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Disponível em: interfaces.leaosampaio.edu.br Recebido em 17 Janeiro 2013; recebido em forma de revista 25 Janeiro 2013; aceito em 17 Fevereiro 2013 ∗ Endereço completo de correspondência do autor, incluindo seu e-mail: email@meuemail.com.br Rev. Interfaces. Ano I, v. 1, n.1, mar, 2013. APRENDIZAGEM BASEADA EM PROBLEMAS: UMA NOVA REFERÊNCIA PARA A CONSTRUÇÃO DO CURRÍCULO DE CURSOS DA ÁREA DE SAÚDE PROBLEM BASED LEARNING: A NEW REFERENCE FOR THE CONSTRUCTION OF CURRICULUM COURSE AREA HEALTH ALENCAR, Nelyse de Araújo*. Programa de Pós-Graduação do Mestrado Stricto Sensu em Ciências da Motricidade Humana – Procimh-UCB/RJ - Rio de Janeiro - RJ, Brasil JUNIO, José Vitorino Sousa Faculdade de Fisioterapia Leão Sampaio-FLS/Juazeiro do Norte Ceará - CE, Brasil Resumo: Há um reconhecimento internacional da necessidade de mudança na educação de profissionais de saúde frente à inadequação do aparelho formador em responder às demanda sociais. Evoluindo no sentido contrário do ensino tradicional, onde se apresentam os conteúdos em formas de roteiros pré-determinados, o PBL, surge como uma quebra de paradigma no ensino, levando os alunos a identificar suas reais necessidades de aprendizagem. Considerando essa necessidade de mudança e a demanda por novas formas de trabalhar com o conhecimento, busca-se nesse texto, compreender, promover a motivação para o aprendizado e o desenvolvimento de habilidades para a autoaprendizagem através do PBL. O objetivo deste trabalho é rever a dinâmica de funcionamento do PBL e avaliar os principais resultados observados com a implantação desta estratégia educacional nos cursos da área de saúde, através de uma revisão bibliográfica sobre o tema. Conclui-se, que o PBL é uma abordagem educacional que parece trazer respostas a algumas necessidades atuais, consideradas centrais no processo de reforma do ensino superior no Brasil, pois nos permite refletir o nosso atual processo de ensino, rompendo definitivamente com o modelo tradicional, centralizador, buscando uma integração mais completa efetiva e eficaz da teoria com a prática e sociedade Palavras Chaves: PBL, Aprendizagem Baseada em Problemas; Educação. Abstract: There is an international recognition of the need for change in education of health professionals against unsuitable instrument trainer in responding to social demand. Evolving in the opposite direction of traditional education, outlining the contents in forms of pre-determined routes, PBL, emerges as a paradigm in education, leading students to identify their real needs of learning. Whereas this need for change and the demand for new ways of working with the knowledge, search this text, understand, promote the motivation for learning and developing skills for learning through self-evaluation of PBL. The purpose of this paper is to review the operating dynamic of PBL and assess the main results observed with the deployment of this educational strategy in healthcare courses through a bibliographic review on the subject. Concluded that the PBL is an educational approach that seems to bring answers to some Central needs today, considered in the process of reform of higher education in Brazil, because it allows us to reflect our current teaching process, breaking with the traditional model definitely, centralized, seeking a more complete effective integration and effective theory with practice and society. Faculdade Leão Sampaio Revista Interfaces: Saúde, Humanas e Tecnologia. Ano I, v.1, n.1, mar, 2013. ISSN 2317 – 434X Rev. Interfaces. Ano I, v. 1, n.1, mar, 2013. Keyword: PBL, Problems Based Learning; Education. Faculdade Leão Sampaio Revista Interfaces: Saúde, Humanas e Tecnologia. Ano I, v.1, n.1, mar, 2013. ISSN 2317 – 434X Rev. Interfaces. Ano I, v. 1, n.1, mar, 2013. INTRODUÇÃO Os sistemas educativos encontram-se, atualmente, submetidos a novas restrições: de quantidade, diversidade e velocidade de evolução dos saberes. A demanda por formação é maior do que nunca. Porém, além do enorme crescimento quantitativo, ela sofre também uma profunda mutação qualitativa no sentido de uma necessidade cada vez maior de diversificação e de personalização (SCHLEMMER, 2001) Há um reconhecimento internacional da necessidade de mudança na educação de profissionais de saúde frente à inadequação do aparelho formador em responder às demanda sociais. As instituições têm sido estimuladas a transformarem-se na direção de um ensino que, dentre outros atributos, valorize a equidade e qualidade da assistência, além da eficiência e relevância do trabalho em saúde. O processo de mudança da educação traz inúmeros desafios, entre os quais, romper com estruturas cristalizadas e modelos de ensino tradicional e formar profissionais de saúde com competência que lhes permitam recuperar a dimensão essencial do cuidado na relação entre humanos (CYRINO e TORALLES-PEREIRA, 2004) Cunha et al (2001), estudando os processos de mudanças em diferentes áreas, assinalam experiências inovadoras no limite de uma disciplina ou entre disciplinas de um mesmo curso, que podem contribuir para a melhoria do ensino e da aprendizagem nas universidades. Nessa perspectiva os mesmos autores, observam, contudo que uma inovação na área da educação não se caracteriza somente pelo uso de novos recursos tecnológicos de ensino. Uma experiência inovadora é um processo situado em um contexto histórico social que exige uma ruptura com procedimentos acadêmicos inspirados nos princípios positivistas da ciência moderna. O ensino tradicional está praticamente voltado na utilização das mesmas práticas aplicadas durante toda vida acadêmica, produzindo conhecimentos que efetivamente só serão utilizados para responder questões imediatistas, sendo após isso, geralmente perdidos e esquecidos (BURGARDT, 2002) Evoluindo no sentido contrário do ensino tradicional, onde se apresentam os conteúdos em formas de roteiros pré-determinados, a aprendizagem baseada em problemas, surge como uma quebra de paradigma no ensino, levando os alunos a identificar suas reais necessidades de aprendizagem. A metodologia do PBL (Problem Based Learning) ou aprendizagem baseada em problemas visa fornecer aprendizagem eficaz, onde haja aumento de retenção de informação e maior habilidade na aplicabilidade de conhecimento em contextos clínicos e principalmente no desenvolvimento de hábitos de aprendizado vitalício (WOOD, 2003 ). Considerando o processo de mudança da educação dos profissionais de saúde e a demanda por novas formas de trabalhar com o conhecimento, busca-se nesse texto, compreender, promover a motivação para o Faculdade Leão Sampaio Revista Interfaces: Saúde, Humanas e Tecnologia. Ano I, v.1, n.1, mar, 2013. ISSN 2317 – 434X Rev. Interfaces. Ano I, v. 1, n.1, mar, 2013. aprendizado e o desenvolvimento de habilidades para a auto aprendizagem através da aquisição estruturada e adequada do conhecimento da educação problematizada à entre educador e educando, por meio de um processo emancipatório que têm ocupado espaço de discussão sobre a inovação do ensino na área de saúde. Diante de uma insatisfação geral com a prática do ensino tradicional nos cursos da área de saúde, vem-se buscando cada vez mais estratégias de inovações pedagógicos através meios de ensino e aprendizagem que enfatizem a formação de profissionais criativos e inquiridores, através da vivência, de debates, de resoluções de problemas extraídos da realidade sócio cultural que permitam recuperar a essência dos cuidados com os seres humanos. Dentre essas novas metodologias podemos citar como exemplo as metodologias problematizadoras: a problematização e a aprendizagem baseadaem problemas. Baseado no exposto, o objetivo deste trabalho é rever a dinâmica de funcionamento da aprendizagem baseada em problemas e avaliar os principais resultados observados com a implantação desta estratégia educacional nos cursos da área de saúde. DESENVOLVIMENTO Realizou-se revisão bibliográfica nas bases de dados Index Medicus (Medline) e da Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) utilizando-se as seguintes palavras-chave: PBL, problem based-learning e education. Os artigos identificados foram selecionados baseados nos parâmetros pré- definidos: apresentação de bases teóricas do PBL, aplicabilidade prática, apresentação de resultados da implantação do PBL, comparação entre currículos convencionais e baseados no PBL, boa qualidade metodológica e a validade das suas conclusões (HOW TO READ CLINICAL JOURNALS, 1981; FRIEDLAND,1998) Foram selecionados 20 artigos identificados nas pesquisas de base de dados citadas. Os referidos artigos foram sintetizados nos seguintes tópicos: 1. Reforma curricular, 2. Fundamentos do PBL, 3. metodologia do PBL, 4. utilização do PBL, 5. Avaliação da implantação do PBL. REFORMA CURRICULAR Na concepção do modelo tradicional de ensino o aluno é um mero receptor passivo. Ou seja, suas opiniões, anseios e interesses não são considerados na definição dos currículos. O conhecimento lhe é externo e impresso pela Escola. O professor é o mediador e o responsável pela transmissão do conhecimento, através de aulas expositivas. Tais informações deverão ser memorizadas, acumuladas, reproduzidas pela repetição, no qual a reflexão não está presente. Não há espaço para crítica, debate, constituição de grupos, interação entre alunos, cooperação. A relação entre professor e aluno é vertical e individualizada, as dificuldades e ritmos de cada Faculdade Leão Sampaio Revista Interfaces: Saúde, Humanas e Tecnologia. Ano I, v.1, n.1, mar, 2013. ISSN 2317 – 434X Rev. Interfaces. Ano I, v. 1, n.1, mar, 2013. aluno, são desconsiderados, adotando-se procedimentos homogeneizantes. Venturelli (1997), discutindo o processo educacional no mundo contemporâneo, resgata a necessidade de romper com a postura de transmissão de informações, na qual os alunos assumem o papel de indivíduos passivos, preocupados apenas em recuperar tais informações quando solicitados. Apropriando-se de conceitos desenvolvidos por Paulo Freire, ressalta a necessidade de conceber a educação como prática de liberdade, em oposição a uma educação como prática de dominação (CYRYNO, 2004). Na concepção epistemológica interacionista/construtivista, o conhecimento é entendido como uma relação de interdependência entre o sujeito e seu meio. Tem um sentido de organização, estruturação e explicação a partir do experenciado. É construído a partir da ação do sujeito sobre o objeto de conhecimento, interagindo com ele, sendo as trocas sociais condições necessárias para o desenvolvimento do pensamento (SCHLEMMER, 2001). FUNDAMENTOS DO PBL O aprendizado é um processo complexo; não acontece de forma linear, estrutura-se mediante realidades de conexão que cada sujeito faz, reelaborando associações singulares que se ampliam e ganham novos sentidos à medida que é capaz de desenvolver novas relações, envolver-se na resolução de problemas que esclarecem novas questões abrindo-se para aprendizagens mais complexas (Ribeiro, 1998). Dentro das metodologias problematizadoras, a problematização e a aprendizagem baseada em problemas (ABP ou PBL) são duas propostas distintas que trabalham intencionalmente com problemas para o desenvolvimento dos processos de ensinar e aprender (BERBEl, 1998 ). A problematização é, portanto uma proposta metodológica que se propõe desvendar a realidade para transformá-la. Sua maior contribuição é a mudança de mentalidade, exigindo de todos os agentes sociais envolvidos no processo educativo a reavaliação de seus papéis, re-significando, coletivamente, o processo de ensino-aprendizagem. Há uma explicitação da intencionalidade política no ato de educar. A problematização insere-se numa concepção crítica de educação. A Aprendizagem Baseada em Problemas (PBL ou ABP) propõe-se a preparar cognitivamente os alunos para resolver problemas relativos a temas específicos do ensino da profissão. Enquanto metodologia de ensino, a problematização pode ser utilizada para o ensino de determinados temas de uma disciplina, pela especificidade do objeto de estudo. Nem sempre é apropriada para todos os conteúdos. O desenvolvimento de uma prática apoiada na problematização não requer grandes mudanças materiais para sua implementação. A ABP ou PBL é uma proposta que passa a direcionar toda a Faculdade Leão Sampaio Revista Interfaces: Saúde, Humanas e Tecnologia. Ano I, v.1, n.1, mar, 2013. ISSN 2317 – 434X Rev. Interfaces. Ano I, v. 1, n.1, mar, 2013. organização curricular de um curso, havendo necessidade de maior movimento do corpo docente, administrativo e acadêmico da instituição para desenvolvê-la. Sua utilização demanda alterações estruturais e trabalho integrado dos diversos departamentos e disciplinas que compõem o currículo dos cursos. Tanto a ABP como a problematização têm, em comum, uma pergunta focal (o que está acontecendo?) como padrão para gerar novas informações, mediante processos de análise e síntese. Mas o ponto de partida, os pressupostos e a estrutura de trabalho desenvolvida, inclusive no campo afetivo, é diferente. O problema é mais abrangente na problematização, formulando-se pela observação de uma realidade com todas as suas contradições, enquanto na ABP (PBL) o problema é apresentado aos alunos pelo professor-tutor (Feletti, 1993). A aprendizagem baseada em problemas- ABP ou PBL (problem based learning), surge no cenário educacional como uma metodologia de ensino/aprendizagem desenvolvida inicialmente na universidade de MacMaster, em Hamilton, Ontário, Canadá, ao final da década de 1960 (SPAULDING, 1969), quando um grupo de aproximadamente 20 docentes desenvolvia um novo programa para o curso de medicina. O PBL é uma estratégia didática centrada no aluno, e trata-se de um método de eficiência comprovada por inúmeras pesquisas no campo da psicopedagogia e da avaliação do desempenho dos profissionais formados por esse método. Não se trata, portanto de um método experimental. Algumas escolas médicas foram pioneiras na adoção desse método de ensino na sua estrutura curricular. Atualmente, escolas da área de saúde, como, enfermagem, fisioterapia, veterinária e odontologia têm adotado o método com sucesso (LEAL et al, 1998). Para Piaget, o processo de aprendizagem em sentido estrito, ou seja, a aquisição do conhecimento através de uma experiência física ou lógico-matemática e sem controle sistemático por parte do sujeito depende sempre das leis gerais do desenvolvimento, conforme o processo de equilíbrio, que por sua vez caracteriza a aprendizagem em sentido lato. Em contraposição tem-se a aprendizagem em sentido estrito, mais relacionada esta ao contexto no qual o sujeito se encontra inserido. Por equilibração, entende-se um processo dinâmico e auto- regulador de balanceamento das mudanças acarretadas pelos processos de assimilação e acomodação, objetivando-se assim um estado de equilíbrio (PIAGET, 1964). Ainda segundo PIAGET (1964), no que se refere à construção do conhecimento, a essência do mesmo é o que ele caracteriza como operação, que é definida como sendo uma ação interiorizada, ou seja, é uma ação no pensamento ou operação mental que modifica o objeto do conhecimento. Uma operaçãonunca é isolada, estando sempre ligada a outras operações, formando assim uma estrutura cognitiva. Faculdade Leão Sampaio Revista Interfaces: Saúde, Humanas e Tecnologia. Ano I, v.1, n.1, mar, 2013. ISSN 2317 – 434X Rev. Interfaces. Ano I, v. 1, n.1, mar, 2013. Para que o sujeito possa interagir com o objeto, entretanto, são necessários dois mecanismos essenciais: a assimilação e a acomodação, (PIAGET, 1987). Conforme defende este autor, o fenômeno dito assimilação implica na incorporação, pelo sujeito, de novas experiências aos esquemas previamente estabelecidos, que já faziam parte do patrimônio cognitivo do sujeito. Já na acomodação, tem-se o consequente processo de modificação dos esquemas previamente existentes do sujeito à nova situação que lhe é apresentada, pois os mesmos precisam se adaptar para que possam desta forma se aperfeiçoar. Deve-se, portanto considerar no processo de ensino e aprendizagem a importância dos conhecimentos prévios do sujeito, quando defrontado com novas informações que deve assimilar. Henk Schmidt( 1993), cita seis fundamentos básicos para o ensino mais adequado para o aprendizado de adultos: 1- A disponibilidade de conhecimentos prévios, que é o principal determinante da natureza e da qualidade de novas informações que um indivíduo pode processar; 2- A ativação dos conhecimentos prévios a partir de “pistas” dadas pelo contexto em que as novas informações estão sendo estudadas, que é essencial para possibilitar que elas sejam compreendidas e relembradas; 3- A elaboração das novas informações, que favorece o seu armazenamento na memória e sua recuperação posterior; 4- A motivação para a aprendizagem, que leva a maior tempo de estudo e, consequentemente, a melhores resultados; 5- A maneira pela qual o conhecimento está estruturado na memória, que determina o quanto ele é acessível para utilização; 6- A “dependência do contexto”, que gera a possibilidade de ativar o conhecimento existente na memória de longo prazo em contextos futuros semelhantes. METODOLOGIA DO PBL O PBL é uma proposta de reestruturação curricular que objetiva a integração de disciplinas tendo em vista a prática. Para isso, organiza-se um elenco de situações que o aluno deverá saber/dominar, considerando o tipo de organização curricular. "Este elenco é analisado situação por situação para que se determine que conhecimentos o aluno deverá possuir para cada uma delas. São os denominados temas de estudo" Cada um destes temas de estudo será transformado em um problema para ser discutido em um grupo tutorial (BERBEL, p.145,1998). Assim, um problema é apresentado a um grupo de alunos por um professor tutor. Este problema, discutido em grupo, deve incentivar o levantamento de hipóteses para explicá-lo. A partir daí, objetivos serão traçados para melhor Faculdade Leão Sampaio Revista Interfaces: Saúde, Humanas e Tecnologia. Ano I, v.1, n.1, mar, 2013. ISSN 2317 – 434X Rev. Interfaces. Ano I, v. 1, n.1, mar, 2013. estudá-lo; pesquisas e estudos serão propostos e nova discussão em grupo será feita para síntese e aplicação do novo conhecimento. O trabalho pode ocorrer de forma individual (cada aluno), mas também incentiva o trabalho em grupo como produto das atividades individuais. O grupo de tutoria constitui um fórum de discussão, apresentando-se como um laboratório que possibilita uma aprendizagem sobre a interação humana, constituindo-se numa oportunidade para aprender a ouvir, a receber e assimilar críticas (KOMATSU; ZANOLLI; LIMA, 1998). O desenvolvimento dessas habilidades e domínio de conhecimento de situações práticas traria ao futuro profissional mais capacidade de lidar com os problemas da vida profissional (BLIGH, 1995; WOOD, 2003). Os grupos são formados por oito a 10 alunos e um tutor, geralmente um professor. Antes do início da reunião, é escolhido entre os alunos um coordenador, para dirigir a sessão, e um relator, para registrar as discussões do grupo. A função do tutor é facilitar o funcionamento do grupo (ajudando o coordenador, se necessário) e garantir que o grupo atinja os objetivos de aprendizado de acordo com o que foi definido no currículo. O Quadro 1 descreve o papel de cada um dos membros do grupo tutorial (BLIGH, 1995; WOOD, 2003). Pode ser necessário que o tutor tenha papel mais ativo, certificando-se de que o grupo faça a análise adequada do problema. As intervenções do tutor devem limitar-se ao mínimo necessário, para evitar-se que ele assuma o papel do coordenador ou dite a direção da resolução do problema, o que pode ser desestimulante e prejudicial para as próximas sessões (JÚNIOR; IBIAPINA; LOPES; RODRIGUES; SOARES, 2008). Os grupos têm sistemáticas próprias para discussão e resolução dos problemas. Nesse artigo será descrito o método dos Sete Passos, adotado pela Universidade de Maastricht, Holanda (Quadro 2). Os passos de 1 a 5 são realizados na sessão de análise. Entre as duas sessões, o aluno deve realizar pesquisa em diferentes fontes de informações sobre os objetivos de aprendizagem propostos. Essa etapa de estudo individual e autodirigido constitui o passo 6. O passo 7 é a sessão de resolução, na qual os alunos voltam a se reunir em grupo e revisam a resolução do problema (passo 4) à luz dos novos conhecimentos. O passo 7 permite corrigir e completar a resolução do problema, sistematizando os novos conhecimentos adquiridos (BLIGH, 1995; WOOD, 2003). De modo geral, os passos três, quatro e cinco estão relacionados à estruturação do conhecimento em torno do problema e os passos seis e sete com a elaboração e aquisição de novos conhecimentos. A elaboração do problema é crucial para o bom aproveitamento do grupo, que devem ser construídos a partir de objetivos de aprendizagem bem definidos e adequados ao nível de compreensão dos alunos. Faculdade Leão Sampaio Revista Interfaces: Saúde, Humanas e Tecnologia. Ano I, v.1, n.1, mar, 2013. ISSN 2317 – 434X Rev. Interfaces. Ano I, v. 1, n.1, mar, 2013. Devem representar situações que estimulem a curiosidade e que tenham relevância na prática futura. Os problemas devem integrar a área básica e a clínica, além de induzir às consultas bibliográficas de áreas diferentes para devida resolução do problema, permitir uma discussão ampla dos objetivos propostos, de modo a estimular os alunos e uma boa orientação direcionamento da discussão (JÚNIOR; IBIAPINA; LOPES; RODRIGUES; SOARES, 2008). UTILIZAÇÃO DO PBL A metodologia ativa do PBL tem permitido a articulação entre a universidade, o serviço e a comunidade, por possibilitar uma leitura e intervenção consistente sobre a realidade, valorizar todos os atores no processo de construção coletiva e seus diferentes conhecimentos e promover a liberdade no processo de pensar e no trabalho em equipe (FEUERWERKER, 2004) Nessa perspectiva, empreender mudanças amplas e profundas no processo ensino-aprendizagem e na formação profissional de saúde significa transformar a relação entre docente e discente, as diversas áreas e as disciplinas, enfim, entre a universidade e a comunidade. Além disso, pressupõe mudanças na própria estrutura e organização da universidade, que precisa tornar-se um fórum de debate e negociação permanente de concepções e representações da realidade, no qual o conhecimento é compartilhado (FEURWERKER E SENA, 2002). Acredita-se que experiências pedagógicas, aparentemente pontuais, geradas no contexto dos conflitos e das contradições das relações institucionais, voltadas para a mudança de processos, relações e conteúdos, podem representar um movimento inovador RevistaInterfaces: Saúde, Humanas e Tecnologia. Ano I, v.1, n.1, mar, 2013. Artigo Científico Faculdade Leão Sampaio ISSN 2317 – 434X Rev. Interfaces. Ano I, v. 1, n.1, mar, 2013. Quadro 1 - O papel dos membros do grupo tutorial Coordenador Relator Membros do grupo Tutor Liderar o grupo em o todo Processo Registrar pontos relevantes apontados pelo grupo Acompanhar todas as etapas do processo Estimular a participação do grupo Encorajar a participação de Todos Ajudar o grupo a ordenar seu raciocícnio Participar das discussões Auxiliar o coordenados na dinâmica do grupo Manter a dinâmica do grupo Participar das discussões Ouvir e respeitar as opiniões dos colegas Verificar a relevância dos pontos anotados Controlar o tempo Registrar as fontes de pesquisa utilizadas pelo grupo Fazer questionamentos Prevenir i desvio do foco da discussão Assegurar que o relator possa anotar adequadamente os pontos de vista do grupo Procurar alcançar os objetivos de aprendizagem Assegurar que o grupo atinja os objetivos de aprendizagem Verificar entendimento do grupo sobre as questões discutidas Adaptado de: Wood (2003). Quadro 2 - Os sete passos do grupo tutorial, UNIVERSIDADE de MAASTRICHT, HOLANDA Análise Passo 1: esclarecer termos e/ou expressões desconhecidas no problema Passo 2: definir o problema a ser discutido Passo 3: análise e troca de conhecimentos sobre o problema (“chuva de idéias”). Tentativa de solucionar o problema com base nos conhecimentos prévios Passo 4: revisão dos passos 2 e 3, com sistematização das hipóteses do passo 3 para resolução do problema Passo 5: definição dos objetivos de aprendizagem Intervalo Passo 6: levantamento de recursos de aprendizagem e estudo individual Resolução Passo 7: discussão e resolução do problema a partir da revisão do Passo 4, à luz dos conhecimentos adquiridos no Passo 6. Adaptado de: Wood (2003) Revista Interfaces: Saúde, Humanas e Tecnologia. Ano I, v.1, n.1, mar, 2013. Artigo Científico Faculdade Leão Sampaio ISSN 2317 – 434X Rev. Interfaces. Ano I, v. 1, n.1, mar, 2013. em termos do processo de reelaboração de um conhecimento mais significativo para os alunos, favorecendo rupturas com o modelo tradicional de ensino capazes de levar a movimentos mais amplos de mudança. Tanto a problematização como a ABP promovem rupturas com a forma tradicional de ensinar e aprender, estimulando gestão participativa dos protagonistas da experiência e reorganização da relação teoria e prática, mas têm potenciais diferentes em termos de concepção de educação (CYRINO e PEREIRA, 2004). A educação voltada a construção de profissionais da saúde é complexa, pois exige uma combinação de várias disciplinas, onde algumas, se aplicam muito bem a metodologia do PBL, possibilitando o desenvolvimento de profissionais mais preparados para exercer suas funções, aproximando-os o mais cedo possível da realidade de sua profissão. AVALIAÇÃO DA IMPLANTAÇÃO DO PBL Dentre algumas instituições que se utilizam dessa nova abordagem educacional no Brasil, a Faculdade de Medicina de Marilia (FAMEMA), desde 1997, vem desenvolvendo um novo modelo curricular no curso de graduação, tendo como um de seus eixos centrais a metodologia da Aprendizagem Baseada em Problemas. Este é um currículo centrado no estudante e orientado à comunidade; fundamenta-se nos princípios de educação de adultos e busca uma abordagem integrada dos problemas de saúde, nas suas dimensões biológica, psicológica e social (BALINT, 1984; KOMATSU E LIMA, 2003). Estudos da FAMEMA (2002), indicaram o PBL como uma metodologia ativa de ensino- aprendizagem, atribuindo ênfase à construção ativa do conhecimento, como justifica um dos gestores:”[...]eu tiro o professor do centro do processo de ensino, colocando-o como mais um ator e coloco os alunos, em vez de elementos passivos, como elementos ativos do processo da construção dos conhecimentos”. Complementando essa concepção, outro gestor, acrescentou a importância dos estudantes estarem diante de problemas da realidade a serem estudados: “Acreditamos que a prática e a reflexão crítica podem propiciar mudanças nas concepções de ensino-aprendizagem e no fazer sujeitos sociais, e que esta reflexão possa se pautar pelo objetivo maior que é o perfil do profissional que a FAMEMA pretende formar, coerente com as Diretrizes Curriculares nacionais” ( BRASIL,2001). O curso de Medicina da Universidade Estadual de Londrina (UEL) foi uma das escolas que se propôs a enfrentar esse desafio. Desde 1998, iniciou um processo de implantação e desenvolvimento de um currículo médico integrado ( CAMPOS,1999). A UEL vem participando desde 2005, do núcleo Interinstitucional de Estudos e Práticas de Avaliação em Educação Médica (NIEPAEM), composto por escolas médicas brasileiras, que têem como atividades: elaborar, planejar, aplicar e analisar o teste de progresso interinstitucional. A UEL aplicou um teste de avaliação (TPMed) em 2006, e os resultados em relação ao desempenho cognitivo dos estudantes do curso, apontaram que Faculdade Leão Sampaio Revista Interfaces: Saúde, Humanas e Tecnologia. Ano I, v.1, n.1, mar, 2013. ISSN 2317 – 434X Rev. Interfaces. Ano I, v. 1, n.1, mar, 2013. houve um aumento no percentual de acerto de acordo com a série acadêmica. NA UEL, a mudança não se referiu ao método de ensino-aprendizado, mas a uma mudança de filosofia educacional que incluiu a integração de disciplinas de forma vertical e horizontal e a avaliação do estudante, não só somativa, mas também formativa. (GORDON,2001). Dentre outras instituições que adotaram o PBL destaca-se a PUC-PR, que busca atender ao desafio de uma formação médica, que leve por meio da problematização, uma ruptura com o currículo mínimo que enquadrava todos os cursos de graduação em um mesmo modelo, ignorando ou negando características diversificadas da sociedade brasileira como: complexidade natural, social, heterogeneidade e desigualdades de diversas naturezas”(BRASIL,2006). Ao final de 2005 foi realizada uma avaliação institucional pela PUC-PR, sobre a satisfação junto aos alunos do novo modelo curricular, identificando-se que esses tinham incorporado a proposta e passaram a ser grandes parceiros, contemplando espírito do modelo PBL, isto é, participação ativa do aluno como agente na sua formação. Avaliações críticas em relação ao PBL têm sido publicadas, dentre as quais, destaca-se a revisão de Berkson (1993), que concluiu que os graduados pelo PBL são indistinguíveis dos que são formados pelo ensino tradicional. Em revisões mais sistematizadas sobre o PBL, vários autores como: Albaneses, Mitchel (1993), Vernon, Blanke (1993) e Wolf(1993), afirmaram que há escassez de estudos de boa qualidade e, consequentemente , de evidências disponíveis concernentes a hipótese de que o PBL, promova uma aprendizagem ou aprendizes diferentes ou superiores quando comparados ao curso tradicional, resultados frequentemente são incompletos e pobremente relatados; salientando que há grande necessidade de estudos originais de avaliação bem desenhados e criativos ás questões cruciais sobre essa metodologia. CONSIDERAÇÕES FINAIS As novas Diretrizes Curriculares de Ensino foram um importante passo para que se produzissem mudanças no processo de formação, já que indicam um caminho, flexibilizam as regras para a organização de cursos e favorecem a construção de maiores compromissos da Universidade/Instituições formadoras com o Serviço Único de Saúde. Estimulando com isso, a realização de mudanças no processo de ensino/aprendizageme na forma com se relacionam coma a sociedade, decorrentes principalmente das novas exigências do mercado de trabalho em relação ao perfil dos futuros profissionais egressos das universidades. Baseado no exposto, pôde-se concluir, que a metodologia do PBL é uma abordagem educacional que parece trazer respostas a algumas dessas necessidades atuais, consideradas centrais no processo de reforma do ensino superior no Brasil, pois nos permite refletir o nosso atual processo de ensino, rompendo definitivamente com o modelo tradicional, centralizador, buscando Faculdade Leão Sampaio Revista Interfaces: Saúde, Humanas e Tecnologia. Ano I, v.1, n.1, mar, 2013. ISSN 2317 – 434X Rev. Interfaces. Ano I, v. 1, n.1, mar, 2013. uma integração mais completa efetiva e eficaz da teoria com a prática e sociedade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBANESE. M. A.; MITCHELL, S. 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