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FILOSOFIA FIEG - FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DE GOIÁS SENAI - SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM INDUSTRIAL SESI - SERVIÇO SOCIAL DA INDÚSTRIA DEPARTAMENTO REGIONAL DE GOIÁS Paulo Afonso Ferreira Presidente da Federação das Indústrias do Estado de Goiás Presidente do Conselho Regional do SENAI e do SESI de Goiás Diretor Regional do SESI de Goiás Paulo Vargas Diretor Regional do SENAI Superintendente do SESI Manoel Pereira da Costa Diretor de Educação e Tecnologia do SESI e SENAI Cristiane dos Reis Brandão Neves Gerente de Tecnologia e Inovação do SENAI Ítalo de Lima Machado Gerente de Educação Profissional do SENAI Ângela Maria Ferreira Buta Gerente de Educação Básica do SESI Para fazer inscrições ou obter informações sobre os cursos a distância contactar: www.sesigo.org.br e www.senaigo.com.br FILOSOFIA Ensino Médio Articulado Leandro Alves Martins de Menezes Goiânia/GO 2010 © SESI – Serviço Social da Indústria © SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial Recurso didático elaborado pelo docente Leandro Alves Martins de Menezes, a ser utilizado na Rede SESI SENAI de Educação. Equipe técnica que participou da elaboração desta obra Diretor de Educação e Tecnologia Manoel Pereira da Costa Gerente de Educação Básica Ângela Maria Ferreira Buta Gerente de Tecnologia e Inovação Cristiane dos Reis Brandão Neves Apoio Técnico Ariana Ramos Massensini Revisão Ortográfca e Normatização FabriCO Design Educacional, Diagramação, Ilustração, Projeto Gráfico Editorial Equipe de Recursos Didáticos do Núcleo de Educação a Distância- SENAI/SC em Florianópolis Fotografias Banco de Imagens SENAI/SC http://www.sxc.hu/ http://office.microsoft.com/en-us/images/ http://www.morguefile.com/ SESI SENAI – Departamento Regional de Goiás Av. Araguaia , nº 1544 – Setor Vila Nova CEP: 74.610-070 – Goiânia/GO Fone: (62) 3219-1300 www.sesigo.org.br www.senaigo.com.br ____________________________________________________________ S514i SESI-GO. Filosofia . Goiânia, 2010. 202p. : Il. 1.Educação a distância. 2. Filosofia. 3. Plano de estudo. 2. Metodologia de ensino I. Autor. II. Título CDD – 107 __________________________________________________________ SUMÁRIO Î CARTA AO ALUNO .................................................................7 Î APRESENTAÇÃO ...................................................................9 Î PLANO DE ESTUDO .............................................................11 Î METODOLOGIA DE ESTUDO ................................................13 Î MÓDULO I – Cultura Mitológica Grega, Pensamento Filosófico na Grécia Antiga e no Período Medieval ....................15 Î MÓDULO II – Filosofia da Mente e Filosofia da Ciência ..........69 Î MÓDULO III – Filosofia da Arte e Lógica .............................117 Î MÓDULO IV – Dialética, Ética e Política ..............................153 Î PALAVRAS DO AUTOR .......................................................195 Î CONHECENDO O AUTOR ...................................................197 Î REFERÊNCIAS ...................................................................199 Filosofia 7 CARTA DO ALUNO Prezado aluno, na perspectiva de que somos convidados a buscar continuamente a aprendi- zagem e temos como referência inúmeras pesquisas indicando que pessoas com maior escolaridade têm diversas oportunidades no mercado de trabalho, o SESI SENAI – De- partamento Regional de Goiás, atento a essas demandas, desenvolve cursos de aperfei- çoamento profissional na modalidade Educação a Distância (EaD). Com isso objetivamos democratizar o acesso à educação, possibilitando uma aprendizagem efetiva e autônoma, em que você, aluno, não precise se ausentar do tra- balho ou de casa para ampliar seus conhecimentos. Vale ressaltar que os cursos de Edu- cação Continuada na modalidade EaD foram criados tendo em vista as atuais demandas de qualificação, por isso oferecemos a você cursos de informática básica, geohistória, novas regras ortográficas, empreendedorismo, educação ambiental e outros. Este material foi preparado para auxiliá-lo em seus estudos e contribuir como fonte de pesquisa e consulta, estando disponível nas bibliotecas do SESI SENAI em Goiás. Desejamos sucesso em sua caminhada, e que você continue sendo parceiro na promoção contínua da educação de qualidade. APRESENTAÇÃO 9Filosofia Olá! Seja bem-vindo ao curso de Filosofia fornecido pelo sistema de educação a distância do SESI SENAI. Espero que você possa desfrutar deste curso da melhor for- ma, estando apto, após a conclusão, a desenvolver reflexões de forma autenticamente filosófica em suas relações sociais, seja nas situações corriqueiras ou mais complexas. Desejo e acredito que você poderá dominar os principais pressupostos da história da filosofia, sobretudo até o Período Medieval. Filosofia é uma palavra de origem grega (philos = amigo; sophia = sabedoria) e, em seu sentido estrito, designa um tipo de especulação que se originou e atingiu apogeu entre os antigos gregos, tendo continuidade com os povos culturalmente domi- nados por eles. É claro que, atualmente, nada impede que em qualquer parte do mundo se faça especulação “à moda grega”, isto é, filosofia. Mas, se afirmamos que esse tipo de especulação é diferente e tem caracte- rísticas próprias, quais são elas, afinal? O que é filosofia? É exatamente isso que vamos descobrir e compreender juntos, ao longo do curso. Bons estudos! 11 PLANO DE ESTUDO Filosofia Objetivos Gerais Î Historicizar as principais teorias do pensamento filosófico. Î Possibilitar reflexões filosóficas com autonomia, por meio das principais teorias do pensamento. Objetivos Específicos ÎDominar, a partir da filosofia, diversos campos do saber em múltiplas áreas do conhecimento. Î Estimular a atividade reflexiva, a inquietude, e analisar os fenômenos materiais e simbólicos do mundo. Î Entender como identidades, culturas e sociedades foram constituídas ao longo da história, em meio a construções de teorias do conhecimento e de epistemologias. Î Aproximar a disciplina filosófica das atividades cotidianas. Î Analisar a curiosidade humana como princípio dos questionamentos filosóficos em busca da compreensão da natureza. METODOLOGIA DE ESTUDO 13Filosofia Este curso está dividido em quatro módulos de estudos, sendo que cada um contém dez aulas. O curso foi elaborado de forma a desenvolver suas habilidades e competências a partir do pensamento filosófico. Em todo o conteúdo você encontrará objetos instrucionais, que estarão dis- poníveis para você explorar conceitos e aspectos centrais dos assuntos estudados. Você verá quadros de destaque, curiosidades, dicas, reflexão, saiba mais, importante, atenção, entre outros. Lembre-se de que, ao terminar uma aula, é importante que você tire todas as dúvidas com seu professor tutor e sempre resolva todas as questões antes de passar para a próxima etapa. Assim, dedique momentos do seu dia para o estudo. Nossa sugestão é de uma hora por dia, em local calmo e arejado. Mas lembre-se de fazer um pequeno intervalo de dez minutos durante esse momento de estudo. Prepare-se para iniciar essa trajetória e enriquecer seus conhecimentos! Filosofia 15 Objetivos de aprendizagem Ao final deste módulo você terá subsídios para: Î compreender o porquê do surgimento da filosofia a partir da mitologia; Î compreender a origem da filosofia e sua importância ao longo da história até os dias atuais; Î analisar a influência do pensamento filosófico na cultura e nos povos da Antiguida- de e da Idade Média. Aulas Acompanhe, neste módulo, o estudo das seguintes aulas: Î AULA 1: Mitologia: impactos culturais entre os gregos no Período Clássico Î AULA 2: Sobre o amor: O Banquete Î AULA 3: Mitologia, poesia e filosofia no mundo grego Î AULA 4: Nascimento da filosofia Î AULA 5: As primeiras perguntas filosóficasÎ AULA 6: Principais etapas da história da filosofia grega Î AULA 7: Filosofia Pré-Socrática e Socrática Î AULA 8: Filosofia Sistemática e o Período Helenístico Î AULA 9: Patrística e Escolástica Î AULA 10: Renascença MÓDULO 1 Cultura Mitológica Grega, Pensamento Filosófico na Grécia Antiga e no Período Medieval Módulo 116 Para início de conversa Seja bem-vindo ao fascinante mundo da filosofia. Neste primeiro módulo você acompanhará o surgimento e a história do pensamento filosófico, bem como a cultura e os valores que o circundavam em sua origem e em seu desenvolvimento. Uma vez compreendida sua origem, vamos adiante na história até a Idade Média e o Período Re- nascentista, avaliando a importância da filosofia nessas épocas e seus reflexos no futuro. Bons estudos! Aula 1 Mitologia: impactos culturais entre os gregos no Período Clássico As reflexões e os objetivos deste primeiro estudo serão sobre os impactos da cultura grega a partir de reflexões no campo mitológico. ? Você já pensou sobre a maneira como os gregos do Período Clássico pensavam suas relações culturais a partir da religião? Antes da constituição de um pensamento filosófico, notamos as formas de percepção e experiência do amor, representadas nas narrativas lendárias e escritos literários da época, sobre seus sistemas de regras e relações de poder. O mito foi uma das primeiras formas de esclarecimento sobre a ori- gem humana. Pautados nele, os gregos construíram suas concepções de conduta moral, social e política. Filosofia 17 As explicações míticas não fornecem informações claras, deixando questões abertas para serem descobertas e estudadas. Elas são uma importante fonte de co- nhecimento do pensamento grego e de suas características de culto. Revelam como os gregos se relacionavam com a natureza, a sociedade e os costumes. Ao longo da história, ocorreram modificações de determinadas narrativas míticas. Parte desse fato deveu-se às alterações culturais e às recriações orais, como ressalta o mitógrafo Junito Brandão (1987), em seu estudo sobre a mitologia grega: Mitógrafo: estudioso das narrativas mitológicas. G Glossário O mito é sempre uma representação coletiva, transmitida através de várias ge- rações e que relata uma explicação do mundo. Mito é, por conseguinte, a parole, a palavra revelada, o dito... O mito expressa o mundo e a realidade humana, mas cuja essência é efetivamente uma representação coletiva, que chegou até nós através de várias gerações. E na medida em que pretende explicar o mundo e o homem, isto é, a complexidade do real, o mito não pode ser lógico. (BRANDÃO, 1987, p. 36) NOTA Na Grécia, durante o Período Clássico, o mito se estabeleceu como um im- portante elemento cultural da sociedade e exerceu profunda influência no cotidiano dessa população. Notamos que os deuses, diferentemente das religiões cristãs, possuí- am atributos similares aos humanos. Módulo 118 Os deuses expressavam sensações e sentimentos em uma determi- nada ocorrência da mesma forma que um mortal, mas não tinham preocupação com relação a aspectos de idade e mortalidade, visto que eram imortais, ao contrário dos humanos. As similaridades mostram o quanto os deuses eram culturalmente presentes na realidade social grega. Nos poemas de Homero, percebemos que o mundo dos deu- ses e dos mortais era interligado. Havia até relações amorosas entre os mortais e os deuses, sendo que estes se apaixonavam tão intensamente quanto os mortais. A relação amorosa clássica entre um mortal e um deus é percebida no mito de Apolo e Daphne. Os gregos adoravam os deuses por representações simbólicas. A mitologia grega acolheu frequentemente novos deuses na sua consti- tuição religiosa, de forma que os antigos deuses não perdiam seu lugar. Filosofia 19 Parte dessas representações visava à certa aproximação do mundo dos mor- tais com o dos deuses e, em geral, tais modelos representativos se encontravam nas atividades artísticas produzidas em referência a eles. Os gregos antigos acreditavam que os deuses encarnavam nas está- tuas construídas, sob um âmbito antropomórfico. ? Curiosidade Os deuses tradicionais são caracterizados por serem guardiões de uma orde- nação moral, visando à moderação, evitando excessos, sobretudo pregando a sabedo- ria. Apolo se encaixa bem como um exemplo desse deus tradicional. A religião grega influenciava diretamente a concepção dos antigos em sua relação com o mundo. Por conta do mistério que envolvia a origem dos homens, principalmente entre os antigos, o sexo e o amor passavam a ser um dos principais meios de análise e questionamen- to em relação a essa origem. Por causa disso, vários mitos foram desenvolvidos com relação intrínseca à sexualidade e, a partir destes, podemos identificar determinadas características do imaginário da Grécia Clássica. Afrodite (ou a Vênus dos romanos), deusa da beleza, do amor e da paixão, é um dos exemplos. A mitologia frequentemente mostra essa deusa ajudando os amantes a supe- rarem obstáculos. A influência de Afrodite na vida dos gregos dizia respeito à relação entre o amor e a afetividade. Módulo 120 Figura 1 - O nascimento da virgem, Wiliam – Adolphe Bougereau, 1879 Originário de Chipre, o culto a Afrodite estendeu-se por Esparta, Corinto e Atenas. Os cânticos de Homero retratam-na como filha de Zeus e Dione. Casou-se por ordem de Zeus com Hefesto, o mais feio dos imortais, a quem foi muitas vezes infiel: com Ares, com quem teve alguns filhos, entre eles, Eros; foi amante de Hermes, de Dioniso e também de alguns mortais. À medida que seu culto se estendia pelas cidades gregas, aumentava o número de seus atributos, quase sempre relacionados ao erotismo, amor e fertilidade. Na Grécia, a palavra aphrodisia designava as relações amorosas e significava aquilo que está sob domínio de Afrodite. ! Importante Filosofia 21 Outro gênero de divindades relevantes eram as vinculadas à ascendente religião de mistério. O culto a Dioniso é um exemplo claro da crescente religião de mistério entre os gregos no Período Clássico. Deuses como Dioniso são considera- dos a antítese dos deuses tradicionais. Em torno do seu culto havia muitas restrições, principalmente por parte dos membros ligados à aristocracia, devido ao fato de ser um deus que rompia com a lógica apolínea, própria dos deuses tradicionais. Por isso, nunca foi reconhecido como um deus olímpico. As festas gregas sempre estiveram ligadas à religião. As de Dioniso incluíam as representações teatrais que atraíam muitos especta- dores. Eram festas marcadas por procissões, danças e carnavalizações. As festas dionisíacas eram carregadas de erotismo, apesar de terem um ca- ráter religioso. No pensamento grego antigo, as noções daquilo que hoje definimos moralmente como sagrado e profano estavam imbricadas. ? E as culturas que se desenvolveram no mundo hebraico e cris-tão? Está curioso para conhecer esse assunto? Então reúna interesse e atenção e siga em frente. Essas culturas mostram modificações na correlação do sagrado e da prática religiosa, ou seja, as ações morais são necessariamente ações de obediência a costu- mes. Assim, ao contrário do mundo grego, elementos que representassem excessos e libertação de impulsos foram avaliados como moralmente inadequados e distantes de qualquer caráter religioso. Nos festivais de Dioniso, sobretudo em Atenas, havia performances dramáticas, de forma que seu culto era visto entre os gregos como de gênero dramático. Progres- sivamente, seu culto tornou-se tão difundido que passou a ser praticado inclusive em Delfos, santuário de Apolo. Dioniso também era o deus das almas e sua proteção abarcava todo o ciclo de vida. Módulo 122 As representações mais antigas de Dioniso mostram-no como um velho de barbas, enquanto que as mais recentes representam-no como jovem. Figura 2 - Estátua de Dioniso, restaurada no século XVIII. Coleção do Cardeal Richeleu, 1793 + Saiba Mais Para ampliar os conhecimentossobre os assuntos abordados, você tem indicações muito interessantes. Î BRANDÃO, J. S. Mitologia grega. Petrópolis: Vozes, 1987, v. 2. Î VERNANT, J. P. Mito e pensamento entre os gregos. Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra, 1990. Este assunto está interessante, certo? Conhecer o Período Clássico na Gré- cia nos leva a uma viagem fantástica pela história das relações culturais entre deuses e mortais. Mas a próxima aula levará você a compreender cada vez mais o pensamento filosófico de uma época cheia de mitologias. Filosofia 23 Aula 2 Sobre o amor: O Banquete ? Você pôde perceber o quanto a vida religiosa (mitológica) dos gregos intuía o comportamento dos indivíduos no campo social? Em parte, as narrativas míticas direcionaram o início do pensamento filosófico. Um exemplo disso está na obra O Banquete, publicada pelo filóso- fo Platão. ! Importante Nela você perceberá a reunião de vários filósofos, poetas e intelectuais discu- tindo sobre o amor em meio a um banquete. Você notará o quanto as entidades mito- lógicas vinculadas aos sentimentos de afetividade são essenciais nos diálogos apresenta- dos na obra. Um dos objetivos de Platão, na obra O Banquete, produzida (apro- ximadamente) no ano de 384 a.C., foi resgatar a antiga preocupação moral nas orientações sobre os sentimentos de amor e afetividade, orientando a juventude da melhor forma, ou seja, sem separar o pro- cesso educacional e político desses rituais de formação do homem grego. ? Curiosidade Módulo 124 A obra trata das virtudes originais da cultura grega a partir dos diálogos em que figuram as ideias de Aristófanes, Sócrates e Agatão sobre o deus Eros e o amor. Figura 3 - Ideias de Aristófanes, Sócrates e Agatão. Ao todo foram sete discursos em louvor a Eros. Destaca-se o diálogo em que a personagem Alcebíades, fingindo embriaguez, declara seu amor a Sócrates. No início da narrativa, Aristodemo se espanta ao ver Sócrates muito bem arrumado, já que este costumava não se preocupar com isso quando andava pelas ruas de Atenas. Ambos caminham juntos à casa de Agatão, que era um poeta de Atenas, convidados a participar de um banquete. Aristodemo chegou ao local primeiro, porque Sócrates encontrou pessoas no caminho e travou algumas conversas, ocasionando seu atraso. O filósofo só aparece quando a refeição já estava por acabar e senta-se ao lado de Agatão. Assim iniciam os discursos acerca do amor: Disse ele que o encontrara Sócrates, banhado e calçado com as sandálias, o que poucas vezes fazia; perguntou-lhe então onde ia assim tão bonito. Respondeu-lhe Sócrates: – Ao jantar em casa de Agatão. Ontem eu o evitei, nas cerimônias da vitória, por medo da multidão; mas concordei em comparecer hoje. (PLATÃO, 1972, p. 15) NOTA Filosofia 25 Fedro toma a palavra, argumentando que o ideário de amor caminha em con- vergência com um grande deus – Eros, admirado pelos homens e deuses. Eros exerce influência tanto no mundo dos mortais como no dos deuses. Pausânias defende a ideia da existência de dois amores. Define esses dois amo- res partindo das duas espécies de Afrodite: ÎO amor de Afrodite Pandemia é o amor puramente carnal, banal e direcionado a qualquer pessoa: “o Amor de Afrodite Pandemia é realmente popular e faz o que lhe ocorre; é a ele que os homens vulgares amam.” (PLATÃO, 1972, p. 21). ÎO amor de Afrodite Urânia existe somente entre os homens, visto que se trata do amor intelectual e não carnal. O médico Erixímaco, outro personagem inserido na trama por Platão, entra em cena esclarecendo as características de Eros e tecendo analogias com a medicina. Aristófanes aborda o Mito dos Andróginos. Define o andrógino como um ser duplo, com duas faces e oito membros, um ser com forma descomunal, condenado pelos deu- ses a buscar, durante suas vivências, a unidade perdida. Aristófanes dedica elogios ao deus do amor e àqueles que buscam efetivamen- te encontrar a sua outra metade. Agatão, anfitrião do banquete, resolve então discur- sar. Ele atribui adjetivos a Eros e ao amor, como: Figura 4 - Adjetivos a Eros e ao amor. Sócrates valoriza a mulher no discurso do amor; cita Diotima como sendo a mulher responsável por tudo o que sabe sobre o amor. ! Importante Módulo 126 Desde essa posição, argumenta que Eros é o intermediário entre os mortais e os deuses, assim servindo de ponte na relação dos dois mundos. Platão, influenciado no que Sócrates afirmou, defende que o deus Eros tem o mesmo papel de um filósofo, exatamente por ocupar um lugar intermediário entre a sabedoria e a ignorância. Em suas palavras: Um deus com um homem não se mistura, mas é através desse ser que se faz todo o convívio e diálogo dos deuses com os homens, tanto quando despertos como quando dormindo; e aquele que em tais questões é sábio é um homem de gênio, enquanto o sábio em qualquer outra coisa, arte ou ofício, é um artesão. E esses gênios, é certo, são muitos e diversos, e um deles é justamente o Amor (PLATÃO, 1972, p. 41). NOTA O diálogo é finalizado quando Alcebíades relata as experiências de amor filo- sófico compartilhadas com o filósofo Sócrates. A reflexão abordada nesta aula permite-nos avaliar o amor a partir da cultura grega, por meio de uma obra repleta de mitologias. Confira a seguir o que o mundo grego revela na poesia e na filosofia. + Saiba Mais Para conhecer mais sobre o assunto abordado nesta aula, leia: Î PLATÃO. O Banquete. São Paulo, SP: Clássica, 2005. Filosofia 27 Aula 3 Mitologia, poesia e filosofia no mundo grego No mundo grego, as produções artísticas em referência ao deus Apolo eram sempre direcionadas ao elemento de beleza, à eterna juventude e ao belo sonho. A arte em memória ao deus Dioniso, por sua vez, repousava no arrebatamento e na em- briaguez. A peculiaridade do modelo artístico dionisíaco está na conjugação da lucidez com a embriaguez. Dioniso representava diretamente questões com uma conotação artisticamente irracional e sobrenatural. De acordo com o filósofo Nietzsche, “o novo mundo artístico, o mundo do sublime [...], o mundo da ‘verossimilhança’, repousava sobre uma outra visão dos deuses e de mundo, diferente da antiga, inerente à bela aparência.” (NIETZSCHE, 2005, p. 26). NOTA Na obra Assim falava Zaratustra o dionisíaco é pensado por Nietzsche como uma selvagem sabedoria que oferece uma imagem da vida muito próxima de como ela se mostra, embora Zaratustra afirme que, do fundo do seu ser, seu amor dirige-se pro- priamente à vida e à sabedoria apenas quando fala da vida, animada por esses impulsos selvagens. A sabedoria trágica dionisíaca, dissertada na obra O nascimento da tragédia como conjugação dos impulsos apolíneos e dionisíacos, foi identificada por Nietzsche como uma concepção profunda e séria dos problemas éticos e estéticos. Essa concep- ção, que se pode definir por “sabedoria dionisíaca”, é concebida a partir da caracteri- zação do impulso dionisíaco como a matriz de onde nasceu a arte trágica, ou seja, as tragédias gregas eram eminentemente dionisíacas. Em seus textos da juventude sobre a visão dionisíaca do mundo, Nietzsche ar- gumenta que o dionisíaco levava a sociedade grega às ilusões; as tragédias gregas eram dionisíacas. Havia na população grega certo receio ao dionisíaco, e a ideia do apolíneo existia exatamente para contrabalançar; seria o ópio para suportar o dionisíaco. Apolo era, grosso modo, o deus da moderação, da individualidade e da intelectu- alidade. Quanto ao personagem Dioniso, avistam-se características distintas, exatamen- te porque ele representava a “embriaguez do sofrer” enquanto o apolíneo era o “belo sonho”, uma espécie de antídoto para o dionisíaco na sociedade grega. Módulo 128 ? Como você pode compreender melhor uma cultura? Já havia pensando nisso antes? Na constante busca de compreender uma determinada cultura, é necessário não somente se ater à documentação escrita, mas analisar esculturas e diversas con- cepções de arte e símbolos. Por essa modalidadede testemunho do passado podemos entender certos costumes. Na ilha grega de Lesbos, identificamos uma artista clara- mente dionisíaca, a grande poetisa Safo. O filósofo Sócrates analisou o amor a partir da conversa que ele teve com uma mulher, conforme você verificou na aula anterior. ? Você sabia que, no mundo antigo, a mulher não era entendida como digna de produzir reflexões profundas, nem mesmo conhe- cimento filosófico? Nesse sentido Sócrates foi revolucionário, por valorizar o papel feminino nos campos do pensamento humano. Contudo, poucas mulheres na Grécia Clássica tinham a oportunidade de desenvolver suas erudições e dificilmente encontravam-se mulheres filósofas ou poetisas. Por isso você conhecerá agora uma dessas exceções! ATENÇÃO Vamos conhecer a vida de uma po- etisa chamada Safo, tendo-se em vis- ta que ela enfrentou todo precon- ceito contra as mulheres gregas e mostrou sua força como intelectual. Filosofia 29 Safo: No grego antigo, . G Glossário Figura 5 - Safo Eresia Safo pertencia à nobreza da região. Ela encarna a poesia lírica, eólica, cujos po- emas exprimem sentimentos pessoais, existenciais e, por isso, diferenciam-se da poesia lírica tradicional e das produzidas com foco puramente religioso e cívico. Lesbos era uma ilha de grande extensão ao norte do mar Egeu. A origem contemporânea do imaginário em torno de alguns termos ligados ao erotismo foi cons- truída sob a ressonância das ideias da poetisa, vinculada à região onde residiu, aproxi- madamente entre os anos 630 e 612 a.C. Tratava-se de uma povoação bem importante, uma região rica, que mantinha relações com várias cidades gregas da Ásia Menor. Sobre a ilha de Lesbos, a intelectual Claude Mossé esclarece que: Cada uma das aglomerações da ilha era muito ciosa de sua in- dependência face às vizinhas, mas todas falavam o mesmo diale- to grego, chamado eólico, que teria chegado ali trazido por um grupo de aqueus que havia participado do sítio de Troia; e uma grande família de Lesbos, a dos Pentílides, pretendia descender de Orestes, filho de Agamenon, chefe da grande expedição aqueia. (MOSSÉ, 1992, p. 39) Módulo 130 Claude, helenista francesa, lecionou história grega nas universidades de Rennes e Clermont-Ferrand. Foi uma das fundadoras da Paris VIII e, durante a década de 80, trabalhou por um curto período na USP e na UFRJ. As mulheres em Lesbos gozavam de independência parcial e status, que não mais conheceriam nos séculos V e IV a.C. (época clássica). O casamento era uma obri- gação e, dessa forma, Safo respeitou a tradição e tornou-se esposa de um homem rico da ilha de Andros, chamado Kerkilas. Teve uma filha com o mesmo nome da mãe de Safo, Kleis. No imaginário grego, a mulher deveria ser a guardiã do oikos. Andros: Remete à ideia da androgenia Oikos: Termo referente à ideia contemporânea de casa. G Glossário As obras de Safo contêm poemas ardentes, sensuais e amorosos. Por escapar aos padrões da época, a poetisa foi fortemente criticada pelos homens gregos, sendo considerada uma pessoa desregrada. Para muitos intelectuais, a participação das mulheres na filosofia e nas artes não era aceita. Em Atenas, Safo foi ridicularizada por poetas cômicos do gênero de Aristófanes. A historiografia dispõe de poucos documentos que registrem as poesias produzidas por mulheres. Os poemas de Safo pertencem à seleta documentação que diz respeito a isso. Segundo alguns estudiosos, Safo era de baixa estatura, morena e de pouca beleza estética. Isso, em certa medida, demonstra que a vinculação de seus amores não era puramente física. Muitos a traduzem como um Sócrates feminino. Lendo as poesias de Lesbos, é fácil identificar porque ela foi tão impactante em sua época: Filosofia 31 Parece-me igual aos deuses este homem que, sentado frente a ti, bem de perto ouve tua voz tão doce. E este riso encantador que, eu juro, fez fundir meu cora- ção dentro de meu peito; pois mal te vejo um instante, não me é mais possível articular uma palavra. Mas minha língua emudece, e sob minha pele de repente desliza um fogo sutil: meus olhos não têm olhar, minhas orelhas zumbem. O suor escorre por meu corpo, um calafrio me toma por inteira, fico mais verde que a relva e por muito pouco não sinto chegar minha morte. (SAFO, apud MOSSÉ, 1973, p. 43 ) NOTA Segundo o poeta ateniense Menandro (século IV a.C.), a poetisa Safo foi apai- xonada por um homem chamado Fáon, sendo que ela o perseguiu com amor furioso. Esse amor não correspondido possivelmente levou-a ao suicídio. Ela lançou-se ao mar do alto da rocha da ilha de Lêucade. Apesar de ter sido associada a uma imagem (mo- ral) negativa, não deixou de ser glorificada por sua técnica e seu talento. As jovens em Lesbos podiam receber uma formação educacional considera- velmente avançada para a época, em comparação com as mulheres gregas que viviam em outras regiões, restritas desde a infância à casa, sob a autoridade da mãe, sendo preparadas para o casamento. Existia um processo educacional especialmente dedicado às mulheres, uma pedagogia voltada, em geral, à formação artística, incluindo a educação filosófica. Essa formação inseria atividades esportivas: Safo foi monitora de uma mulher que, posteriormente, foi campeã de corrida pedestre. Com relação à educação feminina, o historiador Marrou (1973, p. 64) disserta: O ensino feminino, por muito tempo ofuscado em virtude da predominância masculina na civilização grega, só torna a aparecer novamente às claras muito mais tarde, pouco antes de abrir-se a época helenística. Manifesta-se, em particular, nos concursos em que o espírito, como hoje os nossos exames, de aferição dos estudos. A poetisa Safo foi beneficiada por essa perspectiva de exceção que ocorria no ensino da arte e filosofia em Lesbos. Módulo 132 Nesta aula você pôde acompanhar a revolução da arte do mundo feminino pela produção da poetisa Safo. Estudar as movimentações artísticas de uma época é muito instigante, pois leva você a analisar um período muito rico em nossa história. Então, aproveite todo esse contexto filosófico! + Saiba Mais Veja algumas obras para ajudar você a ampliar seus conhecimen- tos em relação à temática da aula. Î REVISTA: Amor e sexualidade no Ocidente. Porto Alegre, RS: L&PM, 1992. ÎMARROU, Henri Irénée. Da pederastia como educa- ção. In: ______. História da educação na Antiguidade. São Paulo, SP: EPU, 1973. ÎNIETZSCHE, Friedrich. A visão dionisíaca do mundo. São Paulo, SP: Martins Fontes, 2005. Aula 4 Nascimento da filosofia Até o momento você adentrou o cenário e o imaginário do mundo grego anterior ao advento da filosofia. A filosofia surge após o período analisado há pouco, aproximadamen- te no ano 500 a.C., quando, depois um longo período fundamentan- do-se em argumentações mitológicas e religiosas, os seres humanos começam a questionar, a buscar respostas e a exigir provas raciona- lizadas sobre a natureza do mundo. Quando os homens procuram argumentar e debater as condições e os pressupostos dos pensamen- tos, estabelecem uma atitude ativa e crítica frente às grandes dúvidas, que antes eram sanadas por uma argumentação metafísica e religiosa. Filosofia 33 A primeira etapa de desenvolvimento desse novo campo reflexivo reside na ideia de dizer não aos preconceitos e aos prejuízos, isto é, analisar tudo, abandonando crenças e tentando compreender as coisas no mundo tal como elas demonstram ser, por elas mesmas. Assim, é possível interrogar sobre as ideias, fatos e situações diversas da vida, inclusive sobre nós mesmos. Segundo o filósofo Platão, a filosofia surge com a admiração ou com o espanto, ou seja, quando somos capazes de reconhecer nossa igno- rância e, por isso, podemos atingir ou vislumbrar a sua superação. O espanto ocorre porque, por meio do pensamento, há o distanciamento do senso comum, dos hábitos costumeiros, e observa-se o mundo e as relações humanas de forma singular, como um renascimento. A filosofia dá seu pontapé inicialefetivamente quando alguns seres huma- nos abandonam suas crenças cotidianas e preenchem lacunas com perguntas sobre a realidade natural, o mundo das coisas e a realidade antropológica do mundo, isto é, a relação dos homens na natureza. Em um primeiro momento, a filosofia desenvolve-se de forma estranha aos seres humanos. De maneira espantosa, incompreensível e enigmática. A filosofia nasceu e, ao longo da história, desenvolveu-se sempre em momentos de crise sobre as teorias do conhecimento. Figura 6 - Desenvolvimento da filosofia Módulo 134 Produzir filosofia é perceber os níveis de contradição, incoerência, incompati- bilidade e ambiguidade de nossas crenças cotidianas nos momentos de crise e nos perí- odos críticos em relação aos sistemas religiosos, éticos, científicos, artísticos e políticos. O conceito de verdade, racionalidade, aplicação prática de conhe- cimentos, acúmulo de saberes e correções, ou seja, todos esses elementos das ciências não são, por natureza, científicos, são inteira- mente filosóficos. ! Importante O cientista necessariamente parte dos argumentos filosóficos, lida com hipó- teses básicas que supostamente já foram respondidas. Por outro lado, na filosofia tudo é princípio de dúvida e é passível de correção. Você pode perceber, assim, que parte do trabalho das ciências pressupõe, como coexistentes ou como condições, investigações anteriores de caráter filosófico. ATENÇÃO É muito corriqueiro encontrar pessoas dizendo que filosofia não serve para nada. Isso ocorre justamente porque a filosofia cumpre o papel de apresentar as premissas daquilo que posteriormente se torna ciência ou algum instrumento utilitário. Dessa forma, o senso comum apenas percebe aquilo que já está pronto, apresentado no mundo, e não pensa sobre o que o constituiu. Uma atitude filosófica consiste essencialmente na indagação, isto é, em per- guntar sobre o valor das coisas, seja uma ideia, um comportamento, a significação de elementos da natureza, a estrutura histórico-social do mundo, as relações de poder que constroem uma realidade ou a origem e a causa de algo. Filosofia 35 A filosofia, desde o seu princípio, trabalha com enunciados precisos e rigorosos, envolve a busca por encadeamentos lógicos de ideias, opera conceitos a partir de procedimentos de demonstração e prova hipotética, exige em sua natureza uma fundamentação autenti- camente racional e inventiva em relação ao problema pensado sobre questões diversas da vida. O termo “filosofia”, segundo alguns registros históricos, foi proferido e inaugu- rado pelo intelectual grego Pitágoras de Samos: Figura 7 - Escultura representativa do filósofo pré-socrático (cosmológico) Pitágoras de Samos Pitágoras teria argumentado que a sabedoria completa e plena pertenceria às vontades e aos poderes das entidades religiosas, dos deuses. Contudo, os homens podem claramente desejar alcançar tal sabedoria, podem amá-la e, ao fazerem isso, acabam por tornarem-se filósofos. Viu como a filosofia surgiu por causa das inquietudes propostas por alguns pensadores? Quando elas expõem o que pensam, independentemente da razão ou da emoção, o conhecimento começa a ser investigado pelo ser humano. A partir disso, você deve estar achando que a filosofia é algo muito valioso para compreender o mun- do, certo? Módulo 136 + Saiba Mais Para você refletir um pouco mais sobre o nascimento da filosofia, indicamos: ÎWOLFF, F. Sócrates: o sorriso da razão. São Paulo, SP: Brasilense, 1982. Assista ao filme: Î SÓCRATES. Direção: Roberto Rossellini. Itália, França, Espanha, 1971. Aula 5 As primeiras perguntas filosóficas Você percebeu que o princípio da racionalidade e a dúvida foram os eixos norteadores para que fosse possível a gestão da filosofia? Figura 8 - Eixos norteadores Mas quais foram as primeiras perguntas feitas pelos primeiros filósofos? É exa- tamente isso que você irá descobrir a partir de agora. Filosofia 37 ? Por que e como os seres nascem e morrem? O que é o ser humano? Como é possível de uma só vida nascerem várias outras? O que faz o dia e a noite existirem? Por que tudo muda constantemente? Qual o princípio da mudança da natureza? Por que e como a doença nos enfraquece e ataca nossos corpos? Perguntas desse gênero percorreram as mentes dos primeiros intelectuais gregos e a filosofia se desenvolveu dentro de indagações como essas! As tradições culturais e as religiões (mitologias) davam respostas para todas essas perguntas, mas os níveis de resposta não mais satisfaziam nem correspondiam à visão de mundo dos gregos ou, pelo menos, não designavam a totalidade daquilo que eles desejavam que fosse respondido. Nesse sentido, os historiadores da filosofia defendem a ideia de que a filosofia, sob esses pressupostos, deu seus primeiros passos no fim do século VII a.C. e início do século VI a.C., em colônias gregas situadas na Ásia Menor, sobretudo na cidade de Mileto e em territórios que correspondem hoje à região da Itália. Figura 9 - Mapa da Grécia no Período Clássico (século VI a.C.) Módulo 138 As primeiras perguntas filosóficas produzidas nesse período continham um conteúdo cosmológico, isto é, baseado no entendimento da ordem do mundo, na ori- gem do pensamento racional, do discurso racional, do próprio conhecimento sobre a natureza. Em vários aspectos, essas primeiras perguntas devem-se ao pensamento oriental, dado que esses intelectuais gregos tinham conhecimento da sabedoria oriental, produzida sobretudo por egípcios, persas, babilônicos, assírios e caldeus. Além destes, poetas gregos como Homero e Hesíodo influenciaram profundamente as formulações filosóficas dos intelectuais gregos. Contudo, embora tenham tido influências múltiplas, os primeiros filósofos foram bastante inventivos: Transformaram em conhecimento racional, abstrato e universal elementos da sabedoria prática oriental e mitológica permitindo o surgimento de conhecimentos como matemática, astronomia, astro- logia, arquitetura e, principalmente, a invenção da política. ! Importante Alguns dos primeiros filósofos promoveram suas reflexões fazendo uma ruptura radical com a literatura mitológica, mas outros realizaram isso por uma trans- formação progressiva, gradual. As mitologias explicavam o mundo pela cosmogonia e teogonia, ou seja, pelos engendramentos do mundo e da organização dele a partir dos seres divinos, das entidades religiosas da época e dos deuses. É uma narrativa sobre a origem do mundo, da natureza e dos próprios deuses, tomando como referência seus antepassados. ? O que a filosofia faz de diferente em termos de reflexão compa-rada à mitologia? Filosofia 39 Enquanto a mitologia explica o mundo por padrões de cosmogonia e teogonia; a filosofia propõe uma cosmologia, isto é, uma explicação racionalizada sobre a origem do mundo, sobre os efeitos e as causas das grandes transformações da natureza. Parte da atitude filosófica da época era baseada em um ceticismo sobre o conhecimento, ou melhor, havia uma postura de dúvida sobre a possiblidade de certeza objetiva sobre qualquer forma de saber, colocando em questionamento as evidências, os juízos, visando a evitar opiniões de caráter dogmático. O dogmatismo é a atitude de aceitar a existência de tipos de ver- dade absoluta no mundo, que são sempre considerados certos e seguros, independentemente das situações de prova em que são colocados, isto é, representam a postura de fazer afirmações sem provas materiais com evidências claras. ! Importante ? Em que condições históricas a filosofia surgiu? Com as viagens marítimas foi permitido aos gregos alcançar os locais onde se acreditava existirem e viverem os deuses, como os mares em que viveriam os monstros representados nas literaturas da época. Essas descobertas promoveram o desencan- tamento dos gregos com suas narrativas religiosas, propiciando indagações em outra ordem reflexiva que a mitologia não mais era capaz de resolver. Módulo 140 Figura 10 - Invençãoda escrita A invenção do calendário e da escrita alfabética enquanto um veículo de cálculo do tempo e codificação das coisas revelou ao homem uma nova capacidade de abstração e convenção do mundo. Nas relações de convivência com a natureza e com a sociedade. Sob essas circunstâncias foi encontrada a formação prática e ideal do espaço público, da ideia de lei e norma e, sobretudo, das discussões públicas que operavam as razões da política e democracia grega. Percebeu quantas perguntas ocorriam aos intelectuais devido à liberdade de exposição dos pensamentos? Esse momento da filosofia nos permite avaliar a constru- ção da sociedade onde a mitologia era enraizada na vida das pessoas. + Saiba Mais Aprofunde seus conhecimentos lendo este livro: Î CHAUI, Marilena de Souza. Convite à filosofia. 13. ed. São Paulo (SP): Ática, 2004. 424p. Filosofia 41 Aula 6 Principais etapas da história da filosofia grega O conteúdo apresentado até aqui proporcionou a você uma noção ampla do cenário religioso e das primeiras manifestações do pensamento filosófico. A partir des- sas referências, você perceberá quais foram, em linhas gerais, os mais relevantes perío- dos da filosofia grega. Vamos então percorrer esse campo investigativo? Foram quatro as principais perspectivas do conhecimento filosófico grego. Acompanhe! 1. Período Cosmológico, ou Pré-Socrático Historicamente situado entre o fim do século VII a.C. e o fim do século V a.C. Nessa primeira etapa, a filosofia era produzida e fundamentada dentro dos panoramas que questionavam a origem do mundo e as maiores causas das transformações naturais. Figura 11 - Filósofos pré-socráticos 2. Período Antropológico, ou Socrático Historicamente identificado entre o fim do século V a.C. e o século IV a.C. Momento em que a filosofia assume sua corporeidade ao passar à investigação de questões propriamente humanas, atingindo e inaugurando estudos no campo da políti- ca, ética, sociedade e cultura, visando compreender não mais somente a natureza, mas sobretudo a relação do ser humano na natureza. Módulo 142 Figura 12 - Filósofo Sócrates representado em uma estátua 3. Período Sistemático Etapa de maior ampliação cultural dos preceitos filosóficos na Grécia, envol- ta do fim do século IV a.C. até o fim do século III a.C. Momento em que se propõe sistematizar todo conhecimento racional e filosófico formado nas duas fases anteriores, isto é, na Cosmologia e na Antropologia Filosófica. Período de grande desenvolvimento das teorias do conhecimento, de critérios sistemáticos de captação das verdades nos discursos; e do entendimento daquilo que futuramente seria chamado de ciência. Confira, abaixo, a pintura de Rafael Sanzio que apresenta uma retratação dos filósofos do Período Sistemático debatendo temas na Escola de Atenas, fundada por Platão. No centro da imagem há dois homens: Platão, à esquerda, ao lado de seu jovem discípulo, Aristóteles. Figura 13 - Escola de Atenas (1509 – 1511) Filosofia 43 4. Período Helenístico Situado entre o fim do século III a.C. e o século VI d.C. O período mais longo de todos que os representam a filosofia produzida na Grécia Clássica, dado que abran- ge a época em que se deu o domínio de Roma e o desenvolvimento do cristianismo. Momento em que ocorre uma ocidentalização mais completa da filosofia, sobretudo porque os gregos, em alguma medida, eram demasiadamente etnocêntricos. Etnocêntricos: Aqueles que entendem, em todos os aspectos a sua etnia, sua cultura, como centralidade e fertilidade de qualquer pensa- mento. G Glossário Cada período filosófico visto nesta aula proporcionou uma discussão diferen- te em torno do conhecimento, a partir da cultura em que expandiu-se, por meio do desenvolvimento das teorias filosóficas. Você tem muita informação para investigar e explorar. Aproveite para trocar ideias com o professor tutor, assim você pode interagir mais sobre a temática apresen- tada. + Saiba Mais Todas as obras indicadas a seguir proporcionam a expansão do seu conhecimento sobre os assuntos abordados. Î ARISTÓTELES. Os pensadores – seleção de textos. São Paulo, SP: Nova Cultural, 2000. Î PLATÃO. Os pensadores – seleção de textos. São Paulo, SP: Nova Cultural, 1996. Î PRÉ-SOCRÁTICOS. Os pensadores – seleção de textos. São Paulo, SP: Nova Cultural, 2000. Módulo 144 Aula 7 Filosofia Pré-Socrática e Socrática Por meio do assunto abordado na aula anterior, você pôde dominar introduto- riamente o período que contempla o cenário filosófico da Grécia Clássica! Agora você vai percorrer esses períodos de forma mais delicada e cuidadosa, para dominar com maior profundidade a produção do conhecimento pelos gregos na Antiguidade. Vamos começar pela primeira linha filosófica, o chamado Período Cosmológico, ou Pré-Socrá- tico. Essa filosofia desenvolveu-se em cidades da Jônia, situada na Ásia Menor, nas regiões de Mileto, Samos e Éfeso. Também teve fervor na conhecida Magna Grécia, em locais como Crotona, Eleia e Trácia. Boa parte dessas localidades são territórios perten- centes atualmente à Itália. Podemos destacar vários filósofos: Região da Jônia Anaxímenes de Mileto, Anaximandro de Mileto e Tales de Mileto. Região de Eleia Parmênides de Eleia e Zenão de Eleia. Magna Grécia (atual Itália) Pitágoras de Samos, Filolau de Crotona e Árquitas de Tarento. Demais regiões Empédocles de Agrigento, Leucipo de Abdera e Demócrito de Abdera. Quadro 1 - Desenvolvimento da filosofia Figura 14 - Escultura em representação ao filósofo Zenão de Eleia Filosofia 45 Os métodos de produção do conhecimento entre esses filósofos eram basea- dos em estudos sobre a natureza, envolvendo uma explicação racional e sistemática so- bre a origem da vida, a ordem e a transformação do mundo natural. O princípio natural da existência da natureza era entendido como um agente eterno, imperecível e imortal, que seria aparentemente o gerador de todos os seres. Essa ordem de pensamento não admite o surgimento da vida a partir do nada. Ao contrário, afirma que tudo no mundo é dependente de uma geração, de uma origem natural, e isso foi chamado por eles de physis. Os filósofos cosmológicos entendiam que as coisas naturais são movidas, di- recionadas por algo. O mundo, segundo eles, vivia em contínua transformação, mas por uma permanente mudança que se dava de forma ordenada por leis. Os pontos que diferenciam a filosofia dos teóricos cosmológicos não eram seus métodos, mas as respostas filosóficas que alcançavam. Cada pensador pré-socráti- co tinha uma posição distinta para explicar o surgimento da vida, o sentido da physis. Tales afirmava que a vida originou-se na água, Anaxímenes acreditava que o ar era a origem de tudo, Heráclito dizia ser o fogo. Enfim, a discordância estava justamente no resultado das suas reflexões filosó- ficas. Período Socrático: veja as modificações trazidas por esse período A segunda etapa da história da filosofia grega corresponde ao Período Socrá- tico (Antropológico). Essa é a época de maior desenvolvimento das cidades gregas, da política e da sua democracia. Momento em que é percebida, dentre todas as épocas, a busca pela igualdade entre os homens, de acordo com as leis e o direito. Todos os cidadãos poderiam participar diretamente do governo, pois havia um pertencimento coletivo do bem público. Módulo 146 No passado, as cidades gregas eram dominadas por aristocracias familiares, por senhores de grandes posses e de terras e pelo poderio militar. Nesse novo contexto, houve uma emergência para a abertura de horizontes mais frutíferos para a filosofia, para a poesia e para os chamados sofistas. ? Você sabe quem foram os sofistas? Segundo a filósofa brasileira Marilena Chaui: Historicamente há dificuldades para conhecer o pensamento dos grandes sofis- tas, porque não possuímos seus textos. Restaram fragmentos apenas. Por isso nós os conhecemos pelo que deles disseram seus adversários – Platão, Xenofon- te, Aristóteles – e não temoscomo saber se estes foram justos com aqueles. Os historiadores mais recentes consideram os sofistas verdadeiros representantes do espírito democrático, isto é, da pluralidade conflituosa de opiniões e interes- ses, enquanto seus adversários seriam partidários de uma política aristocrática, na qual somente algumas opiniões e interesses teriam o direito de fato perante o restante da sociedade. (CHAUI, 2008, p. 43) NOTA Sofistas eram aqueles que detinham o domínio da fala, do discurso, da retórica entre os gregos e acreditavam que, por esse veículo, poderiam convencer as pesso- as, persuadindo-as sobre qualquer coisa no mundo, de forma que a verdade, em seu sentido puro, não existiria para além dos acordos e convenções humanas. Os sofistas ensinavam técnicas de persuasão aos jovens gregos. Sócrates, o filósofo que definiu esse segundo período da filosofia grega, rebela- va-se contra os sofistas, argumentando que eles não produziam um conhecimento que trouxesse novidades para o mundo. Argumentava que eles não tinham amor pelo co- nhecimento, pela sabedoria, justamente porque eles defendiam supostamente qualquer ideia para se beneficiarem, fazendo a mentira valer tanto quanto a verdade. Ao contrá- rio dos sofistas, Sócrates propunha a necessidade dos homens conhecerem o mundo antropologicamente, isto é, qual a relação dos seres humanos no mundo, na natureza. Dessa forma, Sócrates inaugurou, nos estudos de filosofia, reflexões sobre política, cul- tura, arte, sociedade, ética e história. Filosofia 47 Um de seus métodos de estudo foi a maiêutica. Consiste na ativi- dade de esvaziar o sentimento da arrogância e superioridades dos homens, possibilitando, por meio de diálogos, que os seres humanos possam aprender sobre o mundo conjuntamente, uns com os outros. Isso justifica duas de suas frases mais famosas: “Só sei que nada sei” e “Conhece-te a ti mesmo”. ! Importante Contudo, esse comportamento de Sócrates levou os jovens atenienses a segui- rem-no, de maneira que entre eles houve uma brusca mudança de comportamento social. Os jovens de Atenas começam a questionar figuras públicas e políticas, o papel das artes e da religião grega. Isso levou à fragmentação da até então intacta cultura gre- ga. Essa grande mudança custou caro para Sócrates! Ele acabou sendo condenado pelos grandes representantes do poder político e público grego, podendo optar pelo exílio ou pela morte. Sócrates escolheu a morte e, reunido com seus discípulos, pediu para que Platão, um de seus orientandos, lhe desse o veneno. Em momento algum ele demonstrou tristeza. Teve uma última conversa com seus discípulos e, por fim, tomou o veneno de cicuta, colocando fim à sua vida. Esse momento representou a conclusão do Período Socrático. ? Curiosidade A pintura a seguir representa a cena que você acabou de ler! O quadro foi pintado por Jacques-Louis David e está localizado atualmente no Museu Metropolitan de Nova York. Módulo 148 Figura 15 - A morte de Sócrates (1787) A filosofia dos períodos Pré-Socrático e Socrático trouxe muitas discussões em relação ao conhecimento e a relação do ser humano com o mundo. Sócrates deixou muitos questionamentos, que você pode continuar pesquisando. + Saiba Mais A obra indicada a seguir vai proporcionar uma bela viagem pelos caminhos filosóficos, permitindo que você explore mais o assunto estudado. Aproveite esta indicação! Î PLATÃO. Os pensadores – apologia de Sócrates. São Paulo, SP: Nova Cultural, 2000. Filosofia 49 Aula 8 Filosofia Sistemática e o Período Helenístico Nesta aula você vai perceber a fase que possivelmente seja a mais madura do pensamento clássico, caracterizada como Período Sistemático, e também vai compre- ender a conclusão do saber filosófico grego antigo associado ao apogeu de Roma e à decadência do poderio grego. O Período Sistemático ganhou um enorme destaque graças à filosofia produzi- da por Platão e seu discípulo Aristóteles. É um momento em que o saber filosófico passa a se caracterizar por um conjunto enciclopédico, isto é, em que há um acúmulo e lapida- ção de todo pensamento produzido na Grécia, em todos os níveis e ramos de conhecimento, articulando a totalidade dos saberes. Esse período não consiste, então, em situar uma delimitação filosófica específi- ca, mas sim em formar intelectuais universais. Ocorre nesse período a fundação da chamada Escola de Atenas e, a partir dela, o conhecimento passa por um processo de disciplinamento, ou seja, há uma distribui- ção de áreas formais dos saberes articulados com maior complexidade, no campo que lhe é próprio, possuindo sempre objetos específicos e premissas bem formuladas. Platão, fundador da Escola de Atenas, assumiu uma posição de grande impor- tância cultural na Grécia após a morte de Sócrates, seu orientador. O filósofo Sócrates não deixou obras publicadas em vida e, dessa forma, a primeira fase filosófica de Platão foi permeada pelas publicações dos chamados Diálogos Socráticos. Platão torna publi- cáveis os debates e entraves de Sócrates com pessoas diversas na cidade de Atenas, como poetas, políticos e sofistas. A meta de Sócrates sempre foi a de produzir uma sensação de ignorância nas pessoas, para que a arrogância do saber não fosse um problema no desenvolvimento de um pensamento filosófico. Módulo 150 Nessa concepção, só é possível fazer e pensar em filosofia quando qualquer elemento do mundo passa a ser fonte de aprendizado, quando o homem se compreende limitado e detentor de um saber sempre imperfeito e em contínuo melhoramento. ! Importante Posteriormente, na fase mais madura, Platão publica suas próprias obras, tam- bém a partir de diálogos, mas dessa vez apostando em suas reflexões. Um dos exem- plos é a obra A República, onde encontra-se o texto Alegoria da Caverna. Nesse texto, Platão defende de forma ferrenha o filósofo como sendo o melhor legislador para a política e para a República. Em termos de construção discursiva, Platão faz uso de re- ferências metafóricas sobre a percepção filosófica do mundo, da realidade e da política, em distinção ao senso comum. Esse é o momento da história da filosofia em que o campo de conhecimento fica dividido em uma ciência, ou melhor, em epistéme. Epistéme: Palavra grega. O termo mais próximo em português é “ciência”. G Glossário Podemos, sem problemas, afirmar que essa construção da epistéme proposta por Aristóteles, discípulo de Platão, foi definitiva para se compreender a ciência, até o século XIX. Trata-se de um método baseado na concepção de que o conhecimento constitui seu objeto de pesquisa e seus próprios campos da atuação e procedimentos. Filosofia 51 O saber deve ser posto em exposição para demonstração e cons- trução de argumentos de prova. A partir dele, deve-se conhecer leis gerais e princípios para que, enfim, a construção de um pensamento seja concluída enquanto ordem de um saber sistemático. Aristóteles foi o criador daquilo que posteriormente passou a ser chamado de pensamento analítico, isto é, as formas de reflexão baseadas em argumentos fundados na lógica. ATENÇÃO A lógica não deve ser compreen- dida como ciência, mas como uma ferramenta, um instrumento para a produção da cientificidade. Atual- mente ela é considerada uma dis- ciplina indispensável para a filosofia A próxima ilustração é uma imagem de Aristóteles tocando em uma estátua que representa o poeta Homero. O quadro, pintado por Rembrandt, está localizado no Museu de Artes de Nova York. Figura 16 - Aristóteles e o busto de Homero Módulo 152 O Período Helenístico é considerado a última etapa da filosofia antiga. Nesse momento, a pólis grega desaparece como centro político e de manifestação de po- der, sobretudo pelo domínio do Império Romano, deixando de ser a maior referência territorial para os filósofos. O discurso passa a ser cosmopolita, ou seja, a ideia é que o mundo esteja inteiramente aberto para a produção do conhecimento filosófico. Os gregos tinham uma visão extremamenteetnocêntrica e acredi- tavam que só era possível desenvolver filosofia entre os próprios gregos. ! Importante Nesse período, a filosofia encontra-se recheada de sistemas e doutrinas, que buscam compreender a realidade inteira de forma articulada, naturalizada a partir de uma ordem universal, muita vezes explicada por referências de ordens divinas. As pre- ocupações filosóficas predominantes eram com os estudos: a ) religiosos; b ) físicos; c ) éticos. Entre essas linhas, situavam-se quatro sistemas epistemológicos, conforme figura a seguir: Figura 17 - Sistemas epistemológicos Filosofia 53 O desenvolvimento e o crescimento de Roma, associado ao contato com o mundo oriental, permitiram que os filósofos helenistas se aproximassem do pensamen- to reflexivo milenar da sabedoria oriental. É nesse momento que podemos falar de uma espécie de orientalização da filosofia com relação às formas explicativas do mundo, vinculadas aos aspectos místicos e religiosos na prática filosófica e na própria produção do conhecimento. Esse dois períodos da filosofia antiga deixam boas lições sobre a manifestação do pensamento humano. Busque aperfeiçoar seu conhecimento refletindo e discutindo sobre o assunto. Reúna entusiasmo e dedicação para continuar essa viagem filosófica. + Saiba Mais A sugestão a seguir ajudará você a compreender a temática desta aula. Î ARISTÓTELES. Poética; Organon; Política; Constituição de Atenas. São Paulo: Nova Cultural, 2004. (Os pensadores). Aula 9 Patrística e Escolástica ? Patrística. Você já ouvir falar nisso? Nas nossas últimas aulas você pôde conhecer os principais elementos que constituíam o saber filosófico na Grécia durante a Antiguidade. Assim como foi dito na aula anterior, notamos a decadência da filosofia grega associada ao crescimento do poderio romano. Nesse mesmo período encontramos o desenvolvimento de um novo cenário filosófico, anexado à era cristã. Isso foi possível a partir de uma linha epistemo- lógica chamada Patrística. É exatamente isso que vamos estudar nesta aula, sobretudo a partir da Filosofia Agostiniana. Módulo 154 A Filosofia Patrística teve início com o apóstolo Paulo (mais tarde conhecido como São Paulo) e o Evangelho de João, durante o século I d.C., indo até o final do século VII d.C. Esse período é conhecido pelo nome de Patrística, tendo-se em vista que essa filosofia foi formulada pelos primeiros padres da Igreja, que foram os primeiros dirigen- tes religiosos e espirituais do Cristianismo, sobretudo após a morte dos apóstolos. O objetivo dessa perspectiva do conhecimento era relacionar o Cristianismo (nesse período, uma religião ainda muito nova) com o pensamento filosófico desenvol- vido pelos gregos e romanos, buscando principalmente a conversão dos pagãos. Pagãos: povos antigos de religiões politeístas. G Glossário Nesse sentido, essa filosofia filia-se ao propósito religioso da evangelização, a partir da defesa teórico-filosófica do Cristianismo contra os ataques daqueles que não se eram cristãos. Os filósofos mais relevantes desse período foram: Î Boécio; Î Agostinho; Î Tertuliano; Î Ambrósio; Î Eusébio. Entre os citados anteriormente, o mais impactante foi, sem dúvida, o filóso- fo Agostinho, porque ele implementou uma nova forma de conceber a religião e de pensar a filosofia. Seu pensamento foi muito influenciado pelas teorias de Platão, de tal forma que Agostinho fundou um campo teórico chamado neoplatonismo. Filosofia 55 Neoplatonismo: Nova interpretação, novo uso para as teorias de Platão. G Glossário Suas indagações circulavam entre as relações do mundo divino com o dos mortais. Uma de suas perguntas mais fundamentais foi: Que fazia Deus antes de criar o céu e a terra? Essa pergunta o motivou a desenvolver teorias filosóficas sobre o tempo. ? Sabe quais ideias desconhecidas Agostinho introduziu entre os gregos? Uma delas é a concepção da criação do mundo a partir do nada, do pecado original da humanidade, do homem; o entendimento de Deus enquanto uma trindade; as ideias de encarnação e morte divina; a existência de um juízo final; a formulação da perfeição de Deus, e a orientação de que ele é inteiramente bondoso; tudo isso é uma criação religiosa inaugurada a partir da Patrística, sobretudo pelo neoplatonismo agosti- niano. Os deuses gregos eram imperfeitos e cheio de vícios. Módulo 156 Tendo em vista tais características, essa filosofia entende que o ser humano tem uma consciência moral e suas vontades são definidas pelo livre-arbítrio. Isso faz do homem um ser com direito à liberdade na escolha do bem e do mal. Os humanos são os responsáveis, em vista disso, pela existência do mal no mundo. Ou seja, o mal não é uma criação de Deus, pois, segundo esses filósofos, Deus é inteiramente bondoso. Dessa forma, o mal é o resultado da liberdade concedida aos homens pelo próprio Deus. Pelo livre-arbítrio, alguns homens tomam decisões que os encaminha para o mal ou para o bem. Ao longo dos séculos, essas ideias foram propostas como dogmas, a partir da bíblia e de outros decretos divinos. Dogma é uma ideia que deve ser entendida como totalmente verda- deira, irrefutável, inquestionável por aquele que acredita. A pessoa dogmática é aquela que crê pela fé e não por possuir explicação. ! Importante É com a Patrística que a filosofia passa ter uma corporização bastante distinta de sua origem. Em seu nascimento, a filosofia era uma forma de manifestação racional e explicativa do mundo, que visava a superar ou, pelo menos, dar uma nova resposta para a natureza e a sua relação com o homem, que não estivesse vinculada em formulações mitológicas, religiosas. Contudo, com essa nova perspectiva filosófica, pela primeira vez a filosofia passa a se relacionar diretamente com a religião. É nesse momento que se estabelece objetivamente o saber teológico, uma filosofia da religião. Filosofia 57 Figura 18 - Pintura que representa a visão patrística sobre a produção do bem e do mal na humanidade, relacionada às escolhas, ao livre-arbítrio dos homens. Escolástica, mais uma etapa filosófica para você conhecer. Preparado? Esse momento é conhecido como a grande etapa do pensamento filosófico medieval. A produção desse período foi possível graças aos pensadores: Î europeus; Î árabes; Î judeus. Novamente, a filosofia grega estabeleceu-se como uma das principais influ- ências para que os filósofos medievais refletissem sobre questões do mundo cristão. Com a Escolástica não foi diferente, mas, em distinção ao pensamento produzido na Patrística, o foco do filósofo grego de referência não se fundava no idealismo de Platão, mas agora os estudos vinculavam-se ao pensamento de Aristóteles. Isso demonstra um processo de primazia do pensamento filosófico, dos estudos de lógica dentro dos preceitos cristãos. Módulo 158 O intelectual que inseriu o aristotelismo na filosofia da religião foi Tomás de Aquino. ? Curiosidade Um elemento bastante singular dessa linha filosófica foi a criação de um méto- do para expor ideias filosóficas, conhecido como disputatio. Tratavam-se de apresenta- ções de teses reflexivas que deviam ser defendidas ou refutadas pelos filósofos, toman- do como base a bíblia, os textos de Aristóteles, de Platão e argumentos dos principais padres da Igreja. A qualidade dos argumentos era avaliada por uma comissão responsá- vel, que, por sua vez, dizia se a tese era verdadeira ou falsa, dependendo do seu impacto e da sua força de convencimento. A partir desse momento histórico, em que notamos certo disciplinamento do conhecimento em campos, em áreas de saber, fragmenta-se a atividade filosófica, dado que esse é o período histórico em que são inauguradas as primeiras universidades, escolas e faculdades, promovendo formações específicas em diversas construções de entendimento do mundo. A Escolástica desenvolveu-se entre os séculos VIII e XIV d.C. para prover um autêntico campo de pensamento filosófico na Idade Média,já que a Patrística consistia muito mais em uma atividade retórica e bem formulada para pro- cessos de conversão do que uma área preocupada essencialmente com a promoção de uma ordem filosófica. A maior questão filosófica disposta para os teóricos da Escolástica é a busca pela resposta sobre uma possível capacidade de explicar Deus racionalmente, isto é, se é pensável articular simultaneamente o alimento da fé com a razão, entender as relações entre o finito (ser humano) e o infinito (Deus). ! Importante Filosofia 59 Figura 19 - Filósofo Tomás de Aquino Nesta aula você pôde verificar que os períodos filosóficos estudados voltam- se para princípios religiosos. Vários intelectuais refletiam questões do mundo cristão a partir dos pensamentos filosóficos dos gregos e romanos. + Saiba Mais As sugestões a seguir são ótimas opções de pesquisa para explo- rar os conteúdos estudados. ÎGILSON, Etienne. A filosofia na Idade Média. São Pau- lo, SP: Martins Fontes, 2001. Filme: Î AGOSTINHO. Direção: Roberto Rosselini. Itália, 1972. Módulo 160 Aula 10 Renascença Na aula anterior você encontrou o ambiente filosófico que estruturou todo o saber medieval. Agora você vai perceber o fio condutor, o processo de transição do pensamento medieval para o moderno/iluminista. Isso foi possível graças ao movimento renascentista, desenvolvido na Europa durante o século XIV. É justamente esse movi- mento, essa escola filosófica, que você terá oportunidade de explorar nesta aula. ? Você pode imaginar como foi marcado o Período da Renascença? Esse período foi marcado essencialmente pela descoberta de obras, ainda inéditas, de Platão e Aristóteles, com as produções filosóficas gregas passando a re- ceber novas traduções e, consequentemente, uma divulgação ampla por toda Europa. Justamente por esse desejo de retorno aos gregos e romanos, esse momento histórico ficou conhecido pelo nome associado à ideia de nascer novamente, de renascer. Contudo, não se tratava apenas de um retorno ao passado remoto. Acredita- va-se que, com o legado do passado grego, as pessoas poderiam produzir um mundo diferente. Curiosamente, nesse período há um enorme desenvolvimento das ciências e das técnicas, que até permitiram a descoberta do Novo Mundo (América), estabelecen- do assim um novo princípio filosófico, cultural, político e econômico. A originalidade do pensamento iluminista encontra-se na preocupação de construir uma nova imagem interpretativa do mundo a partir de resíduos do passado. Essa nova concepção filosófica abalou o domínio cristão operado durante quase todo o período medieval. A figura do homem, do ser humano, passa a ser a centralidade das formas explicativas do mundo, não mais referências sacras. O grande artista Leonardo da Vinci certa vez disse: “O homem é o modelo do mundo”. Filosofia 61 Essa frase sintetiza o propósito da filosofia renascentista, isto é, a busca de colocar o ser humano no centro das produções do conhecimento, estabelecendo uma nova visão de mundo, não mais teocêntrica e, a partir desse momento, antropocêntri- ca. Algo que viria a se concretizar inteiramente nos movimentos iluministas do mundo moderno. Com o Renascimento há uma mudança sensível na concepção de tempo, ou melhor, o tempo saiu da ordem divina e passou a pertencer ao homem. A ideia da tem- poralidade passou a vincular-se ao ideário de produtividade e desenvolvimento. Nesse período há um investimento altíssimo nas produções artísticas, na promoção ampla da concepção de que o ser humano é criativo, um idealizador, e caminha ao desenvolvi- mento progressivo em busca de sua perfectibilidade. Um dos grandes intelectuais divulgadores desse sistema de pensa- mento foi Francesco Petrarca (1304 – 1374). ! Importante Nessa escola filosófica encontramos também o desenvolvimento do Huma- nismo, em seu sentido amplo, visando compor o ideário do homem universal, fundado naquele que tudo sabe e faz, aquele que domina todos os campos do saber e todas as técnicas. Em um sentido técnico, o Humanismo foi articulado pela produção cuidadosa da gramática e da filologia das línguas antigas, produzindo posteriormente mimese da literatura e artes da Antiguidade. Filologia: Estudo de uma civilização, de um povo a partir de seus registros documentais e linguísticos Mimese: Uso do discurso direto, imitação de gestos, produções, voz e palavras de outrem G Glossário Módulo 162 A Renascença demarca o abandono dos estudos teocêntricos para uma lógica de entendimento do mundo baseada no antropocentrismo, isto é, na percepção de que o ser humano está na centralidade do mundo, do universo, e é capaz de dar resposta para todas as grandes problemáticas da natureza e da própria humanidade. O artista Leonardo da Vinci é um dos maiores representantes desse propósito presente no Renascimento e uma de suas imagens representa bem essa ideia das formas antro- pocêntricas para compreender a razão e a função dos homens no universo. A imagem, reproduzida a seguir, simboliza claramente o ideário renascentista, o Humanismo e o retorno ao conceito de intelectual universal do Período Clássico. Teocêntricos: Deus como centralidade das explicações originarias das coisas, do mundo. G Glossário Figura 20 - O homem vitruviano Filosofia 63 Assim como Leonardo da Vinci, os demais artistas renascentistas tornam-se modelo da capacidade inventiva do homem moderno, a partir da concepção de que o ser humano deve ser audacioso e criador de novos sentidos para o mundo, sendo, dessa forma, alguém cheio de virtuosidades. As obras desses artistas, a partir da visão dos próprios artistas, deveriam se perpetuar por toda a eternidade, de tal modo que eles acreditavam ultrapassar a mera condição de mortal, mero fazedor de arte, emer- gindo à sublime condição supra-humana. Não por acaso os materiais utilizados por eles na feitura das obras eram menos corrosíveis, já visando à durabilidade dos registros artísticos. Os indivíduos que defendiam o Renascimento entendiam o mundo tomando como referência a imagem e semelhança do próprio homem, percebendo a natureza como um empreendimento humano e não divino. Nesse sentido, essa ordem de pensa- mento, de produção do conhecimento renascentista, possibilitou que, pouco mais tarde, o pensamento filosófico moderno, racionalista e empirista pudesse existir. + Saiba Mais Aprofunde seus conhecimentos conhecendo a obra indicada a seguir. Î FLORIDO, Janice. A História da filosofia – o mundo novo do renascimento. Coleção os pensadores. São Paulo, SP: Nova Cultural, 2004. Colocando em prática Chegou o momento de unir teoria e prática e avaliar seu desempenho em rela- ção ao que estudou no módulo. Agora você é convidado a realizar a atividade propos- ta. Vamos lá? Demonstre seus entendimentos e percepções sobre os caminhos do conhecimento até o momento. Módulo 164 1. A obra O Banquete, de Platão, produzida aproximadamente em 384 a.C., tinha como objetivo: a ) ( ) A preocupação com sexo e com amor; b ) ( ) Associar a política ao amor; c ) ( ) Separar o sentimento moral do sexo; d ) ( ) Resgatar a preocupação moral dos sentimentos de amor e afetividade. 2. Marque verdadeiro ou falso: ( ) Safo era uma poetisa dionisíaca; ( ) Para os intelectuais, a participação das mulheres na filosofia era aceita; ( ) As mulheres de Lesbos recebiam uma formação avançada; ( ) As mulheres de Lesbos não gozavam de independência. 3. Associe a primeira à segunda coluna: Período Helelístico: Momento em que a filosofia torna-se cos- mopolita. Período Sistemático: Atinge e inaugura estudos no campo da política, ética, sociedade e cultura. Período Cosmológico ou Pré-Socrático: Critérios sistemáticos de captação das ver- dades nos discursos. Período Antropológico ou Socrático: A filosofia era produzida e fundamentada dentro dos panoramas que questionavam a origem do mundo e as maiores causas das transformações naturais. Filosofia 65 4. A filosofia deuseu pontapé inicial efetivamente quando alguns homens abandona- ram suas crenças cotidianas e preencheram lacunas com perguntas sobre a reali- dade natural, o mundo das coisas e a realidade antropológica do mundo, isto é, a relação dos homens na natureza. Em um primeiro momento, a filosofia se desenvol- ve de forma estranha aos seres humanos, de maneira espantosa, incompreensível, enigmática. A filosofia nasceu e, ao longo da história, desenvolveu-se sempre em momentos de crise nas teorias do conhecimento. Com base nessa ideia, originária do discurso filosófico, explicite os principais perío- dos da filosofia grega, enfatizando a importância e o legado dessas etapas filosóficas para a constituição da nossa cultura contemporânea. ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ Comentário: A filosofia originou-se das reflexões intuídas por intelectuais gregos, desta- cando-se por quatro grandes períodos: Cosmológico, Antropológico, Sistemático e Helenístico. O pensamento estabelecido na etapa Pré-Socrática fundamentou-se na perspectiva naturalista, ou melhor, os filósofos desste período dedicaram-se aos es- tudos sobre a origem da vida e suas condições naturais. Tais análises indiciárias foram fundamentais para que, contemporaneamente, tivéssemos as chamadas Ciências Bioló- gicas. Posteriormente, nota-se o desenvolvimento da Filosofia Socrática, que promoveu os mais relevantes estudos críticos sobre a relação dos homens no mundo, influencian- do diretamente a formação das próprias Ciências Humanas. Com o Período Sistemá- tico, percebe-se um caráter mais enciclopédico do conhecimento, possibilitando que a filosofia obtivesse, de forma mais clara, métodos e ações enquanto uma área singular do conhecimento. Por último, a etapa helenística destacou-se pela ampliação territorial da ação filosófica, dada a decadência da Grécia e o crescimento de Roma, seguido de apropriações culturais que possibilitaram o alcance da filosofia até os dias de hoje. Módulo 166 5. O mito foi uma das primeiras formas de esclarecimento sobre a origem humana. Pautados por ele, os gregos construíram suas concepções de conduta moral, social e política. As explicações míticas não fornecem informações claras, deixando ques- tões abertas para serem descobertas e estudadas. Elas servem como importante fonte de conhecimento do pensamento grego e de suas características de culto. Re- velam como os gregos relacionavam-se com a natureza, a sociedade e os costumes. Entendendo, após as aulas, a relevância da mitologia grega, aponte em que medida o discurso mitológico representou uma perspectiva e visão de mundo para os gregos do Período Clássico. Exemplifique. ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ Comentário: Na Grécia, durante o Período Clássico, o mito estabeleceu-se como um im- portante elemento cultural da sociedade e exerceu profunda influência no cotidiano dessa população. Notamos que os deuses, diferentemente da religião cristã, possuíam atributos similares aos humanos. As similaridades mostram o quanto os deuses eram culturalmente presentes na realidade social grega. Nos poemas de Homero, percebe-se que o mundo dos deuses e dos mortais era interligado; haviam até relações amorosas entre os mortais e deuses, sendo que estes se apaixonavam tão intensamente quanto os mortais. Os gregos adoravam os deuses por representações simbólicas. Parte dessas representações visava a certa aproximação do mundo dos mortais com os deuses e, em geral, tais modelos representativos se encontravam nas atividades artísticas produ- zidas em referência a eles Filosofia 67 RELEMBRANDO A partir de alguns exemplos da mitologia grega, você pôde perceber que algumas narrativas míticas apresentavam relações culturais de deuses com os mortais. O culto a esses deuses vinculava-se à vida cotidiana e à atualização de condutas morais entre os gregos. Esse cenário representou o berço, a porta de entrada para a sistema- tização de um pensamento de caráter mais racionalizado sobre a natureza do mundo, isto é, a filosofia. Os deuses representados na mitologia grega participavam ativamente das concepções de mundo entre os filósofos antigos. No caso deste estudo, em espe- cial, das suas posições sobre o amor. Você também pôde perceber o quanto a cultura mitológica grega assumiu uma função central para a constituição das mentalidades, das convivências e comporta- mentos entre os gregos antigos. A filosofia desenvolveu-se quando alguns homens na Grécia Clássica deram-se conta de que a verdade do mundo não é uma propriedade, nem mesmo um segredo ou algo misterioso, que só seria capaz de ser descoberto por deuses, mas, ao contrário: todos, a partir de um esforço reflexivo, racional poderiam ter acesso ao conhecimento verdadeiro sobre todas as dúvidas do mundo pelas operações mentais, pelo raciocínio. Você viu que a filosofia alcançou sua maioridade ao longo dos séculos, consis- tindo sua natureza na condição de não aceitar como naturais, óbvias e evidentes qual- quer pergunta sobre o mundo, os fatos, situações, comportamentos, valores da nature- za e existência humana. Filosofar é jamais considerar ou aceitar algo sem antes investigar e compreender o que é afirmado. Nesta unidade foi possível entrar em contato, ainda que de forma muito indiciária, com o cenário que possibilitou a formalização da filosofia na Antiguidade. Ela se deu a partir de quatro linhas bastante singulares: Período Pré-Socrático, Socrático, Sistemático e Helenístico. Módulo 168 O pensamento filosófico na Antiguidade foi apresentado primeiramente em duas etapas. A primeira fase caracterizou-se por estudos essencialmente de caráter, di- gamos, naturalista, muito preocupado com respostas sobre a origem da vida. Posterior- mente você entrou em contato com a fase antropológica, momento em que a filosofia se desenvolve em outro campo, nas relações do homem com a natureza, ocupado com as questões sobre ética, política e cultura. Estudou o impacto que Sócrates causou na cultura grega, gerando como estopim sua morte e o fim do Período Antropológico. A conclusão do pensamento filosófico antigo, a partir, sobretudo dos legados de Platão e Aristóteles. Você estudou a formação de uma filosofia da religião, vinculada ao que mais tarde se concretizaria na construção do Cristianismo. Outro assunto foi a construção da filosofia medieval, pressupondo a capa- cidade dos filósofos desse período de abstrair a relação da filosofia com a teologia a partir, entre outras referências, da filosofia grega, ora com a criação do neoplatonismo, ora com o aristotelismo, possibilitado em grande medida por Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino. Por último, você encontrou o cenário que resultou no desmembramento do pensamento teocêntrico e o desenvolvimento de uma nova forma de compreender o mundo, isto é, o antropocentrismo. Orientado por isso, você percebeu em que medida o Renascimento se estabeleceu como o fio condutor do pensamento medieval para o moderno, possibilitando
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