos e viúvas, bruxarias e sortilégios. Os julgamentos norteavam-se pelo direito canônico. O clero regular, assim chamado por que subordi- nava sua vida a uma regra (do latim, regula), vivia em comunidade isolada, em seus mosteiros. O conjunto de conventos que obedeciam à mesma regra denominava- -se ordens. Dentre as principais ordens religiosas medievais, devemos destacar a dos Beneditinos (fundada por São Bento de Núrsia), a dos Dominicanos (São Domingos), a dos Franciscanos (São Francisco de Assis) e a das Clarissas (Santa Clara). Os seguidores de São Francisco fundaram a primeira ordem mendicante durante a Idade Média, que foi assim caracterizada em virtude do voto de absoluta pobreza jurado pelos seus membros. A clau- sura e a simplicidade da vida monástica contrapunham- -se à pompa e ao luxo da vida mundana, compartilhada entre os membros do clero secular. 4 Semiextensivo BELLINI, Giovani. São Francisco no deserto. 1480. 1 óleo e têmpera sobre madeira, color; 124,4 cm x 141 cm. Frick Collection, Nova Iorque. © W ik im ed ia C o m m o n s/ Fr ic k C o lle ct io n , N o va Io rq u e, E st ad o s U n id o s São Francisco no deserto Heresias na Idade Média Na Idade Média, em geral o alto clero estava do lado dos senhores, pregava aos pobres a submissão e a obe- diência. Por essa razão, cres ciam entre o povo as exigên- cias de que a Igreja abandonasse a pompa e modificasse sua doutrina. O fundador da seita dos Valdenses, Pedro Valdo, dividiu seus bens e foi pregar entre os arte sãos pobres e os camponeses. Ensinava que a Igreja devia ser humilde, atacava a vida dissoluta e pomposa dos clérigos. Advoga va o retorno à vida simples, às co munas cristãs e à igualdade entre os homens. No sul da França, os cátaros (do grego kataros, isto é, puri ficados) receberam o nome de albigenses por ser a cidade de Albi seu centro mais importante. Esta seita negava completamente a Igreja Católica e sua doutrina, não reconhecia a autoridade dos papas e dos bis pos e tinha seus próprios sacerdotes. Inquisição Vários decretos papais tentaram regulamentar a detecção de heresias e como com batê-las. Em 1184, o papa Lúcio III instalou inqui sições episcopais. Em 1231, o papa Gregório IX estipulou procedimentos pelos quais inquisidores profissionais seriam enviados para localizar here ges e persuadi-los a se retratarem. Seriam insta lados tribunais presididos por dois juízes locais no meados pelo papa. A identidade das testemunhas permanecia no anonimato. Inocêncio IV em 1252 permitiu o uso da tortura para obter uma confis são. As penas eram as mais variadas, sendo a morte na fogueira a mais grave. DELAROCHE, Paul. Joana d’Arc é interrogada pelo cardeal de Winchester na prisão. 1824. 1 óleo sobre tela, color.; 277 cm x 217,5 cm. Museu de Belas Artes, Rouen, França. © W ik im ed ia C o m m o n s/ M u se u d e B el as A rt es , R o u en , F ra n ça Na Idade Moderna, com a Contrarreforma, a Inqui- sição tornou-se ainda mais atuante, notadamente na Itália, Portugal e Espanha. Cismas No ano de 1054, ocorreu o primeiro grande cis ma da Igreja, o chamado Cisma do Oriente, quando o papa de Roma excomungou o patriarca de Cons tantinopla e este excomungou o papa. A partir daí, passou a existir a Igreja Católica Romana e a Igreja Ortodoxa (Oriente). O chamado Cisma do Ocidente teve suas origens quando Filipe o Belo, rei da Fran ça, impôs como papa Clemente V, que transferiu a sede do Papado de Roma para Avignon, na Fran ça. Esse período, em que os papas residiram em Avignon, ficou conhecido como Cativeiro Babilônico (1309-1377). Em 1377, o papa Gregório XI transferiu a sede do papado para Roma. No ano seguinte, com a morte de Gregório, um conclave elegeu Urbano VI. Como o novo papa revelou-se violento e arrogante, um grupo de cardeais elegeu um novo papa, que tomou o nome de Clemente VII e instalou a sua cúria em Avignon. Havia um papa em Roma e outro em Avignon; era o “Cisma do Ocidente”. A existência de dois papas fez com que fosse con- vocado um concílio em Pisa (1409) para so lucionar a questão. Os cardeais declararam os dois papas depos tos e elegeram um terceiro, Ale xandre V. Porém, sem força polí tica para impor Alexandre V, os cardeais só aumen- taram o pro blema, pois passaram a existir três papas. Somenteem 1417, no Concílio de Constança, com a eleição de Martinho V, a questão foi resolvida. Aula 07 5História 4A Ação social Como já vimos anteriormente, graças aos mosteiros, os manus critos da Antiguidade Clássica fo ram preservados. Durante a Idade Média, era a Igreja que ministrava a educa- ção, mantendo um grande número de escolas paroquiais. As universida des surgiram graças à Igreja Ca tólica. A maioria das poucas pessoas alfabetizadas eram clérigos. Muitos nobres e quase todas as mulheres não sabiam ler nem escrever. Os hospitais, em sua maioria, eram mantidos por religiosos, bem como as casas para atender ór fãos e leprosos. Portanto, apesar das críticas que podemos fazer com relação ao comportamento do clero durante a Idade Média, é preciso reconhecer, por outro lado, a importância da ação social exercida pela Igreja Medieval. Cultura medieval A cultura medieval foi uma síntese de elementos greco-romanos, cristãos e germânicos, reformula dos em termos de novas experiências. Começou a distin- guir-se no século XI e atingiu o apogeu no século XIII. A Idade Média não foi, como se afirmou, uma longa e tenebrosa noite de mil anos, pois nesse período encontramos os alicerces da civilização ocidental. Literatura Épica Glorificava as façanhas dos heroicos cavaleiros. Os temas centrais eram: o heroísmo, a honra e a lealdade. Principais poemas épicos: O Poema do Cid (espa- nhol), A Canção dos Nibelungos (alemã) e A Canção de Rolando (francesa). A Canção de Rolando foi a primeira grande obra da literatura medieval em língua vulgar. É um longo poema descrevendo as proezas de Rolando e seu tio Carlos Magno. Lírica Os trovadores provençais criaram poemas líricos, cuja personagem central era a mulher e o tema, o amor. Não um amor sensual, mas um sentimento de êx tase, quase místico. A lírica trovadoresca foi artificiosa, refi- nada, corte sã e aristocrática. Romance O romance desenvolveu-se de várias formas. O de aventura refletia os ideais da aristocracia (fidelidade, bravura, etc.). Os principais foram Robin Hood (herói- -bandoleiro) e o Ciclo da Távola Redonda. O romance idílico destacava o amor. Nesse gênero, destacou-se Tristão e Isolda, escrito por Gottfried de Estrasburgo. A história gravita no mundo celta (Cúm- bria, Irlanda e Bretanha). Há várias versões, porém os ingredien tes da trama são os mesmos: um sobrinho perdido; um esposo nobre; confiança traída, poções de amor, taças e armas envenenadas, dragões, mortes trági cas e a sobrevivência do amor após a morte. Há que se destacar ainda os Fabliaux (fabulários), contos que criticavam a sociedade e as instituições. O Romance da Rosa, escrito por Guilherme de Lor ris e completado por João de Meung, merece destaque. Indiscutivelmente, a maior obra da literatura medieval foi A Divina Comédia, escrita pelo italiano Dante Alighieri (1265-1321). Está dividida em 3 par tes, com um total de 100 cantos: Inferno (34), Pur- gatório (33) e Paraíso (33). O tema dominante nessa grandiosa epopeia é o castigo terrível do pecado e a alta recompen sa da virtude, mas há no poema muitas outras ideias. A Divina Comédia articula poesia e prosa filosófica, lirismo cortês, cosmologia, ciência e religião. O pensa- mento de Dante é eclético, refletindo a mentalidade do início do século XIV. Dentre os italianos, devemos destacar ainda Fran- cesco Petrarca (1304-1375), considerado o primeiro dos grandes humanistas, e Giovanni Boccaccio (1313- 1375), que escreveu Decamerone, conjunto de contos traçando um quadro dos costumes italianos do século XIV. Teatro O teatro foi uma das artes mais populares na Idade Média. Suas origens encontram-se em cerimônias e crenças religiosas. Inicialmente, as representações se faziam nas igre jas, para as festas da Páscoa e do Natal. Mais tarde, as repre- sentações dos milagres e mistérios foram transferidas para as praças e feiras. A partir do século XIII, o teatro tornou-se profano, desenvolvendo a farsa, gênero de comédia espirituoso e satírico. Arquitetura Românico Esse nome foi criado no século XIX, para designar as realizações arquitetônicas do final dos séculos XI e XII, na Europa, cujas estruturas eram semelhantes à das construções dos antigos romanos. 6 Semiextensivo Johanneskapelle. Estilo românico, Styria – Áustria As principais características da arquitetura româ nica são: • utilização de abóbodas; • paredes espessas; • pilares maciços; • aberturas pequenas usadas como janelas; • grandes e sólidas igrejas, daí serem chamadas “forta- lezas de Deus”; • monumentalidade, solidez e durabilidade; • interiores escuros. A pintura românica desenvolveu-se sobretudo nas grandes decorações murais através da técnica do afres- co. A deformação (traduz os sentimentos religiosos e a interpretação mística que o artista fazia da realidade) e o colorismo são suas principais características. Não poderíamos entender a escultura românica sem levar em conta o edifício e sua sujeição à arquitetura. De uma forma geral caracterizou-se pelas formas rudes, pobre- za na criatividade e pela ausência da noção de movimento. Gótico “Nome que, originalmente, significou, depre- ciativamente, arte dos godos, arte dos bárbaros, por contraste com a serenidade harmônica da arte italiana e que designa o estilo que sucedeu ao Ro- mânico e irradiou-se a partir da França, a toda a Europa, entre os séculos XII e XVI...” MARCONDES, Luiz Fernando. Dicionário de termos artísticos. Rio de Janeiro: Edições Pinakotheka, 1998, p. 138. A arte gótica, rica, alegre e urbana, desenvolveu-se num período de renasci mento do comércio e das cida- des, bem como do apogeu do poder da Igreja Ca tólica. As principais características da ar quitetura gótica foram as seguintes: • rompimento com o horizontalismo e consequente tendência para o verticalismo; • arcos ogivais ou quebrados; • abóbadas de arcos cruzados; • arcobotantes que asseguram maior estabilidade e resistência; • vitrais que dão ao interior das catedrais ambiente de profunda e intensa espiritualidade. A escultura gótica é de alto-relevo. Em geral as esculturas são anônimas e a maioria das obras está as- sociada à arquitetura. A iconografia dos portais ad quiriu uma clara intencionalidade didática e o estilo tornou-se mais claro, mais harmonioso e mais expres sivo. Escultura de estilo gótico Cronologicamente, situamos a pintura gótica nos séculos XIII, XIV e início do século XV. Na Itália, durante o século XIII, viveram pintores que mereceram ser mencionados na história da arte: Cimabue (1240-1302), mas principalmente seu discípulo Giotto, que morreu em 1336. A pintu ra italiana lhe deve muito: Retrato de Bonifácio VIII, A Morte de São Francisco, Traição de Cristo, Fuga para o Egito. Todas são obras de grande beleza. Giotto é considerado precursor da pintura renascentis ta. Desenvolveu-se ainda a pintura de vitral (vidros coloridos das igrejas) e do esmalte (pintura sobre metais). Deve-se citar ainda a arte das iluminuras, desen- volvida pelos copistas dos mosteiros. Consistia na pintura e decoração de letras iniciais, com cenas minúsculas, em que se procurava dar ideia de profun didade e de dimensões. © W ik im ed ia C o m m o n s/ C h ri s 73 T al k © W ik im ed ia C o m m o n s/ M ar io n S ch n ei d er & C h ri st o p h A is tl ei tn er Aula 07 7História 4A Música O ponto inicial de sua evolução foi o desenvolvimento do canto chão, tradicionalmente atribuído ao papa Gre- gório Magno. Esse canto gregoriano é a melodia simples e sem acompanhamento, cantada por um solista ou por um coro em uníssono. Com o tempo, foram acrescentados intervalos que enriqueceram o conteúdo, embora faltas- sem os conhecimentos de harmonia. Foi ainda na Idade Média que Guido d’Arezzo deu nome às notas musicais, tirando-as das sílabas iniciais do Hino a São João. Ciências Durante a IdadeMédia, as Ciências estavam subor- dinadas à Religião. Com o Renascimento Comercial e Urbano, houve relativo desenvolvimento, favorecido pela influência dos árabes. Destacaram-se a Geografia (Cartas Náuticas), a Medicina (Anatomia), a Botânica e a Zoologia, a Química e a Matemática. O grande nome foi Roger Bacon. Universidades Durante grande parte da Idade Média, as únicas escolas existentes eram as dos mosteiros. Foi com a fundação de corporações de alunos e pro- fessores – as universitas – que surgiram as univer sidades. O estudante tinha de cursar inicialmente a facul dade inferior (artes), onde estudava as sete artes li berais: • trívio (gramática, retórica e lógica); • quadrívio (aritmética, geometria, astronomia e música). Após o término desse curso preparatório, o aluno estava habilitado para cursar uma das faculdades su- periores: medicina, direito e teologia. As principais universidades foram as de Paris, Bo- lonha, Oxford e Coimbra. É bom não esquecer que o intelectual da Idade Mé dia nasceu com as cidades, como bem acentua o historiador Jacques Le Goff. A vida do estudante, entre- tanto, não era nada fácil. Os livros, escritos à mão, eram poucos e caros. Raspavam o que tinham escrito no pergaminho para poder utilizá-lo novamente. Tinham de ter boa memória. O estudo era rigoroso e a disci- plina, severa. Eram considerados bêbados, arruaceiros, vagabundos, de má conduta. Alguns, denominados goliardos, andavam de universidade em universidade, em busca do saber. Testes Assimilação 07.01. (UFRGS) – Em relação à Igreja Católica durante o período feudal, não se pode afirmar que a) assumiu as críticas ao sistema de poder feudal, preocupa- da com a situação de penúria da maior parte dos servos. b) foi a principal instituição com a função de veicular a ideo- logia das classes dominantes, no caso, os senhores feudais. c) estava diretamente interessada na defesa das relações servis, na qualidade de grande proprietária de terras na Europa Ocidental. d) apregoava ser a distinção entre senhores e servos absolu- tamente normal dentro de uma sociedade cristã. e) freou os movimentos contrários às classes dominantes e combateu as heresias através da Inquisição. 07.02. (FUVEST – SP) – Do Grande Cisma sofrido pelo cris- tianismo no século XI, resultou: a) o estabelecimento dos tribunais da Inquisição pela Igreja católica. b) a Reforma protestante, que levou à quebra da unidade da Igreja católica na Europa Ocidental. c) a heresia dos albigenses, condenada pelo papa Inocêncio II. d) a divisão da Igreja em católica romana e ortodoxa grega. e) a Querela das Investiduras, que proibia a investidura de clérigos por leigos. 07.03. Uma das características que podemos reconhecer no sistema feudal europeu a) é a organização da sociedade feudal em dois grupos bem definidos: os senhores e os escravos. b) são os ideais de honra e fidelidade oriundos da sociedade islâmica. c) é a obrigação anual de corveia e o pagamento da talha e banalidades como obrigações de servos aos senhores feudais. d) é o dinamismo econômico, voltado para o comércio entre feudos vizinhos. e) são as relações escravocratas de produção. 07.04. (UCS – RS) – A Idade Média, na Europa, foi carac- terizada pelo aparecimento, apogeu e decadência de um sistema econômico, político e social denominado feudalis- mo. Assinale a alternativa que apresenta de forma correta características do sistema feudal. a) As terras dividiam-se em reservas senhoris e mansos servis. A sociedade era estamental, sem mobilidade social. b) A política feudal não proporcionava autonomia aos feu- dos, sendo, portanto, centralizada. 8 Semiextensivo c) A cultura feudal foi antropocêntrica, ou seja, baseada na visão do homem como centro do Universo. d) A principal forma de trabalho foi a escravidão, pois os trabalhadores rurais eram tratados como mercadorias. e) O feudalismo apresentou características semelhantes em todo território europeu, sendo a Inglaterra o modelo mais exemplar. 07.05. (UNESP – SP) – Observemos apenas que o sis- tema dos feudos, a feudalidade, não é, como se tem dito frequentemente, um fermento de destruição do poder. A feudalidade surge, ao contrário, para res- ponder aos poderes vacantes. Forma a unidade de base de uma profunda reorganização dos sistemas de autoridade […]. GOFF, Jacques Le. Em busca da Idade Média, 2008. Segundo o texto, o sistema de feudos a) representa a unificação nacional e assegura a imediata centralização do poder político. b) deriva da falência dos grandes impérios da Antiguidade e oferece uma alternativa viável para a destruição dos poderes políticos. c) impede a manifestação do poder real e elimina os res- quícios autoritários herdados das monarquias antigas. d) constitui um novo quadro de alianças e jogos políticos e assegura a formação de Estados unificados. e) ocupa o espaço aberto pela ausência de poderes cen- tralizados e permite a construção de uma nova ordem política. Aperfeiçoamento 07.06. (UNESP – SP) – Os homens da Idade Média estavam persuadidos de que a Terra era o centro do Universo e que Deus tinha criado apenas um homem e uma mulher, Adão e Eva, e seus descendentes. Não imaginavam que existissem outros espaços habitados. O que viam no céu, o movimento regular da maioria dos astros, era a imagem do que havia de mais próximo no plano divino de organização. (Georges Duby. Ano 1000, ano 2000: na pista de nossos medos, 1998. Adaptado.) O texto revela, em relação à Idade Média ocidental, a) o prevalecimento de uma mentalidade fortemente reli- giosa, indicativa da força e da influência do cristianismo. b) a consciência da própria gênese e origem, resultante das pesquisas históricas e científicas realizadas na Grécia Antiga. c) o esforço de compreensão racionalista dos fenômenos naturais, base do pensamento humanista. d) a construção de um pensamento mítico, provavelmente originário dos contatos com povos nativos da Ásia e do Norte da África. e) a presença de esforços constantes de predição do futuro, provavelmente oriundos das crenças dos primeiros habi- tantes do continente. 07.07. (PUCSP) – “O modo de produção feudal, tal como apareceu na Europa ocidental, deixava em geral aos camponeses apenas o espaço mínimo para aumenta- rem o produto de que dispunham dentro das duras limitações do sistema senhorial.” Perry Anderson. Passagens da antiguidade ao feudalismo. Porto: Afrontamento, 1980, p. 208. Adaptado. O texto caracteriza o modo de produção feudal, destacando que a) havia classes distintas e opostas no feudalismo, embora a luta social fosse atenuada pelas amplas oportunidades de lucro que os senhores ofereciam aos camponeses. b) as relações de suserania e vassalagem e o caráter rural do feudalismo eliminaram as cidades e provocaram o declínio do comércio e das atividades de serviço. c) a possibilidade de melhoria da condição econômica dos camponeses era bastante restrita, devido ao conjunto de obrigações que estes deviam prestar aos senhores. d) as longas jornadas de trabalho nas lavouras e a ampla gama de impostos impediam os camponeses de ascenderem socialmente e provocavam a ruína dos senhores de terras. e) havia oportunidades de transformação social no feu- dalismo, embora os camponeses raramente as apro- veitassem, pois preferiam se dedicar prioritariamente ao trabalho. 07.08. (UNESP – SP) – (...) o elemento religioso não li- mitou os seus efeitos ao fortalecimento, no mundo da cavalaria, do espírito de corpo; exerceu também uma ação poderosa sobre a lei moral do grupo. Antes de o futuro cavaleiro receber a sua espada, no altar, era- -lhe exigido um juramento, que especificava as suas obrigações. (Marc Bloch. A sociedade feudal, 1987.) O texto mostra que os cavaleiros medievais, entre outros aspectos de sua formação e conduta, a) mantinham-se fiéis aos comerciantes das cidades, a quem deviam proteger e defender na vida cotidiana e em caso deguerra. b) privilegiavam, na sua formação, os aspectos religiosos, em detrimento da preparação e dos exercícios militares. c) valorizavam os torneios, pois neles mostravam seus talentos e sua força, ganhando prestígio e poder no mundo medieval. d) agiam apenas de forma individual, realizando constantes disputas e combates entre si. e) definiam-se como uma ordem particular dentro da rígida estrutura feudal, mas mantinham vínculos profundos com a Igreja. 07.09. (UPF – RS) – Leia o fragmento a seguir, que trata da sociedade feudal. “No cruzamento do material e do simbólico, o corpo fornece ao historiador da cultura medieval um lugar de observação privilegiado. Neste mundo em que os Aula 07 9História 4A gestos litúrgicos e o ascetismo, a força física e o aspec- to corporal, a comunicação oral e a lenta valorização do trabalho contavam tanto, era importante conferir valor, além do escrito, à palavra e aos gestos.” (LE GOFF, Jacques. A civilização do Ocidente Medieval. Bauru: Edusc, 2005, p. 14) Era característica da sociedade feudal: a) Tinha grande mobilidade social, apesar das rígidas tradi- ções e dos vínculos jurídicos que determinavam a posição social de cada indivíduo. b) A honra e a palavra empenhada tinham importância fundamental, sendo os senhores feudais ligados entre si por um complexo sistema de obrigações e tradições. c) A maior parcela da população era constituída pelos vilões, que procuravam por outros senhores mais poderosos, jurando-lhes fidelidade e obediência. d) Os suseranos deviam várias obrigações aos seus vassalos, por exemplo, o pagamento das banalidades e a prestação do serviço militar. e) Os servos, como os escravos, não tinham direito à própria vida, vivendo presos à terra, sendo vendidos para mem- bros do clero e senhores feudais. 07.10. (UP – PR) – Julgue as seguintes afirmações sobre as universidades medievais: I. As universidades são filhas do renascimento intelectual do século XII e da nova curiosidade originada pelos contatos que o Ocidente estabeleceu com os mundos muçulmano e bizantino. II. As universidades eram corporações de professores e alunos. III. As universidades eram completamente independentes do poder eclesiástico. IV. As universidades estavam divididas em quatro faculdades: Artes, Medicina, Direito e Teologia. Assinale a alternativa correta: a) Somente a II afirmativa é correta. b) Somente a I afirmativa é correta. c) Somente as afirmativas I e II são corretas. d) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas. e) Todas as afirmativas são corretas. 07.11. (UNESP – SP) – Há mil anos, em partes da Europa, vi- gorava o sistema feudal, cujas principais características foram: a) sociedade hierarquizada, com predomínio de uma eco- nomia agrária, que favoreceu intensa troca comercial nos burgos e cidades italianas. b) fraca concentração urbana, com predomínio da economia agrária sob a organização do Estado monárquico, apoiado pelo clero e pela burguesia. c) poder do Estado enfraquecido, ritmo de trocas comerciais pouco intenso, uso limitado da economia monetária, predominando uma sociedade agrária. d) ampliação do poder do Estado, uma sociedade organizada em três camadas – clérigos, guerreiros e trabalhadores – e predomínio da economia rural. e) intensificação da produção agrícola pelo uso da mão de obra de servos e escravos, poder descentralizado e submissão dos burgos ao domínio da Igreja. 07.12. (PUCSP) – “(...) a própria vocação do nobre lhe proibia qualquer atividade econômica direta. Ele pertencia de corpo e alma à sua função própria: a do guerreiro. (...) Um corpo ágil e musculoso não é o bastante para fazer o cavaleiro ideal. É preciso ainda acrescentar a coragem. E é também porque proporciona a esta virtude a ocasião de se manifestar que a guerra põe tanta alegria no coração dos homens, para os quais a audácia e o desprezo da morte são, de algum modo, valores profissionais.” (Bloch, Marc. A sociedade feudal. Lisboa: Edições 70, 1987.) O autor nos fala da condição social dos nobres medievais e dos valores culturais ligados às suas ações guerreiras. É possível dizer que a cultura guerreira desses cavaleiros representa, respectivamente, para a sociedade e para eles próprios: a) a garantia de segurança, num contexto em que as classes e os Estados nacionais se encontram em conflito, e a perspectiva de conquistas de terras e riquezas. b) o cumprimento das obrigações senhoriais ligadas à produção, e à proibição da transmissão hereditária das conquistas realizadas. c) a permissão real para realização de atividades comerciais, e a eliminação do tédio de um cotidiano de cultura rudi- mentar e alheio a assuntos administrativos. d) o respeito às relações de vassalagem travadas entre senhores e servos, e a diversão sob a forma de torneios e jogos em épocas de paz. e) a participação nas guerras santas e na defesa do catolicis- mo, e a possibilidade de pilhagem de homens e coisas, de massacres e mutilações de inimigos. Aprofundamento 07.13. (UFPR) – “O conhecimento histórico é sempre (...) uma consciência de si mesmo: ao estudar a histó- ria de uma outra época, os homens não podem deixar de compará-la com seu próprio tempo (...). Mas, ao comparar a nossa época e a nossa civilização com as outras épocas e civilizações, corremos o risco de lhes aplicar a nossa própria medida(...)”. (GUREVICH, Aron. As categorias da cultura medieval. Lisboa: Editorial Caminho, p. 15). Aplicando o raciocínio exposto acima aos sentidos que a Idade Média adquiriu em diferentes tempos históricos, identifique como verdadeiras (V) ou falsas (F) as seguintes afirmativas: ( ) Atualmente, os historiadores entendem o medievo na sua multiplicidade, com suas especificidades regionais e temporais, ao mesmo tempo em que mostram a per- manência e a relevância de determinadas instituições e invenções medievais, como a universidade, o livro, a imprensa e o banco. 10 Semiextensivo ( ) No século XV, surge a noção negativa de Idade Média, considerada uma era intermediária e homogênea de trevas e ignorância, separando a antiguidade greco- -romana e o Renascimento, que se via como herdeiro do período “clássico” – noção que ainda perdura entre muitas pessoas. ( ) Nos séculos XX e XXI, obras como O Senhor dos Anéis, As crônicas de Nárnia e Game of Thrones evocam ele- mentos medievais imaginativos, tais como a floresta como lugar do mágico, cavaleiros, espadas, dragões, religiosidade, dando continuidade a recriações da Ida- de Média em curso desde o século XIX. ( ) Na recente historiografia, por conta das apropriações midiáticas da Idade Média, procura-se estabelecer as diferenças e as distâncias entre a Idade Média e a His- tória do Brasil, mostrando que o medievo não possui relação com a formação de nosso país, por ter sido um fenômeno europeu. Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta, de cima para baixo. a) F – F – V – V. c) F – V – V – F. e) V – F – F – V. b) V – V – F – V. d) V – V – V – F. 07.14. (UFCSPA – RS) – Em relação ao feudalismo e ao pe- ríodo medieval, analisar os itens abaixo: I. O modo de produção feudal, próprio do Ocidente eu- ropeu, tinha por base a economia agrária, comercial e monetária. II. No feudalismo, a posse da terra era o critério de dife- renciação dos grupos sociais, rigidamente definidos: de um lado, os senhores, cuja riqueza provinha da posse da terra e do trabalho servil; de outro, os servos que estavam vinculados à terra, mas não tinham a sua posse. III. A propriedade feudal, ou senhorial, pertencia a uma camada privilegiada, composta pelos senhores feudais. A principal unidade econômica de produção era o feudo. IV. Devido ao caráter monetário do sistema feudal, o servo se sentia estimulado a aumentar a produção, pois isso significava aumento do seu lucro e do senhor feudal. Está(ão) correto(s): a) Somente o item II. b) Somente o item IV. c) Somente os itens II e III. d) Somenteos itens I e IV. e) Somente os itens I, II e III. 07.15. (UFJF – MG) – Sobre o contexto de consolidação do poder da Igreja na Idade Média, leia as afirmativas abaixo e, em seguida, marque a opção correta. I. O cristianismo e todas as suas instituições podem ser considerados elementos unificadores do mundo europeu após a crise do Império Romano e as invasões bárbaras. Nessa longa trajetória, a Igreja de Roma assume o seu pa- pel de liderança religiosa, através do combate às heresias. II. Desde os primeiros tempos do período medieval, a união entre as Igrejas Ocidental e Bizantina representava o sím- bolo da unidade da cristandade. Os papas procuravam favorecer o Império Bizantino e consolidar a Igreja Orto- doxa, visando a aumentar a influência da Igreja romana no universo cristão ocidental. III. Havia grupos considerados heréticos, como os valdenses e os cátaros, que criticavam a hierarquia católica e não reconheciam a autoridade papal. Havia também outros movimentos que foram incorporados pela Igreja Católica e que levaram à formação de ordens religiosas, como franciscanos e dominicanos. a) Todas estão corretas. b) Todas estão incorretas. c) Apenas a I e a II estão corretas. d) Apenas a I e a III estão corretas. e) Apenas a II e a III estão corretas. 07.16. (UEPG – PR) – A respeito de uma das principais ca- racterísticas socioeconômicas da Europa feudal, a servidão medieval, assinale o que for correto. 01) A sociedade medieval era organizada em estamentos, ficando os camponeses na condição de servos nas terras dos seus senhores. 02) Os servos trabalhavam nos mansos senhoriais (nos quais a produção era destinada exclusivamente aos senhores) e nos mansos servis (nos quais a produção era dividida entre senhores e servos). 04) A corveia e as banalidades eram alguns dos impostos pagos pelos servos aos senhores em troca do direito de uso das terras senhoriais. 08) O desenvolvimento da agricultura no mundo medieval fez com que a servidão se tornasse frequente. Os servos se vinculavam à terra pelo trabalho, não tendo direito ao recebimento de salário. 07.17. (UEPG – PR) – O mundo medieval, predominante- mente arraigado ao universo rural e à produção agrícola, conheceu um peculiar sistema de posse da terra e de relações sociais estabelecidas a partir de tal sistema. A respeito dessa questão, assinale o que for correto. 01) O clero católico não fazia parte deste sistema. Por deter- minação da Igreja, os padres, bispos e cardeais católicos não deveriam se envolver com questões materiais, preocupando-se apenas com as questões espirituais. 02) A posição social de um indivíduo no universo feudal não era adquirida ao nascer. Um camponês, por exemplo, poderia ascender socialmente e tornar-se um nobre, caso obtivesse uma alta produção nas terras confiadas a ele por um senhor feudal. 04) Cada feudo possuía um único senhor. Nessa unidade era permitida a formação de uma única aldeia e as ter- ras eram cultivadas coletivamente, com o resultado da produção sendo dividido de forma parcimoniosa entre os camponeses e o senhor feudal. Aula 07 11História 4A 08) Na prática, funcionava um sistema de escalas em que o rei concedia a terra para senhores feudais, os quais a dis- tribuíam para outros senhores (menos poderosos) e para camponeses despossuídos. Por sua vez, quem recebia a terra, ou o direito de nela trabalhar, jurava fidelidade a seu senhor. 16) Os camponeses (ou servos), apesar de não receberem a posse da terra, estavam presos a ela e submetidos ao poder do senhor feudal. Isso configura o princípio de uma sociedade estamental, típica do mundo medieval. 07.18. (UFPR) – “No coração da obra, esta ideia: Deus é luz. Desta luz inicial, incriada e criadora, participa cada criatura. Cada criatura recebe e transmite a iluminação divina segundo a sua capacidade, isto é, segundo o lugar que ocupa na escala dos seres, segundo o nível em que o pen- samento de Deus hierarquicamente o situou.” DUBY, Georges. O tempo das catedrais. Lisboa: Estampa, 1979. p. 105. A citação resume o princípio norteador do estilo gótico, que predominou na arquitetura e na escultura religiosa da Euro- pa Ocidental no século XIII. Sobre esse estilo e seus ideais, assinale a alternativa correta: a) A necessidade de luminosidade levou ao desenvolvimen- to de técnicas cada vez mais apuradas de sustentação de grandes candelabros nas altas abóbadas, a fim de garantir, com velas de cera, a luz no interior da construção, visto que a luz natural é escassa na maior parte do ano nas regiões setentrionais da Europa. b) Na Idade Média, todos os pensadores que discordavam do pensamento oficial da Igreja tinham que buscar espaços alternativos para a manifestação de suas ideias. As cate- drais góticas, construídos nas cidades, são um exemplo desse tipo de espaço. c) A luminosidade das catedrais góticas representa uma tentativa dos arquitetos da época de identificar os espaços sagrados com o entusiasmo predominante no século XIII, decorrente das boas condições de vida que se instauravam com a conjuntura de crescimento urbano, mercantil e agrícola que predominava naquele contexto. Com isso, a Igreja mantinha atualizados seu discurso e presença como convinha ao otimismo da época. d) Como as catedrais eram construídas por mestres pe- dreiros, ferreiros, vitraleiros e carpinteiros, entre outros, a arquitetura das altas igrejas e a aparência de poder e verticalidade das construções decorriam das aspirações desses membros das corporações de ofícios de conquis- tarem o poder dentro das cidades. e) Os vitrais representavam cenas ocorridas durante a cons- trução das catedrais, que demoravam décadas até estarem concluídas, e apresentavam sobretudo cenas do trabalho dos mestres e trabalhadores manuais. Discursivos 07.19. (UNICAMP – SP) – No início do século XIV, o inquisidor Bernardo Guy escreveu um Manual do Inquisidor, no qual descrevia como se ingressava na seita herética que ficou conhecida pelo nome de pseudoapóstolos: “Perante algum altar, na presença de membros da seita, o candidato se despe de suas roupas, como sinal de renúncia a tudo que possui, para seguir com perfeição a pobreza evangélica. Também se exige que ele prometa não obedecer a nenhum mortal, mas só a Deus, como se fosse um apóstolo sujeito apenas a Cristo e a ninguém mais.” (Adaptado de Nachman Falbel, Heresias medievais. São Paulo: Perspectiva, 1977, p. 66.) a) Por quais razões essa heresia era uma ameaça para a Igreja do período? 12 Semiextensivo Gabarito 07.01. a 07.02. d 07.03. c 07.04. a 07.05. e 07.06. a 07.07. c 07.08. e 07.09. b 07.10. d 07.11. c 07.12. e 07.13. d 07.14. c 07.15. d 07.16. 15 (01, 02, 04, 08) 07.17. 24 (08, 16) 07.18. c b) Caracterize a relação entre o poder religioso e o poder temporal na Baixa Idade Média. 07.20. (UNESP – SP) – Desde o final do Império Romano até o início da Idade Moderna, pode-se dizer que o continente europeu viveu sob o feudalismo ou regime feudal. a) Qual era a base de exploração de mão de obra durante o regime feudal? b) Do ponto de vista econômico e político, como se caracterizava o feudalismo? 07.19. a) Porque colocava o indivíduo em contato direto com Deus e, portanto, desprezava a importância da Igreja Ca- tólica. Segundo a instituição religiosa, a Igreja era a formada pelos represen- tantes de Deus na terra e a única que poderia guiar e salvar os homens. b) A Baixa Idade Média é um período ca- racterizado por transformações, época das cruzadas e do renascimento co- mercial e urbano. Para a maioria dos autores, esse período coincide com a formação das monarquias nacionais, quando o poder real tendeu a se for- talecer, o que implicou em perda do espaço por parte da Igreja Católica. Ao mesmo tempo, as relações entre reis e papas se redefiniram, pois a Igreja e a religião foram importantes instru- mentos dos governantes para reforçar seu poder e isso pode ser entendido como um equilíbrioentre os poderes temporal e religioso. 07.20. a) A servidão, pela qual o camponês preso à terra pagava obrigações a seu senhor em troca de proteção. b) A economia feudal era agrária e autossuficiente (base agrícola e de subsistência) e amonetária, sendo o comércio local realizado com base em trocas naturais. Politicamente, o feudalismo caracterizava-se pela des- centralização do poder (localismo) na medida em que os senhores feudais eram autônomos em seus domínios, inexistindo a autoridade do rei. História 13História 4A Civilização árabe e cruzadas 4AAula 08 A Arábia é uma terra árida da região do Oriente Médio cercada por monta nhas que margeiam o oceano Índico e o mar Vermelho. A parte central e norte é mar- cada por uma imensidão de areia e por alguns oásis. Na região ocidental, aglo meravam-se os principais centros urbanos. Ta lit a K at h y B o ra Península Arábica Os árabes são de origem semita e acreditam descen- der de Ismael, filho de Abraão. Os que viviam no litoral eram sedentários, dedi- cando-se ao comércio e à agricultura; já os beduínos do deserto eram nômades, organizavam-se em tribos governadas por um sheik. Em termos religiosos, eram politeístas e idólatras. Nas proximidades do litoral, as condições materiais eram melhores. As cidades de Aden, Yathrib e Meca se destaca vam. Meca, além de centro comercial, era também um tradicional centro de peregrinação religiosa. Com a fina- lidade de cultuarem seus deuses e ídolos, os beduínos peregrinavam até a cidade de Meca, onde depositavam suas imagens em um santuário denominado Caaba (a casa de Deus), que guardava cerca de 360 imagens de diferentes divindades e um objeto especial de veneração: a Pedra Negra. Em Meca, o comércio era controlado pela tribo dos coraixitas, que também eram os guardiões do templo. Estavam, portanto, interessa- dos na preservação da religião tradicional, que atraía os beduínos em cons tantes peregrinações. O profeta Maomé e o islamismo Maomé nasceu num clã pobre da poderosa tribo dos coraixitas, guardiões da Caaba, por volta de 570. Órfão, trabalhou como pastor e condutor de camelos. Aos 25 anos, casou-se com uma viúva abastada, cujo nome era Cadidja. Nesse período, encontrou-se com judeus e cristãos, sendo influenciado por eles. Maomé passou a afirmar que tinha visões que chegavam do céu. As tradições e crenças do Islã afirmam que Maomé era o profeta do Deus único (Alá), que o incumbiu de uma missão: unificar o povo árabe em torno do mo- noteísmo. Em Meca, suas pregações não foram bem-sucedi- das. Perseguido em Meca, resolveu, juntamente com seus adeptos, abandonar a cidade sagrada indo para Yathrib (que passou a se chamar Medina – Cidade do Profeta, em árabe). Esse episódio da fuga do pro- feta ficou conhecido pelos maometanos como Hégira (saída, emigração). Eles consideram o ano de sua realização como início de sua era (622), o marco zero do calendário muçulmano. © W ik im ed ia C o m m o n s/ Jo h an n B er n h ar d F is ch er v o n E rl ac h Representação do santuário de Meca tendo ao centro a Caaba 14 Semiextensivo Fortalecido, Maomé se retirou de Medina, onde adquiriu inúmeros seguidores do islamismo, e voltou à cidade sagrada de Meca. Finalmente, no ano de 630, após diversos confrontos com os politeístas e mequenses, Maomé fez um acordo com o patriarca da cidade e, afirmando que só Alá é Deus e Maomé é seu profeta, conseguiu impor sua doutrina. Ao falecer, Após a morte de Maomé em 632, sua liderança foi substituída pelo comando político dos califas. O primeiro soberano a assumir o controle do califado – Abu-Béquer – iniciou o projeto de expansionismo territorial, atingindo a Síria e a Pérsia em 634. Seu sucessor imediato – Omar – deu prosseguimento às conquistas territoriais, conquis- tando a Palestina e o Egito. E, finalmente, as dinastias dos Omíadas (661-750) e dos Abássidas (750-1258) amplia- ram e consolidaram definitivamente o Império Islâmico. O projeto expansionista empreendido pelo Estado Árabe fora motivado pela conjugação dos seguintes fatores: a conquista de terras férteis no Ocidente, a possibilidade de acúmulo de riquezas através do saque (butim) dos povos derrotados e o domínio comercial no Mediterrâneo. Todos esses fatores de natureza econômica eram fundamentados e justificados ideologicamente através do preceito da Jihad – enten- dido como o esforço na expansão da doutrina islâmica e a conversão dos infiéis. “O Jihad maior é aquele que o homem trava com si mesmo para evitar as coisas ilícitas, para não incorrer em pecado. Já o Jihad menor pode assumir várias formas, dentre elas: a de divulgar a palavra de Allah, a busca do conhecimento e eventualmente pode vir a tomar a forma de uma guerra.” ISBELLE, Munzer Armed. Descobrindo o Islã. Rio de Janeiro: Azaan, 2002, p. 30 Sendo assim, os árabes foram convocados às guerras de conquista e se entregavam a elas impulsionados por sua fé. Aqueles que morressem lutando pela propaga- ção do islamismo seriam recompensados por Alá com a salvação e o paraíso. Os guerreiros árabes eram temidos por sua força e organização militar. Com a consolidação do domínio muçulmano no Ocidente, o comércio árabe ultrapassou fronteiras, garantindo um grande desenvol- vimento. dois anos depois, deixou a Arábia unificada política e reli giosamente. Suas pregações em torno do Islã foram seguidas pela destruição das imagens dos ídolos que fundamentavam o culto politeísta. Contudo, Maomé preservou a Caaba e proclamou a cidade de Meca como centro sagrado dos muçulmanos (os seguidores do islamismo). Expansionismo islâmico Lu ci an o D an ie l T u lio Aula 08 15História 4A Com o desenvolvimento das relações comerciais estabelecidas entre povos árabes e europeus, invenções chinesas como a bússola, a pólvora e o papel foram, gra- dativamente, chegando à Europa Ocidental, contribuin- do inclusive para a ocorrência das grandes navegações oceânicas no século XV. Vale ressaltar que a presença árabe no Ocidente resultou no controle sobre as rotas de navegação no Mediterrâneo pelos comerciantes árabes. Podemos concluir, portanto, que o domínio árabe na região do Mediterrâneo contribuiu para “bloquear” a passagem dos europeus sobre a região e, consequentemente, acentuar o processo de ruralização da economia feudal que atingia o Ocidente durante a Alta Idade Média. O expansionismo árabe na Eu ropa foi contido em 732, quando o chefe franco Carlos Martel venceu a Batalha de Poitiers. Religiosidade O Alcorão (Al Qur’an – leitura, ato de ler) é o livro sagrado dos muçulmanos, que acreditam que nesse livro está a palavra de Deus revelada ao profeta Maomé. © W ik im ed ia C o m m o n s/ Th e Sc h o ye n C o lle ct io n São princípios do islamismo: fé em Allah (Deus), nos anjos, no Alcorão, nos profetas, na ressurrei ção, no juízo final e na predestinação. É interessante observar que os muçulmanos acreditam que Abraão, Ismael, Isaac, Jacó, Moisés e Jesus são profetas enviados por Deus. Os princípios religiosos são: o testemu- nho, a oração, a caridade, o jejum e a peregrinação. O jejum é realizado durante o mês do Ramadã (9º. mês do calendário islâmico), cujo início é marcado pelo aparecimento da Lua em seu quarto crescente, ou seja, um dia após a Lua Nova. O Alcorão proíbe o consumo de bebidas fermenta- das, de carne de porco e de jogos de azar. A sexta-feira é um dia sagrado. A poligamia é permitida. Sunitas e xiitas O Islã é formado por dois grupos básicos: os sunitas e os xiitas. A Sunna (costume) contém uma série de Hadith, ou seja, narrativas curtas que contam as ações, falas, apro- vações e reprovações de Maomé e seus companheiros. Os sunitas, que são a maioria no mundo islâmico, acreditam que a liderança após a morte do profeta ficava a critério das grandes tribos. Os xiitas (do árabexia – partido) são os seguidores de Ali, primo e genro de Maomé, que sustentam só serem autênticas as tradições do Profeta se transmi tidas por intermédio de membros de sua família. O sufismo diz respeito à vida espiritual. Os sufis – su- nitas ou xiitas – procuram aproximar-se de Deus através de uma disciplina de purificação espiritual. A religião islâmica expandiu-se de forma extraordi nária. Índia, Ásia Oriental, Extremo-Oriente, Norte da África e África Negra foram regiões onde o número de muçul- manos aumentou extraordinariamente. Mui tos escravos negros que vieram para o Brasil eram islamizados. Conhecidos como “malês” rebelaram-se várias vezes. Cultura Os árabes eram extremamente tolerantes com outros povos. Na Península Ibérica, nas regiões domi- nadas pelos muçulmanos, judeus e cristãos gozavam de ampla liberdade. Textos gregos (de Aristóteles, por exemplo), per sas e chineses foram traduzidos para o árabe. As principais cidades possuíam enormes bibliotecas em Bagdá e Da- masco; no século XI, existiam dois ótimos observatórios astronômicos. Médicos árabes fizeram descrições clínicas preci sas. Os hospitais proliferavam nas grandes cidades; em Bag- dá, no século X, eram cinco. Rhazes, Ibn Sina (Avicena) e Abul-Casim foram médicos célebres. Avicena e Averróis foram filósofos brilhantes. Por meio deles, o Ocidente tomou conhecimento de obras de Platão e Aristóteles que havia muito tempo estavam desaparecidas. A arquitetura árabe foi muito influenciada pelos persas e bizantinos. As principais construções foram palácios e mesquitas. Os elementos mais destaca dos: colunas, arcos em ferraduras, mosaicos e arabescos (de- corações com motivos geométricos e vegetais), já que a decoração figurada, com temática de representação humana ou animal, tinha um cará ter restrito e privado na arte islâmica. Em resumo, os muçulmanos extraíram dos povos conquistados o que existia de melhor, fazen- do dessa forma a ligação entre o Oriente e o Ocidente. 16 Semiextensivo Mesquita de Abu Abbas – Al Mursi em Alexandria, Egito © Sh u tt er st o ck /C er te Nas Ciências, os árabes vale ram-se da tradução de textos hin dus e gregos, além da criatividade e das experiências dos próprios árabes. Na Alquimia, por exemplo, procuraram o Elixir da Longa Vida e a Pedra Filosofal (capaz de transmutar metais em ouro). De suas experiências e pesquisas, resultaram importantes descober tas, como salitre, ácido sulfúrico, ácido nítrico, álcool, nitrato de prata, potassa, etc. Na Geografia, notadamente na Astronomia e na Cartografia, os árabes também se destacaram. A obra de Ptolomeu foi tradu- zida, recebendo o nome de Almagesto. Na Matemática, difundiram o zero e os algarismos arábicos (invenções atribuídas aos hin dus). Deixaram grandes contribuições à Geometria, à Álgebra, à Trigonometria e à Aritmética. Na literatura, além do Alcorão, devemos destacar As Mil e Uma Noites e a poesia de Omar Khayyan, autor de Rubaiyat. Cruzadas medievais As Cruzadas são tradicionalmente definidas como expedições organiza das por cristãos do Ocidente – in- centivados pelo Papa – para libertar a Terra Santa, que estava em poder dos turcos. O movimento das Cruzadas foi uma espécie de extensão das lutas que estavam sendo travadas contra os muçulmanos (Guerra de Reconquista) na Espanha e na Sicília. As Cruzadas também podem ser consideradas uma contraofensiva da cristandade diante dos sucessivos avanços dos muçulmanos. É possível, portanto, afirmar que as Cruzadas foram também um movimento de expansão geral, que ocorreu na Europa durante a Idade Média. Enfim, as Cruzadas devem ser entendidas como expedições organizadas pelos cristãos entre os séculos XI e XIII com o objetivo de combater o expansionismo islâmico, libertar a Terra Santa (Jerusalém) do domínio muçulmano e propagar o cristianismo. Durante praticamente 200 anos de luta contra as po- pulações não cristãs (1096-1270), milhares de cavaleiros, a serviço da Igreja, engajaram-se nas longas expedições que partiam de diferentes regiões da Europa em direção ao Oriente Médio. Diversos fatores conjugados contribuíram para o engajamento de milhares de cristãos ao movimento das Cruzadas. A partir do século X, ocorreu um grande aumento populacional no Oci dente. O excedente populacional estava disposto a arrebatar dos infiéis as terras férteis do Oriente. Acrescente-se ainda que a sucessão baseava-se no direito da primogenitura, que garan tia aos filhos primogênitos vantagens especiais de herança, por isso muitos nobres viram nas Cruzadas um meio de obter feudos no Oriente. O papa Urbano II, o pregador da Primeira Cruzada, desejava restabelecer a unidade do cristia nismo, rompida com o Cisma do Oriente (1054). Acreditava que, libertando a Palestina e a Síria, debilitando os muçulmanos, favore- cendo os bi zantinos, estaria dando um passo gigantesco no sentido de reconci liar o Oriente com o Ocidente. A religiosidade do homem medie val foi, o fator fundamental das Cruzadas. Vivia-se numa época em que as peregrinações aos santu ários provocavam o deslocamento de multidões. Jerusalém era considera da “o umbigo do mundo” e visitá-la era o sonho de todo peregrino. Vale acrescentar que, enquanto os árabes dominavam a região, os cristãos podiam visitar os luga- res sagrados sem serem molestados. A ocupação turca reverteu a situação. Os cristãos passaram a ser ultrajados e repri midos pelos turcos seldjúcidas e seu fanatismo religioso. Além disso, o espírito aventureiro do homem me- dieval, a intenção das ricas ci dades italianas (Gênova e Veneza, especialmente) de dominarem o Mediterrâneo Oriental e o desejo de salvação da alma foram fatores importantes que também contribuíram para as Cruzadas. “Deus o quer” No Concílio de Clermont, o papa Urbano II lan çou um apelo aos cristãos. Sob o lema “Deus o quer”, tentou fazer com que os nobres cavaleiros deixassem de lado as rivalidades e se unissem para libertar o Santo Sepulcro, com a seguinte prega- ção: Deixai os que outrora estavam acostumados a se baterem impiedosamente contra os fiéis, em guerras particulares, lutarem contra os infiéis... Aula 08 17História 4A Deixai os que até aqui foram ladrões tornarem- -se soldados. Deixai aqueles que outrora se bate- ram contra seus irmãos e parentes lutarem agora contra os bárbaros como devem. Deixai os que outrora foram mercenários, a baixo soldo, rece- berem agora a recompensa eterna. Uma vez que a terra que vós habitais (...) é dema siadamente pequena para a vossa grande população (...). Tomai o caminho do Santo Sepulcro, arrebatai aquela terra à raça perversa e submetei-a a vós mesmos. Papa Urbano II, 27 nov. 1095. Peregrinos cristãos atendendo à convocação do papa, em mar- cha nos arredores de Jerusalém G lo w Im ag es /A la m y/ N at io n al G eo g ra p h ic C re at iv e Cruzada popular O monge Pedro, o Eremita, graças às suas pre gações comoventes, conseguiu reunir uma multidão. Auxiliados por um cavaleiro, Gautier Sans Avoir, os pe regrinos atravessaram a Alemanha, Hungria, Bulgária, chegando em péssimas condições à Constantinopla. O imperador bizantino Aleixo Commeno, desejando afas tar esse “bando turbulento” de sua capital, procurou incentivá-los a atacar os infiéis. Foi um desastre, pois a Cruzada dos Mendigos foi arrasada. As oito Cruzadas (segundo a tradição) A Primeira Cruzada foi conhecida como a Cruzada dos Senhores, pois contou com a liderança de nobres cavaleiros como o duque Godofredo de Bulhões. No ano de 1099, após longo cerco, os cruzados tomaram a cidade de Jerusalém. A repressão foi violenta. Segundo o arcebispo Guilherme de Tiro, a cidade oferecia tal es- petáculo, tal carnificina de ini migos, tal derramamento de sangue que os próprios vencedores ficaram impres- sionados de horror e descontentamento. Batalha durante a Primeira Cruzada (1096-1099) © Sh u tt er sto ck /A IS A - E ve re tt Após a vitória, era preciso organizar a conquista. Sur- giram quatro unidades políticas: o Reino de Jeru salém (Godofredo de Bulhões – “Defensor do Santo Sepulcro”), o Condado de Edessa, o Condado de Trípoli e o Princi- pado de Antioquia. A perda do Condado de Edessa provocou a organi- zação da Segunda Cruzada (1147-1149). Pregada por São Bernardo, essa cruzada foi liderada por Con rado III, da Alemanha, e por Luís VII, da França. Os cruzados foram derrotados e fracassaram ao tentarem ocupar Damasco e Ascalon. A Terceira Cruzada (1189-1192) foi denominada a Cruzada dos Reis. Dela participaram: Filipe Augusto (França), Frederico Barbaruiva (Sacro Império) e Ricardo Coração de Leão (Inglaterra). Frederico, apesar de ter vencido os muçulmanos, morreu afogado. Ricardo e Filipe tomaram São João D’Acre. Ricardo recebeu terras entre Tiro e Jaffa e assinou um armistício com o sultão Saladino. A Quarta Cruzada (1202-1204) foi prepara da pelo papa Inocêncio III, porém deturpada pela influência de Veneza, que exigia uma soma enorme para transportar os cruzados. Foi feito um acordo: os cruzados ajudariam os venezianos na tomada de Zara, no Adriático, rival co- mercial daquela cidade italiana. Após a tomada de Zara, resolveram, ainda instigados pelos venezianos, tomar Constantino pla, que foi completamente saqueada. Fun- dou-se o Império Latino de Constantinopla, que durou meio século. Com a ajuda de Gênova, foi restaurado o Império Bizantino. Entre a Quarta e a Quinta Cru zada, houve a chamada Cruzada das Crianças. Foi um desastre, pois a maioria das crianças mor reu de fome ou de frio. As que sobrevi- veram foram escravizadas pelos turcos. A Quinta Cruzada (1217-1221), também pregada por Ino cêncio III, partiu em 1217 e foi lide rada por André II, rei da Hungria, e Leopoldo VI, duque da Áustria. Os resultados foram nulos. 18 Semiextensivo A Sexta Cruzada (1228-1229) foi liderada pelo imperador Frederi co II, que tinha sido excomungado pelo Papa. Aproveitando-se das discórdias entre os muçulmanos, Frederico II conseguiu, por intermé dio de diplomacia, que os turcos lhe entregassem Jerusalém, Belém e Nazaré. Mais tarde, essas regiões caíram novamente sob o domínio dos turcos. A Sétima Cruzada (1248-1250) e a Oitava Cruzada (1270) foram lideradas pelo rei da França, Luís IX (São Luís). Na sua primeira Cruzada, São Luís foi der- rotado, caiu prisioneiro e os cristãos tive ram de pagar um pesado resgate pela sua libertação. Na sua segun da tentativa, São Luís atacou Túnis, mas acabou morrendo devido a uma forte disenteria. Diversas razões contribuíram para o fracasso das Cruzadas, entre elas: os eu- ropeus eram minoria, em meio a uma população geralmente hostil; a opressão à população nativa fez com que o domínio fosse cada vez mais difícil; as diversas lutas entre os próprios cristãos contribuíram para enfra quecê-los enormemente. As ordens militares No Oriente Latino, com o triunfo da Primeira Cruzada, foram criadas ordens religiosas. Os Cavaleiros de São João (Hospitalários) nasceram como instituição de caridade e se transformaram numa ordem mili tar para defesa dos peregrinos que visitavam a Terra Santa. Já os Cavaleiros do Templo (Templários) originaram-se por volta de 1115, dedicados à proteção dos peregrinos, dando apoio àqueles que se dirigiam ao Oriente. Com a consolidação das monarquias e a diminuição do poder papal, as ordens militares foram pouco a pouco perdendo sua utilidade, sendo obriga- das a se dedicar a atividades beneficentes e missionárias. “Ao contrário dos Hospitalários, a quem influenciaram, os Templá- rios empenharam-se primordialmente em campanhas militares contra os muçulmanos. Muitíssimo populares e enriquecidos por doações durante as Cruzadas, tornaram-se poderosos na Europa e no Oriente, dedicando- -se a atividades bancárias. A queda de Acre (1291) e sua transferência para Chipre deixou-os sem objetivo definido e, como banqueiros, impo- pulares. Resistiram às tentativas de fusão com seus rivais Hospitalários e conflitos com Filipe IV da França levaram o Monarca, de acordo com o papa Clemente V, a planejar a extinção da ordem. Acusações de heresia provocaram sua supressão (Concílio de Vienne, 1312). O grão-mestre Jacques de Molay e outros foram executados e os bens da ordem confis- cados, passando para os Hospitalários e príncipes seculares. A ordem foi restabelecida em Portugal como Ordem de Cristo.” LOYN, H. R. Dicionário da Idade Média. Rio de Janeiro. Jorge Zahar Editor, 1998, p. 85 Testes Assimilação 08.01. (FMJ –SP) – No mês de novembro (de 1095), o Papa reuniu todos os bispos da Gália e da Espanha e realizou um grande concílio em Clermont. Em seguida, fez uma comovente descrição da de- solação da Cristandade no Oriente e expôs os sofri- mentos e a opressão atrozes que os sarracenos infli- Consequências As Cruzadas contribuíram para dinamizar as relações comerciais entre o Oriente e o Ocidente, pondo fim ao bloqueio do Mar Mediter- râneo, até então dominado pelos muçulmanos. A burguesia foi a classe social que mais se bene ficiou pois os negociantes enriqueceram à custa dos nobres e cavaleiros. As cidades se desenvolveram. O mercado expandiu-se, bem como a economia monetária. Difundiu-se o espírito de lucro e o racionalismo econômico. O contato com as requintadas civilizações bizantina e muçul- mana despertou um refinamento no modo de vida europeu. Uma grande quantidade de produtos orientais foi introduzida no Ocidente. Entre os produtos, po- demos destacar canela, pimenta, cravo, açúcar, arroz, algodão, café e perfumes. Os europeus adotaram também técnicas de cultivo, de produção de ferro, de fabricação de tecidos, bem como importantes práticas financeiras e comerciais, tais como a letra de câmbio e o cheque. As Cruzadas comprometeram o prestígio da Igreja Católica e do papado, bem como o da própria nobreza. Um resultado indireto, extrema mente negativo, foi o aumento do antissemitismo na Europa. Em muitas cidades os ju- deus, por não serem cristãos, foram massacrados. giam aos cristãos. Na sua piedosa alocução, o orador, comovido até às lágrimas, falou igualmente, com in- sistência, sobre a maneira como eram espezinhados Jerusalém e os Lugares Santos. Nasceu, nos ricos e nos pobres, nas mulheres, nos monges e nos clérigos, nos citadinos e nos camponeses, uma prodigiosa von- tade de ir a Jerusalém ou de ajudar os que aí fossem. (Orderic Vital [1075-1143] apud Gustavo de Freitas. 900 textos e documentos de História, 1975. Adaptado.) Aula 08 19História 4A No documento, a) a Igreja Católica reafirma o dogma da infalibilidade papal. b) o Papa convoca os cristãos para a Cruzada. c) o clero propõe a reforma interior do fiel por meio da penitência. d) os teólogos proíbem o comércio dos cristãos com os muçulmanos. e) o papado condena as guerras religiosas. 08.02. (UEPB) – Considerando o fenômeno das Cruzadas, podemos afirmar: a) Condenavam a prática da indulgência pela Igreja Católica. b) Fortaleceram a descentralização política dos reis, conso- lidando o sistema feudal. c) Inibiram o desenvolvimento comercial devido à prática constante de escambos e saques. d) Tiveram motivação exclusivamente religiosa, com a noção de “guerra santa”. e) Possibilitaram aos ocidentais o contato com importantes conhecimentos produzidos pelos muçulmanos, no campo da matemática, da medicina e da astronomia. 08.03. (FGV – SP) – Chegam a Jerusalém a 7 de junho de 1099. Jejuam e fazem procissões em redor da cidade, es- perando que as suas orações deitem abaixo as muralhas, do mesmo que as trombetas de Josué tinham derrubado as de Jericó. A chegada a Jafa de navios genoveses, pisa- nos e venezianos é para eles de um grande auxílio [...] A cidade tão cobiçada é tomada a 15 de julho de 1099. Assistimos, então, à pilhagem e ao massacre sistemático de toda a população. Depois do regresso dos cruzados ao Ocidente, aposse de Jerusalém torna-se precária. Tate, G. Dois séculos de confronto entre o Oriente e o Ocidente. In Arneville, M.-B. D’ e outros, As Cruzadas. Trad., Cascais: Pergaminho, 2001, p. 22. O texto anterior refere-se à a) Terceira Cruzada e revela os interesses bizantinos nessa expedição. b) Reconquista Ibérica e apresenta as motivações religiosas dessa empreitada. c) Sétima Cruzada e demonstra a forte presença da monar- quia francesa. d) Primeira Cruzada e revela a forte religiosidade da pere- grinação armada. e) Quarta Cruzada e revela a participação exclusiva dos fiéis franceses. 08.04. (UFRR) – As Cruzadas, ocorridas durante a Idade Mé- dia, são analisadas por muitos historiadores como um evento “pouco glorioso e condenável”, como ilustra a citação abaixo: “O cristianismo, tal como era ensinado por Jesus e o Novo Testamento (o Evangelho), era uma religião pa- cífica. Entre os primeiros cristãos, muitos foram perse- guidos pelos romanos porque não queriam ir à guerra. Mas à medida que se tornavam cristãos, os bárbaros in- troduziram seus costumes guerreiros no cristianismo” (LE GOFF, Jacques. A Idade Média explicada aos meus filhos. Rio de Janeiro: Agir, 2007). Com base nessas informações, assinale a alternativa INCORRETA: a) As Cruzadas foram grandes batalhas contra os povos não cristãos que habitavam o norte da Europa, numa tentativa de convertê-los ao cristianismo através da força, contradi- zendo todo o ensinamento bíblico que se pautava numa religião pacífica. b) O movimento das Cruzadas teve como principal objetivo a conquista de Jerusalém e do Santo Sepulcro, onde Jesus teria sido sepultado. c) As Cruzadas iniciaram-se no Concílio de Clermont, quando o papa Urbano II convocou os cristãos para partirem rumo à Terra Santa, em um período da Idade Média que durou quase dois séculos. d) Entre os séculos XI e XIII partiram da Europa oito Cruzadas que envolveram milhares de pessoas, desde a nobreza até os mendigos. e) Além do objetivo religioso, de tomar lugares sagrados para os cristãos, as Cruzadas serviram a outros interesses, como a conquista de novas terras pela nobreza feudal e a ampliação das atividades mercantis. 08.05. (UNITAU – SP) – Atendendo ao apelo do papa Urbano II, os cristãos organizaram expedições militares co- nhecidas como cruzadas. Leia, com atenção, as afirmativas abaixo e assinale a alternativa INCORRETA sobre as causas e consequências dessas expedições militares. a) Além da questão religiosa, uma causa importante das Cruzadas foi o interesse econômico em dominar impor- tantes cidades orientais. b) Uma das consequências das Cruzadas foi a reabertura do mar Mediterrâneo – intercâmbio comercial entre a Europa e o Novo Mundo. c) Outra consequência delas foi o empobrecimento dos senhores feudais que tiveram suas economias arrasadas pelo elevado custo das guerras. d) Outra consequência foi o fortalecimento do poder real, à medida que os senhores feudais perdiam suas forças. e) Pode-se também falar da ampliação do universo cultu- ral europeu, promovida pelo contato com os orientais, deixando consequências na política e na economia da Idade Média. Aperfeiçoamento 08.06. (MACK – SP) – As Cruzadas, durante a Idade Média, representaram uma forma de solução para os problemas decorrentes do início da desestruturação do regime feudal. A expressão “Cruzada” “derivou-se do fato de seus integran- tes considerarem-se soldados de Cristo”. Tais expedições constituíram-se em a) empreendimentos de caráter militar, voltadas contra os inimigos da cristandade, sem o apoio formal da Igreja Católica, mas patrocinadas por nobres feudais, que ga- rantiam privilégios materiais aos participantes. 20 Semiextensivo b) oportunidades oferecidas em uma sociedade fortemente religiosa, mais clerical do que civil, em que o pecado e o crime equivaliam à mesma coisa, ou seja, ao cruzado obter a indulgência, ou perdão aos seus pecados. c) movimentos nos quais tanto a iniciativa de lutar contra os infiéis quanto a de reconquistar a Terra Santa partiam de muitos indivíduos não combatentes, como mercadores, artesãos, mulheres e crianças, motivados pela fé. d) iniciativas militares, cujos recursos materiais para sustentar os cruzados provinham da Igreja Católica, única interes- sada na reconquista da região. e) possibilidades para escapar das dívidas e dos pagamen- tos dos tributos à Igreja e aos senhores feudais, já que o cruzado, ao participar dessas expedições, conseguia uma moratória estendida para toda sua vida. 08.07. (UNESP – SP) – Mais ou menos a partir do século XI, os cristãos organizaram expedições em comum contra os muçulmanos, na Palestina, para reconquis- tar os “lugares santos” onde Cristo tinha morrido e ressuscitado. São as Cruzadas [...]. Os homens e as mulheres da Idade Média tiveram então o sentimento de pertencer a um mesmo grupo de instituições, de crenças e de hábitos: a cristandade. (Jacques Le Goff. A Idade Média explicada aos meus filhos, 2007.) Segundo o texto, as Cruzadas a) contribuíram para a construção da unidade interna do cristianismo, o que reforçou o poder da Igreja Católica Romana e do Papa. b) resultaram na conquista definitiva da Palestina pelos cris- tãos e na decorrente derrota e submissão dos muçulmanos. c) determinaram o aumento do poder dos reis e dos impe- radores, uma vez que a derrota dos cristãos debilitou o poder político do Papa. d) estabeleceram o caráter monoteísta do cristianismo medieval, o que ajudou a reduzir a influência judaica e muçulmana na Palestina. e) definiram a separação oficial entre Igreja e Estado, estipu- lando funções e papéis diferentes para os líderes políticos e religiosos. 08.08. (UERN) – Cruzadas – Batalhas da fé? “Os promotores das Cruzadas haviam se coloca- do, pelo menos, três objetivos: a conquista da Terra Santa de Jerusalém, a ajuda aos bizantinos e a união da cristandade contra os infiéis. Mas nenhum desses objetivos havia sido alcançado plenamente. Nas pala- vras de um importante historiador da Idade Média, ‘se os cruzados são os grandes perdedores da expansão cristã no século XII, os grandes ganhadores foram em definitivo os comerciantes’ [...]” (Le Goff, Jacques. La Baja Edad Media. Madrid, Siglo XXI, 1985) Baseado no texto, analise. I. As Cruzadas consistiram em expedições guerreiras es- timuladas pelo papado com vistas à conquista da Terra Santa. II. Os que das Cruzadas participaram, eram chamados de cruzados, receberiam da Igreja de Roma uma indulgên- cia específica, ou seja, o perdão para seus pecados caso partissem para a Terra Santa. III. As Cruzadas exerceram pouca influência na evolução da civilização europeia. IV. Os mercadores enriqueceram, pois, aproveitando-se das viagens, criaram novas oportunidades de comércio. Estão corretas as afirmativas a) Apenas I, II, IV b) Apenas I e III c) Apenas III e IV d) Apenas I e II e) I, II, III e IV 08.09. (FUVEST – SP) – As Cruzadas representaram para a sociedade feudal a) uma aventura militar que levou a cristandade a perder importantes territórios e a conhecer a Peste Negra. b) uma saída para o excedente populacional e a satisfação da necessidade espiritual da peregrinação a Jerusalém. c) um movimento nobiliárquico que ao reforçar o feudalismo atrasou a centralização política em dois séculos. d) um reforço importante no prestígio da Ordem Dominica- na, que as idealizou, organizou, financiou e, teoricamente, comandou. e) uma abertura para o exterior, responsável pela entrada na Europa de elementos da cultura clássica, como o gótico e a escolástica. 08.10. (UEL – PR) – Uma das consequências das Cruzadas foi a consolidação do renascimento comercial europeu, ao a) interromper a expansão dos francos do Norte da Europa e ao impedir que o comércio ficasse monopolizado pelas cidades de Antuérpia e Amsterdã. b) expulsar os árabes do Mediterrâneo e ao permitir o domínio do comércio pelas cidades italianas, na região, principalmente Gênova
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