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DIREITO AMBIENTAL ÍNDICE Direito ambiental constitucional. Meio ambiente como direito fundamental. Princípios estruturantes do estado de direito ambiental. Competências ambientais legislativa e material. Deveres ambientais. Instrumentos juris- dicionais. Ação civil pública, ação penal pública, mandado de segurança individual e coletivo, ação popular, mandado de injunção ambiental. Função ambiental pública e privada. Função social da propriedade. Art. 225 da Constituição Federal de 1988............................................................................................................................................................ 01 Conceito de meio ambiente e seus aspectos. Meio ambiente natural, artificial, cultural e do trabalho. Conceito de recursos naturais e meio ambiente como bens ambientais. Conceito de biodiversidade e desenvolvimento sustentável. Significado de direitos culturais..................................................................................................................................... 05 Princípios de direito ambiental. Prevenção, precaução, poluidor-pagador e usuáriopagador, cooperação, in- formação, participação, equidade intergeracional. Princípios da tutela do patrimônio cultural. Cooperação, solidariedade, participação e informação, preservação do sítio e proteção do entorno, uso compatível com a natureza do bem, pró-monumento, valorização sustentável................................................................................................. 07 Política Nacional de Meio Ambiente. Objetivos. Instrumentos de proteção (técnicos e econômicos). SISNAMA. Estrutura e funcionamento. Lei nº 6.938/1981 e suas alterações. Decreto nº 99.274/1990 e suas alterações. Resolução do CONAMA nº 1/1986 e suas alterações (Relatório de Impacto Ambiental - EIA-RIMA). Resolução do CONAMA nº 237 (Licenciamento Ambiental). Resolução do CONAMA nº 378 (empreendimentos potencial- mente causadores de impacto ambiental nacional ou regional)................................................................................................. 10 Recursos hídricos. Lei nº 9.433/1997 e suas alterações (instrumentos de gestão). Resolução do CNRH nº 16/2001 e suas alterações. Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH)........................... 19 Recursos florestais. Lei nº 12.651/2012 e suas alterações. Resoluções do CONAMA nº 302/2002 e 303/2002. Lei nº 11.284/2006 e suas alterações (Gestão de florestas públicas). Significado de gestão e de concessão florestal. 26 Espaços territoriais especialmente protegidos. Áreas de preservação permanente e reserva legal. Lei nº 9.985/2000 e suas alterações (SNUC). Tipos de unidades, objetivos e categorias................................................................... 37 Política urbana. Diretrizes, instrumentos e competência. Arts. 182 e 183 da Constituição Federal. Lei nº 10.257/2001 e suas alterações................................................................................................................................................................. 39 Responsabilidades. Efeito, impacto e dano ambiental. Poluição. Responsabilidade administrativa, civil e penal. Tutela processual. STF, STJ e Tribunais de Justiça Estaduais. Papel do Ministério Público na defesa do meio ambiente. Crimes ambientais. Espécies e sanções penais previstas. Lei nº 9.605/1998 e suas alterações. Decreto nº 6.514/2008 e suas alterações.............................................................................................................................................................. 41 1 D IR EI TO A M BI EN TA L DIREITO AMBIENTAL CONSTITUCIONAL. MEIO AMBIENTE COMO DIREITO FUNDAMENTAL. PRINCÍPIOS ESTRUTURANTES DO ESTADO DE DIREITO AMBIENTAL. COMPETÊNCIAS AMBIENTAIS LEGISLATIVA E MATERIAL. DEVERES AMBIENTAIS. INSTRUMENTOS JURISDICIONAIS. AÇÃO CIVIL PÚBLICA, AÇÃO PENAL PÚBLICA, MANDADO DE SEGURANÇA INDIVIDUAL E COLETIVO, AÇÃO POPULAR, MANDADO DE INJUNÇÃO AMBIENTAL. FUNÇÃO AMBIENTAL PÚBLICA E PRIVADA. FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE. ART. 225 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 A preocupação em conservar e proteger o meio am- biente sustentável é uma característica bastante recente, não só do brasil mas dos demais países do ocidente. De- vido as mudanças provocadas pelas ações do homem, bem como a forma que a natureza reage a essas mudan- ças, o meio ambiente passou a ser um tema amplamente debatido do mundo, pois sua preservação traduz-se na preservação da própria vida. Para evidenciar o caráter de direito fundamental da prote- ção ao meio ambiente, é importante fazer um breve histórico sobre a evolução da legislação brasileira sobre a matéria. A legislação brasileira sobre o meio ambiente natu- ral é bastante esparsa. No início, haviam apenas alguns dispositivos que apresentavam um conteúdo ambiental, como o art. 584 do Código Civil de 1916, que proibia as construções capazes de poluir, ou inutilizar para o uso ordinário, a água de poço ou fonte alheia, a elas preexis- tente; ou o Regulamento da Saúde Pública (Decreto nº 23.793/1934), que previu a possibilidade de impedir que as grandes indústrias prejudicassem a saúde dos mora- dores de sua vizinhança, possibilitando o afastamento daquelas consideradas mais nocivas ou incômodas. Mas é a partir da década de 30 que o Brasil passou a regulamentar a proteção ao meio ambiente de forma expressa. Há nesse período, a criação de diversas leis de proteção ambiental específicas, como o Código Florestal (antes era um decreto, mas atualmente vigora o Código Florestal disposto pela Lei nº. 4.771/1965), o Código das Águas (Dec. nº. 24.643/1934), assim como o Código de Caça e o de Mineração. A Lei de Proteção da Fauna (Dec. nº. 24.645/1934) estabelece medidas de proteção aos animais, e o Dec. nº 25/1937 organizou a proteção ao Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Há também um maior compromisso, por parte do Estado brasileiro como um todo (e não só o Legislativo) com questões ambien- tais, com sua participação na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, realizada em Estocolmo em 1972. No ano seguinte, temos a criação da Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA). Na década de 1980, percebe-se um grande impul- so da legislação ambiental, produto dessa mudança de conduta que o Estado brasileiro passa a apresentar. O ordenamento jurídico, até então, tinha o objetivo de pro- teção econômica, e não ambiental. São quatro os mar- cos legislativos mais importantes: a Lei nº. 6.938/1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação; a Lei nº. 7.347/1985, que disciplina a ação civil pública de res- ponsabilidade por danos causados ao meio ambiente. A Constituição Federal de 1988, que abriu espaços à partici- pação/atuação da população na preservação e na defesa ambiental, impondo a todos o dever de defender o meio ambiente (art. 225, caput) e colocando como direito funda- mental de todos os cidadãos brasileiros a proteção ambien- tal determinada no art. 5º, LXXIII (dispositivo que regula a Ação Popular). Finalmente, temos a Lei nº. 9.605/1998, que dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. Atendo-se ao conteúdo constitucional da referida matéria, o caput do art. 225 da CF/1988 deixa bastante claro o caráter de direito fundamental do meio am- biente, ao dispor que “Todos têm direito ao meio am- biente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo- -se ao poder público e à coletividade o dever de defen- dê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Observe que o Texto Constitucional também faz menção ao conceito de sustentabilidade, isso é, o ato de preser- var um meio para que as próximas gerações possam usu- fruir dele da mesma maneira. A proteção ao meio ambiente é conside- rado um direito difuso. Issosignifica que o direito ao meio ambiente é uma garantia atribuída a todas as pessoas, sejam elas brasileiras ou não, e as eventuais preten- sões de tal garantia podem ser pleiteadas por ações coletivas (um grande número de pessoas indeterminadas). Os direitos difusos são característicos dos direitos humanos de Terceira Geração, pois são aqueles direitos que extrapolam os limites territoriais de cada Estado, e são conferidos amplamente, para toda a humanidade usu- fruir. Outros exemplos de direitos difusos: direito a paz, direito ao desenvolvimento urbano, etc. #FicaDica PRINCÍPIOS ESTRUTURANTES DO ESTADO DE DI- REITO AMBIENTAL A atual sociedade, marcada pela concomitância dos riscos concretos e dos abstratos, bem como pela crise ambiental, traz consigo a necessidade de pôr em perspectiva o desenvol- vimento tecnológico e cientifico juntamente com o viés am- biental. Sabe-se que a vida humana é profundamente depen- dente e ligada aos ecossistemas, portanto, as consequências imprevistas das ações intencionais humanas causam efeitos impactantes na natureza. Por este motivo, defende-se a Eco- logização do Estado e dos institutos imprescindíveis a efetiva proteção do bem ambiental, como o Direito. user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce 2 D IR EI TO A M BI EN TA L Conforme a problemática ambiental fica mais percep- tível, evidenciando, assim, a obrigação de uma reformu- lação dos alicerces do Estado e da adoção de um modelo de desenvolvimento que considere as gerações futuras e o estabelecimento de uma política com base no uso sustentável dos recursos naturais. Surge, então, a figura do Estado de direito ambiental. O Poder Público deixa de ser mero ente passivo, e passar a ter uma conduta mais proativa por visar rever o que já está formulado e disposto, inovando, então, atra- vés do pensamento reformador de melhores ajustes do que já está estabelecido. O Estado de Direito Ambiental é o resultado de novas reivindicações fundamentais do ser humano e é caracterizado pelo destaque que confere à proteção do meio ambiente. É o emprego do princípio da solidarie- dade econômica e social com o objetivo de atingir um desenvolvimento sustentável, orientado para buscar a igualdade substancial entre os cidadãos, através do con- trole jurídico do uso racionais do patrimônio natural. É importante ressaltar que esse conceito de estado de direito ambiental é puramente teórico, uma formula- ção abstrata que se projeta no mundo real apenas como dever ser. Porém, ele apresenta relevância pois sugere maior percepção sobre a crise ambiental e as exigências da sociedade moderna. O modelo de estado de direito ambiental, ainda que tenha natureza teórica, ele compreende uma gama de princípios estruturantes, quais sejam os princípios da so- lidariedade, da sustentabilidade, da precaução e da pre- venção, que formam uma política ambiental. Objetiva-se, portanto, verificar como eles se mostram frente as neces- sidades de novos modelos dos quais devem-se valer os Estados para superar a crise ambiental. Em linhas gerais, acredita-se que eles podem facilitar a interpretação de aspectos complexos do tema. O princípio da solidariedade gera a obrigação de relacionamento entre diversas gerações e espécies de vida, de forma que a temática fica complexa. Diante disto, percebe-se que a sustentabilidade é um desdobramento do citado princípio, haja vista que é um valor captado de maneira indutiva da crise ambiental e da sociedade de risco. O modelo sustentável, marco constitucional que abrange diversas áreas do conhecimento, resta funda- mentado no desenvolvimento econômico, na equidade social e no equilíbrio ambiental. Com efeito, o conceito de sustentabilidade informa que este é um princípio constitucional que define, inde- pendentemente de disposição legal, com eficácia direta e imediata, a responsabilidade do Estado e da sociedade pela efetivação solidária do desenvolvimento material e imaterial, socialmente inclusive, durável e equânime, ambientalmente limpo, inovador, ético e eficiente, com vistas à garantir, de forma preventiva, para o presente e futuro, a harmonia de todos e seu bem-estar. O princípio da prevenção é aplicado nos casos em que a ameaça constatada é certa, ressaltando que de- vem existir subsídios seguros para se concluir que de- terminada obra ou atividade apresenta consequências prejudiciais. É possível, portanto, aduzir que a prevenção se volta para o momento anterior ao dano e elucida os objetivos do Direito Ambiental. Prevenir significa agir antecipadamente. Sem infor- mação organizada e sem pesquisa não há prevenção. O autor prossegue e ensina que: a prevenção não é estatís- tica; e, tem-se que atualizar e fazer reavaliações, para po- der influenciar a formulação das novas políticas ambien- tais, das ações dos empreendedores e das atividades da Administração Pública, dos legisladores e do Judiciário. Já o princípio da precaução tem incidência quan- do não se tem informação científica suficiente, de forma que reste caracterizada a possibilidade de danos sobre o meio ambiente, a saúde das pessoas, dos animais e ou das plantas, ainda é necessário que os efeitos sejam graves e incompatíveis com a proteção adotada. Dessa forma, esse princípio visa trazer procedimentos para ra- cionalizar a decisão durante a etapa de incertezas. Seu escopo principal é, então, amenizar os custos da experi- mentação, de forma que é comum sua aplicação quando se trata de aquecimento global, engenharia genética e organismos geneticamente modificados. COMPETÊNCIA MATERIAL E LEGISLATIVA DE DI- REITO AMBIENTAL É importante traçar quais são os entes competen- tes para criar normas e políticas públicas de proteção ao meio ambiente. As primeiras são denominadas competências legislativas, e as últimas são denomina- das competências materiais. Adentrando no ponto da competência constitucional especificamente sobre meio ambiente, em um primeiro momento dever-se-á fazer abordagem à competência administrativa (material) comum constante do artigo 23, incisos VI e VII, visto que por muitas vezes é confundida com a competência legislativa, até mesmo pela doutrina. Dispõe o referido artigo que: Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: [...] VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas; VII - preservar as florestas, a fauna e a flora; Competência comum, cumulativa ou paralela é aque- la que é conferida simultaneamente às entidades políti- co-administrativas. Significa que a união, os estados, o distrito federal e os municípios devem cooperar na exe- cução de tarefas e objetivos que lhes são correlatos. Portanto, a competência prevista no artigo 23, incisos VI e VII, da Carta Magna, trata da permissibilidade cons- titucional para que todos os entes possam, cooperada- mente, organizar-se administrativamente e reger o meio ambiente cujo interesse lhe alcança. O motivo ensejador da competência delineada no artigo 23 é a tentativa de desburocratizar, descentralizando os encargos relativos ao meio ambiente, objetivando o fim último de atuações efetivas conjuntas entre os entes públicos, com vista a resultados expressivos. A inclusão dos municípios como competentes para defender o meio ambiente há de ser enfatizada, visto que lhes foi concedida autonomia para, junto aos demais en- tes federados, instrumentalizar políticas públicas, coope- user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce 3 D IR EI TO A M BI EN TA L radamente, em contraponto ao individualismo político. A competência material para dispor sobre meio ambiente possibilita aos entes administrarem suas riquezas natu- rais e defenderem seu ecossistema, com o apoio, mes- mo que em tese, dos demais entes. Diz-se em tese, pois na prática a cooperação não é tão fácil de se concretizarcomo o poder constituinte originário previu. Os Municípios apresentam um rol de competências próprias, previstas no artigo 30 da CF. Apesar de ser um rol pequeno, quando comparado ao da União, devemos fazer uma análise em conjunta desse dispositivo com o das competências materiais comuns. O artigo 30, em seus incisos I e II, da nossa lei maior, guardou competência aos Municípios para, respecti- vamente, “legislar sobre assuntos de interesse local” e “suplementar a legislação federal e a estadual no que couber”. Há uma discussão na doutrina sobre o signifi- cado da expressão “interesse local”, e qual o motivo de ter substituído a expressão “peculiar interesse”. O mais importante é que o Município possui uma atuação pre- dominantemente local, e busca atender as necessidades apenas daqueles que vivem concentrados em seu territó- rio. Sua atuação é, portanto, muito mais concreta do que a dos demais entes federativos. Esclarecida, portanto, a possibilidade do Município legislar sobre meio ambiente, dentro de seu interesse local e sem contrapor normas e regulamentos federais e estaduais, guarda grande importância o estudo introdu- tório da competência para dispor sobre direito minerário. Como constatado, considerando a competência co- mum material do artigo 23, incisos VI e VII e a concorren- te, prevista no artigo 30, incisos I e II, ambos da Constitui- ção Federal, concluiu-se pela possibilidade do Município legislar sobre meio ambiente. Todavia, o direito minerário, em que pese perfazer espécie pertencente ao direito ambiental, possui dispo- sições específicas. Com efeito, o art. 20, inciso IX, da Constituição Fede- ral, traz à baila que entre os bens da União encontram-se “os recursos minerais, inclusive os do subsolo. Somado a isso, o art. 22, inciso XII, também da Carta Magna, ex- põe que “compete privativamente à União legislar sobre jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia”. Ou seja, apesar da competência concorrente para legis- lar sobre meio ambiente, especificamente sobre recursos minerais, a União conta com competência privativa. A disposição expressa do Artigo 176, do mesmo re- gramento, vem corroborar: “As jazidas, em lavra ou não, e demais recursos minerais e os potenciais de energia hidráulica constituem propriedade distinta da do solo, para efeito de exploração ou aproveitamento, e perten- cem à União, garantida ao concessionário a propriedade do produto da lavra”. Ainda neste artigo, o § 1º apresenta imprescindível redação ao prescrever que o exercício da atividade minerária exige autorização ou concessão da União, relativamente a cada caso. Com isso, é interessante levantar um questionamento sobre a possibilidade do Município ter competência para legislar sobre o exercício da atividade minerária, ainda que em caráter suplementar. A resposta parece estar pre- sente no Texto Constitucional, em seu artigo 224, § 4º: “A superveniência de lei federal sobre normas gerais sus- pende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário”. Com isso, pode-se concluir que não existe uma hie- rarquia entre a legislação federal em relação a estadual, ou municipal, ou distrital. De fato, havendo conflitos en- tre leis federais com leis estaduais e municipais, não há que se falar em sobreposição de uma sobre a outra. Não se trata de caso de ilegalidade, mas de inconstitucionali- dade. Por isso que o Texto Constitucional dispõe sobre a suspensão da eficácia da norma, ao invés de revogação da mesma. DEVERES AMBIENTAIS: OS INSTRUMENTOS JURIS- DICIONAIS De nada adiantaria se o Texto Constitucional procla- mar direitos sem afiançá-los por meio de garantias, disso dependendo a própria força normativa da Constituição. Utiliza-se a expressão “remédio constitucional” para de- signar uma espécie de ação judiciária que visa proteger uma categoria especial de direitos públicos subjetivos, as chamadas “liberdades públicas”, ou os direitos humanos fundamentais. As garantias constitucionais, assim, são instrumentos que, embora se assemelham aos próprios direitos huma- nos constitucionais, com eles não se confundem, pois são meios de concretização daqueles. Se a Constituição apresenta, por exemplo, o direito constitucional de livre locomoção (art. 5º, XV, CF/1988), ela também apresenta um instrumento hábil a concretizar tal direito, como é o caso do habeas corpus (art. 5º, LXVIII, idem). Esses “re- médios” são meios de reclamar o restabelecimento de direitos fundamentais violados. A apresentação desses remédios constitucionais, em regra isento de custas, tem por fundamento o que deno- mina-se direito de petição. Não se trata de uma ação judicial específica, mas consiste na garantia atribuída a todo e qualquer cidadão de apresentar petições junto ao Poder Público, o qual é obrigado a dar uma resposta ao seu pleito. O direito de petição é característico de um Estado de Direito. Passaremos a ver esses instrumentos jurídicos, sob o enfoque da matéria de direito ambiental. Na Carta Magna podemos encontrar a previsão de di- versos remédios constitucionais, que apresentam status de ações judiciais. Entre eles destaca-se: A) Mandado de segurança individual: tem previsão no art. 5º, LXIX, da CF/1988, embora também seja regulamentado pela Lei nº 12.016/2009. O manda- do de segurança é o remédio constitucional impe- trado para proteger direito líquido e certo contra ato ilegal ou que seja clara manifestação de abuso do poder pela autoridade coatora, quando não for cabível o uso do habeas corpus ou habeas data (critério residual). Assim, não é cabível mandado de segurança para proteger o direito de locomo- ção, e muito menos para tutelar direito de aces- so à informação. Denomina-se “direito líquido e certo” aquele que não exige prova mediante pe- rícia ou testemunha, apenas com a apresentação de um documento pode-se verificar sua existên- user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce 4 D IR EI TO A M BI EN TA L cia. O mandado de segurança deve ser impetrado até 120 dias do ato resultante de abuso de poder ou ilegalidade, não havendo esse prazo quando se tratar de mandado de segurança preventivo, o qual se entende por ser aquele impetrado quando há receio de abuso de poder ou ilegalidade por parte da vítima. B) Mandado de segurança coletivo: apresenta as mesmas condições para sua impetração do man- dado de segurança simples. A única diferença con- siste no fato de que trata-se de uma medida que tutela direitos coletivos ou difusos. Nesse caso, os detentores do direito não é apenas uma pessoa in- dividual, mas qualquer grupo de pessoas, todas na mesma condição de vítimas de abuso ou ilegalida- de. Segundo o art. 5º, LXX, da CF/1988, o mandado coletivo pode ser impetrado por: a) Partido políti- co, desde que possua pelo menos um represen- tante no Congresso Nacional; ou b) Organização sindical, entidade de classe ou associação, na defe- sa dos interesses de seus membros ou associados, sendo para isso exigido que a associação seja le- galmente constituída e esteja em pleno funciona- mento há pelo menos um ano. C) Mandado de injunção ambiental: o mandado de injunção, nos termos do art. 5º, LXXI, da CF/1988, será concedido sempre que a falta de norma regu- lamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidada- nia. A presença da omissão do Poder Legislativo, sobre a regulamentação de tal direito, é condição essencial para sua proposição, mas o objeto princi- pal do referido mandado é a pretensão (pleito) do mandante. Qualquer pessoa nesta situação pode ajuizar o mandado de injunção. Não confundir com a ação declaratória de inconstitucionalidade por omissão (ADO), característico do exercício do controle de constitucionalidade concentrado, o qual não envolve a decisão sobre um caso concre- to. D) Ação Civil Pública: A CF/1988,em seu artigo 129, inciso III preceitua que cabe ao Ministério Público promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos. Mesmo não estando elencada entre as garantias constitucionais do art. 5º da CF, a ação ci- vil pública vem se transformando em um poderoso meio de combate às lesões dos interesses difusos e coletivos. E) Ação Penal Pública: se estamos diante da ocor- rência de um crime (a Lei nº 9.605/1988 trata so- bre os crimes ambientais e será objeto de nosso estudo em momento posterior), o Ministério Pú- blico também tem um dever de atuar (art. 129, I, CF/1988) para que os autores sejam devidamente responsabilizados. Os crimes ambientais, em regra, estão sujeitos a serem denunciados mediante in- terposição de ação penal pública, independente de representação das vítimas do ocorrido. F) Ação popular: conforme dispõe o art. 5º, LXXIII, da CF/1988, qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultu- ral. É um instrumento que também visa proteger direitos coletivos e difusos, tal qual a ação civil pú- blica, cuja diferença é o rol de legitimados: a ação popular pode ser proposta por qualquer cidadão, enquanto a ação civil pública é competência ex- clusiva do Ministério Público. Aquele que propõe ação popular é isento de custas judiciais e ônus de sucumbência, salvo comprovada má-fé. FUNÇÃO AMBIENTAL PÚBLICA E PRIVADA “Função” é o dever de satisfazer necessidade no in- teresse de outrem. O Poder Público, como um ente ga- rantidor das liberdades e demais direitos humanos, deve buscar satisfazer essas necessidades da população, co- locando-se em uma relação de superioridade em com- paração com os entes da esfera privada. Dá-se a esse fenômeno o nome de “função pública”. Dessa forma, a função pública ambiental traduz-se justamente nisso: é a atuação do Estado, de forma posi- tiva, que tem por escopo satisfazer as necessidades am- bientais de seus governados, pois tais necessidades são consideradas de interesse público. Sobre a matéria ambiental, dispõe o caput do artigo 225 da Constituição que “Todos têm direito ao meio am- biente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo- -se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê- -lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações”. Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público, na forma do § 1º do art. 225, almejar os seguintes objetivos: preservar e restaurar os proces- sos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscali- zar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencial- mente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; controlar a produção, a comercializa- ção e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; promover a educação ambiental em to- dos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente; e também proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a cruelda- de. Esse grande rol de atribuições fazem parte da função ambiental pública, uma vez que são ações que tem por ponto de partida uma atividade estatal. user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce 5 D IR EI TO A M BI EN TA L Considerando o grande grau de importância da ma- téria, bem como os danos irreversíveis pela não preserva- ção do meio ambiente sustentável, é evidente que o Es- tado não tem condições de atuar, sozinho, para satisfazer as necessidades de todos. Por isso, confere-se liberdade para que a iniciativa privada (empresas) possa, também, atuar na gestão ambiental. O objetivo maior da gestão ambiental deve ser a busca permanente de melhoria da qualidade ambiental dos servi- ços, produtos e ambiente de trabalho de qualquer organi- zação pública ou privada. A busca permanente da qualida- de ambiental é, portanto, um processo de aprimoramento constante do sistema de gestão ambiental global de acor- do com a política ambiental estabelecida pela organização. A gestão ambiental empresarial está na ordem do dia da sociedade mundial, principalmente nos países industrializados e também nos países considerados em desenvolvimento. A empresa é a única responsável pela adoção de um SGA e, por conseguinte, de uma política ambiental. Só após sua adoção, cumprimento e confor- midade devem ser seguidos integralmente, como se ti- vessem “força de lei”. FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE Uma das grandes inovações trazidas pela Constitui- ção de 1988 diz respeito à propriedade privada, ou mais especificamente, a adição de uma faceta social. A pro- priedade não deixa de ter seu caráter privado, mas deve, também, cumprir sua função social. Esse é o comando previsto no art. 5º, XXIII, da Lei Maior. O princípio da função social da propriedade impõe que, para o reconhecimento e proteção constitucional do direito do proprietário, sejam observados os interesses da coletividade e a proteção do meio ambiente, não sen- do possível que a propriedade privada, sob o argumento de possuir a dupla natureza de direito fundamental e de elemento da ordem econômica, prepondere, de forma prejudicial, sob os interesses socioambientais. Um exemplo bastante corriqueiro de aplicação prá- tica da função social e ambiental da propriedade diz respeito à manutenção das áreas de preservação per- manente, cobertas ou não por vegetação nativa. Há uma obrigação legal imposta ao proprietário de preservar e/ ou recompor as áreas de preservação permanente, in- dependentemente de ter sido ele o responsável ou não pelo desmatamento e mesmo que jamais tenha existido vegetação na área assim classificada. A própria Constituição estabelece quando um bem imóvel cumpre a sua função social. O artigo 182, § 2º, dispõe que a propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor. O não cumprimento da função social da propriedade urbana enseja na sua desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprova- da pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegura- dos o valor real da indenização e os juros legais (art. 184, § 4º, III, CF/1988). A desapropriação por descumprimento da função so- cial é também aplicável aos imóveis rurais, com a úni- ca diferença residindo no fato de que o pagamento de indenização será feito em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei (art. 185, CF). A observância do princípio da função social e am- biental da propriedade é obrigação propter rem que se prende ao titular do direito real do imóvel. Não importa, portanto, a alegação de queo atual proprietário do imó- vel não é responsável pela ocorrência anterior do dano ambiental. O mesmo raciocínio aplicado à necessidade de respeitar as áreas de preservação permanente pode ser estendido, com as adaptações que se mostrarem ne- cessárias, à imposição de averbação da reserva legal em áreas consideradas como rurais. O princípio da função ambiental da propriedade é, assim, o fundamento constitucional para a imposição coativa ao proprietário de exercer seu direito de proprie- dade em consonância com as diretrizes de proteção do meio ambiente. No atual estágio de evolução social, tor- na necessária a consolidação de uma consciência univer- sal no sentido de que a preservação do meio ambiente é condição crucial à sobrevivência da espécie humana, não se olvidando do fato de que, quando o proprietário promove o uso ordenado e ecológico de seus bens, não haverá apenas a preservação ambiental de uma área res- trita, mas sim a preservação do meio ambiente em sua totalidade. CONCEITO DE MEIO AMBIENTE E SEUS ASPECTOS. MEIO AMBIENTE NATURAL, ARTIFICIAL, CULTURAL E DO TRABALHO. CONCEITO DE RECURSOS NATURAIS E MEIO AMBIENTE COMO BENS AMBIENTAIS. CONCEITO DE BIODIVERSIDADE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL. SIGNIFICADO DE DIREITOS CULTURAIS. MEIO AMBIENTE NATURAL, ARTIFICIAL CULTURAL E DO TRABALHO A expressão “meio ambiente” (milieu ambiance) foi utilizada pela primeira vez pelo naturalista francês Geoffrey de Saint-Hilaire em sua obra “Études progres- sives d´un naturaliste”, de 1835, onde “milieu” significa o lugar onde está ou se movimenta um ser vivo, e “am- biance” designa o que rodeia esse ser. Apesar da ligeira redundância do termo, trata-se apenas de um aspecto de semântica. Mais do que trazer um significado, o ter- mo meio ambiente representa justamente essa mudança de consciência do ser humano em relação ao espaço em que vive, sendo difundido entre as pessoas mais simples e sendo utilizado até mesmo em organismos nacionais e internacionais. Assim, podemos afirmar que, lato sensu, meio am- biente é o conjunto de fatores exteriores que agem de forma permanente sobre os seres vivos, aos quais os organismos devem se adaptar e com os quais têm de interagir para sobreviver. Em sua acepção mais restrita, o meio ambiente apresenta-se como o conjunto de re- user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce 6 D IR EI TO A M BI EN TA L cursos e condições naturais e de influências que atuam sobre os organismos vivos e os seres humanos. Está mais associado a ideia de um “meio ambiente natural”. No direito brasileiro, temos um conceito legal de meio ambiente, disposto no art. 3º, I, da Lei nº. 6.938/1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente. Tal dispositivo diz que meio ambiente é “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. Percebe-se que a legislação aproxima-se mais da acepção de meio ambiente natural. Dessa forma, o conceito de meio ambiente com- preende quatro aspectos, quais sejam: A) Meio ambiente natural: também denominado meio ambiente físico, é constituído pelo solo, a água, o ar atmosférico, a flora; enfim, pela intera- ção dos seres vivos e seu meio, onde se dá a cor- relação recíproca entre as espécies e as relações destas com o ambiente físico que ocupam; B) Meio ambiente artificial: constituído pelo espaço urbano construído; meio ambiente cultural, inte- grado pelo patrimônio histórico, artístico, arqueo- lógico, paisagístico, turístico, que, embora artificial, difere do anterior pelo sentido de valor especial que adquiriu ou de que se impregnou. C) Meio ambiente cultural: constitui o patrimônio cultural brasileiro, que inclui o patrimônio artísti- co, paisagístico, arqueológico, histórico e turístico. São bens produzidos pelo Homem, mas diferem dos bens que compõem o Meio Ambiente Artificial em razão do valor diferenciado que possuem para uma sociedade e seu povo. Encontra-se discipli- nado no artigo 216 da CF: Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjun- to, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I - as formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as criações científicas, artísticas e tec- nológicas; IV - as obras, objetos, documentos, edi- ficações e demais espaços destinados às manifes- tações artístico-culturais; V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, ar- queológico, paleontológico, ecológico e científico. C) Meio ambiente do trabalho: previsto no art. 200, inciso VIII, da CF/1988, compreendido “o conjunto de fatores físicos, climáticos ou qualquer outro que interligados, ou não, estão presentes e envolvem o local de trabalho da pessoa”. Nossa legislação apresenta uma acepção bastante am- pla do referido termo, incumbindo ao intérprete fazer a de- vida adequação desse conceito para atender seus objetivos. CONCEITO DE RECURSOS NATURAIS E MEIO AM- BIENTE COMO BENS AMBIENTAIS Recursos naturais são bens que estão à disposição do Homem e que são usados para a sua sobrevivência, bem-estar e conforto. São os bens extraídos da natureza de forma direta ou indireta, e transformados para a utili- zação na vida do ser humano. Os recursos naturais poderão ser, também, renová- veis ou não renováveis. Recursos renováveis são recur- sos que podem ser renovados, ou seja, não se esgotam. Como exemplo disso temos a energia eólica, obtida atra- vés do vento. Também existe a energia solar, que pode ser acumulada com a utilização de equipamentos espe- ciais, como painéis solares. Por outro lado, existem os recursos naturais não re- nováveis, cuja exploração e utilização um dia chegará ao fim, porque são recursos limitados. Exemplos desses re- cursos são minerais como carvão, ferro, petróleo, xisto, gás natural, ouro, alumínio, etc. Há também os recursos considerados potencialmente renováveis, isso é, que em um primeiro momento, eles apresentam como infinitos, mas que dependem da atua- ção do Homem para manterem tal qualidade. É o caso da água, do solo e das florestas. Todos os recursos são considerados bens ambientais, que integram o meio ambiente. Justamente pelo fato de que há diversos recursos não renováveis que o Estado deve ter cautela com a utilização dos mesmos, impedin- do que tais recursos se esgotem do planeta. Quando dei- xamos de preservar os recursos naturais, ou seja, quando de alguma forma, através da ação humana, portanto, de sua interferência danosa ao sistema ecológico, permiti- mos que esses recursos se percam ou que sua capacida- de produtiva se reduza, ocorre a degradação ambiental. CONCEITO DE BIODIVERSIDADE E DESENVOLVI- MENTO SUSTENTÁVEL Biodiversidade é a grande variedade de formas de vida (animais e vegetais) que são encontradas nos mais diferentes ambientes. A biodiversidade é formada por espécies vivas que compreende plantas, animais e mi- cro-organismos, que povoam desde as profundezas dos oceanos até as mais altas montanhas. É composta por uma enorme diversidade de espécies compreendidas como indivíduos semelhantes, com capacidade para se reproduzir entre si e naturalmente. Essa é a grande diferença entre biodiversidade e os recursos naturais: os primeiros corresponde aos elemen- tos vivos do meio ambiente, enquanto que os recursos naturais são os elementos não-vivos do meio ambiente. A biodiversidade é responsável por garantir o equilí- brio das espécies em todo o mundo, e a ligação estreita que existe entre os seres e o ambiente resulta em sis- temas complexos, os ecossistemas, que reúnem fatores vivos (plantas animais – incluindo o ser humano e micro- -organismos) e por fatores não vivos (luz,água, ar, Sol etc.). Esses fatores encontram-se em relação de equilí- brio, realizando trocas de energia e de matéria. As flores- tas, a caatinga, a tunda, os cerrados, os rios, os oceanos, os lagos são alguns exemplos de ecossistemas. A soma de todos os ecossistemas existentes na Terra forma a biosfera. CONCEITO DE DIREITOS CULTURAIS Como já mencionamos, a cultura também é um ele- mento essencial do meio ambiente, integrando o que denominamos de “meio ambiente cultural”. user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce 7 D IR EI TO A M BI EN TA L Os Direitos Culturais estão previstos no artigo 215 e se- guintes da Constituição brasileira. Segundo o referido disposi- tivo, O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e in- centivará a valorização e a difusão das manifestações culturais. Há uma busca, com essa proteção constitucional, de uma aproximação do indivíduo com a cultura, utilizando- -se como defesa mecanismos gerados pelo Direito. Um exemplo de proteção ao patrimônio cultural está no ins- tituto do tombamento, que é o processo de intervenção da propriedade do particular, com o escopo de preservar bem, vez que este apresenta valor histórico, cultural, ar- queológico, artístico, turístico, paisagístico, entre outros. Os Direitos Culturais, dessa forma, são aqueles afetos às artes, à memória coletiva e ao repasse de saberes, que asseguram a seus titulares o conhecimento e uso do pas- sado, interferência ativa no presente e possibilidade de previsão e decisão de opções referentes ao futuro, visan- do sempre à dignidade da pessoa humana. PRINCÍPIOS DE DIREITO AMBIENTAL. PREVENÇÃO, PRECAUÇÃO, POLUIDOR-PAGADOR E USUÁRIO PAGADOR, COOPERAÇÃO, INFORMAÇÃO, PARTICIPAÇÃO, EQUIDADE INTERGERACIONAL. PRINCÍPIOS DA TUTELA DO PATRIMÔNIO CULTURAL. COOPERAÇÃO, SOLIDARIEDADE, PARTICIPAÇÃO E INFORMAÇÃO, PRESERVAÇÃO DO SÍTIO E PROTEÇÃO DO ENTORNO, USO COMPATÍVEL COM A NATUREZA DO BEM, PRÓ-MONUMENTO, VALORIZAÇÃO SUSTENTÁVEL. Os princípios ambientais podem ser explícitos ou im- plícitos, ou encontrar-se na Constituição Federal, ou no ordenamento legislativo. São eles: a) Meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito fundamental; b) Solidariedade intergeracional; c) Natureza pública da proteção ambiental; d) Desenvolvimento sustentável; e) Poluidor pagador; f) Usuário pagador; g) Prevenção e precaução; h) Participação; i) Ubiquidade ou transversalidade; j) Cooperação internacional; k) Função socioambiental da propriedade. O Princípio do meio ambiente como direito funda- mental, como já vimos, é decorrência do direito à vida, quer sob o enfoque da própria existência física e saúde dos seres humanos, quer quanto ao aspecto da digni- dade dessa existência humana. Reconhecer o meio am- biente como direito fundamental significa que ele deve ser resguardado (forma passiva, abstenção), bem como deverá ser implementado (forma ativa, atuação positiva) pelo Poder Público, para acobertar todas as pessoas. O Princípio da solidariedade intergeracional Busca as- segurar a solidariedade da presente geração em relação às futuras, para que também estas possam usufruir, de forma saudável, dos recursos naturais. Este princípio está previsto no Princípio 2 da Declaração de Estocolmo e no Princípio 3 da ECO-92. O Novo Código Florestal (Lei nº 12.651/2012) ex- pressou este princípio no inciso II, do art. 1º-A. O Princípio da natureza pública da proteção am- biental mantém estreita correlação com o princípio ge- ral, de direito público, da primazia do interesse público sobre o particular, e também, com o princípio do direito administrativo da indisponibilidade do interesse público. Decorre da previsão constitucional que consagra o meio ambiente ecologicamente equilibrado como bem de uso comum do povo incumbindo ao Poder Público e à socie- dade sua preservação e sua proteção (art. 225, CF). O Princípio do desenvolvimento sustentável põe em evidência o fato de que Os recursos ambientais são finitos, tornando-se inadmissível que as atividades eco- nômicas se desenvolvam alheias a essa realidade. O que se busca é a harmonização entre o postulado do desen- volvimento econômico, algo pretendido por todos nós, e a preservação do meio ambiente. A própria Constituição em seu art. 170, VI, estabelece que a ordem econômica também tem como fundamento a defesa e preservação do meio ambiente. O Princípio do poluidor pagador trata-se de impor- tantíssimo princípio, pois reflete um dos fundamentos da responsabilidade civil em matéria ambiental. Muitas ve- zes incompreendido, ele não demarca a tarefa de poluir mediante o pagamento de posterior indenização (como se fosse uma contraprestação). Ao contrário: reforça o comando normativo no sentido de que aquele que polui deve ser responsabilizado pelo seu ato. Assim sendo, esse princípio deve ser compreendido como um mandamento para que o potencial causador de danos ambientais pre- ventivamente arque com os custos relativos à compra de equipamentos de alta tecnologia para prevenir a ocorrên- cia de danos. Trata-se da internalização de custos. Complementar ao princípio anterior, o Princípio do poluidor pagador busca evitar que o “custo zero” dos serviços e recursos naturais acabe por conduzir o siste- ma de marcado a uma exploração desenfreada do meio ambiente. O Princípio da prevenção é um dos mais importan- tes do Direito Ambiental, sendo também considerado seu objetivo fundamental. Foi lançado à categoria de mega-princípio do direito ambiental, constando como princípio nº 15 da ECO-92. O princípio da prevenção re- laciona-se com o perigo concreto de um dano, ou seja, sabe-se que não se deve esperar que ele aconteça, fa- zendo-se necessário, portanto, a adoção de medidas ca- pazes de evitá-lo. Por outro lado, o princípio da precaução Trata-se do perigo abstrato, ou seja, há mero risco, não se saben- do exatamente se o dano ocorrerá ou não. É a incerteza científica, a dúvida, se vai acontecer ou não. Foi proposto na conferência Rio 92 com a seguinte definição: “O Prin- cípio da precaução é a garantia contra os riscos poten- ciais que, de acordo com o estado atual do conhecimen- to, não podem ser ainda identificados.” user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce 8 D IR EI TO A M BI EN TA L O Princípio da participação (informação e educa- ção ambiental) está previsto no art. 225, § 1º, VI, da CF. O cidadão não depende apenas de seus representantes políticos para participar da gestão do meio ambiente. O cidadão tem atuação ativa no que toca a preservação do meio ambiente. Tem ele o direito de ser informado e educado (o que é dever do Poder Público) para que, assim, possa interferir ativamente na gestão ambiental, sendo que isso se concretiza por intermédio, por exem- plo, nas audiências públicas. Quanto maior a participa- ção dos cidadãos nas políticas de preservação ambiental, mais democráticas serão. O Princípio da ubiquidade ou transversalidade visa demonstrar qual é o objeto de proteção do meio am- biente quando tratamos dos direitos humanos, pois toda atividade, legiferante ou política, sobre qualquer tema ou obra, deve levar em conta a preservação da vida e prin- cipalmente, a sua qualidade. Esse princípio dispõe que o objeto de proteção do meio ambiente, localizado no epicentro dos direito humanos, deve ser levado em con- sideração toda vez que uma política, atuação, legislação sobre qualquer tema, atividade, obra, etc., tiver que ser criada. O Princípio da cooperação internacional configu- ra-se no esforço conjunto empreendido pela “aldeia glo- bal” na busca pela preservação do meio ambiente numa escala mundial. O inciso IV, do art. 1º-A, do Novo Código Florestal,em atenção a este princípio, consagra o com- promisso do Brasil com o modelo de desenvolvimento ecologicamente sustentável, com vistas a conciliar o uso produtivo da terra e a contribuição de serviços coletivos das flores e demais formas de vegetação nativa provadas. Por fim, o Princípio da função social da proprieda- de está elencado no artigo 186, II, da CF. O uso da pro- priedade será condicionado ao bem estar social. Ainda o legislador previu, como condição para o cumprimento da função social da propriedade rural, a utilização adequa- da dos recursos naturais disponíveis e a preservação do meio ambiente. PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS DA TUTELA DO MEIO AMBIENTE CULTURAL Entendido como sinônimo de patrimônio cultural, o meio ambiente cultural pode ser definido como o con- junto de bens, práticas sociais, criações, materiais ou imateriais de determinada nação e que, por sua peculiar condição de estabelecer diálogos temporais e espaciais relacionados àquela cultura, servindo de testemunho e de referência às gerações presentes e futuras, constitui valor de pertença pública, merecedor de proteção jurídi- ca e fática por parte do Estado. A doutrina costuma evidenciar alguns princípios es- peciais, voltados para a tutela e proteção do meio am- biente cultural. São eles: 1. Princípio da preservação no próprio sítio e pro- teção ao entorno O Princípio da preservação no próprio sítio e a pro- teção ao entorno constitui um princípio jurídico aplicável à tutela do patrimônio cultural. Sua concepção mais co- nhecida consta na denominada Carta de Veneza, docu- mento produzido em 1964 por ocasião do II Congresso Internacional de Arquitetos e Técnicos dos Monumentos Históricos, realizado pelo Conselho Internacional de Mo- numentos e Sítios Históricos – ICOMOS. Segundo o arti- go 1º do referido documento, “o conceito de monumen- to histórico engloba, não só as criações arquitetônicas isoladamente, mas também os sítios, urbanos ou rurais, nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civili- zação particular, de uma fase significativa da evolução ou do progresso, ou algum acontecimento histórico”. Este conceito é aplicável, quer às grandes criações, quer às realizações mais modestas que tenham adquirido signifi- cado cultural com o passar do tempo. O entorno de uma edificação, um sítio ou uma área de patrimônio cultural se define como o meio caracterís- tico seja de natureza reduzida ou extensa, que forma par- te de – ou contribui para – seu significado e caráter pe- culiar. Mas, além dos aspectos físicos e visuais, o entorno supõe uma interação com o ambiente natural; práticas sociais ou espirituais passadas ou presentes, costumes, conhecimentos tradicionais, usos ou atividades, e outros aspectos do patrimônio cultural intangível que criaram e formaram o espaço, assim como o contexto atual e dinâ- mico de natureza cultural, social e econômica. 2. Princípio do uso compatível com a natureza do bem Esse princípio, aplicável preferencialmente aos bens tangíveis, pode ser desdobrado em duas vertentes. Em primeiro lugar, a de que a todo bem cultural há de ser dado um uso (nada melhor do que o não uso para pro- vocar a deterioração de um bem cultural). Em segundo, a de que esse uso se harmonize com as características essenciais do bem. No Brasil, essas ideias vêm sendo disseminadas na teoria e prática conservacionista, embora ainda com grande dificuldade de concretização quando a proprie- dade de bem imóvel recai em particular. Nesses casos, tantas e tantas vezes o que se verifica é que o particular deixa de conferir um uso ao imóvel para justamente pro- vocar sua deterioração. Não sem razão a Lei de Crimes Ambientais tipificou a conduta de quem deteriora bem especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial. Por óbvio que a utilização não é regra geral. Por exemplo, a preservação de um sítio arqueológico pres- supõe sua intangibilidade, ao passo que sua descober- ta implica na realização de escavações que acabam por revolver o solo em busca dos achados de interesse dos pesquisadores. 3. Princípio pró-monumento Esse princípio está expresso na Convenção da Unesco para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Na- tural, assinada em Paris em 23-11-72, assinada em Paris em 23-11-72, aprovada pelo Decreto Legislativo 74, de 30-06-1977 e incorporada ao direito pátrio por força do Decreto 80.978, de 12-12-1977. user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce 9 D IR EI TO A M BI EN TA L Reza o art. 12 da Convenção: “O fato de que um bem do patrimônio cultural ou natural não haja sido incluído numa ou outra das duas listas mencionadas nos parágra- fos 2 e 4 do art. 11 não significará, em absoluto, que ele não tenha valor universal excepcional para fins distintos dos que resultam da inclusão nessas listas”. No direito brasileiro, em que pese o abismo existente entre a legislação, que consagra a mais ampla tutela ao meio ambiente, nele inserida a dimensão cultural, e a ju- risprudência, ainda em muito atada ao chamado “sistema proprietário”, já é possível identificar uma nova aragem em alguns julgados chancelando uma espécie de benefí- cio da dúvida, ao possibilitar que se busque no Judiciário a tutela de bens ainda não reconhecidos como culturais pelo Poder Executivo ou Legislativo. 4. Princípio da valorização sustentável Desenvolvimento sustentável é definido pela Comis- são Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, no famoso “Relatório Brundtland”, como aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades. Enquanto processo de transfor- mação, “a exploração dos recursos, a direção dos inves- timentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional se harmonizam e reforçam o potencial presente e futuro, a fim de atender às necessi- dades e aspirações humanas”. O princípio do desenvolvimento sustentável parte do pressuposto de que a sociedade humana não se limita às nossas gerações, sendo que a exauribilidade é uma característica dos recursos naturais, ao passo que o pere- cimento, a descaracterização, o esquecimento são males que assolam os recursos culturais. É por isso que se alia a essa ideia a de consumo sustentável. Sem uma alte- ração nos padrões de consumo, inclusive do consumo cultural, a preservação dos recursos essenciais ao com- pleto desenvolvimento humano será difícil, quando não impossível. No plano legislativo, a primeira referência a esse prin- cípio surgiu no Brasil com a Lei 6.803/80 que, no art. 1º, falava em compatibilização das atividades industriais com o meio ambiente. Também a Lei 6.938/81, ao insti- tuir a Política Nacional do Meio Ambiente com a previsão da avaliação de impactos ambientais, o acolhe. Na legis- lação que define a Política Nacional da Educação Am- biental, o princípio aparece pelo menos três vezes: no art. 1º, inserido no próprio conceito de educação ambiental; no art. 4º, inc. II, como princípio básico dessa política, e no art. 5º, inc. V, dentre os seus objetivos. Assim como a produção há de ser sustentável, tam- bém o consumo deve sê-lo. Sem uma alteração nos padrões de consumo, inclusive do consumo cultural, a preservação dos recursos essenciais ao completo desen- volvimento humano será difícil, quando não impossível. EXERCÍCIO COMENTADO 1 - (TRF2 – JUIZ FEDERAL – CESPE – 2013) Um pesca- dor artesanal profissional ajuizou ação indenizatória por danos materiais e morais contra empresa exploradora de petróleo, alegando prejuízos decorrentes de vazamento de óleo combustível em águas marinhas onde pescava. Provou-se que o rompimento do oleoduto fora causado por deslizamentos de terra decorrentes de chuvas tor- renciais. Essas mesmas chuvas causaram o rompimento das barreiras de contenção instaladas pela empresa ao tentar remediaro problema. O vazamento de óleo re- sultou na mortandade da fauna aquática e na imediata proibição de pesca na região, imposta pelo IBAMA, com duração de seis meses. Na fase de provas, restou cabal- mente comprovada a regularidade das instalações da empresa segundo as melhores tecnologias disponíveis e a idoneidade dos esforços para reparação do problema. Na situação hipotética descrita: a) por ter natureza punitiva, a condenação por danos morais será inviável se, no caso, for reconhecida a au- sência de dolo ou culpa do réu, ou seja, ausência de ilícito a ser punido. b) a força maior implica necessariamente ausência de culpa e, por isso, se for reconhecida processualmente, afastará a obrigação de indenizar. c) a pretensão indenizatória do pescador será imprescritível, porque está relacionada à ocorrência de dano ambiental. d) o princípio do poluidor-pagador é, em tese, aplicável ao caso porque, embora não esteja positivado na le- gislação brasileira, está previsto em documentos inter- nacionais de que o Brasil é signatário. e) não é cabível a inversão do ônus da prova quanto ao an debeatur e ao quantum debeatur do dano material, cabendo ao pescador provar também a ocorrência, mas não o quantum, do dano moral pretendido. Resposta: Letra E. A letra A está errada, a condenação por danos morais não possui natureza punitiva, uma vez que sua finalidade primordial é a reparação (ou compensação, quando a primeira não for possível) do dano. Há autores que não admitem o caráter punitivo em razão da inexistência de norma que preveja esta espécie de sanção. A letra B está errada, a força maior tem por finalidade a exclusão do nexo causal entre a conduta e o resultado danoso. Ela não tem o condão, por si só, de afastar a obrigação de indenizar, tratan- do-se de dano ambiental, hipótese em que temos a responsabilidade objetiva do infrator. A letra C está er- rada, A pretensão do pescador tem caráter individual, uma vez que ele é o único interessado pela proteção das águas onde ocorreu derramamento de óleo. Des- sa forma, incide sobre a pretensão do pescador o pra- zo prescricional do CC. O que vigora no âmbito do STJ é que a reparação por danos ambientais, pelo fato do meio ambiente ser um direito difuso e coletivo, é im- prescritível (AgRg no REsp nº 1150.479). A letra D está errada, O princípio do poluidor pagador encontra-se positivado no ordenamento, mais especificamente no art. 4º, VII, da Lei nº 6.938/1981. user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce 10 D IR EI TO A M BI EN TA L POLÍTICA NACIONAL DE MEIO AMBIENTE. OBJETIVOS. INSTRUMENTOS DE PROTEÇÃO (TÉCNICOS E ECONÔMICOS). SISNAMA. ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO. LEI Nº 6.938/1981 E SUAS ALTERAÇÕES. DECRETO Nº 99.274/1990 E SUAS ALTERAÇÕES. RESOLUÇÃO DO CONAMA Nº 1/1986 E SUAS ALTERAÇÕES (RELATÓRIO DE IMPACTO AMBIENTAL - EIA- RIMA). RESOLUÇÃO DO CONAMA Nº 237 (LICENCIAMENTO AMBIENTAL). RESOLUÇÃO DO CONAMA Nº 378 (EMPREENDIMENTOS POTENCIALMENTE CAUSADORES DE IMPACTO AMBIENTAL NACIONAL OU REGIONAL). LEI Nº 6.938/1981 E SUAS ALTERAÇÕES A Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, é a lei que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação. Conforme dispõe o art. 2º, A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, vi- sando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios: I - ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo; II - racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar; III - planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais; IV - proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas; V - controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras; VI - incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e a proteção dos recur- sos ambientais; VII - acompanhamento do estado da qualidade am- biental; VIII - recuperação de áreas degradadas; IX - proteção de áreas ameaçadas de degradação; X - educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando ca- pacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente. O artigo 3º traz alguns conceitos importantes para compreender a PNMA. Meio ambiente é o conjunto de condições, leis, in- fluências e interações de ordem física, química e bioló- gica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas. Degradação da qualidade ambiental é a alteração ad- versa das características do meio ambiente; Poluição é a degradação da qualidade ambiental re- sultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos. Poluidor é a pessoa física ou jurídica, de direito públi- co ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental. Recursos ambientais é a atmosfera, as águas interio- res, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar ter- ritorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora. 1. Dos objetivos da política nacional do meio am- biente Os objetivos da PNMA estão dispostos no artigo 4º. A Política Nacional do Meio Ambiente visará: I - à compatibilização do desenvolvimento econômi- co-social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico; II - à definição de áreas prioritárias de ação governa- mental relativa à qualidade e ao equilíbrio ecológico, atendendo aos interesses da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios; III - ao estabelecimento de critérios e padrões de qua- lidade ambiental e de normas relativas ao uso e ma- nejo de recursos ambientais; IV - ao desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais orientadas para o uso racional de recursos ambientais; V - à difusão de tecnologias de manejo do meio am- biente, à divulgação de dados e informações ambien- tais e à formação de uma consciência pública sobre a necessidade de preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico; VI - à preservação e restauração dos recursos ambien- tais com vistas à sua utilização racional e disponibi- lidade permanente, concorrendo para a manutenção do equilíbrio ecológico propício à vida; VII - à imposição, ao poluidor e ao predador, da obri- gação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recur- sos ambientais com fins econômicos. As diretrizes da Política Nacional do Meio Ambien- te serão formuladas em normas e planos, destinados a orientar a ação dos Governos da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios no que se relaciona com a preservação da qualidade ambiental e manutenção do equilíbrio ecológico, observados os prin- cípios estabelecidos no art. 2º desta Lei. user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce 11 D IR EI TO A M BI EN TA L 2. Do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SIS- NAMA) Dispõe o artigo 6º da referida Lei da PNMA que os órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Fe- deral, dos Territórios e dos Municípios, bem como as fun- dações instituídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteçãoe melhoria da qualidade ambiental, constituirão o Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, pos- suindo a seguinte estrutura: I - Órgão Superior: o Conselho de Governo, com a função de assessorar o Presidente da República na formulação da política nacional e nas diretrizes go- vernamentais para o meio ambiente e os recursos am- bientais; II - Órgão Consultivo e deliberativo: o Conselho Nacio- nal do Meio Ambiente (CONAMA), com a finalidade de assessorar, estudar e propor ao Conselho de Gover- no, diretrizes de políticas governamentais para o meio ambiente e os recursos naturais e deliberar, no âmbito de sua competência, sobre normas e padrões compatí- veis com o meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida; III - Órgão Central: a Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República, com a finalidade de plane- jar, coordenar, supervisionar e controlar, como órgão federal, a política nacional e as diretrizes governa- mentais fixadas para o meio ambiente; IV - Órgãos Executores: o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBA- MA e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Bio- diversidade - Instituto Chico Mendes, com a finalidade de executar e fazer executar a política e as diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente, de acordo com as respectivas competências; V - Órgãos Seccionais: os órgãos ou entidades estadu- ais responsáveis pela execução de programas, projetos e pelo controle e fiscalização de atividades capazes de provocar a degradação ambiental; VI - Órgãos Locais: os órgãos ou entidades municipais, responsáveis pelo controle e fiscalização dessas ativi- dades, nas suas respectivas jurisdições; O Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, é o órgão encarregado de, nos termos do artigo 8º, es- tabelecer, mediante proposta do IBAMA, normas e cri- térios para o licenciamento de atividades efetiva ou po- tencialmente poluidoras, a ser concedido pelos Estados e supervisionado pelo IBAMA; determinar, quando julgar necessário, a realização de estudos das alternativas e das possíveis consequências ambientais de projetos públicos ou privados, requisitando aos órgãos federais, estaduais e municipais, bem assim a entidades privadas, as infor- mações indispensáveis para apreciação dos estudos de impacto ambiental, e respectivos relatórios, no caso de obras ou atividades de significativa degradação ambien- tal, especialmente nas áreas consideradas patrimônio na- cional; determinar, mediante representação do IBAMA, a perda ou restrição de benefícios fiscais concedidos pelo Poder Público, em caráter geral ou condicional, e a perda ou suspensão de participação em linhas de financiamen- to em estabelecimentos oficiais de crédito; estabelecer normas, critérios e padrões relativos ao controle e à ma- nutenção da qualidade do meio ambiente com vistas ao uso racional dos recursos ambientais, principalmente os hídricos, entre outras atribuições. 3. Dos instrumentos da PNMA O artigo 9º elenca os instrumentos utilizados para a promoção concreta da política nacional do meio am- biente. São eles: I - o estabelecimento de padrões de qualidade am- biental; II - o zoneamento ambiental; III - a avaliação de impactos ambientais; IV - o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras; V - os incentivos à produção e instalação de equipa- mentos e a criação ou absorção de tecnologia, volta- dos para a melhoria da qualidade ambiental; VI - a criação de espaços territoriais especialmen- te protegidos pelo Poder Público federal, estadual e municipal, tais como áreas de proteção ambiental, de relevante interesse ecológico e reservas extrativistas; VII - o sistema nacional de informações sobre o meio ambiente; VIII - o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Ins- trumentos de Defesa Ambiental; IX - as penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das medidas necessárias à preser- vação ou correção da degradação ambiental. X - a instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser divulgado anualmente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Re- nováveis - IBAMA; XI - a garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente, obrigando-se o Poder Público a produzí-las, quando inexistentes; XII - o Cadastro Técnico Federal de atividades poten- cialmente poluidoras e/ou utilizadoras dos recursos ambientais. XIII - instrumentos econômicos, como concessão flo- restal, servidão ambiental, seguro ambiental e outros. O artigo 9º-A e seguintes, introduzidos pela Lei nº 12.651/2012, traz um instrumento novo, que diz respei- to a limitação do uso da propriedade, no todo ou em parte, para preservar, conservar ou recuperar os recur- sos ambientais existentes, instituindo assim a servidão ambiental. Devem ser objeto de averbação na matrícula do imóvel no registro de imóveis competente: I - o ins- trumento ou termo de instituição da servidão ambiental; II - o contrato de alienação, cessão ou transferência da servidão ambiental (art. 9º-A, § 4º). A servidão ambiental poderá ser onerosa ou gratuita, temporária ou perpétua, com prazo mínimo de 15 (quin- ze) anos. O detentor da servidão ambiental poderá alie- ná-la, cedê-la ou transferi-la, total ou parcialmente, por prazo determinado ou em caráter definitivo, em favor de outro proprietário ou de entidade pública ou privada que tenha a conservação ambiental como fim social. A construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadores de recur- sos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce 12 D IR EI TO A M BI EN TA L capazes, sob qualquer forma, de causar degradação am- biental dependerão de prévio licenciamento ambiental. Os pedidos de licenciamento, sua renovação e a respec- tiva concessão serão publicados no jornal oficial, bem como em periódico regional ou local de grande circu- lação, ou em meio eletrônico de comunicação mantido pelo órgão ambiental competente (art. 10, caput e § 1º). O Poder Executivo incentivará as atividades voltadas ao meio ambiente, visando: I - ao desenvolvimento, no País, de pesquisas e proces- sos tecnológicos destinados a reduzir a degradação da qualidade ambiental; II - à fabricação de equipamentos antipoluidores; III - a outras iniciativas que propiciem a racionaliza- ção do uso de recursos ambientais (art. 13). O artigo 14, por sua vez, trata das sanções aplicá- veis pelo não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental. Tais transgressões sujeitam os infratores: I - à multa simples ou diária, nos valores correspon- dentes, no mínimo, a 10 (dez) e, no máximo, a 1.000 (mil) Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional - ORTNs, agravada em casos de reincidência específi- ca, conforme dispuser o regulamento, vedada a sua cobrança pela União se já tiver sido aplicada pelo Es- tado, Distrito Federal, Territórios ou pelos Municípios. II - à perda ou restrição de incentivos e benefícios fis- cais concedidos pelo Poder Público; III - à perda ou suspensão de participação em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de cré- dito; IV - à suspensão de sua atividade. DECRETO Nº 99.274/1990 O Decreto nº 99.274, de 6 de junho de 1990, é o de- creto que regulamenta a Lei nº 6.902, de 27 de abril de 1981, e a Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dis- põem, respectivamente sobre a criação de Estações Eco- lógicas e Áreas de Proteção Ambiental e sobre a Política Nacional doMeio Ambiente, e dá outras providências. Segundo o artigo 1º do Decreto, Na execução da Po- lítica Nacional do Meio Ambiente cumpre ao Poder Pú- blico, nos seus diferentes níveis de governo: I - manter a fiscalização permanente dos recursos ambientais, visando à compatibilização do desenvol- vimento econômico com a proteção do meio ambiente e do equilíbrio ecológico; II - proteger as áreas representativas de ecossistemas mediante a implantação de unidades de conservação e preservação ecológica; III - manter, através de órgãos especializados da Ad- ministração Pública, o controle permanente das ativi- dades potencial ou efetivamente poluidoras, de modo a compatibilizá-las com os critérios vigentes de prote- ção ambiental; IV - incentivar o estudo e a pesquisa de tecnologias para o uso racional e a proteção dos recursos ambien- tais, utilizando nesse sentido os planos e programas regionais ou setoriais de desenvolvimento industrial e agrícola; V - implantar, nas áreas críticas de poluição, um sis- tema permanente de acompanhamento dos índices locais de qualidade ambiental; VI - identificar e informar, aos órgãos e entidades do Sistema Nacional do Meio Ambiente, a existência de áreas degradadas ou ameaçadas de degradação, pro- pondo medidas para sua recuperação; e VII - orientar a educação, em todos os níveis, para a participação ativa do cidadão e da comunidade na defesa do meio ambiente, cuidando para que os cur- rículos escolares das diversas matérias obrigatórias contemplem o estudo da ecologia. O CONAMA é estruturado da seguinte forma (art. 4º): I - Plenário; II - (Revogado pelo Decreto nº 9.806, de 2019) III - Comitê de Integração de Políticas Ambientais; IV - Câmaras Técnicas; V - Grupos de Trabalho; e VI - Grupos Assessores. O Plenário do CONAMA reunir-se-á, em caráter ordi- nário, a cada três meses, no Distrito Federal, e, extraordi- nariamente, sempre que convocado pelo seu Presidente, por iniciativa própria ou a requerimento de pelo menos dois terços de seus membros. A reunião será em sessão pública, com a presença de pelo menos a metade mais um dos seus membros e deliberará por maioria simples dos membros presentes no Plenário, cabendo ao Presi- dente da sessão, além do voto pessoal, o de qualidade. O Conama poderá dividir-se em Câmaras Técnicas, para examinar e relatar ao Plenário assuntos de sua com- petência. A competência, a composição e o prazo de fun- cionamento de cada uma das Câmaras Técnicas constará do ato do Conama que a criar. Para atender ao suporte técnico e administrativo do CONAMA, a Secretaria-Executiva do Ministério do Meio Ambiente deverá: I - solicitar colaboração, quando necessário, aos ór- gãos específicos singulares, ao Gabinete e às entida- des vinculadas ao Ministério do Meio Ambiente; II - coordenar, por meio do Sistema Nacional de In- formações sobre o Meio Ambiente-SINIMA, o inter- câmbio de informações entre os órgãos integrantes do SISNAMA; e III - promover a publicação e divulgação dos atos do CONAMA (art. 11). A atuação do Sisnama efetivar-se-á mediante articu- lação coordenada dos órgãos e entidades que o consti- tuem, observado o seguinte: I - o acesso da opinião pública às informações relati- vas às agressões ao meio ambiente e às ações de pro- teção ambiental, na forma estabelecida pelo Conama; II - caberá aos Estados, ao Distrito Federal e aos Mu- nicípios a regionalização das medidas emanadas do Sisnama, elaborando normas e padrões supletivos e complementares (art. 14). As licenças, de competência do Poder Executivo, es- tão dispostas no artigo 19 do Decreto. São elas: user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce 13 D IR EI TO A M BI EN TA L I - Licença Prévia (LP), na fase preliminar do plane- jamento de atividade, contendo requisitos básicos a serem atendidos nas fases de localização, instalação e operação, observados os planos municipais, estaduais ou federais de uso do solo; II - Licença de Instalação (LI), autorizando o início da implantação, de acordo com as especificações cons- tantes do Projeto Executivo aprovado; e III - Licença de Operação (LO), autorizando, após as verificações necessárias, o início da atividade licencia- da e o funcionamento de seus equipamentos de con- trole de poluição, de acordo com o previsto nas Licen- ças Prévia e de Instalação. Os prazos para a concessão das licenças serão fixados pelo Conama, observada a natureza técnica da atividade. O artigo 20, por sua vez, prescreve sobre o recurso administrativo, sendo cabível: I - para o Secretário de Assuntos Estratégicos, das decisões da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN); e II - para o Secretário do Meio Ambiente, nos casos de licenciamento da competência privativa do Ibama, in- clusive nos de denegação de certificado homologató- rio. RESOLUÇÕES DO CONAMA A seguir, traremos o texto de algumas das principais resoluções do CONAMA. Seu conteúdo é bastante auto didático, e as questões de concurso público procuram exigir que o candidato tenha conhecimento literal de seus dispositivos. Por isso, não há a necessidade de traçar comentários sobre tais Resoluções. 1. Resolução CONAMA nº 1/1986 (Impactos Am- bientais) O CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE - IBAMA, no uso das atribuições que lhe confere o artigo 48 do Decreto nº 88.351, de 1º de junho de 1983, para efetivo exercício das responsabilidades que lhe são atribuídas pelo artigo 18 do mesmo decreto, e Considerando a necessidade de se estabelecerem as definições, as responsabilidades, os critérios básicos e as diretrizes gerais para uso e implementação da Avaliação de Impacto Ambiental como um dos instrumentos da Polí- tica Nacional do Meio Ambiente, RESOLVE: Art. 1º - Para efeito desta Resolução, considera-se impacto ambiental qualquer alteração das proprieda- des físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou in- diretamente, afetam: I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população; II - as atividades sociais e econômicas; III - a biota; IV - as condições estéticas e sanitárias do meio am- biente; V - a qualidade dos recursos ambientais. Art. 2º - Dependerá de elaboração de estudo de im- pacto ambiental e respectivo relatório de impacto am- biental - RIMA, a serem submetidos à aprovação do órgão estadual competente, e do IBAMA em caráter supletivo, o licenciamento de atividades modificado- ras do meio ambiente, tais como I - Estradas de rodagem com duas ou mais faixas de rolamento; II - Ferrovias III - Portos e terminais de minério, petróleo e produtos químicos; IV - Aeroportos, conforme definidos pelo inciso 1, arti- go 48, do Decreto-Lei nº 32, de 18.11.66; V - Oleodutos, gasodutos, minerodutos, troncos cole- tores e emissários de esgotos sanitários; VI - Linhas de transmissão de energia elétrica, acima de 230KV; VII - Obras hidráulicas para exploração de recursos hídricos, tais como: barragem para fins hidrelétricos, acima de 10MW, de saneamento ou de irrigação, abertura de canais para navegação, drenagem e irri- gação, retificação de cursos d’água, abertura de bar- ras e embocaduras, transposição de bacias, diques; VIII - Extração de combustível fóssil (petróleo, xisto, carvão); IX - Extração de minério, inclusive os da classe II, defi- nidas no Código de Mineração; X - Aterros sanitários, processamento e destino final de resíduos tóxicos ou perigosos; Xl - Usinas de geração de eletricidade, qualquer que seja a fonte de energia primária, acima de 10MW; XII - Complexo e unidades industriais e agro-indus- triais (petroquímicos, siderúrgicos, cloroquímicos, des- tilarias de álcool, hulha, extração e cultivo de recursos hídricos); XIII - Distritos industriais e zonas estritamente indus- triais - ZEI; XIV - Exploração econômica
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