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GERAÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA AULA 4 Prof. Rafael Zamodzki CONVERSA INICIAL Nesta aula, serão trabalhados os tópicos relacionados às linhas de transmissão. Os temas abordarão desde aspectos de modelagem das linhas, passando pelo cálculo dos parâmetros de linha e dos parâmetros elétricos (potência, corrente, tensão) até aspectos práticos relacionados aos esforços aos quais as linhas e torres estão submetidas e aos aspectos de projeto dos sistemas de transmissão. Ao final desta aula, deseja-se que o aluno: • Compreenda o funcionamento de linhas de transmissão • Saiba analisar projetos de linhas de transmissão • Compreenda a representação de linhas de transmissão Utilizando esses conhecimentos, o aluno poderá realizar a análise do fluxo de potência de qualquer Sistema Elétrico de Potência (SEP), bem como avaliar e realizar o projeto de linhas de transmissão. Será possível também modelar e simular o comportamento de sistemas de transmissão para analisar contingências dentro do sistema e efetuar tomadas de decisão conforme o problema apresentado. A aula está dividida em cinco temas, que são descritos a seguir: • Tema 1 – Modelos de linhas longas, médias e curtas • Tema 2 – Cálculo de tensões, correntes, potências, regulação e perdas • Tema 3 – Esforços nas estruturas e cabos • Tema 4 – Equação de mudança de estados • Tema 5 – Parâmetros de projeto de linhas de transmissão TEMA 1 – MODELOS DE LINHAS LONGAS, MÉDIAS E CURTAS As linhas de transmissão são necessárias dentro do Sistema Elétrico de Potência (SEP) porque muitas vezes a energia elétrica é gerada em áreas geograficamente distantes dos centros de consumo. Sendo assim, a principal função destas linhas é conduzir a energia produzida nos sistemas de geração até os sistemas de distribuição, localizados próximos aos centros consumidores de energia (Mohan, 2012). 3 Os sistemas de transmissão devem ser robustos, prover uma alta confiabilidade e exercer sua função com o mínimo de perdas possível para que o sistema opere de forma estável com o mínimo custo possível (Mohan, 2012). A maioria dos sistemas de transmissão opera em corrente alternada (CA) e é formada por redes aéreas, porém a transmissão de energia também pode ser realizada em corrente contínua (CC) através dos sistemas de transmissão de alta tensão em corrente contínua (HVDC, do inglês High-Voltage Direct Current). Os sistemas de transmissão CC exigem conversores de potência no início e no fim da linha de transmissão (Mohan, 2012). Esta aula discutirá apenas os sistemas em CA, pois os detalhes dos sistemas CC saem do nosso escopo. 1.1 Modelo de linhas longas com parâmetros distribuídos Qualquer trecho da linha de transmissão, por menor que seja, apresentará quatro parâmetros, que podem ser divididos em (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000): • Parâmetros série ou longitudinais o Resistência (R) – com a passagem da corrente, favorece a perda de potência ativa; o Indutância (L) – com a passagem da corrente, favorece a presença de campos magnéticos. • Parâmetros shunt ou transversais o Capacitância (C) – com a diferença de potencial, favorece a presença de campos elétricos; o Condutância (G) – favorece a presença de correntes de fuga. Todos esses parâmetros são calculados por unidade de comprimento e estão distribuídos ao longo da linha de transmissão. Para iniciar a modelagem, considera-se o circuito apresentado na Figura 1. 4 Figura 1 – Circuito equivalente de uma linha de transmissão longa Fonte: Adaptado de Stevenson (1986). A modelagem da linha longa será realizada considerando-se um trecho diferencial Δx. Como os parâmetros da linha são calculados por unidade de comprimento, deve-se considerar que zΔx é a impedância série do trecho diferencial e yΔx é a admitância shunt do trecho diferencial. A corrente pela impedância série pode ser determinada por (1) (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). ( ) médio I I I II I 2 2 + + ∆ ∆ = = + (1) Já a tensão na admitância shunt é dada pela média das tensões no início e no fim do trecho diferencial e é determinada por (2) (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). ( ) médio V V V VV V 2 2 + + ∆ ∆ = = + (2) A tensão no fim do trecho diferencial é definida pela diferença entre a tensão do início do trecho e a queda de tensão nos parâmetros série, como pode ser visto em (3) (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). médioV V V z x I IV z x I z I x 2 + ∆ = − ⋅∆ ⋅ ∆ ∆ = − ⋅∆ ⋅ + = − ⋅ ⋅∆ (3) Analogamente, a diferença de corrente entre o início e o fim do trecho se deve ao desvio de uma parte da corrente pelos parâmetros shunt. Essa relação é definida por (4) (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). 5 médioI I I y x V VI y x V y V x 2 + ∆ = − ⋅∆ ⋅ ∆ ∆ = − ⋅∆ ⋅ + = − ⋅ ⋅∆ (4) Os produtos dos termos diferenciais são desprezados, pois não possuem um valor significativo. Isolando os termos diferenciais em (3) e (4) e fazendo Δx tender a zero, pela definição de derivada, obtêm-se (5) e (6) (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). dV z I dx = − ⋅ (5) dI y V dx = − ⋅ (6) Derivar (5) e (6) mais uma vez em relação a x resulta em (7) e (8) (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). 2 2 d V dIz dx dx = − ⋅ (7) 2 2 d I dVy dx dx = − ⋅ (8) Substituindo (6) em (7) e (5) em (8), obtemos (9) e (10) (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). 2 2 d V z y V dx = ⋅ ⋅ (9) 2 2 d I z y I dx = ⋅ ⋅ (10) Que podem ser reescritas como (11) e (12) (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). ( ) ( ) 2 2 2 d V x V x dx γ= ⋅ (11) ( ) ( ) 2 2 2 d I x I x dx γ= ⋅ (12) A solução das equações diferenciais (11) e (12) possui a forma de (13) e (14) (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). ( )V x A cosh x B senh xγ γ= + (13) 6 ( )I x Ccosh x D senh xγ γ= + (14) Supondo que são conhecidas a tensão e a corrente no início da linha (x = 0), encontram-se as constantes A e C, pois senh (0) = 0 e cosh (0) = 1 (Stevenson, 1986, Bergen, Vittal, 2000). ( ) ( ) A V 0 C I 0 = = (15) Para encontrar as constantes B e D, substituem-se (13) e (14) em (5) e (6) e aplicam-se as derivadas, obtendo-se (16) e (17) (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). ( ) ( )A senh x B cosh x z Ccosh x D senh xγ γ γ γ γ+ = − + (16) ( ) ( )C senh x D cosh x y A cosh x B senh xγ γ γ γ γ+ = − + (17) Resolve-se para x = 0 e encontram-se (18) e (19) (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). ( )B zC zI 0γ = − = − (18) ( )D yA yV 0γ = − = − (19) Por fim, encontram-se as constantes B e D, apresentadas em (20) e (21) (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). ( ) ( ) ( )c z zB I 0 I 0 Z I 0 yγ = − = − = − (20) ( ) ( ) ( ) c y y 1D V 0 V 0 V 0 z Zγ = − = − = − (21) 7 O termo Zc é a impedância característica da linha, que é a impedância a ser colocada no final da linha para que se tenha a máxima transferência de potência entre geração e carga (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). Finalmente, encontra-se a solução do problema, mostrada em (22) e (23). ( ) ( ) ( )cV x V 0 cosh x Z I 0 senh xγ γ= − (22) ( ) ( ) ( ) c 1I x I 0 cosh x V 0 senh x Z γ γ= − (23) E, caso sejam conhecidas a corrente e a tensão no fim da linha, ao invés do início, as equações tornam-se iguais a (24) e (25) (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). ( ) R c RV x V cosh x Z I senh xγ γ= + (24) ( ) R R c 1I x I cosh x V senh x Z γ γ= + (25) Nesta modelagem, I (0) = IS é a corrente na fonte (início da linha) e V (0) = VS é a tensão na fonte. Além disso, γ é a constante de propagação da linha. 1.2 Modelo de linhas longas com parâmetros concentrados A primeira modelagem foi realizada considerando-se parâmetros distribuídos ao longo da linha, porém,em geral, tem-se interesse apenas nas grandezas nos extremos da linha, possibilitando que se negligencie o restante dos parâmetros ao longo da linha, pois na maioria das vezes esses parâmetros não geram alterações significativas nos cálculos. Na prática, considera-se que uma linha de transmissão longa é aquela que possui um comprimento maior do que 240 km. Essa linha pode ser representada pelo modelo π equivalente, com parâmetros distribuídos, como mostra a Figura 2 (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). 8 Figura 2 - Modelo π equivalente de uma linha de transmissão Fonte: Adaptado de Stevenson (1986). O comprimento total desta linha é l, e aplicando-se as Leis de Kirchhoff no circuito da Figura 2, obtêm-se (26) e (27) (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). ( ) ( ) ( ) ( )1V V 0 Z I 0 Y V 0 = − − (26) ( ) ( ) ( ) ( )1 2I I 0 Y V 0 Y V= − − (27) Substituindo-se (26) em (27), encontra-se (28) (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )1 2 2 1I I 0 Y V 0 Y V 0 ZY I 0 Y V 0 = − − + − (28) Agrupando-se os termos com impedância e admitância, obtemos (29) e (30). ( ) ( ) ( ) ( )1V 1 ZY V 0 Z I 0= + − (29) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )1 2 1 2 2I Y Y Y Y Z V 0 1 ZY I 0= − + + + + (30) Comparando (29) e (30) com (22) e (23), encontra-se Z, mostrado em (31) (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). cZ Z senh xγ= (31) Além disso, pode-se concluir que (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000) 1 21 ZY 1 ZY cosh xγ+ = + = (32) Isolando Y1, encontra-se (33). 9 1 c cosh x 1 cosh x 1Y Z Z senh x γ γ γ − − = = (33) É necessário recordar que x x x xe e e ecosh x e senh x 2 2 γ γ γ γ γ γ − −+ − = = (34) E, finalmente, substituindo (34) em (33) e realizando as manipulações matemáticas necessárias, encontra-se (35) (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). 1 2 c 1 xY tanh Y Z 2 γ = = (35) Portanto, o modelo π equivalente para uma linha de comprimento l é representado pelo circuito mostrado na Figura 3 (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). Figura 3 – Modelo π equivalente para uma linha de comprimento l Fonte: Adaptado de Stevenson (1986). 1.3 Modelo de linhas médias As linhas médias possuem comprimentos acima de 80 km e abaixo de 240 km. Para essa modelagem, algumas simplificações podem ser realizadas. Desenvolvendo-se os termos exponenciais de (34) em série de Taylor, obtém- se (36) (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). 10 ( ) ( ) 2 x 2 x x e 1 x 2! x e 1 x 2! γ γ γ γ γ γ− ≈ + + ≈ − + (36) Substituindo (36) em (34), é possível fazer algumas simplificações e obter (37). ( )2 senh cosh 1 2 tanh 2 2 γ γ γ γ γ γ ≈ ≈ + ≈ (37) Desta forma, substituindo (37) em (31) e (35), encontram-se (38) e (39) (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). ( )c c zZ Z senh Z zy z R j L y γ γ ω= ≈ = ⋅ ⋅ = = + (38) ( )1 2 c c 1 1 yY Y tanh zy y G j C Z 2 Z 2 z 2 2 2 γ γ ω= = ≈ = ⋅ ⋅ = ⋅ = + (39) Após encontrar os parâmetros, pode-se desenhar o circuito resultante. Este circuito é apresentado na Figura 4 e é chamado de modelo π nominal (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). Figura 4 – Modelo π nominal de uma linha de transmissão de comprimento l Fonte: Adaptado de Stevenson (1986). O modelo ainda pode ser redesenhado, como mostra a Figura 5. 11 Figura 5 – Circuito pi nominal de uma linha de transmissão média Fonte: Adaptado de Stevenson (1986). Dessa forma, as equações de tensão e corrente da fonte são definidas por (40) e (41) (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). S R R ZYV 1 V ZI 2 = + + (40) S R R ZY ZYI V Y 1 1 I 4 2 = + + + (41) Praticamente todas as linhas de transmissão são modeladas utilizando- se o modelo π nominal. Quando a linha é longa, costuma-se utilizar vários circuitos π nominal em cascata. Quando se necessita de maior precisão na modelagem, utiliza-se o modelo com parâmetros distribuídos ou o modelo π equivalente, tomando as equações de onda para a modelagem (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). 1.4 Modelo de linhas curtas As linhas curtas são aquelas que possuem um comprimento de até 80 quilômetros. Nestas linhas, as capacitâncias shunt podem ser desprezadas. Dessa forma, o modelo de linhas curtas pode ser determinado utilizando-se o circuito da Figura 6 (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). 12 Figura 6 – Circuito utilizado para modelagem de linhas curtas Fonte: Adaptado de Stevenson (1986). A corrente é a mesma nas duas extremidades da linha, portanto (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000) S RI I= (42) E a tensão na barra transmissora é (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000) S R RV V I Z= + (43) onde Z possui o valor zl ou (R+jωL)l, que é a impedância total da linha. TEMA 2 – CÁLCULO DE TENSÕES, CORRENTES, POTÊNCIAS, REGULAÇÃO E PERDAS Neste tema, serão apresentadas as formas de cálculo de variáveis importantes dentro de um sistema de transmissão, como tensões, correntes e potências, e também será possível entender como se calcula a regulação de tensão necessária em uma linha e como determinar as perdas de potência ativa e reativa nas linhas de transmissão. 13 2.1 Cálculo de tensões e correntes Como o cálculo das tensões e correntes já foi apresentado na modelagem, no primeiro tema, aqui as formas de cálculo serão apenas relembradas para cada comprimento de linha (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). • Para linhas curtas, utilizam-se (44) e (45). S RI I= (44) S R RV V I Z= + (45) • Para linhas médias, as equações são (46) e (47). S R R ZYV 1 V ZI 2 = + + (46) S R R ZY ZYI V Y 1 1 I 4 2 = + + + (47) • Para linhas longas, utilizam-se (48) e (49). ( ) ( ) ( )cV x V 0 cosh x Z I 0 senh xγ γ= − (48) ( ) ( ) ( ) c 1I x I 0 cosh x V 0 senh x Z γ γ= − (49) 2.2 Cálculo de potências Para o cálculo do fluxo de potência ativa e reativa em uma linha de transmissão, deve-se levar em conta os parâmetros série e shunt que estão presentes nesta linha, as correntes que fluem por ela e as tensões nas barras envolvidas. Para esta modelagem, parte-se de um diagrama genérico apresentado na Figura 7 (Monticelli, 1983). 14 Figura 7 – Sistema genérico com duas barras e uma linha de transmissão Fonte: Adaptado de Monticelli (1983). Define-se a impedância série como (Monticelli, 1983) km km kmz r jx= + (50) E a admitância série como (Monticelli, 1983) km km km km 1y g jb z = = + (51) onde gkm é a condutância série e bkm é a susceptância série. A corrente saindo da barra k é definida como (Monticelli, 1983) ( ) shkm km k m km kI y E E jb E= − + (52) O fluxo de potência complexa saindo da barra k é definido por (53) (Monticelli, 1983). * * km km km k kmS P jQ E I= − = (53) Substituindo (52) em (53), realizando as manipulações necessárias, considerando que Vk e Vm são as magnitudes das tensões nas barras k e m, respectivamente, e que θk e θm são os ângulos das tensões nas barras k e m, respectivamente, obtém-se (54) (Monticelli, 1983) ( ) ( ) ( )* sh 2km km km km k km km k m km kmS g jb jb V g jb V V cos jsenθ θ= + + − + − (54) Separando as partes real e imaginária, encontram-se as potências ativa e reativa (Monticelli, 1983). ( )2km km k k m km km km kmP g V V V g cos b senθ θ= − + (55) 15 ( ) ( )sh 2km km km k k m km km km kmQ b b V V V g sen b cosθ θ= − + − − (56) Da mesma forma, o fluxo da barra m para a barra k pode ser determinado por (57) e (58) (Monticelli, 1983). ( )2mk km m k m km km km kmP g V V V g cos b senθ θ= − − (57) ( ) ( )sh 2mk km km m k m km km km kmQ b b V V V g sen b cosθ θ= − + + + (58) 2.3 Regulação A regulação de tensão em uma linha de transmissão é o aumento de tensão nabarra receptora, dado em percentagem da tensão de plena carga, quando toda a carga, a um determinado fator de potênciam é retirada da linha, mantendo constante a tensão da barra transmissora (Mohan, 2012). Pode-se definir a regulação de tensão para linhas curtas e para linhas médias/longas. Para linhas curtas, define-se a regulação como apresentado em (59) (Stevenson, 1986). ( ) R, NL R, FL R, FL V V Regulação % 100 V − = ⋅ (59) onde |VR, NL| é a amplitude da tensão em vazio na barra receptora e |VR, FL| é a tensão a plena carga na mesma barra, com a tensão da barra transmissora |VS| constante. Para linhas médias e longas, define-se a regulação de tensão como em (60) (Stevenson, 1986). ( ) s R, FL R, FL V A V Regulação % 100 V − = ⋅ (60) onde A é a razão VS/VR em vazio. 2.4 Perdas As potências ativa e reativa que saem de uma barra não são as mesmas que chegam na barra receptora em um sistema de transmissão. As perdas de potência ativa e reativa ocorrem ao longo das linhas devido aos elementos série e shunt presentes. Deseja-se sempre ter o mínimo de perdas possível, para que a maior parte da energia transmitida chegue na barra receptora. 16 As perdas de potência ativa e reativa são calculadas levando-se em conta as equações definidas em (55) a (58) e obtendo-se (61) e (62) (Stevenson, 1986). perdas km mk 2 perdas km k m P P P P g E E = + = − (61) ( ) perdas km mk 2sh 2 2 perdas km k m km k m Q Q Q Q b V V b E E = + = − + − − (62) TEMA 3 – ESFORÇOS NAS ESTRUTURAS E CABOS A NBR 5422 de 1985 trata do projeto de linhas aéreas de transmissão de energia elétrica, trazendo os requisitos necessários a respeito das estruturas, dos isoladores e ferragens, suportes e fundações, esforços mecânicos aos quais os elementos estão submetidos, aterramento, distâncias de segurança, travessias, faixas de segurança, etc (ABNT, 1985). Com relação aos esforços aos quais os isoladores e as ferragens estão submetidos, a norma estabelece no seu item 6 que: 6.2 Os isoladores rígidos e respectivos acessórios não devem ser submetidos a um esforço superior a 40% de sua carga nominal de ruptura. 6.3 Os isoladores para cadeias e seus acessórios não devem ser submetidos a um esforço de tração superior a 40% da carga nominal de ruptura para cargas de duração prolongada, a 50% para cargas de montagem ou de manutenção e a 60% para cargas de curta duração. (ABNT, 1985). No item 8, a norma estabelece os tipos de esforços mecânicos aos quais os suportes estão sujeitos: São os seguintes os esforços a que o suporte está sujeito: a) cargas de vento: aquelas atuantes sobre os suportes, cadeias de isoladores e cabos devido à ação do vento; b) cargas permanentes: aquelas que praticamente não variam durante a vida da linha, como por exemplo: peso dos cabos e ferragens e esforço transversal (sem vento) devido aos cabos em suportes de ângulo e de ancoragem; c) cargas especiais: aquelas que ocorrem especificamente durante a construção e manutenção da linha, levando em consideração a presença simultânea de homens para estas atividades. Consideram-se também como especiais as cargas para prevenção do fenômeno de cascata (queda sucessiva dos suportes), quando da ocorrência de falha de algum componente da linha (ABNT, 1985). 17 É possível calcular os esforços aos quais os suportes, isoladores e cabos estarão submetidos após a concepção da linha de transmissão. A NBR 5422 traz todos esses equacionamentos em seu conteúdo. TEMA 4 – EQUAÇÃO DE MUDANÇA DE ESTADOS A equação de mudança de estados está totalmente ligada às variações de temperatura às quais a linha de transmissão está submetida em cada instante. As variações de temperatura que ocorrem no ambiente das linhas de transmissão podem ser bastante acentuadas, por exemplo, em diferentes estações do ano, com a temperatura ambiente podendo variar até 40 ºC ao longo dos meses. Além disso, os condutores estão sujeitos ao aquecimento devido ao efeito Joule, pela passagem de corrente. É difícil determinar com exatidão toda a faixa de temperaturas na qual as linhas de transmissão irão trabalhar, pois são diversas as variáveis envolvidas no processo. Determina-se, portanto, de forma estatística, considerando probabilidades e modelos meteorológicos da região onde a linha será instalada (Labegalini et al., 1992). É de extrema importância levar em conta a variação de temperatura no projeto de linhas de transmissão, pois com a elevação da temperatura ocorre a dilatação dos cabos e estruturas e, com a queda da temperatura, ocorre a contração desses elementos. Isso faz com que a tração e a flecha variem juntamente com a variação da temperatura. Quando há uma elevação da temperatura, a flecha tende a aumentar e a tração, a diminuir. Quando há uma queda na temperatura, a tendência é ocorrer o contrário (Labegalini et al., 1992). Para calcular todas essas variações, utiliza-se a equação de mudança de estados. A equação de mudança de estados devido à variação de temperatura é definida em (63) (Labegalini et al., 1992). ( ) 2 2 2 2 3 2 02 02 t 2 1 012 01 DSp Y DSp YT T DS t t T 24T 24 α + + − − = (62) onde: T01 e T02 são as trações horizontais nos estados 1 e 2 [N]; D é o módulo de elasticidade [N/mm²]; S é a seção do condutor [mm²]; αt é o coeficiente de dilatação térmica [1/ºC]; p é o peso linear do cabo [N/m]; 18 t1 e t2 são as temperaturas nos estados 1 e 2 [ºC]. TEMA 5 – PARÂMETROS DE PROJETO DE LINHAS DE TRANSMISSÃO O projeto de linhas de transmissão é um empreendimento bastante complexo, pois envolve diversas variáveis que englobam conceitos das engenharias elétrica, civil e mecânica. A ideia deste tema não é esgotar o assunto, mas sim dar uma ideia geral ao leitor de quais são os principais parâmetros que devem ser levados em conta no momento de se projetar uma linha de transmissão. Além de todos os estudos elétricos já apontados nesta aula, levando em conta a modelagem das linhas de transmissão, é necessário considerar aspectos relacionados aos esforços mecânicos das estruturas, à escolha dos cabos, isoladores e demais componentes do sistema, à topografia do relevo onde serão instaladas as torres, entre outros. A seguir, cita-se uma lista de parâmetros de projeto que devem ser considerados no projeto completo de uma linha de transmissão aérea (Villas, 2015): a. Seleção da tensão de transmissão b. Topografia da linha de transmissão c. Tipo de vão entre as estruturas d. Tipos de estruturas e. Custo da linha de transmissão f. Cargas que atuam sobre as estruturas g. Ângulo de balanço na cadeia de isoladores h. Cálculo do peso das estruturas i. Projeto mecânico das linhas de transmissão j. Faixa de servidão k. Distâncias verticais mínimas l. Cálculo das características térmicas e elétricas dos condutores m. Níveis de isolamento n. Proteções nas linhas de transmissão o. Escolha dos isoladores p. Ferragens na cadeia de isoladores q. Aterramento das torres 19 r. Vibração dos condutores s. Parâmetros meteorológicos e correções FINALIZANDO Nesta aula, buscou-se abordar de forma geral todos os aspectos relacionados às linhas de transmissão. Abordaram-se desde a modelagem até aspectos de projeto das linhas de transmissão, fornecendo ao aluno a capacidade de entender como uma linha de transmissão funciona, qual sua importância e sua função dentro do SEP e como determinar os principais parâmetros elétricos relacionados a este elemento do sistema. No primeiro tema, abordou-se a modelagem detalhada de linhas curtas, médias e longas, levando-se em consideração os diferentes modelos que podem ser construídos, dependendo da precisão que se deseja ter com os cálculos das variáveis elétricas. O segundo tópico abordou os aspectos relacionados ao cálculo das correntes, tensões, potências, regulaçãode tensão e perdas nas linhas de transmissão. As equações de correntes e tensões já haviam sido determinadas no primeiro tema, portanto definiu-se, nesse capítulo, as equações de potência ativa e reativa, levando em conta o fluxo de potência entre duas barras de um sistema genérico, as equações de regulação de tensão, levando em conta as tensões na barra transmissora e na barra receptora em cenários de operação a plena carga e a vazio e também as equações das perdas de potência ativa e reativa na rede, utilizando as equações já definidas no fluxo de potência. A parte três desta aula tratou a respeito dos esforços aos quais as estruturas e os cabos estão submetidos em uma linha de transmissão. Foram abordados principalmente os aspectos que estão dispostos na NBR-5422:1985, que estabelece os principais elementos de projeto de linhas de transmissão aéreas e traz vários conceitos relacionados aos esforços que são aplicados sobre as estruturas e cabos que fazem parte do sistema de transmissão. No quarto tema, apresentou-se a equação de mudança de estados que leva em conta as variações de temperatura que podem ocorrer no ambiente no qual a linha de transmissão está instalada, mostrando que a equação leva em consideração a influência da variação da temperatura na flecha e na tração dos cabos da linha de transmissão, aspectos que estão intimamente ligados entre si. 20 O último tema trouxe aspectos relacionados ao projeto de linhas de transmissão. Este assunto é extremamente longo e relativamente complexo e exigiria várias aulas para abrir e aprofundar cada um dos parâmetros apontados no quinto tema. Portanto, foi dada apenas uma ideia geral a respeito de aspectos que devem ser considerados no projeto das linhas de transmissão, abordando conceitos das engenharias elétrica, civil e mecânica. 21 REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR-5422 – Projeto de Linhas Aéreas de Transmissão de Energia Elétrica. Brasil, 1985. BERGEN, A. R.; VITTAL, V. Power System Analysis. 2nd Edition, Prentice Hall: USA, 2000. LABEGALINI, P. R.; LABEGALINI, J. A.; FUCHS, R. D.; ALMEIDA, M. T. Projetos Mecânicos das Linhas Aéreas de Transmissão. 2a ed., Edgard Blücher: São Paulo, 1992. MOHAN, N. Electric Power Systems – A first Course. Wiley: USA, 2012. MONTICELLI, A. J. Fluxo de Carga em Redes de Energia Elétrica. Edgard Blücher: São Paulo, 1983. STEVENSON JR., W. D. Elementos de Análise de Sistemas de Potência. 2ª ed., McGraw-Hill.: São Paulo, 1986. VILLAS, J. E. T. Linhas de Transmissão II – Projeto Mecânico. Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ): Rio de Janeiro, 2015. Conversa inicial Nesta aula, serão trabalhados os tópicos relacionados às linhas de transmissão. Os temas abordarão desde aspectos de modelagem das linhas, passando pelo cálculo dos parâmetros de linha e dos parâmetros elétricos (potência, corrente, tensão) até aspect... Compreenda o funcionamento de linhas de transmissão Saiba analisar projetos de linhas de transmissão Compreenda a representação de linhas de transmissão Tema 1 – Modelos de linhas longas, médias e curtas Tema 2 – Cálculo de tensões, correntes, potências, regulação e perdas Tema 3 – Esforços nas estruturas e cabos Tema 4 – Equação de mudança de estados Tema 5 – Parâmetros de projeto de linhas de transmissão FINALIZANDO REFERÊNCIAS
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