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A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO CONTEXTO ESCOLAR Celso Pinheiro de Matos* Teina Nascimento Lopes** RESUMO O presente trabalho tem por finalidade aprofundar o conhecimento sobre a Importância da Educação Física no Contexto Escolar. Tendo várias semelhanças e igualdades entre alguns pensadores, os quais não deixam de ressaltar sobre o processo histórico e seus avanços. É através da melhoria do entendimento sobre o efeito que a Educação física pode trazer, enriquecendo interações humanas. A Educação Física é uma disciplina fortuita e infinitamente flexível que nos brinda uma oportunidade para ampliar e reorientar tanto corpo, a mente e o espírito. Esta pesquisa é de fundo bibliográfico utilizando-se da leitura em livros, apostilas, teses, artigos e internet onde alguns autores consideram que quanto mais os homens avançam em conhecimento sobre sua motricidade, mais também ele conhecia do mundo, de sua realidade. A educação física começa a ser vista, não somente como uma atividade técnica ou biológica, mas a encaram como um fenômeno psicológico e social. Palavras-chave: Educação Física; Processo Histórico; Interações Humanas. 1 INTRODUÇÃO A manifestação corporal desenvolveu se nas mais diversas culturas, culminando com a cultura grega. Após esse período fértil da motricidade humana, vem o império romano, e com ele inicia-se um declínio a respeito da compreensão e utilização da manifestação corporal, tendo seu ápice na Idade Média. Após a Idade Média, com o Renascimento do homem volta-se para a compreensão da capacidade de movimento, chegando aos métodos ginásticos. Trabalhar a importância da educação física no contexto escolar é o tema escolhido para a realização deste, faz com que se ampliem às pesquisas bibliográficas de modo a esclarecer e estimular educadores e instituições educacionais na valorização da disciplina de educação física, no ensino- aprendizagem, desse modo é que se buscou aprofundamento para a realização deste. A análise histórica mostra que a educação física enquanto disciplina escolar no Brasil, assim como as demais disciplinas que compunham o sistema escolar no inicio da colonização, sofreram os efeitos do processo de transplantação da cultura europeia. A educação física no Brasil enquanto disciplina escolar tinha como nomenclatura utilizada o nome de ginástica. Este trabalho se trata de um projeto de pesquisa bibliográfica, utilizando-se de sites, revistas, artigos, livros e apostilas, tem por objetivo ressaltar a importância da educação física no contexto escolar e como grande companheira para o ensino; refletir a relevância dentro de sala, verificar as melhores orientações dos renomados autores para os professores. O referencial teórico dessa pesquisa teve como base as teorias críticas da educação. 2 ANÁLISE HISTÓRICA Toda ação feita pelo homem – ação motora, não simplesmente um gesto mecânico, mas uma ação pensada – refletida enquanto sistema de movimento é um fato cultural. Uma das formas de expressão cultural, essa maneira de se conceber o movimento enquanto organização cultural pode ser compreendida por meio de uma analise história que nos apresenta como o homem tornou-se corporalmente operativo, ou seja sua capacidade de agir no mundo, na sua realidade por meio de sua ação motora, porém de forma refletida, pensada, compreendendo as razões dessa ação. Ação na qual todo movimento é apresentado de forma sistematizada, organizada. Historicamente pode-se acompanhar o cuidado que as gerações passadas possuíam como o corpo (entendido como uma unidade) e com suas capacidades. Esse cuidado com uma prática de atividade corporal também pode ser observado nos dias de hoje. Porem a compreensão de forma abrupta foi necessário uma construção histórica para que esse fato ocorresse. No decorrer da história, houve momentos em que a manifestação corporal foi suprimida e, em outros momentos foi disseminada. De modo geral houve um processo de evolução da compreensão relativa ao corporal. Sobre isso Ramos (1983, p. 15) relata que: [...] Dentro da acadêmica divisão da história, acompanhando a marcha ascensional do homem, documentada, sobretudo no mundo ocidental, somos levados a afirmar que a prática dos exercícios físicos vem da Pré-história, afirma-se na Antiguidade, estaciona na Idade Média, fundamenta-se na Idade Moderna e sistematiza-se na Idade Contemporânea. Torna-se mais desportiva e universaliza seus conceitos nos nossos dias e dirigi-se para o futuro, plena de ecletismo, moldada pelas novas condições de vida e ambiente. Essa construção cultural do movimento humano fundado em ações motoras – que podemos traduzir como: ações laborais, lúdicas, cotidianas e esportivas – mostram a possibilidade de uma construção da cultura do movimento humano, ou seja, da motricidade humana. A capacidade corporal de agir e de possuir movimentos fundamentais, aliadas às disposições posturais básicas do corpo, nos remetem a uma construção sistematizada da motricidade humana. “[...] o homem precisa recorrer ao amparo da cultura onde nasce e cresce, para desenvolver, adequadamente as aptidões corporais e cinéticas ali necessárias” (ORO, 1999, p. 52). A motricidade humana é uma ciência apresentada pelo filósofo português Manoel Sérgio, que mostra o ser humano como sendo a motricidade e também como transcendência, ou seja, a possibilidade de ação que eleva o humano de um nível de conhecimento para outro nível de compreensão de si e do mundo. As possibilidades de ação do corpo é que originam a variedade de expressão corporal e a variedade de amplitude e intensidade compatível com a relação social do meio em que vivemos. Desde o começo da aventura do homem sobre a Terra foi transmitida, de geração em geração, uma serie de práticas utilitárias, que, observadas e imitadas, possibilitaram-lhe, vivendo em um meio hostil, melhor apurar seus sentidos, forças e habilidades. Baseado no savoir faire surgiu o exercício natural, cuja aprendizagem era realizada por ensaios e erros. (RAMOS, 1983, p. 16). Ainda na pré-história Oliveira (1983), aponta que o homem estava em uma situação de nomadismo e seminomadismo, e as capacidades físicas de que mais fazia uso eram força, velocidade e resistência. Essas ações, não estavam somente relacionadas a sobrevivência, elas começaram a ser pensadas e compreendidas, o que favoreceu um aperfeiçoamento. “Sua supremacia no reino animal deve se, no plano psicomotor, ao domínio de um gesto que lhe era próprio: foi capaz de atirar objetos.” (OLIVEIRA, 1983, p. 13). Aos poucos o sistema nômade foi mudando, o novo modo de vida não eliminou a cultura motora de antes, porém foi necessário aprimoramento e reconhecimento de suas estruturas para nova exigência física que se apresentava. Tal estilo de vida não ocorreu de uma forma abrupta, foi acontecendo no decorrer do tempo. Na Antiguidade, mas especifico a Oriental foi o período mais fértil com relação a uma construção e estruturação de uma cultura motora. Oliveira (1983) aponta quatro povos: o hindu, o chinês, o japonês e o persa, como os que mais se destacaram nesse aspecto. Neste novo contexto, os exercícios físicos continuam merecendo o mesmo destaque alcançado na Pré-história. Não é dessa época a origem de uma educação física que pudesse ser denominada científica, mas já é possível uma analise mais apurada das atividades físicas no berço desse novo mundo, agora civilizado, com seus feitos registrados através da escrita. Podemos arriscar uma classificação onde identificaríamos finalidades de ordem guerreira, terapêuticas, esportiva e educacional, aparecendo sempre a religião como pano de fundo, como em todas as realizações orientais. (OLIVEIRA, 1983, p. 17). Oliveira (1983) afirma que os chineses foram os primeiros a “racionalizar”, entender o movimento humanocomo algo pensado e intencional, e não puramente mecânico, dando-lhe também um forte conteúdo médico. O autor ainda ressalta que os chineses foram os primeiros, dentre os povos a criar um sistema de ginástica terapêutico. Dentre todas as manifestações da cultura motora, na índia o que se desenvolveu foi a Ioga, tendo em vista que esta, não trata somente do físico, mas também engloba uma concepção de homem como um ser integral, não desarticulando corpo e mente ou corpo e alma ou espírito. Os persas possuíam uma preocupação maior com as questões de guerra, buscavam uma cultura motora que possibilitasse uma melhor defesa do seu território foi um caminho natural para esse povo. Essa cultura corporal voltada para a guerra não aconteceu isoladamente, os egípcios como pioneiros nessa construção cultural; como foram os pioneiros em um exército permanente, esse possuía os rudimentos de um quartel moderno, no qual eram ensinadas as artes de esgrima, equitação e luta corporal, apresentando assim uma cultura motora com fins militares. E é no Egito que aparece o primeiro instrutor de ginástica, que capacitava os soldados e os nobres na arte da guerra. Nesse contexto histórico observa-se que a estruturação de uma cultura motora está estreitamente relacionada com as necessidades básicas da cultura em que o indivíduo está inserido. Além disso, as questões relacionadas a religião figuram entre os fatores principais que são levados em conta na elaboração de uma cultura motora, e que certos aspectos das atividades recreativas começam a ser desenvolvidas nas civilizações da Antiguidade. Para Oliveira (1983) a cultura grega é o inicio autentico da história da educação física, o autor ressalta que os gregos sistematizaram um conhecimento sobre a cultura motora, não separaram as questões relativas ao intelectual e religioso, considerando assim que o homem é somente humano enquanto completo. Segundo Oro (1999), não era somente o corporal o alvo dos gregos, mas também o cognitivo, que era mediado pela pedagogia e filosofia. Somos sabedores que não foi somente privilégio dos gregos esta herança cultural de movimento, e não somente a ginástica a única fonte de compreensão da motricidade. Outras culturas além da grega também participam desse legado cultural. A manifestação corporal, cuja prática era influenciada pelo domínio do governo das cidades-estados, passou a ser muito difundida na Grécia. Não podemos esquecer que subjacente a esta estruturação da cultura motora na Grécia antiga estava sua mitologia, a qual influenciou a criação dos grandes jogos gregos, os Píticos, Nemeus, Ístmicos e, principalmente os Olímpicos. Estes últimos, segundo Oliveira (1983), foram criados em 776 a.C., em homenagem a Zeus. Tais jogos tinham um caráter de festa popular e religiosa, que dispunha, além das competições atléticas, provas literárias e artísticas. A construção e sistematização de uma cultura motora pelos gregos se deram até a invasão e domínio dos romanos. Os romanos absorveram grande parte da cultura e mitologia gregas, porém, no que dizia respeito à cultura motora, representam um atraso, uma vez que uma das grandes sanções imposta pelos romanos foi a abolição dos jogos idealizados pelos gregos. Roma em sua constituição apresenta a herança direta de dois povos: os etruscos, que eram da região do norte; e os gregos, que eram do sul. Dos etruscos, os romanos receberam a influência da arte e dos esportes, dos gregos, herdaram a sua cultura, respeitadas, é claro, as particularidades do homem romano. A civilização romana, no entanto, se destacava, sobretudo, pela praticidade e por um espírito eminentemente utilitarista. As questões relativas a realizações pessoais foram suprimidas pelo ideal coletivo, característica do império romano. Os romanos praticavam a equitação, corridas de velocidades e resistência, natação, pugilato, luta, arco e flecha e esgrima. Os jogos romanos tinham uma conotação de treinamento, não implicando em competições, como os gregos faziam. A ginástica no período romano perdeu o sentido do belo que os gregos contribuíam. E os jogos, numa concepção humanista, que Ra a base da cultura grega, não influenciaram a cultura romana. A única herança dos romanos com relação a cultura motora é a luta Greco-romana. Houve um período obscuro para as questões voltadas ao corporal, que culminou coma Idade média, cujo fim ocorreu com a tomada de Constantinopla pelos turcos em 1453. Neste período da história da humanidade foi estacionário para a manifestação corporal. O inicio da época medieval mostra que foi bastante conturbado, uma vez que as pessoas viviam em constante temos de serem vítimas de invasão por algum povo conquistador. Aquele foi um período de violência, que obrigou os nobres a se refugiarem em castelos, verdadeiras fortalezas, ao redor dos quais habitavam os camponeses, que se dedicavam ao trabalho do campo, cujo produto era, em sua maioria, tão somente para sua subsistência. As ações motoras voltadas para uma manifestação cultural, já debilitada pela decadência de Roma, perderam quase que totalmente a sua importância, restando somente uma prática de atividade física desprovida de uma pedagogia e somente restrita aos nobres. Na história da Idade Média, observa-se às ações motoras estruturadas em um contexto cultural não houve um avanço significativo, mas para a cultura de uma forma geral progrediu, pois nessa época floresceu a arte gótica, surgiram às primeiras universidades. Com a Renascença ou Renascimento, instaurou-se um movimento intelectual, social e estético que se opunha à decadente estrutura feudal. Isso resultou numa nova concepção de mundo e de homem, e a manifestação corporal do homem que produz cultura passou então a ser assunto dos intelectuais, que procuraram apresentar uma nova reintegração do físico e do estético. Foi quando a humanidade trouxe abertura de pensamento, com destaque de grandes nomes nas mais variadas áreas da cultura. Dentre esses, vale destacar um grande pensador, René Descartes (1596-1650). Em suas meditações apresentou um novo modo de pensar o homem, e suas ideias se fazem presente até nossos dias. Em suas obras, Descartes afirma não conceber ao corpo a faculdade do pensamento. Em sua meditação segunda, a respeito do corpo, Descartes (1637, p. 25) apresenta seu ponto de vista relatando o seguinte: No que se referia ao corpo, não duvidava de maneira alguma de sua natureza; pois pensava conhecê-la mui distintamente e se, quisesse explicá-la segundo as noções que dela tinha, tê-la-ia descrito desta maneira: por corpo entendo tudo o que pode ser limitado por alguma figura; que pode ser compreendido em qualquer lugar e preencher um espaço de tal sorte que todo outro corpo dele seja excluído; que pode ser sentido ou pelo tato, ou pela visão, ou pela audição, ou pelo olfato; que pode ser movido de muitas maneiras, não por si mesmo, mas por algo de alheio pelo qual seja tocado e do qual receba a impressão. Pois não acreditava de modo algum que se devesse atribuir á natureza corpórea vantagens como ter de si o poder de mover-se, de sentir e de pensar; ao contrário, espantava-me antes ao ver que semelhantes faculdades se encontravam em certos corpos. Descartes (1637) apresenta o homem com o funcionamento harmônico tal qual de uma máquina, e o intelecto como a sede do sujeito, no qual teria que haver uma dissociação entre o sujeito e o objeto cognoscível para que algum conhecimento pudesse ocorrer. A capacidade de aprender está no intelecto, e um distanciamento entre o sujeito e o objeto cognoscível deveria ocorrer para que se desse a aprendizagem. O Iluminismo se coloca como novidade do conhecimento humano, tal movimento partiu do principio de igualdade, linha de pensamento que inspirou importantes mudanças, como o direito à escola, além dessa busca de formação culturaltambém houve uma preocupação com a saúde, buscou-se o desenvolvimento de um trabalho prático e teórico na esfera a ginástica na Alemanha. Na mesma época da construção deste modelo de trabalho de formação corporal, surgiu na Alemanha uma concepção de corpo contraditória ao pensamento vigente: [...] Johann Bernhard Basedow, no ano de 1774, fundava, em Dessau, o primeiro Philantropinum, uma escola em que a ginástica e as disciplinas de formação intelectual estavam curricularmente equiparadas. Eram, assim, lançadas, em finais do século XVlll, as fundações da disciplinalização curricular da ginástica, o que está na origem da concepção da educação física como disciplina curricular (ORO, 1999, p 60). Esta forma de pensar a ginástica equiparada às disciplinas tidas como intelectuais não teve o impacto cultural do já arraigado dualismo (corpo e mente), pois na Europa, segundo Oro (1999), três correntes ginásticas emergiam no inicio do século XlX: a da escola Escandinávia, da escola alemã e da escola francesa. Essas correntes passaram a formar as bases da tradição da cultura motora europeia, as quais são quais são mais conhecidas como métodos ginásticos, em que se destacam o sueco, o alemão e o Frances, métodos que foram base do principio da ginástica no Brasil. 3 INTRODUÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO SISTEMA ESCOLAR BRASILEIRO A relação entre a educação física e a sociedade passou a ser discutida nos últimos anos sob influências das teorias críticas da educação. Desta forma surgiu o questionamento do seu papel enquanto disciplina escolar e sua dimensão política Historicamente dizendo, a educação física enquanto disciplina escolar no Brasil, assim como as demais disciplinas que compunham o sistema escolar no início da colonização, sofreram os efeitos do processo de transplantação da cultura europeia. A educação física no Brasil enquanto disciplina escolar tinha como nomenclatura utilizada o nome de ginástica. Oliveira (1983) apresenta como o início oficial da história da educação brasileira a chegada dos jesuítas em 1549. No tempo em que jesuítas tinham o monopólio da educação na colônia, eles buscaram proporcionar uma educação nos parâmetros estes muito criticados na Europa. Neste tempo de permanência no Brasil, os jesuítas atuaram somente na construção e administração de colégios para a educação básica, não avançaram para o ensino superior. Assim sendo, no inicio da história da educação no Brasil colônia, as questões intelectuais se sobrepunham ás corporais, e as questões corporais somente aconteciam nas catequeses que eram voltadas para os nativos, e os filhos das classes dominantes somente tinham as atribuições consideradas intelectuais no contexto escolar. Em 7 de setembro de 1822, ocorre a emancipação política, onde não buscou somente a elaboração de uma nova constituição, mas também houve por parte da classe governamental uma necessidade de nacionalizar e estruturar o sistema educacional. Em 1823 houve pela primeira vez uma menção a disciplina de educação física. No decorrer de sua história essa disciplina teve várias influências de abordagens pedagógicas, que buscavam uma base de sustentação, além das já conhecidas anatomia e fisiologia. A educação física no contexto escolar e na construção de seu conhecimento específico apresentou novas abordagens pedagógicas que buscavam encontrar razões para justificar sua presença na escola. Esse impulso ocorreu de forma geral, a educação vem buscando historicamente organizar meios metodológicos que quando colocados em prática atendam as exigência e necessidades educacionais. Libâneo (1985) classifica as tendências educacionais segundo as funções sociais da escola em liberais e progressivas. Na primeira encontram-se as tendências: tradicional, renovada progressista, renovada não diretiva e tecnicista. Já as tendências libertadora, libertária e crítico social dos conteúdos são identificados na segunda tendência. Medina (1989) tem como critério uma visão de homem e de mundo e afirma que estes determinam a educação. Ele ainda aponta três concepções de educação física que buscam conferi-lhe significado: convencional, modernizadora e revolucionária. No currículo de 1940, a Educação Física aparece tanto no Curso Fundamental como no Curso Profissional de todas as armas, acompanhada das disciplinas Equitação, Esgrima, Anatomia, Fisiologia, os Socorros de Urgência e a Higiene Militar e, segundo o autor, “todas as disciplinas, exceto a Equitação, continuam presentes na maioria dos Cursos de formação de professores civis do país, na atualidade, com breves modificações no ementário e/ou na denominação da disciplina.” (FERREIRA NETO, 1999). Daolio (1997) ressalta que quando surgiram os primeiros cursos de pós- graduação em educação física no país, os primeiros brasileiros doutores no exterior retornaram, começando assim surgir mais explicações científicas e um aumento significativo de publicações, eventos e congressos na área. Através dos estudos houve um discurso na busca de identidade para a educação física e sua aplicação escolar, surgindo varias formas de pensar a educação física, que hoje são chamadas de abordagens. A partir desse momento chamado de “renascimento” da educação física, uma variedade de autores escrevia e falava sobre novas abordagens, mas cada um de seu modo. Azevedo e Shigunov (2000) classificam as abordagens em preditivas e não preditivas. Na primeira encontram-se as abordagens construtivistas, crítico- superadora, aptidão física, desenvolvimentista, educação física plural e concepção de aulas abertas. Nas não preditivas estão as abordagens crítico-emancipatória, humanista, psicomotricista, sistêmica e tecnicista. Castellani Filho (1997) agrupa as abordagens de acordo com as metodologias de ensino de cada uma dividindo-as em não propositivas, que são conceituadas como abordagens; e propositivas sistematizadas e nãosistematizadas, estas chamadas pelo autor de concepções. Observa se que a partir dessas abordagens, o professor possui à sua disposição uma gama grande de conteúdos, embasados nas diferentes tendências pedagógicas, as quais por sua vez têm suas origens nas linhas filosóficas do Positivismo, da Fenomenologia (cientificista e historicista) e do Marxismo (dialética materialista-histórica). É desafiador a busca do conhecer, compreender e escolher a teoria ou teorias que irão embasar a prática pedagógica, modificando a postura e atuação no contexto escolar. Havendo a apropriação de conhecimento e escolhendo uma linha filosófica e a abordagem que mais se aproxima das concepções de vida e sociedade, evita-se a dicotomia entre teoria e prática e dirige os alunos em um processo de ensino aprendizagem crítico e reflexivo. Abordagens não propositivas da Educação Física segundo Castellani Filho (1997) são assim chamadas por abordar a Educação Física escolar, mas não estabelece metodologias para o seu ensino, ou seja, não explica como deve ser realizada a compreensão do conhecimento por parte dos alunos, deixando lacunas quanto à sua organização dentro do sistema escolar. A Fenomenologia, Behmoiras (2005), “busca a essência, isto é, o que o fenômeno verdadeiramente é depois de sofrer um isolamento total, uma redução, eliminando o eu que vivencia e o mundo com os seus valores, cultura, etc.”... Segundo Barbieri et.al.(2008, p. 227): Em âmbito escolar, essa abordagem tem como foco o movimentar-se humano e a relação do indivíduo com o meio: sujeito-espaço, sujeito- tempo, sujeito-objeto, etc. Busca-se nas aulas de Educação Física desenvolver a capacidade de tomada de decisão e autonomia dos alunos, bem como propiciar a estes uma prática lúdica, de cooperação e socialização com os demais colegas de classe. Segundo Palafox e Nazari (2007), a abordagem Sociológica: [...] não é difícil definir o objetivo da Educação Física na escola,incluindo o esporte como um de seus conteúdos: introduzir o aluno no universo cultural das atividades físicas, de modo a prepará-lo para elas usufruir durante toda sua vida. [...] Deve-se ensinar o basquetebol, o voleibol (a dança, a ginástica, o jogo...), visando não apenas o aluno presente, mas o cidadão futuro, que vai partilhar, produzir, reproduzir e transformar as formas culturais da atividade física. Por isso, na Educação Física escolar, o esporte não deve restringir-se a um fazer mecânico, visando um rendimento exterior ao indivíduo, mas tornar-se um compreender, um incorporar, um aprender atitudes, habilidades e conhecimentos, que levem o aluno a dominar os valores e padrões da cultura esportiva. Entende se que o esporte é visto como o principal conteúdo da escola, visto como cultura do povo, como produtor e reprodutor de atividades físicas capaz de transmitir atitudes e valores da vida real na formação do aluno e do futuro cidadão. Castellani Filho (1997,) divide as abordagens propositivas como sistematizadas e não sistematizadas, as primeiras representadas pela concepção da aptidão física e Crítico Superadora e as últimas pelas concepções desenvolvimentistas, construtivista, crítico emancipatória e plural, que tem sua origem na abordagem Cultural. A concepção Crítico Superadora, com sua origem no Marxismo, se destina a mudar uma realidade, contribuindo para a formação de uma consciência filosófica revolucionária; partindo do conhecimento da cultura corporal, os alunos aprendem a ver a sociedade sob a ótica do capitalismo e, o conteúdo, de relevante valor social, “deverá estar vinculado à explicação da realidade social concreta e oferecer subsídios para a compreensão dos determinantes sócio históricos do aluno, particularmente a sua condição de classe social”. (Coletivo de Autores, 1992). Segundo autores, essa proposta de trabalho entende a Educação Física como: [...] uma prática pedagógica que, no âmbito escolar, tematisa formas de atividades expressivas corporais como: jogo, esporte, dança, ginástica, formas estas que configuram uma área de conhecimento que podemos chamar de cultura corporal. (Coletivo de Autores, 1992, p. 50). Significa que o professor deve usar em suas aulas os elementos da cultura corporal (jogos, esportes, danças, lutas, ginásticas, atividades rítmicas...), fornecendo subsídios teóricos para que seus alunos possam analisá-los sob diversos pontos de vista, distintos daqueles mitificados pela classe dominante, desacreditando o senso comum e superando a ordem capitalista. Saladini (2006) verificou que a educação física identificou-se em nosso país até a década de 1970, com a reprodução mecânica dos movimentos tendo nesta prática uma inspiração tecnicista. Naquela época pensava-se que o ser humano seria educado à medida que os seus movimentos fossem treinados. Este processo era garantido pela prática da ginástica e do esporte e estruturava-se na preparação, recuperação e manutenção da força de trabalho. Prevaleceu um entendimento da educação física como atividade prática voltada para o desenvolvimento e aprimoramento das capacidades físicas por meio de técnicas de adestramento, vendo nisso uma grande contribuição para o intelecto do sujeito, ou seja, à pratica da educação física estava a serviço do pensamento, sendo este a expressão da razão. Ao corpo caberia, tal qual uma máquina, a obediência às tarefas impostas pelo pensamento, estando este localizado em uma dimensão superior com relação ao corpo. Atualmente se concebe a existência de algumas abordagens para a disciplina de educação física no Brasil, que é resultado da articulação de diferentes teorias psicológicas, sociológicas e concepções filosóficas. Essas abordagens tem ampliado o campo de ação e reflexão para a área. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n. 9394/96, promove em seu texto uma possibilidade de a área transformar suas bases epistemológicas que vinha executando nos últimos anos ao explicitar no art. 26, parágrafo 3, que “a educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular da educação básica, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escola, sendo facultativa nos cursos noturnos”. Esta lei trazia em sua redação que a educação física era facultativa nos cursos noturnos, porém o espírito da lei é que a educação física estava facultativa ao aluno e não à escola que oferecia curso noturno. Por não estar clara a intenção da lei, o que se verificou foi que as aulas desta disciplina deixaram de ser ofertadas em algumas escolas que possuíam o curso noturno, pois o entendimento ainda vigente é o de oferecer as disciplinas intelectivas um maior número de aulas, pois estas são mais importantes do que uma disciplina tida como somente corporal. Assim tornou-se necessário uma mudança na redação da lei para que a disciplina voltasse a ser ofertada nos cursos noturnos. Em 2003, foi editada a Lei n. 10.793 que altera a redação do art. 26, parágrafo 3 da Lei n. 9.394/96, que estabelece as diretrizes e bases da educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular obrigatório da educação básica, sendo sua prática facultativa ao aluno: I. Que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a seis horas; II. Maior de trinta anos de idade; III. Que estiver prestando serviço militar inicial ou que, em situação similar, estiver obrigado à prática da educação física; IV. Amparado pelo Decreto Lei n. 1.044, de 21 de outubro de 1969; V. (Vetado); VI. Que tenha prole. Observa-se que em 1996 já havia uma preocupação com o enfoque de a educação física passar a ser componente curricular e de estar integrada à proposta pedagógica da escola, inclusive nos cursos noturnos. A nova redação mostra um novo entendimento que o Ministério da educação está tendo sobre a disciplina educação física. Porém ainda pautado em um paradigma muito cristalizado de atividade física, pois os responsáveis pela redação da referida lei apontaram casos em que é facultativo ao aluno; ou seja, casos, em que o aluno já faz uma atividade física ele escolhe se faz a disciplina ou não, portanto fica clara a conotação de atividade de rendimento físico e não de conhecimento dos conteúdos específicos da disciplina. Através das novas formas de pensar o papel da educação física no contexto escolar, Manuel Sérgio (1996) apresenta uma nova perspectiva para a educação física. Esta é denominada por ele como ciência da motricidade humana. [...] a motricidade humana invoca a totalidade humana (corpo, espírito, natureza, sociedade), não só no desenvolvimento motor [...] a motricidade humana é estado e processo porque dele emergem um código genético, uma estratégia bioquímica, um sistema nervoso, um nível energético de base e também os fatores culturais der aprendizagem e afinal tudo que constitui a praxidade humana (SÉRGIO, 1996). Entende-se que o gesto técnico desportivo não é mais o enfoque desta disciplina, mas sim o conhecimento das possibilidades da motricidade do sujeito. A questão da motricidade humana não é recente, porém Manuel Sérgio tem buscado mostrar que os fundamentos que regem a educação física não devem pautados numa visão dualista de corpo, nem tampouco ter o desporto como o eixo norteador desta disciplina. 3.1 PARÂMETROS CURRICULARES Os Parâmetros Curriculares Nacionais, seguindo a Lei nº 9394/96, estabelece os rumos da Educação Física Escolar. Brito (1999) afirma que os PCNs se apresentam como uma proposta curricular dentre outras, sendo significativa, mas não obrigatória, constituindo-se em uma alternativa às propostas curriculares dos Estados e Municípios. A educação física, enquanto área de conhecimento na escola deve sistematizar situações de ensino e de aprendizagem que garantam aos alunos a apropriação da compreensão sobre conhecimentosque, para os alunos, são práticos e ou conceituais. Atualmente, de acordo com os PCNs, é fundamental que se faça distinção entre os objetivos da educação física enquanto disciplina escolar e os objetivos do esporte, da dança, da ginástica e da luta, pois embora, seja uma referencia a formação de atletas para esportes de rendimentos não é dever da disciplina de Educação física. De acordo com os PCNs (blocos dos conteúdos de conhecimento sobre o corpo) a disciplina de educação física deve dar oportunidades a todos os alunos, para que vivenciem e elabore suas estruturas capacitativas, compreendendo o significado do movimento humano. (SALADINI et al, 2008). Darido e Rangel (2005, p. 18-19), citam que: [...] a abordagem cidadã teria como valores os direitos democráticos liberais e a meta de construção de uma cidadania crítica. A inserção e a integração dos alunos à Cultura Corporal de Movimento são seus objetivos específicos. Aspectos conceituais, procedimentais e atitudinais vinculados aos jogos, esportes, danças, ginásticas, lutas e conhecimento sobre o corpo são as dimensões dos conteúdos e as vivências são tidas como estratégias principais. Na realidade escolar, os PCNs também se apresentam como alternativa de ensino, onde os professores trabalham como conteúdos os jogos, os esportes, as danças, a ginástica, a luta e o conhecimento sobre o corpo, porém, apesar de ser uma boa proposta, os PCNs, muitas vezes, são trabalhados apenas de forma teórica, em sala de aula, sem a presença do movimento, essência da Educação Física. Percebe-se que cada uma das propostas pedagógicas tem sua origem, concepção, objetivos e conteúdos, sendo todas elas, apesar de suas limitações e complexidades, importantes para a reflexão, a discussão e a comparação daquilo que achamos certo ou errado, perfeito ou imperfeito para aplicação na área da Educação Física Escolar, objeto deste estudo. Sabe se que a Educação Física escolar atualmente tem diferentes caminhos, com diferentes referenciais teóricos, mas com objetivos similares em todas as propostas, que buscam oferecer uma disciplina com conteúdos significativos, buscando a autonomia frente aos conhecimentos tratados dentro da disciplina, assim como se enfatiza a necessidade da seriedade da ação docente e da responsabilidade com o processo ensino aprendizagem. CONCLUSÃO Conclui se que o homem buscou estruturar a sua motricidade bem como teve preocupação em entender a sua corporeidade. O contexto histórico busca apresentar um conhecimento necessário ao professor, sendo que se não conhecemos o passado, o presente pode nos parecer sem sentido e com um futuro incerto. O estudo dos processos históricos traz a possibilidade de compreensão dos porquês da disciplina de Educação Física estar presente no contexto escolar e qual sua relação com o processo de aprendizagem que realizamos para entender nossa realidade. A importância do resgate histórico se faz para compreender como a disciplina de educação física (inicialmente com a nomenclatura de ginástica) foi introduzida no sistema educacional brasileiro, assim como a determinação pelos órgãos governamentais. É indispensável que o professor de educação física tenha conhecimento e sistematize o conteúdo que levará para sua aula. Portanto, a aula de educação física não ficaria resumida simplesmente como uma “área de atividades”. O professor em sua ação pedagógica deve oferecer oportunidades para que o aluno reflita sobre a ação motora executada. Sendo assim, ao enfrentar conflitos cognitivos, o sujeito encontrará situações para (re) construir o seu conhecimento, ampliando a compreensão de sua realidade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AZEVEDO, Edson S.; SHIGUNOV. Viktor. Reflexões sobre as abordagens pedagógicas em Educação Física. Kinein, Florianópolis, v. 1, n. 1, dez. 2000. 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