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GESTÃO DE PROJETOS AULA 1 TEMA 1 – HISTÓRICO DO GERENCIAMENTO DE PROJETOS 1.1 Primeiros projetos no mundo A história da gestão de projetos nasce em 2550 a.C. Ao longo do desenvolvimento humano, o ser humano foi capaz de construir grandes obras,que utilizaram princípios básicos como: gerenciamento de recursos financeiros, gerenciamento de recursos humanos, cronogramas e coordenação de diferentes ações e demandas, princípios que continuam sendo utilizados tanto nas civilizações ocidentais quanto nas orientais. A Grande Pirâmide de Gizé, construída como monumento funerário ao Rei Queóps, é a única das Sete Maravilhas do Mundo Antigo que sobreviveu aos séculos. Localizada no Egito, é considerada um exemplo magnífico do histórico de gerenciamento de projetos. Historiadores estimam que, em sua construção, trabalharam mais de 30.000 homens, durante 20 anos. Em relação ao uso de recursos humanos, segundo a egiptologia (ciência que estuda o Egito Antigo), sabe-se que, devido ao extenuante trabalho, os trabalhadores eram substituídos a cada três meses, existindo um rodízio definido por tempo. Os trabalhadores eram organizados em diferentes segmentos: braçais (corte das pedras e transporte de blocos de pedras), engenheiros, médicos, padeiros e cervejeiros. Pesquisadores acreditam que os trabalhadores eram pagos com cerveja e alimentos. Com essa conversa inicial em mente, podemos dizer que, graças ao nível de organização e distribuição eficiente de recursos, o projeto da construção da Pirâmide de Gizé, construída há mais de quatro milênios, foi um sucesso. Vocês concordam? 1.2 Taylorismo Ao longo dos séculos, havia o pensamento de que o aumento de horas de trabalho era diretamente proporcional ao ganho de produtividade, entretanto, no século XIX, esse paradigma foi desmistificado. Para Frederick Taylor (1856- 1915), era preciso analisar cada área segundo suas especificidades, com foco no aperfeiçoamento da mão de obra, aproveitando o que cada área tinha de melhor. 1 Taylor foi um dos primeiros estudiosos a racionalizar os processos de trabalho a partir da organização da instituição, cuja expressão mais avançada era o sistema de organização científica. Ele inovou (e entrou para a história) ao indicar que cada área deveria ser cuidada de forma específica, cada uma a sua maneira, pelo sonho de uma civilização técnica, fundada na eficiência e na produtividade (Rodrigues, 2016). A obra do autor The Principles of Scientific Management (1911), baseada em sua experiência na indústria siderúrgica, forneceu subsídios e técnicas aos trabalhadores não qualificados, oportunidades em trabalhar com novos projetos, permitindo o aprendizado de habilidades complexas. O autor identificou a necessidade de criar sistemas de salários baseados em incentivos e aproveitar as técnicas de economia de tempo. O Taylorismo preconizava a criação de departamentos de planejamento, cronometragem dos movimentos, fixação de tarefas rígidas para os trabalhadores e definição de critérios de pagamento por peça. Para Taylor, o trabalhador era um ser programável. Muitos desses princípios são usados pelas empresas até hoje. Curiosidade: a classe operaria americana recebeu o Taylorismo com desconfiança e muitas críticas, principalmente pela opressão imposta pela cronometragem dos gestos e a maneira que o método pretendia transformar o trabalhador em um “gorila domesticado”, como forma de combater a “vadiagem no trabalho”, evitando quedas de ritmo de produção. Após muitas controvérsias, no ano de 1912, foi instalada uma comissão de inquérito do Congresso americano, ocasião em que o próprio Taylor compareceu e enfatizou o caráter científico de seu sistema e a dimensão conciliadora, de paz entre as classes, buscando uma prosperidade universal (Rodrigues, 2016). 1.3 Fordismo Após a revolução provocada pela publicação da obra Principles of scientific management de Taylor (1911), o fordismo ganhou papel de destaque na história do pensamento e teorias organizacionais. A periodização do Fordismo teve início em 1910 e se estende até o final de 1960. Sua base está nas teorias da administração científica do Taylorismo. Podemos entender o Fordismo como um regime de acumulação e modo de regulação que tem entre suas principais características a produção em massa e a organização produtiva em linhas de montagem automatizadas, o que contribuiu para que Henry Ford construísse uma cadeia de montagem, multiplicando a produção de automóveis e ganhasse lastro mundial. Nesse modelo, as informações geradas no controle do processo de trabalho constituíram elemento central e de poder, capazes de definir a melhor forma de se fazer uma tarefa. A informação gerada no processo de trabalho era somente acessada ou utilizada por grupos específicos (hierarquizados). 2 Além da informação estatística, outros instrumentos foram mobilizados pelas estratégias de qualidade no fordismo: quantificação dos ganhos e custos da qualidade (a não qualidade traz consequências como retrabalho, refugo, devoluções etc.); controle total da qualidade (toda a empresa se envolve com a qualidade); engenharia da confiabilidade (a informação estatística não fica apenas restrita à fábrica, mas é utilizada também nos domínios do uso dos clientes); e zero defeito (metodologia que implicava a motivação e conscientização do "fazer certo na primeira vez"). (Arruda; Albagli, 2015) Podemos dizer que o conceito de Fordismo guarda semelhança com o conceito de rigidez, o gerenciamento tecnoburocrático de recursos humanos especializados se constitui como um produto social determinado pela técnica. 1.4 A evolução do gerenciamento de projetos Por meio das contribuições e sistematizações, o engenheiro mecânico norte- americano Henry Gantt (1861-1919) pode ser considerado o pai do gerenciamento de projetos. Henry foi um dos grandes responsáveis para que os projetos ganhassem ferramentas de gestão como os gráficos, ferramentas imprescindíveis na atualidade. Notem que Taylor e Gantt eram contemporâneos. Uma qualidade que Gantt possuía era ser um grande humanista, o bem-estar dos trabalhadores estava sempre entre suas preocupações (Pires, 2019). Gantt trabalhou durante a construção de um navio desenvolvido na Primeira Guerra Mundial, sendo que, para otimizar a realização do trabalho, elaborou a diagramação de uma barra de tarefas com marcações e periodizações das atividades do projeto para esboçar a sequência e duração de todas as tarefas e seus responsáveis. Graças à qualidade das ferramentas de gerência de projetos desenvolvidas por Gantt há mais de um século, esse homem entrou para a história como o pai do gerenciamento de projetos. Com o passar dos anos, métodos de processos de execução de tarefas foram experimentados, esquadrinhados, aperfeiçoados e aprimorados, o que chamou atenção de muitos especialistas, mas foi somente na Segunda Guerra Mundial que o gerenciamento de projetos passou a ser reconhecido como uma disciplina. Um dos maiores exemplos é o Projeto Manhattan (que criou a bomba atômica), projeto altamente complexo, criado pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos. Esse projeto foi uma grande mobilização do governo e da comunidade científica, utilizou mais de 100 mil pessoas em suas tarefas, sendo distribuídos em 13 locais diferentes, e durou cinco anos (1942 a 1947), além de possuir, em suas memórias, uma infinidade de histórias de espionagem. 3 Seguindo na linha do tempo, durante a guerra fria, um grupo de especialistas que trabalhavam com gerenciamentos de projetos se reuniu para discutir os papéis de suas profissões, e acabaram por criar o conhecido Project management Institute (PMI), fundado em 1969 no estado da Filadélfia, nos Estados Unidos. O PMI, desde então, passou a ser uma importante instituição para integração de profissionais de gerenciamento de projetos do mundo. O PMI possui mais de 240.000 membros espalhados por 160 países, conduz pesquisas na área de gerenciamentode projetos, estabelece padrões profissionais e promove divulgação e capilaridade de inúmeras informações e recursos. Atualmente, esse instituto é considerado a maior associação dessa natureza, desenvolvendo padrões de gerenciamento de projetos usados em escala mundial, disponibilizando diversos tipos de certificações para seus associados. Ao passar pelo curso da civilização mundial, conhecemos a importante história do gerenciamento de projetos desde a Idade Antiga, passando pela Primeira Guerra Mundial, Segunda Guerra Mundial e pela Guerra Fria. Ao final desta primeira parte da aula, aprendemos que gerenciar projetos não é nada novo, muito pelo contrário; os faraós, há milênios, já tinham seus métodos. Na seção seguinte, trabalharemos com ferramentas para a nossa época, para os dias atuais, avançando em nossos estudos sobre a Gerenciamento de Projetos na Gestão Pública. TEMA 2 – PROBLEMAS E DECISÕES DA GESTÃO PÚBLICA Nosso estudo sobre a gestão pública deve considerar como os problemas são inscritos na agenda pública, e como depois de elencados precisam ser derivados em projetos pactuados e implementados. A escolha de um problema a ser implantado não é um processo autónomo, feito por um só ator. O sucesso da inserção de um problema na agenda pública envolve uma série de fatores, como a conexão entre os problemas, o contexto das soluções e a política. A inserção de um problema na agenda publica é essencial para o seu sucesso. O grande desafio está na manutenção da proposta eleita inicialmente por um determinado grupo de pessoas. É interessante destacar que quando há poucos grupos que provocam o conflito, existe um maior controle da agenda publica. Quanto menor o número de atores interessados em um problema, há um maior controle dos formuladores de política pública alinhados aos interesses da gestão vigente. 4 2.1 Inscrição do problema na agenda pública Atente-se ao fato de que, frequentemente, a manutenção de um problema fora da agenda é exercida por meio de negação desse problema, sendo desacreditado todo fundamento sobre a questão. Esse recurso tem sido deliberadamente utilizado na gestão pública para que um problema não seja inserido na agenda publica. Na não-tomada de decisão considera-se suficiente evitar que uma questão latente se transforme em uma questão de decisão. Uma não- decisão não é visível a olho nu, uma questão latente é percetível. O fenómeno da não- tomada de decisão, e seu impacto da mobilização do viés sobre uma questão latente deve ser objeto de observação e análise. O conceito da não-tomada de decisão é uma ferramenta útil de análise. Efetivamente, a não-tomada de decisão existe quando valores dominantes, relações de poder existentes entre os grupos e os instrumentos força (isolados ou combinados) efetivamente impedem que certas queixas se transformem em questões plenas que exijam decisões. (Bachrach; Baratz, 1963) Os problemas da sociedade local, que conseguem emergir para dentro da gestão publica, passando de um problema marginal para um problema a ser inscrito na agenda publica, é enfrentado pela Gestão Pública por meio da implantação de projetos. Em muitos casos, as mudanças objetivadas são produzidas por projetos. Após elencar a agenda pública, a seleção dos projetos precisa buscar o maior retorno estratégico e alcance das metas estabelecidas. A escolha do conjunto de projetos deve estar alinhada com a visão, missão e valores do plano de governo de cada legislatura. A agenda pública e seus projetos derivados devem reconhecer o contexto populacional especifico, seus objetivos, ações, metas, indicadores, orçamento, prazo de execução, responsável e co- responsável, sendo baseada nas diretrizes estratégicas do Plano de Governo. A tomada de decisão e a eleição de soluções são derivadas dos instrumentos políticos institucionais. Considerando a necessidade de conferir legitimidade e coerência no processo de formulação de solução inscrito na agenda pública, a primeira instância fundamental centra-se no esclarecimento das metas da política, sendo a segunda instância determinar quais são os objetivos específicos para o alcance das metas. (Deubel, 2006) 5 2.2 Alinhamento com o período da gestão Os projetos devem estar alinhados com as propostas dos planos de governo, para que a implantação, tramitação e busca por recursos ocorra de forma harmoniosa dentro do Poder executivo, seja ele municipal, estadual ou federal. Como indicamos acima, os projetos são realizados por inúmeras motivações na Gestão Pública. Cada Município e Estado tem formas distintas de realizar projetos, bem como a União tem formas distintas. O alcance dos objetivos do Plano de Governo é imprescindível para o sucesso de uma gestão pública. Dessa forma, os conhecimentos do gerenciamento de projetos são instrumentos necessários para a sustentabilidade de uma gestão. Normalmente, na gestão pública, os projetos devem ser realizados em até 4 anos de duração, preferencialmente devem ser iniciados e finalizados em consonância com as legislaturas do Poder Executivo. Entretanto, em alguns casos, como grande construções (hidrelétricas e rodovias), podem levar mais tempo do que uma legislatura. No Brasil, existem experiências exitosas no gerenciamento de projetos na gestão pública, mas, por outro lado, podemos encontrar vários exemplos de governos que administram seus projetos de maneira totalmente empírica, levando a falhas de gerenciamento de projetos, infelizmente fatos corriqueiros em todo nosso território nacional. Exemplos: a grande obra da Rodovia Transamazônica (BR - 230) é uma rodovia federal que transversaliza nosso país, possui extensão de 5.662 km. Esse projeto (grande obra) foi criado em 1969. Sua lentidão e complexidade onera nosso país e impede o avanço econômico e social. Grandes trechos ainda não estão asfaltados, passados 50 anos do início das obras. 6 Saiba mais Exemplo de falha de projeto: a cidade do Rio de janeiro vive o pesadelo do legado das Olimpíadas 2016, que nunca chegou. Disponível em: <https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2019/07/04/para-romario-pais- vive-o-pesadelo-de-um-legado-olimpico-que-nunca-chegou>. Acesso em: 29 jan. 2020. TEMA 3 – AFINAL, O QUE SÃO PROJETOS? Para seguirmos em nosso aprendizado, precisamos ter um conceito bem definido: todos os projetos têm tempo para ser iniciado e tempo para ser finalizado. A natureza de um projeto é sempre temporária, sendo empregado no sentido de elaborar algum serviço, produto ou inovação. É válido destacar que os projetos nunca são iguais, mesmo que possam apresentar várias semelhanças. Uma definição feita em 1978 continua atual: Projeto poder ser definido como um conjunto de atividades orientadas e interdependentes para um objetivo específico. Um projeto deve ter duração predeterminada, caracterizando-se por ser uma atividade não- repetitiva, com recursos limitados e previamente alocados para sua execução. Em geral, envolve a introdução de uma inovação, quer seja um novo produto, o desenvolvimento de uma nova tecnologia, ou a construção de uma obra, dentro de determinadas especificações. (Adams; Bamdt, 1978) Veremos, nos próximos subitens, que existem três características básicas de um projeto. 3.1 Temporário Um projeto obrigatoriamente deve ter, em seu planejamento, um início e um fim, além de ser sempre realizado dentro da linha de tempo. Quando o objetivo especifico é atingido, o projeto deve ser encerrado, deixando o projeto de existir e os recursos mobilizados têm sua demanda cessada. 3.2 Serviço ou resultado A execução de um projeto objetiva a entrega de um serviço ou de um resultado sempre exclusivos e únicos. O resultado ou o serviço implantado pelo projeto é consequência da realização adequada do projeto. Quando há ausência de um serviço ou de um resultado, podemos afirmar que o projeto não teve sucesso e não foi finalizado. 3.3 Elaboração progressiva Todo projeto tem recursos humanos, materiais,econômicos finitos. Os projetos devem ser mensuráveis, por meio de métodos de controle pré- estabelecidos. Sua progressão e desenvolvimento devem considerar a finitude dos recursos sobre o cronograma estabelecido. 7 TEMA 4 – CICLO DE VIDA DO PROJETO O ciclo de vida de um projeto envolve inúmeras fases, desde as primeiras reuniões sobre o alinhamento conceitual da demanda, articulação com parceiros, mapeamento dos atores (veremos nas próximas aulas), levantamento de custos, implementação e execução, até a fase de conclusão. Existem diversas formas de descrever as fases de desenvolvimento do projeto, todas reunidas configuram o Ciclo de Vida de um projeto. A fim de facilitar nosso aprendizado, podemos resumi-lo em quatro fases, listadas a seguir. 4.1 Fase de iniciação Nessa fase, estão inclusas atividades de alinhamento conceitual sobre o problema inscrito na agenda pública, e como as decisões serão tomadas com objetivo de resolver o problema. Essa fase deve ser composta pelo estudo de viabilidade do projeto, mapeamento dos recursos envolvidos e das prioridades a serem elencadas. A clareza sobre os atores envolvidos no projeto é fundamental nesta fase. Considerando o projeto realizado dentro da Gestão Pública, nesta fase o projeto precisa obrigatoriamente ter a anuência da gestão, bem como ter aprovação do orçamento antes de seguir para as fases subsequentes. 4.2 Fase de planejamento Nesta fase, o cronograma deve ser elaborado de maneira detalhada, todos os recursos materiais, humanos e financeiros devem estar alinhados ao tempo de execução de cada fase subsequente. A proposta do projeto deve estar especificada em todos os passos, bem como os atores, objetivos, integrações. Nesta fase, todas as áreas do conhecimento são considerados, de acordo com o contexto e a complexidade de cada projeto. Importante ressaltar que a fase de planejamento do projeto é sempre interativa e progressiva, deve ter a característica de poder ser ajustado e atualizado conforme o desenvolvimento e avanço do projeto. 4.3 Fase de execução Essa fase engloba a realização do projeto, fase na qual o resultado final do projeto é construído. Nessa fase, o projeto é visível para todos os atores e para a Gestão Pública, por isso devemos ter muito zelo com as integrações entre atores, especialmente no gerenciamento de comunicação. Além disso, a maioria dos recursos do projeto são consumidos. O cronograma deve estar em sintonia com a realização das ações, caso não esteja, medidas de correção e intervenções devem ser tomadas de maneira ágil. 8 4.4 Fase de conclusão Nesta fase final, os resultados são mensurados para avaliação da implantação, e a maioria dos recursos são liberados. E ao final, deve-se realizar a apresentação dos resultados, produtos ou serviços gerados ao gestor da pasta. Nessa fase, o projeto é encerrado e seus recursos são liberados. Um outro aspecto muito importante que ocorre nessa fase é o encerramento das aquisições e contratos que foram realizados durante a fase de execução. Quando chegamos nessa fase, é muito importante que apresentemos os resultados, serviços ou produtos gerados para os gestores das áreas gerenciais e operacionais das instituições envolvidas no projeto. Essa divulgação tem por objetivo conferir visibilidade dos resultados, por diferentes setores e por pessoas de diversas áreas de conhecimento. Essa oportunidade de democratização dos resultados de um projeto pode desencadear o aprimoramento de processos de trabalho ou até mesmo inspirar a implantação de novos projetos. TEMA 5 – ESTRUTURA DE GERENCIAMENTO Nesta última sessão, apresentaremos um modelo de estrutura de gerenciamento que otimiza e facilita a organização e controle dos projetos que estão sendo executados em uma instituição. 5.1 Projetos Projetos na Gestão Pública são responsáveis pela operacionalização e viabilização do alcance das metas do plano de governo. Por meio de projetos, as ideias são materializadas em serviços e resultados mensuráveis, sendo implementados pela necessidade de resolução de um problema inscrito na agenda pública, provisão de uma demanda e estabelecimento de uma oportunidade ou um compromisso de pactuado. Devemos ter muita atenção para diferenciar o que são projetos e o que são operações corriqueiras de Gestão Pública. As operações são realizadas dentro de uma rotina repetitiva, sem resultados previsíveis. 5.2 Programas 9 Saiba mais O trabalho das equipes de Recursos Humanos contabiliza as frequências dos servidores de forma sistemática e perene. Esse tipo de ação não apresenta data de finalização dos processos de trabalho, sua realização é conduzida e necessária durante os 12 meses de cada ano, de forma continua, aplicada ano a ano na instituição, sem encerramento de seu processo, sempre de forma permanente e funcional. Esse é um ponto muito importante para quem estuda projetos. Um programa é um conjunto de projetos, subprogramas e atividades relacionadas que possuem inter-relação, e que ao serem gerenciados coordenadamente são capazes de apresentar resultados mais efetivos, a coordenação coletiva agrega benefícios.O objetivo dos programas é a integração de projetos interdependentes, primando pela alocação lógica de recursos. O trabalho conjunto desenvolvido por um programa pode ser capaz de transformar estrategicamente a instituição e viabilizar a implementação de mudanças e inovações na Gestão Pública. 5.3 Portfólios Um portfólio é o conjunto de programas, projetos e outros serviços organizados que são agrupados com a finalidade de facilitar o planejamento, coordenação, organização e controle institucional, de forma ágil e coerente, para que os objetivos da gestão sejam atingidos. É imprescindível destacar que, em um portfólio, não há a obrigatoriedade dos projetos e programas serem necessariamente relacionados ou interdependentes. A Gestão Pública deve dedicar muita atenção à escolha dos projetos que irão compor seu portfólio. Exemplo: em uma Secretaria Municipal de Assistência Social, vários programas podem compor o portfólio da pasta (Programa sobre Primeira Infância, Projetos para pessoas com Deficiência e Programa de bem- estar para os idosos), mesmo que as ações não sejam trabalhadas em conjunto. Perceba que, de uma maneira geral, o agrupamento das temáticas desenvolvidas é salutar para a instituição, ao viabilizar o melhor planejamento, organização e controle da gestão. 5.4 Escritório de projetos Os Municípios, Secretarias Municipais e Estaduais que implantam um Escritório de Projetos têm maiores chances de prover projetos e programas com melhores padrões, por conferirem suporte institucional no nível da gestão no que tange o compartilhamento de recursos, metodologias e instrumentos. Esses Escritórios de Projetos viabilizam o estabelecimento de diretrizes de trabalhos para os gerentes de projetos e outros atores interessados ao padronizarem processos de trabalho e formas de governança. Substancialmente, são responsáveis pela sistematização da coleta de dados do gerenciamento de projetos, e principalmente na consolidação e unificação das informações disponíveis para a Gestão Pública. Importante destacar que os Escritórios de Projetos devem ser permanentes na Gestão Pública. 10 5.5 Gerenciamento de Portfólios O Gerenciamento de Portfólio envolve a aplicação de conhecimentos e ferramentas para que os projetos e programas da instituição tenham maior efetividade e eficácia, alinhando-se aos objetivos da gestão, bem como no uso racional dos recursos da instituição. Precisamos ter em mente que o gerenciamento de Portfólio é um poderoso instrumento para o alinhamento e alcance das metas pactuadas do Plano de Governo vigente, logo, as decisões tomadas devem ser pautadas na priorização e no manejo da prioridade da Gestão Pública. Diante disso, denotamos que o Gerenciamento de Portfólio deve ter acesso aos gestores das pastas municipais e estaduais para facilitar o controlee operacionalização das estratégias de governo. Segundo o PMI 2013, o gerenciamento de portfólio deve ser centralizado em um ou mais portfólios para alcançar os objetivos estratégicos da instituição. Esse tipo de gerenciamento deve asseverar que o portfólio seja analisado com atenção irrestrita à priorização e alocação de recursos, de maneira consistente e alinhados com as estratégias organizacionais. NA PRÁTICA Indique um problema do seu Município ou Estado que afeta uma população específica: Esse problema está inscrito na agenda pública da gestão? Como você faria para que esse problema ganhasse visibilidade e se tornasse uma questão a ser enfrentada pela Gestão Pública? De qual maneira um projeto poderia resolver esse problema? Qual Secretaria ou órgão seria responsável pela Fase de Iniciação? Quem você escolheria como Gerente de Projetos? FINALIZANDO Nesta aula, examinamos aspectos sobre o histórico do gerenciamento de projetos, bem como compreendemos a estrutura e o ciclo de vida dos projetos em Gestão Pública. Existe um provérbio árabe que nos ajuda a compreender um pouco mais essa aula: "o Homem teme o Tempo, e ainda o tempo teme as Pirâmides”. 11 GESTÃO DE PROJETOS AULA 2 TEMA 1 – ATORES ENVOLVIDOS NOS PROJETOS 1.5 O que são stakeholders? Stakeholder é uma palavra inglês utilizada em referência a pessoas, parceiros e grupos de trabalhos. Stake significa interesse, participação e risco, e holder significa o que possui. Esse termo se refere a todas as partes interessadas, aquelas pessoas que possuem interesse ou que sejam as intervenientes. Esse conceito é amplamente utilizado nas áreas de administração e tecnologia. Os stakeholders acompanham as ações de um projeto específico, podem ter um papel direto ou indireto nos ciclos de vida, por consequência nos resultados do projeto. Independentemente de ter feito ou recebido transferência de recursos para o projeto, qualquer ator envolvido é considerado um stakeholder. 1.6 Quem são stakeholders? O entendimento das demandas e singularidades de cada stakeholder é fundamental para o sucesso de um projeto. Precisamos ter uma visão ampla de todos os envolvidos, cientes sobre a maneira que podem contribuir para a otimização de todas as fases do projeto. Os stakeholders podem ser afetados positivamente ou negativamente, dependendo do contexto e da forma de atuação do gerente de projetos. É importante destacar que, na gestão pública, o público beneficiário (população) é considerado stakeholder, e esse entendimento deve ser imprescindível para o gerenciamento de projetos na gestão pública. Exemplos de stakeholders de um projeto na gestão pública: Funcionários Públicos; Secretários Municipais, Secretários Estaduais; Fornecedores; Organizações Sociais; Conselhos da Comunidade; População beneficiada pelo projeto; Sindicatos. 12 TEMA 2 – GERENTE DE PROJETOS Com o aumento das demandas do serviço público, inovações tecnológicas e maior controle popular sobre a gestão pública, é salutar que cada Prefeitura Municipal, ou que as Secretarias do Poder Executivo Estadual possuam Escritórios de Projetos, adotem estruturas de governança para permitir melhores tomadas de decisão e usem metodologias de gerenciamento de projetos. E para otimizar e conferir qualidade nas fases de estruturação e execução, a figura do gerente de projetos é fundamental, atuando como facilitador, realizando integrações entre ares do conhecimento, construindo elos entre os processos envolvidos e stakeholders, administrando recursos materiais e humanos disponíveis para entregar o produto final à gestão. Frequentemente, na gestão pública, os projetos são formulados (Fase de Elaboração) no nível estratégico da gestão, nos Gabinetes de Secretários Municipais, Secretários de Estado, Prefeitos e Governadores, e na sequência são escolhidos os gerentes de projetos para atuarem na fase de estruturação. Isso pode ser considerado um desafio para o gerente de projeto, como veremos mais adiante neste mesmo capítulo. A cada projeto executado, a figura do gerente de projetos é imprescindível. Ele pode estar responsável por um ou mais projetos simultaneamente, dependendo do perfil e habilidade. O gerente pode direcionar o projeto ao caminho ideal fazendo uso de instrumentos de controle, acompanhamento do cronograma e mensuração da satisfação dos stakeholders. Por meio de atitudes e comportamentos, o gerente ajuíza o alcance dos objetivos esperados pela população, sendo responsável pelos resultados do projeto, seja o sucesso ou o fracasso. 2.3 Características O gerente de projeto deve ser um profissional flexível, com fluidez de diálogo, deve possuir conhecimentos na área de tecnologia, finanças, marketing e gestão de pessoas. Quando o Gerente de Projeto consegue transitar e acessar os gabinetes das Secretarias Municipais e Estaduais, os projetos alcançam melhores resultados. Em paralelo, um bom gerente de projeto na gestão pública pode visibilizar os avanços da gestão e crescer profissionalmente. É importante notar que um projeto com excelentes resultados gera satisfação da comunidade beneficiada, o que fortalece a instituição pública que o projeto está ancorado, característica importante para sustentabilidade da gestão. Para além das características técnicas conferidas pela educação formal (Graduação e Pós-Graduação), um importante passo diz respeito à escolha e designação dos gerentes de projetos pelos gestores públicos. A gestão pública 13 deve prezar aqueles funcionários que apresentam habilidades comportamentais específicas ao longo sua carreira. Tabela 1 – Habilidades interpessoais necessárias ao Gerente de Projetos Influência Liderança Motivação Comunicação Gerenciamento de conflitos Tomada de decisão Gerenciamento de equipes Conhecimento político local Conhecimento cultural da comunidade afetada pelo projeto Conhecimento do contexto socioeconômico da população beneficiada Considerando a singularidade de cada projeto, é comum encontrarmos profissionais de diferentes áreas de formação atuando como gerentes de projetos, não somente administradores designados para o gerenciamento. Por exemplo: Engenheiros civis são os gerentes de projeto de construção de pontes. Nutricionistas são responsáveis pela elaboração dos termos de referência e quantidades a serem licitadas para a merenda escolar municipal. 2.4 Atribuições do Gerente de Projeto Primordialmente, na gestão pública, os gerentes de projeto precisam estar atentos ao cenário da política local. Possuir conhecimento sobre o contexto político dos Secretários Municipais e Estaduais, bem como ter ciência de quais Comissões existem nas Câmaras de Vereadores e quais vereadores as compõem facilita a integração interinstitucional e o diálogo sobre os objetivos do projeto, público-alvo e resultados esperados. É salutar que o gerente de projetos tenha acesso aos atores do Poder Legislativo, Executivo e Judiciário. As atribuições requeridas para o gerente de projeto na gestão pública são: 14 Conhecimento do trabalho dos atores e suas demandas; Integrar as áreas de conhecimento; Administrar todos os recursos disponíveis e finitos (financeiros, humanos e materiais); Aplicar uma comunicação eficiente entre os atores; Finalizar o projeto com a entrega do que foi previamente estabelecido. TEMA 3 – ÁREAS DE CONHECIMENTO DOS PROJETOS Dependendo dos diferentes contextos e segmentos populacionais que os projetos incidirão, o gerenciamento de projeto pode apresentar grande flexibilidade, mobilidade e liquidez. As áreas de conhecimento são constituídas pelo agrupamento de assuntos relacionados às especificidades do projeto. Cada área reúne técnicas, ferramentas e assuntos correlatos, sempre considerando os recursos disponíveis, cronograma e o resultado esperado. Ao longo das próximas páginas, dialogaremos sobre as diferentes áreas de conhecimento no gerenciamento de projetos. Atualmente, a área de gerenciamentode projetos está em constante evolução. Diariamente são criadas e aprimoradas ferramentas que impactam em todas as áreas de conhecimento dos projetos. Para facilitar nossa compreensão, devemos entender essa estrutura como uma matriz hierarquizada, na qual o nível mais amplo faz referência às áreas de conhecimento, localizando-se dentro dos Grupos de Processos, e dentro destes, há os respectivos processos, como explicitado na figura abaixo: Figura 1 – Grupos de processos Veja, a seguir, as áreas mais consolidadas no gerenciamento de projetos. 15 3.4 Gerenciamento da Integração Área responsável por realizar a coordenação do conjunto e processos entre todas as outras áreas de conhecimento, seus grupos de processos e processos. Um hábil gerente de projetos cuida com muita atenção dessa área de conhecimento. A correta integração das áreas permite que cada processo seja iniciado e finalizado no momento correto, visando à obediência ao cronograma e ao sucesso do projeto. 3.5 Gerenciamento do Escopo Área que modela e define o resultado a ser pactuado (serviço, produto ou resultado específico), também inclui como o trabalho será planejado, gerenciado, validado, monitorado e controlado. O escopo do projeto é fundamental para que a fase de conclusão seja harmoniosa, pois a falha na entrega de um resultado acordado pode ser alvo de disputas judiciais e desacordos. 3.6 Gerenciamento do Tempo Área que planeja o projeto em relação ao tempo da fase de execução, considerando os recursos institucionais disponíveis. Com o objetivo do projeto caminhar em seu curso normal, essa área de conhecimento deve utilizar em todo o conjunto de processos técnicas de controle e acompanhamento de cronograma, bem como possibilitar impor medidas corretivas quando necessárias. O gerenciamento do tempo é um fator de grande preocupação do gerente de projetos, o controle do tempo é fundamental. O tempo é o único recurso que não conseguimos adquirir. 3.7 Gerenciamento de custos Área responsável por realizar o gerenciamento de todos os custos do projeto. Custos que podem estar relacionados: recursos humanos, equipamentos, softwares, mobiliários, viagens, qualificação das equipes e investimentos realizados. Nessa área, a utilização de ferramentas de controle é fundamental, pois o gerente de projetos deve garantir que o projeto se encerre dentro do orçamento aprovado. 16 3.8 Gerenciamento de qualidade Área que deve garantir obrigatoriamente que os resultados entregues atendam às expectativas, de acordo com o gerenciamento de escopo. O conjunto de processos desta área deve garantir que o resultado seja aquele esperado pelos stakeholders. Para esta área de gerenciamento, estão disponíveis no mercado inúmeras ferramentas e técnicas para delimitar e identificar pontos críticos e indicar possíveis erros de processo. É essencial destacar que um projeto de alta qualidade apresenta nenhum ou pouquíssimos defeitos. 3.9 Gerenciamento de recursos humanos Área de conhecimento responsável pelo emprego e utilização dos recursos humanos de forma eficiente em todos os grupos de processos. Sob a responsabilidade dessa área, os recursos humanos são mobilizados, qualificados, gerenciados e controlados. O gerente de projetos deve identificar as possíveis lideranças (dentro da lista de stakeholders). É sempre muito importante detectar a existência de empreendedores sociais, líderes comunitários e assistentes sociais de referência em cada território. O gerente de projetos deve sempre estar atento aos seus colaboradores: nome do profissional, detalhamento da função, descrição da formação, as experiências pregressas, carga horária e custos dos honorários. Quanto mais informação o gerente de projetos possuir sobre a equipe, maior o nível de aproveitamento de cada indivíduo em cada processo de trabalho, otimizando os recursos da instituição. 3.10 Gerenciamento de comunicações Área do conhecimento responsável pela garantia de que as informações advindas do projeto atinjam de forma correta o público-alvo do projeto, e que essa informação chegue em momento oportuno. Devido à importância que as comunicações exercem durante todo o projeto, o gerente de projetos deve dedicar muita atenção aos grupos de processo desta área. As habilidades em comunicação são características essenciais aos gerentes de projetos. 3.11 Gerenciamento de aquisições Área em que processos, ferramentas e técnicas determinarão como os serviços ou bens do projeto serão adquiridos, gerenciados, controlados e dispensados ao final do projeto. Nesta fase, estão abarcados todo o grupo de processos que envolvem o gerenciamento de contratos. O gerente de projetos deve ter grande conhecimento sobre: 17 Lei n. 8666, de 21 de junho de 1993, que estabelece normas gerais sobre licitações e contratos administrativos pertinentes a obras, serviços, inclusive de publicidade, compras, alienações e locações no âmbito dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Lei Complementar n. 101 de 4 de maio de 2000, que estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal. Lei Orçamentária Anual (LOA). A existência de órgãos de controle nas diversas esferas de governo. 3.12 Gerenciamento dos stakeholders Devido à importância que as partes interessadas exercem sobre o projeto, o gerenciamento dos atores interessados tem ganhado importância no Gerenciamento de Projetos. Esta fase envolve processos, ferramentas e técnicas com o objetivo de identificar quem são as partes interessadas e como suas expectativas são gerenciadas e controladas. TEMA 4 – RISCOS DOS PROJETOS O gerenciamento dos riscos é tão importante para o gerenciamento de projetos em todas as suas fases que decidimos tratar especificamente dele em uma sessão à parte. Essa área identifica e trata os riscos de acordo com as estratégias preestabelecidas. Os riscos são adventos futuros da execução do projeto, que podem trazer incertezas ao projeto. Existem riscos conhecidos (riscos que são mensurados e que devem entrar no planejamento com antecedência) e riscos desconhecidos (riscos em que não se tem ideia de quando ocorrerão e as motivações, são riscos em que não se pode agir com antecedência). Importante lembrar que um risco nem sempre é negativo ao projeto, muitas vezes, podendo trazer excelentes oportunidades, novos olhares e a incorporação de novos atores. Por outro lado, os riscos negativos ameaçam os resultados do projeto. Exemplos de riscos negativos: falta de recursos financeiros, saída de um stakeholder importante, desligamento de um colaborador chave, crises econômicas. Seja de forma positiva ou negativa, um risco sempre exerce impacto sobre o projeto. No momento do gerenciamento de risco, vários stakeholders e profissionais especializados podem ser chamados para integrações necessárias e mapeamentos mais detalhados. Ao identificar os riscos, o gerente de projetos deve engajar e envolver toda a equipe de colaboradores. 18 4.1 Níveis de Atuação em gerenciamento de crises O gerenciamento de riscos pode ser dividido de acordo com os níveis de atuação, complexidade do risco, considerando a linha temporal em que o risco se manifesta. Tabela 2 – Níveis de atuação em gerenciamento de crise Gerência de crises Apagar os incêndios e identificar os riscos somente após virarem um problema real Conserto de falhas Detectar e reagir rapidamente aos riscos, somente após virarem um problema real Mitigação de riscos Planejamento antecipado de riscos Prevenção Implementar e executar um plano para identificar e prevenir os riscos antes que se tornem um problema real Eliminação das Causas Identificar e eliminar os fatores que geram os riscos Aceitação Reconhecer e assumir os riscos, sem tomar nenhuma ação sobre eles. TEMA 5 – DESAFIOS EM PROJETOS NA GESTÃO PÚBLICA Antes de conhecermos os principais desafios em projetos, devemos ter em mente que um projeto é sempreavaliado pelo seu sucesso. Essa avaliação é realizada através das restrições de escopo, tempo, custo, qualidade, recursos e riscos. Um dos grandes desafios está ligado diretamente à fase de iniciação do projeto, momento em que frequentemente o projeto é pensado e elaborado no nível estratégico da gestão (nos Gabinetes de Secretários Municipais, Secretários de Estado, Prefeitos e Governadores), e somente na próxima fase é que os gerentes de projetos são chamados e designados para atuarem e colaborarem. Esse afastamento entre os elaboradores e gerenciadores dos projetos pode trazer obstáculos no alcance dos resultados pactuados, tendo em vista que muitas vezes as percepções advindas dos gabinetes não 19 condizem com a realidade do cenário atual, ou são demandas inexequíveis, ou são intempestivas. As diferenças intrínsecas entre empreendimentos públicos e privados devem ser identificadas e levadas em conta tanto na etapa de idealização bem como na implantação de escritórios de projeto, formação de equipes e execução de projetos. As esferas de governo federal, estadual e municipal são formadas por inúmeros órgãos, segmentos e pessoas (que não somente os funcionários públicos) e esses atores, nem sempre compartilham os mesmos objetivos e, menos ainda, concordam na forma de gestão para atingi-los. (Pisa; Oliveira, 2014) Ao trabalharmos com projetos na gestão pública, devemos ter a clareza que o principal objetivo não é o lucro, e sim objetivar a qualidade do resultado final a ser entregue aos beneficiários, que possamos atender às demandas e ao pactuado no escopo do projeto. Em tempos em que os recursos da administração pública são cada vez mais escassos, o gerente de projetos enfrenta uma série de obstáculos, desafiando o equilíbrio e a eficiência do projeto. 4.5 Fontes dos desafios Devido ao dinamismo do mundo contemporâneo e a quantidade de legislações que normatizam a execução de recursos públicos, a área de Gerenciamento de Projetos enfrenta desafios constantes, de diversas naturezas e de fontes variadas. Frequentemente, as fontes de maior conflitos em projetos são desencadeadas na alocação dos recursos humanos desencadeada pela elaboração de cronogramas não ajustados ao cenário e realidade. Os maiores desafios encontrados pelos Gerentes de Projeto na gestão pública são: Solicitação de mudança de escopo; Falta de engajamento dos recursos humanos do projeto; Desligamento de um ator – chave; Mudança de gestor da pasta; Falta de apoio executivo; Variação do câmbio e operações internacionais; Escassez de recursos humanos qualificados; Alterações de prazos devido a requisitos legais; Requisitos de controle interno e compliance; Ausência de pertencimento do resultado para com os beneficiários; Requisitos não claros; Falta de planejamento; Expectativas não exequíveis. 20 4.6 Fatores Críticos Quando consideramos os desafios, precisamos elencar os fatores críticos dos projetos, que podem virar riscos do projeto. Estes fatores se constituem como elementos chave, convergindo para o sucesso ou fracasso de um projeto. Uma vez identificados esses pontos, eles devem ser elencados pelo Gerenciamento de crise (como indicado nas páginas anteriores), com a finalidade de ser visibilizado e monitorado periodicamente, e se for necessário a prevenção ou reação dependendo do contexto. Observe alguns exemplos de fatores críticos para o sucesso em gerenciamento de projetos: Definição clara do objetivo; Reconhecimento dos interesses políticos acima dos interesses da população; Reconhecimento da necessidade de um modelo de governança; Composição de equipe tecnicamente capacitada; Identificação da fonte orçamentaria para o projeto; Desenvolvimento da equipe em gerenciamento de projetos; Reconhecimento das oportunidades e ameaças do ambiente externo; Anos eleitorais. Por fim, destacamos que a cultura organizacional pode impactar diretamente (positivamente ou negativamente) o gerenciamento do projeto na gestão pública. NA PRÁTICA Pensando no seu município: Quem foi o Gerente de Projeto responsável pela implantação da Central de Abastecimento farmacêutico da Secretaria Municipal de Saúde? Você já acompanhou algum projeto em que as áreas não tinham informações sobre as outras? Isso impactou os resultados finais do projeto? Você já ouviu a expressão: “preciso desse projeto para ontem”? Por que você acha que seu gestor disse isso? 21 FINALIZANDO Nesta aula, identificamos os atores interessados nos projetos na gestão pública e percebemos como o conhecimento acerca das características e habilidades do gerente de projetos é fundamental para que o projeto alcance os resultados esperados. Adicionalmente, a compreensão das diferentes áreas de conhecimento e suas especificidades são importantes para o gerenciamento, bem como as fontes mais frequentes de riscos e os pontos críticos dos projetos. GESTÃO DE PROJETOS AULA 3 TEMA 1 – PLANEJAMENTO DO PROJETO Como sabemos, a organização político-administrativa das Unidades da Federação no Brasil permite e delega que estados e municípios ofereçam aos cidadãos políticas públicas que visem garantias constitucionais. Conforme expressado anteriormente, os projetos na gestão pública devem estar alinhados com as propostas do governo vigente, sendo realizados por inúmeras motivações, imprescindíveis para o sucesso e sustentabilidade de uma gestão pública. O planejamento vai alem do entendimento de forcas dentro de uma organização, indo alem da credibilidade do proponente e da necessidade vigente, é necessário que o processo de convencimento sobre a importância do projeto seja chancelada e incentivada pela alta gestão pública, aumentando as chances de resultados positivos. 1.7 Variáveis do Planejamento Existem fatores que influenciam na tomada de decisão e na busca de soluções de problemas que exercem pressão com maior ou menor intensidade, dependendo do contexto que a gestão pública está inserida. Durante a progressão do Ciclo de Vida do Projeto, o avanço entre a Fase de Iniciação do Projeto e a Fase de Planejamento deve ser fluído, conduzido por pessoas com grande conhecimento do contexto vivido. As variáveis a serem consideradas nessa fase devem ser: 22 obter o melhor entendimento possível sobre os objetivos do projeto; informações sobre o ponto de vista, agregação e aceitação dos beneficiários ao projeto a ser implementado. questões ideológicas dos stakeholders, ao definir qual a solução a ser aplicada para resolver um problema; manejar harmonicamente as visões de mundo diferentes dentro do público beneficiário; selecionar adequadamente os membros da equipe; definir a estrutura de comunicação para e entre os stakeholders; harmonizar os objetivos do projeto e a questão orçamentária limitada do Poder Executivo. definir as ferramentas de monitoramento e controle do projeto; articular politicamente, conciliando os interesses político- administrativos do poder Executivo Municipal, Estadual ou Federal; 1.8 O Planejamento Técnico O planejamento técnico é voltado especialmente às questões: “como fazer?” e “O que deve ser feito?”. Veremos abaixo alguns apontamentos obrigatórios a serem respondidos nessa fase: definir o escopo a ser alcançado. Identificar qual o resultado esperado ao final do projeto; mapear o contexto atual, levantando o maior numero possível de informações sobre os beneficiários, recursos. Esse cuidado é importante para que possamos avaliar o quanto distante estamos da situação almejada; identificar todos os stakeholder, principalmente as “pessoas- chaves”; definir as atividades que devem ser realizadas ao longo do projeto ate sua conclusão; mensurar quantitativamente os recursos necessários ao desenvolvimento do projeto, estimando custos associados a cada fase, alocação do recurso e cada fase do cronograma; estabelecer um cronograma viável, exequível, estimandoo tempo gasto em cada etapa. 23 TEMA 2 – PROBLEMATIZAÇÃO - DEFININDO O ESCOPO A definição do verdadeiro problema é umas das etapas mais críticas no projeto. Principalmente no ano inicial do curso de gestão pública, a “vontade” de fazer alguma coisa rapidamente pode ocasionar leituras errneas de cenários, acelerando processos imprescindíveis antes de entender perfeitamente qual o problema real. Quando não entendemos o verdadeiro problema a ser transposto, corremos o risco de não cumprir o cronograma ou estourar o recurso orçamentário do projeto. O erro na identificação do problema real pode gerar projetos simplistas demais, projetos complexos demais ou projetos com cronograma extenso demais. Muitos projetos fracassam por negligência de etapas importantes do trabalho, ou por omissão relacionada ao orçamento para a conclusão do projeto. O escopo do projeto deve considerar quais as macroatividades necessárias para a implementação do projeto: definição do planejamento e métodos de controle, forma de gestão da equipe do projeto, estratégia de comunicação, necessidade de aquisição de materiais ou de contratação de pessoal, e qual o método empregado para a avaliação dos resultados. Importante destacar que nesta etapa as licenças, homologação, cessão de uso e preparação de manuais deve ser realizada… a dificuldade em definir o escopo do projeto advém da falta de maturidade da própria ideia do projeto: quando se sabe de fato aonde quer chegar, não é difícil definir o escopo no nível das macroatividades (SABBAG, 2013). A etapa de definição do escopo modela e define o resultado a ser pactuado (serviço, produto ou resultado específico). Esse processo é fundamental para que a fase de conclusão seja harmoniosa, uma vez que a não entrega de um resultado acordado pode ser alvo de disputas judiciais e desacordos. TEMA 3 – ESTRUTURA ANALÍTICA DO PROJETO Assim que o escopo for definido, sendo identificado o problema real a ser transposto, a próxima etapa consiste em organizar a execução de todas as atividades necessárias ao projeto. Devido a característica dinâmica dos projetos, a equipe responsável pelo planeamento deve organizar o escopo de forma que facilite acrescentar novas atividades ou detalhar cada macroatividade necessária a implementação do projeto.O conceito de divisibilidade tem sido utilizado de maneira a conferir eficiência, efetividade e eficácia na gestão de projetos. Uma ferramenta que muitos gerentes de 24 projetos consideram útil para o planejamento é a Estrutura Analítica do Projeto (EAP). A estratégia da EAP dedica-se a dividir o todo em pequenas partes, ou seja, quebrar em partes ou repartir o trabalho. Essa técnica implica no desmembramento de cima para baixo, e requer um grau apurado de visão sistêmica dos planejadores. Essa divisão deve gerar obrigatoriamente níveis e subtarefas a serem executadas mediante fases cronológicas, unidades organizacionais, áreas geográficas e a natureza das atividades. Tal ferramenta é utilizada para previsões, designação de pessoas, rastreamento do progresso e ilustração do âmbito do trabalho projetado. O conceito subjacente é subdividir uma atividade complexa em tarefas menores, até que as atividades individuais não possam mais ser subdivididas. A EAP, em geral, constitui-se entre 3 ou 6 níveis de atividades subdivididas. Conforme a maior complexidade de um projeto, maior o número de atividades subdesenvolvidas. Segundo a literatura, somente os projetos extremamente complexos devem passar de 20 níveis níveis de atividades (Duffy, 2006). Para cada nível que se formou após o desmembramento, devemos atribuir um produto mensurável. Para exemplificar, vamos pensar em um Projeto de submissão a um edital de Fomento para aquisição de equipamentos para as Unidades Básicas de Saúde (UBS) de um município. Quadro 1 – Exemplo de Estrutura Analítica do Projeto TAREFAS Subtarefas Nível 1 Subtarefas Nível 2 Duração das Subtarefas do Nível 2 Aprovar (aval da gestão pública) para a submissão do edital Reunir dados gerais sobre efeitos positivos da captação do recurso Realizar reunião com gestão para discussão da oportunidade oferecida pelo edital 2 dias Mapear quantas UBS existem no município Quantificar as existentes e capacidade instalada Emitir relatório descritivo 3 dias Identificar se há previsão de construção de novas Unidades Alertar sobre a necessidade de provisão de equipamentos para as novas UBS 3 dias Levantar demanda por equipamentos de saúde Quantificar equipamentos obsoletos a serem substituídos Elaborar tabela descritiva com demanda por UBS 5 dias 25 Quantificar demanda de equipamentos a serem adquiridos Elaborar tabela descritiva com demanda por UBS 5 dias Submeter o projeto ao edital de fomento Consolidar todas as informações anteriores Elaborar a proposta de projeto a ser submetida no edital 5 dias Reunir documentação necessária Coleta de Assinaturas 2 dias Submeter o projeto no edital Realizar a inserção de todos os dados e anexos necessários no sistema específico do Edital Note que, neste exemplo, a primeira tarefa é conseguir a aprovação da gestão para que o projeto seja submetido. É importante ressaltar que a ordem deve ser essa, pois, caso contrário, você pode despender tempo fazendo todas as etapas subsequentes e, ao final, seu gestor informar que não há interesse nessa captação de recursos! Para um convencimento eficiente da sua gestão, você deve reunir dados gerais sobre efeitos positivos da captação do recurso, bem como também informar quais aspectos negativos poderiam ocorrer caso a proposta não fosse submetida ao edital. Lembre-se que, assim como devemos mostrar os benefícios do projeto, precisamos deixar muito claro quais os impactos negativos em sua não operacionalização. Mostrar quem perde e quem ganha é sempre uma estratégia interessante no trabalho com gestores públicos. Estrutura Analítica do Projeto é uma importante ferramenta para verificar se não houve neglicenciamento de componentes significativos de uma atividade considerada complexa, ou até mesmo se houve subestimação de tempo e recurso orçamentário necessários para a conclusão do projeto. A realização meticulosa dessas subdivisões deve ofertar uma previsão aproximada, muito próxima da real necessidade, de quantas pessoas serão necessárias para a implementação do projeto. Bem como se constitui como um poderoso recurso para auxiliar na elaboração de um cronograma viável e exequível. TEMA 4 – EQUIPE DO PROJETO Existe uma dependência direta entre a qualidade das equipes e o alcance dos objetivos de um projeto. A composição adequada da equipe é um fator primordial para seguir adequadamente o escopo do projeto. O gerente de 26 projeto e sua equipe devem ter habilidade de encontrar soluções que conciliem diferentes demandas, utilizando recursos sempre limitados. Após a estruturação do EAP, fica claro as divisões dos níveis e das subtarefas. Esse detalhamento permite que o gerente do projeto consiga visualizar quantas pessoas serão necessárias e, fundamentalmente, quais atributos essas pessoas devem possuir para a execução de cada tarefa. Dependendo da tarefa exigida em algum nível, é possível que seja necessário contratar um colaborador ou recrutá-lo de outro órgão (comum entre secretarias municipais e estaduais). O gerente de projetos deve ter em mente que a inclusão de mais pessoas (funcionários temporários ou estatutários) pode ser um dos principais pontos críticos do projeto, uma vez que o convencimento do gestor sobre a importância da contratação do profissional ou da disponibilização funcional demanda muita interlocução entre o gerente de projeto e a alta gestão. Lembre-se: os projetos alcançam melhores resultados quando o gerente de projetos consegue transitar e acessar os gabinetes das secretarias municipais e estaduais. 2.5 Definindo a Equipe Ao contrário da iniciativa privada que, na maioria dos casos, o gerente de projetosescolhe a equipe pessoa a pessoa, no serviço público o contexto é muito diferente! Frequentemente, o gerente de projetos precisa compor a equipe com servidores estatutários ou comissionados que já são colaboradores da instituição. Verificamos anteriormente que um dos grandes desafios na área de projetos está ligado a fase de iniciação que, muitas vezes, é pensada e elaborada no nível estratégico da gestão (nos gabinetes de secretários municipais, secretários de estado, prefeitos, governadores etc) e somente na próxima fase os gerentes de projetos são chamados para atuarem e colaborarem. Essa prática tradicional na gestão pública possui alguns obstáculos, tendo em vista que as percepções advindas dos gabinetes, em sua maioria, não condizem com a realidade do cenário atual, principalmente no que tange à composição das equipes. Ao “herdar” uma equipe, atribua os papéis de acordo com a possível correspondência entre o conhecimento de cada um e os níveis e subtarefas divididas pela EAP. Se você já conhecer ou tiver trabalhado com algumas das pessoas “herdadas”, distribua você mesmo as tarefas. Caso não conheça as pessoas da sua equipe, procure identificar a formação delas, bem como atributos, qualidades e limitações, antes de distribuir as tarefas. Cada pessoa deve saber como administrar sua parte do projeto e fundamentalmente deve estar disposto a trabalhar em grupo. 27 É importante ressaltar que o gerente de projetos deve identificar os integrantes que possuem experiências pregressas exitosas e que tenham habilidades de trabalho em grupo. O gerente deve ter a capacidade de reunir essas pessoas e proporcionar harmonia no trabalho em grupo, como uma engrenagem. Ao iniciar o trabalho, é importante: reunir todas as pessoas que farão parte da equipe, apresentá-las umas as outras; relacionar as qualificações profissionais, experiências e conhecimentos dos integrantes; identificar as habilidades interpessoais dos integrantes; apresentar um panorama geral do projeto, detalhando o escopo e a programação das etapas. Sempre dedique atenção aos membros mais experientes (eles têm um grande repertório e já viveram várias gestões!) Um bom gerente de projetos está sempre aberto a escutar críticas, pois isso incentiva que seus colaboradores possam sugerir ideias para aperfeiçoar as tarefas. A preparação e qualificação da equipe devem ser iniciadas o quanto antes. Com frequência é necessário ofertar qualificações profissionais antes de iniciar o projeto. Neste caso, quando o gerente de projetos tem uma boa rede de contatos e conhecimento com outras instituições, os cursos que existem em outras organizações podem ser ajustados para sua demanda específica. Muitas vezes trabalhamos com parcerias entre secretarias e universidades para qualificar a equipe, utilizando nenhum ou o mínimo de recurso orçamentário possível para essa fase. TEMA 5 – ELABORAÇÃO DO CRONOGRAMA O cronograma é a ferramenta mais importante do gerenciamento do tempo. Deve ser empregado para garantir que o projeto seja concluído dentro do prazo estipulado e pactuado. Após elaborarmos a Estrutura Analítica do Projeto (EAP), a definição do cronograma fica mais clara, uma vez que permite elaborar uma relação de atividades ou de tarefas específicas, definindo a sequência correta das atividades e subtarefas, permitindo inferir a duração e os requisitos relacionados aos recursos serão necessários para cada subtarefa. Importante ressaltar que o cronograma é sempre interativo e progressivo, deve ter a característica de poder ser ajustado e atualizado conforme o desenvolvimento do projeto. Um atraso em uma atividade específica não significa, obrigatoriamente, um atraso no prazo final de implementação do 28 projeto, mas pode sinalizar a necessidade de manejo de recursos extras para recuperar o tempo despendido, promovendo o realinhamento do cronograma. O cronograma não deve ser extremamente detalhado, pois fica extremamente difícil realizar a supervisão. Deve ser elaborado de maneira inteligente, com descrição de todos os recursos materiais, humanos e financeiros, alinhados ao tempo de execução de cada subtarefa subsequente. Nessa fase, todas as áreas do conhecimento são considerados de acordo com o contexto e complexidade de cada projeto. 3.13 Estabelecendo prazos Para aumentar a eficácia de um projeto, recomenda-se que, na estruturação do cronograma, inicie-se pela escolha do prazo final (deadline). Essa data pode ser a entrega da construção de um hospital ou de uma escola, inauguração de alguma feira especializada e, pensando na gestão pública, podemos escolher a data fatal de um projeto no término do mandado executivo.Ao estabelecer uma data limite para o final do projeto, devemos trabalhar retroativamente a partir do prazo fatal, para estabelecer as datas em que as etapas e subtarefas deverão ser iniciadas e concluídas. Essa metodologia de trabalho retroativa ou sequenciada de trás para frente, é um excelente método para a montagem de um cronograma realista (Duffy, 2006). Para elaborarmos um cronograma fidedigno às nossas expectativas e compromissos assumidos com a gestão pública, devemos ter a clareza de que existem prazos imutáveis (como, por exemplo, finalizar um projeto antes do processo eleitoral) e, por outro lado, devemos localizar quais prazos possuem maior flexibilidade. Além disso, é importante que cada tarefa seja cumprida em até 6 semanas para facilitar seu acompanhamento e controle. Caso a tarefa seja muito extensa, devemos dividi-la em subtarefas. Uma dica valiosa é a fixação da unidade de tempo em dias, assim, otimizamos diálogos e facilitamos comunicações entre todos os stakeholders. 3.14 Gráfico de Gantt Ao elaborarmos um cronograma, recomenda-se a utilização de ferramentas que auxiliem na visualização acerca do status do projeto. Os diagramas de dependência são muito utilizados em gerenciamento de projetos. Como vimos anteriormente no histórico da evolução dos projetos, o engenheiro mecânico norte-americano Henry Gantt (1861-1919) pode ser considerado o pai do gerenciamento de projetos, por meio de suas valorosas contribuições e 29 sistematizações, e pela qualidade das ferramentas de gerência de projetos desenvolvidas (Pires, 2019). Após o desenvolvimento desse gráfico em 1917, essa ferramenta continua atual, sendo historicamente utilizada em situações reais em que seja necessário realizar diferentes atividades. Essa ferramenta passou a ser usada em escala mundial, pois mostra a relação entre tarefas e tempo de um projeto, permitindo expedir, sequenciar e realocar recursos entre diferentes tarefas, facilitando as atualizações de forma contínua sempre que necessário. Esse tipo de gráfico demonstra o que foi planejado e o progresso obtido pelo número de atividades e subtarefas. Tem sido amplamente utilizado por ser de fácil leitura e compreensão, permitindo a visualização das atividades, facilitando as tomadas de decisão. Quando utilizamos o Gráfico de Gantt podemos ter as seguintes informações de forma didática: comparação do programado versus realizado efetivamente; tempo despendido na preparação e na alocação da atividade; local, período e duração de eventuais intercorrências críticas; uso e alocação de recursos; O Gráfico do Gantt possui, em suas colunas barras contínuas que identificam a data de inicio, o prazo fatal do projeto e o período de tempo definido em escala predeterminada (dias, semanas, meses). As linhas são utilizadas para a descrição de cada atividade e subtarefa, permitindo identificar se uma tarefa está dentro do prazo estipulado. Essa metodologia permite visualizar didaticamente a existência de atrasos, permitindo uma tomada rápida de decisão para reprogramação do cronograma. Para ajudar em nosso aprendizado, vamos usar um projeto sobre fomento ao Empreendedorismo em um município hipotético que possua muitas empresas informais, e que exista demanda por formalização e profissionalização dasempresas. Quadro 2 – Gráfico de Gantt 30 NA PRÁTICA Era uma vez um administrador de renome, servidor de um instituto ambiental estadual. Certa vez, o administrator foi na Coordenação do Escritório de Projetos de um Departamento Penitenciário Estadual. Logo que chegou nessa nova organização, querendo aproveitar sua expertise e fazer algo rapidamente, reuniu sua equipe e apresentou uma proposta de projeto para redução da praga de pombos nas penitenciárias do estado. O chefe, então, realizou uma linda apresentação que durou cerca de 30 minutos, mostrando os ótimos resultados alcançados de projetos semelhantes. Ao final da apresentação, dividiu a equipe conforme as responsabilidades acerca do projeto e resolveu abrir a palavra para questionamentos da equipe. Foi quando um servidor que trabalhava há dez anos no Departamento Penitenciário Estadual indagou: – Por que um projeto para controle da praga de pombos, se nosso problema real em todas as penitenciárias é a praga de ratos? Responda: qual critério que o administrador usou para propor o projeto? FINALIZANDO O planejamento dentro de um projeto não é uma atividade limitada, mas sim um processo fluído atá a fase de conclusão. Nessa aula identificamos que retornar as tarefas e ações de fases anteriores não significa que estamos retrocedendo, e sim incluindo novas e importantes informações no plano geral. Essa movimentação só é possível quando o cronograma foi corretamente desenhado e quando o gerente de projeto tem domínio sobre sua equipe. GESTÃO DE PROJETOS E FOMENTO AULA 4 TEMA 1 – VIABILIDADE DO PROJETO 31 Como vimos em aulas anteriores, os projetos devem estar sempre alinhados com as propostas do plano de governo vigente, para que a implantação, tramitação e busca por recursos sejam harmoniosas dentro do Poder Executivo. Quando a viabilidade do projeto é avaliada, os gestores procuram informações claras sobre a capacidade de gerar benefícios e aprimorar a gestão. Diante disso, sugerimos o uso de indicadores sociais para fundamentar a justificativa dele, bem como explicitar seus resultados, elucidando aos gestores que têm aderência aos objetivos do plano de governo. O problema a ser transposto pelo projeto precisa ser relevante para a gestão. As ideias promissoras devem ser apresentadas, debatidas e avaliadas, sendo primordial que, ao inserir a pauta na agenda pública, seja demonstrada sua viabilidade técnica, gerencial e orçamentária, sempre no caminho do alcance das metas de governo. Para elaboração e realização de qualquer projeto, devemos considerar a relação custo-benefício, com atenção especial à quantidade de recursos (orçamentários, materiais e humanos) a ser demandada. Em paralelo, o benefício proporcionado pela implementação do projeto deve ser avaliado em relação aos recursos e aos esforços, bem como ao tempo despendido. Um projeto só deve ser iniciado se for realmente viável, ou seja, se for capaz de produzir benefícios à gestão e aos públicos aos quais se destina. Importante destacar que suas consequências positivas devem ser superiores ao ser comparadas com a não tomada de decisão, conforme já discutimos em aulas anteriores. 1.9 Benefícios tangíveis Ao analisar a viabilidade do projeto, devemos identificar se há benefícios tangíveis, ou seja, resultados mensuráveis, que podem ser expressos em números de atendimentos, redução da tempo na entrega de algum produto, valores financeiros etc.; todas as variáveis devem ser determinadas e potencialmente aferidas. Destacamos a importância da utilização dos indicadores sociais para medir os benefícios tangíveis, tema a ser tratado mais adiante. 1.10 Benefícios intangíveis Os benefícios intangíveis não podem ser expressos objetivamente em números ou em termos financeiros. Os resultados são apreciações subjetivas e 32 Importante! Um ponto importante a ser sempre considerado é: o projeto tem viabilidade dentro do estabelecido pelo plano de governo? necessitam de embasamento muito estruturado para que a gestão não descarte tais benefícios pela sua natureza não tangível. Esses benefícios possuem grande complexidade de entendimento, pois a subjetividade é um componente central. Dessa forma, a defesa da importância da aprovação do projeto deve se pautar na necessidade de atendimento de interesses sociais da população, pois, mesmo não sendo mensuráveis, são determinantes para o aprimoramento da gestão. A vulnerabilidade social é sensivelmente impactada por benefícios intangíveis, resultados que não são mensuráveis, e não podem ser comparados, mas são sentidos positivamente pela população. Esse fato pode ser capaz de gerar maior aprovação da legislatura vigente. TEMA 2 – ESTUDO DE VIABILIDADE Um projeto deve ser viável estrategicamente, compatível com o contexto político, legal e social, adequado às condições e oportunidades e importante para a sustentabilidade da gestão. A decisão de se investirem recursos em um projeto depende da comprovação da viabilidade dele, seus benefícios tangíveis e intangíveis. Quanto melhores os resultados a serem obtidos, mais atraente o investimento será considerado. Dessa forma, um valioso instrumento para influenciar a tomada de decisão da gestão é o estudo de viabilidade do projeto, o qual deve ser extremamente técnico, com informações reais e atualizadas. Seu objetivo central é elevar o nível de conhecimento para avaliação criteriosa dos gestores, com atenção especial aos benefícios e aos possíveis riscos na implementação. Uma ideia é viável tecnicamente quando existe: conhecimento disponível sobre o assunto; soluções técnicas acessíveis e exequíveis; domínio de tecnologia suficiente para operacionalizar o projeto; e recursos humanos qualificados para cada nível e subtarefas necessárias. 2.6 Pesquisa Para produzir dados fidedignos que comporão o conteúdo do projeto e conferir maior segurança no que tange ao alcance dos objetivos, ao elaborarmos o estudo de viabilidade precisamos frequentemente elencar a necessidade de realização de análise do ambiente, recursos e população sobre quem o projeto incidirá. Tais informações permitirão o estabelecimento de metas a serem atingidas. 33 O estudo de viabilidade deveraá incluir em seu escopo a análise e a escolha da melhor solução, quando alternativas técnicas (uso de novos hardwares ou softwares) forem duvidosas. 2.7 Treinamento e desenvolvimento É importante destacar que na ausência de pessoas qualificadas para executar as competências necessárias ao projeto, é recomendável que sejam promovidos – preferencialmente com antecedência – treinamento e desenvolvimento à equipe de profissionais que irá desempenhar papéis e atuar nele. Como vimos em aulas anteriores, o gerente de projetos deve procurar estabelecer uma rede de contatos e conhecimento com outras instituições e órgãos. Isso pode facilitar o intercâmbio de saberes, até mesmo levantar a oferta de cursos e treinamentos que são disponibilizados e podem ser ajustados e aproveitados para um projeto específico. 2.8 Estudo de viabilidade A realização de estudo de viabilidade na gestão pública constitui-se em uma estratégia para determinar a viabilidade técnica e financeira, a consistência, os benefícios esperados e o possível impacto social do projeto na sociedade. Ao trazer conhecimentos detalhados e ao aprofundar estratégias para a resolução de problemas, tal estudo deve despertar o interesse da gestão pública. Para apoiar a defesa da importância de um projeto, o estudo de viabilidade deve conter: Introdução: pesquisa atualizada sobre o problema a ser transposto, perfil da população beneficiária, exemplos de projetos semelhantes em outras regiões. Justificativa: argumentos da importância do projeto para a gestão e elenco dos principais resultados a serem alcançados em benefício da população. Pesquisa e diagnóstico situacional: descrição da situação atual da área em questão, indicadores sociais, pesquisa e identificação da quantidadee capacidade instalada da gestão para enfrentar o problema. Estimativa de uso de recursos: sustentabilidade do projeto, utilização de recursos humanos, materiais e impacto financeiro. 34 Proposição de fontes de custeio: doação, orçamento próprio, orçamento externo, repasses Fundo a Fundo (assunto a ser tratado nas próximas aulas). Ao elaborar tecnicamente o estudo de viabilidade, podemos consolidar as justificativas, propondo à gestão possíveis caminhos com vistas ao alcance dos resultados, gerando um ambiente de maior clareza para o tomador de decisão e a consequente aprovação pela gestão. 2.9 Indicadores sociais Os indicadores sociais possibilitam conhecer a realidade de uma população em específico ou da população total, permitindo uma comparação entre contextos diferentes, bem como entre a situação anterior ao projeto e após a conclusão dele. O uso desses indicadores pode inferir se os resultados do projeto foram capazes de modificar positivamente o contexto de determinado grupo de beneficiários. No âmbito da gestão pública, a maioria dos projetos usa como referência diversos índices, indicadores e taxas. Essa estratégia é salutar, uma vez que permite: 4 identificar e mensurar resultados; 5 realizar comparação interna (entre as etapas do monitoramento dos projetos); 6 fazer comparação externa (projetos entre projetos); 7 endossar a justificativa do projeto; 8 sensibilizar os gestores quanto à importância e relevância do projeto; e 9 convencer tecnicamente gestores para que o início do projeto seja aprovado. Os indicadores sociais são índices e taxas constituem importantes ferramentas para avaliação de programas e projetos, além de ser utilizados para avaliação e monitoramento da gestão como um todo. Esses indicadores permitem indicar a condição de vulnerabilidade de um segmento populacional e a efetividade de políticas públicas que busquem a garantia de direitos. O uso metodológico dos indicadores sociais torna possível a identificação dos perfis populacionais em diferentes segmentos da sociedade. O emprego deles para a fundamentação de projetos visa contemplar a heterogeneidade da sociedade sob a perspetiva das desigualdades sociais. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o trabalho sistemático relacionado à Síntese de Indicadores Sociais teve origem na publicação Indicadores sociais: relatório 1979, constituindo-se em um marco na avaliação situacional da população. Isso se deve ao fato de que contribuiu com 35 Importante! Um índice é um valor resultante de dois ou mais valores de variáveis inerentes a um aspecto específico que se pretende aferir. o avanço da proposição de um novo escopo de avaliação das condições de vida da população, contemplando, à época, questões relacionadas a População e Famílias, Divisão do Trabalho, Mobilidade Ocupacional da Força de Trabalho, Distribuição de Renda, Despesa Familiar, Habitação, Educação e Saúde (IBGE, [S.d.]). Há mais de 40 anos essa importante publicação do IBGE rompeu com a hegemonia de indicadores econômicos para análise e monitoramento de questões sociais, em especial o Produto Interno Bruto (PIB). Os indicadores sociais analisam em geral: 10 qualidade de vida e os níveis de bem-estar das pessoas; 11 vulnerabilidade social; 12 insuficiência de atendimento por serviços básicos; 13 acesso a diferentes serviços e equipamentos sociais; e 14 acesso a bens e oportunidades. Na elaboração e acompanhamento de projetos na gestão pública, um amplo conjunto de indicadores pode auxiliar na identificação fidedigna de desigualdades socioespaciais entre diferentes territórios do município e na comparação entre municípios. Quando inserimos indicadores sociais na metodologia, podemos obter, de forma decisiva, informações precisas para analisar a evolução positiva – social e econômica – que o projeto foi capaz de alcançar no conjunto populacional específico. Vamos conhecer a seguir os principais indicadores sociais utilizados em projetos na gestão pública. Índice de Desenvolvimento da Educação (Ideb) Esse índice reúne em um só indicador dois conceitos importantes para a qualidade da educação: o fluxo escolar e as médias de desempenho nas avaliações. O Ideb é calculado com base nos dados sobre aprovação escolar, obtidos no Censo Escolar, e nas médias de desempenho nas avaliações do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e pela Prova Brasil (INEP, [S.d.]). Taxa de mortalidade infantil Avalia o número de mortes de crianças no primeiro ano de vida. Seu resultado provém da quantidade de óbitos de menores de um ano de idade em cada mil nascidos vivos. Índice de envelhecimento 36 Avalia o processo de ampliação do número de pessoas idosas em comparação ao grupo etário jovem. O resultado é obtido por meio da razão entre a população idosa e a população jovem. Taxa de mortalidade materna Esse indicador é capaz de refletir a qualidade da assistência à saúde da mulher. Estima a frequência de óbitos femininos em causas ligadas a gravidez, parto e puerpério, em relação ao total de gestações (representado pelo total de nascidos vivos). Essa taxa é calculada pela relação do número de mortes de mulheres durante a gestação ou até 42 dias após o término da gestação, independentemente da duração ou da localização da gravidez. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), a taxa de mortalidade materna estima o número de óbitos femininos por causas maternas, a cada 100 mil nascidos vivos, na população residente em determinado espaço geográfico no ano considerado (Opas, 2002). Taxa de desemprego Essa taxa é calculada pelo número de pessoas desocupadas (pessoas que estão em busca de uma ocupação) em relação à População Economicamente Ativa (PEA). As pessoas contabilizadas estão necessariamente em idade apropriada para o mercado de trabalho (IBGE, 2019). Esse método consegue medir os níveis de emprego informal no país. A medição dos níveis de emprego reflete a complexidade que há no mercado de trabalho. TEMA 3 – CUSTO DE OPORTUNIDADE Após a elaboração do estudo de viabilidade do projeto, devemos identificar o custo de oportunidade, que pode ser capaz de estimar as chances de asssertividade da iniciativa. O entendimento do conceito de custo de oportunidade vem do melhor aproveitamento possível da oportunidade e das outras oportunidades elencadas subsequencialmente, sendo um escalonamento das melhores até as piores. As oportunidades contempladas serão as primeiras na ordenação, ou seja, aquelas que apresentam a melhor combinação entre o sucesso e o risco. Por meio de pesquisas, estudos, análises e avaliações, é possível estabelecer uma espécie de ranking das oportunidades com chances de sucesso, considerando todos os recursos disponíveis para cada projeto em especifico. Custo de oportunidade significa fazer uma coisa em detrimento de outra; genericamente, podemos entendê-la como fazer uma escolha. Na área de projetos na gestão pública, faz-se necessário certo resultado positivo, pois a 37 gestão em paralelo abdica de fazer investimento em outro projeto. Aquilo que se perde representa o custo de oportunidade. As oportunidades de um projeto diferem entre si não apenas quanto ao sucesso dos resultados, mas também quanto ao nível de risco que cada uma apresenta. Esse termo Custo de oportunidade considera situações em que o nível de conhecimento é suficiente para estabelecer os resultados possíveis e suas probabilidades de ocorrência (decisão sob condições de risco) e situações em que essas probabilidades não são conhecidas (decisão sob condições de incerteza), ou até mesmo quando os resultados não são conhecidos (incerteza absoluta). (Clemente, 2008) O custo de oportunidade na economia é pensado em um cenário de escassez, isto é, quando não se pode ter ao mesmo tempo todos os objetos da escolha. A economia do custo é explicada pela análise de todas as alternativas que podem ser realizadas para possibilitar o melhor benefício
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