Buscar

Direito Civil Completo

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 471 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 471 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 471 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

240
CURSO DE DIREITO CIVIL (PARTE I)
	 PERSONALIDADE JURÍDICA
1. Conceito: a personalidade jurídica é a aptidão para se titularizar direitos e contrair obrigações na órbita jurídica, vale dizer, é o atributo do sujeito de direito.
2. Pessoa física ou natural: Teixeira de Freitas chamava a pessoa física ou natural de ente de existência visível. 
Em que momento a pessoa física ou natural adquire personalidade jurídica?
Resposta: aparentemente, a resposta é dada pela primeira parte do art. 2º do CC, pelo qual a personalidade da pessoa física seria adquirida a partir do NASCIMENTO COM VIDA, ou seja, a partir do funcionamento do aparelho cardiorrespiratório. Entretanto, a segunda parte do mesmo dispositivo reconhece a proteção dos DIREITOS DO NASCITURO desde a concepção, o que nos faz indagar: teria também o nascituro personalidade jurídica? Trata-se de uma das mais acesas polêmicas da doutrina civilista brasileira, saber se o nascituro pode ou não ser considerado pessoa. O NASCITURO inicialmente, vale lembrar, seguindo a doutrina de Limongi França, que o nascituro é o ente concebido mas ainda não nascido, em outras palavras, é o ente de via intrauterina.
Art. 2o A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.
Obs 1: Vale advertir que o nascituro não se confunde com o concepturo e o natimorto. CONCEPTURO, também chamado de prole eventual, é aquele que nem concebido ainda foi. Já o NATIMORTO é aquele nascido morto, que deverá ser registrado em livro próprio do cartório de pessoas naturais (ver enunciado nº I da Primeira Jornada de Direito Civil). Este enunciado nº I traz alguma proteção ao natimorto, como, por exemplo, o direito à sepultura.
	O intrigante tema atinente à personalidade ou não do nascituro tenta ser solucionado à luz de três teorias explicativas fundamentais:
1) Teoria Natalista (Sílvio Rodrigues, Vicente Ráo, Sílvio Venosa): a primeira Teoria, tradicional em nosso direito, sustenta que a personalidade jurídica só seria adquirida a partir do nascimento com vida, de maneira que o nascituro não seria considerado pessoa, gozando de mera expectativa de direito.
Obs: mesmo que se siga a teoria natalista, não é razoável, na perspectiva do princípio da dignidade da pessoa humana, que, além do nascimento com vida se exija forma humana ou tempo mínimo de sobrevida como exigia o art. 30 do Código Civil Espanhol, antes da Lei nº 20 de 21 de julho de 2011.
2) Teoria da Personalidade Condicional (Serpa Lopes): para a segunda teoria, que fica a meio caminho entre a natalista e a concepcionista, o nascituro seria dotado de personalidade apenas para direitos existenciais (como direito à vida) mas apenas consolidaria a personalidade para a aquisição de direitos econômicos ou materiais, sob a condição de nascer com vida. (não diz se o nascituro é ou não pessoa).
Obs: esta segunda teoria não é incisiva para afirmar se o nascituro é uma pessoa, com personalidade plena inclusive para efeitos patrimoniais (aproxima-se da classificação apresentada pela professora Maria Helena Diniz, segundo a qual o nascituro teria uma personalidade formal, mas somente adquiriria direitos materiais sob a condição de nascer com vida).
3) Teoria Concepcionista (Teixeira de Freitas, Silmara Chinelato): finalmente, a teoria concepcionista, mais completa, afirma que o nascituro é dotado de personalidade jurídica, desde a concepção, inclusive para efeitos patrimoniais. Percebemos que, aos poucos, a teoria concepcionista vai ganhando mais espaço nos tribunais, inclusive na própria legislação brasileira, a exemplo da lei de alimentos gravídicos (Lei nº 11.804/08) e de recentes decisões do STJ que admitiram o dano moral ao nascituro (RESP 399028/SP) e até mesmo pagamento de DPVAT pela morte do nascituro (Noticiário de 15 de maio de 2011). 
Ementa; DIREITO CIVIL. DANOS MORAIS. MORTE. ATROPELAMENTO. COMPOSIÇÃO FÉRREA. AÇÃO AJUIZADA 23 ANOS APÓS O EVENTO. PRESCRIÇÃO INEXISTENTE. INFLUÊNCIA NA QUANTIFICAÇÃO DO QUANTUM. PRECEDENTES DA TURMA. NASCITURO. DIREITO AOS DANOS MORAIS. DOUTRINA. ATENUAÇÃO. FIXAÇÃO NESTA INSTÂNCIA. POSSIBILIDADE. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.
I - Nos termos da orientação da Turma, o direito à indenização por dano moral não desaparece com o decurso de tempo (desde que não transcorrido o lapso prescricional), mas é fato a ser considerado na fixação do quantum. II - O nascituro também tem direito aos danos morais pela morte do pai, mas a circunstância de não tê-lo conhecido em vida tem influência na fixação do quantum. III - Recomenda-se que o valor do dano moral seja fixado desde logo, inclusive nesta instância, buscando dar solução definitiva ao caso e evitando inconvenientes e retardamento da solução jurisdicional.(REsp 399028/SP).
Qual das três teorias afinal teria sido adotada pelo Código Civil Brasileiro?
Resposta: Segundo Clóvis Beviláqua, em seus comentários ao Código Civil dos Estados Unidos do Brasil, Editora Rio, 1975, em posição ainda atual, o Código Civil aparentemente pretendeu adotar a teoria natalista “por parecer mais prática”, embora em diversos momentos sofra influência concepcionista. 
Obs.: O julgamento da ADI 3510-0, referente à Lei de Biossegurança, não pacificou a controvérsia, pois não teve o objetivo de discutir especificamente qual a teoria adotada.
II CAPACIDADE
1. Capacidade de direito: é uma capacidade geral, genérica, que qualquer pessoa tem. Segundo Orlando Gomes, a capacidade de direito é noção que se confunde com o próprio conceito de personalidade.
2. Capacidade de fato (de exercício): traduz uma aptidão para pessoalmente praticar atos na vida civil.
3. Capacidade civil plena: junção da capacidade de direito com a capacidade de fato.
Obs: vale lembrar que o conceito de capacidade não se confunde com a denominada legitimidade, a qual lembrando Calmon de Passos, consiste na pertinência subjetiva para a prática de determinados atos jurídicos. Vale dizer, mesmo sendo capaz, a pessoa pode estar impedida de praticar determinado ato jurídico por falta de legitimidade. (art. 1521, IV do CC).
4. Incapacidade civil: ausência da capacidade de fato.
a) Incapacidade absoluta (art. 3º do CC/02):
Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil:
I - os menores de dezesseis anos; (menores impúberes – 0 a 16 anos completos)
II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos;
Obs: no que tange ao inciso II do art. 3º, vale lembrar que o reconhecimento da incapacidade absoluta (ou até mesmo relativa) pela enfermidade ou deficiência mental opera-se por meio do procedimento de interdição, regulado a partir do art. 1177 do CPC. Proferida, publicada e registrada a sentença de interdição, qualquer ato que o incapaz pratique sem o seu curador, mesmo em período de lucidez é inválido. Orlando Gomes, seguindo doutrina italiana, na mesma esteira da redação original do art. 503 do CC da França (antes da lei de 5 de março de 2007), observa que o ato praticado pelo incapaz ainda não interditado poderá ser invalidado se concorrerem 03 requisitos: 
- a incapacidade de impedimento; 
- o prejuízo ao incapaz;
- a má-fé da outra parte (esta má-fé, por óbvio, pode ser circunstancialmente aferida).
III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.
Obs: a teoria da “actio libera in causa”, desenvolvida pelo direito penal (ver o texto de Claus Roxin no www.cienciaspenales.net), também se aplica ao Direito Civil segundo observa o grande Alvino Lima na obra “Da Culpa ao Risco”, pois é justo que se responsabilize a pessoa que voluntariamente se coloca em estado de incapacidade.
Obs2: o ausente e o surdo-mudo eram considerados no CC/16 absolutamente incapazes. Hoje, a ausência é causa de morte presumida e não de incapacidade. O surdo-mudo que não consiga manifestar sua vontade é enquadrado no inciso III do art. 3º.
b) Incapacidade relativa (art. 4º do CC/02):
Art. 4o São incapazes, relativamentea certos atos, ou à maneira de os exercer:
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; menores púberes
II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido;
 Obs: se a embriaguez for patológica, aniquilando por completo o discernimento, gera incapacidade absoluta (inciso II do art. 3º)
III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo;
IV - os pródigos.
Obs. A prodigalidade é um transtorno de comportamento, o pródigo gasta desordenadamente seu patrimônio a ponto de reduzir-se à miséria. Podem ser interditados com fundamento no art. 1782 do CC. Uma vez interditado, todos os atos de cunho patrimonial serão praticados com a assistência de curador. Na habilitação do casamento, o curador precisa se manifestar no que se refere ao regime de bens adotado.
Obs.2 A teoria do Estatuto Jurídico do Patrimônio Mínimo, desenvolvida pelo professor Luiz Edison Fachin, afirma que, à luz do princípio da dignidade da pessoa humana, todo indivíduo deve ter preservado pela lei civil um mínimo de patrimônio para que tenha vida digna.
Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial.
Obs: o art. 8º da Lei 6.001/73 (Estatuto do Índio) regula a capacidade do índio. O índio que não tem contato com a nossa civilização é considerado absolutamente incapaz.
sorteio.ssa@gmail.com
O que é Restitutio in integrum?
Resposta: muitas vezes esta expressão significa restituição integral, que muitas vezes é empregada no campo da responsabilidade civil. Segundo a doutrina de Clóvis Beviláqua, o benefício de restituição ou restitutio in integrum consistia no benefício conferido aos menores ou incapazes em geral de pleitear de volta o que pagou, caso alegassem prejuízo, ainda que o ato praticado fosse formalmente perfeito (menor representado ou assistido). Vale lembrar que o art. 8º do CC/16, por segurança jurídica, expressamente o proibia, proibição esta que a Doutrina entende ainda em vigor à luz do Código Novo.
Obs: ver no material de apoio os comentários ao art. 119 do CC/02.
Quais são os principais efeitos da redução da maioridade civil?
Resposta: inicialmente, é importante frisar, no âmbito do direito de família, que o próprio STJ já consolidou o entendimento (RESP 442502/SP; RESP 739004/DF) no sentido de que o alcance da maioridade civil não implica cancelamento automático da pensão alimentícia, que exige a garantia do contraditório (Súmula 358 do STJ). O STJ decidiu que o pai e a mãe não têm a obrigação de pagar curso de pós-graduação. A pensão poderá ser paga até a conclusão do curso de ensino superior.
Súmula: 358
O cancelamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a maioridade está sujeito à decisão judicial, mediante contraditório, ainda que nos próprios autos.
Obs: ver no material de apoio diversas decisões do STJ atinentes à participação do Ministério Público em processos que envolvam pagamento de pensão alimentícia.
Vale acrescentar, ainda, no âmbito do direito previdenciário, que benefícios pagos pela lei previdenciária deverão observar o seu limite etário, e não o do Código Civil (nota SAJ 42/2003 e Enunciado 03, IJDC).
III EMANCIPAÇÃO
1.	Segundo Washington de Barros Monteiro, a maioridade civil é atingida no primeiro instante do dia em que se comemora o aniversário. Por meio da emancipação, instituto também presente em outros sistemas no mundo (a exemplo do art. 133 do Código de Portugal), antecipam-se os efeitos da plena capacidade civil, e, segundo o nosso Direito, a emancipação poderá ser:
a) Voluntária (art. 5º, par. único, I, primeira parte): a emancipação voluntária é aquela concedida pelos pais, ou por um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente da homologação do juiz e desde que o menor tenha, pelo menos, 16 anos completos.
Obs: lembra-nos Silvio Venosa, em artigo intitulado “a responsabilidade dos pais pelos filhos menores” que, no caso da emancipação voluntária, na linha de entendimento do próprio STF (RTJ 62/108), a responsabilidade dos pais pelo ilícito causado pelo menor emancipado persiste até que alcance 18 anos, para que a vítima não corra o risco de ficar irresarcida.
b) Judicial (art. 5º, par. único, I, segunda parte): a emancipação judicial, segundo o Código Civil, é aquela concedida pelo juiz, ouvido o tutor, desde que o menor tenha, pelo menos, 16 anos completos.
c) Legal (art. 5º, par. único, II a V): as formas de emancipação legal, como a própria expressão sugere, derivam diretamente da lei e são as seguintes:
· Casamento: a idade núbil é de 16 anos. Há, entretanto, situações excepcionais em que a lei autoriza (art. 1520 do CC) o casamento abaixo dos 16 anos, como, por exemplo, no caso de gravidez. Já vimos que o casamento emancipa, mas em caso de divórcio, o ato emancipatório é prejudicado? O divórcio, por projetar efeitos para o futuro, não retorna à situação de incapacidade, diferente é a hipótese de o casamento ser invalidado, caso em que, ressalvada a hipótese de putatividade, a sentença opera efeitos retroativos, restituindo o estado anterior de coisas (Zeno Veloso, Tartúcio, Simão).
· O exercício de emprego público efetivo: abrange também a ocupação de cargo público efetivo.
· Colação de grau em curso de ensino superior;
· Também ocorrerá a emancipação legal pelo estabelecimento civil ou comercial (empresarial) ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor, com 16 anos completos, tenha economia própria.
· Estabelecimento civil: prestação de serviço, estabelecimento de ofício (ex: menor de 16 anos alugou uma sala para ministrar aulas de violão);
· Estabelecimento comercial: menor compra um box na feira, compra e revende hortaliças.
· A demissão de emprego não faz retornar o estado de incapacidade.
· A prova da emancipação pode se dar de forma incidental, no curso de um processo. É possível o ajuizamento de uma ação declaratória de emancipação, embora não esteja obrigado a fazê-lo. A emancipação não deriva de sentença declaratória e sim da lei.
· O que se entende por “Economia própria”? Como se sabe, o moderno Direito Civil adotou um sistema normativo aberto, permeado de cláusulas gerais e conceitos abertos ou indeterminados. À luz do princípio da operabilidade[footnoteRef:1] (um dos vetores normativos do Novo Código Civil, segundo Miguel Reale – ver referência de texto no material de apoio), “economia própria” é um conceito vago ou fluídico, assim como a expressão “justa causa”, a ser preenchido pelo juiz segundo as circunstâncias do caso concreto. Os dois outros princípios regentes do CC, segundo o filósofo Miguel Reale, são os princípios da socialidade (o Código prestigia a função social) e o princípio da eticidade (o Código prestigia a boa-fé como valor fundamental). A diferença entre conceito aberto e cláusula geral deverá ser vista na grade de teoria geral do contrato (Judith Martins-Costa). [1: Para melhor operar o CC, este diploma foi permeado de conceitos abertos. O juiz vai melhor operar o sistema, aplicando a norma ao caso concreto.] 
2. Questões especiais envolvendo o menor antecipado: 
· A emancipação antecipa os efeitos da capacidade civil, mas não antecipa os efeitos da capacidade penal! O professor Paulo Sumariva, no artigo “A Lei de Falências e a imputabilidade penal” sustenta que o menor emancipado poderá falir e, caso configurado crime falimentar, responder por ato infracional segundo o ECA. O professor LFG, por sua vez, sustenta a possibilidade de prisão civil, já que é apenas meio coercitivo de pagamento (menor devedor de alimentos).
· Finalmente, é bom lembrar que a emancipação não autoriza a condução de veículos, na medida em que o art. 140, I, do CTB exige que o condutor seja penalmente imputável.
IV EXTINÇÃO DA PESSOA FÍSICA OU NATURAL
Como se sabe, nos termos do art. 6º do CC, a extinção da pessoa física ou natural opera-se por meio da morte. O marco utilizado hoje pela medicina para a fixação da morte é a morte encefálica, dado o seu caráter de irreversibilidade (ver Resolução1826 de 2007 do Conselho Federal de Medicina). Vale acrescentar ainda que, nos termos da Lei de Registros Públicos (Lei nº 6015/73), arts. 77 e seguintes, o óbito deve ser declarado por um profissional da medicina, e, em sua falta, excepcionalmente, por duas testemunhas.
1. Morte presumida: o CC/02 reconhece duas situações básicas de morte presumida: 
a) Em caso de ausência, quando aberta a sucessão definitiva dos bens do ausente. A ausência ocorre quando a pessoa desaparece do seu domicílio sem deixar notícia ou representante que administre os seus bens. Trata-se de um procedimento regulado a partir do art. 22 do CC e detalhadamente explicado no texto complementar do material de apoio 01.
b) A morte presumida também poderá se dar, FORA DA SITUAÇÃO DE AUSÊNCIA, nas hipóteses do art. 7º do CC/02 (procedimento de justificação – parágrafo único do art. 7º). Finalmente, vale lembrar que o STF editou a súmula nº 331 afirmando ser legítima a incidência do imposto de transmissão causa mortis no inventário por morte presumida.
 
Art. 7o Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência:
I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida;
II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra.
Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento.
2. Comoriência
A comoriência consiste na situação em que duas ou mais pessoas falecem na mesma ocasião sem que se possa identificar a ordem cronológica dos óbitos, caso em que consideram-se simultaneamente mortas (art. 8º do CC). Traduz uma presunção de morte simultânea.
Art. 8o Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos.
· “na mesma ocasião” – o CC não diz que a presunção de morte simultânea seja no mesmo lugar. Em geral, a comoriência é aplicada quando as mortes se dão no mesmo lugar.
· Efeito prático: na prática, a presunção de morte simultânea significa que serão abertas cadeias sucessórias autônomas e distintas de maneira que um comoriente nada transmite ao outro. (ver AI 598569952 do TJRS).
· Premoriência: não se confunde com comoriência, pois nada tem a ver com morte simultânea. Trata-se de expressão que caracteriza a situação de pré-morte, com implicações no âmbito sucessório. (Ex: os filhos de João são pré –mortos em relação a ele – premoriência)
V PESSOA JURÍDICA
	Nos dias de hoje, adotamos a expressão “pessoa jurídica”, muito embora, no Direito Comparado, outras terminologias já foram usadas como pessoas morais, abstratas, místicas e, até mesmo, “ente de existência ideal” (Teixeira de Freitas). Como decorrência do fato associativo, os seres humanos, gregários por excelência, segundo a doutrina do sociólogo Machado Neto, tem a tendência inata ao agrupamento, pois perceberam que em grupos atingiriam com mais eficiência os seus propósitos, especialmente econômicos. Assim, observa Orlando Gomes que a categoria da pessoa jurídica surgiu da necessidade de personificação desses grupos, para que atuassem com autonomia. Portanto, um primeiro e básico conceito de pessoa jurídica é no sentido de ser aquele grupo humano, criado na forma da lei e dotado de personalidade própria para a realização de fins comuns.
Obs: naturalmente, dada a complexidade das relações sociais contemporâneas, especiais tipos de pessoa jurídica tem natureza própria, a exemplo das fundações e da EIRELI (empresa individual de responsabilidade limitada).
1. Teorias Explicativas da Pessoa Jurídica
a) Corrente Afirmativista:
· Teoria da ficção (Windscheid, Savigny): para esta teoria a pessoa jurídica teria uma existência meramente ideal ou abstrata, sendo uma criação da pura técnica do direito. Revelou-se equivocada por ser extremamente abstrata, não se pode integrar a capacidade das pessoas jurídicas integrarem o plano das relações sociais. Esta teoria não admitia a existência social de uma pessoa jurídica (celebração de contrato).
· Teoria da Realidade Objetiva (sociológica ou organicista – Clóvis Beviláqua): para esta teoria, a pessoa jurídica seria, simplesmente, um organismo social vivo, a ser explicado pela sociologia, e não pela técnica do Direito. Esta teoria, acertadamente, reconhece a dimensão social da pessoa jurídica. Entretanto, negava-lhe a técnica, isto é, a personificação da pessoa jurídica pela técnica abstrata do Direito, encarcerava a pessoa jurídica no campo sociológico.
· Teoria da Realidade Técnica (Saleilles, Ferrara): para esta terceira teoria, mais equilibrada, a pessoa jurídica seria personificada pela técnica abstrata do Direito, a par de também ter dimensão social, integrando relações de variada ordem.
b) Corrente Negativista (Planiol, Brinz, Bekker): negava a existência da pessoa jurídica enquanto categoria autônoma. As pessoa jurídicas constituem, em verdade, um grupo de pessoas físicas ou um patrimônio coletivo.
2. Aquisição da personalidade pela pessoa jurídica (art. 45 do CC):
Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo.
Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular a constituição das pessoas jurídicas de direito privado, por defeito do ato respectivo, contado o prazo da publicação de sua inscrição no registro.
Nos precisos termos do art. 45 do CC, começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização especial do Poder Executivo. Vale dizer, nos termos da própria lei brasileira, o registro do ato constitutivo (contrato social ou estatuto) é constitutivo da sua personalidade.
Em geral, o ato constitutivo da pessoa jurídica deverá ser registrado ou na Junta Comercial ou CRPJ (Cartório de Registro de Pessoas Jurídicas).
Obs: lembra-nos Caio Mário, em sua obra Instituições de Direito Civil, que o registro da pessoa jurídica, por ser constitutivo, tem efeitos ex nunc. Portanto, conforme deverá ser visto na grade de Direito Empresarial, entes sem registro são considerados despersonificados, o que implica responsabilidade pessoal dos seus sócios ou administradores, nos termos dos artigos 986 e seguintes do CC.
Os bancos, para se constituírem, é necessária uma autorização específica do BANCO CENTRAL. Outro exemplo são as seguradoras, que precisam de autorização específica da SUSEP.
O que são grupos “despersonificados” com capacidade processual? 
Determinadas entidades, a exemplo do espólio, da massa falida, da herança jacente (ver art. 12 do CPC), embora tecnicamente pessoas jurídicas não sejam, têm capacidade processual. Alguns autores, como Maria Helena Diniz, sustentam que estes entes detêm personalidade anômala.
O condomínio, segundo o professor, não tem personalidade jurídica, embora detenha capacidade processual. A título ilustrativo, Projeto de Lei de iniciativa do Parlamentar José Santana de Vasconcelos, de 2009, pretendeu expressamente modificar o CC e a LRP para considerar o condomínio pessoa jurídica.
3. Espécies de pessoa jurídica de Direito Privado
O CCB, em rol não exaustivo, elenca as pessoas jurídicas de direito privado em seu art. 44, e são as seguintes:
a) Associações;
b) Sociedades;
c) Fundações;
d) Organizações Religiosas;
e) Partidos Políticos;
f) EIRELI – Lei 12441/11 (Empresa Individual de Responsabilidade Limitada).
Em sua redação original, o art. 44 considerava pessoa jurídica de direito privado as associações, as sociedades e as fundações. O legislador, expressamente, reconheceu as categorias das organizações religiosas e partidos políticos, em incisos autônomos, mesmo tendo natureza associativa como objetivo de excluí-los e blindá-los do prazo de adaptação ao Novo Código Civil, nos termos do art. 2.031 (ver na Apostila 02 o tópico 9).
Obs: empresários individuais e pessoas jurídicas anteriores que não se adaptaram ao Novo Código Civil podem sofrer sanções de variada ordem: impossibilidade de obtenção de linha de crédito e financiamento, impossibilidade de participar de licitação e, principalmente, passarão a atuar como sociedades irregulares, em que, como se sabe, a responsabilidade passa a ser pessoal dos seus próprios sócios ou administradores.
· Pessoa jurídica pode sofrer dano moral?
Resposta: a posição que prevalece no sistema jurídico brasileiro, consolidada em diversos julgados (RESP 752.672/RS, AGRG no RESP 865658/RJ) e na própria Súmula 227 do STJ é no sentido de que a pessoa jurídica pode sofrer dano moral nos termos, inclusive, do próprio artigo 52 do CC, a despeito de certa resistência doutrinária (Enunciado 286 da IV Jornada de Direito Civil).
Art. 52. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade.
4. Associações
a) Conceito: as associações, nos termos do art. 53 do CC, são pessoas jurídicas de direito privado formadas pela união de indivíduos que buscam finalidade ideal ou não econômica.
Art. 53. Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem para fins não econômicos.
Parágrafo único. Não há, entre os associados, direitos e obrigações recíprocos.
O fato de uma associação gerar receita, não significa que haverá finalidade lucrativa. Não há repartição de lucros entre os seus administradores (percepção de lucro proporcional à atividade é vedado). É óbvio que poderá ser pago um salário ao Administrador.
O ato constitutivo de uma associação é o seu Estatuto, cujos requisitos encontram-se no art. 54, devendo o seu registro ser feito no CRPJ. Geralmente, o Estatuto da associação prevê uma Diretoria, uma Presidência, um Conselho Fiscal, um Conselho Administrativo. Entretanto, o órgão principal é Assembleia Geral cujas atribuições estão delineadas no art. 59 do CC:
Art. 59. Compete privativamente à assembléia geral: (Redação dada pela Lei nº 11.127, de 2005)
I – destituir os administradores; (Redação dada pela Lei nº 11.127, de 2005)
II – alterar o estatuto. (Redação dada pela Lei nº 11.127, de 2005)
Parágrafo único. Para as deliberações a que se referem os incisos I e II deste artigo é exigido deliberação da assembléia especialmente convocada para esse fim, cujo quorum será o estabelecido no estatuto, bem como os critérios de eleição dos administradores. (Redação dada pela Lei nº 11.127, de 2005)
Obs: em regra, dissolvida a associação, a teor do art. 61, o seu patrimônio será atribuído a entidades de fins não econômicos designadas no Estatuto ou, omisso este, a instituição municipal, estadual ou federal de fins iguais ou semelhantes.
Em uma associação, pode haver categorias diferentes de associados, mas dentro de uma mesma categoria não é possível discriminação de direitos entre eles (art. 55 do CC).
Art. 55. Os associados devem ter iguais direitos, mas o estatuto poderá instituir categorias com vantagens especiais.
O CCB admite, no art. 57, a expulsão/ exclusão do associado, desde que, por óbvio, garantido o contraditório:
Art. 57. A exclusão do associado só é admissível havendo justa causa, assim reconhecida em procedimento que assegure direito de defesa e de recurso, nos termos previstos no estatuto. (Redação dada pela Lei nº 11.127, de 2005)
Obs: prevalece ainda no Brasil a tese segundo a qual o art. 57 POR CUIDAR DE ASSOCIAÇÕES, não deve ser aplicado para expulsão de condômino antissocial, para o qual é prevista sanção específica no parágrafo único do art. 1337 do CC. Nesse sentido, inclusive, já decidiu o TJSP, julgando a Apelação Cível 668.403.4/6. Parcela da doutrina, todavia, invocando o princípio da função social e a teoria do abuso de direito, começa a ganhar força defendendo a exclusão do condômino, por meio de ação judicial própria (Ver Enunciado 508 da V Jornada de Direito Civil).
5. Fundações
a) Conceito: as fundações, diferentemente das sociedades e das associações, não são formadas pela união de indivíduos, mas sim, pelo destacamento de um patrimônio, que se personifica para a realização de finalidade ideal ou não lucrativa.
Art. 62. Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública ou testamento, dotação especial de bens livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser, a maneira de administrá-la.
Parágrafo único. A fundação somente poderá constituir-se para fins religiosos, morais, culturais ou de assistência.
b) Requisitos para Constituição da fundação
1. Afetação de bens livres e desembaraçados do instituidor;
2. A instituição deverá ser feita por escritura pública ou testamento[footnoteRef:2]; [2: Por qualquer forma de testamento, público ou privado, desde que observados os requisitos da lei, poderá ser constituída a fundação. A lei não faz esta distinção.] 
3. A elaboração do Estatuto da Fundação;
Obs: o Estatuto da Fundação poderá ser elaborado diretamente pelo seu próprio instituidor ou, fiduciariamente a elaboração poderá ficar a cargo de um terceiro, que, não o fazendo permitirá que, subsidiariamente, o MP o faça (art. 65 do CC).
Art. 65. Aqueles a quem o instituidor cometer a aplicação do patrimônio, em tendo ciência do encargo, formularão logo, de acordo com as suas bases (art. 62), o estatuto da fundação projetada, submetendo-o, em seguida, à aprovação da autoridade competente, com recurso ao juiz.
Parágrafo único. Se o estatuto não for elaborado no prazo assinado pelo instituidor, ou, não havendo prazo, em cento e oitenta dias, a incumbência caberá ao Ministério Público.
4. Aprovação do Estatuto da Fundação: em regra, caberá ao Ministério Público aprovar o Estatuto que ele não elaborou. 
Obs: caso o Ministério Público elabore o Estatuto, o art. 1202 do CPC estabelece que deverá o mesmo ser aprovado pelo juiz.
Art. 1.202. Incumbirá ao órgão do Ministério Público elaborar o estatuto e submetê-lo à aprovação do juiz:
 I - quando o instituidor não o fizer nem nomear quem o faça;
 II - quando a pessoa encarregada não cumprir o encargo no prazo assinado pelo instituidor ou, não havendo prazo, dentro em 6 (seis) meses.
5. Registro do Estatuto no CRPJ.
c) Atribuição Fiscalizatória do MP:
O art. 66 do CC traz norma expressa regulando a matéria:
Art. 66. Velará pelas fundações o Ministério Público do Estado onde situadas.
§ 1o Se funcionarem no Distrito Federal, ou em Território, caberá o encargo ao Ministério Público Federal. (Vide ADIN nº 2.794-8) (AQUI HÁ UM ERRO NA NORMA, A ATRIBUIÇÃO SERÁ DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO DF. ESTE ERRO FOI OBJETO DA ADIN Nº 2794, TENDO O STF INTERPRETADO ESTE DISPOSITIVO CONFORME A CONSTITUIÇÃO)
§ 2o Se estenderem a atividade por mais de um Estado, caberá o encargo, em cada um deles, ao respectivo Ministério Público.
Obs: como vimos, em regra, a função fiscalizatória caberá ao Ministério Público do Estado ou do Distrito Federal (ADI nº 2794-8). Todavia, por óbvio, em havendo justificativa legal própria, poderá a Procuradoria da República (MPF) também atuar exercendo fiscalização (Enunciado 147 da 3ª Jornada de Direito Civil). Ver no art. 69 o destino do patrimônio da Fundação que acaba.
d) O Estatuto de uma Fundação pode ser modificado? Nos termos do artigos 67 e 68 do CC, admite-se a alteração do Estatuto da Fundação.
Art. 67. Para que se possa alterar o estatuto da fundação é mister que a reforma:
I - seja deliberada por dois terços dos competentes para gerir e representar a fundação;
II - não contrarie ou desvirtue o fim desta;
III - seja aprovada pelo órgão do Ministério Público, e, caso este a denegue, poderá o juiz supri-la, a requerimento do interessado.
Art. 68. Quando a alteração não houver sido aprovada por votação unânime, os administradores da fundação, ao submeterem o estatuto ao órgão do Ministério Público, requererão que se dê ciência à minoria vencida para impugná-la, se quiser,em dez dias.
6. Sociedades
a) Conceito: a sociedade[footnoteRef:3], pessoa jurídica de Direito Privado, dotada de personalidade jurídica própria, é instituída por meio de contrato social, com a finalidade de exercer atividade econômica e partilhar lucros (art. 981 do CC). [3: O CC/02, pelo art. 982, optou pela mudança na tipologia (sociedade civil e comercial, derivada da teoria francesa dos atos de comércio), adotando a classificação que divide a sociedade em empresária e simples. 
Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais. 
Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa.
] 
Obs: É lícita a sociedade formada entre cônjuges? O art. 977 do CC admite a sociedade formada entre cônjuges, desde que não sejam casados nos regimes de comunhão universal ou separação obrigatória de bens[footnoteRef:4]. [4: Esses dois regimes são mais vulneráveis a fraudes.] 
Art. 977. Faculta-se aos cônjuges contratar sociedade, entre si ou com terceiros, desde que não tenham casado no regime da comunhão universal de bens, ou no da separação obrigatória.
Obs 2: Tem prevalecido a ideia, à luz da garantia constitucional do ato jurídico perfeito, que a proibição do art. 977 não atingiria sociedades anteriores, conforme, inclusive, se pronunciou o DNRC (Departamento Nacional do Registro de Comércio) por meio do parecer 125/03.
O CC Brasileiro, no parágrafo único do art. 982, estabelece que, independentemente do objeto, toda sociedade anônima é empresária e toda cooperativa é sociedade simples. Para ser empresária, uma sociedade deve observar um requisito material e formal:
· Requisito material: atividade tipicamente empresarial (art. 966 do CC);
· Requisito formal: registro na Junta Comercial (R.P.E.)
A sociedade empresária reúne um requisito material (exercício de atividade empresarial) e um requisito forma (registro na JC), sujeitando-se à legislação falimentar. Além disso, a sociedade empresária é marcada pela impessoalidade, na medida em que a atividade do sócio não é indispensável ao exercício da atividade da empresa. Vale dizer, os sócios atuam, basicamente, como articuladores de fatores de produção (capital, mão de obra, tecnologia e matéria prima). Diferentemente, a sociedade simples que, como regra, é registrada no CRPJ, é aquela em que atividade do sócio confunde-se com a atividade da própria sociedade, a exemplo da sociedade formada por advogados ou médicos.
Obs: a despeito de haver ainda acesa polêmica, por conta de as cooperativas terem sido consideradas sociedades simples, a doutrina de direito empresarial, em regra, sustenta que o seu registro deve continuar a ser feito na Junta Comercial por conta da norma especial (ver também Enunciado 69 da 1ª Jornada de Direito Civil), mas a matéria ainda não é pacificada.
7. O que é uma EIRELI?
Trata-se de tema a ser visto na grade de direito empresarial. 
Trata-se de um novo tipo de pessoa jurídica criada pela lei 12.441/2011. A Empresa Individual de Responsabilidade Limitada é, segundo o professor Frederico Garcia, uma PESSOA JURÍDICA UNIPESSOAL que prevê a limitação da responsabilidade do seu titular ao capital integralizado que não poderá ser inferior a 100 vezes o maior salário mínimo vigente no país[footnoteRef:5]. [5: A EIRELI consistiu numa opção aos empresários individuais. Como se sabe, neste caso, o empresário (pessoa física) responde pessoalmente pelos débitos contraídos pela empresa individual. Antes da EIRELI, os empresários, a fim de evitar a responsabilidade pessoal, formavam uma sociedade de fachada (em regra com um parente da família), a fim de adotar a forma societária limitada. Com a EIRELI, há a instituição de uma pessoa jurídica unipessoal que não se confunde com a pessoa física!] 
Obs: tramita uma ADIN (4637) que pretende o reconhecimento da inconstitucionalidade do mínimo de 100 salários mínimos para a constituição da EIRELI.
Em regra, a EIRELI é registrada na Junta Comercial. 
Obs 2: o DNRC, por meio da Instrução Normativa 117/2011, proibiu que pessoa jurídica pudesse constituir EIRELI.
VI DIREITOS DA PERSONALIDADE
1. Personalidade e direitos da personalidade
1.1 Introdução
Segundo o CC/16, toda pessoa tem personalidade jurídica, a qual significa aptidão para ser sujeito de direito. Para o Direito, pessoa é tão somente ter personalidade jurídica. 
A partir da década de 60, Pontes de Miranda formulou uma crítica a esta relação implicacional, notadamente no que se refere aos entes despersonalizados (herança jacente, espólio, massa falida, condomínio edilício). Nesse sentido, o condomínio edilício, por exemplo, apesar de ser um ente despersonalizado, pode ser contratante, empregador, contribuinte, consumidor e parte em processo. Com efeito, Pontes de Miranda sustentava que os entes despersonalizados titularizam relações jurídicas. Segundo o ilustre civilista, se ter personalidade jurídica é apenas ter a aptidão para ser sujeito de direitos, a personalidade jurídica estaria empobrecida, pois, para ser sujeito de direito, não é necessário ter personalidade jurídica, a exemplo dos entes despersonalizados.
Considerando a pertinência da crítica de Pontes de Miranda, o CC/02 confere novo tratamento à matéria:
Quem é pessoa, tem personalidade jurídica.
Por outro lado, quem tem personalidade jurídica é aquele que merece uma proteção fundamental (valores essenciais). Esta proteção fundamental representam os direitos da personalidade. Este movimento ganhou o nome de (re)personalização, que é o movimento de valorização/proteção da pessoa. Hoje, os direitos da personalidade constituem a categoria jurídica fundamental do sistema de direito privado. Isto porque todo sistema de direito privado parte da premissa de que toda pessoa tem uma proteção, qual seja, os direitos da personalidade.
Pessoa personalidade jurídica proteção fundamental direitos da personalidade.
Atenção: não confundir direitos da personalidade com direitos fundamentais. Os direitos da personalidade constituem a proteção necessária para que a pessoa possa exercer sua personalidade com dignidade nas relações privadas (movimento de constitucionalização do Direito Civil). Os direitos fundamentais (arts. 5º, 6º e 7º, CF) são construídos por outra lógica. Enquanto, os direitos da personalidade se preocupam com a dignidade das pessoas nas relações privadas, os direitos fundamentais efetivam a dignidade nas relações públicas.
Direitos da personalidade relação privada
Direitos fundamentais relação pública
Às vezes um direito da personalidade também se apresenta como direito fundamental, embora sejam conceitos autônomos. Ex: privacidade, imagem (V, X e XII do art. 5º da CF). De outro lado, o devido processo legal (LV, art. 5º, CF) é direito fundamental, mas não é direito da personalidade. 
Os direitos fundamentais são construídos sob uma perspectiva pública, mas, a partir do RE 201.819/RJ, o STF consagrou a tese da eficácia horizontal dos direitos fundamentais (aplicação direta de direitos fundamentais). Significa que toda relação privada conta também com a incidência vinculante dos direitos fundamentais (observância do devido processo legal nas relações privadas. Caso de exclusão de associado sem observância do contraditório e ampla defesa). Para além da eficácia verical, os direitos fundamentais estão presentes nas relações provadas (eficácia horizontal). Fala-se também em eficácia diagonal dos direitos fundamentais (empregador e empregado). Art. 1336, §2º e art. 1337 do CC: possibilidade multa ao condômino antissocial
Art. 1.336. São deveres do condômino:
§ 2o O condômino, que não cumprir qualquer dos deveres estabelecidos nos incisos II a IV, pagará a multa prevista no ato constitutivo ou na convenção, não podendo ela ser superior a cinco vezes o valor de suas contribuições mensais, independentemente das perdas e danos que se apurarem; não havendo disposiçãoexpressa, caberá à assembléia geral, por dois terços no mínimo dos condôminos restantes, deliberar sobre a cobrança da multa.
Art. 1337. O condômino, ou possuidor, que não cumpre reiteradamente com os seus deveres perante o condomínio poderá, por deliberação de três quartos dos condôminos restantes, ser constrangido a pagar multa correspondente até ao quíntuplo do valor atribuído à contribuição para as despesas condominiais, conforme a gravidade das faltas e a reiteração, independentemente das perdas e danos que se apurem. 
Para que o condômino antissocial seja punido, é preciso que lhe seja assegurado o devido processo legal. Os direitos fundamentais, além de sua eficácia vertical, ganham eficácia horizontal. Os direito fundamentais, então, apesar de construídos numa perspectiva pública, vinculam nas relações privadas, sem se confundir com os direitos da personalidade.
Paralelamente ao conceito de personalidade, existe o conceito de capacidade, que é a aptidão para ser sujeito de direito.
Dica: personalidade diz respeito às relações existenciais. Capacidade diz respeito às relações patrimoniais.
Quem tem personalidade, também tem capacidade. Mas a recíproca não é verdadeira.
Ex: Entes despersonalizados não têm personalidade, mas tem capacidade jurídica.
Ex 2: Ente despersonalizado pode sofrer dano material, mas não pode sofrer dano moral, pois o dano moral diz respeito às relações existenciais.
Atenção: o conceito de personalidade é uno e indivisível. Isto porque ninguém pode ser “meia-pessoa”. A capacidade, por seu turno, pode sofrer gradações. Isto porque as pessoas que tem capacidade podem titularizar as relações jurídicas pessoalmente ou não. É o caso dos incapazes, os quais tem capacidade gozam, mas não titularizam essas relações pessoalmente (tem capacidade direito, mas não tem capacidade de fato). O conceito de personalidade é autônomo em relação ao conceito de capacidade.
Os direitos da personalidade foram construídos com inspiração religiosa a fim de impedir que novas atrocidades, como aquelas perpetradas na 2ª GG, fossem cometidas contra a pessoa.
2. Cláusula geral de proteção da personalidade
Se os direitos da personalidade correspondem à proteção fundamental das pessoas nas relações privadas, é de se discutir se o rol dos direitos da personalidade é taxativo ou exemplificativo. Não há como se estabelecer standards do que seja vida digna, não há como se represar o conceito de vida digna, por isso o rol é exemplificativo. 
	O rol dos direitos da personalidade é exemplificativo. Direito da personalidade é tudo aquilo que é necessário para ter dignidade numa relação privada. É direito da personalidade tudo que é necessário para ser dignidade na vida privada.
Fundamento jurídico: para reconhecer o caráter exemplificativo dos direitos da personalidade, o direito brasileiro estabelece uma cláusula geral de proteção da personalidade (direito italiano, português e espanhol). Esta cláusula geral de proteção da personalidade (direito geral da personalidade), qual seja, a dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, CF). Com isso, confirma-se a tese de que os direitos fundamentais possuem eficácia horizontal. A dignidade da pessoa humana não é oponível tão somente ao Estado, como também ao particular.
A dignidade da pessoa humana possui dupla eficácia. 
- Eficácia positiva: impõe atividades para o seu respeito, para a sua efetivação. Ex: ações afirmativas para proteção das pessoas com deficiência. 
- Eficácia negativa: restringe o exercício de direitos. Determinados direitos não podem ser exercidos se violarem a dignidade de um terceiro. Limite da atividade dos poderes públicos.
Conceito de dignidade da pessoa humana: Celso Antônio Bandeira de Melo define o conteúdo jurídico (conteúdo mínimo) do p. da igualdade. Nesse sentido, não é possível conceituar o princípio, mas apenas estabelecer o conteúdo mínimo. Conteúdo mínimo é o núcleo duro, núcleo essencial. Transportando esta ideia para o p. da dignidade da pessoa humana...
Conteúdo mínimo do p. da dignidade humana:
a) Integridade física e psíquica - Ex: Lei 11.346/06 (direito à alimentação adequada);
b) Liberdade e igualdade – Ex: STF, ADIN 4277/DF (natureza familiar da união homoafetiva);
c) Direito ao mínimo existencial (direito ao patrimônio mínimo – MP de MG): patrimônio livremente adquirido será protegido no mínimo que for necessário para garantir a dignidade. Exemplos: Súmula 364 do STJ (bem de família da pessoa sozinha). Uma pessoa só não é família, mas merecerá a proteção do bem de família a fim de se garantir o seu direito ao patrimônio mínimo (aplicação do conceito de impenhorabilidade); II, art. 649 do CPC (impenhorabilidade dos bens móveis. Os bens móveis só serão impenhoráveis naquilo que for necessário para manter o padrão médio de vida digna)[footnoteRef:6]; [6: O Presidente da República vetou este conceito de padrão médio para os imóveis. O conceito de padrão médio é exclusivo para os bens móveis! O STJ já se manifestou sobre o tema, afirmando a impenhorabilidade absoluta dos bens imóveis!] 
3. Momento aquisitivo:
A concepção é o momento aquisitivo dos direitos da personalidade. Numa visão sistêmica, a concepção se dá no momento da nidação. Com a concepção, já se pode exercer os direitos da personalidade, mas os direitos patrimoniais ficam condicionadas ao nascimento com vida (exceção: alimentos gravídicos).
Enunciado nº I da JDC: os natimortos têm direitos da personalidade: nome, imagem e sepultura.
Embrião criogenizado (congelado): não tem direito da personalidade. A lei 11.105/05 (Lei de Biossegurança), no seu art. 5º, estabelece que o embrião congelado será guardado pelo médico no prazo de 03 anos. Findo este prazo, o casal realiza uma fecundação ou o médico descarta o embrião. Este descarte significa o envio do embrião para a realização de pesquisas com células-tronco. O STF, na ADIN 3510/DF, reconheceu a constitucionalidade do dispositivo.
Embrião congelado têm direitos patrimoniais? Sim. O embrião não titulariza relações existenciais. Mas poderá ter capacidade, mesmo não dispondo de personalidade (relações patrimoniais). As relações patrimoniais não são exclusivas de quem tem personalidade. Art. 1798 do CC reconhece direito sucessório (herança e legado) a embrião laboratorial. O prazo prescricional para reclamar a herança é de 10 anos.
O direitos patrimoniais do embrião congelado estão condicionados ao nascimento com vida.
4. Momento extintivo:
Extinguem-se com a morte. Se a morte extingue a personalidade, extinguirá, por consequência, dos direitos da personalidade. A lei 9434/97 (Lei de Transplantes) estabelece que o momento da morte determinado pela morte encefálica.
Questões controvertidas a respeito do término dos direitos da personalidade:
a) Sucessão processual (art. 43, CPC): ocorre quando o titular da personalidade sofreu o dano ainda vivo, promoveu a ação e faleceu no curso do procedimento. Neste caso, os herdeiros do falecido devem se habilitar no processo para sucedê-lo. O direito da personalidade se extinguiu com o particular, o que se transmitiu foi o direito de dar continuidade ao processo. Trata-se de uma questão apenas processual. 
b) Transmissão do direito à reparação do dano (art. 943 do CC): se o titular sofreu o dano ainda vivo e veio a falecer sem promover a ação, os herdeiros podem fazê-lo em seu lugar. Não houve transmissão da personalidade, mas o direito patrimonial de requerer a indenização.
Art. 943. O direito de exigir reparação e a obrigação de prestá-la transmitem-se com a herança.
Observações:
- Sob o ponto de vista processual, a legitimidade para requerer esta ação é do espólio, pois os interesses patrimoniais de uma pessoa morta são defendidos pelo seu espólio.
- O direito de requerer a indenização do falecido depende da inocorrência de prescrição. O direito de requerer a indenização é transmitido com a prescrição em curso. A morte do titular não suspende nem interrompe o prazo prescricional.
- Não confundir com o art. 948 que diz respeito à indenização por morte de parente. A vítima terádireito à indenização por danos materiais, lucros cessantes, dano moral, sem prejuízo de outras indenizações[footnoteRef:7]. Neste caso, não há transmissão e sim direito próprio do parente sobrevivo. [7: Ex: perda de uma chance.] 
c) Lesados indiretos (parágrafo único do art. 12, CC): se o dano ocorre depois da morte do titular, atinge, diretamente, ao morto e, por isso, não produz nenhum efeito jurídico. Todavia, atinge também, indiretamente, os familiares vivos da pessoa morta, caracterizados como lesados indiretos. Assim sendo, os lesados indiretos podem reclamar indenização pelo dano causado. Trata-se de legitimidade ordinária, autônoma para o processo (direito próprio, em nome próprio). Não houve transmissão do direito da personalidade, pois os lesados direitos estão pleiteando direito próprio. Cada pessoa viva traz consigo, dentro os seus direitos da personalidade, o direito de defender a personalidade dos seus parentes mortos. 
Lesados indiretos: descendentes; ascendentes; colaterais até o 4º grau; cônjuge sobrevivente (companheiro sobrevivente ou parceiro homoafetivo sobrevivente). Este rol não se submete à ordem de vocação sucessória, o que significa que a legitimidade de cada dessas pessoas é disjuntiva (a legitimidade de um não exclui a do outro). Os valores indenizatórios podem ser distintos.
O rol dos lesados indiretos é exemplificativo, pois este artigo está baseado no afeto. Ex: enteado, namorada, noiva. Verificar STF, AgRg no RE 477554 – caráter exemplificativo do rol.
Atenção: quando se tratar do direito de imagem, os colaterais estão excluídos do rol dos lesados indiretos (parágrafo único do art. 20, CC). No mesmo sentido: Enunciado 05 da JDC. Entretanto, a doutrina entende que o colateral poderá ser incluído no rol (exemplificativo). O colateral terá que provar o vínculo afetivo.
STJ, Resp 86.109: caso da filha de Lampião e Maria Bonita. Empresa no RJ veiculou a imagem do casal em produto. A filha deles ajuizou a ação e face da empresa para impedir que esta continuasse a veicular a imagem. A filha do casal é parte legítima. O irmão, entretanto, não seria parte legítima, pois o colateral está excluído do rol de lesados indiretos no caso de ofensa a direito da imagem;
STF. Resp 521697/RJ: o STJ julgou o caso do jogador Garrincha. Garrincha teve biografia escrita depois de sua morte pelo jornalista Rui Castro, revelando dados íntimos. Os quatro filhos de Garrincha pediram indenização por invasão de privacidade. OSTJ admitiu a legitimidade dos filhos de Garrincha como lesados indiretos. Neste caso, os irmãos de Garrincha poderiam pleitear indenização, pois se trata de ofensa ao direito da privacidade!
Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.
Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau.
5. Fontes
1ª corrente (majoritária): Corrente jusnaturalista (Maria Helena Diniz). A fonte dos direitos da personalidade é o direito natural (inato – típico da condição de homem). Teriam origem quase-divina. Os direitos da personalidade são antecedentes ao sistema jurídico. Ex: Tribunal de Nuremberg – julgamento dos oficiais nazistas alemães. Os oficiais alegaram estrito cumprimento do dever legal. O Tribunal entendeu que os oficiais descumpriram o direito anterior ao sistema jurídico, qual seja, o direito à vida.
2ª corrente: minoritariamente, Pontes de Miranda e Tepedino sustentam que os direitos da personalidade não são naturais, mas sim positivados, pois decorrem de uma opção do sistema jurídico. Ex: pena de morte em caso de guerra é uma opção jurídica; direito autoral também é uma opção do sistema jurídico. Posição de Cristiano Chaves.
6. Direitos da Personalidade e liberdades públicas
Direitos da personalidade correspondem a tudo aquilo que é necessário para se ter dignidade na relação privada. Às vezes, a efetivação de um direito da personalidade exige um comportamento positivo ou negativo do Estado. Esta atuação estatal são as liberdades públicas, isto é, as liberdades públicas correspondem a estas obrigações positivas ou negativas impostas ao Estado para concretizar direitos da personalidade.
O direito de locomoção é um direito da personalidade, mas esse direito, para ser concretizado, reclama Habeas Corpus. Portanto, o HC é uma liberdade pública para concretização do direito de locomoção.
Nem todo direito fundamental são liberdades públicas, apenas aqueles necessários à efetivação dos direitos da personalidade.
7. Direitos da Personalidade e pessoa jurídica
Os direitos da personalidade são consequência natural da titularização da personalidade. Se os fundamentos do direito da personalidade é a dignidade da pessoa humana, pessoa jurídica não os tem. Nesse sentido, Enunciado 286 da JDC. Significa que os direitos da personalidade são feitos pelo homem e para o homem. Art. 52 do CC:
Art. 52. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade.
Na forma do art. 52, PJ não tem direitos da personalidade, mas merece a mesma proteção. 
Fundamento: atributo de elasticidade dos direitos da personalidade.
- “no que couber”: Naquilo que a falta de estrutura biopsicológica permita exercer. Resp 433954: o STJ reconheceu proteção a PJ por protesto indevido de duplicata.
- PJ pode sofrer dano moral? Dano moral é reparação a direito da personalidade. Sim, pois merece proteção, Súmula 227 do STJ.
Súmula: 227
A pessoa jurídica pode sofrer dano moral. Acrescentar: NO QUE COUBER
8. Conflito entre direitos da personalidade e liberdade de comunicação social
A liberdade de comunicação social está prevista na CF. Desdobra-se em duas espécies:
a) Liberdade de imprensa;
b) Liberdade de expressão.
Num Estado Democrático de Direito, nenhum direito é absoluto, nem mesmo o direito à vida (legítima defesa, pena de morte em tempos de guerra). Da mesma forma, podemos dizer que os direitos da personalidade não são absolutos, pois eventualmente podem entrar em rota de colisão com outros direitos. É possível encontrar conflitos entre os direitos da personalidade e outros direitos. Exemplo disso é o conflito entre direito da personalidade e liberdade de comunicação social. A resolução do conflito dependerá do caso concreto, pois a resposta a essa colisão perpassa pela técnica de solução de conflitos, qual seja, a ponderação de interesses. Os dois valores são ponderados de modo a aferir qual dos direitos tem maior densidade. 
A ponderação de interesses é tida, muitas vezes, como sinônimo de proporcionalidade, o que não é correto. O princípio da proporcionalidade se parenta com uma dupla face: como princípio interpretativo ou como técnica de solução de conflitos. Como princípio interpretativo, a proporcionalidade ganha o nome de razoabilidade. Como técnica de resolução de conflitos, a proporcionalidade é denominada ponderação de interesses. Nem todo uso de proporcionalidade é ponderação, pois a ponderação também dá vazão à razoabilidade. De outro lado, uma coisa é certa: todo uso de ponderação é proporcionalidade. Ex. 1: A convenção de condomínio que proíbe a entrada de animais deve ser interpretada, Neste caso, a proporcionalidade é analisada à luz da razoabilidade e não da ponderação de interesses. Ex 2: admissibilidade de prova ilícita no processo penal. Neste caso, há dois valores em coalisão: o direito à prova ilícita e o direito à liberdade. Neste caso, faz-se o uso da ponderação. Nesse caso, o STJ decidiu, excepcionalmente, pela admissibilidade da prova ilícita.
O conflito em tela resolve-se casuisticamente. É necessária ponderação diante do cas concreto. Luís Roberto Barroso fornece como exemplo edição do jornal O Globo em que se veiculou duas notícias de igual conteúdo. Primeiramente, o jornal disse que determinado Ministro de Estado tinha uma amante que ocupava cargo de confiança no Ministério. Na mesma edição,o jornal afirma que outra senhora, uma simpática senhora, tinha como amante um jovem rapaz. Por ponderação, era razoável dizer que o Ministro tinha uma amante e que esta tinha um cargo de confiança no Ministério? O que tinha maior densidade normativa, era a liberdade de imprensa em relação à intimidade do Ministro. No segundo caso, por outro lado, não prevalece a liberdade de imprensa. Nesse sentido, podemos dizer que a liberdade de imprensa não é absoluta, pois pode entrar em rota de colisão com os direitos fundamentais. A imprensa pode ser condenada a reparar violações a direitos da personalidade. Quando for caso de responsabilidade civil por ato perpetrado pela imprensa, tem-se a Sumula 221 do STJ (responsabilidade do autor do escrito e do proprietário do veículo de comunicação):
Súmula: 221
São civilmente responsáveis pelo ressarcimento de dano, decorrente de publicação pela imprensa, tanto o autor do escrito quanto o proprietário do veículo de divulgação.
A súmula 281 do STJ estabelece que a indenização por dano moral, decorrente de ato da imprensa, não está tarifada. A Lei de Imprensa estabelecia uma tabela. Se a CF não recepcionou esta lei, não se admite o tarifamento indenizatório:
Súmula: 281
A indenização por dano moral não está sujeita à tarifação prevista na Lei de Imprensa.
Tudo que foi estudado aplica-se também à liberdade de expressão, de modo que a liberdade de expressão não é absoluta. O sistema jurídico brasileiro não admite o hate speech, que é a absoluta liberdade de expressão. O hate speech permite manifestações de ódio, desprezo, intolerância. O STF proferiu decisão, no HC 82.424/RS, na qual foi afastado o hate speech. Nesse julgado, o STF apreciou o caso de um gaúcho que escreveu um livro antissemita. O MP ajuizou contra ele uma denúncia por crime de racismo. A partir deste julgado, o STF reconheceu que a liberdade de expressão não é absoluta. A liberdade de crítica, de sátira, é permitida. Porém, o limite da liberdade de expressão é a preservação da personalidade alheia.
9. Características (art. 11 do CC)
a) Intransmissíveis
b) Irrenunciáveis
Ambas são espécies do gênero indisponível. Os direitos da personalidade são, ao fim e ao cabo, indisponíveis.
Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária.
Os direitos da personalidade admitem restrição voluntária. Sim, nos casos previstos em lei. A redação do art. 11 do CC é muito ruim, pois não inicia com a regra e sim com a exceção. O professor sugere uma releitura do dispositivo: “os direitos da personalidade são relativamente indisponíveis”. Isto porque admitem restrição voluntária.
Estes casos previstos em lei abrangem a vontade das partes? Sim, cessão de imagem, doação de órgãos e de sangue constituem atos de disposição de direitos da personalidade, que se originam da autonomia privada. A autonomia privada, por seu turno, está prevista em lei, Enunciado 139, art. 11 da JDC: é admitida ato de disposição voluntária dos direitos da personalidade.
139 – Art. 11: Os direitos da personalidade podem sofrer limitações, ainda que não especificamente previstas em lei, não podendo ser exercidos com abuso de direito de seu titular, contrariamente à boa-fé objetiva e aos bons costumes.
Já que os direitos da personalidade admitem restrição voluntária, este ato de restrição é limitado ou ilimitado? Limites ao ato de disposição voluntária dos direitos da personalidade (Enunciado nº 04 da JDC):
· Não pode ser permanente: deve ser limitado no tempo. O limite temporal à cessão de imagem é de 05 anos, renováveis, segundo dispõe a Lei 9610/98. Só é possível o ato de disposição permanente de órgãos dúplices ou regeneráveis.
· Não pode ser genérico: a cessão do direito à imagem e à privacidade, não abrange a cessão dos demais direitos da personalidade. Os atos de disposição dos direitos da personalidade devem ser interpretados restritivamente;
· Não podem violar a dignidade do titular, ainda que haja seu consentimento: caso do arremesso de anão e Teste de fidelidade do João Kléber.
Outras características dos direitos da personalidade:
a) Absolutos: no sentido de oponíveis erga omnes. Não se contrapõe, neste caso, à noção de “relativo”;
b) Inatos, ou seja, ínsitos à condição humana, segundo a posição majoritária;
c) Vitalícios (extingue-se com a morte. Não confundir com perpétuo);
d) Extrapatrimoniais, pois não têm conteúdo econômico. Em compensação, a violação a um direito da personalidade pode gerar consequência econômica, qual seja, a indenização por dano moral.
e) Impenhoráveis, pois não têm conteúdo econômico. Entretanto, a indenização decorrente da violação ao direito da personalidade pode ser penhorada.
f) Imprescritíveis, isto é, não há prazo para seu exercício. A indenização que eventualmente deles decorrente tem prazo prescricional. Exceção: o STJ estabeleceu uma exceção no RESP 816.209/RJ. A exceção diz respeito à indenização de corrente de tortura (direito patrimonial – e não da personalidade -que não prescreve). 
10. Tutela jurídica (art. 12 do CC)
Durante a vigência do CC/16, a proteção jurídica de qualquer direito submetia-se ao binômio: lesão – sanção. Toda lesão a um direito implicava em perdas e danos. Todavia, às vezes a pretensão do titular não era a perdas e danos e sim a efetiva proteção ao direito da personalidade. Não raro, as perdas e danos não resolviam a lesão. O CC/02 descobriu a insuficiência desse binômio. Descobriu que o esquema protetivo lesão-sanção era insuficiente para a proteção dos direitos da personalidade. O art. 12 do CC reconheceu um novo mecanismo de proteção jurídica dos direitos da personalidade. Trata-se de um sistema binário: proteção preventiva, sem prejuízo de ser também compensatória.
Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.
Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau.
“sem prejuízo de outras sanções previstas em lei”: refere-se às sanções penais, aos casos de autotutela.
A proteção preventiva dos direitos da personalidade se dá através do instituto da tutela específica no art. 461 do CPC (tutela individual) e ar. 84 do CDC (tutela coletiva). 
A tutela compensatória de dá através de indenização por danos morais.
11. Tutela preventiva
Tutela específica é a solução adequada para cada caso concreto. É a solução concreta para um litígio. Assim, a tutela específica submete-se a um rol exemplificativo (§5º do art. 461, CPC). Sendo exemplificativo, à título de tutela específica, o juiz pode adotar qualquer providência para a obtenção do resultado prático equivalente. Dentro da tutela específica, hospedam-se inúmeras tutelas. Exemplo: tutela inibitória (astreintes), tutela sub-rogatória, de remoção do ilícito, etc. O juiz pode conceder tutela específica de ofício. E mais. Poderá também conceder, ampliar, reduzir, substituir e revogar a tutela específica de ofício. Exemplo: atriz Carolina Dieckman com o Pânico na TV. O Pânico perseguiu a atriz para que ela calçasse as sandálias da humildade. O juiz fixou astreintes. O programa não cessou a lesão. O juiz determinou que o programa se afastasse por 200 metros da atriz. Desrespeitaram novamente a obrigação e o juiz ameaçou a tirar a programa do ar (remoção do ilícito). No caso, o juiz pode ampliar a tutela específica de oficio. Enunciado 140 da JDC.
Observações:
a) A título de tutela específica, é possível fixar mandado de distanciamento (mandado de restrição do direito de locomoção). Ex: ação de separação de corpos (art. 22 da Lei 11.344). Segundo o STJ, depende do caso concreto o distanciamento;
b) É possível, à titulo de tutela específica, a decretação da prisão (Fredie Didier e Marinoni): prisão civil para fins de cumprimento da obrigação. Só será possível excepcionalmente,na conjugação de dois elementos: ineficácia das outras hipóteses de tutela específica, que o bem jurídico a ser protegido seja mais importante que a liberdade. Ex: internação negada pelo plano de saúde. Poderá o juiz, diante da negativa, prender o gerente.
Na forma do art. 206 do CC, a prescrição da pretensão da reparação de danos é de 3 anos, a contar da data da lesão (art. 189 do CC).
Tese da “Actio Nata”, Súmula 278 do STJ. O critério adotado pelo Código, o prazo da prescrição flui da data da lesão. O STJ, entretanto, se inclinou pela teoria da actio nata, que consagra que os prazos prescricionais começam a correr da data do conhecimento da lesão e não da data da lesão especificamente.
Súmula: 278
O termo inicial do prazo prescricional, na ação de indenização, é a data em que o segurado teve ciência inequívoca da incapacidade laboral.
12. Tutela compensatória
Trata-se de indenização por danos morais. Houve uma aproximação entre danos morais e direitos da personalidade, de modo que o conceito de dano moral ganhou um conteúdo técnico, isto é, dano moral é violação a direito da personalidade. 
O dano moral deixou de ser mero aborrecimento, dissabor, dor , vexame, isto é, o dano moral deixou de ser um sentimento negativo, passando a ser violação a direito da personalidade. O dano moral estava preso a uma concepção negativa-subjetiva. Agora, não mais. A prova do dano moral é objetiva (in re ipsa), isto é, ínsita na própria coisa. Isto significa que basta provar a violação de um direito da personalidade. Ex: negativação no SPC e SERASA. O dano moral decorre da simples negativação, é desnecessário comprovar aborrecimento. 
As circunstâncias subjetivas, entretanto, podem influenciar a quantificação/arbitramento do dano moral. Em última análise, dano moral é violação a princípio da dignidade da pessoa humana.
É possível a cumulação com dano moral e material. A súmula 37 do STJ reconhece expressamente.
Súmula: 37
SÃO CUMULAVEIS AS INDENIZAÇÕES POR DANO MATERIAL E DANO MORAL ORIUNDOS DO MESMO FATO.
Exemplo de cumulação: art. 948 (indenização por morte de parente) e 949 do CC (indenização por lesões corporais. O dano estético é tipo de dano moral).
É possível cumular dano moral com dano moral? Súmula 387 do STJ: cumulação de dano moral com dano estético, sem que haja bis in idem.
Súmula: 387
É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral.
O STJ tem uma súmula incoerente, que está em rota de colisão com a própria jurisprudência. Se o nome da pessoa já estava inscrito, legitimamente no SPC, uma segunda inscrição indevida não gera dano moral, apenas o direito de cancelamento. É o que dispõe a Súmula 385 do STJ:
Súmula: 385
Da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, não cabe indenização por dano moral, quando preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao cancelamento.
Súmula: 388
A simples devolução indevida de cheque caracteriza dano moral.
Dano moral à
Honra dano moral;
Imagem dano à imagem;
Integridade física Dano estético
O dano moral é, ao mesmo tempo, gênero e espécie! Em Portugal, o gênero é denominado dano extrapatrimonial. É por este motivo que é possível a cumulação.
A cada bem jurídico violado, corresponderá uma indenização.
Legitimidade para fixação do dano moral: a tutela específica, conforme dito, pode ser concedida de ofício. A tutela compensatória, por sua vez, NÃO pode ser concedida de ofício, depende de expresso requerimento da parte interessada. Trata-se do princípio dispositivo. O juiz não poderá conceder de ofício, mas poderia o MP requerê-lo? Sim, nos casos para os quais detenha legitimidade (previstos em lei). Art. 127 da CF estabelece a legitimidade dos MP na tutela dos interesses sociais ou individuais indisponíveis. Art. 68 do CPP dispõe que o MP tem legitimidade para ingressar com ação civil ex delicto em favor de vítima pobre. Nesta ação, é possível pleitear tanto dano moral quanto material. Se o juiz penal já fixou o valor da condenação, basta o MP promover-lhe a execução. O art. 134 da CF confere a tutela jurídica das pessoas pobres à Defensoria Pública.
STF, RE 135.328/SP: o STF criou a tese da inconstitucionalidade progressiva (normas em vias de inconstitucionalidade). Nas comarcas e que há DP instalada e funcionando, o MP se tornou parte ilegítima. Onde não houver DP, o MP permanece legitimado.
Observações:
a) Admissibilidade de Recurso Especial para fins de discussão do quantum indenizatório do dano moral: se as questões subjetivas são levadas em conta para fixação do dano, trata-se de uma questão fática, o que demanda dilação probatória. Logo, incide a Súmula 07 do STJ, que não admite RESP para revolvimento de matéria fático-probatória. Entretanto, o STJ mudou seu posicionamento, não aplicando mais essa súmula para fixação de quantum de dano moral. Ver RESP 816.577. Neste RESP o STJ reconheceu expressamente a admissibilidade de dano moral para rediscutir o quantum indenizatório, quando ele for ínfimo ou exorbitante, ao argumento de que uma das missões do STJ é a pacificação social. 
b) O STJ vem admitindo dano moral contratual (RESP 202. 564): o inadimplemento contratual, ordinariamente, gera dano somente material. Contudo, o STJ passou a perceber que o descumprimento do contrato também pode violar a dignidade do contratante. Exemplos: plano de saúde que, indevidamente, nega cobertura/ a companhia de energia e de água que, indevidamente, suspende o fornecimento. Violar a dignidade do contratante, pelo inadimplemento, caracteriza dano moral contratual. O dano moral contratual não decorre da violação do contrato; decorre da violação da dignidade do contratante. Isto significa que a natureza do dano moral contratual é extracontratual. E, sendo extracontratual, o valor da indenização pode, inclusive, exceder o próprio valor do contrato.
13. Direitos da personalidade difusos e coletivos (art. 6º, VI do CDC e art. 1º da Lei nº 7347/2005)
Os dois dispositivos citados estabelecem a possibilidade de dano moral difuso ou coletivo. O dano moral difuso ou coletivo é a violação da dignidade difusa (de todos e de ninguém) ou coletiva (pertencente a uma categoria jurídica).
Exemplos: 
- Violação do meio ambiente: dano moral difuso
- Violação de cláusula prevista em Convenção Coletiva de Trabalho: dano moral coletivo.
- CRE do RJ ajuizou ação contra motel que tinha como anúncio publicitário “Liberte a enfermeira que existe dentro de você”: o dano mora, neste caso, será coletivo.
	O dano moral difuso e coletivo só pode ser pleiteado por ação civil pública. Quem pode propor são apenas os legitimados (legitimidade concorrente) do art. 5º da Lei:
· MP (único legitimado incondicional);Necessidade de demonstração da pertinência temática
· DP;
· Poder Público;
· Associações.
A condenação em sede de ACP é revertida para um fundo, destinado à recomposição do bem jurídico lesado. A execução da condenação será coletiva. Atenção: “a ACP é destinada apenas para requerer dano moral difuso e coletivo”. Falsa, a ACP também se presta para requerer direitos individuais homogêneos (interesse de duas ou mais pessoas). Neste caso, a liquidação e a execução serão individuais.
Todo dano moral difuso e coletivo será pleiteado por meio de ACP. Mas nem toda ACP é para dano moral difuso e coletivo, pois também se presta à defesa de interesses individuais e homogêneos.
14. Direitos da personalidade das pessoas públicas (celebridades, políticos)
O fato de ser pessoa pública não lhe retira os direitos da personalidade. Mas sofrem relativização, pois o seu ofício ou profissão geram a exposição de sua personalidade. É por isso que o jornal não precisa pedir autorização para divulgação da imagem da celebridade. Entretanto, não pode haver desvio de finalidade, isto é, a exploração econômica da imagem. As pessoas que acompanham as pessoas públicas também sofrem essa relativização. 
O art. 7º, parágrafo único do CDC estabelece a solidariedade entre todos os que participam da relação de consumo. Se pessoa pública se vinculou ao produto ou serviço, responde solidariamente(artista deu o nome ao produto, ex: sandália da Xuxa).
15. Classificação dos direitos da personalidade
Os direitos da personalidade são classificados, sob o prisma científico, de forma tricotômica. Eis os aspectos:
•	Integridade física: tutela do corpo humano;
•	Integridade psíquica: são os valores imateriais;
•	Integridade intelectual: tudo aquilo proveniente da inteligência humana: orientação religiosa, sexual. O direito autoral.
Estes critérios correspondem à própria essência da pessoa humana. Nesse sentido, a pessoa humana é corpo, alma e intelecto.
Onde se situaria, dentro do critério exposto, o direito à vida? O direito à vida não se insere em apenas um dos âmbitos classificatórios. Em verdade, o direito à vida é a cláusula geral de proteção, sendo o pressuposto desta classificação. Não se trata de um direito a uma vida qualquer, mas o direito a uma vida digna. O direito a uma vida digna é o pressuposto desta classificação tricotômica. O direito à vida não se subsume à integridade física. Nesse sentido, o direito à religião, por exemplo, está inserido dentro do direito à vida.
15.1 Critério do CC
· Art. 13: integridade física: direito ao corpo vivo;
· Art. 14: integridade física: direito ao corpo morto;
· Art. 15: integridade física: autonomia do paciente;
· Art. 16 a 19: integridade psíquica: direito ao nome civil.
· Art. 20: integridade psíquica: direito à imagem;
· Art. 21: integridade psíquica: direito à vida privada.
15.2 Direito ao corpo vivo
O direito ao corpo vivo é a proteção da integridade física da pessoa humana. É preciso observar que toda e qualquer violação ao corpo vivo constitui dano estético. Para a caracterização do dano estético, não se exige lesões ou sequelas permanentes (STJ, RESP 575.576/PR), basta que as lesões sejam transitórias. Este entendimento acentua a proteção da integridade física. É óbvio que, se a sequela for permanente, a consequência natural é o aumento da indenização. Lembrando que a Súmula 387 do STJ prevê a cumulabilidade do dano moral com dano estético.
O corpo humano diz respeito às partes eventualmente separáveis ou separadas? Isto é, o conceito de integridade física é a penas o corpo humano tomado de forma homogênea? O conceito de integridade física abrange não apenas o corpo como um todo, mas também partes do corpo humano eventualmente separadas. Exemplo: caso Glória Trevis. A cantora mexicana engravidou na cela e suspeitaram de um dos agentes da polícia federal. Os agentes da Polícia federal tiraram a placenta, sem autorização, da cantora, para realizar exame de DNA. A União podia ter tomado a placenta da cantora sem a sua autorização? Não, houve violação da sua integridade física, na medida que a placenta, parte separada do corpo, foi retirada para fins de exame sem o consentimento da mesma (STF, Rcl 2040/DF).
E o sêmen separado do corpo humano? Suponha que o homem cedeu seu sêmen para reprodução humana. Após a fecundação, com a formação do embrião, o homem se arrepende. Neste caso, o embrião fecundado pertence ao homem ou à mulher? Lembrando que, no caso, o embrião ainda não foi implantado no corpo da mulher. No direito comparado, o embrião preparado no laboratório pertence à mulher. O homem perde o direito de dispor sobre o seu sêmen quando consumada a concepção.
Ato de disposição da integridade física. O titular pode dispor da integridade física. Dispõe o art. 13 do CC:
Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes.
Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de transplante, na forma estabelecida em lei especial.
O professor sugere uma releitura do dispositivo: 
Regra geral: o titular pode dispor livremente do seu corpo, desde que não gere diminuição permanente da integridade física. 
Nesse sentido, tatuagens e piercings constituem ato de disposição do corpo, mas não gera diminuição permanente da integridade física.
“wanna be”: pessoas que têm compulsão por amputar, sem necessidade terapêutica, partes do corpo. No Brasil, não é permitida, pois importa em diminuição permanente da integridade. 
Esta norma é endereçada ao titular do corpo ou do médico? A sanção é endereçada ao médico.
Exceção: atos de disposição corporal com redução permanente da integridade física só por exigência médica. Exemplo: amputação de órgão por necessidade terapêutica.
Questões polêmicas:
· Cirurgia de transgenitalização (adequação de sexo): neste caso, inequívoco que há redução permanente da integridade física. No Brasil, a Resolução 1.955/2010 do CRM estabelece que o transsexualismo é patológico. O transexual tem uma dicotomia biopsíquica. O CRM dispõe que o transexual será submetido a 2 anos de tratamento psicológico para reverter o quadro, a fim de obter uma de adequação morfológica. Se o tratamento não surtir o efeito, recorrer-se-á à cirurgia de mudança de sexo. Assim, se acordo com o art. 13 do CC, a cirurgia é permitida por conta da exigência médica. Feita a cirurgia, o transexual desejará mudar o nome. O STJ pacificou a questão, no leading case: SE 1058 – Itália (homologação de sentença estrangeira). O STJ reconheceu ao transexual operado o direito à mudança de nome e de sexo, sem qualquer referência ao estado anterior, a fim de preservar a privacidade do transexual. Entretanto, se o transexual casar e não revelar ao cônjuge o seu estado anterior, pode ser caso de anulação de casamento por erro (art. 1557 do CC). A professora Maria Berenice Dias sustenta que o direito à mudança do nome independe do registro (isto é, pode haver mudança de nome sem recurso à cirurgia de transgenitalização). O STJ ainda não enfrentou a matéria[footnoteRef:8]. A ação do transexual, cujo objeto é a mudança de nome e sexo, denomina-se ação ordinária de redesignação do Estado sexual. É de competência da vara de família, pois diz respeito ao estado da pessoa. A vara do hermafrodita é a de Registro Público, pois diz respeito á mera retificação de registro. [8: O intersexual é o hermafrodita. Este sofre de ambiguidade sexual. Tem características morfológicas de ambos os sexos. Neste caso, num determinado ponto da vida, prevalece um estado sexual. Se o hermafrodita é registrado com um sexo e depois se define outro sexo, é permitida a retificação de registro – art. 109 da Lei de Registro Público. Trata-se de um procedimento de jurisdição voluntária. ] 
· Barriga de aluguel (gestação em útero alheio ou gestação por substituição): Resolução 1957/10, CFM. Segundo esta resolução, é possível realizar barriga de aluguel, devendo ser observados 03 requisitos:
- Que as pessoas envolvidas sejam da mesma família. Se não for da mesma família, depende de autorização do CRM;
- Comprovação da impossibilidade gestacional da mãe biológica;
- Gratuidade.
Presentes os requisitos, o filho será da mãe biológica e não da mãe hospedeira.
15.3 Direito ao corpo morto
O art. 14 estabelece o direito ao corpo morto. Este artigo prevê que o titular pode dispor do seu corpo para depois da morte, podendo o ato ser revogado, em vida, a qualquer tempo.
Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte.
Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo.
O direito brasileiro não tolera o testamento vital (living will). Desta forma, não é válido pôr termo à vida de paciente em estado terminal, ainda que este o deseje. A pessoa anuncia que, dentro de determinadas circunstâncias, prefere à morte. O testamento vital é proibido pelo art. 14 do CC e pelo CP, que criminaliza a eutanásia. A doutrina moderna tende a admití-lo, ao argumento de que a vida digna pressupõe, também, o direito a uma morte digna.
Lei 9434/97 (Lei de transplantes): disciplina os transplantes em vida e em morte.
- Transplantes entre-vivos:
· Gratuidade;
· Que as pessoas envolvidas sejam da mesma família (autorização judicial se não forem da mesma família – art. 9º);
· O objeto

Outros materiais