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Apostila Curso Fiscalização Ambiental

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CCUURRSSOO 
FFIISSCCAALLIIZZAAÇÇÃÃOO AAMMBBIIEENNTTAALL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Jaques Wagner 
Governador 
 
Eugênio Spengler 
Secretário do Meio Ambiente 
 
Adolpho Netto 
Chefe de Gabinete 
 
Márcia Telles 
Diretora Geral do INEMA 
 
Luiz Antônio Ferraro Junior 
Superintendente de Estudos e Pesquisas Ambientais – SEP / Sema 
 
Edison Ribeiro dos Santos 
Superintendente de Políticas e Planejamento Ambiental – SPA / Sema 
 
Kitty de Queiroz Tavares 
Diretora de Estudos Avançados em Meio Ambiente – Deama / Sema 
 
Wilma Nascimento 
Assessora de Comunicação – Ascom / Sema 
 
Diretoria de Fiscalização e Monitoramento – Difim / Inema: 
• Coordenação de Atendimento a Denúncias e Emergências (COADE) - Marcos 
Silva Machado 
• Coordenação de Fiscalização (COFIS) - Arlene Lula Moreira de Oliveira 
• Coordenação de Monitoramento (COMOM) - Eduardo Farias 
• Coordenação de Gestão de Cadastros (COGEC) - Débora Ingrid Costa Rocha 
Grupo de Trabalho/ Organização do Curso Fiscalizaçã o Ambiental: 
Alexsandro Silva Santos (coordenador - Deama); Eratóstenes de Almeida Fraga 
Lima (coordenador Deama - revisão do módulo); Paulo Henrique P. Maia (Deama); 
Rosane Cardoso (Deama); Tatiana Stolze (Deama); Zeno Millet (Ascom / 
Editoração); Maria das Graças Reis (Coaes/Inema); Naiana Santos (Coaes/Inema); 
Francisco Neto (Coged/Inema); Stela Soares (Coged/Inema); Daniela Alves 
Carvalho (Coord. Executiva / FLEM); Claudia Faillace (coord. pedagógica / FLEM); 
Alice Senna (Coord. Núcleo de Soluções em Gestão de Pessoas/Flem); Ubaldo 
Galvão Sampaio Filho (Núcleo de Soluções em Gestão de Pessoas/Flem); Marlei 
Silva de Figueiredo (Núcleo de Soluções em Gestão de Pessoas/Flem) ; Estagiários: 
Elisângela Conceição Alves, Laís Maiara Neves Alves. 
 
Elaboradoção do Módulo: 
Maurício Paim 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURSO FISCALIZAÇÃO AMBIENTAL 
 
Salvador, novembro de 2013 
 
Superintendência de Estudos e Pesquisas Ambientais – SEP 
Diretoria de Estudos Avançados em Meio Ambiente – Deama 
 
Av. Luis Viana Filho, 3ª Avenida, n° 390, Plataform a IV, Ala Norte, 4º andar 
Centro Administrativo da Bahia - 41.745-005 - Salvador – Bahia 
Telefone: (71) 3115-3804/3893 - Fax: (71) 3115-3891 
Sítio: http://www.sema.ba.gov.br // e-mail: deama@sema.ba.gov.br 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 4 
2. MEIO AMBIENTE E POLÍTICAS PÚBLICAS ................................................................. 6 
2.1. Políticas ambientais no Brasil ............................................................................................. 8 
3. O DIREITO AMBIENTAL E SEUS PRINCÍPIOS ............................................................. 11 
4. O MEIO AMBIENTE FACE À CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 .......................... 16 
4.1. Princípio da ordem econômica .......................................................................................... 21 
4.2. A função socioambiental da propriedade .......................................................................... 23 
4.3. Referências constitucionais explícitas e implícitas ........................................................... 25 
5. REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS ADMINISTRATIVAS EM MATÉRIA 
AMBIENTAL – LEI COMPLEMENTAR Nº 140/2011. ...................................................... 26 
5.1. LICENCIAMENTO AMBIENTAL .................................................................................. 29 
5.1.1 União ............................................................................................................................... 29 
5.1.2 Estados ............................................................................................................................. 32 
5.1.3 Municípios ....................................................................................................................... 32 
5.1.4 Distrito Federal ................................................................................................................ 33 
5.1.5 Áreas de Proteção Ambiental (APAs) ............................................................................. 34 
5.2. AUTORIZAÇÃO DE SUPRESSÃO VEGETAL E APROVAÇÃO DE MANEJO. ....... 34 
5.2.1. União .............................................................................................................................. 34 
5.2.2. Estados ............................................................................................................................ 34 
5.2.3. Municípios ...................................................................................................................... 35 
5.2.4. Distrito Federal ............................................................................................................... 35 
5.2.5. Aspectos relevantes ........................................................................................................ 35 
5.3. FISCALIZAÇÃO AMBIENTAL ...................................................................................... 36 
5.4. LICENCIAMENTO POR UM ÚNICO ENTE FEDERATIVO ....................................... 36 
5.5. ALTERAÇÕES NA LEI Nº 6.938/81 ............................................................................... 37 
6. RESPONSABILIDADE AMBIENTAL ............................................................................. 37 
7. PODER DE POLÍCIA AMBIENTAL ................................................................................. 40 
7.1. Princípios ........................................................................................................................... 40 
7.1.1 Princípio da legalidade .................................................................................................... 40 
7.1.2. Princípio da impessoalidade ........................................................................................... 41 
7.1.3. Princípio da moralidade .................................................................................................. 41 
7.1.4. Princípio da publicidade ................................................................................................. 41 
7.1.5. Princípio da eficiência .................................................................................................... 41 
7.1.6. Princípio da presunção de legitimidade ou de veracidade .............................................. 44 
7.1.7. Princípio do controle ou tutela........................................................................................ 44 
7.1.8. Princípio da autotutela .................................................................................................... 44 
7.1.9. Princípio da hierarquia.................................................................................................... 44 
7.1.10. Princípio da Razoabilidade ........................................................................................... 44 
7.1.11. Princípio da Proporcionalidade .................................................................................... 44 
7.1.12. Princípio da Motivação ................................................................................................. 45 
7.2. Poder de polícia ................................................................................................................. 45 
7.3. Abuso de Poder .................................................................................................................. 46 
 
 
 
 
8. AS POLÍTICAS NACIONAL E ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE E A POLÍTICA 
NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS: ASPECTOS NORMATIVOS RELATIVOS À 
FISCALIZAÇÃO AMBIENTAL ............................................................................................. 47 
8.1. A Política Nacional do Meio Ambiente e o Sistema Nacional do Meio Ambiente 
(SISNAMA) .............................................................................................................................47 
8.2. Política Estadual do Meio Ambiente e de Proteção à Biodiversidade .................. 52 
8.3. Política Nacional de Resíduos Sólidos: Aspectos normativos relativos à 
fiscalização ambiental ........................................................................................................... 52 
9. ATUAÇÕES SETORIAIS RELATIVAS AO MEIO AMBIENTE .................................. 60 
9.1. O papel do SUS na proteção ambiental ..................................................................... 60 
9.2. Agrotóxicos: competências administrativas ............................................................... 64 
9.3. Os organismos geneticamente modificados (OGMS) ............................................. 65 
9.4. Agricultura e meio ambiente ......................................................................................... 69 
9.5. Os órgãos de trânsito e a proteção ambiental ......................................................... 71 
9.6. As obrigações ambientais das autoridades marítimas ............................................ 71 
9.7. O papel das instituições financeiras ........................................................................... 72 
9.8. O DNPM e os seus deveres ambientais .................................................................... 73 
9.9. A política energética, a ANP e a proteção ambiental ............................................... 73 
9.10. A educação ambiental ................................................................................................. 74 
9.11. Gerenciamento Costeiro ............................................................................................. 75 
9.12. A política urbana e o meio ambiente ........................................................................ 75 
10. FISCALIZAÇÃO AMBIENTAL NO ESTADO DA BAHIA .......................................... 76 
10.1. Poderes dos agentes de fiscalização ....................................................................... 80 
10.2. Notificação .................................................................................................................... 81 
10.3. Infrações e penalidades administrativas .................................................................. 81 
10.4. Infrações ambientais em espécie .............................................................................. 82 
10.5. Penalidades administrativas ...................................................................................... 84 
10.6. Penalidades em espécie ............................................................................................. 85 
11. ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS ............................. 91 
12. RESERVA LEGAL .......................................................................................................... 92 
13. ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE - APP ............................................... 96 
13.1. APP por mero efeito legal - Lei 12.651/12 ............................................................... 96 
13.2. APPs na Bahia (art.89 e 90 da Lei nº 10.431/06) ................................................... 98 
13.3. APPs POR ATO DO PODER PÚBLICO (Lei 12.651/12) .................................... 100 
14 - RECURSOS HÍDRICOS ............................................................................................. 117 
 
 
 
 
 
4 
 
1. INTRODUÇÃO 
Apesar do crescimento da consciência ecológica em segmentos da sociedade 
brasileira e de dispormos de uma legislação internacionalmente considerada 
avançada, diversas dificuldades tem sido identificadas nas formas de organização e 
de gestão dos órgãos responsáveis pela defesa e proteção do meio ambiente. 
O êxito da política ambiental no Estado da Bahia depende, dentre outros fatores, do 
fortalecimento da gestão municipal, da articulação entre os órgãos governamentais 
federais, estaduais e municipais, do setor empresarial e da sociedade civil 
organizada e, concomitantemente, do desenvolvimento e execução de ações 
intersetoriais, do investimento em novas tecnologias e instrumentos metodológicos 
de gestão capazes de potencializar os resultados das intervenções estatais, bem 
como da constante capacitação de servidores públicos para o exercício de suas 
atividades, especialmente nas áreas de monitoramento, licenciamento e fiscalização 
ambiental. 
Nessa perspectiva, além da implantação do Programa Estadual de Gestão 
Ambiental Compartilhada (GAC), das recentes modificações realizadas na legislação 
estadual, em sua própria estrutura e na do Instituto do Meio Ambiente e Recursos 
Hídricos (INEMA), bem como da realização de concurso público para a contratação 
de novos servidores, a Secretaria do Meio Ambiente do Estado da Bahia (SEMA) 
pretende, por intermédio do Programa Estadual de Formação em Meio Ambiente e 
Recursos Hídricos, promover a capacitação de agentes públicos, servidores, 
técnicos, gestores e representantes da sociedade civil, com atuação na área 
ambiental e que integram os sistemas estadual e municipais de Meio Ambiente e de 
Recursos Hídricos, por meio de cursos presenciais e à distância. 
O presente módulo visa servir como material de apoio para o Curso de Fiscalização 
Ambiental e encontra-se estruturado em 12 capítulos. 
O capítulo 1 é a introdução, No capítulo 2, procura-se contextualizar o aparecimento 
da questão ambiental na década de sessenta do século XX, as iniciativas de 
movimentos sociais e de governos voltadas para o seu enfrentamento, bem como 
suas repercussões no Brasil. 
O Capítulo 3 apresenta, de forma sucinta, o escopo do Direito Ambiental e seus 
princípios, destacando sua importância para o adequado exercício da fiscalização 
ambiental. 
 
 
5 
 
No Capítulo 4, registra-se a ausência da proteção ambiental nas ordens 
constitucionais anteriores à Constituição Federal de 1988, o tratamento do tema em 
constituições de diversos países e analisa-se a questão ambiental na atual Carta 
Magna, destacando-se as referências constitucionais explícitas e implícitas em 
relação à questão ambiental. 
O Capítulo 5 examina a repartição de competências administrativas em matéria 
ambiental nos termos da Lei Complementar nº 140, enquanto no capitulo 6 procede-
se à análise da tríplice responsabilidade ambiental e o capitulo 7 apresenta uma 
síntese do poder de polícia ambiental e de seus limites. 
O Capítulo 8 trata da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) e do Sistema 
Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), indicando a base legal da Política Estadual 
do Meio Ambiente e Proteção à Biodiversidade, bem como os aspectos normativos 
relativos à fiscalização ambiental contidos na Lei da Política Nacional de Resíduos 
Sólidos. 
No Capítulo 9 são identificadas responsabilidades e ações relativas ao meio 
ambiente em distintos setores governamentais no sentido de apontar possibilidades 
de sinergia e articulação para o exercício da fiscalização ambiental. Analisam-se 
também o papel do Sistema Único de Saúde (SUS) na proteção ambiental, as 
competências administrativas referentes aos agrotóxicos e aos organismos 
geneticamente modificados (OGMs), alguns aspectos da política agrícola, funções 
ambientais dos órgãos de trânsito, das autoridades marítimas, das instituições 
financeiras e do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), a Política 
Energética Nacional, a atividade de fiscalização da Agência Nacional do Petróleo 
Gás Natural e Biocombustíves (ANP), a responsabilidade pela promoção da 
educação ambiental e alguns dispositivos legais da legislação pertinente aos ao 
gerenciamento costeiro e à política urbana. 
 No capítulo 10 examina-se a fiscalização ambiental no estado da Bahia, as 
infrações administrativas, os procedimentos para a sua apuração e as sanções 
cabíveis. O capítulo 11 analisa os principais aspectos relacionados aos espaços 
territoriais especialmente protegidos, com foco na nova legislação florestal. O último 
capítulotraça um panorama geral e apresenta alguns temas das políticas estadual e 
federal de recursos hídricos relevantes para o exercício da fiscalização ambiental. 
 
 
 
 
6 
 
2. MEIO AMBIENTE E POLÍTICAS PÚBLICAS 
A partir da década de sessenta do século passado o meio ambiente passou a ser 
objeto de preocupação de alguns segmentos da sociedade. Denúncias relacionadas 
à devastação de florestas, poluição nas cidades, pesca predatória de baleias e 
identificação de animais em extinção, dentre outras, passaram a sensibilizar parte da 
opinião pública. Para alguns autores, os sinais de alerta soaram no Primeiro Mundo: 
 
Nos Estados Unidos da América, país hegemônico dentro do sistema 
capitalista e principal potência industrial até aquele momento, as evidências 
dos aspectos destrutivos da industrialização para a própria vida humana 
começaram a se acumular e dramatizar [...]. Mas foram grupos de cidadãos e 
organizações não-governamentais que chamaram a atenção para os 
primeiros problemas ambientais que se verificavam (STOTZ; VALLA et al., 
1992, p.2-3). 
 
Ao final daquela década, especialmente no ano emblemático de 1968 quando o 
movimento estudantil se expandiu em Paris e em outras cidades européias, nos 
Estados Unidos, México e Brasil, despontaram lutas sociais com características 
distintas das experiências históricas anteriores. Nesse mesmo ano, surgiu a idéia de 
uma Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, originada do governo 
sueco, “respondendo às inquietações dos cientistas daquele país com a chuva 
ácida, a contaminação do Báltico e a acumulação de metais pesados e praguicidas 
nos peixes e nas aves” (STOTZ; VALLA et al., 1992, p.3). 
Segundo esses autores, entre o lançamento dessa idéia e a realização da 
Conferência de Estocolmo em 1972, muita mobilização ocorreu. Não se tratava da 
clássica luta de classes entre trabalhadores e burguesia, mas da problematização de 
novos temas para a ação coletiva. Surgiram, desse modo, os chamados novos 
movimentos sociais (GOHN, 2004): 
O ano de 1968 é excepcionalmente importante porque, na Europa e nos 
Estados Unidos, eclodiram movimentos radicais que colocavam em questão 
a ordem capitalista. E apesar de superados os chamados ‘maios vermelhos’, 
o impacto desses movimentos foi duradouro. As primeiras reações não 
demoraram a se fazer sentir entre os círculos responsáveis pela ordem 
mundial. No mesmo ano, um grupo de cientistas, educadores, economistas, 
industriais e funcionários públicos de nível internacional reuniram-se em 
 
 
7 
 
Roma para discutir os dilemas da humanidade: pobreza em meio da 
abundância, deterioração do meio ambiente, perda de confiança nas 
instituições, inflação, etc. Dos encontros dessa associação internacional – o 
chamado Clube de Roma – resultou o Relatório Meadows (1970), o qual 
propunha, até o ano 2100, um certo estado de não-crescimento para a 
sociedade humana (STOTZ; VALLA et al., 1992, p.3). 
 
O referido relatório, denominado “Limites do crescimento” (The Limits to Growth), 
elaborado por cientistas do Massachusetts Institute of Technology, por solicitação do 
Clube de Roma, defendia a tese de que o crescimento exponencial da economia e 
da população constituiria a origem da crise ambiental. A catástrofe para eles seria 
inevitável ao final do século XX, devido ao esgotamento dos recursos naturais, à 
poluição e à carência de alimentos (PELICIONI, 2005). 
Assim, segundo a autora, os supracitados cientistas, 
 
Sugeriam agir rapidamente para a obtenção do equilíbrio global, por meio do 
reconhecimento de que havia limites para o crescimento econômico e que era 
preciso adotar medidas internacionais coordenadas, inclusive quanto à 
melhoria da situação do Terceiro Mundo (PELICIONI, 2005, p.62). 
 
Desse modo, a questão ambiental propiciou a emergência e o desenvolvimento de 
movimentos ambientais, reconhecidos pela literatura da sociologia e da ciência 
política como um dos representantes mais destacados dos novos movimentos 
sociais, inclusive no século que se inicia (GOHN, 2003). Se no âmbito da sociedade 
civil era possível identificar o ambiente como objeto de ação coletiva, o mesmo não 
pode ser afirmado em relação aos Estados nacionais. Assim, a questão ambiental 
esteve praticamente ausente nas discussões das políticas públicas até a década de 
setenta do século XX quando ocorreu a Conferência de Estocolmo sobre Meio 
Ambiente em junho de 1972. Este evento histórico tem sido reconhecido como um 
marco da construção da agenda internacional no que tange à apresentação de 
diretrizes políticas para o enfrentamento da questão ambiental. 
No que concerne aos movimentos ecológicos, observa-se nesse período um 
gradativo abandono da concepção inicial conservacionista pura para uma busca de 
maior integração entre o homem e a natureza (socioambientalismo). Todavia, o 
 
 
8 
 
balanço dessas mobilizações até 1992 (Eco-Rio) não tem sido considerado muito 
favorável: 
Superada a fase inicial, marcada pelo temor com uma catástrofe global, e 
abandonando qualquer idéia de redução do crescimento econômico tal como 
proposta pelo Clube de Roma, as empresas multinacionais e os governos dos 
países do Primeiro Mundo converteram-se em destacados defensores do 
‘desenvolvimento sustentável’. [...]. Porém, apesar das promessas da 
reciclagem e da conversão industrial, da automação e da microeletrônica, dos 
novos materiais, os vinte anos subseqüentes à Conferência de Estocolmo 
foram marcados por um aumento constante da poluição do ar e do mar, por 
crescente escassez de água e perda de solo fértil, pela destruição da biota 
com redução de espécies (STOTZ; VALLA et al., 1992, p.33). 
 
Contudo, tem-se chamado a atenção para a necessidade de repensar a questão 
ambiental no Brasil. Nessa perspectiva, sugere-se “desnaturalizar” o conceito de 
meio-ambiente no sentido de evitar o equívoco de dissociar seus elementos físicos e 
sociais na medida em que o ambiente “é o resultado da interação da lógica da 
natureza e da lógica da sociedade” (BECKER, 1992, p.128). Do mesmo modo, 
caberia “desideologizar” a questão ambiental, distinguindo a consciência ecológica 
legítima daquela ideologia ecológica “que se tornou um novo parâmetro da 
Geopolítica Mundial no movimento de rápida estruturação da organização 
econômica e política internacional” (BECKER, 1992, p.129). 
 
2.1. Políticas ambientais no Brasil 
Na Conferência de Estocolmo o Brasil foi influenciado pelas iniciativas dos países 
periféricos, dispostos a não sacrificar o desenvolvimento econômico em favor do 
meio ambiente (VIOLA, 2006), e mesmo vivendo um período autoritário, em 1973 foi 
criada a Secretaria Especial do Meio Ambiente - SEMA. Em 1981, foi editada a Lei 
nº 6.938 que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), rompendo 
o paradigma jurídico da fragmentação (Código Florestal – Lei nº 4771/65, Código de 
Caça – Lei nº 5.197/67, Código de Mineração – Decreto-Lei nº 227/67, Lei da 
Responsabilidade por Danos Nucleares – Lei nº 6.453/77, dentre outros) e passando 
a proteger o meio ambiente de maneira integral (BENJAMIN, 2003). 
Desse modo, a questão ambiental passa a interessar, progressivamente, setores da 
sociedade brasileira nas décadas de 70 e 80 e órgãos governamentais, culminando 
 
 
9 
 
com a elaboração de propostas na transição democrática que foram incorporadas 
pela Constituição de 1988 e pela legislação subseqüente. 
As políticas públicas referentes ao meio ambiente implantadas na conjuntura pós-
constituinte, todavia, esbarraram na falta de prioridade diante da crise econômica e 
do corte dos gastos públicos e foram limitadas quanto à sustentabilidade ambiental. 
Também não conseguiram superar o tradicional viés setorial. A área ambiental tem-
se caracterizado pela “fragmentação e incompetência gerencial, além de continuar 
isolada dos centros de decisão econômica, onde se definem aspolíticas de 
desenvolvimento” (VIOLA, 2006, p.13). 
Segundo Arlindo Philippi Jr., Gilda Collet Bruna e Vicente Fernando Silveira (2005, 
p.801) há quem considere que 
[...] a PNMA, instituída pela Lei Federal nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, é 
uma transformação inconclusa das políticas públicas oriundas de uma visão 
setorizada da questão ambiental a partir da década de 1950. Esta 
transformação estaria à espera de uma coalizão política de interesses. 
Refletindo sobre o tema, Paulo de Tarso Abrão e Daniela Mac-Dowell (2005, p.373) 
asseveram: 
Descobrir se o desenho da Administração Ambiental no país é o mais 
eficiente dependerá, entre vários fatores, não só daqueles ligados às 
questões de competência, cooperação federativa e inconstitucionalidades. 
Reserva-nos a busca de um entendimento mais dinâmico das estruturas 
criadas pelo Estado, para compreender se, dentro da própria estrutura 
administrativa estatal como um todo, não há um feixe de explosivos 
aguardando uma faísca. 
 
Observa-se que os sistemas de controle ambiental são periféricos em relação aos 
sistemas de poder e têm aparatos pouco eficientes (VIOLA, 2006). Predomina ainda 
“um tipo de política e gestão ambiental centralizada, regulamentadora e fiscalizadora 
– baseado no princípio de comando e controle, que estabelece padrões e metas de 
poluição a serem cumpridas” (PHILIPPI JR.; BRUNA; SILVEIRA, 2005, p.799). 
Modelo que, segundo esses autores, “tem mostrado grande eficiência no controle de 
poluição pontual (predominantemente efluentes industriais), mas apresenta 
dificuldades para o controle da poluição difusa” (PHILIPPI JR.; BRUNA; SILVEIRA, 
2005, p.799). 
 
 
10 
 
A contaminação e poluição ambiental provocadas, por exemplo, pelo uso 
indiscriminado de agrotóxicos, por esgotos domésticos oriundos de ligações 
clandestinas, por veículos automotores e por resíduos sólidos urbanos (lixo 
doméstico) exige outros tipos de intervenções do Poder Público pautadas em ações 
educativas e incentivos econômicos. 
Comentando os rumos que a Política Nacional do Meio Ambiente vem tomando, Edis 
Milaré (2005, p. 432) salienta: 
Diga-se, a bem da verdade, que é irreal o planejamento ambiental isolado do 
planejamento econômico e social. O meio ambiente é um bem 
essencialmente difuso e engloba todos os recursos naturais: as águas doces, 
salobras e salinas, superficiais ou subterrâneas; a atmosfera, o solo, o 
subsolo e as riquezas que encerram, assim como a fauna e a flora e suas 
relações entre si e com o ser humano. Compreende ainda outros bens, como 
os culturais. Por isso mesmo o planejamento da utilização de tais recursos 
deve considerar todos os aspectos envolvidos: os econômicos, os sociais e 
os ambientais. Não é possível planejar o uso de qualquer desses recursos 
apenas sob o prisma econômico-social ou somente sob o aspecto da 
proteção Ambiental. Ora o planejamento integrado das políticas públicas 
ainda não existe no Brasil, mercê da excessiva setorização e verticalização 
dos diferentes Ministérios. A isso acresce a inexistência de efetivas definições 
políticas por parte dos partidos políticos e dos governos, em geral. 
 
Cabe registrar alguns aspectos que caracterizam as políticas ambientais: 
1. Os problemas a serem resolvidos, não raro transcendem as fronteiras dos 
Estados-nação, implicando um papel mais dominante das instituições e 
tratados internacionais e limites maiores, obviamente, das capacidades de 
regulamentação dos Estados-nação. 
2. A constituição e a definição de problemas é altamente dependente da 
ciência, a qual se reveste de considerável insegurança. A identificação de um 
problema ecológico, suas causas e conseqüências freqüentemente devem 
ser definidas por análises científicas. Essas muitas vezes são marcadas pela 
incerteza, como é o caso, por exemplo, das previsões do tempo ou dos riscos 
de avaliação das manipulações genéticas. Estamos tratando, portanto, de 
uma esfera política que vem se tornando cada vez mais baseada na ciência, 
na qual o acesso à informação, ao conhecimento e à competência 
desempenha papel fundamental. 
 
 
11 
 
3. Os problemas ambientais estão estreitamente relacionados aos problemas 
da distribuição da riqueza, isto é, as políticas ambientais não se limitam à 
proteção da natureza, mas incluem a exploração, remoção e utilização 
sustentável dos recursos naturais. Exemplo disso é a destruição do clima 
global pelas metrópoles capitalistas. Um outro exemplo são as lutas sobre os 
direitos de uso e exploração dos recursos genéticos. 
4. Além disso, a interdependência entre os níveis políticos – dos locais aos 
internacionais – e a questão de representação e mediação dos interesses 
relativos desempenham papel crucial nesse campo. (HIRSCH, 2001, p.108). 
 
3. O DIREITO AMBIENTAL E SEUS PRINCÍPIOS 
Analisando a evolução da proteção jurídica do meio ambiente no Brasil, o jurista 
Antônio Herman Benjamin (2003, p. 15), didaticamente, aponta para a existência de 
três fases, ressaltando, todavia, não se tratarem “de fases históricas, cristalinas, 
apartadas, delimitadas e mutuamente excludentes”. 
A primeira, denominada “fase da exploração desregrada ou do laissez-faire 
ambiental” compreende o período de 1500 a 1960, que se caracteriza pela 
existência de poucas normas relativas ao meio ambiente e na sua essência visavam 
à proteção de interesses econômicos ou sanitários e secundariamente protegiam 
aquele bem jurídico. A segunda, chamada “fase fragmentária”, demonstra a 
preocupação do legislador com largas categorias de recursos ambientais, surgindo 
várias leis esparsas, a exemplo do Código Florestal (1965), dos Códigos de Caça, 
de Pesca, de Mineração (todos de 1967), a Lei de Responsabilidade por Danos 
Nucleares (1977), a Lei do Zoneamento Industrial nas Áreas Críticas de Poluição 
(1980) e a Lei de Agrotóxicos (1989). Finalmente na terceira, denominada “fase 
holística” passa o meio ambiente a ser protegido integramente. A Lei da Política 
Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/81) é o marco legislativo inicial dessa nova 
fase destacando-se ainda a Lei dos Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/98) 
(BENJAMIN, 2003). 
Para Marcelo Abelha Rodrigues (2005), o surgimento do Direito Ambiental no país 
coincide com a edição da Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 
6.938/81), ou seja, com o início da “fase holística” (BENJAMIN, 2003). Só a partir daí 
foram relacionados instrumentos, características e princípios próprios, que são 
elementos indispensáveis para a existência de uma ciência autônoma. 
 
 
12 
 
Sem ingressar no mérito das discussões doutrinárias acerca de sua autonomia, 
passa-se à análise de alguns conceitos de Direito Ambiental. Para Edis Milaré (2005, 
p.155), Direito Ambiental é “o complexo de princípios e normas coercitivas 
reguladoras das atividades humanas que, direta ou indiretamente, possam afetar a 
sanidade do ambiente em sua dimensão global, visando à sustentabilidade para as 
presentes e futuras gerações”. 
De acordo com Paulo de Bessa Antunes (2004, p.11), o Direito Ambiental pode ser 
definido da seguinte forma: 
[...] um direito que se desdobra em três vertentes fundamentais, que são 
constituídas pelo direito ao meio ambiente, direito sobre o meio ambiente e 
direito do meio ambiente. Tais vertentes existem, na medida em que o Direito 
Ambiental é um direito humano fundamental que cumpre a função de integrar 
os direitos à saudável qualidade de vida, ao desenvolvimento econômico e à 
proteção dos recursos naturais. Mais do que um Direito autônomo, o Direito 
Ambiental, é uma concepção de aplicação da ordem jurídica que penetra, 
transversalmente, em todos os ramos do direito. O Direito Ambiental, 
portanto, tem uma dimensão humana, uma dimensão ecológica e uma 
dimensão econômica que se devem harmonizar sob o conceito de 
desenvolvimento sustentado. 
 
Sinteticamente, pode-se compreender o DireitoAmbiental como o conjunto de 
normas jurídicas (regras e princípios) que visam à defesa e à proteção ambiental. 
As fontes do Direito Ambiental se dividem em materiais e formais. São fontes 
materiais: os movimentos populares, a descobertas científicas e a doutrina jurídica. 
A Constituição, as leis, os atos internacionais firmados pelo Brasil, os decretos, as 
normas administrativas originadas dos órgãos competentes como as Resoluçoes do 
CONAMA e do CEPRAM e a jurisprudência são consideradas fontes formais 
Segundo um ilustre Procurador da República, “para a doutrina mais autorizada, as 
normas jurídicas que compõem o ordenamento positivo podem assumir duas 
configurações básicas: regras (ou disposições) e princípios” (SARMENTO, 2003, 
p.42) destacando: 
Os princípios representam as traves-mestras do sistema jurídico, irradiando 
seus efeitos sobre diferentes normas e servindo de balizamento para a 
interpretação e integração de todo o setor do ordenamento em que radicam. 
Revestem-se de um grau de generalidade e de abstração superior ao das 
 
 
13 
 
regras, sendo, por conseqüência, menor a determinabilidade do seu raio de 
aplicação. Ademais, os princípios possuem um colorido mais acentuado do 
que as regras, desvelando mais nitidamente os valores jurídicos e políticos 
que condensam. (SARMENTO, 2003, p.42). 
 
No exercício do poder de polícia, os agentes públicos devem se basear nos 
princípios para a tomada de decisões administrativas, buscando sempre atingir o 
interesse público. Em muitos casos, especiamente quando se deparam com diversas 
formas de interpretação da lei ou ante a ausência de regras específicas, podem e 
devem se basear nos princípios do Direito Ambiental. 
Nesse sentido, na fiscalização ambiental, os principios do Direito Ambiental e da 
Administração Pública, que serão posteriormente analisados, têm grande relevância 
para nortear a atuação dos técnicos nos casos concretos, inclusive para a correta 
aplicação de sanções e imposição de determinações, exigências, ou solicitações de 
planos, projetos, e demais documentos necessários à instrução dos procedimentos 
administrativos ou medidas específicas para correção de irregularidades. 
No que se refere aos princípios internacionais que regem o Direito Ambiental, não se 
observa uma enumeração uniforme na doutrina. Nesse sentido, procura-se, a seguir, 
analisar aqueles relacionados por mais de um autor. 
O mais importante deles é o “princípio do direito humano fundamental” (ANTUNES, 
2004) ou princípio do ambiente ecologicamente equilibrado como direito fundamental 
da pessoa humana (MILARÉ, 2013). Tal princípio será estudado mais 
detalhadamente quando da análise do art. 225 da CF. 
O principio da natureza pública da proteção ambiental, por sua vez, de acordo com 
Edis Milaré (2013, p.) “decorre da previsão legal que considera o meio ambiente 
como um valor a ser necessariamente assegurado e protegido para o uso de todos”. 
Tratando-se o bem ambiental de um interesse de toda a coletividade, 
evidentemente, a sua proteção deve ser pública. 
Outro princípio importante é o denominado democrático (ANTUNES, 2004) que 
engloba outros dois princípios apontados pela doutrina (PHILIPPI JR; RODRIGUES, 
2005): o da participação e o da informação. Fruto de movimentos sociais, 
evidentemente, o Direito Ambiental não poderia deixar de trazer para si essa 
característica democrática, assegurando o direito à participação da coletividade nas 
decisões políticas relativas às questões ambientais e à informação ambiental. 
 
 
14 
 
Destacam-se também os princípios da prevenção e precaução. O princípio da 
prevenção exige a adoção de medidas tendentes a evitar a ocorrência de danos 
previsíveis. Já o da precaução determina que não se produzam intervenções no 
meio ambiente antes de se ter certeza científica de que estas não serão adversas ao 
mesmo. 
O princípio da prevenção foi implicitamente incorporado ao texto constitucional. 
Pressupõe uma ação pró-ativa do Estado e da sociedade, em geral, para evitar a 
ocorrência do dano ambiental. A exigência da realização de estudo de impacto 
ambiental para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de 
significativa degradação do meio ambiente e a obrigação do Poder Público de 
“controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e 
substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio 
ambiente” são demonstrações de sua assimilação pela Constituição. 
Ressalte-se que o principio da precaução foi expressamente relacionado na 
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Rio 92, 
conforme a seguir: 
Princípio nº 15 - Com o fim de proteger o meio ambiente, o princípio da 
precaução deverá ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com 
suas capacidades. Quando houver ameaça de danos graves ou irreversíveis, 
a ausência de certeza absoluta não será utilizada como razão para o 
adiamento de medidas economicamente visíveis para prevenir a degradação 
ambiental (ANTUNES, 2004, p.36). 
 
Há também o principio do poluidor-pagador que de acordo com Edis Milaré (2005, 
p.163-164): 
Assenta-se este princípio na vocação redistributiva do Direito Ambiental e se 
inspira na teoria econômica de que os custos sociais externos que 
acompanham o processo produtivo (v.g., o custo resultante dos danos 
ambientais) precisam ser internalizados, vale dizer, que os agentes 
econômicos devem levá-los em conta ao elaborar os custos da produção e, 
conseqüentemente, assumi-los. Busca-se, no caso, imputar ao poluidor o 
custo social da poluição por ele gerada, engendrando-se um mecanismo de 
responsabilidade por dano ecológico abrangente dos efeitos da poluição não 
somente sobre bens e pessoas, mas sobre toda a natureza. 
 
 
 
15 
 
As obrigações dos empreendedores de arcar com os custos do licenciamento 
ambiental, de estudos ambientais onerosos como o Estudo de Impacto Ambiental 
(EIA) e a de reparar os danos ambientais previstas no ordenamento jurídico 
brasileiro se inspiram no aludido princípio. 
O principio do usuário pagador é também enumerado pela doutrina. Segundo o 
supracitado jurista, 
Funda-se este princípio no fato de que os bens ambientais - particularmente 
os recursos naturais - constituem patrimônio da coletividade, mesmo que, em 
alguns casos possa incidir sobre eles em justo título de propriedade privada. 
Sabemos, outrossim, que recursos essenciais, de natureza global – como a 
água, ar e o solo – não podem ser “apropriados” a bel talante (MILARÉ, 2005, 
P.170). 
 
É de bom alvitre lembrar que a cobrança de uso da água baseia-se no referido 
princípio. Um novel princípio começa a ser delineado no Direito Ambiental: o principio 
do protetor-recebedor ou do provedor. Como explica Melissa Furlan (2008, p. 230): 
O princípio do protetor-recebedor busca efetivar a justiça econômica e ambiental 
e o desenvolvimento sustentável. Tal princípio pode ser encarado como o inverso 
do princípio do poluidor-pagador, na medida em que proporciona uma justa 
compensação a todos aqueles que contribuem para a conservação ambiental 
com suas condutas, ou seja, reconhece as externalidades positivas daqueles 
cujo comportamento ambiental reduz os gastos públicos e traz benefícios para 
toda a coletividade. 
 
O referido princípio já tem amparo legal. Encontra-se de forma implícita previsto nos 
arts. 47 e 48 da Lei nº 9.985/00 juntamente com principio do usuário-pagador. 
Art. 47. O órgão ou empresa, público ou privado, responsável pelo 
abastecimento de água ou que faça uso de recursos hídricos, beneficiário da 
proteção proporcionada por uma unidade de conservação, deve contribuir 
financeiramente para a proteção e implementação da unidade, de acordo com o 
disposto em regulamentação específica. 
Art. 48. O órgão ou empresa, público ou privado, responsável pela geração e 
distribuiçãode energia elétrica, beneficiário da proteção oferecida por uma 
unidade de conservação, deve contribuir financeiramente para a proteção e 
implementação da unidade, de acordo com o disposto em regulamentação 
específica. 
 
 
16 
 
 
Diversos projetos de lei relacionados ao pagamento por serviços ambientais 
encontram-se em tramitação no Congresso Nacional. Destaca-se o PL nº 792/07 que 
define os serviços ambientais e prevê a transferência de recursos, monetários ou não, 
aos que ajudam a produzir ou conservar estes serviços; e os PL de números 1.190/07, 
5.487/09 e 6.204/09 que foram apensados ao primeiro (BRASIL, 2010). 
A recente Lei nº 12.651/12, em seu art. 41, I prevê a possibilidade de o Poder 
Executivo Federal instituir programas de apoio e incentivo à conservação do meio 
ambiente, bem como para adoção de tecnologias e boas práticas que conciliem a 
produtividade agropecuária e florestal, com redução dos impactos ambientais, como 
forma de promoção do desenvolvimento ecologicamente sustentável, abrangendo, 
dentre outras medidas, o pagamento por serviços ambientais. 
Por fim, merece também atenção especial o princípio da cooperação, que prega a 
colaboração e auxílio de todos os povos na defesa e proteção ambiental. 
 
4. O MEIO AMBIENTE FACE À CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1 988 
Fortemente influenciada pelos movimentos ecológicos, pelos princípios 
internacionais de proteção ambiental consagrados pela Declaração do Meio 
Ambiente, adotada pela Conferência das Nações Unidas, realizada em 1972 em 
Estocolmo e também por princípios e diretrizes estabelecidos pela Lei n° 6.938/81, 
que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, a Constituição Federal de 
1988 representa um marco jurídico fundamental para a proteção ambiental no Brasil. 
O meio ambiente, que as ordens constitucionais anteriores nem sequer tratavam 
expressamente, com o advento da Carta Magna de 1988 passou a ter destaque 
especial, não apenas pela criação de um capítulo especialmente dedicado à matéria, 
mas também em virtude da questão permear todo o seu texto, “correlacionada com 
os temas fundamentais da ordem constitucional” (SILVA, 1998, p.26). 
Devido a essa abordagem ampla e moderna do tema, o referido constitucionalista 
chega a classificá-la de “eminentemente ambientalista” (SILVA, 1998, p.26), 
enquanto outro jurista chega a denominá-la de “verde” (MILARÉ, 2005, p.184). 
Registre-se que essa previsão expressa não é exclusividade de nosso país. Salienta 
o ilustre jurista Jorge Miranda (2000, p.533): 
Problemática centralíssima de que se tem vindo a tomar consciência mais 
aguda nas últimas décadas, não admira que a problemática do meio ambiente 
 
 
17 
 
tenha feito também a sua entrada nas Constituições e que tenha passado a 
interessar crescentemente a doutrina juspublicística. 
 
Dentre as diversas Constituições que tratam do tema, cite-se a portuguesa (arts. 9º, 
65, 66, 93, 228, dentre outros); a italiana (art. 9º); a suíça (arts. 22 quater, 24 -bis, 24 
sexies e 24 septies); a indiana (art. 48-A e 51, alínea g); a espanhola (art. 45); a 
equatoriana (art. 50); a chinesa (arts. 9º e 26); a holandesa (art. 21); a de Guiné-
Bissau (art. 15); a iraniana (art. 50); a filipina (seção 16, art. II); a de S. Tomé e 
Príncipe (art.10, alínea d e 48); a nambiana (art. 11); a moçambicana (art. 36 e 37); a 
búlgara (art. 15 e 55); a romena (art.14, n 2, alínea e); a cabo-verdina (art.70); a 
angolana (art. 24); a russa (art. 58); a alemã (art. 20-A); a sul-africana (art. 24) 
(MIRANDA, 2000). Adverte, todavia, o referido constitucionalista: 
Hoje, a relevância do ambiente tornou-se quase obrigatória ou recorrente em 
quase todos os novos textos constitucionais, entendida à luz das suas 
coordenadas próprias. Mas essa universalização não significa, só por si, que 
a efectividade das normas – sejam programáticas ou preceptivas – se mostre 
muito forte ou idêntica por toda a parte e muito poucos os Estados que 
poderão arrogar-se (como bem se desejaria) a qualidade de Estados 
ambientais (MIRANDA, 2000). 
 
No que se refere à Constituição brasileira, antes de analisar os dispositivos que 
tratam do tema sub examine faz-se necessário trazer à baila importante contribuição 
dada pelo constitucionalista brasileiro citado para a compreensão do conceito 
constitucional de meio ambiente: 
O conceito de meio ambiente há de ser, pois, globalizante, abrangente de 
toda a natureza original e artificial, bem como os artificiais correlatos, 
compreendendo, portanto, o solo, a água, o ar, a flora, as belezas naturais, o 
patrimônio histórico, artístico, turístico, paisagístico e arqueológico. O meio 
ambiente é, assim, a interação do conjunto de elementos naturais artificiais e 
culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as 
suas formas (SILVA, 1998, p.2). 
 
O Capítulo VI, do Titulo VIII - Da Ordem social, foi reservado pelo constituinte de 
1988 para tratar especialmente do tema ambiental, e merece ser integralmente 
transcrito: 
 
 
18 
 
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, 
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-
se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para 
as presentes e futuras gerações. 
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: 
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o 
manejo ecológico das espécies e ecossistemas; 
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e 
fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material 
genético; 
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus 
componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a 
supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que 
comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; 
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade 
potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, 
estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; 
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, 
métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida 
e o meio ambiente; 
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a 
conscientização pública para a preservação do meio ambiente; 
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que 
coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies 
ou submetam os animais a crueldade. 
§ 2º - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio 
ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão 
público competente, na forma da lei. 
§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente 
sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e 
administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos 
causados. 
§ 4º - A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o 
Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua 
utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a 
preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos 
naturais. 
 
 
19 
 
§ 5º - São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, 
por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas 
naturais. 
§ 6º - As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização 
definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas. 
 
O art. 225 da CF, ao assegurar a todos o direito “ao meio ambiente ecologicamente 
equilibrado”, considerando-o “bem de uso comum do povo e essencial à sadia 
qualidade de vida”, reconhece expressamente o seu caráter de direito fundamental 
dapessoa humana, que, segundo a doutrina, é um dos princípios mais importantes 
do direito ambiental. 
Paulo de Bessa Antunes (2004) lembra o reconhecimento internacional do sobredito 
princípio pelos Princípios 1 e 2 da Declaração de Estocolmo, segundo os quais, 
respectivamente, “O homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade e ao 
desfrute de condições de vida adequadas, em um meio ambiente de qualidade tal 
que lhe permita levar uma vida digna, gozar de bem-estar, e é portador solene de 
obrigação de melhorar o meio ambiente, para as presentes e futuras gerações [...]” e 
“os recursos naturais da Terra, incluídos o ar, a água, o solo, a flora e a fauna e, 
especialmente, parcelas representativas dos ecossistemas naturais, devem ser 
preservados em benefícios das gerações atuais e futuras [...]” (ANTUNES, 2004, 
p.32) 
Acrescenta o ilustre jurista que o referido princípio foi reafirmado pela Declaração do 
Rio, proferida na Conferência das Nações Unidas sobre Meio ambiente, realizada 
em 1992, no Rio de Janeiro, conhecida como Rio-92, cujo Princípio 1 declara que 
“os seres humanos constituem o centro das preocupações relacionadas com o 
desenvolvimento sustentável. Têm direito a uma vida saudável e produtiva em 
harmonia com o meio ambiente”. 
Merece ainda aplausos o referido dispositivo constitucional por enfatizar, em 
seguida, que o dever de defender e preservar o meio ambiente para as presentes e 
futuras gerações se impõe não apenas ao Poder Público, mas também à 
coletividade. 
Em razão de seu caráter difuso, pertencente à categoria de direitos que se enquadra 
como de terceira geração (BOBBIO, 1992) e de sua vital importância para a própria 
sobrevivência do planeta, não poderia, de fato, a Constituição disciplinar a matéria 
 
 
20 
 
de forma diversa, isentando a coletividade da sua também salutar obrigação de 
preservar e proteger o meio ambiente. 
No que concerne especificamente ao Poder Público, além do dever genérico de 
proteger e preservar o meio ambiente, explícito no caput do art. 225, a Constituição 
anuncia expressamente, nos incisos I a VII, do § 1º, um rol de atividades que devem 
por ele ser realizadas com fim de assegurar a efetividade do aludido direito humano 
fundamental. 
Poder Público, segundo o citado constitucionalista, “é expressão genérica que se 
refere a todas as entidades territoriais, pois uma das características do Estado 
Federal, como o nosso, consiste precisamente em distribuir o Poder Público por 
todas as entidades autônomas que o compõem, para que cada qual o exerça nos 
limites das competências que lhe foram outorgadas pela Constituição” (SILVA, 1998, 
p.49) 
Em matéria ambiental, a competência legislativa, em regra, é concorrente entre 
União, Estados e Distrito Federal, de acordo com o art. 24, VI, VII e VIII da CF: 
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar 
concorrentemente sobre: 
[...] VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do 
solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da 
poluição; 
VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e 
paisagístico; 
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e 
direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. 
 
Convém frisar que o Município, conforme entendimento doutrinário e jurisprudencial 
amplamente majoritários, pode também legislar sobre meio ambiente, com 
fundamento no art. 30, incisos I e II, ou seja, “legislar sobre assuntos de interesse 
local” e “suplementar a legislação federal e estadual no que couber”. 
Já a competência administrativa é comum, sendo, portanto, dever de todos os entes 
da Federação, ou seja, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios 
a obrigação de preservar e proteger o meio ambiente. 
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e 
dos Municípios: 
 
 
21 
 
[...] III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, 
artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios 
arqueológicos; 
IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e 
de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural; 
VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas 
formas; 
VII - preservar as florestas, a fauna e a flora. 
 
É bem verdade que cada ente federativo, por sua vez, organiza e cria seus próprios 
órgãos e entidades outorgando-lhes atribuições específicas para atuarem nas 
questões ambientais, a exemplo do IBAMA, na Administração Federal. Essa 
repartição de competências internas não parece, destarte, afastar a indeclinável 
obrigação genérica que qualquer outro órgão ou entidade que compõe a 
Administração Pública tem de cuidar do meio ambiente, ainda que não haja previsão 
expressa na legislação ordinária nesse sentido. 
Essa é, sem dúvida, a melhor exegese do caput do art. 225 e da análise sistêmica 
do texto constitucional que, por reconhecer a interdisciplinaridade e transversalidade 
do tema ambiental, fazendo-o penetrar em outras áreas, obriga os setores da 
administração não vinculados diretamente à questão ambiental a inserirem essa 
preocupação no planejamento, desenvolvimento e execução de suas atividades. 
 
4.1. Princípio da ordem econômica 
No Título VII, que trata da Ordem Econômica e Financeira, há referência expressa 
ao meio ambiente, sendo a sua defesa erigida ao status de princípio geral da 
atividade econômica, conforme art. 170, VI. 
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valoração do trabalho humano e na 
livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os 
ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: 
[...] VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado 
conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos 
de elaboração e prestação (Redação da EC nº 42/03). 
 
Segundo o Ministro Eros Roberto Grau (2000, p.265), 
 
 
22 
 
A Constituição, destarte, dá vigorosa resposta às correntes que propõem a 
exploração predatória dos recursos naturais, abroquelado sobre o argumento, 
obscurantista, segundo o qual as preocupações com a defesa do meio 
ambiente envolvem proposta de “retorno à barbárie”. 
 
Ainda de acordo com o ilustre ministro, o princípio da defesa do meio ambiente trata-
se de um dos princípios constitucionais impositivos (GRAU, 2000) que, conforme o 
constitucionalista português J. J. Gomes Canotilho (2003, p.1166), seriam aqueles 
que “subsumem-se todos os princípios, que impõem aos órgãos do estado, 
sobretudo ao legislador, a realização de fins e a execução de tarefas”. 
Conforme Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal: 
[...] a atividade econômica não pode ser exercida em desarmonia com os 
princípios destinados a tornar efetiva a proteção ao meio ambiente. A 
incolumidade do meio ambiente não pode ser comprometida por interesses 
empresariais nem ficar dependente de motivações de índole meramente 
econômica, ainda mais se se tiver presente que a atividade econômica, 
considerada a disciplina constitucional que a rege, está subordinada, dentre 
outros princípios gerais, àquele que privilegia a ‘defesa do meio ambiente’ 
(CF, art. 170, VI), que traduz conceito amplo e abrangente das noções de 
meio ambiente natural, de meio ambiente cultural, de meio ambiente artificial 
(espaço urbano) e de meio ambiente laboral. Doutrina. Os instrumentos 
jurídicos de caráter legal e de natureza constitucional objetivam viabilizar a 
tutela efetiva do meio ambiente, para que não se alterem as propriedades e 
os atributos que lhe são inerentes, o que provocaria inaceitável 
comprometimento da saúde, segurança, cultura, trabalho e bem-estar da 
população, além de causar graves danos ecológicos ao patrimônio ambiental,considerado este em seu aspecto físico ou natural. (BRASIL, 2006). 
 
Em face do dispositivo constitucional supracitado, não se pode mais conceber um 
desenvolvimento econômico desatrelado de valores ambientais. Cabe portanto, ao 
Estado, com fundamento também no art. 225 da CF, o dever de não apenas 
proteger o meio ambiente nos casos excepcionais em que intervenha diretamente na 
economia, mas, sobretudo, o de exigir o total cumprimento das normas ambientais 
pelos particulares, quando no exercício de sua precípua função regulatória. 
 
 
23 
 
Ademais, deve-se lembrar também que a incorporação ao ordenamento jurídico de 
novos instrumentos econômicos seria um passo importante na direção de tornar 
efetivo o referido mandamento constitucional. De acordo com Arlindo Philippi Jr., 
Gilda Collet Bruna e Vicente Fernando Silveira (2005, p.806): 
A Agenda 21 preconiza que os instrumentos econômicos devem incorporar os 
custos ambientais às decisões de produtores e consumidores, diminuindo o 
viés distorcido da disponibilidade absoluta dos recursos naturais. Os preços 
devem refletir o valor total (custos sociais e ambientais) e sua escassez 
relativa, contribuindo para a mitigação da degradação ambiental. 
 
Registre-se a criação em alguns estados do chamado ICMS ecológico. O Paraná foi 
o pioneiro, seguido pelos Estados de São Paulo (1993), Minas Gerais (1995), 
Rondônia (1996), Rio Grande do Sul (1998), Mato Grosso do Sul (2001) e Mato 
Grosso (2001). Projetos relativos ao tema estão em fase de implementação ou 
regulamentação em Pernambuco, Tocantins e Amapá, e em debate ou tramitação 
nas casas legislativas dos Estados da Bahia, Goiás, Pará, Santa Catarina, Ceará e 
Rio de Janeiro (LOUREIRO, 2006). 
 
4.2. A função socioambiental da propriedade 
Em que pese a Constituição de 1967 já ter tratado de forma expressa da função 
social da propriedade, a Constituição de 1988, refletindo mais uma vez o espírito 
preservacionista que a caracterizou, deu um passo adiante nessa matéria 
incorporando a preocupação ambiental no seu conceito. 
Na oportunidade, vale ressaltar os seguintes ensinamentos: 
A Propriedade Privada, absoluta e ilimitada, torna-se incompatível com a nova 
configuração dos direitos, que passam a tutelar Interesses Públicos, dentre os 
quais a preservação ambiental. Assim, o Direito de Propriedade adquire nova 
configuração, e passa a estar vinculado ao cumprimento de uma Função 
Social e Ambiental. É limitado no interesse da coletividade e a fim de 
adequar-se às novas demandas de ordem ambiental (CAVEDON apud 
MASCARENHAS, 2005). 
 
A conclusão da existência de uma verdadeira “função socioambiental da 
propriedade” se extrai da análise sistemática de diversos dispositivos constitucionais, 
dentre os quais se destacam o art. 5º, XXIII, segundo o qual “a propriedade atenderá 
 
 
24 
 
à sua função social”, o art. 170 e seus incisos II, III e VI, que diz que a propriedade 
privada, a função social da propriedade e a defesa do meio ambiente são princípios 
da ordem econômica, o art. 182, § 2º, que trata da função social da propriedade 
urbana, o art. 184, referente à desapropriação por interesse social de imóvel rural, o 
art. 186, que descreve os requisitos para a conformação da função social, bem como 
e o próprio art. 225, já analisado anteriormente. 
O art. 186, que trata especificamente da propriedade rural, merece ser aqui 
transcrito na íntegra por exigir de forma explícita para o efetivo cumprimento da 
função social a utilização adequada dos recursos naturais e a preservação do meio 
ambiente. 
Art.186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, 
simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em 
lei, aos seguintes requisitos: 
I – aproveitamento racional e adequado; 
II – utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do 
meio ambiente; 
III – observância das disposições que regulam as relações de trabalho; 
IV – exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos 
trabalhadores. 
 
Convém lembrar que Novo Código Civil, instituído pela Lei nº 10.406/02, procurando 
se amoldar a esses novos contornos estabelecidos pela Constituição Federal de 
1988, ao direito de propriedade, contemplando o fim socioambiental a que ela se 
destina, diz expressamente em seu art. 1228, § 1°: 
O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as 
finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de 
conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas 
naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como 
evitada a poluição do ar e das águas. 
 
A função socioambiental da propriedade, sendo, portanto, matéria constitucional e 
também disciplinada pela legislação ordinária, não pode jamais deixar de ser 
observada pelo Estado. A busca de sua efetivação pelo Poder Público se revela 
imprescindível para o desenvolvimento sustentável. 
 
 
 
25 
 
4.3. Referências constitucionais explícitas e implí citas 
A doutrina pátria costuma apontar a existência de normas constitucionais explícitas e 
implícitas, tratando da matéria ambiental. 
No que tange às normas explícitas, além dos dispositivos constitucionais já 
mencionados, destacam-se os seguintes artigos: art. 5º, inciso LXXIII (confere 
legitimação a qualquer cidadão para propor ação popular que vise anular ato lesivo 
ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural); art. 20, inciso II (considera 
bens da União as terras devolutas indispensáveis à preservação ambiental); art. 91, 
§ 1º, inciso III (outorga ao Conselho de Defesa Nacional a competência para “propor 
os critérios e condições de utilização das áreas indispensáveis à segurança do 
território nacional e opinar sobre seu efetivo uso, especialmente nas áreas de 
fronteira e nas relacionadas com a preservação e a exploração dos recursos naturais 
de qualquer tipo”; art. 129, inciso III (declara ser uma das funções institucionais do 
Ministério Público “promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção 
do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e 
coletivos”; art. 174, § 3º (determina que o Estado “favorecerá a organização da 
atividade garimpeira em cooperativas, levando em conta a proteção do meio 
ambiente e a promoção econômico-social dos garimpeiros); art. 200, inciso VIII 
(atribui, textualmente, ao Sistema Único de Saúde – SUS a obrigação de colaborar 
na proteção do meio ambiente); art. 216, inciso V (declara constituir patrimônio 
cultural brasileiro “os conjuntos urbanos e de valor histórico, paisagístico, artístico, 
arqueológico, paleontológico, ecológico e científico”; art. 220, § 3º, II (diz que lei 
federal deve “estabelecer os meios legais que garantam à pessoa e à família de se 
defenderem [...] da propaganda de produtos, práticas e serviços que possam ser 
nocivos à saúde e ao meio ambiente”); e art. 231, § 1º (define as terras 
tradicionalmente ocupadas pelos índios como aquelas “por eles habitadas em 
caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as 
imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem estar 
e às necessárias à sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e 
tradições”) (SILVA, 1998). 
Quanto às normas implícitas, não se faz necessário para os restritos limites desse 
trabalho tentar identificar todas elas, nem mesmo transcrever as já reveladas pela 
doutrina. Basta registrar que, para enumerar algumas delas, a doutrina se baseou 
nas já apontadas transversalidade e interdisciplinaridade do Direito Ambiental. 
 
 
26 
 
É o que se verifica, por exemplo, quando certos autores indicam o art. 21, XX que 
trata da competência da União para “instituir diretrizes para o desenvolvimento 
urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos”como uma 
dessas inúmeras normas implícitas (ANTUNES, 2004; SILVA, 1998). 
O último autor citado fundamenta a referida conclusão, asseverando que diretrizes 
para o desenvolvimento urbano, incluindo habitação, saneamento básico e 
transportes urbanos é matéria urbanística que inclui o Direito Ambiental, lembrando 
ainda que deve ser preocupação da União regular, segundo ele, “assunto de enorme 
potencial contaminador – transportes urbanos – onde carece interferir para impor 
conduta não poluidora” (SILVA, 1998, p.28). 
 
5. REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS ADMINISTRATIVAS EM MA TÉRIA 
AMBIENTAL – LEI COMPLEMENTAR Nº 140/2011. 
Baseada em um modelo de federalismo cooperativo, a Constituição Federal de 
1988, estabeleceu, conforme mencionado, em seu art. 23, III, VI e VII, a 
competência comum entre União, Estados, Distrito Federal e Municípios para a 
atuação em matéria ambiental, reservando à lei complementar a fixação de normas 
de cooperação entre os mesmos, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e 
do bem-estar em âmbito nacional (art. 23, parágrafo único). 
Nesse sentido, no exercício do poder de polícia administrativa, todos os entes 
federados, por intermédio de seus órgãos ambientais, estariam aptos a fiscalizar e 
licenciar atividades e empreendimentos utilizadores de recursos naturais, efetiva ou 
potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação 
ambiental. 
A falta de regulamentação do mencionado dispositivo constitucional e a ausência de 
regras claras sobre a repartição de competências administrativas sempre geraram 
dúvidas e incertezas quanto ao órgão ambiental competente para o exercício de 
determinadas ações, especialmente no tocante as atividades de fiscalização e 
licenciamento. 
Os princípios constitucionais da predominância de interesses e da eficiência 
administrativa que, especialmente ante a ausência da referida regulamentação 
deveriam nortear a atuação dos órgãos incumbidos de promover a defesa e 
proteção do meio ambiente, não se revelaram suficientes para evitar ações dúplices, 
 
 
27 
 
desperdício de recursos públicos, nem para oferecer à sociedade a segurança 
jurídica necessária. 
Na tentativa de regular a matéria e eliminar as infindáveis discussões na doutrina e 
conflitos na práxis administrativa e nos Tribunais, a Resolução nº 237/97 do 
CONAMA estabeleceu critérios e parâmetros para a repartição de competências 
entre os entes federativos para fins de licenciamento ambiental. 
Ocorre que, além de não tratar de outros temas relativos à atuação administrativa 
ambiental da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, ao disciplinar 
matéria reservada, a lei complementar revelou-se, segundo a Resolução CONAMA 
nº 237/97, nesse particular, inconstitucional pela forma. 
Nesse sentido, a Lei Complementar nº 140 de 08 de dezembro de 2011 veio a suprir 
uma importante e imensa lacuna legislativa existente até então no Brasil. 
Passados mais de vinte anos da promulgação da Constituição Federal de 1988, e 
finalmente foi editada a Lei Complementar nº 140/11, regulamentando o art. 23, 
parágrafo único, no que diz respeito à matéria ambiental. 
Em que pesem as suas evidentes imperfeições, poderá essa lei nortear as ações 
administrativas, possibilitando uma redução dos conflitos de competência entre os 
diversos órgãos ambientais e o aumento da segurança jurídica para os 
empreendedores, bem como contribuir para o desenvolvimento e aperfeiçoamento 
da gestão ambiental no âmbito municipal e consequente fortalecimento do Sistema 
Nacional de Meio Ambiente – SISNAMA. 
A Lei Complementar nº 140/11 fixa normas para a cooperação entre a União, os 
Estados, o Distrito Federal e os Municípios nas ações administrativas decorrentes do 
exercício da competência comum em matéria ambiental, regulamentando o art. 23, 
parágrafo único, da Constituição Federal, no que concerne aos temas previstos nos 
incisos III, VI e VII do caput desse artigo. 
Tem por objetivos fundamentais (art. 3º): 
a) proteger, defender e conservar o meio ambiente ecologicamente 
equilibrado, promovendo gestão descentralizada, democrática e eficiente; 
b) garantir o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico com a proteção 
do meio ambiente, observando a dignidade da pessoa humana, a erradicação 
da pobreza e a redução das desigualdades sociais e regionais; 
 
 
28 
 
c) harmonizar as políticas e ações administrativas para evitar a sobreposição 
de atuação entre os entes federativos, de forma a evitar conflitos de 
atribuições e garantir uma atuação administrativa eficiente; 
d) garantir a uniformidade da política ambiental para todo o País, respeitadas 
as peculiaridades regionais e locais. (LEI COMPLEMENTAR Nº 140/11). 
Estabelece, em seu art. 4º, que os entes federativos podem valer-se, entre outros, 
dos seguintes instrumentos de cooperação institucional: 
a) Consórcios públicos; 
b) Convênios, acordos de cooperação técnica e outros Instrumentos similares 
com órgãos e entidades do Poder Público; 
c) Comissões Tripartites Nacional e Estaduais e Comissão Bipartite do Distrito 
Federal, formadas, paritariamente, por representantes de todos os entes 
federativos; 
d) Fundos públicos e privados e outros instrumentos econômicos; 
e) Delegação de atribuições e de ações administrativas de um ente federativo 
a outro. (LEI COMPLEMENTAR, Nº 140/11). 
A delegação de ações administrativas será feita mediante convênio, devendo, para 
tanto, o ente federativo destinatário da delegação, conforme o art. 5º, dispor de: 
a) Conselho de Meio Ambiente; e 
b) Órgão ambiental capacitado, considerado aquele que possua técnicos 
próprios ou em consórcio, devidamente habilitados e em número compatível 
com a demanda das ações a serem delegadas. (LEI COMPLEMENTAR, N° 
140/11) 
 
A Resolução CONAMA Nº 237/07, ao descrever os requisitos para que o órgão 
ambiental pudesse licenciar, se referia a “técnicos próprios ou contratados”. Para fins 
específicos de delegação de ações administrativas, a Lei Complementar nº 140/11 é, 
nesse sentido, bem mais restritiva, privilegiando e, de certa forma, estimulando a 
criação de consórcios públicos. 
É de se notar que os municípios, por meio de consórcios públicos por eles formados, 
poderão contribuir sobremaneira para tornar mais eficiente a gestão ambiental no 
Brasil. 
Além do aumento de sua capacidade técnica para atendimento de demandas de sua 
competência originária, a instituição de consórcios públicos poderá facilitar a 
delegação pelos estados aos mesmos, visando a realização do licenciamento 
 
 
29 
 
ambiental de empreendimentos e atividades de impacto regional, desafogando os 
primeiros, abarrotados de processos, otimizando o uso de recursos públicos e 
tornando os processos mais céleres. 
Imprescindível para o alcance desses objetivos é a constituição, pelo consórcio 
público, de uma equipe multidisciplinar, composta por profissionais qualificados 
experientes, preferencialmente concursados, para a atuação na área ambiental. 
No Capítulo III da referida lei complementar foram estabelecidas as ações de 
cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, com vistas 
a atingir os objetivos previstos no art. 3º, bem como garantir o desenvolvimento 
sustentável, harmonizando e integrando todas as políticas governamentais. 
Nesse particular, buscou o legislador disciplinar a repartição de competências entre 
os entes federados para o desenvolvimento de diversas atividades administrativas, 
destacando-se, entre elas, o licenciamento, a fiscalização ambiental e a autorização 
para supressão e aprovação de manejo vegetal, cujas competências para o seu 
exercício serão a seguir analisadas. 
 
5.1. LICENCIAMENTO AMBIENTAL 
5.1.1 União 
De acordo com o art. 7º, XIV da referida lei complementar compete a União 
promover o licenciamento ambiental de empreendimentos e atividades: 
a) localizadosou desenvolvidos conjuntamente no Brasil e em país limítrofe; 
b) localizados ou desenvolvidos no mar territorial, na plataforma continental 
ou na zona econômica exclusiva; 
c) localizados ou desenvolvidos em terras indígenas; 
d) localizados ou desenvolvidos em unidades de conservação instituídas pela 
União, exceto em Áreas de Proteção Ambiental (APAs); 
e) localizados ou desenvolvidos em 2 (dois) ou mais Estados; 
f) de caráter militar, excetuando-se do licenciamento ambiental, nos termos de 
ato do Poder Executivo, aqueles previstos no preparo e emprego das Forças 
Armadas, conforme disposto na Lei Complementar nº 97, de 9 de junho de 
1999; 
g) destinados a pesquisar, lavrar, produzir, beneficiar, transportar, armazenar 
e dispor material radioativo, em qualquer estágio, ou que utilizem energia 
nuclear em qualquer de suas formas e aplicações, mediante parecer da 
Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN); ou 
 
 
30 
 
h) que atendam tipologia estabelecida por ato do Poder Executivo, a partir de 
proposição da Comissão Tripartite Nacional, assegurada a participação de um 
membro do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), e considerados 
os critérios de porte, potencial poluidor e natureza da atividade ou 
empreendimento. (LEI COMPLEMENTAR, Nº 140/11) 
 
No que se refere às alíneas “a”, “b”, “c”, “e” e “g” não houve qualquer alteração de 
cunho material. As hipóteses ali previstas já eram assim disciplinadas pela 
Resolução CONAMA nº 237/07. 
Nota-se que foi suprimida a hipótese prevista no art. 4º, III da Resolução CONAMA 
nº 237/97, qual seja, “cujos impactos ambientais diretos ultrapassem os limites 
territoriais do País ou de um ou mais Estados”. 
A extensão do impacto direto da atividade ou empreendimento jamais poderia, no 
entanto, ser desconsiderada pelo legislador, pois é corolário lógico do princípio 
constitucional da predominância de interesses. Empreendimentos ou atividades 
cujos impactos diretos atinjam mais de um Estado ou ultrapassem as fronteiras do 
país, atingindo outras nações, não podem, evidentemente, deixar de ser licenciados 
pelo órgão ambiental federal, no caso, o IBAMA. Qualquer tentativa na prática 
administrativa nesse sentido pode representar séria ofensa a Constituição Federal. 
O critério da dominialidade do bem para fins de licenciamento ambiental adotado 
para a hipótese da alínea “b”, que também constava da Resolução CONAMA nº 
237/97, sempre foi objeto de questionamento por parte da doutrina e da 
jurisprudência que frequentemente arguía a sua inconstitucionalidade. (MILARÉ, 
2005). 
Registre-se, todavia, que, neste particular, houve um pequeno avanço com o 
advento da Lei Complementar sub examine. Segundo o art. 8º, Parágrafo Único: 
O licenciamento dos empreendimentos cuja localização compreenda 
concomitantemente áreas das faixas terrestre e marítima da zona costeira 
será de atribuição da União exclusivamente nos casos previstos em tipologia 
estabelecida por ato do Poder Executivo, a partir de proposição da Comissão 
Tripartite Nacional, assegurada a participação de um membro do Conselho 
Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) e considerados os critérios de porte, 
potencial poluidor e natureza da atividade ou empreendimento. (LEI 
COMPLEMENTAR, Nº 140/11) 
 
 
31 
 
Em outros termos, nesses casos, a regra geral é no sentido de que o licenciamento 
passa a ser de competência dos estados ou municípios, sendo da União apenas 
excepcionalmente. 
A hipótese prevista na alínea “d”, referente a empreendimentos ou atividades 
localizados em unidades de conservação federais também já era considerada pela 
referida Resolução CONAMA como de competência da União. A grande novidade 
trazida pela Lei Complementar nº 140/11 diz respeito às APAs que passaram a ter 
regramento próprio, conforme adiante especificado. 
O licenciamento de empreendimentos militares, que também já era de competência 
da União (art. 4º, inciso V da Resolução CONAMA nº 237/ano), não sofreu qualquer 
alteração. Houve apenas uma atualização da regra anterior, incorporando na alínea 
“f” a exceção prevista na Lei Complementar nº 97, de 9 de junho de 1999. 
A inovação mais significativa está prevista na alínea “h”. Consiste na possibilidade 
do Poder Executivo, a partir de proposição da Comissão Tripartite Nacional, 
estabelecer outras hipóteses de licenciamento ambiental no âmbito federal, 
assegurada a participação de um membro do Conselho Nacional do Meio Ambiente 
(CONAMA), e considerados os critérios de porte, potencial poluidor e natureza da 
atividade ou empreendimento. 
Além das hipóteses supracitadas algumas atividades e empreendimento que 
causem ou possam causar impacto nacional, mesmo não tendo sido explicitamente 
mencionadas no referido dispositivo legal, continuam sendo de competência da 
União. 
É o caso, por exemplo, das atividades que envolvam Organismos Geneticamente 
Modificados – OGM (Lei nº 8.974/95), da licença para uso da configuração de 
veículos ou de motor (Lei nº 8.723/93) e do registro de agrotóxico e seus 
componentes (Lei nº 7.802/89). 
Nos termos do art. 18, §§ 1º e 3º da Lei Complementar tais normas continuam 
vigentes. A sua aplicação somente se iniciará a partir da entrada em vigor do ato 
previsto no art. 7º, XIV, h relativo à proposição da Comissão Tripartite Nacional. 
Destarte, ainda que inexistisse disposição expressa não seriam tais normas 
revogadas por essa lei, mesmo que posterior. Prevaleceria, nesse caso, a aplicação 
do princípio da especialidade. Têm as mesmas total amparo constitucional por se 
inspirarem no princípio da predominância de interesses, devendo a sua disciplina 
permanecer inalterada. 
 
 
32 
 
 
5.1.2 Estados 
A competência para o licenciamento ambiental dos Estados foi definida no art.8º, 
XIV e XV da referida lei complementar. 
Além da hipótese de licenciamento de atividade ou empreendimentos localizados em 
unidades de conservação, expressamente prevista, com a mesma ressalva referente 
às APAs, a competência dos Estados para o licenciamento ambiental passou a ser 
residual. 
Em vez de a lei tentar enumerar todas as hipóteses de licenciamento estadual, optou 
por elencar os casos de licenciamento federal e municipal (art. 7º e 9º), sendo 
estadual o licenciamento de todos os empreendimentos e atividades que ali não se 
enquadrarem. 
A prevalência do licenciamento ambiental no âmbito estadual, que já era uma 
tendência na legislação vigente (Lei nº 6.938/81), ao que parece, não sofrerá 
grandes alterações, em que pesem os esforços para o licenciamento no âmbito 
local. 
 
5.1.3 Municípios 
Nos termos do art. 9º, XIV da referida lei complementar compete aos Municípios o 
licenciamento de atividades ou empreendimentos: 
a) que causem ou possam causar impacto ambiental de âmbito local, 
conforme tipologia definida pelos respectivos Conselhos Estaduais de Meio 
Ambiente, considerados os critérios de porte, potencial poluidor e natureza da 
atividade; ou 
b) localizados em unidades de conservação instituídas pelo Município, exceto 
em Áreas de Proteção Ambiental (APAs). (LEI COMPLEMENTAR, Nº 
140/11). 
 
Conforme já mencionado, a definição de novas hipóteses de licenciamento no 
âmbito federal passa pela análise da Comissão Tripartite Nacional. Não se 
compreende por que razão essa atividade não foi estabelecida como de 
competência das Comissões Tripartites Estaduais. 
Na Bahia, o Conselho Estadual de Meio Ambiente da Bahia (CEPRAM), antes 
mesmo da vigência dessa lei complementar, já havia editado a Resolução nº 
 
 
33 
 
3.925/09, definindo as atividades de impacto local para fins de licenciamento 
ambiental municipal. 
Com o advento da Lei Complementar n° 140/11, que te ve como objetivo a fixação 
das normas de cooperação entre os entes federados para o exercício da 
competência material comum na defesa do meio ambiente, nos termos do parágrafo 
único do artigo 23 da

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