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PEDAGOGIA ALFABETIZAÇÃO E LINGUÍSTICA Andréa Aníbia Ferreira Wolff Natália Kneipp Ribeiro Gonçalves http://unar.info/ead2 ALFABETIZAÇÃO E LINGUÍSTICA Autora Profª. Natália Kneipp Ribeiro Gonçalves Reformulação Profª. Andréa Aníbia Ferreira 3 SUMÁRIO UNIDADE 01. CAMINHOS INICIAIS DA ALFABETIZAÇÃO ............................................................... 2 UNIDADE 02. OS ESTUDOS LINGUÍSTICOS NA ALFABETIZAÇÃO ................................................... 7 UNIDADE 03. O PONTO DE PARTIDA DO PROFESSOR ALFABETIZADOR ..................................... 12 UNIDADE 04. CARTILHAS ............................................................................................................. 17 UNIDADE 05. O SISTEMA FONÉTICO ........................................................................................... 22 UNIDADE 06. MODO E PONTO DE ARTICULAÇÃO DAS CONSOANTES ........................................ 27 UNIDADE 07. O PAPEL DAS CAVIDADES BUCAL E NASAL E DAS CORDAS VOCAIS E QUADRO ILUSTRATIVO DA CLASSIFICAÇÃO DAS CONSOANTES ................................................................. 32 UNIDADE 08. AS VOGAIS DA LÍNGUA PORTUGUESA .................................................................. 37 UNIDADE 09. TONICIDADES E SEMIVOGAIS ................................................................................ 42 UNIDADE 10. O SISTEMA ORTOGRÁFICO DO PORTUGUÊS ......................................................... 47 UNIDADE 11. RELAÇÕES DO SISTEMA GRÁFICO. ........................................................................ 52 UNIDADE 12. ORALIDADE NO ENSINO. ....................................................................................... 57 UNIDADE 13. COMO TRABALHAR A ORALIDADE NO ENSINO. .................................................... 62 UNIDADE 14. DADOS OBSERVADOS NA REALIDADE ORAL DAS CRIANÇAS E AS VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS. ............................................................................................................................. 67 UNIDADE 15. O NÃO TEXTO E SUAS CONSEQUÊNCIAS NA ALFABETIZAÇÃO. ............................. 72 UNIDADE 16. DO NÃO TEXTO AO TEXTO NA ALFABETIZAÇÃO. .................................................. 77 UNIDADE 17. COERÊNCIA E COESÃO TEXTUAL. .......................................................................... 82 UNIDADE 18. MUDANÇAS NAS PESQUISAS RELACIONADOS AO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO – OUTRAS IDEIAS – NOVAS PRÁTICAS”. ...................................................................................... 87 UNIDADE 19. EMÍLIA FERREIRO, A ESTUDIOSA QUE REVOLUCIONOU A ALFABETIZAÇÃO......... 92 UNIDADE 20. ALFABETIZAÇÃO: TEORIA E PRÁTICA - REFLETINDO SOBRE OS CAMINHOS DE SER UM PROFESSOR ALFABETIZADOR. .............................................................................................. 97 2 UNIDADE 01. CAMINHOS INICIAIS DA ALFABETIZAÇÃO CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos Propiciar conhecimentos a respeito dos métodos de alfabetização. A discussão acerca do tema alfabetização, nos últimos anos, vem crescendo de maneira significativa. Muitas são as produções sobre a problemática da alfabetização no Brasil, o fracasso escolar e as propostas de novos caminhos que direcionem e superem os problemas relativos à alfabetização. ESTUDANDO E REFLETINDO Cabe, aqui, um questionamento sobre quais concepções regem e fundamentam essas pesquisas que vêm sendo realizadas, pois, refletir sobre esta fundamentação pressupõe refletir, principalmente, sobre o próprio significado da alfabetização. Além disso, é importante destacar que as diferentes concepções acerca do processo de alfabetização não apresentam caráter estático, nem desaparecem pelo fato de surgirem outras; ao contrário, interagem em uma relação dialética. As concepções sobre a alfabetização não se desvinculam, em momento algum, do quadro político e econômico da época, sofrendo influências do contexto social e acompanhando a evolução histórico-cultural vivenciada pela sociedade ao longo do tempo. 3 Esse fato é discutido por Tanaka et al (1994), ao considerarem tarefa difícil uma conceituação sobre a alfabetização, uma vez esse termo englobar diversas significações, seja pela sua evolução histórica de conceitos, seja pela complexidade do próprio processo. Inicialmente, percebemos que essa definição foi delimitada pelo significado etimológico do termo alfabetização. Nessa perspectiva o significado do termo é aquisição do alfabeto, ou ainda, em outras palavras, aquisição da língua escrita. Por esta concepção, o domínio do sistema alfabético torna-se primordial, acreditando-se que esse domínio possibilita e garante a aprendizagem da leitura e escrita, a qual deve ocorrer formalmente no período inicial de escolarização (seja para crianças ou para adultos). Essas ideias acabaram embasando a concepção da língua como um sistema pautado na codificação e decodificação, fazendo com que a prática pedagógica fosse compreendida e expressa pelo uso dos métodos denominados tradicionais: Analítico, Sintético e Analítico-sintético (GRAY, 1957), o que pressupõe, segundo Gumperz (1991), uma concepção de alfabetização instrumental. 1 - Método sintético O método silábico surgiu no século XVIII como proposta de superação da soletração e deu inicio ao processo de alfabetização a partir da silaba. Nesse método acredita-se que no inicio da aprendizagem deve-se começar do mais fácil para o mais difícil, do mais simples para o mais complexo. Ou seja, primeiro inicia-se com palavras depois frase por ultimo texto. Com a modalidade dos métodos sintéticos, pode-se apresentar os processos alfabéticos, fônicos e o silábico. O método sintético pode ser dividido em: 4 1.1 Alfabeto ou Soletração = Esse método parte da letra isolada para depois juntá-la a outras, através das sílabas, é um dos mais antigos métodos de alfabetização, tem como ponto de partida a decoração das letras do alfabeto, depois as famílias das sílabas e por último as palavras. 1.2 Fônico = Consistem na memorização dos sons das letras antes de fazer a associação com os desenhos que as representam, ou seja, a criança só vai ter contato com a grafia após fixar os sons. 1.3 Silábico = Este método tem como característica a somatória que inicia pelas vogais e pelos encontros vocálicos, depois, ocorre a apresentação do som e da grafia das consoantes. Em seguida, parte-se da junção das consoantes com as vogais formando-se sílabas simples. E por fim os encontros consonantais e as sílabas complexas são apresentados. Processos: * Fonético Letras * Silábico Silabas unidades desprovida de sentido. * Fônicos Fonemas Fragmento significante 2. Métodos analíticos Segue como contexto contrário ao sintético uma vez, que partem de unidades de analise maiores para depois decompô-las em unidades cada vez menores, partem de palavras, orações e conto (textos) para as letras e silabas. O método analítico é dividido em: 5 2.1 Palavração = Neste método primeiro o aluno aprende as palavras só então se faz a separação em sílabas para a formação de novas palavras. Dessa forma é proposto que ela acompanhe pequenos textos. 2.2 Sentenciação = Neste método o aluno aprende uma sentença, ou seja, uma frase de acordo com o interesse de todos os alunos, que em seguida é dividida em palavras que novamente serão divididas em sílabas que uma vez aprendidas serão usadas na leitura de novas palavras. 2.3 Conto ou texto = Neste método o professor apresenta ao aluno um texto que é lido em voz alta após a leitura é destaca uma frase, uma palavra, até chegar às sílabas ou às letras para formar novas palavras, aideia fundamental é fazer com que a criança entenda que ler é descobrir o que está escrito. Processos: * Palavração Palavras * Sentenciação Frase unidades significativas * Conto História Resgate do significado. 3. O método analítico-sintético ou misto Esse método surgiu para responder as criticas feita aos métodos sintéticos e aos métodos analíticos. Segundo Morais (2006, p. 59), o método misto e o mais usado atualmente e podemos encontra- lo em duas formas: uma que parte de palavras ou frases e o professor dirige a analise para os elementos que compõem essas estruturas linguísticas complexas (método analítico sintético de orientação global) e a outra que parte das vogais, as quais são associadas rapidamente as consoantes formando silabas, as quais combinadas 6 uma as outras originam as palavras (método analítico- sintético de orientação sintética). Criança de 4 anos, da Escola Criarte, em São Paulo, mostra a lista de músicas para sua festa. Fonte: Revista Escola. A ênfase recai, portanto, sobre o desenvolvimento das habilidades técnicas, onde a forma precede o conteúdo. Assim, segundo essa visão de alfabetização, é mais importante grafar as palavras corretamente (desde a primeira vez), identificar suas letras, sílabas e sons, ainda que a escrita não possua significado para o aprendiz, nem intencionalidade ou função social. BUSCANDO CONHECIMENTO • O caminho para alfabetizar http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/alfabetizacao- inicial/alfabetizacao-formar-leitores-escritores-618195.shtml • “Toda conduta é ditada por um interesse; toda ação consiste em atingir o objetivo que é mais urgente naquele momento determinado”. http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0177/aberto/mt_243235.shtml http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/alfabetizacao-inicial/alfabetizacao-formar-leitores-escritores-618195.shtml http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/alfabetizacao-inicial/alfabetizacao-formar-leitores-escritores-618195.shtml http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0177/aberto/mt_243235.shtml 7 UNIDADE 02. OS ESTUDOS LINGUÍSTICOS NA ALFABETIZAÇÃO CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Nesta unidade, objetivamos discutir a importância da Linguística na alfabetização. Para tanto, partimos do conceito de Linguística, como ciência que estuda as línguas. A variação linguística é tema da maior importância, sobretudo no início da escolarização, quando a criança é formalmente introduzida no ensino da linguagem escrita. ESTUDANDO E REFLETINDO Linguística é a ciência que estuda a linguagem verbal humana. Como toda a ciência, ela baseia-se em observações conduzidas através de métodos, com fundamentação em uma teoria. A ligação entre a Linguística e o processo da aprendizagem da leitura e da escrita, que são elementos paralelos, mas, ao mesmo tempo interdependentes. Escrever e ler são atos linguísticos, daí a necessidade de compreendermos a natureza da fala e da escrita, sua função e usos e as implicações no processo de alfabetização. Vale dizer, entretanto, que a realidade com que nos deparamos, nas salas de aula e nos livros didáticos, é outra, ou seja, não constatamos conceitos e pressupostos linguísticos consistentes para o ensino da leitura e da escrita. Normalmente, a alfabetização, salvo raríssimas exceções, se concretiza de maneira mecânica, desmotivadora e dissociada da vivência cotidiana da criança. Basta lembrarmos das famosas Cartilhas e de seus textos, tais como “ O Bebê baba; A bacia é do bebê”. 8 Esse exemplo, extraído de uma cartilha, é suficiente para levantarmos alguns questionamentos: o que tem a ver a baba do bebê e a bacia? Vocês já conversaram com alguém usando frases soltas como essas? O resultado dessa prática é sofrível, pois o aluno, na sua trajetória escolar, tenderá a produzir frases isoladas e não textos com unidade de sentido. Outro ponto que merece ser destacado diz respeito ao fato de a criança já ter consciência da linguagem oral e, ao iniciar o processo de alfabetização, isso se deturpa, pois, desde o início de sua fala, ela e todos os falantes dizem: 9 mininu e bolu, mas deve escrever menino e bolo. Por que isso ocorre é o a Linguística explica e, com certeza, muito contribuirá para a alfabetização. Uma criança de Sete anos que entra na escola para se alfabetizar já é capaz de entender e falar a língua portuguesa com desembaraço e precisão, nas mais diversas circunstâncias da vida. Essa criança aprendeu falar e entende o que lhe falam, revelando um processo de aquisição da linguagem que teve grande desenvolvimento a partir, do seu primeiro dia de vida. Quando o processo de alfabetização não se dá adequadamente, a criança enfrentará sérios problemas em sua vida, relacionados não só à escrita, mas à leitura também. Por falar em leitura, o que observamos, na atualidade, é que os alunos, além de apresentarem problemas de entendimento textual, de compreensão daquilo que leem, a sua leitura oral é catastrófica, pois não o fazem com as entoações e pausas corretas. Vamos testar nossa habilidade de leitura. Para isso, leia o poema “Quadrilha” abaixo. 10 Acesse, agora, o site abaixo indicado em buscando conhecimento, e ouça o mesmo poema na voz do poeta. Gostou? E a sua leitura foi igual a de Drummond? Espero que sim, mas se não foi, não fique triste, leia-o novamente com paixão e tudo melhora. Caso não possa acessar o site, basta prestar atenção em algum capítulo de novela que você perceberá o que é ler e falar com entonação. Faça novamente a escuta do poema de Drummond e verifique como ele pronuncia os e da palavra que. (A palavra que é pronunciada qui) Retomando nosso tema, se de um lado os problemas de alfabetização são decorrentes da maneira imprópria de a escola tratar do processo de fala, escrita e leitura; de outro, cumpre-nos citar cursos de formação de professores que insistem em não acompanhar os progressos científicos e tecnológicos, resistindo, inclusive, de adotar novas posturas, rompendo com o antigo, no caso, alfabetização pelo método silábico e pela cartilha. No processo de alfabetização, há muitos fatores envolvidos e quanto maior for o domínio do professor sobre eles; quanto maior a sua consciência de como a criança se situa em termos de desenvolvimento emocional; de como evolui seu processo de interação com os colegas, com os textos que lhe são apresentados e com a natureza da realidade linguística, maior será o sucesso de aprendizagem da escrita e da leitura. A partir do momento em que o professor adquirir respaldo nas teorias e no funcionamento da língua escrita e da língua oral, estará mais livre para selecionar os métodos e as técnicas e buscará os recursos e o ritmo que julgar melhor para sua classe. Você poderia questionar se a interdisciplinaridade entre Linguística e a aquisição da escrita não se trata de mais uma modernidade educacional, uma vez isso ser bastante recente, ou seja, não se falava em Linguística e as crianças aprendiam a ler e a escrever. Isso é fato, porém cabe aqui uma reflexão. 11 Antigamente, só frequentava a escola pessoas oriundas de uma classe social mais elevada, cuja fala aproximava-se mais da língua da escola. Hoje, é diferente, pois em uma sala de aula há uma heterogeneidade de falares, há crianças de diferentes classes sociais, o que, sem dúvida, interfere muito no aprendizado. BUSCANDO CONHECIMENTO Áudio – Poema Quadrilha http://www.unicamp.br//iel/site/alunos/publicacoes/cda.htm Alfabetização e Linguística https://www.youtube.com/watch?v=rQQhbw12Ky0 http://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicacoes/cda.htm 12 UNIDADE 03. O PONTO DE PARTIDA DO PROFESSOR ALFABETIZADOR CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Nesta unidade temos como objetivoexplicitar os conceitos de língua, pois o professor alfabetizador necessita de conhecimentos básicos a respeito da língua a que se propõe ensinar. ESTUDANDO E REFLETINDO Para Saussure, considerado o pai da Linguística, a língua é social e coletiva, porque pertence a todos os indivíduos de uma comunidade. Nesse sentido, compara-a um dicionário, cujos exemplares idênticos foram doados a todos. A língua é a mesma para o leiteiro, para o médico, para o professor. No entanto, é engano pensar que todos a usam da mesma maneira, em outras palavras, cada sujeito vai empregar a língua de maneira diferente. Assim, se um empresário diz “Vou para o meu rancho”, a palavra rancho tem o sentido de lazer, moradia no campo; diferentemente, se um lixeiro diz “Vou para o meu rancho”, a mesma palavra tem o sentido de tapera. A Língua é um sistema, pois tem uma estrutura organizada. Vamos entender bem o que é isso. Em português, não existe sílaba sem vogal. Dessa maneira, a sequência “ptxzy” não é uma palavra do português, porque a estrutura (necessidade de vogal nas sílabas) foi violada. A Língua em estado de dicionário não existe, é preciso que alguém se utilize dela para a sua concretização. A partir daí, Saussure introduz o conceito de fala. Para ele, a fala é concreta, individual e altamente variável. Assim, por meio da fala, a língua se materializa de forma diferente. A fala é tão variável que um mesmo indivíduo é incapaz de repetir a mesma coisa, do mesmo jeito, duas vezes seguidas. Com certeza, haverá diferença de entonação, de timbre de voz. Além disso, em cada situação em que se encontra, o uso que faz da língua será diferente. Você, aluno, já deve ter 13 participado de situações comunicativas distintas, às quais teve que adequar sua fala. Por exemplo, em casa, com seus familiares, você se utiliza da língua de uma determinada forma; em uma conversa com um advogado, provavelmente, sua maneira de falar será outra. Transportem esses conceitos para a sala de aula. Imaginem várias crianças oriundas de famílias diferentes, de nível social e cultural diferente. O resultado será uma heterogeneidade de falares, de registros. Esse é um grande desafio que o alfabetizador tem que vencer. A Língua Portuguesa é falada no Brasil e em Portugal, mas como o uso é diferente, podemos afirma que Brasil e Portugal possuem falares distintos. No próprio Brasil, existem falares diferentes. Basta prestar atenção nos artista de TV, cujo falar na maioria das vezes, é carioca. E o alfabetizando, de onde parte? Se de um lado o professor precisa ter domínio de certos conceitos, tais como as diferenças entre fala e escrita; de outro, o educando precisa ter alguns conhecimentos indispensáveis para o início do processo de aquisição da escrita. Trata-se, na verdade, de uma preparação prévia. É importante que o aluno saiba que os risquinhos pretos na folha branca simbolizam os sons da fala. Mas, o que é um símbolo? Você sabe? Símbolo são sinais criados pelo homem por meio de uma convenção, isto é, de um acordo. Por essa razão, os símbolos são sociais. Por exemplo, o sinal vermelho do semáforo é um símbolo, cujo significado é Pare. Ninguém poderá sair por aí e mudar esse símbolo, porque, uma vez criado, ele permanece para sempre, outros, sim, poderão ser incorporados, mas os existentes nunca serão alterados. Poderíamos iniciar nossas aulas, brincando com os símbolos. Uma sugestão é trabalharmos com os símbolos dos times de futebol. 14 Essa noção de símbolo aplica-se às letras do alfabeto, que também foi criado pelo homem. Então, esses risquinhos são as letras, que simbolizam os sons. A segunda coisa que o aprendiz precisa saber é que esses risquinhos têm uma forma gráfica. Em Língua Portuguesa, essa forma é bem parecida, mas cada uma se aplica a um som. A percepção das diferenças de traçado das letras é fundamental, pois a letra p e a letra b são diferentes apenas na posição da haste. Ora, trocar um p por um b implica trocar a palavra pata por bata. Isso é diferente de nosso dia-a-dia, pois uma xícara de boca para cima ou para baixo continua sendo xícara. É importante ressaltar que a percepção auditiva é fundamental para o momento de aquisição da escrita. Tomemos, por exemplo, duas palavras pé e fé. O que diferencia tais palavras são as consoantes / p / e / f / (diz-se / f / (som) e não efe (letra). Mas você sabe em que elas diferenciam? Basta falar o som / p /. Falou? Você juntou os dois lábios. Agora pronuncie o som / f /. Para dizê-lo, você deve ter colocado os dentes superiores em contato com os lábios inferiores. O resultado é o barulho de uma fricção, atrito. As duas consoantes são diferentes, porque o modo e ponto de articulação são diferentes. No entanto, há determinadas consoantes que são ditas no mesmo ponto de articulação. É o caso, por exemplo, do som / t / e do / d /. Para falarmos essas consoantes, devemos colocar a ponta da língua nos dentes superiores. A única diferença entre elas é a de que o / t / é surdo, isto é, o ar passa livremente pelas cordas vocais (membranas situadas na região denominada pomo de Adão), que se encontram abertas. Diferentemente, para a pronúncia do som / d /, se colocarmos a mão na região indicada, vamos perceber uma leve vibração, pois as cordas vocais encontram-se fechadas, então, o ar que vem dos pulmões força a passagem, fazendo-as vibrar. Daí o som denominado sonoro. 15 Vocês devem ter observado como é difícil perceber as diferenças entre / t / e / d /, tanto que, quando ditamos algo ou falamos ao telefone, reforçamos o dito da seguinte maneira: t de tatu e d de dedo. Levando isso para a vida prática do alfabetizando, às vezes, deparamo- nos com professoras dizendo: “Esse aluno não está alfabetizado, ele troca o t pelo d; o f pelo v”. Na verdade, não é que não está alfabetizado, é a professora que desconhece os mecanismos de articulação dos fonemas do português, não compreendendo, portanto, que a percepção de tais sons é complexa. Sugerimos o acesso ao link abaixo ( buscando conhecimento ) para ouvir alguns poemas que exploram certos sons. Caso não possa acessá-los, leia textos de Cecília Meireles da série Ou isto ou aquilo. A escrita guarda outros fatores escondidos, para os quais o professor alfabetizador deve estar atento. Um deles diz respeito ao fato de que na língua há elementos portadores de significado e elementos que não têm significado. Vamos verificar o que é isso. Tomemos, para exemplo, a palavra belo. Nela, observamos que um som / b / se juntou a outro som / e / (observem que falo é, como em pé, diferente do som / e / das palavras que e você), formando a sílaba be; na sequência o som / l / se une ao som / o /, cujo resultado é lo. Mas o que é o bê? Qual o seu significado? E o lo dessa palavra? As sílabas não têm significado, portanto, não faz sentido começar a alfabetização pelo silabário, tal qual a cartilha o faz. Da mesma forma que a sílaba é desprovida de significado, os sons também o são. Os sons, doravante, denominados fonemas, não possuem uma significação, exercem apenas a função de distinguir significados. Assim, na palavra bala, trocando-se o / b / pelo / m / o resultado é mala; na mesma palavra, substituindo-se o / l / de mala, pelo fonema / K / o resultado é nova palavra da língua: maca. Pelo visto até aqui, observamos que as palavras têm significado, então poderíamos supor que a alfabetização deveria se iniciar por palavras. Porém, 16 não é bem assim, porque a nossa comunicação não se dá por palavras isoladas, por frases, mas por textos. Então, dar listas de palavras na lousa como a cartilha: bacia, bebê, baba, etc., não é um bom caminho. O que devemos fazer, sim, é iniciar o processo de aquisição da escrita por textos, principalmente, pelos que fazem parte do cotidiano do aluno. Isso faz sentido, pois a criança,mesmo sem ter a escrita, conta histórias, fatos e acontecimentos. O texto, então, deve ser a unidade de ensino. Os textos, por sua vez, são organizados por palavras. Entretanto, a fala tem algumas peculiaridades que a distingue da escrita. Por exemplo, vocês já ouviram alguém dizer “Era uma vez”, pronunciado cada palavra isoladamente? É claro que não, pois todo falante diz “erumavez”. Essa junção é específica da fala. Nesse sentido, o aluno deve ser bem trabalhado para a percepção de junturas da fala que não existem na escrita. Como fazer isso? Coloque um pequeno texto na lousa, mesmo que os alunos ainda não saibam ler. A partir dele, inicie a leitura, apontando para as palavras. É importante também que o alfabetizando perceba a organização espacial da página. Para isso, mostre-lhe que a ordem das letras é da esquerda para a direita na linha e que a ordem da página é de cima para baixo. Parece óbvio, mas, às vezes, há professores que se esquecem disso e veem problemas onde não existem. Por exemplo, há casos em que o professor diz: “Essa criança tem problema, olha como ela escreve (mostrando algo escrito da direita para a esquerda), ela tem letra espelho”. Pode ser que o problema seja falta de treinar a visualização da página. BUSCANDO CONHECIMENTO Alguns poemas que exploram certos sons http://letras.terra.com.br/vinicius-de-moraes/86808/clipes-videos.html. Lena d'Água canta poemas de Cecília Meirelles https://www.youtube.com/watch?v=DvQLdN8pHwE http://letras.terra.com.br/vinicius-de-moraes/86808/clipes-videos.html 17 UNIDADE 04. CARTILHAS CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Na década de 1970 e início de 1980 a maioria dos brasileiros foi alfabetizados pelo método da soletração ou abelhinha através da cartilha Caminho Suave de Branca Alves de Lima que na tentativa de facilitar para as crianças a memorização das letras criou desenhos que continham as iniciais das palavras como por exemplo: A de abelha, B de bola, C de casa e assim por diante. ESTUDANDO E REFLETINDO Passou-se, portanto, a questionar a necessidade de associação dos sinais gráficos da escrita aos sons da fala, como única forma de garantir a aprendizagem da lectoescrita, que é a habilidade adquirida de poder ler e escrever, bem como os materiais das cartilhas que eram preparados e utilizados com essa preocupação. Explicando sobre o desenvolvimento das cartilhas no Brasil, Mortatti afirma que: Embora já na segunda metade do século XIX encontrem-se cartilhas produzidas por brasileiros, o impulso nacionalizante nessa área se faz sentir, especialmente em alguns estados, a partir da década de 1890, solidificando-se nas primeiras décadas do século XX, quando se observa o engendramento de fenômenos correlatos: apoio de editores e especialização de editoras na publicação desse tipo de livro didático; surgimento de um tipo específico de escritor didático profissional – o professor; e processo de institucionalização da cartilha, mediante sua aprovação, adoção, compra e distribuição às escolas públicas, por parte de órgãos dos governos estaduais. Acompanhando o movimento histórico das tematizações, normatizações e concretizações sobre a questão dos métodos, as primeiras cartilhas brasileiras, produzidas, sobretudo, por professores fluminenses e paulistas através de sua experiência http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v20n52/a04v2052.pdf 18 didática, baseavam-se nos métodos de marcha sintética (processos de soletração e silabação). MORTATI, 2000, P. 42 De acordo com esta autora, as cartilhas desenvolvidas no início do século XIX baseavam-se no método analítico, nos processos de palavração e sentenciação: a partir das contribuições da pedagogia norte-americana, divulgadas inicialmente no estado de São Paulo pelas reformas da instrução pública na década de 1890 e posteriormente disseminadas para outros estados brasileiros, por meio de “missões de professores” paulistas. Embora muitas tenham sido as disputas sobre as diferentes formas de processuação do método, um ponto em comum era a necessidade de se adaptar esse ensino às necessidades biopsicológicas da criança, cuja forma de apreensão do mundo era tida como sincrética. A partir de então, observa-se um movimento de institucionalização do método analítico, que se consolida com a publicação das Instruções práticas para o ensino da leitura pelo methodo analytico – modelos de lições, expedidas pela Directoria Geral da Instrucção Publica do Estado de São Paulo, em 1915. Nesse documento passa-se a priorizar a historieta (conjunto de frases relacionadas entre si por meio de nexos lógicos), como núcleo de sentido e ponto de partida para o ensino da leitura, enfatizando-se as funções instrumentais desse ensino MORTATTI, 2000, P. 43. A partir de 1930, as cartilhas passam a se desenvolver nos moldes dos métodos mistos e a partir de 1980 inicia-se o questionamento sobre o uso das cartilhas na alfabetização. A partir de 1930, aproximadamente, as cartilhas passam a se basear nos métodos mistos ou ecléticos (analítico-sintético e vice-versa), especialmente em decorrência da disseminação e da repercussão dos testes ABC, de Lourenço Filho, cuja finalidade era medir o nível de maturidade necessário ao aprendizado da leitura e da escrita, visando à maior rapidez e eficiência na alfabetização. A partir dos anos de 1980, passa-se a questionar programaticamente a necessidade dos métodos e da cartilha de alfabetização, em decorrência da 19 intensa divulgação, entre nós, dos pensamentos construtivista e interacionista sobre alfabetização. MORTATTI, 2000, p. 45;47. 20 Para saber mais sobre a trajetória das cartilhas na alfabetização leia: CAGLIARI, L. C. Alfabetizando sem o bá-bé-bi-bó-bu. São Paulo: Scipione, 2006. Assim, a cartilha de alfabetização poderia ser definida como um instrumento: Substitutivo do trabalho de professores e alunos, que se apresenta como portal do mundo prometido e que forma nossas crianças, no sentido da constituição de um modo de pensar, sentir, querer e agir relacionado com a imagem idealizada de linguagem/língua e com modelos equivocados de leitura, escrita e texto. Será a cartilha de alfabetização um mal necessário, de fato? Que outras concepções, que outras práticas, que outros conteúdos, que outras finalidades da alfabetização, que outras formas de acesso ao mundo da cultura seriam possíveis, no sentido de romper com esse pacto secular? MORTATTI, 2000, p. 51. Enfim, diante de tudo o que foi exposto, percebemos que os métodos tradicionais, de uma forma geral, privilegiam a memorização, a repetição, a transcrição linear dos sons em grafia (codificação) e a decodificação mecânica (soletrada, silabada) das grafias em sons, compreendendo a aprendizagem da leitura e escrita como um desenvolvimento de habilidades visuais, auditivas e motoras, decorrentes de um período preparatório. Os alunos são tratados da mesma forma e devem seguir os mesmos passos, ao mesmo tempo, já que existe uma espécie de roteiro previamente definido, sem qualquer tipo de alteração (marcado pelo uso das cartilhas). Além disso, o aluno é visto como uma tabula rasa (“folha em branco”), ignorando-se, completamente, seu contato com o mundo letrado e suas formulações acerca da leitura e escrita. Entretanto, é inegável que os métodos sintético, analítico (global) e analítico-sintético ou sintético-analítico (misto/eclético), conhecidos atualmente http://pt.wikipedia.org/wiki/Tabula_Rasa 21 como métodos tradicionais, ocuparam (e ocupam) um papel fundamental na história da alfabetização brasileira. Isto porque eles são referência para estudos, contribuíram para a evolução e revolução conceitual acerca do tema e continuam gerando longos debates, como aquele propagado em 2006, pelo próprio Ministério da Educação(MEC), o qual sugeria uma discussão do uso das cartilhas para a alfabetização no Brasil: “MEC discute a volta do vovô viu a uva“. Este fato gerou grande polêmica na mídia e, de certa forma, podemos afirmar que ainda estamos vivenciamos uma acalorada discussão entre os que defendem e os que são contrários às ideias presentes nos métodos tradicionais, sobretudo entre aqueles que acreditam e defendem o método fônico e os que aderiram às ideias da teoria construtivista. Mas, para além da discussão dos métodos em alfabetização, é preciso que pensemos em metodologias de trabalho neste campo, e esta forma de pensar originou-se, certamente, em outras concepções que discutiremos a seguir. BUSCANDO CONHECIMENTO Fonte: http://www.famiglia.barone.nom.br/index926_96.jpg Fonte: http://www.ufrgs.br/faced/extensao/memoria/cartilhas_imagens/Cartilha_ Sodre.jpg http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u18359.shtml http://www.famiglia.barone.nom.br/index926_96.jpg http://www.ufrgs.br/faced/extensao/memoria/cartilhas_imagens/Cartilha_Sodre.jpg http://www.ufrgs.br/faced/extensao/memoria/cartilhas_imagens/Cartilha_Sodre.jpg 22 UNIDADE 05. O SISTEMA FONÉTICO CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Nesta unidade, abordamos o Sistema Fonético da Língua Portuguesa. Nosso objetivo é dotá-los de competências e habilidades necessárias para o ensino do Sistema Alfabético. Esses conhecimentos servirão de base para o entendimento da escrita dos alunos. ESTUDANDO E REFLETINDO A Fonética é um ramo da Linguística, cujo objeto é o som da fala. Em outras palavras, os estudos fonéticos descrevem e analisam todas as realizações articulatórias do falante. Os elementos que compõem o sistema fonético são os fonemas, menores unidades da língua, que não têm significado, mas que exercem a função de distinguir palavras. Assim, se trocarmos o fonema / v / pelo fonema / f /, na sequência vaca, o resultado será a palavra faca. Uma simples troca implica a formação de uma nova palavra, um novo signo da língua. Signo: Significado (é o conceito, a ideia transmitida pelo signo, a parte abstrata do signo) + significante (é a imagem sonora, a forma, a parte concreta do signo, suas letras e seus fonemas). Língua: Conjunto de sinais baseado em palavras que obedecem às regras gramaticais. Fala: Uso individual da língua, aberto à criatividade e ao desenvolvimento da liberdade de expressão e compreensão. 23 Em português, há dois tipos de fonemas: as consoantes e as vogais, que possuem diferenças entre si. As consoantes, sozinhas, não constituem uma sílaba; o que significa afirmar que não há sílaba sem vogal em português; diferentemente, existem sílabas formadas só por vogais. Vogais (A, E ,I ,O ,U) As vogais, ou segmentos vocálicos, são sons produzidos “sem” obstrução no trato vocal, de forma que a passagem de ar não é interrompida. Esses sons são classificados de acordo com os seguintes critérios: 1. Altura da língua 2. Anterioridade / Posterioridade da língua 3. Arredondamento dos lábios 4. Nasalidade / Oralidade A notação dos segmentos vocálicos é feita do seguinte modo: Altura da língua + Anteriodade / Posterioridade da língua + Arredondamento dos lábios. Consoantes (B, C, D, F, G, H, J, K, L, M, N, P, Q, R, S, T, V, W, X, Y, Z). As consoantes, ou segmentos consonantais, são sons produzidos “com” algum tipo de obstrução no trato vocal, de forma que há impedimento total ou parcial da passagem de ar. Esses sons são classificados de acordo com os seguintes critérios: http://alfabeto.pt/letra-a.html http://alfabeto.pt/letra-e.html http://alfabeto.pt/letra-i.html http://alfabeto.pt/letra-o.html http://alfabeto.pt/letra-u.html http://alfabeto.pt/letra-b.html http://alfabeto.pt/letra-c.html http://alfabeto.pt/letra-d.html http://alfabeto.pt/letra-f.html http://alfabeto.pt/letra-g.html http://alfabeto.pt/letra-h.html http://alfabeto.pt/letra-j.html http://alfabeto.pt/letra-k.html http://alfabeto.pt/letra-l.html http://alfabeto.pt/letra-m.html http://alfabeto.pt/letra-n.html http://alfabeto.pt/letra-p.html http://alfabeto.pt/letra-q.html http://alfabeto.pt/letra-r.html http://alfabeto.pt/letra-s.html http://alfabeto.pt/letra-t.html http://alfabeto.pt/letra-v.html http://alfabeto.pt/letra-w.html http://alfabeto.pt/letra-x.html http://alfabeto.pt/letra-y.html http://alfabeto.pt/letra-z.html 24 1. Modo de articulação 2. Lugar de articulação 3. Vozeamento 4. Nasalidade / Oralidade A notação dos segmentos consonantais é feita do seguinte modo: Modo de articulação + Lugar de articulação + Vozeamento + Nasalidade / Oralidade. A Fonética Articulatória é um dos principais ramos da FONÉTICA, que é a ciência responsável pelo estudo dos sons utilizados na linguagem humana. Tendo como ponto de vista de análise os aspectos fisiológicos e articulatórios da produção da fala. A fonética articulatória tem a função de explicar como são articulados os sons, e se encarrega da observação, descrição, classificação e transcrição dos sons produzidos, Observe a imagem abaixo e verifique o aparelho fonador. Você sabe o que é um som na fala humana? 25 É o resultado de uma coluna de ar em movimento que tem início nos pulmões, especificamente, na fase da expiração. Em outras palavras, há um trajeto a ser percorrido pelo ar. Você o inspira; ele chega até os pulmões e, ao soltá-lo, momento de expiração, há a produção do som. Vários órgãos concorrem para a produção do som: cordas vocais, boca e fossas nasais. - Cordas (pregas) Vocais Como observamos no gráfico do Aparelho Fonador, as cordas vocais situam-se na laringe; têm a forma de dois lábios e tecido elástico. Elas são responsáveis pela produção dos sons surdos (o ar passa livremente, pois elas estão abertas) e sonoros (as cordas estão fechadas, o ar força a passagem, fazendo-as vibrar). - Boca e Fossas Nasais Esses dois órgãos são responsáveis pela produção de sons orais e nasais. Um som é nasal, quando, após passar pela glote, encontra o véu palatino abaixado e a passagem nasofaríngea aberta. Assim, parte do ar sai pela boca e parte pelas fossas nasais. Diferentemente, para a produção do som oral, a corrente de ar passa pela glote, encontra o véu palatino levantado, fechando a passagem nasofaríngea. 26 Vale dizer, também, que a boca, lábios, dentes, alvéolos, palato (céu da boca) exercem um papel fundamental na articulação dos sons. São vários os órgãos que contribuem para a produção do som. Atente para o fato de que não há órgãos específicos para a fala, mas todos eles têm outras funções para o corpo humano. BUSCANDO CONHECIMENTO Aparelho Fonador http://www.geocities.com/Vienna/9177/aparelho.htm http://www.geocities.com/Vienna/9177/aparelho.htm 27 UNIDADE 06. MODO E PONTO DE ARTICULAÇÃO DAS CONSOANTES CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE A corrente de ar que provém dos pulmões, chegando à boca, poderá ser comprimida de vários modos, resultando uma obstrução total ou parcial. Vamos entender o que é isso. ESTUDANDO E REFLETINDO As consoantes do português podem ser classificadas e diferenciadas pelos seguintes critérios articulatórios: • Modo de articulação; • Ponto de articulação; • Sonoridade. Modo de articulação é a maneira como a corrente de ar supera os obstáculos formados pelos articuladores e é liberado (som contínuo, som explosivo, som vibrante etc); Ponto de articulação é onde colocamos nossos articuladores (língua, dente, lábios etc) para produzir o som; Sonoridade é a movimentação ou não das pregas vocais. A corrente de ar que provém dos pulmões, chegando à boca, poderá ser comprimida de vários modos, resultando uma obstrução total ou parcial. Vamos entender o que é isso. Pronuncie o som / p /. O que aconteceu? O ar proveniente dos pulmões foitotalmente interrompido, justamente porque você juntou os dois lábios. Agora, diga o som / f / (não é efe, é f). Provavelmente, você percebeu que a corrente de ar foi um pouquinho interrompida, pois você uniu os dentes superiores aos lábios inferiores. Do mesmo modo, a pronúncia da consoante / l / resulta de uma interrupção parcial 28 do ar. Essa interrupção ocorre, quando você coloca a língua nos alvéolos (as nervurinhas que se encontram pertos dos dentes do lado interno). Vejamos agora, os diferentes modos de articulação das consoantes em português. Fonemas Oclusivos Resultam de uma interrupção total e momentânea (se não o for, o som não sai) da corrente de ar em alguma parte da boca. São Oclusivas: • /P/ /T/ /K/ - o / k / é dito quê e não c (letra) • /B/ /D/ /G/ • Observação: Sabe como guardar as consoantes oclusivas? Basta lembrar as palavras: PeTeCa e BoDeGa Fonemas Constritivos São resultantes do efeito de atrito a que a corrente de ar se submete, cujo trajeto é parcialmente desviado e, por isso, se desvia pelo canal formado pela língua. Veja bem, é a língua que exerce a função de desviar parcialmente o som. Os fonemas resultantes desse modo de articulação são denominados, também, de chiantes, porque o som realmente é um chiado, tal qual na palavra 29 chuva, ou de sibilantes, porque produzem um som semelhante ao barulho da cigarra (SSSSSSSSSS). São constritivos os fonemas: • /F/ /S/ / / • /V/ /Z/ / / O / / equivale às letras x (xadrez) e ch (chuva),enquanto o / / se refere às letras g (gente) e j (jeito). Fonemas Laterais São resultantes da obstrução da corrente de ar, no centro da boca. Uma vez, bloqueado, no centro, o ar escoa pelas laterais. São laterais os fonemas • /L/(não é ele – letra, é Lê mesmo) e / /.- Esse Y de ponta cabeça é a letra lh de velho, telha. Vibrantes São resultantes de brevíssimos e repetidos bloqueamentos parciais da corrente de ar, provocados por movimentos vibratórios da língua, ao encostar nos dentes. Em português há dois tipos de vibrantes: • Vibrante simples /r/, presente na palavra caro. • Vibrante múltipla /R/, presente na palavra carro. Nasais Resultam da passagem de parte do ar pela boca e parte pelas fossas nasais. São nasais os fonemas: • / m / (não é eme-letra, é me mesmo ) / n / (não é ene- letra; é nê e / / . / / é a letra nh. As consoantes podem ser oclusivas, constritivas, laterais, vibrantes e nasais, quanto ao modo como são articuladas, isto é, quanto ao que acontece, 30 na boca, com a corrente de ar vinda dos pulmões: ou ele é totalmente bloqueado, ou parcialmente bloqueado. Os articuladores são os órgãos que obstruem, total ou parcialmente, a corrente de ar oriunda dos pulmões. Esses órgãos são de dois tipos: Articuladores ativos, pois se movimentam e são constituídos pelos lábios, língua, véu palatino, úvula (campainha). Articuladores passivos, não se movimentam, cujos integrantes são dentes, palato (céu da boca) e alvéolos. Para a localização desses órgãos, examine a imagem abaixo, retirada do site. 1) Traqueia 2) Laringe 3) Glote (Cordas vocais) 4) Faringe 5) Cavidade bucal 6) Cavidade nasal 7) Véu palatino ou Palato mole 8) dentes 9)Língua 10)Lábios 11)Palato duro (céu da boca) 31 De acordo com o ponto exato, na boca, em que as consoantes são pronunciadas, há a seguinte classificação: Bilabiais- Resultantes da junção dos dois lábios. São elas: / P / / B / / M / Labiodentais- Contato firme do lábio inferior com os dentes incisivos superiores. Nesse caso, as consoantes são: /F/ /V/ Linguodentais- Caracterizam-se pelo contato do ápice (ponta) da língua com os dentes superiores, tais como as consoantes: /T/ /D/ /N/ Linguo-alveolares- Contato do ápice da língua nos alvéolos superiores. Nesse ponto de articulação, observamos as consoantes: /L/ /r/ (de caro) / S / / Z / Linguopalatais- Contato do dorso (meio) da língua com o palato (céu da boca). As consoantes produzidas nesse ponto são: / / (lh) / / (nh) / / (X, CH) / / (G e J) Velares- Contato entre a parte mais próxima da raiz da língua com o véu palatino (parte mole do céu da boca, fica bem lá no fundo). Nesse ponto de articulação, observamos as consoantes: / K / / G / / R / ( de carro) BUSCANDO CONHECIMENTO Aparelho Fonador. http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://criarmundos.do.sapo.pt/Ling uistica/images/aparelho-fonador. http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://criarmundos.do.sapo.pt/Linguistica/images/aparelho-fonador.%20 http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://criarmundos.do.sapo.pt/Linguistica/images/aparelho-fonador.%20 32 UNIDADE 07. O PAPEL DAS CAVIDADES BUCAL E NASAL E DAS CORDAS VOCAIS E QUADRO ILUSTRATIVO DA CLASSIFICAÇÃO DAS CONSOANTES CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Você sabia que a boca e fossas nasais são órgãos indispensáveis à fonação? Nesta unidade vamos explicar o papel das cavidades bucal e nasal e revisar fonética, Letra e fonema. ESTUDANDO E REFLETINDO A Fonética, ou Fonologia, estuda os sons emitidos pelo ser humano para efetivar a comunicação. Diferentemente da escrita, que conta com as letras - vogais e consoantes, a Fonética se ocupa dos fonemas (=sons); são eles as vogais, as consoantes e as semivogais. Letra: Cada um dos sinais gráficos elementares com que se representam os vocábulos na língua escrita. Fonema: Unidade mínima distintiva no sistema sonoro de uma língua. Há uma relação entre a letra na língua escrita e o fonema na língua oral, mas não há uma correspondência rigorosa entre eles. Por exemplo, o fonema /s/ pode ser representado pelas seguintes letras ou encontro delas: • c (antes de e e de i): certo, paciência, acenar. • ç (antes de a, de o e de u): caçar, açucena, açougue. • s: salsicha, semântica, sobrar. • ss: passar, assassinato, essencial. • sc: nascer, oscilar, piscina. • sç: nasço, desço, cresça. • xc: exceção, excesso, excelente. • xs: exsudar, exsicar, exsolver. 33 • x: máximo. Os sons da fala resultam quase todos da ação de certos órgãos sobre a corrente de ar vinda dos pulmões. Para a sua produção, três condições são necessárias: • A corrente de ar; • Um obstáculo para a corrente de ar; • Uma caixa de ressonância. A caixa de ressonância é formada pelos seguintes elementos: • Faringe; • Boca (ou cavidade bucal): os lábios, os maxilares, os dentes, as bochechas e a língua; • Fossas nasais (ou cavidade nasal). Aparelho Fonador: É formado pelos seguintes elementos: • Órgãos respiratórios: Pulmões, brônquios e traqueia; • Laringe (onde está às pregas vocais - nome atual das "cordas vocais"); • Cavidades supralaríngeas: faringe, boca e fossas nasais. O ar chega à laringe e encontra as pregas vocais, que podem estar retesadas ou relaxadas. As pregas vocais, quando retesadas, vibram, produzindo fonemas sonoros. As pregas vocais, quando relaxadas, não vibram, produzindo fonemas surdos. Por exemplo, pense apenas no som produzido pela letra s de sapo. Produza esse som por uns cinco segundos, colocando os dedos na garganta. Você observará que as pregas vocais não vibram com a produção do som ssssssssss. O fonema s (e não a letra s de sapo) é, portanto, surdo. 34 Faça o mesmo, agora, pensando apenas no som produzido pela letra s de casa. Produza esse som por uns cinco segundos, colocando os dedos na garganta. Você observará que as pregas vocais vibram, com a produção do som zzzzzzzzzzzzzz. O fonema z (e não a letra s de casa) é, portanto,sonoro. Ao sair da laringe, a corrente de ar entra na cavidade faríngea, onde há uma encruzilhada: a cavidade bucal e a nasal. O véu palatino é que obstrui ou não a entrada do ar na cavidade nasal. Por exemplo, pense apenas no som produzido pela letram de mão. Produza esse som por uns cinco segundos, colocando os dedos nas narinas sem impedir a saída do ar. Você observará que o ar sai pelas narinas, com a produção do som mmmmmmm. O fonema m (e não a letra m de mão) é, portanto, nasal. Se, ao produzir o som mmmmmmmm, tapar suas narinas, você observará que as bochechas se encherão de ar. Se, logo após, produzir o som aaaa, observará também que houve a produção dos sons baaaa. Isso prova que as consoantes m e b são muito parecidas. A diferença ocorre apenas na saída do ar: m, pelas cavidades bucal e nasal (fonema nasal); b somente pela cavidade bucal (fonema oral). Há também semelhança entre as consoantes p e b: a única diferença entre elas é que b é sonora, e p, surda. Isso explica o porquê de se usar m antes de p e de b. Cavidades Bucal e Nasal As cavidades bucal e nasal exercem um papel preponderante na produção de certos fonemas. Como já dissemos anteriormente, esses fonemas são denominados nasais, resultantes da passagem de parte do ar pela boca e de parte pelas fossas nasais (nariz). São fonemas nasais em português: / M / / N / / / (nh) 35 Cordas Vocais Na região da laringe, encontra-se um importante órgão para a fonação: as cordas vocais. As cordas vocais têm a forma de dois lábios e são constituídas do músculo tireo-cricóide, um tecido elástico denominado ligamento. Observe a imagem das cordas vocais abaixo. Na imagem da esquerda, as cordas vocais encontram-se abertas. Nesse caso, o ar oriundo dos pulmões passa livremente. O resultado é a produção das consoantes surdas. Diferentemente, a imagem da direita exibe as cordas vocais fechadas. Neste caso, o ar força a passagem, fazendo-as vibrar. De acordo com esses mecanismos, há, em português, fonemas surdos e fonemas sonoros. São fonemas surdos as consoantes: /P/ /T/ /K/ e /F/ / / /S/ 36 Abaixo, você pode visualizar um quadro representativo da classificação da consoante. Vamos classificar agora, Modo de Articulação Papel das cordas vocais Ponto de Articulação Bilabiais Labiodentais Linguodentais Linguo- alveolares Linguo- palatais Velares Surdas / P / / T / / K / Oclusivas Sonoras / B / / D / / G / Surdas / F / / S / Constritivas Sonoras / V / / Z / Laterais Sonoras / L / Vibrante Simples Sonora / r / Vibrante Múltipla Sonora / R / Nasais Sonoras / M / / N / BUSCANDO CONHECIMENTO Gramática Portuguesa - Evanildo Bechara http://www.ebah.com.br/content/ABAAABmzgAA/gramatica-portuguesa- evanildo-bechara?part=2 http://www.ebah.com.br/content/ABAAABmzgAA/gramatica-portuguesa-evanildo-bechara?part=2 http://www.ebah.com.br/content/ABAAABmzgAA/gramatica-portuguesa-evanildo-bechara?part=2 37 UNIDADE 08. AS VOGAIS DA LÍNGUA PORTUGUESA CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Já tivemos a oportunidade de falar um pouco sobre as vogais nas unidades anteriores. Vamos recordar? As vogais são fonemas resultantes da livre passagem da corrente de ar pela boca. Em outras palavras, o ar não é bloqueado, como na emissão das consoantes, em nenhum ponto da boca. Assim, o papel exercido pela boca é o de caixa de ressonância. Como o ar não é interrompido na boca pode-se dizer que as vogais são os fonemas mais limpos que há. Além disso, todas as vogais são sonoras, isto é, não são resultantes da livre passagem de ar pelas cordas vocais. ESTUDANDO E REFLETINDO As vogais possuem três propriedades, que lhes são inerentes: • Apresentam maior abrimento dos órgãos articulatórios: a boca fica normalmente aberta ou entreaberta, ao se pronunciar uma vogal. Diga, por exemplo, a vogal / a /. Disse? Viu como a boca fica aberta? • Apresentam maior número de vibrações das cordas vocais, isto é, têm maior frequência. • São os únicos fonemas do português a integrarem o centro da sílaba. 38 Para a descrição das vogais em português, levamos em conta quatro critérios: posição da língua, altura da língua, posição dos lábios e papel das cavidades bucal e nasal. Vamos aprender essa classificação. Classificação das vogais quanto à posição da língua Para entendermos bem isso, vamos prestar atenção na posição da língua em nossa boca. Para isso, digam a vogal / a /. Disse? Como ficou o corpo da língua? Com certeza, você percebeu que ficou em posição de repouso, bem embaixo, tocando os dentes inferiores, não é? Agora pronuncie a vogal / e /. Como você deve ter observado, a língua fez um leve movimento para frente. Se você não percebeu, diga novamente, bem devagar. Fale agora o fonema / o /. Ao invés de a língua ir para frente, ela fez um ligeiro movimento para trás, não foi? Muito bem, a partir da posição da língua, nós podemos classificar as vogais em: • Central- A língua fica em posição de repouso, abaixada, tocando os dentes inferiores. A vogal resultante dessa posição é / a /; • Anteriores- A língua executa um ligeiro movimento para frente. As vogais anteriores são: / E / (como o é de pé ) / e / ( como o ê de você); e / i /; • Posteriores- A língua faz um ligeiro e gradativo recuo. São posteriores as vogais: / /(esse fonema equivale à letra ó da palavra avó); / o / ( como o ô de avô ) e / u /. Você deve ter percebido que o número de fonemas vocálicos é maior que o número de letras, não é? Em outras palavras, a professora ensina aos 39 alunos que nós temos cinco vagais, mas não são cinco, na verdade, são sete fonemas: / a / / E / , / e / , / i /, / / / o / , / u /. Classificação das Vogais quanto à Altura da Língua Na classificação anterior, você percebeu que ela foi feita com a posição da língua na horizontal, ou seja, ela fica em repouso; vai um pouco para frente ou para trás. Agora, nós vamos classificar as vogais, considerando a língua em seu movimento vertical, a altura. Para isso, fale as vogais / a / , / e /, / i /. Diga novamente a vogal / a / e, em seguida, as vogais / o / e / u /. Na pronúncia, a língua, para a vogal / a /, ficou bem embaixo, tocando os dentes inferiores. Para as vogais / e / e / o /, você deve ter percebido que ela se elevou um pouquinho. Diferentemente, nas vogais / i / e / u /, a língua se eleva ao máximo, quase tocando os dentes superiores, não é? De acordo com o exposto, quanto à altura da língua, as vogais são classificadas em: • Baixa - Língua embaixo, junto aos dentes inferiores. Trata-se da vogal / a / • Médias - Uma elevação gradual da língua, ou seja, a língua fica no meio, entre os dentes inferiores e os posteriores. São vogais médias: / E / (de pé) / e / (de fez), / / ( de avó) e / o / ( de avô). • Altas- A língua eleva-se de tal forma que toca os dentes superiores. Nesse caso, as vogais são: / i / e / u /. Classificação das vogais quanto à posição dos lábios Na pronúncia das vogais, os lábios exercem papel crucial. Vejamos a pronúncia dos sons / a /, / E /, / e /, / i /. Como ficaram os seus lábios? Com certeza, estendidos, não é? Agora diga os fonemas / / , / o /, / u /. Nesses 40 fonemas, os seus lábios devem ter ficado arredondados, não é? É isso mesmo, quanto à posição dos lábios, as vogais são: • Não-arredondadas - Os lábios ficam estendidos. São as vogais / a /,/ E /,/ e /,/ i /. • Arredondadas - Ocorre um ligeiro arredondamento dos lábios. São vogais desse tipo: / /, / o / / u /. Classificação das Vogais quanto ao Papel das Cavidades Bucal e Nasal Você já sabe o que é um som nasal: o ar sai parte pela boca e parte pelo nariz. Para entender, vamos opor certas palavras: Lá x Lã Vê x Vem Vi X Vim Do (nota musica) x Dom Tuba x Tumba São sons completamente diferentes, não é? As vogais orais são sete, mas as vogais nasais são cinco, a saber: / ã / , /ë / , / ï / , / ö // ü / Para facilitar a visualização da classificação das vogais, os linguistas as representaram em um triângulo, como podemos observar abaixo. 41 BUSCANDO CONHECIMENTO Classificação das vogais. http://www.gramatica.net/site.php?mdl=gramatica&op=cap01-04- classificacao_das_vogais Algumas considerações Linguística http://www.uefs.br/colplet/revista/ed01_102009/artigos/artigo_04.pdf Altas Médias Baixa Não-Arredondadas Arredondadas Central / a / ã / / E / / e /ë / o / õ/ / i / ï / / u / ü / 42 UNIDADE 09. TONICIDADES E SEMIVOGAIS CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Você sabe o que é tonicidade? Para saber, diga as palavras cipó, janela e médico. Ao pronunciar essas palavras, você deve ter percebido que há sílabas mais fortes. Descubra quais são. Descobriu? Com certeza, você deve ter marcado pó, n(é), me. Pois bem, essas sílabas são denominadas tônicas, pois, para pronunciá-las, nós imprimimos maior intensidade na voz. Eis aí o conceito de tonicidade: maior intensidade de voz. ESTUDANDO E REFLETINDO A sílaba em que ocorre maior intensidade de voz é denominada tônica; diferentemente, aquela que pronunciamos sem muita força é denominada átona. Exemplos: Em lá-gri-ma, a sílaba tônica e "lá"; em ca-der-no, a sílaba tônica é "der". Os sinais gráficos utilizados para marcar a tonicidade das palavras variam conforme o idioma estudado. O Português, por exemplo, utiliza o acento agudo (´) e o circunflexo (^). Exemplos: • Pároco • Crônica Outro sinal que costuma ser utilizado em diversos idiomas, além dos citados acima, é o acento grave (`), que em Português é utilizado para marcar a crase. Em materiais ou mídias de cursos de aprendizagem de idiomas são utilizados outros sinais e também recursos, como o macro (¯), a braquia (um pequeno semi-círculo semelhante ao "u" sobre a letra), o negrito, o itálico, a cor da letra, o sombreamento, as letras maiúsculas etc. 43 É bom saber que não há mais de uma sílaba tônica nas palavras, mas há algumas, de uma só sílaba (monossílabas) em que não ocorre sílaba tônica. Por essa razão são chamadas de monossílabos átonos. Vamos verificar como isso se apresenta. Para tanto, pronuncie os pares abaixo: Por X pôr As X Ás Que x Quê De x Dê Se fôssemos formar frases com essas palavras, teríamos: a) As meninas o consideram um ás na direção. b) Onde é para pôr os livros comprados por você? c) Pedro disse que ela tem um quê especial. d) Acrescente um copo de leite e dê para acriança. Ás vezes fica muito difícil saber se o monossílabo é átono ou tônico, no entanto, há uma dica: O e e o o dos átonos são pronunciados, respectivamente, i e u, o que não ocorre com os tônicos. Assim, você não pode dizer: Onde é para pur os livros. Mas pode dizer: Comprados pur você. Levando em consideração a posição da sílaba tônica, as palavras classificam-se em: Oxítonas: Quando a sílaba tônica é a última sílaba. Exemplos: Pa-ra-ná, sa-bor. 44 Paroxítonas: Quando a sílaba tônica é a penúltima sílaba. Exemplos: már-tir, ca-rá-ter. Proparoxítonas: Quando a sílaba tônica é a antepenúltima sílaba. Exemplos: cá-li-ce, lá-gri-ma. Os vocábulos com apenas uma sílaba, os monossílabos, podem ser átonos ou tônicos. Considerações sobre as semivogais As semivogais são / y / e / w /, cujas letras são, respectivamente, i e u. As semivogais são sempre átonas e se juntam às vogais (fortes) para formarem os ditongos: união de uma vogal e uma semivogal ou vice-versa, pronunciados em uma só emissão de voz. Assim, em pais, o a é a vogal e o i a semivogal. Agora, se observarem a palavra país, verificarão a presença do a e do i, porém, para pronunciarmos essa palavra, abrimos a boca duas vezes: pa- ís. Nesse caso, o i não é semivogal, mas vogal. Trata-se do hiato, ou seja, duas vogais juntas, faladas cada uma em uma sílaba. Vejamos alguns exemplos de ditongo: água, série, céu, seu, saudade, glória, pau, cauda. Como hiatos, citamos: Saara, saúde, saída. 45 Tais divisões são fundamentais para compreender toda fonética e fonologia da língua portuguesa, afinal falamos um emaranhado de palavras que podem ser dividida em sílabas, e a sílaba é estruturadas em vogal (cada sílaba possui apenas uma vogal) consoantes e semivogais. Mas por que “A” é uma vogal? Por que “T” é consoante? E se o W, Y e K agora fazem parte da Língua, em que grupo essas letras pertencem? Mas se existem vogais e consoantes, por que existem o que chamamos de semivogais? Ao estruturarmos, observaremos que “só existe uma vogal por sílaba”: CÂ-MA-RA // MU-NI-CI-PAL. Como explicar, então, palavras como PA-PAI // U-RU-GUAI // MI-NEI-RO ? Embora pareça existir duas ou três vogais em alguma sílaba, na verdade não há. Algumas chamadas ‘vogais’ exercem o papel secundário de ‘semivogais”. Desta forma, as semivogais ora oferecem condições de vogais, ora de semivogais. Mas quais são elas? Faça um exercício: Abra sua boca e fale A, E, I, O, U. Repare que na letra “I” e“U”, embora não necessite do uso de órgãos bucal, possui uma dificuldade de formação: para pronuncia-las a boca fica quase fechada, chamadas assim de semivogal. 46 Com a última reforma ortográfica, as letras K, Y e W entraram de fato para a Língua Portuguesa. Mas elas são vogais ou consoantes? A resposta é simples: Pode ser os DOIS! BUSCANDO CONHECIMENTO Algumas considerações Linguística http://www.uefs.br/colplet/revista/ed01_102009/artigos/artigo_04.pdf 47 UNIDADE 10. O SISTEMA ORTOGRÁFICO DO PORTUGUÊS CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Nesta unidade, enfocaremos as especificidades do sistema ortográfico da Língua Portuguesa. Nossa ênfase será as diferenças entre sons e grafia, pois não escrevemos como falamos e, às vezes, falamos diferente do que escrevemos, como no caso da palavra menino, que, normalmente, dizemos mininu. Outro exemplo de diferença entre fala e escrita é o caso da palavra mal, cuja leitura é mau. ESTUDANDO E REFLETINDO Sistema de Escrita Nosso sistema de escrita é alfabético, isto é, faz usos de grafemas (letras) para a representação do som. A escrita alfabética, em princípio, trabalha a ideia de que cada unidade sonora será representada por uma letra e cada letra representa uma unidade sonora. Às vezes, é necessária mais de uma letra para a reprodução de um único som. É o caso, por exemplo, da palavra pássaro, em que os dois esses representam um só som / s /. Assim, essa palavra tem seis fonemas /p/, /a/, /s/ /r/ / o/ e sete letras. Fato análogo se dá com a palavra guerra em que os sons / g / e / R / são representados pelas letras gu e rr. Isso significa que temos quatro fonemas e seis letras, não é? Vocês poderiam perguntar se não seria mais fácil escrevermos como falamos. Em alguns casos, até diria que sim. Por exemplo, a palavra casa seria escrita com z. No entanto, já abordamos que nós não falamos da mesma maneira. Existem variantes, ou seja, maneiras diferentes de dizermos uma mesma coisa. Para a palavra tia, podemos pronunciar o / t / com a ponta da língua nos dentes superiores, mas podemos, e, normalmente o fazemos 48 dizermos / t /. Além disso, há que se considerar que as diferentes regiões do Brasil têm sua maneira peculiar de fala. É o caso do nordeste, em que as vogais / e / e / o / são pronunciadas abertas, como no caso de ménino, féliz. Por aí dá para imaginar como ficaria a escrita: cada um escrevendo de um jeito. Diante disso, podemos afirmar que a escrita é fator de unificação nacional: todos escrevem da mesma maneira. É, portanto, padronizada. O nosso alfabeto é formado pelas letras consonantais e vocálicas A, B, C, D, E, F, G, H, I, J, K, L, M, N, O, P, Q, R, S, T, U, V, X, Y, Z, W, ressaltando-seque as letras K, Y, W integrarão o nosso alfabeto, a partir de 2009, em decorrência da mudança ortográfica. As se unem, formando as sílabas, que se unem dando origem à palavra. Já abordamos, anteriormente, a importância da percepção auditiva da unidade palavra. Você poderá trabalhar com poemas, já introduzindo a noção de sílabas e de tonicidade. Para isso, recomendo a leitura do poema abaixo. Quando diante da sílaba tônica, solicite que os alunos batam palmas ou pandeiro. A Flor Amarela Olha a janela da bela Arabela. Que flor é aquela que Arabela molha? É uma flor amarela Cecília Meirelles 49 Além de trabalhar o número de sílabas das palavras, você poderá utilizar o poema para mostrar as rimas. Ressalte-se que as palmas ajudam a marcar o ritmo. Outro fator a ser considerado, além da tonicidade, é a entoação da frase, pois, em determinados casos, é a ela a responsável pela diferença entre frases afirmativas, exclamativas e interrogativas. Vejamos os exemplos: a) Você vai. b) Você vai? c) Você vai! Se o aluno não for treinado a ler com entonação, não saberá a diferença que existe nessas frases. É bom dizer que, muitas vezes, o aluno não gosta do que lê, porque não o faz adequadamente. A leitura sem expressão não tem sentido algum. Daí a necessidade de se iniciar o processo da leitura e da escrita por meio de poemas e textos, em especial, daqueles que estão próximos da vivência do aluno. Vamos ler o poema abaixo, fazendo as entonações interrogativas adequadamente: Leilão de Jardim Cecília Meireles Quem me compra um jardim com flores? borboletas de muitas cores, lavadeiras e passarinhos, ovos verdes e azuis Um lagarto entre o muro e a hera, Uma estátua da Primavera? Quem me compra este formigueiro? E este sapo que é jardineiro? 50 nos ninhos? Quem me compra este caracol? Quem me compra um raio de sol? E a cigarra e a sua canção? E o grilinho dentro do chão? (Este é o meu leilão!) Leilão de jardim - Cecília Meireles Quem me compra um jardim com flores? Borboletas de muitas cores, lavadeiras e passarinhos, ovos verdes e azuis nos ninhos? Quem me compra este caracol? Quem me compra um raio de sol? Um lagarto entre o muro e a hera, uma estátua da Primavera? Quem me compra este formigueiro? E este sapo, que é jardineiro? E a cigarra e a sua canção? E o grilinho dentro do chão? (Este é o meu leilão.) Como sugestão, a leitura desse poema poderá ser feita com dramatização, por exemplo, nos versos: “Quem me compra este caracol?”, o aluno poderá mostrar a mão, como se, realmente, o caracol estivesse na palma de sua mão. Diferentemente, em Quem me compra um raio de sol?, o movimento deverá ser com os braços para o alto, como se mostrando um raio de sol. 51 Nas unidades anteriores, observamos que a troca de um fonema por outro implica a formação de uma nova palavra. Nesta unidade, verificamos que a entonação é importante para a distinção de frases interrogativas, afirmativas e exclamativas. No entanto, há outro aspecto a ser examinado: acentuação. Você deve perceber que a diferença entre sábia, sabia e sabiá está na posição do acento tônico. Assim, a distinção dessas palavras está apenas na posição da sílaba tônica: sábia, sabia, sabiá. Outros exemplos merecem ser citados: máquina, maquina, fábrica fabrica. Então, além dos fonemas e entonação, o acento tônico distingue palavras da língua portuguesa. É a posição do acento tônico que ajuda na grafia das palavras falarão e falaram, grande problema dos alunos na escrita. Para resolvê-lo, basta o professor dizer que quando a tônica, sílaba mais forte, está na última sílaba da palavra, escrevo ão; se está na penúltima, a grafia deve ser am. Assim, cantarão, opõe-se a cantaram. BUSCANDO CONHECIMENTO Reforma Ortográfica http://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/reforma-ortografica-outras- mudancas-historico-das-alteracoes-do-portugues.htm Academia Brasileira de Letras http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=23 Revista Língua Portuguesa http://revistalingua.uol.com.br/textos/blog-abizzocchi/ortografia-do-portugues- fonologica-ou-etimologica-280443-1.asp http://revistalingua.uol.com.br/textos/blog-abizzocchi/ortografia-do-portugues-fonologica-ou-etimologica-280443-1.asp http://revistalingua.uol.com.br/textos/blog-abizzocchi/ortografia-do-portugues-fonologica-ou-etimologica-280443-1.asp 52 UNIDADE 11. RELAÇÕES DO SISTEMA GRÁFICO. CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE As relações entre o sistema fonético e gráfico podem ser de dois tipos: biunívocas e cruzadas. ESTUDANDO E REFLETINDO Na unidade anterior, observamos que, às vezes, uma unidade gráfica representa um único som. Por exemplo, o som / p / só tem uma letra p; o som / b / só é representado pela letra b. Nesse caso, ocorre a relação biunívoca. Relação biunívoca: uma unidade sonora corresponde a uma unidade gráfica e esta só representa a unidade sonora. Trata-se de uma regularidade absoluta. Diferentemente, há: Relações cruzadas: uma unidade sonora é representada por mais de uma grafia, ou pode ocorrer também que uma unidade gráfica representa mais de uma unidade sonora. Vamos ver exemplos de relações cruzadas. O som nasal / ã / pode ser representado pelos grafemas (letras) ã de irmã; por am, como em samba e an, como em manga. Esquematizando teremos: Sabe por que antes de p e de b usamos m e não n? É justamente por causa do ponto de articulação, isto é, o fonema / p /, o fonema / b / e o fonema / m / são pronunciados da mesma maneira: juntando-se os dois lábios. Nas relações cruzadas, pode ocorrer que um mesmo fonema pode representar duas letras diferentes. Sabe em que caso isso acontece? Diga a palavra carro, agora, a palavra rato. Disse? O som da letra erre não é o mesmo? Claro que sim. Neste caso, o fonema /R/ (de carro), pode ser escrito com as letras 53 r e rr. Essa relação é totalmente previsível, ou seja, em início de palavra, o som é de erre múltiplo, mas a grafia é de erre simples, como em rainha, rato, rua. Então, o professor não precisa inventar historinha, como: Os dois erres saíram para passear e deram as mãos. Basta dizer que, em início de palavra, dizemos o som / R / (de carro) e escrevemos com r simples rei. Por aí dá para perceber que as relações cruzadas são responsáveis pela grande confusão ortográfica. Vale dizer que há relações cruzadas com certa regularidade e outras não tão regulares. Vamos examinar outros exemplos: a) O som /K/ é grafado pela letra c antes das vogais a, o, u, como em calo, colo, culote e como qu, antes das letras e e i, como nas palavras quilo, quero, cheque. b) As letras eme (m) e ene (n), no início de sílaba, representam sempre o fonema /m/, como nas palavras mato, palma, alma e /n/, como em navio, anágua. Quando fechando sílaba interna (no meio da palavra), é sinal de nasalização da vogal anterior. Nesse caso, não é fonema, é apenas uma letra, dando origem aos dígrafos: duas letras para um único som, como se pode verificar nas palavras tampa, tonta, lambe, cujos sons são /ã/ de tampa e lambe e /õ/ de tonta. A letra eme (m) em final de palavra forma ditongos, como em bem - / bëy /, falam /falãw/. c) Os ditongos nasais /ãw/ são grafados ão e am: grafias diferentes, mas o mesmo som. Até aqui parece simples, porém, ocorre que, no mesmo contexto, (lugar onde ocorrem certo sons, final, meio, início de sílaba ou de palavra) duas ou mais letras podem representar um único fonema. Nesse caso, não há regras, sendo necessária a memorização. Vejamos esses casos: 54 a) O som / / antes de e e de i pode ser grafado com g ou com j. Exemplos: gilete, jiló, gelo, jeinipapo. b) O / / pode ser grafado com x ou ch, como em chato, enxada, chá. c) O / s / entrevogais pode ser grafado: ss, ç, sc, sc , x, xc, xs, como nas palavras: passe, lace, laça, nasce, excelente, exceção. Até aqui, você deve ter percebido que a letra não é o som, mas a representação do som. Então, o sistema ortográfico é uma representação do sistema fonético. Pode-se, seguramente, afirmar que o processo de alfabetização deve ter início, a partir das relações biunívocas, isto é, um som, uma letra para representá- lo. Em seguida, o professor deve partir das relações cruzadas previsíveis, isto é, quando duas letras representam um único som, mas uma não ocorre em lugar da outra. Um exemplo claro disso é o fonema /R/ de carro, que no meio da palavra é grafado com dois erres, mas no início com um erre só, como ocorre em rei, rato. Observe abaixo uma representação gráfica: fonemas e grafemas. FONEMAS GRAFEMAS EXEMPLOS / a / a Vaca, ala, aluno, bala / ã / ã, am, an Irmã, campo, tanto / e / e Elevador, levou, erro / ë / em, en Lendo, tempo / É / e, é Pé, levo, / o / o, ô Ovo, avô / õ / om, on Ombro, onda ó, o Avó, paletó, Olga / i / i Ivo, irado / ï / im, in Limpo, tinta / u / u, ú Uva, urubu, saúde / ü / um, un Umbral, untar 55 / p / P Pomba, pata, panela / b / B Bacia, bala, bola / t / T Tudo, tola, tatu / d / D Dado, dói, duro / k / C, qu, k (nomes próprios) Casa, querido, Karla / g / G , gu Gula, guerra / f / F Faca, foice, folhagem / v / V Vaca, você, viúva / s / s , ss, c, ç, sc, sc, x, xc Sapo, passo, cidade, caçador, nascer, cresça. Máximo, excelente / z / s , z , x Casa, buzina, exame / m / M Mata, amada / n / N Navio, Nádia, nó / / Nh Unha, rainha / / lh Velho, olho / / X, ch Chácara, bolacha, enxada / / G, j Gente, jeito / R / r, rr Rosa, carro / r / r Caro, Carolina / l / L Lata, lixo Variantes: São modos diferentes de se dizer uma mesma coisa. . As variantes podem ser contextuais, quando o contexto em que se inserem propicia a variação. Como exemplo, podemos citar os fonemas / t / e / d /, que, antes de e e de i, podem ser ditos / t / e /d /, respectivamente, como em tia e dia. Há outras variantes, denominadas livres, porque dependem, unicamente, dos hábitos articulatórios dos falantes. É o caso do falar nordestino que abre todas as vogais; do falar carioca, que diz o / s / como / / , como, nas 56 palavras mais e pois. Para perceber bem isso, atente às pronúncias dos artistas da TV. Entretanto, a fala guarda, ainda, outras particularidades. O / e / e o / o /, quando átonos, são ditos i e u. Assim, na fala, fonemas diferentes igualam-se. Imaginem isso para uma criança. O professor não deve afirmar que falamos errado, mas que isso é normal na fala. Outro caso semelhante ocorre com o fonema / l /, pois toda vez em que fechar sílaba é dito / u /. Assim, saber a diferença entre calda e cauda, mal e mau é questão de memorização. Pelo exposto até aqui, podemos observar a complexidade da alfabetização. O professor deve sempre iniciá-la, a partir das relações biunívocas: um som, uma letra, para, gradativamente, introduzir as relações cruzadas previsíveis e, finalmente, as não-previsíveis. BUSCANDO CONHECIMENTO Revista Língua http://revistalingua.uol.com.br/textos/blog-abizzocchi/ortografia-do-portugues- fonologica-ou-etimologica-280443-1.asp http://revistalingua.uol.com.br/textos/blog-abizzocchi/ortografia-do-portugues-fonologica-ou-etimologica-280443-1.asp http://revistalingua.uol.com.br/textos/blog-abizzocchi/ortografia-do-portugues-fonologica-ou-etimologica-280443-1.asp 57 UNIDADE 12. ORALIDADE NO ENSINO. CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Poderíamos declinar, aqui, inúmeras razões para a importância de se abordar a oralidade em sala de aula, principalmente, na fase de aquisição da leitura e da escrita. No entanto, pautamo-nos por pressupostos básicos, tema de nossa unidade. ESTUDANDO E REFLETINDO No termo científico, linguagem é a capacidade a que todos os seres humanos, sem qualquer tipo de anomalia, são dotados. A linguagem designa por isso um sistema organizado de símbolos, complexo, extenso e com propriedades particulares, desempenhando uma função de codificação, estruturação e consolidação dos dados sensoriais, transmitindo um determinado sentido ou significado e permitindo ao homem comunicar as suas experiências e transmitir os seus saberes. Deste modo, pode dizer-se que a linguagem é um sistema de troca de informações. Mais ainda, a linguagem desempenha outras funções, entre as quais a apelativa, expressiva, descritiva, estética, argumentativa e persuasiva e apresenta componentes como a fonologia, a semântica, morfologia, sintaxe e pragmática. Na interação com o ser humano, a linguagem representa um papel fundamental. A linguagem dá oportunidade ao individuo de traduzir o que sente estruturar o seu pensamento e expressar o que já conhece. Quando nasce, a vida mental do bebe manifesta-se por comportamentos inatos, sensoriais e motores, a partir dos reflexos. 58 A primeira realidade linguística da criança é a oral. E vale dizer que essa realidade, conforme Scarpa, 2001, passa por estágios de desenvolvimento, tais como: Balbucio Produção de sons: vogais (3-4 meses); consoantes e vogais (em torno dos 6 meses); Primeiras palavras: Entre os 10 e 12 meses Enunciados de uma palavra: Em torno dos 12 meses; Crescimento vocabular acentuado: Entre os 16 e 20 meses; Fase telegráfica: Primeiras combinações de palavras, entre os 18 e 20 meses; Explosão vocabular Entre os 24 e 30 meses Várias são as teorias que abordam a aquisição da linguagem pelas crianças. Uma delas é o inatismo, desenvolvida por Noam Chomsky, 1973. Noam Chomsky é um linguista, filósofo e ativista político estadunidense. Além da sua investigação e ensino no âmbito da linguística, Chomsky é conhecido pelas suas posições políticas de esquerda e pela sua crítica da política externa dos Estados Unidos. Chomsky descreve-se como um socialista libertário INATISMO - adj. Que não tem atividade; inerte: ficar inativo. Paralisado, paralítico: está com uma perna inativa. Para o autor citado, a linguagem é inata, isto é, o ser humano já nasce com a capacidade de linguagem, bastando, para isso, ambiente adequado. Segundo ele, assim como os demais órgãos responsáveis pela visão, locomoção, há no cérebro, provavelmente, no lado esquerdo, um compartimento responsável pelo ato da linguagem. Os argumentos com que Chomsky defende o inatismo são vários. 59 O primeiro diz respeito ao fato de bebês compreenderem e produzirem frases que nunca ouviram ou disseram antes. Outro se refere aos “erros” cometidos pelas crianças que podem ser reveladores da existência de uma gramática interna, isto é, todo falante tem consciência da estrutura da língua. Uma criança que diz “fazido”, por exemplo, faz uma analogia com vendido. Uma vez uma criança disse “homa”, para referir-se ao feminino de homem. Ora, está clara a percepção de que ela sabe que o “a” é indicador de feminino em português. A outra teoria sobre aquisição da linguagem é a cognitiva, cujos preceitos advogam ser a linguagem aprendida por maturação e depender da evolução psicológica, o que pode ser questionado, pois há patologias que afetam a fala sem, entretanto, relacionar-se a outras capacidades cognitivas. Do ponto de vista da perspectiva comportamentalista, defende-se que a aquisição da linguagem ocorre por meio de estímulo e resposta. Essa visão é contraposta por Chomsky, pois, segundo ele, as crianças não se limitam a repetir, mas criam enunciados próprios. Finalmente, cumpre-nos citar a teoria pragmático-interacionista, cujos pressupostos aceitam o inatismo, mas agregam outros fatores de natureza social que podem condicionar o aprendizado linguístico.
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